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Paz
VILLA-LOBOS
E A M⁄SICA POPULAR BRASILEIRA
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VILLA-LOBOS
E A M⁄SICA POPULAR BRASILEIRA
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Ermelinda A. Paz
VILLA-LOBOS
E A M⁄SICA POPULAR BRASILEIRA
4
Copyright 2004
ERMELINDA A. PAZ
Projeto Gr·fico
CECÕLIA JUC¡ DE HOLLANDA
Designer Assistente
JACOB AR√O ALVES
ReproduÁ„o das fotografias e documentos
Acervo do MUSEU VILLA-LOBOS
ElaboraÁ„o e gerenciamento do projeto
ARTE & CULTURA PRODU«’ES LTDA.
ELISABETE CID VARELA MADEIRA
Impress„o e Acabamento
ASSAHI GR¡FICA
5
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, PacÌfico e EdnÈa, minha filha Luciana e meu esposo
Zanini, por terem sido meu apoio constante em todos os momentos de
minha jornada;
6
7
SUM¡RIO
ApresentaÁıes
TurÌbio Santos ........................................................................... 9
Luiz Pinguelli Rosa ................................................................ 11
IntroduÁ„o ................................................................................. 13
Sintese biogr·fica .......................................................................... 15
Dados pessoais, documentos, preferÍncias ............................... 20
O Brasil e a m˙sica brasileira na obra de Villa-Lobos ................ 21
As concentraÁıes orfeÙnicas e a presenÁa de m˙sicos populares 25
Villa-Lobos e o carnaval antigo. SÙdade do Cord„o ................... 33
A Frota da Boa VizinhanÁa ........................................................... 44
O samba cl·ssico ........................................................................ 51
Encontro de gigantes ..................................................................... 54
Villa-Lobos revisitado por m˙sicos populares ............................. 60
Villa-Lobos e o viol„o ................................................................ 71
Estes brasileiros ilustres ................................................................. 76
CODA ...................................................................................... 88
Discografia ................................................................................... 94
Bibliografia .................................................................................... 109
Anexos ...................................................................................... 111
Õndice onom·stico .............................................................................. 157
8
9
A identidade de uma naÁ„o est· intimamente ligada ‡ express„o
cultural de seu povo. Por isso, È motivo de satisfaÁ„o para a
Eletrobr·s patrocinar o premiado trabalho da pesquisadora
Ermelinda A. Paz sobre Heitor Villa-Lobos, um dos Ìcones da
arte brasileira.
Presidente da Eletrobr·s
1 0
1 1
… impressionante a capacidade de sÌntese, de objetividade
na informaÁ„o, de sinceridade na conduÁ„o da pesquisa de
Ermelinda A. Paz.
TurÌbio Santos
Diretor do Museu Villa-Lobos
1 2
1 3
INTRODU«√O
Falar sobre Villa-Lobos n„o È tarefa f·cil. A vida dessa figura magistral
da m˙sica brasileira tem sido assunto de trabalhos de autores de renome.
Teses, ensaios, artigos podem ser encontrados em livros e publicaÁıes
especializadas, enfocando principalmente o compositor de m˙sica erudita.
Tarefa muito mais difÌcil È falar sobre Villa-Lobos e a m˙sica popular
brasileira.
A bibliografia, numerosa, mas insuficiente em alguns aspectos, nos levou
a pesquisar ‡ procura de dados esparsos em uma ou outra obra, a passar
horas na Biblioteca Nacional e no Museu Villa-Lobos, a ouvir depoimentos
no Museu da Imagem e do Som, a consultar periÛdicos da Època, em
constantes visitas a arquivos de jornais e revistas, a ver e rever, atentamente,
microfilmes. Todo esse esforÁo quase nos fez desistir da idÈia de realizar o
presente trabalho.
¿ medida que nos debruÁ·vamos sobre os livros e artigos; que
encontr·vamos importantes subsÌdios para a compreens„o da obra de Villa-
Lobos em bibliotecas e discotecas particulares, aumentava em nÛs o interesse
e a admiraÁ„o pelo genial m˙sico brasileiro.
Essa admiraÁ„o nos deu coragem. E foi com garra e paix„o que, deixando
de lado a timidez e a inibiÁ„o inicial, nos animamos a persistir na tarefa
sonhada: escrever sobre Villa-Lobos e a m˙sica popular brasileira.
Acreditamos, modestamente, que contribuÌmos, pelo menos um pouco, com
o nosso estudo, para a reconstituiÁ„o da memÛria nacional relativamente ‡
vida e obra de Villa-Lobos.
Sem a colaboraÁ„o de v·rias pessoas que, com boa vontade, abriram
m„o do seu tempo, concedendo-nos entrevistas, prestando depoimentos e
trazendo informaÁıes preciosas para esta viagem atravÈs do universo sonoro
de Villa-Lobos, acreditamos que seria impossÌvel a realizaÁ„o deste trabalho.
A todos que colaboraram, recebendo-nos com atenÁ„o e carinho, o nosso
reconhecimento.
1 4
Raul Villa-Lobos, pai do compositor.
Heitor Villa-Lobos com um ano de idade, Rio de Janeiro, 1888
1 5
SÕNTESE BIOGR¡FICA
1
Coube a Vasco Mariz o mÈrito de haver esclarecido a data certa do nascimento de Villa-Lobos (MARIZ,
Vasco. Heitor Villa-Lobos: compositor brasileiro. Rio de Janeiro: MEC/DAC/MVL, 1977, p. 27-28).
2
ìDesde a mais tenra idade iniciei a vida musical, pelas m„os de meu pai, tocando um pequeno violoncelo. Meu pai, alÈm
de ser homem de aprimorada cultura geral, era um m˙sico pr·tico, tÈcnico e perfeitoî. MARIZ, Vasco, op. cit., p. 29.
3
In SODR…, Muniz. Samba (o dono do corpo). Rio de Janeiro: Codecri, 1979 (ColeÁ„o Alternativa), p. 62.
1 6
O quartel-general do grupo de chorıes era O Cavaquinho de Ouro,
situado anteriormente na Rua do Ouvidor e depois na Rua da Carioca n∫ 44,
de propriedade de Jo„o dos Santos Carneiro. L· eles se reuniam antes de
suas apresentaÁıes, onde tocavam composiÁıes de Calado, Luiz de Souza,
Viriato, Nazareth, Anacleto de Medeiros e outros.
Essa fase marcou muito a sensibilidade do genial compositor. O contato
com a m˙sica genuinamente brasileira iria influenciar toda a sua obra futura.
ìQuando entrei naquele meio ñ os chorıes ñ n„o foi para me divertir, e sim para me
imbuir daquele climaî, disse mais tarde Villa-Lobos a D. Arminda Neves de
4
Almeida (D. Mindinha).
Mozart de Ara˙jo concorda com esta afirmaÁ„o quando diz: ìEra um
ìQuando entrei chor„o mas gostava mais de ouvirî.
5
4
Depoimento de Arminda Neves de Almeida ao Museu da Imagem e do Som.
5
ComunicaÁ„o pessoal ‡ autora, 7 de abril de 1987.
6
MARIZ, Vasco. Heitor Villa-Lobos, compositor brasileiro, p. 42.
1 7
H· d˙vidas sobre a data exata da primeira apresentaÁ„o oficial de Villa-
7
Lobos no Rio de Janeiro. Segundo Luiz Guimar„es, foi em 29 de janeiro de
1915; j· o document·rio ìUm Ìndio de casacaî ñ 1™ Parte, levado ao ar pela
Rede Manchete no dia 21 de marÁo de 1987, noticia que a data foi 13 de
novembro de 1915.
Villa-Lobos enfrentou muitas dificuldades para ter reconhecido no Brasil
seu gÍnio musical. Seu trabalho, muito ‡ frente da compreens„o dos
contempor‚neos, era alvo constante de crÌticos como Oscar Guanabarino.
O artista, alÈm de um talento incomum, tinha uma espantosa tenacidade. E,
atÈ o fim da vida, compÙs um grande n˙mero de peÁas de alta qualidade. J·
acometido da doenÁa que lhe tirou a vida, disse: ì… triste a gente morrer, ter
ìN„o sou fruto da alguns dias de vida e sÈculos de m˙sica na cabeÁa! VocÍ sabe que eu tenho sÈculos de
8
m˙sica na minha cabeÁa?î
Semana de Arte O genial m˙sico brasileiro enfrentou dificuldades financeiras. Para se
manter, precisou tocar em conjuntos nas salas de espera de cinemas como o
Moderna. Odeon (onde Rubinstein o descobriu), no CabarÈ AssÌrio (Theatro Municipal),
em companhias de operetas (Teatro S„o Pedro), e chegou a vender os direitos
Eu fui convidado autorais de suas primeiras m˙sicas ‡s Casas Arthur Napole„o, Mozart e Vieira
e fui pago pelo GraÁa Machado, para poder ajudar na sobrevivÍncia da famÌlia.
Quanto ‡ participaÁ„o de Villa-Lobos na Semana de Arte Moderna em
Aranhaî 1922, ele fazia quest„o de deixar claro uma coisa: ìN„o sou fruto da Semana de
9
Arte Moderna. Eu fui convidado e fui pago pelo GraÁa Aranhaî. Segundo Vasco
Mariz, ìsÛ a partir de 1922 enveredou decididamente por aquela trilha (nacionalismo),
10
escrevendo o Noneto, os Choros, as Serestas e as Cirandasî.
Finalmente, a 30 de junho de 1923, pelo navio Groix, Villa-Lobos partiu
para a Europa pela primeira vez. A viagem foi financiada pela contribuiÁ„o
conseguida, a muito custo e em funÁ„o do brilhante e contagiante discurso
de defesa de Gilberto Amado, na C‚mara dos Deputados do Rio de Janeiro,
em apoio ao projeto apresentado pelo Sr. Arthur Lemos.
7
GUIMAR√ES, Luiz et al.
Villa-Lobos visto da platÈia e na intimidade.
Rio de Janeiro: Arte Moderna, 1972.
8
Depoimento de David Nasser ao Museu da Imagem
e do Som.
9
Depoimento de D. Mindinha ao Museu da Imagem e do Som.
10
MARIZ, Vasco. Heitor Villa-Lobos, compositor brasileiro, p. 101.
Desenho L. Celli 11
GUIMAR√ES, Luiz et al. Op. cit., p. 91.
1 8
Um grupo de amigos e admiradores do Rio de Janeiro e de S„o Paulo se
propÙs a subvencionar a estada de Villa-Lobos na Europa. Podemos citar
Carlos e Arnaldo Guinle, Maurice Gudin e madame Santos Lobo, no Rio de
Janeiro, e em S„o Paulo o conselheiro AntÙnio Prado e a senhora OlÌvia
Penteado.
Villa-Lobos, como j· È bem conhecido, viajou em busca de confirmaÁ„o e
aceitaÁ„o de seu talento artÌstico pela crÌtica do Velho Mundo, e n„o para estudar
com quem quer que fosse. ìVocÍs È que v„o estudar comigoî, teria dito ele, certo que
estava de seu valor e capacidade.
Arthur Rubinstein e Vera JanacÛpulus muito contribuÌram para que o
valor de suas composiÁıes fosse reconhecido. Juntamente com Carlos
ìEu sÛ sou brasileiro Guinle, Arthur Rubinstein foi respons·vel pelas primeiras ediÁıes das obras
de Villa-Lobos, feitas pela Max Eschig; Rubinstein, emprestando seu nome
porque existe j· reconhecido internacionalmente como um verdadeiro aval, recomendando
o talentoso porÈm desconhecido compositor, e Carlos Guinle financiando
Villa-Lobosî todas as despesas advindas desse encargo.
A famÌlia Guinle auxiliou materialmente o nosso grande m˙sico em
muitas ocasiıes, apoiando-o desde os primeiros concertos atÈ sua segunda
Glauber Rocha viagem a Paris, em 1927, quando teve ‡ disposiÁ„o um apartamento
mobiliado, com todo conforto, com um piano de cauda. Neste apartamento
12
Villa-Lobos residiu por trÍs anos.
Anexamos as cartas de Villa-Lobos a Carlos Guinle pelo fato de haverem
sido escritas de prÛprio punho, tornando-as, assim, documento precioso e
original. As palavras ‡s vezes sublinhadas n„o possuem nenhuma import‚ncia.
As cÛpias xerogr·ficas s„o uma reproduÁ„o dos originais pertencentes ‡
famÌlia Guinle (Anexo I).
Podemos dizer que, apesar de todas as vicissitudes por que passou, Villa-
Lobos foi um homem de muita sorte. Muito cedo viu sua estada na Europa
coroada de Íxito; muito mais tarde, sua genialidade seria reconhecida no
Brasil. Se bem que a amplitude de sua obra n„o tenha permitido ainda um
estudo completo e ainda haja muito a ser feito quanto a publicaÁıes, an·lises
e gravaÁıes de suas composiÁıes, podemos afirmar que raros compositores
tiveram o prazer de ver, em vida, sua obra mundialmente reconhecida, o que
aconteceu com o nosso genial patrÌcio.
Do ponto de vista sentimental, deixando de lado todas as pequenas
aventuras, podemos dizer que a vida lhe foi bem generosa. De seu primeiro
casamento, a 12 de novembro de 1913, com LucÌlia Guimar„es, que durou
13 14
23 anos incompletos, temos os seguintes testemunhos:
12
A famÌlia Guinle aqui referida diz respeito precisamente a Carlos e Eduardo Guinle.
13
Villa-Lobos, como È sabido, sempre teve um temperamento difÌcil e jamais se preocupou em dourar
suas palavras. A franqueza sempre norteou suas colocaÁıes, fossem elas profissionais, sentimentais
ou sociais. Assim sendo, rompeu de forma muito dura com sua primeira mulher, conforme relata
Janda Gitirana Praia ‡ p·gina 6 do jornal ProgramaÁ„o Funarte de dezembro de 1986: ìCom esta mesma
marca de rude franqueza ele rompe, em 1936, um casamento de 23 anos com D. LucÌlia, sua primeira esposa,
pianista talentosa e abridora de picadas nos duros primÛrdios de suas vidas. J· apaixonado por aquela que seria sua
companheira nos 23 anos seguintes (D. Mindinha), Villa-Lobos aproveita a conveniente dist‚ncia Berlim-Brasil ñ
onde se apresentava num Congresso de EducaÁ„o Musical ñ e escreve: ëProclamo a nossa absoluta liberdade. Ao
voltar n„o irei mais para a casa da R. DÌdimo n∫ 10, que desde esta data considero unicamente de sua responsabilidade.íî
A articulista refere-se a um Congresso de EducaÁ„o Musical onde Villa-Lobos se apresentava na
cidade de Berlim. Todavia, cumpre esclarecer que o referido evento deu-se na cidade de Praga,
Tchecoslov·quia. Para maiores esclarecimentos, recomendamos ainda consulta ao Arquivo HistÛrico
do Itamaraty, documentos extraÌdos do volume OfÌcios da Miss„o Diplom·tica Brasileira, no perÌodo de
Na p·gina seguinte: maio de 1935 a setembro de 1936, ou ainda a leitura do capÌtulo ìO Congresso de EducaÁ„o Musical
NoÍmia Umberlino, m„e de Villa-Lobos, c. 1890. de Praga, Tchecoslov·quiaî, inserido no trabalho Villa-Lobos o educador, desta autora, publicado pelo
O jovem Heitor, aos 21 anos, 1908. INEP/MEC em 1989, da sÈrie PrÍmio Grandes Educadores Brasileiros.
Villa-Lobo com Arminda em Paris, 1952. 14
GUIMAR√ES, Luiz et al. Villa-Lobos visto da platÈia e na intimidade. p. 309, 316-318.
1 9
ìNos anos de maior luta, num comeÁo de carreira em que ele afrontava a opini„o
geral e o academismo mais empedernido e ronceiro, Villa-Lobos encontrou na esposa
apoio e cooperaÁ„oî ñ Andrade Muricy.
ìAos 24 anos, Villa-Lobos casou-se com a Srta. LucÌlia Guimar„es, pianista distinta,
laureada no INM do Rio, que muito o ajudou por sua inteligÍncia, seu inteiro devotamento
e sua absoluta confianÁa no gÍnio de seu maridoî ñ Rodrigues Barbosa.
ìPodemos dizer que a atuaÁ„o de LucÌlia foi decisiva e importante na fase mais sÈria
da obra de Villa-Lobos, pois sua participaÁ„o faz-se notar no momento em que o m˙sico
era negado, atÈ entre os brasileirosî ñ Helsa CamÍo.
ìConhecÍmo-la ainda quando, em pequenas reuniıes na Vila Rui Barbosa, atuava
como a verdadeira lanÁadora da obra inicial de Villa-Lobos, como pianista de classe que
eraî ñ Oct·vio Bevil·qua.
ìPara os biÛgrafos, eles acham que LucÌlia n„o teve muita import‚ncia na obra de
Villa, talvez influenciados pelo que ele falou mais tarde, mas uma coisa È certa: ela
ajudou muito a Villa. Quando jovem, era inseguro e ‡s vezes agressivo, era ela que
procurava desfazer o mal-estar que Villa fazia ‡ sua volta. Era ela quem dava aulas de
piano para os filhos da boa sociedade e arcava com a maior parte das despesas da casa,
permitindo que Villa se dedicasse mais ‡ composiÁ„o. LucÌlia era Ûrf„ de pai, reta, digna,
15
sofrida, uma mulher forte como a m„e de Villa, que ali·s aprovava o casamento.î
ìFoi companheira devotada e auxiliar preciosa, havendo inclusive feito diversas
16
primeiras audiÁıes das obras do mestre, no Brasil e em Paris.î
ìDona Mindinha foi uma mulher aparentemente fr·gil, mas forte o suficiente para
permitir ao genial m˙sico viver com despreocupaÁ„o seu lado l˙dico, pueril, irreverente
17
de menino grande. Ela foi a sua empres·ria, sua relaÁıes p˙blicas, sua enfermeira.î
15
Document·rio ìUm Ìndio de casacaî - 1™ Parte. Rede Manchete, 21 de marÁo de 1987.
16
MARIZ, Vasco. Heitor Villa-Lobos: compositor brasileiro, p. 43.
17
Depoimento da Professora Maria Augusta. ProgramaÁ„o Funarte, Dezembro de 1986, p. 6.
18
Palavras de Glauber Rocha - ProgramaÁ„o Funarte, Dezembro de 1986, p. 8.
2 0
A pianista LucÌlia, primeira esposa do composi- DADOS PESSOAIS, DOCUMENTOS, PREFER NCIAS
tor, Paris, dÈcada de 1920.
Dados Pessoais
Nome: Heitor Villa-Lobos
Apelido familiar: Tuh˙
FiliaÁ„o: Raul Villa-Lobos e NoÍmia Monteiro Villa-Lobos
Naturalidade: Rio de Janeiro
Data de nascimento: 5 de marÁo de 1887
Data de falecimento: 17 de novembro de 1959
Cor: Branca
Olhos: Castanhos
Cabelos: Castanhos
Altura: 1m65
Documentos
Carteira de Identidade: 102 R
Carteira Profissional: n∫ 49687 - SÈrie 27 - 6/1/1937
TÌtulo de Eleitor: n∫ 18765 - 1™ Zona - 32™ SecÁ„o - 6/11/1957
Carteira Nacional de HabilitaÁ„o: n∫ 55.143
Certificado de Registro Definitivo de Professor: n∫ 0134
Passaporte: n∫ 004955
Carteira da SBAT: n∫ 03199
Sindicato dos M˙sicos Profissionais do Rio de Janeiro: matrÌcula 42
Associated Musicians of Greater New York: V 604
GrÍmio Mirim da ABI: matrÌcula 56-A
Carteira Social da ABI: matrÌcula 262
SÛcio Honor·rio do Clube Gin·stico PortuguÍs
InstruÁ„o: Secund·ria
Profiss„o: M˙sico (instrumentista, regente, educador e,
principalmente, compositor)
1∫ endereÁo: Rua Ipiranga, n˙mero desconhecido
⁄ltimo endereÁo: Rua Ara˙jo Porto Alegre 56 - ap. 54
EndereÁo atual: uma esquina qualquer da eternidade
Outras InformaÁıes
Signo: Peixes
Compositor predileto: Bach e compositores
populares
Hobby: jogar bilhar francÍs, fazer e empinar
papagaios
VÌcio: fumar charuto
Divertimento predileto: ouvir novelas e assistir a filmes
de bangue-bangue
Perfume predileto: Royal Briar
2 1
O BRASIL E A M⁄SICA BRASILEIRA
NA OBRA DE VILLA-LOBOS
ìSim, sou brasileiro A m˙sica de Villa-Lobos reflete a alma sonora do Brasil e do povo
brasileiro. AtravÈs de suas melodias, ritmos e efeitos musicais, empreendemos
e bem brasileiro. uma verdadeira e fant·stica viagem atravÈs dos sons destes Brasis.
Na minha m˙sica eu ìSim, sou brasileiro e bem brasileiro. Na minha m˙sica eu deixo cantar os rios e os
mares deste grande Brasil. Eu n„o ponho breques nem freios, nem mordaÁa na
deixo cantar... exuber‚ncia tropical das nossas florestas e dos nossos cÈus, que eu transporto
instintivamente para tudo o que escrevo.î
ìEm 1905, decidiu viajar por sua livre iniciativa. ¿ falta de recursos, vendeu boa
parte da biblioteca herdada do pai e seguiu em direÁ„o ao norte: EspÌrito Santo,
Bahia, Pernambuco ñ o litoral e o interior; ruelas e becos de Salvador e do Recife;
engenhos e fazendas; cantos afro-brasileiros, pregıes da cidade e desafios de cantadores
ao som das violas sertanejas. Embora sem disposiÁıes para a pesquisa pura, o jovem
m˙sico de 18 anos ouvia e anotava aquela m˙sica, que absorvia com avidez. Folclorista,
no sentido cientÌfico da palavra, Villa-Lobos nunca foi. ëO folclore sou euí ñ diria
mais tarde numa frase de profunda significaÁ„o para retratar o artista que recolhe e
incorpora de tal modo a m˙sica do seu povo ‡ sua prÛpria maneira de ser que,
quando se exprime, È a voz da prÛpria terra que se faz ouvir.î (Adhemar NÛbrega
in PresenÁa de Villa-Lobos ñ v. 4, p. 16)
2 2
na m˙sica erudita, tecnicamente insuper·vel e musicalmente genial.î (Cantora
...os rios e os mares argentina Amalia Baz·n in PresenÁa de Villa-Lobos ñ v. 2, p. 13)
deste grande ìEm suas melodias canta a prÛpria alma da nossa gente. Em suas harmonias
Brasil... vibram os clamores da terra, das florestas, das cachoeiras, dos mares e dos cÈus do
Brasil.î (Ministro da EducaÁ„o ClÛvis Salgado in PresenÁa de Villa-Lobos ñ
: v. 1, p. 60)
ìS„o peÁas curtas, incisivas, baseadas, por vezes, numa fÛrmula pianÌstica desenvolvida
como se fosse pequeno estudo instrumental, emoldurando uma canÁ„o de roda,
acentuando-lhe o significado expressivo, ambientando-a com propriedade.î
ìVilla-Lobos È fiel e infiel a um sÛ tempo: infiel porque deforma (no sentido estÈtico da
express„o) a obra anÙnima; fiel porque, mesmo violentada, n„o perde em suas m„os, a
flor popular, o seu conte˙do essencial de humanidade e de humanidade brasileira.î
AlÈm das Cirandas j· citadas, outros temas, como O rei mandou me chamar,
recolhido no RecÙncavo Baiano e aproveitado diretamente na Cantilena do
¡lbum n∫ 1 de Modinhas e CanÁıes; o conhecido canto popular carnavalesco
Viva o ZÈ Pereira, utilizado no Carnaval das CrianÁas, na parte denominada Os
guizos do Dominozinho; o tango Turuna, de Ernesto Nazareth, revisitado nos
Choros n∫ 8; ainda de Nazareth, os tangos Odeon e Atrevido, retratados no
Concerto brasileiro para dois pianos e coro misto; e, por ˙ltimo, o ponto culminante
deste processo, o aproveitamento do schottisch Yara, de Anacleto Medeiros,
mais tarde conhecido como Rasga o coraÁ„o devido ao texto de Catulo da
Paix„o Cearense, que celebrizou-se atravÈs do monumental Choros n∫ 10,
revelam verdadeiras obras-primas de nosso compositor.
