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Volume 28 número 3 ISSN 0102-0536

Julho - Setembro 2010

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE HORTICULTURA Editores Científicos / Scientific Editors


The Brazilian Association for Horticultural Science Ana Cristina PP de Carvalho
IAC - Centro de Horticultura Embrapa Agroindústria Tropical
C. Postal 28, 13012-970 Campinas – SP Ana Maria MP de Camargo
Tel./Fax: (0xx19) 3202 1725 IEA - São Paulo
E-mail: abh@iac.sp.gov.br André Luiz Lourenção
Site: www.abhorticultura.com.br IAC - Campinas
Presidente/President Antônio Evaldo Klar
Paulo César T de Melo UNESP - Botucatu
USP-ESALQ - Piracicaba Arthur B Cecilio Filho
Vice-Presidente/Vice-President UNESP - Jaboticabal
Dimas Menezes Carlos Alberto Lopes
UFRPE - Recife Embrapa Hortaliças
1º Secretário / 1st Secretary Daniel J Cantliffe
Valéria Aparecida Modolo University of Florida
IAC - Campinas Derly José H da Silva
2º Secretário / 2nd Secretary
Eunice O Calvete UFV - Viçosa
UPF-FAMV - Passo Fundo Francisco Antônio Passos
1º Tesoureiro / 1st Treasurer IAC - Campinas
Sebastião Wilson Tivelli Itamar R Teixeira
IAC - Campinas UEG - Anápolis
2º Tesoureiro / 2nd Treasurer José Fernando Durigan
João Bosco C da Silva UNESP - Jaboticabal
José Magno Q Luz
COMISSÃO EDITORIAL DA HORTICULTURA UFU - Uberlândia
BRASILEIRA Juliano Tadeu V de Resende
UNICENTRO - Guarapuava
Editorial Committee Luiz Henrique Bassoi
C. Postal 190, 70351-970 Brasília – DF Embrapa Semi-Árido
Tel.: (0xx61) 3385 9088 / 3385 9000 Maria de Fátima A Blank
Fax: (0xx61) 3556 5744 UFS - DEA
E-mail: hortbras@cnph.embrapa.br Maria do Carmo Vieira
Presidente / President UFGD - Dourados
Paulo Eduardo de Melo Marinice O Cardoso
Embrapa Estudos Estratégicos e Capacitação Embrapa Amazonia Ocidental
Editor Assistente / Assistant Editor Mônica S de Camargo
Mirtes F Lima IAC - APTA - Piracicaba
Embrapa Hortaliças Paulo César T de Melo
Coordenação Executiva e Editorial / Executive and USP-ESALQ
Editorial Coordination Renato Fernando Amabile
Sieglinde Brune Embrapa Cerrados
Editores Associados / Associated Editors Roberval D Vieira
Antonio T Amaral Júnior UNESP - Jaboticabal
UENF - Campo dos Goytacazes Rogério L Vieites
Arminda M de Carvalho UNESP - Botucatu
Embrapa Cerrados Rosana Rodrigues
Gilmar Paulo Henz
Embrapa Hortaliças UENF - Campos dos Goytacazes
Francisco Bezerra Neto Vagner Augusto Benedito
UFERSA - Mossoró Samuel Roberts Noble Foundation - USA
Paulo E Trani Valter R Oliveira
IAC - Campinas Embrapa Hortaliças
Ronessa B de Souza Wagner F da Mota
Embrapa Hortaliças UNIMONTES - Janaúba
Sebastião Wilson Tivelli Waldemar P Camargo Filho
IAC - APTA - São Roque IEA - São Paulo

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul. - set. 2010 253


A revista Horticultura Brasileira é indexada pelo AGRIS/FAO, AGROBASE,
CAB, JOURNAL CITATION REPORTS, SciSearch® e TROPAG
Scientific Eletronic Library Online: http://www.scielo.br/hb
www.abhorticultura.com.br

Programa de apoio a publicações científicas

Horticultura Brasileira, v. 1 n.1, 1983 - Brasília, Sociedade de Olericultura do Brasil, 1983

Trimestral

Títulos anteriores: V. 1-3, 1961-1963, Olericultura.


V. 4-18, 1964-1981, Revista de Olericultura.

Não foram publicados os v. 5, 1965; 7-9, 1967-1969.

