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FEDERAL DO PARANÁ
Curitiba
2002
1
CURITIBA
2002
2
RESUMO
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS............................................................................................. 05
CARTA À LÚCIO RANGEL, POR BRASÍLIO ITIBERÊ............................................ 08
APRESENTAÇÃO................................................................................................. 09
1º CAPÍTULO:
A REVISTA DA MÚSICA POPULAR E A CENA MUSICAL DOS ANOS
50............... 13
2º CAPÍTULO:
O FOLCLORISMO EM QUESTÃO........................................................................ 47
3º CAPÍTULO:
A INVENÇÃO DO PASSADO NA REVISTA DA MÚSICA POPULAR
............................................................................................................................ 81
4º CAPÍTULO:
“FOLCLORISTAS DA CIDADE” - O PENSAMENTO CRÍTICO-MUSICAL
HERDADO DA REVISTA DA MÚSICA POPULAR ................................................. 119
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................... 137
ANEXOS .............................................................................................................
LEVANTAMENTO DETALHADO DOS 14 NÚMEROS DA RMP............................... 140
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................ 155
4
AGRADECIMENTOS
Carlos Sandroni, uma das primeiras pessoas a colaborar para a minha pesquisa.
Bittencourt Gomes, Edinha Diniz, Olga Coutinho, Adriana Luiza do Prado, Mariana
Villaça, Roberto Gnattali, Lídia Becker, Regina Lucatto, Fabiano Salek, Miliandre
Esse trabalho é dedicado à memória do maestro Marcos Leite, cuja genialidade artística me fez tomar a
decisão de estudar música brasileira. Um obrigada de sua eterna fã n.º 0.
7
Um abraço do
Brasílio Itiberê
1
Revista da Música Popular n.º 13 pág. 12
8
APRESENTAÇÃO
modernização provocada pelo criador do novo estilo musical. Outra famosa história
conta que, por volta de 1956, Rangel apresentou Tom Jobim ao poeta Vinícius de
Mas antes da ruptura provocada pela bossa nova, durante os anos 50, Lúcio
segundo eles, tinha nos anos 30, a sua forma mais pura.
seu estudo até hoje serviu apenas como fonte secundária para as análises do
contexto musical dos anos 50. Contexto este que é caracterizado como decadente
quatro partes:
10
1956, quando circulou a Revista. O capítulo tem como objetivo principal verificar
uma vez que era constante a presença nos meios de comunicação dos grandes
RMP.
detalhado dos artigos da RMP, sua estrutura editorial, o panteão eleito pelo
2
Época de ouro: denominação que Ary Vasconcelos vai usar para designar a fase dos anos 30. na
11
pela Revista da Música Popular, como o próprio Lúcio Rangel, Almirante e Ary
Vasconcelos. Optamos por uma abordagem específica das principais obras desses
música brasileira.
CAPÍTULO 1
ANOS 50
O presente capítulo tem por objetivo analisar o cenário musical dos anos 50
Popular, criada por Lúcio Rangel e Pérsio de Morais. A publicação teve início em
Luzia 732, sala 702, centro do Rio de Janeiro e de lá, era distribuída para as
trabalho de memória comum de um grupo, que julgava a forma musical dos anos
3
Brasílio Itiberê. Op. cit.
4
Acreditamos que o principal problema tenha sido a falta de anunciantes. Todas as pessoas
entrevistadas não souberam dizer o motivo do fechamento da RMP e também nada saiu na
imprensa da época.
13
cultura brasileira do período: Almirante, Ary Barroso, Cláudio Murilo Leal, Clemente
5 6
Neto, Emmanuel Vão Gogo , Evaldo Rui , Fernando Lobo, Flávio Porto, Haroldo
Barbosa, Jorge Guinle, José Sanz, Manuel Bandeira, Mário Cabral, Mozart Araújo,
Nestor de Holanda, Nestor R. Ortiz Oderigo, Paulo Mendes Campos, Sérgio Braga,
direcionava para um outro tipo de leitor que não fosse o mesmo consumidor dos
Rádio, entre outras. Cada edição contava com 50 páginas, cada página com duas
próprios editores: “pretendemos fazer dessa Revista o guia de uma imensa legião
negavam o presente musical por este ter se desvirtuado da “pureza” (na expressão
dos editores) conquistada com Ismael Silva, Wilson Batista, Noel Rosa, Aracy de
Almeida.
O projeto que criou a Revista da Música Popular tinha uma clara intenção:
diante da crise musical dos anos 50, tornava-se necessário recuperar o passado e
trazer à tona o elemento puro e original da música brasileira – o samba. Por isso
música brasileira.
passadismo inerte, uma vez que não havia como voltar atrás num período em que
Bojunga concorda que realmente foi uma grande fase a deixada nos anos
30, com grandes expoentes, como Ary Barroso, mas mesmo assim “a célebre
Revista da Música Popular não conseguia ser uma trincheira suficientemente forte
daquela década para apontar o ambiente de decadência musical que o país vivia,
8
Cláudio Bojunga,. JK O Artista do Impossível. pág.483
9
Entendemos o conceito de cena musical como um espaço cultural no qual um leque de práticas
musicais coexistem, interagindo entre si, dentro de uma variedade de processos de diferenciação e
de acordo com uma ampla variedade de intercâmbios e influências entrecruzadas. WILL STRAW
APUD NEGUS, Keith. Popular Music in Theory. London, Polity, 1999 , p. 22
15
nesse capítulo, tendo por base a análise documental e bibliográfica da música dos
anos 50, que remete de maneira simplista à idéia de crise na música brasileira.
multiplicidade de ritmos que tomava conta das rádios. O samba deixava de ser
construídas imagens de artistas com ardorosos fãs-clubes e que tinham sua vida
idolatria era um fenômeno constante, que se confundia com a própria história dos
50.10
panorama decadente pela Revista da Música Popular, não eram a única alternativa
na imprensa brasileira. Cartola foi redescoberto por Sérgio Porto e retornou à vida
envelhecimento e/ou morte dos ícones dos anos 30 e 40, como Francisco Alves e
10
Alcir Lenharo, Cantores do Rádio, pág. 167.
16
11
Carmem Miranda e um intenso debate em torno dos rumos da música popular
brasileira.
Música Popular tinha como projeto formar uma grande rede nacional para discutir e
às origens e retomar a tradição, que seria o samba “puro” dos anos 30.
11 A partir de 1945, afastaram-se da cena musical, Orlando Silva, Pixinguinha, Cartola; também
grandes ídolos como Francisco Alves e Carmem Miranda morreram nos anos 50. Francisco Alves
morreu de acidente de carro em 1954 e Carmem Miranda foi vítima de um ataque cardíaco um ano
mais tarde.
12
Um exemplo, que discutiremos no quarto capítulo, é a divisão histórica que aparece
constantemente em obras especializadas em música brasileira. Pesquisadores como Tinhorão,
Vasco Mariz e Ary Vasconcelos classificam a história da música popular de maneira didática, para
demonstrar as diferenças musicais existentes em cada período: fase de formação (1902 – 1929),
época de ouro, (1930 – 1945) época moderna (1945 – 1958) e época contemporânea (1958 em
diante). As datas não são as mesmas para os autores, mas a proposta metodológica sugere os anos
30 como a época que corresponde a melhor fase da música popular brasileira. Os anos 50 por sua
vez, são citados como um período de decadência e (talvez por isso) transição para a bossa nova.
13
Alcir Lenharo. Cantores do Rádio, pág. 200.
17
Positivamente o músico brasileiro está com espírito de imitação. Isso é uma coisa
evidente e que não pode originar controvérsias. Cada povo cultiva a sua música. No
Brasil, toca be-bop, toca-se cool e difundem as duas coisas. Tocam não é bem o
termo; tentam tocar. (...) Que os americanos inventem um estilo de música, já é
droga, porque música não se inventa; que nós toquemos música inventada por eles,
14
é mais droga ainda.
geral. Um dos jornalistas mais críticos e atuantes da RMP, Cláudio Murilo Leal,
quanto outros jornalistas eram imbuídos do saudosismo dos anos 30, época de
Noel Rosa, Ismael Silva, Aracy de Almeida, Orlando Silva, Pixinguinha e outras
nascido15
da Revista da Música Popular. Por isso mesmo, optamos por uma transcrição
integral.
Os dez itens que Ary escreveu com o título de Decadência levantou temas
Ary Barroso, se apresentava decadente nos anos 50, foi fruto dos anos 30.
“turma do Estácio”16 (Ismael Silva, Nilton Bastos, Bide, Brancura e outros) Tal
samba tradicional.
O tipo de samba que teria sido criado no Estácio logo se difundiu, influenciando os
compositores de outras áreas da cidade, generalizando-se e tornando-se um
América Central e dos Estados Unidos. Nesse último caso, o consumo principal
veio dos filmes musicais produzidos por Hollywood. Segundo o pesquisador Ary
como o ritmo predominante no mercado brasileiro: (...) Daquele samba que o Brasil
inteiro cantava. Daquele samba que assim que ficava pronto, escorria pela
garganta de Francisco Alves, pela garganta de Mário Reis... Daquele samba, como
igual já ninguém sabe fazer, nem eu, que procurei aprender com eles.(...) 19
No mesmo artigo, Evaldo Rui critica a cena musical dos anos 50: “Cadê
bossa? Cadê aquele toque de genialidade tão necessários? (...) Aprendi qual a
provocada pela moderna indústria do disco que começou a criar e a manipular uma
Revista da Música Popular que, pela primeira vez tratou sistematicamente do tema,
criticando a indústria fonográfica que a cada dia, “fabricava” artistas e músicas sem
brasileira sofreu nos anos 50 não dá conta da complexa variedade musical pois,
Apesar das críticas às canções que faziam sucesso nos anos 50, o samba
malandragem é mais do que uma palavra (...) pois se articula a uma rede de
ainda nos anos 30, conforme afirma Alcir Lenharo. Para o autor, o lugar da boêmia
e do meio artístico carioca nos anos 30 e 40, sofreu uma trajetória descendente:
samba.
para as rádios e também para os discos. Tal afirmação contradiz o senso comum,
iniciava uma nova moda. Era a Zona Sul do Rio de Janeiro, que abria novos
ocupava Copacabana não era a mesma que circulava no Centro do Rio de Janeiro.
