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João Miguel Clemente de Sena Esteves

Análise de Circuitos

Setembro de 2023
Análise de Circuitos i

Grandezas, Unidades e Prefixos do Sistema Internacional de


Unidades (SI)

Grandezas e Unidades SI

Grandeza Unidade
Nome Símbolo Nome Símbolo
potencial eléctrico U volt V
tensão, diferença de potencial ou queda de potencial U, E volt V
corrente eléctrica I ampere A
energia W joule J
potência P watt W
resistência eléctrica R ohm Ω
resistividade ρ ohm metro Ω·m
capacidade eléctrica C farad F
permitividade ε farad por metro F·m-1
coeficiente de auto-indução L henry H
permeabilidade µ henry por metro H·m-1

Prefixos SI

Múltiplos
Nome Símbolo Factor multiplicador

yotta Y 1024 = 1 000 000 000 000 000 000 000 000
zetta Z 1021 = 1 000 000 000 000 000 000 000
exa E 1018 = 1 000 000 000 000 000 000
peta P 1015 = 1 000 000 000 000 000
tera T 1012 = 1 000 000 000 000
giga G 109 = 1 000 000 000
mega M 106 = 1 000 000
quilo k 103 = 1000
hecto h 102 = 100
deca da 101 = 10

João Sena Esteves Universidade do Minho


ii Análise de Circuitos

Submúltiplos
Nome Símbolo Factor multiplicador

deci d 10-1 = 0,1


centi c 10-2 = 0,01
mili m 10-3 = 0,001
micro µ 10-6 = 0,000 001
nano n 10-9 = 0,000 000 001
pico p 10-12 = 0,000 000 000 001
fento f 10-15 = 0,000 000 000 000 001
ato a 10-18 = 0,000 000 000 000 000 001
zepto z 10-21 = 0,000 000 000 000 000 000 001
yocto y 10-24 = 0,000 000 000 000 000 000 000 001

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Análise de Circuitos 1

1. Corrente Eléctrica, Potencial Eléctrico e Tensão

A corrente eléctrica (I) tem como unidade o ampere (A).

O potencial eléctrico que existe num ponto A (UA) tem como unidade o volt (V).

A tensão, diferença de potencial ou queda de potencial que existe entre um ponto A e um ponto B
(UAB) tem como unidade o volt (V) e é dada por
U AB = U A − U B

Um componente de um circuito eléctrico tem sempre dois ou mais terminais. Num componente de
dois terminais, a corrente que entra por um terminal é a mesma que sai pelo outro.

A B

Componente de dois terminais

Verifica-se que…

• uma corrente eléctrica passa num componente de um circuito.

• um potencial eléctrico existe num ponto.

• uma tensão existe entre dois pontos.

Notações:

• Usam-se setas rectas para indicar os sentidos de correntes eléctricas.

• Usam-se setas curvas para indicar os sentidos de tensões (quedas de potencial).

O sentido verdadeiro da corrente eléctrica que passa num componente de um circuito eléctrico é o
oposto ao do movimento dos electrões que constituem essa corrente.

• Em Física, o sentido real da corrente eléctrica que passa num componente de um circuito eléctrico é o do
movimento dos electrões que constituem essa corrente; o sentido convencional da corrente eléctrica é o oposto
ao desse movimento. Assim, o sentido verdadeiro da corrente eléctrica, usado em Electrotecnia e em
Electrónica, coincide com o sentido convencional da corrente eléctrica usado em Física.

O sentido positivo da corrente eléctrica que passa num componente é convencionado, podendo
coincidir ou não com o sentido verdadeiro da corrente.

O potencial eléctrico que existe num ponto só fica determinado se estiver definida uma referência
para os potenciais eléctricos. Por definição, o valor do potencial eléctrico de referência é zero.

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2 Análise de Circuitos

Pode escolher-se, arbitrariamente, o potencial de qualquer ponto de um circuito eléctrico como


referência para os potenciais eléctricos. Em geral, a escolha da referência faz-se por forma a
simplificar a análise do circuito.

É frequente usar o potencial da terra ou o potencial da massa (chassis) dos aparelhos eléctricos como
referência para os potenciais eléctricos.

Ligação à terra Ligação à massa Ligação à massa Ligação à massa

O potencial eléctrico que existe num ponto tem o valor da tensão existente entre esse ponto e o
ponto cujo potencial é usado como referência para os potenciais eléctricos.

2V
A B
5V 3V

5V 0V 3V

O potencial eléctrico que existe num ponto depende da referência escolhida para os potenciais
eléctricos e pode assumir qualquer valor.

A tensão existente entre dois pontos tem um valor que não depende da referência escolhida para os
potenciais eléctricos.

14V 5V 0V

5V 5V 5V 5V
Circuito Circuito 9V Circuito 0V Circuito -5V
Eléctrico Eléctrico Eléctrico Eléctrico
9V 9V 9V 9V
0V -9V -14V

O sentido verdadeiro da tensão existente entre dois pontos é do ponto de potencial superior para o
ponto de potencial inferior.

O sentido positivo da tensão existente entre dois pontos é convencionado, podendo coincidir ou não
com o sentido verdadeiro da queda de potencial.

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Análise de Circuitos 3

Para correntes e tensões constantes...

- A seta indica o sentido verdadeiro da corrente que atravessa o componente.

10A
- Dentro do componente, a corrente vai do terminal A para o terminal B.
A B

- A corrente que atravessa o componente tem um valor de 10A.