2 3
Villa-Lobos recorreu por mais de uma vez ao uso de um mesmo tema
para diferentes formaÁıes instrumentais e, ainda, utilizando-se de concepÁıes
musicais distintas com diferentes meios de express„o. Citemos apenas
algumas destas incidÍncias, ‡ guisa de exemplo:
Ä Nesta rua
- arranjada para coro a duas vozes no Guia pr·tico n∫ 82;
- harmonizada para canto e piano no ¡lbum n∫ 2 de Modinhas e CanÁıes,
abordando a melodia, com mais recursos tÈcnicos;
- nas Cirandas (n∫ 11), com mais recursos composicionais em relaÁ„o
‡ anterior.
ìO folclore sou euî Ä Nozani-n· (tema dos Ìndios Parecis recolhido por Roquette-Pinto
: - Canto OrfeÙnico ñ v. 1, n∫ 32, para coro a uma voz;
- Choros n∫ 3, para coro masculino e conjunto e sopros;
- CanÁıes tÌpicas brasileiras n∫ 2, para canto e piano e tambÈm orquestra.
19
Adhemar NÛbrega diz: ìSurge o Nozani-n· transfigurado (no Choros n∫ 7)
pela troca de relaÁıes intervalares, mas reconhecÌvel na seq¸Íncia de suas inflexıes.î
Ä A marÈ encheu
- para coro a uma voz ñ Guia pr·tico n∫ 76a;
- para canto com piano, conjunto instrumental ou piano solo ñ Guia
pr·tico n∫ 76;
- Valsa Espanhola, extraÌda das Impressıes seresteiras, onde a melodia se
faz entrechocar com as hisp‚nicas castanholas, segundo Andrade
Muricy (in PresenÁa de Villa-Lobos ñ v. 7, p. 13);
- Coral das Bachianas n∫ 4, onde Eurico Nogueira FranÁa (in PresenÁa de
Villa-Lobos ñ v. 11, p. 97) assinala a presenÁa dos temas folclÛricos
A marÈ encheu, Na corda da viola e Garibaldi foi ‡ missa).
N”BREGA, Adhemar. Os choros de Villa-Lobos. 2. ed. Rio de Janeiro: MinC / FundaÁ„o Nacional
19
2 4
O aproveitamento da tem·tica popular na obra de Villa-Lobos transcorre
in˙meras vezes de forma substancial e, na maioria das ocasiıes, de forma
essencial, ou seja, os substratos que ficaram impregnados na memÛria do
compositor, como produto de suas vivÍncias atravÈs das viagens e, ainda,
do contato com os chorıes, retornam de forma elaborada atravÈs de ritmos
e melodias com nÌtida influÍncia do meio em que viveu.
Villa-Lobos e Manuel Bandeira durante apresentaÁ„o de corais infantis no est·dio do Fluminense, 1942
2 5
AS CONCENTRA«’ES ORFE‘NICAS E A
PRESEN«A DE M⁄SICOS POPULARES
Entretanto, o panorama geral da m˙sica brasileira, h· dez anos atr·s, era deveras
entristecedor. Por essa Època, de volta de uma das minhas viagens ao Velho Mundo,
onde estive em contato com os grandes meios musicais e onde tive a oportunidade de
estudar as organizaÁıes orfeÙnicas de v·rios paÌses, volvi o olhar em torno e percebi a
dolorosa realidade.
Cheio de fÈ na forÁa poderosa da m˙sica, senti que com o advento desse Brasil Novo
era chegado o momento de realizar uma alta e nobre miss„o educadora dentro da
minha P·tria. Tinha um dever de gratid„o para com esta terra que me desvendara
generosamente tesouros inigual·veis de matÈria-prima e de beleza musical. Era preciso
pÙr toda a minha energia a serviÁo da P·tria e da coletividade, utilizando a m˙sica
como um meio de formaÁ„o e de renovaÁ„o moral, cÌvica e artÌstica de um povo.
Senti que era preciso dirigir o pensamento ‡s crianÁas e ao povo. E resolvi iniciar uma
campanha pelo ensino popular da m˙sica no Brasil, crente de que o canto orfeÙnico È
uma fonte de energia cÌvica vitalizadora e um poderoso fator educacional. Com o auxÌlio
das forÁas coordenadoras do atual Governo, essa campanha lanÁou raÌzes profundas,
21
frutificou e hoje apresenta aspectos iniludÌveis de sÛlida realizaÁ„o.î
2 6
ìEm 1932, a convite do Diretor-Geral do Departamento de EducaÁ„o, fui investido
nas funÁıes de orientador de m˙sica e canto orfeÙnico no Distrito Federal, e tive, como
primeiros cuidados, a especializaÁ„o e aperfeiÁoamento do magistÈrio, e a propaganda,
junto ao p˙blico, da import‚ncia e utilidade do ensino de m˙sica. Reunindo os
professores, compreendendo-lhes a sensibilidade e avaliando as possibilidades e recursos
de cada um, ofereci-lhes cursos de especializaÁ„o com acentuada finalidade pedagÛgica,
dos quais, logo depois, ia surgir o Orfe„o dos Professores, onde, como nos cursos,
ingressavam pessoas estranhas, atendendo ‡ complexidade artÌstica das organizaÁıes.
Procurando esclarecer o p˙blico, principalmente certos pais de alunos, sobre os objetivos
dessa atividade educacional, moveu-me um duplo objetivo: retir·-los do estado de
incompreens„o em que se encontravam e desfazer, de vez, as prevenÁıes que nutriam
Disciplina e se refletiam sobre os escolares, ocasionando lament·vel resistÍncia passiva aos esforÁos
renovadores da administraÁ„o. Num ou noutro aspecto, realizava-se uma aÁ„o de
Civismo indiscutÌvel alcance educativo.
Nem por mais tempo se poderia retardar a verdadeira interpretaÁ„o do papel da
EducaÁ„o artÌstica m˙sica na formaÁ„o das geraÁıes novas e da necessidade inadi·vel do levantamento de
nÌvel artÌstico de nosso povo. O Canto OrfeÙnico È o elemento propulsor da elevaÁ„o
do gosto e da cultura das artes, È um fator poderoso no despertar dos sentimentos
humanos, n„o apenas os de ordem estÈtica, mas ainda os de ordem moral, sobretudo
os de natureza cÌvica. Influi, junto aos educandos, no sentido de apontar-lhes, espont‚nea
e volunt·ria, a noÁ„o de disciplina, n„o mais imposta sob a rigidez de uma autoridade
externa, mas novamente aceita, entendida e desejada. D·-lhes a compreens„o da
solidariedade entre os homens, da import‚ncia da cooperaÁ„o, da anulaÁ„o das vaidades
individuais e dos propÛsitos exclusivistas, de vez que o resultado sÛ se encontra no
esforÁo coordenado de todos, sem o deslize de qualquer, numa demonstraÁ„o vigorosa
de coes„o de ‚nimos e sentimentos. O Íxito est· na comunh„o. O orfe„o adotado nos
paÌses de maior cultura socializa as crianÁas, estreita seus laÁos afetivos, cria a noÁ„o
coletiva do trabalho. SÛ quando todas as vozes se integram num mesmo objetivo
artÌstico, despidas de quaisquer predomin‚ncias pessoais, È que se encontrar· a
verdadeira demonstraÁ„o orfeÙnica.
Nas escolas prim·rias, e mesmo nas secund·rias, o que se pretende, sob o ponto de
vista estÈtico, n„o È a formaÁ„o integral de um m˙sico, mas despertar nos educandos
as aptidıes naturais, desenvolvÍ-las, abrindo-lhes horizontes novos e apontando-lhes
os institutos superiores de arte, onde È especializada a cultura. Oferecendo-lhes as
primeiras noÁıes de arte, proporcionando-lhes audiÁıes musicais, cultivando e cultuando
os grandes artistas, como figuras de relevo da humanidade em todos os tempos, esse
ensino, embora elementar, h· de contribuir, poderosamente, para a elevaÁ„o moral e
artÌstica do povo.
Assim, pois, a trÍs finalidades distintas obedece a orientaÁ„o traÁada para as escolas
do Distrito:
a) disciplina;
b) civismo;
23
c) educaÁ„o artÌstica.î
23
VILLA-LOBOS, H. Programa do ensino de m˙sica. Departamento de EducaÁ„o do Distrito Federal,
SÈrie C. Programas e Guias de Ensino, n∫ 6. Distrito Federal: Gr·fica da Secretaria Geral de EducaÁ„o
e Cultura, 1937, p. viii.
2 7
Abaixo: Villa-Lobos ensaiando para concentraÁ„o Tendo Villa-Lobos resolvido o problema da integraÁ„o da m˙sica na
no campo do Fluminense, Rio de Janeiro, 1932.
vida social da coletividade, tratou de implantar cursos de aperfeiÁoamento e
especializaÁ„o em m˙sica e canto orfeÙnico, j· que estes iriam fornecer o
corpo de professores especializados para fomentar o desenvolvimento de
tal miss„o.
Visando atender aos objetivos j· delineados, foi organizado um programa
para atender ‡s necessidades de ordem tÈcnica. Este programa constava de
23 pontos, sendo neste caso interessante ressaltar o de n˙mero 21, intitulado
Quadro SinÛptico para o estudo geral da m˙sica popular brasileira.
Havia, ainda, outro problema: quais as melodias a ensinar? N„o havia
um repertÛrio musical adequado para servir a este fim. Foi ent„o que Villa-
Lobos empreendeu a tarefa de selecionar material para servir de base ao
trabalho de formaÁ„o de uma consciÍncia musical e, como n„o podia deixar
de ser, o folclore brasileiro foi o esteio principal. Deste esforÁo resultou o
Guia pr·tico, importante obra did·tica, destinada a dar ‡ crianÁa um
conhecimento mais Ìntimo do folclore brasileiro, em todas as suas mais
importantes manifestaÁıes.
A preocupaÁ„o de Villa-Lobos com a assimilaÁ„o do nosso folclore,
com a valorizaÁ„o e vivificaÁ„o das nossas raÌzes, sempre foi uma constante.
ìElas visam t„o-somente prover o progresso cÌvico das escolas, pois que nossa gente,
talvez em conseq¸Íncia de razıes raciais, de clima, de meio, ou dos poucos sÈculos da
existÍncia do Brasil, ainda n„o compreende a import‚ncia da disciplina coletiva dos
homens.
Devemos, pois, considerar cada uma dessas demonstraÁıes como ëaula de civismoí,
n„o sÛ para os escolares, mas, principalmente, para o povo, cuja prova de sua eficiÍncia
est· justamente no visÌvel progresso que, de ano a ano, se observa nas atitudes cÌvicas
do nosso povo.
A primeira demonstraÁ„o realizada teve por principal fim despertar o entusiasmo
dos nossos escolares pelo ensino de m˙sica e canto orfeÙnico, e, desse modo, colaborar
com os educadores na obra da educaÁ„o cÌvica e do levantamento do gosto artÌstico do
25
Brasil.î
24
VILLA-LOBOS, H. O ensino popular da m˙sica no Brasil. Distrito Federal: Departamento de EducaÁ„o
do Distrito Federal, 1937 p. 40-41.
25
VILLA-LOBOS, H. O ensino popular da m˙sica no Brasil, p. 12-13.
2 8
As demonstraÁıes tinham lugar, geralmente, nos dias da IndependÍncia,
da Bandeira, Pan-Americano, da M˙sica etc.
D. Mindinha, em depoimento gravado no Museu da Imagem e do Som,
informa:
ìInfelizmente, essa faceta de seu talento n„o foi compreendida. Os seus contempor‚neos
n„o entenderam que, ao realizar aquelas concentraÁıes escolares, ele queria despertar
na crianÁa o interesse pela nossa m˙sica popular e pelas artes. Para realizar esse
trabalho, ele deixou, ao final de sua vida, de se dedicar mais ‡s suas composiÁıes.
Villa queria alfabetizar musicalmente as crianÁas, ensinar preceitos de educaÁ„o,
despertando a responsabilidade de cada uma. Pode ter sido tachado de fascista ou
28
comunista, mas esse era o pensamento dele.î
ìHoje eu compreendo que Villa-Lobos, para perseguir o que ele queria, ele se
aproximava de quaisquer governos, quaisquer pessoas, pouco se incomodava com a
atitude de cada um, com o pensamento ou ideologia, porque ele tinha uma ideologia
26
ComunicaÁ„o pessoal ‡ autora, 4 de abril de 1987.
27
Depoimento do musicÛlogo Luiz Heitor Correa de Azevedo. O Estado de S. .Paulo, 17 nov. 1984, p.14.
28
Depoimento de D. Mindinha ao Museu da Imagem e do Som.
2 9
ìa crianÁa deve prÛpria, que n„o era propriamente uma ideologia polÌtica, era uma ideologia
sentimental. Ele era um nacionalista sentimental e era um homem convencido de que
comeÁar a aprender o Brasil inteiro precisava cantar.
a cantar desde Ele achava que a crianÁa deve comeÁar a aprender a cantar desde que comeÁa a
balbuciar as primeiras sÌlabas. E para que isso aconteÁa, È preciso que a m„e saiba
que comeÁa cantar. E que depois, quando a crianÁa for para a escola, encontre professores que
saibam ensinar a cantar. Esta foi a principal raz„o pela qual ele fundou o orfe„o e
a balbuciar as fundou depois o ConservatÛrio Nacional de Canto OrfeÙnico, para treinar professores
que soubessem ensinar canto.
primeiras sÌlabasî Hoje, eu acho que todos os governos que n„o apoiaram Villa-Lobos cometeram um
grave crime contra o paÌs. Ele foi um extraordin·rio professor, que deu uma liÁ„o
29
que ninguÈm ouviu.î
29
Depoimento do reitor da Universidade do Rio de Janeiro (Uni-Rio), professor e escritor Guilherme
Figueiredo, em 21 de agosto de 1987. Guilherme Figueiredo escrevia sobre m˙sica na Revista do Brasil
e no O Jornal. Tratou de alguns problemas relativos ‡ m˙sica de Villa-Lobos junto a Max Eschig, a
pedido de D. Mindinha e do Itamaraty, como adido cultural.
3 0
com que se incorporaram a essa Festa de Rhythmo as bandas musicais do ExÈrcito,
PolÌcia, Bombeiros e Batalh„o Naval.
Estiveram presentes Sr. e Sra. Get˙lio Vargas, Cardeal D. Sebasti„o Leme, Professor
AnÌsio Teixeira, Ministro da Marinha, secret·rios dos demais MinistÈrios, Dr.
Amaral Peixoto, representando o interventor Pedro Ernesto, e figuras de grande
representaÁ„o social.î
30
Frase dita pelo genial maestro, de acordo com a publicaÁ„o PresenÁa de Villa-Lobos ñ v. 6, p. 143, e
tambÈm in CARVALHO, HermÌnio Bello de. O canto do pajÈ. Rio de Janeiro: EspaÁo e Tempo / Metal
Leve, 1988, p. 53.
31
In ProgramaÁ„o Funarte, dezembro de 1986, p. 5. N˙mero dedicado a Villa-Lobos, com a foto do
compositor na capa e os dizeres: ì87 ñ O Ano de Villaî.
3 1
32
A ˙ltima participaÁ„o ficou a cargo do modinheiro Paulo TapajÛs, que
nos revela:
ìNunca gravei Villa-Lobos. Meu grande relacionamento com ele foi da Època do
Canto OrfeÙnico. Em 1952, fui convidado por ele para cantar a parte solista da
canÁ„o ëPresÈpio do Villaí, com versos da ëBeata Virgineí (1563), do Padre JosÈ de
Anchieta. Esta apresentaÁ„o deu-se a 7/9/52 no p·tio do MEC, hoje Pal·cio da
Cultura, e fez parte das comemoraÁıes do Dia da IndependÍncia. SÛ para que se
tenha uma idÈia da grandiosidade da apresentaÁ„o, vou dizer como era: eles armaram
arquibancadas e dois palanques, num ficava o Villa e no outro eu, com a participaÁ„o
de um orfe„o de dez mil figurantes (vozes), composto por alunos das escolas secund·rias
ìOs ensaios eram (Instituto de EducaÁ„o, Escola Normal Carmela Dutra e ColÈgio Pedro II), tÈcnicos
e professores de Canto OrfeÙnico, mais o Coro do Theatro Municipal. Os ensaios
feitos nos lugares onde eram feitos nos lugares onde estes grupos de crianÁas estavam sediados. Ora numa
escola, ora noutra. Quando comeÁava a ficar mais ou menos pronto, o Villa me
estes grupos de telefonava para que eu desse uma passada para ensaiar.î
crianÁas estavam Paulo TapajÛs teve ainda outro contato com Villa-Lobos, na Època em
sediados. Ora numa que era diretor da R·dio Nacional. Villa-Lobos regeu a Orquestra SinfÙnica
da R·dio, tocando m˙sicas dele, mais de uma vez. Conta-se inclusive, que
certa ocasi„o, ficou altamente entusiasmado com a qualidade dos m˙sicos
escola, ora noutraî da Orquestra e fez um pequeno discurso no final, enaltecendo o valor dos
m˙sicos. Paulo TapajÛs continua:
Paulo TapajÛs ìN„o sofri nenhuma influÍncia de Villa-Lobos. Fui sempre um intÈrprete. O rumo
dele era um e o meu, outro. Quanto ‡ obra dele, È uma coisa fant·stica! As ëCirandasí,
o modo como ele utilizava o material folclÛrico, transformava uma coisa simples,
rude, numa coisa rica. Os ëChorosî e, em especial, o de n∫ 10, o ëChoros n∫ 1í para
viol„o, mostram a import‚ncia que ele dava ‡ m˙sica popular. Villa tem uma raiz
forte, muito autÍntica, a maneira como ele re-harmonizava as canÁıes, como por
33
exemplo, a ëViola quebradaí, È extraordin·ria; essas coisas a gente n„o esquece.î
ìNem sÛ no folclore Villa-Lobos foi buscar temas para muitas de suas obras musicais.
[...] Foi assim, indo ao encontro das coisas comuns, procurando marcas positivas de
arte atÈ nos que faziam m˙sicas sÛ de ouvido ñ os orelhudos, estes ‡s vezes conseguindo
surpreendente riqueza melÛdica ñ, que certa noite Villa-Lobos apareceu na Escola
de Samba Recreio de Ramos. Estava acompanhado de AnÌsio Teixeira, e a Escola
realizava um dos seus ensaios preparatÛrios para o desfile de domingo de Carnaval
na Presidente Vargas. T„o ilustre presenÁa deu ao apronto grande animaÁ„o. [...]
Foi, pois, emocionando o Moleque Sete (apelido do autor) que Villa-Lobos o felicitou
e lhe pediu permiss„o para, possivelmente, us·-lo numa adaptaÁ„o que conservaria
32
ComunicaÁ„o pessoal ‡ autora, 13 de janeiro de 1987.
33
Depoimento pessoal ‡ autora, 13 de janeiro de 1987.
3 2
nÌtido, em essÍncia, o seu desenho melÛdico. Era uma honraria jamais sonhada que
34
o jornaleiro Ernani da Silva estava obtendo.î
...um coral ìAquele pedido para transformar o bonito samba em canÁ„o escolar foi confirmado,
pois Villa-Lobos convidou Alberto Ribeiro para fazer uma letra de sentido educativo
de escolares (25 mil) e, fazendo um novo arranjo melÛdico, transformou-o na canÁ„o ëMeu Brasilí.
Depois, numa festa cÌvico-escolar realizada no dia 7 de julho de 1935 no est·dio do
cantou ëMeu Brasilí... Clube de Regatas Vasco da Gama, um coral de escolares (25 mil) cantou ëMeu
Brasilí, sendo muito aplaudido. A massa coral entoava, sob a regÍncia do prÛprio
...entoava, sob a Villa, a canÁ„o que ele ouvira no ensaio de uma escola de samba.
regÍncia do prÛprio Em ritmo diverso, com novos versos, despido de ziriguidum, porÈm
conservando a melodia original, o samba do jornaleiro Ernani foi
Villa, a canÁ„o que dignificado.î
ele ouvira no ensaio de Esta m˙sica integra o 1∫ volume do Canto OrfeÙnico, sob o n∫ 14, ‡ p·gina
25, editado pela Vitale em 1940.
uma escola de samba... Villa-Lobos valorizava os homens que faziam m˙sica popular, em relaÁ„o
aos acadÍmicos e intelectuais. Vejam o que ele disse a um intelectual que
travava um debate p˙blico contra os sambistas e foi por ele ridicularizado
Jota EfegÍ na dÈcada de 1950:
ìOs sambistas s„o incultos, n„o tÍm cultura, mas tÍm inteligÍncia, tÍm raciocÌnio,
tÍm mais imaginaÁ„o que vocÍ. Eles tÍm imaginaÁ„o, muita imaginaÁ„o, eles tÍm um
35
sentido irÙnico, eles sabem observar os problemas populares, ridiculariz·-los.î
34
EFEG , Jota. Figuras e coisas da m˙sica popular brasileira ñ v. 2. Rio de Janeiro: Funarte, 1980, p.16-17.
ìOnde Villa-Lobos d· sambaî È o tÌtulo do artigo.
35
Document·rio ìUm Ìndio de casacaî ñ 2™ Parte, transmitido pela Rede Manchete de Televis„o em
28 de marÁo de 1987.
3 3
VILLA-LOBOS E O CARNAVAL ANTIGO.
S‘DADE DO CORD√O
36
Posteriormente a este trabalho, fomos levados a uma pesquisa mais aprofundada sobre o ìSÙdade
do Cord„oî, onde, alÈm do aproveitamento deste capÌtulo, inserimos dados, incluindo documentaÁ„o
Abaixo: Os ìSaposî chegando no terreiro, fazen- musical e iconogr·fica sobre a reediÁ„o do Bloco, em 1987, pelo Museu Villa-Lobos, como parte das
do a guarda de honra da Rainha comemoraÁıes do ano de centen·rio de nascimento do compositor.
3 4
bombos enormes fazendo barulho ensurdecedor. O ëZÈ Pereiraí evoluiu para os
ëcordıesí propriamente ditos (pois essa denominaÁ„o servia, tambÈm, para designar
37
qualquer grupo carnavalesco).î
37
EFEG , Jota. Ameno Resed·: o rancho que foi escola. Rio de Janeiro: Letras e Artes, 1965, p. 65.
38
ENEIDA. HistÛria do carnaval carioca. Rio de Janeiro: CivilizaÁ„o Brasileira, 1965, p. 124-125.
3 5
Os cordıes costumavam exaltar e enaltecer o tipo de beleza da mulher
brasileira ñ a morena. Por muitas dÈcadas, somente a morena foi cantada e
decantada nos festejos momÌsticos. SÛ bem mais tarde a loura passa a ser
tambÈm enaltecida, j· no samba.
Os temas das m˙sicas cantadas pelos cordıes em seus desfiles iam desde
as poesias mais rom‚nticas e singelas, passando pelos rouxinÛis, pela rosa,
pela morena, atÈ o chorar das desgraÁas nacionais, caricaturando ou
enaltecendo os acontecimentos p·trios.
ser fundado, trouxe ìEm 1907 a PolÌcia Federal proibiu a saÌda de dois. ëTeimosos da Gamboaí e
ëTeimosos da Chamaí. A rivalidade entre eles crescera de tal modo que os conflitos
como uma de suas entre os dois tornaram-se inevit·veis.î
40
pretensıes n„o apenas ìCom o intuito louv·vel, ali·s, de evitar os conflitos entre os cordıes e grupos carnavalescos
criar uma novidade no nas competiÁıes de rua, foram postas em pr·tica medidas policiais, que tiveram efeitos
contr·rios ‡ existÍncia dos cordıes, pois impediam as referidas medidas que os grupos e
carnaval cariocaî cordıes se encontrassem nas ruas para as danÁas, de maneira que, sendo essa a sua
verdadeira concepÁ„o, ou finalidade, em pouco desapareciam eles, surgindo ent„o os
41
ranchos de efeitos diferentes completamente dos cordıes e grupos.î
ìO Ameno Resed·, ao ser fundado, trouxe como uma de suas pretensıes n„o apenas
criar uma novidade no carnaval carioca para fugir ao que lhe era comum e atÈ mesmo
tradicional. Seus organizadores cuidaram, e principalmente isto, de que a renovaÁ„o
a ser feita tivesse qualidades artÌsticas em todas as suas facetas ou aspectos. O sentido
popular intuitivo para lograr boa recepÁ„o n„o seria, no entanto, desprezado.
Tendo em conta o cunho dos festejos carnavalescos, mesmo sem tentar erudiÁ„o, a
realizaÁ„o seria esmerada, de bom gosto, com o escopo de agradar o mais possÌvel. O
rancho deveria ser, como acabou sendo, uma ëescolaí onde os co-irm„os pudessem
aprender novas maneiras de formaÁ„o de um cortejo, de constituiÁ„o de um prÈstito.
