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No dia seguinte acordei com muita dor de cabeça e sabia que tinha
dormido muito pouco. Tinha hematomas nas pernas, nos ombros e no rosto.
Eles nem se importavam com isso, pois a maioria dos clientes não ligavam
para o que acontecia com nenhum ali. Disfarcei o do rosto, mas muito pouco,
pois não tinha muito jeito com maquiagens. Na boca tinha um pequeno corte
no canto e ali não tinha o que fazer. Saímos para o salão e fizemos o mesmo
de sempre, pois o balcão era o lugar mais seguro, outras mulheres iam até os
homens.
Dylan nunca me obrigou a fazer isso, deve ser que sempre quando
chegava algum deles, iriam querer a novidade do lugar. Estava com muito
medo, muito. A minha cabeça não parava de pensar no que eu poderia fazer
para acabar com tudo aquilo.
Senti uma mão tocar meu braço e me assustei, achando que iria
apertar e doer os machucados.
— Não toca, por favor! — Encolhi-me, pedindo com todo o jeito para
Dylan não se irritar novamente.
Quando direcionei o olhar ao homem que tocava, era Matthew,
intrigado me observando. Soltei o ar, aliviada e o abracei, agradecendo a
Deus por aquilo. Não era porque estava forçando nada, nem querendo
demonstrar sentimentos que não existiam, mas sim por lembrar tudo que
passei na noite anterior e saber que, com ele ali, ao menos aquela noite isso
não se repetiria, foi involuntário. Ele retribui segurando minha cintura com
cuidado.
— Me acompanha? — perguntou.
— Sim, sim… claro! — Fui junto, então Dylan se aproximou,
tomando a frente e impedindo a passagem.
— Sinto muito, Cleveland, mas a princesinha já tem cliente essa
noite. — Ele estendeu a mão para mim e eu paralisei.
— Com quem você pensa que está falando? Cubro qualquer valor
miserável. Você sabe que isso não é problema para mim. Agora saia, estou
com pressa! — Matthew fez Dylan ficar no lugar dele.
Abrimos a passagem e partimos para o quarto. Quando entramos fui
tirar o sutiã, queria agradecê-lo por fazer aquilo e, já que servimos apenas
para isso, era a única maneira.
— Não, não… Não precisa. Vem cá… — Sentou-se na cama e me
chamou para seu colo.
Eu me sentei, o abraçando pelos ombros e ele segurou minha cintura.
Eu precisava de um pouco de afeto.
— O que foi isso? — Ele apontou para os machucados e levantou
meu queixo.
— Não foi nada — falei baixo.
Ele me senta na cama e anda de um lado para o outro passando a mão
nos cabelos. Nervoso, bem mais que o primeiro dia.
— Algum desgraçado te pegou a força? Ele… Ele transou com você?
— Ele estava furioso e eu tremi com os gritos.
— Não… Eu, fugi, bati nele… — Minha cabeça estava baixa, as
lágrimas descendo em meu rosto involuntariamente.
— Ele abusou de você?
Não consegui responder, falar sobre aquilo me trazia muita mágoa,
ativava um gatilho em mim. Lembrando daquele velho rasgando o que vestia
e esfregando seu corpo em mim. Mas não conseguia explicar que Dylan fez
tudo aquilo, me castigando.
Ele parece ter ficado ainda mais irritado. Nem mesmo no primeiro dia
que saiu irritado estava assim, via a qualquer momento quebrar algo ali. Ele
não olhava para minha direção, estava pensativo e ainda andava de um lado
para o outro, passando a mão em sua barba bem feita. Foi quando respirou
fundo e me olhou novamente.
— Fique aí… espere-me! — ordenou.
Saiu porta afora. Por Deus o que ele ia fazer? Eu ia acabar apanhando
mais uma vez? Estava completamente acabada depois de hoje. Dessa vez
Dylan ia ficar ainda mais furioso, ia notar que acabei deixando transparecer o
que aconteceu. Após vinte minutos, ele abre a porta repentinamente, estende-
me a mão e eu a pego sem pestanejar.
— Vamos sair daqui…agora! — Ele segura minha mão.
— Sair como? Não entendi. — Será que estava sonhando? Levantei-
me.
— Você vem comigo, eu te comprei… você é só minha agora.
Ninguém fará isso com você! — Ele me guiava para fora daquele quarto.
Eu não sabia dizer o que isso significava. Era bom? Me comprar
como um objeto. Pior era ficar naquele lugar, sem dúvida. Sair dali dessa
forma seria muito melhor que em um caixão, pois a sensação era que sair dali
só se fosse assim. Não, ele não era meu príncipe encantado que veio me
buscar com uma carruagem, ele pagou para estar comigo, essa atitude era
ruim, mas ao menos nunca me bateu ou foi agressivo.
— Preciso pegar minhas coisas.
— Só pegue seus documentos necessários. Você não precisará de
nada daqui. — Ele parou, aguardando.
Corri para o quarto e comecei imediatamente a procurar meus
documentos na pequena bolsa. Dylan entrou no quarto e eu levei um susto
dando passos para trás. Afastei-me dele o máximo, ainda amedrontada.
— Olha aqui, vadia. Eu te vendi, pois foi uma oferta irrecusável. Não
é todo dia que recebemos milhões por uma puta. Mas sem uma palavra sobre
isso aqui, pois eu te acho. Tá ouvindo? — ameaçou.
Ignorei e peguei os documentos. Saindo de lá apressada mesmo que
de lingerie. Não queria escutar nem um minuto sequer a voz daquele homem.
Quando estava no corredor, Ashley veio ao meu encontro.
— Já estou sabendo, fico tão feliz por você. Boa sorte, querida! —
Ela foi a minha força naquele lugar.
— Prometo que tirarei você daqui. Prometo, Ashley! — Ela deu um
pequeno sorriso e me abraçou.
Quando cheguei próximo a Matthew, ele tirou seu blazer e colocou
em mim. Ficava um pouco maior então cobriu bem, me senti um pouco mais
vestida. Saímos daquele lugar horrível e, quando senti o vento bater em meu
rosto, fechei os olhos e respirei fundo. Ele me olhava confuso no primeiro
momento, mas depois sei que ele compreendia o que passava em minha
cabeça.
— O que quer fazer primeiro? — disse mais animado.
— Eu só quero comer algo delicioso e dormir bem! — Fui sincera.
Pareceu ter ficado sentido com aquela situação, notando que não
éramos tão bem tratadas assim. Um homem alto o esperava do lado de um
Audi preto, seu porte era de ser um segurança, abriu a porta e entramos no
carro. Em alguns minutos, estávamos pelas ruas, não sabia para onde iríamos,
mas eu aproveitava cada detalhe, afinal, eu não havia conhecido Nova York.
Desde que saí da pequena cidade em que morava, fui direto para aquele lugar
e nada mais vi.
Foram alguns dias que pareciam anos, demoravam a passar. Imagina
então para Ashley que está lá há três anos, só de pensar nisso senti um aperto
no peito por deixá-la. Ela foi maravilhosa, mas não sairia nenhum momento
da minha cabeça a promessa, precisava reunir forças para acabar com tudo
aquilo. Eu não era ninguém ao lado de Dylan.
U
m tempo depois despertei,
havia cochilado um pouco
no ombro de Matt. Percebi
que o homem que dirigia
entrou em um luxuoso condomínio, com enormes portões e com bastante
segurança, a frente, entrando na garagem subterrânea de uma das casas
daquele lugar que era enorme. Naquela garagem estavam muitos carros,
esportivos e clássicos, para todos os gostos e vi que pelo jeito ele era bem
eclético.
Matthew tinha realmente muito dinheiro e aquilo chegava a me
assustar. Naquele momento bateu uma realidade do que pretendia fazer
comigo, eu era apenas uma garota que não tinha absolutamente nada a
oferecer naquele momento, tirada de um lugar nojento. Se ele queria por
maldade ou bondade, não sabia se podia piorar, então só me deixei levar. O
homem de terno escuro saltou e abriu a porta para que a gente saísse de
dentro do carro.
Cobria meu corpo com o blazer de Matt e o acompanhei em silêncio.
Ele caminhava sem dizer uma palavra, vez ou outra olhava para trás me
observando, mas nada dizia. Aquele silêncio estava me matando, mas não
sabia o que falar, nem como agir. Então entramos na luxuosa e enorme casa,
que estava silenciosa, deduzi que devesse morar sozinho ali ou talvez fosse
apenas o horário. Ela era em tons cinza e branco, elegante e moderna, o piso
brilhava como espelho e os móveis atuais, com uma decoração digna de
filme. Cada detalhe bem-planejado, desde um pequeno objeto em cima de
uma mesa de centro entre os sofás enormes da sala de estar até os quadros
que deveriam valer mais que os meus dois rins juntos.
— Você está com fome? Venha! — Ele foi em direção a cozinha e eu
acompanhei.
Chegando lá, era enorme e completamente organizada. Seguia a
mesma pegada do resto da casa, a diferença eram detalhes pretos nos
armários e despensa. Agachei-me e tirei os saltos, estava exausta e meus
dedos doíam. Ele virou para mim, ainda estava meio distante e aquilo me
deixava completamente confusa, não me tocou ou se aproximou. Eu deveria
entender. Se ele iria me escravizar, ou me deixar ir para achar um emprego
nem que fosse em um trailer de revistas, eu estaria imensamente agradecida
por isso.
— Pode ficar à vontade, tem tudo que precisar. Mary estará aqui pela
manhã, ela cuida de tudo. Preciso de um banho! — E saiu.
Simples assim, deixou-me ali sozinha e eu realmente estava faminta,
era até melhor, pois poderia me sentir um pouco mais à vontade sem o olhar
dele sobre mim. Desde que cheguei na cidade, não comi direito naquele
lugar. Estava aliviada, mas cheia de receio de como seria minha vida daqui
para frente, dependendo dele. O que ele faria comigo? Me perguntei
novamente, sentia que não me queria mal e era com essa sensação que me
confortava a partir de agora.
Fui até a geladeira, tinha tudo que imaginar. Peguei queijo, presunto e
suco de laranja. Vasculhei a cozinha e, achando tudo, fiz um sanduíche
improvisado. Comi com todo o gosto, provando o quanto estava faminta, foi
até demais, estava muito satisfeita. Deixei tudo organizado novamente, meu
pai me deu educação o suficiente para não deixar tudo largado, muito menos
para fazer papel de folgada.
Matthew voltou – tinha se passado quase uma hora desde que saiu –
usando uma calça de moletom e uma blusa branca lisa. Estava ainda mais
lindo fora daqueles ternos, vestido assim estava tão leve e a vontade, senti-me
confortável também, mesmo louca por um banho para tirar toda a lembrança
daquele lugar.
— Está satisfeita? — Cruzou os braços e me olhou.
— Sim, muito! Obrigada. Eu… bem, preciso de um banho também se
não for incômodo. — Fiquei de pé segurando os sapatos na mão.
— Vou mostrar seu quarto, você precisa descansar. Ficará aqui em
casa — falava quando interrompi.
— O que vai fazer comigo, Matthew? Estou completamente inerte,
sem entender. — Dei um suspiro.
Ele se aproximou pela primeira vez naquela noite. Tocou meu rosto e
eu deixei ser acariciada, já desejava por mais. Queria mais, tinha toda a
certeza. Já tinha sentido seus lábios em mim, não só nos lábios. Então, um
frio na barriga se deu só para imaginar o que mais poderia desfrutar com ele.