- A seta indica o sentido positivo da corrente que atravessa o componente.

-10A
- Dentro do componente, a corrente vai do terminal B para o terminal A.
A B
- A corrente que atravessa o componente tem um valor de 10A.

- A seta indica o sentido positivo da corrente que atravessa o componente.

IAB
- Se, dentro do componente, a corrente for do terminal A para o terminal B, então
A B
o sentido positivo da corrente coincide com o sentido verdadeiro da corrente e
IAB>0.

- A seta indica o sentido verdadeiro da tensão existente entre os terminais A e B


do componente.
10V
A B - O potencial no terminal A é superior ao potencial no terminal B.

- Entre os terminais existe uma diferença de potencial de 10V.

- A seta indica o sentido positivo da tensão existente entre os terminais A e B do


componente.
-10V
A B - O potencial no terminal B é superior ao potencial no terminal A.

- Entre os terminais existe uma diferença de potencial de 10V.

- A seta indica o sentido positivo da tensão existente entre os terminais A e B do


UAB componente.

A B - Se o potencial no terminal A for superior ao potencial no terminal B, então o


sentido positivo da tensão coincide com o sentido verdadeiro da tensão e UAB>0.

Nota: Para manter os desenhos simples, não se representa o resto do circuito, que está ligado aos terminais A e B.
Sem esse circuito não poderiam existir as correntes representadas.

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4 Análise de Circuitos

A B
+ +
+ +
+ +
+ + + +
+ +
+ + + +
+ +

UAB > 0
A B
+ +
+ + +
+
+ + + + +
+ +
+ + +
+ +

UAB > 0
A B
+ +
+ + +
+
+ + + + +
+ +
+ + +
+ +

IAB > 0

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Análise de Circuitos 5

2. Condutor Ideal

Um condutor ideal mantém uma tensão de 0V entre os seus terminais, independentemente do valor
e do sentido da corrente que o atravessa. Todos os seus pontos estão sempre ao mesmo potencial.

0V

Ao ligar um condutor ideal entre dois pontos provoca-se um curto-circuito entre esses pontos. Mas
condutor ideal e curto-circuito não são sinónimos, uma vez que é possível provocar um curto-circuito
entre dois pontos com um condutor não ideal.

Representação de dois condutores ideais isolados um do outro:

Representação de dois condutores ideais ligados um ao outro:

3. Circuito Aberto

Um circuito aberto entre dois pontos é atravessado por uma corrente de 0A, independentemente do
valor e do sentido da tensão que existe entre esses pontos.

0A

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6 Análise de Circuitos

4. Leis de Kirchhoff
4.1 Lei das Correntes

A soma algébrica das correntes que convergem para um ponto é igual à soma algébrica das correntes
que divergem desse ponto.

Exemplo:

7A 2A
7+4=2+9
9A
4A

-2A
7A
7 + 4 + (-2) = 9
9A
4A

-2A
7A
7 + 4 + (-2) + (-9) = 0
-9A
4A

-7A 2A
0 = (-7) + (-4) + 2 + 9
-4A 9A

Nota: nas várias situações representadas as correntes são fisicamente as mesmas.

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Análise de Circuitos 7

Algumas consequências da Lei das Correntes:

Se houver apenas dois condutores ligados a um ponto, então


a corrente num condutor é a mesma que a corrente no outro
3A 3A
condutor.

Se um componente tiver apenas dois terminais, então a 3A 3A


corrente que entra por um terminal é a mesma que sai pelo
outro.

3A
Se houver apenas dois condutores ligados a um circuito,
então a corrente num condutor é a mesma que a corrente no 3A
outro condutor.

Se houver apenas um condutor ligado a um ponto, então a 0A


corrente nesse condutor é nula.

0A
Se houver apenas um condutor ligado a um circuito, então a
corrente nesse condutor é nula.

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8 Análise de Circuitos

4.2 Lei das Tensões

Estes dois enunciados da Lei das Tensões são equivalentes:

• Ao se percorrer num dado sentido um percurso fechado, a soma das tensões (quedas de potencial)
encontradas é igual à soma das subidas de potencial.

• A soma algébrica de todas as tensões (quedas de potencial) consideradas num mesmo sentido ao
longo de um percurso fechado é nula.

Exemplo:

2V

3V 10V 5V
4V 3 + 5 + 4 = 2 + 10

-2V

3V -10V 5V
4V 3 + (-2) + 5 + (-10) + 4 = 0

2V

-3V 10V -5V


-4V (-3) + (-4) + 10 + (-5) + 2 = 0

Notas:

1. Um circuito aberto pode fazer parte de um percurso fechado, como acontece neste exemplo.

2. Nas várias situações representadas as diferenças de potencial são fisicamente as mesmas.

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Análise de Circuitos 9

5. Fonte Ideal de Tensão

Entre os terminais de uma fonte ideal de tensão existe uma tensão cuja evolução ao longo do tempo
não depende do valor da corrente debitada pela fonte.

Uma fonte ideal de tensão constante tem sempre a mesma tensão entre os seus terminais,
independentemente da corrente que debita ou do instante considerado.

A A

10V +
10V −

B B

• O sentido e o valor da corrente que atravessa a fonte dependem do circuito ao qual se liga a
fonte.

• Um condutor ideal é equivalente a uma fonte ideal de tensão de 0V.

A - Entre os terminais da fonte existe uma diferença de potencial de 5V.