Ensinaria como juntar, para resultado brilhante, roupagens, alegorias pl·sticas, luzes
e musicalidade. A soma de todos esses elementos bem dosados daria, como sempre
42
deu, um espet·culo feÈrico, atraente, deslumbrante.î
39
EFEG , Jota. Figuras e coisas do carnaval carioca. Rio de Janeiro: Funarte, 1982, p. 177.
40
ENEIDA, p. 130.
41
EFEG , Jota. Ameno Resed·: o rancho que foi escola, p. 74. JosÈ Ramos Tinhor„o, ‡ p·gina 80 de seu
trabalho M˙sica popular (Rio de Janeiro: JCM, [19--), confirma essa observaÁ„o.
42
EFEG , Jota. Ameno Resed·: o rancho que foi escola, p. 96.
3 6
Com este objetivo, a nova sociedade procurou trazer para seu quadro
grande n˙mero de carnavalescos conhecidos que, junto aos entusiasmados
componentes fundadores, contribuÌram para a merecida fama do ëAmeno
Resed·í.
Para se ter uma idÈia, m˙sicos categorizados como ZÈ do Cavaquinho
(JosÈ da Silva Rabello); Quincas Laranjeiras (JosÈ da ConceiÁ„o), excelente
violonista e exÌmio chor„o; Henrique Martins (ex-trombonista da Orquestra
do Theatro Municipal) e os pistonistas da Banda do Corpo de Bombeiros,
dirigida pelo maestro Anacleto de Medeiros, participavam gratuitamente dos
ensaios e dos desfiles do rancho.
ìA gente que em ìMuitos m˙sicos de renome foram atraÌdos pela sociedade, graÁas ‡ aurÈola de seu
alto padr„o artÌstico, nela ingressando com entusiasmo, dispostos a colaborar na
1940 jamais havia manutenÁ„o de tal categoria, e mesmo elev·-la mais. JosÈ Barbosa da Silva, o
popularÌssimo ëSinhÙí, cognominado o ëRei do Sambaí, uma das glÛrias da m˙sica
visto um autÍntico popular brasileira, fez parte da orquestra do Ameno Resed· tocando flauta e viol„o.î
43
Heitor Villa-Lobosî As escolas de samba evoluÌram, numerosas, esbanjando luxo. Haviam deixado de
ser os simples blocos, grupos ou embaixadas com as baianas gingando na batida dos
44
tambores, dos pandeiros e cuÌcas intercalando o seu mugido.î
Jota EfegÍ NinguÈm mais se recordava dos cordıes como foram retratados
anteriormente. Eles passaram a existir no arquivo da memÛria popular, na
lembranÁa daqueles que os viveram ou assistiram a seus desfiles na primeira
dÈcada do sÈculo.
ìA gente que em 1940 jamais havia visto um autÍntico cord„o ia conhecÍ-lo, graÁas
ao espÌrito revolucion·rio e audacioso de Heitor Villa-Lobos. Ent„o, no dinamismo
com que sempre caracterizava seus empreendimentos, o nosso famoso m˙sico resolveu
fazer ressurgir em plenitude, na maior fidelidade possÌvel, um verdadeiro cord„o.
N„o um simples arremedo, uma boa ou perfeita imitaÁ„o capaz de convencer e atÈ de
agradar os n„o entendidos.
Villa-Lobos queria fazer ressurgir um cord„o tal como o foram o Terror das Chamas,
o Pavor dos Inocentes do Morro do Pinto, o Prazer da Pedra Encantada e tantos
mais. Todos de nomes pouco (ou nada) poÈticos, mas de notÛria agressividade. E
formando uma assessoria de entendidos do riscado, buscando a cooperaÁ„o de v·rios
integrantes de velhos cordıes, dentre eles o famoso Pai Aluf·, JosÈ Gomes da Costa,
45
de apelido ZÈ Espinguela, iniciou os preparativos.î
O nome j· estava decidido: ìSÙdade do Cord„oî.
43
Idem, p. 102.
44
EFEG , Jota. Figuras e coisas do carnaval carioca, p. 176.
45
Idem, p. 177.
3 7
Condizente com o enredo do Cord„o, que era uma revivescÍncia dos
carnavais do inÌcio do sÈculo, como bem mostra o ìExtrato de Estatutosî
publicado na SecÁ„o I do Di·rio Oficial de quarta-feira, 17 de janeiro de 1940
(Anexo 4), foi nomeada uma comiss„o para dirigir os festejos carnavalescos
do Cord„o, tendo como seu presidente JosÈ Gomes da Costa.
D. Zica, importante figura da Mangueira, nos deu a seguinte informaÁ„o:
ìVilla-Lobos conheceu o ZÈ Spinelli aqui na Mangueira, pois ele morava no Iraj· mas
46
n„o saÌa daqui. O ZÈ Spinelli foi tambÈm um dos fundadores da Mangueira.î
Os filhos de ZÈ Espinguela, Wilson e Crispim Gomes da Costa,
47
informam em seus depoimentos:
ìOs ensaios eram sempre aos domingos, das 16 ‡s 22 horas. O maestro vinha
sempre aqui com a patroa dele. Naquela Època o endereÁo era Travessa Violeta n∫
29, Iraj·, depois È que passou a ser Rua Bar„o de Jaguari n∫ 52. N„o tinha morro
nenhum. O lugar È o mesmo, sÛ mudou o nome. Na Època n„o havia luz, ·gua, nem
asfalto. Era rua de terra. O maestro disso aqui n„o entendia muito. Nesse assunto
ele estava por fora, ele era famoso na m˙sica. Tudo era o Espinelli. O velho era
muito animado; ele fazia de tudo e era muito respeitado e conhecido. A nossa casa
era muito freq¸entada por Cartola, Paulo da Portela, Ary Barroso, Carlos CachaÁa
e Villa-Lobos.
O pai era o Ìndio Tuchau e desfilava com um lagarto vivo, mas tinha palhaÁos, clÛvis,
diabinho, velhos, sapos, Ìndios e a folia (que era uma fantasia cheia de guizos). Eu
desfilei junto com minha m„e, na ala dos velhos e meu irm„o Crispim desfilou de
morcego branco. Quando terminou tudo, nÛs levamos todas as roupas para o maestro
Abaixo: O Maestro Villa-Lobos d· instruÁıes a
ìPai Alufaî, que est· vestido de chefe Ìndio Villa-Lobos, l· no ConservatÛrio da Urca. Naquela Època era uma verdadeira
viagem! O pessoal chamava o velho de uma porÁ„o de nomes, ZÈ Spinelli, ZÈ
Espinguela, Pai Aluf·, mas o nome mesmo era JosÈ Gomes da Costa. Muita coisa
eu n„o sei, porque quando o pai morreu eu tinha 11 anos e naquela Època crianÁa
n„o partilhava de conversa de adulto.î
46
ComunicaÁ„o pessoal ‡ autora, 15 e 19 de janeiro de 1987.
47
ComunicaÁ„o pessoal ‡ autora, 7 de fevereiro de 1987.
3 8
ìPrompto para desfilar o SÙdade do Cord„o, o repÛrter estranhou que a Rainha dos
Diabos esteja com a barba por fazer.
ñ A rainha È homem.
ñ Homem?
ñ Sempre foi e conservamos os costumes dos velhos carnavaes, com suas tradiÁıes e
seus apparentes erros.î
Um pouco daquele ìëSÙdade do Cord„oí ñ Embaixada que veio lembrar o Momo dos bons tempos. Um
pouco daquele carnaval gostoso, ingÍnuo, cheiroso, animado, que a batuta em fÈrias de
carnaval gostoso, um maestro brasileiro ressuscitou para o carioca de hoje.
ingÍnuo, cheiroso, AtÈ as duas horas estava bastante pacÌfica a Feira de Amostras. Foi precisamente a
animado,...î esta hora, a marcada para o inÌcio do SÙdade do Cord„o, que o povo comeÁou a
entrar, mas a entrar em massa em grandes bandos. Entraram de repente e encheram
o vasto recinto em meia hora. N„o escapou nada durante esta meia hora. Quando
circunvagamos os olhos pela Feira atÈ pelos telhados havia gente. E o carioca provou
que se n„o È macaquito pela mania de imitaÁ„o, È realmente macaco na hora de subir
em alguma coisa.
ñ T· na hora! T· na hora!
ìAcolhido com palmas pelo numeroso p˙blico que lotava as alamedas, os componentes
do Cord„o caminharam cantando: Adeus, bela morena,/ Em teu nome ouvi falar./
48
Vamos ver o SÙdade do Cord„o / Que saiu a passar.î
48
EFEG , Jota. Figuras e coisas do carnaval carioca, p. 178.
3 9
A beleza fascinante da atriz, a harmonia do seu bailado eram realÁadas
pela coreografia dos bailarinos, entre eles o cÈlebre Perna Fina, que causava
admiraÁ„o com as figuraÁıes de danÁa, as j· famosas tesoura, corta-jaca e
miudinho.
Os Ìndios traziam na m„o bichos vivos, e um deles, o ZÈ Espinguela,
dava beijos na cabeÁa de um lagarto. Juntamente com os Ìndios entravam os
caboclos, o cacique-chefe, a rainha dos caboclos, os caciques, os guerreiros,
os caÁadores, o pajÈ e Tup„. Logo a seguir, 14 sapos-homens, com enormes
m·scaras de papel„o imitando sapos, chefiados pelo monstro do rio
Amazonas. Bem mais atr·s (10 metros) vinha o grupo dos velhos, palhaÁos,
rei e rainha dos diabos, diabinhos, morcegos, e o segundo estandarte, m·scara
...que a batuta agigantada de um amerÌndio zangado, carregada por um homem
extraordinariamente robusto e musculoso.
em fÈrias de um A invas„o do ambiente dos Ìndios e caboclos pelos velhos, diabos e
todos os componentes do segundo grupo, fez com que os primeiros se
maestro brasileiro aproximassem selvagemente e com ameaÁas, roÁando o estandarte da VitÛria-
rÈgia no do AmerÌndio, como se fosse uma instigaÁ„o, uma batalha. Aos
ressuscitou poucos esse clima de animosidade foi melhorando, atÈ que todos
confraternizaram e se cumprimentaram numa euforia incomum, culminando
para o carioca com o beijo dos dois estandartes em sinal de paz e alegria.
de hoje... Depois disso, como sinal de confraternizaÁ„o, todos danÁaram na grande
praÁa central da feira ao ritmo das zabumbas, reco-recos, chocalhos, surdos,
tamborins, pratos de louÁa e cornetas de chifre.
O Di·rio de NotÌcias de 6/2/1940 publicou o seguinte:
Ä PalhaÁos:
Francisco Henrique dos Santos, Wenceslao Rodrigues, Lourival Gomes
da Costa (parente de ZÈ Spinelli), Claudionor Rodrigues Marcellino,
Valentim Bento GonÁalves, Balduino dos Santos J˙nior e JosÈ Domingos
do Amorim.
4 0
Ä Sargentos:
Antenor dos Santos, Joaquim Vieira, 10 diabinhos e 2 morcegos (um
destes morcegos era Crispim Gomes da Costa, filho de ZÈ Spinelli).
4 1
Recorte do jornal A Noite Dominical de 4 de
fevereiro de 1940
ìComo toda gente esperava, o SÙdade do Cord„o organizado pelo maestro Villa-
Lobos constituiu uma nota differente no Carnaval deste ano.î
Uma roda imensa onde todos cantavam o estribilho. Para o centro ia um dos
batuqueiros, improvisando versos, exibindo passos. Findo seu recado, chegava-se a
ìO SÙdade um outro, figurava uma coreografia de capoeira terminada em reverÍncia, convite
para o outro mostrar do que era capaz. E os assistentes aplaudiam, vivavam,
do Cord„o foi, provocando baba em Villa-Lobos, sempre atento ‡s manifestaÁıes de nossa cultura
popular. [...]
sem d˙vida,
o ponto culminante No ano que me deixou uma baiana grudada nos olhos para sempre, Arthur Rubinstein
terminara sua temporada de concertos j· nas proximidades do carnaval. Grande
do Carnaval amigo de Villa-Lobos, tendo emprestado a autoridade de seu nome para torn·-lo
conhecido na Europa, aceitou o convite do compositor para ficar mais uns dias no
de 1940î Rio e ver nossa festa maior. A saÌda do bloco do maestro se dava sempre no maior
estardalhaÁo, o que provocava inevit·veis protestos de Lopes Trov„o, pois lhe perturbava
a espera sossegada do ˙ltimo carro (estava contando tempo para morrer). [...]
E liderando o bloco no auge da alegria, como tambÈm de uma total falta de jeito e
cadeiras convenientemente moles para o remelexo, l· ia Arthur Rubinstein metido
na pele da ˙nica fantasia que tinha sido possÌvel arranjar-lhe ‡ ˙ltima hora: uma
49
baiana deslumbrante, com torso de seda e tudo.î
49
LAGO, M·rio. Na rolanÁa do tempo. 2. ed. Rio de Janeiro: CivilizaÁ„o Brasileiro, [1976], p.151-152.
50
ComunicaÁ„o pessoal ‡ autora, 7 de fevereiro de 1987.
51
Jornal do Brasil, 20/1/1987, p. 1.
4 3
ìCom grande produÁ„o cÍnica e musical o SÙdade do Cord„o, 47 anos depois de seu
primeiro desfile, tem o mesmo enredo com que o bloco se apresentou em sua primeira
passagem: RecordaÁ„o do Passado.
A Ìndia destaque ser· a atriz e bailarina Rita Freitas, que estar· ocupando o lugar
que no passado foi da atriz Anita Otero.
O Mestre-Sala Cacique ser· o bailarino Carlos Jesus, que vai reviver JosÈ Espinguela.
O grande passista de 1940 foi Perna-Fina, que ser· homenageado por Carlos Ramos,
tambÈm bailarino.
Como fonte de inspiraÁ„o para a criaÁ„o das fantasias, o grupo do Museu Villa-
Lobos tem 17 aquarelas pintadas por Di Cavalcanti, a pedido de Villa-Lobos, e
52
que representam figuras marcantes nos cordıes.î
52
Jornal do Brasil, 14/2/1987, Caderno Cidade, p. 5.
4 4
A FROTA DA BOA VIZINHAN«A
A presente tour de Stokowski e da sua ëAll American Youth Orchestraí obedece assim ‡
53
mais ampla e oportuna das obras de fraternidade cultural entre os povos do Novo Mundo.î
53
Jornal do Brasil, 7/8/1940, p. 11.
4 5
ìO maestro Leopold Stokowski È conhecido pelo nosso p˙blico atravÈs do filme ë100
homens e uma meninaí e atravÈs dos coment·rios jornalÌsticos em torno de sua arte,
de seu car·ter e de suas aventuras sentimentais. Acompanham a orquestra de jovens
pan-americanos, v·rios tÈcnicos de gravaÁ„o de discos da Columbia, com o propÛsito
54
de gravarem composiÁıes sul-americanas.î
O Brasil havia sido escolhido como ponto de partida para esse surrealista
cruzeiro de Good Will, que se estenderia ‡ Argentina, ao Uruguai e a v·rias
rep˙blicas da AmÈrica Central.
No Rio de Janeiro, Stokowski e sua orquestra fizeram duas apresentaÁıes,
nos dias 7 e 8 de agosto de 1940, no Theatro Municipal. O ˙ltimo concerto
ìStokowski solicita no Brasil foi em S„o Paulo, no Theatro Municipal, no dia 9. Do programa
do primeiro concerto constavam: Bach, Fuga em Sol menor; Brahms, Sinfonia
a cooperaÁ„o n∫ 1 em Cm; Mignone, Primeira Fantasia Brasileira, encerrando com Wagner,
ìCanto de Amorî de Trist„o e Isolda. A substituiÁ„o da Fantasia Brasileira de
de Villa-Lobos, Mignone pelo PrÈlude ‡ líaprÈs-midi díun faune, de Debussy, ocorreu, segundo
o Di·rio de NotÌcias de 8/8/1940, em virtude da demora no despacho da
no sentido bagagem. N„o se pode garantir que o motivo da substituiÁ„o tenha sido
realmente o publicado.
de recolher m˙sicas No segundo concerto, a pianista Magda Tagliaferro, grande virtuose
populares do Brasilî brasileira, foi a solista de Momo Precoce, de Villa-Lobos. Constou do programa,
ainda, a Sinfonia n∫ 5 de Tchaikowsky, terminando a apresentaÁ„o com o
P·ssaro de Fogo de Strawinsky.
55
SILVA, MarÌlia T. Barboza; OLIVEIRA FILHO, Arthur L. de. Filho de Oxum bexiguento. Rio de Janeiro:
Funarte, 1979, p. 101.
4 6
NOME DA M⁄SICA AUTORES G NERO
4 7
dando prosseguimento ‡s atividades. AluÌsio Dias lembra-se bem que depois das
56
gravaÁıes foi servido um lanche. SÛ saÌram do navio j· com o dia claro.î
ìColumbia Presents Native Brazilian Music selected and recorded under the personal
supervision of Leopold Stokowski.î
ìCom exceÁ„o ìHere in this album of Columbia Records you have authentic music of Brazil...
superbly played by native musicians... selected and recorded under the personal
de Cartola, supervision of Leopold Stokowski.
These significant recordings were made during maestro Stokowskiís tour of South
de AluÌsio Dias America with the All-American Orchestra. At the various stops of the tour, Dr.
e de D. Neuma, Stokowski listened to the native folk and popular music as interpreted by the musicians
of our Good Neighbor states. For recording purpose he chose what he thought was
que depois ouviram best and most typical.
Plans for these records were laid when arrangements were first completed to record,
as gravaÁıes, exclusively on Columbia Masterworks. The All-American Orchestra under Leopold
Stokowski.î
a maioria
Cabe aqui uma observaÁ„o, com referÍncia ‡ afirmaÁ„o de que as m˙sicas
dos participantes ìhaviam sido selecionadas e gravadas sob a supervis„o de Leopold
Stokowskiî. Isto pode ter acontecido numa segunda fase dos trabalhos, j·
morreu sem ter tido que a seleÁ„o inicial foi feita por Villa-Lobos.
a oportunidade VOLUME ONE
de apreciar Ä 36.503
o trabalho feitoî C 831 - CO 30165
M˙sica: Macumba de ìOchocÈî * (OxÙsse)
GÍnero: Macumba with vocal ensemble
IntÈrpretes: Grupo do ìRaeî Aluf· (Pai)
Compositor: JosÈ Espinguela
C832 - CO 30166
M˙sica: Macumba de InhanÁam *
GÍnero: Macumba with vocal ensemble
IntÈrpretes: Grupo do ìRaeî Aluf· (Pai)
Compositor: JosÈ Espinguela
Ä 36.504
C83-3 - CO 30150
M˙sica: Samba ìConcaoî (CanÁ„o)
GÍnero: Samba with vocal refrain
IntÈrpretes: Regionale Orchestra
Compositor: Wasson - Donga
C83-4 - CO 30151
M˙sica: Caboclo do ìMattoî * (Mato)
SILVA, MarÌlia T. Barboza; OLIVEIRA FILHO, Arthur L. de. Cartola. Os tempos idos. Rio de Janeiro:
56
4 8
GÍnero: Samba with vocal ensemble
IntÈrpretes: Regionale Orchestra
Compositor: Get˙lio Marinho
• 36.505
C-83-5 - CO 30154
M˙sica: Seu ManÈ e Luiz *
GÍnero: Samba with vocal duet
IntÈrpretes: Guarda ìVilhaî Orchestra (Velha)
Compositor: Ernesto dos Santos (Donga)
C83-6 - CO 30156
M˙sica: ìBambo du Bambuî * (apenas Bambu)
GÍnero: Samba with vocal refrain
ìOëmaestro sem IntÈrprete: Ernesto dos Santos with Orchestra
Compositor: Ernesto dos Santos (Donga)
batutaí despediu-se • 36.506
do Rio, para cumprir C83-7 - CO 30155
M˙sica: ìSappoî no saco* (Sapo)
compromisso GÍnero: Embolada with ensemble vocal
IntÈrpretes: Jararaca e ìRattinhoî with Orchestra (Ratinho)
C83-8 ñ CO 30147
Na despedida, M˙sica: Capa do Disco = ìK Keri KKîDentro do Disco = ìKe Ke re Ke Keî*
(QuequerequequÍ)
os m˙sicos brasileiros GÍnero: Embolada with ensemble vocal
IntÈrprete: Regional Orchestra
foram remunerados Compositor: Jo„o Machado Guedes (Jo„o da Baiana) e David Nasser
C84-2 - CO 30153
M˙sica: ìTocanda ëpraí voceî* (Tocando para vocÍ)
IntÈrprete: Instrumental Luiz Americano
Compositor: Luiz Americano
Ä 36.508
C84-3 CO - 30148
M˙sica: Pelo telefone*
GÍnero e intÈrprete: Samba with vocal chorus
Compositor: Donga
C84-4 - CO 30149
M˙sica: Passarinho ìbaleuî asas* (bateu)
GÍnero: Zamba with vocal ensemble
IntÈrprete: Regionale Orchestra
Compositor: Donga
Ä 36.509
C84-5 - CO 30163
M˙sica: Quem me vÍ sorrir *
GÍnero: Zamba with vocal ensemble
IntÈrprete: Mangueira Chorus
Compositor: de Oliveira (Cartola)
4 9
C84-6 - CO 30193
M˙sica: 1. Teir˙ * 2. ìNozani-naî * (Nozani-n·)
GÍnero: Chants
IntÈrprete: Brazilian Indian Singers
Compositor: Villa-Lobos
Ä 36.510
C84-7 - CO 30190
M˙sica: ìCantigoî de Festa * (Cantiga)
Nota: Na relaÁ„o anterior das m˙sicas n„o havia nenhuma com este nome.
GÍnero: CanÁ„o with vocal ensemble
IntÈrprete: Grupo ìRaeî Aluf· (Pai)
Compositor: JosÈ Espinguela
a quantia de 1$500,
AlÈm dos intÈrpretes e acompanhantes j· mencionados, participaram
o preÁo de das gravaÁıes Mauro CÈsar, JosÈ GonÁalves (ZÈ da Zilda, tambÈm conhecido
como ZÈ com Fome) e Janyr Martins (˙nica solista feminina a participar).
trÍs maÁos de cigarros Os parÍnteses s„o nossos, assim como as correÁıes. Pudemos ouvir
baratosî estes discos por ocasi„o deste trabalho, na casa de Humberto Franceschi, e
lamentamos o fato dos ·lbuns n„o se fazerem acompanhar de uma ficha
tÈcnica. Algumas das faixas, tais como Samba canÁ„o, QuequerequequÍ,
apresentam um arranjo altamente sensÌvel, com solos virtuosÌsticos de flauta,
que imaginamos serem de Pixinguinha.
Ainda nestas sÈries, marcaram sua presenÁa, pela harmonia e afinaÁ„o
57
do conjunto, o magnÌfico coral da Mangueira e Cartola.
A Macumba de OchÛcÍ (1™ parte) È bem semelhante a um ponto de Ogum
muito conhecido pelo nome de Beira-Mar (Anexo 6). J· no samba Caboclo do
mato, chamou-nos a atenÁ„o uma introduÁ„o marcadamente modal (a flauta
toca uma melodia em mixolÌdio) e, apesar de n„o indicado, o dueto vocal
aparece sobremaneira, e por toda sua roupagem musical mais parecia uma
macumba estilizada.
Para finalizar nossas observaÁıes sobre esta audiÁ„o, achamos relevante
notar que o conjunto intitulado ìBrazilian Indian Singersî n„o nos parece
formado por Ìndios, uma vez que a execuÁ„o musical mostra claramente
58
sinais de aculturaÁ„o.
Esquecida rapidamente, o retorno dessa polÌtica de boa vizinhanÁa nunca
chegou ao Brasil. Em seu depoimento do Museu da Imagem e do Som, D.
Mindinha se mostra revoltada: ìNÛs nunca tivemos este disco! Ele fez uma
59
sujeira!...î
57
Formado por Neuma, CecÈia, Nadir, OrnÈlia, Guiomar, NesÌlia e Naguinha.
58
No folheto da ediÁ„o histÛrica lanÁada no Brasil com data de agosto de 1987, com uma ficha tÈcnica
assinada por Ary Vasconcelos, consta que foi um quarteto de professores do Orfe„o Villa-Lobos.