— Você é minha! Só isso. Pertence-me! — Ele tocou meus lábios
com o polegar e se afastou novamente — Vem…
Saiu de lá, andava com calma e foi em direção a uma linda escada, eu
estava logo atrás o acompanhando, sem perder o olhar atento. Subi junto a ele
e chegamos a um corredor com várias portas brancas, abriu uma delas e um
quarto enorme, com paredes claras, apareceu a minha frente. Janelas grandes
que davam no Jardim e cortinas num tom rosado e lilás. Tinha penteadeira e
poltronas, só o quarto era maior que a minha antiga casa em Winchester.
— Você pode ficar nesse quarto, amanhã providenciarei tudo que
precisa. Agora descanse! — ordenou.
Ele falava como se eu fosse uma boneca, eu não gostava muito
daquilo, mas não estava em posição de reclamar naquele momento. Eu o
queria, queria como naquela noite que senti sua boca e língua me tocar. Dei
passos até ele, coloquei as mãos em seu ombro e ele ficou paralisado, era
estranho porque, mesmo sentindo que ele desejava o mesmo que eu, parecia
arredio, se esquivava como um afastamento proposital que muitas vezes se
tornava falho. Aproveitei e tirei o blazer que ele emprestou ficando
novamente de lingerie, mesmo não tendo experiência nisso, quando alguém
consegue aflorar um desejo tão forte em uma mulher, sei que nos tornamos
decididas em determinados momentos.
Ele olhou para meu corpo, estava ofegante e sua calça de moletom
estava com um volume imenso. Seus olhos pareciam analisar cada centímetro
do meu corpo, a sensação de querer me agarrar e algo que o impedia, sim!
Ele estava se contendo por algum motivo. Dou um passo à frente e grudo
meu corpo no dele, olhando em seus olhos como se estivesse o acostumando
com aquela aproximação. Fiquei na ponta dos pés para alcançar seus lábios
deixando o desejo levar e deposito um beijo demorado em seus lábios. Ele
continuava parado e sentia sua respiração ofegante com os rostos tão
próximos um do outro. Não fechei os olhos, olhava nos dele a fim de
observar a sua luta interna para se controlar.
Não demorou muito, ele tocou minha cintura e apertou contra ele com
força, uma força que não chegava a machucar, mas sim demonstrar o desejo
que estava controlando dentro de si. Seu volume coberto pela calça de
moletom tocava minha pele e isso o provocou ainda mais, não só a ele como
a mim também. Seus lábios se abriram rapidamente, intensificando o beijo,
tirando uma das mãos da cintura para a minha nuca, começando um beijo
intenso e frenético. Senti seu gosto, um contato diferente daquele a uns dias
atrás, não era mais aquele quarto pequeno e desconfortável com barulho em
volta, era um silêncio e privacidade, liberdade seria a palavra. Eu queria tanto
aquilo, poderia ser uma situação imprevisível, poderia ser errado, mas era o
que tinha vontade e iria saciá-la. Parei o beijo e o encarei, nossos lábios perto
um do outro e ele abriu os olhos em êxtase.
— Sou sua… — sussurrei.
Ele olhava nos meus olhos, parecia que minhas palavras despertaram
nele algo, as minhas mãos estavam em seu peito forte ainda coberto pela
camisa, sentia que as batidas do coração, naquele momento, estavam
aceleradas. Não pensou muito, rasgou aquela roupa que eu usava, deixando-
me nua a sua frente. Tirou sua camisa e sua calça, estava sem cueca e seu
membro ereto saltou para fora. Mordi meu lábio olhando aquela cena a frente
e ele me segurou forte, jogou na cama e ficou sobre mim, beijou meus lábios
mais uma vez antes de descer até meu pescoço.
— Sim… Você é minha! Me pertence! — Sua voz era rouca, me
fazendo arrepiar.
Ele saiu dali, me deixando deitada. Olhei para a porta tentando voltar
a respiração normal, mas em pouco tempo ele voltou com um pequeno
pacote, um preservativo. Eu estava completamente úmida entre as pernas
olhando aquela cena, queria senti-lo… Mais do que nunca.
De volta a cama, ficou sobre mim e abri minhas pernas para ele deixar
seu corpo entre elas. Voltou a me beijar e, com cuidado, posicionou sua
ereção deslizando lentamente, preenchendo-me deliciosamente quando sinto
um leve ardor. Sim, nunca fiz aquilo, mas como estava tão ansiosa por aquele
momento, não era nada que atrapalhasse, o prazer era muito maior. Ele me
olhou nos olhos, entendendo o que estava acontecendo. Soltei um gemido de
prazer a fim de que ele não desistisse. Então ele entrou em mim, senti arder,
mas logo um prazer imenso tomou conta. Seu membro estava todo dentro,
fazendo movimentos de vai e vem, sua respiração ficava pesada. Aquele
gemido rouco me arrepiava inteira. O olhar dele era algo hipnotizador, o
maxilar estava rígido e seus olhos fechavam vez ou outra.
— Só minha… entendeu? — Ele pulsava dentro de mim e eu sabia
que não iria demorar até chegar ao ápice.
Foi minutos repetindo aquele movimento, ele me beijava, ia até o meu
pescoço, segurava minha perna e apertava sem chegar a machucar. Os seus
olhos eram abertos e direcionados a mim como se ele estivesse querendo
acompanhar todas as minhas reações. Quando acelerou, eu senti a melhor
sensação da vida. Estava realmente gozando e apertando ele dentro de mim,
foi o necessário para ele fazer o mesmo. Soltou um gemido mais alto, os
músculos dos braços que estavam apoiados na cama ficaram tensos e
contraídos. Minhas unhas estavam cravadas em suas costas e, sem ao menos
perceber, eu o arranhava.
Depois disso, com a respiração ofegante, tanto eu quanto ele, voltando
a si colou seu corpo no meu selando nossos lábios entre a respiração pesada.
Pude sentir seu membro pulsar enquanto gozava deliciosamente. Foi uma
sensação incrível.
Após recuperar a respiração, ele me olha. Estava confusa, ele nada
dizia, nem tinha expressão alguma em seu rosto, aquela barreira de alguns
minutos atrás havia voltado. No seu olhar percebia um misto de confusão,
raiva e, ao mesmo tempo, vontades. Foi aí que ele logo saiu de cima de mim,
tirando o preservativo.
Pegou suas roupas e saiu do quarto sem dizer nada. Fiquei ali olhando
para a porta sendo fechada, ainda deitada e imóvel como ele havia deixado,
como pode mudar assim de uma hora para outra? Eu estava exausta, mas
também relaxada depois do orgasmo e, foi ali deitada, que peguei no sono
instantaneamente. A cama era tão macia, nada comparado àquele lugar.
Saímos do quarto, vesti uma das suas camisas e ele uma calça de
dormir. A essa altura o jantar já estava servido e Mary foi para sua casa,
afirmei que eu tiraria o jantar aquela noite. Sentamos a mesa e nos servimos.
Nossa expressão havia mudado, era bem melhor quando estávamos assim.
— Por que precisamos de preservativo hoje? — Ele me olhou
confuso.
— A doutora está de férias, tanta coisa aconteceu esses dias e estava
no momento de tomar a injeção novamente. Então temos que segurar até ela
voltar, não quero mudar de médica. — Terminei o jantar.
Ele deu nos ombros e voltou a comer. Quando terminamos, tirei a
mesa e ele me ajudou com a desculpa de me querer mais tempo por perto.
Resolvemos assistir algo, tinha uma sala de cinema ali e, pelo jeito, não usava
muito. Levamos chocolates, pipoca, escolhemos o filme e não prestamos
muita atenção, pois nos beijamos boa parte do tempo, até que dormi em seus
braços, exausta.
M
atthew precisava fazer
uma viagem a trabalho e
isso era bom, pois
mesmo que sentisse sua
falta, a distância nos deixava pensar melhor. Dez dias fora e meu coração já
estava apertado, ficar longe dele todo esse tempo. Teria que viajar a dois
lugares, pois planejava expandir mais seus negócios.
Cheguei mais cedo do trabalho naquele dia e ajudei Mary a arrumar a
mala. Não tocamos mais em outro assunto e esses dias que se passaram, mais
estava decidida que assim que ele voltasse, iríamos conversar sobre isso. Eu
precisava parar de evitar o inevitável e, se aquilo era tudo mentira, o certo
seria fazer o que era básico naquela atuação e não tratar como se fosse uma
verdade absoluta. Quando nos despedimos, ele prometeu ligar e estar sempre
em contato comigo e, na hora que saiu por aquela porta, meu coração estava
junto na mala, tenho certeza!
Depois daquele pedido de noivado, as coisas ficaram um pouco
estranhas entre nós, não só ele como eu também. Ainda tinha o acontecido
com aquela mulher, mas eu não levava esses assuntos a frente, pois não tinha
esse direito, exceto se aquela relação fosse sólida, aí sim eu poderia bater o pé
e exigir explicações, do contrário deveria me contentar e tentar entender.
Três dias se passaram e ele estava cumprindo o prometido. Ligava e
mandava mensagens constantemente e não tinha pudor em falar o quanto
estava sentindo minha falta. Combinamos que eu iria passar para seu quarto,
ele disse humorado que tinha muitos pesadelos à noite e quando estava
comigo eles não aconteciam. Sei! Mas não achei nada ruim, mudei minhas
coisas e organizei tudo ali. Estava me sentindo bem melhor assim, o seu
closet era imenso e, mesmo ele tendo uma infinidade de coisas nele,
conseguimos organizar tudo adicionando as minhas ali.
Eu ia à empresa, trabalhava e quando voltava me ocupava com
qualquer coisa para poder passar o tempo. Então, o fim de semana chegou,
acordei com muita preguiça. Tomei o meu café e fiquei em seu escritório
usando seu computador para adiantar algumas coisas para Bruce. Precisava
de papéis e procurava nas gavetas ali ao lado quando algo me chamou a
atenção.
Tinha muitos papéis com a foto de Dylan, aquele infeliz que me levou
para aquele lugar, só de olhar para aquela foto me fez sentir embrulhos, nojo
e joguei ali sem querer olhar mais. Tinha dados pessoais, tudo sobre sua vida.
Matthew estava investigando, senti meu coração acelerar. Uma mistura de
medo e de ansiedade por ele estar lidando com isso por mim. Deixei tudo lá
quando escutei uma batida na porta. Então Claire entrou como um furacão,
sempre parecendo sair de uma passarela, até o seu andar. Eu estava tremendo
e respirei fundo tentando voltar à realidade.
— Cunhadinha, querida, vim lhe tirar desse Mausoléu! Como
consegue ficar tanto em casa? — Ela se aproximou da mesa.
— Resolvendo coisas de trabalho, Claire. Acabo ficando com a
cabeça ocupada. — Levantei-me indo em sua direção e abraçando-a em
cumprimento.
— Hoje é sábado, nada de trabalho, compraremos alguma coisa.
Quem sabe ver algo sobre casamento, marcaram a data? — perguntou
curiosa.
Respirei fundo lembrando ter um casamento para acontecer na cabeça
de todo mundo que soube que estávamos noivos. Não sabia como deveria
agir, se realmente deveria olhar algo ao menos para eles acreditarem ainda
mais naquela mentira.
— Ainda não, estamos pensando no melhor momento ainda.
— Desviei.
