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Análise de Conjuntura

18 de julho de 2021

Guerra na Ucrânia: quando a falar é a realidade.

A guerra na Ucrânia já não tem a mesma cobertura que a mídia oferecia no início do
conflito. As falas dos comentaristas passam longe de delinear os erros estratégicos da Rússia
que permitiam projetar o fim próximo das hostilidades. Os discursos dos chefes de Estado e de
governo perderam o brilho e a veemência com a qual afirmavam que as sanções econômicas
colocariam Putin de joelhos.

Dia após dia, a ênfase com a qual a Europa propunha a desconexão do abastecimento de
petróleo e gás russos cedeu o lugar a falas preocupadas quanto aos custos deste processo e à
impossibilidade de garantir reservas suficientes para enfrentar o próximo inverno. Pouco a pouco,
a realidade corrói o biombo de palavras e certezas que a encobria, projeta um horizonte onde a
guerra continuará marcando a conjuntura dos próximos meses e traz a perspectiva tenebrosa de
uma crise econômica mundial em 2023.

Dando continuidade às reflexões divulgadas no dia 12 de maio1, resgataremos a seguir os


principais passos dos dois últimos meses do conflito. Trataremos da admissão da Finlândia e da
Suécia à OTAN, da política estadunidense, dos planos de autonomia energética da União
Européia, do abastecimento mundial de alimentos, da realidade econômica de Rússia e China. 2

Esperamos que este esforço ajude a esboçar suas próprias reflexões sobre
acontecimentos, a analisar cada item da conta que o capital apresenta à classe trabalhadora e,
sobretudo, a pensar os caminhos pelos quais esta mesma classe precisa ampliar o alcance de
suas lutas para não se perder no jogo de interesses que cerca o presente e o futuro do conflito.

1. Finlândia e Suécia: sair da neutralidade não é começar do zero.

Muitas pessoas ficaram surpresas com a demanda de adesão à Organização do Atlântico


Norte (OTAN) que Finlândia e Suécia entregaram em meados de maio. Para elas, a histórica
neutralidade que levou os dois países a décadas de paz estaria cedendo o lugar a uma fase em
que o centro das preocupações é a preparação para a guerra. O espanto é fruto do entendimento
pelo qual assumir a neutralidade seria sinônimo de ausência de estruturas militares para
desempenharem um papel defensivo e de dissuasão diante das ameaças vindas do exterior. Mas,
como veremos a seguir, a realidade é bem diferente do que as pessoas comuns imaginam.

Em primeiro lugar, é importante resgatar que, no caso da Finlândia, a neutralidade surgiu


em 1948 como condição de paz imposta pela antiga União Soviética (URSS) e foi recebida por
Helsinque como uma forma pragmática de assegurar a independência do país. Esta postura foi
mantida até o colapso da URSS, em 1990, quando a Finlândia passou a procurar os EUA para
fortalecer suas forças armadas e, dois anos depois, comprou 64 aviões de combate de fabricação
estadunidense.

Vale lembrar que, ao adquirir equipamentos militares de um país estrangeiro, o governo


local assina contratos que preveem anos de colaboração tanto no que diz respeito às atividades
de treinamento de suas forças armadas, à aquisição de peças e serviços de manutenção, como
de assessoria militar a fim de modernizar e aprimorar o uso das máquinas de guerra.

Em 1994, a Finlândia deu mais um passo em direção ao fim da neutralidade ao se tornar


parceira da OTAN, participando desde então de várias ações e treinamentos conjuntos da Aliança
Atlântica. No ano seguinte, os governos de Estocolmo e Helsinque aderiram à União Européia e,
como todos os países membros, passaram a ter os direitos e as obrigações das nações do bloco
no campo da defesa militar.

Em termos de preparação para a guerra, a Finlândia, que tem uma população de 5 milhões
e meio de habitantes, conta com um exército de 280.000 soldados e 900.000 reservistas, tropas
treinadas para o combate no Ártico e cada homem entre os 18 e os 60 anos é elegível para o
serviço militar. Além disso, desde o início dos anos 80, o governo de Helsinque começou a
construir uma extensa rede de refúgios subterrâneos nos quais a população pode se proteger em
caso de invasão militar, ataques nucleares ou em qualquer situação de emergência.

Para termos uma ideia do que isso significa, basta pensar que na capital do país existem
5.500 destes refúgios com capacidade para abrigar quase um milhão de pessoas (30% a mais em
relação ao número de moradores de Helsinque), todos eles equipados com sistemas de filtragem
de ar, água potável e comida para garantir a sobrevivência de seus ocupantes durante um longo
período de tempo.

Antes de pedir formalmente a sua adesão a OTAN, o governo finlandês já gastava 2% do


PIB em armamentos, a mesma porcentagem estabelecida pelas regras da Organização Atlântica
e, a partir de junho deste ano, vai investir uma quantia adicional para construir muros e cercas
nos pontos mais sensíveis dos 1300 km de sua fronteira com a Rússia.

No dia 13 de maio, Moscou respondeu ao pedido de adesão da Finlândia à OTAN cortando


o fornecimento de gás e de eletricidade. O abastecimento russo cobria apenas 10% das
necessidades do país. Além de as reservas de gás existentes terem uma duração estimada entre
2 e 3 meses, em setembro, Helsinque deve inaugurar uma nova central nuclear cuja energia
compensará com sobras a que era gerada com o abastecimento russo.

A neutralidade da Suécia percorreu caminhos diferentes. Ser um país neutro evitou que
Hitler invadisse o seu território que, ao sair incólume dos bombardeios que arrasaram as nações
europeias, fez com que Estocolmo tivesse as condições de que precisava para usar a
reconstrução do segundo pós-guerra para expandir fortemente as atividades econômicas da
Suécia.

Entre 1960 e 1990, o país usou a sua neutralidade para servir de mediador internacional e
aliado de países em desenvolvimento, chegando a tecer fortes críticas tanto à antiga URSS,
como aos EUA. Com o fim da Guerra Fria, Estocolmo reduziu o tamanho de suas forças armadas
e mudou a prioridade de ação delas de "defesa do território" para "integrantes de missões de paz
convocadas pela ONU". Neste período, a sua indústria armamentista exportou artefatos bélicos a
vários países que não estavam em guerra, entre eles a Turquia que só teve o fornecimento
suspenso em 2019 ao se envolver diretamente na guerra da Síria.

Concretamente, ser um país neutro demandava que a Suécia se mantivesse fiel a três
posições: não fornecer armas a países em conflito; atuar como promotor e mediador de ações
voltadas ao desarmamento nuclear; usar seus soldados para a estabilização da ordem social de
um país a pedido das Nações Unidas.

A postura oficial em relação à guerra começou a mudar em 2014, quando a Rússia anexou
a Criméia. O serviço militar voltou a ser obrigatório e os gastos com a defesa subiram. A
preocupação com possíveis agressões externas cresceu em 2018 e levou o exército a distribuir
panfletos que orientavam as famílias quanto ao que fazer em caso de conflito (algo que não
ocorria desde 1991). Enquanto isso, o Ministério da Defesa elevava as capacidades defensivas
de lugares estratégicos, como é o caso da Ilha de Gotland, no Mar Báltico.

A posição estratégica de Gotland transforma este território num posto avançado de defesa
contra o lançamento de mísseis vindos do enclave russo de Kaliningrado (situado a 300 km de
Gotland), da Bielorrússia e da própria Rússia. Por outro lado, o fato de estar geograficamente
situado na rota dos navios mercantes, dos submarinos nucleares e das embarcações militares de
Moscou no Mar Báltico aumenta as possibilidades ofensivas das instalações posicionadas na Ilha.
Figura 1: localização geográfica da Ilha de Gotland

Para termos uma ideia da importância deste território em caso de conflito, basta pensar
que, durante a Guerra Fria, quando a Suécia zelava por sua neutralidade, Gotland chegou a
receber 25.000 soldados, uma média de quase um militar para cada dois habitantes. Controlar
Gotland era dominar o espaço aéreo e marítimo do sul do Báltico, e isso oferecia uma vantagem
estratégica considerável.