Mesmo em pontos opostos da cidade, a música popular ainda era o elo de união
meio-de-ano ou sambas-canções. 23
Como não podia deixar de ser, tal processo também influenciou a música.
Nos anos 40, o samba teve seu espaço dividido nas rádios com outros gêneros
22 Lenharo comenta que, a partir dos anos 50 na zona sul, o whisky tornava-se a bebida da moda e
o uso das drogas disseminava-se.
23 Desde 1928 quando foi gravado o primeiro samba canção, Ai Yô Yô (Linda Flor), foi criado um
novo gênero para designar uma música mais lenta do que o samba carnavalesco. Essas canções
passaram a ser gravadas fora do período de Carnaval, entre março de novembro. Por isso também
eram chamadas de “sambas de meio de ano”.
22
discos dos anos 50. Porém, ressaltamos que samba-canção e bolero são ritmos
andamento fluente, não arrastado. O bolero, por sua vez, chegou ao Brasil após a
canção assumiu então uma forma híbrida, o sambolero e se tornou um veículo fácil
o bolero já com forma brasileira, como uma música “que trazia uma espécie de
aconchego cultural para multidões que viviam sob o bombardeio de uma constante
troca de valores”.25
O baião foi outro gênero que predominou nas rádios da época. O ritmo
ganhou o país na década de 1940, trazido pelo nordestino Luís Gonzaga, que
baião, o samba-canção era a música intérprete do panorama cultural dos anos 50.
Luís Edmundo de Castro afirma que o ritmo era uma produção cuja origem era um
outro grupo social: parte da classe média em ascensão, moradora em sua maioria
novo espaço, todos aqueles que atuavam no meio da produção artística, cultural e
intelectual urbana. Tais boates, como Vogue, Fred’s, Arpège, Au Bom Gourmet e o
Sacha’s, a partir dos anos 50 tornaram-se ponto de encontro de uma nova boêmia,
pelas canções mais famosas dos anos 50. Autor de 62 músicas gravadas, Maria foi
Para Joaquim Ferreira dos Santos que escreveu uma biografia dedicada à
abolerados” eram infundadas: “O que Antônio Maria fazia era samba canção. Não
tinha nada de bolero. Ele não inventou nada, mas ouviu direitinho a lição dos
mestres que vieram antes e traduziu para os anos 50. Deu ao gênero suas cores
abolerar, era representação de um Rio mais urbano, com ritmo batendo como
samba, a melodia levada como canção e letras com tema de desilusão amorosa.
Apesar das canções de Antônio Maria ainda serem lembradas, seu biógrafo
veículo para divulgação. A televisão ainda não representava uma ameaça para a
30
classe média alta. Em 1952 foi elevado de 10% para 20% o percentual
O rádio, por sua vez, popularizado desde 1932, 31 representaria ainda, nos
cultura”32, tornando-se assim peça fundamental em todos os lares, dos mais ricos
movimento integralista:
musical.
Nacional a maior e mais popular emissora. Por isso, um dos acontecimentos mais
A Noite, a Rio Editora, a Companhia Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande e
incorporado pelo governo no dia oito de março de 1940, quando Getúlio Vargas
instituiu o decreto-lei n.º 2073 para pagar uma dívida de três milhões de libras
equipe e fazer a rádio crescer. Cabral nos informa que apesar de um passado
Tinhorão afirma que a Rádio Nacional foi modernizada, possibilitando que sua
interesse é local, mas seus sorteios, concursos, brincadeiras e ruídos chegam aos
mais distantes pontos do Brasil, estimulando a imaginação e o interesse das
36
grandes camadas do interior pela vida urbana da então capital do Brasil.
band, transformando a sonoridade do samba dos anos 30. Radamés Gnattali era o
Radamés Gnattali operou e que promoveu “uma verdadeira revolução nos arranjos
samba. Essa opinião é também compartilhada pelo já citado autor Luís Carlos
Saroldi que diz ser Radamés o responsável pela criação de uma nova moldura
regionais. 39
de ser muito popular, fazendo música nacionalista com clichês do rádio,” 40 ou seja,
era o músico que tinha o mais íntimo trânsito entre o erudito e o popular. 41
sucesso, o que gerava uma certa frustração pela ausência de um som mais
paralelismo de vozes. Tudo isso gerava uma sonoridade que lembrava as big
bands americanas.
Hoje, queremos mostrar toda arte que pode haver num arranjo de samba. O samba,
esse ritmo que tem sido injustamente combatido por alguns críticos esnobes que só
vêem valor na música estrangeira, é, como gênero musical, tão bom ou melhor do
que o fox americano, o tango argentino (...) A questão, caros ouvintes, é que essas
músicas dão a impressão de serem melhores, porque são tratadas musicalmente de
maneira mais elevada do que a nossa canção popular. Tudo se resume, no entanto,
numa questão de roupagem, de apresentação (...) Radamés emprega no samba
todos os recursos da técnica musical que tem sido os principais fatores da
42
popularidade da música típica de outros países.
também alvo de críticas por parte da Revista da Música Popular, que não via como
Gnattali no periódico.
modificou sua programação e criou uma nova estrutura. A principal alteração foi a
47
Tais rivalidades aconteciam entre os fãs-clubes das cantoras e também
Mário Lago lembra que as brigas entre Marlene e Emilinha eram as mais bem
Francisco Carlos e Cauby Peixoto. “Se uma das duas fosse para Canudos íamos
rivalidades provocavam uma disputa musical que predominavam nas rádios. Tanto
personalidades radiofônicas:
47 Segundo Saroldi, “os fã-clubes que começaram a existir na década de 1940 estavam mais
organizados nos anos 50 e acompanhavam seus ídolos através de qualquer aparição em público”.
pág. 64
48 Mário Lago. Op. cit. pág. 117
49 Luís Edmundo de Castro, op. cit. pág.17
50 único colaborador da RMP que escrevia para outras revistas, como por exemplo, a Radiolândia.
32
Apesar das criticas que fazia aos fãs clubes e aos concursos, a coluna do
jornalista era a única que possuía espaço para os principais nomes do rádio nos
anos 50, como Emilinha, Marlene, Jorge Goulart, Angela Maria e outros. Em meio
Nora Ney e forte candidata ao título de Rainha do Rádio no concurso promovido pela
Associação Brasileira do Rádio. Desde o começo do ano, assim que venceu o
mesmo certame, Angela Maria lançou a candidatura de Nora, no Programa Manuel
52
Barcelos.
Com letras curtas, rimas simples, fácil de cantar e com poucos compassos,
a marcha possui uma aproximação bastante significativa com o samba, mas com
O jornalista Cláudio Murilo Leal afirmava que a fase musical era “das mais
para evidenciar a idéia de marcha, que não é o mesmo “samba puro” dos anos 30.
jamais tenha existido, mas essa expressão, com certeza, remete aos anos 30,
ecletismo dos gêneros musicais que traziam estabilidade para o novo mercado de
difícil para “qualquer um” gravar. Apenas as grandes estrelas tinham acesso a um
10 polegadas, pois além do alto custo de produção, era de difícil acesso ao público
para comprar as vitrolas 33 rpms. Em face disso, foi lançado para um público
mesmo assim, este 78, mais barato e já com mercado consolidado, continuou no
Revista (1954 a 1956) evidenciava uma política voltada para o gosto popular, onde
de 1950 foram: Antonico, Balzaqueana, General da Banda, Nega Maluca, Qui nem
Jiló, Retrato do Velho, Vingança, Alguém como tu, Kalu, Ninguém me ama, Menino
memória.
58 De acordo com Jairo Severiano, A Canção no Tempo 85 anos de musicas brasileiras. Optamos,
na seleção musical que fizemos acima, por usar apenas essa fonte, pois queremos apenas uma
amostragem do que se ouvia na época da circulação da Revista.
36
1954
1955
1956
59 Depois do sucesso de Teresa da Praia, Antônio Carlos Jobim começava a despontar com alguns
sambas-canções, arranjos e direção musical para gravadoras.
37
foram , Hi-Lili, Hi lo, Ruby, Vaya com Dios, Ruega por Nosostros, Sinceridad, Ci-
30%. Já as marchas de carnaval, segundo nossa lista, tinha menos de 10%, mas
esse índice variava conforme o mês, por causa do Carnaval, podendo chegar, em
era quase que uma constante e por isso mesmo, os críticos da RMP afirmavam
que um número cada vez maior de boleros e ritmos estrangeiros tomava conta das
tradição perdida.
voltarmos ao ambiente musical dos anos 30, verificamos que o compositor era o
grande personagem. Era ele que ficava conhecido pelas músicas que compunha.
“ser brasileiro” ou do “ser carioca”. Outro exemplo é Francisco Alves que, para
60 Gravado por Cauby Peixoto, no auge de sua fama, a canção tornou-se um dos principais
sucessos de 1956
38
música brasileira.61
era outro, diferente dos artistas que faziam parte do contexto dos anos 50.
61 Essa visão centrada no compositor é fruto dos anos 30 e também da década de 60, quando vai
ser construída uma aproximação musical entre as duas décadas. Os nomes que surgem vão sugerir
também uma ligação entre os períodos, um exemplo típico é a ligação entre Noel Rosa e Chico
Buarque.
39
Brasil desde a década de 30. A tabela a seguir, expõe uma seleção de Alcir
62
Alcir Lenharo. Op. Cit. pág. 182
40
Cantoras Cantores
Angela Maria Sílvio Caldas
Isaurinha Garcia Carlos Galhardo
Elizeth Cardoso Francisco Carlos
Dircinha Batista Ivon Cury
Dalva de Oliveira Jorge Goulart
Linda Batista Nelson Gonçalves
Nora Ney Orlando Silva
Emilinha Borba Luís Gonzaga
Marlene Cauby Peixoto
Doris Monteiro Dick Farney
Carmen Costa Lúcio Alves
CAPA DATA63
Pixinguinha Setembro de 1954
Aracy de Almeida Novembro de 1954
Carmem Miranda Dezembro de 1954
Dorival Caymmi Janeiro de 1955
Elizeth Cardoso Fevereiro de 1955
Inezita Barroso Março/Abril de 1955
Velha Guarda Maio/junho de 1955
Carmem Miranda Agosto de 1955
Sílvio Caldas Setembro de 1955
Jacob Bittencourt Outubro de 1955
Leny Eversong Nov/Dez de 1955
Dircinha Batista Abril de 1956
Marília Batista Junho de 1956
Orlando Silva. Agosto de 1956
CAPA DATA
Dircinha Batista 10 de julho de 1954
Elizeth Cardoso 17 de julho de 1954
Celso Guimarães 24 de julho de 1954
Angela Maria 31 de julho de 1954
Aidée Miranda 07 de agosto de 1954
Neusa Maria (rainha do jingle) 21 de agosto de 1954
Isaurinha Garcia 28 de agosto de 1954
Carmélia Alves 04 de setembro de 1954
Dalva de Oliveira 11 de setembro de 1954
Daysi Lúcidi 18 de setembro de 1954
Marlene e Luís Delfino 25 de setembro de 1954
publicações, o que era uma exceção, pois percebemos que o critério utilizado
com o artista, como a eleição para rainha do rádio, uma nova gravação de
de música popular. Como tantas outras, era uma revista dedicada aos fãs-
Radiolândia é uma revista feita para vocês. Desde o primeiro número abrimos
páginas à colaboração de fãs e dos fans clubes, procurando ligar o público
64 A Radiolândia circulou de 1953 até a década de 60, com edição semanal. Por isso mesmo
selecionamos apenas 10 capas para poder comparam com o primeiro ano de circulação da
Revista da Música Popular.