Periodicidade até 1981: Anual.


Editoração e arte/Composition de 1982 a 1998: Semestral
João Bosco Carvalho da Silva de 1999 a 2001: Quadrimestral
a partir de 2002: Trimestral
Revisão de inglês/English revision A partir de 2005: Sociedade de Olericultura do Brasil denomina-se Associação Brasileira de
Carlos Francisco Ragassi Horticultura
ISSN 0102-0536
Revisão de espanhol/Spanish revision
Marcio de Lima e Moura 1. Horticultura - Periódicos. 2. Olericultura - Periódicos. I. Associação Brasileira de
Tiragem/printing copies Horticultura.
1.000 exemplares CDD 635.05

254 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul. - set. 2010


Volume 28 número 3
Julho - Setembro 2010

ISSN 0102-0536

SUMÁRIO / CONTENT
* Artigos em inglês com resumo em português
* Articles in English with an abstract in Portuguese
CARTA DO EDITOR / EDITOR'S LETTER
257

CARTA AO EDITOR / LETTER TO EDITOR


259

ARTIGO CONVIDADO / INVITED ARTICLE


Desafios enfrentados por agricultores familiares na produção de morango no Distrito Federal
Challenges faced by smallholders in strawberry production in the Federal District, Brazil
GP Henz 260
PESQUISA / RESEARCH
Doses de nitrogênio e molibdênio no rendimento e teor de micronutrientes em alface americana
Doses of nitrogen and molybdenum effects on yield and micronutrient content of crisphead lettuce plants
GM Resende; MAR Alvarenga; JE Yuri; RJ Souza 266
Relações fonte:dreno e crescimento vegetativo do meloeiro
Effect of source:sink ratios and vegetative melon growth
TS Duarte; RMN Peil 271
* Produção da batata-doce adubada com esterco bovino e biofertilizante
*Yield of sweet potato fertilized with cattle manure and biofertilizer
AP Oliveira; JF Santos; LF Cavalcante; WE Pereira; MCCA Santos; ANP Oliveira; NV Silva 277
Aproveitamento dos resíduos da produção de conserva de palmito como substrato para plantas
Reutilization of wastes from the production of palm heart canning as substrates for plants
MH Fermino; RS Gonçalves; A Battistin; JRP Silveira; AC Busnello; M Trevisam 282
Influência de doses de potássio nos teores de macronutrientes em plantas e sementes de alface
Macronutrient content in lettuce affected by potassium side dressing
C Kano; AII Cardoso; RL Villas Bôas 287
Produtividade e qualidade de tomates Santa Cruz e Italiano em função do raleio de frutos
Yield and fruit quality of Santa Cruz and Italian tomatoes depending on fruit thinning
FH Shirahige; AMT Melo; LFV Purquerio; CRL Carvalho; PCT Melo 292
Qualidade físico-química e de fritura de tubérculos de cultivares de batata na safra de inverno
Physicochemical and frying quality of potato cultivars in winter season
AM Fernandes; RP Soratto; RM Evangelista; I Nardin 299
Comportamento fenotípico e genotípico de populações de manjericão
Phenotypic and genotypic behavior of basil populations
AF Blank; EM Souza; JWA Paula; PB Alves 305
Efeito de diferentes temperaturas na qualidade de mandioquinha-salsa minimamente processada
Effect of different temperatures on the quality of fresh-cut Peruvian carrot
EE Nunes; EVB Vilas Boas; RH Piccoli; ALRP Xisto; BM Vilas Boas 311
Desempenho de cultivares de alface em cultivo hidropônico sob dois níveis de condutividade elétrica
Evaluation of two electric conductivity levels on the hidroponic cultivation of lettuce
AG Magalhães; D Menezes; LV Resende; E Bezerra Neto 316
Desenvolvimento e produção de genótipos de couve manteiga
Development and yield of kale genotypes
MCSS Novo; A Prela-Pantano; PE Trani; SF Blat 321

