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Santuário Restaurado

Faremos uma leitura sobre a contaminação e a necessidade de purificação do


Santuário em Daniel 8. Trataremos das seguintes questões: a) “Quem contamina o Santuário?”
b) “Quem é julgado?”

“Então ouvi dois anjos conversando, e um deles perguntou ao outro:


“Quanto tempo durarão os acontecimentos anunciados por esta
visão? Até quando será suprimido o sacrifício diário e a rebelião
devastadora prevalecerá? Até quando o santuário e o exército ficarão
entregues ao poder do chifre e serão pisoteados?””
Daniel 8:13 NVI

O versículo 13 indaga a respeito de uma visão que Daniel está tendo, o texto segue
uma narrativa coesa, o versículo 13 introduz a questão central, o 14 é a responde. O autor coloca
no diálogo dos “dois anjos” a pergunta que ele mesmo quer fazer. O foco está em saber por
quanto tempo duraria toda aquela tragédia causada pelo “chifre pequeno”:

“Enquanto eu, Daniel, observava a visão e tentava entendê-la, diante


de mim apareceu um ser que parecia homem.”
Daniel 8:15 NVI

Perceba, Daniel tem uma visão (Daniel 8:11-12) que em partes transcreve exatamente
o contexto que ele experimenta. Desde o primeiro capítulo fica claro que Daniel e seu povo
estão em situação de maldição.

“No terceiro ano do reinado de Jeoaquim, rei de Judá, Nabucodonosor,


rei da Babilônia, veio a Jerusalém e a sitiou. E o Senhor entregou
Jeoaquim, rei de Judá, nas suas mãos, e também alguns dos utensílios
do templo de Deus. Ele levou os utensílios para o templo do seu deus
na terra de Sinear e os colocou na casa do tesouro do seu deus.”
Daniel 1:1-2 NVI

Os paralelos entre as ações do chifre pequeno e as de Nabucodonosor são bem


traçados:
“O Senhor, o Deus dos seus antepassados, advertiu-os várias vezes por
meio de seus mensageiros, pois ele tinha compaixão de seu povo e do
lugar de sua habitação. Mas eles zombaram dos mensageiros de Deus,
desprezaram as palavras dele e expuseram ao ridículo os seus
profetas, até que a ira do Senhor se levantou contra o seu povo e já
não houve remédio. O Senhor enviou contra eles o rei dos babilônios
que, no santuário, matou os seus jovens à espada. Não poupou nem
rapazes, nem moças, nem adultos, nem velhos. Deus entregou todos
eles nas mãos de Nabucodonosor; este levou para a Babilônia todos os
utensílios do templo de Deus, tanto os pequenos como os grandes,
com os tesouros do templo do Senhor, os do rei e os de seus oficiais.”
2 Crônicas 36:15-18 NVI

A mesma pergunta feita em relação ao chifre pequeno: “até quando será suprimido o
sacrifício diário e a rebelião devastadora prevalecerá?” Poderia ser feita visando as ações de
Nabucodonosor. Não estamos insinuando que é Nabucodonosor o “chifre pequeno” (sua
identificação para essa análise não é relevante), o que chamo atenção é para o paralelo entre as
ações e os motivos. As ações são sempre de um inimigo (Nabucodonosor/Chifre Pequeno), os
motivos são as transgressões do povo de Deus.
Dos versículos 16 ao 25 Daniel vai receber orientações sobre a visão das “2300 tardes e
manhas”. O mensageiro explica que o carneiro e o bode representam os reis da Média Pérsia e
Grécia e menciona o “chifre pequeno” de forma indiretamente:

““No final do reinado deles, quando a rebelião dos ímpios tiver


chegado ao máximo, surgirá um rei de duro semblante, mestre em
astúcias.”
Daniel 8:23 NVI

Os versículos 24 e 25 são descrições que repetem as ações do “chifre pequeno” já


mencionadas nos versos 11 e 12. Um detalhe importante é que Daniel não entende sobre as
“2300 tardes e manhãs”, ou seja, ele não entende por quanto tempo vão durar as maldições
que o povo santo está sofrendo por meio do chifre pequeno.
Eu, Daniel, fiquei exausto e doente por vários dias. Depois levantei-me
e voltei a cuidar dos negócios do rei. Fiquei assustado com a visão;
estava além da compreensão humana.”
Daniel 8:27 NVI

É importante lembrar quais problemas queremos responder:

• Quem contamina o santuário?


• Em que consiste a purificação?
• Quem está sendo julgado?