42
artistas, que ganhavam uma coluna para conversar com os fãs, expor a
Rangel, por exemplo, foi uma entrevista com os artistas Jorge Farad,
e também que o espaço para críticas não era exclusivo da Revista da Música
Popular.
referenciais de raiz, tal como pensado pelos folcloristas dos anos 50.
67 Para Lamartine Babo, música “trabalhada” é aquela que para tocar, foi preciso comprar
programadores e discotecários, além de distribuir os discos de maneira forçada, sem dar
atenção ao gosto do público.
68
RADIOLÂNDIA N.º 2 – janeiro de 1954, pág. 14
44
desvinculada de um projeto político não era vista com bons olhos por
comunicação para não perder a sua forma pura pois, para eles, o cinema
69
Luís Edmundo de Castro. Op. cit.
70
Mônica Velloso . A dupla face de Jano: romantismo e populismo. p. 125
45
arvorava a RMP.
71
Mônica Velloso . A dupla face de Jano: romantismo e populismo. pág. 136
46
CAPÍTULO 2
O FOLCLORISMO EM QUESTÃO
folclorista com o projeto da Revista da Música Popular nos anos 50. Para
seu nascimento, no século XIX, até a década de 1960. A idéia central será
2.1
positivistas.72
científico.
segundo Peter Burke, no século XIX, todas elas convergiam para uma
72
“A característica do positivismo é a romantização da ciência. Com o romanticismo da
ciência, o positivismo acompanha e estimula o nascimento e a afirmação da organização
técnico-industrial da sociedade moderna e exprime a exaltação otimística que acompanhou a
origem do industrialismo.” Dicionário de Filosofia Nicola Abbagnano pág. 746.
73
Segundo Denys Cuche, (A noção de cultura nas ciências sociais. pág.178), a origem das
raízes seria o que fundamentaria toda identidade cultural e definiria o indivíduo de maneira
autêntica.
48
momento ela seria criada para gerar a ilusão de perenidade. Com esse
74
Luís Rodolfo Vilhena, Projeto e Missão, pág. 25
75
Florestan Fernandes,. O folclore em questão. Pág.
76
Renato Ortiz,. Românticos e Folcloristas pág. 24
49
tradição, o povo seria o arquivo dessa mesma tradição e o folclore, "o corpo
instituições, as superstições".77
77
Renato Ortiz, op cit. pág.24
78
“Elemento menos civilizado ou primitivo que vem do universo rural”
50
brasileira.
79
Santuza Cambraia Naves, O violão azul., pág. 47
80
Essa idéia do popular enquanto revelação e/ou essência da nação não é criação exclusiva
dos folcloristas. Ela também vai estar subjacente às reflexões do ISEB e até mesmo às
análises do CPC da UNE. Ver SOUZA, Miliandre. Garcia de Da Prática à Teoria: Arte e
Engajamento no Brasil (1957-1964). Dissertação de Mestrado. UFPR. 2002
51
81
Na década de 1950 no Brasil, o povo foi então o grande eleito,
81
O conceito de povo está atrelado à idéia de elemento social puro, representante legítimo
das tradições brasileiras.
82
Para Angela Castro Gomes, uma tradição tem seus temas, procedimentos, referências
organizacionais e simbólicas e suas figuras-chave. As tradições podem se fundir ou, ao
inverso, multiplicar-se em dado momento, para o que é preciso considerar a situação do
pequeno, mundo intelectual, além da conjuntura política maior. As tradições intelectuais
marcam o perfil de relações, que nelas e por elas procuram se demarcar. As tradições
exigem suportes materiais, que a noção de lugar de sociabilidade nos ajuda a mapear e a
dotar de um sentido subjetivo, uma convivência que a memória comum irá registrar.
83
Nesse período, de maneira surpreendente para alguns, os intelectuais da ABL conferiram
também um projeto para si. Para eles, o conceito de povo só vai adquirir sentido no mundo
do folclore, saber mais competente e o único capaz de construir um discurso sobre a nação.
Os intelectuais da ABL faziam distinção entre o que seria “fato folclórico” e “fato histórico”. A
história se preocuparia com a recuperação do passado e o folclore, buscaria sua inserção na
dinamicidade do presente. Seriam ainda os folcloristas a conferir importância fundamental às
fontes primárias.
84
Mônica Velloso, o cit. pág. 136
52
Concordamos com Vilhena quando ele afirma que, apesar dos constantes
acadêmico, ligado por uma relação romântica com seu objeto, estudado a
2.2
85
Vilhena chama também de folclorista aquele que visava criar a figura do profissional
especialista e científico. Mereceria esse epíteto na medida em que escrevesse sobre o tema,
participasse de congresso, e comissões folclóricas, ainda que não fosse sua única atividade..
O autor procura também acompanhar as polêmicas do período de forma a compreender o
que estava em jogo nesses debates, tentando mostrar o que representou cada uma das
posições sobre o assunto e examina a estrutura institucional dentro do qual os intelectuais se
organizaram dentro da sociedade, discutindo algumas representações em torno de
identidades relevantes para eles – como o objeto, a ciência e sua nação.
86
Luiz Rodolfo Vilhena. Op. cit. pág. 28
87
O fim da CDFB deve-se ao golpe militar de 1964
53
proteção” do folclore.
12 Joana Abreu faz uma análise do livro de Câmara Cascudo, Folclore do Brasil
(pesquisas e notas). Rio de Janeiro, São Paulo, Fundo de Cultura, 1967. Destaco, desse
trabalho, conceitos importantes do folclorista.
Segundo Cascudo, nós (?) somos formados pela convergência dessas diversas
continuidades de tradições com origens remotas – "Essas pequeninas citações apenas
positivam a convergência de elementos que ajudam a formar o nosso cotidiano."(p.11).
Distingue folclore e cultura popular – "O folclore é o popular, mas nem todo popular é folclore.
A Sociedade Brasileira de Folk-Lore (1941) fixou as características do conto, a estória, como
tive a inicial coragem de usar em 1942, e que coincidem com o fato folclórico: a) Antigüidade/
b) Anonimato/ c) Divulgação/ d) Persistência"(p.13).Explica o processo de incorporação de
um motivo pelo o folclore, de "reajustamento para o folclórico"(pp.14-16). Ao fazê-lo, ressalta
a autenticidade presente nos elementos folclóricos – "…somente o tempo, dando-lhe a pátina
da autenticidade a fará folclórica. A autenticidade é o resumo constante e sutil das
colaborações anônimas e concorrentes para sua integração na psicologia coletiva
nacional"(p.14).Apresenta uma visão de povo como aquele que conserva as próprias
tradições: "No campo ergológico o povo conserva o seu patrimônio tradicional, móveis e
utensílios nos formatos antiquados que muito lentamente vão sendo mudados. (…) é todo um
mundo ainda defendido, quanto possível em quinhentos anos de fidelidade inabalável.
(p.16/17). Mais adiante, citando Cláudio Bastos, diz: "O povo é um clássico que sobrevive"
(p.18).
54
aprofundamento. Tudo que não pudesse ser preservado teria que ser ao
89
Angela de Castro Gomes,. História e historiadores. RJ: Fundação Getúlio Vargas, 1999.
pág. 172
90
No III Congresso Brasileiro de Folclore, em 1959, o presidente Juscelino Kubitschek
anunciou a formação de um grupo de trabalho para elaborar um plano em favor da proteção
das artes populares. Na comissão estavam Renato Almeida, Joaquim Ribeiro Manuel
Diegues Júnior, Edison Carneiro e Rossini Tavares de Lima. Para diretor da Comissão, o
ministro Clóvis Monteiro nomeou Mozart de Araújo (colaborador da Revista da Música
Popular), que não tinha ligação com o movimento folclórico e dirigiu na época, a Rádio MEC.
55
posteriores.
91
ICBF, 1952, pág. 77
56
Folcmúsica (do anglosaxônico folk music, ‘música do povo”), a qual faz parte,
em conseqüência do Folclore, significa também, em conseqüência: a música
que é tradicional, funcional e típica num povo, país ou região. Música popular
(popular music em inglês) significa a folcmúsica ou não que se popularizou,
92
que dizer, que foi aceita pelo povo, coletivamente, num pais ou região.
procurava encontrar uma definição “tão ampla quanto possível” para o objeto
dos Estudos de folclore. Propunha então que o fato folclórico fosse definido
92
Revista da Música Popular, n.º 7 pág. 6
93
Revista da Música Popular, n.º 7 pág. 7
57
pesquisar para estudar apenas, porque o fato folclórico não é coisa morta,
94
Luiz Rodolfo Vilhena, op. cit. pág. 140
95
Renato Almeida ainda discursa mais sobre o assunto: “O fato folclórico é universal. As
manifestações da sabedoria e da arte do povo, seu modo de pensar, de sentir e de agir são
de forma tão semelhantes que Bastian sublinhou a ‘espantosa monotonia das idéias
fundamentais da humanidade no mundo inteiro’. Não há mito, conto ou provérbio, não há
crença, arte ou técnica que não se vá encontrar, me formas e expressões diferentes, mas de
fundo igual, em todas as partes do mundo [...] Assim, as essências folclóricas de um povo
não são rigorosamente nacionais, embora o modo de enformá-las seja sempre peculiar a
cada cultura. [...]Há que concluir que, sendo a mais regional na sua exterioridade, o folclore é
a forma universal de cultura. RENATO ALMEIDA,– 1953, p.338
96
FOLCLORE – Órgão da Comissão Espírito-santense do Folclore. N.º 32/33
58
acontecesse
97
Durante os congressos, houve uma grande cobertura por parte dos jornalistas. Eram
divulgados os acontecimentos do evento em revistas, jornais e noticiário de rádio.
