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Copyright© 2020 JESSICA D.

SANTOS

Revisão: Victoria Gomes

Capa: E.s Designer

Diagramação: Jessica Santos

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Dados internacionais de catalogação (CIP)

GISELE - ACOMPANHANTE DE LUXO

1ª Edição

1. Literatura Brasileira. 2. Literatura Erótica. 3. Romance. Título I.

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É proibida a reprodução total e parcial desta obra, de qualquer forma

ou por qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive por meio de

processos xerográficos, incluindo ainda o uso da internet, sem permissão


de seu editor (Lei 9.610 de 19/02/1998). Está é uma obra de ficção,

nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da

imaginação do autor qualquer semelhança com acontecimentos reais é

mera coincidência.

Todos os direitos desta edição reservados pela autora.


Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da

Língua Portuguesa (1990), em vigor desde 1º de janeiro de 2009.


Sumário
Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Epílogo

Sobre a autora

Outras obras

CONHECAM KILLZ – HERDEIROS DA MÁFIA – LIVRO 1


GISELE MORENO

Que profissão vai querer quando crescer?

Eu costumava ouvir muito isso quando era criança e sempre

respondia a mesma coisa: “Quando eu crescer quero ser médica para

cuidar da mamãe e do papai”. Até meus nove anos, cresci em um lar cheio

de amor. Mesmo sendo humilde, eu tinha tudo o que uma criança poderia

desejar, uma família maravilhosa e muito amor. Mas meu mundo ruiu

quando completei meus dez anos, quando meu pai veio a óbito após um

acidente de van a caminho de casa em Búzios. Infelizmente, o motorista

colidiu com um Bitrem, e o impacto foi tão forte que capotou na mesma

hora. Quase todos morreram, Era o transporte da empresa, somente um

funcionário conseguiu sobreviver, mas ficou com grandes sequelas.

Após o trágico acidente, minha mãe e eu ficamos desamparadas. A

empresa não indenizou as famílias dos funcionários. Meses se passaram

até descobrirmos que a fábrica estava falida e que haviam demitido meu

pai dois dias antes. Ele não havia nos contado e, por azar, pegou carona

na van para chegar mais rápido em casa. Soubemos por um colega dele
que, naquela manhã, estava procurando emprego, e que só nos contaria

que já não estava mais trabalhando quando encontrasse outro emprego.

Morávamos em uma casinha simples sem reboco dentro da favela, e

ficamos sem casa devido às condições financeiras. Minha mãe e eu fomos

procurar emprego em uma das pousadas. Mesmo tendo pouca idade,

sentia na pele o desespero da mulher que me trouxe ao mundo. Por vezes,

a vi de joelhos no chão, em prantos perguntando a Deus por que aquilo


estava acontecendo conosco. Sentia um aperto enorme no peito, porque

sabia que nós não tínhamos parentes ali e nem mesmo um lugar para
dormir.

Durante um ano, ficamos dormindo de favor nas casas em que minha

mãe conseguia faxina. Dormimos em garagens ou varandas, pois não


confiavam em nós para nos dar um quarto onde pudéssemos passar a

noite. Apesar da humilhação, aceitávamos o teto sobre nossas cabeças.


Na rua era mais perigoso. Por um maldito ano, passamos fome, dormimos

mal, passamos por humilhações e sofremos abusos. Os trocados que ela


ganhava nas faxinas que fazia não davam para pagar um lugar para
ficarmos. Tínhamos que escolher: comer ou dormir.

Sofremos demais. Comemos o pão que o diabo amassou, vivemos

na miséria, só tínhamos nossos documentos e a nossa roupa do corpo.


Até as roupas que usávamos eram dadas pelas donas das casas onde
minha mãe fazia diária.

Somente um ano e cinco meses depois nossa vida mudou. Pensei

que seria para melhor, mas não, foi para pior, pelo menos para mim. Minha
mãe conheceu um homem chamado Cláudio. Ele era o gerente em um
mercadinho onde ela trabalhava duas vezes na semana; a dona do

mercado nos dava alimento em troca do serviço. Mamãe engatou um


namoro com o homem por alguns meses e decidiram morar junto.

Mostrando ser um bom homem, alugou uma casa e nos colocou

dentro. Comprou móveis, roupas para a gente, e até deu dinheiro para que
na próxima semana eu voltasse para a escola. Também fez uma compra

maravilhosa, sortida de tudo. Estávamos encantadas com a sua bondade.

Um ano depois de casada (morando junto com o Cláudio), minha


mãe descobriu que estava grávida. Eu, que já estava com meus treze

anos, fiquei fascinada por saber que teria um irmãozinho ou irmãzinha.


Estávamos com a vida estabilizada, o marido dela lhe pagou um curso de

costureira, até deu uma máquina para que trabalhasse em casa e parasse
de fazer faxinas. Feliz, ela começou a costurar roupas e fazer tapetes para
vender por encomendas.
Nada poderia estar melhor. Estávamos bem, até que Cláudio soube
da novidade, que seria pai. A notícia não o animou tanto. Pela primeira

vez, aquele bom marido ousou tocar a mão na esposa. Naquela noite, ele
deu uma surra em minha mãe, bateu tanto no rosto dela que deixou uma

cicatriz em sua boca. Eu, desesperadamente, tentei pará-lo, mas não


consegui, não tinha forças. Fui até a rua para chamar os vizinhos. Entre

soluços, eu implorava para que me ajudassem a salvar minha mãe. Alguns


hesitaram em nos ajudar, então um homem teve coragem de invadir a
casa e tirar minha mãe das mãos do seu agressor.

O vizinho, revoltado, deu uma surra em Cláudio e depois o jogou na

rua, em seguida ligou para a polícia, que demorou muito para chegar e não
conseguiram prender o desgraçado. Ele fugiu, e nunca mais tivemos

notícias dele, mas, mesmo com a surra que deu em minha mãe, não
conseguiu matar o bebê que ela esperava. Os meses foram se passando e

assim ela levou a gravidez, até que minha princesinha nasceu, a Rebeca.

Lainy, minha mãe, após ter dado a luz a Beca, voltou a costurar um
mês depois para ver se a renda aumentava, e três meses depois retomou

às faxinas. Mesmo com pouco dinheiro, conseguia pagar o aluguel e fazer


as compras. Ainda que não fosse aquelas grandes, dava para a gente

sobreviver. Quando completei catorze anos, comecei a trabalhar após a


escola no mercadinho como empacotadora. De início, me pagavam
duzentos reais, mas depois de um ano aumentaram para seiscentos reais,
para minha felicidade.

Trabalhei por três anos no mercado e, quando completei dezoito,

conheci um rapaz, que me ensinou muitas coisas que sei hoje. Aprendi a
ver o mundo de outra forma. Foi meu primeiro homem, me mostrou o

mundo. Daniel me ensinou a maldade do mundo e, mesmo já a


conhecendo há anos, eu o agradeço por ter me dado experiência. Nosso

namoro não durou nem um ano, pois descobri que ele era garoto de
programa. Saía com homens mais velhos e mulheres, e eu era careta.
Estava apaixonada, mas de uma forma abrupta percebi que o rapaz que

eu gostava jamais ficaria comigo, porque tínhamos ideais diferentes. Não


daríamos certo juntos porque Daniel não pensava em largar a vida que

levava por minha causa, eu era para ele apenas um passatempo. Na


nossa relação, o sentimento era unilateral.

Vi-me sem opções quando fui demitida por justa causa após o filho

do chefe ter tentando me agarrar à força e eu ter quebrado a cabeça dele


com uma garrafa de cerveja. Em seguida, corri para casa, e no outro dia

soube que não tinha mais emprego.


No decorrer da semana, tudo voltou a desmoronar. Minha mãe

estava perdendo a clientela dela e as faxinas já eram poucas. Mais uma


semana passou e só piorou a nossa situação. Beca ficou doente,
descobrimos que ela estava com bronquite severa. Precisávamos comprar
remédios também, e nem ao menos tínhamos grana para os gastos.

Tentei pegar dinheiro emprestado, mas ninguém nos socorria. Em um

ato de desespero, bati na casa do meu ex. Perguntei sobre o paradeiro


dele para minha ex-sogra. Ela sabia que Dani vendia o corpo, foi então

que notou meu nervosismo e disse para onde Daniel tinha ido. Naquele
dia, parecia que eu estava com uma venda nos olhos, porque não

enxerguei o tamanho das consequências.

Eu estava disposta a fazer de tudo para conseguir o dinheiro do


remédio da minha irmãzinha. Quando o encontrei, comecei a desabafar.
Chorei nos braços dele e pedi ajuda, falei que estava disposta a qualquer

coisa para conseguir o valor. Nesse mesmo dia, eu me deitei com um


gringo, um velho asqueroso, e consegui setecentos reais.

No começo, foi bastante difícil para mim, mas tive que engolir o choro

e continuar ali, naquele ponto de sempre. Dois meses depois, soube que
Daniel tinha sido esfaqueado e espancado. Acabou tendo um triste fim ao

tentar a vida em São Paulo.

No meado do ano, a clientela começou a aumentar. Minha beleza e


meu serviço estavam atraindo muitos turistas para Búzios. Foi então que,
em um fim de semana na praia, conheci Judite Silva, dona de um clube de
luxo localizado em Copacabana. Ela me fez um convite para trabalhar ao

lado dela, disse que me pagaria o triplo se eu fosse a garota dela. Não
hesitei em aceitar, meu pensamento só era minha família. Eu queria dar

uma vida boa para elas e ter dinheiro suficiente para comprar uma casa
longe de Búzios.

Hoje, não tenho medo de jogar sujo para conseguir o que preciso.

Tornei-me uma das melhores acompanhantes da Judite, me orgulho disso,


pois apanhei a vida toda, lutei muito para chegar até aqui. Aprendi a me

dar valor, apesar da profissão.

Esse é o meu trabalho. Meus clientes são apenas um negócio, são a


ponte para que eu alcance meus objetivos mais ambiciosos.
GISELE MORENO

— Mamãe, olha o que a Gi trouxe pra mim! — Beca corre com as

duas sacolas nas mãos, toda sorridente em direção à nossa mãe.

Antes de vir para Búzios, comprei para ela duas bonecas e algumas

peças de roupas. Minha Beca está crescendo muito rápido. Um dia desses

ela estava com seus cinco anos, e agora está com quase dez. Para nossa
mãe, comprei quatro vestidos e duas sandálias rasteirinhas.

— Que menina apressada, meu Deus! — fala mamãe, já se sentando

no sofá com minha irmã, que continua sorrindo.


— Trouxe algo para a senhora também. — Pego as três sacolas e
ponho em meu colo. Emocionada, minha mãe me olha com os olhos

cheios de lágrimas.

— Filha… Não precisava. Você já faz muito por nós — fala ela, e

nego com a cabeça.

— Nada disso. Sempre que eu vier, vou trazer presentes para vocês.
Meu salário dá muito bem para que eu mime vocês.

— Confrontar você não vai adiantar de nada, né? — Minha guerreira

sorri. — Me diz minha, filha, como anda o seu trabalho lá em


Copacabana? Ainda continua como gerente na loja da Judite?

— Sim, mamãe. Nesses últimos meses, estou ganhando por hora

extra também. — Abaixo a cabeça ao falar para ela mais uma das minhas
mentiras.

Com muito custo, Judite conseguiu convencer minha mãe de me


deixar morar em Copacabana. Por fim, fui morar com a minha

agenciadora. De início, eu só ganhava cinco mil por mês, mas os anos

foram se passando e meu cachê aumentando conforme a clientela surgia.


— Sou tão grata pela ajuda que essa senhora te deu naquela época,

Gisele. Você só tem o ensino médio completo e não tinha experiência

nenhuma na área de vendas. Mesmo assim, ela te deu uma oportunidade


— fala minha mãe, e faço um meneio de cabeça.

Às vezes, sinto que dona Lainy tem uma certa desconfiança em meu
trabalho, mas ainda não teve coragem de me falar das suas suspeitas.

Mãe é mãe, ela sabe quando tem algo de errado com os seus filhos.

— Sim… É verdade — respondo.

— Mãe, posso ir brincar em meu quarto? — pergunta Rebeca,

interrompendo-nos, animada.

— Pode sim, meu amor — respondo por nossa mãe, que assente.
Quando percebemos que Beca já não está mais entre nós, voltamos a

conversar.

— Filha, você tem dormido direito? Está adoentada por acaso e não
quer me dizer?

— Muito não. À noite, leio algumas apostilas do curso que estou


fazendo. Essa é a causa das minhas olheiras.
— Por que não tira um cochilo enquanto preparo nosso almoço? —
sugere, visivelmente preocupada com minha aparência de cansada.

— Não se preocupe, mamãe, estou bem. De verdade. — Fixo meus

olhos na linda mulher que, mesmo com os maus bocados que passou, não
desistiu de mim.

Levanto-me e vou até ela. Agacho-me na sua frente e toco seu rosto,
que já mostra algumas rugas na testa, perto dos seus lindos olhos. Minha

mãe é uma mulher muito linda, puxei a sua beleza. Muitos diziam isso

quando morávamos na favela daqui de Búzios, principalmente porque não

puxei nada do meu pai. Na verdade, só a magreza mesmo, até meus


cabelos loiros vieram da mesma cor dos dela, assim com os olhos

esverdeados.

— Tenho tanta saudade de você, minha querida. Gostaria tanto que


pudéssemos nos ver todos os dias, conviver… — Seus olhos lacrimejam, e

sinto um nó se formar em minha garganta.

Em breve te darei o mundo, minha rainha. Pode acreditar.

— Um dia, iremos ter o prazer de acordar na mesma casa e tomar

café juntas, em família. Eu prometo. — Acaricio o rosto dela e começo a


chorar.

— Não se doe tanto, Gi. Eu já disse que você é muito jovem para se
responsabilizar por tudo… — Ela solta um soluço.

— Não, mãe. É o mínimo que posso fazer.

— Te amo tanto, filha. Tenho muito orgulho de você por ter se

tornado uma mulher forte, independente… Guerreira — fala, enquanto

enxuga meu rosto molhado com as mãos.

— Eu também te amo e tenho muito orgulho da senhora. Mamãe, a

senhora e Beca são minhas fortalezas, minhas inspirações.

— Não chore, minha princesa. Ponha um sorriso nesse rosto lindo e

erga a cabeça, meu bem. — Ela pega em minhas mãos e deposita um

beijo.

— Está bom assim? — Abro um sorriso, e minha mãe balança a

cabeça sorrindo.

— Isso. É assim que quero ver você. Agora que nossa choradeira
terminou, vou ajeitar nosso almoço. Preparar seu prato preferido que é
lasanha! — fala.

— Hmmm… Que delícia! — exclamo, batendo palmas, animada.

— Enquanto preparo a lasanha, quero que você vá descansar um


pouco. Quando tudo estiver pronto, eu te chamo, tudo bem?

— A senhora me convenceu!

— Ótimo. Descanse um pouco porque sua fisionomia está de

cansada. — Ela beija minha testa.

∞∞

Consegui renovar as energias ao ter tirado três horas de sono. Minha

mãe não me acordou como havia prometido, me deixou dormir e, quando


acordei, fui diretamente para cozinha procurar o que comer. Deparei-me

com ela fazendo sorvete caseiro para encomendas. Dona Lainy nunca

para. Por mais que eu peça para que ela descanse um pouco do trabalho,

continua fazendo alguma coisa ali e aqui para ganhar um dinheiro


extra. Minha guerreira não para.
— Hmmm… delícia! — Saboreio o sorvete de morango com calda de

chocolate.

— Prove o de mousse de maracujá também, está muito bom. —

Mamãe abre a geladeira e tira um pote médio de sorvete, pondo-o na

mesa.

— Amo os mimos que recebo da senhora quando venho para cá —

falo, colocando outra colher de sorvete na boca.

— É o mínimo que posso fazer já que nos vemos poucas vezes, né?
— Ela sorri.

— Te admiro demais, dona Lainy… Mesmo com todas as coisas que

já passou, nada conseguiu arrancar esse seu sorriso lindo, nem a alegria
que carrega nesse seu coração. Foi forte até o fim.

— Nós, mães, fazemos de tudo pelos nossos filhos. E você e Rebeca

são meu tudo.

— Ouvi meu nome? — Beca surge na cozinha. Menininha inteligente

e carismática.
— Ouviu, meu amor, venha aqui. — Abro os braços, e ela vem
correndo em minha direção, envolvendo os bracinhos em minha cintura,

abraçando-me. — Como está indo na escola, minha gatinha? — Acaricio

os fios castanhos dela e ela sorri.

— Estou indo bem! Tirei dez em matemática, acredita, Gi? Eu sou

boa em cálculos! — fala Beca, animada.

— Ah, é? E quem disse isso? — Arqueio a sobrancelha e sorrio.

— Minha professora, ué! Todas as minhas notas são boas, pergunte

a nossa mãe! — Minha irmã levanta o rosto para me encarar.

Que olhinhos de jabuticaba lindos! Apesar de ter puxado tudo do pai,

mesmo assim eu a amo com toda as minhas forças. É meu xodó.

— Vou confiar em sua palavra — brinco, e ela faz uma carranca,

arrancando-me uma gargalhada.

— Vocês duas são uma graça… Agora, tomem seus sorvetes porque

se não vai derreter. — Nossa mãe está com os olhos fixos em nós duas.
Fico tão feliz quando vejo brilho em seus olhos, é sinal que está contente.

— Mas eu não tenho um! — exclama Beca, fazendo beicinho.


— Aqui o seu, sua sapequinha. — Mamãe tira outro pote da

geladeira e entrega para minha caçula, que não perde tempo e já corre até
a gaveta do armário para pegar uma colher.

Como não as amar? Penso ao sorrir abertamente.

∞∞

Após conversamos bastante, enfim eu entrego o dinheiro para as

despesas da casa. Venho em Búzios uma vez ao mês, geralmente em dias


de semana que é quando tenho um “tempo” para curtir minha família sem

as interferências da minha chefe.

— Mãe, tome aqui o dinheiro para o aluguel da casa, a escola da


Rebeca e os gastos do mês. Aqui está o valor para as despesas da casa,

já incluso água, luz, mensalidade escolar, gás, mercado, essas coisas de

casa. Com o restante, faça o que quiser, é seu. — Tiro da bolsa uma
quantia e entrego para minha mãe, que arregala os olhos ao ver tantas

notas de cem.

— Filha… E você? Esse valor é bem alto… Como se vira por lá? E a
comida? O seu aluguel? — questiona.
Quando minhas condições melhoraram, mudei minha família para a

parte mais tranquila do bairro, aluguei uma casa melhor para dar conforto
às minhas meninas.

— Não se preocupe com isso. Esse mês, fiz muita hora extra e
peguei alguns serviços por fora. E há anos venho guardando na poupança

algumas quantias. Pegue esse dinheiro e faça o que tem que fazer, certo?

— Tem certeza?

— Mãe, estou quase arrumando um segundo emprego, não fique

preocupada. Pegue esse dinheiro e faça um bom uso.

— Tudo bem, minha filha.

— Volto para casa hoje à noite. Tenho que resolver algumas

questões por lá, mas prometo que da próxima visita eu fico mais dias, tá?
— falo.

— Certo… Mas por que não deixa para ir pela manhã bem cedinho?
Já são seis e meia, querida.

Era o que mais eu queria, mãe, mas hoje tenho um cliente muito

importante.
— Infelizmente tenho que voltar — falo, e noto a tristeza em seu

olhar. — Mas prometo que em breve passaremos uma semana juntas, sem

interferências, tudo bem?

— Certo, mas me prometa que ao chegar em casa vai me ligar ou

mandar uma mensagem para que eu não fique preocupada.

— Pode deixar que ligo assim que eu chegar. — Levanto-me do sofá

e vou até ela para dar um abraço antes de partir.

— Se cuida, minha filha.

— Pode deixar. Bênção, mãe! — Beijo a sua testa.

— Que Deus te abençoe.

Amém.
GISELE MORENO

Meu reflexo no espelho está deplorável: batom borrado, lábios


inchados. O corretor facial que passei foi quase todo retirado por um

cliente desesperado que lambeu até meu rosto. Só de lembrar da cena,


tenho náuseas.

A maioria dos meus clientes são maduros, bem-sucedidos e

casados, em busca de distração. Raramente atendo homens mais novos


com menos de quarenta anos. Os mais velhos sempre me procuram por
ser a garota mais jovem do clube. Recebem boas recomendações dos

amigos, que são clientes de longa data, e não demoram a vir confirmar a
indicação.
Sempre estão dispostos a pegar caro para ter minha boca no pau

deles. Pagam muito bem para receber um boquete. Penso em suas


mulheres, que ficam em casa, dedicando tempo ao lar, enquanto esses

cafajestes pulam a cerca comigo. Essa é a parte chata do meu trabalho,


tenho que deixar a empatia de lado para prestar um bom serviço. Uma
vez, atendi um figurão que sem querer confessou que a mulher, apesar de

ser linda e ter um corpo belo, não conseguia o satisfazer na cama, não
realizava as suas fantasias. Fantasias que conseguiu realizar comigo
quando me procurou. Segundo ele, a esposa não era habilidosa para sexo

oral e nem anal, só ficava na vontade quando seus amigos falavam sobre
suas experiências fora de casa.

Há poucos minutos, deixei meu último cliente da noite e vim direto

para o clube. O local é tão discreto que só quem sabe da existência dele
são os nossos clientes, que por sinal são todos VIPS e não podem ser

identificados por questões óbvias. Aqui, atendemos deputados, senadores,


juízes, promotores, só o alto escalão. Judite teve uma grande sacada com
esse empreendimento. A discrição é nosso carro chefe aqui no OpenSea.

Ela recolhe seus melhores lucros, fornecendo suas melhores garotas.

— Milena, a noite foi boa hoje, hein?! Até o reboco que você passou
no rosto o Rodrigo tirou! — fala Bruna, ajeitando o decote do vestido em

frente ao espelho. Minha colega de serviço é uma bela mulher, cabelos


negros longos que batem na bunda, olhos grandes e azuis, e um corpo
cheio de curvas que deixa muitos clientes loucos, mas a chatice dela a
torna horrorosa aos meus olhos.

— Me erra, nojenta — falo, abrindo minha bolsa para pegar alguns

lenços umedecidos e tirar a maquiagem.

— Que grossa — reclama em um tom de deboche. — Está sabendo


da nova?

— Não. O que é?

— Hoje iremos fazer uma festa particular para o senhor Franco e


alguns amigos dele aqui mesmo, no prédio — fala toda animada.

— Que bom que está contente, mas a minha agenda de hoje já está
cumprida — falo assim que tiro o batom da minha bochecha.

— Hmm, então tá… Menos uma concorrente!

— Boa sorte. — Jogo os lenços na lata de lixo antes de deixar o


banheiro.

∞∞

Ando pelo corredor, tropeçando de sono, mas me mantenho firme.


Calmamente, olho para o relógio no meu pulso e vejo que já são onze e
meia. Sorrio ansiosa para chegar em meu quarto e dormir. Quero
recuperar minhas energias porque amanhã bem cedo verei minha mãe e
minha irmãzinha. Já estou com saudades delas.

— Milena, venha aqui. — Assusto-me com a voz empolgada da


minha chefe preenchendo o corredor pouco iluminado.

— Algum problema, Judite? — indago, bocejando.

— Nenhum, meu doce. Quero te pedir um favor, é algo muito


importante — cantarola, sorridente.

— O que é? — pergunto já desconfiada.

— Hoje o Franco trará seus amigos próximos ao clube, ele me pediu

para fornecer as minhas melhores garotas.

— E onde eu me encaixo nisso?

— Você está na lista das minhas melhores, Milena — fala, como se

fosse um elogio, coitada.

— Já fechei minha agenda e já estou indo dormir — aviso.

— Por favor, eu lhe pago por fora — a mulher faz uma oferta,

deixando-me interessada. — Esses novos clientes podem nos trazer


grandes oportunidades! Quem sabe uma de vocês não fisga o Gabriel

Vilela?
— Jud, senhor Franco e seus amigos chegaram, mandei a Rose

enviá-los diretamente para o salão — interrompe Iago, aproximando-se.

— Por favor! — implora Judite.

A coisa deve realmente ser de valor para ela chegar ao ponto de

pedir por favor e implorar.

— Com duas condições: o cachê é meu, e quero o dinheiro que disse


que me daria por fora — aviso, lembrando que falta pouco para eu

comprar a casa dos sonhos minha mãe.

— Tudo bem! Agora corra para seu quarto e se arrume — diz,


animada. — Tome um banho bem tomado! Enquanto isso, eu irei dar as

boas-vindas aos nossos ovos de ouro!

— Como quiser — concordo, dando as costas para ela e Iago.

∞∞

Suspiro levemente ao encarar a enorme porta marrom do salão onde

ocorrem eventos importantes, como esse de agora, supostamente.

Antes de entrar no cômodo, me olho no grande espelho à frente.

Estou deslumbrante. Tomo coragem e empurro a porta, dando de cara com


o garçom, e pego uma taça de champanhe.
— Vamos lá, mostre a esses homens que todo investimento em você
é válido — sussurro para mim mesma.

De longe, posso ver Judite rir e passar as mãos no ombro de um

homem alto, que aparentemente é todo gostoso de costas. Ele parece ser
todo trabalhado no luxo. O que mais me atrai são seus cabelos castanhos
bem penteados para trás.

Quase deixo a baba cair quando minha agente sinaliza o


desconhecido e ele se vira em minha direção.

— Milena, venha aqui — chama Judite, atraindo atenção dos outros

presentes. Perco os trilhos ao notar que o homem me olha estranhamente.


Ele exala sedução, mistério e sexo, mas tem algo nele que me intriga. O
seu olhar arrogante e penetrante me causa uma sensação gostosa entre

as pernas.

— Uma adolescente? A senhora está brincando comigo. Só pode —


fala o homem, em tom de deboche. Não deixo de notar o seu sotaque de

Português.

— Está interpretando errado, senhor Vilela…

— Está enganado, senhor — respondo por Judite, que está pálida. —

Tenho vinte e três anos, acredito que já passei da adolescência.


Meu corpo se arrepia quando o homem percorre seus olhos cor de
diamantes sobre mim, parando no ponto mais interessante, como

costumam dizer meus clientes: meus seios, que estão sendo torturados
por um vestido preto justo.

— Interessante… — Ele sorri, presunçoso, olhando para meus lábios

que cintilam por causa do brilho labial. — Sou Gabriel Vilela.

— Milena Albuquerque — apresento-me com meu pseudônimo,


estendendo a mão para cumprimentá-lo, mas sou ignorada. Filho da mãe.

— Um nome agradável — diz Gabriel, olhando-me com um olhar

arrogante.

— Sim. — Tento soar firme. Noto o relógio de ouro em seu pulso e os


trajes elegantes.

É cheio da grana esse cara!

— Vou querer ela e mais outra — fala o mal educado, deixando-me


surpresa pela sua escolha tão súbita. — Aquela ruiva, a da esquerda. —

Aponta para Pilar, e ela sorri maliciosamente em nossa direção, como se já


soubesse da preferência do cliente.

— Mas ela está acompanhada. Pode levar Milena, ela é tão boa que

não sentirá falta de uma segunda pessoa — avisa a agenciadora,


dirigindo-se ao senhor Vilela.

— Espero que Franco esteja certo do que disse sobre a sua garota,

Judite — ameaça ele, fechando a mão em meus pulsos.

Alguém aqui não gosta de ser contrariado.

— Vai ficar somente com a Milena? — questiona Judite.

— Existe um ditado que diz: Melhor um pássaro na mão que dois


voando. Então vai ela mesmo. — Mordo a língua para não o responder. Ao
invés de mandá-lo procurar outro lugar para se satisfazer, mostro o sorriso

falso e começo a passar os dedos pelos botões da sua camisa.

— Sábia escolha, senhor Villar. Mostrarei que valho o seu tempo —


sussurro em seu ouvido, em seguida aproveito para passar o nariz em seu

pescoço.

— Vamos sair daqui — ordena Gabriel, com rouquidão na voz. Ao


passar por minha agenciadora, pisco para ela, que me olha vitoriosa e fala

sem deixar a voz sair: “Agarra esse para você.”

∞∞

— Tire a roupa. Quero ver se você o que tem por baixo desse vestido

que mais esconde do que mostra — manda grosseiramente, chutando


seus sapatos no canto do quarto. — O que é meio curioso pela sua

ousadia, também por parecer magra demais. Quero ver se me agrada…

— Não julgue um livro pela capa, senhor. — Desço o zíper do meu


vestido preto de manga comprida até o final, sem tirar os olhos do homem

à minha frente que não demonstra nenhuma expressão. O que tem de


bonito, cheiroso, forte e aparentemente viril, tem de idiota.