A doutrina do Santuário, conforme teologia adventista, responde assim:

• Quem contamina o santuário? Os pecados do povo de Deus


• Em que consiste a purificação? Juízo do povo de Deus
• Quem está sendo julgado? Povo de Deus

Passemos a Daniel 9 para lermos mais um pouco sobre como o autor apresenta suas
reações à visão. Depois de alguns anos Daniel volta a estudar os livros em busca de saber quanto
tempo duraria a desolação:

“No primeiro ano do seu reinado, eu, Daniel, compreendi pelas


Escrituras, conforme a palavra do Senhor dada ao profeta Jeremias,
que a desolação de Jerusalém iria durar setenta anos.”
Daniel 9:2 NVI

Perceba que Daniel termina o capítulo 8 sem entender a visão das “2300 tardes e
manhãs”, agora no capítulo 9 ele está compreendendo por meio das profecias de Jeremias
“quanto tempo” duraria a visão sobre o cativeiro e a destruição do Templo. Lembre-se também
que o anjo disse que ele não entenderia a visão porque ela era para um tempo futuro, “tempo
do fim”, e que para aquele momento ela estava selada, agora já se passaram por volta de uma
década e Daniel está estudando. Quando ele “entende” o tempo da desolação, ele fica
extremamente contrito e começa uma oração:
[obs. Leia detalhadamente, preste atenção nos negritos].

“Por isso me voltei para o Senhor Deus com orações e súplicas, em


jejum, em pano de saco e coberto de cinza. Orei ao Senhor, o meu
Deus, e confessei:

“Ó Senhor, Deus grande e temível, que manténs a tua aliança de amor


com todos aqueles que te amam e obedecem aos
teus mandamentos, nós temos cometido pecado e somos culpados.
Temos sido ímpios e rebeldes, e nos afastamos dos teus mandamentos
e das tuas leis. Não demos ouvido aos teus servos, os profetas, que
falaram em teu nome aos nossos reis, aos nossos líderes e aos nossos
antepassados, e a todo o teu povo. “Senhor, tu és justo, e hoje
estamos envergonhados. Sim, nós, o povo de Judá, de Jerusalém e de
todo o Israel, tanto os que estão perto como os que estão distantes,
em todas as terras pelas quais nos espalhaste por causa de nossa
infidelidade para contigo. O Senhor, nós e nossos reis, nossos líderes e
nossos antepassados estamos envergonhados por termos pecado
contra ti. O Senhor nosso Deus é misericordioso e perdoador, apesar
de termos sido rebeldes; não te demos ouvidos, Senhor nosso Deus,
nem obedecemos às leis que nos deste por meio dos teus servos, os
profetas. Todo o Israel transgrediu a tua lei e se desviou, recusando-se
a te ouvir. “Por isso as maldições e as pragas escritas na Lei de Moisés,
servo de Deus, têm sido derramadas sobre nós, porque pecamos
contra ti, cumpriste a palavra proferida contra nós e contra os nossos
governantes, trazendo-nos grande desgraça. Debaixo de todo o céu
jamais se fez algo como o que foi feito a Jerusalém. Conforme está
escrito na Lei de Moisés, toda essa desgraça nos atingiu, e ainda assim
não temos buscado o favor do Senhor, o nosso Deus, afastando-nos
de nossas maldades e obedecendo à tua verdade. O Senhor não
hesitou em trazer desgraça sobre nós, pois o Senhor, o nosso Deus, é
justo em tudo o que faz; ainda assim nós não lhe temos dado atenção.
“Ó Senhor nosso Deus, que tiraste o teu povo do Egito com mão
poderosa e que fizeste para ti um nome que permanece até hoje, nós
temos cometido pecado e somos culpados.”
Daniel 9:3-15 NVI

Segue comentário sequencial sobre cada termo em negrito:

• “confessei”: Perceba que Daniel ao entender a visão vai “se confessar” a Deus, ou seja,
ele lembra de seus pecados e do pecado de seu povo.

• “teus mandamentos”: Ele confessa e tem como regra os mandamentos.

• “somos culpados”: A oração é uma confissão de culpa do autor e ele inclui seu povo

• “justo”: Ele chama Deus de justo, o que implica que ele se entende diante da justiça.
Daniel e seu povo estão sendo julgados.

• “misericordioso”: Perceba que Daniel vai clamar por misericórdia.

• “perdoador”: Daniel chama Deus de perdoador, o que implica que mesmo sendo
julgados e sofrendo juízo, Daniel e seu povo tem esperança de misericórdia e perdão.

