Você está na página 1de 9

Cansei de tanto explicar essa questão e desse modo preferi fazer

uma aula a respeito. Sei não é um assunto novo, mas a insistência


e a desconfiança se isso é real ou não, redundaram nessa matéria
ai de baixo...
Espero seja útil..

De um modo bastante simples, sem muito aprofundamento, vou


tentar lhe explicar as três principais agressões feitas pelo
estabilizador à fonte de alimentação do PC:
Inicialmente há que conceituar o que o estabilizador faz, como faz,
como age..

Um estabilizador nada mais é do que uma chave seletora de um de


alguns "taps" (tomadas de saída) de um transformador ou de um
autotransformador. Veja ai abaixo uma simplificação dessa
topologia.

Desse modo, é simples de se ver que o nome estabilizador não é a


melhor definição para o mesmo, sendo que o mais correto seria
seletor de tensão, cuja função é a de escolher dentre as tensões
disponíveis a que se encontra mais próximo de 115 Volts AC, por
exemplo. Para fazer essa seleção é natural e esperado que essa
chave seletora saia de uma posição, e somente depois, passado
um tempo, curto até, atraque, faça contato com outra posição de
saída, pois se não der esse espaço de tempo haverá sobreposição
de tensões de diferentes valores e isso significaria colocar a saída
em curto circuito.. Sabido desse princípio de operação vamos ao
que interessa...
1ª Agressão:

Ao ter que desligar de uma das saídas para logo após tomar a outra
saída, passado um tempo, o que acontece com a fonte é que ela é
desalimentada nesse intervalo de tempo, por menor que ele seja, os
capacitores da fonte iniciarão um período de descarga que se
continuado poderá levar a desalimentar seu PC. Esse tempo
entretanto é curto o bastante para que a tensão dos capacitores da
fonte não chegue a valores tão baixos assim que desarme seu PC.
Cai a tensão sim sobre esses capacitores mas não a ponto de
desligar seu PC.

Veja ai uma ausência de tensão dessas numa passagem de


seleção típica de um estabilizador.. O famoso Tlec. Essa dai é a
visão de um ciclo da senóide da rede elétrica.

Se olharmos as características de uma fonte qualquer, lá nas


especificações, se pode ver que seus capacitores são
dimensionados para aguentar o tempo de um ciclo, 16 a 17 mili
segundos aproximadamente segurando seu PC numa boa...
Veja ai e pode procurar em qualquer outra boa fonte pela mesma
característica..
Aquele tempo ali acima, visto no osciloscópio representa mais ou
menos cerca de meio ciclo, talvez um pouco menos de distúrbio
nessa alimentação da fonte, na hora do chaveamento da seletora
do estabilizador, de modo que os capacitores não estarão
descarregados totalmente, mas a ponto de ficar....
Até ai nada de mais, a chave seletora está trocando de posição
para busca de uma "tensãozinha" melhor um pouco, enquanto isso
sua fonte está sem escada e pendurada no pincel...
Agora é que vem o problema... Fontes de alimentação, quando
você as liga, ao chegar em seu PC para fazê-lo trabalhar, tem uma
partida estressante demais, pois seus capacitores estarão
completamente descarregados. Essa corrente de carga dos
capacitores eletrolíticos tem um nome, se chama "inrush current",
ou corrente de partida.
As fontes tem obrigatoriamente um dispositivo destinado a limitação
dessa corrente de partida para que elas, essas correntes de partida,
não assumam valores catastróficos e danosos para toda a etapa de
entrada da fonte. Esse dispositivo se chama termistor, e tem um
funcionamento muito simples e fácil de entender. Ele é um NTC
(Negative Temperature Coeficient). Ou seja, traduzindo, ele é um
componente resistivo que tem um coeficiente de resistência
negativo, ou seja temperatura aumenta, a resistência diminui. Os
termistores normais das fontes costumam ter uma resistência de 10
a 20 ohms quando em temperatura ambiente, reduzindo para
menos de 1 ohm quando se aquece...
Ora, ao ligar a fonte o termistor está na temperatura ambiente e se
tem desse modo um resistor de 10 a 20 Ohms em série com a
alimentação e desse modo é capaz de limitar a corrente de carga
dos capacitores da fonte. Ao passar essa corrente por dentro do
termistor ele se aquece e durante o funcionamento normal da fonte
ele é na verdade um resistor de menos de 1 Ohm que em nada
atrapalha a fonte... Acontece que ele, para esfriar toma um tempo
de no mínimo 1 minuto, senão mais.
Algum de vocês já ouviram alguma vez a recomendação de que, ao
desligar algum aparelho eletroeletrônico se esperasse, se desse um
tempo para somente então liga-lo novamente. Pois justo esse
tempo se destina ao resfriamento do termistor, para que no novo
religamento ele possa estar lá cumprindo a função do mesmo..
Veja agora a "inrush current" típica de uma fonte. (são dados
técnicos possíveis de serem encontrados no site das fontes quando
o fabricante é lá coloca os dados).

