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NECESSIDADE DE MODULAÇÃO
CR
DOS EFEITOS DO DECISUM E DE
EDIÇÃO DE LEI COMPLEMEN-
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TAR NACIONAL – QUESTÕES
M
CONEXAS
:27 GO
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SUMÁRIO
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CONSULTA ........................................................................................ p. 3
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PARECER ........................................................................................... p. 5
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tividade do ICMS ............................................................................... p. 30
CR
5.1. Introito ....................................................................................... p. 30
ES
5.2. Das restrições constitucionais ao princípio da não
M
cumulatividade no ICMS ........................................................... p. 39
:27 GO
5.3. O diminuto alcance do art. 155, § 2º, XII, c, da CF .................. p. 44
:14 EL
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6. Da possibilidade de transferência de créditos de ICMS,
2 - IC
entre estabelecimentos pertencentes a um único titular ..................... p. 52
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nacional ..................................................................................... p. 69
po
9. Conclusões ....................................................................................... p. 80
Roque Antonio Carrazza 3
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CONSULTA
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M ES
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O prestigioso INSTITUTO PARA
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DESENVOLVIMENETO DO VAREJO - IDV, por intermédio de suas ilustres
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advogadas, a Professora Titular BETINA TREIGER GRUPENMACHER, do
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conceituado Escritório TREIGER GRUPENMACHER ADVOGADOS
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“Portanto, indaga-se, diante das
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características do nosso sistema constitucional tributário, bem
assim do princípio da não cumulatividade do ICMS-operações
mercantis, se é possível, sem a edição de uma lei complementar
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nacional, a transferência dos créditos desse tributo, entre
M
estabelecimentos de um mesmo titular, situados em unidades
federadas diversas e, em caso negativo, se é necessária a
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modulação dos efeitos da decisão de mérito, prolatada na
supracitada ADC nº 49/RN”.
:14 EL
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Para nosso conhecimento e análise, o Consulente
fez chegar às nossas mãos cópias dos documentos necessários à exata
2 - IC
02 - M
compreensão do caso.
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sso
pre
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Roque Antonio Carrazza 5
PARECER
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M ES
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1. Plano de trabalho
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2 - IC
I- Antes de darmos início à apresentação e ao
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é o primeiro passo para bem as resolver. Mas, não basta isso: para tanto, é
mister, ainda, subsumir o conceito do fato ao conceito da norma jurídica.1
pre
Im
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que nos foi confiada, teceremos, num primeiro momento, algumas
CR
considerações sobre (i) o fenômeno jurídico da tributação, (ii) o perfil
constitucional do ICMS-operações mercantis e, (iii) o princípio da não
ES
cumulatividade desta exação.
M
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Em seguida, com apoio nas premissas que
tivermos assentado, trataremos de solucionar o problema que nos foi
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apresentado.
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apontou os fatos que podem ser alcançados pela ação estatal de exigir
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sso
tributos, como estabeleceu os limites e condições para que ela possa ser
validamente exercitada.2
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Em outras palavras, o Constituinte adotou a
CR
técnica de indicar, de modo exaustivo, as áreas dentro das quais as pessoas
ES
políticas estão autorizadas, em caráter privativo, a levar a efeito a
M
tributação. Forjou, portanto, um rígido esquema de delimitação e
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distribuição de competências tributárias.
:14 EL
II- Registramos que competência tributária é a
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aptidão jurídica para instituir in abstracto tributos, descrevendo,
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legislativamente, suas hipóteses de incidência, seus sujeitos ativos, seus
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procedimentos (competência formal).
CR
III- Pois bem. Para as pessoas políticas, a
ES
Constituição Federal é a Carta das Competências Tributárias: indica o que
M
podem, o que não podem e o que devem fazer, enquanto as exercitam. Mais
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especificamente, ela demarcou as competências tributárias da União, dos
Estados-membros, dos Municípios e do Distrito Federal, retirando, do
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legislador de cada uma destas pessoas políticas, qualquer possibilidade de
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livremente vir a definir o alcance e o conteúdo das normas jurídicas que se
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ocupam com os supramencionados elementos estruturais dos tributos.
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dentro do campo competencial tributário que lhes foi reservado pela Carta
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campo da inconstitucionalidade”.3
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tributárias, a Lei Suprema não se limitou a apontar as nomina iuris das
CR
várias figuras exacionais, mas, indo muito além, traçou a regra-matriz de
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incidência (a norma-padrão, o arquétipo) de cada uma delas. Noutros
M
falares, apontou, expressa ou implicitamente, a hipótese de incidência
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possível, o sujeito ativo possível, o sujeito passivo possível, a base de
cálculo possível e a alíquota possível das várias espécies e subespécies
:14 EL
tributárias, vinculando, assim, o legislador, seja da União, seja dos Estados-
21 HA
membros, seja dos Municípios, seja do Distrito Federal.
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possível das leis que criarão, in abstracto, as exações fiscais, com o que
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federados devem rigorosamente observar.
CR
Acrescentamos que nenhuma pessoa, física ou
ES
jurídica, pode ser tributada por fatos que estão fora da regra-matriz
constitucional do tributo, sob pena de imprimir-lhe feições confiscatórias,
M
:27 GO
com flagrante violação ao disposto no art. 150, IV, da Lei Maior4 e, em
última análise, ao próprio direito de propriedade.
:14 EL
Realmente, a ação de tributar lanha a propriedade
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privada, que se encontra protegida nos arts. 5º, XXII, e 170, II, da Lei
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Maior.5 Isto explica, pelo menos em parte, a razão pela qual ela disciplinou,
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confisco etc.), que faz o contraponto ao inegável dever que a ordem jurídica
CR
lhes impõe, de suportá-los.
ES
Expondo o assunto sob outro prisma, a pessoa
M
política, ao exercitar sua competência tributária, deve necessariamente
:27 GO
observar os padrões e os limites fixados na Carta Suprema, sob pena de
atropelar direitos fundamentais do contribuinte e, deste modo, incidir em
:14 EL
inconstitucionalidade.
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Em suma, o legislador tributário das várias
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percorrer.
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impositivas, garantiu-se o direito dos contribuintes de somente serem
CR
tributados pela pessoa política adequada e, ainda por cima, desde que esta
observe a regra-matriz exacional pertinente, prefinida no próprio Texto
ES
Magno.7 A própria lei complementar nacional, neste ponto, deve, apenas,
M
estabelecer standards, que, se e enquanto estiverem em sintonia com os
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ditames constitucionais, deverão ser levados em conta pelas pessoas
políticas.
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É o caso de consignarmos, ainda, dando fecho a
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este item, que as conveniências arrecadatórias jamais poderão sobrepor-se
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154, I, da CF).
Este rígido esquema de repartição de competências impositivas vale
em tempos de paz. No caso ou na iminência de guerra externa, a União,
po
mercê do que estatui o art. 154, II, da Lei Maior, ganha uma competência
impositiva extraordinária, que a autoriza a criar quaisquer impostos,
sso
pode ser obrigada a pagar o IPI (no caso à União Federal); somente
enquanto pratica uma operação mercantil, uma pessoa pode ser compelida
a pagar o ICMS-mercadorias (no caso, ao Estado-membro onde o negócio
jurídico se realizou); somente enquanto adquire imóvel, uma pessoa pode
ser jungida a recolher o ITBI (no caso, ao Município onde está
localizado o bem transacionado). Enfim, os exemplos poderiam ser
multiplicados, que são legião.
Roque Antonio Carrazza 13
e na forma e nos limites assinalados, ainda que a traços largos, pela Lei
Maior.
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Feitas essas colocações, podemos cuidar do perfil
CR
constitucional do ICMS-operações mercantis.
