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Escrito por Newton C. Braga


Com o aumento do número de computadores em nosso país, as oficinas de reparação
passam a ter a possibilidade de trabalhar com um novo produto. No entanto, não é
possível mexer em tudo num computador sem um preparo específico. Isso, entretanto não
deve desanimar o técnico que pode ter em alguns setores do computador a possibilidade
de fazer reparos e até de uma maneira simples. Os monitores de vídeo, amplificadores e
as próprias fontes de alimentação são alguns exemplos. Nesse artigo damos algumas
dicas importantes para a reparação das fontes chaveadas encontradas tanto em
computadores como em muitos outros periféricos e mesmo equipamentos de consumo.
Existem circuitos nos computadores em que qualquer tipo de reparação é bastante
problemática, tanto pela dificuldade em se localizar esses componentes como também
pelo modo como são montados. Placas de diversas camadas, componentes
extremamente pequenos (SMD) e com muitos terminais muito próximos são alguns casos
em que a reparação se torna problemática.
No entanto, existem algumas partes dos circuitos em que tanto são usados componentes
comuns discretos, de tamanhos normais, como também sua troca é facilitada pelo modo
tradicional como são montados. Isso ocorre, por exemplo, em monitores de vídeo, em
amplificadores multimídia, em alguns circuitos de impressoras e principalmente nas fontes
de alimentação.
Na verdade, essas fontes são relativamente simples de reparar em alguns casos, tanto
pela menor complexidade de seus circuitos e pelo uso de componentes discretos comuns,
como pelo modo como esses componentes são montados.
Dessa forma, um reparo numa fonte é possível em muitos casos, e com pouco custo,
possibilitando a recuperação de um circuito do computador que, se bem que seja
relativamente barato, pode ainda sair mais barato se for reparado.
Ao reparar uma fonte chaveada ou abreviadamente SMPS de Switch Mode Power
Supplies, o procedimento a ser adotado por um técnico é completamente do utilizado por
uma fonte comum.
Numa fonte comum, a não ser num pequeno setor de entrada encontramos uma tensão
alternada. Nos demais setores as tensões encontradas são todas contínuas. Assim, para
o reparo de uma fonte linear (também dita analógica), basta medir tensões e tudo está
resolvido.
Numa fonte chaveada encontramos sinais, com freqüências que podem superar 1 MHz, o
que exige não a disponibilidade de instrumentos capazes de verificar esses sinais, como
um osciloscópio, como também o conhecimento do profissional das formas de onda que
devem ser observadas.
Um outro ponto que também dificulta a análise dessas fontes por parte do técnico menos
familiarizado é o fato de que muitas delas possuem recursos de proteção que as desliga
quando alguma coisa está errada.
Assim, a fonte desliga completamente parecendo "morta" quando alguma coisa ocorre e o
técnico sem conhecimento, não sabe por onde começar.
Para saber o que pode e o que não pode ser reparado numa fonte, e se isso compensa,
começamos por analisar o princípio de funcionamento de uma fonte chaveada típica que
é mostrado em blocos na figura 1.
 

 
É claro que podem ocorrer pequenas variações de uma fonte para outra, conforme o que
se denomina a topologia usada a qual depende da potência de saída, do tipo de circuito
que vai ser alimentado e muito mais.
Por exemplo, em lugar do acoplador óptico no bloco de feedback podemos encontrar
simplesmente um enrolamento adicional do transformador comutador. Em lugar de
apenas um transistor comutador, podemos encontrar dois em push-pull, o feedback de
controle pode ser obtido de enrolamentos diferentes do transformador e assim por diante.
Uma fonte típica, entretanto tem sempre quatro setores principais que são indicados
nesse diagrama de blocos.
 
Setor 1 - Setor de tensão +B não regulada. Trata-se de um setor linear da fonte que inclui
a alimentação contínua, o circuito de alimentação de standby, e o transformador primário
além do transistor comutador.
 
Setor 2 - Nesse setor encontramos o circuito de partida e também de excitação do
transformador. Esse circuito fornece o sinal de controle para o transistor comutador que é
o componente de potência mais importante de toda a fonte. Nas fontes mais simples esse
circuito tem apenas um transistor e um poucos componentes periféricos, mas nas fontes
mais elaboradas podemos até encontrar um microcontrolador que fornece sinais
processados para o transistor comutador.
 