Veja ai... Essa fonte consultada garante uma corrente menor que 80
Amperes na hora da partida.. Eis ai a explicação daqueles
"TUUUM" que acontecem ao ligar uma fonte.. Se ela estiver
alimentada por um estabilizador por um nobreak vocês sentirão que
eles vão certamente "se peidar" para fornecer essa corrente dai.. O
estabilizador, se mais fraco um pouco, vai metralhar alguns tlecs,
pois não aguenta essa corrente dai..
Já vi muitos nobreaks mais simples "abrirem as pernas" ou nem
sequer partir quando da "ligada da fonte"...
Isso tudo por causa da necessidade de carregar os capacitores da
fonte, e mesmo com o protetor trabalhando, o termistor, que estava
frio, ela, a fonte exige e exige muito na retomada da energia em
função da tarefa árdua de carregar os capacitores..
Mas voltando a linha de raciocínio da explicação do porque o
estabilizador atrapalha a fonte.. É fácil de concluir agora...
Se sabe que os capacitores, na comutação da chave seletora do
estabilizador, não se descarregam até o fim, e isso é bom, um ponto
positivo, mas em compensação tem um outro tremendamente
negativo, nosso conhecido termistor, cuja função é limitar a corrente
de entrada, que leva mais de minuto para se esfriar e voltar a ser
operacional, estará tendo somente 8 mili segundo para tal. É isso
mesmo, somente 0,008 segundos. Ou seja, o termistor estará fora
dessa dai. A fonte e toda a sua etapa de entrada, seus filtros seus
diodos tudo isso vai tomar uma corrente muito forte, mas muito forte
mesmo, tão logo a chave seletora do estabilizador aportar no tap
escolhido para fornecer tensão ao seu PC. Ou seja é uma porrada e
tanto... Nem o fabricante especificou a fonte para isso, uma porrada
em cada tlec do estabilizador. Ou seja, as fontes aguentam pois são
muito boas... É por isso que se queima tantas fontes de PC por ai.
Tem um estabilizador na frente.
As fontes de TV, do som, do game, não queimam tanto assim. Vai
ver se elas tem estabilizador antes delas??? É claro que não...
Éssa é a primeira agressão do estabilizador a fonte de seu PC.
Cada Tlec uma porrada fantástica... Alta corrente..
2ª Agressão:
Já se viu que a corrente que passa na hora do Tlec do estabilizador
é "Power", muito mais alta que a corrente normal de uso da fonte,
pois se destina a recarregar os capacitores já com tensão bem mais
baixa, e sem contar com o prestimoso auxílio do termistor, pois
esse estará fervendo (de raiva) ..
Agora vou pedir que vocês que já estudaram isso pelo menos
algum dia no colégio se recordem daquilo que lá vimos pelo nome
de FCEM ou Força Contra Eletromotriz, que aparecia em um indutor
no momento em que se cortasse a corrente elétrica que nele
passava...
Quem não se lembrar visualize ai um livrinho de dar choque... Uma
pilha de 1,5 Volts , um indutor e um chispador, ou cigarra, ou
campainha qualquer abrindo e fechando a corrente em cima do
indutor são suficientes para gerar surtos de tensão de 60 a 100
Vezes maior que a tensão da pilha... É a FCEM.. Lembrem de como
é gerada a faísca nas velas do motor do automóvel, é pela abertura
de um indutor (bobina) e ai se consegue gerar surtos de tensão da
ordem de 15 a 30 Mil volts, a partir dos 12 Volts da bateria do
automóvel...
Ou seja: corrente, indutor, e abertura de circuito... É tudo isso que é
necessário para geração de surtos de tensão..
- Mas indutor não é uma bobina de fio enrolada, assim como o
transformador do estabilizador??? SIM....
- E abertura de circuito, não é aquilo que a chave seletora
faz??? SIM..
Necessito dizer mais alguma coisa agora que vocês acabaram de
conhecer uma excelente máquina de gerar surtos de tensão??? O
estabilizador...
Não.. Pois vou lhe mostrar um desses surtos então... Ai está, tem
um valor próximo aos mil volts e se dá exatamente na abertura da
chave, nunca no fechamento.
Se vocês repararem a tensão de saída, depois da comutação, é um
pouco mais baixa, pois a decisão naquela hora, da lógica do
estabilizador, foi a de reduzir uns 6 volts na saída do mesmo. Viram
o pico sobreposto ao semiciclo negativo da rede elétrica. Esse foi o
surto de tensão gerado pela abertura da chave seletora do
estabilizador... Se essa alimentação fosse de 220 Volts o valor
instantâneo daquele valor negativo da forma de onda da senóide da
rede, no exato instante aonde o surto foi gerado seria de 220 x raiz
de 2 = 311 Volts. Fica fácil de ver que o tamanho do pico gerado
tem uma tensão de mais ou menos o tamanho da tensão pico-a-
pico da rede de 220 Volts. Desse modo, o valor pico a pico ai seria
de 622 Volts que somados aos 311 da tensão da rede dariam lá
bem perto dos 1.000 Volts... Direto para a sua fonte de alimentação,
sem coisa nenhuma na frente, nem sequer o fusível do próprio
estabilizador... nada, nada, diretasso para a sua fonte segurar...
Esse, os picos de tensão, os surtos de tensão gerados pelo
estabilizador, na hora da abertura de sua chave seletora, é a
segunda agressão do estabilizador a fonte...