M ES
:27 GO
3. O perfil constitucional do ICMS-operações mercantis
:14 EL
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I- A Constituição Federal, em seu art. 155, II,
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8. Embora, sob certo aspecto, ainda se possa dizer que há mais dois
Im
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hipóteses de incidência e bases de cálculo diferentes.9 Estas ideias, diga-se
CR
de passagem, encontram-se bem travejadas no art. 4º, do CTN.10
ES
Muito bem, o binômio hipótese de incidên-
cia/base de cálculo confirma que o rótulo ICMS alberga, pelo menos, os
M
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três impostos diferentes há pouco mencionados. Todos eles, no entanto,
possuem um “denominador comum”, que permite venham estudados
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conjuntamente.11
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Feito este breve introito, importa-nos, agora,
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mercantis (ICMS-mercadorias).
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operações relativas à circulação de mercadorias... ainda que as operações
CR
se iniciem no exterior”.
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Damo-nos pressa em proclamar que mercadoria
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é o bem móvel sujeito à mercancia ou, se preferirmos, o objeto da atividade
:27 GO
mercantil, que obedece, por isso mesmo, ao regime jurídico comercial.
:14 EL
Pois bem. Este ICMS incide sobre a realização de
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operações relativas à circulação de mercadorias.
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circulação só pode ser jurídica (e, não, meramente física), fenômeno que
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por meio de ICMS. A ideia, abonada pela melhor doutrina (Souto Maior
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jurídicas que têm mercadorias por objeto. Os termos circulação e
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mercadorias qualificam as operações tributadas por via de ICMS. Não são
todas as operações jurídicas que podem ser tributadas, mas apenas as
ES
relativas à circulação de mercadorias. Em síntese, o ICMS só pode incidir
M
sobre operações que conduzem mercadorias, mediante sucessivos contratos
:27 GO
(mercantis), dos produtores originários aos consumidores finais.
:14 EL
III- Podem promover a realização de tais
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operações apenas o produtor, o industrial ou o comerciante. O particular
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(dona de casa, operário, aposentado etc.) que vende um objeto seu não
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15. Com essa frase não queremos significar que apenas as pessoas
dotadas de personalidade jurídica de comerciante, industrial ou
produtor, conforme as regras de direito privado, podem ser validamente
compelidas a ocupar a posição de sujeitos passivos do ICMS. Também pode
ser alcançado por este imposto quem lhes faz as vezes, como, v.g., o
comerciante de fato, o comerciante irregular, um agregado familiar que,
Roque Antonio Carrazza 17
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estabelecimentos (matriz e filiais), que apenas lhe fazem juridicamente as
CR
vezes, embora, por razões operacionais, tenham CNPJ’s próprios.
ES
Nessa linha, afirma Fábio Ulhôa Coelho que
M
“[c]onsiderar o estabelecimento empresarial uma pessoa jurídica é
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errado, segundo o disposto na legislação brasileira. Sujeito de direito é a
sociedade empresária, que, reunindo os bens necessários ou úteis ao
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desenvolvimento da empresa [atividade] organiza um complexo com
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características dinâmicas próprias. A ela, e não ao estabelecimento
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empresarial, imputam-se as obrigações e asseguram-se os direitos
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16
. Curso de Direito Comercial, vol. I, 6ª ed., São Paulo, Saraiva,
2002, p. 99 (esclarecemos nos colchetes e grifamos).
18
Roque Antonio Carrazza
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estabelecimentos que possui) é que é o sujeito passivo possível do ICMS,
CR
pois é ela que detém os direitos e obrigações relativos a este tributo.
ES
V- Em compêndio, para que um ato jurídico
M
configure uma operação mercantil, abrindo espaço à tributação por meio
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de ICMS, é mister que: a) seja regido pelo Direito Comercial; b) tenha sido
praticado num contexto de atividades empresariais (visando, portanto,
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resultados econômicos); c) tenha por finalidade – pelo menos em linha de
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princípio – o lucro; e, d) tenha por objeto uma mercadoria (bem móvel
2 - IC
corpóreo, destinado ao comércio).
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ensejador da transferência da titularidade de mercadorias.18
CR
Daí que se tributa, por meio de ICMS, a
ES
obrigação (a operação jurídica) de dar mercadorias. É, pois, modalidade
M
de imposto sobre atos jurídicos (na conhecida classificação de Amilcar de
:27 GO
Araújo Falcão).19
:14 EL
Esta ideia foi consagrada, pelo Supremo Tribunal
21 HA
Federal, no julgamento da ADC nº 49/RN, no qual se concluiu que:
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“2. O deslocamento de mercadorias entre
estabelecimentos do mesmo titular não configura fato gerador da
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Estas ideias vêm completadas por Paulo Dourado de Gusmão, para quem
o negócio jurídico “... é a declaração expressa de vontade destinada a
produzir efeitos jurídicos de natureza patrimonial, como os contratos”
pre
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de 1996”.20
CR
Posto isso, vejamos agora qual o significado e o
alcance do princípio da não cumulatividade do ICMS.
M ES
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4. O princípio da não cumulatividade do ICMS
:14 EL
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I- O ICMS deve necessariamente se sujeitar ao
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ter seu alcance nem diminuído nem, muito menos, anulado, seja por normas
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04/05/2021.
sso
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que for devido em cada operação relativa à circulação de
mercadorias ou prestação de serviços com o montante cobrado nas
CR
anteriores pelo mesmo ou por outro Estado ou pelo Distrito
Federal;
ES
“II – a isenção ou não incidência, salvo
M
determinação em contrário da legislação:
:27 GO
“a) não implicará crédito para compensação
com o montante devido nas operações ou prestações seguintes;
:14 EL
“b) acarretará anulação do crédito relativo
às operações anteriores”.22
21 HA
2 - IC
Adiantamos que estas disposições constitucio-
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mecanismo da compensação.
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absolutamente inconstitucionais”23.
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II- Acrescentamos que o princípio em tela tem
CR
por destinatários imediatos os Estados-membros e o Distrito Federal, que
são obrigados a aceitar que cada incidência do imposto determina,
ES
inexoravelmente, o surgimento de uma relação de crédito, em favor dos
M
contribuintes.
:27 GO
Realmente, a dicção constitucional “compen-
:14 EL
sando-se o que for devido (...)” confere, de modo direto, ao sujeito passivo
21 HA
do ICMS, o direito de abater, do montante de tributo a pagar, tudo o que
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foi ou poderia ter sido cobrado, a esse título, nas operações ou prestações
02 - M
anteriores.
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1.997, p. 25.
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Ora, tal garantia alui quando, sob pretextos vários
CR
(salvo os apontados no art. 155, § 2º, II, da mesma Lei Maior), é negado,
ES
aos contribuintes, o direito de realizar, in concreto, o abatimento de que
M
aqui se cogita. Daí Geraldo Ataliba enfatizar que este “direito de abater”
:27 GO
não pode ser limitado nem pelo Legislativo, nem pelo Executivo.25
:14 EL
Em resumo, a Constituição, ao mencionar o
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instituto da compensação, consagrou o entendimento de que a quantia a ser
desembolsada pelo contribuinte, a título de ICMS, é o resultado de uma
2 - IC
26. Esta ideia foi por nós buscada em Geraldo Ataliba e Cléber
Giardino; verbis: “O esquema constitucional, portanto - ao mencionar
‘abatimento’ - pode ser visto como um processo matemático de dedução
Im
Fazenda Pública poderão ou não seguir. Muito pelo contrário, ela veicula
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um comando, que dá ao contribuinte o direito subjetivo de ver observado,
CR
em cada caso concreto, o princípio da não cumulatividade do ICMS.
ES
IVa- O que estamos procurando explicitar é que,
M
se for negado – seja a que pretexto for – o direito de ver abatido, ao pagar
:27 GO
o imposto, o montante de ICMS devido nas operações ou prestações
anteriores, o contribuinte poderá, com base exclusivamente na Lei Maior,
:14 EL
fazer valer a não-cumulatividade.