98
Relatório Geral do Congresso Internacional do Folclore, apresentado pelo Folclorista Belga
Sr. A. Marinus.
59
“inexplicavelmente retrógrada”.
99
FOLCLORE – Órgão da Comissão Espírito-santense de Folclore. Ano VI, Ns. 32/33,
Setembro a Dezembro de 1954
100
Importante ressaltar que nem todos os folcloristas eram partidários dessa idéia de
isolamento do folclore das outras ciências humanas. Edison Carneiro e Florestan Fernandes,
por exemplo, sempre propuseram um trabalho interdisciplinar e diziam não ser possível o
folclore trabalhar isoladamente, pois existiria claramente uma interdependência entre
etnologia, antropologia e outras ciências sociais.
60
com a história do país (por ser sua capital), transformou o samba no gênero
um artigo do número 10, o escritor Mário Cabral, situou o século XIX como a
Lobos e Jaime Ovalle puderam assimilar o fato folclórico puro, sem ainda ter
sido “maculado” pela indústria: “hoje isso não seria mais possível, ante o
da sociedade.
folclórico. Este seria caracterizado pela sua espontaneidade e pelo seu poder
Pelo poder de motivação do fato folclórico se tem visto que sendo ele uma
expressão da experiência peculiar da vida da coletividade, é constantemente
vivido e revivido pelos componentes desses, inspirando e orientando seu
comportamento. Encontra-se sempre em reatualização. Sua concepção
como sobrevivência reflete o etnocentrismo do observador que leva a reputar
como mortos ou em vias de desaparecimento os modos de sentir, pensar e
102
agir deste, se contrapondo à moda, à arte, à ciência e à técnica.
101
Revista da Música Popular N.º 10, pág. 3
102
Florestan Fernandes. O folclore em questão. .pág. 24
103
Uma boa forma de conhecermos parte desse diálogo está no livro “O Folclore em
Questão, de 1978 que traz uma coletânea de ensaios escritos entre 1944 e 1962, em
61
uma nova investida contra o folclore, pois criticou os folcloristas por não
diversas revistas e jornais. Em tais artigos, Florestan propôs uma colaboração mais eficiente
entre as ciências sociais e o folclore, que definiu como expressão da vida social e cultural de
um povo. Propunha que o folclore deveria ser disciplina humanística e não científica, pois
tratava-se mais de um método do que uma ciência e envolveria interpretações singularizantes
ocorrendo de forma indistinta, independente de classe social.
104
Florestan Fernandes op. cit. págs. 9, 20
62
105
Florestan Fernandes op. cit. pág. 55
106
Nestor Garcia Canclini. Culturas Híbridas, pág. 211
63
uma “tradição musical que evoluiu por meio da difusão oral”. Definiram como
hipótese alguma tal música poderia ser englobada como tradicional, pois não
cultural com o passado, não nascia de criação espontânea e sua seleção não
se dava pela coletividade, uma vez que era produto da indústria. Também
pura para se refutar a música popular por estar em ambiente urbano e sofrer
influências e sincretismos
jornalistas ligados à música, mas essa idéia não foi bem definida ou
107
FOLCLORE – Órgão da Comissão Espírito-santense de Folclore. Ano VI, Ns. 32/33,
64
os mesmos intelectuais que criticavam a música popular por não ter raízes,
contradição:
110
Florestan Fernandes – Mário de Andrade e o Folclore Brasileiro in Revista do Arquivo
Municipal de São Paulo (n.º CVI, 1946) apud, FOLCLORE, N.º 34/36 Florestan ainda coloca a
contribuição das pesquisas de Mário nas fontes do folclore musical brasileiro: “De suas
pesquisas, concluiu que os portugueses nos deram o nosso atonalismo harmônico, a
quadratura estrófica, provavelmente a síncope, desenvolvida posteriormente pelo negro, os
instrumentos europeus, como a guitarra (violão), a viola, cavaquinho, a flauta, oficlide, o
piano, o grupo dos arcos, textos, formas político-líricas, como a moda, o acalanto, danças do
gênero as rodas infantis, do fandango, danças dramáticas como os Reisados, as Pastoris, a
Marujada, a Chegança, a forma primitiva de Bumba-meu-boi.
111
Elizabeth Travassos, Modernismo e Música Brasileira, pág. 34
66
uma identidade nacional. “Nós só seremos deveras uma Raça o dia que nos
cultura.” 112
cultura popular, com quais tipos de relação se constituía o povo e que peso
112
M. de Andrade Assim falou o papa do futurismo. Apud SCHELLING pág.104
113
SCHELLING pág.106
67
hábitos e modos de falar do Brasil rural, pois, a seus olhos, ela reforçava
Uma arte nacional não se faz com escolha discricionária e diletante dos
elementos: uma arte nacional já está feita na inconsciência do povo. O artista
tem só que transpor elementos já existentes uma transposição que faça da
115
música popular, música artística isto é: imediatamente desinteressada.
toda a obra de Mário de Andrade: sua ficção, seus textos de crítica e seus
tradicional.” 116
114
A função intelectual de Mário de Andrade está ligada a uma definição de “construção” pois
dedicou suas energias a esse processo: a construção de uma linguagem que refletisse a
experiência coletiva da nação brasileira; a construção de uma consciência crítica sobre a
natureza da arte tanto em sua natureza imanente quanto em sua relação a determinantes
externos a ela; a recoleta e análise do folclore para promover a produção de uma música
“universal” e “brasileira”, a altura da “arte erudita” (veículo para a aquisição de uma memória
histórica) e criação das condições prévias para um autêntico sentido de identidade; a
construção de uma visão alternativa para o desenvolvimento da sociedade brasileira, de
acordo com um outro princípio civilizatório, diverso do princípio europeu herdado com a
colonização.
115
Mário de Andrade. Ensaio sobre a música brasileira, pág. 16
116
Idem pág. 18
68
Já afirmei que não sou folclorista. O folclore hoje é uma ciência, dizem (...)
Me interesso pela ciência porém não tenho capacidade para ser cientista.
Minha intenção é fornecer documentação para o músico e não, passar vinte
anos escrevendo três volumes sobre a expressão fisionômica do lagarto
118
(...).
A bem dizer, o Brasil não possui canções populares muito embora possua,
incontestavelmente, música popular. Pelo menos não existem elementos por
onde provar que tal melodia tem sequer um século de existência. Tanto no
campo como na cidade florescem, com enorme abundância, canções e
danças que apresentam todos os caracteres que a ciência exige para
determinar a validade folclórica duma manifestação. Essas melodias nascem
e morrem com rapidez, é verdade, o povo não as conserva na memória. Mas
se o documento musical em si não é conservado, ele se cria sempre dentro
de certas norma de compor, de certos processos de cantar, reveste sempre
de certas formas determinadas (...) não é tal canção determinada que é
permanente, mas tudo de que ela é construída. A melodia, em seis ou dez
anos poderá obliterar-se na memória popular, mas os seus elementos
constitutivos permanecem usuais o “povo”, e com todos os requisitos,
119
aparências e fraquezas do tradicional.
117
Mário de Andrade, op. cit. pág. 16
69
Popular, percebemos como Mário foi apropriado por esse grupo que
uma leitura enviesada dos textos de Mário por parte dos nomes ligados à
RMP.
apropriado por esse grupo (um pouco mais de perto) foi Renato Almeida, que
que o trabalho nas escolas de samba não seria folclórico, pois pouco restou
118
APUD, Vilhena, pág.131
119
Ensaio sobre a Música Brasileira, 1928 ed. de 1962
120
Quando analisa “cantigas e danças”, mantém, grosso modo, um esquema no qual suas
origens são atribuídas a três fontes étnicas, como quando traça, por exemplo, as influências
de portugueses, africanos, ameríndios, espanhóis na composição de nossa música folclórica.
Essa fórmula ternária generaliza-se no estudo de nossa música e, quando o compositor
Lorenzo Fernandes vai realizar sua palestra sobre a música brasileira na I Semana Folclórica,
intitula-a de ‘Flor Amorosa de três raças tristes’ (note-se que Flor Amorosa é música urbana,
de autor conhecido que a princípio é negada como folclórica por esses intelectuais)
121
APUD, Luiz Rodolfo Vilhena op. cit., pág. 281
122
O secretário capixaba Guilherme dos Santos Neves afirmava que “aquilo que está sujeito
à transitoriedade da moda não é folclore”. O folclórico seria tudo que não é oficial, e a forma
70
afirma que o samba foi a grande matriz de toda a folk-dance brasileira, tendo
de liderança exercida nas escolas de samba emanando autoridade constituída, afastaria tal
movimento do domínio folclórico.
123
Renato Almeida. O samba carioca. In. Mariza Lira 1ª exposição de folclóre no Brasil.
(Achegas para a exposição do Folclóre no Brasil.). Rio de Janeiro, 1953 pág. 61
71
Foi com todos esses elementos que o samba começou e se vai fazendo. No
carnaval de 17 surgiu Pelo Telefone, fixando o samba, que se tornou
expressão legítima da nossa cidade. Os compositores foram surgindo e
125
demarcando as primeiras formas dessa expressão nova de dansa.
124
Renato Almeida, op. cit pág. 62
125
Idem
126
Renato Almeida, op. cit. pág. 63
72
urbano.
Almeida que finalizou sua discussão sobre música popular no universo das
cidades.
“Só no Rio nasce o samba. O baiano Dorival Caymmi trouxe coisas lindas da
sua terra, mas fês samba aqui no Rio, que é o clima natural e propício. Só na
terra carioca germina o samba, mas, com nela se somam elementos de todo
128
o Brasil, o samba ficou brasileiro...”
do movimento folclórico.
127
Renato Almeida, op. cit. pág. 66
128
Renato Almeida, op. cit. pág. 67
73
folcloristas por pensarem que os grandes centros deveriam ser excluídos das
folclore urbano”
diversas tradições.
