Você está na página 1de 15

O Sermão da Montanha e o tesouro no céu

Conteúdo do artigo
 O Sermão da Montanha e o tesouro no céu
 Tesouro no céu
 A candeia do corpo
 Dois senhores
 Solicitude pelas coisas do dia a dia
 O Reino de Deus

Após compreender a natureza das práticas religiosas dos judeus, como orações,
esmolas e jejuns, quando já tinham em si mesmos a recompensa (Mateus 6:16), agora
analisaremos como ajuntar tesouro no céu.

Tesouro no céu
“19 Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem,
e onde os ladrões minam e roubam;
20 Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem,
e onde os ladrões não minam nem roubam.
21 Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso
coração.” (Mateus 6:19-21)

Jesus orienta os seus ouvintes, que na sua grande maioria eram judeus,
a não ajuntarem tesouros na terra. Jesus estava falando de bens
materiais? Da usura? Das relações comerciais? Não!

Por que a ordem para não ajuntarem tesouros na terra? Porque as


práticas religiosas dos judeus tinham por objetivo tão somente o
serem vistos por seus semelhantes, e não por Deus.

Jesus orientou os seus ouvintes a ajuntarem tesouros nos céus logo


após alertá-los de que os hipócritas, os líderes da religião judaica, já
haviam recebido a recompensa deles quando se mostram contristados
diante dos homens, ou quando oram nas esquinas das ruas e praças, e
em pé nas sinagogas, ou quando davam esmolas para serem louvados
pelos homens (Mateus 6:2; 6:5 e 6:16).
“E, quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas;
porque desfiguram os seus rostos, para que aos homens pareça que jejuam.
Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.” (Mateus 6:16).
Como a justiça dos ouvintes de Jesus tinha que ser superior a dos
escribas e fariseus para poderem entrar no reino dos céus, caso os
ouvintes de Jesus fizessem como os escribas e fariseus, praticarem as
suas justiças a fim de serem vistos pelos homens, não teriam
recompensa diante de Deus (Mateus 6:1), daí a ordem de Jesus aos
seus ouvintes: “Mas, ajuntai tesouros no céu…” (Mateus 6:20).
A ordem do verso vinte, do capítulo seis de Mateus à multidão é um
contraponto às práticas religiosas dos fariseus, escribas, sacerdotes,
etc.

“Não ajunteis tesouro na terra…” (Mateus 6:19);


“Mas, ajuntai tesouro no céu…” (Mateus 6:20).
Como é possível alguém ajuntar tesouros no céu? Para terem
recompensa no céu era necessário aos ouvintes de Jesus ser bem-
aventurados, e o único modo era sofrendo perseguição por causa da
justiça, como bem foi destacado por Jesus, é o que confere grande
galardão nos céus (Mateus 5:10 -11).

Compare:

“Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque


assim perseguiram os profetas que foram antes de vós.” (Mateus 5:12);
“GUARDAI-VOS de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes
vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos
céus. Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como
fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos
homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.” (Mateus
6:1-2);
A questão acerca do ajuntar tesouro nos céus já havia sido abordada
por Cristo no inicio do Sermão do Monte, evidência que demonstra
que o discurso de Jesus é coeso e uno, e que as questões abordadas
estão entrelaçadas para evidenciar o quão falto de conhecimento
acerca das coisas de Deus eram os ouvintes de Cristo (Deuteronômio
32:28).
‘Tesouros’, ‘riquezas’ são figuras utilizadas pelos profetas para fazerem
referência ao que o homem herdará: a) ou por andar segundo os juízos
de Deus; b) ou na vaidade dos seus próprios pensamentos. São figuras
utilizadas nos Profetas, Salmos e na Lei para fazer referência à justa
paga de Deus aos homens pela justiça ou pela injustiça!

Todos os homens sem Deus são descritos como ‘amontoadores’ de


riquezas, ou seja, os judeus não são exceção à regra:

“Na verdade, todo homem anda numa vã aparência; na verdade, em vão se


inquietam; amontoam riquezas, e não sabem quem as levará.” (Salmo 39:6).
Anúncios
O que não faltava nos judeus era a aparência, no entanto, Deus olhou
dos céus à terra e não havia entre os homens um se que fosse justo
(nem mesmo os judeus), pois desde que nascem andam errados, pois
seguem um caminho que não é bom, falando mentiras (Salmos 53:3;
Salmos 58:3).