21 HA
2 - IC
IVb- Em contranota, também as autoridades
02 - M
Carvalho; verbis:
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na Carta Magna.
CR
IVc- Insistimos que, no Brasil, nem leis, nem
ES
convênios, nem atos administrativos, nem, muito menos, artifícios
M
exegéticos podem livremente moldar o princípio da não-cumulatividade do
:27 GO
ICMS.28
:14 EL
Em suma, é nos efeitos jurídicos da compensação
21 HA
determinada pela Carta Magna, que se encontra a essência da não-
2 - IC
cumulatividade do ICMS.
02 - M
ICMS vedada pelo Texto Supremo, que fica inibida pela eficácia jurídica
1/1 1-
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alcançáveis por esta figura exacional.
CR
VI- Adiantamos que, para que o ICMS gere
ES
direito de crédito, não é preciso que tenha sido efetivamente cobrado nas
M
operações ou prestações anteriores. Basta que tenha sido devido, sendo
:27 GO
irrelevante, pois, sua extinção pelo respectivo contribuinte. E o mesmo é o
entendimento do saudoso Professor Alcides Jorge Costa.29
:14 EL
21 HA
VII- Salientamos, ainda, por vir de molde, que o
2 - IC
princípio da não cumulatividade do ICMS tem o escopo de evitar que a
02 - M
prestação de serviços.
po
UZ
Este, aliás, foi o motivo que levou o constituinte
CR
originário a conceber a técnica pela qual o contribuinte de iure (i) transfere
ES
ao adquirente da mercadoria ou ao fruidor do serviço de transporte
M
interestadual ou intermunicipal e de comunicação (o contribuinte de facto)
:27 GO
o ônus financeiro do imposto que adiantará ao Estado e, (ii) se credita do
montante do imposto que suportou em suas aquisições, e que lhe foi
:14 EL
transferido por seu fornecedor.30
21 HA
2 - IC
VIII- Do exposto fica claro que o constituinte
02 - M
30. Isso é feito por meio do “destaque” na nota fiscal de venda. Tal
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(contribuinte de facto).
CR
IX- Reiteramos que a não-cumulatividade
ES
permite que o contribuinte, ao praticar a operação mercantil (ou ao prestar,
M
a título oneroso, o serviço de transporte interestadual ou intermunicipal ou
:27 GO
de comunicação), utilize, para adimplir seu débito tributário, os créditos
fiscais advindos do ICMS que incidiu sobre suas aquisições de bens e
:14 EL
serviços. Com isso, o montante do tributo vem todo ele suportado
21 HA
financeiramente pelo consumidor final, como bem aduziu o Ministro
2 - IC
Ricardo Lewandowski, ao prolatar seu voto no RE nº 562.980/SC; verbis:
02 - M
que nos foi apresentado à dimensão mais simples,32 tudo está em se saber
se, diante da decisão em tela, expendida pelo Supremo Tribunal Federal, é
UZ
necessária a modulação de seus efeitos e a edição de uma lei complementar
CR
nacional, que discipline a transferência de créditos de ICMS, entre
estabelecimentos do mesmo titular, ainda que situados em unidades
ES
federadas diversas.
M
:27 GO
Para tanto, focaremos, em essência, os seguintes
pontos: a) o modo de se operacionalizar o princípio da não cumulatividade
:14 EL
do ICMS; b) a possibilidade de transferência de créditos de ICMS entre
21 HA
estabelecimentos pertencentes a um único titular; c) o magno princípio
2 - IC
federativo e o modo de afastar eventuais pendências entre as unidades
02 - M
na ADC 49.
1/1 1-
: 0 .01
anteriores.
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pre
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5. O modo jurídico de se operacionalizar a não cumulativi-
CR
dade do ICMS
M ES
:27 GO
5.1. Introito
:14 EL
21 HA
I- Como vimos, a não cumulatividade do ICMS
2 - IC
faz com que cada participante da cadeia produtiva, transfira, para a etapa
02 - M
mercado.
28
UZ
Portanto, o contribuinte de ICMS tem o direito de
CR
lançar, em sua escrita fiscal, o “crédito” decorrente das aquisições de
ES
mercadorias (ou serviços) tributadas (ou tributáveis), para, no momento
M
oportuno, utilizá-lo como “moeda de pagamento” da exação.
:27 GO
II- O pagamento do tributo é habitualmente feito,
:14 EL
conforme já anotamos, parte em créditos, parte em moeda. Nada impede,
21 HA
porém, que seja realizado somente em créditos (quando estes equivalem ou
2 - IC
excedem os débitos nascidos no período de apuração34) ou somente em
02 - M
UZ
imposto sobre o valor agregado (ou sobre o valor acrescido).36
CR
IIa- Deveras, na medida em que a base de cálculo
ES
(que mede o fato tributário) do ICMS é o valor da operação mercantil (ou
M
da prestação do serviço) realizada, resulta solarmente claro que o tributo
:27 GO
não incide sobre o valor acrescentado em relação à anterior (sob pena de
ser descumprida a primordial função dimensionadora da base de cálculo da
:14 EL
exação).
21 HA
2 - IC
IIb- Fosse o ICMS um tributo sobre o valor
02 - M
UZ
“Não se deve, portanto, caracterizar o ICMS
como um imposto incidente sobre o valor acrescido. A agregação
CR
de valor não é ‘elemento’ essencial à integração da hipótese de
incidência do ICMS. Não configura um 'elemento financeiro'
ES
essencial ao aperfeiçoamento do suporte fático da regra jurídica
de tributação. Do contrário, (...) numa venda de mercadoria abaixo
M
do preço de custo, o contribuinte não teria nem mesmo que debitar-
:27 GO
se sobre o valor da saída, porque faltar-lhe-ia 'o elemento
financeiro do fato gerador'”.37
:14 EL
21 HA
IIc- Não passa, em suma, de uma técnica de
tributação, peculiar ao ICMS (que, em absoluto não interfere em sua base
2 - IC
UZ
IId- Incontendivelmente, a base de cálculo do
CR
ICMS é o valor da operação mercantil (ou da prestação de serviço)
ES
realizada, pelo que a Fazenda Pública estadual tem o direito de arrecadar a
M
porcentagem deste valor (v.g., 18%), fixada na lei ordinária local.39
:27 GO
III- Repisando nossos argumentos, o princípio
:14 EL
da não-cumulatividade garante ao realizador da operação mercantil o
21 HA
direito de creditar-se de todo o montante de ICMS devido nas operações ou
2 - IC
prestações anteriores.
02 - M
omnes nos casos de isenção e não-incidência (cf. art. 155, § 2º, II, da CF).
1/1 1-
restritivamente,40 não podem ser ampliadas, quer pelas leis (lato sensu),
Em .898
UZ
“estornado”, na terminologia fazendária). Pelo contrário, o crédito não
CR
utilizado é totalmente aproveitável em outra operação (ou prestação),
tributável por meio de ICMS.42
M ES
Em verdade, na venda com prejuízo está-se
:27 GO
diante, como é fácil perceber, de uma mera situação de fato, que passa ao
largo da eventual existência de benefício fiscal, a ser equiparado à isenção,
:14 EL
para os fins do art. 155, § 2º, II, a e b, da Constituição Federal, que adiante
estudaremos.43 21 HA
2 - IC
02 - M
Federal (art. 155, § 2º, XII) – pode criar obstáculos ou de alguma maneira
1/1 1-
Texto Magno.
Em .898
tributo, que só pode advir de lei específica (cf. art. 150, § 6º, da
Constituição Federal), que altere este aspecto quantitativo da exação.
Pelo contrário, nela, a base mensurável do ICMS continua a ser a mesma,
qual seja, o valor, certo e determinado, da operação mercantil
realizada; apenas, este valor é economicamente inferior ao praticado
na operação precedente.
