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Alceu Maynard Araújo

FOLCLORE NACIONAL

(3 volumes, Edições Melhoramentos, São Paulo, 1964)

FOLCLORE NACIONAL

– VOL. I –

FESTAS – BAILADOS – MITOS E LENDAS

(Edições Melhoramentos de São Paulo, 1964, 480 págs., ilustração de capa de Sérgio Gavriloff,
fotografias do Autor, desenhos de Oswaldo Storni, Osny Azevedo, do Autor e de outras fontes, capa
dura com sobrecapa)

Trata-se da Opera Magna de ALCEU MAYNARD ARAÚJO, obra monumental, como reconhece
o etnógrafo Herbert Baldus no prefácio, resultado de décadas de observação participante das manifestações
folclóricas brasileiras e de trabalhos de campo em todo o país e dos sólidos conhecimentos teóricos adquiridos
ao longo de mais de trinta anos de estudo, pesquisa, análise e ensino do folclore nacional.

Os três volumes de FOLCLORE NACIONAL, por sua extensão e profundidade, aliadas à linguagem
de impecável coloquial culto e ao estilo elegante e absorvente do AUTOR, ocupam um lugar singular na
Cultura Brasileira, ao lado de obras de mestres como Sílvio Romero, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de
Holanda, Caio Prado Júnior, Mário de Andrade, Artur Ramos, Amadeu Amaral, Édison Carneiro, Oneyda
Alvarenga, Aluísio de Almeida, Manuel Diegues Júnior, e, last but not least, Luís da Câmara Cascudo.

No prefácio, o AUTOR explica classificação e divisão dos fatos folclóricos adotada para fins didáticos
e a forma como a produção folclórica foi inserida em seu contexto social:

“Neste estudo do folclore brasileiro que estamos apresentando, os fatos folclóricos ficarão enfeixados
em dez (10) grupos que também não são estanques; tal divisão é apenas de ordem didática, ou melhor,
maneira mais prática para trabalharmos com o acervo de vivências e sobrevivências que nos foi dado recoltar
em nossas andanças e estudos da deuterose brasílica, nestes três últimos lustros. Estes são os grupos propostos:
I) Festas; II) Bailados; III) Mitos e Lendas; IV) Danças; V) Recreação; VI) Música; VII) Ritos; VIII)
Sabenças; IX) Linguagem e X) Artes Populares e técnicas tradicionais.

“A cada fato folclórico apresentado precederá um pequeno estudo histórico para localizá-lo na realidade
brasileira, e procurar-se-á situá-lo nas áreas culturais propostas (geografia do folclore), assinalando-se as
modificações que possa haver em uma região cultural e outra onde se apresente.”

Para a compreensão da magnitude desta obra, vale reproduzir o prefácio assinado pelo etnólogo
Herbert Baldus sob o título Duas Palavras:

“Começo este prefácio pedindo desculpas pelo fato de eu o escrever. Não tenho competência científica
no assunto aqui tratado. Mas se bastar a competência sentimental, tenho-a suficiente. O folclore muito me
comove. Lá estão os contos e as lendas que a gente ouviu quando pequeno e que nos lembram para sempre
a infância tão encantada pela distância dos anos e a terra onde nascemos. Lá está o belo que do folclore
penetrou em todas as artes: em poemas, composições de grandes músicos e pintores; até em esculturas de
catedrais. Lá está o religioso que senti, por exemplo, quando reverenciei São Gonçalo, dançando durante
uma noite inteira no casebre de velhos pretos num subúrbio da capital de São Paulo. Lá, por fim, está, para
quem pode senti-la, aquela força composta da saudade, da estética, dos estremecimentos por causas
sobrenaturais e de mil imponderáveis, força essa que age como fator integrante na formação da nacionalidade.

“Tudo isso, porém, nunca me teria encorajado a prefaciar uma obra monumental sobre folclore. Para
isso era preciso um ataque sentimental mais direto e este me veio, irresistivelmente, do próprio autor.

“Conheço Alceu Maynard Araújo há vinte anos. Com aquele jeito radiante de saúde física e espiritual
que o caracteriza até hoje, apareceu na Escola de Sociologia e Política de São Paulo para assistir às minhas
aulas. Queria saber tudo sobre o índio, pois vinha com uma nobre ambição: tornar-se o David Livingstone do
Brasil, o explorador de seus sertões e o salvador dos silvícolas. O corpo já estava preparado para as
façanhas, pois Alceu, pessoa conhecida nos meios esportivos, era campeão paulista de atletismo. Quanto à
alma, ele era cristão praticante. Faltava só afiar um pouco mais o intelecto. Alceu era bastante inteligente para
compreender que um missionário sem preparo etnológico se parece com um cirurgião que nunca ouviu falar
em anatomia e nunca tivera bisturi na mão. Com a falta de inibições dum mata-borrão novo chupava, agora,
tudo o que podia fazê-lo entender melhor o futuro catecúmeno. Mas não apenas absorvia o que podia ouvir
nas minhas preleções. Sendo extrovertido por excelência, Alceu tornou-se o aluno ideal também nos meus
seminários, pelo menos para o meu gosto, pois gosto de aluno que pergunta, duvida, discute e contagia os
companheiros com o seu entusiasmo. Fiquei tão contente com Alceu que o convidei para ser um dos meus
assistentes-de-campo na pesquisa que realizei, em 1946, entre os índios kaingang da região do Ivaí. Lamento
ainda hoje que ele, naquela época funcionário público municipal, não tivesse conseguido a devida licença
para me acompanhar. Mas para não deixar-me, completamente, sem uma colaboração sua, auxiliou-me,
mais tarde, com muito boa vontade e perfeita habilidade, fazendo os desenhos de cerâmica por mim coletada.