129
Mariza Lira. Op. Cit. Pág. 8
74
elemento forjado para se criar uma tradição na cultura carioca e que o Rio de
130
André Gardel O Encontro de Bandeira e Sinhô. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de
Cultura, 1996.
131
Citado por Hermano Vianna O encontro... pág. 13
132
André Gardel Op. cit pág. 24
75
folclórico.133
133
Percebemos então que todas as argumentações e debates não são de modo algum
lineares. Isoladamente, permeando diversos eventos sobre folclore, podemos decifrar uma
concepção, no meio do movimento, sobre música popular urbana.
134
As interferências estrangeiras a que se refere a Carta do Samba está diretamente
relacionada à bossa nova.
135
Mais especificamente o Congresso aconteceu de 28 de novembro a 2 de dezembro de
1962, no Rio de Janeiro. apesar de estar fora do nosso recorte de estudo, o Congresso do
Samba marcou posições importantes que não podemos deixar de comentar.
76
Samba.136
popular, tentou conciliar suas posições com a de Carneiro: “não vibrou por
preservar.”139
da nação brasileira.
136
Edson Carneiro,. Carta do samba. Palácio Ernesto, 1962.
137
Idem, pág. 1
138
Carta do Samba, pág. 1
77
“Esse documento, que por assim dizer, oficializa o samba, garante copyright
dos autores, solicita do Congresso dispositivos legais que disciplinem os
problemas de sua divulgação, afasta de vez e em definitivo o samba dos
quadros do folclore, que afinal, é tudo o que não é oficial. Naturalmente, que
tudo se refere à forma urbana e popular do samba, não intervirá nos
batuques e sambas de roda da gente do povo, que continuarão em sua forma
puramente folclórica, no seu perpétuo vir-a-ser, na sua interminável fluidez”
140
samba distante do vínculo comercial. Mas esse projeto seria implodido pelo
139
Carlos Sandroni. Feitiço Decente, pág.19
140
Carta do Samba, pág. 2
141
Idem. pág. 11
142
Carlos Sandroni. Feitiço Decente, pág. 98
78
a música qualquer.
1950, muitos temas foram assumidos pela Revista da Música Popular que
acentuados.
79
CAPÍTULO 3
autêntica.
influências estrangeiras.
fazer com que suas idéias tivessem uma circulação mais ampla. Paiano vê
manifestação nacional, autêntica e não regional. No fim dos anos 50, por
grupo. Essa contradição pode ser explicada pelo fato de a pesquisa, mesmo
143
Enor Paiano. O Berimbau e o Som Universal
144
Para conhecer os debates em torno da MPB dos anos 60 ver: NAPOLITANO, Marcos,
Seguindo a Canção., 1998.
81
145
em termos cronológicos e de referência às fontes. José Honório Rodrigues
desenvolvido.
lugar de venda sobre o tema, tinha uma estrutura parecida com a Revista do
145
, José Honório Rodrigues, História Memorialista e o Rio de Janeiro. In: Coaracy, Memórias da
Cidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, José Olímpio, 1965. Pág. 161
146
Idem, pág. 208
147
Se o "espírito nacional" está nos costumes, na raça, na língua e na memória, devendo
todos ser recuperados e valorizados, uma das concepções de passado está ligada à cultura
popular, manifestando-se através de um conjunto de tradições, convivendo com o presente,
sendo a-histórica e permanente.
82
comunicação.
tradição, para eles, a música popular urbana carioca dos anos 30. A mídia
popular brasileira.
148
Nestor Garcia Canclini, Op. Cit. pág. 259,
83
histórica.
novo ambiente popular e urbano, sem que se perdesse sua origem rural ou
intelectuais que não podem preservar um passado vivo e por isso inventam
Uma nação forte, segundo o autor deve ter música nacional, enraizada
baixas.150 Essa afirmação também pode se adaptar ao Brasil dos anos 50,
época da ouro, já não estava mais em moda. Seria preciso, segundo a linha
149
Richard Peterson,. La Fabrication de L’authenticité La country music. Pág. 8
150
A tradução para o francês coloca o termo ouvrière, para o povo. Traduzimos livremente e
adaptamos o termo de forma bem mais genérica, utilizando o termo classe baixa.
85
consequentemente, a autenticidade.
autenticidade do periódico.
86
151
Richard Peterson. Op. Cit. pág. 4
152
Revista da Música Popular, n.º 3 pág. 1
153
Angela de Castro Gomes. Op. Cit. Pág. 171
154
Revista da Música Popular n.º 4, pág. 6
87
Hobsbawn quando ele afirma que toda reverência ao passado acaba sendo
tradição.156
155
Em entrevista concedida a mim, o jornalista Cláudio Murilo Leal, colaborador da Revista,
afirmou não ser freqüente reunião de pauta ou mesmo discussões metodológicas entre os
colaboradores do periódico.
156
Eric Hobsbawn. Op. cit.
88
nesse assunto. Sob a direção de José Sanz, a organização dessa seção fixa
Borneman:
157
Cartola também foi redescoberto nessa época por Sérgio Porto trabalhando como
garagista
158
Revista da Música Popular N.º 2, pág. 35
89
dos jornalistas para privilegiar um terço da Revista para o jazz. Tido como
gênero de raiz folclórica, podemos notar que até algumas deliberações dos
brasileira. Tal passado era visto pelo viés folclórico, tendo como base a idéia
também viam como autêntica, toda a manifestação musical carioca dos anos
reorganizada.
“música boa” que estava ligada ao passado heróico e era desviada naquele
Alguns editoriais nos dão uma dimensão mais exata dos temas
tratados. Lúcio Rangel escrevia e deixava claro que não faria concessões ao
mercado fonográfico.
Revista, toda música antiga (época de ouro) era considerada boa por
159
Revista da Música Popular N.º 4 , pág. 1
91
160
Revista da Música Popular N.º 5 pág. 1
161
Revista da Música Popular N.º 2 , pág. 14
92
apoio, mas foram os que mais publicaram seus anúncios. Contando com
162
Revista da Música Popular N.º 6, pág. 1
93
continuar circulando.
Popular. A tiragem, que era para ser mensal, passou a ter intervalos maiores.
163
Revista da Música Popular n.º 14 pág. 15
164
Revista da Música Popular n.º 12 pág. 1
94
É a Revista que estava faltando a esta cidade tão sambista e seresteira, mas
que ainda não sabe, em termos de musicologia, a riqueza enorme que possui
em pouco mais de um século da sua canção de carnaval. (Antônio Bento –
Diário Carioca)
165
Todas a publicações mencionadas saíram entre Setembro e Outubro de 1954, no Rio de
Janeiro.
95
Tal grupo era tido pelos jornalistas “como abalizado e autorizado para
instrumental para músicos foi mencionada pela imprensa. Por ser única em
associasse ao programa.
166
Diário de Bauru - SP (citação da Revista) s/d
167
Diário de Bauru - SP (citação da Revista) s/d
96
outra" Também argumentava que era uma idéia antiga de Lúcio Rangel e
169
grandes firmas gravadoras não se interessam”.
polegadas, com seis músicas em cada face, selo próprio desenhado pelo
168
Revista de Música Popular. n. 1, pág. 27
169
Revista da Música Popular n.º 3 pág.23
97
de...”
No primeiro caso, a seção (que não era assinada), foi uma tentativa de
Seu Libório é um dos bons discos da música popular brasileira. Aliás, nesta
época de LP, não seria má idéia se os atuais possuidores das matrizes dos
discos de Vassourinha lançassem um disco reunindo todas as gravações do
170
cantor tão cedo desaparecido.
artistas dos anos 30. Durante o período que circulou, a seção teve quatro
170
Revista da Música Popular, n.º 2 pág. 15
171
Revista da Música Popular, n.º 12 pág. 7
98
Revista da Música Popular exigia rigor de pesquisa e precisão nos dados, por
Enegê, que Lúcio Rangel afirmava ser um grande discógrafo escondido sob
pseudônimo.
172
Revista da Música Popular, n.º 9 pág. 19
173
Revista da Música Popular N.º 7 pág. 20
99
mais autêntico e puro em nossa música, tanto no que se refere aos números
174
Revista da Música Popular N.º 1 pág. 23
175
Revista da Música Popular N.º 7 pág. 20
176
Revista da Música Popular n.º 9, pág. 16
177
Idem
100
clima carnavalesco da cena musical dos anos 50. Como exemplo, tomemos
Sérgio Porto e outros. Lúcio Rangel criou seções fixas para alguns e
nação brasileira.
101
178
Mariza Lira escreveu dez artigos para a Revista da Música Popular
cronológica aos anos 50, o que não aconteceu pela suspensão do periódico
no número 14.
brasileiro a partir do conceito e da trajetória social das três raças, que deu
178 Mariza Lira era colaboradora da Revista da Música Popular, mas não temos certeza se
esses artigos foram especialmente escritos para o periódico. Durante a década de 30, a
folclorista escrevia para jornais do Rio de Janeiro e os temas dos artigos eram os mesmos.
Não localizamos, em pesquisa realizada nesses jornais, artigos iguais aos da RMP. Mas
devido a ausência de qualquer tipo de referência na Revista não podemos ter precisão da
data e nem a localização original dos artigos.
179
Revista da Música Popular , n.º 11 pág. 6
102
180
música foi apreciada pelos europeus.”. Concentrando a análise na mesma
e o “negro-africano escravizado”
portuguesa, mas foi inspirada “na beleza deslumbrante do cenário carioca” 182
Caldas Barbosa foi comparado por Mariza Lira com os sambas de Noel. A
[Domingos Caldas Barbosa] por certo foi o precursor, nas nossas canções
dos “leilões quando são postos à venda corações, violões (Noel Rosa) e
outras coisas mais.(...) Ele, pois deve, neste setor, ser considerado o ponto
183
de partida da nossa riqueza popular.
urbana brasileira. No século seguinte, Mariza Lira elegeu a casa de Tia Ciata,
180
Revista da Música Popular , n.º 3 pág. 20
181
Revista da Música Popular , n.º 3 pág. 22
182
Revista da Música Popular , n.º 4 pág. 10
103
samba gravado, Pelo Telefone, registrado por Donga. Segundo Mariza Lira,
identidade nacional.