UZ
havendo créditos de operações ou prestações anteriores, o direito de
CR
abatimento é inafastável. Aceitar que leis (complementares ou ordinárias),
convênios ou a própria Fazenda Pública, por meio de regulamentos,
ES
portarias, comunicados, ordens de serviço etc., podem disciplinar o
M
desfrute deste direito, implica reconhecer – equivocadamente, é óbvio –
:27 GO
que o princípio da não-cumulatividade do ICMS pode navegar ao sabor das
conveniências de momento, reveladas por normas infraconstitucionais.
:14 EL
21 HA
VI- Sempre mais se patenteia, portanto, que o
2 - IC
princípio da não-cumulatividade do ICMS é uma criação constitucional e,
02 - M
UZ
Apenas podem fazê-lo a isenção e a não-incidência e, ainda assim, se a
CR
legislação não vier a dispor de modo contrário.
ES
VII- Registramos, ademais, que, para que surja o
M
direito à compensação de que aqui estamos a tratar, também não é preciso
:27 GO
que os créditos provenham (i) da mesma mercadoria que o contribuinte está
colocando in commercium, (ii) do mesmo bem que ele vai revender ou, (iii)
:14 EL
do mesmo serviço que está a prestar.46
21 HA
2 - IC
Essa, diga-se de passagem, é uma novidade da
02 - M
foi devido, a este título, por outros contribuintes que lhe prestaram serviços
1/1 1-
UZ
saídas, débitos).
CR
Em síntese, o princípio da não-cumulatividade
ES
do ICMS, tal como delineado na Carta Magna, impede qualquer restrição,
ainda que proveniente de lei complementar, lei ordinária, convênio
M
:27 GO
interestadual etc., ao direito à compensação ora em estudo (salvo, é claro,
em havendo isenção ou não-incidência).
:14 EL
21 HA
VIII- Oportuno enfatizar, também, que a
dedução em foco juridicamente se traduz numa facultas agendi do
2 - IC
UZ
CR
I- Diante do que até aqui expusemos, é fácil
ES
perceber que quaisquer restrições ao princípio da não-cumulatividade do
M
ICMS só podem advir do Estatuto Supremo.
:27 GO
Tais restrições, como já adiantamos, existem: são
:14 EL
as apontadas no inciso II, do § 2º, do art. 155, da Constituição Federal;
21 HA
verbis: “II- a isenção ou não-incidência, salvo determinação em contrário
2 - IC
da legislação: a) não implicará crédito para compensação com o montante
02 - M
clausus), não sendo dado nem ao legislador, nem ao agente fiscal, nem ao
r: 0
47. Foi o que fez a Lei Complementar nº 87/1996, em seu art. 21, §
2º, ao estatuir que “não se estornam créditos referentes a mercadorias
e serviços que venham a ser objeto de operações ou prestações destinadas
do exterior”.
40
Roque Antonio Carrazza
UZ
seguintes”, segue-se, a contrario sensu, que, em todas as demais hipóteses,
CR
haverá obrigatoriamente o direito de crédito.
ES
Inexiste qualquer possibilidade de outras restri-
ções ao exercício do direito de crédito. Eventuais esquecimentos, lapsos ou
M
:27 GO
omissões na escrituração, acúmulos de créditos que não permitam a com-
pensação a breve trecho, dúvidas acerca da viabilidade dos créditos, ultra-
:14 EL
passagem do período de apuração normal, preenchimentos incorretos de
21 HA
notas fiscais por parte dos fornecedores, diferimentos e outros fenômenos
2 - IC
do tipo, nada pode perturbar o direito constitucional do contribuinte de
02 - M
creditar-se.
0/2 52
UZ
“b”. Este entendimento estrito, que preserva o sentido próprio e
genérico da não-cumulatividade, exige, por outro lado, que quando
CR
a isenção ou a não-incidência ocorra no meio do ciclo, o crédito
só deixará de ser compensado, devendo ser anulado, apenas no que
ES
diz respeito às operações imediatamente posteriores e anteriores,
não valendo para as subsequentes, sob pena de se provocarem
M
extensos e perversos efeitos cumulativos. Fora destes casos, vale
:27 GO
plenamente o princípio da não cumulatividade”.48
:14 EL
Portanto, se a isenção ou a não-incidência
ocorrerem no meio do ciclo de circulação da mercadoria, o crédito de ICMS
21 HA
somente deixará de ser compensado, devendo ser anulado, nas operações
2 - IC
49. Observe-se que a Lei Complementar 87/96, em seu art. 20, § 6º,
UZ
Pretório Excelso.50
CR
Do contrário, bastaria haver, no meio do ciclo,
ES
uma operação isenta, para que o Estado arrecadasse mais ICMS, em
detrimento dos contribuintes e do próprio consumidor final (que, como se
M
:27 GO
viu,51 suporta a carga econômica do tributo).
:14 EL
IV- Lembramos, outrossim, que novas restrições
21 HA
à utilização de créditos, para fins de pagamento do ICMS, implicam
aumento, por via oblíqua – e, portanto, inconstitucional – do tributo.
2 - IC
02 - M
UZ
de convênios ou de atos normativos infralegais.
CR
IV- Permitimo-nos acrescentar que, quando, no
ES
dispositivo em exame, a Constituição alude a “não incidência”, ela está se
M
referindo a atividades que não tipificam operações mercantis (ou prestações
:27 GO
onerosas de serviços de transporte interestadual ou intermunicipal e de
comunicação), isto é, a fatos estranhos à materialidade do ICMS
:14 EL
(transferências de mercadorias entre estabelecimentos do contribuinte,
21 HA
prestações de serviços com emprego de matérias-primas, vendas de bens
2 - IC
UZ
não produza a chamada tributação em cascata, com toda a coorte de efeitos
CR
negativos na apuração dos preços a serem suportados pelos consumidores
finais.
M ES
:27 GO
5.3. Do diminuto alcance do art. 155, § 2º, XII, “c”, da CF
:14 EL
21 HA
I- Estabelece o art. 155, § 2º, XII, c, da
2 - IC
do abatimento correspondente.
po
Arzua; verbis:
pre
UZ
compensação de que aqui se cogita independe da edição de lei
CR
complementar, cujo alcance (evidentemente adjetivo) não pode interferir
nos aspectos substanciais do “direito de abater”. A única condição para
ES
que o princípio da não-cumulatividade irradie efeitos é a ocorrência dos
M
pressupostos constitucionais pertinentes.
:27 GO
Portanto, a lei complementar, na melhor das
:14 EL
hipóteses, disciplinará o procedimento de constituição, registro e utilização
do crédito do ICMS.
21 HA
2 - IC
02 - M
referidas no art. 155, § 2º, II, “a” e “b”, da CF, que, é certo, a legislação
Em .898
UZ
Com efeito, o legislador complementar não
CR
poderá impedir, ainda que em nome de eventuais interesses fazendários,
ES
que o sistema de abatimento, estruturado nos incisos I e II, do § 2º, do art.
155, da Carta Magna, funcione a preceito.