Que belo partido Judite me arrumou. Só que não!

— Pare.

Assusto-me com a aspereza. Vindo em minha direção, ele joga seu


blazer em cima da poltrona. Em seguida, me pega pela cintura e me põe

bruscamente de costas. Inesperadamente, Gabriel pega em meus cabelos,


conseguindo me arrancar um gemido de dor e prazer.

— É disso que você gosta sua safada? — inquire, mordendo e

beijando meu pescoço, e eu concordo.

— Oh, sim… — gemo em resposta.

— Vou tirar toda essa roupa do seu corpo, está me ouvindo? —

sussurra, deslizando o tecido para fora do meu corpo, tão delicadamente


que nem se parece o mesmo arrogante de segundos atrás.
Começo a me movimentar cuidadosamente, fazendo com que minha
bunda toque em seu membro. Sinto sua excitação. Ele urra em meu
ouvido.

— Para uma menina tão jovem, você é bem ousada e faz


movimentos bem deliciosos. — Ao notar sua fragilidade, me viro para ele.
Ficamos cara a cara. Minha vantagem é o salto que estou usando, me

permite olhá-lo nos olhos. Insinuo que vou beijá-lo, e beijo o seu nariz.
Cuidadosamente, toco seus ombros para me apoiar e tirar os sapatos.
Gabriel me olha com devoção.

— Me suba na poltrona, por favor — peço manhosa e ele atende


prontamente meu pedido. Me viro de costas para que tenha uma visão
perfeita da minha bunda. Sensualizando me movimento para um lado e

para outro até que o homem me pega e beija cada lado da minha bunda, e
cheira toda minha pele vestida apenas com a lingerie amarela de renda.

— Vire para mim, quero desfrutar dessa visão maravilhosa que é seu

corpo — ordena com rispidez, e eu me viro, dançando para ele,


aproximando-me de seu ouvido.

— Sua grosseria está me excitando muito mais do que você imagina.

Pretende me dar ordens a noite inteira? Caso seja essa sua ideia, sugiro
que me amarre na cama e me tome para si.
— Você gosta de ser amarrada?

— Não, mas o senhor parece que está bravo e quer descontar sua
raiva em alguém, e eu pareço ser essa pessoa. Então, estou disponível

para satisfazê-lo, mas tenho uma ideia melhor caso não esteja bravo —
falo em seu ouvido, bem sexy e suave.

Não sou atriz, mas sei atuar muito bem. Não será esse homem
gostoso que vai me passar para trás.

— Me diga: como você gosta de ser tocada, amada, possuída e

desejada, Milena? — pergunta em sussurro. Isso. Entrou de vez no meu


jogo, acho que eu estou por cima agora.

— Gosto que me tratem com carinho e respeito na cama, apesar de

ser completamente louca por uma boa transa — conto, tentando soar
inocente. — Você me parece um ótimo parceiro na cama. Pegada sei que
tem, a julgar pelo tanto que me aperta a bunda e acaricia meu corpo

enquanto falo em seu ouvido — finalizo, passando meu dedo em seus


lábios avermelhados.

— Você é deliciosa… E eu estou louco para te comer de uma

maneira que você jamais foi tomada na vida. Me permita. — Senhor Vilela
me olha nos olhos, e dou meu consentimento, mesmo sabendo que as
minhas ações estão sendo erradas.
Sou uma profissional, demonstrar qualquer sentimento é
inconveniente e perigoso. Engulo em seco quando Gabriel me pega no

colo. Aproveito e prendo minhas pernas em sua cintura. O nó se forma na


garganta quando ele começa a roçar seus lábios nos meus. Logo após, me

encara por alguns segundos e sorri de uma maneira arrogante, tomando


completamente minha boca.

— Sem beijos… — reclamo, virando o rosto.

— Ninguém precisa saber — provoca ao voltar me beijar, ignorando


minhas palavras.

Esse homem rabugento, inconstante e arrogante mexe comigo, me

atiça.

Gabriel me põe sobre a cama. Em seguida, inicia beijos em meus


pés, lambendo todos os meus dedos. Vai subindo delicadamente,

saboreando minha pele como quem saboreia uma sobremesa, beijando e


lambendo parte a parte, até que chega no meu ponto mais quente, que já
está úmido. É possível sentir a pulsação com o toque.

Ele beija por cima da lingerie, subindo em direção ao meu umbigo,


beijando lentamente cada parte da minha barriga. Sobe até meus seios,
que já estão com os mamilos rígidos de tanto tesão que estou sentindo. O
cretino toca em todo meu corpo com seus lábios, alcançando com toda

adoração meu pescoço.

Não abrirei minha boca para perguntar o porquê de ainda não ter
tirado nenhuma parte de sua roupa exceto o terno. Curiosamente, exploro

os botões de sua camisa, e ele afasta minhas mãos para que eu não o
toque. Então, mantenho minha posição, recebendo seus cuidados.
Novamente sou surpreendida com um beijo profundo e quente, enchendo

meu corpo de espasmos. Eu me contorço embaixo dele, gemo baixinho


enquanto Gabriel intensifica o beijo com ousadia, até que de repente ele

se afasta e sai de cima de mim.

Ele sai do quarto batendo a porta, deixando-me sozinha, sem


entender nada.

O que fiz de errado? O que esse homem está pensando da vida?


Isso não vai ficar assim.

Levanto-me da cama, me visto e saio do quarto em direção ao salão,

na esperança de encontrá-lo e fazê-lo pagar por essa desfeita.

∞∞

Perdi minha noite de sono por causa de um cliente indeciso que fugiu
de mim como seu eu fosse a pior coisa do mundo. Neste exato momento,
estou em uma discussão com minha chefe. Não permitirei que meu
pagamento fique em branco.

— Podemos rever isso. Talvez você tenha feito alguma coisa de

errada para ele ter ido embora.

— Está louca? O homem parecia gostar de tudo, mas na hora H


decidiu deixar o quarto como se nada tivesse acontecido! — falo, furiosa.

— Tenho certeza que o erro foi seu — Judite insiste em dizer.

— Por que o erro seria meu? Tem alguma prova? — questiono com
raiva.

— Sim, eu tenho, meu doce. — A mulher sorri, e me assusto ao ver


Bruna surgindo na sala com um sorriso sarcástico.

— Oi, amadas! — cumprimenta minha colega, bocejando. Logo, após

se joga na poltrona ao meu lado.

— O senhor Vilela pediu outra garota, talvez tenha sido por isso que
ele não te quis — a velha miserável só informa depois de tanto

questionamento que fiz.

— E essa garota fui eu — Bruna se intromete. — Céus, como deixou


aquele pedaço de mal caminho fugir? Que homem maravilhoso! E quando

digo maravilhoso, é em todos os sentidos.


— Não quero saber com quem ele transou, a única coisa que me
interessa é meu dinheiro! Tenho contas para pagar! — grito, enfurecida.

— Baixe o seu tom! — ordena minha a quenga mor.

— Eu não disse que ela fica louca quando o assunto é dinheiro? —


provoca Bruna.

— Estou de saída, só volto na segunda-feira — aviso, levantando-

me.

— Como é, Milena? — Judite ri.

— É isso o que acabou de ouvir, chefe. Vou pra Búzios ver a minha

família, então, como hoje é sábado, pretendo descansar. — Mantenho-me


firme.

— Desde quando puta tem descanso? — rebate a velha, pensando

que suas palavras irão me afetar.

— Mais uma palavra que me ofenda, pego minhas coisas e saio

dessa merda! Sou livre. Só porque sou funcionária, não quer dizer que
estou presa a você! — ameaço.

— Então por que está aqui ainda? — indaga a mulher. Olho para

Bruna, que nos encara de olhos arregalados.


— Estou aqui de livre e espontânea vontade, mas em breve sairei

daqui. Quero ver quem vai te trazer mais lucros!

Não deixarei ninguém me rebaixar.

— Se acha tão especial assim, querida? — pergunta Judite,


venenosa.

— Volto na segunda — aviso, pegando minha bolsa no chão e dando


as costas para as duas mulheres.

— Você não vai a lugar algum, Milena. — Paro de caminhar quando

ouço Judite me chamar.

— Você… Você… Não pode me impedir! — gaguejo, negando-me a


mostrar fraqueza.

— Realmente, eu não posso, mas você não vai sair daqui até que o
evento de hoje acabe. Se comporte como uma profissional e faça o seu
trabalho direito! — fala com arrogância.

Respiro fundo, procurando controlar minha raiva.

— Você é uma vadia — rosno, passando a mão no meu cabelo.

— Em todos os sentidos — responde, levantando-se e sorrindo. —

Agora vá dormir pelo menos duas horas para ver se consegue melhorar
essa olheira horrível.

— Miserável — sussurro, tremendo de raiva.

Apesar de ela ter um pouco de razão, não vou dar esse gostinho a
ela.

— Saia daqui, faça o que te mandei! Ah, jamais se esqueça de uma


coisa: eu ainda sou sua chefe, a qualquer momento posso destruir a sua
carreira.

— Até mais.

Ignoro-a e dou as costas para Judite. Sigo meu caminho e vou para
casa. Nego-me a derramar qualquer lágrima nesse lugar, ninguém me fará

chorar. Mostrarei a essa velha desclassificada o quanto ela está enganada


ao meu respeito.
GISELE MORENO

Judite é uma vaca velha que gosta de passar por cima das pessoas,

principalmente de nós, que trabalhamos ao lado dela.

Estou pronta para o outro evento que ela propôs aos amigos. O que
eu não esperava era encontrar Gabriel Vilela aqui. Para minha surpresa,

ele está mais lindo do que antes. Porta um terno bem cortado de risca de
giz, parecendo feito sob medida para o cretino. O maldito está mais bonito
do que no dia anterior.

Dirijo-me até o salão com a intenção de conseguir um cliente


qualquer, porém, não deixo de notar que Gabriel me encara a todo
instante. Aproveito para andar como se estivesse no tapete vermelho, linda
e elegante. Rebolo minha bunda ousadamente enquanto caminho. Ergo o

rosto, fingindo não ter notado a presença do abutre.

Estou sentindo-me uma rainha com o vestido que escolhi para brilhar
essa noite. Ele tem um tom rose, com um tule trabalhado, com pedraria

por todo o busto em decote em V. Na parte de trás, um decote em U até a


altura da cintura, além de uma fenda até a coxa, onde deixa à mostra toda
beleza que há em minha perna. O vestido marca perfeitamente a minha

cintura e dá destaque aos meus seios de maneira sutil, porém sexy. Sinto-
me a mais bela da noite, sem a menor dúvida.

Todos me olham. Meus cabelos estão presos com um coque alto, a

parte de baixo em cascata com ondulações perfeitas.

Olho por todo o cômodo. Sem demora, começo a caminhar até a


mesa onde estão muitos homens; e ele está nela. Ao seu lado, há um

homem que me come com os olhos, enquanto Gabriel se faz de cego.

Passo por trás dele, destilando meu aroma, que é marcante por ser
de uma fruta chamada cupuaçu, e poucos conhecem a fragrância. Em

poucos instantes, reparo como se remexe em sua cadeira. Acredito que


deve ter pensando que eu me rastejaria por ele. Ledo engano. Sou
requisitada pelo homem ao seu lado e paro para lhe dar atenção.

— Boa noite. — Sorrio com elegância.


— Não desejaria um lugar mais reservado? — Ele se levanta.
Estendo a mão, que imediato é pega pelo homem, mas logo ele é
interrompido por Gabriel, que toma minha mão e me arrasta para longe da

mesa, levando-nos até o meio do salão.

A contragosto, tento me livrar do seu toque sem parecer rude ou


causar alarde a todos, até que paramos. Eu me aproximo bem, mas sou

surpreendida pela firmeza que põe em minha cintura para que fiquemos
com os corpos colados um no outro.

Entredentes, encosto meu rosto no seu e sussurro:

— Espera mesmo que eu vá com você para mais uma noite dos
horrores, sem nem ser plenamente agradada? Me poupe, senhor Vilela…
Estou trabalhando, não faço caridade. Se assim fosse, eu estaria em

abrigos para atender a necessidade de pessoas que realmente precisam


de ajuda, e não de homens que não são capazes de satisfazer uma mulher
na cama como o senhor me parece ser.

Ele escuta tudo em silêncio; contudo, o cretino roça o nariz em meus


cabelos, sem esboçar uma só reação. Afasto-me numa nova tentativa de
me soltar, com sucesso. Viro-me na intenção de retornar à mesa e buscar

o homem, que nem sei o nome, mas que certamente me faria o que eu
quisesse, porém, sou parada de meu ato novamente por Gabriel e sua
mão forte. O miserável me segura com mais firmeza, tomando-me de vez
em seus braços firmes.

— Garotinha petulante… Você vai me dar prazer como eu quiser,

pois ninguém ofende um Vilela e fica por isso mesmo, estamos entendidos
agora? — Olho com fúria para o homem que sorri no canto dos lábios.

— Oi? — Gargalho, debochada, sem acreditar na audácia.

— Isso mesmo. Você vai sorrir e me levar para o melhor quarto que
tiver nesse lugar. Mostre que está bastante satisfeita ou ficarei bem
decepcionado com o seu serviço, e isso pode se refletir em você na cama,

então não me provoque. — Suas últimas palavras saem roucas.

Fecho os olhos ao me arrepiar. Aperto as coxas quando sinto o calor


no meio das minhas pernas. Que confusão de sentimentos é essa que

Gabriel Vilela me faz ter? Esse filho da mãe quer jogar comigo, só porque
é rico acha que pode ter tudo aos pés.

— Me siga — falo.

Caminhamos até a suíte principal da casa, onde apenas os melhores


clientes são recebidos. Esse ser desprezível vai me obrigar a me deitar
com ele, e o pior é que tenho interesse em fazer isso e muito mais.
Abro a porta da suíte e, pela primeira vez, estou nervosa. Estou
tremendo feito uma vara verde. Que situação desagradável foi aquela…

Mas essa é diferente, é gostosa. Sinto-me renovada com as farpas que


ando trocando com o senhor cretino. A situação é irônica, porque o odeio e

o quero também, mas somente para provar que sou muito melhor do que
ele merece. E, claro, também receber um pouco de prazer.

— Quer tomar um banho antes? Assim entramos no clima. Já notei

que você está bem arisca. Não gosto de duelar na cama, prefiro que seja
leve e gostoso — fala com um pouco de malícia, quase que me induzindo
ao erro fatal.

— Você sabe bem que estou muito limpa, bem perfumada, a julgar
pela sua falta de bom senso em me roubar de um cliente em que eu
estava interessada! — provoco, virando-me em direção ao minibar

embutido na parede.

Preciso beber água. Estou aquecida demais, a ponto de entrar em


combustão. Esse homem me deixa descontrolada.

— Não reclame, posso pagar o dobro que ele te daria — rebate. —


Vou tomar uma ducha, a porta está aberta caso mude de ideia e queira vir
me acompanhar.
Reviro os olhos e decido ir me deitar até que o príncipe volte para

que eu realize os seus desejos majestosos.

Deito-me na cama, mas antes tiro os sapatos, e fico observando o


céu estrelado através das portas francesas que dão de frente para o mar.

A vista é incrível… Amo ver o mar. Nascida e criada em cidade praiana,


não tem lugar que mais ame se não o mar.

— Merda de cansaço… Maldita Judite — murmuro, sentindo a

lerdeza me tomar.

∞∞

Acordo e, ao meu lado, está ninguém menos que Gabriel Vilela. Sem

me lembrar da noite anterior, confusa, me olho e percebo que ainda estou


vestida. Então quer dizer que caí no sono? Pelo visto, ele nem se
importou.

Com raiva, levanto-me da cama e vejo que são três da manhã.


Porcaria! Mais uma vez esse homem me usou, e mais uma vez vai sair
sem me pagar um tostão. Ele não pode fazer isso. Eu vivo com o que

ganho fazendo programas.

Vou até o banheiro, tiro minha roupa, encosto a porta para não
acordar o rabugento e me enfio embaixo da água.
Nossa, como eu precisava desse banho quente para relaxar meus
músculos. Fecho meus olhos para aproveitar a sensação de paz. Passo
uns bons minutos cantando e dançando, liberando toda energia ruim do

corpo para descer ralo abaixo.

— Quando perco a fé, fico sem controle — cantarolo a música Cedo


ou Tarde, da banda NX Zero. — E me sinto mal, sem esperança, e ao meu

redor a inveja vai fazendo as pessoas se odiarem mais.

Desligo o chuveiro e abro a porta do box, mas me assusto ao ver


Gabriel observando-me cautelosamente. Engulo em seco e dou o meu

melhor sorriso. Ele é só mais um cliente rico. É necessário saber satisfazê-


lo da melhor maneira possível.

— Senhor Vilela, pretende me matar para não precisar pagar pelos

meus serviços? — pergunto a ele, que sorri em resposta. Estende-me uma


mão com a toalha e a outra com o roupão. De bom grado, aceito. Pelo
menos uma vez na vida está sendo educado.

Enrolo meus cabelos e em seguida visto o roupão. Reparo em seus


olhos, que me observam atentos cada parte do meu corpo. Parece um
apreciador de diamantes, que olha com cuidado para identificar cada

pequena variação de ângulos da pedra preciosa.


— Você é rancorosa demais, Milena. Podemos ter uma noite bem
gostosa de sexo se quiser, mas precisamos parar de falar de dinheiro e

serviços — diz com tranquilidade.

— Certo. Vamos para quarto, ou pretende ficar na porta me olhando


com essa cara de pidão? — questiono, e Gabriel gargalha da minha

ousadia.

Céus, como não dar para um homem que surge pelado em sua
frente com um pau suculento? A carne é fraca, não sou de ferro.

Dando-me passagem, ele indica a saída. Prontamente caminho até a


porta e me aproximo dele. Acaricio seu membro. Está à mostra, não resisti.
Noto que o safado sorri maroto. Pega-me pela cintura, exatamente como

fez no salão pouco mais cedo.

— Você está me testando, não é mesmo, senhorita Milena? Gosto de


jogos, que tal fazermos uma aposta? — propõe, galante.

— Que tipo de aposta, senhor Vilela? Eu nunca jogo para perder —


sussurro, traçando minha unha em seu lábio.

— Se eu for bom o suficientemente para você até o dia amanhecer,


você passará quantos dias eu quiser ao meu lado. Passarei quinze dias no
Rio de Janeiro e quero a melhor companhia que puder ter. Se eu não for
bom para você, o prêmio será seu, e direi o que é apenas ao amanhecer.
O que me diz? — pergunta Gabriel, deixando-me extremamente confusa.

— Mas qual é a finalidade dessa aposta? Nem precisamos fazer


nada, já estou certa do resultado — desdenho, e o sinto me apertar mais
contra seu corpo, aquecendo o meu junto ao dele.

— Menina, eu garanto que serei a sua melhor transa — fala rouco,


roçando em meus lábios. Toma-me um beijo quente, urgente, desesperado
e maravilhoso.

Cuidadosamente, suspende-me em seu corpo, segurando-me com


firmeza, e vai até a cama. Nela, me deita e se deita ao meu lado. Nós nos
encaramos, e eu subo sobre seu corpo, beijando-o com tesão. Sinto o
membro dele tocar em minhas partes, e sua virilidade me excita ainda

mais. Sou capaz de afirmar que gozaria apenas de sentir esse membro tão
rígido.

Roço meu corpo contra o dele, que me toca com força, apertando

minha bunda, fazendo-me sentir melhor seu pau sobre minha entrada
úmida. Pego um preservativo na cabeceira da cama e levo até os dentes,
abrindo a embalagem sob o olhar atento dele. Encaixo-a sobre a extensão
do membro rígido. Gabriel não demora muito para me posicionar melhor e
encaixar seu membro em mim.
Não sei se gemo ou grito. É divino, que delícia de penetração. Com
movimentos circulares, mexo-me em cima dele, contendo os meus

gemidos, vendo-o se deliciar com meu corpo.

Repentinamente, ele gira nossos corpos, pondo-me presa sob o peso


do seu corpo. Agora, Gabriel tem todo o controle.

— Achou que iríamos brincar de papai e mamãe? — Gabriel sai de


dentro de mim. Abre as minhas pernas, deixando-me exposta. Gosto
disso, de vê-lo olhando para a minha intimidade molhada. — Estique uma

perna e deixe a outra dobrada.

— O quê? — Arregalo os olhos por estar surpresa com seu ato.


Nunca pensei que um homem carrancudo igual a ele fosse me fazer esse

tipo de proposta. Sentando-se sobre a minha coxa direita estirada, Gabriel


segura firme a minha perna esquerda e a posiciona para cima. Apoia a
mão na minha coxa; com a outra, pega em seu pau e pisca para mim.

— Pode gemer bem alto. Eu deixo, diabinha. — O homem soa


convencido ao me penetrar na nova posição. Mantendo-se equilibrado, ele
mete para frente e para trás. Mordo os lábios para evitar de gemer e reviro
os olhos.

— Oh, seu cretino! — gemo alto quando ele rebola seu quadril e
intensifica a penetração.
— Agora eu entendo por que os homens te olham como se você
fosse única — fala, já passando a língua no bico dos meus seios, sem

deixar de enfiar seu pau gostoso na minha entrada, que implora por mais a
cada segundo. — Você é gostosa, não posso negar, garota.

— Fale menos e me coma mais — reclamo, gemendo e tentando


fazer movimentos também. Fecho os olhos quando a língua quente do
homem trilha meu pescoço.

— A sua boceta já está apertando meu pau — sussurra, gemendo


roucamente. — Quer que eu te dê mais? É só pedir que te dou.

— Não sou de pedir nada aos meus clientes, só estou aqui para

servi-lo — falo, entredentes quando ele sai de dentro de mim, sem me


deixar alcançar o clímax.

— E seu eu não quiser ser servido? — pergunta, virando-me

bruscamente para que eu fique de quatro. — Posso comê-la assim? — Ele


pende meus cabelos úmidos pelo suor na mão, enquanto a outra está
segurando meu quadril.

— Pensei que não gostasse de torturas, senhor Vilela. — Rebolo a


bunda quando sinto a penetração me preencher mais uma vez. Talvez
mais tarde eu vá sentir uma dor de cabeça pela pegada firme do homem
em meus cabelos, mas no momento está tudo gostoso, principalmente o
jeito que ele coloca em mim e se mexe rápido, levando-me a mudar de

ideia. Entre mordidas e beijos na minha pele suada, o homem faz


movimentos circulares. Aproveito o travesseiro para abafar meus gemidos
de rendição.

O que fazer agora? Esse cretino me surpreendeu. Aquela carinha de


santo me enganou direitinho. Pensei que ele fosse daquele tipo de homem
que só sabe o tradicional, mas esse é o problema. Ele não me prometeu
muita coisa, mas foi além das minhas expectativas. Na cama, Gabriel
Vilela já me tem, mas não irei demonstrar o quanto estou envolvida, não

agora, não enquanto eu não conseguir fazê-lo me tornar a sua preferência


de hoje em diante.
GABRIEL VILELA

A loira nua estirada na cama dorme profundamente. Enquanto ela

não se importa com a minha presença, observo-a dormir, silenciosamente.


Quando deixei-a gozar, abriu um sorriso bonito e safado para mim, e
depois disse “Estou cansada, Senhor Vilela, mereço descansar um pouco,
não acha? Quando eu acordar, prometo recompensá-lo”. Apenas a ignorei
e mandei fazer o que quisesse. Ousada, me lançou beijos no ar, jogando-
se na cama e caindo num sono profundo até agora.

Franco sempre me fala das garotas da Judite. Os elogios são tão


exagerados que a vontade de mandá-lo calar a boca é imensa, porém,
tendo-o como o melhor amigo do meu pai e meu sócio, devo-o respeito,

apesar de nunca ter me importado com as referências que ele dava das
acompanhantes.
Conhecendo bem as garotas do Rio de Janeiro, os elogios tão
exagerados me fizeram chegar a pensar que o velho já está caducando.
Não levei a sério os convites de Franco quando vínhamos ao Brasil fazer
negócios, mas, dessa vez, meu interesse foi maior. Ele veio de Portugal

até o Rio falando-me de uma jovem garota que trabalha para a Majestosa
Judite, como ele a chama. Foram tantos elogios repetitivos até chegarmos
que, por fim, decidi que aceitaria o convite dele para ir até o tal Clube
OpenSea.

Franco é um homem já de idade, mas isso não o impede de


continuar curtindo às escondidas da esposa e família. Ele garantiu que o
clube tem extrema segurança e total sigilo das identidades. Somos
homens de negócios e temos família, mas precisamos nos distrair e

espairecer do estresse que é nossos dias, após reuniões de negócios


intermináveis.

— Bom dia, senhora Silva — falo ao ser atendido do outro lado da

linha.

— Bom dia. Com quem eu falo? — Soube que a dona do clube é


excelente em bajulação. Vou aproveitar toda sua atenção para ter o que

desejar da garota dela e desfrutar de outras coisas que podem me ser


úteis nessa cidade maravilhosa.

— Gabriel Vilela.
— Ah, senhor Vilela, que prazer falar com o senhor. Em que
posso ser útil hoje? Está precisando de algo? A Milena não o agradou?
Quer que eu envie a Bruna mais uma vez?

— Não é nada disso, senhora. Desejo outra coisa — falo,


olhando para a diaba que ainda dorme despreocupadamente na cama.

— Pode me chamar de Judite, senhor. Não precisamos de toda essa


formalidade. Os amigos do Franco são meus amigos também.

Ignoro as palavras da mulher e continuo:

— Quero contratar os serviços da sua garota. Quero por quinze dias.

— A Bruna?

— Não, a Milena Albuquerque.

— Pensei que o senhor não tivesse gostado da…

Eu a corto:

— Dos meus gostos cuido eu, senhora. Só estou te ligando para


notificar a minha decisão.

— Milena é a minha menina de ouro. O senhor está ciente que o


investimento nela é alto, né?
— Sim, estou, e me disponho a pagar o dobro do valor por ela.

Reconheço que a garota sabe trepar e é bem gostosa. O custo é alto


para me dar prazer de verdade. Não que dinheiro seja um problema para
mim, nunca foi, mas aquela Bruna não chegou bem perto do prazer que
essa pequena menina me deu nessas poucas horas.

Na noite em que conheci a loira, saí do quarto e a deixei para trás


sem explicação. Posso imaginar o quanto ela deve ter ficado furiosa por ter
sido rejeitada por mim e descobrir que, logo após, pedi uma noite com a
colega dela.

Não sou homem de deixar uma bela mulher na mão, mas algo dentro
de mim naquela noite dizia que Milena Albuquerque era perigosa demais.
Tentei de todas as maneiras ignorar a garota e seguir em frente com outras

companhias, mas algo nela me faz sentir uma louca atração. Talvez seja
sua ousadia e a forma como me enfrenta. Ainda não sei exatamente o que
é isso que estou sentindo, mas sei que é uma coisa boa e ao mesmo
tempo ruim.

— Quando tiver o valor da sua garota, me retorne. Quero


exclusividade dela por quinze dias. — Nem a espero responder e desligo a
chamada. Volto para a cama, disposto a ter mais uma vez a loirinha em
meus braços.
∞∞

— Você é bem misterioso — tagarela a loira, passando as unhas


grandes no meu peito nu.

— E você fala demais — retruco, fazendo-a gargalhar.

— O seu humor me deixa molhada — Milena diz, já trazendo seu

corpo para cima do meu.

— Por que esse seu vocabulário não me surpreende? —Coloco


minhas mãos em seu quadril, e a cachorra rebola manhosa no meu pau.

— Esse seu sotaque de português é delicioso, senhor Vilela… —


provoca ao falar bem perto do meu ouvido. Dou um tapa em sua bunda e
giro seu corpo para baixo do meu.

— Gosta do meu sotaque? — Arqueio a sobrancelha, divertido.

— Aham, é sexy. — Ela dá uma risada gostosa.

De onde essa mulher tira tanta bobagem?

— É bom saber, loirinha — falo com um olhar duro, fixo nos seus

olhos verdes.

— Eu sei que sim. — Dá de ombros, convencida.


— Você é bem convencida… — sussurro no ouvido dela. Em

seguida, começo a roçar os lábios na pele macia e cheirosa dela.

— Hmm… Sou sincera, isso sim. — Geme baixinho quando sente


minha mão deslizando em sua virilha.

Paro de tocá-la e saio de cima dela para vestir minhas roupas e dar o
fora desse clube. Preciso voltar ao hotel em que estou hospedado.
Amanhã já viajo para o local onde irei fechar alguns negócios para a

abertura de novas redes de restaurantes aqui no Rio de Janeiro. Tenho


que me organizar o quanto antes para que tudo saia como planejei: um
sucesso, como todos esses anos têm sido o meu trabalho.