É com este mesmo objetivo que Estocolmo acelera os novos investimentos em


equipamentos bélicos, alojamento de tropas, sistemas de defesa avançados, instalações para
garantir água, energia, combustíveis, remédios, alimentação e abrigo para os moradores da ilha
em caso de conflito. Enfim, algo que deve consumir uma parte razoável dos 11 a 12 bilhões de
euros em gastos militares adicionais que a Suécia deve desembolsar para atingir o patamar
mínimo determinado pela OTAN.

Com a entrada dos dois países nórdicos, a Organização Atlântica vai contar com uma
posição privilegiada a partir da qual pode defender melhor alguns de seus aliados (como Estônia,
Letônia e Lituânia), ao mesmo tempo em que o Mar Báltico vai se transformar numa espécie de
"Lagoa da OTAN". De fato, dos cerca de 8.000 km da costa do Báltico, 7.800 pertencem a países
que integram a Aliança Atlântica (Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, Alemanha, Dinamarca,
Suécia e Finlândia) enquanto a Rússia conserva apenas os 200 km restantes.

Sabendo disso, as primeiras respostas de Moscou não demoraram a aparecer. O espaço


aéreo de Gotland já foi violado várias vezes desde que o governo de Estocolmo apresentou o
pedido de adesão à OTAN e aviões de guerra eletrônica da Rússia (que diminuem a eficácia dos
sistemas de rádio e de radar) passaram a rondar sistematicamente os céus desta região.

Diante do desenrolar dos acontecimentos, as preocupações dos moradores dos dois


países quanto ao fim da neutralidade giram em torno de uma única pergunta: ser membro da
OTAN vai tornar Suécia e Finlândia mais seguras?

De um lado, a maioria acredita que o guarda-chuva nuclear da Aliança Atlântica aumentará


o poder de dissuasão das duas nações em relação a um possível ataque da Rússia. De outro,
uma minoria expressiva prevê que o armamento atômico com o qual a OTAN equipa os territórios
dos seus aliados levará a uma corrida armamentista que tornará os dois países bem menos
seguros do que eram antes da invasão da Ucrânia.

E não é para menos. Além da promessa de responder à altura de cada ameaça a


segurança da Rússia, formulada por Putin no final de junho, segundo o Instituto para a Abolição
das Armas Nucleares (ICAN, pela sigla em inglês), as potências que contam com ogivas atômicas
estão aumentando os gastos para modernizar seus arsenais e produzir novos artefatos. Só em
2021, os dispêndios deste item do orçamento bélico aumentaram 9% em relação a 2020
(perfazendo um total de 82 bilhões e 400 milhões de dólares) e tendem a acelerar.

Os EUA ocupam um lugar de destaque com 44 bilhões e 200 milhões (12,7% a mais ante
2020). Na segunda posição, encontramos a China com 11 bilhões e 700 milhões de dólares
(10,4% a mais ante 2020). Na terceira, temos a Rússia com 8 bilhões e 600 milhões de dólares,
seguida pelo Reino Unido com 6 bilhões e 800 milhões de dólares. Ao que tudo indica, o rufar dos
tambores da guerra anuncia tempos cada vez mais difíceis para a paz.

Mas não é só isso que a realidade traz à tona com seu caminhar. No encontro que a OTAN
realizou em Madri entre os dias 28 e 30 de junho, as pressões estadunidenses conseguiram dois
feitos importantes. De um lado, forçaram uma negociação que levou a Turquia a aceitar Suécia e
Finlândia como membros da Organização Atlântica. Os problemas que pareciam insolúveis em
meados de maio foram pragmaticamente resolvidos com um memorando de entendimento. Nele,
os países nórdicos se comprometem a intensificar o ritmo das extradições dos separatistas
curdos solicitadas pela Turquia e cooperarão com Ancara na luta contra as forças que defendem
a independência do Curdistão por meio de ações terroristas; os governos dos dois países se
comprometem também a alterar a legislação a fim de endurecer o tratamento a ser dispensado a
supostos militantes curdos e a Suécia retomará as exportações de armas para a Turquia.

De outro, a Organização do Atlântico Norte conseguiu um avanço inusitado na relação com


a União Europeia. Além de acelerar e justificar o processo de admissão de Suécia e Finlândia, de
admitir Áustria, Bósnia-Herzegovina, Kosovo e Irlanda como sócios externos, a OTAN saiu da
cúpula de Madri arrastando o velho continente para o embate geoestratégico dos Estados Unidos
com Rússia e China.

Ao apontar a Rússia como "ameaça direta" e a China como "desafio sistêmico à aliança
euro-atlântica", a OTAN puxa a Europa para uma posição de crescente rivalidade com Moscou e
com o gigante asiático. O problema é que a dependência da UE em relação à China tem o
tamanho dos quase 700 bilhões de euros anuais em comércio exterior cuja perda produziria
estragos consideráveis nas duas economias. Politicamente, com a China aliada da Rússia e se
recusando a cumprir qualquer papel de mediação que possa levar ao fim das hostilidades, a UE
terá dificuldades em assumir uma posição menos agressiva nas relações com Pequim da que foi
acertada conjuntamente na cúpula da OTAN.

Do ponto de vista militar, os países europeus terão que apertar seus orçamentos para
destinarem o máximo de recursos possíveis ao rearmamento. Para termos uma ideia da situação
atual, basta pensar que, entre 1999 e 2021, o gasto conjunto em defesa da UE aumentou apenas
19,7% ante 65,7% dos EUA, 292% da Rússia e 592% da China. Mas fazer isso é sinônimo de
elevar os déficits públicos e os impostos e de deteriorar ainda mais os serviços públicos, algo que
promete colocar lenha na fogueira do descontentamento.

2. EUA: prontos para uma guerra sem prazo para terminar.

A invasão da Ucrânia não permitiu apenas a expansão da OTAN, mas justificou aos olhos
do mundo uma postura mais agressiva contra a Rússia, a Coreia do Norte e a China, e leva à
busca de uma maior integração de Japão, Coreia do Sul, Nova Zelândia e Austrália à estratégia
militar dos EUA na região do Pacífico.

Em sua visita oficial a Tóquio e Seul, iniciada no dia 20 de maio, o Presidente dos EUA Joe
Biden não tratou apenas da guerra na Ucrânia e da contenção do programa nuclear norte-
coreano, mas também da intensificação das exercitações militares conjuntas, dos projetos que
visam aumentar o comércio e a colaboração dos países asiáticos com Washington, da
necessidade de o Japão alterar o artigo da Constituição pelo qual "o povo japonês renuncia para
sempre à guerra como direito soberano da nação e à ameaça e ao uso da força como meio de
solução em disputas internacionais", uma posição que, apesar das "releituras" introduzidas nas
duas últimas décadas, ainda impede que o país possa aderir aos planos bélicos dos EUA na
região.
Nunca é demais lembrar que a necessidade de consolidar a hegemonia estadunidense
mundo afora envolve também a estruturação de cadeias de suprimentos e manufaturados que
excluam a China. Este desafio demanda elevar as expectativas de cada país em relação aos
possíveis ganhos da parceria com Washington a fim de que o governo promova as mudanças
internas para que isso se realize. Para Biden, trata-se de costurar acordos e entendimentos para
garantir que a economia estadunidense tenha acesso ao que precisa enquanto os governos
locais se embrenham num jogo de possibilidades que eleva a dependência de suas economias
das compras dos EUA e faz com que Washington possa sustentar um diálogo mais duro com a
China sem correr o risco de sofrer algum tipo de boicote.

Em termos estritamente militares, os acontecimentos e as declarações que acompanharam


a viagem de Biden sinalizam a adoção de atitudes mais agressivas em relação à Pyongyang.
Depois do encontro, o recém-eleito presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-Yeol, confirmou que o
seu país está a um passo de entrar numa era em que não basta ter força suficiente para dissuadir
o vizinho do Norte e que Seul vai contar com a "implantação oportuna de ativos estratégicos".
Trocado em miúdos, ele está se referindo a mísseis, lançadores móveis, radares e demais
equipamentos bélicos que elevam o poder ofensivo da Coreia do Sul...e que nada impede
venham a ser usados para melhor responder as opões militares da China.

