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TINTURAS DE PLANTA FRESCAS

Nos últimos tempos, o uso de tinturas feitas a partir da planta fresca tornou-se popular entre
alguns herbalistas. A crença é muitas vezes que uma tintura de planta fresca reflete melhor a
“vitalidade” ou “energia” da planta e, portanto, será um preparado mais terapêutico. Outros
terapeutas acreditam que uma tintura de planta fresca preservará melhor os delicados
princípios ativos da planta.
Por outro lado, as seguintes observações precisam ser consideradas:

• Faltam evidências à partir de análises fitoquímicas de que tinturas de plantas frescas


contêm melhores níveis de princípios ativos do que tinturas de plantas secas. Na verdade,
tinturas de planta fresca são geralmente preparadas em um ambiente com baixo teor de álcool,
o que significa que alguns componentes menos polares (mais lipofílicos) podem ser pobremente
extraídos.
Além disso, a atividade enzimática do material vegetal pode não ser inibida neste ambiente de
baixo teor de álcool, o que significa que os principais fitoquímicos podem na verdade ser
decompostos durante o processo de maceração. Este fato foi dramaticamente ilustrado por
Bauer, que descobriu que o ácido chicórico em preapados com a planta fresca de Echinacea
purpurea foi amplamente decomposto pela atividade enzimática. Portanto, o que podia ser
encontrado na planta viva da Echinacea não foi preservado na tintura da planta fresca.

• Tinturas de plantas frescas nunca foram oficiais. Embora preparações com plantas frescas
tenham sido incluídas na farmacopeia de homeopatia (o que é compreensível, dadas as
considerações energéticas na homeopatia), elas nunca foram listados em farmacopeias
convencionais, exceto alguns registros de sucos frescos estabilizados conhecidos como succi
(singular: succus). Portanto, usar uma ampla gama de tinturas de plantas frescas é como navegar
por águas desconhecidas.
• Por causa do teor de água das tinturas de plantas frescas, fazer preparados mais fortes do que
1: 5 usando a base de peso seco é difícil. Este problema pode ser prontamente ilustrado pelo
exemplo a seguir. Uma planta frondosa e fresca normalmente contém 80% de umidade.
Portanto, 100 g deste material representa 20 g de erva seca. Para fazer uma tintura na
concentração de 1: 5, este equivalente a 20 g de erva seca deve ser misturado com 100 ml de
solvente líquido. No entanto, 80 ml de água já existe da própria erva. Portanto, para preservar
a proporção de 1: 5, apenas 20 ml de etanol a 96% podem ser adicionados. Estes 20ml de etanol
não são suficientes para extrair fisicamente os volumosos 100g do material vegetal fresco. No
entanto, o que provavelmente é tão prejudicial quanto isso é que o percentual efetivo de etanol
no preparado é de apenas 20% (20 ml de etanol e 80 g [ou ml] de água da planta fresca). Esta
quantidade é muito baixa para extrair componentes lipofílicos e mal chega a ser suficiente para
preservar a tintura. Alguns autores sugerem o uso da maceração múltipla para superar esse
problema, em que a tintura resultante é macerada com um novo lote de erva fresca, mas isso
só torna a situação pior, diluindo o álcool abaixo do nível capaz de estabilizar a tintura final.

Em suma:
• 100 g de uma planta fresca contendo 80% de umidade é macerada em 20 ml de solvente
(álcool-água).
• O peso da erva seca é de 20 g.
• A quantidade de líquido é de 80 ml (umidade da planta fresco) +20 ml (solvente) = 100 ml.
• Portanto, o resultado é equivalente a uma tintura 1: 5 com base no peso seco (20 g de erva
seca: 100 ml de líquido).
• No entanto, o resultado pode ser ainda mais fraco por causa da decomposição enzimática e
do baixo percentual efetivo de etanol.
Claramente da discussão anterior, dado que o conteúdo de água do material vegetal de folhas
frescas varia de 75% a 90%, a única maneira prática de fazer uma tintura de planta fresca
confiável é trabalhar em uma proporção equivalente de ervas secas à 1:10. (Talvez uma
proporção de 1: 5 possa ser alcançada com raízes, cascas e sementes que contêm menos
umidade.) No entanto, dado que o uso de tinturas 1:10 ou mesmo 1: 5 tornam as doses
terapêuticas da maioria das ervas difícil, o fitoterapeuta que endossa a dosagem farmacológica
geralmente encontrará pouca vantagem em usar tinturas de plantas frescas. Algumas exceções
ocorrem com base no uso tradicional ou casos em que a erva é tão potente que normalmente é
usada como uma tintura (por exemplo, raiz de puxão, Thuja), mas estes são poucos. Da discussão
anterior, percebe-se que uma tintura de planta fresca nunca será tão forte quanto um extrato
líquido 1: 1 ou 1: 2, desde que:
a. O extrato líquido seja feito a partir de uma matéria-prima de alta qualidade cuidadosamente
colhida e seca.
b. A porcentagem correta de etanol tenha sido usada para extrair a erva seca.
c. Nenhuma etapa que possa danificar o delicado espectro de princípios ativos da planta tenha
sido usado na sua fabricação (por exemplo, exposição a altas temperaturas).

Preparações de plantas secas feitas dessa forma ainda irão preservar a "vitalidade" ou "energia"
da planta original, que estão incorporadas em sua complexidade química. A Fig. 1-1 dá uma
comparação visual de um extrato vegetal seco (A) com uma tintura de planta fresca (B) usando
uma técnica de cromatografia em papel conhecido como dinamólise capilar vertical. Adeptos ao
movimento da antroposofia acreditam que esta técnica pode demonstrar a “vitalidade” de uma
preparação em teste. Embora a análise dos cromatogramas seja subjetiva, a figura A mostra que
existe uma “vitalidade” nos extratos de plantas secas.

Fig. 1-1 Uma comparação visual de um extrato vegetal seco (A) e tintura de planta fresca (B)
obtida por uma técnica de cromatografia em papel (dinamólise capilar vertical).
Alguns terapeutas usam preparações de plantas frescas na concentração de 1: 3 ou 1: 5 (ou
mesmo 1:10) com base no peso fresco acreditando erroneamente estarem usando preparações
altamente ativas. Contudo, um cálculo matemático simples mostra que eles estão se
enganando. Tomando uma proporção de 1: 5 em peso fresco como exemplo e assumindo
novamente que a erva contenha 80% de umidade, os seguintes cálculos podem ser feitos. Se
100 g de erva fresca são macerados em 500 ml de solvente, o equivalente em peso seco da erva
é 20 g e a quantidade total de líquido é 500 ml mais os 80 ml da planta, que é igual a 580 ml.
Portanto, a chamada tintura 1: 5 é na verdade 1:29 com base no peso seco - completamente
inadequado para doses terapêuticas de ervas.

Exerto traduzido do livro “A Clinical Guide to Blending Liquid Herbs: Herbal Formulations for
the Individual Patient, de Kerry Bone

https://www.amazon.com.br/Clinical-Guide-Blending-Liquid-Herbs/dp/0443066329

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