∞∞

GISELE MORENO

Bem perfumada e arrumada, entro no escritório de Judite, que está


toda sorridente encarando a tela do computador. Deve ser algo bem
satisfatório para ela estar a essa hora com bom humor e sorrindo à toa.

— Você chegou na hora certa, minha querida! Sente-se, meu bem!


— exclama assim que me vê.

— Hm, o que aconteceu? — pergunto, desconfiada.

— Você já vai saber, só um instante. — Ela olha para o monitor.


— Estou bem curiosa para saber o motivo dessa felicidade.

— Achei! — Judite abre um sorriso e me encara. — Aquele cliente, o


amigo do Franco, me ligou mais cedo. Ele quer que você seja exclusiva

dele por uma quinzena.

Gabriel Vilela. Repito o nome na mente, mordendo os lábios,


tentando conter o sorriso.

Nas poucas horas que passamos juntos, percebi que ele é a minha
oportunidade, meu momento para conseguir o que tanto almejei durante
todos esses anos. Sim, tenho dinheiro, mas não o bastante para bancar

uma vida de luxo e comprar a casa que desejo dar à minha família. Mais
cedo, fingi estar dormindo assim que o ouvi conversando por telefone com
minha agenciadora. Pelo pouco que entendi, ele quer me ter por quinze
dias ao lado dele, e esses dias serão suficientes para fazê-lo cair aos
meus pés e me dar tudo que eu quiser.

— Fico feliz em ser a escolhida — falo.

— Mas claro que eu disse a ele que primeiro falaria com você, afinal,
somos praticamente sócias.

Agora somos sócias? Vaca!

— De quanto estamos falando? — indago.


— O quê? — Ela se faz de desentendida.

— Se vou ser dele por duas semanas, preciso saber antes o quanto
ele está disposto a pagar. Tenho minha agenda toda organizada e será um

rombo dos grandes desmarcar com outros clientes para ser exclusiva
desse. Só espero que o cachê valha a pena.

— Se te chamei é porque quero que entremos em um acordo,

Milena. — Sua voz sai séria.

— Que acordo seria esse?

— O cliente vai pagar trezentos mil, fora os gastos da viagem. Será


tudo por conta dele se você aceitar ser a acompanhante nessas duas
semanas, querida.

— O sexo está incluso? — pergunto.

— Tudo.

— Não esperava menos que isso. Aceito viajar com o senhor Vilela.

— É a melhor decisão que está tomando.

Sim, sei que é.


Passo bons minutos conversando todos os detalhes da viagem para
Arraial do Cabo com senhor Vilela, até que chega um momento em que
minha agenciadora me dá algumas recomendações sobre como devo me
comportar diante de um cliente tão refinado como Gabriel. Como se eu não

soubesse como devo agir para conquistar o homem.


GABRIEL VILELA

Por fim, meu tão sonhado descanso começa hoje. Realmente, a


recomendação de Franco foi certeira. Não é que eu achei uma companhia
interessante no clube OpenSea? Não sei se agradeço ou me faço de
desentendido caso ele me pergunte algo. Aliás, cada um deve cuidar da

sua própria vida. Não vejo motivos para me manifestar de uma coisa que
só me diz respeito.

Combinei tudo com a chefe de Milena sobre o trabalho que ela vai

desempenhar ao meu lado. Com isso, ganho mais que ela, pois ter a
companhia dela por quinze dias vai transformar minha vida. Ainda não sei
se para melhor ou pior, tendo em vista que a Isabel não para de me ligar
para infernizar meus únicos dias de paz. Acho que vou pôr ponto final em
tudo isso e seguir sozinho, curtindo a vida com companhias agradáveis

apenas.

— Ainda sinto o mesmo medo bobo. — Ouço a mulher falar baixo.

— Precisa de alguma coisa, senhorita. Milena? — indago, arqueando


a sobrancelha ao vê-la morder os lábios impacientemente. Obviamente
está nervosa.

— Não, senhor Vilela, estou bem. — Ela empina o nariz. Disfarça e


respira fundo antes de colocar os fones para ouvir os informes da viagem.

— Ramiro, já podemos ir. — Aviso ao meu piloto, ao pôr o fone.

— Sim, senhor!

O helicóptero dá partida e a viagem não poderia ser mais entediante.


Um silêncio paira desde a nossa saída de Copacabana até Arraial do
Cabo, em minha mansão.

∞∞

Passa meia hora de voo até que desembarcamos no heliporto da


mansão. Assim que chegamos, somos bem recebidos, pedi que meus
funcionários preparassem algumas coisas e que em seguida tirassem o dia
de folga. Quero ficar a sós com Milena, quero poder desfrutar de tudo que
puder ao lado dela.

— O senhor tem um bom gosto. — A loira retira os óculos de sol,


olhando para a casa branca de três andares, com janelas e portas de
vidro.

— Sim, eu sei — respondo-a com um sorriso. — Venha, entre. —


Pego na mão dela e a puxo para dentro.

Mostro à minha acompanhante alguns cômodos da mansão. Ela não


consegue disfarçar o encanto por tudo. Diz que estou de parabéns pela
excelente decoração. Sorrio e agradeço, chamando-a para mostrar a suíte

onde ficaremos. A loira morde os lábios, adentrando o local. Olha-me com


um olhar safado. Não resisto e vou até ela, que me chama com o dedo.
Sedento por sua boca deliciosa, agarro-a pela cintura e lhe roubo um beijo.
Dessa vez, não sou impedido.

Quando estamos prestes a cairmos na cama, meu celular toca no


bolso. Frustrado, atendo sem ver quem me liga. Arrependo-me quando
ouço a voz da minha perseguidora. Na mesma hora, meu pau broxa.

Peço licença à Milena e desço para o escritório para poder conversar


com Isabel, que me xinga de tudo quanto é nome. Furioso com seu
cinismo, desligo a ligação e vou fazer a única coisa que consegue aliviar

meu estresse: o trabalho, como sempre.

Reviso alguns contratos no computador e acabo deixando a garota


de Judite sozinha.

∞∞

As horas passaram rápido. Já é quase noite, passei a tarde toda


trancado no escritório sem sequer dar um pouco de atenção à loira. Assim
que largo o trabalho, vou tomar um banho, seguindo depois em direção à
varanda. Deparo-me com uma bela mulher, toda produzida com roupa de
banho e uma saída de praia linda, sentada tomando um drink, que acredito

ser Sex on the Beach, pela coloração.

Aproximo-me, sentindo o aroma delicioso que vem de seus cabelos.


Parece com o de frutas, mas com uma mistura interessante de flores. Não

sei explicar, sei apenas que a fragrância é uma delícia.

— Então foi aqui que a senhorita se escondeu? — sussurro no seu


ouvido e finalizo com um beijo em seu pescoço.

— E o senhor estava se escondendo de mim a tarde inteira, por quê?


Acho que está querendo perder a nossa aposta. — Ela se vira sorrindo.
— Hmm, você tem uma memória boa — provoco, acariciando o
braço dela.

— Uma proposta tentadora como a sua, não teria como esquecer. —

Pisca para mim, e gargalho com a sua audácia.

— Certamente, não. — Pego em uma das suas mãos e trago- até


meus lábios, depositando um beijo.

— Você demorou demais. Já estava cansada de ficar aqui


aguardando a sua chegada… Demorou tanto que meus planos até já se
foram com o sol lindo que estava fazendo. — Ela finge chateação.

Estou amando esse jogo. Continue, baby. Quero ver até onde é
capaz de ir.

— E quem disse que precisa ter sol para você realizar os seus
desejos? — Arqueio a sobrancelha quando a vejo mordiscar os lábios,
provocativa.

— E por acaso sabe o que eu pretendia fazer, senhor Vilela?

— Posso imaginar… — Finjo estar imaginando e logo sinto um tapa


em meu braço.

— Me diga uma das coisas que eu pretendia fazer. — Ela me lança


um olhar de desafio.
— Só me dê a mão e deixe-me te guiar, Milena. — Dou ênfase ao
nome dela, passeando os olhos no corpo curvilíneo.

Deliciosa.
Ousada.
Ah, como você me desperta pensamentos insanos, loira!

— Adoro um homem misterioso. Me surpreenda. — Sorri, deixando-


me guiá-la para dentro da casa.

— Essa é a minha missão. — Pisco para ela, que joga a cabeça para

trás e gargalha.

Paro no meio da sala e pego Milena no colo. Ela solta um gritinho


surpreso e me pergunta para onde vou levá-la. Deixo-a sem resposta

enquanto subo a escada que dá para os quartos. Entre risos, a loirinha fala
que sou louco e confessa que sou o primeiro cliente que a trata dessa
forma. Não entendo muito o que quis dizer, mas me parece ser uma coisa
boa.

Entro no quarto com ela ainda em meus braços. Mesmo que tenha
me pedido para descê-la, não a obedeci.

— O que pretende? — questiona, já séria quando a deposito na


cama e me afasto. — Pelo que me lembre, fui contratada para… — Sem
deixar que continue, peço silêncio ao fazer um sinal com os dedos.
No mesmo instante, ela se cala, e eu falo:

— Sim, contratei os seus serviços, e também disse que iria ser a sua

melhor transa, mas isso não quer dizer que você terá que me servir o
tempo todo. — Dou as costas para ela e vou até o criado-mudo. — Quem
vai decidir como serão nossos próximos dias sou eu. Se eu não quiser ser
servido e quiser te servir, vai ter que aceitar. Estamos entendidos? — Viro-
me, já com o óleo de massagem nas mãos.

— Sim, senhor — assente, franzindo o cenho ao me ver com o frasco


nas mãos.

— Deite-se, por favor, de barriga para baixo — peço, sentando-se na


borda da cama.

Por alguns segundos, penso em desistir da maldita massagem, mas


me mantenho firme quando a loira solta uma risadinha e se deita como
pedi.

— Boa menina. — Sigo até onde ela está.

Derramo uma boa quantidade de óleo sobre suas coxas e as acaricio

com a intenção de espalhar o líquido. A safada empina a bunda, fazendo-


me latejar. Dou um tapa em uma das bandas, fazendo-a gemer e sorrir.
— Você é muito travessa… Se comporte, a intenção é massagear
seu corpo, mas preciso que colabore. — Remexendo-se, ela diz que sim.

Que porra de mulher sexy. Nunca pensei que sentiria esse calor
novamente por alguém.

Lambuzo toda sua bunda, fazendo movimentos circulares. Passo a


mão por dentro de seu fio dental, acaricio-a e me delito na perfeição que é
seu corpo. Subo um pouco mais até a altura do sutiã e solto o laço. Ela
protesta.

— Não era só massagem, senhor Vilela? — Seu tom sacana me


deixa mais excitado.

— Nada mudou. — Deixo escapar uma palavra mais carinhosa e


vejo que ela retrai o corpo diante da minha fala. — Relaxe, já estou
acabado.

— Oh, sem problemas. — Quase que de imediato, ela rebate, em


tom mais sério.

Finalizo a parte de trás e peço que se vire para mim. Umedeço os

lábios quando tenho a visão dos seios empinados e dos mamilos rosados.
Maravilhosos. Fico admirando-a por alguns minutos, doido para saber o
que há por trás de toda essa máscara que ela usa para estar com seus
clientes.
Engulo em seco quando noto que a loira me dá um olhar confuso.
Lanço meu melhor sorriso para Milena, aproximando-me de seu rosto.
Tento beijá-la, mas sou rejeitado quando vira o rosto para o lado.

Sei que você não quer se deixar levar por mim, não está se
permitindo sentir. Nem precisa me dizer por que seus olhos já a entregam,
penso ao arquear a sobrancelha quando ela fica com o corpo ereto,

ameaçando se levantar.

— Sem beijos, por favor — fala, já com a expressão fechada.

— Não fique tensa. — Gargalho ao perceber o quão desarmada está


na minha frente. Neste momento, não vejo aquela mulher prepotente, mas
sim uma jovem que tem medo de se entregar por completo. — Vou fazer
desses dias os melhores que você já teve. Quero que se sinta desejada,

amada, incrível… E única — Toco em seu rosto, que já pálido.

— Por que está fazendo isso? Esse seu comportamento é muito


avesso… E a forma como age me deixa muito confusa. Peço que pare já

com esses seus joguinhos — demanda, irritada, afastando minha mão do


seu rosto. — Esqueça essa história de aposta, não somos adolescentes.
Sou a sua acompanhante e você é meu cliente, nada mais que isso.

— Sim, eu sei — Olho bem em seus olhos, enfurecidos. — Só quero


que se sinta bem ao meu lado durante esses dias que passaremos juntos.
É pedir muito? — Desta vez, eu que demonstro minha revolta.

— Me desculpe pelo meu comportamento, senhor Vilela, só não


estou acostumada com a forma como me trata — fala, quase inaudível.

— Apenas quero que relaxe e se entregue para mim. Só me deixe


cuidar de você. — Passo o polegar em seus lábios rosados.

Num súbito, Milena abre um sorriso lindo. Juro ter visto um brilho
estranho em seus olhos. Não sei o que se passa em sua cabeça, essa
garota ainda é indecifrável para mim, e eu não sei se isso é bom ou ruim.

— Por favor, preciso de uma boa massagem nas pernas, estão


doloridas — fala de repente, mudando a postura, já relaxada.

— A senhorita que manda. — Aproveito o ar descontraído que

criamos para analisar melhor a mulher na minha cama.

Ela está disposta a ser amada, consigo ver e sentir que sim, mas não
sabe como é ser amada. Não consegue aceitar um simples elogio e nem

um toque intenso.

— Você tem mãos maravilhosas. Por acaso a sua profissão é de


massagista e eu não sei? — brinca, fechando os olhos e soltando um
gemido rouco.

Apenas gargalho, divertido.


Após derramar óleo sobre suas pernas, massageio com bastante

atenção. Noto que ela sente prazer ao meu toque. Decido subir um pouco
mais e toco na sua virilha. Mordo o lábio e deslizo a mão por cima da
calcinha, percebendo sua excitação molhar o tecido. Meu pau lateja e a
única vontade que tenho é de meter a mão nela. Não hesito. Passo
carinhosamente os dedos no meio de sua abertura, que se contrai com o
toque inesperado.

Continuo minha massagem por sua perna e novamente toco na


umidade no meio das pernas, dando mais atenção ao clitóris. Passo o
dedo sobre ele, que está rígido. Ela está completamente pronta para mim.

Ouço um gemido baixo. Vejo a perna ser encolhida na tentativa de


inibir o prazer, que está palpável. Solto o laço da calcinha do biquini e
derramo óleo sobre sua vulva, acariciando-a em movimentos leves e

sentindo os batimentos dela em minhas mãos. A adrenalina é tão alta que


todo o corpo dela irradia seus batimentos cardíacos.

Penetro-a levemente e sinto a umidade espessa em minhas mãos.

Não resisto à ideia de lamber o néctar dessa deliciosa mulher, que agora
geme com meu dedo penetrando-a.

— Você é toda deliciosa, diaba — concluo, e ela geme baixo,

segurando firme os lençóis.


Para a frustração da mulher, afasto-me e arranco minhas roupas,
jogando-as no chão, como um louco desesperado para ter o seu corpo
encaixado no meu. Volto para perto dela e começo a fazer uma trilha de
beijos por seu pescoço. Depois, desço até chegar no espaço entre seus
seios, passando a língua. Faço um caminho lento até chegar em sua
barriga lisinha.

— Ahhh… Não tem como não se perder em você. — Sua voz sai
arrastada e cheia de luxúria.

Percebendo que ela já está entregue, subo minhas mãos até seus
seios, dando atenção especial aos mamilos rígidos. Acaricio-os e dou
pequenos apertos em cada um. Vejo Milena delirar e encurvar as costas.
Sorrio satisfeito.

Beijo seus lábios e a puxo levemente pelo braço até que fique
sentada. Sento-me atrás dela, abro bem suas pernas para ter fácil avesso
à sua boceta e meto o dedo levemente. Ela reclama e pede mais. Seguro

um de seus seios e massageio com afinco, sem deixar de dar atenção à


umidade que ela libera na outra mão.

Ela geme feito louca, e eu intensifico a penetração com os dedos.

— Mais um pouco, por favor… Preciso de você… Aaaaaah, que


delícia — fala e geme ao mesmo tempo.
Essa tensão me faz ter mais prazer ainda. Afasto seu corpo,
pegando-a no colo com os lençóis. Traço um caminho com a loira em
meus braços até o banheiro da suíte. Deposito seu corpo dentro banheira,
ligo a água morna, entro e me sento à sua frente, puxando-a para cima do
meu pau ereto, beijando-a com voracidade.

— O que pretende com toda essa tortura? Quero você dentro de


mim, bem fundo, Gabriel — fala, decidida. O brilho de despudor em seus
olhos faz com que eu lhe dê um sorriso torto ao ouvir meu nome sair de

uma maneira tão sexy dos seus lábios gostosos.

— Seu desejo é uma ordem, loira. — Penetro-a de uma vez, e ela


geme alto, jogando a cabeça para trás e mordendo os lábios.

Enfio uma mão em seu cabelo e, com a outra, seguro seu quadril.
Cacete, a mulher rebola deliciosamente e chama por meu nome.

— Escute, sua gostosa… — Solto seus cabelos e trago seu rosto


para perto do meu. Com os olhos fixos nos meus, ela lambe os lábios e
deixa a boca entreaberta, como se estivesse buscando por fôlego.

— Oh… Ficar assim é gostoso… — ronrona para mim.

— Vou te foder forte e duro. Quero te ouvir gemer bem gostoso e

rebolar muito no meu pau. — Ela assente, e eu travo seus quadris aos
meu. Iniciamos um vai e vem sem limites.
Milena grita e me aperta os braços. Aperto sua bunda, empurrando
duramente, e ela pede mais e mais. Ficamos por minutos no vai e vem.

— Por… favor… Me dê o que prometeu… — Exaurida, balbucia, e


noto que seu rosto está corado.

— Seu desejo é uma ordem, loira — falo, apertado seu quadril e

arrancando uma lamúria deliciosa da boca dela.

A agitação que fazemos também me deixa exausto, mas não o


suficiente, então, intensifico os movimentos. Sinto a boceta de Milena

espremer meu pau dentro dela e não controlo a pressão deleitosa que ela
faz sobre mim, até que gozamos juntos entre gemidos e gritos.

O esgotamento é notório entre nós, mas me permito apoiá-la de

forma mais confortável. Ficamos imersos na banheira, que transborda


água por toda parte.

— Precisamos fechar a torneira — sussurra em meu ouvido, ainda

sentada em meu colo. Estico meu pé e travo a alavanca da torneira, que


para de jorrar.

— Pronto, agora podemos relaxar de verdade — falo, dando um beijo

em seu pescoço. Ela sorri.

∞∞
Acordo cedo e deixo Milena dormindo. Deixei-a bem cansada ontem
à noite, fomos dormir de madrugada. Desço até meu escritório para fazer
algumas ligações para Portugal. Infelizmente, quem me atende é minha
esposa, que mais uma vez grita e me xinga. Mais uma vez, ignoro-a e

encerro a ligação.

Um pouco mais tarde, quem me liga é a secretária de Antônio Braga,


querendo confirmar minha presença no evento de amanhã. Senhor Braga

é meu sócio no restaurante que implantei da Lissol, dentro do resort dele.

Quando a loira acorda, algumas horas depois, encontra-me na


cozinha arrumando a mesa para que tomemos café juntos. Por um

instante, juro que vejo surpresa em seu olhar, mas, como uma boa
profissional, consegue, pelo menos acha que sim, disfarçar com um sorriso
safado. Vem em minha direção, dizendo que irá me recompensar. Tenta
me masturbar, mas a impeço ao pegar em sua mão e afastá-la do meu
corpo. Digo que não estou a fim, não nesse momento, e novamente vejo o

espanto vindo do olhar dela.

É neste instante que noto que Milena Albuquerque nunca viveu algo
parecido em toda sua vida, não o que eu estou proporcionando-a. Minhas

ações estão deixando-a confusa, embora ela não admita e não vá fazer
isso tão cedo.

∞∞
Adentro na sala e logo me deparo com minha convidada distraída,
deitada de bruços no sofá da sala. Milena veste um vestido vinho soltinho
e curto. Arqueio a sobrancelha ao perceber que está com o celular nas

mãos e parece conversar com alguém, que está divertindo-a muito porque,
enquanto digita, sorri abertamente.

Espero que não esteja fazendo planos com outro cliente porque

paguei um valor alto para tê-la exclusivamente para mim. Balanço a


cabeça e faço careta com meu pensamento insano.

A loira ainda não notou a minha presença, continua distraída e

sorrindo para a tela que brilha do seu celular.

— Atrapalho? — Minha voz sai meio severa. A mulher se assusta e


esconde o telefone debaixo da almofada, em seguida se senta.

— Que susto! Quer me matar? — exclama, já nervosa, mas logo se


recompõe, dando-me um sorriso sem graça quando vê que minha
expressão está fechada.

— Com quem estava falando? — questiono, aproximando-me mais.

Engolindo em seco, Milena nega, balançando a cabeça.

— Com a minha família, senhor Vilela. Ou não posso me comunicar


com ninguém enquanto eu estiver ao seu lado? — Sua voz sai firme.
— Em momento algum eu te disse isso, senhorita. — Pigarreio,
constrangido. Passo a mão no cabelo e me sento ao lado dela.

— Então, é o quê? — Arqueia a sobrancelha em modo de desafio.

— Pensei que estivesse marcando com outro cliente, sendo que é


minha…

Ela me corta antes que complete a fala.

— Não sou sua, senhor, apenas temos alguns dias juntos e podemos
desfrutar cada minuto. — Sorri, presunçosa, e joga os cabelos claros para
o lado.

Fascinado pela sua ousadia, jogo a cabeça para trás e gargalho.

— Mas enquanto estiver comigo, é minha sim. — Levo uma mão em


sua perna e vou subindo lentamente. Meus dedos acariciam a sua pele
branquinha e macia.

— Possessivo, meu senhor? — Seus olhos brilham, e sei que


estamos prestes a entrar em mais um jogo excitante.

Deixo de trilhar meus dedos em sua perna e seguro no seu pescoço.


Puxo-a para perto de mim, sorrindo. Milena lambe os lábios, provocativa.
Ficamos por alguns segundos nos olhando até que ela toma iniciativa e
sobe para meu colo, colocando os braços em volta do meu pescoço e
aproximando o rosto perto do meu.

— Nunca fui, e não vai ser agora que vou ser. — Um sorriso curva-se
em minha boca quando percebo que a mulher já está ocupando uma mão
com os botões da minha camisa.

— Claro, senhor Vilela — debocha quando chega no último botão. —


O que acha de receber uma massagem bem gostosa? — fala e tira minha
camisa. Joga a peça na poltrona ao lado, depois se movimenta em meu

pau.

— Onde seria a massagem? Poderia me mostrar? — pergunto,

quase soltando um gemido de satisfação pela rebolada gostosa que dá


mais uma vez.

— Seu desejo é uma ordem. — Milena beija meu maxilar, logo desce

para meu pescoço. Começa a beijar e morder de leve. Inebriado, fecho os


olhos e deixo que ela faça o que quiser comigo.

Em poucos minutos, estou recebendo beijos por meu abdome. A loira

já se encontra de joelhos e entre minhas pernas com a maior cara de


safada. E lá vamos nós de novo para outro round.
GISELE MORENO

Há alguns minutos, saí do banheiro, tomei banho e aproveitei para


lavar e hidratar meus cabelos. Nua, olhando-me em frente ao espelho, não
consigo me reconhecer. Pergunto-me mentalmente o que está
acontecendo comigo e por que estou me deixando levar por um homem
que tem o mundo aos seus pés e que pode me descartar a qualquer
momento. Repreendo-me por estar deixando que seus sorrisos, carícias e

o bom sexo me façam deixá-lo derrubar as barreiras que criei em meu


coração.

Meus planos eram outros, ainda são outros. Não posso deixar que
Gabriel Vilela tome meu fôlego. Não posso me esquecer dos meus
objetivos: tê-lo em minhas mãos. Ele vai ser meu cliente fixo. Além de ser
gostoso, é rico e bom em todos os aspectos na hora do sexo. O homem
sabe deixar uma mulher de pernas bambas, admito que foi o meu melhor
cliente durante todos esses anos que trabalho no ramo.

Ontem, vi nos olhos de Gabriel o quanto me deseja e me quer. Ele


também sabe que estou me rendendo aos poucos, no entanto, não serei
boba em me apaixonar por alguém tão… lindo, maravilhoso. Argh, Gisele,
tenha foco! Apenas pense no seu futuro e no da sua família. Clientes vão e
voltam, e esse é só mais um. Será ele que vou convencer a me dar o que
eu quiser. O senhor Vilela ficará em minhas mãos, serei exclusivamente

dele.

Balanço a cabeça e mordo os lábios ao notar o brilho em meus


olhos. Tenho poucos dias ao lado do homem e ele já conseguiu mudar

algumas coisas. Frustrada com meus pensamentos, afasto-me do enorme


espelho e vou até a cama. Pego meu celular, destravo e disco o número
da minha mãe. Ontem estávamos conversando pelo WhatsApp quando o
senhor convencido entrou na sala e quase me matou do coração.

Em três toques, sou atendida.

— Oi, meu amor! O que houve ontem? Te liguei, mas você não me

atendeu, minha filha. Aconteceu alguma coisa? — A voz de dona Lainy sai
preocupada, e eu me culpo por isso. Poderia muito bem ter me despedido
dela, mas me assustei com a chegada de Gabriel. Também não quero
misturar meu trabalho com assuntos da minha mãe e irmã.
Antes de respondê-la, dou uma olhadinha rápida em direção à porta
fechada, respirando aliviada.

— Desculpe, mamãe, é que chegou alguns amigos da minha patroa


na casa e eu tive que ajudá-la a recebê-los — falo, coçando o rosto e
rogando aos céus que ela acredite. Para minha mãe, estou em uma
viagem com Judite a trabalho e ficarei sem ir a Búzios por alguns dias.

— Ah… Certo, minha filha, mas, quando puder, liga mais vezes.
Estamos com saudades — ela fala meio triste, e meu coração aperta.

Logo isso vai acabar, mãe, eu prometo.

— Também estou… A senhora sabe que tudo o que faço é por


vocês, né? Pela gente… — Minha voz sai embargada e engulo o soluço.

Se contenha, Gisele! Engula esse choro. Não quero nem imaginar


quando minha mãe souber que todos esses anos eu menti para ela.
Espero que me perdoe.

— Você está bem, querida? Estou sentindo que está tristinha…

— Estou bem sim e não estou triste! Só estou sentindo saudades

mesmo, dona Lainy! Mas logo vou providenciar uma casa para a gente
para que possamos morar juntas. — Um sorriso curva-se em minha boca.
— Eu já disse que não precisa se cansar tanto. Podemos morar em
uma casa menor, colocar a Rebeca em uma escola…

Eu a corto antes:

— Vamos parar por aqui, tá bom? A única coisa que quero da

senhora é que cuide da sua saúde e da nossa Beca. O trabalho não vai
me matar, trabalho não mata ninguém. Só estou retribuindo tudo o que a
senhora já fez por mim, mamãe. Não esquenta comigo não, eu sei me
cuidar, tudo bem? Eu te amo muito, sempre lembre disso. — Uma lágrima
solidária cai na minha bochecha.

— Também te amo, minha menina… Se cuida. Não esqueça de se


alimentar direito. Quando você voltar, quero te ver gordinha — fala, e meu
coração aquece com o seu carinho.

— Pode deixar, vou comer direito. — Gargalho.

Fico atenta quando ouço algumas batidas na porta e meu nome


sendo chamado. Para não fazer como antes, falo baixo:

— Mãe, a senhora Judite está me chamando. Amanhã ou mais tarde

ligo para a senhora, tá? Manda beijos pra Beca.

Encerro a ligação ao receber um “Sim e fique com Deus” dela. Jogo


o celular na cama e salto até o closet para pegar um robe.
— Milena, posso entrar? — A voz de Gabriel se torna preocupada.

— Cl…aro… Pode entrar sim! — Alcanço o robe cor nude e me visto.

— Está tudo bem por aqui? — Ele me encara dos pés à cabeça, um

tanto desconfiado.

Odeio quando seu olhar é profundo, parece que ele é capaz de


enxergar através da minha alma.

— Aham, está sim — murmuro, terminando de fechar o robe.

— Pensei que tinha acontecido algo. Te chamei, mas você não me


respondeu. — Aproxima-se de mim, e não deixo de notar o quanto é
elegante vestido até com roupas do dia a dia. Na verdade, ele fica mais
bonito sem aqueles ternos.