O autor segue a oração, relembra a aliança, os castigos (juízos) pela desobediência,


mas lembra também das promessas de misericórdia e apela:

“Inclina os teus ouvidos, ó Deus, e ouve; abre os teus olhos e vê a


desolação da cidade que leva o teu nome. Não te fazemos pedidos por
sermos justos, mas por causa da tua grande misericórdia. Senhor,
ouve! Senhor, perdoa! Senhor, vê e age! Por amor de ti, meu Deus,
não te demores, pois a tua cidade e o teu povo levam o teu nome.””
Daniel 9:18-19 NVI

Perceba que o cumprimento da promessa de misericórdia implica em o povo ser


purificado, perdoado e restaurado. A pergunta feita no versículo 13: “Até quando durará a
visão”, não deixa de ser uma pergunta que busca responder até quando o pecado do povo de
Deus será julgado, perdoado e o povo e seu Templo em Jerusalém restaurado. É inevitável a
conclusão de que todo o livro de Daniel é essencialmente sobre a transgressão do povo de Deus,
seu castigo, seu arrependimento e sua restauração final.
Algumas perguntas sobre Daniel 9:

• Os pecados de quem Daniel confessa?

• Qual a razão de eles estarem em uma situação desoladora?

• Quem está sendo julgado?

• Quem é purificado?

Note, Daniel não compreende totalmente a visão, vive a situação que testemunhou na
visão do capítulo 8, e agora está clamando por justiça, confessando seu pecado, pedindo
purificação, mas em nenhum momento ele confessa os pecados do “chifre pequeno” e pede por
ele purificação, justiça ou restauração. Com esse paralelo entre a visão do capítulo 8 e a própria
vida de Daniel e seu povo, podemos concluir que em última análise, o motivo de que o “chifre
pequeno”, ou qualquer outro poder, domine sobre o povo de Deus, são os pecados do próprio
povo de Deus, esses é que passam por julgamento, são perdoados e por fim restaurados.

““Entretanto, se vocês não obedecerem ao Senhor, o seu Deus, e não


seguirem cuidadosamente todos os seus mandamentos e decretos
que hoje dou a vocês, todas estas maldições cairão sobre vocês e os
atingirão:”
Deuteronômio 28:15 NVI

Note a seguir a promessa de misericórdia (que em Deuteronômio vem depois das


maldições), perceba como ela funcionária para resolver os problemas não só do capítulo 9, mas
também do capítulo 8, a assolação desoladora que se abateu sobre o “povo santo”:

““Quando todas essas bênçãos e maldições que coloquei diante de


vocês acontecerem e elas os atingirem onde quer que o Senhor, o seu
Deus, os dispersar entre as nações, e quando vocês e os seus filhos
voltarem para o Senhor, o seu Deus, e lhe obedecerem de todo o
coração e de toda a alma, de acordo com tudo o que hoje ordeno a
vocês, então o Senhor, o seu Deus, trará restauração a vocês, terá
compaixão de vocês e os reunirá novamente de todas as nações por
onde os tiver espalhado.”
Deuteronômio 30:1-3 NVI

É possível responder à pergunta: “Até quando durará a desolação?”, desta forma:

[Até] “quando vocês e os seus filhos voltarem para o Senhor”


Deuteronômio 30:2a NVI

No período das “2300 tardes e manhãs” (independente das mais variadas


interpretações) o povo de Deus precisa ser julgado, se arrepender, confessar seus pecados, ser
purificado e por fim restaurado. Se o “chifre pequeno” é julgado, sentenciado e executado, mas
o “povo de Deus” continua com a transgressão, outro chifre nasce e mais uma vez as maldições
os alcançam. Uma leitura atenciosa ao que foi abordado até aqui, permite indicar que por mais
que as ações do “chifre pequeno” representem as “mãos” que executam o castigo, elas só têm
poder porque o Senhor as está usando (Daniel 1:2) para trazer juízo sobre os pecados do “povo
de Deus”, se eles buscarem misericórdia e perdão, eles são purificados e restaurados, e o poder
do opressor acaba. Sendo assim essas afirmações podem ser feitas:

• Os pecados julgados são os do povo de Deus. Sim, Egito, Babilônia, Chifre Pequeno, são
apenas instrumentos de Deus para trazer juízo sobre seu povo.
• Os pecados que contaminam o Santuário são os do povo de Deus. Sim, são eles a razão,
se eles se arrependem, são purificados e restaurados (ex.: ver Levítico 16, Yom Kippur).
• É desses pecados que o Santuário é purificado. Sim, o perdão do pecado do povo de
Deus gera a restauração, o que inclui o local de “morada do Senhor”, seja o Templo em
Jerusalém, seja um Ser Humano em qualquer lugar.

Alexandre Roza

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