59
Por ocasi„o desta pesquisa, tivemos acesso ‡s gravaÁıes originais na casa do fotÛgrafo e pesquisador
Humberto Moraes Franceschi. Em agosto de 1987 ñ ano do centen·rio de nascimento de Villa-
Lobos ñ, sob o tÌtulo Native Brazilian music, foi lanÁada a ediÁ„o histÛrica das citadas gravaÁıes, tendo
como produtor fonogr·fico o Museu Villa-Lobos, a FundaÁ„o Nacional PrÛ-MemÛria e a Secretaria
de Difus„o e Interc‚mbio Cultural do MinC.
5 0
Com exceÁ„o de Cartola, de AluÌsio Dias e de D. Neuma, que depois
ouviram as gravaÁıes, a maioria dos participantes morreu sem ter tido a
oportunidade de apreciar o trabalho feito.
ìUm ano e meio depois, Cartola recebeu pela gravaÁ„o a quantia de 1$500, o preÁo
de trÍs maÁos de cigarros baratos, muito menos do que com a venda de um ˙nico de
seus sambas dez anos atr·s. Achava que, se tivesse recebido honestamente o que lhe
62
era devido por esse disco, teria ganho muito dinheiro.î
60
SILVA, MarÌlia Barboza da; OLIVEIRA FILHO, Arthur L. de. Filho de Ogum bexiguento, p. 103-104.
61
SILVA, MarÌlia Barboza da; CACHA«A, Carlos; OLIVEIRA FILHO, Arthur L. de. Fala Mangueira.
Rio de Janeiro: J. Olympio, 1980, p. 72.
62
SILVA, MarÌlia T. Barboza da; OLIVEIRA FILHO, Arthur L. de. Cartola, os tempos idos, p. 78.
5 1
O SAMBA CL¡SSICO
Foi com Foi com O samba cl·ssico que Villa-Lobos, numa demonstraÁ„o de
respeito e carinho, homenageou os compositores populares. O samba cl·ssico
O samba cl·ssico data de 1950 e foi escrito para canto e orquestra, e tambÈm, em reduÁ„o,
para canto e piano. Esta composiÁ„o faz parte daquelas obras de Villa-
que Villa-Lobos, Lobos que quase n„o s„o executadas. Sua primeira audiÁ„o mundial foi
em 28 de fevereiro de 1958, na Canadian Broadcasting de Montreal, no
numa demonstraÁ„o Canad·, tendo como solista Maria Kareska, sob a regÍncia de Villa-Lobos.
A primeira audiÁ„o na AmÈrica do Sul ocorreu em 23 de novembro de
de respeito e carinho, 1963, no Rio de Janeiro, tendo sido executado pela Orquestra SinfÙnica
Nacional do Rio de Janeiro, sendo solista Maria L˙cia Godoy, sob a regÍncia
homenageou de Isaac Karabtchevsky.
os compositores Queremos chamar a atenÁ„o para um fato interessante, que diz respeito
‡ poesia que foi musicada por Villa-Lobos. Na partitura para canto e
populares. orquestra, consta o nome de Paula Barros como sendo autor da poesia, e na
partitura impressa, uma reduÁ„o para canto e piano, consta o nome de
Epaminondas Villalba Filho. Epaminondas Villalba era o pseudÙnimo usado
pelo pai de Villa-Lobos e, portanto, Epaminondas Villalba Filho era o prÛprio
Villa-Lobos, que n„o desejava identificar-se.
Eis a poesia em quest„o:
… a saudade intensa
De uma vida inteira
… a lembranÁa imensa
Que jamais se esquece.
O! quanta beleza,
que faz pensar
na doÁura de sua melodia!
O! faz viver um sofrimento esquisito
melancÛlico e triste!
TambÈm tem o sabor de alegria
de viver na comunh„o
dos seres da terra e do cÈu do Brasil.
5 2
Tudo È bom e justo,
tudo È belo enfim
cheio de esplendor
Na grandeza infinda
È feliz quem vive
Nesta terra santa
que n„o elege raÁa
nem prefere crenÁa.
O! Minha gente!
Minha terra!
Meu paiz!
Minha p·tria!
Para frente!
A subir!
A subir!
Sambar.î
63
Quanto ao plano formal, trata-se de uma peÁa tern·ria A-B-A escrita
na tonalidade de L· m, com uma introduÁ„o que vai do 1∫ ao 6∫
compasso, sobressaindo marcadamente uma progress„o harmÙnico-melÛdica
ascendente em staccato, ‡ moda das baixarias feitas pelos chorıes, que se
inicia no 9∫ compasso e culmina no 16∫ (da segunda vez), com a harmonia
revelando uma funÁ„o dominante, terminando de modo suspensivo,
preparando a entrada do tema A (1∫ tema).
Na partitura de orquestra, Villa-Lobos escreveu integralmente todas as
repetiÁıes, ao contr·rio da reduÁ„o, onde ele usa ritornello. A percuss„o,
como numa bateria de escola de samba, fica a cargo do tÌmpano, chocalho,
tamborim, reco-reco e tambor surdo, excetuando-se, neste caso, apenas o
tÌmpano.
O 1∫ tema (A) vai do compasso 17∫ ao 32∫ e È formado por dois perÌodos
bin·rios com repetiÁ„o. O 1∫ perÌodo (a), que vai do 17∫ ao 24∫ compasso,
È formado por frases tambÈm bin·rias, e os membros de frase (semifrases)
se apresentam com car·ter de pergunta e resposta.
O 2∫ perÌodo (aí) vai do 25∫ ao 32∫ compasso e reflete um aí, sendo a
linha melÛdica dos seis primeiros compassos exatamente a mesma de a,
porÈm uma 3™ acima, ficando apenas uma ˙nica nota fora dessa observaÁ„o
(l·# do compasso 19).
Nos compassos 31∫ e 32∫ a melodia È a mesma do 1∫ perÌodo (compare
23∫ e 24∫). A evidÍncia do aí se faz mais clara ainda ao se observar a grade
orquestral, onde pode-se constatar que na primeira vez a base (os baixos)
est„o por conta do fagote e da harpa, e na repetiÁ„o (segunda vez) passa
para o contrabaixo em oitavas, sendo que apenas duas notas s„o distintas,
revelando tratar-se de uma mudanÁa de posiÁ„o, sem alterar entretanto a
funÁ„o.
63
Utilizamos a partitura para canto e piano para a an·lise formal, sÛ recorrendo ‡ partitura orquestral
para enriquecer a an·lise com alguns pequenos dados.
5 3
A cÈlula rÌtmica motriz do canto
e do acompanhamento È do comeÁo ao final
de ìAî a mesma, evidenciando-se um ostinato rÌtmico, sendo que, na
primeira vez, o oboÈ dobra com o canto e na segunda vez os primeiros-
violinos dobram, como um reforÁo.
O 2∫ tema (B) vai do 33∫ ao 1∫ tempo do 44∫ compasso, sendo
formado por dois perÌodos. O 1∫ perÌodo vai do 33∫ ao 42∫ compasso,
formado por frases tern·rias. O 2∫ perÌodo comeÁa no 43∫ e termina no 1∫
tempo do 49∫ compasso, com uma ˙nica frase tern·ria. Este 2∫ perÌodo È
marcado pelas in˙meras progressıes melÛdicas descendentes (43∫ modelo,
44∫, 45∫ e 46∫ reproduÁıes), sendo que a partir do 47∫ compasso a progress„o
melÛdica passa a ser ascendente, levando a idÈia ao seu clÌmax, para ent„o
resolver no compasso 49∫ (1∫ tempo). Os primeiros-violinos continuam
dobrando a linha melÛdica do canto.
O 3∫ tema traz de volta o ìAî e vai do 2∫ tempo do compasso 49∫
atÈ o 64∫ compasso com repetiÁ„o (ritornello). Exatamente igual ao 1∫ tema,
excetuando-se apenas os instrumentos que dobram a melodia com o canto.
Na primeira vez, cabe ‡s flautas; na segunda vez (a), aparece triplicando a
melodia o clarinete juntamente com os primeiros violinos, e na parte (aí)
apenas os violinos.
Do 65∫ ao 81∫ compassos temos a repetiÁ„o integral da introduÁ„o,
tambÈm com ritornello, que neste caso est· funcionando como uma coda.
A partir do 72∫ compasso, o canto passa a reforÁar a linha melÛdica,
que atÈ ent„o estava por conta do oboÈ. A progress„o harmÙnica melÛdica
ascendente se evidencia: comeÁa num piano e meio forte, com indicaÁ„o de
crescendo poco a poco, passando por forte, fortÌssimo, culminando num fortissÌssimo,
mostrando toda a carga emocional com que se refletem os ˙ltimos versos:
ìMinha P·tria! Para frente! A subir! A subir!î, num arrebatamento patriÛtico
que se extingue numa apojatura breve apoiada na ˙ltima nota, onde se faz
ouvir ìSambarî.
5 4
ENCONTRO DE GIGANTES
ìQuando aquela gente N„o h· a menor d˙vida de que a Mangueira era a Escola de Villa-Lobos,
e n„o poderia ser de outro jeito. O maestro tinha um respeito e uma
humilde da Escola de admiraÁ„o muito grande pela gente mangueirense e, em especial, por Cartola
Samba Mangueira me e pelo samba daquela Escola. Isso foi comprovado quando da viagem de
Aaron Copland ao Rio de Janeiro, em 1941. Villa-Lobos levou-o a uma
procurou para audiÁ„o da Mangueira, pois, segundo ele, ìo samba na Mangueira È o mais puro,
64
o mais autÍnticoî.
pedir apoio para uma A comunidade mangueirense, em festa com a visita de t„o ilustre
homenagem compositor, preparou uma recepÁ„o ‡ altura, tendo ‡ frente seu maior
expoente, Cartola, acompanhado pelos membros da ala dos compositores
a Villa-Lobos, percebi da Escola. A apresentaÁ„o contou com os pandeiros, tamborins, cuÌca, surdo,
alÈm do canto empolgante das pastoras e de muita danÁa. Villa-Lobos, que
que a resposta estava anunciara a sua visita atravÈs de um telegrama, ficou muito satisfeito com a
chegando, recepÁ„o proporcionada ao colega compositor, que saiu impressionado com
a danÁa, a cuÌca e especialmente o canto.
atravÈs da compreens„o Esta demonstraÁ„o de carinho e respeito viria a ser retribuÌda de forma
muito especial e comovente. T„o comovente que, mais tarde, D. Mindinha,
da obra de Villa pelas fazendo alus„o ‡ j· famosa e conhecida filosofia villalobiana a respeito de
camadas inspiraÁ„o, declarou:
mais popularesî ìQuando aquela gente humilde da Escola de Samba Mangueira me procurou para
pedir apoio para uma homenagem a Villa-Lobos, percebi que a resposta estava
65
chegando, atravÈs da compreens„o da obra de Villa pelas camadas mais populares.î
D. Mindinha
ìSenti emoÁıes indescritÌveis por todos os teatros do mundo, vendo Villa reger ou
ouvindo sua m˙sica, mas poucas vezes chorei como quando, sete anos depois de sua
morte, fui convidada a assistir ao desfile da Mangueira, cujo enredo era ExaltaÁ„o a
66
Villa-Lobos.î
64
Revista Diretrizes, 27 nov. 1941, p.18. Aaron Copland ñ compositor americano de grande projeÁ„o.
CompÙs balÈs populares, m˙sica para filmes, trÍs sinfonias, m˙sica para piano etc. Algumas de suas
composiÁıes mais importantes s„o: Appalachian springs, Billy the Kid, El salÛn Mexico, Lincoln portrait,
Quiet city, Rodeo, Tender land.
65
Jornal do Brasil, 22 nov. 1969, s·bado, Caderno B, capa.
66
THORMES, Jacinto de. Villa-Lobos, o gÍnio da vaia. Jornal do Brasil, 31 jan. 1977, p. 6.
5 5
Qual nada, a Mangueira veio por ˙ltimo, disposta a ser a primeira! Seu
enredo ìExaltaÁ„o a Villa-Lobosî, de autoria do carnavalesco J˙lio Mattos, o
Julinho, foi o ponto alto do Carnaval de 1966. O samba de Cl·udio e Jurandir
(Anexo 7) foi dos mais bonitos, e esta beleza sobressaÌa cantada por aquele
imenso coro de pastores e pastoras. O intÈrprete do samba na avenida foi o
cantor Jamel„o. Como a gravaÁ„o dos sambas-enredo deu-se somente a partir
de 1967, o samba, tal qual est· escrito, foi para nÛs cantado por D. Neuma e
sua filha Guezinha. Mais tarde, pudemos complet·-lo e comprovar sua exatid„o,
atravÈs de uma gravaÁ„o existente no Museu da Imagem e do Som.
O enredo foi dividido em oito partes. Nelas se exaltava a presenÁa de
Villa-Lobos entre os chorıes; as crianÁas; os Ìndios; na educaÁ„o da juventude;
no carnaval antigo; no folclore e na natureza; no Brasil e, principalmente,
sua vida nos paÌses por onde passou. De acordo com o depoimento do
67
carnavalesco Julinho, a Escola apresentou trÍs alegorias:
ìNaquela Època n„o se usava muita alegoria, tinha mais era carnaval de m„o. As
fantasias e as alegorias foram baseadas nas composiÁıes dele. A primeira alegoria
era um carro representando os Ìndios e p·ssaros da nossa terra, o viol„o e os chorıes
simbolizando a seresta. A segunda alegoria vinha com a deusa da m˙sica, dois
Alegoria mangueirense para o enredo ExaltaÁ„o a
Villa-Lobos, Carnaval de 1966. Foto de Elizabeth
de Castro Alves. Arquivo do carnavalesco J˙lio
Mattos 67
ComunicaÁ„o pessoal ‡ autora, 30 de janeiro de 1987.
5 6
colegiais com uniforme de escola p˙blica e mais algumas crianÁas brincando de roda.
A alegoria era rodeada de notas musicais, e esta era a parte da EducaÁ„o Musical e
das Cirandas. A terceira alegoria mostrava dois anjos anunciando o gÍnio musical
do sÈculo, tendo no centro um globo girando, com uma lira em cima, seguido da figura
imponente de Villa-Lobos regendo para o mundo.
A vi˙va foi muito meiga, muito gentil, ela amava mesmo Villa-Lobos e me dava
todas as pesquisas que eu precisava. Quando ela foi ao barrac„o ver a alegoria do
maestro regendo, ela desmaiou. A escultura de corpo inteiro tinha dois metros e vinte
centÌmetros.
5 7
Por volta de mais ou menos 1953, eu fiz esse enredo na Escola de Samba ParaÌso do
Tuiuti, assim como o Monteiro Lobato. Eu aproveitava os carnavais que fazia l·.
SÛ que era uma Escola muito fraquinha, sem poder financeiro, a Mangueira tinha
mais recurso. No ParaÌso do Tuiuti fiz sÛ o busto do maestro.
Naquela Època, a Escola de Samba era pouco divulgada e muito perseguida pela polÌcia.
Quando a Mangueira resolveu fazer este enredo, a imprensa se interessou em saber como
È que eu ia desenvolver o tema, pois eles achavam que o motivo n„o dava para fazer
carnaval, escola de samba, etc... e eu provei, na mesa, que todas as Escolas de Samba do
Rio de Janeiro, juntas, n„o conseguiriam representar toda a obra dele. N„o d·, realmente
n„o d·! Tem muita coisa bonita e È muito pouco conhecido, e È uma pena que um grande
artista como ele seja t„o pouco divulgado. Tenho muita m·goa desse Carnaval de 66.
Perdi por um ponto, e ele merecia o campeonato. A vi˙va na arquibancada estava crente
que havia ganho o carnaval! A Mangueira ficou em segundo, com 129 pontos, contra
130 da Portela. Naquela Època havia muitos pedidos pros jurados. Esse foi um dos
carnavais mais aplaudidos pelo povo!î
Na terceira alegoria, dois anjos anunciando ëo gÍnio
musical do sÈculoí, seguido da figura imponente de Relendo-se os jornais da Època, pode-se constatar perfeitamente o clima
Villa-Lobos regendo para o mundo. Foto de Eliza-
beth de Castro Alves. Arquivo do carnavalesco em que as coisas aconteceram e compreender o porquÍ da m·goa de Julinho
J˙lio Mattos e dos mangueirenses.
5 8
D. Mindinha, emocionada, assiste ao desfile da
Mangueira em homenagem a Villa-Lobos.
ìPoucas vezes chorei ìPortela. Uma pena, mas fracassou. Sem vibraÁ„o, nem ritmo. Apenas com muito
luxo e grandes alegorias, ali·s, o forte da escola. De qualquer forma, quem julga È a
como quando, sete Comiss„o e tudo pode acontecer. Para nÛs, desta vez, infelizmente, a escola n„o
merece mais que o quinto lugar.
anos depois de sua
morte, fui convidada a Mangueira. Se o julgamento do desfile de escolas de samba dependesse do voto popular,
sem d˙vida alguma a vencedora deste ano seria a Mangueira. Sua entrada na pista
assistir ao desfile da da Presidente Vargas parecia mais a partida para uma guerra, que, no caso, deveria
ser ganha de qualquer maneira. A impress„o que se teve foi a de que todo o morro
Mangueira, da Mangueira tinha descido para ensaiar samba no asfalto. Depois do cansaÁo de 12
cujo enredo horas de desfile, sua entrada triunfal fez muita gente chorar na arquibancada, inclusive
Dona Arminda, vi˙va de Villa-Lobos, o grande homenageado da festa. Suas alas
era ExaltaÁ„o estavam impec·veis, desde a Comiss„o de Frente atÈ a bateria mirim, que encerrou o
desfile. O samba ëExaltaÁ„o a Villa-Lobosí, de Cl·udio e Jurandir, foi cantado por
a Villa-Lobosî quase todos que assistiram ao desfile.î
68
68
Jornal do Brasil, 24 fev. 1966, Caderno B, p. 6.
69
Jornal do Brasil, 26 fev. 1966, Caderno B, p. 5.
5 9
70
Quando chegou ‡s nossas m„os o libreto do GrÍmio Recreativo Escola
de Samba EstaÁ„o Primeira de Mangueira para o Carnaval de 1966, ExaltaÁ„o
a Villa-Lobos, pudemos ver e sentir a seriedade e o esmero com que esta
Escola se preparou para o desfile, mergulhando a fundo no imenso caudal
que foi a vida e obra de Heitor Villa-Lobos (Anexo 8).
Passados j· 33 anos desde a primeira vez em que o maestro foi
reconhecido e homenageado pelas camadas mais populares, naquele
inesquecÌvel desfile de 1966, eis que ressurge novamente na memÛria popular
a figura magistral de Villa-Lobos.
O ano de 1999 assinala o 40∫ anivers·rio do desaparecimento do nosso
maior compositor, e o GRES Mocidade Independente de Padre Miguel
apresenta o enredo Villa-Lobos e a apoteose brasileira, de autoria de Santana,
Nascimento e Ricardo Simpatia:
Rompeu barreiras
Atravessou fronteiras
Para sua m˙sica despontar
Esse gÍnio brasileiro
Conquistou o mundo inteiro
Fez nosso paÌs se orgulhar.
Palmilhando os quatro cantos do Gigante
De folclore fascinante
Fonte de belezas naturais
Criou grandes temas musicais
........................................................
Villa-Lobos È prova de brasilidade
Sua obra altaneira
Vem na voz da Mocidade
Cantando a apoteose brasileira.
Libreto: texto ou argumento de Ûpera, opereta ou comÈdia musicada (AurÈlio Buarque de Holanda
70
Ferreira). Escola de Samba È ”pera de Rua (Jo„osinho Trinta). N„o vemos nenhuma impropriedade
em chamar o referido texto de libreto.
6 0
VILLA-LOBOS REVISITADO
POR M⁄SICOS POPULARES
ELISETE CARDOSO 71
71
ComunicaÁ„o pessoal ‡ autora, 15 de janeiro de 1987.
6 1
Quando perguntamos a Elisete por que ela n„o continuou se
apresentando em p˙blico cantando Villa-Lobos, ela respondeu que havia
sido convidada, porÈm recusou, pois n„o gostaria de ouvir e ler outra vez o
que foi dito e escrito a respeito de sua interpretaÁ„o. S„o palavras da cantora:
tivesse escutado Sobre suas incursıes neste terreno, Elisete ainda nos fala:
a interpretaÁ„o ìJ· cantei ëAzul„oí e composiÁıes de Villa-Lobos com o TurÌbio Santos. Tivemos
da Elisete, duas apresentaÁıes em ambiente fechado e TurÌbio mesmo n„o entendeu esta reaÁ„o
da parte dos crÌticos. Cantei mais recentemente ëO canto do PajÈí, no Hotel Nacional.î
teria ficado muito Elisete Cardoso considerava toda a obra de Villa-Lobos admir·vel, e sÛ
entusiasmado, tinha uma ˙nica tristeza: n„o tÍ-lo conhecido pessoalmente. Ela sÛ o
conheceu atravÈs de D. Arminda e do prÛprio HermÌnio.
pois era exatamente
assim que ele gostaria JOYCE 72
de ouvir, popularmente ìGravei a ·ria da ëBachiana n∫ 5í em 1970, pela Som Livre, para a trilha da
interpretadaî novela ëIrm„os Coragemí. Um outro contato importante foi na Època de estudo de
viol„o cl·ssico. Estudei em 1966 com Jodacil Damasceno, que era uma autoridade
no assunto. Cheguei a tocar o ëEstudo n∫ 1í, era minha peÁa de resistÍncia e a que
D. Mindinha tocava melhor. Toquei outras m˙sicas tambÈm, porÈm n„o com performance apurada.
Sempre gostei da obra dele, menos da parte do ëCanto orfeÙnicoí. A parte de viol„o,
piano e sinfÙnica, sempre gostei e gosto.î
ìAcho que a obra de Tom Jobim, por exemplo, È toda Villa-Lobos. H· coisas que
s„o filhas diretas. Os grupos NÛ em Pingo dí¡gua, a Camerata, todos tÍm influÍncia.
O grupo NÛ em Pingo dí¡gua ia fazer um disco sÛ com obras de Villa-Lobos, em
comemoraÁ„o ao seu centen·rio. Eles me convidaram para gravar uma das faixas,
que seria o ëPrel˙dio n∫ 3í, com letra de HermÌnio Bello de Carvalho. O disco
acabou n„o saindo por falta de patrocÌnio.î
72
ComunicaÁ„o pessoal ‡ autora, 11 de janeiro de 1987.
6 2
NANA CAYMMI 73
tudo de Villa-Lobos. ìEu sou um pianista de formaÁ„o supererudita. Toquei e ouvi tudo de Villa-Lobos.
Acho Villa-Lobos um vulc„o, espargia suas idÈias e n„o queria nem saber. Creio
que ele escrevia o que estava sentindo. O mais forte nele era a inspiraÁ„o, botar tudo
Acho Villa-Lobos no papel sem preocupaÁ„o com as regras. Meu contato com Villa-Lobos comeÁou
desde crianÁa e continua atÈ hoje.î
um vulc„o, espargia
Jo„o Carlos Assis Brasil e Wagner Tiso fizeram v·rios espet·culos e
suas idÈias e n„o discos juntos; como conseq¸Íncia, Jo„o Carlos se engajou no projeto de
Wagner Tiso de tornar Villa-Lobos mais popular e, juntamente com Nana
queria nem saberî Caymmi e o grupo Uakti, realizaram o trabalho. As m˙sicas sofreram ent„o
pequenas modificaÁıes, como por exemplo A Floresta do Amazonas, onde
eles fizeram uma reduÁ„o para dois pianos e voz. O Concerto n∫ 5 e o Momo
Jo„o Carlos Assis Brasil precoce, escrito originalmente para piano e orquestra, foi feito tambÈm a dois
pianos.
73
ComunicaÁ„o pessoal ‡ autora, 13 de janeiro de 1987.
74
ComunicaÁ„o pessoal ‡ autora, 13 de janeiro de 1987.
6 3
TurÌbio Santos estava e achou Ûtima a idÈia de ter incluÌdo Villa-Lobos. Ele È
muito acessÌvel, muito lindo. A linguagem dele È muito direta, È para o povo mesmo.
Na primeira quinzena de dezembro, eu e Wagner Tiso fizemos o concerto de
encerramento das atividades do IBAM e tambÈm tocamos Villa-Lobos a dois pianos.
Vejo que a influÍncia que Villa-Lobos exerceu e exerce nos compositores È muito
grande; por exemplo, Tom Jobim, que È o maior compositor popular brasileiro, bebeu
direto na fonte de Villa-Lobos. A m˙sica ëChovendo na roseiraí, ouvindo ëA Floresta
do Amazonasí que vou gravar em breve, vejo que num dos trechos tem muito a ver.î
WAGNER TISO 75
ìO p˙blico est· ìAprendi na escola que havia dois compositores cl·ssicos brasileiros: o Carlos Gomes
e o Villa-Lobos. Do Carlos Gomes, sÛ conhecia o ëGuaranyí. Quanto a Villa-
querendo coisa nova e, Lobos, sÛ vim a conhecer a obra dele nos Estados Unidos, em 1974, quando fui
gravar com m˙sicos de jazz americanos e eles me mostraram a ëFloresta amazÙnicaí,
por incrÌvel que e caÌ duro pra tr·s com a criatividade e comecei a ouvir mais coisas de Villa-Lobos.