M
:27 GO
III- Logo, a lei complementar não pode
:14 EL
estabelecer novos limites ou requisitos para que os contribuintes usufruam
21 HA
do direito à compensação, que o princípio da não cumulatividade do ICMS
lhes dá. Muito ao invés, deve dispor de forma a assegurar-lhes o pleno
2 - IC
verbis:
Im
UZ
fundamenta, inspira e permeia as legislações federal, estadual e
municipal, não possuindo efetivo caráter inovatório, mas
CR
meramente regulatório, tornando claros, práticos e operacionais,
os comandos constitucionais”.55
ES
V- Em suma, a lei complementar a que alude o
M
:27 GO
art. 155, § 2º, XII, c, do Diploma Excelso, pode revestir o arcabouço do
princípio da não cumulatividade do ICMS, com detalhes que escaparam à
:14 EL
pena – não ao espírito – do legislador constituinte. Cingindo-se a isso,
21 HA
contribui para o melhor desfrute desse direito constitucional subjetivo do
2 - IC
contribuinte. Indo, porém, além dessa marca, há de ser afastada, em última
02 - M
cerceada por tão formidáveis peias, por muito maior razão falece
: 0 .01
UZ
constitucionais que tratam da não cumulatividade do ICMS há de ser
CR
sempre ampla e generosa, posto expressarem a vontade do legislador
constituinte – explicitamente manifestada – de imprimir a este tributo um
ES
caráter neutro, de modo a somente onerar, em termos econômicos, o
M
consumidor final. Noutros torneios verbais, as normas constitucionais que
:27 GO
tratam do assunto devem ser interpretadas e aplicadas teleologicamente e
da forma mais lata possível (interpretação extensiva), em sintonia, de resto,
:14 EL
com a regra in dubio pro contribuinte, para que não sejam esvaziados os
21 HA
escopos que levaram o constituinte originário a plasmá-las na Carta
2 - IC
Suprema.
02 - M
Estado.
28
Logo, os atos normativos a ela inferiores devem ser “lidos” – vale dizer,
sso
UZ
Joaquim Gomes Canotilho, sob três perspectivas; a saber:
CR
“(1) as normas do direito constitucional
ES
constituem uma lex superior que recolhe o fundamento de validade
em si própria (autoprimazia normativa); (2) as normas de direito
M
constitucional são normas de normas (norma normarum),
:27 GO
afirmando-se como fontes de produção jurídica de outras normas
(normas legais, normas regulamentares, normas estatutárias etc.);
(3) a superioridade normativa das normas constitucionais implica
:14 EL
o princípio da conformidade de todos os actos dos poderes
21 HA
políticos com a Constituição”.56
2 - IC
jurídico. Não sem razão Prosper Weil afirma que “algumas normas
Im
57. Cfr. Hans Kelsen (Teoria Pura do Direito, trad. de João Baptista
UZ
Como se vê, os princípios constitucionais, graças
CR
a seu acentuado grau de abstração, visam à obtenção de um fim e influem
ES
nos modos comportamentais e nas atribuições de competência para
alcançá-lo. Parafraseando Robert Alexy, encerram mandados de
M
:27 GO
otimização, que ordenam que algo seja realizado na maior medida
possível.
:14 EL
Conforme já escrevemos, princípio constitu-
21 HA
cional “é um enunciado lógico, implícito ou explícito, que, por sua grande
2 - IC
Direito.
UZ
VIIb- Assim é, porquanto, no dizer expressivo de
CR
Celso Antônio Bandeira de Mello, os princípios constitucionais atuam
como “vetores para soluções interpretativas”.59
ES
No mesmo sentido, aliás, se pronunciou Karl
M
:27 GO
Larenz; verbis:
:14 EL
princípios da Constituição, é possível segundo os demais critérios
de interpretação, há de preferir-se a qualquer outra em que a
21 HA
disposição viesse a ser inconstitucional. A disposição é, então,
nesta interpretação, válida. Disso decorre, então, que de entre
2 - IC
jurídico, por mais trivial que seja, o operador do Direito deve alçar-se ao
altiplano dos princípios constitucionais, a fim de verificar em que sentido
Em .898
apontam. Nenhuma interpretação poderá ser havida por jurídica se, direta
28
ICMS.
pre
Im
UZ
trate do assunto deve ser interpretada e aplicada do modo que melhor
CR
prestigie este princípio constitucional, vale dizer, que lhe dê plena eficácia.
ES
Para tanto, cuidaremos de demonstrar, em
seguida, que inexiste autonomia jurídica entre estabelecimentos de uma
M
:27 GO
mesma sociedade empresária, o que permite que eles transfiram, uns aos
outros, créditos de ICMS.
:14 EL
21 HA
6. Da possibilidade de transferência de créditos de ICMS entre
2 - IC
02 - M
complementar; verbis:
po
........................................................................................................
“§ 2º- Os estados poderão considerar como
contribuinte autônomo cada estabelecimento comercial, industrial
Roque Antonio Carrazza 53
UZ
A teor da literalidade destes dispositivos, pode,
CR
pois, ser considerado contribuinte autônomo do ICMS qualquer
estabelecimento comercial, industrial ou produtor, ainda que pertencente à
ES
uma mesma empresa. Adiantamos, porém, que não basta isso: para tanto, é
M
imperioso, ainda, que nele venha praticado um ato de comércio, isto é, seja
:27 GO
concluída pelo menos uma fase da operação jurídica de circulação de
mercadorias.
:14 EL
21 HA
II- O que estamos procurando significar é que a
2 - IC
autonomia dos estabelecimentos, para fins de incidência do ICMS, está
02 - M
87/1996 – esta de modo não tão evidente – adotaram tal critério. Deveras,
1/1 1-
UZ
contribuinte de ICMS cada estabelecimento da empresa, somente tem
CR
seguimento quando nele é praticado o fato imponível do tributo. Isso, aliás,
foi feito para assegurar a correta arrecadação tributária, na Unidade
ES
Federada.
M
:27 GO
:14 EL
61.
21 HA
A ficção jurídica é um artifício do legislador, que transforma
uma impossibilidade material, numa possibilidade de natureza jurídica.
Nesse sentido, faz nascer uma verdade jurídica, diferente da verdade
2 - IC
real.
Como ensina, com propriedade, Legaz y Lacambra, a ficção jurídica
02 - M
“existe sempre que a norma trata algo real como distinto, sendo igual;
como igual, sendo diferente; como inexistente, tendo sucedido; como
sucedido, sendo inexistente; mesmo com a consciência de que,
0/2 52
Vai daí que a ficção só pode ser empregada com base em lei específica
e, ainda assim, enquanto não ferir direitos subjetivos constitucionais.
Jamais, para atentar contra a liberdade, o patrimônio ou a honra das
pessoas, valores que nossa Carta Magna prestigiou ao extremo.
28
Acima de tudo, não pode passar por cima do dever que o Estado tem
de provar as imputações que faz contra os contribuintes, seja para
po
UZ
“É de se concluir que inexiste autonomia
CR
entre os estabelecimentos de um mesmo sujeito passivo. Não é
rigorosamente verdadeira a afirmação de que existe ou existiu
ES
‘princípio da autonomia’, tomando por base a Constituição
Federal. Há, diversamente, mera descentralização de
M
estabelecimentos quando um mesmo sujeito passivo possui filial”.62
:27 GO
IIc- Diante do exposto, tínhamos por
:14 EL
inconstitucional a aplicação irrestrita do disposto no art. 6º, § 2º, do
21 HA
Decreto-lei nº 406/1968, que consagrava o princípio da autonomia do
2 - IC
estabelecimento, equiparando, para fins de incidência de ICMS, a filial a
02 - M
um terceiro.
0/2 52
Federal), hoje essa posição está superada, em face da decisão prolatada pelo
pre
UZ
distintos, visto não haver a transferência de titularidade ou a realização
CR
de ato de mercancia” (Tema 1.099, da Repercussão Geral).
ES
Logo, remessas de bens entre estabelecimentos
de uma mesma pessoa jurídica, ainda que situados em Unidades Federadas
M
:27 GO
diversas, não tipificam operações mercantis, ou seja, não envolvem a
prática de atos de comércio e, destarte, não rendem ensejo à tributação por
:14 EL
meio de ICMS.
21 HA
III- José Nabantino Ramos é de idêntico pensar;
2 - IC
verbis:
02 - M
circulação”.63
po
UZ
CR
IIIa- Reiteramos que a mera movimentação de
bem móvel, da matriz para a filial (ou entre duas filiais) da mesma pessoa
ES
jurídica, não deve ser confundida com sua transferência para terceiros, que,
M
pelo menos para fins de tributação por meio de ICMS, é juridicamente
:27 GO
irrelevante.