— Estava meio pensativa… — Faço biquinho, em seguida sorrio


para ele.

— Daria tudo para saber quem está tomando conta dos seus
pensamentos, Milena. — Um frio percorre por minha espinha quando seus

braços fortes rodeiam minha cintura. Seguro-me para não soltar um


suspiro de tão derretida que fico no mesmo momento.

— Até mesmo o seus milhões? — brinco, e ele joga a cabeça para

trás, gargalhando.
Porra, que homem de sorriso lindo. Dentes brancos, perfeitos,
alinhados. Deus grego! Acho que Gabriel Vilela saiu de algum livro de

romance, só pode.

— Até meus milhões. — Ele beija meu rosto.

— Hmmm… Tem certeza, Gabriel? — Ele raspa o nariz por meu


pescoço como se estivesse inalando meu perfume, que ainda não passei.

— Você cheira tão bem, que delícia… Esse cheiro de morango… —


Solto um gemido quando sinto a ardência em minha pele. Cachorro, me
mordeu! — Gosto quando me chama de Gabriel. É sexy. — Assopra as
palavras em meu ouvido.

— Bom saber, Gabriel. — Afundo meus dedos em sua nuca e puxo


de leve, arrancando um gemido gostoso dele.

— Mais tarde temos um evento — avisa, já com as mãos apalpando


minhas nádegas por cima do tecido de seda.

— Como assim você me avisa em cima da hora? Não tenho uma


fada madrinha como a Cinderela, meu caro! — Afasto-me dele e finjo
chateação.

— Ficará bela com qualquer coisa que vestir, Milena.

Sorri lindamente, e reviro os olhos.


— Você é um conquistador barato, senhor Vilela. — Jogo meu cabelo

molhado para trás.

— Mais tarde tenho um presente para você, loira. — Seus olhos


brilham em minha direção.

Sento-me na cama e cruzo as pernas, encarando-o fixamente.

— Poderia me antecipar o que é? — pergunto, quase saltitando.

— Saberá mais tarde — fala, piscando para mim.

— Sério isso? Por isso odeio surpresas. — Faço careta.

— Seríssimo. Agora vou até o escritório trocar alguns e-mails. Até a


noite — Gabriel me dá as costas e sai do quarto.

Animada e curiosa, me deito na cama. Passo as mãos no rosto e


mordo os lábios, repreendendo o sorriso que dou assim que o homem
fecha a porta, deixando-me sozinha.

Só não posso me apaixonar… O que estou sentindo é atração. Claro


que é. Ele é jovem, bonito, rico, gostoso e bom de cama. É tudo de bom, e
é claro que temos uma química bacana, por isso estou animada por estar
ao lado dele.

∞∞
Como é um evento de negócios, não posso fazer feio, porém, não

quero ser comparada com as demais mulheres. Opto por um macacão


esporte fino, na cor champanhe, com busto todo bordado com renda e
pedras, e um cinto combinado com a cor do busto, que é um tom mais
escuro de champanhe. Na frente, tem dois detalhes que se encontram sem
se tocar, em formato de folha, decorado com pedrarias. O macacão tem

cortes laterais nos bolsos, que dão um charme e não deixam marcar
demais o quadril. O decote em U dá um ar bem sexy, sem tirar a elegância
do look. Obrigo-me a pôr um terninho combinando com todo o resto, pois
meus ombros estão à mostra.

Saio do quarto pronta para o evento, com uma sandália simples na


cor prata, e encontro duas caixas douradas em cima do aparador na porta
do quarto, com um bilhete. Abro o envelope da caixa maior, que diz:

Espero que goste do mimo.

G.V.

Ansiosa, abro a primeira caixa, encontrando uma linda sandália


branca com pedrarias. Não penso duas vezes e troco a minha pelas que
acabo de ganhar. Ajeito-me e vejo como ficou perfeita em meus pés.

Na outra caixa, um envelope pequeno diz:

Toda mulher merece diamantes.


G.V.

P.S. Te aguardo no hall da casa.

Abro a pequena caixa e vejo um conjunto de colar e brincos. Fico


sem palavras. É bem simples, porém charmoso. O colar é bem fininho,
com uma pequena pedra de diamante. No brinco, uma simples gota de
diamante.

— Esse homem é louco — falo para mim mesma, encantada com os


presentes.

Olho-me no espelho que tem acima do aparador. Coloco o colar e os


brincos. Realmente, ele sabe como escolher um presente.

Desço as escadas, indo ao encontro de Gabriel, que me aguarda


logo abaixo. Para minha surpresa, ele está mais bonito que o normal,
vestido com um terno azul marinho feito sob medida, os cabelos castanho-
escuros penteados para trás. Não é a forma como está vestido que me
encanta, é o sorriso sincero que me lança. Esse homem é um perigo,

intenso demais.

Termino de descer cuidadosamente as escadas, fazendo questão de


mostrar bem minha nova aquisição nos pés, que reluz. Ele sorri ao me ver

exibir as sandálias. Sorrio em resposta.


— Inacreditável como você consegue ficar ainda mais linda, vestida
tão formal — elogia, coçando a barba por fazer. Por alguns instantes,
perco-me em seus pares de olhos azuis.

— Veja só se não é o meu par muitíssimo promissor — brinco,


chegando no fim das escadas, aproximando-me dele. — Juro que se você
não estivesse comigo hoje, eu o conquistaria a qualquer custo. — Toco em
seu braço.

— Quanta pretensão, linda. — Sorri de lado.

— O que posso fazer se gosto de ser sincera? — Empino o nariz.

O seu sorriso aumenta quando termino de falar.

— Você parece ainda mais linda próxima aos meus olhos, e esse
perfume… — Suspira ao falar. — Esse perfume é de enlouquecer qualquer
pessoa. Sorte a minha tê-la como minha companhia hoje. Acredito que
terei trabalho em afastar os velhos safados que estarão no evento —

finaliza ele com pesar disfarçado.

— Só terei olhos para você, meu bem, fique tranquilo. E espero que
cuide bem de mim, não sou adepta à geriatria — finalizo, gargalhando.

Gabriel me conduz até a saída, onde encontramos um carro que nem


sei qual a marca, mas é um supercarro, extremamente confortável. O
assento parece abraçar a gente. Acomodo-me, prendendo o cinto, e
damos partida para o evento. Espero não me sentir deslocada, nem ser
largada na mesa como todos os outros clientes cansam de fazer. Sei lidar
com isso, mas espero que hoje seja diferente.

∞∞

Pouco tempo se passa até que chegamos ao local, e eu achando


que seria um simples restaurante. É um mega-espaço lindo, imensamente
maior do que imaginei. Acho que nem estou vestida adequadamente para
o evento, que agora tenho certeza de que não é apena um “jantarzinho”
como Gabriel havia dito.

— Uau, que lugar lindo. Você disse que era um jantar simples e me
traz aqui? — falo com olhos vidrados na entrada do restaurante.

— Fique tranquila, é um local comum. Apenas a fachada chama


atenção. É um jantar de negócios, precisa ter uma aparência imponente
mesmo — conclui com desdém. Ele não sabe o que fala. É um lugar
lindíssimo, tenho até medo de entrar.

— Você acha que estou adequada para o jantar? — pergunto, tímida,


esperando uma resposta pesada dele. Agora, estou até com medo de
envergonhá-lo diante dos seus clientes.
— Você está incrível, sua escolha foi perfeita. Não se preocupe
quanto ao seu visual, qualquer coisa fica perfeita em você — fala, tocando
em meu rosto. Finaliza me dando um selinho. Fico constrangida com

tantos elogios, mas tento disfarçar.

Saímos do carro e Gabriel me dá a mão. Segura com firmeza,


conduzindo-me até a entrada do restaurante do resort.

— Boa noite, o senhor fez reserva em nome de quem? — pergunta


cordialmente a recepcionista do local.

— Gabriel Vilela e Milena Vilela — ele informa, e fico atônita com a


adição do sobrenome dele ao meu. Ainda que seja apenas para liberar
nossa entrada, essa coisa toda mexe comigo.

— Ótimo. O senhor Braga os aguarda na parte leste do resort.


Fiquem à vontade para desfrutar de nossas dependências. — Consigo ver
a cobiça nos olhos da morena em direção ao meu acompanhante, que
parece não ter notado.

— Obrigado, tenha uma boa noite! — Gabriel se despede da moça,


que por sinal é bem bonita. Morena com olhos claros e cabelo ondulado.
Isso é uma concorrência e tanto para mim.

Sou tomada pelo braço e conduzida pelas dependências do resort. A


cada passo, um novo deslumbre, pois o local é extremamente bonito. Já
estive em Arraial antes, mas nunca vi esse lugar. Quase não tenho tempo
livre para me divertir.

Entramos no restaurante, que por sinal se estende até a piscina,


superbacana, com um bar todo iluminado do qual algumas pessoas
desfrutam. E eu toda engomada; confesso que estão me causando uma

certa inveja. Nem posso reclamar, estou me sentindo feliz demais. Só


tenho a agradecer por ser tratada tão bem como essa semana.

Percebo que o celular de Gabriel vibra e aviso a ele, que pega o

aparelho e ignora a chamada.

Seguimos e entramos no restaurante bem organizado. Nada muito


extraordinário, porém confortável e elegante, tal como todo o restante do

local. Tudo em tons de azul-claro, imitando o céu, e azul-escuro nos


pequenos detalhes.

— Aquele ali é Antônio Braga e a esposa dele — fala perto do meu

ouvido; faço um maneio de cabeça.

— Certo. — Olho para o casal elegante que está a poucos metros de


distância de nós. O senhor Braga é um coroa bem charmoso, cabelos

grisalhos em um belo corte. A mulher dele também é elegante, bem


vestida. Exalam puro luxo.

— Eles estão vindo para cá — Gabriel avisa, e eu respiro fundo.


— Algum pedido especial? — cochicho, meio nervosa. Não sei por
que esse nervosismo se já estou acostumada com esse tipo de evento.

— Apenas seja você mesma — fala, abrindo um sorriso acolhedor ao


casal que já está à nossa frente.

— Boa noite, senhores. Sejam bem-vindos! — Senhor Braga nos


cumprimenta, muito cordial, juntamente com sua esposa, que sorri para
nós.

— Boa noite, meu amigo — Gabriel fala, desviando os olhos para


mim. — Deixe-me apresentar minha acompanhante, Milena.

O homem e a mulher pousam seus olhos em mim, sorrindo


educados. O senhor Braga não me olha com os mesmos olhos da esposa
dele, que são acusadores. De vez em quando, ela me lança um olhar
curioso e depois parece querer falar algo, porém disfarça com um sorriso.
Sem entender o motivo, dou de ombros e mantenho minha pose.

∞∞

Acomodamo-nos. Tudo correu bem até aqui. Jantamos e o papo está


bem leve e descontraído. Na mesa, estamos em quatro. Eu e a esposa do
senhor Braga conversamos bastante sobre amenidades, até que somos
deixadas na mesa quando um outro amigo de Gabriel chega com duas

pragas do Egito, Bruna e Grazi, as minhas colegas de trabalho.


Viro-me de lado, tentando esconder meu rosto, e não sou notada por

elas. O novo grupo que se formou se afasta da mesa, e ficamos apenas eu


e Silvana, que pouco depois pede licença e se retira, deixando-me
sozinha.

Um celular toca, percebo que é o de Gabriel. A insistência me


incomoda e decido atender à chamada. Na tela, brilha um número
desconhecido.

— Quem é? — pergunto, educadamente.

— Quem é pergunto eu! Quem está falando? — Do outro lado, a voz


da mulher me assusta devido ao grito que ela dá.

— Boa noite, senhora. Sou Gisele, a assistente do senhor Vilela.


Posso lhe ajudar? — Tento soar profissional, enquanto penso na
possibilidade de ser a namorada ou esposa dele.

— Você é assistente dele há quanto tempo? Pois até onde eu sei, o


assistente do meu marido era homem — fala desconfiada e em um tom de
rosnado.

— Exatamente, senhora, o Gonçalo é o assistente dele. — Agradeço


a Deus por tê-lo ouvido ele ao telefone com o tal homem. — Porém, ele
não pôde vir junto na viagem. Com tudo isso, o senhor Gabriel me

requisitou. Sou aqui do escritório do Rio de Janeiro, estou auxiliando nas


negociações que ele tem a fazer aqui, como a de hoje. Peço desculpas
devido ao barulho do local, mas assim que ele chegar aqui na mesa passo
seu recado.

— Faz o favor de não esquecer. Avise a ele que a mulher dele,


Isabel, está chegando no Rio de Janeiro em dois dias. Obrigada! — fala,
cheia de si, e eu respiro fundo.

Arrogante, a mulher desliga a chamada, fazendo-me entender que é


realmente a esposa do meu par. Não sei por que, mas isso me deixa
desconfortável demais. Enfim, não posso me deixar levar por esses quinze
dias. Minha vida não é essa, preciso focar no objetivo que é passar mais
esses dias ao lado dele. Preciso focar na realidade. São apenas negócios,
para mim e para ele.

Depois de algum tempo meditando, fico nervosa com a possibilidade


de Gabriel não aprovar o que eu acabei de fazer, atender seu telefone,
algo pessoal.

Bastante tempo se passa até que o vejo se aproximar com seu


amigo e as duas meninas do meu trabalho. Agora vai ser a saia justa.
Certamente elas vão fazer piada sobre mim e serão deselegantes o

suficiente para me tirar do sério.


— Desculpe a demora, me alonguei mais do que o necessário. —
Beijando-me no pescoço, ele se senta ao meu lado e põe a mão sobre
minha perna, dando um leve aperto. Olho-o, sorrindo.

— Sem problemas. Já podemos ir? — pergunto para somente ele


ouvir. Responde-me com um meneio de cabeça.

— Olá, Milena. Não vai falar com suas amigas de serviço? — Bruna
se dirige a mim com ironia. Ela joga os longos cabelos para trás e põe a
mão na cintura, olhando-me em modo de desafio.

Ignoro a mal amada e fixo meus olhos no senhor e na minha outra


colega.

— Olá, Senhor Franco, é bom revê-lo! Oi, Grazi, tudo bem? —


Cordial, refiro-me às duas pessoas que estão ao lado da vaca despeitada,
a Bruna. Acho que ela não engoliu por eu ter sido a escolhida para passar
os quinze dias ao lado do Senhor Vilela.

— Oi, amiga, você está muito linda — fala Grazi, com sinceridade.
Posso ver em seus olhos. Graziela é descendente de índios, ela é muito
linda.

— Menina, quase não a conheci, você está lindíssima — Franco me


elogia.
— Nossa, ela é fina demais, né? Nem consegue falar com as
pessoas que a cumprimentam. Acho que o dinheiro do cliente dela tá
subindo pra cabeça. Pobre coitada… Não sabe que, sendo puta, uma vez
sempre vai ser puta. Não pense que esse homem vai pôr um anel em seu
dedo ou te levar a sério — debocha Bruna, e fico constrangida quando
algumas pessoas parecem nos observar.

Que garota sem noção, meu Deus! E quem está falando em


casamento e compromisso? Tem poucos dias que conheço o homem.

— Bruna, ponha-se no seu lugar. Aqui não é local para


desentendimento, estamos em uma negociação. Se possível, fique quieta!
— Gabriel fala, deixando todos calados e de olhos arregalados. — Vamos,
Milena, por hoje já acabamos aqui. Ah, Franco, escolha melhor sua
companhia. Esse tipo de evento requer discrição, coisa que a sua

acompanhante não sabe do que se trata.

Gabriel se levanta, estende a mão para mim e me tira do local. Ele


está irritado, e ainda nem falei que a mulher dele ligou. Acho que fiz mal
em atendê-la.

— Você está bem? — pergunta baixo, olhando-me com uma certa


preocupação.

— Estou sim! — Abro um sorriso.


— Tem certeza? O que realmente aconteceu? Estou te achando

tensa — questiona, fazendo uma inspeção por meu rosto. Envergonhada,


desvio meus olhos para outro lugar que não sejam os olhos dele.

Nervosa, pigarreio, encontrando uma forma de falar para ele o que


está de fato acontecendo.

— A sua esposa ligou. — Estendo o celular para Gabriel, que


arregala os olhos assim que menciono a suposta mulher. — Ela me fez

milhares de perguntas, eu me apresentei como sua assistente e disse que


me chamo Gisele. — Ele me olha de uma forma estranha ao pegar seu
telefone e guardar no bolso. Talvez esteja se perguntando se esse é meu
nome verdadeiro.

— Gisele é mais um pseudônimo como Milena ou é seu nome real?


— pergunta, arqueando a sobrancelha.

— E como sabe que Milena não é meu nome, senhor Vilela? —


Coloco a mão na cintura.

— Tenho meus contatos — retruca, e eu reviro os olhos.

— Não faz diferença se é ou não meu nome verdadeiro. Voltando ao


foco da conversa, que não sou eu — provoco-o, fazendo fazer careta. — A
sua esposa perguntou por Gonçalo, e ficou histérica por eu ser mulher,

mas expliquei a ela que ele não pôde vir na viagem com você e que sou
temporária, apenas para esse período, pois trabalho no escritório daqui e
você solicitou minha ajuda — finalizo e olho para frente, tentando disfarçar
minha vergonha por ter contado uma mentira tão grande e criada tão
rápido.

De canto de olho, vejo que o espanto transforma o seu rosto. O


homem pragueja baixinho, e continuo sem querer olhá-lo.

— Caralho… Como eu pude esquecer meu celular — rosna, e eu o


olho assustada ao notar que a cor foge do seu rosto. O quanto ele ama a
esposa dele? Acho que acabei de estragar tudo que idealizei.

Gabriel passa a mão no rosto. Encara-me, e percebo que um


músculo na sua mandíbula contraiu.

— Peço desculpas por ter atendido seu celular, foi antiprofissional da


minha parte. — Massageio minhas temporadas.

Sou ignorada por completo.

— O que Isabel disse a você? — indaga em um tom mais calmo.

— Ela pediu que avisasse da sua chegada em dois dias. Mas não se
preocupe, posso ir pra casa da minha família e encontro você para o
próximo evento que tiver e precisar da minha companhia — sugiro na
tentativa de prolongar nossos dias. Não posso perdê-lo por um deslize
bobo. — E mais uma vez, peço desculpas pelo que fiz, senhor Vilela.

— Pare com isso, não vamos voltar as formalidades, Gisele…


Milena. — Ele me olha confuso ao fazer a troca de nomes. Não resisto,
acabo rindo. — O problema não é você. Enfim. Ela não virá, a conheço
muito bem, só quer chamar atenção. Fique tranquila — conclui, e solto um
suspiro de alívio.

Primeiro, mostre a ele que está arrependida. Depois, recue e se faça


de vítima. E por último, espere-o te procurar para dizer que está tudo bem.

— Podemos ir embora? — Minha voz sai quase inaudível. Abaixo a


cabeça e passo os dedos pelos meus cabelos.

— Sim. Vamos sair logo daqui. — Gabriel se aproxima, pega em


minha mão e saímos do Resort.
GISELE MORENO

Passaram-se cinco dias desde o jantar no resort. Tudo está indo


bem, melhor do que eu esperava. A esposa maluca não apareceu como
havia ameaçado. Não sei se fico feliz ou assustada, porque a mulher

parecia determinada a vir para cá.

Quando uma mulher está quieta demais, algo de errado tem, ainda
mais Isabel, que não me pareceu ser nada boba. No fundo, sei que ela não
engoliu o que eu falei ao telefone. Bom, não importa se ela acreditou ou
não. Minha função não é me preocupar com a vida particular dos meus
clientes e nem com esposas loucas enciumadas.

Faltam poucos dias para minha paz acabar, mas estou convicta que
conseguirei manter esse clima gostoso entre nós até o último dia e, quem
sabe, ele não pensa em estender mais os nossos dias.
Ontem pela manhã, liguei para minha mãe por chamada de vídeo, e
quem atendeu foi Rebeca. Minha irmã me contou sobre suas notas e que
fez uma nova amizade. Ficamos por alguns minutos conversando.
Consegui matar um pouco da saudade que estava sentindo dela, e não
demorou muito para dona Lainy surgir vestida com um avental e com uma
touca na cabeça. Antes de entregar o celular para nossa mãe, Beca se
despediu e disse que ia brincar um pouco no quarto. Após isso, ficamos
por quase uma hora nos falando, até que me despedi e disse que em
breve ligaria novamente.

— Esse vinho é delicioso — elogio, degustando a bebida cara que


Gabriel trouxe quando saiu mais cedo para uma reunião com senhor
Braga. Segundo ele, ganhou do amigo.

— É sim. — O homem fecha os olhos ao tomar um gole do vinho.


Estamos jantando na varanda. Mais cedo, fui surpreendida por Gabriel
quando ele retornou à mansão com um rapaz e uma senhora. Dona
Angelina é a cozinheira que preparou a nossa comida, e Jefferson, o filho

dela, seu ajudante.

Só tenho elogios para dar aos dois. Confesso que dessa vez fui pega
pelo estômago. Esbaldei-me no prato principal, Bacalhau à Brás, um típico
prato português.
Dou risada com meus pensamentos e Gabriel arqueia a sobrancelha,
encarando-me.

— Onde está Angelina? Gostaria de agradecer a ela pela refeição


que tivemos, estava tudo maravilhoso — falo, colocando a taça na mesa.

Não sei se o que falei foi errado ou se soou estranho para ele, que é
muito rico e não deve estar acostumado a agradecer os funcionários,
porque de repente seu olhar fixa em mim de uma forma que não consigo
decifrar.

— Bela iniciativa. Não esperava que fosse querer fazer isso. — A


mão dele alcança meu rosto e seus dedos deslizam por minha pele, que
queima com seu toque gentil.

— E por que não, senhor? Acha que sou mal educada? — provoco-
o, fazendo-o sorrir.

— Jamais pensei isso, senhorita. A senhora Angelina já foi, vi


quando eu fui pegar a garrafa de vinho. Outro dia você pode agradecê-la
— fala, sorrindo e ainda acariciando meu rosto. Juro que se continuar com
as carícias, vou dormir. Seu toque é leve e gostoso.

— Ah, poxa. — Não escondo minha tristeza. — Só porque eu ia


arrastar o senhor junto comigo. — Bato os cílios, arrancando uma risada
alta dele.
— Fazendo planos sem me consultar antes? — brinca, afastando a
mão do meu rosto, e eu dou risada.

— Fazer o que, né? — Dou de ombros e mordo o lábio inferior.

— Não sei se é um momento propício, mas como veio parar nessa

vida? — pergunta, e solto uma respiração profunda.

Não, eu não imaginava que iria ouvir isso vindo dele. Na verdade, de
nenhum cliente meu, porque eles não se importam com a minha vida
pessoal.

— Não gostaria de falar sobre meu trabalho e nem sobre mim. —


Fixo bem meus olhos nos seus, azuis reluzentes.

— E por que não? — pergunta, soando curioso.

Balanço a cabeça em modo de negativa e enterro as mãos no meu


cabelo.

— Pelo simples fato de achar que meu passado já não importa mais
e não estou aqui para me vitimizar falando o que já passei e deixei de

passar. Só o que precisa saber é que valorizo o meu trabalho e não me


envergonho de fazê-lo — digo, brincando com o brinco na minha orelha.
— Uau, isso foi… — Ele não consegue falar. Cala-se e, mais uma
vez, me lança um olhar indecifrável.

— Sincero — completo, sem desviar nosso contato visual. — O

importante para mim é conseguir pagar minhas contas no final do mês. É


um trabalho honesto, isso é o que importa. Não estou matando e nem
roubando para ganhar dinheiro.

— Você me surpreende a cada dia, garota. — Vejo sinceridade em


suas palavras.

— Isso é bom ou ruim? — arrisco, sentindo-se mais relaxada com o

rumo da nossa conversa.

— Logo vai saber, senhora apressadinha. — Pisca para mim. Em


seguida, se levanta e estende a mão para mim. — Me acompanha, por
favor? — Não penso duas vezes antes de aceitar o seu convite, porque sei
que a nossa noite vai ser longa.

∞∞

Acordo tão bem hoje. Aliás, tenho acordado bem todos os dias.
Nunca me senti tão feliz como agora. Estou tão animada que chega a me
assustar. Quando acordo, percebo que mais uma vez o fujão não está
mais ao meu lado. Provavelmente já deve estar trancado no escritório.
Pego meu celular para visualizar algumas mensagens no WhatsApp
que uso para o trabalho, e vejo que tenho algumas propostas. Um pouco
desinteressada, guardo o telefone no bolso.

Tomo banho e visto uma roupa confortável. Agora, estou descendo


as escadas para ir ao escritório de Gabriel tirá-lo de lá a força, mas, antes,
vou na estante de bebidas e pego um copo de uísque para levar para ele.
Uma bebida sempre relaxa.

Mordisco o lábio inferior, dando duas batidas na porta. Quando ouço


um “entre”, não demoro muito para obedecer.

— Trouxe uma bebida para o Senhor Fujão. — Abro um sorriso,


vendo-o dar a volta na mesa pegar o copo tomar numa golada só. — Uau,
parece que alguém estava com sede. — Arqueio a sobrancelha, divertida.

Ele não me responde. Surpreende-me ao me pegar pela cintura e me


dar um beijo delicioso, faminto e quente, que me faz estremecer as pernas.
Sua língua dança com a minha num sincronismo perfeito. Depois de
alguns minutos devorando a boca do outro, nos afastamos quando
ouvimos a campainha.

— Quem será? — pergunto, olhando-o, que também parece não


saber de quem se trata. Dou de ombros e saio do escritório, seguida por
Gabriel, que se espanta ao ver ninguém menos que uma linda mulher
ruiva, de olhos claros, verdes ou azuis, não consigo decifrar de onde
estou, vestindo um tubinho vermelho sangue com sandália de meia pata e
uma pequena bolsa de grife.

Lanço um olhar confuso em direção ao homem, que tem os olhos


fixados na ruiva furiosa. Meu Deus, essa é a esposa? Claro que sim…
Como ela entraria sem as chaves? Engulo em seco ao sentir meu coração
bater descompassado assim que ela fala:

— Posso saber por que você não atende a porra do telefone? E


quem é essa mulher? O que ela faz na nossa casa, Gabriel? — Exaltada,
a mulher despeja perguntas, e Gabriel não responde nada. Tomo partido e

o faço.

— Senhora Vilela, boa tarde. — Vou até ela e estendo a mão para a
cumprimentar, mas sou ignorada. Constrangida, dou alguns passos para
trás e continuo a falar. — Sou Gisele Moreno, nos falamos outro dia no
telefone. A senhora fez boa viagem? — Tento amenizar a situação.

— Ah, você é a tal Gisele? — responde-me com desdém, e eu

balanço a cabeça, confirmando.

— O que você está fazendo aqui? — pergunta meu cliente, irado.


Uma veia salta para fora do seu pescoço.
Que tenso. Nervosa, passo a mão no cabelo e tento me manter
firme, como uma profissional.

— É a nossa casa, querido. Por sinal, você não me disse que viria
pra cá. Descobri sozinha que você não estava mais no Copacabana
Palace e veio parar aqui em casa. Curioso que você não dá o endereço
daqui a ninguém, mas a sua assistente está aqui. Me pergunto, muito
curiosa, o que vocês estão fazendo hoje? — responde em tom de ameaça,

mas o homem não se abala.

Em uma tranquilidade absurda, ele responde:

— Gisele veio trazer uns contratos pra mim, e de toda forma, você
não tem nada a ver com isso. É o meu trabalho, a minha casa. Abro as
portas para quem eu bem entender. Você que não é bem-vinda aqui. —
Envergonhada, sigo em direção à porta.

— Aonde a senhorita pensa que vai? — Isabel me pergunta,


colocando a mão na cintura.

— Senhora, preciso ir ao escritório finalizar alguns relatórios, vim


apenas trazer os documentos e já estava de saída quando a senhora
chegou —respondo, firme, e ela me alivia um pouco, franzindo a testa.

— Hum. Você não tem nenhuma bolsa, anda na rua sem


documentos e nem nada? — A esposa de Gabriel me olhar dos pés à
cabeça.

De boba ela não tem nada, penso, respirando fundo.

— Ah… estão no carro — falo, e ela sorri maldosa, como se


estivesse prestes a me estrangular, mas algo a impede.

— Entendi, meu bem. Tenha uma boa viajem e cuidado na estrada.


— Sorri, venenosa.