… um compositor sem limites de idÈias, fertilidade total, e atÈ hoje o repertÛrio dele
pareÁa, Villa-Lobos pode ser o mais bem explorado possÌvel. … o que estou tentando fazer agora. Jogar
È coisa nova aqui. o manancial de idÈias de Villa-Lobos nas v·rias ·reas que a m˙sica pode dar. De
unir popular e erudito, folclore e erudito. As v·rias maneiras, possibilidades que ele
Meus m˙sicos est„o deixou em aberto para execuÁ„o de sua obra.
curtindo muito essa Eu e o Jo„o Carlos Assis Brasil vamos gravar um disco de Villa-Lobos para a
FranÁa. Vamos gravar este disco para o MinistÈrio de Cultura Francesa. Quem
minha nova fase est· dirigindo isso È o M·rio Aratanha, n„o sei bem como È.î
villalobianaî As peÁas a serem gravadas s„o do show que eles fizeram. Este repertÛrio
foi conseguido atravÈs do Museu Villa-Lobos, que vem trabalhando bastante
no sentido de divulgar a obra de Villa-Lobos.
Wagner Tiso
ìEmbora estudasse sempre cl·ssico, atÈ ent„o, eu era muito envolvido com a m˙sica
popular, porÈm agora acho que chegou a hora. Depois do convite feito pelo Museu e
desse convÌvio que estou tendo mais profundamente com a m˙sica erudita, meu tipo
de cabeÁa acho que tem muito a ver com Villa-Lobos. Essa pesquisa da obra dele
est· instigando a minha criatividade. Gosto de praticamente tudo. H· gravaÁıes de
muito m· qualidade e as pessoas que gostam de pich·-lo se baseiam nessas pÈssimas
gravaÁıes. GravaÁıes muito bem feitas, inclusive fora do Brasil, com um senhor som,
aÌ que vocÍ vÍ a obra dele bem clara mesmo. Olhando as partituras tambÈm, eu gosto
de tudo, das idÈias que ele tinha. Ele era cheio de idÈias!
75
ComunicaÁ„o pessoal ‡ autora, 26 de janeiro de 1987.
6 4
Carlos, exatamente como Villa-Lobos concebeu. No Momo precoce eles
reduziram a parte da orquestra para piano, e fizeram a dois pianos. O Prel˙dio
n∫ 3 teve como base a partitura original, todavia adaptada para dois pianos
ac˙sticos, sendo a vocalizaÁ„o feita por Nana Caymmi, assim como a Melodia
sentimental e a Lenda do caboclo.
ìFoi a maior ovaÁ„o que j· tive. Foi a vez que senti que o p˙blico recebeu melhor, e
isso me deu novos caminhos. De agora em diante, vou desenvolver o meu trabalho a
partir disso. O p˙blico est· querendo coisa nova e, por incrÌvel que pareÁa, Villa-
Lobos È coisa nova aqui. Meus m˙sicos est„o curtindo muito essa minha nova fase
villalobiana.î
ìPara mim,
Wagner Tiso n„o sabe se o m˙sico brasileiro est· muito atento a Villa-
Villa-Lobos È um Lobos. Para ele, o m˙sico est· mais atento ao mercado internacional, essa È
a realidade:
m˙sico popular
muito sofisticado, ìN„o tem l· muita gente envolvida com Villa-Lobos, o que È uma pena. Est· com
100 anos de vida apenas e n„o foi ainda plenamente descoberto pelo ambiente musical
como Prokofieff brasileiro. Eu sei de quem h· muito tempo descobriu Villa-Lobos, o Tom Jobim,
por exemplo. O Tom È o Villa-Lobos da nossa m˙sica popular. O Milton
e atÈ mesmo Nascimento tambÈm j· ouviu muito Villa-Lobos, inclusive comigo, nos Estados
Unidos.î
Stravinskiî
Segundo Wagner Tiso, os produtores realmente n„o tÍm muito interesse
em Villa-Lobos, mas por uma quest„o de limitaÁ„o, porque eles desconhecem
Edu Lobo todo o manancial que ele oferece.
ìVocÍ como m˙sico, como criador, tem o compromisso de mostrar isso e apontar que
esse È o caminho certo. H· p˙blico, inclusive para um trabalho de alto nÌvel. Quero
fazer um elo do erudito com popular brasileiro da maneira mais moderna possÌvel.
O presente È o compromisso do passado com os objetivos do futuro. Acho uma
burrice contestar Villa-Lobos, porque ele È um gÍnio. Quanto ao possÌvel envolvimento
de Villa-Lobos com a polÌtica, vejo que todo grande m˙sico tem sempre um mecenas.
A miss„o dele era enriquecer a cultura brasileira, o compromisso dele acho que era
com isso. … hora de se homenagear e prestar um culto ao maior m˙sico do Brasil.î
EDU LOBO 76
Ali·s, acho uma vergonha enorme, porque tudo que consegui dele de m˙sica (partituras)
e gravaÁıes, tive que comprar l· fora. O Brasil cuida mal dos seus brasileiros. Um
compositor como ele era pra ser conhecidÌssimo e ser tudo facilitado para quem quisesse
76
ComunicaÁ„o pessoal ‡ autora, 13 de janeiro de 1987.
6 5
conhecer a sua obra. Villa-Lobos devia ser conhecido pelos jovens do Brasil, como
Stan Getz nos Estados Unidos.î
ìGosto demais dos ëChorosí, ëBachianasí, do ëUirapuruí, que quase n„o È conhecido
mas que È lindÌssimo, e de muitas outras coisas. Tenho por Villa uma paix„o
enorme e que continua.
Em 67, por aÌ, morei em Paris na casa de TurÌbio Santos, ouvia ele tocar e comecei
meio de ouvido. Comecei a tocar, sÛ para entender melhor o que estava acontecendo, o
ëPrel˙dio n∫ 3í e o ëEstudo n∫ 1í. Tocava muito mal, mas tocava. Em 69, em Los
Angeles, È que comecei a estudar pra valer. Existem milhıes de caminhos para a
MPB, e muitos j· falaram a respeito, porÈm pra mim a coisa teria que ser um
trabalho a partir de Villa-Lobos. Incorporar e rearmonizar melodias populares.
Porque certas melodias s„o t„o poderosas, exercem um domÌnio t„o grande sobre o
povo!
ñ Isso tem lÛgica, mas tem mesmo! Uma melodia brilhante, uma harmonia
espetacular...
Vai hoje, por exemplo, ‡s ruas de Recife e toca, por exemplo, ëVassourinhasí. O
povo enlouquece, isso tem alma. Agora isso jamais interessaria, por exemplo, aos
donos de gravadoras; ent„o, tem que ser ërockí mesmo.î
77
ComunicaÁ„o pessoal ‡ autora, 26 de janeiro de 1987.
6 6
vidroî, no Teatro Jo„o Caetano, em 13 de abril de 1978, juntamente com o
Quarteto em Cy, eles passaram a cantar o original, que era para coro misto.
ìNeste show nÛs quisemos explorar todas as possibilidades vocais, comeÁando com
duos, trios etc., atÈ chegar ao octeto.î
ìOscar Castro Neves, quando voltou dos Estados Unidos, sugeriu que grav·ssemos
ë O trenzinho do caipiraí. O arranjo era dele. … meio em cima do original, meio em
cima do que o Edu Lobo fez. O original do Villa-Lobos nem todos do grupo
tinham ouvido, porÈm o do Edu Lobo todos conheciam.[...] Na Època, esta foi uma
das faixas mais tocadas. NÛs gravamos pela Odeon, em 1979.î
ìDois anos atr·s, nÛs fizemos um levantamento da obra de Villa-Lobos para ver o
que podia ser interessante para nossa formaÁ„o. [...] Fomos ao Museu falar com D.
Arminda, ouvimos muita m˙sica dele e comeÁamos a escrever.î
M·rio Seve nos esclareceu que o pessoal do Grupo sabe m˙sica, lÍ e faz
arranjos, e que tinham ainda um projeto que acabou n„o saindo por falta de
patrocÌnio:
6 7
ñ ëTrenzinho caipiraí, arranjo de Adamo Prince.
ñ ëLundu da Marquesa de Santosí, arranjo de M·rio Seve.
ñ ëAlnilaní (2∫ movimento de trÍs micropeÁas para piano, chamadas ë3 Mariasí),
arranjo de M·rio Seve.
ñ ëCanÁ„o do amorí, arranjo de M·rio Seve.
ñ ëChoros n∫ 6í, arranjo de LuÌs Ot·vio Braga.
GILSON PERANZZETTA 79
ìDesde o tempo de conservatÛrio que eu vinha tentando fazer alguma coisa com
Villa-Lobos, mas tinha aquela coisa de m˙sica erudita, atÈ que descobri que Villa-
Lobos era um chor„o, que ele gostava de m˙sica popular, e comecei ent„o a fazer um
trabalho com a ëLenda do cabocloí.
Foi quando um amigo chamado Paulinho Albuquerque, que produziu este disco
[ìTom & Villaî ñ disco brinde da Coca-Cola], me mostrou um repertÛrio e disse:
ñ ëGilson, por que a gente n„o faz um disco de Villa-Lobos, unindo Tom e Villa?í
Peguei o repertÛrio, porque no disco n„o È uma faixa do Villa e outra do Tom, elas
se interligam. S„o dois compositores com uma vis„o bem particular.
Fiz curso de piano, e uma vez, quando tinha um concerto para fazer, me falaram o
seguinte: vocÍ n„o tem tradiÁ„o erudita na m˙sica, n„o adianta a gente fazer esse
concerto com vocÍ, por causa da referida tradiÁ„o. Ent„o, o negÛcio do Villa foi esse.
Ficou aquela pulga, aquela vontade de fazer, ficou igual ‡quela maÁ„ que tem na
79
ComunicaÁ„o pessoal ‡ autora, 16 de janeiro de 1987.
6 8
geladeira e que vocÍ pode mexer em tudo menos nela, e o Villa e a m˙sica erudita,
pra mim, ficou assim! O que se pode fazer? Tudo isso È porque eu trabalhava com
m˙sica popular e n„o fazia sÛ m˙sica erudita. E eu perguntava: a m˙sica de Bach,
no tempo de Bach, era m˙sica erudita? N„o, era m˙sica pras pessoas danÁarem,
tinha o minueto etc. N„o existe esse negÛcio de m˙sica erudita e popular, existe
m˙sica boa e ruim. [...]
A primeira m˙sica a me chamar a atenÁ„o foi a ëLenda do cabocloí, depois ouvi as
ëBachianasí, e um ëPrel˙dioí que acho que o Michel Legrand gostou muito tambÈm.
[...]
Eu estava saindo da m˙sica erudita pro jazz e tinha aquele sonho de ser um pianista
ìEu estava saindo jazÌstico, e uma m˙sica americana, È lÛgico; e, ouvindo Villa, eu passei pro lado de
c· outra vez e acabei vestindo a camisa verde-amarela. Ele realmente È um compositor
da m˙sica erudita pro bem brasileiro. Todo mundo deu uma bicadinha no Villa, o prÛprio Tom. Este
disco È uma homenagem aos 100 anos do Villa e aos 60 do Tom.î
jazz e tinha aquele
sonho de ser Segundo Gilson Peranzzetta, a assimilaÁ„o da m˙sica de Villa-Lobos
pelos m˙sicos que fizeram esse trabalho deu-se de uma forma muito natural.
um pianista jazÌstico... O Arthurzinho (contrabaixista Arthur Maia), no primeiro ensaio, quando
eles comeÁaram a passar, falou: ìParece um negÛcio t„o atual!î
ìO Villa fez outra coisa pra mim. Me tirou o medo, por exemplo, de entrar num
Theatro Municipal para tocar m˙sica erudita. Villa-Lobos me deu oportunidade de
fazer este trabalho, porque eu tinha coisas preparadas, tinha concertos de Brahms,
que acabei engavetando tudo. Fiquei deprimido com aquela situaÁ„o, e queria desistir
de tocar. Esse trabalho do Villa, vocÍ pode fazer em qualquer lugar, Municipal,
Catacumba etc. Cheguei ‡ conclus„o que m˙sica È m˙sica, È boa ou ruim, seja de
Brahms ou do Villa, do Tom ou minha. Acredito mesmo que eles tivessem composiÁıes
que n„o gostassem.î
Eu tinha tanto bloqueio com esse trabalho que, no comeÁo, n„o conseguia dar a
partida. Era medo de mexer com o mito. A ëValsa da dorí, fiz um arranjo que n„o
est· no disco e mostrei para um m˙sico erudito, e ele achou um absurdo: vocÍ mudou
tudo! E eu dizia: mas È uma vis„o minha da melodia dele, a melodia est· mantida.
No ëChoros n∫ 5í (Alma brasileira) fiz uma outra interpretaÁ„o. A primeira parte
est· fiel ‡ partitura, mas na segunda vez, quando repeti, mudei tudo. H· uma
baixaria que n„o tem na partitura. N„o deixa de ser a m˙sica por causa disso.
Para eu dar o pontapÈ inicial, o apito tocou muitas vezes e eu n„o chutava a bola, n„o
comeÁava o jogo de jeito nenhum. ¿s vezes o Paulinho me ligava para saber como ia
o trabalho e eu inventava umas desculpas, porque n„o tinha nada para mostrar,
simplesmente n„o conseguia fazer nada.î
6 9
ìA partir do teclado de Egberto, a m˙sica recebe uma personalidade prÛpria. Foi
assim no seu ˙ltimo disco, ëTrem caipiraí, que d· nome tambÈm ao show. Pela
primeira vez, nos dezesseis anos de carreira, o fecundo Egberto tem na mira um
outro compositor, o n„o menos fecundo maestro brasileiro Heitor Villa-Lobos.
Gismonti adaptou m˙sica do compositor de acordo com sua prÛpria leitura, o que
causou enorme polÍmica nos meios tradicionalistas de m˙sica. Os m˙sicos eruditos
consideraram uma agress„o as alteraÁıes interpretativas que Egberto fez ‡s composiÁıes
80
de Villa-Lobos, atravÈs do uso de sintetizadores.î
ìGismonti tem o seu mais recente LP, ëTrem caipiraí, baseado na obra de Villa-
82
Lobos.î
ìCom o lanÁamento do ëTrem caipiraí, Egberto abriu m„o do seu trabalho de autor
para somar-se em alma ao criador que trouxe, para as linhas do pentagrama, a
essÍncia da canÁ„o brasileira. O que Egberto fez foi puxar Villa-Lobos 40 anos
pra frente e deix·-lo fluir a partir de recursos da Època, certamente o que o prÛprio
mestre teria feito se dispusesse dos meios. Sozinho no palco, rodeado de 19 m·quinas,
entre teclados, sintetizadores e baterias eletrÙnicas, Gismonti recria, com toda a
liberdade a que tem direito, a Quarta e Quinta ëBachianaí (completas, um trecho da
Segunda (ëO trenzinho caipiraí) e algumas serestas. Para essa recriaÁ„o, o m˙sico
precisou de uma autorizaÁ„o especial dos editores de Villa-Lobos. Gismonti mostrou
mais uma vez a sua sensibilidade ao definir os critÈrios para a seleÁ„o das canÁıes a
serem gravadas. ëPrimeira coisa: pegar as coisas que eu melhor conhecia. Quanto
mais eu conhecesse, mais pronto estaria para modificar. Ou n„o. Queria ter uma
83
liberdade muito grandeí.î
80
Di·rio do Nordeste, Fortaleza, 1 ago. 1986, p. 1
81
Jornal do Commercio, Recife, 3 ago. 1986, p. 6.
82
Tribuna do Norte, Natal, 2 ago. 1986.
83
Jornal da Bahia, Salvador, 6 ago. 1986. Revista, p. 6-7.
7 0
Egberto Gismonti tem-se revelado, a par de todo seu imenso talento,
tÈcnica e criatividade, um verdadeiro bandeirante da m˙sica villalobiana e
um admirador do homem Villa-Lobos. Num dos recortes que nos foram
cedidos, do qual n„o constam referÍncias quanto ‡ data e local, podemos
estimar claramente o que vem fazendo esse m˙sico em prol do conhecimento
e reconhecimento de Villa-Lobos:
Entre uma e outra interpretaÁ„o, era introduzida uma breve fala que
visava tornar p˙blicas algumas informaÁıes sobre a vida de Villa-Lobos. ¿
guisa de curiosidade, uma delas dizia que para o exterior ìo m˙sico erudito
remetia sua criaÁ„o com nomes sofisticados para impressionar, pois os brasileiros eram
um pouco boicotados. Em nosso paÌs, as mesmas obras de arte eram denominadas entre
ìSempre gostei outras de ëMiudinhoí.î Eram dadas informaÁıes sobre a vida do compositor
durante as suas criaÁıes, para fortalecer o clima sonoro e, quem sabe,
do Villa, mas nunca aumentar o interesse por parte dos presentes em procurar conhecer, ou,
para quem j· conhecia, aprofundar mais o contato com Villa-Lobos.
me senti preparado. A abrangÍncia e a penetraÁ„o do repertÛrio de Villa-Lobos È, todavia,
algo surpreendente. Poucos compositores lograram ser ao mesmo tempo
SÛ agora me percebo t„o eruditos, t„o populares.
A afinidade que os compositores e intÈrpretes populares sentem com a
com intimidade para sua obra, revestida quase sempre por uma melodia facilmente cantarolada
ficar danÁando ou cantarol·vel, È explicada pela diversidade dos artistas que a gravaram.
De Laurindo de Almeida para um seresteiro como Altemar Dutra, de uma
em sua m˙sicaî Lenita Bruno para uma Nara Le„o, passando pelo MPB4, Quarteto em Cy,
Garganta Profunda, Cl·udia Savaget, Heraldo do Monte, Roberto Correia,
Camerata Carioca. Disso tudo resta uma ˙nica certeza: o que È bom e
Gilson Peranzzetta verdadeiro fica, n„o importa o rÛtulo. E, como bem disse o prÛprio Villa-
Lobos,
ì… preciso n„o esquecer que a m˙sica representa duas finalidades distintas, que sÛ
definem os povos cultos e progressistas:
- a m˙sica popular, popularizada ou popularesca
- a m˙sica artÌstica, cientÌfica (folclore), erudita, transcendente, sacra.
84
In: PresenÁa de Villa-Lobos ñ v. 3. Rio de Janeiro: MEC / Museu Villa-Lobos, 1969, p. 120.
7 1
VILLA-LOBOS E O VIOL√O
ìCom os ë12 Estudosí, a maior obra para viol„o composta no sÈculo XX, Villa-
ìVilla-Lobos Lobos revolucionou o repertÛrio internacional do instrumento, atÈ ent„o restrito aos
presenteou ‡ histÛria tradicionais espanhÛis e ‡ heranÁa barroca do antigo ala˙de. Dedicados a SegÛvia,
que passou a toc·-los (e a outras obras do brasileiro) no mundo inteiro, os ë12
do viol„o frutos do seu Estudosí, compostos entre 1924 e 1929, transformaram-se numa espÈcie de ëbÌbliaí
dos violonistas modernos, destacando-se, por sua dificuldade, por sua beleza, por seu
talento t„o vigorosos e desafio, por sua brasilidade.î
85
deliciosos como os de ìEis aqui ë12 Estudosí, escritos com amor pelo viol„o, pelo genial compositor brasileiro
Heitor Villa-Lobos. Eles comportam, ao mesmo tempo, fÛrmulas de surpreendente
Scarlatti e de Chopinî eficiÍncia para o desenvolvimento da tÈcnica de ambas as m„os e belezas musicais
ëdesinteressadasí, sem finalidade pedagÛgica, valores estÈticos permanente de obras de
concerto.
TurÌbio Santos
Poucos s„o, na histÛria dos instrumentos, os Mestres que conseguiram reunir em seus
Estudos ambas virtudes. Aparecem em seguida ‡ memÛria, os nomes de Scarlatti e
Chopin. Ambos realizam seus propÛsitos did·ticos sem sombra de aridez ou
monotonia, e se o pianista aplicado observa com gratid„o, a flexibilidade, o vigor e a
independÍncia que essas obras imprimem a seus dedos, o artista que as lÍ ou escuta
admira a nobreza, o gÍnio, a graÁa e a emoÁ„o poÈtica que emanam generosamente
delas. Villa-Lobos presenteou ‡ histÛria do viol„o frutos do seu talento t„o vigorosos
e deliciosos como os de Scarlatti e de Chopin.
N„o quis alterar nenhuma das digitaÁıes que o prÛprio Villa-Lobos indicou para a
execuÁ„o de suas obras. Ele conhece perfeitamente o viol„o, e se escolheu tal corda
ou tal digitaÁ„o para ressaltar determinadas frases, devemos estrita obediÍncia ao
seu desejo, mesmo ao preÁo de nos obrigar a maiores esforÁos de ordem tÈcnica.
N„o quero concluir esta breve nota sem agradecer publicamente ao ilustre Maestro, a
86
honra que me conferiu dedicando-me estes ëEstudosí.î
ìA m˙sica vai de uma alma a outra, os p·ssaros conversam pela m˙sica, eles tÍm
coraÁ„o. Tudo que se sente na vida, se sente no coraÁ„o. Foi com este pensamento que
87
me tornei m˙sico.î
85
SANTOS, TurÌbio. Os 12 Estudos. Folheto que acompanha a coleÁ„o de discos-brinde da Bolsa de
Valores do Rio de Janeiro (sem paginaÁ„o).
86
SANTOS, TurÌbio. Heitor Villa-Lobos e o viol„o. Rio de Janeiro: MEC / Museu Villa-Lobos, 1979, p. 13.
87
Palavras de Villa-Lobos no disco e CD ìVilla-Lobos ñ o intÈrpreteî.
7 2
… ineg·vel a contribuiÁ„o de Villa-Lobos para o ensino do viol„o.
Demonstrando seu amor pelo instrumento, o grande mestre compÙs
belÌssimas peÁas musicais para viol„o. Seu trabalho, alÈm de estimular os
que j· se dedicavam ‡s cordas e bordıes, contribuiu decisivamente para o
prestÌgio desse instrumento, outrora t„o desconsiderado socialmente.
Quanto ‡ primeira composiÁ„o de Villa-Lobos, n„o se tem certeza se
foi uma peÁa para viol„o (infelizmente perdida) intitulada Panqueca ou se, de
acordo com a informaÁ„o constante de Villa-Lobos, sua obra, publicado pelo
Museu Villa-Lobos em 1972, foi a Mazurka em rÈ maior. Esta peÁa tambÈm
88
foi extraviada.
O viol„o foi privilegiado com a genialidade do grande compositor, que,
ìHoje o mundo segundo TurÌbio Santos, ìparece ter caprichado mais do que em muitas outras de
suas composiÁıesî. Os 6 Prel˙dios (que s„o cinco), a SuÌte popular (Mazurka-choro,
da m˙sica reconhece Schottisch-choro, Valsa-choro, Gavota-choro, Chorinho), o Choros n∫ 1, j· s„o peÁas
de domÌnio popular e fazem parte, nos dias de hoje, como pode ser
que a contribuiÁ„o comprovado na Discografia, do repertÛrio dos chorıes e seresteiros.
Entre outras composiÁıes de Villa-Lobos para viol„o, podemos citar:
desse gÍnio para Valsa concerto n∫ 2 (Valsa brilhante), datada de 1904 e que fazia parte do
o repertÛrio violonÌstico repertÛrio do violonista espanhol Miguel Llobet; Fantasia, 1909; Oito dobrados,
escritos entre 1909 e 1912, todos extraviados; CanÁ„o brasileira, 1910; Dobrado
constituiu uma bÍnÁ„o pitoresco, 1910; Quadrilha, 1910; Tarantela, 1910; Simples, 1911 (Mazurka);
Sexteto mÌstico, 1917; Modinha (5™ das 14 Serestas), 1925; IntroduÁ„o aos choros,
tanto para o 1929; DistribuiÁ„o de flores, 1937; ¡ria da Bachiana brasileira n∫ 5 (transcriÁ„o
do prÛprio compositor para viol„o e canto), 1938; Concerto (ex-Fantasia
instrumento quanto concertante), 1951; M˙sica incidental para o filme ìGreen mansionsî (o viol„o
est· na partitura; CanÁ„o de amor e o veleiro (de Floresta amazÙnica) para canto,
para mimî viol„o e orquestra, e canto e dois violıes, respectivamente.