:14 EL
Só ocorre o fato imponível do ICMS quando
21 HA
mercadorias (v.g., televisores) passam do patrimônio de uma sociedade
2 - IC
empresária para outra pessoa (física ou jurídica), por força de uma operação
02 - M
jurídica onerosa.
0/2 52
11/103.
58
Roque Antonio Carrazza
UZ
para estabelecimento localizado em outro Estado, pertencente ao mesmo
CR
titular”.
ES
Por sem dúvida, os dispositivos supra
desgarraram-se das regras-matrizes constitucionais do ICMS, como, diga-
M
:27 GO
se de passagem, restou decidido no julgamento da ADC nº 49/RN, de
relatoria do Min. Edson Fachin.65
:14 EL
Aliás, a cega observância destes comandos legais
21 HA
levava a inconstitucionalidades, porque “alargava” a base tributável do
2 - IC
transferências de bens, entre matriz e filial (ou entre filiais), são meros
deslocamentos físicos entre unidades da mesma pessoa jurídica. Neste
Em .898
CTN).66
po
UZ
CR
IVa- E nem se diga que, neste caso, foi feita uma
equiparação legal. Nada menos exato, porque, como adverte Celso
ES
Antônio Bandeira de Mello, “se o legislador ou o aplicador da regra
M
pudessem delinear, a seu talante, o campo de restrições a que estão
:27 GO
submetidos, através da redefinição das palavras constitucionais,
assumiriam, destarte, a função de constituintes”.67
:14 EL
21 HA
Somos os primeiros a concordar que o Direito
2 - IC
cria suas próprias realidades, muita vez com o emprego de ficções,
02 - M
mercadorias.
Em .898
UZ
quando, em voto histórico, proferido no RE 71.758, ponderou:
CR
“Se a lei pudesse chamar de compra o que
não é compra, de importação o que não é importação, de
ES
exportação o que não é exportação, de renda o que não é renda,
ruiria todo o sistema tributário inscrito na Constituição”.68
M
:27 GO
IVc- Logo, fato que não configure operação
mercantil, isto é, que não implique mudança, por meio oneroso, da
:14 EL
titularidade de mercadoria, não pode ensejar a tributação por meio de
21 HA
ICMS. Qualquer lei – complementar ou ordinária – que disponha de modo
2 - IC
conforme a Constituição.69
0/2 52
UZ
direito privado, para satisfação de pretensões fiscalistas. Enfim, o
CR
legislador não pode manipular a própria competência, da mesma forma
que o mandatário não pode dilargar o próprio mandato. Onde não houver
ES
operação jurídica, a lei não pode prever incidência de ICMS”.70
M
:27 GO
V- Observe-se, sempre a respeito, que, para fins
de tributação por meio de ICMS, mesmo quando há transferência de
:14 EL
mercadorias entre pessoas jurídicas distintas, é imprescindível que ela se
21 HA
dê num contexto de operação mercantil, e não, por exemplo, para
2 - IC
outro, por força de uma operação mercantil stricto sensu; não, de qualquer
: 0 .01
Em .898
28
r: 0
UZ
integralização de capital social.72
CR
Enfim, quando a mercadoria é transferida para
ES
estabelecimento do próprio remetente, este não pode ser considerado
“estabelecimento autônomo”, para fins de tributação por meio de ICMS.
M
:27 GO
Nada disso, no entanto, impede que
estabelecimentos de uma mesma unidade empresária transfiram, uns para
:14 EL
outros, créditos de ICMS, se por mais não fosse, em função da vis atractiva
21 HA
do princípio da não cumulatividade.
2 - IC
02 - M
UZ
Mas, quid iuris, nas transferências que vierem a
CR
ocorrer no futuro, ou seja, após o julgamento da ADC 49?
ES
A resposta à questão, ao nosso ver, somente pode
M
ser dada com base no magno princípio federativo, assunto que passa a fazer
:27 GO
nossos cuidados.
:14 EL
21 HA
7. O magno princípio federativo e o modo de afastar
2 - IC
lugar a um novo Estado (o Estado Federal), diverso dos que o integram (os
Estados Federados ou Estados-membros). O art. 1º, da Carta Suprema, já
sso
do Distrito Federal”73.
UZ
Brasileira) os Estados Federados, sem perderem suas personalidades
CR
jurídicas, despem-se de algumas prerrogativas, em benefício da União
Federal. A mais relevante delas é a soberania.74
ES
Realmente, em nosso País, a União e os Estados-
M
:27 GO
membros são autônomos, nos termos da Constituição Federal. Daí a famosa
frase, sempre repetida, de Antônio de Sampaio Dória: “Federação é a
:14 EL
autonomia recíproca entre a União e os Estados-membros, sob a égide da
Constituição Federal”75. 21 HA
2 - IC
UZ
CR
II- Tão marcante é o princípio federativo, que lei
alguma, nenhum poder, nenhuma autoridade, poderá, direta ou
ES
indiretamente, às claras ou de modo sub-reptício, derrogá-lo ou, de algum
M
modo, amesquinhá-lo. É cláusula pétrea, e, destarte, irremovível até por
:27 GO
emenda constitucional, como ressai da só leitura do art. 60, § 4º, I, da
Constituição Federal (“não será objeto de deliberação a proposta de
:14 EL
emenda constitucional tendente a abolir a forma federativa de Estado”).
21 HA
2 - IC
IIa- Pois bem, na Federação Brasileira há
02 - M
mesmo plano hierárquico: uns não preferem aos outros. Pela óptica do
1/1 1-
: 0 .01
eles não estão nos níveis hierárquicos que ocupam, mas nas competências
UZ
distintas que receberam da própria Constituição Federal.
CR
IIc- Equivoca-se, pois, quem supõe que,
ES
juridicamente, a União está acima dos Estados-membros; que os Estados-
M
membros sobrepairam os Municípios; que os Municípios se encontram
:27 GO
num patamar jurídico superior ao ocupado pelo Distrito Federal. Pelo
contrário, todas as pessoas políticas situam-se no mesmo patamar jurídico,
:14 EL
pelo quê – tornamos a insistir – inexiste hierarquia jurídica entre elas.77
21 HA
2 - IC
III- Do exposto, é fácil perceber que o princípio
02 - M
princípio federativo.
po
UZ
legislativa. Por meio de suas Assembleias Legislativas, que estão investidas
CR
do chamado “poder constituinte decorrente”, eles se outorgam as próprias
Constituições, que devem, porém, observar os princípios jurídicos
ES
sensíveis, vale dizer, as diretrizes maiores fixadas na Constituição
M
Federal.78
:27 GO
Também os Estados-membros editam suas
:14 EL
próprias leis, que precisam harmonizar-se com suas Constituições e com os
21 HA
referidos princípios sensíveis da Constituição do Estado Federal; não, com
2 - IC
as leis federais.
02 - M
79. Curso de Teoria General del Derecho, Depalma, Buenos Aires, 1995,
UZ
Constituição, as várias ordens jurídicas estaduais são isônomas.
CR
Na medida em que cada Estado-membro goza de
ES
ampla autonomia em relação aos demais, nenhum deles pode determinar
como os outros devem proceder, no aproveitamento dos créditos de ICMS,
M
:27 GO
quando ocorre uma transferência interestadual de mercadorias, entre
estabelecimentos de um mesmo titular.
:14 EL
21 HA
IV- Ora, é justamente em função do princípio
federativo, que assegura, a cada Estado-membro ampla autonomia em
2 - IC
relação aos demais, que nenhum deles pode determinar como os outros
02 - M
devem proceder.
0/2 52
UZ
CR
I- Conforme é de trivial sabença, cabe à lei
complementar nacional, a que alude o art. 146 do Texto Magno, veicular
ES
“normas gerais em matéria de legislação tributária”.