Entre as demonstrações do endurecimento em relação à Coréia do Norte, resgatamos o


fato de que, no dia 6 de junho, durante os exercícios militares conjuntos, a Coreia do Sul e os
EUA lançaram nove mísseis nas proximidades da fronteira entre os dois países em resposta aos
três foguetes disparados por Pyongyang no dia anterior. Um recado mais do que claro de que
Seul e Washington não titubearão em usar seu poder de fogo a qualquer momento de crise que a
Coreia do Norte vier a provocar.

Em sua viagem à Ásia, Biden também não perdeu a chance de reafirmar a promessa de
defender militarmente Taiwan de qualquer ataque da China e comparou a possibilidade de
Pequim usar a força contra a ilha à invasão da Ucrânia pela Rússia. Não é a primeira vez que os
EUA assumem esta posição que vai bem além do conteúdo da Lei de Relações com Taiwan, de
1979, pela qual Washington garante que a Ilha tenha recursos bélicos para se defender de
qualquer mudança unilateral de status imposta pela China, mas não diz que os EUA agirão
militarmente para defendê-la de uma eventual invasão chinesa. Resta saber se esse “arroubo de
retórica” é um dos passos essenciais para alterar internamente o que é definido pela norma
vigente.

Prolongar a guerra na Ucrânia guarda também uma relação direta com fortes motivos de
natureza política e econômica. Quanto maior a duração das hostilidades, maior a destruição e, de
consequência, maiores as chances de negócios que gerem lucros fartos com a reconstrução do
país. É interessante reparar que, enquanto os combates não davam trégua, no dia 4 de julho, em
Lugano, na Suíça, os representantes de 38 países, EUA incluídos, participaram da Conferência
sobre a Recuperação da Ucrânia.

Promovido pela União Européia, o encontro apresentou a ideia de Bruxelas mapear as


necessidades de investimentos do pós-guerra e coordenar as ações de países, instituições do
setor privado, sociedade civil e organizações internacionais na tarefa de reconstruir o que foi
destruído. No encontro, o Banco Europeu de Investimento, que trata dos empréstimos da UE às
nações do bloco, colocou na mesa um financiamento de até 100 bilhões de euros, uma quantia
expressiva para convencer instituições e governos a participarem do negócio.

Ninguém esconde que a Europa tem vários interesses nesta reconstrução que é anunciada
como uma espécie de Plano Marshall para a Ucrânia. O problema é que, a exemplo dos
empréstimos concedidos após o fim da Segunda Guerra Mundial, ninguém dá nada de graça. Ou
seja, trata-se de dinheiro entregue mediante a aceitação de uma lista de obrigações que, a cada
obra realizada, amarra o futuro político e econômico do país a dívidas e interesses que hipotecam
o destino da população. Por isso, quanto mais escombros precisarem ser removidos, mais lucros
jorrarão nos cofres das empresas privadas, mais aumentarão os juros que Kiev terá que pagar e
maior será a camisa de força em que as próprias dívidas amarrarão o país.

Internamente, os EUA estão longe de viver num mar de rosas. O sucesso inesperado da
OTAN e a melhora das condições que fortalecem a hegemonia estadunidense são ofuscados por
problemas diários que diminuem consideravelmente os índices de aprovação de Joe Biden.

O maior deles é, sem dúvida, o aumento dos preços que, nos doze meses até junho de
2022, registrou uma elevação de 9,1%. A perspectiva de maiores altas da inflação até o final do
ano e o risco de a economia entrar em recessão caso o Banco Central acelere a elevação das
taxas de juros estão dando vida a um debate que mostra como não será fácil eliminar a
importância da China para a economia estadunidense. Para ajudar a conter o descontentamento
causado pela queda do poder de compra, o governo pensa seriamente em remover as tarifas
impostas às exportações chinesas por Donald Trump. A medida ajudaria a reduzir os preços dos
insumos necessários à economia estadunidense, traria manufaturados bem mais baratos,
ajudando a conter o custo de vida.

Por ironia da história, Biden está diante de um divisor de água politicamente perigoso para
o seu partido: remover as tarifas de importação para diminuir a inflação, reduziria o
descontentamento interno, mas acabaria enfraquecendo a produção de alguns setores da
economia norte-americana e ajudando o PIB da China a crescer; manter as coisas como estão,
conservaria a vantagem da indústria estadunidense no mercado local, adiaria o controle da
inflação, mas deterioraria ainda mais a popularidade do presidente democrata cujo governo,
segundo as pesquisas de opinião, tem a aprovação de 39% dos entrevistados e uma rejeição de
52%.

Tanto Biden como o Partido Democrata temem que a perda do poder de compra das
famílias, causada por uma inflação que não para de crescer, e o temor da recessão no horizonte
de 2023 coloquem em risco o desempenho eleitoral do partido no dia 8 de novembro, quando a
população irá às urnas para renovar uma parte da Câmara dos Deputados e do Senado. Caso os
Democratas percam espaço, o atual presidente dos EUA terá dificuldades ainda maiores para
governar e dificilmente marcará a sua gestão com realizações que tornam competitiva a sua
candidatura à reeleição.

É interessante reparar que a elevação da inflação não é uma surpresa de mau gosto que a
chegada de 2022 colocou sobre a mesa do governo. De fato, o ano de 2021 se encerrou com um
aumento dos preços de 7% em função dos problemas nas redes de suprimentos mundiais, da alta
do petróleo e do forte encarecimento dos fretes marítimos e terrestres. O Banco Central dos EUA
acreditava que o índice cairia à medida que o comércio mundial e a extração de petróleo
voltariam aos patamares anteriores à pandemia. Só não contava que, em 2022, a invasão da
Ucrânia ampliaria os problemas que alimentavam o encarecimento do custo de vida.

As preocupações do lado empresarial percorrem caminhos opostos. Enquanto, em 2021, o


aumento do PIB, os cortes de salários e benefícios promovidos pelos patrões se uniam à
possibilidade de repassar aos produtos parte da elevação dos preços, as 500 maiores empresas
dos EUA somaram o lucro recorde de um trilhão e 800 bilhões de dólares (580 bilhões de dólares
a mais em relação a 2019), um resultado que elevou o preço das ações muito acima do que seria
lógico esperar. O problema é que a guerra na Ucrânia e seus reflexos na economia mundial não
só reduziram as perspectivas de crescimento em 2022 e projetam uma recessão em 2023, como
estão levando a classe trabalhadora a um clima de agitação cujas pressões podem reduzir os
ganhos antes conseguidos com o arrocho salarial.

Manter as margens de lucros em patamares próximos aos de 2021 com uma economia
que tende a esfriar e o consumo das famílias perdendo terreno pela queda do poder de compra
dos salários, é algo impossível tendo como base a defasagem de 3,7% entre a inflação
acumulada e o reajuste médio dos salários nos doze meses até março de 2022, segundo o último
dado disponível no momento. A perspectiva de uma queda da lucratividade está tirando o sono
dos operadores das Bolsas de Valores, à medida que para as empresas valorizarem o capital
acumulado em 2021, precisariam aprofundar bem mais o peso da exploração. Prova disso é que,
entre o final do ano passado e o início de junho de 2022, as ações que integram o índice S&P 500
perderam cerca de 7 trilhões de dólares em valor mercado.

Nunca é demais lembrar que a agitação do mundo das finanças deve ser separada e
analisada com critérios bem diferentes da que cresce entre os assalariados. Enquanto os
mercados pressionam para que o governo sinalize como e quanto ajudará na tarefa de manter os
lucros em patamares satisfatórios, o peso da inflação no bolso dos trabalhadores assusta ao ver
que o descontentamento está ajudando a classe a superar o medo de se organizar. Para nós,
esta é uma ótima notícia, ainda mais quando os primeiros passos da ação sindical também
marcam presença em ambientes nos quais, até antes da pandemia, parecia simplesmente
impossível que ela viesse a se estruturar. Alguns exemplos ajudam a delinear este movimento.