A relaÁ„o acima foi feita por HermÌnio Bello de Carvalho e consta do
livro de TurÌbio Santos j· citado.
SegÛvia N„o temos a pretens„o de fazer, neste trabalho, a an·lise da obra
violonÌstica de Villa-Lobos, j· que especialistas do porte de TurÌbio Santos e
Marco Pereira j· o fizeram com grande competÍncia.
Foi muito importante o contato de Villa-Lobos com SegÛvia. Da amizade
entre os dois mestres resultaram peÁas preciosas como os Estudos e o Concerto
para viol„o, ambas dedicadas a SegÛvia.
O violonista espanhol conta assim o seu encontro com Villa-Lobos:
ìDentre todos os convidados daquela noite, o que causou maior impress„o ao entrar
na sala foi Heitor Villa-Lobos. A despeito de sua baixa estatura, era bem
proporcionado e tinha um porte viril. Sua cabeÁa vigorosa, coroada com uma floresta
selvagem de cabelos rebeldes, era altiva, e sua fronte, dotada pela ProvidÍncia com
uma profus„o de sementes musicais destinadas a produzir, mais tarde, uma esplÍndida
colheita, era larga e nobre. Seu olhar brilhava com uma centelha tropical que logo se
transformou em uma chama, quando ele aderiu ‡ conversaÁ„o entretida ao seu redor.
Eu mal conhecia, naquele tempo, alguma composiÁ„o sua, porÈm seu nome era familiar.
Paris o havia recebido em seu coraÁ„o e a fama de Villa-Lobos j· se espalhava por
outros paÌses.
88
Esta divergÍncia quanto ‡ cronologia da primeira obra foi estabelecida pelo prÛprio Villa-Lobos,
afirmando ter sido a Panqueca e retificando posteriormente a informaÁ„o. Ver SANTOS, TurÌbio. op.
cit., p. 51-55; PEREIRA, Marco. Heitor Villa-Lobos, sua obra para viol„o. BrasÌlia: Musimed, 1984, p. 18.
7 3
Quando terminei minha apresentaÁ„o, Villa-Lobos aproximou-se e disse-me em
tom confidencial: ñ ëTambÈm toco viol„o.í ñ ëMaravilhosoí, respondi. ëVocÍ È ent„o
capaz de compor diretamente para o instrumento.í Estendendo-me as m„os, ele
pediu-me o viol„o. Sentou-se, atravessou-o nos joelhos e segurou-o firmemente ao
peito como se temesse que o instrumento fugisse. Olhou severamente para os dedos da
m„o direita, como ameaÁando-os de castigo por ferir erroneamente alguma corda. E
quando menos se esperava, desferiu um acorde com tal forÁa, que deixei escapar um
grito, pensando que o viol„o tinha se despedaÁado. Ele deu uma gargalhada e, com
uma alegria infantil, disse-me: ëEspere, espere...í Esperei, refreando com dificuldade
meu primeiro impulso, que era o de salvar meu pobre instrumento de t„o veemente e
ameaÁador entusiasmo. ApÛs v·rias tentativas para comeÁar a tocar, ele acabou por
ìSegÛvia falou desistir. Por falta de exercÌcio di·rio, algo que o viol„o perdoa menos do que qualquer
outro instrumento, os movimentos de seus dedos haviam se tornado canhestros. Apesar
que achava de sua incapacidade para continuar, os poucos compassos que tocou foram suficientes
para revelar, primeiro, que aquele mau intÈrprete era um grande m˙sico, pois os
minhas obras acordes que conseguiu produzir encerravam fascinantes disson‚ncias, os fragmentos
melÛdicos possuÌam originalidade, os ritmos eram novos e incisivos e atÈ a dedilhaÁ„o
antiviolonÌsticas era engenhosa; segundo, que ele era um verdadeiro amante do viol„o! No calor desse
e que eu tinha usado sentimento, nasceu entre nÛs uma sÛlida amizade. Hoje o mundo da m˙sica reconhece
que a contribuiÁ„o desse gÍnio para o repertÛrio violonÌstico constituiu uma bÍnÁ„o
recursos que n„o eram
89
tanto para o instrumento quanto para mim.î
ìEncontrei SegÛvia em 1923 ou 24, n„o me lembro bem, na casa de Olga Moraes
Sarmento Nobre. Havia uma princesada l·. Vi um moÁo de vasta cabeleira,
Villa-Lobos rodeado de mulheres. Achei-o besta, pretensioso, apesar de simp·tico. O violinista
portuguÍs Costa perguntou ao SegÛvia se conhecia Villa-Lobos, mas sem dizer que
eu estava ali. O SegÛvia disse que o Llobet, Miguel Llobet, violonista espanhol,
havia falado em mim e lhe mostrado algumas obras. Eu havia escrito uma Valsa-
concerto para Llobet (por sinal a partitura est· perdida). SegÛvia falou que achava
minhas obras antiviolonÌsticas e que eu tinha usado recursos que n„o eram do
instrumento. O Costa falou: ëPois È, SegÛvia, o Villa-Lobos est· aqui.í Eu fui
logo me chegando e dizendo: ëPor que È que vocÍ acha minhas obras antiviolonÌsticas?í
SegÛvia, meio surpreso ñ claro que ele nem poderia supor que eu estivesse ali ñ
explicou que, por exemplo, o dedo mÌnimo direito n„o era usado no viol„o cl·ssico.
Eu perguntei: ëAh! N„o se usa? Ent„o corta fora, corta fora!í SegÛvia ainda tentou
rebater, mas eu avancei e pedi: ëMe d· aqui seu viol„o, me d·!í O SegÛvia n„o
empresta seu viol„o a ninguÈm, e fez forÁa. Mas n„o adiantou. Eu sentei, toquei e
acabei com a festa. SegÛvia depois veio me perguntar onde eu tinha aprendido. Eu
lhe disse que n„o era violonista, mas sabia toda tÈcnica de Carulli, Sor, Aguado,
Carcassi, etc. SegÛvia disfarÁou, guardou o viol„o e ptichiu ñ deu o fora. No dia
seguinte, ele apareceu l· em casa com Tom·s Ter·n. Eu disse que n„o podia atendÍ-
lo, n„o podia mesmo, pois tinha que sair para jantar e voltaria tarde. Ele saiu
tambÈm. Voltou depois e revezamos no viol„o atÈ as quatro horas da manh„. Ele
me encomendou um ëEstudo para viol„oí, e foi t„o grande a amizade que nasceu
90
entre nÛs que em vez de um fiz doze: Doze estudos para viol„oí.î
89
SANTOS, TurÌbio. op. cit., p. 12-13; PEREIRA, Marco. op. cit., p. 22-24; CARVALHO, HermÌnio
Bello de. In PresenÁa de Villa-Lobos ñ v. 3. Rio de Janeiro: MEC / Museu Villa-Lobos, 1969, p.131.
90
SANTOS, TurÌbio. op. cit., p. 11; PEREIRA, Marco. op. cit., p. 24; CARVALHO, HermÌnio Bello de.
In PresenÁa de Villa-Lobos ñ v. 3, p. 132-133.
7 4
O nacionalismo de Villa-Lobos È uma constante em toda sua obra, e
especialmente na parte referente ao viol„o (SuÌte popular, Choros n∫ 1, Prel˙dios
e alguns estudos). Sua vivÍncia entre os chorıes foi a grande influenciadora
e respons·vel pela fixaÁ„o de uma marca bem brasileira em suas composiÁıes.
Totalmente familiarizado com a tÈcnica e os recursos violonÌsticos, exÌmio
executante que era, logrou dar ao instrumento texturas atÈ ent„o
desconhecidas, somando-se a isso uma busca pelo aproveitamento das
posiÁıes mais naturais e que, por essa raz„o, eram mais facilmente realiz·veis
no viol„o.
Que Villa-Lobos era um inovador, n„o È nenhuma novidade: foi ele o
primeiro a utilizar uma sÈrie de instrumentos tipicamente brasileiros em
ìFoi graÁas a SegÛvia suas orquestraÁıes (Choros n∫ 8).
No viol„o tambÈm deu sua colaboraÁ„o, explorando nos Prel˙dios 1, 2 e
que Villa-Lobos os
4 na parte b, e nos Estudos de n 1, 4, 6, 7, 9, 10 e 12 o paralelismo, processo
no qual a m„o esquerda mantÈm a mesma configuraÁ„o (acorde), passando
escreveu o de traste em traste, enquanto a m„o direita mantÈm um processo semelhante
para a passagem inteira.
Concerto para TurÌbio Santos comenta:
viol„o, antes ìEu acho que È praticamente Jo„o quem fez isso, eu n„o vi isso nas m˙sicas de
chamado Fantasia Barrios, eu n„o vi isso em nenhuma m˙sica, isso foi realmente uma criaÁ„o de Jo„o e
91
do Villa-Lobos, quer dizer, mais do Jo„o do que do Villa-Lobos.î
concertanteî
Outra importante faceta da linguagem villalobiana È a valorizaÁ„o da
regi„o grave do instrumento, que assume papel de destaque, como se pode
os
TurÌbio Santos observar no Prel˙dio n∫ 1, parte a, Prel˙dios n 2, 4 e 5, parte b, na Valsa-choro,
os
parte b, no Schottisch-choro, parte c, nos Estudos n 9, 10 e 11, na introduÁ„o do
Estudo n∫ 8, onde o baixo antevÍ a melodia que vai aparecer no a, e no Estudo
n∫ 12, parte b. Vale a pena destacar o efeito criado pelo compositor neste
estudo, onde o violonista È obrigado a tanger duas cordas (5™ e 6™) com o
mesmo ataque para criar o efeito desejado pelo compositor.
Ainda devemos constatar a utilizaÁ„o de acordes (plaquÈ) ritmicamente,
harmonicamente e ‡s vezes melodicamente, portanto n„o somente como
mero apoio harmÙnico, como no Prel˙dio n∫ 1, parte a, no Prel˙dio n∫ 5, parte
c, no Estudo n∫ 4, 6, e na Valsa-choro, parte c.
Foi graÁas a SegÛvia que Villa-Lobos escreveu o Concerto para viol„o, antes
chamado Fantasia concertante. Villa relutava em escrevÍ-lo, por considerar o
viol„o um instrumento mais camerista e solista, em virtude de seu baixo
potencial sonoro, achando aberrante a combinaÁ„o do viol„o com a orquestra.
Assim narrou D. Mindinha no seu depoimento ao Museu da Imagem e do
Som:
91
In LEAL, JosÈ de Souza & BARBOSA, Artur Luiz. Jo„o Pernambuco: arte de um povo. Rio de Janeiro:
MEC / Funarte, 1982, p. 49.
7 5
Esse concerto causou uma certa decepÁ„o a SegÛvia, que o engavetou
por uns cinco anos em virtude de ser uma Fantasia concertante, n„o possuindo,
portanto, a cadÍncia para viol„o solo. SegÛvia, porÈm, n„o desistiu.
Aproveitando-se de um encontro com Villa-Lobos nos Estados Unidos,
somou ‡s suas forÁas a compreens„o e simpatia de D. Mindinha e conseguiu
finalmente convencÍ-lo a escrever a cadÍncia. A primeira audiÁ„o foi em
1956, com SegÛvia ao viol„o e Villa-Lobos ‡ frente da Orquestra SinfÙnica
de Houston. Essa cadÍncia saiu graÁas ‡ engenhosidade de Mindinha e ‡
custa de muitas gentilezas e presentes por parte de SegÛvia.
Quando Villa-Lobos terminou de escrever a originalmente Fantasia
concertante, em 1951, disse o seguinte sobre a obra:
ìA ëFantasia
ìA ëFantasia concertanteí foi escrita para viol„o e uma orquestra equilibrada com
concertanteí foi escrita uma busca de timbres de modo a n„o anular a sonoridade do solista. Ela se constitui
de trÍs movimentos: Allegro preciso, Andantino/Andante e Allegro non troppo. O
para viol„o e uma primeiro movimento, Allegro preciso, tem lugar na orquestra e mostra um tema cheio
de energia, que reaparecer· tanto no viol„o quanto na orquestra. Na segunda parte,
orquestra equilibrada Poco meno, o tema È inteiramente original e pertence a um novo episÛdio. Este tema
com uma busca de lembra muito a atmosfera melÛdica de certas canÁıes populares do nordeste brasileiro.
Em seguida, o primeiro tema È reapresentado com a mesma estrutura rÌtmica do
timbres de modo a n„o inÌcio, mas uma terceira menor acima; desenvolvimento e stretto s„o reduzidos atÈ o
final acelerado.
anular a sonoridade
No Andantino, depois de uma curta introduÁ„o feita pela orquestra (escalas
do solistaî simult‚neas em movimentos divergentes), o tema principal reaparece e se desenvolve
atÈ o Andante.
7 6
ESTES BRASILEIROS ILUSTRES
ìBrigava com todo mundo, mas ninguÈm era seu inimigo. E teve amigos devotados
e entusiastas como JosÈ do PatrocÌnio Filho, Luis Peixoto, ¡lvaro Moreira, Villa-
93
Lobos, Benjamin Costalat, M·rio Reis, Augusto Vasseur etc.
ìEm 1925, um dos irm„os de LucÌlia G. V. L., e que com ela morava, concluÌa o
curso de medicina. Pensamos em uma festa que seria tambÈm a oportunidade para a
entrega do anel de grau. Por iniciativa de um cunhado que comprara uma vitrola e
vinha realizando festinhas em sua casa foi planejado um baile na Rua DÌdimo n∫
10. Tudo combinado e muita animaÁ„o!
93
ALENCAR, Edigar de. Nosso SinhÙ do samba. Rio de Janeiro: Funarte, 1981, p. 40.
7 7
Faltava, entretanto, o principal: o assentimento de Villa-Lobos. Como receberia ele
a projetada festa, uma vez que se cogitava atÈ de um baile? Nunca tal sucedera em
nossa casa. O dia se aproximava e aguard·vamos um momento propÌcio para pedir
a Villa-Lobos o consentimento para a festa, sem que houvesse coragem para fazÍ-lo.
Mas qual n„o foi o nosso alÌvio, a nossa alegria, quando concordou plenamente. Os
preparativos foram concluÌdos, o dia chegou.
e malabarismos Dessa amizade resultou um batuque africano que SinhÙ fez para
homenagear Villa-Lobos e que foi publicado em A P·tria de 20/2/1925, ‡
pianÌsticos, completava p·gina 5 (Anexo 9). Essa m˙sica foi editada em partitura de piano, mas n„o
teve divulgaÁ„o. Talvez, por isso, n„o despertou a atenÁ„o de nenhum cantor.
o ëduo de chorıesí mais DaÌ ser este batuque desconhecido do grande p˙blico.
TambÈm dedicada ao homem de sociedade Arnaldo Guinle e ‡ Sociedade
cÈlebre do mundoî Sportiva Amea, a peÁa de SinhÙ tinha a letra que transcrevemos a seguir:
94
GUIMAR√ES, Luiz et al. Op. cit., p. 240-241.
95
EFEG , Jota. Figuras e coisas da m˙sica popular brasileira ñ v. 2, p. 124.
7 8
VICENTE CELESTINO
Este foi um dia de glÛria para Vicente Celestino, que foi considerado
um dos triunfadores da noite, sendo alvo de retumbantes aplausos. Sua
sensibilidade, aliada ‡ sua voz de tessitura consider·vel e rica em timbre,
resultou numa apresentaÁ„o primorosa e digna dos maiores elogios.
Em 1922, Vicente Celestino volta a interpretar Villa-Lobos, no 2∫
Concerto SinfÙnico no Theatro Municipal. Esta apresentaÁ„o marcava a
despedida de Villa-Lobos do p˙blico carioca, uma vez que ele ia iniciar tournÈe
pela Europa, para apresentar sua obra musical.
96
GUIMAR√ES, Luiz et al. Op. cit., p. 109.
97
Idem, p. 50.
98
Esta informaÁ„o est· no trabalho j· citado de Luiz Guimar„es et al., ‡ p·gina 50.
7 9
PIXINGUINHA
ìEle era garoto. Ia sempre na minha casa na Rua Itapiru, n˙mero 97. Tocava
viol„o muito bem, como sempre tocou. ¿s vezes, acompanhava meu pai. Mais tarde
È que toquei uns chorinhos para ele. Sempre gostou de m˙sica. Tocava violoncello no
Cinema Odeon e fazia umas pausas complicadas. Mas todo mundo achava Villa-
ìEle ia na minha casa Lobos meio esquisito, sabe? N„o davam muito valor a ele. Villa-Lobos foi um
sujeito que chegou ëantesí a uma realidade que todos nÛs sabemos.
porque admirava
Eu conheci Villa-Lobos muito antes de 1922. Como eu j· disse, ele ia na minha
os ëchorıesí. casa porque admirava os ëchorıesí. ¿s vezes atÈ fazia acompanhamento no viol„o.
Era bom no viol„o. Mas o negÛcio era meio antigo e ele tinha uma formaÁ„o
¿s vezes atÈ fazia moderna, por isso talvez n„o acompanhasse bem, para nÛs. Mas ele gostava. Eu o
acompanhamento no considero um gÍnio. Tem obras de Villa-Lobos que marcam. N„o sÛ os ëChorinhosí
n˙mero 1 e 2, porÈm v·rias outras. Aquele ëUirapuruí, o efeito que ele tirou È
viol„o. material. Ele tinha que ter conhecimento. Villa-Lobos, para mim, È um Stravinski,
um Wagner, essa gente toda. N„o È sÛ quest„o de sentir, mas tambÈm do efeito que
Era bom no viol„o. ele tira, no conjunto. Considero isso uma grande arte.î
JO√O PERNAMBUCO
ìchegou-se aos chorıes mais tarde que Villa-Lobos, e era outro assombro. Sonoridade
limpa, a postura da m„o direita lembrava o SegÛvia, e o que tocava era de ouvido.
Pobre Jo„o Pernambuco: autor da m˙sica ëLuar do sert„oí, e Villa-Lobos fez quest„o
de assinar documento a respeito dessa controvÈrsia ñ Pernambuco È hoje omitido quando
99
se grava aquela melodia; por umas magias que n„o cabem ser contadas aqui.î
99
PresenÁa de Villa-Lobos - v. 3, p. 141. Ver tambÈm SANTOS, TurÌbio, op.cit., p. 7.
8 0
Ali·s, na opini„o do prÛprio TurÌbio, ìTodo violonista brasileiro que se preza tem
100
que ter ëSons de carrilhıesí no repertÛrio.î
ìO grande mÈrito de Jo„o est· na simplicidade, fazia bonito simples, que È a coisa
mais difÌcil. Ele era muito violonÌstico, podemos cantar a m˙sica dele sem viol„o,
101
podemos tocar ëDengosoí e ëGra˙naí no bandolim.î
do grupo de chorıes
freq¸entado por ANACLETO DE MEDEIROS
mais tarde (1934), ìEra o mestre que aproveitava as melodias dos p·ssaros, dos apitos das f·bricas, das
cornetas dos tripeiros, do badalar dos sinos, dos toques das buzinas, dos automÛveis,
foi por ele requisitado do trinar dos apitos dos guardas-noturnos e de tudo que formasse uma nota boa ou
semitonada. Por elle eram todos esses rythmos aproveitados para as suas sublimes
para trabalhar na composiÁıes: Anacleto foi um grande colecionador de m˙sica, assim como um mestre
de muitas bandas particulares, deixando muitos discÌpulos que fizeram honra a seus
SuperintendÍncia de dotes de professor exÌmio.î
103
100
LEAL, JosÈ de Souza; BARBOSA, Artur Luiz, op. cit., p. 48.
101
LEAL, JosÈ de Souza; BARBOSA, Artur Luiz, op. cit., p. 49.
102
Idem, p. 53. Ver tambÈm PresenÁa de Villa-Lobos - v. 3, p. 126.
103
PINTO, Alexandre GonÁalves. O choro. Rio de Janeiro: MEC/Funarte, MPB ReediÁıes, 1978, p. 60.
104
PINTO, Alexandre GonÁalves. op. cit., p. 60.
105
Idem, ibidem.
8 1
Villa-Lobos tinha uma grande admiraÁ„o por Anacleto, apreciava tanto
ìVilla-Lobos tinha suas composiÁıes que imortalizou uma delas, o Schottisch Yara (Rasga o coraÁ„o),
uma grande admiraÁ„o sobre um poema de Catulo da Paix„o Cearense, no Choros n∫ 10.
A polÍmica causada pela utilizaÁ„o desta m˙sica ocupou os jornais por
por Anacleto, mais de um ano; Villa-Lobos foi alvo de maliciosos coment·rios de gente
que queria aproveitar-se da situaÁ„o para denegrir sua imagem. Podemos
apreciava tanto suas sentir todo o clima que envolveu tal episÛdio atravÈs da leitura da Gazeta de
NotÌcias e de O Dia de 18/01/1953, e do Di·rio de NotÌcias de 23/1/1953.
composiÁıes que Finalmente, em A Noite de 12/1/1954, foi colocado um ponto final no
assunto. Esta polÍmica nem deveria ter ocorrido, pois a utilizaÁ„o do tema
imortalizou uma representou a sua eternizaÁ„o e, portanto, motivo de j˙bilo para seus autores.
delas, o schottisch N„o desfazendo do mÈrito dos mesmos, talvez hoje a composiÁ„o j·
tivesse caÌdo atÈ no esquecimento, n„o fosse o aproveitamento desse
Yara (Rasga o tema musical por Villa-Lobos, que, nesse monumento que È o Choros n∫
10, projetou-o alÈm fronteiras, de maneira que sÛ a genialidade de um
coraÁ„o), sobre um Villa-Lobos poderia alcanÁar.
Sobre o assunto, falou Villa-Lobos em certa ocasi„o: ìPerguntam-me por
poema de Catulo da que vivo no estrangeiro. Na Europa e nos Estados Unidos j· me aceitaram h· muito
106
tempo, enquanto no Brasil ainda discutem meus pl·gios.î
Paix„o Cearense, no Anacleto era um compositor prÛdigo e vers·til, tendo inclusive composto
uma marcha f˙nebre que foi tocada nas exÈquias de Villa-Lobos.
Choros n∫ 10î
JO√O DA BAIANA
A m˙sica a que se refere esta parceria chama-se Quando uma estrela sorri,
E sempre tocou bem. marcha-rancho com letra de David Nasser e ambientaÁ„o de Villa-Lobos,
que foi gravada em disco por Marcus Pereira. TurÌbio Santos faz menÁ„o
Acompanhava e tambÈm a uma mazurka, hoje perdida na memÛria.
solavaî S„o palavras de Donga:
Donga
106
O Globo, 5 mar. 1987, Segundo Caderno, p. 1.
107
CARVALHO, HermÌnio Bello de. Op. cit., p. 29.
8 2
ìEle era mais velho que eu. O choro imperava, ent„o. Eu tocava cavaquinho, ele
tocava viol„o. E sempre tocou bem. Acompanhava e solava. Se n„o acompanhasse
bem, naquela roda n„o podia se meter n„o. Porque choro È difÌcil, muito difÌcil. E
sempre foi um improvisador. Foi um grande solista de viol„o, grande, grande. O
Villa-Lobos sempre tocou cl·ssicos difÌceis, coisas com tÈcnica. Sempre foi o tÈcnico,
108
sempre procurou o negÛcio direito.î
ìVilla-Lobos ìEle n„o era um grande violonista, mas o som que ele tirava era bonito. Bilhar era
extremamente musical e diferente dos outros. A harmonia dele era muito rica. O
ficava fascinado com os seu repertÛrio se resumia a quatro m˙sicas, mas como se desdobravam! Por exemplo:
ëTira poeiraí ele tocava como choro, depois como valsa. Ele mudava a harmonia.
ponteios de viol„o Dali a pouco tirava uns sons de harpa. E assim ele fazia o baile. Desenvolvia os
109
temas. Com quatro m˙sicas ele acabava com o baile.î
do papai. 110
Na dÈcada de 20, Contou-nos o musicÛlogo Mozart de Ara˙jo que ouviu certa ocasi„o
de seu amigo Adhemar NÛbrega a seguinte observaÁ„o: ìVilla-Lobos adorava
Villa-Lobos ouvir S·tiro Bilhar afinando o viol„o, ele pegava o tom de mi, que È o mais natural do
viol„o, e preludiava como ninguÈm.î
freq¸entava muito LÌgia Santos, filha de Donga, narra em seu depoimento:
111
nossa casa, ìVilla-Lobos ficava fascinado com os ponteios de viol„o do papai. Na dÈcada de
20, Villa-Lobos freq¸entava muito nossa casa, na Rua Almirante Candido Brasil
na Rua Almirante 127. Donga sempre dizia: ëO povo sÛ vai conhecer o Villa daqui a 200 anos. Ele
n„o È para este tempo.í Mam„e fazia parte do Orfe„o para professores, ela era
C‚ndido Brasil 127. cantora lÌrica e Villa gostava muito dela. Mam„e morreu em 15/8/51 e em
Donga sempre dizia: setembro deste mesmo ano, cantamos no sagu„o do MEC, com a Violeta Coelho
Neto de Freitas, sob a regÍncia de Villa-Lobos, as m˙sicas ëInvocaÁ„o em defesa da
ëO povo sÛ vai p·triaí e ëCanto do pajÈí. Nesta Època eu estudava no Instituto de EducaÁ„o e
integrava a 4™ voz. Foi a primeira vez que Villa-Lobos viu papai, depois da morte
conhecer o Villa daqui de minha m„e, e ele estava muito consternado com isso.î
108
PresenÁa de Villa-Lobos - v. 3, p. 140; SANTOS, TurÌbio, op. cit., p. 39; NEVES, JosÈ Maria. Villa-
Lobos, o choro e os choros. S„o Paulo: Ricordi, 1977, p. 24.