183
Revista da Música Popular , n.º 4 pág. 12
184 Revista da Música Popular, N.º 10, pág.11
185
Revista da Música Popular , n.º 10, pág. 11
186
Revista da Música Popular n.º 10, pág. 8
104
autenticamente carioca”.
trajetória rural-urbano que Mariza Lira faz nos artigos para a Revista da
Música Popular.
187
Três artigos escritos para RMP foram selecionados para a publicação do livro Figuras e
Coisas da Música Popular Brasileira Rio de Janeiro: FUNARTE, 1978. Págs.18, 21 e 23.
105
uma nova seção fixa denominada “O samba na Literatura”, Jota Efegê narra
a trajetória um tanto trágica dos sambistas, que sofrem por amor, brigam com
188
Revista da Música Popular n.º 10 pág. 4
106
“show” folclórico.
folclore é latente no artigo que ainda registra uma outra definição para
autenticidade e simplicidade
observações:
189
Grupo que era oriundo do antigo Teatro Folclórico Brasileiro
107
do folclore:
intelectuais talvez não fosse o caso, uma vez que nenhum deles estaria
militantes.192
serem intelectuais de seu tempo, frutos de uma geração que pretendia criar
uma memória musical para o país dando continuidade a uma época dita
190
Revista da Música Popular, n.º 12, p. 2
191
Todos os congressos de folclore na década de 50 acabaram representando um perigo
para os folcloristas mais puristas, pois havia a proposta de um sincretismo que poderia
desvirtuar a pureza da cultura brasileira.
192
, Angela Castro Gomes. História e historiadores. RJ: Fundação Getúlio Vargas, 1999
109
crítica que se fazia à indústria cultural da época. O editor pede que sejam
dos sambas antigos “que ainda detém a preferência absoluta dos ouvintes”
desnacionalização que a música brasileira vinha sofrendo nos anos 50, com
pela publicação.
193
Idem. Pág. 40
110
periódico.
Começo por dizer que não sou espectador da História do Samba. Sou um
pouquinho mais, sou protagonista. Muita coisa que ouço e leio sobre o mundo
da música popular não passa de palpite, de alguém que deseja saber, mas
194
não investiga as fontes vivas dessa sabedoria.
resposta: Noel foi grande, mesmo sem parceiros. Neste artigo, Almirante
194
Revista da Música Popular n.º 11, pág. 5
195
Revista da Música Popular n.º 11, pág. 5
111
196
Sérgio Cabral. No tempo de Almirante, pág. 301. Observação: Cabral não nos fornece
nem a data nem a fonte dessa citação de Almirante; mesmo assim a utilizei como referência
pelo seu importante contexto .
197
Revista da Música Popular n.º 4, pág. 2
112
da brasilidade.
popular carioca. Como outros folcloristas, Efegê quer deixar claro o caráter
Quando se escrever uma história certa, precisa ser bem analisada, de música
ligeira carioca nas suas diversas modalidades, denominadas, genericamente,
samba e marcha, mas que dentro do ritmo ou andamento podem ser
classificadas: samba canção, samba corrido, chula, batucada, etc., há de
aparecer ao lado de Sinhô, Pixinguinha, Donga – o nome de Noel Rosa.
198
Revista da Música Popular, N.º 1, Pág. 11
199
Revista da Música Popular n.º 3, pág. 14
113
“escola negra”, composto pelos nomes citados acima. Para a RMP, havia
Noel era compositor porque era capaz de decompor e dizer a razão dos
elementos que punha em suas composições. Não era um desses “com jeito
para a coisa”, que às vezes são felizes em suas produções (...) Noel Rosa
deve ser lembrado como compositor, compositor da verdadeira acepção do
vocábulo.
Carmem Miranda também foi uma das figuras mais referendadas pela
1955200. A edição especial não foi original pelo fato da morte da artista ter
sido tão repentina. Na verdade houve então uma compilação das publicações
200
Toda a edição em homenagem à Carmem Miranda foi organizada de modo peculiar: um
número grande de fotos (maior que das outras edições) e, principalmente, artigos que
centralizavam a presença do samba na vida da cantora.
201
Radiolândia N.º 76, ,pág. 28
114
quando viajou.
americana.
202
Revista da Música Popular n.º 8, pág. 17
203
Revista da Música Popular n.º 8, pág. 46
115
CAPÍTULO 4
“FOLCLORISTAS DA CIDADE”
MÚSICA POPULAR
“Afro-brasileiros, com a graça de Deus – pois foi essa prodigiosa fecundação racial, a grande
dádiva dos céus à música brasileira.”
204
Uma das expressões utilizadas no livro e que vão ser citadas a seguir: Era de Ouro
116
205
Nestor Garcia Canclini, Culturas híbridas, pág. 209
206
Nestor Garcia Canclini, Culturas Híbridas. Pág. 210
207
Angela de Castro Gomes, História e Historiadores pág.145
117
que deu origem a RMP também gerou outras publicações com o mesmo
objetivo de preservação.
Popular
seus artigos se não tivesse, o que ele chamava de provas documentais. Ele,
208
Enor Paiano op. cit. Pág. 210
118
popular brasileira.
Almirante, por ser uma das figuras mais populares dos anos 50, tinha
209
Revista da Música Popular n.º 14 pág. 11
210
Ordem dos Músicos do Brasil / Companhia de Defesa do Folclore Brasileiro.
119
atarefados do nosso Rádio, mas vai enviar a sua colaboração, conforme nos
o samba como uma manifestação tipicamente urbana, mas com origem rural
211
O artigo que Cabral comenta, Vassouras Históricas, destacava o apoio de Almirante à
Jânio Quadros” e historiava a presença da vassoura, enquanto objeto de limpeza, na música
brasileira. Durante a passagem pela Prefeitura paulista, a musa popular [vassoura] sintetizou,
num estribilho de marcha carnavalesca, o regime de higiene administrativa posto em
evidência: Vassoura pra cá, vassoura pra lá, Agora a coisa é outra, todos tem que trabalhar.
212
CABRAL, Sérgio. No tempo de Almirante. Uma história do Rádio e da MPB. Rio de
Janeiro: Francisco Alves, 1990. Pág. 286
120
213
ALMIRANTE. No tempo de Noel Rosa. São Paulo: Francisco Alves, 1963.
121
grandioso, que ele localizava nos anos 30, e que chamou de época de ouro.
(fase primitiva (1889 -1927) - fase de ouro (1927 - 1946) - fase moderna
bolero, segundo o autor, contribuíram para que o samba, nos anos 50, fosse
chamado de antiquado.
grande vilã da história. Da mesma maneira, para Ary, os dois culpados pela
214
Ary Vasconcelos. Panorama da Música Popular, pág. 18
123
mais por amor do que por dinheiro e quase nada rendia além do prazer de
30.
que já poderia ter se iniciado nos anos 30 é deslocada para a fase seguinte,
aparece apenas na fase moderna, onde surgiria uma nova casta musical que
desalojaria a antiga, pois então a grande força não viria mais da arte
música brasileira.
samba.
É intransigente com o que considera samba ruim. (...) Acha que samba como
os de Ismael, Cartola, Noel e Orestes Barbosa nunca forma superados com
graça, beleza e autenticidade. O que há com o samba hoje? Lúcio responde
que o samba antigamente era feito por sambistas e, hoje, por engenheiros,
216
aviadores, militares, advogados (...).
215
Carlos Sandroni. Op. Cit. pág. 148
216
Revista Manchete, 19 de dezembro de 1953, pág. 63
125
gêneros que tiveram no morro, sua época mais pura. Em sua visão, o samba,
o samba nasceu da mistura de vários ritmos, mas foi nos morros cariocas
entre os dois tipos de samba. Para ele, não se poderia afirmar a existência
217
Carlos Sandroni. Op. Cit. Pág. 141
126
profunda) dos estudos de Orestes Barbosa, Mariza Lira e Vasco Mariz, até
Mesmo com a crítica que faz aos folcloristas, Rangel mantém uma
postura muito próxima a esses intelectuais, tanto que convida Brasílio Itiberê
(...) ela foi ferida de morte na sua parte orgânica mais preciosa, atingida na
cerne, na medula - isto é - no ritmo. Desaparece o ímpeto dinamogênico do
sincopado e, privada de sua vivacidade rítmica, a melodia popular se
amolentou, tornou-se invertebrada, perdendo caracteres raciais específicos
(...) Há, entretanto, um fato que me consola: é pensar que o folclore é coisa
eterna e imperecível. A prova está na vitalidade criadora de alguns
218
remanescentes da velha guarda, a exemplo desse bravo Pixinguinha (...)”
frente a cena musical do período permanece tão forte quanto nos anos em
218
Lúcio Rangel. Sambistas e chorões. Pág. 8
127
afirmação pode ser facilmente confirmada pelo fato de Itiberê ter escrito o
Rangel.
Não conheço o livro, mas fico imaginando que será uma valiosa contribuição
para o estudo da nossa música popular e um bom “comando” e serviço de
profilaxia no arraial dos samboleros.(...) Mas não é só isso. O instinto seguro,
o bom gosto e sua autenticidade folclórica têm de lambuja as credenciais de
músico e instrumentista (...). Tudo leva a crer que ele é o homem indicado
para esse trabalho complexo, que ainda está por fazer: A História da música
219
popular carioca.
Como outros folcloristas, não sei porquê, Mário também preferiu o estudo de
certas manifestações musicais observadas em pequenos núcleos da
população ao grande samba, cantado e dançado por milhões de brasileiros,
embora influenciado pelas modas internacionais, como não poderia deixar de
220
ser.
Mas a crítica que intenciona criar uma legitimidade para o livro, torna-
se infundada, uma vez que Mário não estava preocupado com a música
urbana, ainda em formação no Brasil dos anos 20. Mesmo assim, Rangel
219
Lúcio Rangel. Sambistas e chorões. Pág. 10
220
Idem, pág. 23
128
221
Durante os anos 30, duas obras marcaram o debate em torno do samba pelas próximas
décadas e os princípios básicos para idéia de raiz: Na Roda de Samba, de Francisco
Guimarães e Samba, de Orestes Barbosa. No primeiro, Guimarães localiza o morro como
território mítico, lugar da roda, do verdadeiro samba. Também Guimarães inicia o debate que
a RMP assumiu: a crítica à indústria fonográfica, que estaria matando o samba autêntico
(essa crítica já se inicia nos anos 30). O livro de Orestes Barbosa também afirmava que o
samba era carioca, fruto de vários encontros em diferentes espaços da cidade. Diferente de
Guimarães, Barbosa acreditava que o rádio impulsionaria e propagaria o novo gênero
nacionalmente.