— Não se preocupe comigo, estou segura e sempre prevenida. —


Um sorriso se curva em minha boca. Viro-me e encaro Gabriel, que está
calado, mas seu olhar é duro em direção à ruiva. Sem graça, falo: —
Senhor Vilela, o avisarei caso seu novo sócio entre em contato. Bom, é
isso, com licença, senhores.

Retiro-me às pressas da sala, pego a primeira chave que vejo na

quadra da garagem aciono o portão, entro no carro desesperada, dou


partida e saio com calma.

— Que sufoco, senhor — murmuro de olhos arregalados ao ver a


mulher berrando enlouquecida em minha direção, e Gabriel contendo-a,
arrastando-a para dentro de casa. Era tudo que eu precisava para fechar
minha semana.
Que mulher louca. Mas ela sabe bem o marido que tem. E pelo modo
que Gabriel a tratou, eles não estão bem. Fiquei surpresa quando soube
que era casado. Realmente, não sei nada desse homem, mas estou
encantada por ele e nem sei como farei para me livrar desse sentimento.

Saio cantando pneu e vou dirigindo rua afora, sem rumo. Espero que

tudo se resolva rápido. Esse é meu único desejo.


GABRIEL VILELA

Após a loira ter saído com meu carro, minha esposa se deu conta
que de que tudo não passou de uma encenação e correu para fora da
casa, xingando todos palavrões possíveis. Depois de alguns minutos

ouvindo seus berros, consegui contê-la. Arrastei-a para meu escritório e cá


estamos, em mais uma discussão.

— Eu sabia, eu sabia! — Ela anda de um lado para o outro.

— Acabou? — pergunto, furioso, passando as mãos nas minhas


têmporas.

— Acha mesmo que vou engolir essa história, Gabriel? — grita,


destilando ódio. Recosto-me na cadeira, passando as mãos por meus
cabelos.

Porra, que mulher chata do caralho!

— Abaixe seu tom de voz. Estamos sozinhos, não tem plateia para
você hoje. — Solto um grunhido alto. Ela fica de olhos arregalados quando
bato com as palmas das mãos na mesa.

— Como ousa trazer uma vagabunda para minha casa? Que falta de
respeito com o nosso casamento. — Isabel não me olha. Seus olhos estão
focados em suas lindas unhas pintadas de preto.

— Nós não temos nada, deixe de loucura! — falo enraivecido.

— Posso te acusar de adultério, seu cretino! — Encara-me com


seus olhos verde-escuros. Ela não consegue esconder o desejo que tem
de me esganar.

— Faço o que achar melhor, mas pode ter certeza de que vou fazê-la
se arrepender — rosno, levantando-me e indo até ela.

Isabela joga os cabelos ruivos para trás e gargalha, amarga. Logo,


fala:

— Saiu de Portugal dizendo que viria a negócios, mas mentiu. Veio


pra cá para se esbaldar com as putas e me deixou em casa! Se acha que
pode me usar e depois me largar, está muito enganado. — Isabel leva a
mão na cintura.

— Nunca tivemos nada, pelo amor de Deus! — Levo as mãos à


cabeça, atordoado.

— Ah, você chama as noites que tivemos juntos de nada? Deixe meu
pai saber que você está me tratando como uma Zé Ninguém! — Ela
começa a chorar, e sei que está fingindo.

— Só ficamos duas vezes e foi há quatro anos! Eu estava bêbado e

quem forçou a barra foi você, que estava mais sóbria do que eu — lembro-
a.

Essa mulher me tira do sério. Pensei que viajando para longe dela,
ficaria em paz e finalmente essa louca me daria o divórcio. Estamos
casados há seis anos. Infelizmente, tive que me casar com ela por causa
dos negócios da família. Na época, meu pai era melhor amigo do seu e,
quando Gonçalo soube dos problemas financeiros que a Lissol estava
passando, sugeriu que eu me casasse com a filha dele para que
pudéssemos salvar a nossa rede de restaurantes.

Aos meus vinte e cinco anos, eu já trabalhava ao lado do meu pai na


sede da Lissol. Como sou filho único, não tive para onde correr. Aceitei o
meu destino em me unir por alguns anos com Isabel Correia por contrato,
para que meus pais não perdessem o império que haviam construído com
muito esforço. Mas não era só por causa da falência da empresa que
aceitei me casar com Isabel.

Ninguém sabia, mas eu sim, e era um motivo muito mais forte que
fez com que eu me submetesse a um casamento de mentira, sem amor: o
câncer que minha mãe teve quando eu tinha quinze anos voltou com tudo
e precisávamos de um bom dinheiro para pagar o tratamento e bons

médicos.

— Me surpreende o tamanho da sua frieza, Gabriel Vilela. Quando a


sua família precisou da minha, nós fomos solidários. Agora, só porque
estão reerguidos, você pisa em mim — Isabel debocha, e ignoro o que ela
fala.

Tenho vontade de falar sobre as humilhações que me fez passar

durante esses anos de casamento. Sofri nas mãos dela, principalmente


quando insistia em dizer para as suas amigas que eu era o bichinho de
estimação com que o pai dela a presenteou.

Quanto mais ela me humilhava, mais eu a ignorava e trabalhava


arduamente para reerguer os negócios da família e devolver centavo por
centavo de Gonçalo Correia tinha dado em troca da maldita união com a
louca da filha dele. Em três anos, consegui recuperar o que havíamos
perdido e também a quantia do pai de Isabel. Mais três anos depois, já
somos a rede de restaurantes mais famosa em Portugal. Conseguimos em
pouco tempo expandir os negócios para fora do país.

No evento de Antônio, fiquei surpreso quando minha acompanhante


disse que minha esposa tinha ligado. Minha maior chateação não foi
porque Milena atendeu, mas porque eu sabia que Isabel infernizaria a
minha vida por um bom tempo. Se bem que eu tenho uma parcela de
culpa nessa história. Subestimei a louca, e agora estou vendo o resultado.

— Eu só quero paz, só isso. Peço que volte para Portugal e me deixe


em paz. — Passo a mão no meu cabelo.

— Minha sogrinha deve estar se revirando no túmulo, decepcionada


com o filho que está traindo a esposa com uma prostituta. — Ela toca em
minha maior ferida.

— Respeite a memória da minha mãe! — ordeno entredentes.

Sol Vilela partiu há um ano. Conseguiu lutar contra o câncer duas


vezes, foi uma guerreira, mas na terceira vez, não resistiu às sessões da
quimioterapia e faleceu. Perdi uma parte de mim no dia em que a
enterramos. Minha mãe era meu tudo, meu maior tesouro. Por ela, eu
enfrentaria qualquer coisa.

— Por que vou respeitar se nem o filho dela faz isso? Traz uma
vagabunda para dentro de casa para se divertir, enquanto a esposa está
em outro país o esperando. — Isabel se aproxima de mim e toca em meu
ombro. Furioso, recuo.

— Quem é você para vir me falar de fidelidade? Acha que não sei
das suas saídas com os sócios do seu pai? Eu sinceramente não me
preocupo com quem você vá transar, mas peço que pare de agir como
santa, porque você nunca foi. — Aponto o dedo para ela, que fica pálida

com minha revelação.

— Posso dizer o mesmo de você! Mas, pelo menos, eu te respeito.


Já você, leva suas putas para um evento importantíssimos que nossos
amigos frequentam! Você achava mesmo que a minha amiga não me
contaria sobre a sua amante? — acusa, cheia de ódio.

Merda. Provavelmente a esposa de Antônio deve ter ouvido a

conversa de Milena com ela e lhe contou tudo em detalhes sobre a noite
do evento. Contudo, a senhora Braga foi tão educada com a minha
acompanhante que eu não imaginava que ela daria com a língua nos
dentes para Isabel.

— Não tenho por que te dar satisfações da minha vida. A única coisa
que nos une é uma porra de um papel de casamento, então pegue um
avião hoje mesmo e volte para casa. — Minha voz soa fria.
— Só volto para Lisboa se você vier também — fala, determinada.
Semicerro os olhos com a audácia da mulher.

— Eu não te amo e nem você me ama. Por que isso tudo? O que
mais você quer de mim? — pergunto, em um tom de desespero. Ela ri,
amarga.

Penteio meus cabelos com os dedos e engulo em seco quando a


mulher me lança um olhar gélido.

— Sim, é verdade, eu não te amo e nunca te amei, mas me dá


prazer em te ver desesperado para se livrar de mim, algo que não vai
acontecer ainda, já que o contrato tem um prazo de sete anos. — Ela
passa a mão nos cabelos ruivos, sentando-se na cadeira mais próxima e
cruzando as pernas.

— Se você facilitasse no divórcio, poderíamos seguir nossas vidas,


simples assim. — Minha expressão se torna dura.

Sem querer olhar para a mulher que tira meus dias de paz, desvio
meus olhos em direção à parede pintada de cinza.

— Vai ter que me aturar até o ano que vem — fala em tom de
provocação. — Só vai poder viver com a sua garota da vida quando se
divorciar de mim, fora isso, ela vai ter que arrumar outro otário para
sustentá-la.
Fecho os punhos com raiva quando a ouço falar com desdém de
alguém que não tem culpa de nada.

— Não fale assim dela, ela não está aqui para se defender. — Cuspo
as palavras, irado.

— Então é verdade que está apaixonado por aquela menina? Que


idade ela tem mesmo? É maior de idade pelo menos? — Enche-me de
perguntas.

Fico calado. Não estou a fim de respondê-la, ela nem merece a


minha atenção. Sim, já estive com outras mulheres. Durante todos esses
anos, saí com muitas mulheres, mas nenhuma delas conseguiu chegar

perto do meu coração.

Quando conheci a garota que meu amigo Franco tanto elogiava, de


início quis fazer jogo duro, porém, existia uma química tão forte que me
atraía para ela. É inexplicável o turbilhão de sensações quando estamos
perto um do outro. Ainda me lembro que a provoquei quando Judite nos
apresentou e eu a chamei de adolescente. Foi automático, a provocação
saiu. Naquele mesmo instante que vi a faísca de fúria tomar contar dos
seus lindos olhos, soube que seríamos como o fogo e a gasolina, e eu

estava certo, porque, quando estamos na cama, incendiamos.

Passo a mão na barba, respirando fundo, e digo:


— Volte para o hotel onde se hospedou, mais tarde vou te procurar.
— Tomo uma decisão, sabendo que alguém nessa história sairá
machucado.

— Te aguardarei ansiosa. É a melhor decisão que tomou, meu amor.


— Isabel se levanta e sorri, maldosa. — Diga à sua garotinha de programa
que eu lhe mandei lembranças.

— Vá para o inferno, sua louca — rosno entredentes quando a


mulher sai porta afora.

Sentindo um aperto no peito, volto a me sentar na cadeira. Com a


cabeça latejando, espalmo na madeira da mesa e abaixo a cabeça.

∞∞

Há alguns minutos, liguei para Milena, pedindo-a que voltasse para


casa que eu queria conversar seriamente com ela. Meia hora atrás, minha
querida esposa se foi e pude respirar aliviado; até a presença dela me
incomoda.

Estou arrumando minhas roupas na mala, enquanto a espero chegar


para que possa arrumar as suas também. Já enviei uma mensagem para o
piloto para que nos leve de volta para Copacabana. A melhor forma de eu

me livrar de Isabel é voltando para Portugal para tentar revogar o contrato


do nosso casamento.
Infelizmente, meus dias com minha loira acabaram bem antes
do que eu imaginava e eu não poderei prolongar nossos dias como ela
planejava que eu fizesse. Sim, sempre soube que Gisele Moreno tinha
planos para mim. Como sei o nome dela de verdade? Antes de contratar
seus serviços por quinze dias, pedi a um amigo investigador que mora aqui

no Brasil que me passasse a ficha dela. A história de vida de Gisele é


muito tocante, mas, apesar de tudo que já passou, não abaixou a cabeça,
conseguiu se reerguer, assim como eu consegui. De alguma forma, vejo
um pouco dela em mim.

Somos um pouco parecidos na forma como lutamos com garra pela


nossa família. A única diferença é que eu nasci em berço de ouro, cresci
rodeado de luxo, e a loira veio de família pobre e passou por maus
bocados até conseguir construir um novo lar para a mãe e a irmãzinha.
Assim como eu, Gisele faz tudo pelas duas pessoas que mais ama nessa

vida.

Com a mente bagunçada, esmurro a porta do closet. Estou


frustrado demais com tudo que está acontecendo. Sei que Milena nunca
teve a intenção de ter maiores sentimentos por mim e que desde o início
só queria um cliente fixo. Apesar dos poucos dias que tivemos juntos,
percebi a barreira que insistia em manter entre nós, porque não queria
sentir, mas, devagar, ela acabou cedendo para mim um espaço em seu
coração.
Seus olhares intensos e sorrisos singelos foram me conquistando
aos poucos e, quando fui perceber, eu já estava me apaixonando pela loira
atrevida que na noite anterior se entregou para mim como jamais fez nas
outras vezes.

As palavras podem não ter saído da sua boca, mas seus gemidos,
seus olhos carregados de intensidade e maneira como seu corpo reagia ao
meu toque já eram capazes de dizer tudo. Ela também sabia que o que

estávamos tendo era maior do que poderíamos ter coragem de admitir um


para o outro.

— Gabriel, te procurei no escritório e não te achei, imaginei que


estivesse a…. — A voz de Gisele trava quando vê minha mala já pronta e
fechada.

— Precisamos conversar — falo sem jeito, coçando a cabeça. A

mulher se aproxima, atordoada, e toca na mala preta. Em seguida, me


olha, já com o rosto pálido.

— O que aconteceu? Essa mala…? — pergunta baixo. Já deve


imaginar o que está por vir.

— Houve um imprevisto. Vou voltar para Portugal e você… — Sinto


um nó se formar em minha garganta. — Para o clube. — Desvio meus

olhos para a porta da varanda do quarto.


— Mas o acordo não era de quinze dias? — Noto o embargo em sua
voz, mas logo disfarça. Fecho os olhos quando ouço seus passos
aproximando-se.

— Tenho alguns assuntos pendentes, são importantes. — Ainda


não tenho coragem de olhá-la.

— Mas… — Viro-me para ela e percebo que seus olhos estão


arregalados, seus punhos estão fechados.

— Não se preocupe que a última parte do dinheiro será pago antes


de eu viajar. E também vou te pagar um bônus — aviso de imediato.
Talvez eu tenha me precipitado, porque sua expressão se fecha quando
termino de falar.

— O quê? Achei que passaríamos mais um tempo juntos. E


também… Esquece. — Uma lágrima escapa do seu olho, mas ela limpa
tão rápido que por pouco noto que está prestes a chorar.

— Se não fosse importante o que tenho que tratar, jamais deixaria


uma mulher linda como você para trás. — Ouso tocar seus cabelos soltos,
lindos e longos. Ela me dá um sorriso triste.

Essa garota me conquistou tão rápido que chega a me assustar.


Acho que realmente estou apaixonando por ela. Quando estamos
próximos, meu coração bate descompassado e sinto uma paz em meu
interior, o que nunca senti ao lado de outra mulher.

— Tudo bem, não posso te obrigar a nada. — Ela vira o rosto,


visivelmente chateada.

— Não pense que vou porque quero. — Puxo-a para um abraço


e beijo os seus cabelos.

— Você vai voltar? — questiona, já brincando com um botão da


minha camisa.

— Ainda não posso te responder essa pergunta, Gisele. — Chamo-a

pelo seu nome verdadeiro, e ela se afasta de mim.

— Do que me chamou? — Quase dou risada com a forma como a


loira me olha, irritada.

— Esse não é o seu nome? — Arqueio a sobrancelha.

— O que… Co… — ela gagueja e não consegue falar. Parece ter


lembrado de algo e fica pálida.

Talvez tenha lembrado que deu seu nome verdadeiro ao se passar


por minha assistente para a Isabel. Pelo menos, não sabe que mandei que
puxassem a ficha dela.
— Fique tranquila, Gisele, prometo não contar a ninguém que
descobri o seu segredo — brinco, tentando aliviar o clima pesado.

— Gabriel, por favor… — Sua voz soa nervosa. Dou alguns passos
em sua direção.

— Saber como se chama agora não importa, loirinha. — Toco em


seus lábios e os acaricio, fazendo-a fechar os olhos.

— Sim, é verdade. Você já está de partida e talvez nunca mais nos


vejamos outra vez. — Ela abre os olhos, e noto que novamente estão
lacrimejados.

— É uma possibilidade, mas o que vivemos é inesquecível. Mesmo


que passem anos, tudo vai ficar marcado aqui, e aqui. — Toco em meu
coração e depois em minha cabeça. — Você foi a única mulher que
conseguiu me fazer ter sentimentos reais. Mesmo em poucos dias juntos.
construímos uma química perfeita.

— Nem sei o que dizer para você… Estou surpresa. — Gisele deixa
as lágrimas rolarem por suas bochechas. Com um instinto protetor, puxo-a
para um abraço. Beijo a sua testa.

— Adorei passar alguns dias ao seu lado. Você é uma mulher


maravilhosa, nunca deixe que outros homens façam você pensar o
contrário. — Entrelaço nossos dedos.
— Obrigada por tudo, você também foi incrível, devo confessar. —
Deixa um soluço escapar.

— Sempre soube que seria a sua melhor transa — provoco-a,


fazendo-a a sorrir lindamente.

— Eu não disse isso! — exclama, divertida.

— Pare de fazer jogo duro, loirinha… — Cruzo os braços sobre o


peito e a encaro sorridente.

— Não tive tempo para explorar o senhor, então não posso te afirmar

nada. — Dá de ombros, atrevida.

Meu celular começa a vibrar no bolso. Deve ser o piloto que já nos
espera para voltarmos para Copacabana, penso, pegando o telefone.
Desbloqueio a tela e confirmo que é Ramiro, dizendo que só está nos
aguardando no heliporto.

Quando o senhor quiser já podemos ir. Já está tudo pronto

De relance, olho para Gisele. Escrevo uma resposta para meu


funcionário:

Ok. Daqui a uma hora podemos partir


Após receber um “Ok” do meu piloto particular, guardo o objeto no

bolso e falo:

— Por favor, arrume suas coisas. Você tem uma hora para ficar
pronta. — Engulo em seco quando ela assente e sai sem me dar uma
resposta.

Sentindo-me em um beco sem saída, sento-me na cama e abaixo a


cabeça. O que me resta agora é tentar me livrar do meu pior pesadelo:

Isabel Correia.
GISELE MORENO

Doze palavras que me fizeram sangrar por dentro. Apenas isso ele
foi capaz de falar. “Por favor, arrume suas coisas. Você tem uma hora para
ficar pronta”. Nem ao menos se importou com mais nada a não ser me
levar embora.

Depois de tudo que me falou, confesso que fiquei sem chão quando
beijou minha testa e me disse palavras bonitas. Ele é o primeiro e único
homem que me deixou sem saber como agir, me deixou sem chão.

Minha vontade neste momento é apenas procrastinar esse dia, esse


momento. Queria poder ler os pensamentos dele. Esse monte de coisas
que ainda faltam pôr na mala… Nem sei se devo levar, tudo me faz
lembrar ele.

Sento-me na cama, ainda refletindo sobre as últimas palavras dele.


Ouço duas batidas na porta, seguidas do meu nome.

— Gisele, está tudo bem? — Sua voz é de preocupação. Eu


simplesmente me tranquei no quarto e não respondi aos seus chamados,
nem atendi a porta até que desse a hora de sair.

— Estou … ótima. Bem… ocupada agora — falo, quase sem


conseguir concluir.

— Tudo bem, temos vinte minutos. Quando estiver pronta, me avise

que venho buscar as suas coisas — conclui, e eu mordo o lábio, nervosa.

Pouco tempo depois, aviso que estou pronta, mas já desço com tudo
e vou sozinha para o heliporto. Deixo minhas coisas para o Ramiro pegar,
que é muito gentil me ajuda a subir no helicóptero, enquanto esperamos
pelo senhor Vilela. É assim que eu o chamarei de agora em diante.

Quando o helicóptero dá partida, não ousamos puxar assunto. Acho

melhor assim, não complicaremos mais as coisas.

∞∞
Não demora muito até que chegamos. Gabriel me leva até a porta do
Clube, ficamos por alguns minutos em silêncio, e sinto um aperto no peito.
As palavras que eu gostaria de falar para ele fogem da minha boca.

Por dentro, sinto-me destruída e não sei descrever o motivo da


minha vontade louca de chorar quando ele olha em meus olhos, de dentro
do carro, e fala “até breve”, que eu sei ser um “até nunca mais”.

Um homem como ele, que pode ter as mulheres que quiser, não tem
motivos para voltar. Nem sequer consegui ser o motivo para que ele não
partisse e prolongasse nosso tempo juntos.

— Adeus — falo após demorar para responder, sem querer olhar em


seus olhos.

Viro-me e vou em direção ao estacionamento privativo da OpenSea,


sentindo que estou sendo seguida. Não me importo, continuo meu trajeto.
Destravo meu carro e abro o porta-malas. No entanto, sou impedida de
guardar minha bagagem por mãos conhecidas de um homem que não

posso ter, mas desejo loucamente.

— Essa será sua única palavra? — pergunta, atento aos meus


movimentos, pegando minha mala e pondo-a no porta-malas, fechando-o
em seguida.
— Tudo que tinha a dizer, já dissemos. Agora minha data de validade
expirou. — Sorrio amarelo, na tentativa de esconder meu
descontentamento.

Semicerro os olhos quando noto que Gabriel aproxima seu corpo do


meu.

— Não adianta fingir indiferença. Sei que está triste com minha
partida, mas é até breve, não um adeus. — Ele toca em meu braço, mas
recuo ao seu toque.

— Senhor Vilela, não tenho motivos ficar indiferente. O senhor me


pagou muito bem pelos meus serviços, e agora terminou nosso contrato.
Seguimos e fim — falo, rude, e lágrimas enchem meus olhos. Quero bater

nele por suas palavras nada reconfortantes.

— Sei que você está triste com minha ida, mas não vou embora até
você ficar sorrindo daquele jeito que eu gosto de ver. Com um brilho que
irradia aonde você passa. Por favor, me dê um sorriso sincero — pede
com uma tranquilidade que me irrita.

— Siga o seu caminho que vou seguir o meu. Não somos nada, não

perca seu tempo comigo. Pode perder o seu voo, — A raiva é maior que a
vontade de atendê-lo, mas respiro fundo e me afasto dele.

— Gisele… — O homem gagueja meu nome, mas eu o ignoro.


É melhor assim. Não dê atenção a ele, você só vai se machucar,

penso, apertando os olhos. Decidida, entro no carro e travo as portas para


que ele não se atreva entrar.

Vejo-o pelo retrovisor, aproximando-se. Dou ré e saio com o carro.


Vou para minha casa, preciso tomar um banho bem quente de banheira e
dormir por alguns dias. Tudo isso destruiu minha autoconfiança. Preciso
urgentemente me reconectar comigo mesma.

Pego a rua principal e sigo até em casa. Concentrada na estrada,


solto um suspiro alto. Para ser mais sincera, é um suspiro de derrota. Ligo
o som e ponho a música Someone You Loved, do cantor Lewis Capaldi, e
cantarolo baixinho:

“Estou afundando e desta vez

Receio que não haja ninguém para me salvar

Esse tudo ou nada realmente

Tem um jeito de me deixar louco”

Solto um soluço alto e deixo que as lágrimas caiam por minhas


bochechas. Aperto as mãos no volante, sentindo minhas unhas
machucarem a palma das minhas mãos.
Quando chega na metade da música dou risada e mordo os lábios,
pensando no quanto ela combina com a minha situação. Volto a cantar,
deixando meus olhos encherem.

“Agora, o dia sangra, ao anoitecer

E você não está aqui, para me ajudar nisso tudo

Eu abaixei minha guarda e você puxou o tapete

Eu estava me acostumando a ser alguém que você amava.”

Com os pensamentos carregados, desligo o som ao notar que já


estou próxima ao prédio onde moro.

— Coloque um sorriso nesse rosto, Gisele. Você só está confusa,


apenas isso — falo, dando uma olhada rápida em meu rosto pelo espelho
do carro.

A quem você está tentando enganar? Tinha planos em ter Gabriel

como seu cliente fixo, mas acabou ficando rendida aos encantos dele, e
agora chora porque ele tem que partir.

Reviro meus olhos ao ouvir meu subconsciente filho da puta.

Ao chegar no meu prédio, cumprimento o porteiro, e ele como


sempre é um amor. O senhor Joabe fala que sentiu falta de me ver todas
as manhãs saindo para correr; trocamos algumas palavras rápidas.
Depois, o manobrista Luan chega, e eu deixo as chaves do carro para ele,
que estaciona meu Jeep Renegade branco, minha conquista. Amo meu
bebê.

Quase perto de entrar para o prédio, ouço uma pequena confusão e


volto um pouco para ver o que está se passando. E lá está ele, insistindo
para entrar e falar comigo, do outro lado do portão. Furiosa, passo as
mãos no rosto e encaro o homem que aponta em minha direção e fala algo

que não consigo entender direito. O senhor Joabe nega com a cabeça.

Largo minha mala e, em passos largos, volto até a portaria. Ponho as


mãos na cintura e bato os pés como se fosse uma criança. Irritada,
pergunto:

— O que está acontecendo, senhor Joabe? — Empino o nariz e olho


para os dois homens. Gabriel está quase pulando o enorme portão preto, e

o porteiro coça a nuca e me olha sem graça.

— Esse senhor disse que deseja falar com a senhorita, mas… — Ele
me olha sem graça, coitado. Pode levar uma advertência por minha causa.

Acabe logo com isso, Gisele. Não tem por que prolongar essa
situação. Já está ficando constrangedor, penso, mordendo o lábio.
— Deixe-o entrar, por favor — autorizo a entrada de Gabriel, que
está fazendo um escândalo.

Atendendo ao meu pedido, o senhor deixa que o homem entre, que


logo me alcança com o semblante fechado, mas dou de ombros.

— Obrigada, senhor Joabe — agradeço, puxando meu ex-cliente


pelo braço. Já um pouco distante da portaria, pergunto: — O que pensa
que está fazendo? Aqui é a minha casa, você não tem esse direito! Passou
dos limites. — Solto um grunhido e fecho os olhos.

— Ainda não terminamos de conversar — retruca, aparentemente


chateado.

— Já sim! E nem venha me dizer que não — repreendo-o ao


entrarmos no elevador.

— Você foi bem mal-educada ao entrar em seu carro e me deixar


falando sozinho. — Seu tom sai provocativo.

— Gabriel Vilela, eu não te devia mais explicações, nem precisava


dizer “tchau” porque já havia dito! Você está dificultando as coisas pra
mim, apenas isso! — Saímos do elevador dentro da minha sala, só aí que
lembro que esqueci minha mala lá embaixo. — Mas que droga! — Solto
um grunhido.
— Bela casa. Posso ficar ou você quer que eu vá embora? —
pergunta, fazendo uma inspeção nas paredes pintadas de rosa-bebê e na
decoração, principalmente por meus móveis, e eu bufo.

Passo a mão no meu cabelo, arqueando a sobrancelha, encarando-


o.

— Vou tomar um banho, a viagem foi muito cansativa! — exclamo,


afastando-me dele. — Ah, se puder pegar a mala que deixei lá embaixo
por sua culpa, vou agradecer.

— Claro, pego sim. — Gabriel me encara com uma certa confusão,


provavelmente porque há pouco não queria nem o ver em minha frente, e
agora já estou pedindo-o para pegar minha bagagem.

Esse homem me vence pelo cansaço. Mentira, estou adorando a


presença dele. Sou uma bela mentirosa.

— E outra coisa: quando voltar, não pode sair dessa sala até eu
voltar. Não é brincadeira, ok? E nem um convite. Fique apenas aqui! —
falo, firme, e ele assente, abrindo um sorriso idiota.

— Você que manda. — Continua sorrindo. Posso ver o brilho


diferente em seus olhos, mas não o sei decifrar.
Satisfeita, retiro-me da sala, ainda um pouco indignada e feliz pela
invasão o meu espaço. Sim, eu sei, sou bem confusa!

Nunca em todos esses anos que trabalho com a Judite um cliente


ousou me seguir, menos ainda a entrar no meu apartamento. Subo as
escadas, pensando no que vou fazer com esse homem no meio da minha
sala. Ele me dispensou, e preciso me desapegar dele urgentemente, não
posso me deixar levar por ele, não mesmo.

O que tinha para acontecer já aconteceu, agora, bola para frente!


Acho que vou tentar um truque antigo, pedir um amigo para ligar e dizer

que é trabalho, assim Gabriel vai embora sem me encher muito a


paciência, que hoje está bem reduzida.