Setor 3 - Circuitos secundários - são os circuitos que estão depois do transformador, ou
seja, alimentados por seus enrolamentos secundários com retificadores, filtros e
eventualmente reguladores lineares de tensão. Esse circuito é que fornece a alimentação
para as cargas da fonte.
 
Setor 4 - Feedback e controle - nesse setor estão os componentes que controlam a
excitação do setor 2 a partor de informações obtidas na saída dos circuitos do setor 4.
Esse circuito faz então a regulagem da tensão de saída, monitora a alta tensão, liga e
desliga o circuito em caso de necessidade e proporciona o isolamento entre a entrada e
saída através do uso de acopladores ópticos, enrolamentos sensores separados ou
outros recursos.
 
Cuidados antes de mexer
Pelos blocos mostrados na primeira figura, o leitor pode perceber que os blocos principais
de uma fonte chaveada não são isolados da rede de energia, por isso, existe sempre o
perigo de choques em caso de um toque acidental.
Assim, uma prática altamente recomendável ao se trabalhar com fontes desse tipo,
consiste no uso de um transformador de isolamento. Evidentemente, esse transformador
deve estar associado a recursos adicionais como indicação de tensão de saída e fusíveis
de proteção contra curto-circuitos.
Além disso é conveniente estar bem atento para o fato de que existem dois tipos de terra
numa fonte chaveada e que eles não são comuns. Um deles é o terra-quente que esta
associado ao terra ou neutro da rede de energia. Esse terra está normalmente nos
setores de entrada da fonte. O outro é o terra do chassis que está associado ao setor
depois do transformador e que está isolado da rede de energia. Verifique sempre em
relação à qual deles uma tensão que deve ser medida está referida.
Um ponto crítico nesses dois terras está, por exemplo, no acoplador óptico. O lado do
LED tem o terra associado ao chassi enquanto que o lado do foto-transistor tem o terra
associado à rede, ou seja, é o terra quente.
 
Procedimentos
Alguns poucos passos básicos permitem mesmo ao técnico menos experiente encontrar
problemas de funcionamento numa fonte chaveada. A seguir vamos tratar dos passos que
devem ser dados no diagnóstico de problemas.
 
Primeiro Passo
Verifique a fonte de standby (espera). As tensões dessa fonte são importantes pois
alimentam o microprocessador. Se essas tensões estiverem incorretas a fonte não parte.
Observe que nem todas as fontes possuem esse recurso. Lembramos ainda que algumas
fontes possuem um setor com transformador separado para essa alimentação.
Verificando que esse setor funciona, muitos componentes suspeitos podem ser
descartados. Se não estiver em ordem podemos suspeitar do CI desse setor que
normalmente é um outro comutador, mas de menor potência.
 
Segundo Passo
O próximo procedimento consiste em se verificar se a parada da fonte se deve a
problemas dela mesmo ou do circuito alimentado. Isso é feito desligando-se a carga que
ela alimenta. Com isso é possível verificar se o desligamento eventual da fonte se deve a
um problema de sobrecarga do circuito alimentado por uma falha dele, ou se o problema
e da própria fonte.
Leve em conta que muitas fontes não operam se não tiverem uma corrente mínima de
carga, o que significa que desligá-la simplesmente do circuito alimentado não resultar em
nada.,
Uma idéia consiste em se conectar uma pequena lâmpada, que tenha a tensão de saída
da fonte no setor testado, mas uma potência que não seja muito elevada, apenas para
fornecer uma carga mínima para o teste de funcionamento, como mostra a figura 2.
 

 
O exemplo dado a seguir serve tanto para o caso de computadores, como para uma fonte
chaveada usada em monitores de vídeo ou mesmo em televisores comuns, que
apresenta a mesma configuração.
Para um televisor, por exemplo, em que a tensão chega a mais de 130 V pode-se usar
uma lâmpada de 40 a 50 W comum enquanto que para um computador ou outro periférico
de baixa tensão, use uma lâmpada de 12 V ou 18 V de 500 mA.
Se a tensão com a lâmpada acesa for normal, isso significa que a fonte está funcionando
e que o problema pode estar no circuito que está sendo alimentado.
Se a lâmpada não acender, a fonte não partir,ou ainda, se a lâmpada acender mas
desligar em seguida (entra em shutodown) ou ainda, se a lâmpada tiver um brilho
excessivo, indicando sobretensão, então isso indica que existe algo anormal com a
própria fonte. Os próximos passos vão indicar como descobrir o que está errado.
 