— Vocês são muito sistemáticos, eu ein! — Ela revirou os olhos. —
Sem desculpas, vamos sair um pouco — afirmou.
Fui até o quarto enquanto Claire ficou na cozinha com Mary
relembrando histórias. Coloquei um conjunto de short e blusa não tão colado
ao corpo, uma sapatilha confortável e peguei uma bolsa que ficasse de
acordo. Arrumei-me o máximo que a preguiça deixou, que não foi muita
coisa, e fui a encontrá-la embaixo. Meu celular tocou, chegando uma
mensagem de Matt.
Matthew: Entrando em uma reunião em alguns minutos, estava
pensando em você. Acho que isso não é nenhuma novidade rs.
Olhei o celular sorrindo, respondendo imediatamente.
Amy: Estou sendo sequestrada por sua irmã que quer me tirar um
pouco de casa e daremos uma volta. Tenha uma ótima reunião!
Não demorou muito e enquanto descia as escadas o celular tocou
rapidamente.
Matthew: Boa sorte! Haha Se cuida tá?!
Dei uma risada e me encontrei com sua irmã lá embaixo. Nos
despedimos de Mary e saímos em seu carro em direção ao shopping
escolhido por ela. No caminho, colocou uma música pop no carro, o som bem
alto e começou a cantar, olhei para ela e não aguentei caindo na gargalhada e
ela abaixou o som novamente.
— Você está rindo dos meus talentos como cantora? Ah, Amy, que
crueldade! Vamos, se solta! — Ela aumentou novamente.
Eu continuava rindo quando ela cantava e assim fui me rendendo a
situação, cantando baixo aquela música, o que foi muito divertido, ela estava
conseguindo. Em alguns minutos estávamos no lugar escolhido por ela, que
já sabia o destino a ir. Todas as lojas de grife que tinha naquele shopping. Ela
estava olhando algumas bolsas e eu acompanhei observando algumas.
— Tenho três melhores amigas que nunca me decepcionam, uma se
chama Dona Bolsa, outra Senhorita Roupa e, por último, o Divo Sapato —
falava divertidamente.
Gargalhei de suas brincadeiras e confirmei aquilo porque ela já
segurava muitas bolsas de compras. Não era à toa que estava se formando em
moda e, por mais que o seu estilo fosse diferente, eram roupas lindas e um
bom gosto inquestionável.
Passamos um bom tempo, a hora estava passando rapidamente, o dia
havia se tornado realmente divertido, se eu tivesse uma irmã, queria que fosse
exatamente como ela. Almoçamos, depois tomamos algumas taças de
champanhe e rimos muito. Passamos a tarde bebendo e conversando. Como
ela veio no seu carro com segurança, não se importou em beber.
Quando saímos do local, estava entretida conversando com ela
quando senti alguém esbarrar muito forte em mim, perdi um pouco o
equilíbrio, mas consegui me manter de pé.
— Desculpe, Senhorita!
Um homem falou e aquela voz me fez trazer as piores lembranças.
Dylan me olhava, com um sorriso irônico e nada surpreso.
— Você está bem, cunhada? — Claire tocou meu ombro.
Fiquei paralisada. Meu coração acelerou e tenho certeza de que perdi
a cor naquele momento. Achei que iria desmaiar e engoli seco.
— Melhor estar mais atenta aonde anda! — finalizou e saiu.
Aquele tom foi ameaçador. Eu não consegui sair do lugar. Claire me
balançou a fim de me fazer acordar daquele choque. Senti tontura, boca seca,
foi um choque enorme para mim aquele desgraçado tão perto novamente.
— Amy, estou começando a me preocupar. — Ela ficou a minha
frente e eu acordei.
— Não, só me senti tonta por conta do champanhe! Não se preocupe.
Vamos! — Saímos de lá.
Antes de entrar no carro, olhei mais uma vez para o restaurante e
Dylan levantou o copo de bebida com aquele sorriso nojento. Entrei no carro
apressadamente. Não foi um acaso, eu acho que não. Ou poderia estar ficando
neurótica, teria sido uma coincidência. Já no carro, minha cabeça passava um
filme desde o momento que saí de Winchester e fui levada por aquele
homem.
Lembrei-me de Ashley, das agressões, o quarto precário e aquela
comida horrível, homens olhando para o nosso corpo quase nu. Um ataque de
ansiedade estava tomando conta de mim, eu nem ao menos reparei quando as
lágrimas começaram a rolar involuntariamente, estava soluçando muito, não
conseguia controlar minhas emoções.
— Amy, você está bem? — Claire tocava meu rosto. — O que houve?
Conversa comigo, Amy. Aconteceu alguma coisa? — insistia.
Eu não conseguia falar absolutamente nada, a cabeça baixa entre um
choro dolorido, toda a dor que sentia estava sendo demonstrada naquele
momento. Ela abraçava-me apenas e, sabendo que eu não falaria nada, não
insistiu mais, dando apenas o carinho que eu estava precisando.
Era fim da tarde, mesmo que ele tenha dado a ideia de ir para casa, eu
sabia que tinha obrigações com o senhor Bruce que confiou a mim muitas
coisas e eu me sentia bem, pois ao menos estava sendo eficiente. Estava
organizando minhas coisas para ir embora quando a recepcionista bateu na
porta entrando em seguida quando pedi para entrar.
— Senhorita Carter, um rapaz chegou na recepção com esse envelope
pedindo para ser entregue a senhora. — Ela esticou a mão.
Agradeci e fiquei curiosa. Estava lacrado, abri com cuidado e notei
serem fotos e um papel escrito junto. Quando tirei elas do envelope, meu
mundo simplesmente caiu. Era Matt, na frente de um restaurante, e Ângela o
beijando. As mãos daquela asquerosa no rosto de Matt. Mais fotos deles
sentados na mesa do restaurante conversando. Mas foi o papel escrito que deu
uma facada em meu peito.
“Os dez dias do seu noivo viajando, pelo jeito, foram muito
divertidos!”
Levei a mão na barriga sentindo um pouco de cólica. As lágrimas
rolaram involuntariamente, peguei tudo sai às pressas de lá, David estava a
postos e me olhava preocupado pelo retrovisor várias vezes durante o
caminho. Quando cheguei em casa, fui até o quarto de hóspedes e me deitei
na cama, chorando muito. Por que ele fez isso comigo? Eles estavam juntos
naquela viagem. Beijando, fazendo sabe-se lá o que. E eu estava agora
grávida e perdida. Não conseguia raciocinar porque ele faria aquilo tudo
comigo. Para quê?
Não demorou muito para Matt chegar e começar a bater na porta
insistentemente.
— Amy… abre! O que aconteceu? — falou alto, ainda batendo.
Não respondi, continuei em silêncio e ignorei, pois não conseguia
olhá-lo.
— Amy! Eu vou arrombar essa porta!!! O que está acontecendo!?
— gritou.
Levantei-me e fui até lá, abri a porta e dei as costas, cruzando os
braços, e de cabeça baixa, evitando qualquer contato visual.
— Amor, me falaram que você saiu não muito bem da empresa. O
que houve? Você está bem? Como está se sentindo? — Ele tocou meu ombro
e eu me afastei.
Peguei as fotos e joguei na cama, virando minha cabeça para não ver
aquilo outra vez, pois me causava asco. Ele olhou incrédulo, pegou foto por
foto e parecia confuso.
— Não foi o que você está pensando, não é o que parece, Amy. Juro
por tudo que existe! — Ele jogou as fotos.
— Ela foi com você. Você nem se quer me contou. Passou… dez dias
com ela! — Virei, olhando para ele com ódio.
— Não queria te deixar preocupada. Nem pensando bobagens com
algo sem importância! — Ele tentou se aproximar.
— Era algo sem importância até você beijar ela… seu… seu…
— Comecei a dar soco em seu peito, chorando. — mentiroso!
Ele segurou meus pulsos a fim de que me fizesse parar, pois estava
completamente magoada.
— Amy, deixe-me explicar o que aconteceu… Se acalma! —
Suspirou.
Estava sentindo cólica desde que vi aquilo. Puxei minha mão e levei a
barriga sentando-me na cama com dor, os dentes cerrados. Ele correu até
mim, olhando-me confuso e preocupado.
— Amy, amor… o que foi? O que está sentindo? Calma!
Olhei para ele entre as lágrimas e falei de uma só vez, alto o suficiente
para que entendesse cada letra que eu pronunciava.
— Eu estou grávida!
Ele paralisou, olhou para minha barriga com seus lábios entre abertos
e olhos arregalados, depois para meu rosto com a expressão completamente
surpresa. O sangue fugiu do seu rosto, senti mais uma vez uma cólica intensa.
Ele correu até a porta gritando por ajuda.
– Mary, chame o médico. Agora! — Voltou correndo até mim.
Ele não sabia o que dizer e, consequentemente, não disse nada.
Abraçou-me com força e ficou ali todo o tempo enquanto o médico solicitado
por Mary estava para chegar. A dor estava ainda mais aguda. Cólicas
intermináveis e o sofrimento enorme por talvez estar perdendo o meu bebê
que, mesmo sabendo por tão pouco tempo, já amava mais que a mim mesma.
Matthew Cleveland
O
médico estava atendendo
Amy no quarto, fiquei no
corredor de um lado para o
outro e o pavor de acontecer
algo estava iminente. Ela estava grávida, eu iria ser pai. Não sabia o que
pensar, aconteceu tudo de uma vez só. Aquelas fotos ridículas, Ângela foi
realmente comigo apenas porque ela estava me ajudando nas investigações
contra aquele desgraçado do Dylan. Naquele dia, quis dar um ponto final em
suas provocações, conversar com ela como adultos e nos sentamos para
almoçar.
Disse amar minha noiva, essa parte não menti. Amo a Amy e não
queria lutar contra isso. Avisei que não iríamos trabalhar mais juntos, pois
isso a machucava e eu queria apenas o melhor. Quando estávamos saindo ela
veio até mim repentinamente e me beijou de forma completamente
inesperada. Eu repreendi sua atitude de imediato, nem ao menos retribui e,
desde então, não a vi mais.
Mary chegou com um copo de água em suas mãos e me entregou a
fim de ajudar.
— Ela está grávida, Mary… serei pai! Ela está… perdendo o bebê?
— Suspeitei querido, tenha fé, nada disso irá acontecer! Ficará tudo
bem!
Nesse momento o médico saiu do quarto e me olhou. Estava sentado
no sofá e imediatamente pulei de lá ficando em pé, ansioso por boas notícias.
— Ela passou por uma emoção muito forte e como a gestação está no
começo, corre esse risco. Dei um calmante, um remédio para agir rápido e
passar a dor. O resto agora é repouso e sem emoções! — Escutei atento.
— E o bebê doutor? Como está? — Lembrei imediatamente.
— Até então, tudo bem, não aconteceu sangramento nem pareceu ter
complicações maiores. Mas deve começar o acompanhamento e com exames
mais detalhados saber detalhes do bebê e como ele está realmente, ouvir seu
coração e toda a avaliação necessária — indicou.
— Graças a Deus! — Mary falou do meu lado.
Apertei a mão do médico e agradeci o seu atendimento. Ela o
acompanhou até a porta e eu entrei no quarto para ficar mais perto. Amy
estava deitada, os olhos fechados e agora relaxada me fazendo respirar com
um pouco mais de calma. Estava me sentindo muito mal com aquilo, ela
passara por tanta coisa e era tão forte, tinha certeza de que não suportaria
passar por metade de tudo que ela passou. Sentei-me ao lado na cama e fiz
carinho em seus cabelos.