109
In As vozes assombradas do museu: Pixinguinha, Donga, Jo„o da Baiana. Rio de Janeiro: SEC/MIS,
1970, p. 76-77; SANTOS, TurÌbio. op. cit., p. 7.
110
ComunicaÁ„o pessoal ‡ autora, 7 de abril de 1987.
111
ComunicaÁ„o pessoal ‡ autora, 5 de abril de 1987.
8 3
ìEle foi logo com a minha cara. Dizia sempre ñ este pretinho vai longe. Villa-
ìVilla-Lobos Lobos era uma espÈcie de meu padrinho. Me convidava para tudo que È programa.
era uma espÈcie de Foi ele que me levou para participar do filme ëDescobrimento do Brasilí, em 1938,
um filme feito pelo governo num est˙dio em S„o Janu·rio, l· perto da barreira do
meu padrinho.
112
Vasco.î
Me convidava para O Sr. AluÌsio Dias, violonista e compositor da velha guarda da Mangueira,
dono de grande bagagem musical, embora com apenas uma ˙nica m˙sica
tudo que È programaî 113
gravada (Ordenes e farei, de parceria com Cartola), revelou-nos fatos
interessantes sobre a passagem de Villa-Lobos pela Mangueira:
Cartola ìO maestro freq¸entava muito a casa de Cartola, e foi atravÈs dele que eu tive o
prazer de conhecer aquela grande figura. Ele chegava na casa do Cartola, tirava o
paletÛ, botava na cadeira e dizia: ëAh! Hoje estou ‡ minha vontadeí, e ent„o fui
travando conhecimento com ele. Aqui nunca cheguei a vÍ-lo tocar, ele vinha para
tratar de assuntos, de saÌdas, de reuniıes. NÛs Ìamos freq¸entemente na casa do Sr.
JosÈ Espinela, que por intermÈdio do maestro Villa-Lobos fez o ëSÙdade do Cord„oí.
Cheguei a participar uma vez do ëSÙdade do Cord„oí junto com o Cartola. Foi em
1940, e eu fui de viol„o e o Cartola de cavaquinho. O maestro organizou e financiou.
Participei tambÈm das gravaÁıes no navio Uruguai. Gravei dois sambas com o
Cartola.
A maioria das pessoas que toca viol„o e n„o conhece m˙sica afina o instrumento de
qualquer jeito, e o maestro, ent„o, ao chegar aqui, ensinou o Cartola. ëOlha, Cartola,
vocÍ deve usar o diapas„o, porque um instrumento afinado pelo diapas„o, ele toca
numa orquestra, ele estando afinado com o diapas„o, ele toca com piano, com qualquer
tipo de instrumentoí. E daÌ para c· eu e o Cartola sÛ passamos a afinar no diapas„o.
Villa-Lobos deu muita contribuiÁ„o ao Cartola.
ìO maestro aceitava
Cartola tinha uma filha, a Creuza, que tinha uma voz muito afinada e que
o Cartola como era impressionou muito a Villa-Lobos, que falava: ëOlha, Cartola, essa menina, se
e admirava muito tiver um estudo de canto, vai ser uma excelente cantora.í Villa-Lobos queria aproveit·-
la. Ofereceu-se atÈ para pagar seus estudos. Mas ela era menina, mocinha, n„o
suas m˙sicasî estava ligando pra esse negÛcio de m˙sica e n„o quis saber naquela Època. O maestro
aceitava o Cartola como era e admirava muito suas m˙sicas. Ele ouvia o Cartola e
dizia: ëMas como È que pode, ‡s vezes est· tudo errado, mas È t„o bonito.í
AluÌsio Dias
Cartola morava ali atr·s da Escola Humberto de Campos (Buraco Quente), e ele
subia direto, sozinho, e nÛs saÌamos para passear, ‡s vezes Ìamos para a tendinha.
Naquela Època era Ûtimo! A m˙sica no morro era permanente. O coro das pastoras
cantava a duas e trÍs vozes. Cartola tinha muito pendor para essa coisa e o maestro
admirava muito esse lado natural dele. Villa-Lobos aqui sÛ assistia, n„o tocava.
Gostava mais de apreciar. Guardo com muito carinho essas recordaÁıes e me sinto
muito gratificado por isso.î
112
SILVA, MarÌlia T. Barboza da; OLIVEIRA FILHO, Artur L. Cartola. Os tempos idos, p. 71.
113
ComunicaÁ„o pessoal ‡ autora, 15 de janeiro de 1987.
8 4
ìCreuza conta que uma das presenÁas mais freq¸entes no 21 era Heitor Villa-
Lobos, voz forte, clarinada no morro. Iam para o bar da EfigÍnia, no Buraco
Quente, onde Villa-Lobos a fazia ñ ela tinha ent„o 13 anos ñ cantar a canÁ„o de
Cartola, que ele mais apreciava: Como È belo ouvir cantar a passarada / Que vem
saudar com alegria / A festa da alvorada.î
114
Conversando com D. Neuma, a primeira dama da Mangueira,
soubemos que ela fizera parte do grupo de pastoras que foi levado por
Cartola para as gravaÁıes no navio Uruguay. D. Neuma lembrou-nos tambÈm
do seu tempo de escola prim·ria, quando estudava na Escola Uruguay, que
ficava na Rua Ana Neri. Segundo ela, Villa-Lobos ia ‡ escola e fazia com
ìEu me lembro que que todos cantassem os hinos:
ele sentava num banco, ìQuando ele podia, vinha aqui no morro e nos ensinava o Hino Nacional, o Hino
‡ Bandeira e o Canto do PajÈ a duas vozes. O maestro tinha ensinado ao Cartola
esses bancos de como lidar com o DiapasÛn, e nÛs cant·vamos a nota musical que o DiapasÛn
dava.î
caixote, encostava no
barraco e ficava horas Quando a interpelamos sobre se recordava de alguma passagem curiosa
de Villa-Lobos, ela assim nos respondeu:
sentado sozinho, e era ìEle n„o tinha muita passagem curiosa com a gente, porque nÛs Èramos mocinhas e
curioso que um homem n„o dava pra ele ter papo com a gente, pois ele era muito sÈrio, muito fechado! Eu me
lembro que ele sentava num banco, esses bancos de caixote, encostava no barraco e
daquele, com um ficava horas sentado sozinho, e era curioso que um homem daquele, com um nome,
com a fama que ele tinha, achar um ref˙gio num lugar pobre, nada incomodava a ele.
nome, com a fama que NÛs ach·vamos isso curioso, porque dificilmente vocÍ acha alguÈm com uma posiÁ„o
igual ‡ dele querer vir para o morro com a gente. Ficava horas e horas com o
ele tinha, achar um Cartola, sentado, ficava com seu AluÌsio, tocando com aquela turma de viol„o. Tinha
ref˙gio num lugar o falecido Batel„o, que tambÈm tocava viol„o, e ficava aquela turma de homem
tocando viol„o e cantando umas m˙sicas lindas, que a gente n„o aprendia pois estava
pobre, nada distante. As crianÁas n„o ficavam com os adultos.î
incomodava a eleî Outra grande figura da Mangueira, D. Zica, nos contou o seguinte
115
ìCerta vez, Villa-Lobos pediu ao Cartola umas baianas para uma filmagem na
D. Neuma Quinta da Boa Vista e, naquela Època, dava um problema danado, n„o podia sair
antes do Carnaval. Tinha que pedir autorizaÁ„o ao delegado, e Cartola foi pedir ao
delegado, que esbravejou: ñ Que malandragem È essa? T· pensando o quÍ? ñ Mas È
para o maestro Villa-Lobos! ñ N„o tem maestro nenhum, n„o! V·, V· embora!
Cartola foi a Villa-Lobos, dizendo: ñ …, maestro, o homem n„o autorizou sair com
as baianas em pleno meio-dia, pensou que estivesse louco. Villa-Lobos pegou enfurecido
um papel do governo com carimbo, escreveu uns negÛcios e falou para o Cartola voltar
l·, e dar aquilo pro delegado. Quando o delegado viu o Cartola de novo, comeÁou a
reclamar: ñ Mas j· n„o falei? T· pensando o quÍ? ñ E ent„o, Cartola pegou o
envelope com aquele carimbo do governo e deu pra ele. Imediatamente o delegado
mudou de atitude e disse pro Cartola: ñ Por que vocÍ n„o me disse que era coisa do
114
ComunicaÁ„o pessoal ‡ autora, 15 de janeiro de 1987.
115
ComunicaÁ„o pessoal ‡ autora, 15 e 19 de janeiro de 1987.
8 5
governo? E Cartola respondeu: ñ Mas o Sr. nem me deixou falar!î
HERIVELTO MARTINS
que È hojeî Certa vez ele ouviu um arranjo que fiz da m˙sica ëRoda pi„oí, de Dorival Caymmi,
e me chamou para dizer que eu fiz um acorde americanizado, que eu tinha que fazer
m˙sica brasileira!
Herivelto Martins
Ele talvez tenha sido a primeira pessoa a fazer uma revelaÁ„o positiva com relaÁ„o ‡
minha ëAve Maria no morroí. Esta m˙sica chegou a ser proibida pelo Cardeal Dom
Sebasti„o porque eu usava um pedaÁo da ëAve Mariaí de Gounod, e Villa-Lobos
me dizia: ñ … um louco, um maluco, n„o tem nada a ver uma coisa com a outra!
Quanto a Dalva de Oliveira, ele falava sempre: ñ Aquela menina, cuida da voz
dela! Ontem ela deu uma desafinada, mas tudo bem!
Certa ocasi„o, falei para o Silvio Salema que o maestro era muito chato e ele respondeu:
8 6
116
ñ N„o, o maestro È um sonhador.î
respeito de nÛs,
DORIVAL CAYMMI
brasileiros, que a
Guardadas as devidas proporÁıes, Dorival Caymmi representa na m˙sica
m˙sica dele permaneÁa popular brasileira o mesmo que Villa-Lobos na m˙sica erudita. Seus caminhos
intacta, tal ele foram, em muitos sentidos, semelhantes. A utilizaÁ„o do folclore nos seus
temas populares È do conhecimento de todos. Em um acalanto, ocorre o
escreveuî aproveitamento do tema folclÛrico do Boi da cara preta; o mesmo se aplica a
Roda pi„o, onde a parte central reflete o brinquedo de roda, Roda pi„o, bambeia
pi„o etc., sem contar toda sua tem·tica e ritmos, totalmente revestidos de
Dorival Caymmi brasilidade, onde tudo cheira a Bahia, a Brasil.
Caymmi tambÈm selecionou e organizou uma colet‚nea de melodias
folclÛricas, em especial do RecÙncavo Baiano. Iniciativa semelhante ‡ da
proposta de Villa-Lobos com a organizaÁ„o do Guia pr·tico, diferenciando-
se apenas com relaÁ„o a este ˙ltimo pelo aspecto quantitativo, pela
ambientaÁ„o vocal das m˙sicas (a mais de uma voz) e pelo material folclÛrico
que abrange maior n˙mero de regiıes.
117
Caymmi nos revelou:
ìAfora a m˙sica do mestre, eu fiquei muito encantado com a pessoa dele. Alta
simpatia e naturalidade. Lembro dele por volta dos anos 40, com um terno listrado,
chapÈu Gelot e charuto. Exalava um perfume muito ativo, chamado Royal Briar,
que era o perfume da moda. Eu via ele mais ‡ dist‚ncia. NÛs tÌnhamos Ìdolos
naquela Època, e quando se falava em maior violinista do Brasil, era Oscar Borgheth;
maior violoncelista, IberÍ Gomes Grosso; maior cantora, Bidu Say„o; maior pianista,
Guiomar Novaes; e, como n„o poderia deixar de ser, maior compositor, Villa-
Lobos. Uma vez fui chamado ‡ R·dio Nacional, porque tinha um maestro francÍs,
o Florent Schmitt, que queria conhecer m˙sica brasileira. Nesta ocasi„o eu pedi um
autÛgrafo a Villa-Lobos e a Florent Schmitt. (Anexo 10)
Tenho uma grande admiraÁ„o e respeito pelo trabalho dele, n„o acho bonito a
transcriÁ„o, os arranjos de obras originais. Ele È t„o tico, t„o presente, t„o novo, que
a obra dele n„o merece este tratamento; todo mundo acha que tem o direito de fazer
uma bobagem qualquer do ëTrenzinhoí, por exemplo. Carece um pouco de respeito
de nÛs, brasileiros, que a m˙sica dele permaneÁa intacta, tal ele escreveu. A verdade
116
ComunicaÁ„o pessoal ‡ autora, 4 de fevereiro de 1987.
117
ComunicaÁ„o pessoal ‡ autora, 9 de marÁo de 1987.
8 7
È que ele est· muito perto do povo, pela brasilidade, e cem anos n„o s„o nada na vida
de uma pessoa. Ele precisa ser muito executado, muito ensinado nas escolas, muito
compreendido. Devemos cultuar a memÛria de Villa-Lobos e fazer o que podemos
de melhor, que È execut·-lo e ‡ obra dele integralmente, e n„o fantasi·-lo, respeitando
nota por nota o que ele escreveu.
… preciso toc·-lo muito, para os mais jovens conhecerem e para deleite dos mais
velhos, porque n„o se toca m˙sica erudita, e quando se falava nesse tipo de m˙sica era
sempre o ëGuaranyí de Carlos Gomes.î
m˙sica aproxima-se
TOM JOBIM
da dele, neste perÌodo.
Mas ele È um gÍnio. AntÙnio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, ou apenas Tom Jobim, j· È
brasileiro no prÛprio nome e, segundo a grande maioria dos entrevistados,
O Brasil nunca soube foi quem mais bebeu da ·gua dessa fonte chamada Villa-Lobos. Tendo tido
uns encontros, que alguns chamam de aulas, com o maestro no final da
muito bem o que fazer dÈcada de 1950, Jobim acumula em seus depoimentos uma sÈrie de
observaÁıes interessantes sobre Villa-Lobos.
com os gÍniosî No jornal O Globo de 25 de janeiro de 1987, lemos o depoimento de
Tom Jobim:
Tom Jobim ìO Villa È fundamental. … verdade que minha m˙sica aproxima-se da dele, neste
perÌodo. Mas ele È um gÍnio. O Brasil nunca soube muito bem o que fazer com os
gÍnios. Manuel Bandeira dizia que Villa foi nosso ˙nico gÍnio absoluto. Acho que
h· outros, o prÛprio Bandeira, Niemeyer, Portinari, Drummond, mas gÍnio, mesmo,
È o Villa.
GÍnio t„o mal falado. Quando comeÁou a compor era considerado ëmodernoí, no
sentido de confuso; quando a obra cristalizou-s,e dizia-se, que escrevia sons cacofÙnicos.
Hoje È considerado cl·ssico, no sentido pejorativo: j· passou. Um problema. H·
livros e livros escritos falando mal do Villa. E ele prÛprio dizia: ëComponho minha
obra como quem escreve uma carta para a posteridade, sem esperar respostaí.î
8 8
CODA
ìVocÍ sabia que Sebasti„o TapajÛs e MaurÌcio Einhorn fizeram uma m˙sica chamada
ëEbuliÁ„oí para viol„o solo em homenagem a Villa-Lobos e que integra o ·lbum
ëGuitarra brasileira vol. 2í, editado pela Tonus da Alemanha? ñ E que essa
m˙sica foi gravada pela RCA alem„ e aqui no Brasil pelo selo Vison?î
118
Document·rio ìUm Ìndio de casacaî ñ 1™ Parte, exibido em 21/3/1987 pela TV Manchete.
8 9
119
Segundo nos disse Sebasti„o TapajÛs, essa m˙sica foi tocada na BBC
de Londres pela violonista americana Laure:
***
***
ìBem antes da chegada de nosso patrÌcio, glorificado pelo seu feito, ao qual se juntou
a Torre Eiffel como sÌmbolo, toda a cidade sabia de cor e cantava jubilosamente: ëA
Europa curvou-se ante o Brasil, e clamou parabÈns em meigo tom. Brilhou l· no cÈu
mais uma estrela, apareceu Santos Dumontí. Seu autor, Eduardo das Neves,
estava nesta Època em grande popularidade e quis ‡ sua maneira, com a colaboraÁ„o
de um grupo formado pelos melhores m˙sicos e seresteiros, somar-se ‡s honrarias,
homenageando o ilustre brasileiro. Dirigiram-se para a Rua Conde de Baependi,
onde estava hospedado Santos Dumont, e sem nenhum aviso, comeÁaram a cantar.
***
119
ComunicaÁ„o pessoal ‡ autora, janeiro de 1987.
120
EFEG , Jota. Figuras e coisas da m˙sica popular brasileira ñ v. 2, p. 140-141.
9 0
A bagagem musical de Villa-Lobos È das mais extensas e completas.
Sua musicografia compreende m˙sica para balÈ, Ûpera, m˙sica incidental
para filmes, comÈdia e aventura musical, concertos, diversas obras para
orquestra (poemas sinfÙnicos, sinfonias e danÁas), m˙sicas de c‚mara para
as mais diferentes formaÁıes, m˙sicas corais e sinfÙnico-corais e m˙sicas
solo para diversos instrumentos. Podemos encontrar a relaÁ„o minuciosa
em diversas publicaÁıes, tais como:
***
ìSeu encontro com o compositor Heitor Villa-Lobos, tambÈm famoso pelo gÍnio
difÌcil, sÛ poderia dar no que deu: briga. Num concurso de m˙sica, Villa n„o deu
para Ary o primeiro lugar que todos acharam que ele merecia. E os dois,
temperamentais, romperam relaÁıes. David Nasser, que recebera o prÍmio do concurso,
tentou reaproximar os dois. ëVoltar a ouvir aquele pilantra?í protestava Villa-
Lobos. ëN„o quero nada com esse malucoí, reagia Ary. E foi assim atÈ o dia 7 de
setembro de 1955, quando Ary e Villa-Lobos se encontraram no Pal·cio do Catete.
Estavam l· com a mesma finalidade: receber a Ordem do MÈrito que o presidente
CafÈ Filho lhes concedera, Ary no Grau de Oficial, Villa-Lobos no de Comendador.
Diante da expectativa geral, os dois permaneciam de cara amarrada, cada um no seu
canto. AtÈ que David Nasser disse para Ary: ëO Villa me deu o prÍmio porque eu
precisava de dinheiro para operar meu irm„oí. ëVocÍ jura?í, inquiriu o autor da
ëAquarelaí. Nasser confirmou. Foi o suficiente para quebrar o gelo. Ary abraÁou
Villa-Lobos, que desabafou diante de Nasser: ëSua letra, David, era uma
121
porcariaí.î
121
HistÛria da m˙sica popular brasileira - Fasc. 5. Ary Barroso. S„o Paulo: Abril Cultural, 1970. p. 11.
9 1
‡ p·gina 107 da revista Manchete, que nos foi cedida pela famÌlia de Ary, sem
contudo constar a data e o ano.
D. Mariuza Barroso Salom„o (filha de Ary Barroso) mostrou-nos uma
foto, de mais de um metro, de Ary com Villa, tirada no dia em que os dois
receberam a Ordem do MÈrito. Disse-nos que o pai era muito
temperamental, mas que era um homem muito compreensivo e humano,
e que ele teria aberto m„o do prÍmio se soubesse que o David Nasser
estava precisando, n„o havendo necessidade de lhe terem tirado o primeiro
lugar por causa disso.
***
ìO ano de 1987
foi um ano muito VocÍ sabia que o Museu Villa-Lobos gravou pela Caravelle todos os
especial, ano em que sambas-enredo que concorreram ao Carnaval apresentado pela Mangueira
em 1966? O disco, cujo tÌtulo ñ ìExaltaÁ„o a Villa-Lobosî ñ constituiu o
no mundo inteiro enredo da referida Escola, foi gravado na Sala CecÌlia Meirelles,
gentilmente cedida ao Museu Villa-Lobos. Participaram deste LP como
se comemorou compositores: Darcy, Luiz e Batista ñ Janu·rio e Mano ñ Aylton e Ney ñ
Pelado, Comprido e Helio Turco ñ Mano e Delfim ñ Marreta e N. Mattos
o centen·rio ñ Oliveira, Divagar e Javilino ñ Preto Rico e os autores do samba
de nascimento vencedor, Cl·udio e Jurandir.
de Villa-Lobosî ***
O ano de 1987 foi um ano muito especial, ano em que no mundo inteiro
se comemorou o centen·rio de nascimento de Villa-Lobos. Muito foi feito
para homenagear ‡ altura o nosso compositor. As Escolas de M˙sica, o
Museu de Arte Moderna, a Funarte e, em especial, o Museu Villa-Lobos,
atravÈs dos concursos de viol„o e de monografias, alÈm das ìSemanas de
Villa-Lobosî por estes Brasis afora, concorreram sobremaneira para uma
maior veiculaÁ„o da carta sonora que nos foi legada.
Todavia, o que mais nos chamou a atenÁ„o foi a homenagem prestada
por m˙sicos populares como Ney Matogrosso, EmÌlio Santiago e Rosinha
de ValenÁa. Foi com satisfaÁ„o que lemos no Caderno B do Jornal do Brasil
de 31 de agosto de 1987, ‡ p·gina 6, a notÌcia de que a cantora Gal Costa
estava se preparando para gravar, na Ìntegra, a Bachiana n∫ 5 e algumas serestas
de Villa-Lobos, com poesia de Manuel Bandeira e Carlos Drummond, tendo
ao viol„o TurÌbio Santos. Mais uma vez, vimos a sensibilidade do maestro
Diogo Pacheco, c˙mplice de uma realizaÁ„o que, cremos, se Villa-Lobos
vivo fosse, o faria muito feliz!
***
9 2
ìAquarius faz na Quinta apoteose de Villa-Lobosî. (O Globo, Rio de Janeiro,
28 set. 1987 ñ Grande Rio, p. 8)
Marcada esta homenagem, inicialmente para 20/9/1987 e adiada por
motivos clim·ticos para 27/9/1987, o evento do Projeto Aquarius foi
uma revivescÍncia dos espet·culos orfeÙnicos realizados por Villa-Lobos
nas dÈcadas de 1930 e 1940.
Tomaram parte neste evento, que contou com o patrocÌnio da Sul
AmÈrica Seguros e do jornal O Globo, a Orquestra SinfÙnica Brasileira,
sob a regÍncia de Isaac Karabtchevsky; a Orquestra de Violoncelos; o
Coral da Universidade CatÛlica de PetrÛpolis e as Meninas Cantoras de
PetrÛpolis, sob a direÁ„o do maestro Marco AurÈlio Xavier. Revivendo
as grandes concentraÁıes orfeÙnicas, o espet·culo, com um coro de 5
mil vozes, formado pelos alunos do ColÈgio Pedro II sob a coordenaÁ„o
do maestro Abelardo Magalh„es; o grupo de teatro e danÁa do ColÈgio
Pedro II e do Liceu de Artes e OfÌcios.
Abrilhantaram o evento artistas como Wagner Tiso e sua banda; a
soprano Celine Imbert e Eduardo Dusek, que foi o solista do Samba
cl·ssico.
9 3
Constaram do programa: Choros n∫ 10, Fuga da Bachiana n∫ 7, Mandu-
«arar·, Melodia sentimental (A floresta do Amazonas), O trenzinho do caipira,
Samba cl·ssico, Bachianas brasileiras n∫ 5, InvocaÁ„o em defesa da p·tria,
Descobrimento do Brasil, Canto do pajÈ, Desfile aos herÛis do Brasil, composiÁıes
do nosso genial Villa-Lobos, e ainda o c‚none Viva o sol, de LucÌlia
Guimar„es Villa-Lobos.