129
222
Janeiro. deu origem a vários ensaios, que, em comum, localizaram nos
222
Podemos citar aqui Samba, o dono do corpo, de Muniz Sodré; Tia Ciata e a Pequena
África no Rio de Janeiro, de. Roberto Moura , entre outros
223
Alguns autores não seguem a linha da pureza do samba entre classes, mas procuram
analisar os novos padrões e identidades que o gênero tomou quando configurado como
música popular e representante da autêntica cultura nacional.
Jorge Caldeira critica a idéia da pureza social do samba com base na canção urbana
brasileira e a relação que esse gênero musical obteve com o crescente mercado fonográfico
na década de 1920. O autor analisa a trajetória da consagração do samba, para o qual
concorreram novos hábitos de composição, produção, circulação e escuta musical. Para o
autor, é na trajetória roda - disco que deve-se pensar a questão da origem de canção urbana
brasileira, baseada no samba como gênero matriz. Esta posição afasta Caldeira das
tendências que buscam enfatizar uma identidade constituída de uma vez por todas como
marca de uma origem, e que vai se perdendo na ida ao mercado.
A idéia da pureza é também contestada por José Miguel Wisnik. Para esse autor, durante as
festas de Carnaval aconteceu a transformação do samba e a música popular emergiu para o
mercado (indústria fonográfica e rádio). Em Getúlio da Paixão Cearense, Wisnik traçou um
painel de clivagens que a música brasileira sofreu até os anos 30. O autor tenta esboçar uma
reflexão sociológica e estética que saia da armadilha da busca das origens, evitando
trabalhar com espaços sociais polarizados, como morro, roda, terreiro como contrapartida de
cidade, rádio, concerto. A utilização de espaços intermediários, para o autor, constituíram as
experiências das vivências musicais.
Hermano Vianna analisa a apropriação do samba através de duas questões centrais:
invenção das tradições e fabricação das identidades. O autor analisa a autenticação do
samba na expressão social de raiz como um dos parâmetros fundamentais da mediação
cultural pela qual esse processo se construiu. Outro problema central investigado pelo autor a
partir dos encontros sócio-culturais e ideológicos, é a clivagem que a questão da mestiçagem
sofreu nos anos 20 e 30: “da raiz dos males do Brasil à definidora do caráter nacional”. Esse
é um mistério do qual o samba é locus fundamental, pois muda o parâmetro pelo qual se
pensa a nacionalidade. O autor rejeita as teses que localizam o samba como patrimônio
cultural negro, expropriado pelos brancos e transformado em artigo de consumo. Vianna
trabalha a idéia que mitos, como da autenticidade do samba de raiz e da resistência cultural
que ele teria desempenhado, são invenções históricas de forte caráter ideológico. Tem-se aí
a invenção da tradição que, ancorada em práticas sociais, possui um passado tão enraizado,
que muitas vezes essas práticas passam como um processo natural.
130
como tese principal do seu trabalho, ou melhor, de toda sua obra sobre
filmes, etc.
Muniz Sodré225 que acredita neste fato, mas não como roubo deliberado, ou
como corrupção cultural, mas como lógica de um processo produtivo que deu
negros, uma cultura não oficial e alternativa, que seria uma forma de
cultura baiana, sem ter recebido qualquer influência urbana. Sodré chama a
224
José Ramos Tinhorão. Pequena História da Música Popular. São Paulo, 1978.
225
Muniz.Sodré. Samba, o dono do corpo. 2ª ed. Rio de Janeiro: Mauad, 1998
132
CONSIDERAÇÕES FINAIS
samba dos anos 30, reverenciado pelo periódico como “época de ouro” da
musical dos anos 50, foi a base da proposta da Revista da Música Popular,
canção, catalisados pela bossa nova, a relação com a música dos anos 30 e
construído nos anos 50, ainda será influente, incorporado em parte pela
134
ANEXO
POPULAR
Edição mensal.
Colaboradores da revista:
Almirante
Ary Barroso
Cláudio Murilo
Clemente Neto
Emmanuel Vão Gogo
Evaldo Rui
Fernando Lobo
Flávio Porto
Haroldo Barbosa
Jorge Guinle
José Sanz
Manuel Bandeira
Mário Cabral
Mozart Araújo
Nestor de Holanda
Nestor R. Ortiz Oderigo
Paulo Mendes Campos
Sérgio Braga
Sérgio Porto
Sílvio Túlio Cardoso
136
Número 1
Setembro de 1954
Diretor Responsável: Lúcio Rangel
Diretor Gerente: Pérsio de Moraes
Capa: Pixinguinha
Número de páginas: 52
Seções e Artigos –
Editorial
O Enterro de Sinhô; por Manuel Bandeira
Discoteca Popular
Ary Barroso define para o leitor seus gostos e suas idéias – Paulo Mendes Campos
Noel Rosa; poeta e cronista; por Rubem Braga
Espírito de Limitação; por Cláudio Murilo
A pretexto de violão elétrico; por Emmanuel Vão Gogo
O Café do Compadre; por Evaldo Ruy
Aracy de Almeida responde 15 perguntas feitas por Lúcio Rangel
Música dentro da noite; por Fernando Lobo
A noite da Velha Guarda
Um tipo da Música Popular; por Pérsio de Moraes
Antologia da Música Brasileira
O Rádio em 30 dias; por Nestor de Holanda
Um disco; por Sérgio Porto
Estes são raros...
Discos do mês
JAZZ ( Direção de José Sanz)
Gato por Lebre
Um disco por mês
O jazz e a cultura dos negros; por Nestor R. Ortiz Oderigo
Discografia selecionada de jazz tradicional; por Jorge Guinle
Notas de jazz
137
Número 2
Novembro de 1954
Diretor Responsável: Lúcio Rangel
Diretor Gerente: Pérsio de Moraes
Capa: Aracy de Almeida
Número de páginas: 50
Seções e Artigos –
Editorial
Vassouras Históricas; por Almirante
Ping-Pong; Stalislaw Ponte Preta entrevista Manezinho de Araújo
Três figuras do samba; por Orestes Barbosa
Sete Notas Musicais
Sambistas; por Manuel Bandeira
O Rádio em 30 dias; por Nestor de Holanda
Vamos tocar bem alto; por Cláudio Murilo
Estes são raros...
A Indumentária Sagrada no Candomblé da Bahia; por Martin Gonçalves
Música Popular no clube da crítica
Um tipo da Música Popular; por Pérsio de Moraes
Aracy: 23 anos de Música Popular
Discos do mês
Música dentro da noite; por Fernando Lobo
Coluna do leitor
Noticiário
Evaldo Ruy – Nota de falecimento
JAZZ ( Direção de José Sanz)
Notas sobre jazz
O jazz de New Orleans; por Marcelo F. de Miranda
Um disco por mês
Rock; church; rock; por Arno Bontemps
Discografia selecionada de jazz tradicional
Como a imprensa se referiu ao aparecimento da revista de Música Popular
Continental (lançamentos de discos)
138
Número 3
Dezembro de 1954
Diretor Responsável: Lúcio Rangel
Diretor Gerente: Pérsio de Moraes
Capa: Carmem Miranda
Número de páginas: 50
Seções e Artigos –
Editorial
Ernesto Nazaré; Conferência de Mário de Andrade de 1926
Nonô; oração de corpo presente; por Ary Barroso
Três bahianos na vida de Carmem Miranda; por Armando Pacheco
Escreve o leitor
Batalha no Largo do Machado; por Rubem Braga.
Discos do mês
Noel Rosa; o cantor mais expressivo da música popular carioca; por Jota Efegê
Discografia completa de Francisco Alves; organizada por Sílvio Túlio Cardoso.
Estes são raros...
O alvorecer da música do povo carioca; por Mariza Lira
Antologia da Música Brasileira
Música dentro da noite; por Fernando Lobo
Um tipo da música popular
O rádio em 30 dias
Esse Rio moleque é um show
JAZZ ( Direção de José Sanz)
Temas do folklore afroamericano
O trem
Lead Belly (arquivo humano do cancioneiro afroamericano; por Nestor R. Ortiz
Oderigo.
O jazz de New Orleans; por Marcelo F. de Miranda
Um disco por mês
Os fatores essenciais da música de jazz; por Jorge Guinle
Como a imprensa se referiu ao aparecimento da Revista de Música Popular
Continental (lançamentos de discos)
139
Número 4
Janeiro de 1955
Diretor Responsável: Lúcio Rangel
Diretor Gerente Pérsio de Moraes
Capa: Dorival Caymmi
Número de páginas: 50
Seções e Artigos –
Editorial
Dorival Caymmi fala sobre pintura, literatura e música; entrevista de Paulo Mendes
Campos.
Sete Notas Musicais; por Emmanuel Vão Gogo (Seção de folclore)
Sobrevivência portuguesa; por Luís Cosme
Quando Chico Alves era turista; por Haroldo Barbosa
História Social da Música Popular Carioca; por Marisa Lira
Os novos trovadores
Estes são raros...
Um tipo da Música Popular
Discos do mês
Recordando Minona Carneiro; por Jarbas Mello
Música dentro da noite; por Fernando Lobo
Onde mora o samba. A escola de samba da Portela; por Cláudio Murilo
Sobre a R. M. P. (Revista da Música Popular Brasileira); por Fauck Savi
Discografia completa de Francisco Alves; organizada por Sílvio Túlio Cardoso.
Vicente Celestino, cantor e canastrão; por José Guilherme Mendes
Estou muito satisfeito; madame; crônica de Bororó
O rádio em 30 dias
JAZZ ( Direção de José Sanz)
Dictionnaire du jazz
Retrato de Fats walker; por Santa Rosa
King Oliver e a “creole jazz band”; por Frederic Ramsey Jr.
Notas de jazz
Zutty escolhe
Escreve o leitor
Discos da Continental
140
Número 5
Fevereiro de 1955
Diretor Responsável: Lúcio Rangel
Diretor Gerente Pérsio de Moraes
Capa: Elizeth Cardoso
Número de páginas: 50
Seções e Artigos –
Editorial
Variações sobre o baião; por Guerra Peixe
Mestre Ismael Silva; por Vinícius de Morais
História Social da Música Popular Carioca; por Marisa Lira
Ritmos carnavalescos
Um pouco de recordação; por Jarbas Mello
Gafieiras; de Armando Pacheco
Philliipe-Gerard: o brasileiro mais cantado em Paris; por Nice Figueiredo
Discos do mês; por Lúcio Rangel
Música dentro da noite; por Fernando Lobo
Um tipo da Música Popular;- Conversa de Botequim -; por Pérsio de Moraes
O condutor de bonde; por Jota Efegê
Este é raro...