Após inúmeras tentativas infrutíferas, os funcionários de um centro de distribuição da


Amazon em State Island, estado de Nova Iorque, venceram o bloqueio da companhia e montaram
sua primeira organização no seio de um dos gigantes do comércio eletrônico mundial. A pequena
vitória se tornou um símbolo nacional da capacidade de resistência dos trabalhadores e sua
importância foi involuntariamente sublinhada pelo próprio Jeff Bezos que demitiu todos os chefes
do centro por sua incapacidade de abortar a primeira criação de um sindicato nas unidades
estadunidenses da Amazon.

Seguindo a mesma trilha, e pela primeira vez na história da empresa, 65 dos 100
trabalhadores de uma loja da Apple na cidade de Towson, no Estado de Maryland, aderiram ao
sindicato, passando a exigir medidas de segurança, a cobrar mudanças na política salarial e nos
horários de trabalho.

Enquanto isso, após criar o primeiro núcleo sindical em duas das 8.000 cafeterias da rede
Starbucks, em dezembro de 2021, os comitês de trabalhadores ampliaram sua presença em
dezenas de outras. Este pequeno passo mostra sua relevância não apenas em função da
represália da empresa, que chegou a fechar uma das lojas onde o sindicato nasceu, mas pelo
fato de mostrar que o descontentamento chegou também no setor de lanchonetes, bares e
restaurantes onde apenas 1,2% dos trabalhadores estão associados a um sindicato.

Sim, sabemos que os empresários ainda vão dar muito trabalho. Contudo, não deixa de ser
animador ver trabalhadores e trabalhadoras recuperarem a coragem de lutar depois de 25 de
anos de silêncios e amarguras em corporações cujas políticas pareciam ter blindado as empresas
contra qualquer possibilidade de ação sindical. A piora nas condições de vida e um futuro que
projeta mais angústias do que esperanças começam a destruir o medo de enfrentar os patrões e
deterioram a aversão a qualquer ideia de luta coletiva...o que é uma ótima notícia.

3. A União Européia...nua diante da realidade.

Quem ouviu os discursos inflamados dos chefes de Estado e de governo sobre a


necessidade de a Europa se desconectar dos suprimentos de petróleo e gás da Rússia imaginou
se tratar de algo bem mais fácil do que a realidade revela. O problema é que entre as palavras
que contavam as maravilhas e as possibilidades das energias renováveis usada na substituição
dos combustíveis fósseis de Moscou e o que é necessário para a economia não sofrer
sobressaltos atendimento há uma subida lastreada por tarefas cuja execução demanda anos de
trabalho.

Os primeiro desafio deitava raízes na geografia de alguns países do bloco. Sem acesso ao
mar, Hungria, República Tcheca, Eslováquia e Áustria, que hoje recebem os hidrocarbonetos
russos através de oleodutos e gasodutos, simplesmente não podem depender de navios-tanques
para alimentarem suas reservas. Alemanha e Polônia têm acesso ao mar, mas parte considerável
dos derivados utilizados em suas economias vem de refinarias preparadas exclusivamente para
processar o tipo de petróleo vendido por Moscou. Aumentar as estruturas de refino para
assegurar combustíveis e derivados para a indústria química é um processo que, na melhor das
hipóteses, demanda cerca de dois anos. Se isso não bastasse, no mundo inteiro, não há gás
suficiente para substituir o que hoje chega dos campos da Sibéria e parte dos novos
investimentos do setor é controlada pela companhia russa Gazprom. Aumentar a extração de gás
para atender a demanda da UE não é um bicho de sete cabeças, mas depende de investimentos
cuja maturação não demorará menos de 18 meses.

No momento em que escrevemos, o objetivo imediato das nações europeias é chegar em


outubro com os reservatórios de gás a 80% de sua capacidade máxima a fim de minorar os
sacrifícios que virão com a chegada do inverno.

A situação mais confortável é a da Dinamarca que, apesar do corte no abastecimento, tem


reservas para os próximos cinco meses. França, Alemanha e Itália, assistem a uma redução de
30% na entrega de gás depois que seus chanceleres prometeram a Kiev ajuda militar até o fim
das hostilidades e, entre eles, a Alemanha está com o coração na mão à medida que a Gazprom
parou completamente a entrega de gás pelo gasoduto Nord Stream 1 a fim de realizar os serviços
de manutenção que costumam ser feito durante o verão europeu e ninguém sabe se voltará a
utilizá-lo em setembro, quando estes trabalhos terminarem. No fundo, nenhuma das nações da
UE sabe se Moscou manterá as atuais entregas de gás até o final do ano e todas imaginam o
tamanho da encrenca que deverão enfrentar quando o frio chegar.

O plano Repower United Europe (Reenergizar a Europa, numa tradução livre), que visa
cortar a dependência da Rússia no abastecimento de petróleo e gás, já está em andamento. Vale
lembrar que investimentos previstos em fontes renováveis e no aumento da extração nas nações
produtoras alcançará as quantidades suficientes para se desconectar da Rússia apenas em 2030.
Serão oito longos anos de espera, enquanto Moscou lida com as entregas seguindo o ditado
"Nossos produtos, nossas regras!".

No papel, o plano é simplesmente genial, define prazos com a precisão cirúrgica de quem
sabe onde cortar e enxertar, as possibilidades oferecidas pelas fontes de energias renováveis,
conta com o parecer de especialistas, é apresentado com a ênfase que a retórica dos políticos
sabe dar, faz tesouro das promessas de investimento em várias regiões do mundo, mas nenhum
governo se atreve a responder às perguntas simples e diretas que qualquer cidadão se faz neste
momento: terei gás para a calefação da minha casa a partir de novembro, quando as baixas
temperaturas demandam que as moradias sejam aquecidas? À medida que ninguém sabe quanto
gás os russos continuarão entregando, o que acontecerá quando as reservas atuais acabarem?
Diante da indisponibilidade do produto, o governo privilegiará as indústrias ou se preocupará em
assegurar primeiro o bem-estar da população? Ou será que, movido pela escassez, o ulterior
aumento das tarifas deixará muitas famílias sem recursos para a calefação?

Não é segredo para ninguém que o presente traz em si uma perspectiva de forte redução
do crescimento do PIB e uma inflação difícil de vencer apesar do esfriamento da demanda geral
da economia. Elevar os juros para combater a alta anual dos preços que, na zona euro, fechou o
mês de junho em 8,6%, provocará uma ulterior desaceleração da economia do bloco, reduzindo o
emprego e a renda dos trabalhadores. Tentar conter a inflação com tímidos aumentos dos juros
na casa dos 0,25% a cada reunião do Banco Central Europeu significa correr o risco de um
descontrole à medida que a alta dos preços de hoje alimenta reajustes que, ao tentar proteger os
lucros diante das expectativas de novos aumentos, criam uma espiral inflacionária sem fim.

Ao ocupar o sofrido lugar entre o prego e o martelo, os trabalhadores de vários países já


começaram a se mobilizar. Ninguém melhor do que eles sabe que os discursos assépticos dos
economistas de plantão sobre as causas da inflação escondem que patrões e governos farão de
tudo para conter a elevação dos salários, apontando-os entre os responsáveis das novas altas
que se preparam. Mostrar que a classe não está disposta a apertar o cinto para pagar a conta da
invasão da Ucrânia é o primeiro passo da marcha que precisa deter a guerra e impedir que os
planos da OTAN se tornem o motivo em volta do qual o capital prepara uma rodada de submissão
dos trabalhadores semelhante à que conhecemos durante os anos da Guerra Fria.
No momento em que escrevemos, não faltam elementos que, ao alimentar o
descontentamento, corroem o aparente consenso construído em volta da necessidade de
expulsar a Rússia das fronteiras ucranianas. Do racionamento dos óleos à elevação dos preços
dos alimentos que, além do encarecimento dos custos de transporte, enfrenta as temperaturas
extremas de um verão sem chuvas; da conta de energia aos preços dos combustíveis e dos
produtos industrializados, a impressão é que, enquanto a guerra perdurar, a economia de cada
país tende a se comportar como um avião sobre o qual os pilotos perdem progressivamente o
controle na mesma proporção em que a recessão pinta o horizonte de 2023.