As Escrituras depunham contra os filhos de Israel evidenciando que


não eram justos, ou seja, eles que estavam em igual condição aos
gentios, porém, não deram ouvidos aos Profetas, aos Salmos e a Lei
(Romanos 3:9). Em nenhuma passagem bíblica os judeus são descritos
como exceção aos que se desviaram, antes quando a Bíblia aponta a
condição da humanidade, ela enfatiza que ‘todos’ se extraviaram!

Nas inúmeras advertências que constam das Escrituras, os filhos de


Israel são rotulados através de várias figuras como: loucos, dura cerviz,
adúlteros, infiéis, etc., pois não davam ouvidos à palavra de Deus.

“Eu, porém, disse: Deveras estes são pobres; são loucos, pois não sabem o
caminho do SENHOR, nem o juízo do seu Deus.” (Jeremias 5:4);
“Atendei, ó brutais dentre o povo; e vós, loucos, quando sereis
sábios?” (Salmo 94:8);
“Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos.” (Romanos 1:22).
Na verdade, os filhos de Israel tornaram-se mestres na arte do ganho
da opressão, da violência, da maldade, da transgressão. Apesar de
terem a lei de Deus chegada à boca, Deus estava longe do coração
deles, pois eram dados a obedecerem a mandamento de homens, mas
não obedeciam a Deus.
“Porque o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua
boca, e com os seus lábios me honra, mas o seu coração se afasta para longe
de mim e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens,
em que foi instruído” (Isaías 29:13).
Por isso Deus protesta contra Israel, dizendo:

“Ouve, povo meu, e eu falarei; ó Israel, e eu protestarei contra ti: Sou Deus,
sou o teu Deus (…) Mas ao ímpio diz Deus: Que fazes tu em recitar os meus
estatutos, e em tomar a minha aliança na tua boca?” (Salmo 50:7 e 16).
Quando Jesus anunciou: “Não ajunteis tesouro na terra…”, Ele
compreendia exatamente o que foi dito por Jeremias e outros profetas:
“Assim diz o SENHOR: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem se glorie
o forte na sua força; não se glorie o rico nas suas riquezas” (Jeremias 9:23).
‘Sábio’, ‘forte’ e ‘rico’ são figuras que rementem especificamente aos
judeus, pois todas as suas práticas religiosas, como jejuns, orações,
esmolas, etc., os tornava abastados, ricos, fartos, mas na verdade não
passavam de loucos, pobres, cegos e nus, homens que não confiavam
em Deus, e sim, na abundância de suas riquezas:

“Como a perdiz, que choca ovos que não pôs, assim é aquele que ajunta
riquezas, mas não retamente; no meio de seus dias as deixará, e no seu fim
será um insensato.” (Jeremias 17:11);
“Eis aqui o homem que não pôs em Deus a sua fortaleza, antes confiou na
abundância das suas riquezas, e se fortaleceu na sua maldade.” (Salmo 52:7).
Qualquer que não anda segundo a palavra de Deus é opressor,
violento, homicida, soberbo, ímpio, rico, por isso é dito:

“E respondeu-me, dizendo: Esta é a palavra do SENHOR a Zorobabel,


dizendo: Não por força nem por violência, mas sim pelo meu Espírito, diz o
SENHOR dos Exércitos.” (Zacarias 4:6);
“Eis que estes são ímpios, e prosperam no mundo; aumentam em
riquezas.” (Salmo 73:12);
“Não confieis na opressão, nem vos ensoberbeçais na rapina; se as vossas
riquezas aumentam, não ponhais nelas o coração” (Salmo 62:10).
Na sua epístola, o irmão Tiago deixa bem claro quem eram os ricos:
“EIA, pois, agora vós, ricos, chorai e pranteai, por vossas misérias, que sobre
vós hão de vir (…) Condenastes e matastes o justo; ele não vos
resistiu” (Tiago 5:1 e 6).
Mas, as riquezas deles estavam apodrecidas:

“As vossas riquezas estão apodrecidas, e as vossas vestes estão comidas de


traça. O vosso ouro e a vossa prata se enferrujaram; e a sua ferrugem dará
testemunho contra vós, e comerá como fogo a vossa carne. Entesourastes para
os últimos dias.” (Tiago 5:2 -3).
Os judeus faziam as suas práticas religiosas objetivando serem
reconhecidos pelos homens como bons seguidores da religião e serem
aceitos por eles, mas ter o louvor dos homens não dá direito a ter
recompensa junto ao Pai celeste.

