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Os Sete Potros

Traduzido por: Melissa Querido Batista

Era uma vez um pobre casal que morava em uma cabana miserável em um bosque
longe de tudo e de todos. Eles viviam com dificuldade e o dinheiro nunca sobrava,
às vezes nem bastava. Eles tinham três filhos, e o mais novo deles era chamado
Cinzeiro, pois ele não fazia outra coisa além de mentir e bisbilhotar entre os cinzas.

Um dia, o filho mais velho disse que iria embora para ganhar a vida sozinho;
ele logo conseguiu permissão para fazer isso foi encontrar seu caminho pelo mundo.
Ele caminhou sem parar durante o dia todo, e quando a noite estava começando a
cair, ele chegou a um palácio real. O Rei estava parado do lado de fora na escada e
perguntou para onde ele estava indo.

— Oh, estou procurando um lugar para ficar, meu senhor. — Disse o jovem.

— Queres me servir e cuidar dos meus sete potros? — Perguntou o Rei. —


Se você puder vigiá-los por um dia inteiro e me dizer à noite o que eles comem e
bebem, você terá a Princesa e metade do meu reino, mas se não puder, lhe
chicotearei três vezes nas costas.

O jovem achou que era um trabalho fácil cuidar dos potros e que ele poderia
fazer isso muito bem.

Na manhã seguinte, quando o dia estava começando a raiar, o Mestre


Cavalariço do Rei soltou os sete potros. Eles fugiram e o jovem foi atrás deles, se
arriscando muitas vezes por cima de colinas e vales, através de pântanos e nas
extremidades dos bosques. Passado o tempo, o jovem já havia corrido demais e
começou a ficar cansado, então ele aguentou um pouco mais, porém ficou tão
fatigado que não conseguia nem assistir. Neste mesmo momento chegou a uma
fenda em uma rocha onde uma velha mulher estava sentada girando com a roca na
mão.

Assim que avistou o jovem, que corria atrás dos potros com suor a escorrer
pelo rosto, ela gritou:
—Venha aqui, venha aqui, meu lindo rapaz, e deixe-me pentear seu cabelo.

O rapaz precisava do descanso, então ele se sentou na fenda da rocha ao


lado da velha senhora e deitou sua cabeça nos joelhos dela. Ela penteou seu cabelo
o resto do dia enquanto ele estava deitado e se entregou à ociosidade.

Quando a noite se aproximava, o jovem quis ir embora.

— É melhor voltar direto para casa. — Disse ele. — Pois não há motivo para
ir até ao palácio do Rei.

— Espere até anoitecer. — Disse a mulher. — Os potros do Rei passarão por


este lugar novamente e você poderá voltar ao castelo com eles. Ninguém jamais
saberá que você ficou deitado aqui o dia todo em vez de observar os potros.

Então quando os potros chegaram ela deu ao rapaz um cantil com água e um
pouco de musgo, e disse-lhe para mostrar isso ao Rei e dizer que foi isso que seus
sete potros comeram e beberam.

— Vigiaste com excelência e diligência o dia todo? — Disse o Rei quando o


jovem apareceu à noite.

— Sim, vigiei! — Disse o menino.

— Então podes me dizer o que meus sete potros comem e bebem. — Disse o
Rei.

Então o jovem pegou cantil e o pedaço de musgo que a senhora lhe havia
dado e disse:

— Aqui está o que comem e aqui está o que bebem.

Assim o Rei soube como sua vigilância havia sido feita e ficou tão irado que
de imediato ordenou a seu povo que perseguisse o jovem de volta para sua casa.
Mas primeiro eles deveriam chicotear três vezes suas costas e espalhar sal nela.
Quando o jovem voltou para casa, qualquer um pode imaginar o estado de
espírito em que ele estava. Ele havia saído uma vez em busca de um lugar para
morar, mas nunca mais tentaria tal coisa novamente.

No dia seguinte, o segundo filho disse que seria sua vez de sair pelo mundo
em busca de fortuna. Seu pai e sua mãe negaram e pediram-lhe que cuidasse das
costas do irmão mais velho, mas o jovem não desistiu de suas ideias e se manteve
firme quanto a seus desejos. Depois de muito, muito tempo ele conseguiu permissão
para partir e seguiu seu caminho. Após de ter caminhado o dia todo ele também foi
ao palácio do Rei, que estava parado do lado de fora na escada e perguntou para
onde ele estava indo. Quando o jovem respondeu que estava procurando um lugar
para ficar o Rei disse que ele poderia servi-lo e vigiar seus sete potros. O Rei então
propôs a ele o mesmo castigo e prêmio que havia prometido a seu irmão.

O jovem concordou imediatamente com a proposta e começou a servir o Rei,


pois ele achava que poderia facilmente vigiar os potros e informar ao Rei o que
comiam e bebiam.

