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Relato de Vitória

Yuri Gomes Boiane

Gostaria de primeiramente agradecer essa grande oportunidade de contar um


pouco da minha história. É com muita alegria que digo: este ano 2022 foi intenso,
desafiador e cheio de vitórias. Mas para contá-las é necessário voltar um pouco no
tempo.

Para você que não me conhece, sou Yuri Boiane, hoje atuo como responsável
do distrito Adélia na RM São Mateus pela DMJ. Tive a imensa boa sorte de nascer é
uma família que já abraçava o budismo Nitiren. A casa em que cresci era pequena e
apertada, ficava localizada no fundo do terreno de meus avós paternos. Meus pais,
principalmente minha mãe, objetivaram conseguir uma moradia muito melhor, um local
que pudéssemos viver bem e principalmente um local para as atividades da gakkai.

Depois de muita luta, nós conseguimos. Compramos uma casa bem grande
ainda no mesmo bairro e construímos ali um maravilhoso Kaikan, o Kaikan Boiane,
onde fazíamos inúmeras atividades e lutamos pelo kossen-rufu, nossa alegria. Ali seria
o início de uma nova luta, mas nós não estávamos preparados para aquilo que estaria
por vir.

Em 2020, ano da pandemia, muitas famílias tiveram dificuldades financeiras e


conosco não foi diferente. Meu pai, autônomo, dono de uma pequena empresa, se via
sem trabalho e com muitas despesas para pagar. Minha mãe trabalhava junto com ele
na parte administrativa e eles faziam de tudo para conseguir reverter a situação.

Infelizmente as funções da maldade nunca dormem, só esperam o momento


certo para atacar. Tomado pela angústia e garantia de profissionais da área de
investimentos que garantiam ter uma aplicação em que teríamos retorno imediato, foi
investido o valor do imóvel em que mor(á)vamos para receber posteriormente uma
grande quantia de dinheiro. Apesar de estarmos relutantes e acreditando no que os
profissionais que nos aconselhavam diziam, foi feito o investimento.

Após assinar alguns papeis e iniciar as transações financeiras, apenas 3


meses depois, tudo veio abaixo. O dono da empresa a qual fizemos o investimento
simplesmente fugiu com o dinheiro e as dívidas provenientes da casa que deveriam
ser pagas com o retorno financeiro do investimento só foram se acumulando. Não
demorou muito e o banco tomou nosso lar. Particularmente, para mim, foi muito
desesperador perceber que aquele lugar que chamávamos de lar seria tirado de nós.
E pior ainda a localidade não teria mais um Kaikan para realizar suas atividades.

Logo, se veio uma corrida contra o tempo para conseguir reverter a situação, e
quanto mais passavam os dias mais angustiante ficávamos, pois víamos que não teria
volta. Era muito triste pensar que tudo aquilo que construímos e lutamos para ter foi
perdido.

No ano seguinte, 2021, enquanto o processo da casa corria e o banco tentava


leiloá-la para um novo dono, a situação só piorou, a desarmonia familiar surgiu e
tornou tudo muito mais difícil. Brigas entre meus pais eram constantes, as vezes por
motivos bestas, outras por sentimentos retraídos. Era raro os momentos de calma e
alegria.

Minha mãe se esforçava como nunca tinha visto. Trabalhava doente ou com
muita dor, ou ficava até tarde para resolver problemas da empresa. A relação de
marido e mulher se deteriorou de forma a não ter mais volta e minha mãe e meu pai se
separaram.

Eu, minha mãe e minha irmã ficamos morando com minha mãe. Juntos,
tomados pelo grande desejo de vencer todas as adversidades, sentamo-nos diante do
gohonzon e começamos a empregar uma forte luta conjunta para que independente
das circunstâncias fossemos felizes. Transformar todo o veneno em remédio, e toda a
dificuldade em oportunidade para o nosso crescimento, pois se estamos passando por
esses desafios, não seria simplesmente em vão.

No ano, 2022, recebemos a notícia de que a casa havia sido arrematada no


terceiro leilão que o banco promovera e que deveríamos desocupá-la o mais rápido
possível. Começava aqui uma corrida para achar uma nova moradia. A parte mais
difícil do processo era começar a morar de aluguel e por consequência buscar uma
casa que estivesse em nosso orçamento. Minha irmã e eu buscávamos apartamentos
e casa para alugar, analisávamos as qualidades.

Era muito difícil encontrar uma casa nova. Quando parecia que estávamos
perto de conseguir, uma outra pessoa passava em nossa frente. Era decepcionante,
mas não desanimamos, não tínhamos tempo para isso, precisávamos continuar em
frente. Depois de muita procura achamos um apartamento para nós três, pequeno
porém aconchegante e o mais importante, dentro do nosso orçamento. Minha mãe o
visitou e nos relatou que se sentiu muito bem durante a visita como se pudesse
imaginar nós já morando lá. Eu e minha irmã visitamos e tivemos a mesma sensação.
Entramos com o processo para conseguir alugar o apartamento e enviamos
muito daimoku para que tudo ocorresse bem. Já estávamos sendo pressionado a
deixar nossa casa por conta no novo dono e não tínhamos muito mais tempo. Logo
veio a boa notícia, nós conseguimos! Ficamos muito animados de finalmente
conseguir um local novo para morar. Estava particularmente muito ansioso para a
mudança, logo eu que detesto mudanças estava plenamente aberto a viver uma vida
nova e iniciar um novo capítulo.