“Mais sorte do que eu para obter Alceu como assistente tiveram dois colegas meus da Escola de
Sociologia e Política de São Paulo, os sociólogos Emílio Willems e Donald Pierson. Foi assim que o nosso
amigo chegou a especializar-se em pesquisas de comunidades rurais, dedicando todo o seu amor ao caipira
e pensando cada vez menos no filho nu da mata virgem. Sei que num prefácio não se deve falar mal da obra
prefaciada. Mas como este é um prefácio sentimental de uma obra científica, portanto um prefácio fora de
regra, não posso deixar de me queixar amargamente que nesses três grossos volumes o índio quase não
aparece, deslizando a sua sombra apenas furtivamente nas danças do Caipó e Toré.

“Prefaciador tão contraproducente merece ser aniquilado, porém, pela voz de um cientista de verdade.
Eis o que mestre Florestan Fernandes que, em “Os Estudos Folclóricos em São Paulo”, trabalho inserto no
seu livro “A Etnologia e a Sociologia no Brasil”, escreve a respeito das “principais contribuições dos
folcloristas hodiernos”: “Pelo volume, qualidade ou continuidade das contribuições, salientam-se as figuras
de Oneyda Alvarenga, no campo do folclore musical, de Aluísio de Almeida, especialmente na literatura
popular e no do folclore infantil, e de Alceu Maynard Araújo, no do folclore caipira. Os três são
trabalhadores infatigáveis, que se distinguem tanto pela tenacidade com se devotam à formação de
coleções, quanto pela ambição de alcançar algum domínio geral sobre setores limitados do folclore
brasileiro. E, a rigor, a obra de qualquer um deles poderia ilustrar a convicção de Oneyda Alvarenga, de
que a exposição descritiva representa uma ‘condição do método folclórico’. (págs. 260-261)

“Modéstia à parte, nesta frase encontro o que Alceu quis dizer quando, ao escolher-me como
prefaciador, alegava a minha influência sobre sua maneira de trabalhar. De fato, como professor procurei
incutir nele a importância do empirismo e a desconfiança contra a especulação teórica. Esta orientação
científica combinou-se com sua grande capacidade de entabular relações humanas, sua bondade natural, sua
alegria, sua constante disposição de sacrificar qualquer conforto pessoal em prol de um ideal, seu fino senso
de observador, seu dinamismo perpétuo em colher dados escrevendo, desenhando, gravando, fotografando
e filmando, e, por fim, sua facilidade em elaborar e reproduzir esses dados. Resultado: ‘a exposição descritiva’
que lhe trouxe não somente o reconhecimento oficial por meio de prêmios e títulos, mas – o que vale mais –
fez seus numerosos artigos e monografias serem publicados por revistas de alto padrão científico e casas
editoras de renome.

“A presente obra é, novamente, um verdadeiro Alceu. Reflete, antes de mais nada, suas experiências
pessoais nas diversas partes do Brasil, especialmente do Estado de São Paulo, e entre várias espécies de
seus habitantes, de preferência entre os caipiras. Ensina a todos os que ainda querem sonhar numa época de
intolerante mecanização: na vastidão deste País há tesouros já quase ocultos que não se pode obter com
dinheiro, pois são tesouros da alma e pertencem a todos os que sabem ainda viver com os sentidos
ingenuamente abertos. Alceu Maynard Araújo é um grande descobridor dessa riqueza da Pátria.”

Índice

Duas Palavras (Prefácio de Herbert Baldus)

Áreas culturais e folclore brasileiro

Capítulo I – Festas - FESTAS DO DIVINO - FESTAS DO SOLSTÍCIO DE INVERNO - FESTAS


DO SOLSTÍCIO DE VERÃO - AS FESTAS DOS NEGROS - FESTAS EM OCASO

Capítulo II – Bailados – CONGADA –MARUJADA – MOÇAMBIQUE – CAIAPÓ –


QUILOMBO - LAMBE-SUJO - CABOCLINHOS

Capítulo III - Mitos e Lendas - DEFINIÇÃO DE MITOS E LENDAS – Mitos - MITOS


PRIMÁRIOS - MITOS SECUNDÁRIOS GERAIS - MITOS SECUNDÁRIOS REGIONAIS - Lendário
Paulista - LENDAS DO BEIRA-MAR - LENDAS PLANALTINAS OU DA SERRA ACIMA -
CRENDICES

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