Para termos uma ideia das tensões que crescem no interior dos países europeus, vamos
apresentar alguns dados da Alemanha. Em maio deste ano, a alimentação estava 19,2% mais
cara em relação ao mesmo mês de 2021, os preços da energia haviam subido 87,1% na mesma
base de comparação e os produtos industriais encareceram, em média, 33,6%.

Sentindo a gravidade do momento, o primeiro ministro alemão Olaf Sholz antecipou a sua
promessa de campanha de aumentar o salário mínimo para 12 euros por hora, medida que
beneficia cerca de 6 milhões de trabalhadores. A elevação de quase 15%, que vigorará a partir de
outubro, incidirá sobre o valor/hora de 2015, ano em que o salário mínimo foi criado, e recuperará
apenas as perdas inflacionárias acumuladas até maio de 2022. Ainda que bem-vindo, o alívio
trazido por esta medida às famílias de baixa renda tende a se desgastar na exata medida em que,
novas altas dos preços se somam aos sacrifícios do desemprego e à redução da renda trazida
pela crise.

Com a piora do cenário econômico e diante da ausência de saídas em curto prazo, novos
elementos desagregadores devem marcar as relações entre as pessoas. Por exemplo, a
convivência com os refugiados de guerra, que até o momento foi respeitosa e receptiva, pode
ganhar o gosto amargo da rejeição. Segundo dados da ACNUR (a agência da ONU que trata
desta questão), entre o início das hostilidades e o mês de junho, cerca de 6 milhões e meio de
pessoas procuraram abrigo nos países vizinhos. A Rússia recebeu 920.000 refugiados; a
Bielorrússia 27.000; a Polônia 3.506.000; a Romênia 961.000; a Alemanha 700.000; a Hungria
644.000; a Moldávia 471.000; e a Eslováquia 442.000.

Enquanto Putin tinha todo o interesse em conceder a cidadania russa sem restrições a
todos eles, a UE outorgou a permissão de permanecer e trabalhar nos países membros por até 3
anos, com direito a assistência social, acesso à moradia, tratamento médico e escola. Em tempos
de crescimento econômico consistente, a disputa de uma vaga no mercado de trabalho por parte
destas pessoas não costuma despertar graves reações adversas. Mas quando isso ocorre numa
recessão em que empregos e salários são cortados, a concorrência dos refugiados tende a fazer
com que a convivência com eles seja bem menos tranquila.

Este processo se soma aos aumentos do déficit público de cada país em função tanto da
ajuda bélica e humanitária proporcionada ao governo de Kiev, como para oferecer acomodação e
serviços sociais a quem foge da guerra. Não é segredo para ninguém que os buracos nos cofres
públicos levarão, de imediato, a uma piora dos serviços oferecidos, e, em seguida, por um
aumento dos impostos, possibilidades que, na atual conjuntura, deixam as populações de cabelos
em pé.

Sob a pressão da incerteza e das contas a pagar, a maioria dos europeus apoia um
cessar-fogo que ponha fim ao conflito, ainda que a Ucrânia tenha que ceder à Rússia parte dos
territórios ocupados. Difícil dizer qual a chance real que esta postura tem de se transformar em
movimento que questiona tanto a continuidade da guerra, como a adesão de cada país europeu à
estratégia da OTAN. Contudo, é bastante animador ver que há cada vez mais pessoas dizendo
que as posições oficiais não representam o pensamento da população.

4. A comida tá cara...culpa da Rússia?

Com a guerra preste a completar o quinto mês de duração, apontar a Rússia como direta
responsável pelo encarecimento dos preços dos alimentos já é parte do senso comum. Ninguém
duvida que, ao tornar indisponíveis os produtos agrícolas ucranianos e ao encarecer os preços
dos combustíveis, o custo da comida tenha alcançado patamares inesperados e contribua para
elevar em 345 milhões o número dos seres humanos em situações de grave insegurança
alimentar.

Mas há uma pergunta incômoda que ninguém quer responder: se não tivesse ocorrido a
invasão da Ucrânia, teríamos uma alimentação farta e barata?

A invasão russa fez com que, de uma hora para outra, os elementos que mantêm em
situação de penúria enormes contingentes populacionais simplesmente desaparecessem como
causas da fome de quase um bilhão de seres humanos. Aqui no Brasil, os mesmos comentaristas
que se delongam ao tratar do aumento médio de 67% dos óleos vegetais na América Latina já
esqueceram que, em 2020, o preço ao consumidor final do "nosso" óleo de soja registrou uma
alta de 103% e, ao levar muitas pessoas a procurarem alternativas, acabou fazendo disparar os
preços de todos os óleos vegetais. Gozado como ninguém lembra que isso ocorreu à medida que
exportar soja era mais rentável do que vendê-la internamente e que, em nome dos lucros, os
ruralistas brasileiros não titubearam em estrangular as famílias de baixa renda criando uma
escassez que permitia cobrar em reais os valores correspondentes aos que ganhariam em
dólares. Por que esta "guerra" dos capitães do agronegócio já foi esquecida? Foi por ser parte de
uma guerra que mata muitos sem disparar um único tiro? Por que, este aumento exorbitante num
país que é um dos maiores produtores de soja não ganhou as manchetes internacionais, apesar
de ser fruto de contradições gritantes?

Citamos a nossa realidade a fim de mostrar que a produção de alimentos não visa a
satisfação da fome, mas aproveita a necessidade de os seres humanos se alimentarem para
produzir lucros. Para que isso ocorra, é necessário manter uma relação bastante apertada entre
oferta e demanda, uma postura que, em tempos de mudanças climáticas, faz a humanidade
correr permanentemente no fio da navalha.

Foi exatamente isso que o mundo conheceu em 2021, quando os preços da comida
vinham sinalizando altas expressivas. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação
Mundial (FAO) emitiu vários comunicados mensais anunciando seguidos recordes no preço
médio de sua cesta de alimentos3 e estimando que o contingente humano que passava fome
todos os dias havia subido para 811 milhões de pessoas no final do ano passado. Em janeiro de
2022, a FAO confirmava que, no ano anterior, o custo da sua cesta havia aumentado 28,1% o
índice mais alto dos últimos 10 anos.

Curiosamente, nela se destacavam os preços dos óleos vegetais com uma elevação média
de 65,8% em relação a 2020; do milho, com 44,1%; e do trigo com 31,3%. A invasão da Ucrânia
ainda demoraria um mês e meio para se tornar realidade, mas a FAO já apontava uma situação
de escassez ainda mais grave em função dos problemas climáticos e das condições estruturais
em que os alimentos são produzidos.

Ninguém precisa ser um especialista para entender que plantar os alimentos destinados a
matar a fome do povo em porcentagens reduzidas de terreno agrícola de um país faz com que
baste pouco para criar uma situação de escassez que faz os preços subirem. Ou seja, bem antes
da guerra na Ucrânia, os estragos provocados pelas mudanças climáticas e pela política de
produção do agronegócio no mundo inteiro, por si só, reuniam condições suficientes para forçar
um número crescente de pessoas a apertarem os cintos. Por que nada disso é levado em
consideração nas análises atuais?

E tem mais.

De acordo com as estimativas do governo da Ucrânia, em junho deste ano, 80% das terras
agrícolas do país continuavam nas mãos dos seus proprietários que já haviam comprado todos os
insumos necessários para plantar a próxima safra. Mas, à medida que as colheitas armazenadas
não podiam ser exportadas, os preços dos grãos haviam caído pela metade em função do
excesso de oferta e não haveria onde guardar o resultado das próximas colheitas.