Entro em meu quarto já jogando os sapatos para um lado e a blusa


para o outro. Vou direto para o banheiro. Abro a água para encher a
banheira, volto no quarto, pego o celular para sincronizar a caixa de som e
dou play na minha playlist favorita. Começo a dançar para aliviar a tensão.
Volto para o banheiro e a água já está com temperatura aceitável. Entro e
me estico, bem confortável. Recosto a cabeça na borda da banheira, fecho

meus olhos e viajo na música Pillowtalk, de Zayn Malik, que toca ao fundo,
fazendo-me esquecer toda a merda do estacionamento e o filho da mãe lá
embaixo.
Solto uma risada e começo a cantarolar o trecho da música
mentalmente. Abro um sorriso quando chega na minha parte preferida.
Identifico-me muito com a letra, a forma como o cantor se entrega quando
está cantando. É uma delícia de se ouvir, fico toda arrepiada.

Depois de alguns minutos, sou surpreendida com um corpo entrando

na minha banheira, atrapalhando meus pensamentos e meu banho É ele,


ousado, reluzente, deslumbrante e incrivelmente apaixonante. Gabriel não
tem ideia do tanto que me fez ficar perdida nele, e essa merda toda vai
com certeza ferrar comigo, com meu coração.

— Qual a parte de ficar na sala você não ouviu, senhor Vilela? Além
de invadir meu espaço privado, agora invade minha banheira também?
Meu quarto e toda minha intimidade? — falo num só fôlego com tom de
irritação.

Ouço sua risada baixinha, antes de me responder. Safado!

— Eu estava com frio lá embaixo e vim me aquecer junto a você —


fala com sorriso maroto nos lábios. Ele sabe como me encantar, filho de
uma… uma mãe!

— Nem está frio lá embaixo. Para de ser abusado e mentiroso. Fui


clara ao dizer que não era para o senhor sair da sala — concluo,
ameaçando me levantar. Ele me prende junto ao seu corpo.
— Posso voltar para sala, mas você precisa me fazer uma última
gentileza. Posso contar com isso? — pergunta em um tom brincalhão.

— Gentilezas sem roupas? Nunca vi nada do tipo. Vou me vestir e


você propõe o que quiser. — Tento mais uma vez fugir do seu toque,
mesmo que no fundo esteja doida para me entregar.

— Gisele, para de estragar as coisas. — Encaixando-me em seus


quadris, ele usa o tom de voz mais manso possível, sussurrando em meus
ouvidos. — Me deixe te tocar, te dar prazer, cuidar de você e te dar amor,

como se hoje fosse o último dia do mundo?

Encaro-o seriamente. Ele sorri e pisca para mim.

Como não se derreter por esse… lindo, maravilhoso e gostoso? E


ainda por cima gentil!

— Por que você é assim? Sabe exatamente quando e onde vai me


afetar. Tem ideia do que está fazendo comigo? Eu… — Sou interrompida
por um beijo. — Me deixe… — Mais uma vez, ele me beija, atrapalhando
minha fala.

— Apenas me diga que sim, loira. Me deixe adorar o seu corpo como
se fosse a última vez — pede, já acariciando meu rosto.

Estou perdida.
— Eu topo. — Por fim consigo falar, e sou tomada por um beijo
jamais experimentado junto a ele. É doce e quente, tão cheio de
promessas que minha mente fica embaralhada e confusa.

Rendo-me a suas carícias, sentindo seu pau rígido em minhas

partes.

Movimento-me na intenção de encaixá-lo em mim, sem sucesso. Ele


não deixa que eu o faça. Apesar do tesão notório que estamos sentindo,
Gabriel deseja explorar meu corpo à sua maneira. Massageia minhas
nádegas enquanto penetra minha boca com sua língua habilidosa, fazendo
uma dança harmônica junto à minha.

Acaricia meus seios com uma mão, a outra permanece em minha


bunda, ainda massageando. Ele sabe exatamente onde tocar para me
levar à loucura. Desprendendo nossos lábios, ele inicia uma tortura em
meus seios, sugando e mordiscando. Já não sei se grito ou gemo.

O calor da água estimula ainda mais minhas partes delicadas, até


que Gabriel decide dar atenção à minha vagina, massageando levemente
o clitóris. Contorço-me e ele detém meus movimentos, postergando meu
prazer. Preciso que ele me foda bem gostoso, ou irei gozar sem o pau dele

em mim.
— Oh… Por favor… Pare! Preciso de você… inteiro em mim — peço
quase por um fio. Estou à mercê desse homem.

— Ainda não. Vou te castigar por alguns minutos por ter sido uma
menina malcriada — sussurra, ameaçando parar de me tocar, mas seguro
em sua mão, impedindo-o.

— Nem pense, Senhor Cretino. Se começou o serviço, pode

terminar. — Minha voz sai em tom de ameaça.

— Nunca deixo uma dama desamparada, loirinha. Ainda nem


comecei, você está sensível demais. Gosto assim — conclui, safado,
chupando-me os seios e penetrando os dedos na minha intimidade,
enchendo-me de mais tesão, até que não posso mais suportar.

— Se você parar com essa tortura, vou te agradecer eternamente. —

Notando meu desespero, Gabriel facilita as coisas e me põe de costas


para ele, sentando-me em seu colo. Posso assim sentir toda a grandeza
do seu pau.

— Podemos fazer lentamente ou rápido… Você decide, loira —


provoca, perto do meu ouvido, e entro em delírio.

Fecho os olhos, rebolo e choramingo, sentindo suas mãos em meus

quadris.
— Não me torture… — Mordo os lábios, reprimindo o gemido quando
ele dá uma mordida de leve em meu pescoço.

— Você é incrível, Gisele.

Somos, Gabriel Vilela. Juntos, somos incríveis.

Estamos nos movimentando em uma sintonia perfeita. Nossos


gemidos e toques são tão intensos que tornam esse nosso momento único
e inesquecível. Dou uma última rebolada, e quase que imediatamente
gozamos juntos em um delicioso deleite.

∞∞

Ao acordar, percebo que já é noite. Para minha insatisfação, noto


que estou vestida e sozinha na minha cama. Levanto-me calmante e vejo
um bilhete na cabeceira que diz:

Toda garota merece mais que uma noite de prazer. Nos vemos
em breve.

G.V.

Sim. Ele me deixou com uma promessa, e eu não sei se é bom ou


ruim, mas estou decidida. Irei esquecê-lo antes que me machuque mais do
que agora.
Estou magoada, triste e irritada por ceder tão facilmente ao charme
de Gabriel Vilela. Esse homem não é qualquer um, e sim o melhor com
quem já me deitei. Isso é difícil demais de esquecer. Nunca havia transado
por prazer de verdade, sempre foi profissionalmente e jamais houve tanta
entrega da minha parte. Agora entendo as mocinhas de conto de fadas.
Elas são tão fodidas quanto eu agora.
GABRIEL VILELA

Há exato três meses, Isabel vem infernizando tanto minha vida que
não tive ainda a oportunidade de voltar ao Brasil. Vou aguardar até finalizar
os trâmites do divórcio que ela está protelando a conceder.

Mês passado, tivemos uma discussão na frente da família dela e do


meu pai, que foi o único que conseguiu nos fazer parar de discutir. Não
consegui me calar quando a mulher disse na frente de todos que eu não
prestava e que estou tão ansioso para se livrar dela porque quero correr
para outro país atrás de uma puta de luxo. Revoltado com o tamanho do

desrespeito dela, retruquei suas provocações e falei tudo que sentia.


Deixei os pais dela surpresos quando revelei que a filha deles não era o
que imaginavam, que nunca foi uma boa esposa, que sempre quando
tinha oportunidade saía com amantes e que cada semana levava um
homem diferente para o apartamento que tinha no centro de Lisboa.

Por respeito ao meu pai e aos pais dela, me calei, mas, sendo uma
víbora, ficou me perseguindo a tarde toda. Há três meses, saí da casa em
que morávamos juntos. Apesar de cada um ter seu próprio quarto, eu já
não aguentava mais viver sob o mesmo teto que Isabel. Essa mulher
acaba com meus dias de paz.

Mas esse desentendimento que tivemos foi na casa do meu pai. Ele

fez um almoço e os convidou sem que eu soubesse. Quando cheguei, me


deparei com Isabel na sala, para a minha infelicidade. Pensei em voltar
para o apartamento em que estou morando, porém fui impedido por um
pedido do meu patriarca. Acabei cedendo.

Jamais tive uma relação saudável com ela. Foi tudo à base dos
negócios. Quando o pai dela propôs nosso casamento, aceitei para sair da
lama com minha família, mas hoje vejo que estou pagando muito caro
pelas minhas escolhas.

Não devo mais nada aos Correia, contudo, ainda estou preso a esse
maldito contrato que só acabará daqui a alguns meses. Estou tentando
anular ele antes, porque para mim já deu, está mais do que saturado.
Tenho náuseas só de lembrar que Isabel ainda usa meu sobrenome por aí.
Recostado na cadeira, observo furioso a ruiva que passou pela
minha secretária e invadiu minha sala há alguns minutos, só para encher
meu juízo.

— Meu amor, se está pensando que vou te dar o divórcio tão

facilmente, está enganado! — Sorri, maldosa, passando a mão no cabelo.

— Não sei o que ganha vindo até minha empresa me tirar a paz! Se
você assinar os documentos do divórcio, me ajuda a te ajudar. Assina logo
isso, facilita as coisas pra gente. Está insustentável essa situação. —
Exausto, despejo as palavras.

Fecho os punhos e respiro fundo. Minha esposa gargalha alto e fala:

— Você já teve melhor humor! Ultimamente, nada te agrada. Lá no


restaurante têm umas mulheres lindas, vamos comigo, te deixo pegar uma
dela já que você gosta tanto de profissionais do sexo. — Venenosa, ela
destila.

— Diferente do que você pensa, as meninas do restaurante não são


profissionais do sexo. E, se eu me relacionei com alguém, isso você nunca

vai ter como provar. Isabel, sabemos que nunca nos amamos e ainda não
entendendo o que te fiz para querer infernizar a minha vida! — Torno a
repetir o que sempre falo.
Durante todos esses anos preso a essa mulher, ainda não soube o

motivo de todo seu ódio por mim. Algumas vezes, tentou se aproximar e
quis me seduzir. Já transamos uma ou três vezes, e só de pensar nisso me
arrependo amargamente, mas foi há muitos anos.

— Por que ainda pergunta? Me casei com você sem amor,


praticamente fui obrigada pelo meu pai a me casar com o filho do amigo e
sócio dele porque não sei que porcaria vocês fizeram com o dinheiro que
tinham! Você tem noção das consequências, Gabriel? Tive que me casar
com você sem nem mesmo te amar, fingimos por anos um casamento de

merda. Eu tenho uma vida infeliz! E o que mais me diverte é tirar seus dias
de paz! Se eu não fui feliz todos esses anos, você também não tem direito
de ser — ela desabafa em um só fôlego. — Enquanto cada um saía com
seus amantes e se divertia sem levar a sério, estava tudo bem, mas agora
que você decidiu se apegar, quer brincar de casinha com a sua garota de
luxo. Não pretendo te deixar em paz, somente quando o maldito contrato
acabar.

— Você é louca! — Rio, amargo.

— Louca para te destruir — retruca, impiedosa.

— Saia da minha empresa, agora! — Levanto-me e aponto para a


porta.
— Espero que pense muito em mim, meu bem! — Sorri, jogando os
cabelos para trás.

Inferno! Faltam alguns meses para que esse contrato termine, mas,

daqui até lá, prevejo a insanidade tomando conta de mim.

— Vá para o inferno! — rosno.

— Só se vier comigo! — rebate, dando-me as costas e rindo.

Sinto minha cabeça latejar e solto um xingamento baixo. Respiro


aliviado quando vejo Isabel sair, batendo os pés. Essa mulher não entende
que esse casamento já deu tudo que tinha para dar, não nos suportamos.
Ela só está segurando o divórcio para me punir, típico dela. Mas sou o
único culpado, há tempos eu deveria ter dado um fim nisso. Enrolei demais
minha vida à dela e hoje estou nesse pé de guerra que parece não acabar
mais.

Estou cansado desse caos ao meu redor.

Desde que a deixei, não consigo parar de pensar nela,


principalmente em sua ousadia, seu sorriso, seus lindos olhos, seus
gemidos perto do meu ouvido. Porra, se não fosse pelas loucuras de
Isabel e nem essa prisão que vivo ao lado dela, já estaria de volta ao Brasil
para me encontrar com a linda loira que roubou meu coração.
Já relaxado na cadeira, fecho os olhos e abro um sorriso, pensando
no futuro que pretendo construir ao lado de uma certa loira caso ela aceite
ser minha. Ultimamente, com tanto trabalho para fazer na empresa e
Isabel não facilitando as coisas, o que me traz um pouco de paz é pensar
na bela mulher que está no outro país.
GISELE MORENO

Em frente ao espelho, me observo. Apesar da maquiagem bem-feita,


o cabelo bem escovado e um vestido muito elegante, não me sinto
animada com o evento de hoje. Minha vida está sem graça desde que
Gabriel partiu e levou meu coração com ele.

Estou há três meses sem notícias dele. Cheguei a desabafar com


Grazi há dois meses sobre homem que me fez enxergar o amor de outra
forma, mas acabei em uma discussão com Bruna, que nunca perde uma
oportunidade de me infernizar.

A megera estava ouvindo nossa conversa atrás da porta e, quando


paramos de falar, ela entrou no banheiro e começou a me provocar
dizendo que jamais imaginaria que a “favoritinha” do clube havia se
apaixonado por um cliente que nunca iria acabar um casamento para viver
com uma prostituta.

Nem esperei que se calasse, parti para cima dela, mas fomos
separadas por Grazi e outra colega que estava entrando bem na hora que
avancei para cima da vaca.

Eu sei que Bruna está com razão. Gabriel Vilela não voltará, mas eu
não abaixarei minha cabeça para ela. Mesmo com uma baita vontade de
chorar, permaneci forte e de cabeça erguida. Tinha que retornar a minha

vida de antes, focar em meu trabalho e no mais importante para mim,


minha família. Pensar no futuro dela.

— Você está encantadora como sempre… — Viro-me e me deparo


com Judite encarando-me com um certo brilho nos olhos.

— Sou encantadora, só notou isso agora? — brinco, e todas riem.

— É disso que meus clientes gostam, garotas de boníssimo humor.


Vão divertir os rapazes, minhas preciosas. — Estranhamente, Judite está
de bom humor.

Eu, para variar, estou deslumbrante, em um lindo vestido decote


canoa, vermelho, estilo sereia, simples, porém que marca todas as minhas
curvas. Para completar o look, o colar que Vilela me deu.
Perfeição não existia até hoje, porque estou mais que perfeita. Dou
uma última verificada como de costume e abro a porta. Percebo que o
lugar está muito bem decorado, todo em prata e azul. Coisas da Judite
tentando imitar o mar. Confesso que dessa vez ela caprichou na
decoração.

As mesas são todas de tampo de vidro com pés prata. Há um imenso


lustre de cristais no centro, onde é a pista de dança. Os homens estão
todos de ternos claros, e as meninas de azul ou prata. Sou o destaque da
noite, de vermelho. Não sou igual a ninguém, aliás, sou a bela e única
exceção.

Desço os poucos degraus que tem após a porta e sigo


cumprimentando a todos os clientes, que já são bem conhecidos da casa.
Até que vejo Franco e meu coração erra o compasso das batidas. Minhas

mãos ficam geladas. Sem ação, dou um sorriso nervoso.

Permaneço indiferente, mas por dentro estou uma pilha.

— Milena, você está simplesmente deslumbrante. Na verdade, não


tenho palavras para expressar o quanto você está linda hoje — fala
Franco, muito gentil, como sempre.

Nervosa, esfrego as palmas das mãos e olho para todos os cantos


do local para ver se o vejo. Um pouco constrangida com minha rápida
inspeção, passo a mão pelos meus cabelos e falo:

— Imagina, senhor Franco. Estou vestindo o mais simples que posso


— brinco com ele, e rimos.

— É uma pena o Vilela não ter vindo comigo dessa vez. Ele está tão
envolvido nos particulares dele, há três meses que não temos contato —
conclui o homem, olhando bem em meus olhos, fazendo-me ter certeza de
que eu perdi Gabriel para sempre. Sinto meu coração se partir em

micropedaços.

Cambaleio um pouco para trás e respiro profundamente. Quase me


engasgo com meu pensamento bobo. É claro que ele não viria, que ideia
mais boba. Certamente deve ter se reconciliado com a esposa e nem se
lembra mais de mim.

— Viu aí, querida, o bonitão só brincou com você! Aproveitou toda

aquela beleza e dinheiro dele para brincar com a bonequinha preferida do


clube, a que se sentia incapaz de se apaixonar. Essa paixão sua de final
de semana, vai ficar para próxima vida, bobinha — destila Bruna,
venenosa.

Passo a língua nos lábios e fecho os olhos, rogando aos céus por
paciência, porque em poucos segundos minha colega de trabalho a tirou
de mim.
— Do que vocês estão falando, meninas? — Franco pergunta,
curioso, olhando para a invejosa, depois para mim.

— Você não soube, querido? Nossa bela dama de vermelho se

apaixonou pelo senhor Vilela. O homem disse umas palavrinhas bonitas


para ela na hora do sexo e ela caiu nos encantos dele. Agora está
tomando na cara. Três meses vivendo uma ilusão na esperança de ocupar
o cargo da esposa dele. Tadinha, tão ingênua — continua a víbora,
provocando-me entre risos.

Aponto o indicador no rosto de Bruna e a lanço um olhar furioso.

— Cale-se. Nunca tivemos essa conversa e você não sabe nada


sobre minha vida, sua cobra! — rosno, furiosa.

Meus olhos estão molhados, mas sou forte. Não vou chorar por
causa dessa cadela.

— Milena, isso é verdade? — indaga o homem, confuso e de olhos


arregalados.

Entendo a tamanha surpresa, até eu fiquei quando me vi tendo


maiores sentimentos pelo amigo dele.

— Senhor Franco, não leve a sério nada que a Bruna disser. O


senhor mesmo viu como ela gosta de arrumar confusão. — Tento
desconversar, mas acabo gaguejando.

— Bruna, nos dê licença uns minutos, preciso falar com Milena a sós
— ele pede seriamente, e Bruna sai furiosa. — Querida, pela sua reação
tenho certeza de que tudo é verdade, estou certo? — questiona o homem
à minha frente.

Respondo com um meneio de cabeça. Ele me toma pelo braço e


vamos para pista de dança.

— Lamento que Vilela não tenha tido tempo de vir comigo. Ele com
toda certeza iria gostar de me acompanhar novamente, mas Isabel está
infernizando a vida do homem. A todo lugar que ele vai, ela chega e faz
escândalo — senhor Franco começa, falando mil coisas. — Está por um
triz esse casamento, mas não tem nada a ver com você. Eles sempre
foram uma fachada bonita para garantir status — conclui com um sorriso
de lado.

A cada palavra do senhor que está dançando comigo, meu coração


fica acelerado. Mesmo longe, Gabriel mexe com cada célula do meu
corpo, é inacreditável. Três meses não foram suficientes para eu o tirar da
cabeça.

— Eu sinceramente quero distância de escândalo. Minha vida já é


bem movimentada para carregar mais esse drama — falo, tentando soar
forte, mas minha voz falha.

— Fique tranquila, tudo vai se ajustar e em breve você vai ter mais

tranquilidade. Estou planejando alguns investimentos para essa empresa e


acredito que você será muito beneficiada com isso — finaliza ele, dando
uma piscadela.

— Hum, isso é bom. Preciso de novidade. — Abro um sorriso para


ele, que retribui.

— Em breve você terá, menina. Você é uma pessoa especial. É

diferente, tem visão de prosperidade e futuro. Vai ser uma grande


investidora, basta querer. Agora, vou buscar minha menina Bruna. Ela é
ciumenta. Foi ótima nossa dança. — Despedimo-nos. Ele me dá dois
beijinhos no rosto e sai de encontro à mocreia.

A noite não tem nada de especial até o momento. Alguns clientes


novos no local, mas não pagariam pelo meu serviço. Sou o destaque da
casa, não atendo qualquer um.

Estou prestes a ir embora quando sou surpreendida por mãos


puxando meus braços, fazendo-me voltar ao salão. É ninguém menos que
a senhora Vilela.

O que ela faz aqui? Como me encontrou? Milhares de perguntas


surgem em minha cabeça, e eu gelo quando a mulher fala:
— Piranha! É aqui que você presta assessoria ao meu marido?
Agora entendi perfeitamente a vontade dele de estar sempre vindo ao
Brasil. Tem puta com cara boa atualmente — grita Isabel, sobre o som da
festa.

Mesmo envergonhada, não demonstro meu pavor em vê-la.


Pergunto-me como encontrou esse endereço. Será que foi… Não, ele não

faria isso. Pelo menos eu acho que não.

— Me desculpe, a senhora está equivocada. Venha comigo até a


outra sala, é menos barulhenta. — Tento desconversar, sem sucesso.

Com as mãos trêmulas, fecho os punhos.

— Não ando com prostituta. Você não me dá ordens nem pede nada,
eu que decido se vou ou não! — rosna, seus olhos brilhando de ódio.

— Senhora, por favor. — Aproximo-me dela, que logo recua,


olhando-me com nojo.

— Nenhum homem vale nada. Não sei como meu marido teve
coragem de ter algo com uma mulher que se deita com qualquer um para

ganhar dinheiro — solta com desdém.

Luto internamente para não avançar nessa louca e fazê-la engolir


suas palavras. Contenho-me quando vejo Franco se aproximar de nós,
com o rosto pálido. Ele está tão surpreso quanto eu, mas logo se
recompõe e sorri.

— Isabel, você por aqui? Há quanto tempo não nós vemos — fala
Franco, já ao nosso lado. Disfarço meu alívio.

Com os braços cruzados sobre os peitos, a mulher dá uma


gargalhada amarga e olha para o homem, dizendo:

— Pare de fingir. Sei que você me odeia, não tente fazer o bom
samaritano na frente de pessoas que você nem ao menos conhece,
Franco. Me poupe dessa lástima — a ruiva profere, muito arrogante.

Sem ação, desvio meus olhos para a saída do clube. Estou


pensando na possibilidade de ignorar essa mulher e voltar para minha
casa, de onde eu nem deveria ter saído.

— Queridos, vocês estão com a atenção da festa toda aqui. Vamos


para a outra sala agora, todos vocês — ordena Judite, que surge do nada.

Minha agenciadora me lança um sorriso frio e, quando estou prestes


a contornar a situação, a mulher de Gabriel toma a frente.

— Quem é você para mandar em mim, sua cafetina de quinta? —


Isabel coloca a mão na cintura.
— Quem é a senhora? E quem te deu permissão para entrar em meu
clube? — questiona Judite, com fúria.

— Pensei que nesse bordel também oferecessem garotos de


programa, mas me enganei. Aqui só vendem vadias mesmo. — A mulher
do meu ex-cliente sorri, provocadora.

De relance, olho para Franco, que observa a cena calado.

— Milena, você sabe quem é essa senhora e por que está tão
exaltada? — Judite não deixa barato.

— Ela é… — Sou cortada pela voz irritada da ruiva.

— Sou esposa de Gabriel Vilela. Ele esteve há alguns meses com a


sua putinha em nossa casa — retruca Isabel. Parece estar possuída pelo
coisa ruim porque seus olhos estão faiscando.

— Um lamento por você, amiga, mas minha funcionária não tem


culpa do cafajeste que é seu marido. Não temos culpa que a senhora não

sabe segurar o seu esposo em casa — fala Judite, com um olhar duro à
ruiva.

— Vamos parar por aqui, por favor — peço, muito nervosa.

— Fique quieta, sua rata! Nem se dá valor! — Isabel aponta o dedo


em meu rosto, e eu me enfureço.
Com raiva, pego o dedo da mulher e entorto, fazendo-a soltar um

gemido de dor. Aproximo-me dela e falo:

— Cansei de ouvir a sua voz. Se quer saber, eu estive sim com o seu
marido, mas não o obriguei a me levar para a casa de vocês, ou dele, para
mim tanto faz. Eu só estava fazendo o meu trabalho — falo em um só
fôlego. — Esse é meu trabalho, sim, mas não saia da sua casa lá nos
infernos para vir tirar minha paz. Se pensa que vai me magoar com essas
palavras, está muito enganada. Já ouvi piores! Agora saia desse clube e
não volte mais!

Empurro-a para trás, que cambaleia.

— Você vai se arrepender! Se acha que vou ceder o divórcio para


aquele idiota, está muito enganada! — Solta um soluço e olha para Franco
com raiva, em seguida para Judite e depois para mim.

— Não se rebaixe tanto. É uma mulher muito bonita, mas com a alma
podre, você é vazia, Isabel — falo, olhando bem em seus olhos.

— Você me paga, sua… — Ela não termina de falar, porque em


algum momento minha agenciadora chamou os seguranças, que pegam a
ruiva pelos braços e a arrastam para longe da gente.

Já estou pagando muito caro, Isabel Vilela. Apaixonei-me por um

homem que está aprisionado a um casamento.


GISELE MORENO

Um ano se passou e eu não vi mais Gabriel, nem a esposa dele.


Nunca mais ouvi falar deles, nem mesmo do Franco. No fundo, estou grata
por não ter notícias deles. Enfim encontrei a paz durante esses meses.
Voltei a ser a mulher que eu era antes: focada no meu trabalho e nos meus
objetivos.

Muitas coisas mudaram em minha vida e, apesar de eu não ter


conseguido ficar com o homem que me fez conhecer o amor, considero-
me uma sortuda por tê-lo conhecido.

Durante esses meses, aprendi muitas coisas. Superei-me, sinto-me


muito realizada por ter conseguido chegar até onde cheguei. Batalhei por
anos naquele clube OpenSea, cheguei a ser uma das melhores garotas da
minha agenciadora e, enfim, alcancei meu sonhado lar.

Há cerca de dois meses, consegui comprar uma casa para minha


mãe em Copacabana. Com o dinheiro que eu já tinha guardado na
poupança, que vinha juntando há um tempo, enfim consegui realizar o
sonho da minha família e meu: estar com elas todos os dias ao meu lado.

Após tantas mudanças em nossas vidas, minha mãe já não


acreditava mais em meu trabalho na loja de roupas, principalmente porque
comprei um imóvel, e em um local caríssimo. Sabendo que eu já não
poderia mais mentir para ela, acabei chamando-a para conversar e contei
toda a verdade. Falei para ela quando foi o meu primeiro trabalho na vida

de prostituição e como cheguei no clube. Assim que parei de falar como


foram meus anos sendo acompanhante de luxo da Judite, dona Lainy me
puxou para um abraço e chorou muito. Chegou a se culpar por eu ter
seguido esse caminho, mas me neguei a deixar que se crucificasse por
algo que foi uma escolha minha.

Depois de algumas horas de conversa, expliquei para ela que não


planejava ficar por mais tempo trabalhando com Judite no OpenSea. Foi
um dia e tanto, ficamos por horas conversando, até que nos acertamos e

ela disse que não me julgaria, que não tinha esse direito. Emocionei-me
mais ainda porque minha mãe olhou em meus olhos, chorando, e me disse
que ficaria sempre ao meu lado e entendia por que jamais falei a verdade
para ela sobre o meu trabalho.

Estou com um cliente fixo há cinco meses, Leonardo Alencar, um


grande empresário baiano que trabalha na área do petróleo que se
encantou por mim no último evento que participei no Clube. Nesse
momento, estamos na cobertura que ele comprou para nossos encontros.
Ele vem para o Rio de quinze em quinze dias a negócios. Quando ele me

liga para avisar que já está chegando, já tenho que estar esperando-o.

Leo é um homem bem tranquilo, nos damos muito bem. Estou


sempre recebendo mimos dele: joias, roupas e outros presentes bem
caros; confesso que amo. Mês passado, fui pega de surpresa quando
Leonardo me chamou para sair e, quando descemos para a garagem do
prédio, me deparei com um carro luxuoso e um laço enorme ao redor dele.
Adivinhem para quem era o automóvel? Para mim. Isso mesmo. Fiquei em
choque, mas não recusei o presente.

— Posso saber o motivo desse sorriso, princesa? — Sou tirada dos


meus pensamentos quando Leonardo se aproxima da varanda com duas
taças de champanhe.

— Pode sim, lindo. Estou pensando na semana maravilhosa que


passamos juntos! — Pisco para ele, que sorri.
Leonardo Alencar é um homem muito bonito, nem parece que tem
cinquenta e cinco anos. Tem cabelos curtos e grisalhos, uma barba bem
aparada e o corpo bem conservado. Soube que gosta muito de ir à

academia; segundo ele, é mais por questão de saúde.