“GUARDAI-VOS de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes


vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos
céus.” (Mateus 6:1).
Muitos judeus ficaram receosos de crerem em Cristo com medo de
serem expulsos das sinagogas, pois davam mais valor a gloria de
homens do que a gloria que é proveniente de Deus (João 12:42 -43).

A obra de Deus era crer em Cristo (João 6:29), mas como gostavam de
receber honras uns dos outros, rejeitaram crer em Cristo.

“Como podeis vós crer, recebendo honra uns dos outros, e não buscando a
honra que vem só de Deus?” (João 5:44).

A candeia do corpo
“22 A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem
bons, todo o teu corpo terá luz;
23 Se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se,
portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais
trevas!” (Mateus 6:22 -23).
Estes dois versos resumem o que foi dito acerca dos hipócritas
(aqueles que praticam as suas justiças a fim de serem vistos pelos
homens), e visa proporcionar uma mudança de concepção nos
ouvintes do Sermão da Montanha, ou seja, proporcionar a ‘metanoia’
(arrependimento, mudança de entendimento), de modo a tornar
possível ajuntarem tesouro no céu.
Jesus nomeia os escribas e fariseus de ‘hipócritas’, assim como os
nomeou ‘raça de víboras’, ‘loucos’, etc. Sabemos que tais nomes não
são xingamentos, antes identificam os fariseus e escribas com as
mesmas figuras utilizadas pelos profetas (Deuteronômio 32:33; Salmo
140:3; Jeremias 5:4 e 21).

Jesus nomeou os escribas e fariseus de hipócritas, visto que tudo o que


procedia da boca deles destruía o próximo, ou seja, acerca de Deus
eles não diziam boas coisas.

“O hipócrita com a boca destrói o seu próximo, mas os justos se libertam pelo
conhecimento.” (Provérbios 11:9);
“Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do
que há em abundância no coração, disso fala a boca.” (Mateus 12:34).
Quando afirmou que os escribas e fariseus eram maus, raça de víbora e
hipócritas, Jesus tinha em mente a palavra de Deus que diz:

“Porque o vil fala obscenidade, e o seu coração pratica a iniquidade, para usar
hipocrisia, e para proferir mentiras contra o SENHOR, para deixar vazia a
alma do faminto, e fazer com que o sedento venha a ter falta de
bebida.” (Isaías 32:6).
Como a ‘candeia’ do corpo são os olhos, e os fariseus e escribas eram
como que os ‘olhos’ do povo, todos em Israel estavam em trevas, pois
os fariseus e escribas eram condutores cegos, consequentemente, o
povo estava à caminho da cova.

“Deixai-os; são condutores cegos. Ora, se um cego guiar outro cego, ambos
cairão na cova.” (Mateus 15:14);
“Apalpamos as paredes como cegos, e como os que não têm olhos andamos
apalpando; tropeçamos ao meio-dia como nas trevas, e nos lugares escuros
como mortos.” (Isaías 59:10).
O ensinamento dos condutores cegos e maus (vil) fazia com que o
povo adotasse as mesmas práticas que eles: a) orações nas sinagogas e
nas praças; b) esmolar a fim de serem vistos, e; c) jejuarem
desfigurando os rostos.

Com suas práticas, exteriormente os fariseus e escribas pareciam justos


aos homens, mas por dentro, nunca haviam se lavado da imundície.
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque sois semelhantes aos
sepulcros caiados, que, por fora, se mostram belos, mas interiormente estão
cheios de ossos de mortos e de toda imundícia! Assim também vós
exteriormente pareceis justos aos homens, mas, por dentro, estais cheios de
hipocrisia e de iniquidade.” (Mateus 23:27-28);
“Há uma geração que é pura aos seus próprios olhos, mas que nunca foi
lavada da sua imundícia.” (Provérbios 30:12).
Há muito profetizou Isaías:

“À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, é porque


não há luz neles.” (Isaías 8:20).
Como os escribas e fariseus invalidavam a lei de Deus por causa da
tradição de homens, certo é que neles não havia luz.