- O potencial no terminal A é superior ao potencial no terminal B.


5V 5V

B
A - Entre os terminais da fonte existe uma diferença de potencial de 5V.

- O potencial no terminal B é superior ao potencial no terminal A.


-5V 5V

B
A - Se o potencial no terminal A for superior ao potencial no terminal B, então E > 0.

Numa fonte ideal de tensão independente, o valor da tensão que existe entre os seus terminais não
depende do circuito no qual a fonte se insere.

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10 Análise de Circuitos

Exercício: Preencha os quadros anexos às figuras.

4V -10V UA =
UAC
5V UB =
8V 3V
A B C UC =
D
UD =
2V
E UCD
UE =

-7V E E=

UAC =

UCD =

X
UWT =
UXY UXY =
10V
W UYZ =
Y
UY =
5V
UWT UYZ

Z
T

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Análise de Circuitos 11

Numa fonte ideal de tensão dependente (ou controlada), o valor da tensão que existe entre os seus
terminais é determinado (ou controlado) por tensões ou correntes existentes no circuito em que a fonte
se insere.

A - Entre os terminais da fonte existe uma diferença de potencial cujo valor é o dobro do valor
da corrente i.

+
2i − - Se i > 0, então o potencial no terminal A é superior ao potencial no terminal B.

B
A - Entre os terminais da fonte existe uma diferença de potencial cujo valor é o triplo do valor
da tensão u.

+
3u − - Se u > 0, então o potencial no terminal A é superior ao potencial no terminal B.

B
A - Entre os terminais da fonte existe uma diferença de potencial cujo valor é o triplo do
produto dos valores da tensão u e da corrente i mais o dobro do quadrado do valor da

+ tensão u.
3ui + 2u2 −
- Se 3ui + 2u2 > 0, então o potencial no terminal A é superior ao potencial no terminal B.

Desactivar uma fonte ideal de tensão corresponde a anular a tensão que caracteriza essa fonte. A
fonte desactivada é equivalente a um condutor ideal.

E E=0

A tensão que existe entre os terminais de uma fonte ideal de tensão dependente só pode ser anulada por actuação sobre
as tensões e correntes que determinam essa tensão.

2i +
− 2i = 0

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12 Análise de Circuitos

6. Fonte Ideal de Corrente

A corrente debitada por uma fonte ideal de corrente tem uma evolução ao longo do tempo que não
depende do valor da tensão existente entre os terminais da fonte.

Uma fonte ideal de corrente constante debita sempre a mesma corrente, independentemente da
tensão que existe entre os seus terminais ou do instante considerado.

A Para manter o desenho simples, não se


representa o resto do circuito, que está
30A ligado aos terminais A e B. Sem esse circuito
B não poderia existir a corrente representada.

• O sentido e o valor da tensão existente entre os terminais da fonte dependem do circuito ao


qual se liga a fonte.

• Um circuito aberto é equivalente a uma fonte ideal de corrente de 0A.

- A corrente debitada pela fonte tem um valor de 8A.


A
- Dentro da fonte, a corrente vai do terminal B para o terminal A.
8A 8A

- A corrente debitada pela fonte tem um valor de 8A.


A
- Dentro da fonte, a corrente vai do terminal A para o terminal B.
-8A 8A
B

- Se, dentro da fonte, a corrente for do terminal B para o terminal A, então I > 0.
A

Nota: Para manter os desenhos simples, não se representa o resto do circuito, que está ligado aos terminais A e B.
Sem esse circuito não poderiam existir as correntes representadas.

Numa fonte ideal de corrente independente, o valor da corrente debitada pela fonte não depende do
circuito no qual a fonte se insere.

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Análise de Circuitos 13

Numa fonte ideal de corrente dependente (ou controlada), o valor da corrente debitada pela fonte é
determinado (ou controlado) por tensões ou correntes existentes no circuito em que a fonte se insere.

- A fonte debita uma corrente cujo valor é o dobro do valor da corrente i.


A
- Se i > 0 então, dentro da fonte, a corrente vai do terminal B para o terminal A.

2i

- A fonte debita uma corrente cujo valor é o triplo do valor da tensão u.


A
- Se u > 0 então, dentro da fonte, a corrente vai do terminal B para o terminal A.

3u

- A fonte debita uma corrente cujo valor é o triplo do produto dos valores da tensão u e da
A
corrente i mais o dobro do quadrado do valor da tensão u.

3ui + 2u2 - Se 3ui + 2u2 > 0 então, dentro da fonte, a corrente vai do terminal B para o terminal A.

Nota: Para manter os desenhos simples, não se representa o resto do circuito, que está ligado aos terminais A e B.
Sem esse circuito não poderiam existir as correntes representadas.

Desactivar uma fonte ideal de corrente corresponde a anular a corrente que caracteriza essa fonte. A
fonte desactivada é equivalente a um circuito aberto.

I I=0

A corrente que percorre uma fonte ideal de corrente dependente só pode ser anulada por actuação sobre as tensões e
correntes que determinam essa corrente.

2i 2i = 0

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14 Análise de Circuitos

7. Resistência e Lei de Ohm

UR Uma resistência é atravessada por uma corrente que é proporcional à tensão aplicada
R entre os seus terminais, ou seja
UR
= cons tan te
IR
IR
A resistência eléctrica (R) tem como unidade o ohm (Ω
Ω). O seu valor depende do material do qual a resistência é feita,
das suas dimensões, do percurso seguido pela corrente no seu interior e da temperatura.