—Juro que não fiz nada para te magoar. Eu te amo! — falei baixo.
Era um fraco que não conseguia falar aquilo olhando em seus olhos.
Tinha um bebê ali agora, já estava mais que na hora de consertar toda aquela
bagunça que se tornou nossa vida. Tentei a todo momento me afastar e
quanto mais sentia ciúmes, quanto mais sentia estar me apegando, tentava
ficar longe dela, mas estava sendo impossível. Noto o meu telefone tocar,
para não acabar incomodando-a, saí do quarto apressado até o escritório.
Sentei-me na cadeira junto a mesa e atendi ansioso.
— Pode falar!
— Senhor, já conseguimos as provas contra ele. Esse cara tem mais
crimes do que imaginamos. Chega a tráfico, assassinato e entre tantos outros.
Só falar que larguei tudo e vão fechar aquele lugar agora mesmo. — A voz
do investigador foi eufórica.
Dei um soco na mesa, desgraçado. Demorou, mas consegui, desde
que trouxe Amy para casa luto incessantemente para conseguir acabar com
aquele lugar de uma vez por todas. Ele iria pagar pelo que fez a Amy e tantas
outras.
— Faça isso! Quero esse merda preso. Mantenha-me informado.
A
cordei sentindo o corpo um
pouco pesado. Já não tinha
dor, coloquei a mão na
barriga preocupada com o
bebê. Tentei me levantar e Mary entrou segurando uma bandeja com comida
e o cheiro fez ela roncar. Certeza que tomei algo para enjoo, pois estava com
uma fome de leão.
—Não ouse se levantar sem comer, pense em seu bebê! — Ela
colocou a bandeja sobre minhas pernas com os pés apoiados na cama.
Comecei a comer e olhava a porta procurando por Matt. Queria saber
onde ele estava, mas ainda estava tão magoada. Quando estava descansando,
ainda não havia pegado no sono, mas tenho certeza de ter ouvido ele falar que
tinha uma explicação para aquilo e que me amava. Ou eu estava alucinando
por conta do remédio. Ele já sabia do bebê e eu não tinha a mínima ideia do
que estava pensando, o que passava por aquela cabeça confusa. Tinha saído
mesmo eu estando daquela forma, então não estava tão feliz com a situação,
mas já era de se esperar.
— Ele saiu para resolver um problema rápido. Você não tem noção de
como ele ficou preocupado, menina, falou emocionado que seria pai
— contou.
Meus olhos estavam marejados, levei a mão à minha barriga. Ao
menos ele ou ela não seria indesejado por seu pai. Terminei de comer e ela
retirou a bandeja. Foi quando vi ele entrar, pela primeira vez notei estar sem
jeito ou cauteloso. A imagem da foto surgia em minha mente e ainda
magoava, porque não me disse que ela iria. Então falou sobre uma surpresa e
minha curiosidade foi provocada. Olhei para a porta e não acreditei quando
Ashley entrou. Levantei-me com calma e fui até ela, abraçando-a com força.
— Por Deus, essa é a melhor surpresa! Não parei de pensar em te
ajudar todos esses meses! — Lá vem mais choro, estava derretida mesmo.
— Eu sei, querida, tenho certeza disso. Devo tudo isso ao seu noivo!
Ele acabou com aquele lugar, você, claro, tem participação, pois se não
tivesse com aquele “homão” maravilhoso não havia acontecido nada disso.
— Sentamo-nos na cama.
— Para você não preciso mentir, nós… bem… não é bem um noivado
assim! — Abaixei a cabeça.
— É, sim, ele falou com todas as letras e ainda disse que minha
“mulher está grávida”! Que felicidade, Amy, um filho é tudo. Estou com
medo, faz anos que não vejo minha família. — Ela abaixou a cabeça.
— Dará tudo certo, vamos te ajudar. E o seu braço, seu rosto… o que
aconteceu?
— Se isso não tivesse acontecido, tenho certeza de que logo, logo
estaria morta. Eu era a mais velha, os homens procuravam novidade, Dylan
estava me batendo ainda mais, chegou a dizer que eu não servia mais e era
descartável — desabafa.
— Tudo vai ficar bem agora, não se preocupe!
Levantei-me e seguimos para a cozinha. Já era tarde, ela precisava
comer algo também e pedi para Mary preparar um quarto de hóspedes, ela me
informou que Matt já tinha pedido o mesmo. Estava muito feliz por ele estar
fazendo tudo aquilo por Ashley. Amanhã começaremos a busca pela sua
família. Deixei-a na cozinha acompanhada de Mary e fui até o escritório onde
ela me informou que Matt estaria. Bati na porta e ele autorizou a entrada.
Estava sentado em sua mesa, o semblante cansado e um pouco triste.
Caminhei com calma e procurei as palavras certas a serem ditas.
— Primeiro, quero agradecer-te pelo que fez… tanto por mim quanto
pela Ashley. Ela poderia ter morrido se continuasse naquele lugar! — Estava
um tanto nervosa.
— Não precisa agradecer, foi uma das melhores coisas que fiz! — Ele
parecia estar pisando em ovos.
— … Eu também, queria falar sobre o bebê. Sei que… não foi isso
que planejamos. Sei também que agora tudo está uma confusão.
— O que temos para falar sobre o bebê? Estamos juntos e…
aconteceu. Agora serei pai e você mãe. Não precisa de justificativas para o
que aconteceu! Tentarei dar o meu melhor! — Ele me interrompeu
conseguindo me deixar sem palavras.
— E quando esse tempo acabar? O que acontecerá? — Abaixei o
olhar.
Ele respirou fundo, ficando um pouco irritado, mas se conteve.
Levantou-se da sua cadeira, caminhou até mim. Colocou as mãos nos bolsos
e me olhou sério.
— Só você que não percebeu que não existe mais tempo, nem nada
relacionado a isso. Estou contigo há meses tentando ser alguém melhor, não
penso em outra coisa. E a única coisa que passa na sua cabeça é que tudo isso
é uma mentira. Na minha não é! Mas não ficarei tentando colocar algo na sua
cabeça enquanto você não relaxar um pouco! — Ele beijou minha testa e
saiu. Deixando-me sozinha.
Ele tinha razão, eu estava com tanta coisa na minha cabeça que tudo
se tornava um problema tremendo e não via tudo que ele fazia de bom.
Estava me sentindo mal-agradecida. Sai de lá, arrumei algumas roupas para
Ashley que disse estar explodindo de tanto comer. Quando ela se acomodou e
Mary também, parei na porta do quarto. Não sabia se deveria, se ele queria
ficar sozinho e desisti. Peguei um livro e fui até a sala, deitei-me no sofá
confortável e começo a ler com calma. Até que peguei no sono.
Não sabia que horas, mas senti braços fortes me puxando do sofá.
Matt me colocou nos braços e eu deitei minha cabeça em seu peito,
sonolenta. Quando me deitou na cama, acomodei-me sentindo seu cheiro e
ele se deitou ali ao lado. Um pouco distante, sabia que ele não queria invadir
um espaço sem saber se deveria ou eu permitiria aquilo. Peguei no sono
novamente, pois tudo que estava sentindo era fome, sono e muito enjoo
ultimamente.
Quando acordei, ele já tinha saído. Era tão ruim aquele clima, dava-
me angústia e não sabia como acabar com isso. Fiz minha higiene e não iria
para o trabalho, pois o médico me recomendou repouso. Além disso, Ashley
estava ali precisando de ajuda para rever sua família. Ela estava na mesa
tomando café, entretida.
—Amy, bom dia! Faz anos que não durmo em um lugar tão macio.
Chegava a dar um aperto no coração, se passei poucos dias e foi o
pior pesadelo da vida, imagina só o que ela não havia passado durante anos.
— Bom dia, Ashley… Mary, bom dia. E Matt? — perguntei.
— Não tomou café, saiu cedo, menina! — Ela me respondeu sempre
calma.
— Tenho que ir à médica agora à tarde. Quando eu chegar daremos
um jeito de encontrar sua família tá? — Dei um sorriso amoroso e ela
retribuiu. — Sabe o que aconteceu lá? E aquele… desgraçado, está preso?
— perguntei curiosa.
— Amy eu estava no quarto quando escutei muito barulho, tiros e
pessoas correndo. Fiquei com medo e não quis sair, foi aí que um policial
abriu a porta e me chamou para fora e fui correndo. Eu estava bem
machucada e lá não me deram atendimento algum, foi na delegacia que tive
atendimento e aí que encontrei o seu bonitão. — Ela deu um sorriso. —
Sobre Dylan, bem… é… deve estar preso — gaguejou e eu fiquei com a
impressão de que estavam escondendo algo.
P
reparei-me para ir à médica.
Ela havia voltado de suas
férias e aquilo me deixava
aliviada. Chegando no
prédio, estava ansiosa para saber como estava o bebê depois desses dias.
Também estava nervosa, pois não passei por nada parecido, era tudo novo
para mim e estava sozinha. Aguardei poucos minutos e, quando a
recepcionista avisou que eu já podia entrar, alguém entrou ali rapidamente,
quando olhei para trás era Matthew. Ele parecia ofegante e arrumava seu
terno apressado.
— Atrasei-me? — Ele se aproximou tocando minhas costas.
— Como… quer dizer você… — Fiquei surpresa sem entender.
— Liguei me informando do seu horário. Acha que eu iria perder a
primeira consulta do nosso filho, ou filha… — falou baixo perto do meu
ouvido.
Meu coração se desmanchou e aquele nervosismo diminuiu um pouco
com ele ao meu lado. Estava sendo tão perfeito e cuidadoso que sentia
confiança nele cada vez mais. Entramos na sala e a doutora sorriu assim que
entramos, ficando em pé, me cumprimentou e logo depois fez o mesmo com
Matt.
— Que surpresa você a acompanhando, Cleveland! — Ela tinha uma
alegria contagiante.
— Surpresa é o que você terá quando souber o motivo. — Ele riu a
deixando curiosa e dirigindo o olhar a mim.
— É, bem… eu estou grávida! — Dei um sorriso sem jeito.
Ela abriu um largo sorriso e me abraçou com muito carinho.
— Meus parabéns aos dois. E eu achando que era um exame apenas
de rotina! — É, eu também achava que seria. — Passou alguns dias da
injeção mensal, minha atendente tentou ligar, mas seu número estava
incomunicável.
— Estávamos viajando, na verdade. — Dei um sorriso ao lembrar da
viagem.
Logo após me explicar tudo que era necessário, ela tirou um pouco do
meu sangue. Depois pediu para me preparar para uma ultrassonografia e o
frio na barriga começou naquele momento. Deitei-me ali e ela começou todo
o processo passando algo transparente e gelado em meu ventre. Matt estava
ao meu lado com a mão segurada na minha, que estava gelada de nervosismo,
a fim de que estivesse tudo bem com meu filho. Ele olhava atento a tela que
não dava para entender muita coisa até então.
—E então, como está o bebê? — Ele estava impaciente.
— Calma, papai! Estamos dando uma olhada! — Ela mexia e
observava com atenção.
Apertei sua mão apreensiva. Foi um choque no começo, mas agora a
ideia de um serzinho nos meus braços me deixava tão ansiosa e a única coisa
que queria ouvir era que tudo estava bem.
— Aqui está… bem pequenininho por sinal. Você está com cinco
semanas, um pouco mais de um mês, escutaremos o coração! — Matt
continuava com os olhos fixos.