“E assim invalidastes, pela vossa tradição, o mandamento de Deus. Hipócritas,


bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo se aproxima de
mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está
longe de mim. Mas, em vão me adoram, ensinando doutrinas que são
preceitos dos homens.” (Isaías 15:6-9).
Por intermédio de Moisés, Deus já havia alertado os filhos de Israel de
que eles não entendiam e nem conseguiam contemplar as coisas
concernentes a Deus.

“Porém não vos tem dado o SENHOR um coração para entender, nem olhos
para ver, nem ouvidos para ouvir, até ao dia de hoje” (Deuteronômio 29:4);
“Eu, porém, disse: Deveras estes são pobres; são loucos, pois não sabem o
caminho do SENHOR, nem o juízo do seu Deus” (Jeremias 5:4);
“Ouvi agora isto, ó povo insensato, e sem coração, que tendes olhos e não
vedes, que tendes ouvidos e não ouvis” (Jeremias 5:21).
Cristo instou a ajuntarem tesouro no céu, portanto, deveriam deixar o
caminho dos hipócritas, ou seja, dos seus líderes religiosos.

“Assim será para a tua alma o conhecimento da sabedoria; se a achares,


haverá galardão para ti e não será cortada a tua esperança” (Provérbios
24:14);
“Porque o homem maligno não terá galardão, e a lâmpada dos ímpios se
apagará” (Provérbios 24:20).

Dois senhores
“24 Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o
outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a
Mamom” (Mt 6:24)
Embora estejamos abordando os versos em tópicos, o leitor precisa
considerar a coesão dos argumentos apresentados por Cristo no
Sermão da Montanha, pois a abordagem acerca da impossibilidade de
servir a dois senhores ainda tem em vista a temática de como ajuntar
tesouros no céu.

O argumento de Jesus quanto à impossibilidade de servir a dois


senhores era incontestável, porém, o ensino dos escribas e fariseus,
guias dos filhos de Israel contrariava essa verdade, pois é impossível
ser ‘avarento’ e ajuntar tesouro no céu!

“E eles vêm a ti, como o povo costumava vir, e se assentam diante de ti, como
meu povo, e ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra; pois
lisonjeiam com a sua boca, mas o seu coração segue a sua
avareza.” (Ezequiel 33:31).
O povo de Israel gostava de ouvir a palavra de Deus, mas não
obedeciam (Mateus 21:28 -32). Não atinavam que somente os que
praticam a lei hão de ser justificados (Romanos 2:13; Tiago 1:22).

A máxima: ‘Não podeis servir a dois senhores’, decorre da seguinte


motivo: ‘Ou há de odiar a um e amar o outro, ou se devotará um e
desprezará o outro’. Por fim, Jesus dá aplicação prática da máxima: ‘Não
podeis servir a Deus e as riquezas’.
Algumas traduções vertem ‘riquezas’ por ‘Mamon’, como se Jesus se
referisse a um deus pagão, porém, não se trata de uma divindade
pagã, e sim, do próprio individuo, ou do seu próprio ventre.

“Cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre, e cuja glória é para confusão
deles, que só pensam nas coisas terrenas.” (Filipenses 3:19).
Saul é um exemplo claro de alguém que coxeava entre dois senhores:
Deus e a si mesmo. Quando Deus ordenou que destruísse
completamente os amalequitas, Saul convocou o povo e os reuniu em
Telaim e contou o povo: duzentos mil homens de infantaria e dez mil
homens de Judá.
Saul e o povo feriram os amalequias desde Havilá até Sur, que ficava
defronte para o Egito, porém, em dado momento, Saul e o povo
tomaram vivo a Agague, rei dos amalequitas, bem como o melhor das
ovelhas e dos bois. Ora, enquanto destruíam os amalequitas e toda
coisa que acharam vis e desprezíveis, estavam a serviço do Senhor, mas
quando pouparam a Agague e o melhor do interdito, seguiram a
avareza, servindo ao próprio ventre (2 Samuel 15:7-9).

