Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
net/publication/315184536
CITATIONS READS
10 397
2 authors, including:
Thiago de Almeida
University of São Paulo
32 PUBLICATIONS 230 CITATIONS
SEE PROFILE
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
All content following this page was uploaded by Thiago de Almeida on 31 July 2017.
*
Psicólogo (CRP 06/75185) pela Universidade de São Carlos. Mestre em Psicologia pelo Instituto de Psicolo-
gia da Universidade de São Paulo (Departamento de Psicologia Experimental). E-mail: thiagodealmeida@
thiagodealmeida.com.br. Site: www.thiagodealmeida.com.br
**
Bacharel em Biblioteconomia pela Faculdade de Biblioteconomia e Documentação da Universidade de São
Paulo. Bibliotecária (CRB 8ª 5037) da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. E-mail: ma-
louren@usp.br
sas violências aos quais são submetidos, conflitos desnecessários para os “jovens
desde negligências até maus-tratos psi- há mais tempo” que procuram se engajar
cológicos, verbais e físicos, além de que, em relacionamentos afetivo-sexuais.
quando não conseguem internar seus O envelhecimento ainda é uma etapa
idosos em instituições asilares ou psi- da vida que permanece pouco conhecida
quiátricas, segregam-nos dentro de suas e estudada, se comparada a outras fases
próprias casas. Pensando em questões do desenvolvimento humano. (OLIVEI-
como essas, relacionadas aos idosos, à RA et al., 2006). A velhice é uma fase da
longevidade da população e aos demais vida em que as pessoas normalmente
problemas das políticas públicas do país, não gostam de se antever projetando-se
foi necessário criar o Estatuto do Idoso, nela, ainda que muitos de nós sejamos
lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, idosos um dia. Tampouco se discute a
de iniciativa do projeto de lei nº 3.561, de respeito de algumas realidades que os
1997, que veio substituir a Lei do Idoso, idosos experimentam, porque:
lei nº 8.842, de 4 de janeiro de 1994. • muitos idosos são considerados
(BRASIL, 2003). Ainda no que concerne hipersexualizados e a sociedade
ao âmbito brasileiro, muitos idosos têm considera que, próximo ao término
suas opiniões desprezadas pelos seus en- de suas vidas, tenderão a realizar
tes, que os consideram como obstáculos muitas das atividades sexuais para
para a rotina familiar e por geralmente as quais não tiveram tempo hábil
carecerem de cuidados extras, como se ou oportunidades no decorrer da
precisassem padecer pelo fato de serem mesma. Podemos exemplificar com
idosos ou penalizados pelos anos acumu- algumas expressões populares que
lados de sua vivência. ilustram certas atitudes da socie-
dade em relação aos idosos: “viúva
Algumas questões do envelhecer alegre”, “velho tarado”, “solteiro-
na”, “velhinho assanhado”;
Sexualidade e suas manifestações no • os idosos são encarados como seres
entardecer da vida assexuados, nos quais o desejo e a
manifestação da sexualidade foram
Se as atitudes preconceituosas da destituídos de sua humanidade,
sociedade na qual os idosos estão in- bem como as possibilidades da
seridos tipificam as atitudes deles, contemplação de relações afetivo-
não há nenhum outro lugar onde este sexuais, tanto de natureza heteros-
preconceito é mais visível do que na sexuais como homossexuais;
esfera da sexualidade e dos relaciona- • ou ainda, porque, como apontam Pe-
mentos afetivo-sexuais. Levando-se em drozo e Portella (2003, p. 172), “as
consideração que a sociedade muitas experiências emocionais dos idosos
vezes solapa as expectativas dos idosos são consideradas aspectos idiossin-
que querem firmar um relacionamento cráticos para o qual, procuram-se
amoroso, essas atitudes podem causar saídas individuais compartilhadas
uma estagnação momentânea, além de apenas com a família”.
envelhecido de tal forma que chegam a criar estresse suficiente para causá-la.
perder a noção de como é amar e que Ainda assim, o desejo e a necessidade de
é tarde demais para fazê-lo. Há ainda afeto permanecem para os idosos, e esses
aqueles que externam sua aversão a casais podem ter os mesmos problemas
tocar no assunto e sequer podem ima- que envolvem as pessoas das demais
ginar adultos em idade avançada ainda idades.