Com Kiev tendo minado as águas do Mar Negro e afundado vários navios em lugares
estratégicos para impedir que a frota russa se aproximasse do litoral do país entre a Criméia e a
Romênia, utilizar navios para levar os produtos agrícolas aos mercados externos, como ocorria
antes da guerra, foi uma opção que, desde o início, se mostrou extremamente arriscada. De fato,
retirar as minas de superfície para criar um corredor marítimo minimamente seguro abriria à
marinha de guerra russa a chance de ocupar os portos ainda em mãos ucranianas. Restava
então a opção do transporte rodoviário e ferroviário até algum porto europeu cujas instalações
permitissem o embarque de grãos.

Contudo, enquanto a fome aumentava nos países compradores, a burocracia da União


Europeia criava filas de caminhões de até 25 km de cumprimento nas passagens de fronteiras a
fim de desencorajava a circulação das cargas pelo seu território. E não é para menos. Com as
colheitas de verão dos países membros sendo processadas no mesmo período, nenhum
governante se atreveria a reduzir os armazéns a elas destinados e nem a ver os preços no
atacado caírem além do esperado por abrigar o trigo e o milho ucranianos.

Usar a ferrovia foi apresentado como algo ainda mais complicado, à medida que a bitola
ucraniana é maior que a dos países da UE e, entre burocracia e motivo técnicos, o tempo médio
para transferir a carga de um vagão para outro levaria entre 16 e 30 dias. Gozado...usar vagões
ferroviários para levar armas dos países europeus às frentes de batalha é uma operação que não
sofre atrasos...mas usar o trem para alimentar os pobres do mundo precisa superar obstáculos
que crescem à medida que culpar a Rússia pela alta dos preços dos alimentos desgasta a sua
imagem no cenário mundial.

Á medida que os portos de Polônia e Romênia não estão equipados para lidar com
grandes quantidades de grãos, aceitar a proposta do presidente de Belarus, Alexander
Lukashenko, que colocou a estrutura rodoviária do país à disposição para que as cargas de
cereais e oleaginosas fossem levadas a um dos portos do Báltico onde isso poderia ser feito, se
apresentava como uma opção razoável. Mas o problema aqui não estava na viabilidade técnica e
sim no fato de o país solicitar, em troca, o fim das sanções à exportação das mercadorias que
produz, em especial, os fertilizantes potássicos, aguardados por muitas nações que dependem
deles para extrair da terra os alimentos de que suas populações precisam. O silêncio foi a
resposta que Lukashenko recebeu.

Se a questão central era abastecer o mundo com os produtos ucranianos a fim de reduzir a
quantidade de pessoas em situação de insegurança alimentar, por que nada foi feito para resolver
os problemas logísticos que impediam de viabilizar esta possibilidade? Assegurar os lucros dos
agricultores da UE e manter a pressão da mídia sobre a Rússia é mais importante do que ajudar
a matar a fome das pessoas mundo afora?

Seguindo em nossas reflexões, lembramos que, em meados de maio, o governo da Índia


proibiu a exportação de trigo. Esta decisão foi tomada diante da quebra da safra do cereal devido
às temperaturas que, em algumas regiões produtoras, atingiram os 50 graus. No início de
fevereiro, o governo de Nova Deli esperava colher nada menos do que 111 milhões e 320 mil
toneladas de trigo, mas a forte onda de calor que varreu o país reduziu as estimativas para 105
milhões, número que pode cair ainda mais caso o clima não ajude.

Mesmo sem exportar um único quilo deste cereal, a quebra de safra elevou em 24,1% os
preços do produto na Índia e teve um efeito imediato na alta das cotações do mercado mundial.
Mas, estranhamente, poucos falaram disso e, menos ainda, foram aqueles que apontaram a seca
nos países europeus e no oeste dos EUA como fatores determinantes na redução das colheitas e
na consequente elevação dos preços dos alimentos.

O mais curioso é que, muitas vezes, nem São Pedro nem Putin podem ser
responsabilizados pelo encarecimento do cardápio das famílias. Vejamos, por exemplo, o que
aconteceu nos Estados Unidos a partir do final de 2021 quando os proprietários das granjas
começaram a sacrificar pintinhos e a abater prematuramente frangos, perus, marrecos e patos.

Insignificante no mês de novembro de 2021, quando a tonelada de milho era cotada a 567
dólares, a matança dos pintinhos ganhou corpo em meados de fevereiro de 2022, com o preço
médio da tonelada a 640 dólares. No mês seguinte, a cotação a 725 dólares elevou o sacrifício
dos animais na casa dos milhões de unidades e as coisas pioraram ainda mais em maio quando
o preço do milho chegou a 813 dólares a tonelada.

Aparentemente, a evolução dos preços do milho de novembro em diante parecem dar


razão a quem aponta a guerra na Ucrânia como causa de tudo. Desta forma, tanto a mídia,
quanto o agronegócio, conseguem ocultar facilmente três elementos sem os quais esta variação
dos preços seria bem mais comedida: 1. O fato de, nos EUA, parte considerável desta produção
agrícola ser utilizada para fabricar etanol; 2. Que o período de dezembro a maio é de entressafra
e, de consequência, os preços tendem a subir por motivos sazonais; 3. Em 2022, a escassez de
chuvas em muitas regiões produtoras do país já trabalhava com a perspectiva da diminuição das
colheitas, com reflexos negativos nos estoques mundiais do produto. Ou seja, o preço da
tonelada de milho acabaria revelando uma tendência de alta superior à que costuma registrar
independentemente dos efeitos da guerra no mercado mundial.

Mas...que mal pergunte...sacrificar pintinhos e abater prematuramente as aves que estão


sendo criadas nas granjas...não aumenta o preço deste tipo de carne?

Exatamente. Este é justamente o objetivo dos donos dos aviários que, com esta prática,
provocam uma escassez artificial das carnes de aves para forçar uma elevação dos seus preços
capaz de compensar o aumento dos gastos de produção e oferecer lucros bem mais polpudos
com as vendas aos consumidores. Sabendo que, nos EUA, nos 12 meses até junho, o preço
médio das carnes e dos ovos aumentou 11,7%, perguntamos: quanto desse índice corresponde,
de fato, aos efeitos negativos da guerra no abastecimento mundial?4 Quantos pontos percentuais
podem ser atribuídos à elevação do custo da ração por problemas climáticos? Na variação anual
do preço das carnes no varejo, quanto reflete as ações do agronegócio no sentido de elevar
artificialmente as margens de lucro?

Dos Estados Unidos, vamos agora para a África.

O aumento das pessoas em situação de grave insegurança alimentar no continente


africano é sempre citado nos noticiários que vinculam a fome à guerra. Não precisamos ser
economistas para entender que a situação de uma população que tinha problemas de acesso à
comida pode transitar rapidamente para a falta de alimentos à medida diante de qualquer
acontecimento conjuntural.

Mas por que basta pouco para milhões de africanos passarem fome? A resposta a esta
pergunta deve ser procurada no processo de expropriação da terra para que os investimentos dos
grandes conglomerados internacionais nas áreas da mineração, extração de petróleo e da
produção agrícolas destinada à exportação pudessem se realizar. Ano após ano, um crescente
número de famílias expulsas das terras que lavravam, impedidas de pescar e criar animais para o
seu sustento engrossaram o número de desempregados e ampliaram as favelas que cercam as
cidades do continente.

As promessas de emprego e renda dos projetos empresariais instalados nas áreas que
eram do povo sempre geraram desequilíbrios enormes entre o número de vagas criadas e o das
pessoas privadas das fontes tradicionais de sustento. A ideia de ganhar dólares com as
exportações para importar mais comida que convenceu a quase totalidade dos governantes
sempre se deparou com a realidade pela qual quem está desempregado simplesmente não tem
dinheiro para comprar o que é vendido nas lojas. Ou seja, as supostas fontes de progresso e
elevação da renda no continente africano sempre alimentaram, de um lado, a concentração da
riqueza nas mãos de poucos e, de outro, o número de pessoas que vivem ao Deus dará bem
antes da invasão da Ucrânia.5

Claro que as dificuldades de abastecimento trazidas pela guerra pioram o que já estava
muito ruim. A nova alta dos preços reduz as quantidades de alimentos que um país pode comprar
e, de consequência, encolhe ainda mais o número de pessoas que têm acesso a elas. Mas desde
bem antes do conflito, a situação da população africana na base da pirâmide social se deteriorava
a olhos vistos.