Tanto Saul quanto o povo eram homens cujo deus era o ventre, pois
ao se lançarem sobre os despojos, contrariando a ordem de Deus,
tomaram posse de uma porção terrena, riquezas que são pertinentes
ao mundo: bois e ovelhas.

A glória que Saul desejou ao lançar mão de Agague não passava de


sua própria perdição. O rei Saul estava mais interessado em ser
honrado diante do povo e dos anciões, do que ser aprovado por Deus
(2 Samuel 15:30).

Do mesmo modo, quando os filhos de Israel jejuavam, não eram para o


Senhor, e sim, para si mesmos. Quando festejavam e comiam e
bebiam, não era para o Senhor, e sim, para eles mesmos.

“E para dizerem aos sacerdotes, que estavam na casa do SENHOR dos


Exércitos, e aos profetas: Chorarei eu no quinto mês, fazendo abstinência,
como tenho feito por tantos anos? Então a palavra do SENHOR dos Exércitos
veio a mim, dizendo: Fala a todo o povo desta terra, e aos sacerdotes, dizendo:
Quando jejuastes, e pranteastes, no quinto e no sétimo mês, durante estes
setenta anos, porventura, foi mesmo para mim que jejuastes? Ou quando
comestes, e quando bebestes, não foi para vós mesmos que comestes e
bebestes?” (Zacarias 7:3-6).
Os escribas e fariseus não serviam ao Senhor, antes a si mesmos, pois
quando jejuavam tinham o fito de fazer ecoar as suas vozes no alto.

“Eis que para contendas e debates jejuais, e para ferirdes com punho iníquo;
não jejueis como hoje, para fazer ouvir a vossa voz no alto” (Isaías 58:4).
Amar ao Senhor é obedecer (1 João 5:3). Se alguém crê em Cristo,
obedece a Deus, portanto, se fez servo. Mas, como buscavam glória
uns dos outros, não mudavam de concepção (metanoia) para crer, e
seguiam a sua avareza, pois onde está o coração, aí está o seu tesouro
(Mateus 6:21).
“Como podeis vós crer, recebendo honra uns dos outros, e não buscando a
honra que vem só de Deus?” (João 5:44);
“Apesar de tudo, até muitos dos principais creram nele; mas não o
confessavam por causa dos fariseus, para não serem expulsos da sinagoga.
Porque amavam mais a glória dos homens do que a glória de Deus” (João
12:42-43).

Solicitude pelas coisas do dia a dia


“25 Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que
haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo,
pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo
mais do que o vestuário?
26 Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em
celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do
que elas?
27 E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado
à sua estatura?
28 E, quanto ao vestuário, por que andais solícitos? Olhai para os lírios do
campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam;
29 E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu
como qualquer deles.
30 Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe, e amanhã é
lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pouca fé?
31 Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos,
ou com que nos vestiremos?
32 (Porque todas estas coisas os gentios procuram). De certo vosso Pai
celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas” (Mateus 6:25-32).

Diante da impossibilidade de servir a Deus e servir a si mesmo, Jesus


exorta:

“Não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou
beber…” (v. 25).
Vale destacar a pergunta que foi feita no início do estudo do Sermão
da Montanha: As instruções de Jesus no sermão do Monte são
prescrições de comportamento, moral, ou diz de uma nova lei?
Nenhuma destas opções!
A abordagem de Jesus tinha por objetivo confrontar o pensamento
dos seus ouvintes, judeus, que se julgavam melhores que os gentios
por serem descendentes da carne de Abraão, evidenciando que não
havia nenhuma diferença significativa entre o pensamento judaico e o
pensamento gentílico.

Tanto judeus quanto gentios andavam ocupados com o que haveriam


de comer, beber ou vestir. Os ouvintes de Jesus, na sua maioria, eram
judeus que se comportavam como se desconhecessem a verdade de
que o corpo possui valor maior que o mantimento e a vestimenta! Eles
pareciam desconsiderar que, se Deus cuida dos pássaros, quanto mais
dos homens! (Mateus 6:25 -26).

Jesus deixa claro que, por mais que o homem se preocupe, esteja
ansioso, etc., nem mesmo pode alterar a sua própria estatura, ou
acrescer uma hora a mais ao curso da vida. Se Deus cuida dos lírios do
campo, que não trabalham e nem costuram, por mais fugazes que eles
sejam, não cuidaria muito mais dos homens? (Mateus 6:26 -30).