Foi então que o barulho tomou conta da sala. Batidas rápidas de um
coração tão forte se juntaram ao meu que também estava acelerado e eu
deixei uma lágrima cair escutando atenta e aproveitando a melhor sensação
da minha vida. Era real, agora mais que verdade, cai na realidade. Matt abriu
um sorriso e não sei se era impressão minha, mas seus olhos brilharam
marejados.
— Não está muito rápido, doutora? — perguntou ele sem entender.
— Não, não, está tudo ótimo. Os batimentos de um bebê durante a
gestação são fortes! Ele parece ser muito aliás. — Ela sorria e passava
tranquilidade.
Explicou também o pontinho na tela que seria nosso filho. Matt
prestava atenção em tudo e fazia muitas perguntas, estava bem pior que eu de
curiosidade. Terminamos ali e seguimos para o exame de sangue, ela me
repreendeu sobre a alimentação. Tinha que me alimentar bem melhor agora e
era exatamente o que iria fazer. Matthew não perdeu a oportunidade de dizer:
“Está ouvido bem, Amy?”
Quando saímos de lá, agora me sentindo realmente mãe depois de
tudo que vi, paramos na frente do consultório, David esperava no carro e
Matt tinha o seu estacionado logo atrás.
— Claire me ligou trezentas vezes perguntando se eu tinha novidades
para contar. Pelo que presumo, ela já sabe. — Ele riu e tocou meu rosto.
— Ela descobriu de um jeito exclusivo dela. — Fechei os olhos com o
seu carinho.
— Minha mãe vai nos matar se não contarmos logo. Que tal um jantar
hoje à noite?
Ele tinha razão, Meredith queria tanto um neto que se ela sonhasse
que não foi informada iria ficar muito magoada. Agora que sabia que estava
tudo bem, era o momento. Estava radiante, agora sentia que tudo estava
entrando nos eixos, que estava se tornando real, que tudo aquilo era
verdadeiro e não fachada. Contar sobre o bebê para as pessoas próximas
estava sendo magnífico, não com receios e precisando fingir felicidade, até
porque a vida dele já era um motivo de alegria imensa.
— Sim… claro! Aliás, eu quero ajudar Ashley a voltar para casa.
— Solicitei que o investigador que me ajudou nesse caso, fosse atrás
de informações utilizando os arquivos das meninas que encontraram naquele
lugar. Ele encontrou uma cidade, vai até ela hoje fazer algumas perguntas e
só um pouco mais de tempo ele encontrará, tenho certeza!
Como ele estava sendo tão perfeito? Ou melhor, sempre foi mesmo
com seus defeitos e pudores. Do seu jeito, mas sempre foi. Olhei nos seus
olhos, estava sentindo tanta falta dos seus carinhos, toquei seu rosto e me
aproximei, selando seus lábios demoradamente. Ele tocou minha cintura
colando em seu corpo. Aquilo me fez esquecer de estarmos na frente do
consultório e me afastei com o rosto corado e vi um sorriso em seu rosto.
— Preciso voltar, tenho uma reunião chata daqui a pouco. Até mais
tarde. — Ele selou mais uma vez meus lábios e foi até seu carro.
Amy Carter
Quando ele voltou, eu estava fraca e pensei em suplicar, pedir que não
fizesse aquilo, mas sabendo o monstro que ele era, sabia que seria em vão.
Ainda mais se soubesse que estava esperando um filho de Matthew.
— Seu noivinho é bem nervoso, não é, princesa? Então vou acabar
logo com isso. — Ele se aproximou.
Pegou em meus cabelos e apontou a arma em minha cabeça, foi
quando escutei sons de tiros para todos os lados. Estava tão machucada que
poderia jurar que fui atingida. Quando senti soltar meus cabelos cai
imediatamente sem nenhum movimento, deitada ali com os olhos
semiabertos, via que os dois homens que estavam com ele caíram
machucados no chão. Dylan me pegou novamente puxando pelo braço e
ficou atrás de mim segurando meu corpo com toda a força e foi só por isso
que estava conseguindo ficar de pé, com a mão envolta do meu pescoço e a
arma em minha cabeça.
— Se aproximarem, eu a mato! Isso não será difícil para mim… eu
juro! — Muitos homens corriam em nossa direção com a arma apontada.
Matthew apareceu entre eles, eu não estava conseguindo enxergar
bem. Mas ele era a minha força, assim como nosso filho.
— Amy, ficará tudo bem!!! — falou tentando me acalmar.
— Ahh, mas não vai mesmo! — Quando ele se preparou para atirar,
um barulho forte foi ouvido.
Ele tinha sido atingido e caiu no chão me soltando. Minhas pernas
estavam moles e caí em seguida, senti algo molhar entre minhas pernas e
tinha certeza de que estava perdendo meu bebê ou até mesmo minha vida,
Matt me segurou, olhando-me e segurando meu rosto.
— Amor… olha para mim. Fica acordada, ficará tudo bem! Olha para
mim! Amy!!! — Ele tentava me manter acordada e estava muito difícil.
— Você é tão forte! Sei disso! Por favor… por favor!
Ele pedia em tom de súplica. Lágrimas rolavam em meus olhos e
sussurrei.
— Me desculpa, nosso bebê… Eu tentei tanto…
Só consegui dizer aquilo até que o peso em meus olhos foi maior e a
última coisa que ouvi foram seus gritos e vozes.
— Ela está sangrando! Não, não… — Era desesperador.
— Calma, senhor, calma! A ambulância já está aqui… todos estão…
Aquilo foi a última coisa que pude ouvir, depois o escuro e o silêncio
tomaram conta, apagando completamente.
Matthew Cleveland
Q
uando a vi cair no chão, corri o mais
rápido que pude atrás dela. Aquele
desgraçado estava caído com um tiro,
provavelmente morto por um dos
policiais antes que ele disparasse em Amy.
Segurei ela e a ouvi sussurrar pedindo desculpa. Ela deve ter lutado
tanto naquelas horas, beijei seus lábios quando ficou desacordada. Sangrava
entre as pernas e meu coração estava esmagado. Gritei como um louco e,
imediatamente, médicos e enfermeiros chegaram fazendo todo o
procedimento com ela. Não queria a largar, mas era necessário. Kevin (o
marido de minha mãe), estava lá agora é me segurou forte.
— Calma, garoto! Dará tudo certo! —Ele confortava.
Não saí do seu lado um minuto sequer, um helicóptero foi solicitado
para chegar ao hospital mais rápido. Ao chegar, me sentei ao lado da sua
maca até uma grande porta quando a enfermeira me parou.
— O senhor tem que aguardar aqui fora, pois… — Olhei para o
corredor desesperado.
— Não! É minha mulher e meu filho, eu não ficarei aqui! — Tentei
passar.
— Senhor, sei que está muito preocupado, mas confie em nós,
faremos de um tudo para sua mulher e seu filho ficarem bem! — Respirei
fundo e todos que estavam em casa entravam pelo corredor.
— Meu filho, meu Deus. Você se machucou também? Todo esse
sangue? — Minha camisa estava suja.
— Não, antes fosse eu mãe. — Ela me abraçou e eu não segurei dessa
vez. Coloquei o rosto em seu ombro e chorei feito uma criança.
— Tenhamos fé… Amy é forte e um filho de vocês dois, imagina,
ainda mais! — Mary esfregava minhas costas.
Ficamos sentados ali por horas, trouxeram comida e eu recusei. Não
queria absolutamente nada a não ser minha família bem. Um médico saiu de
lá e olhou procurando por algo.
— Parentes de Amy Carter… — Dei um pulo e me aproximei
imediatamente.
— Sim, doutor. Sou o noivo!
— Senhor, ela teve uma hemorragia devido às agressões e o esforço
físico. Conseguimos conter o deslocamento da placenta para não perder o
bebê e foi um sucesso até então. Infelizmente, é muito imprevisível,
precisamos de 48 horas para afastar a hipótese de aborto espontâneo. Ela está
medicada, deve ficar inconsciente por algumas horas. Sem fraturas, apenas
machucados superficiais. Estamos acompanhando a senhorita constantemente
— explicou e eu soltei o ar dos pulmões.
— Posso vê-la?
— Apenas um por vez por enquanto. Alguém terá que acompanhá-la,
é uma recuperação imprevisível.
Todo mundo se ofereceu para acompanhar, só que eu não ficaria
nunca longe dela. Primeiro, higienizei-me completamente e, quando entrei na
sala, ela estava lá. Parecia dormir, seu rosto estava cheio de hematomas
escuros, assim como seus braços. Por que não foi comigo aquilo? Ela nunca
mereceu nada disso. Sentei-me ali ao lado e toquei seu rosto, depois sua
barriga ainda lisa, mas cheia de amor ali dentro.
— Obrigado por ser forte como sua mãe, aguenta aí, vai! — Olhei
para seu rosto novamente — Eu te amo tanto… isso tudo acabou! Nunca
mais passará por isso — falei baixo.
Sai lá fora avisando que iria ficar com ela e Mary avisou que iria
mandar David ou Jacob trazer roupas limpas para que eu me trocasse. Uma
por uma, elas entraram a fim de passar força para Amy. Quando todas foram
embora, voltei para o quarto. Um tempo depois, peguei tudo que Jacob
trouxe, voltei para o quarto. Tomei um banho, coloquei o jeans e a camiseta
que ali estava e me sentei na poltrona confortável que tinha em frente a sua
cama. Não demorei muito para pegar no sono.
Acordei algumas vezes um pouco assustado me lembrando de Amy
ali caída e sem cor. Olhei para ela, certificando-me que todos os
equipamentos estavam funcionando normalmente e voltava para a poltrona.
Muitas horas se passaram, acho que já era de manhã quando escutei
por longe me chamarem. Abri os olhos e Amy estava de olhos abertos me
olhando. Levantei-me em um salto piscando muito os olhos para acordar de
uma vez. Ela deu um sorriso de canto e beijei sua testa.
— Bom dia, meu amor! — falei baixo.
— Como está nosso bebê? — Ela me olhou com cara de choro, eu
acariciei seus cabelos para ela se acalmar.
— Ele está bem, precisa ficar calma e relaxada para ele ficar ainda
melhor. Está se sentindo bem? — Partia o coração vê-la daquele jeito.
— Estou com dor no corpo só. Tive tanto medo! — Começou a
chorar.
Continuei com os carinhos e beijando sua testa carinhosamente.
— Isso passou! Vamos pensar em nós três agora e o quanto tudo será
perfeito. — Ela se acalmou aos poucos.
Nunca mais seria necessário ver aquele desgraçado, ele foi apagado
de uma vez por todas e eu não podia negar que aquilo foi melhor que ser
apenas preso, assim ele sumia de uma vez por todas da nossa vida e de tantas
outras que haviam sofrido.
O médico chegou na sala e fez uma avaliação nela. Até então estava
tudo bem e o procedimento estava dando certo. Havia desenvolvido uma
gravidez de risco nesses primeiros 3 meses e precisaria ter muito repouso –
absoluto – até o terceiro mês. Ao longo do dia, Amy recebeu visita de todos,
o quarto acabou ficando colorido com tantas flores que ganhou.