Em agosto de 2022 realizamos a grande mudança, desmontando os moveis


durante a semana, encaixotamos tudo que precisávamos e já combinando e
agendando um caminhão para o transporte. Orávamos por gratidão e também para
que não chovesse no dia, pois isso tornaria o processo muito mais difícil. Assim em
um final de semana nublado realizamos efetivamente a mudança. Deixo aqui um
agradecimento especial e antecipado a todos os nossos amigos da gakkai pela ajuda
no dia, não teríamos conseguido sem vocês. Carregamos e descarregamos o
caminhão apenas uma vez, montamos os móveis e finalmente estávamos morando no
apartamento que alugamos. Vitória!

Começava a partir deste momento um novo capítulo para nós. Entretanto a


escuridão fundamental permeia todos os seres vivos e constantemente surge em
nossas vidas quando estamos fracos na prática. Após a mudança não realizava mais a
prática diária do gongyo e daimoku, a rotina de ir ao trabalho e voltar tarde me afastou
até mesmo da organização. Me esforçava muito para dar o meu melhor, mas estava
cego e não conseguia ver que com o passar do tempo eu havia me perdido de mim
mesmo.

Na metade do ano de 2022, um pouco antes de nos mudarmos, eu conheci um


rapaz pelo qual me apaixonei, ele morava em outra cidade, mas a distância não
impediu que nós nos conhecêssemos e conversássemos. Fazia tempo que não me
sentia assim tão entregue, estava muito carente de algo que me reconfortasse em
meio a tantos problemas e preocupações e nem percebi que estava me anulando
durante o processo.

Com o passar dos dias a alegria se transformava em angústia quando percebia


que tudo que eu sentia por ele não poderia ser correspondido...

Em meio a uma crise de ansiedade e uma profunda tristeza, um feixe de


sabedoria iluminou minha mente, lembrei-me de um gosho a qual Nitiren escrevera o
seguinte: “...a jornada de Kamakura a Kyoto leva doze dias. Se viajar onze e parar
quando estiver faltando apenas um dia, como poderá admirar a Lua sobre a capital?”.
Então decidi fazer a viagem simbólica até Kyoto realizando uma hora de daimoku
durante 12 dias. Propus ao rapaz que conversava que ficássemos sem conversar por
12 dias, ele aceitou e durante este período eu foquei em mim.

O primeiro dia foi muito desafiador, estava profundamente triste e chateado,


chorei muito diante do gohozon, refletindo sobre tudo de ruim que meu coração
guardava, desabafei com o gohozon todas a minhas tristezas, toda minha dor e
angustia e senti-me profundamente acolhido, como um filho que chora nos braços de
sua mãe procurando conforto. Fiz duas horas de daimoku neste dia que para mim
pareceram apenas alguns minutos.

Com o passar tempo me sentia cada vez melhor. Estudava sobre o budismo e
me esforçava ao máximo nas atividades. Fui acumulando sabedoria e limpando o meu
coração. Polir o coração e limpá-lo não é uma tarefa fácil é necessário dedicação e
esforço, mas principalmente entender sobre a realidade da vida e o budismo nos
capacita ter essa compreensão. (Que fim deu o relacionamento? É possível abrir
ou dar outro desfecho a história)

Dentro de mim tinha guardado mágoa em relação ao meu pai pela separação e
após as reflexões feitas munidas de daimoku sentia gratidão por ele ser meu pai, já
que se ele não tivesse conhecido o budismo e casado com minha mãe não teríamos a
oportunidade de praticar esta filosofia e transformar a vida.

Nunca, em nenhum momento de minha vida imaginei que poderia me


transformar tanto em tão pouco tempo. Jamais havia feito tanto daimoku e a luz da lei
mística me fez enxergar com clareza minha existência como ser humano e minha
missão como bodsativa.

Hoje, mais determinado do que nunca emprego esforços como nunca. No mês
de novembro de 2022, a Divisão dos Universitários (DUni) da localidade, marcou uma
atividade para apresentar a Proposta de Paz deste ano de Ikeda sensei para toda a
sociedade. Como um dos braços direitos da líder da divisão da localidade me propus a
dar o meu melhor preparando os detalhes da apresentação. Dei o meu máximo para
que tudo ficasse da melhor forma possível, para que todos ao assistirem esta
apresentação fossem tocados pelas ideias da proposta. Passei noites acordado até
tarde e na noite anterior à proposta eu nem sequer tirei um cochilo.

Apesar dos desafios enfrentados no dia, a apresentação da proposta de paz foi


um verdadeiro sucesso. Essa foi a primeira atividade hibrida da RM após um longo
período de pandemia e foi da melhor forma que poderia ter acontecido. Realmente,
comprovei a frase de meu mestre de que “o verdadeiro esforço nunca mente” e foi
muito gratificante essa vitória.

Para encerrar minhas palavras gostaria de compartilhar com você que está me
ouvindo esta sabedoria: Sempre haverá dias nublados, sempre haverá momentos de
angústia e tristeza, sempre haverá desafios a serem enfrentados. Portando sempre
deve haver coragem e determinação, sempre deve haver budismo. Para que haja
revolução humana é preciso que haja a oportunidade para que esta transformação
ocorra.

“Uma espada forjada, não derrete em meio ao fogo. Um jovem forjado é capaz
de cultivar a si mesmo como uma poderosa espada”

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