ìVivo fosse o maestro Heitor Villa-Lobos teria tido, ontem, na Quinta da Boa
Vista, uma de suas tardes mais gloriosas. Ali estavam cerca de 150 mil pessoas
122
reunidas pelo Projeto Aquarius.î
122
O Globo, Rio de Janeiro, 28 set. 1987, Grande Rio, p .8.
9 4
94
DISCOGRAFIA
TÕTULO DA M⁄SICA AUTORES INT…RPRETES GRAVADORA
Bachianas Brasileiras n∫ 1 ñ Prel˙dio (Modinha) Villa-Lobos Gilson Peranzzetta, Arthur Maia, GravaÁıes ElÈtricas S/A
ZÈ Nogueira e Armando MarÁal
Bachianas Brasileiras n∫ 2 ñ ¡ria (Cantiga) Villa-Lobos Gilson Peranzzetta, Arthur Maia, GravaÁıes ElÈtricas S/A
ZÈ Nogueira e Armando MarÁal
Bachianas Brasileiras n∫ 2 ñ Tocata (O Trenzinho Villa-Lobos Gilson Peranzzetta, Arthur Maia, GravaÁıes ElÈtricas S/A
do Caipira) ZÈ Nogueira e Armando MarÁal
Bachianas Brasileiras n∫ 2 ñ Tocata (O Trenzinho Villa-Lobos Arthur Moreira Lima, Kuarup discos
do Caipira) Paulo Moura e TurÌbio Santos
Bachianas Brasileiras n∫ 2 ñ Tocata (O Trenzinho Villa-Lobos Roberto Correa (viola) GravaÁıes ElÈtricas S/A
do Caipira)
95
ANO N∫ MATRIZ TÕTULO DO LP OBSERVA«√O
96
TÕTULO DA M⁄SICA AUTORES INT…RPRETES GRAVADORA
Bachianas Brasileiras n∫ 4 ñ ¡ria (Cantiga) Villa-Lobos Gilson Peranzzetta, GravaÁıes ElÈtricas S/A
Arthur Maia,ZÈ Nogueira
e Armando MarÁal
Bachianas Brasileiras n∫ 5 ñ ¡ria (Cantilena) Villa-Lobos Arthur Moreira Lima, Kuarup discos
e Ruth V. Correia Paulo Moura e TurÌbio Santos
Bachianas Brasileiras n∫ 5 ñ ¡ria (Cantilena) Villa-Lobos Edson JosÈ Alves Est˙dio Eldorado
e Ruth V. Correia
Bachianas Brasileiras n∫ 5 ñ ¡ria (Cantilena) Villa-Lobos Toinho Alves GravaÁıes ElÈtricas S/A
e Ruth V. Correia
Bachianas Brasileiras n∫ 5 ñ DanÁa (Martelo) Villa-Lobos Gilson Peranzzetta, Arthur Maia, GravaÁıes ElÈtricas S/A
ZÈ Nogueira e Armando MarÁal
Bachiana Brasileiras n∫ 5 ñ IrerÍ ñ DanÁa (Martelo) Villa-Lobos Orquestra de Vozes Arco e Flexa
Garganta Profunda
Bachianas Brasileiras n∫ 5 ñ DanÁa (Martelo) Villa-Lobos Paulo SÈrgio Santos Kuarup discos
Bachianas Brasileiras n∫ 5 ñ ¡ria (Cantilena) Villa-Lobos Paulo SÈrgio Santos Kuarup discos
DanÁa (Martelo)
Bachianas Brasileiras n∫ 5 ñ ¡ria (Cantilena) Villa-Lobos Paulo SÈrgio Santos, Kuarup discos
Jo„o Carlos Assis Brasil,
Henrique Cazes, Jo„o Lyra,
MaurÌcio Carrilho,
Luiz Ot·vio Braga.
Arranjo de RadamÈs Gnattali.
Bachianas Brasileiras n∫ 5 ñ ¡ria (Cantilena) Villa-Lobos Paulo SÈrgio Santos e regional Kuarup discos
97
ANO N∫ MATRIZ TÕTULO DO LP OBSERVA«√O
1983 71-83-0413 ó ó
1985 8079 ó ó
98
TÕTULO DA M⁄SICA AUTORES INT…RPRETES
Bachianas Brasileiras n∫ 4 ñ CaicÛ ñ ¡ria (Cantiga) Villa-Lobos Teca Calazans Kuarup discos
e Teca Calazans
99
ANO N∫ MATRIZ TÕTULO DO LP OBSERVA«√O
Nov. 2000 ó ìVilla-Lobos CoraÁ„o Brasileiroî Editado graÁas ‡ lei de incentivo ‡ cultura
Nov. 2000 ó ìVilla-Lobos CoraÁ„o Popularî Editado graÁas ‡ lei de incentivo ‡ cultura
Nov.. 2000 ó ìVilla-Lobos CoraÁ„o Popularî Editado graÁas ‡ lei de incentivo ‡ cultura
da Prefeitura do Rio de Janeiro.
de Villa-Lobos
100
TÕTULO DA M⁄SICA AUTORES INT…RPRETES GRAVADORA
Choros n∫ 5 (Alma Brasileira) Villa-Lobos Gilson Peranzzetta, Arthur Maia, GravaÁıes ElÈtricas S/A
ZÈ Nogueira e Armando MarÁal
101
ANO N∫ MATRIZ TÕTULO DO LP OBSERVA«√O
1991 ó ìContosî ó
1969 LLB1055 ó ó
Nov. 2000 ó ìVilla-Lobos CoraÁ„o Popularî Editado graÁas ‡ lei de incentivo ‡ cultura
da Prefeitura do Rio de Janeiro.
ó ó ó ó
102
TÕTULO DA M⁄SICA AUTORES INT…RPRETES GRAVADORA
Festa no sert„o (ciclo brasileiro) Villa-Lobos Arthur Moreira Lima Kuarup discos
Melodia sentimental (A Floresta do Amazonas) Villa-Lobos Paulo Moura, JosÈ Botelho Kuarup discos
e Dora Vasconcelos e dois violıes
103
ANO N∫ MATRIZ TÕTULO DO LP OBSERVA«√O
Nov. 2000 ó ìVilla-Lobos CoraÁ„o Popularî Editado graÁas ‡ lei de incentivo ‡ cultura
da Prefeitura do Rio de Janeiro.
Nov. 2000 ó ìVilla-Lobos CoraÁ„o Popular îEditado graÁas ‡ lei de incentivo ‡ cultura
da Prefeitura do Rio de Janeiro.
Jul. 1991 K 030 ìJo„o Carlos Assis Brasil, CriaÁ„o livre sobre a vers„o original.
Ney Matogrosso, Wagner Tiso
redescobrem A Floresta do Amazonas,
de Villa-Lobosî
1957 P8381 ó ó
1978 KLP005 ó ó
Nov. 2000 ó ìVilla-Lobos CoraÁ„o Popularî Editado graÁas ‡ lei de incentivo ‡ cultura
da Prefeitura do Rio de Janeiro.
104
TÕTULO DA M⁄SICA AUTORES INT…RPRETES GRAVADORA
Melodia sentimental (A Floresta do Amazonas) Villa-Lobos Jo„o Carlos Assis Brasil, Kuarup discos
e Dora Vasconcelos Ney Matogrosso,
Jaques Morelenbaum
e Jurim Moreira
Papai curumiassu CanÁ„o de rede Paulo Moura, Jo„o Pedro Borges Kuarup discos
entre os caboclos e TurÌbio Santos
do Par· (Harm.
por Villa-Lobos)
Quando uma estrela sorri Donga, David Nasser Gisa Nogueira Marcos Pereira
e Villa-Lobos
105
ANO N∫ MATRIZ TÕTULO DO LP OBSERVA«√O
Nov. 2000 ó ìVilla-Lobos CoraÁ„o Popularî Editado graÁas ‡ lei de incentivo ‡ cultura
da Prefeitura do Rio de Janeiro.
Nov. 2000 ó ìVilla-Lobos CoraÁ„o Popularî Editado graÁas ‡ lei de incentivo ‡ cultura
da Prefeitura do Rio de Janeiro.
106
TÕTULO DA M⁄SICA AUTORES INT…RPRETES GRAVADORA
e Catulo da Paix„o
Cearense
SuÌte Popular Brasileira (Mazurka ñ choro) Villa-Lobos Luiz Ot·vio Braga Kuarup discos
SuÌte Popular Brasileira (Schottisch ñ choro) Villa-Lobos Rafael Rabello Kuarup discos
SuÌte Popular Brasileira (Valsa ñ choro) Villa-Lobos TurÌbio Santos Kuarup discos
e Conjunto Choros do Brasil
SuÌte Popular Brasileira (Valsa ñ choro) Villa-Lobos Odair Assad Kuarup discos
SuÌte Popular Brasileira (Valsa ñ choro) Villa-Lobos Neco GravaÁıes ElÈtricas S/A
Veleiro (A Floresta do Amazonas) Villa-Lobos Paulo Moura, Jo„o Pedro Borges Kuarup discos
e TurÌbio Santos
107
ANO N∫ MATRIZ TÕTULO DO LP OBSERVA«√O
1974 4035023 ó ó
Fev. 1999 K 120 ìTeca Calazans canta Villa-Lobosî M˙sica utilizada por Villa-Lobos
no Choros no 10.
Nov. 2000 ó ìVilla-Lobos CoraÁ„o Popularî Editado graÁas ‡ lei de incentivo ‡ cultura
da Prefeitura do Rio de Janeiro.
Nov. 2000 ó ìVilla-Lobos CoraÁ„o Popularî Editado graÁas ‡ lei de incentivo ‡ cultura
da Prefeitura do Rio de Janeiro.
ó ó ó ó
Nov. 2000 ó ìVilla-Lobos, CoraÁ„o Brasileiroî Editado graÁas ‡ lei de incentivo ‡ cultura
da Prefeitura do Rio de Janeiro.
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NOTAS
Obs. Para efeito da ediÁ„o deste livro unificamos os tÌtulos de todas as obras com base na 3a ediÁ„o de Villa-Lobos, sua obra (MinC/SPHAN/PrÛ-
MemÛria/ Museu Villa-Lobos, 1989).
109
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______. ñ v. 4. Rio de Janeiro: MEC/Museu Villa-Lobos, 1969.
______. ñ v. 5. Rio de Janeiro: MEC/Museu Villa-Lobos, 1970.
______. ñ v. 6. Rio de Janeiro: MEC/Museu Villa-Lobos, 1971.
______. ñ v. 7. Rio de Janeiro: MEC/DAC/Museu Villa-Lobos, 1972.
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1989.
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ANEXO 1 - Cartas de Villa-Lobos para o Dr. Carlos Guinle
(Arquivo de Carlos Eduardo da Cunha Bueno Guinle)
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ANEXO 2 - Programa da Hora da IndependÍncia de 7.9.1940
(Arquivo do Museu Villa-Lobos)
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ANEXO 3 - Programa da Hora da IndependÍncia de 7.9.1941
(Arquivo do Museu Villa-Lobos)
131
ANEXO 4 - Estatuto de criaÁ„o do SÙdade do Cord„o
(Arquivo do Museu Villa-Lobos)
132
ANEXO 5 - Cartas de Leopold Stokowski
(Arquivo do Museu Villa-Lobos)
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ANEXO 6 - Partitura da m˙sica Ponto de Ogun
135
ANEXO 7 - Partitura do samba-enrÍdo ExaltaÁ„o a Villa-Lobos
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ANEXO 8 ñ Livreto do Carnaval de 1966 do G.R.E.S. EstaÁ„o
Primeira de Mangueira (Arquivo do carnavalesco
J˙lio Mattos)
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Obs. No libreto original a p·gina 7 È branca.
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ANEXO 9 - Partitura da m˙sica Oj˙ Buruc˙ de SinhÙ
(Biblioteca Nacional , Setor de microfilmes)
155
ANEXO 10 - AutÛgrafo de Villa-Lobos para Dorival Caymmi
(Arquivo particular do Dorival Caymmi)
156
157
ÕNDICE ONOM¡STICO
A Aguado, Dionysio 73
Alberto, Jo„o 30
Calado, Joaquim 16
Caldas, Silvio 30, 86
Alencar, Edigar de 76 Calheiros, Augusto 30
Albuquerque, Francisco de Mello 39 CamÍo, Helsa 19
Albuquerque, Paulinho 67-68 Carcassi, Matteo 73
Almeida, CÌcero de 46 Cardoso, Elisete 60, 61
Almeida, Guilherme de 77 Cardoso, Oswaldo 40
Almeida, Irineu 15 CaribÈ 79
Almeida, Laurindo de 70 Carlevaro, Abel 75
Almeida, Mauro 46 Carneiro, Jo„o dos Santos 16
Alvarenga, M. 30 Carrilho, MaurÌcio Lana 66
Alves, Elizabeth de Castro 55-57 Cartola (Angenor de Oliveira) 37, 46-50, 54, 82-85
Alves, Francisco 30, 86 Carulli, Ferdinando 73
Amado, Gilberto 17 Carvalho, HermÌnio Bello de 30, 60-62, 66, 72,
Americano, Luiz 46, 48 78, 81, 86
Amorim, JosÈ Domingos do 39 Cascudo, C‚mara 23,
Anchieta, Pe. JosÈ de 31 Castro, Carlos Moreira de 46
Andrade, Carlos Drummond de 87, 91 Cavaquinho, Nelson 37
Aranha, GraÁa 17 Caymmi, Dorival 85, 86, 87
Aratanha, M·rio 63 Caymmi, Nana 62, 64
Ara˙jo, Mozart 16, 28, 82 Cearense, Catulo da Paix„o 22, 81
Azevedo, Luiz Heitor Correa de 28 CecÈia, 49
Celestino, Vicente 78
Chopin, FrÈdÈric FranÁois 71
B Bach, Johann Sebastian 15, 20, 23, 45, 68, 80
Baez, Joan 88
Clemente, Martha 43
Coelho, Delfino EuzÈbio 39
Bandeira, Manuel 24, 89, 91 Copland, Aaron 54
Barbosa, Arthur Luiz 74, 80 Correa, Roberto 70, 94
Barbosa, Orestes 79 Costa, Crispim Gomes da 37, 40, 42
Barbosa, Rodrigues 15, 19 Costa, Gal 91
Barbosa, Valdinha 43 Costa, Geraldina Gomes da 39
Barrios, 74 Costa, Lourival Gomes da 39
Barros, Paula 51 Costa, SÈrgio 67
Barroso, Ary 37, 90-91 Costa, Wilson Gomes da 37, 39, 42
Baz·n, Amalia 22 Costalat, Benjamin 76
Beethoven, Ludwig von 88 Couto, AristÛteles 30
Benson, George 88 Creuza 83, 84
Bentinho 30
Bevil·qua, Oct·vio 19
Bia (Beatriz Campello Paes Leme) 66
Bilhar, S·tiro 82, 89 D Damasceno, Jodacil 61
Dias, AluÌsio, 46-47, 50, 83
Borgheth, Oscar 86 Di Cavalcanti, Emiliano 43
Braga, Francisco 29 Debussy, Claude 45
Braga, Luiz Ot·vio 67 Dumont, Santos 89
Brahms, Johannes 45, 68 Donga (Ernesto dos Santos) 30, 44-48, 81-82, 90
Brand„o, Alberto 15 Donizetti 16
Brasil, Jo„o Carlos Assis 62-63 Dusek, Eduardo 92
Brean, Julian 75 Dutra, Altemar 70
Brown, Eduardo 79
Bruno, Lenita 70
E Einhorn, MaurÌcio 88
EfegÍ, Jota 31-32, 34-36, 38, 77, 89
C Cacaso, AntÙnio Carlos Brito 66
C·ceres, Oscar 75
ElÌdio 30
Elizabeth, Grace 43
CachaÁa, Carlos 37, 50 Emma, Maria 78
CafÈ Filho, 90 Eneida 34-35
158
Ernesto, Pedro 30 Lobato, Monteiro 57
Estrella, Arnaldo 22, 62 Llobet, Miguel 72-73
Lobo, Edu 64, 66
Lobo, Me. Santos 18
F Fagner, Raimundo C‚ndido Lopes 30
Ferreira, AurÈlio Buarque de Holanda 59
Lopes, Juvenal 58
Figueiredo, Guilherme 29
FranÁa, Agnelo 16
FranÁa, Eurico Nogueira 23 M Mac·rio, 15
Magalh„es, Abelardo 92
Franceschi, Humberto Moraes 49 Magalh„es, Homero de 28
Freitas, Rita 43 Maia, Arthur 68, 94, 96
Freitas, Violeta Coelho Neto de 82 Marcelino, Valentim JosÈ 39
Marcellino, Claudionor Rodrigues 39
Marinho, Get˙lio 48
G Getz, Stan 65
Gismonti, Egberto 68-70, 94, 96
Mariz, Vasco 15-17, 19, 90
Marques, Felisberto 15
Gnattali, RadamÈs 60, 66 Martins, Henrique 36
Godoy, Maria L˙cia 51, 61 Martins, Herivelto 85-86
Gomes, Carlos 63, 87 Martins, Janyr 49
Gomes, Roque Olivio 39 Matta, Jo„o da 39
GonÁalves, Neuma 47, 49-50, 55, 84 Matogrosso, Ney 91
GonÁalves, Valentim Bento 39 Mattos, J˙lio (Julinho da Mangueira) 55-57
Gould, Morton 88 Mauro CÈsar, 49
Gounod, Charles 85 Medeiros, Anacleto de 15-16, 22, 36, 80-81
GouvÍia, Paulo 43 Mendes, Maria Cristina 43
GraÁa, Wilma 65 Meyerberg 46
Grosso, IberÍ Gomes 60, 86 Mignone, Francisco 45
Guanabarino, Oscar 17 Milano, Dante 77
Guezinha 55 Mindinha (Arminda Neves de Almeida/
Gudin, Maurice 18, 77 Arminda Villa-Lobos) 16-19, 28-29, 42,45,49,
Gullar, Ferreira 65 54, 58, 61, 66, 74-75, 86
Guimar„es, Luiz 17-18, 76-78 Miranda, Luperce 30
Guinle, Arnaldo 18, 77 Miranda, Nelson de 30
Guinle, Carlos 18 Mocinha, 37
Guinle, Eduardo 18 Monte, Heraldo do 70
Guiomar, 49 Monteiro, Frederico Bonfati Teixeira 43
Moraes, Melo 15
Moraes, Raul 46
H Hora, Luiz Gonzaga da 15 Moreyra, ¡lvaro 76
Motta, Alamiro Honorato da 39
Motta, Alberto Ribeiro da 39
I Imbert,
Imbassahy, Arthur 78
Celine 92
Muricy, Andrade 19, 22-23, 90
Kareska, Maria 51
O Oliveira, Dalva 85
Oliveira Filho, Arthur L. de 47, 50, 83
L Ladeira, M·rcia 43
Lago, M·rio 42
OrnÈlia, 49
Otero, Anita, 39, 43
Lago Filho, M·rio 43
Leal, JosÈ de Souza 74, 80
Le„o, Nara 70
Legrand, Michel 68 P Pacheco, Diogo 60, 91
Paredes, JosÈ Nogueira de Azevedo 33
Leme, Cardeal D. Sebasti„o 30, 85 PatrocÌnio Filho, JosÈ do 76
Lemos, Arthur 17 Paulo, J‚nio 43
Lessa, Rodrigo 67 Peixoto, Amaral 30
159
Peixoto, LuÌs 76, 79 Slonimsky, Nicolas 90
Penteado, OlÌvia 18 Soares, JosÈ 30
Peranzzetta, Gilson 67-70 SodrÈ, JoanÌdia 29
Pereira, Marco 72-73, 75 SodrÈ, Muniz 15
Pereira, Marcus 81 Sor, Fernando 73
Pinto, Alexandre GonÁalves 80 Souza, Luiz de 15-16
Pixinguinha, (Alfredo da Rocha Vianna) 15, 30, Souza, RogÈrio 67
45-46, 48-50, 79, 82 SpÌndola 15
Portela, Paulo da 37 Stokowsky, Leopold 37, 44-48, 81
Portinari, C‚ndido 87 Strawinsky, Igor 45, 64, 79
Prado, AntÙnio 18 Suzano, Marcos 67
Praia, Janda Gitirana 18
Preto Rico 91
Prince, Adamo 67
Prokofieff, Sergei 64
T Tagliaferro, Magda 45
TapajÛs, Paulo 31
TapajÛs, Sebasti„o 88, 89
Tchaikowsky, Piotr Ilich 45
Q Quincas
36, 89
Laranjeiras (JosÈ da ConceiÁ„o) 15, Teixeira, AnÌsio 30, 31
Ter·n, Tom·s 73
Thormes, Jacinto de 54
Tia Rosinha 37
R Rabello, Rafael 79
Ramos, Carlos 43
Tia Zizinha 15
Tinhor„o, JosÈ Ramos 35
Ratinho (Severino Rangel Carvalho) 48 Tiso, Wagner 62-64, 92
Regis, Dalvina 39 Tom Jobim 61, 63-64, 67-68, 87
Reis, M·rio Trinta, Jo„osinho 59
Ribeiro, Alberto 32 Trov„o, Lopes, 42
Ribeiro, Gabriel Rufino 39 Turco, HÈlio 91
Rocha, Glauber 18, 19
Rodolfo, Marcelo 43
Rodrigues, Barbosa 15
Rodrigues, Wenceslao 39
V ValenÁa, Rosinha de 91
Valzinho (Norival Carlos Teixeira) 30
Romero, SÌlvio 15 Vargas, Get˙lio 25, 27-28, 30
Roquette-Pinto 23 Vasconcelos, Ary 49
Rosa, EmÌlia 66 Vasseur, Augusto 76
Rosa, Luiz Pinguelli 9 VidraÁa, 30
Rubinstein, Arthur 18, 42 Vieira, Joaquim 40
Vieira, M·rio Ot·vio 43
Villa-Lobos, Heitor (E. Villalba Filho) 13-38,
S Sai„o, Bidu 86
Salema, Silvio 85, 86
40-47, 49, 51-52, 54-93
Villa-Lobos, LucÌlia Guimar„es 18, 19, 20, 93
Salgado, ClÛvis 22 Villa-Lobos, NoÍmia 15, 18, 20
Salom„o, Mariuza Barroso 91 Villa-Lobos, Raul (E. Villalba) 14-15, 20, 51
Santana 59 Viriato 16
Santiago, EmÌlio 91
Santos, Antenor 40
Santos Jr., Balduino dos 39
Santos, Boaventura dos 40
W Waghabi
Wagner, Richard 45, 79
Filho, AntÙnio JosÈ (Magro, MPB 4) 65
Santos, Francisco Henrique dos 39 Waldemar, 30
Santos, Joaquim dos 39 Wasson 47
Santos, LÌgia 43, 82 Williams, John 75
Santos, Manoel Marinho dos 39
Santos, TurÌbio 11, 43, 61, 63, 65, 71-75,
79, 80, 82, 91, 94
Savaget, Cl·udia 70
Y Yepes, Narciso 75
Scarlatti, Domenico 71
Schmitt, Florent 86
SegÛvia, AndrÈs 71-75, 79
X Xavier, Marco AurÈlio 92
XerÈm, 30
Seve, M·rio 66, 67
Silva, Cl·udio Pereira da 55, 58, 91
Silva, Ernani da 31, 32
Silva, Gast„o Ferreira da 39
Z ZÈ do Cavaquinho (JosÈ da Silva Rabello)
15-16, 36
Silva, Ismael 37 ZÈ da Zilda ou ZÈ com Fome
Silva, Jurandir Pereira da 55, 58, 91 (JosÈ GonÁalves) 46, 49
Silva, Manoel Gomes da 30 ZÈ Espinguela ou Pai Aluf·
Silva, Maria Augusta F. Machado da 42 (JosÈ Gomes da Costa) 30, 36-37, 39-40, 43,
Silva, MarÌlia Trindade Barboza 47,50,83 46-47, 49, 81, 83
Silva, Roberto 62 Zica (EuzÈbia Silva do Nascimento) 37, 84-85
Simas, Jorge 67
Simpatia, Ricardo 59
SinhÙ (JosÈ Barbosa da Silva) 36, 76, 77, 89
160
CIP-BRASIL. CATALOGA«√O-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDIDTORES DE LIVROS, RJ.
P368v
Anexo
Inclui bibliografia
ISBN 85-904189-1-X
06.02.04 10.02.04
005492
161