Terceiro Passo
Se ainda não chegarmos à conclusão alguma, o próximo passo consiste em se retirar o
sinal de comutação do transistor de potência (normalmente um FET de potência, montado
num dissipador de calor).
Para essa finalidade, normalmente basta levantar um dos terminais dos componentes que
acoplam o circuito gerador PWM à comporta desse transistor. Normalmente existe um
resistor para essa finalidade. Com esse procedimento, os circuitos do setor 3 são
desativados e com isso é possível fazer a análise dos demais circuitos da fonte.
Além disso, garante-se que nenhuma tensão vai sair da fonte quando ela for ligada,
podendo sobrecarregar os circuitos alimentados. Veja que muitas vezes a fonte está ruim
e os circuitos alimentados têm uma alimentação inadequada, podendo danificá-los depois
de certo tempo.
 
Quarto Passo
Passamos então á análise dos circuitos do bloco 1. Esses circuitos incluem a retificação e
filtragem de entrada. Deve-se verificar as tensões até o transistor comutador, verificando
se ele recebe alimentação correta. Comece verificando a tensão de +B no transistor
comutador.
O multímetro ou então um osciloscópio são os instrumentos apropriados para se fazer a
análise dessa etapa.
Se for constatada uma baixa corrente e uma tensão normal de aproximadamente 160 V
se a rede de energia for de 110 V, então a fonte de alimentação, em princípio está boa.
Será interessante, antes de passar para a próxima etapa, verificar se o transistor
chaveador não está aberto. Para essa finalidade, retire-o do circuito e faça os testes
convencionais.
Outro ponto ainda desta etapa que deve ser verificado, é o resistor que normalmente
existe na fonte (ou emissor) do transistor que pode estar alterado ou aberto. Se esses
componentes estiverem bons, passe ao passo seguinte.
Por outro lado, se não for encontrada tensão alguma e nenhuma corrente então é porque
existe algo aberto nesse setor do circuito. Verifique então os fusíveis, resistores de
segurança (fusistores), diodos e capacitores de filtro. Teste também a continuidade do
enrolamento primário do transformador de chaveamento.
Se a tensão da fonte estiver anormalmente baixa, isso pode ser sinal de que existe algum
componente alterado ou em curto na linha de +B. O transistor pode estar em curto,
podem existir problemas nos diodos da ponte retificadora, no capacitor de filtro e outros
componentes que devem ser testados. Também deve ser verificada a possibilidade de um
curto do enrolamento primário do transformador com sua carcaça ou com o chassi.
 
Quinto Passo
O próximo passo consiste em se fazer a análise do circuito de excitação do transistor
chaveador. Antes porém devemos verificar se o circuito integrado que controla isso está
funcionando. Para essa finalidade, ele deve receber a tensão de partida de uma rede
divisora a partir do +B. Se essa tensão não existir, verifique os componentes que a
fornecem.
Depois de procedimento, podemos verificar se o oscilador do circuito está funcionando,
ligando sua saída ao osciloscópio para comprovar a presença do sinal comutador. As
formas de onda e a freqüência devem coincidir. Um sinal com muito ruído pode ser difícil
de ser analisado ou ter a freqüência medida.
Se houver uma variação da freqüência maior do que 10% do valor previsto, isso pode
indicar que o controlador se encontra com problemas ou algum componente a ele
associado. Faça uma verificação.
Observamos que algumas fontes possuem um CI de controle com um pino de teste e que
ainda pode ocorrer que ela fique desabilitada quando sem carga, caso em que o oscilador
não funciona. Verifique isso.
 
Sexto Passo
Um procedimento interessante no diagnóstico de fontes chaveadas consiste na realização
do teste dinâmico do circuito de realimentação e controle. Esse circuito, conforme mostra
a figura 3, possui normalmente um acoplador óptico como elemento básico.
 