Lei de Ohm UR
R UR
Para os sentidos positivos de UR e de IR indicados, o valor de R pode R=
IR
determinar-se experimentalmente recorrendo à expressão apresentada
IR
ao lado da respectiva figura.
UR
Normalmente usam-se sentidos positivos de UR e de IR tais que
R UR
R=−
U IR
R= R
IR
IR

A Lei de Ohm aplica-se exclusivamente às resistências (por exemplo, não se aplica nem às fontes ideais de tensão nem
às fontes ideais de corrente).

Um condutor ideal pode ser visto como uma resistência de valor nulo
• como R=0, então a tensão entre os terminais do condutor ideal é nula, independentemente do valor e do sentido
da corrente que o percorre.

Um circuito aberto entre dois pontos pode ser visto como uma resistência de valor infinito
• como R = ∞ , então a corrente que a atravessa é nula, independentemente do valor e do sentido da tensão que
existe entre os seus terminais.

Em qualquer resistência de valor finito não nulo


• a corrente que a percorre flui sempre do terminal de maior potencial para o terminal de menor potencial;
• o valor da corrente que a percorre depende do valor da tensão que existe entre seus terminais;
• a corrente que a percorre é nula se não houver tensão entre os seus terminais;
• a tensão entre seus terminais é nula se não for atravessada por nenhuma corrente.

Exemplo • Dentro da resistência, a corrente flui do terminal de maior


potencial para o terminal de menor potencial.

• Fora da resistência, a corrente flui do terminal de menor


potencial para o terminal de maior potencial.

• Dentro da fonte, a corrente flui do terminal de menor


potencial para o terminal de maior potencial.

• Fora da fonte, a corrente flui do terminal de maior


potencial para o terminal de menor potencial.

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Análise de Circuitos 15

8. Energia e Potência

Um componente inserido num circuito pode receber energia do circuito, fornecer energia ao circuito e, em alguns casos,
não receber nem fornecer energia. A energia w(t) recebida ou fornecida pelo componente tem como unidade o joule (J).
Em Electrotecnia costuma usar-se como unidade de energia o quilowatt-hora (kWh), que vale 3,6MJ:

1kW = 1000W

  1kWh = 1000 ⋅ 3600{
Ws = 3600000J = 3600kJ = 3,6MJ
1h = 3600s J

A potência instantânea p(t) em jogo num componente de um circuito é a derivada em ordem ao tempo da energia
recebida ou fornecida pelo componente ao circuito e tem como unidade o watt (W). O seu valor (em watts) é igual ao
produto do valor da tensão que existe entre os terminais desse componente (em volts) pelo valor da corrente que o
atravessa (em amperes).

Se a tensão entre os terminais de um componente e a corrente que o atravessa forem constantes:

• A potência em jogo no componente é dada por


P = U ⋅ I ( W)

• A energia recebida ou fornecida pelo componente durante um intervalo de tempo ∆t é dada por
W = P ⋅ ∆t = U ⋅ I ⋅ ∆t (J )

Um componente de um circuito recebe energia do Um componente de um circuito fornece energia ao


circuito se, dentro desse componente, a corrente fluir do circuito se, dentro desse componente, a corrente fluir do
terminal de maior potencial para o terminal de menor terminal de menor potencial para o terminal de maior
potencial. potencial.

Se a tensão e a corrente forem ambas positivas ou ambas


negativas, então P = U⋅I é positiva. Em qualquer dos casos,
Convenção de Sinais para os Componentes Passivos
dentro do componente a corrente flui do terminal de maior
potencial para o terminal de menor potencial e, portanto, o
componente recebe energia do circuito.
U
Se tensão for positiva e a corrente for negativa ou então a
tensão for negativa e a corrente for positiva, então P = U⋅I é
negativa. Em qualquer dos casos, dentro do componente a
I
corrente flui do terminal de menor potencial para o
terminal de maior potencial e, portanto, o componente
fornece energia ao circuito.

Num circuito isolado, o módulo da soma das potências de todos os componentes que recebem energia do circuito é igual
ao módulo da soma das potências de todos os componentes que fornecem energia ao circuito.

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16 Análise de Circuitos

5V W W 2A 5V W W 2A

Dentro do componente, a corrente flui do Dentro do componente, a corrente flui do terminal


terminal de maior potencial para o terminal de de menor potencial para o terminal de maior
menor potencial. potencial.

O componente recebe energia do circuito. O componente fornece energia ao circuito.

5V 2A 5V - 2A

P = 5 x 2 = 10W → P > 0 P = 5 x (- 2) = - 10W → P < 0

- 5V - 2A - 5V 2A

P = (- 5) x (- 2) = 10W → P > 0 P = (- 5) x 2 = - 10W → P < 0

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Análise de Circuitos 17

A potência em jogo num condutor ideal é nula porque não existe tensão entre os seus terminais. Um condutor ideal não
recebe energia do circuito nem lhe fornece energia.

A potência em jogo num circuito aberto é nula porque a corrente que o atravessa é nula. Um circuito aberto não recebe
energia do circuito nem lhe fornece energia.

A potência em jogo numa fonte ideal de tensão em vazio (ou seja, sem carga) é nula seja qual for a tensão que existe entre
os seus terminais porque a corrente que a atravessa é nula. Uma fonte ideal de tensão em vazio não recebe energia do
circuito nem lhe fornece energia.