cultivando o amor e trocando afetos mais Para Azevedo (1998), tanto o homem
íntimos em público. É natural que o ho- como a mulher continuam a apreciar as
mem e a mulher continuem a apreciar relações sexuais durante a velhice, a des-
as relações sexuais durante a terceira peito das alterações fisiológicas ocorridas
idade, porém algumas modificações que em ambos, como, no caso da mulher, a
ocorrem tanto no homem quanto na mu- secura vaginal e, do homem, a diminui-
lher podem prejudicar o prazer sexual. ção no tempo de ereção. Essas alterações
A fim de que não haja prejuízo sig- podem até prejudicar o prazer sexual,
nificativo nas relações sexuais, algumas mas a boa adaptação sexual de ambos
adaptações às mudanças ocorridas nesta irá determinar o prazer do casal. Além
fase são necessárias. (AZEVEDO, 1998). disso, o fato de haver uma diminuição
Soma-se o fato de que, com o passar dos na frequência das atividades sexuais não
anos, as pessoas tendem a querer ficar significa o fim da expressão ou do desejo
ao lado de outra como forma de proteção, sexual. Segundo Butler e Lewis:
pois reconhecem que receber ajuda do O sexo e a sexualidade são experiências
companheiro não é apenas agradável, prazerosas, gratificantes e reconfortantes
como também valorosa, e que demons- que realçam os anos vindouros. Também são
trações de carinho não podem ser reco- – como todo mundo sabe – de uma enorme
complexidade psicológica. Durante toda a
nhecidas como pejorativas. (AZEVEDO, vida carregamos o peso das nossas experiên-
2000; CAPODIECI, 1996). cias sexuais infantis e que foram moldados
O sexo, assim como várias outras por nós mesmos, nossos pais, nossa família,
atividades orgânicas e fisiológicas, vai nossos professores, e nossa sociedade de
se tornando menos necessário ao longo maneira positiva ou, às vezes, negativa.
da passagem do tempo. Dessa forma, (1985, p. 12).
durante a velhice o desejo sexual pode, Logo, desde que estejam desfru-
sim, diminuir, mas não necessariamente. tando de saúde, nada impede que pes-
O mito, entretanto, é alimentado pela soas idosas se engajem em atividades
desinformação e pela má interpretação sexuais diversas. Em idades mais jovens
das inevitáveis mudanças fisiológicas existe uma grande preocupação com a
ocorridas nos idosos. A sexualidade é, “quantidade” de atividades sexuais; em
frequentemente, um delicado equilíbrio idades mais avançadas, essa noção de
entre as emoções, o entorno no qual os quantidade deve, e pode, sadiamente
idosos estão inseridos, as causas psico- ser substituída por uma noção de “qua-
lógicas e a interação entre todos esses lidade”. Muitos idosos não aceitam esse
componentes. Por exemplo, se o homem processo natural de envelhecimento e
teme excessivamente a impotência, pode sentem-se impotentes. Aqui há de se
etárias, mas podem ser agravados pela exercício da sexualidade era algo inde-
idade que avança e pelo modo como se cente e pecaminoso.
lida com ela. De acordo com Colom e Pode-se dizer ainda que a sexuali-
Zaro: dade no idoso está relacionada a vários
Os estereótipos, em geral, concedem à velhi-
sentimentos, como as alegrias, as culpas,
ce uma realidade negativa. O consenso so- as vergonhas, os preconceitos e as re-
cial aceita como fatos inevitáveis uma perda pressões de cada um. O sexo na terceira
de capacidades mentais, perda de memória, idade traz satisfação física, reafirma a
saúde vulnerável, padecimento constante identidade e demonstra o quanto cada
de doenças ou reclamos de atenção. Essas pessoa pode ser valiosa para outra,
perdas/características parecem justificar estimulando sensações de aconchego,
uma conduta estereotipada associada a afeto, amor e carinho. Com o passar dos
termos como “acabado”, “inútil”, “doente”, anos, as pessoas normalmente não têm
“incapaz”, “improdutivo”, “dependente” e
o mesmo vigor de outrora, dos tempos
“carga social”, levando a pessoa à rejeição e
de juventude, mas os idosos podem e
à marginalização social. (2007, p. 309).
devem manter acesa a chama da pai-
Com o decorrer dos anos é normal o xão por seus companheiros, atendo-se
surgimento de doenças, o distanciamen- mais à qualidade nas relações do que à
to dos filhos, aposentadoria, morte de quantidade existente na juventude. Para
cônjuges e de amigos; a proximidade da isso, o carinho é peça fundamental nos
morte também é outra ameaça que paira relacionamentos.
sobre as cabeças dos idosos. Contudo, é
necessário que se superem essas crises,
Considerações finais
e com ajuda se necessário. O apoio da fa-
mília e dos amigos torna-se fundamental Acredita-se que uma má compreen-
para que esse processo se torne menos são, primeiramente, do conceito de ve-
penoso e traumático. lhice por diferentes segmentos da popu-
A sexualidade também sofre modi- lação, das manifestações afetivo-sexuais
ficações com o passar dos anos. O com- da terceira idade e dos seus processos
portamento humano, e aqui destacamos subjetivos acarrete dificuldades à supe-
o comportamento sexual como um dos ração dos problemas associados a uma
quais comentaremos mais especifica- melhor qualidade de vida para os idosos.
mente, é plurideterminado por fatores Dessa forma, esclarecimentos como o
como cultura, religião, educação, que que esboçamos acerca das informações
influenciam intensamente no seu de- distorcidas que se difundem em relação
senvolvimento, determinando a maneira aos mitos existentes podem contribuir
como iremos vivenciá-lo e lidar com ele para a diminuição das crenças e inter-
por toda a vida. A geração atual de idosos dições que se traduzem em preconceitos
é fruto de uma educação muito severa, em relação aos idosos.
pois seus pais tinham por orientação A ideia de uma visão mais positiva
sexual os conceitos e preconceitos repres- e produtiva para o envelhecimento co-
sores herdados de outra geração, mais meça a ganhar força nos dias atuais e
repressora ainda; assim, para muitos o é resultado de diversos fatores, dentre