Com a clara luz da alvorada, o Mestre Cavalariço soltou os sete potros, que
subiram novamente as colinas e vales. O rapaz correu atrás deles, mas aconteceu
com ele tudo o que havia acontecido com seu irmão. Depois de correr atrás dos
potros por muito, muito tempo e de sentir calor e cansaço, ele passou por uma fenda
em uma rocha onde uma velha senhora estava sentada girando com uma roca e ela
o chamou:

— Venha aqui, venha aqui, meu lindo rapaz, e deixe-me pentear seu cabelo.

O jovem gostou da ideia, deixou os potros correrem para onde quisessem e


sentou-se na fenda da rocha ao lado da senhora. Então lá ele se sentou com a
cabeça no colo dela, aproveitando o dia descansando.

Os potros voltaram à noite, e então ele também pegou da velha mulher um


pouco de musgo e um cantil com água, que deveria mostrar ao Rei. Mas quando o
Rei perguntou ao jovem: — Podes tu me dizer o que meus sete potros comem e
bebem? — e o jovem mostrou-lhe o pedaço de musgo e o cantil com água e disse:
— Sim, aqui está o que comem e aqui está o que bebem. O Rei mais uma vez ficou
furioso e ordenou que o rapaz fosse chicoteado três vezes, que sal fosse espalhado
sobre suas costas e que ele fosse então perseguido de volta para sua própria casa.
Quando o jovem voltou para casa, ele também contou tudo o que havia acontecido
com ele, que havia saído em busca de um lugar para morar uma vez, mas que não
tentaria novamente.

No terceiro dia, Cinzeiro queria partir. Dizia que tinha o desejo de tentar vigiar
os sete potros ele mesmo.

Seus dois irmãos riram e zombaram dele. — Se tudo deu errado conosco, por
que acha que vai conseguir? Você que é tão bem-sucedido que nunca fez outra
coisa a não ser mentir e fuçar entre as cinzas! — Disseram eles.

— Sim, eu também irei. — Disse Cinzeiro. — Pois estou decidido.

Os dois irmãos riram dele, seus pais imploraram para que não fosse, mas de
nada adiantou, e Cinzeiro partiu. Então, depois de caminhar o dia todo, ele também
foi ao palácio do Rei quando a escuridão começou a cair.

E lá estava o Rei do lado de fora, nos degraus. Ele perguntou para onde
Cinzeiro estava indo.

— Estou caminhando em busca de um lugar para ficar. — respondeu o


menino.

— De onde vem rapaz? — Perguntou o rei, pois a essa altura ele queria saber
um pouco mais sobre os candidatos antes de colocar qualquer um deles a seu
serviço.

Então Cinzeiro disse a ele de onde havia vindo e que era irmão dos dois que
cuidaram dos sete potros para o Rei, então ele perguntou se poderia tentar vigiá-los
no dia seguinte.

— Deviam ter vergonha! — Disse o Rei, que se enfurecia até de pensar neles.
— Se tu és irmão daqueles dois, tu também não serves para nada. Já estou farto de
tais indivíduos.
— Bem, como caminhei até aqui, poderia apenas me conceder uma tentativa.
— Disse Cinzeiro.

— Ora, muito bem. Se estás absolutamente determinado a ter as costas


esfoladas, podes fazer o que preferir. — Disse o Rei.

— Ao invés das costas esfoladas, prefiro ter a princesa. — Disse Cinzeiro.

Na manhã seguinte, com a clara luz da alvorada, o Mestre Cavalariço soltou


os sete potros novamente, eles partiram pela colina e pelo vale, através de bosques
e pântanos, e Cinzeiro foi atrás deles. Depois de correr assim por muito tempo, ele
também chegou até a fenda na rocha. Lá a velha mulher estava mais uma vez
sentada girando de sua roca, ela chamou Cinzeiro:

— Venha aqui, venha aqui, meu lindo rapaz, e deixe-me pentear seu cabelo.

— Venha para cá então, venha até mim! — Disse Cinzeiro ao passar pulando
e correndo, segurando com força a cauda de um dos potros.

Depois de atravessar com segurança a fenda na rocha, o potro mais novo


disse:

— Suba nas minhas costas, pois ainda temos um longo caminho a percorrer.
— E assim fez o rapaz.

E com isso eles seguiram em frente por um longo, longo caminho.

— Vês alguma coisa agora? — Disse o Potro.

— Não. — Disse Cinzeiro.

E então seguiram em frente um pouco mais longe.

— Vês alguma coisa agora? — Perguntou o Potro.

— Ainda não. — Disse o rapaz.


Quando eles haviam percorrido um longo, longo caminho, o Potro perguntou
novamente:

— Vês alguma coisa agora?

— Sim, agora vejo algo que é branco. — Disse Cinzeiro. — Parece o tronco
de uma grande árvore de bétula.

— Sim, é para lá que devemos ir. — Disse o Potro.

Quando eles chegaram ao tronco da árvore, o potro mais velho quebrou-o de


um lado, e então eles viram uma porta onde a casca estivera. Atrás da porta havia
uma pequena sala, não havia quase nada além de uma pequena lareira e alguns
bancos dentro, no entanto atrás da porta pendia uma grande espada enferrujada e
um pequeno jarro.