A potência em jogo numa fonte ideal de corrente curto-circuitada por um condutor ideal é nula seja qual for a corrente
que a atravessa porque não existe tensão entre os seus terminais. Uma fonte ideal de corrente curto-circuitada por um
condutor ideal não recebe energia do circuito nem lhe fornece energia.

Numa resistência: Efeito de Joule: Uma resistência constante R (em ohm)


UR atravessada por uma corrente constante I (em ampere)

R durante um intervalo de tempo ∆t (em segundos) recebe do


circuito uma energia W (em joule), que liberta sob a forma
de calor, dada por
IR
W = R ⋅ I 2 ⋅ ∆t
PR = U R ⋅ I R = (R ⋅ I R ) ⋅ I R = R ⋅ I 2R
123
UR

U  U 2R
PR = U R ⋅ I R = U R ⋅  R  =
12
R 
3
R
IR

Exemplo
3V • Dentro da resistência, a corrente flui do terminal de maior
potencial para o terminal de menor potencial, por isso a
1,5Ω resistência recebe energia do circuito.

Potência em jogo na resistência: P = 3 ⋅ 2 = 6W


10V 2A 7V
10V 2A 2A 7V
2A • Dentro da fonte de 10V, a corrente flui do terminal de
menor potencial para o terminal de maior potencial, por
Usando sentidos verdadeiros para as tensões e a corrente isso a fonte fornece energia ao circuito.

Potência em jogo na fonte de 10V: P = − 10 ⋅ 2 = − 20W


3V
1,5Ω
• Dentro da fonte de 7V, a corrente flui do terminal de maior
potencial para o terminal de menor potencial, por isso a
10V 2A 7V
2A fonte recebe energia do circuito.
-10V 2A 7V
Potência em jogo na fonte de 7V: P = 7 ⋅ 2 = 14W
2A

Usando a Convenção de Sinais para os Componentes Passivos


6 + 14 = − 20

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18 Análise de Circuitos

9. Série Eléctrica e Paralelo Eléctrico

Dois componentes estão em série quando são atravessados pela mesma corrente.

R1, R2, R3, R4 e R5 estão em série, relativamente aos terminais A e B.


R2 R3 R4 R5
A RAB (resistência medida entre os terminais A e B) é superior à
maior das resistências, e aumenta se se colocar mais alguma

R1 resistência em série com as outras.

5
B R AB = R 1 + R 2 + R 3 + R 4 + R 5 = R
i =1
i

Dois componentes estão em paralelo quando estão submetidos à mesma tensão.

R1, R2, R3 e R4 estão em paralelo, relativamente aos terminais A e B.

R1 RAB (resistência medida entre os terminais A e B) é inferior à menor

A das resistências, e diminui se se colocar mais alguma resistência em


paralelo com as outras.
R2 R3 R4
RAB = R1 // R2 // R3 // R4
B
4

R
1 1 1 1 1 1
= + + + =
R AB R 1 R 2 R 3 R 4 i =1 i

Para apenas duas resistências em paralelo:


A
RAB = R1 // R2
R1 R2
1 1 1 R1 ⋅ R 2
= +  R AB =
B R AB R 1 R 2 R1 + R 2

• Dois componentes em série podem não ter nenhum terminal comum.

R1 R2 R3 R4
A R1 e R4 estão em série, relativamente aos terminais A e B, mas não
possuem nenhum terminal comum.

RAB = R1 + R2 + R3 + R4
B

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Análise de Circuitos 19

• Dois componentes com um terminal comum podem não estar em paralelo e também não estar em série.

Relativamente aos terminais A e B:


• R1 está em série com R2
• R3 está em série com R4 e com R6
R1 R2 R3 R4 • R2 não está nem em série nem em paralelo com R3

A • R2 não está nem em série nem em paralelo com R5


• R5 não está nem em série nem em paralelo com R6
R5 • R5 está em paralelo com a série formada por R1 e R2
R6
• O paralelo de R5 com a série formada por R1 e R2 está em
B série com R3, R4 e R6

R AB = [(R 1 + R 2 ) // R 5 ] + R 3 + R 4 + R 6

• A associação existente entre dois ou mais componentes de um circuito depende dos terminais considerados.

Relativamente aos terminais A e B (terminais C e D em aberto),

C D todas as resistências estão em série.

RAB = R1 + R2+ R3 + R4 + R5

R2 R3 R4 R5
A Relativamente aos terminais C e D (terminais A e B em aberto),
R1, R2, R4 e R5 estão em série com um circuito aberto, logo não são
R1 atravessadas por nenhuma corrente. Uma corrente que entre pelo
terminal C e saia pelo terminal D só passa por R3.
B RCD = R3

Relativamente aos terminais A e D (terminais B e C em aberto):

RAB é a resistência medida entre os terminais A e B quando R4 está em série com R5.

todos os outros terminais estão em aberto. R1, R2 e R3 estão em série com um circuito aberto, logo não
são atravessadas por nenhuma corrente.

RCD é a resistência medida entre os terminais C e D quando RAD = R4 + R5


todos os outros terminais estão em aberto.