A suma da exposição de Jesus se depreende dos versos 31 e 32, vez


que os versos 25 à 30 são argumentativos, portanto, não prescritivos
de comportamento. A exposição tinha por objetivo fazer os ouvintes
de Jesus fazer a seguinte consideração:

‘Todas essas coisas os gentios procuram!’ (Mateus 6:32).


Os judeus se achavam superiores aos gentios, mas não consideravam
que igualmente aos demais homens andavam ansiosos, perseguindo a
ideia: que comeremos? Que beberemos? Ou, com que nos vestiremos?
Se andavam ansiosos da mesma forma que os gentios, em que os
judeus eram diferentes dos demais homens?

“(Porque todas estas coisas os gentios procuram). De certo vosso Pai celestial
bem sabe que necessitais de todas estas coisas” (Mateus 6:32).
A preocupação dos judeus deveria ser outra: o reino de Deus e a sua
justiça, no entanto, se inquietavam por questões do dia a dia! A ordem
dada a Moisés não havia sido alterada:

“A justiça, somente a justiça seguirás; para que vivas, e possuas em herança a


terra que te dará o SENHOR teu Deus” (Deuteronômio 16:20).
De tudo que Jesus ensinou, a suma é:

“33 Mas, buscai[1] primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas
coisas vos serão acrescentadas.
34 Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã
cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal” (Mateus 6:33 -34).

O Reino de Deus
Os ouvintes do Sermão da Montanha deveriam buscar o reino de Deus
e a sua justiça (Mateus 5:33), pois somente através do reino de Deus
alcançariam a justiça superior à dos escribas e fariseus que dá direito
ao homem entrar no céu (Mateus 5:20), e por causa dessa justiça
seriam perseguidos e bem-aventurados, ajuntando assim tesouros no
céu (Mateus 5:10-12).

Através da temática: ‘o reino de Deus e a sua justiça’, percebe-se a


coesão do discurso, e que a temática, desde o anuncio das bem-
aventuranças, é proporcionar aos ouvintes a ‘metanóia’, ou seja, a
mudança de concepção de como serem salvos.

No que consiste ‘buscar o reino dos céus’? A ‘busca’ é o mesmo que


inquirir, investigar, perscrutar, etc., ou seja, os ouvintes de Jesus
deveriam estar ocupados em descobrir (identificar) o reino de Deus,
pois somente assim teriam a justiça que vem de Deus.

“E seja achado nele, não tendo a minha justiça que vem da lei, mas a que vem
pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé” (Filipenses 3:9).
Ora, os judeus à época de Cristo deveriam estar atentos as Escrituras,
pois João Batista estava apregoando no deserto da Judeia que era
necessidade uma mudança de pensamento (metanoia), e o motivo era
claro: o reino de Deus está próximo (Mateus 3:2). Neste mesmo
diapasão, Jesus veio anunciando a necessidade de mudança de
concepção, e apresentou o mesmo motivo: a proximidade do reino de
Deus (Mateus 4:17).
Os judeus deveriam inquirir, investigar, buscar, etc., para
compreenderem como se daria a vinda do reino de Deus, pois o reino
de Deus não vinha com aparência exterior, e nem os homens diriam:
– ‘Ei-lo aqui ou ali’ (Lucas 17:20-21), de modo a possibilitar identifica-
lo.
Como ‘investigar’, ou como ‘buscar’ o reino de Deus? Perguntando aos
amigos, irmãos e familiares? Não! Pois os inimigos do homem seriam
os seus próprios familiares (Miqueias 7:6; Mateus 10:36). Como confiar
nos amigos, irmãos e familiares, se as Escrituras diziam para não
confiar?

“Não creiais no amigo, nem confieis no vosso guia; daquela que repousa no
teu seio, guarda as portas da tua boca.” (Miqueias 7:5).
Para os filhos de Israel identificar o reino de Deus era necessário
analisar única e exclusivamente o testemunho que Deus deu acerca do
seu reino nas Escrituras.