M
:27 GO
Em matéria de ICMS também compete à lei
complementar disciplinar o “regime de compensação do imposto”,
:14 EL
conforme dispõe a alínea “c”, do inciso XII, do § 2º, do art. 155, da
Constituição Federal. 21 HA
2 - IC
UZ
os créditos de ICMS, outros, fazem empenho de que ele deve dar-se no
CR
estabelecimento de destino.82
ES
Só vislumbramos um caminho para preservar o
harmonioso interrrelacionamento das Unidades Federadas: a edição de uma
M
:27 GO
lei complementar nacional, que dirimirá a controvérsia.
:14 EL
Estados-membros poderão suprir a lacuna, com apoio no art. 24, § 3º, da
Constituição Federal.
21 HA
2 - IC
02 - M
0/2 52
UZ
“Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao
CR
Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
“I – direito tributário, financeiro, peniten-
ES
ciário, econômico e urbanístico; (...)”83.
M
E os supramencionados parágrafos estatuem:
:27 GO
“Art. 24 (‘omissis’) (...)
:14 EL
“§ 1º. No âmbito da legislação concorrente,
a competência da União limi-tar-se-á a estabelecer normas gerais.
21 HA
“§ 2º. A competência da União para legislar
2 - IC
sobre normas gerais não exclui a competên-cia suplementar dos
Estados.
02 - M
83. Grifamos.
72
Roque Antonio Carrazza
UZ
legislação própria sobre normas particulares. Tais normas gerais
estaduais com função colmatadora por isso mesmo só podem ser
CR
gerais quanto ao conteúdo, mas não quanto aos destinatários: só
obrigam nos limites da autonomia estadual.
ES
“11. Diferente, a nosso ver, é a situação do
M
§ 2º, em que, inobstante a competência privativa da União e até
supondo-a exercida (não há, pois, inexistência ou lacuna de
:27 GO
normas gerais), garante aos Estados a chamada competência
suplementar. Esta competência, aliás, também é conferida aos
:14 EL
Municípios (art. 30, II), que, no entanto, não participam da compe-
tência concorrente. Que significa, então, o constituinte com esta
competência? 21 HA
2 - IC
“12. A competência suplementar não se
confunde com o exercício da competência plena para atender a
02 - M
UZ
gerais”, com o que estamos de pleno acordo.
CR
III- Ora, a competência concorrente conferida
ES
aos Estados-membros, pelo art. 24, da Carta Suprema, quando ausentes
M
“normas gerais” veiculadas por meio de lei complementar nacional, não
:27 GO
atribui àqueles entes federados, a competência para regular, por meio de
leis complementares estaduais, o modo de aproveitamento dos créditos de
:14 EL
ICMS, nas transferências interestaduais de mercadorias, entre estabeleci-
21 HA
mentos de uma mesma sociedade empresária.
2 - IC
02 - M
veicular normas gerais de alcance local, vale dizer, “para atender a suas
1/1 1-
UZ
jurídica, somente a edição de uma lei complementar nacional terá o condão
CR
de evitar que o princípio da não-cumulatividade do ICMS venha
atropelado, quando ocorrer uma transferência interestadual de mercadorias,
ES
entre estabelecimentos pertencentes a uma mesma sociedade empresária.
M
:27 GO
Com efeito, sem a edição de tal ato normativo,
fica em aberto a possibilidade de o Estado de destino não aceitar os créditos
:14 EL
de ICMS, oriundos das operações ou prestações anteriores, ocorridas no
Estado de origem. Em 21 HA
isso ocorrendo, o tributo tornar-se-á
2 - IC
(inconstitucionalmente, é claro) cumulativo.
02 - M
Então, vejamos.
po
sso
pre
e, deste modo, fará nascer, para uma dada pessoa, o dever jurídico de
recolher o tributo.
Im
UZ
CR
I- O Estado Democrático de Direito traz consigo
ES
a segurança jurídica e a proibição de qualquer arbitrariedade. Nele impera
M
a certeza de que da conduta das pessoas não derivarão outras consequências
:27 GO
jurídicas além das previstas, em cada caso e momento, pela lei já vigente.
:14 EL
Estamos a notar, pois, que a segurança jurídica
21 HA
vem reforçada pelo princípio da irretroatividade das leis, que, em nosso
2 - IC
País, tem assento na própria Constituição. De fato, o art. 5º, XXXVI, da
02 - M
retroaja.
1/1 1-
: 0 .01
os casos que estão no passado de modo que se desviem da prática até então
sso
alterada, mas, apenas, que, uma vez alterada, só pode, em alguns casos,
UZ
alcançar eventos futuros.
CR
Em suma, a jurisprudência também está
ES
submetida ao art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal, já que o princípio
da irretroatividade incide sobre todo o Direito.
M
:27 GO
III- No caso concreto, o Supremo Tribunal
:14 EL
Federal, ao dar, com efeitos erga omnes, pela inconstitucionalidade dos
21 HA
arts. 11, § 3º, II; 12, I (no trecho “ainda que para outro estabelecimento do
mesmo titular”); e, 13, § 4º, da Lei Complementar nº 87/1996, retirou, por
2 - IC
UZ
Rio Grande do Norte) ou, melhor, (ii) modulação dos efeitos do acórdão
CR
prolatado nos autos da ADC 49.
ES
IIIa- Isso porque o cumprimento, puro e simples,
M
do v. acórdão, poderá levar à afronta, seja do princípio da não
:27 GO
cumulatividade do ICMS, seja do próprio pacto federativo, com o fomento
da nefasta guerra fiscal entre as pessoas políticas, o aumento dos custos de
:14 EL
produção e o incremento da carga tributária, a ser suportada pelo
21 HA
consumidor final das mercadorias.
2 - IC
02 - M
destino poderá não ser autorizado, pela Fazenda Pública local, a aproveitar
pre
Im
UZ
pagamento do ICMS (com evidentes prejuízos ao caixa da empresa).
CR
IIIc- Ora, como exaustivamente explicado, a
ES
transferência de mercadorias entre estabelecimentos de um mesmo titular
não passa de um deslocamento físico; jamais, de uma operação de
M
:27 GO
circulação jurídica de mercadorias. Passa, pois, ao largo da incidência do
ICMS e, por igual modo, da aplicação dos arts. 155, § 2º, II, “b”, da
:14 EL
Constituição Federal, e 20, § 1º, da Lei Complementar nº 87/1996.
21 HA
IV- Justamente em face dessas incertezas, acerca
2 - IC
efeitos se faz necessária, se por mais não fosse, para resguardar a validade
0/2 52
contestação em juízo.
: 0 .01
UZ
diferenciada, decida sobre os efeitos da declaração de
inconstitucionalidade, fazendo um juízo rigoroso de ponderação
CR
entre o princípio da nulidade da lei inconstitucional, de um lado, e
os postulados da segurança jurídica e do interesse social, de outro
ES
(art. 27). Assim, o princípio da nulidade somente será afastado ‘in
concreto’ se, a juízo do próprio Tribunal, se puder afirmar que a
M
declaração de nulidade acabaria por distanciar-se ainda mais da
:27 GO
vontade constitucional.
“Entendeu, portanto, a Comissão que, ao
:14 EL
lado da ortodoxa declaração de nulidade, há de se reconhecer a
possibilidade de o Supremo Tribunal, em casos excepcionais,
21 HA
mediante decisão da maioria qualificada (dois terços dos votos),
estabelecer limites aos efeitos da declaração de
2 - IC
constitucional (...)”.90
Em .898
sempre que se puder demonstrar, com base numa ponderação concreta, que
r: 0
interesse social.91
pre
Im
UZ
V- Tudo se conjuga, pois, no sentido de que,
CR
salvo melhor juízo, cabe ao Supremo Tribunal Federal, modular os efeitos
ES
da decisão expendida nos autos da ADC 49, em ordem a preservar as
M
situações pretéritas e a dar tempo para que uma lei complementar nacional
:27 GO
venha editada, disciplinando o aproveitamento dos créditos de ICMS, nas
transferências de mercadorias entre estabelecimentos de um mesmo
:14 EL
contribuinte, especialmente quando situados em unidades federadas
distintas. 21 HA
2 - IC
02 - M
9. Conclusões
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1/1 1-
: 0 .01
as seguintes conclusões:92
28
Ia- Portanto, por injunção constitucional, este ICMS tem, por hipótese de
incidência possível, o fato de uma pessoa praticar uma operação jurídica,
UZ
que acarreta a circulação de mercadorias, isto é, a transmissão de sua
CR
titularidade.