Se isso não bastasse, a implantação dos projetos das multinacionais demanda que os
Estados se endividem para construir ferrovias, estradas, portos, aeroportos, centrais elétricas etc.
destinadas ao seu funcionamento. À medida que os governos dos países africanos precisam
emprestar dinheiro junto aos bancos internacionais para construir a infraestrutura necessária, o
endividamento público cresce e consome parte significativa do orçamento do Estado. Desta
forma, sobram ainda menos recursos para qualquer tipo de gasto social, o que inclui, obviamente,
a possibilidade de socorrer a população que passa fome.

Na primeira metade de maio deste ano, o Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (UNDP) emitiu um alerta segundo o qual o endividamento dos países africanos
estava estrangulando a capacidade de seus governos oferecerem ao povo o pouco com o qual
contava no período anterior. Segundo a UNDP, em 2014, em média, a dívida pública do
continente representava 35% do seu PIB. Graças aos mecanismos que descrevemos, no primeiro
trimestre de 2022, ela chegou, em média, a 60% do PIB da África.

As consequências desta elevação constam do próprio documento da ONU: em 2010, o


pagamento dos juros consumia, em média, 5% do orçamento dos países africanos; em janeiro
deste ano, esta conta demandava mais que o triplo dos recursos orçamentários anteriores ao
atingir a marca dos 16%. Com menos dinheiro disponível, os gastos sociais foram despencando
em todos os países da África subsaariana. No Zâmbia, por exemplo, a parcela para a educação
caiu de 16,1% para 10,4% do orçamento do Estado nos últimos quatro anos. Em Angola, a marca
histórica de 4% do PIB destinados à luta contra o analfabetismo, em 2014, foi sendo corroída até
chegar aos 2%, em 2021.

A forma como o impacto da guerra na insegurança alimentar está sendo veiculado


consegue a proeza de apagar as questões estruturais da produção da comida que, ano após ano,
privam grandes contingentes humano do acesso ao que precisam para sobreviver. Reconhecer
isso implica em admitir que as relações de propriedade e a finalidade para a qual o terreno
agrícola é utilizado matam a sede de lucros de poucos e não a fome que condena à morte
milhões de pessoas.
Com as breves linhas deste capítulo, não queremos menosprezar os problemas adicionais
que a invasão da Ucrânia colocou na mesa da alimentação mundial. Queremos apenas sugerir a
necessidade de verificarmos como e quanto estes mesmos problemas estão servindo de biombo
para encobrir contradições gritantes que fragilizavam o acesso à comida bem antes da guerra.

5. Rússia e China entre as sanções e as pressões internacionais

Passados quase cinco meses do início das hostilidades, quem apostava que as sanções
econômicas colocariam Putin de joelhos deu, literalmente, com os burros na água. Vejamos por
que.

Apesar dos seguidos cortes no fornecimento de petróleo e gás aos países da União
Européia durante os primeiros 100 dias de guerra, estima-se que 59 dos 97 bilhões de dólares
que a Rússia recebeu com a exportação de energia vieram justamente dos países do bloco.

A exigência do pagamento em rublos pelos hidrocarbonetos fornecidos aos europeus e a


obrigação dos exportadores locais converterem na moeda russa 80% das quantias obtidas com
as vendas no mercado externo fizeram com que o rublo ultrapassasse o valor pelo qual era
negociado antes da guerra, conforme mostra o gráfico que segue:

Gráfico 1: Variação do rublo em relação ao dólar entre janeiro e maio de 2022.

O gráfico 1 espelha a variação do câmbio em relação ao dólar de acordo com o caminhar


da invasão, com a imposição das sanções econômicas nas semanas seguintes e a reviravolta
oriunda da determinação de Moscou segundo a qual, a partir de 1º abril, os pagamentos dos
combustíveis fornecidos pela Rússia teriam que ser efetuados obrigatoriamente em rublos, sob
pena de cortes no abastecimento. No início de maio, o rublo tinha a mesma cotação de meados
de fevereiro, chegou ao ponto mais alto na segunda metade de junho e retomou a tendência de
queda quando as perspectivas de recessão em 2023 levaram a uma redução dos preços do
petróleo, do minério de ferro e de várias outras commodities.

Diante deste quadro e da completa ausência de informações confiáveis, é impossível saber


se os cortes no fornecimento de petróleo e gás à União Européia foram totalmente compensados
pelo aumento das vendas à Índia e à China. As notícias disponíveis mostram que a economia
russa está sofrendo menos que o esperado, mas os pouquíssimos dados veiculados por Moscou
podem ser mais para efeito propagandístico do que um espelho da realidade.

Sabemos que, antes da invasão da Ucrânia, apenas 1% do petróleo russo tinha a Índia
como destino e que, em junho deste ano, as compras de Nova Deli chegaram a 18% das vendas
de Moscou. Do mesmo modo, as maiores aquisições da China constituem um excelente reforço
de caixa para a economia russa. Na comparação entre janeiro e maio de 2022 com o mesmo
período do ano anterior, o gigante asiático elevou em 80% as compras de petróleo russo; em 54%
as de gás; em 5,2% as de carvão; em 70% as de carvão para a indústria siderúrgica; em 15% as
de cobre refinado; e em 19% as de paládio.

Tendo como base a quantidade de empresas que deixaram o território russo após a
invasão da Ucrânia e as dificuldades de acesso a componentes eletrônicos de alta tecnologia em
função das sanções impostas ao país, as opiniões dos economistas ocidentais estimam que o
PIB da Rússia esteja sofrendo uma contração que varia entre 5% e 17%. Mas aqui também
estamos falando de especulações e não de cálculos produzidos com base em dados estatísticos.
Afinal, fazer com que o inimigo não possa avaliar a capacidade de resistência da economia russa
é parte da estratégia de guerra.

As respostas de Putin ao boicote internacional têm sido adotadas, até o momento, com
base em quatro diferentes atitudes. A primeira delas é a substituição pura e simples de serviços
executados por empresas estrangeiras que saíram do país por outros realizados por russos que
ocuparam os mesmos espaços e ofereceram produtos semelhantes, como é o caso do Mc
Donald.

A segunda percorre o caminho da nacionalização com a compra a baixo preço da


totalidade das ações do antigo proprietário. Foi isso que ocorreu em meados de maio quando,
com a produção de veículos automotores enfrentando uma queda de 96%, Moscou adquiriu a
participação majoritária (68% das ações) da montadora Renault cujas unidades instaladas na
Rússia, em 2021, transformaram o país no segundo maior mercado da empresa depois da
Europa.

A terceira modalidade passa pelo caminho do sequestro puro e simples de bens de capital
estrangeiros. No dia 22 de maio, por exemplo, Moscou registrou como próprios pelo menos 360
aviões que operavam voos no país e que, em sua grande maioria, pertenciam a empresas de
leasing sediadas nas Ilhas Bermudas. Agora, estas aeronaves não podem deixar o espaço aéreo
da Rússia a fim de evitar que sejam bloqueadas e repatriadas. Por outro lado, sabendo que as
sanções impedem também o acesso à manutenção do fabricante e à compra de peças originais,
a hipótese mais provável é que as empresas de aviação russas acabem canibalizando alguns dos
aviões sequestrados a fim de fazer voar o restante da frota.

Último, mas não menos importante, é a ruptura de acordos de investimentos com


empresas ocidentais ou com países que apoiam as sanções econômicas. No dia 4 de julho, por
exemplo, a Rússia decretou o controle total de um dos maiores projetos de gás liquefeito do
mundo, o Sakhalin-2. Inicialmente construído numa parceria da Gazprom (50% das ações) com a
Shell (que detinha uma participação de 27,5%) e as empresas japonesas Mitsui e Mitsubichi
(proprietárias dos 22,5% restantes), o projeto destina-se a abastecer 4% do mercado mundial de
gás natural liquefeito. De imediato, sabemos que o Japão não receberá um único metro cúbico do
gás que sairá destas instalações que, inicialmente, se destinavam a suprir 8% das necessidades
de sua economia e que Índia e China serão convidadas a integrar o consórcio com a Gazprom.