Quando já era noite, Ashley se ofereceu para ficar com ela, eu me
recusei milhões de vezes, mas Amy disse que minha cara estava péssima e
precisava dormir um pouco em uma cama confortável. Não discuti e fui para
casa, comi algo preparado por Mary e fui para a cama, pegando no sono,
estava exausto daqueles últimos dois dias. Por saber que ela estava melhor,
consegui descansar, mas em meus pensamentos não passava outra coisa.
Acordei cedo, tudo indicava que Amy teria alta hoje. Queria minha
mulher em casa comigo. O investigador ligou avisando que achou a família
de Ashley e queria conversar com ela para contar detalhes e planejar um
reencontro.
Quando cheguei lá, Amy já usava suas próprias roupas e estava
sentada confortavelmente na cama. Abri um sorriso ao vê-la e ela fez o
mesmo. Fui até ela dando um beijo cheio de saudade.
— Como os dois estão? — Selei seus lábios e passei a mão em sua
barriga.
— Felizes por irmos para casa! — falou animada.
Contei a Amy sobre o investigador, ela parecia ter ficado
eufórica. Esperei o médico passar todas as informações e exigências, ela
estava ouvindo e eu não iria deixar fazer nenhuma bobagem. Seguimos para
casa logo em seguida. Para a nossa casa!
Amy Carter
N
ão voltaria a trabalhar
nesses dois meses,
precisava de repouso
absoluto e faria qualquer
coisa pelo meu filho que crescia a cada dia dentro de mim. Chegando em
casa, todos estavam lá para me receber, mas logo foram embora a fim de me
deixar descansar.
Nos dias que seguiram, Ashley reencontrou sua mãe e seu filho, já
estava grande, mas nunca deixou de lembrar a ele que tinha uma mãe. Tudo
foi explicado, foi um momento muito lindo e emocionante de reencontro e
fiquei muito feliz por ela. Fazia questão que viesse em meu casamento.
Queria algo reservado e para a família, já que estava de repouso em
casa, aproveitava para me reunir com Claire. Ela trouxe cinco croquis de
vestidos desenhados, conforme a minha escolha, e Meredith me ajudava com
profissionais para escolha de decoração etc. Seria ali no jardim, queria me
sentir confortável e aquele lugar era o meu refúgio desde que saí daquele
pesadelo.
Minha família tinha se tornado todos eles, tinha tias que moravam em
lugares distantes, mas nunca foram próximas nem dos meus pais e nem de
mim. Então, iria continuar assim, antes eu era sozinha e agora tinha uma
família que eu amava muito.
Matt era tão carinhoso e cuidadoso, além de ansioso por querer saber
logo o sexo do bebê. Estava dormindo calma com ele ao meu lado, abri os
olhos e não sabia porque a mania de nosso filho ou filha em me fazer ter
desejos de madrugada. Olhei para o lado e Matt estava dormindo, levantei-me
e fui até a cozinha dar uma olhada na despensa. Estava com tanta vontade de
comer Cheetos de requeijão com iogurte, minha boca chegava a salivar. Na
despensa não tinha necessariamente o que queria. Voltei para o quarto e
toquei o ombro de Matt, que pulou assustado.
— … ham? O que aconteceu? — perguntou sonolento.
— Amor… estou com desejo — falei ansiosa.
— Ah…sim! Quer que eu vá lá embaixo, é isso? — Ele coçou o olho.
— Na verdade, já fui, não achei na despensa. Queria comer Cheetos
de requeijão com iogurte. Não tem o Cheetos. — Mordi o lábio.
— Comer isso a essa hora? Tá, eu vou. — Ele se assustou. Mas se
levantou e foi até o closet colocando uma roupa qualquer.
Fiquei esperando-o chegar. Olhava da janela a fim de ver quando o
carro iria aparecer ali. Desci até a cozinha e peguei o iogurte na geladeira, foi
quando ouvi o barulho da porta se abrir e sorrio. Tadinho! Ele apareceu com
8 pacotes de Cheetos.
— Melhor garantir! — disse com voz de sono.
Peguei o pacote e comecei a comer com muita vontade, estava
delicioso até então. Ele ficou ali me acompanhando e olhando com uma cara
estranha pela mistura que estava fazendo.
Terminei e subimos para o quarto, quando cheguei lá em cima não
consegui segurar. Corri até o banheiro e vomitei tudo que havia comido. O
desejo era bem assim, depois colocava tudo para fora. Quando estava
escovando os dentes, Matt entrou.
— Nem nasceu e já está brincando com a cara do pai! Como que pede
Cheetos três da manhã e bota para fora em 10 minutos? — fala num tom
divertido.
— Imagine quando nascer se não dormir à noite! — falei sorrindo.
Seguimos para o quarto novamente. Deitamos e eu já estava satisfeita.
Ele me abraçou e dormimos rapidamente, exaustos.
Dias se passaram e Theo estava cada vez mais ativo e grande, depois
de muita luta consegui que ele dormisse no seu horário habitual. Deitei o
pequeno em seu berço, olhei a câmera da babá eletrônica constatando estar
tudo ok e saí devagar. Quando olhei o corredor, Matt vinha com uma pasta
em mãos, o blazer na outra e seu semblante cansado, assim me aproximei do
meu marido carinhosamente, tocando seu rosto e unindo os lábios por alguns
segundos.
— Como foi seu dia, amor? — Fui carinhosa.
— Longo e cansativo longe de vocês… e Theo? Como está? — Ele
olhou a porta do quarto.
— Está dormindo como um anjo, já estou imaginando o tamanho que
ele ficará de tão guloso. — Dei risada do meu bochechudo.
— Isso é ótimo!
Seguimos para o quarto e então me aproximei abrindo os botões da
sua blusa social. Ele beijou minha testa e me olhou nos olhos, eu estava com
muitas saudades.
— O que está fazendo, senhora Cleveland? — Sua voz rouca me
arrepiou.
— Quero proporcionar um banho relaxante ao meu marido!
— provoquei.
Sabia que ele sentia tanta falta quanto eu e nós, nesse começo de
rotina como pais, não tínhamos tempo. Tirei sua camisa e ele logo a calça
junto da cueca ficando nu, aquele corpo incrível e seu pau duro já
demonstrando querer matar a saudade. Eu não ficava atrás, estava molhada e
com uma sensação de ansiedade enorme. Tirei minha roupa com facilidade,
quando ele olhou meu corpo e seus olhos brilhando com tanto desejo avançou
em minha direção, tomando meus lábios para ele e sugando forte com tanta
necessidade. Arranhei seus ombros, suguei sua língua sentindo seu gosto
maravilhoso e já sentia uma umidade enorme entre as pernas quando ele
tocou seu membro empinado, roçando, me provocando ainda mais. Ele me
encostou na parede, tocou minha intimidade, o dedo indicador no meu
clitóris, provocando, e eu estava a ponto de gozar imediatamente.
— Porra, que saudades da minha mulher! — falou com a respiração
ofegante.
— Sou sua! Sempre… — sussurrei entre seus lábios.
Era o que ele precisava naquele momento, deitou-me na cama e ficou
sobre mim, encaixando seu pau duro e delicioso em mim. Quando entrou
deslizando, me preenchendo toda, a sensação foi de um orgasmo instantâneo,
mas aproveitei o corpo do meu marido, gemendo e chamando seu nome. Ele
tinha uma expressão tão selvagem e sedenta que só de olhar me deixava ainda
mais louca de tesão.
— Goza para sua mulher, Matthew… — provoquei.
Já tinha começado a tomar o contraceptivo, filhos só mais para frente,
é claro. Queria só sentir meu homem dentro de mim, me tomando mais e
mais para ele se é que isso era possível. Ele metia com força e eu gemia como
louca com seu pau entrando fundo, trocamos olhares e aquilo foi intenso.
Gozamos juntos, ele me enchendo inteira e eu tremendo e pulsando em seu
pau, fazendo ele ofegar depois do orgasmo.
Nos abraçamos, fazendo carinho e matando toda a saudade. Tomamos
nosso banho, e claro, com mais carícias e prazer. Como que iria falar daquela
vida? Ele era mais perfeito do que eu imaginava, eu havia ganhado uma
família incrível quando não tinha mais nada, nada além de dúvidas e medos,
medo era pouco, na verdade, pavor. Ele chegou em minha vida do nada,
quando eu achava que acabaria sendo de qualquer um… fui apenas dele! Só
dele até que a morte nos separe.
Quando saímos do banho, já estávamos devidamente vestidos para
dormir quando escutei o choro de Theo para mais uma mamada e eu entendia
seus horários, afinal ele que comandava aquela casa agora. Levantei-me até o
quarto e quando cheguei no quartinho do meu filho ele chutava o berço e
colocava a mãozinha na boca faminto, era “bravinho” e ansioso. A quem
puxou? Dei um sorriso e peguei meu príncipe nos braços indo até a poltrona
para amamentá-lo. Quando estava olhando Theo sugar guloso todo seu leite,
vi Matt entrar, se encostar na porta e olhar atento. Dei um sorriso tímido em
troca e fiquei me perguntando o que se passava em sua cabeça, até que ele,
parecendo ler minha mente, fala:
— Essa é a cena mais linda da minha vida, Amy! Vocês são tudo para
mim.
— Mamãe, já estamos chegando! Só mais um pouquinho! — Alyssa
falou me guiando pela mão.
— Tem um degrau, mamãe! — Theo me ajudou cuidadoso como
sempre
Meus olhos estavam vendados, meus dois amores seguravam um em
cada mão. Theo, meu menino maravilhoso que já tinha oito anos, tão educado
e carinhoso, enchia-me de orgulho por ser tão bondoso e prestativo, parecia
muito comigo. Comunicativo, o primogênito que me fez mãe e saber o que
era um amor incondicional. Ele sempre estava conversando, fazendo novas
perguntas e impondo suas opiniões, cabelos castanhos claros e olhos azuis, eu
era suspeita para falar.
E Alyssa… O que falar da minha princesa de seis anos? Nasceu
praticamente dois anos depois de Theo. Essa, meu Deus! Igual o pai, gênio
forte, tinha uma opinião única desde tão pequena, olhos verdes exatamente
iguais ao dele, cabelos levemente dourados, ela sempre conseguia o que
queria com aquele jeito forte e fofo ao mesmo tempo. Deus parece ter me
recompensado por tudo aquilo que passei anos atrás e eu não poderia estar
mais completa e realizada como estava agora.
— Ainda não! — Alyssa ordenou.
Era meu aniversário de 30 anos, quem diria? Aos vinte e um conheci
o homem da minha vida e esses anos de casamento nunca foram
questionados. Nos amamos incondicionalmente, nossa vida era digna de
receber prêmios, pois lutamos dia após dia para que nossos filhos e nossa
família fossem sempre os únicos focos e para oferecer a eles uma base sólida
construída com muito amor.
Senti Alyssa me puxar para baixo, imaginei que ela queria que eu
ficasse igualmente com seu tamanho e, então, senti a venda ser tirada.
Quando meus olhos tomaram as cores do jardim tão colorido, uma decoração
tão linda quanto as de finais de filmes de romance. Matt estava sorrindo,
animado com a ideia da surpresa. Tinha flores por todos os lados, Claire
estava com Dominic, amigo de Matt que ela conheceu em nosso casamento,
eles já tinham uma filha chamada Mandy, de três anos, e ela era igual à mãe,
meu Deus… e como, ela só parava quando estava dormindo.
Ashley e seu então marido abriram um restaurante e tinham seu
próprio negócio, seu filho já era um rapaz e ela não conseguia engravidar ao
longo desse tempo, então eles adotaram um bebê que agora tinha seus 10
meses, chegava a lembrar dos meus pequenos, como da saudade daqueles
tempos e como passam tão rápido.