RAD é a resistência medida entre os terminais A e D quando Relativamente aos terminais B e C (terminais A e D em aberto):
todos os outros terminais estão em aberto. R1 está em série com R2.
• R3, R4 e R5 estão em série com um circuito aberto, logo não
RBC é a resistência medida entre os terminais B e C quando são atravessadas por nenhuma corrente.
todos os outros terminais estão em aberto.
RBC = R1 + R2

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20 Análise de Circuitos

• Em cada instante, a corrente que passa num componente de uma série é a mesma corrente que passa em qualquer
outro componente da mesma série. Mas, ao longo do tempo, essa corrente não tem de ser sempre a mesma...

1Ω 1Ω 1Ω 1Ω
A

1Ω
0A
B

1Ω 1Ω 1Ω 1Ω
A

1Ω
0A
B

1Ω 1Ω 1Ω 1Ω
A

1Ω 10V
2A
B

1Ω 1Ω 1Ω 1Ω
A

1Ω 20V
4A
B

1Ω 1Ω 1Ω 1Ω
A

4A 20V
1Ω

1Ω 1Ω 1Ω 1Ω
A

1Ω 5A
5A
B

1Ω 1Ω 1Ω 1Ω
A

3A
1Ω 3A

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Análise de Circuitos 21

Uma fonte ideal de tensão debita uma


corrente cujos sentido e valor dependem do
circuito alimentado pela fonte (que está
simultaneamente em série e em paralelo 5V
com a fonte). I 5V I 5V

A corrente é nula quando a fonte está em


vazio (ou seja, colocada em série com um
circuito aberto).

3A 2A
5V 5V 5V
0A 5V 0A 5V 3A 5V 3A 5V 2A 5V 2A 5V

Uma fonte ideal de corrente apresenta entre


os seus terminais uma tensão cujos sentido e
valor dependem do circuito alimentado pela
fonte (que está simultaneamente em série e
em paralelo com a fonte). U 30A U
30A

A tensão é nula quando a fonte se encontra


curto-circuitada com um condutor ideal (ou
seja, colocada em paralelo com um
condutor ideal).

5V 8V
30A 0V 30A 0V 30A 5V 30A 5V 30A 8V 30A 8V

Dualidade...
Tensão Série Em vazio Circuito aberto
Corrente Paralelo Em curto-circuito Condutor ideal

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22 Análise de Circuitos

Uma fonte ideal de tensão A


pode estar em vazio (ou
seja, colocada em série
10V 0A 10V
com um circuito aberto).
Nesse caso, é atravessada
por uma corrente nula. B

A
Uma fonte ideal de tensão
não pode ser curto-
circuitada com um 10V
condutor ideal (ou seja,
colocada em paralelo com
um condutor ideal).
B
A tensão entre A e B não pode valer simultaneamente 10V (devido à fonte) e 0V (devido ao condutor ideal).

Uma fonte ideal de tensão A A


só pode ser colocada em
paralelo com outra fonte
ideal de tensão se essa
10V 10V 10V 10V
fonte possuir uma tensão de
igual valor entre os seus
terminais e tiver a mesma
polaridade. B B

Uma fonte ideal de tensão A A


não pode ser colocada em
paralelo com outra fonte
ideal de tensão que possua
10V 3V 10V 3V
uma tensão de valor
diferente entre os seus
terminais, ainda que tenha a
mesma polaridade. B B

A A A A
Uma fonte ideal de tensão
pode ser colocada em
série com uma ou mais 10V 10V 10V 10V
fontes ideais de tensão, 13V 7V 20V 0V
independentemente dos 3V 3V 10V 10V
valores das tensões das
outras fontes.
B B B B

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Análise de Circuitos 23

Uma fonte ideal de corrente pode A


ser curto-circuitada com um
condutor ideal (ou seja, colocada
em paralelo com um condutor 30A 30A 0V
ideal). Nesse caso, existe uma
tensão nula entre os seus
terminais.
B

Uma fonte ideal de corrente não


pode estar em vazio (ou seja, 30A
colocada em série com um
circuito aberto).
B
Não podem coexistir uma corrente de 30A a entrar no ponto A e uma corrente de 0A a sair do ponto A.

Uma fonte ideal de corrente só


pode ser colocada em série com
30A 30A
outra fonte ideal de corrente se
30A
essa fonte debitar uma corrente
de igual valor e com o mesmo 30A 30A
sentido.

Uma fonte ideal de corrente não


pode ser colocada em série com
30A 30A
outra fonte ideal de corrente que
debite uma corrente de valor
diferente, ainda que tenha o 5A 5A
mesmo sentido.

30A 5A 35A 30A 5A 25A


Uma a fonte ideal de corrente
pode ser colocada em paralelo
com uma ou mais fontes ideais
de corrente, independentemente
dos valores das correntes das
outras fontes.

30A 30A 60A 30A 30A 0A

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24 Análise de Circuitos

10. Equivalência entre um Triângulo e uma Estrela

A A

R3 R1 Ra
Rc Rb

C R2 B C B

Resistências ligadas em Triângulo (∆) Resistências ligadas em Estrela (Y)

R 1 ⋅ (R 2 + R 3 )
R AB (∆) = R 1 // (R 2 + R 3 ) =
R1 + R 2 + R 3
R AB (Y ) = R a + R b

R 2 ⋅ (R 3 + R 1 )
R BC (∆ ) = R 2 // (R 3 + R 1 ) = R BC (Y) = R b + R c
R1 + R 2 + R 3

R CA (Y) = R c + R a
R 3 ⋅ (R 1 + R 2 )
R CA (∆ ) = R 3 // (R 1 + R 2 ) =
R1 + R 2 + R 3

Para um circuito externo ligado aos terminais A, B e C, o triângulo é equivalente à estrela se