ES
Ib- Podem realizar tal operação apenas o produtor, o industrial ou o
M
comerciante.93
:27 GO
Ic- O sujeito passivo possível do ICMS é apenas a pessoa que pratica
:14 EL
operações mercantis e, não, cada um dos seus estabelecimentos (matriz e
21 HA
filiais), que apenas lhe fazem juridicamente as vezes, embora, por razões
operacionais, tenham CNPJ’s próprios.
2 - IC
02 - M
0/2 52
1/1 1-
: 0 .01
93. Com essa frase não queremos significar que apenas as pessoas
Em .898
UZ
que é o sujeito passivo possível do ICMS, pois é ela que detém os direitos
CR
e obrigações relativos a este tributo.
ES
II- O ICMS deve obedecer ao princípio da não-cumulatividade,
plasmado no art. 155, § 2º, I e II, da Constituição Federal, que assegura ao
M
:27 GO
contribuinte, em cada operação ou prestação, uma dedução correspondente
aos montantes deste tributo, devidos nas operações ou prestações
:14 EL
anteriores.
21 HA
IIa- Este direito só não se impõe nos casos de isenção e não-incidência
2 - IC
(cf. art. 155, § 2º, II, da CF), exceções que, além de deverem ser
02 - M
(lato sensu), quer por convênios, quer, ainda, pelo labor exegético.
1/1 1-
nº 49, sufragou, com eficácia erga omnes, a tese de que “[o] deslocamento
r: 0
interestadual”.
pre
94. Foi o que fez a Lei Complementar nº 87/1996, em seu art. 21, §
2º, ao estatuir que “não se estornam créditos referentes a mercadorias
e serviços que venham a ser objeto de operações ou prestações destinadas
do exterior”.
Roque Antonio Carrazza 83
UZ
IIIb- Evidentemente, as situações pretéritas, vale dizer, consolidadas
CR
antes do julgamento da ADC 49, devem ser mantidas, para que prevaleçam
ES
os princípios da segurança jurídica e da confiança dos contribuintes.
M
IIIc- Nelas, os Estados de origem e de destino devem continuar a aceitar
:27 GO
os créditos de ICMS, uma vez que nas transferências interestaduais de
:14 EL
mercadorias, tal entendimento prevalecia de maneira mansa e remansosa.
21 HA
IV- Nas transferências de mercadorias que vierem a ocorrer no futuro, ou
2 - IC
seja, após o julgamento da ADC 49, faz-se necessária, salvo melhor juízo,
02 - M
a edição, com base no art. 155, § 2º, XII, c, da Constituição Federal, de uma
0/2 52
ICMS.95
Im
UZ
criem distinções ou preferências, entre as unidades federadas.
CR
Va- Nenhum Estado-membro pode, por autoridade própria, obrigar os
ES
demais a fazer ou a deixar de fazer alguma coisa, máxime em matéria
tributária.
M
:27 GO
Vb- Em consequência, nenhum deles pode determinar como os demais
devem proceder, no aproveitamento dos créditos de ICMS, quando ocorre
:14 EL
uma transferência interestadual de mercadorias, entre estabelecimentos de
um mesmo titular.
21 HA
2 - IC
02 - M
Constituição Federal.
: 0 .01
Em .898
da Constituição Federal.
pre
Im
UZ
“normas gerais” veiculadas por meio de lei complementar nacional, não
CR
atribui àqueles entes federados, a competência para regular, por meio de
leis complementares estaduais, o modo de aproveitamento dos créditos de
ES
ICMS, nas transferências interestaduais de mercadorias, entre estabeleci-
M
mentos de uma mesma sociedade empresária.
:27 GO
VIb- É que a lei complementar do Estado-membro, editada no exercício
:14 EL
de sua competência concorrente, somente poderá veicular normas gerais de
21 HA
alcance local, vale dizer, “para atender a suas peculiaridades”; não,
2 - IC
quando estiver em jogo – como no caso em consulta – o
02 - M
fiscal sobre atuação havida96 (ou estado de fato existente97) fora da unidade
: 0 .01
federada que a editou, já que lá não tem voga, por força do princípio da
Em .898
territorialidade.
28
VII- O Supremo Tribunal Federal, ao dar, com efeitos erga omnes, pela
r: 0
inconstitucionalidade dos arts. 11, § 3º, II; 12, I (no trecho “ainda que para
outro estabelecimento do mesmo titular”); e, 13, § 4º, da Lei Complementar
po
UZ
um mesmo contribuinte e, (ii) veiculavam o “princípio da autonomia dos
CR
estabelecimentos”.
ES
VIIa- O decisum em tela também afetou situações sedimentadas por anos
de aplicação, quer dos mencionados artigos da Lei Complementar nº
M
:27 GO
87/1996 (agora declarados inconstitucionais), quer das leis locais, afinadas
no mesmo diapasão.
:14 EL
VIIb- Além disso, irradiou efeitos sobre situações que não foram
antevistas.
21 HA
2 - IC
02 - M
do Norte) ou, melhor, (ii) modulação dos efeitos do acórdão prolatado nos
r: 0
UZ
pelas unidades federadas, quando não o acúmulo de créditos no Estado de
CR
origem,98 em razão de um entendimento “muito a propósito”, quer do art.
155, § 2º, II, “b”, da Constituição Federal, quer do art. 20, § 1º, da Lei
ES
Complementar nº 87/1996.99
M
:27 GO
VIIIc- De outra banda, o estabelecimento de destino poderá não ser
autorizado, pela Fazenda Pública local, a aproveitar os créditos das
:14 EL
operações anteriores, para serem utilizados como moeda de pagamento do
21 HA
ICMS (com evidentes prejuízos ao caixa da empresa).
2 - IC
IX- Em função das incertezas sobre como será aplicado o decisum, é que
02 - M
a modulação de seus efeitos se faz necessária (nos termos do art. 27, da Lei
0/2 52
n.º 9.868/1999), se por mais não fosse, a fim de resguardar a validade das
1/1 1-
em juízo.
Em .898
UZ
rigoroso de ponderação entre o princípio da nulidade da lei
inconstitucional, de um lado, e os postulados da segurança jurídica
CR
e do interesse social, de outro (art. 27). Assim, o princípio da
nulidade somente será afastado ‘in concreto’ se, a juízo do próprio
ES
Tribunal, se puder afirmar que a declaração de nulidade acabaria
por distanciar-se ainda mais da vontade constitucional.
M
“Entendeu, portanto, a Comissão que, ao lado da ortodoxa
:27 GO
declaração de nulidade, há de se reconhecer a possibilidade de o
Supremo Tribunal, em casos excepcionais, mediante decisão da
:14 EL
maioria qualificada (dois terços dos votos), estabelecer limites aos
efeitos da declaração de inconstitucionalidade, proferindo a
21 HA
inconstitucionalidade com eficácia ‘ex nunc’ ou ‘pro futuro’,
especialmente naqueles casos em que a declaração de nulidade se
2 - IC
e, (iii) dar tempo para que a União, valendo-se do permissivo do art. 155,
nº 2.960/1997.
Roque Antonio Carrazza 89
UZ
do mesmo titular, quando situados em unidades federadas diversas.
CR
ES
Este é o nosso parecer, s.m.j.
M
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São Paulo (SP), 05 de outubro de 2021.
21 HA
2 - IC
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