— Consegues empunhar esta espada? — Perguntou o Potro.

Cinzeiro tentou, porém não conseguiu. Ele tomou então um gole do líquido no
jarro, depois outro, e depois disso ainda outro, e após isso foi capaz de empunhar a
espada com extrema facilidade.

— Bom. — Disse o Potro. — Agora deves levar a espada contigo, com ela
cortarás as cabeças de todos os sete de nós no dia do teu casamento e então nos
tornaremos príncipes novamente como éramos antes de um poderoso Troll ter
lançado um feitiço sobre nós. Pois somos irmãos da Princesa de quem terá a mão
quando contar ao Rei o que comemos e bebemos. Depois de cortar nossas
cabeças, você deve tomar o máximo de cuidado para colocar cada cabeça na cauda
do corpo ao qual pertencia antes, e então o feitiço que o Troll lançou sobre nós
perderá todo o seu poder.

Cinzeiro prometeu fazer isso e eles continuaram seu caminho.

Quando eles haviam cavalgado muito, muito longe, o Potro disse:

— Vês alguma coisa?


— Não. — disse Cinzeiro.

Então eles prosseguiram por mais algum tempo.

— E agora? — Perguntou o Potro. — Não vês nada agora?

— Ai de mim! Não vejo. — Disse Cinzeiro.

Eles continuaram viajando por muitos e muitos quilômetros, por cima de


colinas e vales.

— Agora então. — Disse o Potro. — Não vês nada agora?

— Sim! — Disse Cinzeiro. — Agora vejo algo parecido com uma faixa azulada
muito, muito longe.

— Aquilo é um rio. — Disse o Potro — E precisamos cruzá-lo.

Havia uma ponte longa e formosa sobre o rio e, quando chegaram ao outro
lado dela, cavalgaram ainda mais por um longo, longo caminho, e então mais uma
vez o Potro perguntou se Cinzeiro via alguma coisa. Ele respondeu que sim, desta
vez ele viu algo que parecia preto muito, muito longe, similar a uma torre de igreja.

— Sim. — Disse o Potro — Iremos entrar lá.

Quando os Potros entraram no cemitério se transformaram em homens e


pareciam filhos de um rei. Suas roupas eram tão magníficas que brilhavam com
esplendor. Eles entraram na igreja e receberam pão e vinho do padre que estava de
pé diante do altar, e Cinzeiro entrou também. Porém quando o padre pôs as mãos
sobre os príncipes e leu sua bênção, eles saíram da igreja. Cinzeiro saiu atrás deles,
mas levou consigo uma garrafa de vinho e um pouco de pão consagrado. Assim que
os sete príncipes voltaram para o cemitério da igreja, se tornaram potros novamente.
Cinzeiro montou nas costas do mais novo e eles voltaram pelo caminho por onde
vieram, só que foram muito, muito mais rápido.

Primeiro eles passaram pela ponte, depois pelo tronco da bétula e depois pela
velha senhora que estava sentada na fenda da rocha girando sua roca. Passaram
tão rápido que Cinzeiro não conseguiu ouvir o que a velha mulher gritara atrás ele,
mas ouviu o suficiente para entender que ela estava extremamente enfurecida.

Já estava escuro quando eles voltaram até o Rei ao anoitecer, e ele próprio
estava parado no pátio esperando por eles.

— Vigiaste com excelência e diligência o dia todo? — Disse o Rei para


Cinzeiro.

— Fiz o meu melhor. — Respondeu Cinzeiro.

— Então podes me dizer o que meus sete potros comem e bebem? —


Perguntou o Rei.

Então Cinzeiro pegou o pão consagrado e a garrafa de vinho e os mostrou ao


Rei. — Aqui está sua comida e aqui a sua bebida. — Disse ele.

— Sim, tu vigias com diligência e honestidade. — Disse o Rei. — Por isso


terás a Princesa e metade do reino.

Então, tudo estava pronto para o casamento e o Rei disse que seria tão
majestoso e magnífico que todos ouviriam falar dele todos indagariam a respeito.

Porém quando eles se sentaram para a festa de casamento, o noivo levantou-


se e desceu até o estábulo, pois disse que havia esquecido algo que deveria ir
buscar. Quando ele chegou lá, fez o que os potros lhe ordenaram e cortou as
cabeças de todos os sete. Primeiro o mais velho, depois o segundo e assim por
diante de acordo com sua idade, ele foi extremamente cuidadoso em colocar cada
cabeça na cauda do potro a que pertencia, e quando isso foi feito, todos os potros se
tornaram príncipes novamente. Quando voltou para a festa de casamento com os
sete príncipes, o Rei ficou tão feliz que abraçou e beijou Cinzeiro, e sua noiva ficou
ainda mais encantada com ele do que antes.

— Metade do meu reino já é teu. — Disse o Rei. — E a outra metade será tua
após a minha morte, pois meus filhos podem obter países e reinos para si agora que
se tornaram príncipes novamente. — Portanto, como todos bem podem imaginar,
houve alegria e felicidade naquele casamento.

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