 R1 ⋅ (R 2 + R 3 )
 = Ra + Rb
R AB (∆) = R AB (Y)  R1 + R 2 + R 3
 
 
 R 2 ⋅ (R 3 + R1 )
R BC (∆) = R BC (Y) ⇔  = Rb + Rc
  R1 + R 2 + R 3
 
R CA (∆) = R CA (Y) 
 R 3 ⋅ (R1 + R 2 ) = R + R
R +R +R c a
 1 2 3

Resolvendo o sistema em ordem a R1, R2 e R3 obtém-se Resolvendo o sistema em ordem a Ra, Rb e Rc obtém-se

 Ra ⋅ Rb + Rb ⋅ Rc + Rc ⋅ Ra  R1 ⋅ R 3
R 1 = R a =
 Rc  R1 + R 2 + R 3
 Ra ⋅ Rb + Rb ⋅ Rc + Rc ⋅ Ra  R1 ⋅ R 2
R 2 = R b =
 Ra  R 1 + R2 + R3
 R ⋅ Rb + Rb ⋅ Rc + Rc ⋅ Ra  R2 ⋅ R3
R 3 = a R c =
 Rb  R1 + R 2 + R 3

Permite determinar um triângulo Permite determinar uma estrela


equivalente a uma dada estrela. equivalente a um dado triângulo.

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Análise de Circuitos 25

11. Divisor de Tensão

U1 U2 Uk Un

I R1 R2 Rk Rn

U I

U = U1 + U 2 + ... + U k + ... + U n Uk = R k ⋅ I
= R 1 ⋅ I + R 2 ⋅ I + ... + R k ⋅ I + ... + R n ⋅ I
= (R 1 + R 2 + ... + R k + ... + R n ) ⋅ I Uk
 I=
 n  Rk
=



i =1
Ri  ⋅I

U
 I= n

R
i =1
i

Rk
Uk = n
⋅U
R
i =1
i

R1

R2 U2

R2
U2 = ⋅U
R1 + R 2

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26 Análise de Circuitos

12. Divisor de Corrente

U R1 I1 R2 I2 U Rk Ik Rn In

I = I1 + I 2 + ... + I k + ... + I n 1
Ik = ⋅U
U U U U Rk
= + + ... + + ... +
R1 R 2 Rk Rn
 1 1 1 1  Ik
=  + + ... + + ... +  ⋅ U  U=
1
 R1 R 2 Rk Rn 
Rk
 n 1 
=
  ⋅U

 i =1 R i 

I
 U= n

R
1
i =1 i

1
Rk
Ik = n
⋅I

1
i =1
Ri

R1 I1 R2 I2

1
R2 R1
I2 = ⋅I  I2 = ⋅I
1 1 R1 + R 2
+
R1 R 2

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Análise de Circuitos 27

13. Ramos, Nós e Malhas de um Circuito

Um ramo de um circuito é constituído por um componente (que não seja um condutor ideal) ou um
conjunto de componentes ligados em série. Os seus terminais estão ligados aos nós do circuito.

Um nó de um circuito é um ponto (ou um conjunto de pontos com o mesmo potencial eléctrico) onde
estão ligados três ou mais ramos.

Uma malha de um circuito é um conjunto de componentes ligados entre si formando um circuito


electricamente fechado.

Este circuito tem:


• 8 ramos
• 5 nós
• 14 malhas
• 4 malhas independentes
O número de malhas independentes é dado
por R – (N – 1)
R – Número de ramos
N – Número de nós

14. Lei dos Nós e Lei das Malhas

Lei dos Nós (caso particular da Lei de Kirchhoff das Correntes): a soma algébrica das correntes que
convergem para um nó é igual à soma algébrica das correntes que divergem desse nó.

I2
I1 I3
n

I i =0
I4
i =1 I6
I5

Lei das Malhas (caso particular da Lei de Kirchhoff das Tensões): a soma algébrica de todas as
tensões (quedas de potencial) consideradas num mesmo sentido ao longo de uma malha é nula.

U2

U i =0
i =1 U1 U3
U4

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28 Análise de Circuitos

Algoritmo para calcular as correntes nos ramos de um circuito usando as Leis de Kirchhoff:

1. Identificar os R ramos e N nós do circuito;

2. Arbitrar o sentido positivo da corrente em cada ramo;

3. Identificar R – (N – 1) malhas independentes e escrever as respectivas equações, recorrendo à Lei das Malhas;

4. Escrever as equações de N – 1 nós, recorrendo à Lei dos Nós;

5. Resolver um sistema de equações (de ordem R) para obter as correntes nos ramos do circuito.

Exercício: Determinar as correntes nos ramos do circuito.


3V

2V
4Ω 5Ω

7Ω

Resolução:
I1 I2 3V

I3

2V
A 4Ω B 5Ω

7Ω

4 ⋅ I 3 + 7 ⋅ I1 − 2 = 0 (malha A)


Resolver o sistema 3 + 5 ⋅ I 2 − 4 ⋅ I 3 = 0 (malha B)


I1 − I 2 − I 3 = 0 (nó 1)

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Análise de Circuitos 29

15. Componentes Lineares e Circuitos Lineares

Um componente que é atravessado por uma corrente i quando se encontra submetido a uma tensão u
diz-se linear se a multiplicação de i por um valor constante k resultar na multiplicação de u pelo
mesmo valor constante k.