Discografia completa de Francisco Alves; organizada por Sílvio Túlio Cardoso.
O Rádio em 30 dias; por Nestor de Holanda
Noticiário
JAZZ ( Direção de José Sanz)
Apoio a um projeto
O muito vivo Mr. Pitman
Os 50 músicos que influenciaram o jazz
King Oliver e a “creole jazz band”; por Frederic Ramsey Jr.
Um disco por mês
Respondendo ao leitor
141
Número 6
Abril de 1955
Diretor Responsável: Lúcio Rangel
Diretor Gerente Pérsio de Moraes
Capa: Inezita Barroso
Número de páginas: 50
Seções e Artigos –
Editorial
Origem do fado; por Mário de Andrade
O adeus da Juriti; por Viriato Corrêa
Do folklore afrobahiano: a capoeira; por Nestor R. Ortiz Oderigo
Estes são raros...
Penaforte, um valsista célebre; e Onestaldo de Pennafort
Curandeiros, feiticeiros, bruxos e médicos; por Luísa Barreto Leite
João de Barro; por Sérgio Porto
Música dentro da noite; por Fernando Lobo
Catulo; letrista; por Jarbas Mello
O rádio em 30 dias
Um tipo da Música Popular- Seu Oscar - ; por Pérsio de Moraes
Discos do mês
História Social da Música Popular Carioca; por Marisa Lira
A influência do étnico em nossa música popular
Uma figura - Dorival Caymmi; por Rubem Braga
Noticiário
JAZZ ( Direção de José Sanz)
Um italiano e o jazz
King Oliver e a “creole jazz band”; por Frederic Ramsey Jr.
Um disco por mês
Dicionário de marcas de discos
Respondendo ao leitor
142
Número 7
Junho de 1955
Diretor Responsável: Lúcio Rangel
Diretor Gerente Pérsio de Moraes
Capa: Velha Guarda
Número de páginas: 50
Editorial
A propósito de um samba popular; por Clemente Neto
Música (demasiado popular); Emmanuel Vão Gogo
Folcmúsica e música popular brasileira; por Cruz Cordeiro
Este é raro...
São João no populário brasileiro; por Jarbas Mello
Inezita Barroso, por Thalma de Oliveira
Discos do mês
Os independentes da Gávea, por Vinícius de Morais
Histórias musicais (Música dentro da noite); por Norberto Lobo
O Festival da Velha Guarda, por Assis Brandão
Um tipo da música popular: O sambista inédito
Discografia mensal da indústria brasileira, por Cruz Cordeiro
História Social da Música Popular Carioca - a influência ameríndia; por Marisa Lira
Noticiário
Discografia completa de Mário Reis
Folk música e música popular
JAZZ ( Direção de José Sanz)
Jazz & champanhote ou o colibri e a flor
King Oliver e a “creole jazz band”; por Frederic Ramsey Jr.
Respondendo ao leitor
143
Número 8
Julho / Agosto de 1955
Diretor Responsável: Lúcio Rangel
Diretor Gerente: Pérsio de Moraes
Capa: Extra: A morte de Carmem Miranda
Número de páginas: 50
Número 9
Setembro de 1955
Diretor Responsável: Lúcio Rangel
Diretor Gerente: Pérsio de Moraes
Capa: Sílvio Caldas
Número de páginas: 50
Seções e Artigos –
Editorial
Modinha, por Luís Cosme
Porto Alegre, zero grau: Lupiscínio Rodrigues; por Irineu Garcia
Decadência; por Ary Barroso
Música dentro da noite - Paris, meu pecado - ; por Fernando Lobo
História Social da Música Popular Carioca: - A contribuição do negro - ritmo; por
Marisa Lira
Estes são raros...
Festas da Penha: prelúdio de Carnaval; por Jota Efegê
Disco do mês
Discografia completa de Francisco Alves, por Enecê
Musicoterapia; por Lourdes Caldas
Marcelo Tupinambá; por Duprat Fiúza
Um tipo da Música Popular - Onde está a honestidade?; por Pérsio de Moraes
Discografia mensal da indústria brasileira, por Cruz
Cordeiro
JAZZ ( Direção de José Sanz)
Hear me talkin’ to ya
Olga James
King Oliver e a “creole jazz band”; por Frederic Ramsey Jr.
Dicionário de marcas de discos
Respondendo ao leitor
145
Número 10
Outubro de 1955
Diretor Responsável: Lúcio Rangel
Diretor Gerente: Pérsio de Moraes
Capa: Jacob Bittencourt
Número de páginas: 50
Seções e Artigos –
Editorial
Ovale, o seresteiro; por Mário Cabral
O samba na literatura: Risoleta, trêfega e vaporosa, por Jota Efegê
Estes são raros...
História Social da Música Popular Carioca - A música das senzalas; por Marisa Lira
Música dentro da noite; por Fernando Lobo
Teatro Folclórico Brasileiro; por Cruz Cordeiro
Noticiário
Discografia completa de Jacob Bittencourt; por Sérgio Porto
A ascensão de Gershin, por Sérgio Barcellos
Ai, saudade matadeira; por Jarbas Melo
Um tipo da Música Popular - Maria Maluca; por Pérsio de Moraes
Discos do mês
Discografia mensal da indústria brasileira; por Cruz Cordeiro
JAZZ (Direção de Marcelo F. de Miranda)
O problema do jazz
New Orleans memories de Jelly Roll Morton
Jazz no Copa, não, no Municipal
Respondendo ao leitor
146
Número 11
Novembro/ Dezembro de 1955
Diretor Responsável: Lúcio Rangel
Diretor Gerente: Pérsio de Moraes
Capa: Leny Eversong
Número de páginas: 50
Seções e Artigos –
Editorial
Erotilde de Campos: traços da vida do autor de Ave Maria; por Duprat Fiúza
Noel Rosa, letrista; por Jarbas Melo
Choro; por Rubem Braga
Problemas dum show folclórico; por Cruz Cordeiro
Bolero; conto de Homero Homem
Estes são raros
Um tipo da Música Popular - Palhaço de Natal; por Pérsio de Moraes
Música dentro da noite, por Fernando Lobo
Pixinguinha; por Paulo Pereira
Discografia mensal da indústria brasileira; por Cruz Cordeiro
Discografia completa de Jacob Bittencourt; por Sérgio Porto
Dicionário de marcas de discos, por Sylvio Túlio Cardoso
JAZZ (Direção de Marcelo F. de Miranda)
Os blues
Um disco por mês
New Orleans de hoje, por Eugene Willians
Respondendo ao leitor
147
Número 12
Abril de 1956
Diretor Responsável: Lúcio Rangel
Diretor Gerente: Pérsio de Moraes
Capa: Dircinha Batista
Número de páginas: 50
Seções e Artigos –
Editorial
Orfeu da Conceição, por Brasílio Itiberê
Notas e fragmentos de velhas canções portuguesas; por Celso Cunha
Literatura de violão; por Manuel Bandeira
História Social da Música Popular Carioca - A modinha; por Marisa Lira
Música dentro da noite - Carnaval sem crítica; por Fernando Lobo
Noel, poeta de outro mundo; por Jacy Pacheco
Discografia mensal da indústria brasileira; por Cruz Cordeiro
Pastoris Pernambucanos; por Jarbas Melo
Um tipo da Música Popular - O folião; por Pérsio de Moraes
Onde nasce o samba: Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira; por Cláudio
Murilo
Música concreta, revolução musical; por Sílvio Autuori - Pierre Gujon
JAZZ (Direção de Marcelo F. de Miranda)
Os blues
Um disco por mês
New Orleans de hoje, por Eugene Willians
Respondendo ao leitor
148
Número 13
Junho de 1956
Diretor Responsável: Lúcio Rangel
Diretor Gerente: Pérsio de Moraes
Capa: Marília Batista
Número de páginas: 50
Seções e Artigos –
Editorial
Este é raro
A mais recente elegia do pintor Emiliano à terra carioca
Noel Rosa foi grande, mesmo sem parceiros; por Almirante
Um tipo da Música Popular - Kid Pepe de volta; por Pérsio de Moraes
Parabéns pra você. Carta a Lúcio Rangel por Brasílio Itiberê
Música dentro da noite; por Fernando Lobo
Discografia completa de Orlando Silva; por Enecê
Os rumos da música popular brasileira; por Haroldo Costa
Um tipo da Música Popular - O Correio; por Pérsio de Moraes
O caso de Luciano; por Nestor de Holanda
As canções bilíngües de música popular brasileira; por Jota Efegê
Prêmios literários para 1956
Discografia mensal da indústria brasileira; por Cruz Cordeiro
a propósito do melhor trombonista de 1955. História de um músico simples; por João
Farias
História Social da Música Popular Carioca - A modinha II; por Marisa Lira
JAZZ (Direção de Marcelo F. de Miranda)
Jazz, críticos e estilos
Um disco por mês
New Orleans de hoje, por Eugene Willians
Respondendo ao leitor
149
Número 14
Setembro de 1956
Diretor Responsável: Lúcio Rangel
Diretor Gerente: Pérsio de Moraes
Capa: Orlando Silva
Número de páginas: 50
Seções e Artigos –
Editorial
História Social da Música Popular Carioca - A polca; por Marisa Lira
Música dentro da noite - Nacional é a palavra; por Fernando Lobo
O circo; por Jarbas Melo
Catulo; o trovador do Brasil; por Edigar de Alencar
Almirante, a maior patente do rádio; por Mário Faccini
Um tipo da Música Popular - Pois é, Ataulfo; por Pérsio de Moraes
Os compositores nos roubaram Benedito
Discografia completa de Orlando Silva
A viagem da folclorista; por Nestor de Holanda
Suplemento de discos
JAZZ (Direção de Marcelo F. de Miranda)
Dizzy Gillespie no Rio
Jazz, críticos e estilos
New Orleans de hoje, por Eugene Willians
The Second line
Respondendo ao leitor
150
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- HISTORIOGRAFIA GERAL
FONTES