3ª Agressão:
É sabido que a ordem de grandeza de tempo necessário para que
um estabilizador "corrija" a variação que ele porventura tenha
sentido na rede elétrica é da ordem de 30 a 50 mili segundos.
Vamos ver nas especificações???

Veja ai menor ou igual a 3 ciclos de rede. O ciclo de rede de 60 Hz


tem um tempo de 1/60 = 0,01666 segundos. Três desses ciclos
terão um tempo total de 50 mili segundos... Esse é o tempo
necessário para o estabilizador "corrigir" a tensão de saída,
segundo seu processo de escolha e seleção de uma tensão
melhorzinha para seu PC...

Ora, uma fonte dessas de PC não raramente trabalha na frequência


de 50 Khz e conseguirá retroalimentar e corrigir as suas saídas
como devem ser, independentemente de que você tenha ligado um
chuveiro, que a luz tenha piscado ou por causa do aumento
repentino de corrente pedido pela GPU pois chegou a hora de
processar uma grande explosão na tela...
Bem, o ciclo dessa fonte tem uma duração de 1/50000 = 0,00002
segundos ou 20 micro segundos..
Pois é isso dai, em 20 micro segundos a sua fonte seja ela genérica
ou super moderna de marca, recuperará e disponibilizará para seu
PC as tensões de modo correto.

Então, quando o evento perturbador da energia acontecer, digamos


a ligada do chuveiro, a fonte corrigirá tudo ai em seu PC em 20
micro segundos, reajustando a largura dos pulsos aplicados ao
transistor de entrada de modo a compensar a queda da tensão
provocada pelo ligamento do chuveiro.. Isso em 20 micro
segundos..
Passados outros 2500 tempos iguais a esses mesmos 20 micro
segundos, portanto chegando ao tempo de 50 mili segundos após o
ligamento do chuveiro, o estabilizador "metido de pato a ganso", vai
lá e retoca a tensão e coloca mais ou menos 6 volts para colaborar
com a tarefa que lhe foi atribuída...
Ao fazer essa miséria, a fonte, detetando a subida desses 6 volts
vai lá, e em 20 micro segundos refaz a correção e tudo fica bem..

Desse modo, e de um modo muito simplista, se a fonte estivesse


sozinha, no ligamento do chuveiro ela teria que trabalhar uma vez,
para corrigir..
Com o estabilizador "ajudando", ela terá que trabalhar duas vezes...
E assim vai... Essa é a terceira agressão do estabilizador a fonte,
ou seja, é decretada que sua fonte terá que trabalhar em dobro
necessite ou não...

Poderia colocar ai uma série de outros problemas derivados da


adoção do estabilizador , mas não de toda a culpa dele... Cito o
maior e mais comum deles... A enorme maioria dos estabilizadores
que estão por ai no parque de PC's desse Brasil são estabilizadores
de 300 VA de capacidade de entrega, a alimentar máquinas com
fontes comuns de baixa ou média eficiência, em PC´s com 200 a
250 watts de demanda. Além do PC colocam lá, no estabilizador o
monitor e sei lá mais o que. Se fizer as contas de modo correto
estarão demandando mais de 600 VA de um estabilizador que foi
projetado para fornecer somente 300 VA. Pronto para atear fogo na
casa...

Finalizando e para alegrar o ambiente, dizia um colega numa visão


tão bem realista quanto humorada do estabilizador ..

"Estabilizador é igual a zagueiro gordo... Chega sempre


atrasado e quando vai ajudar o goleiro levantar, após ter
tomado o gol, ainda pisa no saco do mesmo..."

Espero ter dado uma visão clara do que realmente pega com
relação a convivência do estabilizador com a fonte, sem "achismos"
e de uma maneira simples e ao mesmo tempo sem deixar de lado a
visão técnica da coisa..
Quanto a decisão de usar ou não o estabilizador, cabe a cada um,
afinal a grana é vossa.
Eu, se quiserem saber, tem mais ou menos 20 a 25 anos que não
os uso mais...
Quanto aquelas histórias de que o tio do primo do vizinho usa e
nunca... e coisas do tipo.. me poupem. Os trato bem e em altíssimo
nível a ponto de me dar o trabalho de responder de modo
consistente o que foi solicitado... Ou seja, contravenenos que
venham mas no mesmo nível e não sem embasamento algum.

Você também pode gostar