• Uma resistência é um componente linear, uma vez que u(t) = R . i(t). O gráfico de u(t) em
função de i(t) é uma recta.

Um circuito linear é constituído por componentes destes três tipos:

1. Componentes lineares passivos;

• Um componente diz-se passivo se não dispõe de energia própria que possa fornecer ao
circuito. Há componentes passivos capazes de armazenar energia recebida do circuito durante
um intervalo de tempo, podendo devolvê-la ao circuito num intervalo de tempo posterior.

2. Fontes ideais independentes;

3. Fontes ideais dependentes lineares.

A - Fonte ideal de tensão


A - Fonte ideal de tensão
dependente linear. dependente não linear.
+ +
2i − 3ui −

B B
A - Fonte ideal de corrente
A - Fonte ideal de corrente
dependente linear. dependente não linear.

3u + 2i 2u2

B B

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30 Análise de Circuitos

16. Teorema de Thévenin

Um circuito I e um circuito II estão ligados entre si por dois condutores ideais e isolados de outros
circuitos, verificando-se as seguintes condições:

• O circuito I e o circuito II são lineares, podendo conter:

o resistências;

o fontes ideais independentes;

o fontes ideais dependentes lineares.

• Se o circuito I tiver fontes ideais dependentes lineares, as tensões e correntes que controlam
essas fontes pertencem todas ao circuito I.

• Se o circuito II tiver fontes ideais dependentes lineares, as tensões e correntes que controlam
essas fontes pertencem todas ao circuito II.

Circuito I Circuito II

Nestas circunstâncias, todas as tensões e correntes que existem no


circuito II continuam a ser as mesmas se o circuito I for
substituído pelo seu Equivalente de Thévenin.

RTH

ETH
Circuito II

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Análise de Circuitos 31

16.1 Determinação de ETH

Se os dois condutores ideais que ligam o circuito I ao circuito II forem cortados, no circuito I
formam-se dois terminais, A e B.

ETH é a tensão de circuito aberto (Uca) existente entre A e B, ou seja, a tensão que existe entre
A e B se nenhum componente exterior ao circuito I for ligado entre esses terminais.

RTH
A A
ETH
Circuito I Uca Uca

B B

E TH = U ca E TH = U ca

16.2 Determinação de RTH com o circuito desactivado, por análise de associações


de resistências

Este método não se pode aplicar quando o circuito possui fontes ideais dependentes.

RTH
A A
Circuito I
Todas as fontes ideais
independentes desactivadas

Sem fontes ideais


dependentes B B

R TH = R AB R TH = R AB

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32 Análise de Circuitos

16.3 Determinação de RTH sem desactivação do circuito

Icc RTH Icc


A A
ETH
Circuito I
E TH ≠ 0
B B

E TH E TH
R TH = R TH =
I cc I cc

16.4 Determinação de RTH quando ETH é nulo, sem análise de associações de


resistências

Quando ETH = 0, não é possível calcular RTH recorrendo à corrente de curto-circuito, uma vez
que esta também é nula.

Icc = 0 RTH Icc = 0


A A

Circuito I ETH = 0
E TH = 0
B B

I cc = 0 I cc = 0

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Análise de Circuitos 33

16.4.1 Recurso a uma fonte ideal de corrente

RTH
A A

Circuito I I U ETH = 0 I U
E TH = 0
B B

U U
R TH = R TH =
I I

16.4.2 Recurso a uma fonte ideal de tensão

RTH
A I A I
E E
Circuito I ETH = 0
E TH = 0
B B

E E
R TH = R TH =
I I

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34 Análise de Circuitos

Exercício: Recorrendo ao Teorema de Thévenin, determinar o valor da tensão presente nos terminais
da resistência de 2Ω.

5Ω

10V
5Ω 2Ω

Tópicos de Resolução:

1. Retirar a resistência de 2Ω.

5Ω

10V
5Ω 2Ω

5Ω
A

10V
5Ω 2Ω

2. Calcular ETH.

5Ω
A

10V
5Ω ETH = 5V 2Ω

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Análise de Circuitos 35

3. Calcular RTH.

5Ω
A

5Ω RTH = RAB = 2,5Ω 2Ω

4. Ligar a resistência de 2Ω ao circuito equivalente e calcular U.

2,5Ω
A

5V
2Ω

2,5Ω
A

5V
2Ω U = 2,22V

2
U= × 5 = 2,22V
2,5 + 2

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34 Análise de Circuitos

Exercício: Recorrendo ao Teorema de Thévenin, determinar o valor da tensão presente nos terminais
da resistência de 2Ω.

5Ω

10V
5Ω 2Ω

Tópicos de Resolução:

1. Retirar a resistência de 2Ω.

5Ω

10V
5Ω 2Ω

5Ω
A

10V
5Ω 2Ω

2. Calcular ETH.

5Ω
A

10V
5Ω ETH = 5V 2Ω

5
E TH = × 10 = 5V
5+5

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Análise de Circuitos 35

3. Calcular RTH.

5Ω
A

5Ω RTH = RAB = 2,5Ω 2Ω

5×5
R AB = = 2,5Ω
5+5

4. Ligar a resistência de 2Ω ao circuito equivalente e calcular U.

2,5Ω
A

5V
2Ω

2,5Ω
A

5V
2Ω U = 2,22V

2
U= × 5 = 2,22V
2,5 + 2

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