— Fico feliz em ser o dono dos seus pensamentos. — Continua


sorrindo ao me entregar a taça.

Quem dera fosse verdade, penso, ao ficar por alguns segundos fixos
meus olhos nos seus castanho-escuros.

— Sei que sim — brinco, sorrindo. — E quando você volta para


Salvador? — pergunto ao terminar de bebericar a bebida.

Leo se senta ao meu lado, e eu cruzo as pernas, encarando-o


curiosa. Estou há cinco dias na cobertura com ele. Ontem, saímos para
jantar em um restaurante muito elegante. Dois amigos dele estavam no
local e Leonardo os convidou para nos acompanhar. A noite foi muito
divertida, mas hoje, mais cedo, ele me disse que teria que voltar para

Bahia por conta de alguns imprevistos.

— Hoje mesmo — fala, parecendo triste.

— Pensei que fosse ficar mais… — Faço uma careta e finjo


indignação. Apesar de ele ser uma boa companhia, preciso voltar para
casa e matar a saudade da minha família.
— Não fique triste, minha linda. Daqui a quinze dias volto e ficaremos
por mais dias juntos, tudo bem? — Ele aproxima seu corpo do meu e beija
meu rosto. Aproveito para acariciar seu rosto.

— Certo. — Aumento meu sorriso quando Leonardo se afasta e


entrelaça nossos dedos.

Apoio minha cabeça em seu ombro e fecho os olhos, aproveitando a


sensação gostosa do vento que bate sobre meu rosto. O celular de
Leonardo começa a tocar no bolso da bermuda dele. Abro meus olhos e
eu encaro, que logo me pede licença e se afasta. Levanto-me e entro; a
varanda fica no quarto.

Sento-me na cama e cruzo as pernas, só um tempo depois que noto

que meu celular está vibrando atrás de mim.

— Quem será? — questiono para mim mesma ao alcançar o


dispositivo e destravar a tela.

Estranho ao ver que Judite está me ligando. O que ela quer comigo?
De relance, olho para a porta aberta para ver se Leonardo está vindo.
Vendo que não, atendo minha agenciadora.

— Bom dia, Judite. Precisa de algo? — Já vou logo perguntando,


porque sei que quando me liga é porque algo quer mim.
Do outro lado, ouço seu suspiro e reviro os olhos.

— Bom dia, minha querida. Como está você? — pergunta, como


sempre falsa.

— Se puder ir para a parte que me interessa, vou agradecer. — Solto


um resmungo.

Semicerro os olhos ao ouvir sua risada forçada.

— De bom humor como sempre.

Respiro fundo e dou mais uma olhada para a porta. Ainda bem que
Leonardo não voltou.

— Do que precisa? Você só me liga quando quer algo. — Deito-me


na cama e apoio minha cabeça no travesseiro.

— Você está certa. Preciso que saia com um cliente amanhã. Ele é
um amigo, é muito especial — fala com a voz melosa.

Judite só pode ser louca. Não posso sair com outro cliente porque já
tenho o meu fixo.

— Arrume outra garota. Você sabe que não posso. — Volto a me


sentar e passo a mão em meus cabelos.
— Por favor, Milena! Você é minha melhor garota, não vai me fazer
passar essa vergonha! Dê o seu valor. Ele disse que paga o valor que
você quiser, mas quer te conhecer. — Judite parece estar tão nervosa, a
voz dela a entrega.

Trabalho é trabalho. Leonardo vai embora hoje e só volta daqui a


quinze dias, mas temos um acordo…

— Diga ao seu amigo que vou ao encontro dele. — Mordo o lábio


inferior, nervosa.

Minha agenciadora solta um gritinho de vitória. Que patético!

— Te adoro, garota!

Aham, sei! Dou risada e falo:

— Como é o nome desse seu amigo? — De repente, Gabriel Vilela


vem em minha mente. Meus olhos enchem de lágrimas e me recrimino por

meu pensamento bobo.

Como é possível ainda ter sentimentos por um homem com quem


não tenho contato há um ano? Devo ser algum tipo de masoquista, só
pode! Judite parece hesitar ao me responder, mas logo fala:

— Você não o conhece, ele nunca esteve no clube. É um homem


muito importante e quer te conhecer, minha querida!
Finjo indiferença e respondo.

— Ok, mais tarde me passe o endereço no WhatsApp — falo e


desligo sem esperar a reposta dela, porque ouço passos aproximando-me.
Em pouco tempo, guardo meu celular.

— Minha bela, infelizmente vou ter que pegar um avião agora mesmo
para voltar a Salvador. Duas pessoas da minha família sofreram um

acidente e estão precisando de mim. — O semblante do homem está


carregando de angústia, nem consegue falar direito, só vai em direção ao
closet e pega a mala, começando a arrumar suas roupas.

Sem ação, aproximo-me dele e o ajudo. Não deixo de notar que as


mãos de Leonardo estão trêmulas.

— Quer conversar? — pergunto, nervosa, e ele nega, engolindo em

seco.

— Preciso voltar… Minha esposa está no hospital… Ela entrou na


sala de cirurgia agora e o meu filho faleceu — gagueja, olhando com os
olhos lacrimejados.

Meu coração fica apertado com a sua confissão.

— Deus… Tudo bem, me deixe te ajudar. — Toco no ombro dele e

tento dar apoio.


— Meu cunhado está aqui no Rio a negócios também. Vamos voltar
juntos. Ele vai passar por aqui, se puder sair para que ele não nos veja
juntos… Ficaria uma situação chata — pede, sem querer olhar em meus
olhos.

Eu o entendo.

— Como quiser, mas tente ficar bem. Meus pêsames, Leo. —


Abraço-o, pegando-o desprevenido. Perder alguém que amamos é muito
doloroso, ainda mais quando essa pessoa é uma parte nossa.

— Obrigado, Milena. Te desejo tudo de bom. — O homem desaba,


chora. Meu coração amolece, também choro, é como se a dor dele
tocasse em mim.

— Que Deus conforte seu coração. Espero que a sua esposa possa
se recuperar. — Beijo o rosto dele e me afasto. Nada é para sempre,
aprendi isso pelas idas e vindas em minha vida.

Sem olhar para trás, saio do quarto, pego minha bolsa na sala e
deixo o local. Mais um trabalho encerrado. Que venha os próximos, ou o
próximo.
GISELE MORENO

Persuadida a atender um cliente que nem sei quem é, passei a tarde


arrumando-me para o homem misterioso. O cliente quer o meu
atendimento apenas e de mais ninguém. Acredito que seja um vip que ela
quer prender ao clube e está usando-me como isca. Sempre foi assim.
Mas tudo bem, sou a melhor que a casa oferece em todos os sentidos.

O cliente, por sinal, é gringo e não conhece nada no Rio. Hospedou-


se no Mirante do Arvão, um dos hotéis com a vista mais incríveis daqui.

Desço do carro e agradeço ao motorista. Na recepção, sou atendida


e informo o primeiro nome do cliente e o número do quarto onde nos
encontraremos. Prontamente, a recepcionista fala:
— O senhor Barcellos está aguardando. Faça boa estadia — a
recepcionista, que é muito bonita e gentil, me avisa.

Hm… Esse é o sobrenome do Senhor Mistério!

— Ok. Obrigada, meu bem! Bom trabalho. — Passo a mão no


cabelo.

Já é noite. Mais cedo, Leonardo me enviou uma mensagem dizendo


que não voltaremos nos ver porque decidiu que se dedicará a esposa.
Disse também que eu mereço muito mais, depois me pediu para não ligar
e nem enviar mensagens para ele. Vai entender esses homens! Tem uns
que só dão valor quando perdem.

Saio no corredor do quarto e bato na porta. Ninguém atende, e abro-


a com as chaves de acesso que recebi na recepção. Na penumbra da
noite, está o homem, na sacada do quarto, desfrutando da bela imagem
que minha cidade tem. E que imagem.

Entro e de repente sinto meu coração ficar apertado. Não sei o


motivo para essa sensação, e logo trato de afastar os pensamentos ruins.

A noite está linda, com uma belíssima lua. Aproximo-me da cama e a


silhueta do homem me faz lembrar de Gabriel. Daria tudo para tê-lo aqui
no lugar desse imbecil, que por sinal nem notou que cheguei, ou está se
fazendo de morto.
— Olá, senhor Barcellos, boa noite! — falo para ter a atenção do
homem, que não escuta campainha e não responde a chamados. — O

senhor está bem? Bati na porta e…

Ele se vira, e eu fico estática. Não sei se estou alucinando ou se é


real.

Por um instante, perco o fôlego. Recuo alguns passos, meus olhos


ardem. Nervosa, sinto minhas pernas ficarem moles igual à geleia.

Estou alucinando, é isso. Só pode! Gabriel saiu da minha vida há um


ano e ele não voltaria…

— Boa noite. Estou muito melhor agora que você chegou — fala,
virando-se para mim, porém, não consigo ver seu rosto. Apesar de a luz da
lua iluminar o quarto, ainda estou confusa com a visão.

Foco, Gisele! Passando a mão no rosto, pigarreio. Meu Deus, a voz


parece a de Gabriel, mas está diferente, ou eu quero que seja ele e nem
consigo distinguir mais nada.

O homem se aproxima, e eu estou congelada. Não consigo sair do


lugar, tampouco responder o elogio feito. Até que ele me toca, e o cheiro, o
calor das mãos, a sensação toda é a mesma que Gabriel me faz sentir.
Levanto um pouco a cabeça e vejo que é ele.
— Céus… — Solto um soluço alto e fecho os olhos.

— Olhe para mim, minha loira. — A voz é intensa. Meu corpo todo
vibra.

Abro os olhos e umedeço os lábios.

Ele está diferente. Agora, usa um cavanhaque, o cabelo mais baixo.


O rosto dele está um pouco abatido, mas permanece lindo, e não consigo
resistir a esse momento. Penduro-me em seu pescoço. Ele sorri e me
retribui com um beijo apaixonado, segurando minhas pernas ao redor de
sua cintura.

Nunca imaginei algo assim. Parece filme. O homem da minha vida


aqui, comigo. Ele é o cliente especial da Judite, como eu não pensei
nisso? Nem teria como, que pensamento é esse o meu.

Sem me importar com o que Gabriel vai pensar, deixo as lágrimas


caírem sobre minhas bochechas quando paramos de nos beijar.

— É você mesmo? — Toco no rosto dele e acaricio.

— Sou eu sim. Por que está chorando? — pergunta, confuso.

Ignoro a sua pergunta. Emocionada, junto nossos rostos e lhe dou


um abraço apertado.
— Por onde esteve? — Desprendo-me de seu corpo, recompondo-

me. Lembro-me que estou brava com ele ainda, por nunca mais ter
aparecido, mas eu o amo e ele nem sabe. Deveria deixar assim mesmo.
Ele vive como quiser, e eu sigo sozinha. Atendo-o quando puder e sonho
para sempre em tê-lo só para mim.

— Temos que conversar — diz assim que me solto dele.

— Acho que sim. Você chegou hoje? — Afasto-me dele e ligo as

luzes. Não quero parecer tão vulnerável ao toque dele.

Com o coração batendo descompassado, tento vencer a batalha que


estou tendo neste momento com meus pensamentos. Uma parte de mim
pede que eu esqueça o orgulho e me jogue nos braços de Gabriel Vilela,
mas outra pede que eu o ignore.

— Sim, cheguei hoje, e a primeira coisa que quis fazer foi encontrar
você. — Ele se aproxima, e eu recuo.

Mordo os lábios e viro meu rosto para a parede pintada. Evito contato
visual com ele.

— O que te trouxe de volta ao Brasil, senhor Vilela? — Finjo


indiferença e cruzo os braços.
— Vim atrás da mulher que eu amo. — Dessa vez, olho para ele, que
acabou de falar com tanta determinação.

— Quem é essa sortuda? — pergunto com os lábios trêmulos.

Provavelmente encontrou alguma mulher que seja ideal para ele, por isso
voltou ao Brasil.

— Ela tem um metro e sessenta e seis de altura, cabelos loiros,


os olhos tão lindos quanto o sorriso perfeito dela, e foi a única mulher que
me fez saber o que é amar de verdade. — Gabriel se aproxima de mim.
Sem ação, fico ereta porque ele acaba de me descrever.

— Você… Você…? — Não consigo terminar de falar.

— Eu te amo, loira. Você é a mulher com quem quero viver todos os


dias. — Ele se ajoelha diante de mim, e eu congelo.

O que é isso? Como esse homem é capaz de sumir um ano e voltar


assim… Destruindo tudo, iludindo meu coração.

— Não entendi… — Tento me afastar do toque dele, mas sou


impedida por suas mãos fortes.

— Você entendeu sim, mas está custando acreditar em meus


sentimentos. — Sorri de lado.

Afs, que convencido!


— Impossível… O que você realmente quer de mim? — Nego-me a
acreditar, mesmo que meu coração esteja saltitando.

— Eu quero você, somente você. Sempre foi você. — Beija minhas


mãos.

Céus, vou desmaiar.

— E por que foi embora e não voltou mais? — Meus olhos voltam a
lacrimejar, mas me nego chorar dessa vez.

— Eu precisava resolver a minha vida, me divorciar da Isabel para


que pudéssemos ter paz. — Engulo em seco ao ver a sinceridade em seus
olhos.

— Gabriel, se levante, por favor. Não tem necessidade de ficar de


joelhos. — Olho bem em seus olhos, e ele assente.

— Preciso que me escute, Gisele. A minha vida foi um caos desde


que retornei a Portugal — diz, já de pé.

Sou surpreendida quando ele me puxa para um abraço e beija meu


pescoço.

— Ainda tem o mesmo cheiro… — murmura, roçando o nariz em


minha pele, e eu me arrepio. — O que custa acreditar que eu te amo? —
fala em meu ouvido.
— Ainda está casado? — pergunto, mesmo com medo da sua
resposta. Quero evitar problemas com a esposa fanática.

— Não mais. Venha, sente-se na cama comigo porque preciso te


contar tudo o que aconteceu. Esses acontecimentos foram o que me
impediram de retornar ao Brasil. — Ele acaricia minhas costas por cima do
tecido do vestido.

Faço o que me pede, e ele me acompanha. Já sentados, Gabriel fica


por um tempo analisando-me. Seus olhos queimam em cima de mim, e
fico sem ação quando ele se aproxima. Estou louca para me jogar em seus
braços e dizer o quanto o quero e o amo, porém, ainda há uma faísca de

orgulho em meu peito.

— Me fale o que tem para dizer. Confesso que estou curiosa. —


Arqueio a sobrancelha e tento dar uma de durona, mas me desmancho
quando Gabriel traz sua mão ao meu rosto e o acaricia com delicadeza.
Seu toque é suave e acolhedor.

— Isabel tentou se suicidar há dois meses, quase morreu. O pai dela

que conseguiu anular meu casamento com a filha dele depois que soube
que a nossa convivência era de fachada e que jamais nos suportamos.
Nunca tivemos futuro… Todos esses anos, vivemos em pé de guerra. Ela
tinha os casos dela, e eu os meus — confessa, olhando bem em meus
olhos, e eu engulo em seco.
Gabriel me conta que o seu casamento nunca foi real, me fala sobre
um contrato entre sua família com a de Isabel, e o que me deixa mais
chocada é que ele me conta que a mulher, mesmo o odiando e não tendo
sentimentos por ele, não quis ceder o divórcio porque não queria que o
marido fosse feliz já que ela não era. Até mesmo antes de tentar se matar,
confessou para ele que era o único culpado de ela não ter conseguido ser
feliz porque jamais o amou e, mesmo vivendo aprisionada a ele, sentia
prazer de infernizar os dias de paz dele. Com certeza Isabel é uma louca
que precisa de cuidados médicos!

— Meu Deus… Que horror! — Meus olhos enchem de lágrimas.

— O pior é que ela tentou se suicidar porque se envolveu com um


rapaz mais jovem e ele tirou fotos intimas dela e começou a fazer
chantagens em troca de dinheiro. Eram valores altos. Nos últimos meses,
ela andou bebendo muito e me evitando, mas sempre que eu tocava no
assunto do divórcio, brigávamos. Até que um dia o amante dela apareceu

em meu apartamento com as fotos dos dois e me mostrou. Talvez ele não
soubesse que meu casamento era falso, pensou que eu me abalaria, mas
mesmo que Isabel não prestasse, cuidei do assunto para ela. Coloquei o
cara no lugar dele, o mandei ir embora e nunca mais a procurar. O maior
motivo de ela ter tentado se matar foi porque eu vi as fotos, consegui
resgatá-las e dar um fim na chantagem. O orgulho dela foi tão grande que
preferiu tentar tirar a vida — Gabriel explica em um só folego.
A forma como ele conta tudo detalhadamente me faz me sentir um
pouco triste por ter o julgado em pensamentos por algumas vezes. Juro

que cheguei a pensar que ele amava a esposa dele.

— Shhiii… O importante é que você está livre dela, e está em paz. —


Jogo-me em seus braços e ele me abraça.

— Sim, eu estou sim, meu amor. Voltei para que possamos nos
resolver. — Ele beija meu rosto, e choro emocionada. — Não precisa
chorar. Eu te trouxe algumas coisas. — Afasto-me dele e lhe lanço um

pequeno sorriso.

— O que é? — Mordo os lábios, meio nervosa.

— Atrás de você — fala, e eu me viro tão depressa que sua risada


sai alta.

— Uau, o que o senhor andou aprontando, senhor Barcellos? —


provoco-o com o nome falso que deu, e ele faz careta.

Olho para algumas embalagens, que eu não vi antes. Estava tão


fixada nele que não as notei.

— São seus, mas preciso que você abra com cuidado a caixa, é o
mais especial de todos os itens — fala, já acariciando meus ombros.

Viro o rosto e faço uma carranca para ele, que sorri para mim.
— Deixarei por último, então! — falo e abro a embalagem número
um, de seis. Tem uma linda lingerie branca, toda de renda com pedraria.
Nunca vi isso aqui, deve ser importada e é maravilhosa. Meus olhos
cintilam, e ele continua explorando meus ombros. Viro-me de frente para
Gabriel, afastando-me de seu toque, e abro as próximas três embalagens.
São roupa de banho, maquiagens e óculos lindos de sol.

Nas duas finais, um lindo tubinho azul Tiffany, com decote canoa e
detalhes nas costas, trançados com pedras. Esse ele acertou em cheio.
Por fim, um par de sandálias maravilhosos em preto envernizado, com
cristais pendurados no tornozelo, formando o fecho da sandália, e duas
tiras finas no peito do pé. É uma obra de arte.

Seus presentes são lindos, eu amei de verdade. Ninguém me


conhece tão bem assim como ele, mas eu já tenho tudo e a única coisa

que quero desse homem é ouvir da saindo da sua boca mais uma vez que
me ama.

Sou tirada dos meus pensamentos quando Gabriel fala:

— São para você usar no nosso jantar que já, já será servido.
Prefere abrir a caixa agora ou após o jantar? — pergunta, tentando
entender o que eu devo estar pensando.

— O que me sugere? — pergunto, sem muito ânimo.


— Acredito que você vá gostar desse último, mais do que gostou

desses outros. Até porque nem sei se você gostou. A julgar pela sua cara
de poucos amigos, nada te agradou muito. Perdi a mão em agradar você
— fala com pesar, e tenho vontade de pular em cima dele e matar a
saudade.

— Ah, eu gostei de tudo, relaxa. Nem sempre a gente faz festa para
presente, né! Hoje não estou muito para isso, me perdoe — minto
descaradamente, batendo os cílios.

Ele assente, em seguida passa a mão no cabelo.

— Acho melhor abrir agora, então. Assim poupa tempo e jantamos


para que você possa voltar pra casa logo. Não quero que você fique por
obrigação comigo. A ideia era fazer você feliz com a minha chegada. Até
achei que tinha feito, mas tudo bem — diz, parecendo envergonhado.

— Pare com isso, Gabriel. Vou abrir a caixa, me ajuda? — pergunto,


e ele meneia a cabeça em sinal de positivo.

Só diga o que eu quero ouvir mais uma vez, meu amor. Só diga que
me ama e eu serei a mulher mais feliz do mundo. Se você demorar muito
para tomar uma atitude, então eu tomarei por você.

Orgulho não leva ninguém a nada, e eu não quero mais ficar distante

de você Gabriel Vilela, penso, já olhando para o objeto em minhas mãos.


A caixa é em camadas. Cada camada tem algo escrito, e não estou
entendendo nada. Olho para Gabriel, e ele faz um sinal para que eu
prossiga.

Minha vida nunca foi fácil. Apanhei demais para chegar até aqui e
conquistar o que tenho hoje. Conheci o Gabriel e jamais imaginei viver
tudo que tivemos em pouco tempo. Nem sei o que fazer direito aqui agora
perto dele. Estou agindo feito idiota por estar brava ainda por algo que
nem tivemos culpa. Eu me envolvi demais, ele também. Queríamos coisas
parecidas, ou talvez a mesma coisa, e infelizmente não deu certo, mas
hoje ele voltou e me fez ver que um ano não foi capaz de mudar meus
sentimentos por ele.

— Deveria parar com esse mistério e me dizer o que é — reclamo,

mas louca para sorrir e me declarar até o dia amanhecer.

— Apenas continue, amor. — Meu coração traidor acelera quando


ouço seu “amor” tão carinhoso.

A caixa começa com a palavra: QUER, e estou sem maturidade para


abrir o restante. Minhas mãos tremem, meu coração está quase saindo
pela boca. A julgar pelos olhos dele, vidrados em mim e na minha reação,

a próxima palavra revela tudo. Estou com medo, muito mesmo.


Abro a segunda parte da caixa, que diz: SER. Olho fixamente para
Gabriel, que me retribui com um sorriso e indica para que eu abra a
próxima etapa. Meus olhos enchem d'água, já quero chorar.

A parte seguinte diz: MINHA PARA SEMPRE, MINHA LOIRA?

Arregalo os olhos e olho para ele, que parece ansioso por minha

reposta.

— Isso é o que eu estou pensando? — pergunto, atônita, quase


gaguejando.

Não obtenho resposta, porque Gabriel se levanta e se ajoelha mais


uma vez à minha frente. Trêmula, viro-me para frente. Ele toca em meus
joelhos.

— Não te peço para que esqueça o que passamos até chegarmos


aqui, Gisele, mas peço que me dê uma chance para ser o homem da sua
vida, o homem que vai te amar todos os dias e todos os anos. Só preciso
de um sim para me sentir realizado — fala, deixando-me sem palavras.

— Eu… você…. Meu Deus. Gabriel, você… Me ama mesmo? — Lá


vem de novo a maldita insegurança.

— Eu amo como nunca amei outra pessoa. Amo você, Gisele


Moreno, e desejo que seja a minha mulher. Posso perder tudo, menos
você. Brigar com o mundo, menos com você. Estou diante da mulher que
me fez mover o céu e a terra para refazer minha vida, e não tenho a menor
pretensão de sair desse quarto sem saber o que ela deseja fazer de hoje
em diante ao meu lado. Caso aceite meu pedido — diz, tão decidido.

Lágrimas enchem os seus olhos.

— Eu não posso… — Começo a falar e espanto transforma o seu


rosto.

— Gis…

Não o deixo terminar, porque jogo tudo para o lado e pulo em cima
dele. Caímos no chão e, entre risos, ficamos por algum tempo trocando
olhares intensos. Até furto a sua boca para um o beijo cheio de amor.

Como diria a música do cantor Luan Santana, “Um beijo fala mais
que mil palavras” e “Um toque é bem mais que poesia”.

— Eu também te amo, Gabriel Vilela, e quero sim ficar ao seu lado.


Desejo que possamos saber lidar com as nossas diferenças juntos, nos
conhecermos melhor… O que mais quero é lutar pelo nosso amor. Te amo
demais para abrir mão desse nosso amor — sussurro, deixando as
lágrimas caírem.
Secando minhas lágrimas com seus beijos por meu rosto, Gabriel
sorri emocionado. Meu coração bate descompassado quando ele sorri
lindamente e fala:

— Faça amor comigo. Quero que se entregue para mim agora como
minha mulher, a mulher da minha vida. — E então, ele me beija,
apaixonado.

Uma corrente elétrica percorre todo meu corpo quando Gabriel passa
os braços ao meu redor e me pega no colo. Ele me coloca na cama com
cuidado, posicionando-se entre minhas pernas.

Meu coração bate mais rapidamente, meu estômago parece ter vida
própria. De repente, minha garganta fica seca quando noto seu olhar de
adoração sobre mim. Viro-me de costas para que ele tenha acesso ao

zíper do meu vestido. Deslizado a peça para fora do meu corpo, Gabriel
não deixa de beijar as minhas costas.

— Vou amar cada parte desse corpo, assim como amo a dona dele.
— Meu corpo fica em chamas com apenas poucas palavras.

Fecho os olhos e solto um gemido baixo. Estou cheia de tesão e


cheia de amor para dar. Nada nesse momento é tão importante quanto o

nosso agora.

Então, nos entregamos de corpo e alma.


GABRIEL VILELA

CINCO ANOS DEPOIS

— Esse filme é muito bom, é muito lindo e também… Triste — minha


loira exclama com os olhos cheios de lágrimas.

Emocionada, Gisele chora quando terminamos de ver o filme Um


amor para recordar, que ela me convenceu a assistir.

— É sim, amor. — Beijo a testa dela e acabo sorrindo da forma como


parece afetada com o final do filme.

— É uma pena que nem sempre as pessoas possam ter um final


feliz. — Funga, e eu balanço a cabeça concordando.
Realmente, nem todos têm o privilégio de ter um final feliz em uma

história. Sinto-me grato por ter alcançando meus objetivos; um deles foi a
mulher que está nos braços, que há cinco anos é minha mulher, a futura
mãe dos meus filhos, meu maior tesouro.

Gisele e eu vivemos em uma casa localizada em Búzios, e a família


dela continua morando em Copacabana. Depois de anos, segundo minha
loira, minha sogra se permitiu abrir o coração para amar novamente. Dona
Lainy está em um relacionamento há nove meses. Pelo pouco que vi, ela
parece estar muito feliz. E a Rebeca é uma mocinha, apoia e está muito
feliz com o namoro da mãe, o que é bom, porque minha sogra ficou dois

meses escondendo o relacionamento com medo da filha mais nova não


aprovar, porém, ficou surpresa com as palavras da caçula, dizendo que o
que mais desejava era ver a mãe sorrindo e amando alguém que também
a amasse.

— Infelizmente, é a vida, querida. — Deslizo os dedos na pele macia


do seu braço.

— Já estou com sono, vamos dormir? — Ela boceja e fecha os olhos.

— Pode ir na frente, tenho que verificar alguns e-mails no notebook


— falo, ouvindo um resmungo vindo dela.
Saindo dos meus braços, minha mulher se levanta emburrada e
cruza os braços sobre o peito, fazendo-me lembrar o quanto fica linda e
sexy quando está brava. Nós nos vemos poucas vezes ao dia, entendendo
o seu descontentamento. Ela sai para trabalhar uma hora depois que eu
na loja de tecidos que abriu com a mãe há uns quatro anos com o dinheiro
que juntou dos anos de trabalho no clube, e só conseguimos estar juntos à

noite ou nos finais de semanas, quando viajamos para a nossa casa de


praia em Arraial do Cabo.

— Ah, não, eu não acredito! Vai mesmo uma hora dessa trabalhar?
Não, senhor! Me nego dormir sem meu marido ao meu lado para me
esquentar nessa noite fria — diz, com a sobrancelha arqueada, olhando-
me como se estivesse me desafiando.

Gisele Moreno é meu maior orgulho. É uma mulher independente,


muito forte e que está sempre correndo atrás dos seus objetivos, não
abaixa a cabeça para ninguém. Quando quer algo, consegue. Sua força
me deixa ainda mais apaixonado. Sou louco pela pessoa que ela é e se
tornou, minha maior confidente.

Não nos casamos ainda, por enquanto só moramos juntos e


continuamos nos amando intensamente. Apesar que, há cerca de três
anos, me ajoelhei na frente de todos em um restaurante em Madri e a pedi
para que aceitasse ser minha esposa. Fiquei deslumbrado quando minha
loira disse sim e me beijou com tanto amor.

Não sou capaz de pressioná-la a se casar comigo só porque quero


oficializar a nossa união diante dos nossos amigos e familiares. O que
importa para mim é saber que eu a tenho ao meu lado e que estarei
disponível para ser o marido dela no papel quando assim for o seu desejo.
O que for suficiente para ela, também será para mim.

— Esse seu drama me encanta, meu bem. — Levanto-me e a


abraço, que finge chateação, mas logo sorri quando beijo seus lábios.