A incerteza trazida pela guerra na Ucrânia marca presença também na China e se soma
aos problemas que a sua economia vinha apresentando. De um lado, o fechamento de cidades
indústrias e portuárias diante das novas ondas de Covid, com todos os problemas que estas
paralisações trouxeram às redes mundiais de abastecimento, acabou encolhendo o fluxo do
comércio com o país entre janeiro e abril de 2022. Na última semana de maio, a flexibilização
parcial das restrições fez com que a movimentação de containers no porto de Xangai atingisse
95% do normal. Espera-se que o fim do confinamento decretado em 1 de junho, marque um
retorno progressivo aos patamares de atividade anteriores à pandemia.

Por outro lado, a partir da invasão da Ucrânia, os investidores estrangeiros retiraram do


país cerca de 150 bilhões de dólares em ativos financeiros. Segundo o Instituto de Finanças
Internacionais, o apoio da China à Rússia pode fazer com que a saída total de recursos em 2022
chegue aos 300 bilhões de dólares, mais que o dobro em relação à retirada de 129 bilhões de
dólares do ano passado. Difícil dizer neste momento até que ponto a decisão destes investidores
será seguida por outros e qual será seu efeito em médio prazo na economia chinesa. Em Pequim,
sabendo dos problemas do segundo trimestre de 2022, todos esperavam um crescimento de,
pelo menos, 1% em relação ao mesmo período de 2021. Considerado baixo para os padrões do
gigante asiático, o índice seria apenas um sinal de inflexão esperado, mas constatar que o
crescimento foi de 0,4% acendeu vários sinais de alerta dentro e fora do país.

Em termos de política externa, o Ministro das Relações Exteriores de Pequim, Wang Yi,
usou o encontro dos BRICS, ocorrido no dia 19 de maio, para anunciar a ideia de ampliar o bloco.
Deste encontro, participaram como convidados especiais os chanceleres de Arábia Saudita,
Argentina, Cazaquistão, Egito, Emirados Árabes Unidos, Indonésia, Nigéria, Senegal e Tailândia,
países candidatos a ampliarem o BRICS e o coro dos que não aceitam uma maior influência de
EUA e UE nas relações internacionais. Ter a Arábia Saudita neste bloco despertou serias
preocupações em Washington e levou Biden a se encontrar com a casa reinante a fim de reduzir
os atritos que desgastaram as relações entre Washington e Riad ao longo dos últimos anos e
reafirmar as possibilidades de uma parceria visando reduzir a influência de China e Rússia na
geopolítica do Oriente Médio.

Enquanto os grupos no poder tecem as rédeas de um futuro onde a classe trabalhadora


entra como ovelha a ser tosquiada e como bucha de canhão, as lutas contra a piora das
condições de vida que pipocam em vários países precisam ampliar urgentemente o seu alcance a
fim de deter a guerra em curso e as perspectivas de futuro desenhadas pela OTAN.

Não se trata de uma tarefa fácil e neste momento, nada indica que esteja no horizonte de
luta dos trabalhadores. O choque com a realidade que a inflação e a incerteza possibilitam não
guarda relação apenas com os problemas do próximo inverno, mas, sobretudo, com a tormenta
econômica que irá se abater sobre o mundo em 2023. Diante dela, ou a classe consegue romper
os limites que mantêm sua ação no campo econômico-corporativo e impedem um maior grau de
organização e mobilização rumo a outros horizontes ou sequer conseguirá vender a própria pele
por um preço maior.

Emilio Gennari - Brasil, 18 de julho de 2022.

______________________________________________________________
(1) O texto A guerra da Ucrânia no tabuleiro da geopolítica mundial está disponível através do link:
https://drive.google.com/file/d/1cHzRwPOjZd1iWKGNHNpOOGisymj7MqAo/view?usp=drivesdk
(2) Em ordem cronológica, seguem as principais fontes que serviram de base para a elaboração deste texto:
- https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-61446847
- https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-61421242
- https://elpais.com/internacional/2022-05-13/suecia-cree-que-su-ingreso-en-la-otan-reduciria-el-riesgo-de-conflicto-en-el-norte-de-
europa.html
- https://elpais.com/internacional/2022-05-12/suecia-blinda-la-isla-de-gotland-mientras-acelera-el-debate-sobre-el-ingreso-en-la-
otan.html#?rel=mas
- https://g1.globo.com/mundo/noticia/2022/05/14/russia-interrompe-fornecimento-de-energia-eletrica-para-
finlandia.ghtml?utm_source=share-universal&utm_medium=share-bar-app&utm_campaign=materias
- https://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2022/05/14/india-proibe-exportacoes-de-trigo-conforme-onda-de-calor-
prejudica-safra.ghtml?utm_source=share-universal&utm_medium=share-bar-app&utm_campaign=materias
- https://g1.globo.com/mundo/noticia/2022/05/15/veja-como-a-seca-na-india-pode-impactar-o-mercado-
mundial.ghtml?utm_source=share-universal&utm_medium=share-bar-app&utm_campaign=materias
- https://g1.globo.com/mundo/noticia/2022/05/15/partido-no-poder-na-suecia-aprova-candidatura-a-otan.ghtml?utm_source=share-
universal&utm_medium=share-bar-app&utm_campaign=materias
- https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2022/05/15/e-possivel-que-a-russia-invada-suecia-e-finlandia-
especialistas-opinam.htm?utm_campaign=resumo-do-dia&utm_content=hyperlink-
texto&utm_medium=email&utm_source=newsletter
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nos-eua-1.842140
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- https://www.canalrural.com.br/radar/milho-usda-deve-indicar-safra-dos-eua-2022-23-menor-ante-safra-anterior/
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- https://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2022/04/26/europa-enfrenta-escassez-de-oleo-de-girassol-e-derivados-
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- https://www.brasildefato.com.br/2022/01/10/preco-dos-alimentos-atinge-valor-mais-alto-em-10-anos-diz-
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- https://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2022/01/12/precos-dos-alimentos-em-2021-veja-a-variacao-do-prato-feito-e-
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- https://elpais.com/opinion/2022-07-09/putin-intentara-estrangular-a-la-ue.html
- https://elpais.com/planeta-futuro/2022-07-07/toca-devolver-lo-prestado-la-crisis-de-deuda-asfixia-el-desarrollo-en-africa.html
- https://br.investing.com/currencies/rub-usd
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- https://elpais.com/internacional/2022-07-10/estan-fracasando-las-sanciones-occidentales-a-rusia.html
- https://g1.globo.com/economia/noticia/2022/07/15/pib-da-china-tem-forte-desaceleracao-no-2o-trimestre-em-meio-a-riscos-
globais.ghtml?utm_source=share-universal&utm_medium=share-bar-app&utm_campaign=materias
Todos os acessos foram realizados entre os dias 13 de maio de 2022 e 15 de julho de 2022.
(3) O índice da FAO acompanha as mudanças mensais nos preços internacionais destas commodities: cereais (arroz, milho, trigo e
outros), óleos vegetais (soja, canola, girassol e outros), produtos lácteos (leite em pó, queijo, manteiga), carnes (bovina, frango,
suína, ovina) e açúcar.
(4) As tabelas que descrevem a composição do índice de inflação dos EUA não separam os aumentos de cada tipo de carne e
incluem neste item a variação dos preços dos ovos.
(5) Se você estiver interessado no assunto, encontrará dados esclarecedores nas páginas 13 a 22 da nossa análise "O mundo nos
tenebrosos horizontes de 2020" (disponível em:
https://drive.google.com/file/d/1txyzJSLon4CZw7YMAtVyn3kLnlzsX9JE/view?usp=drivesdk) e entre as páginas 2 e 12 do estudo
"Desigualdade: quanto mais a escondem, mais aparece" onde trabalhamos especificamente da realidade da Nigéria e da África do
Sul (disponível em: https://drive.google.com/file/d/1dkhKANZOPBgceIPlWkif2w9Z_qxq_1kJ/view?usp=drivesdk).

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