Meu marido incrível vinha em minha direção, como pode ficar cada
dia mais charmoso e delicioso? Olhei em seus olhos e abri um sorriso imenso
quando me abraçou, beijou meu pescoço e logo depois selou nossos lábios
demoradamente.
— As crianças planejaram isso tudo, conseguiram esconder direitinho
de você, amor! — Ele gargalhou.
— Vocês estavam armando por minhas costas! — falei
divertidamente.
Meredith me abraçou, desejando feliz aniversário e falando palavras
que me deixavam completamente emocionada. Mary também me abraçou
forte, as crianças a chamavam de vovó e era a mais pura verdade, pois era
uma verdadeira mãe para mim. Mandy correu até mim, a peguei no colo
enchendo de beijos.
— “Palabéns”, titia!
Ah, quanto amor estava junto àquele dia, sendo que sempre
estávamos juntos quando possível. Mesmo quando me ocupava bastante,
estava trabalhando com palestras e ajudava mulheres que sofriam de
agressões físicas ou psicológicas, a fim de fazer com que o que aconteceu
comigo, com Ashley, com muitas meninas e pior ainda, com tantas que
morrem diariamente, não aconteça ou ao menos possa salvar vidas.
Mostrando que para tudo há um caminho, elevando a autoestima e dando
oportunidade de emprego para não ficarem desesperadas a ponto de tomar
decisões ruins.
Todas temos capacidade de encontrar a direção, de procurar um dom
que floresça desde novas até com a idade avançada. Nunca é tarde para
nenhuma mulher e para ninguém independente do sexo. Havia formado uma
ONG para mulheres com diversos cursos profissionalizantes totalmente grátis
a todas, assim elas encontrariam o que se identificavam e entrariam no
mercado de trabalho.
Ashley também fazia parte desse projeto e era diretora da instituição.
Mesmo agradecendo todos os dias da minha existência por encontrar
Matthew em minha vida, sei que poderia me tornar alguém esnobe com todo
seu dinheiro e não fazer nada, mas encontrei o meu caminho ao longo desses
anos, ajudar.
•° FIM °•
LIVRO 2
O livro COMPRADA POR ELE é um tremendo sucesso, então nada
mais justo que ter uma continuação dessa linda história. Amy e Matthew
Cleveland tiveram dois lindos filhos, Alyssa e Theo. Nesse livro irão
acompanhar a belíssima história de Alyssa.
Sinopse
Alyssa Carter Cleveland é uma garota determinada, dona de si e
desinibida. Desde muito nova sonha em ser presidente da empresa da sua
família, ao contrário do seu irmão. Para isso, cursa administração em uma das
melhores faculdades de Nova York, mas é justamente lá que conhece Elliot
Spencer, o seu novo professor. Ele é um homem sedutor, inteligente e
dedicado ao seu trabalho.
Ela se vê encantada, fazendo de tudo para ter um momento com ele. O
que não esperava era que iria se apaixonar perdidamente, assim como ele,
dando início a uma história intensa, quente e apaixonante.
A primeira vista
Ah! O meu irmão Theo, cerca de dois anos mais velho que eu,
cuidava da empresa da família na ausência do meu pai. Ele foi bem adiantado
em seus estudos. Eu pedi um tempo para meu pai, apenas para ter certeza de
qual curso queria para o meu futuro e ele me deixou à vontade para escolher,
mas depois dos vinte anos entendi que seria mesmo administração, pois Theo
me aguardava para cuidar da empresa ao seu lado. Meu irmão era um pouco
mais tímido e carinhoso, eu sempre fui bem mais agitada, queria fazer muitas
coisas simultaneamente. Theo também tinha seu apartamento e, mesmo
estando com vinte quatro anos, ele era tão responsável quanto um homem
acima dos seus trinta.
“Vocês chegam aos vinte e poucos anos e pensam que sabem tudo da
vida, se cuida para não acabar adoecendo.”
Cloe estava lá como sempre, ela era minha melhor amiga há anos e
decidimos juntas fazer a faculdade, na verdade, eu a incentivei bastante e
como ela não teria como pagar, fiz meu pai mexer os “pauzinhos” com a sua
influência e conseguir uma bolsa para minha amiga. Mesmo se ele não
conseguisse, eu faria questão de pagar por ela, como de fato fazia quando era
necessário algum custo da faculdade. Como meus pais sempre falam,
dinheiro gasto com educação é o mais bem empregado, então não iria ficar
tranquila sabendo que Cloe sonhava em se formar e eu, tendo tudo que quero,
não a ajudar.
— Mike ficou a noite inteira pedindo para eu sair com ele… que eu
iria gostar e blábláblá. — Gesticulo revirando os olhos.
— Ele não cansa, não né? Nossa, mas fiquei sabendo que ele acabou a
noite com a Melany —fala baixo.
O nosso pedido já tinha chegado quando sinto Cloe tocar meu braço, a
fim de me mostrar algo, quando direciono o olhar para onde ela indicou,
observei um homem entrar na cafeteria e sentar no balcão. O homem que
estava ali era simplesmente lindo, cabelos bem penteados, barba bem feita e o
seu corpo era delicioso… quer dizer muito bonito. Era forte, mas sem
exageros, fazendo a camisa preta que usava ficar um pouco mais justa, sobre
ela uma jaqueta da mesma cor, não conseguia ver bem, mas seus olhos
pareciam ser claros. Estava atento a alguns papéis em suas mãos, tomava uma
xícara de café e eu estava hipnotizada com aquela imagem, mesmo tendo
vários homens bonitos naquele lugar, ele era charmoso.
Ele continuou atento aos papéis e quando terminou ficou de pé, eu…
como filha de Matthew Cleveland e obstinada que sou, puxo o braço de Cloe
para me acompanhar.
Mas ele ignora e sai, eu não consegui formular nada mais relevante
antes que ele se fosse. Nem tive tempo, na verdade, e aquilo me deixou
irritada. Cruzo os braços e mordo o lábio contrariada.
Se tivesse um babador para mim não seria uma má ideia, que homem
charmoso. Seu estilo era casual, diferente de alguns professores e achava isso
o máximo, mas não tinha que achar nada, aliás, ele estava ali apenas para dar
aula e eu aqui o avaliando de outra forma.
O primeiro beijo
D
epois que ele saiu, a sala
ficou inteira comentando
sobre o assunto e Cloe me
olhava surpresa com a
novidade, não podíamos comentar sobre o assunto, pois a aula continuava
logo após a saída, é claro. O que não continuava como antes eram meus
pensamentos que estavam fixos no novo professor de planejamento
estratégico. Talvez essa se tornasse a minha matéria preferida do curso.
Quando acabaram todas as aulas, saímos da sala caminhando até o
estacionamento, Cloe me acompanhava, pois iria comigo até a empresa onde
Theo nos aguardava.
— Eu poderia imaginar qualquer coisa menos que ele fosse um
professor — falava enquanto caminhávamos.
— Nem me fale, ele é um gato! — afirmo com convicção.
— Viu a cara da Melany quando ele se apresentou? Ah como ela é
irritante. — Cloe revira os olhos.
— Irritante, mas também insignificante. — Nós duas rimos.
Jacob estava aguardando no estacionamento como de costume e
entramos no carro.
— Para casa pequena? — pergunta.
Ele me chamava assim desde criança até hoje, mas não me importava,
pois tinha um carinho enorme por ele, afinal cresci com a sua presença
constante como motorista e segurança.
Afirmei que iria para a empresa e pediríamos algo para comer lá
mesmo, já que queria dar uma mão a Theo em suas funções como
administrador. Ele se formou mais cedo que eu, então meu pai aproveitou
para viver a sua eterna lua de mel junto a minha mãe, mesmo que viessem
sempre visitar e ver como estavam as coisas.
Uma hora depois, chegamos no prédio familiar. Eu tinha muito
carinho por aquele lugar, pois desde muito nova meu pai nos levava para a
empresa afirmando que tudo aquilo era nosso e deveríamos zelar. Conhecia
cada canto do prédio como uma boa criança serelepe que sempre fui, ficava
me aventurando em seus andares enquanto meu pai saia feito um louco
perguntando a todos se alguém tinha me visto.
Entrei no lugar acompanhada de Cloe, todos me conheciam e eu
entrava diretamente até o último andar onde Theo ocupava o lugar do meu
pai em sua ausência. Cheguei no corredor da cobertura e sua secretária estava
sempre prestativa me olhando passar por ela.
— Olá, senhorita Cleveland.
Eu a cumprimento educadamente e abro a porta do escritório vendo
meu irmão na cadeira antes ocupada pelo meu pai, meu irmão era lindo e eu
era suspeita para falar.
— Olá, senhor Matthew Cleveland, ops… quer dizer, Theo Cleveland
— falei bem humorada.
— Até que enfim, estava ficando louco… não vejo a hora de você
acabar essa faculdade e poder se dedicar a empresa junto comigo, é muita
coisa, falta pouco não é?! Ah! Olá, Cloe, como vai? — Ele estava agitado.
— Oi! Theo, vou muito bem — fala tímida.
Sentei na poltrona que era o lugar do meu pai e girei nela
animadamente. Nasci para aquilo e tinha certeza. Não achava nenhum
sacrifício ou obrigação, Theo gostava, mas não tanto quanto eu. Ele sempre
foi muito sonhador e gostava de pintar quadros, em seu apartamento tinha
várias pinturas que ele mesmo produziu e eu achava incrível, tinha muito
talento.
— Onde estão as pendências? — pergunto.
Agora o modo administradora estava ativado, ele abriu alguns e-mails
e espalhou folhas pela mesa me explicando que alguns números não estavam
batendo por conta da soma que ele estava fazendo, comparado a alguns
outros documentos. Pedimos comida em um restaurante que já éramos
acostumados a pedir e não demorou muito, paramos apenas para nos
alimentar. Cloe também me ajudava naquela missão.
Fiz todos os cálculos e reorganizei o que estava atrapalhando as
contas e conseguimos, enfim, bater todas as contas que estavam pendentes.
Olhei para o meu irmão, ele levanta as mãos gesticulando um alívio imediato.
— Até que enfim… ótimo, estou livre. — Ele relaxa.
Nem vi a hora passar, já estava começando a anoitecer e fiquei
surpresa, não imaginava que havia passado tanto tempo assim, estava
exausta, a única coisa que queria era chegar logo em casa e tomar um banho
relaxante.
— Que tal ir para um bar legal que conheço relaxar um pouco,
irmãzinha? Eu pago! — Ele brinca.
— Não, irmão querido, estou muito cansada. Prefiro ir para casa.
— Ah não, Alyssa, vamos, por favor… quer dizer, será legal — Cloe
insiste.
Ela tinha me ajudado também, não custava nada ir nós três aproveitar
um pouco, sendo que eu não iria voltar tarde porque amanhã tinha aula… e
que aula, estava ansiosa, queria ir amanhã relaxada e sem olheiras.
Meia hora depois, estávamos no bar que Theo indicou, ele afirmou
que ali era um lugar bastante frequentado e tinha apresentação ao vivo com
músicas atuais. Não me importei muito, pois de toda forma iria embora logo.