— Quem disse que estou fazendo drama? Se não me acompanhar,

vai dar de cara com a porta, senhor Vilela! — fala, provocadora, e dou
risada.

— Amanhã meu pai vem nos visitar. Imagine só se ele souber que a
nora predileta dele está deixando o filho dele dormir no sofá? — retruco, e

ela ri.

Meu pai continua morando em Portugal, apesar de eu ter o


convidado muitas vezes para vir morar no Brasil. Segundo ele, sua vida é

lá e não aqui, e respeitei a sua decisão, mas não o abandonei. Duas vezes
no mês, Gisele e eu vamos para lá ficar com ele, e quando não vamos, ele

vem a nós, vice e versa. A distância nunca foi um problema para nós.
— Há, você se acha o esperto! Meu sogro vai me apoiar. Quem já se

viu trazer trabalho para casa? Já não basta trabalhar o dia todo? Você
precisa de um descanso, amor. — Ela faz beicinho. — E eu preciso de

você também. Deveríamos aproveitar essa noite fria… — Gisele toca em


meu rosto e sorri, travessa.

— Acho que posso deixar os e-mails para amanhã, não é? — Mudo


de ideia rapidinho quando noto o brilho em seus olhos.

— Aham, assim você não fica de castigo no sofá e ainda vai dormir

no quente com a sua mulher — fala, já com as mãos dentro da minha


camisa.

— Como sempre jogando sujo — provoco, recebendo um tapa dela.

— Que abusado! — Ela ameaça se afastar, mas eu a impeço,


segurando-a firme pela cintura.

— Agora vai ter me aturar, loirinha. — Roubo um beijo dela. Beijo seu
pescoço e sorrio contra sua pele.

— Até ficarmos velhinhos? — questiona, cheia de manha. Eu adoro.

— Aham, até os nossos últimos dias — concordo, raspando o nariz

na pele cheirosa dela.


— Eu amo você, Gabriel… Você é a melhor coisa que me aconteceu.

— Olho em seus olhos, e ela sorri como se tivesse acabado de ganhar um


presente.

— Acho que essas palavras são minhas, senhorita. Eu também te

amo, nunca vou me cansar de dizer aos quatro ventos que sou louco por
você, minha loira. — Entrelaço nossos dedos e colo nossas testas.

Nunca deixo de dizer todos os dias o quanto a amo. Gosto de fazê-la


se sentir especial, amada e acolhida. A cada dia que passa, tenho certeza

de que me apaixono ainda mais pela mulher à minha frente.

Amar e ser amado é a melhor sensação do mundo.


Jessica Santos, dezenove anos, baiana. Ama livros de romances, é

uma leitora assídua. Ama animais, principalmente cães. Aos quinze anos,

escreveu seu primeiro livro de romance. Logo em seguida, surgiu a ideia


da série dos irmãos KNIGHT, e outros projetos; depois disso não quis mais

largar a escrita.

Minha página no facebook:

https://www.facebook.com/JessicaSantosAutor/

Link do meu grupo privado para falar sobre meus projetos futuros:

https://www.facebook.com/groups/278565765949848/?ref=bookmarks

Meu e-mail - autorajessicasantos@gmail.com

Instagram: jessica_autora
Quer saber mais sobre os próximos lançamentos? Acesse o site:

https://www.wattpad.com/user/AutoraJessicaSantos
NOS BRAÇOS DO CEO

329 páginas

Link: https://amzn.to/2Vyc8MM

Sinopse:

Para Raul, reputação e prestígio sempre estiveram no topo da lista

para qualquer mulher que estivesse disposta a ocupar um lugar de


destaque na família Montenegro, e Ananda, filha adotiva do seu irmão não

se incluía na longa lista de pretendentes a esposa de seu filho, Douglas.


Mas, como o amor gosta de uma confusão, foi justamente pela prima

"postiça" que o coração do jovem empresário caiu de quatro, deixando o


patriarca furioso e determinado a usar todas as armas que tivesse a sua
disposição para acabar com o romance que poderia jogar o nome da sua

família no lixo, caso seu filho insistisse no romance.

Uma chantagem.
Um segredo.

E enfim, o término.

Depois de todos os sonhos que Douglas planejou realizar ao lado de


Ananda, tudo que sobrou foi a mágoa, a decepção e claro, um vazio

profundo deixado pela mulher que prometeu lhe entregar seu coração.

Alguns anos se passaram, mas o amor de Douglas e Ananda


continua tão forte quanto o preconceito que os separa. Nessa batalha

desleal, quem levará a melhor?

Nos Braços do CEO, promete levar o leitor a um passeio


emocionante onde as mentiras, as traições, a inveja e o preconceito serão

apenas os convidados especiais, pois o protagonismo fica garantido


exclusivamente ao Amor.

(+18)

∞∞
KILLZ – HERDEIROS DA MÁFIA – LIVRO 1

297 páginas
Link: https://amzn.to/2Yk1vP8

Sinopse:

Tudo que um verdadeiro herdeiro da máfia precisa ter, Killz James


Knight tem.

O mais velho de cinco irmãos, Killz é o chefe da máfia londrina, mas


seu maior interesse pelo cargo mais importante nos negócios ilícitos da

sua família não é o poder, e sim um avassalador desejo de vingança.

Um lobo em pele de cordeiro. É assim que as pessoas que o

conhecem o definem.

Superficialmente calmo e apreciador da prática da boa vizinha.


Intimamente. um verdadeiro monstro autoritário, possessivo e sedento por

violência.
Para o azar do rival acusado de matar seus pais e alvo do novo líder
dos Knight, pois Killz tem um plano arquitetado para destruir o temido

mafioso e pretende usar sua filha, a doce e inocente Aubrey, para


conseguir o que quer. Custe o que custar.

De um lado, um homem em busca de vingança. Do outro, uma

mulher alheia às maldades que cercam sua vida. Entre eles, um


sentimento desconhecido para ambos que pode mudar completamente o

rumo dessa história.

Em um perigoso jogo de sedução, mentiras e sexo, a máfia inglesa

nunca foi tão excitante.

(+18) Contém cenas de sexo explícito.


Este livro contém palavreados de baixo calão e cenas de violência.

2 EDIÇÃO

∞∞

Conheça outras obras minhas por aqui também:

https://www.amazon.com.br/Jessica-D-
Santos/e/B08B7NGSM1/ref=dp_byline_cont_ebooks_1
CONHECAM KILLZ – HERDEIROS DA MÁFIA –
LIVRO 1
PRÓLOGO

KILLZ JAMES KNIGHT

Muitas vezes, minhas ações me levam para os melhores lugares.

Como agora, nesse posto importante, o cargo na máfia londrina que


sempre foi meu por direito, assim decretado por Kurtz James Knight, o

primeiro chefe de uma das maiores organizações criminosas de Londres.


Desde a minha infância, venho me preparando quando chegasse minha

vez, nada passasse despercebido pelos meus olhos. Os anos e as


circunstâncias da vida me fizeram acreditar que tudo tem seu tempo, e o

meu chegou, posso sentir.

— Tem certeza disso? — insiste Alec, montando algumas armas


enquanto conversamos.

— Alguma vez já planejei algo sem ter certeza?

— Você quem sabe. Só acho que não deve…

Interrompo-o.

— Quem deve achar aqui sou eu, Alec. Não pense que por ser meu
amigo tem o direito de interferir nas minhas decisões.
— Como você quer abrir uma vaga de emprego para alguém que não

é do nosso mundo? — ele questiona.

— Pelo simples fato de que precisamos ter alguém que não seja

desse mundo para mantermos a nossa fachada. — Dou um sorriso


malicioso ao encarar o dossiê em cima da minha mesa. Estou feliz. —

Faça o que mando, Alec.

— A vaga de emprego já foi anunciada. Em breve, teremos que fazer

uma limpa no prédio para as entrevistas.

— O que me resta é esperar que alguma candidata que seja capaz

de me convencer que tem capacidade para ficar no cargo — argumento.


— Enquanto isso não acontece, preciso que você e seus homens eliminem

alguém que anda infringindo minhas regras.

Eu sou a lei e a morte.


CAPÍTULO 1

AUBREY RUSSELL

Quando o avião pousa no aeroporto de Heathrow, meu coração


estremece de tanta ansiedade. Tudo bem, talvez minhas ações tenham

sido meio precipitadas, mas é bom saber que finalmente poderei desfrutar
por mais de dois dias desse lugar maravilhoso. Saio do aeroporto cheia de

malas, andando calmamente até a saída. Logo após, faço sinal para um
taxista, que prontamente guarda minha bagagem no porta-malas.

Atencioso, o senhor abre a porta para que eu me acomode no banco

traseiro.

— Para onde, senhora? — pergunta.

— Desculpe, senhor. Aqui está o endereço. — Entrego um pequeno

papel indicando o Hotel Café Royal, que fica na rua Quadrante Arcade. —
Quanto tempo iremos levar para chegar ao hotel?

— Não será uma viagem muito longa, em no máximo trinta minutos

estaremos lá. A senhora é habituada a vir para cá? — pergunta, sem tirar

os olhos da rua.

— Só estive em Londres três vezes, coisa rápida.

— Dizem que esse hotel é o melhor da cidade.


— Nunca ouvi falar, mas acredito que seja.

Ele pode ser o melhor, mas minha mãe tem razão, nenhum lugar se

compara ao nosso lar. Deixei Chicago não tem nem vinte quatro horas, e a
saudade já toma conta de mim, principalmente porque minha mãe,

Celeste, e minha prima, Alessa, ficaram lá. Soube ontem que Lessa em
breve começará o estágio em algum hospital como enfermeira. Fiquei feliz

por ela, que é como uma irmã para mim. Desde crianças, nós nos

acostumamos a viver juntas e, com o passar dos anos, nos tornamos


melhores amigas e confidentes.

— Chegamos. — Espanto-me por não ter visto o tempo passar

quando o homem alerta sobre meu ponto de parada.

— Obrigada. Quanto deu a corrida? — pergunto, sorrindo por

lembrar que meu pai avisou que, pela primeira vez, eu poderia passar um
ano em Londres.

Muitas vezes, meu pai me trata como se eu ainda fosse criança. Sua
proteção é sufocante demais. Tenho minhas desconfianças sobre a

possibilidade de Conan ser um espião do governo, porque essas viagens


repentinas estão me cansando. Só esse ano, já estive em três países

diferentes. Fico até amedrontada com a ideia de dele ser um espião do


governo inimigo. Temo que algo de ruim possa acontecer com minha mãe

e minha prima, já que elas ficam mais em casa.


— Cinquenta libras — informa o homem, destravando a porta do
carro.

— Aqui está. — Tiro o dinheiro de uma carteira que costumo carregar

no bolso da calça.

— Vou pegar suas malas. — Ele pega as notas e enfia dentro do


bolso. Devolvendo minhas três malas, o taxista acena para mim antes de

voltar ao carro.

— Obrigada! — agradeço, virando-me para apreciar o belo hotel

cinco estrelas. Na frente do local, olho para os dois lados antes de

atravessar a rua. Não sei bem a razão, mas, nesse momento, algumas
lembranças que envolvem minha família surgem em minha mente.

Já trabalhei em uma importante empresa de cosméticos em Tóquio,

mas tive que me demitir às pressas após receber uma chamada de


emergência de Conan Russell, obrigando-me a fazer mais uma viagem.

Quando protestei e disse que não queria mais ficar longe da minha família,
ele gritou comigo pela primeira vez. Em seguida, só olhou em meus olhos

pela tela do celular e disse que tudo era para meu bem-estar. Até pediu
para que eu não o odiasse.

Assim que entro no hotel, noto que fico hospedada em um quarto

bom. É claro que dona Celeste tem sua parcela de culpa. Com pouco
tempo, posso admirar todos os cômodos. Incrível como o ser humano

conseguia criar grandes obras de artes.


Devo arrumar um emprego rapidamente, não quero continuar

recebendo dinheiro do meu pai para sempre, pois já sou uma mulher
adulta e fica até feio para mim.

Aproveito o bom tempo para sair. Vou até à recepção do hotel pedir
algumas informações, e a recepcionista, muito educada, garante que, se

procurar com calma, conseguirei um trabalho provisório.

Decido andar um pouco pelas ruas, quem sabe eu seja sortuda e

consiga pelo menos uma vaga ou entrevista? Atravesso a rua e caminho


com cuidado, buscando memorizar alguns pontos de referência que recebi.

A cidade é movimentada, mas não tanto quanto Nova Iorque e Tóquio.

Enfio as mãos dentro do bolso da calça e me misturo às pessoas que

caminham tranquilamente pelo Portobello Market, uma das feiras de rua

mais famosas do mundo. Agora entendo o motivo da reverência.


Realmente, o local é bem movimentado e cheio de variedades que

deixariam qualquer pessoa fascinada. Abro um sorriso quando enxergo


quatro pessoas ao redor de uma mesa composta por diversos tipos de

queijos.

— Senhorita, venha provar um pedaço de queijo! — Uma mulher


loira me chama. Por eu ter olhado demais, acabo sendo convidada a

provar o laticínio.

— É… Não, estou bem aqui! Tenho outras coisas para ver, obrigada!
Espero que tenham boas vendas! — falo, envergonhada ao receber
olhares em minha direção. — Deixe para a próxima! — Não haverá uma

próxima.

Nem tudo que é oferecido de graça deve ser levado como uma boa
ação.

— Bem-vinda a Londres! — O outro vendedor que estava com a loira

se manifesta.

O cansaço me toma, minhas pernas doem de tanto que caminhei.

Andei por horas nas ruas londrinas, acabei perdida e não sei como

vim parar na entrada de uma rua fechada, sem movimento algum. Onde eu

estava com a cabeça que vim parar nesse lugar?, pergunto-me, vendo
umas latas de lixos enferrujadas espalhadas no chão.

— Acabe logo com isso!

Meu coração dói quando ouço a voz autoritária vinda de um beco.


Começo a tremer sem parar. Meus movimentos são traiçoeiros, porque me

levam automaticamente até a voz desconhecida. É errado e perigoso, sei

disso, mas o desejo de saber o que está acontecendo é maior que o bom
senso.
Na ponta dos pés, sigo em direção ao beco. Observo a cena e
acredito que talvez eu esteja com problemas de visão. Meu senhor!

Congelo com a brutalidade.

Um homem se contorce no chão, chorando.

Outros dois homens apontam suas armas para outro indivíduo, que
também chora e murmura algumas palavras que não consigo entender.

— Por favor, não me matem… — Engulo penosamente a dor que


peleja me perseguir. Sinto-me quebrada, não sou capaz de reagir. O ser

humano, às vezes, consegue ser tão desumano, a ponto de tirar a vida do


outro. O mundo é um lugar bastante horrível. — Por favor, me perdoe!

Prometo que isso não vai se repetir.

— Quem pode te perdoar é Deus, e eu não sou ele — responde o

cara de jaqueta preta, com tatuagens espalhadas pelo pescoço. — Seu


tempo acabou, Dave. Te encontro no inferno. — Inúmeros disparos são

dados e calam a vítima que implorava para viver. Meu estômago embrulha
violentamente. Estou tão espantada com o que acabei de ver. Oh, céus.

— O que foi que eu fiz? — exclamo, esquecendo-me das


companhias indesejadas.

— Parece que temos plateia. — Fico nervosa com o comentário do


desconhecido, que ainda está de costas. Ele não vira na minha direção,

mas só preciso da sua declaração para que eu tome coragem para correr.
— Ligue para Jeffey e peça para ele encostar o carro na entrada do beco.
Coloque o corpo no porta-malas e depois jogue naquele mesmo lugar em

que descartamos o lixo. Vou atrás da mulher.

Sem pensar duas vezes, corro em busca de uma saída. Sigo

tropeçando e caindo, mas consigo me afastar dos malfeitores. Meus lábios


tremem quando ouço tiros sendo disparados contra mim. Acredito que seja

sorte, ou Deus, porque consigo fugir dali, com muita dificuldade, viva e
intacta.

Decido que irei à delegacia, isso não deve ficar impune.

— O que eu faço…? — Entrando em outro beco, coberto por telhas e

algumas tábuas nos cantos das paredes esburacadas, encolho-me na


parede quando escuto os passos próximos. Fecho os olhos, implorando

mentalmente que esses homens não me enxerguem e não tirem minha


vida.

— O Jeffey está nos esperando na esquina, ele trouxe reforço. —

Ouço ao longe.

É uma facção?, indago-me mentalmente. Esse crime não foi apenas


um acerto de contas.

— Vim te ajudar, ela sumiu?

— Não tem como ter sumido assim tão fácil. Ela é uma testemunha,
caralho! Deve ter se enfiado em algum buraco por aqui. — A voz estridente

do tatuado faz meu corpo se arrepiar. Claro que estou amedrontada.


— E como você sabe que era uma mulher? Nem olhamos para trás.

— Rapidamente, levo as mãos a boca, para evitar que algum som saia.

— Sou ex-soldado, Pietro, por isso tenho um bom reflexo.

Pietro, nome bonito para um assassino.

— O chefe não vai gostar de saber que deixamos…

— Vamos embora, eu me resolvo com ele.

Fico na ponta do pé e prendo a respiração.

Acalme-se, Aubrey.

— Então vamos.

— Estamos indo, mas isso não quer dizer que vamos deixar esse
assunto para trás. Depois voltamos aqui, podemos conseguir mais

informações.

Soluço baixinho ao me agachar no chão molhado. Obrigada, Senhor.


CAPÍTULO 2

KILLZ JAMES KNIGHT

Dave me traiu. O desgraçado repassou informações sigilosas para os

seguidores dos nossos inimigos. Ele era um dos soldados que sempre
trabalhou corretamente, até que, em um insensato momento, falhou em

sua promessa de fidelidade. Essa falha foi o suficiente para que eu

determinasse sua execução.

Sentado em minha cadeira, passo a mão em minha barba por fazer,


esperando que algum dos dois homens se manifeste, já que, desde que

chegaram, não se pronunciaram. Observo-os à minha frente, mas parece


que a porra do gato comeu suas línguas. Assim que Alec adentrou meu

escritório, já foi se sentando no sofá, enquanto Pietro, um dos nossos


soldados, está de pé com a cabeça baixa. Pelo pouco que o conheço, sei

que alguma merda foi feita.

Furioso com o silêncio deles, pergunto mais uma vez:

— E Dave? Não vou perguntar de novo. — Meu tom sai em ameaça.


Encaro Pietro, e ele nem consegue olhar em meus olhos. Continua calado

e quase encolhido, como uma garotinha com medo do escuro.


— Morto — informa Alec, que começa a girar despreocupadamente
os anéis de prata e ouro em seus dedos. — Acabei com quase todas a

minhas balas nele.

— Excelente. Onde jogaram o corpo? — pergunto, já impaciente com


o rodeio que estão fazendo.

Meu amigo nem me olha direito, e meu instinto não costuma falhar.

Desconfiado, olho para a bota dos dois e vejo que já não usam as mesmas
que estavam usando quando foram à caça, nem mesmo as roupas são as

mesmas.

— As mocinhas foram tomar banho antes de vir me ver? Passaram


perfume também? Eu quero repostas, caralho! Por acaso engoliram um

pau e por isso não estão conseguindo conversar comigo direito? —


questiono com um tom gélido. Passeio meus olhos pela regata preta que

deixa todas as tatuagens coloridas de Alec à mostra e pela calça que


agora não é mais rasgada. Tudo indica que houve uma mudança de roupa

e só quero saber por quê.

— Só tem um problema, chefe — diz Pietro. Ele fala tão baixo que
quase não consigo ouvir. — Alguém nos viu eliminando o Dave.

— Juro que não ouvi direito. Repita o que você falou — ordeno, já de

punhos fechados.

É inadmissível o que acabo de ouvir.


— Alguém nos viu matando Dave Woody, senhor. — Pietro levanta o

rosto e me olha. Quando vê que lhe dou um olhar mortal, engole em seco
e dá alguns passos para trás. É bom que tenha medo mesmo.

— Vocês querem foder o meu negócio? Isso é uma brincadeira? —


Levanto-me e espalmo as mãos na mesa.

— Não, Killz — interfere Alec, já me encarando. — Uma mulher nos


viu matando o Dave.

— E me falam assim, com tanta tranquilidade? É isso mesmo? —


Saio do meu lugar e sigo em passos lentos até o soldado, que continua de

pé, amedrontado.

Sem conter meu ódio, pego no pescoço de Pietro e aperto com força
para que sinta a minha fúria, para que saiba que não estou de brincadeira.

Em seguida, olho para o segundo chefe dele, que observa a cena sem se

manifestar. Acho bom, porque quem manda nessa porra sou eu.

— Quero saber quem foi que viu vocês executando Dave! Como

você, sendo o chefe dos soldados, deixou essa porra acontecer? Me


responda, Alec! — exijo, ainda com os olhos em cima dele.

— Não deu para ver direito o rosto dela — ressalta Pietro com

dificuldade, e eu volto minha atenção para ele. Seus olhos já estão


avermelhados e lacrimejados. Coitadinho, parece um animalzinho

assombrado. Gosto de ver a dor nos olhos daqueles que me subestimam.


— Nesse momento, eu poderia enfiar uma bala no meio dessa tua

cara, moleque, mas não quero ter que sujar meu terno novo. Dessa vez,

não vai haver punição, mas se cometer outro erro como esse não terei
piedade. Agora, saia. Quero conversar com Alec. — Antes de soltá-lo, dou

um tapa no seu rosto. Empurro-o para longe, e ele começa a tossir


enquanto passa a mão em volta do pescoço.

Em poucos segundos, Pietro obedece prontamente. Quando estou


sozinho com Alec, falo:

— Como pôde fazer uma merda dessas? E se essa mulher estiver,

nesse momento, em alguma delegacia, denunciando o que viu? — Volto a

me sentar.

Alec me conta desde o início: que foram atrás da mulher, que ela

entrou em um dos becos e que ficaram um bom tempo procurando-a, mas


que sumiu do mapa sem deixar rastros.

— Fugiu do meu controle, mas tenho certeza de que não chegará a

esse ponto — discursa Alec, passando a mão em seus cabelos. Ele


parece estar nervoso.

— E que necessidade tinha de trocar as roupas e botas? Queriam

me enrolar, era isso? Iam mentir para mim na cara dura? Porque,
sinceramente, Alec, não suporto pessoas que tentam me fazer de idiota.

— Nunca passou pela minha cabeça te enganar, meu amigo. Nossas

botas estavam cheias de lama e nossas roupas estavam suadas e sujas.


Como viríamos para empresa da forma como estávamos? Queria que
viéssemos sujos de sangue também?

— Para sua sorte, vou engolir essa história. Faz um ano que a polícia
parou de desconfiar do nosso negócio e agora vocês me vêm com essa?

— Furioso, esmurro a madeira da minha mesa.

— Nós temos conhecidos infiltrados na polícia, se a testemunha nos

delatar.

— Esse trabalho deveria ter saído perfeito. É inadmissível que meus

homens cometam um erro primário como esse. — Aponto o dedo para ele.
Estou puto da vida!

— Quando eu sair daqui, vou procurar mais informações — promete,

sem conseguir manter nosso contato visual. Ele está envergonhado pela

falha que cometeu, isso nunca tinha acontecido.

— Não. Ordene aos seus soldados que encontrem elementos que

possamos usar quando acharmos a mulher. Ficar aqui sentado não irá
resolver nossos problemas. Antes do sol nascer, quero notícias dessa

suposta testemunha.

— Vou mandar uma mensagem para Pietro — fala e tira o celular do

bolso. Começa a digitar algumas coisas e minutos depois guarda o


telefone, encarando-me.
— Resolva isso logo. Não aceito mais falhas — ordeno, e ele

assente, passando a mão na barba.

— Sei disso. Acabei de mandar outros homens até o local onde

executamos o traidor.

— Menos mal. — Respiro profundamente.

— Me diga, meu amigo. Ainda continua caçando o Russell?

Irrito-me com a menção ao desgraçado que matou meus pais, que


ainda continua vivo. Se depender de mim, será por pouco tempo.

— Nunca parei de caçar o maldito. Até encontrei algumas


informações valiosas sobre Conan Russell. — Um sorriso arrogante

desenha meus lábios.

— Você continua obcecado por esse velho — verbaliza Alec, fazendo

careta por essa minha obstinação em acabar com o chefe da máfia de


Chicago.

— Sempre consigo o que quero, Alec.

— Para com isso, temos coisas mais importantes para fazer. —


Ignoro seu comentário, vendo-o digitar algumas letras na caixa de

mensagens do celular.

Por alguns minutos, ficamos em silêncio, até que duas batidas na


porta me deixam em alerta. Ajeito minha postura na cadeira:

— Pode entrar.
— Tem documentos para você, preciso da sua assinatura — avisa

Ezra assim que entra na sala.

— Estou ocupado. — Olho para Alec, e meu irmão segue meu

movimento, mas ignora o que falo, sentando-se no sofá marrom de couro e

colocando os papéis sobre a mesa de centro.

— Problemas no paraíso? — pergunta Ezra, desabotoando


despreocupadamente seu terno bem alinhado.

— Nada importante, mas me mostre logo o que tem em mãos —


Peço, fazendo um sinal com a mão, chamando-o com os dedos.

— Estou de saída. Vou me reunir com meus homens, e iremos caça


— avisa Alec, levantando-se.

— Me mantenha informado — ordeno.

— Avisarei assim que tiver notícias — concorda meu amigo,


deixando-me a sós com meu irmão.

— Encontrei algo que será do seu agrado — revela Ezra.

Levanto-me e atravesso a sala, pegando uma bebida no armário de

madeira.

— Quer? — ofereço, levantando a garrafa.

— Com certeza. O que houve hoje? Algum problema?


— O que Spencer aprontou desta vez? — desconverso. Não quero
contar a ele o que acabou de acontecer, e Spencer vem dando muitos

problemas ultimamente. Estou preocupado com o rumo que essa história


está seguindo, porém, mostrar qualquer sentimento seria um erro. O mais

seguro é seguir em frente e deixar que Alec resolva as demais questões,


enquanto trabalho nos negócios mais importantes.

Entrego-o o copo de bebida e me sento novamente na cadeira.

— Spencer vem dando trabalho, usando drogas, arrumando brigas,

participando de corridas sem nossa permissão, dando festinhas


particulares que sempre acabam em merda. Ontem, um dos nossos

soldados esmurrou seu rostinho bonito porque o pegou transando com sua
namorada — confessa. — Acabei metendo uma bala no meio da testa do

Josh por conta da irresponsabilidade de Spencer. Já estou cansado de ir


buscar aquele moleque em abismos — comenta, pegando o copo de

uísque na minha mão.

— Spencer não é nenhuma criança, Ezra — lembro-o.

Ele suspira, balançando a cabeça.

— Vou deixar os documentos aqui para você assinar. Terei que ir a

Tóquio; o Carter tem uma corrida mês que vem, e estamos querendo
aproveitar a brecha para fazer as entregas das armas e peças de carros.

Conduzimos a nossa empresa de fachada através de vários

negócios, um deles, que é de grande importância dentro da máfia, são as


corridas de carros que promovemos com nossos próprios pilotos para o
contrabando de armas e peças. Também tem o cassino do Ezra, que nos

permite fazer as lavagens de dinheiro.

— Se preparar antes é melhor. Falando nisso, amanhã temos uma


carga valiosa vindo da Venezuela. Consegui fechar um acordo com o

Markus — falo.

Markus Zabik é o cara mais sujo de toda a Venezuela. Faz


contrabando à luz do dia sem se importar com ninguém.

— Aos poucos, conquistaremos mais que isso — incentiva,

levantando o copo de uísque em minha direção.

— Assim como Conan Russell. — Levanto meu copo também,


orgulhoso por ter o apoio do general da máfia, meu irmão.

— Correto. James, tenho grandes informações. Um dos nossos


hackers conseguiu algo do seu interessante.

— Já sei o que é — comento. — Nunca se sabe quando uma

herdeira rival pode ser útil, e a melhor maneira de destruir um inimigo, é

atingindo seu ponto fraco.

— Como soube? — Ele arqueia a sobrancelha, obviamente curioso

por eu estar um passo à frente.

— Um conhecido do FBI que andou por alguns tempos em Chicago.


Acredita que, depois de anos, descobri que o velho tem herdeira? Quer
dizer, duas. Aubrey Lewis Russell, vinte um anos, filha de Conan Russell, e

sua amada esposa, Celeste Lewis. A garota tem bons históricos por onde
passou, mas é uma pena que daqui para frente não poderá ser mais

assim.

Pretendo agir como um cavalheiro, mas estou disposto a fazer tudo

para limpar a honra da minha família. Aubrey será a presa, e eu um animal

faminto.

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