Embora o reino de Deus estivesse em meio aos homens, ninguém o


apontou, dizendo: ‘Ei-lo aqui’, a não ser João Batista, em quem os
filhos de Israel não creram.
“Nem dirão: Ei-lo aqui, ou: Ei-lo ali; porque eis que o reino de Deus está entre
vós.” (Lucas 17:21);
“Porque João veio a vós no caminho da justiça, e não o crestes, mas os
publicanos e as meretrizes o creram; vós, porém, vendo isto, nem depois vos
arrependestes para o crer.” (Mateus 21:32);
“Porque veio João o Batista, que não comia pão nem bebia vinho, e dizeis:
Tem demônio.” (Lucas 7:33).
A ordem de Deus para os filhos de Israel era para não confiarem no
amigo, pai, mãe, irmãos, filhos, etc., quando ‘buscassem’ o reino de
Deus, antes deveriam se firmar na palavra de Deus anunciada pelos
santos profetas. Acerca do Messias cada qual tinha uma opinião: uns
achavam que era Elias, outros João Batista, outros Jeremias, ou um dos
profetas, etc., mas a revelação de Deus é o diferencial, pois somente
através da revelação Pedro confessou: – ‘Tu és o Cristo, o Filho do Deus
vivo’!
Carne e sangue (familiares) não trouxe aos homens o conhecimento de
que Cristo é o Filho de Deus, e sim, o Pai, por intermédio das
Escrituras! Sem a revelação de Deus em Cristo jamais Pedro confessaria
a filiação divina do Jesus de Nazaré.
Cristo é a justiça de Deus manifesta a todos os povos, e no evangelho
se descobre a justiça de Deus (Romanos 1:17). Deus havia prometido
salvação a todas famílias da terra, quando disse a Abraão: “… em ti
serão benditas todas as famílias da terra” (Gênesis 12:3).
É em função do que foi dito a Abraão que Deus anunciou, por
intermédio de Isaías, que o Messias seria salvação para todos os povos:

“Disse mais: Pouco é que sejas o meu servo, para restaurares as tribos de Jacó,
e tornares a trazer os preservados de Israel; também te dei para luz dos
gentios, para seres a minha salvação até à extremidade da terra.” (Isaías 49:6);
“O SENHOR fez notória a sua salvação, manifestou a sua justiça perante os
olhos dos gentios.” (Salmos 98:2).
O Messias veio conforme a profecia, e adentrou a cidade santa
aclamado como rei e assentado sobre um jumento, mas foi rejeitado e
morto por seus irmãos segundo a carne.

“Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém; eis que o teu rei
virá a ti, justo e salvo, pobre, e montado sobre um jumento, e sobre um
jumentinho, filho de jumenta.” (Zacarias 9:9).
Os filhos de Israel não entenderam a missão do Messias, pois queriam
o reino, porém, o rei escolhido por Deus por decreto (Salmo 2:6),
primeiro veio como pedra angular com a missão de edificar um templo
santo ao Senhor, pois só após construir o templo, que é a igreja, o
Reino de Cristo lhe será dado e firmado para sempre, conforme Deus
havia prometido a Davi.

“Este edificará uma casa ao meu nome, e confirmarei o trono do seu


reino para sempre.” (2 Samuel 7:13).
A pedra angular tornou-se pedra de tropeço, uma rocha de escândalo
para os descrentes.

“E uma pedra de tropeço e rocha de escândalo, para aqueles que tropeçam na


palavra, sendo desobedientes; para o que também foram destinados.” (1
Pedro 2:8);
“Como está escrito: Eis que eu ponho em Sião uma pedra de tropeço, e uma
rocha de escândalo; E todo aquele que crer nela não será
confundido.” (Romanos 9:33).
Enquanto Deus preparou um santuário para todos os povos, as duas
casas de Israel (Judá e Israel) foram enlaçadas e presas.
“Então ele vos será por santuário; mas servirá de pedra de tropeço, e rocha de
escândalo, às duas casas de Israel; por armadilha e laço aos moradores de
Jerusalém” (Isaías 8:14).
Os filhos de Israel deveriam buscar primeiro o Cristo e a sua justiça,
mas a preocupação deles era com a manifestação do reino.

“E, ouvindo eles estas coisas, ele prosseguiu, e contou uma parábola;
porquanto estava perto de Jerusalém, e cuidavam que logo se havia de
manifestar o reino de Deus.” (Lucas 19:11).

Você também pode gostar