Entramos no lugar e escolhemos onde ficar, uma mesa no canto do bar. Cada
um fez seus pedidos e eu queria apenas um coquetel de frutas com pouco
álcool, pois não estava muito disposta, queria descansar tranquilamente ao
chegar em casa, mas também porque não era acostumada a beber muito. Cloe
pediu cerveja que ela amava e o meu irmão fez o mesmo.
Até que estava divertido, era um lugar espaçoso e com uma
iluminação agradável. A música também era boa, nós estávamos
aproveitando bastante, conversando e dando boas risadas. Então passei o
olhar pelo bar e parei de imediato quando avisto no balcão do lugar, sentado
em um dos bancos, o homem que seria o tal professor. Ele estava de costas e
cotovelos apoiados no balcão, bebendo uma dose de uísque. Prestei muita
atenção, pelo que via ele estava sozinho. Seria a minha oportunidade de
descobrir mais sobre ele. Fico de pé e, tanto Cloe quanto Theo, me olham
intrigados.
— Para onde vai? —pergunta meu irmão ao me ver ficando de pé e
arrumando a roupa.
— Só um minuto — aviso.
Se tinha uma coisa que eu valorizava eram as pessoas que corriam
atrás daquilo que sonhavam e eu sempre fui assim, como minha mãe sempre
dizia que eu era obstinada desde muito pequena, realmente, quando queria
algo, eu conseguia de um jeito ou de outro.
Fiquei de pé e caminhei em direção ao homem que estava com o
pensamento distante sentado ali. Escutei a voz de Theo me chamar, suponho
que ele não estava entendendo o que se passava, mas ignoro e sigo caminho.
Parei ao lado dele, me apoiando no balcão e ele notou a minha
presença olhando para o lado, seus olhos eram lindos, na verdade, ele inteiro
era lindo e de perto então, muito mais!
— Oi, lembra de mim? — pergunto.
Dou um sorriso gentil, pois iria tentar saber mais dele, estava
encantada. Eu sabia que, pelo fato dele ser meu professor, era proibido
qualquer tipo de aproximação afetiva, mas dane-se, eu adorava um desafio e
coisas que exigiam esforço. Ele me olhava confuso e com um sorriso
pequeno nos lábios.
— Desculpe-me… mas… — afirma.
Ele queria que eu desse mais alguns detalhes para talvez lembrar, mas
não tinha muito o que dizer, pois apenas nos esbarramos na faculdade, um
esbarrão proposital que não funcionou muito bem. Respiro fundo e dou um
meio sorriso, ele era bem sério e eu tinha uma leve impressão que os meus
esforços não iriam surtir muito efeito, então preferi desistir, pois estava
agindo de forma aleatória ao extremo
— Não, deixa… — Sorrio e me afasto.
Ele se virou para me olhar. Quando dei as costas, o homem segura em
meu braço com cuidado me impedindo de sair dali.
— Me diz, agora fiquei curioso!
Ele me olhava de um jeito que chego a arrepiar. Eu não sabia como
dar sequência no que inventei de fazer, não sabia se inventava algo para
ganhar tempo de conhecê-lo mais um pouco ou se deveria ser sincera, isso
poderia acabar afastando ele, se ele seguisse à risca as regras da faculdade.
— Esbarramos na faculdade, sei que devem ser tantas pessoas que
você nem deve lembrar. — Volto a me encostar no balcão ao seu lado.
— Como você se chama? — Ele demonstra mais interesse.
— Sou Alyssa, você é Eliot, se não me engano…. — Fiquei tímida ao
demonstrar lembrar bem do seu nome.
— Sim, esse é o meu nome. Você é aluna, Alyssa?
Naquele momento tive um plano súbito de não revelar que seria
aluna, pois isso poderia fazer com que ele se afastasse imediatamente e eu
não teria a oportunidade de me aproximar um pouco mais. Se ele não
lembrava e sua primeira aula seria apenas no dia seguinte, eu teria ao menos
um tempinho antes dele fugir das minhas tentativas de puxar assunto.
— Fui acompanhar uma amiga e te vi lá. — Uma mentirinha não faria
mal.
Ele ainda tinha um sorriso singelo nos lábios, olhou para o garçom
além do bar, sinalizando querer mais bebida. Olho para o meu irmão que
estava junto a Cloe me olhando confuso, enquanto minha amiga ficava
surpresa com a coragem que eu estava tendo.
— Está bebendo algo, Alyssa? Acompanha-me? — Ele convida.
Era tudo que eu precisava ouvir, agora, sim, estava conseguindo o que
queria. Sento-me no banco ao seu lado e peço um Dry Martíni.
— Aquele rapaz não tira os olhos de nossa direção, suponho que está
enciumado. — Ele mexe a cabeça indicando Theo logo atrás.
Sim, meu irmão era bastante ciumento. Desde pequeno tinha um
cuidado exagerado comigo. Quando crescemos, foi uma luta para ele
conseguir entender que eu não era mais aquela garotinha que brincava com
ele, mas uma mulher, também afirmando que se relacionar com seja quem for
era o mais normal que poderia acontecer.
— Ele é meu irmão, sabe como é… — Reviro os olhos.
— Não, eu não sei… sou filho único. — Ele ri e eu fico com
vergonha.
— De onde você é, Eliot? — pergunto bastante empolgava pela
conversa — Desculpa a pergunta evasiva, mas realmente fiquei muito curiosa
em conhecer um pouco mais de você.
Sim, eu iria começar um jogo de sedução, pois sabia que não tinha
tempo a perder, pois quando descobrisse que sou sua aluna, sem dúvidas, iria
me tratar de outra forma. Quando falei isso, olhei em seus olhos e vi sua
expressão mudar, ele engole seco e dá sorriso tímido dando um gole enorme
no whisky, como ele era fofo com vergonha.
— Sou de Austin, Texas! Você conhece? — Ele sorri ao falar.
— Sim! Já fui até lá com meus pais… Aqueles lagos são
maravilhosos, a música no Texas parece ter um… toque diferente. Gostei
muito! — respondo eufórica.
Nesse momento vejo Theo se aproximando e reviro os olhos, lá vem!
Quando eu estava conseguindo uma conversa descontraída, ele aparece do
nada, com certeza, para atrapalhar.
— Vamos, Aly… — Ele é direto.
— Pode ir, deixa a Cloe na casa dela que ficarei mais um pouco —
falo olhando para Eliot.
Ele, muito educado que já era de se notar, oferece a mão para Theo se
apresentando cordialmente. Meu irmão o encarava, mas retribui o gesto com
educação.
— E como você irá embora? — insiste.
— Ligo para Jacob. Não esquenta, Theo. — Encaro irritada o meu
irmão.
Penso que o professor estava me achando uma pirralha agora porque o
meu irmão estava em cima com seu jeito autoritário como se eu tivesse dez
anos, a forma que o olhei já avisava estar sendo inconveniente e ele parece ter
notado. Olhou nos dois uma última vez e deu as costas, seguindo para onde
Cloe já o aguardava e acenou para mim, dando um “tchauzinho”.
— Seu irmão é bem cuidadoso. — Ele sorri dando mais um gole na
bebida.
— E como, chega a ser exagerado. — Reviro os olhos.
Passamos cerca de uma hora conversando e era incrível como
conseguimos fluir diversos assuntos, ele falou mais sobre sua vida e a cidade
natal. Eu também falei sobre a minha, mas superficialmente, pois assim ele
ainda não iria saber que, na verdade, era aluna dele e não conseguia imaginar
nem a sua cara quando me visse na sala amanhã. Mesmo tendo a impressão
que ele tinha me notado mais cedo, acredito que não passava de uma má
impressão.
— Tenho que ir, passei o dia inteiro fora e estou exausta — informo
procurando meu celular na bolsa.
— Se você não julgar que sou um sequestrador ou algo do tipo, posso
lhe deixar em casa, sem problema algum. — Ele abre aquele sorriso perfeito.
— Claro, por mim tudo bem — falei animada.
Não poderia ser melhor, assim ficaria mais um tempo apreciando a
sua companhia agradável. Estava completamente encantada com seu sorriso e
o quanto ele era educado e comunicativo.
Saímos do bar – e ele fez questão de pagar todos os drinks tomados –
em direção ao estacionamento e encontramos seu carro, não era um
automóvel tão luxuoso, mas também não era simples demais. Um carro bom
e confortável.
Eu sabia que um professor de universidade ganhava muito bem, o que
tornava diferente é que eu tinha um pai milionário e cresci ao redor disso
tudo. Ele abre a porta educadamente e eu sento no banco do mesmo. Indiquei
que seguisse para Upper East Side, era onde eu morava e o bairro mais
conhecido por abrigar famílias ricas e tradicionais de Nova York. Ele me olha
e fica surpreso, pois sabia que aquela área era uma das mais caras, mas
ignoro, pois aquilo para mim era completamente normal.
Quando chegamos no endereço, havia um enorme prédio residencial
espelhado e imponente. Ele dá a volta no carro e abre a porta, eu desço logo
em seguida, agradecendo a gentileza. Ele para a minha frente, coloca as mãos
nos bolsos com aquele sorriso singelo. Não podia negar que estivesse muito
tentada a beijar aquela boca que chamava minha atenção o tempo inteiro, os
drinks que havia tomado talvez seriam o suficiente para usar como desculpa
pela coragem de uma iniciativa.
— Está devidamente entregue, segura. Sem sequestro ou qualquer
coisa do tipo — fala bem-humorado.
— Então tenho que lhe agradecer. — Olhei em seus olhos.
— Não precis…
Não deixei nem ao menos ele terminar e me aproximo colando os
lábios nos dele, tocando sua nuca e puxando-o mais para mim. Ele ficou
surpreso e demorou alguns segundos para se entregar, mas quando fez isso
foi delicioso. Seu gosto era maravilhoso e seus lábios macios. Colei meu
corpo no seu e ele me segurava pela cintura, com sua outra mão na minha
nunca entre meus cabelos. Eu estava arrepiada e com muita vontade de mais e
mais. Por mim, chamaria ele para subir e terminarmos o que começamos, mas
ele parou o beijo ainda sem se afastar. Sentia a sua respiração em meu rosto e
seus olhos me encaravam e notei que ele estava desejando o mesmo que eu.
— Tenho que ir — afirma quase não sussurro.
— É uma pena, tem mesmo que ir? — Mordo seu lábio inferior
provocando.
— Não faz isso, Alyssa — sussurra.
Voltamos a nos beijar, quanto mais sentia seus lábios, mas eu queria
que subisse comigo, estava excitada, nunca imaginei sentir tanto desejo assim
por alguém. Tive o meu namorado a algum tempo, mas não era nada
comparado ao desejo que sentia naquele momento. A voz, o toque, o seu
gosto, tudo era perfeito.
Ele para o beijo novamente e eu o olho se afastar dessa vez, estava
corado e realmente senti a temperatura subir do mesmo jeito. Nossos lábios
deveriam estar vermelhos, pois foi um beijo sedento.
— Tenho mesmo que ir. — Ele sorri.
Eliot passa a mão em sua barba bem feita parecendo contrariado.
Agora eu não queria nem imaginar quando ele descobrisse que era sua aluna
e iria ficar com vontade de concluir o que começamos.
— Então boa noite, Eliot. — Retribuo o sorriso.
— Boa noite, Alyssa. — Caminha até o carro.
Eu olho mais uma vez enquanto ele se senta ali, logo dá a partida.
Suspiro tentando me recompor para entrar no apartamento e assim fiz,
seguindo para a entrada do prédio pensando: ai meu Deus, que homem!
Renata Costa