 
Além da própria falha do acoplador ou do seu circuito de excitação, também podem
ocorrer problemas com o transistor de realimentação que não fornece ao microcontrolador
ou ao transistor comutador um sinal de controle apropriado.
Uma possibilidade interessante de teste para esse circuito consiste em se simular seu
funcionamento aplicando-se uma tensão externa ao transistor do sensor do acoplador, e
verificar se isso faz com que a fonte funcione. A fonte deve fornecer uma tensão da ordem
de alguns volts com limitação de corrente.
A aplicação da tensão no elemento sensor do acoplador óptico vai fazer com que ocorre
uma variação da tensão de saída da fonte, o que pode ser medido facilmente com um
multímetro.
Se nenhuma modificação na tensão de saída ou no funcionamento da fonte ocorrer com a
aplicação dessa tensão isso pode ser sinal de que o acoplador óptico se encontra com
problemas. Retire-o do circuito para um teste de funcionamento.
Se o do acoplador estiver funcionando deve ser feito o diagnóstico dos demais
componentes dessa etapa. Isso pode ser feito pela medida das tensões em seus diversos
pontos, observando-se que o LED do acoplador precisa de uma tensão entre 1,6 e 1,8 V
para funcionar.
Nesse teste deve ser também analisado o funcionamento de eventuais blocos de shut-
down e proteção contra sobretensão, os quais devem estar funcionando. Por exemplo,
uma tensão excessiva na saída faz com que esses circuitos sejam ativados e a fonte é
desligada.
 
Componentes Usados
Nas fontes chaveadas existem componentes críticos. Se um desses componentes
precisar ser substituído o leitor deve tomar muito cuidado para não utilizar um de menor
qualidade ou cujas especificações sejam inferiores ao original.
Por exemplo, um transistor comutador (MOSFET) pode ter o mesmo tipo, mas diversos
graus de qualidade ou de especificações dados pelo sufixo. Assim, se o original for sufixo
A, por exemplo, e usarmos um sufixo B, onde B indica uma tensão máxima suporta entre
dreno e fonte um pouco menor, isso pode comprometer o funcionamento da fonte.
Da mesma forma, se colocarmos um resistor de 5% num local em que é exigido um
resistor de 1%, isso pode afetar o funcionamento da fonte levando-a a uma nova falha. É
claro que nesse caso, existe uma possibilidade interessante que deve ser utilizada, mas
apenas nos casos de emergência.
Na falta de um resistor de 1% de determinado valor, pode-se selecionar com um
multímetro de boa precisão, num lote de resistores de 5% ou mesmo 10% ou que esteja
com o valor mais próximo do desejado e utilizá-lo.
Outro ponto importante na substituição de componentes de uma fonte chaveada está na
substituição de capacitores. Os capacitores possuem uma especificação denominada
ESR (Equivalent Series Resistance), em português resistência equivalente em série.
O que ocorre é que o circuito equivalente a um capacitor é o mostrado na figura 4, onde
existe uma resistência em série virtual que nada mais é do que a resistência dos seus
terminais e dos próprios eletrodos internos do componente.
 

 
Num bom capacitor a ESR deve ser a menor possível para que não ocorram problemas
de instabilidade do circuito, como regulagem errática, oscilações, shut-down errático e
outros. Os capacitores usados nas fontes chaveadas normalmente são tipos de baixa
ESR.
Na substituição devem ser usados tipos equivalentes de baixa ESR, pois a troca por um
de ESR elevada pode levar a novos problemas de funcionamento da fonte. Alguns
centavos a mais num capacitor de marca conhecida pode significar a diferença entre ter
uma fonte funcionando normalmente ou apresentar novos problemas.
 
Conclusão
Se bem que tenham um princípio de funcionamento diferente das fontes analógicas
comuns, usem componentes mais sofisticados, as fontes chaveadas podem ser
reparadas com alguma facilidade pelo profissional que esteja bem preparado.
Esse preparo começa com o conhecimento de seu princípio de funcionamento, passa
pela utilização de técnicas e instrumentos apropriados e termina na escolha certa dos
componentes de substituição.
Nesse
artigo demos uma breve visão de como o diagnóstico de problemas dessas fontes pode
ser feito de maneira lógica. Variações podem ocorrer em função da topologia de cada
fonte, no entanto, a posse do diagrama e também de bom sensor ajudam muito a cada
um saber o que deve fazer diante de uma fonte que não funciona.

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