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul. - set. 2010 255


*Análise econômica de consórcios de alface e tomate estabelecidos em diferentes épocas em ambiente protegido
*Economic analysis of the intercropping of lettuce and tomato in different seasons under protected cultivation
AB Cecílio Filho; BLA Rezende; CC Costa 326
Capacidade combinatória e heterose de linhagens de pepino do grupo japonês para caracteres de produção
Combining ability and heterosis of lines from Japanese cucumber type for yield
JG Lalla; VA Laura; S Seabra Júnior; AI I Cardoso 337

COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA / SCIENTIFIC COMMUNICATION


Produção do maxixeiro em função de espaçamentos entre fileiras e entre plantas
Gherkin yield influenced by spacing between rows and between plants in a row
AP Oliveira; JA Silva; ANP Oliveira; DF Silva; RR Santos; NV Silva 344
Cama-de-frango em mono e policultivo de fáfia com cravo-de-defunto e manjericão
Poultry manure in mono and intercrop of Brazilian ginseng with marigold and basil
VC Barboza; MC Vieira; NA Heredia Zárate; VH Padovezzi; MJG Santos 348
Características agronômicas de cultivares de alho em Diamantina
Agronomic characteristics of garlic cultivars in Diamantina, Brazil
FL Oliveira; H Doria; RB Teodoro; FV Resende 355

PÁGINA DO HORTICULTOR / GROWER'S PAGE


Competição de cultivares de brócolos tipo cabeça única em Campo Grande
Single-head broccoli cultivars evaluation in Campo Grande, Brazil
JG Lalla; VA Laura; APDC Rodrigues; S Seabra Júnior; DS Silveira; VH Zago; MF Dornas 360
Sistema auxiliar de bombeamento de solução nutritiva em cultivos hidropônicos de hortaliças
Auxiliary pumping of nutrient solution for hydroponic culture of vegetables
JBC Silva; CAN Machado; JG Monteiro 364
Adubação orgânica e cobertura do solo no crescimento e produção de camapu
Plant growth and production of husk tomato depending on organic fertilization and mulching
N Peixoto; FC Peixoto; UL Vaz; SCM Neri; JG Monteiro 370
Aplicação foliar de fertilizantes organominerais em cultura de alface
Foliar application of organic mineral fertilizer in lettuce
JMQ Luz; G Oliveira; AA Queiroz; R Carreon 373

Nova cultivar / new cultivar


Laeliocattleya ‘Brazilian Girl Rosa’: cultivar de orquídea para cultivo em vaso
Laeliocattleya ‘Brazilian Girl Rosa’: orchid cultivar for pot growth
JC Cardoso 378

Artigo da capa - Novo paradigma da ciência agronômica: manutenção da agrobiodiversidade sem impedir o crescimento da
produção agrícola

As normas para publicação estão disponíveis em: www.scielo.org e www.abhorticultura.com.br

256 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul. - set. 2010


Carta do editor

Prezados,

Horticultura Brasileira alcança vocês novamente. Seguimos prestigiando o Ano Internacional da Biodiversidade em nossas
capas. Neste número, nosso prezado Editor Associado, Prof. Antonio Teixeira do Amaral Júnior, comenta sobre a importância
da conservação de germoplasma e, em conseqüência, da biodiversidade. A ilustração da capa, por sua vez, vem da pesquisadora
Rosa Lia Barbieri, que, entre outras atribuições, tem trabalhado com afinco no tema.
Temos motivos para celebrar, e celebrar muito. Após dois anos de indexação internacional, estamos conhecendo o nosso
primeiro Fator de Impacto no Journal of Citation Reports: 0,312. Embora módico, é um valor significativo se considerarmos
que (1) é o nosso primeiro índice e (2) temos uma proporção muito alta do nosso conteúdo escrita em português e, portanto,
de acesso restrito. É um valor superior ao que esperávamos e, com certeza, nos indica que a linha editorial escolhida para
Horticultura Brasileira, baseada em relevância científica, transparência e responsabilidade editorial, está correta. Ao mesmo
tempo, nos indica que ainda há um longo caminho a percorrer. Convido a todos a empreendermos juntos a jornada.
Ainda tratando do Fator de Impacto, tivemos várias consultas a respeito de um dos itens que mencionamos na Carta do
Editor publicada no número anterior. Por isso, gostaria de reforçar que, de fato, “as citações de uma revista feitas nesta mesma
revista são sim consideradas para o cálculo do Fator de Impacto. Em outras palavras, se um trabalho publicado em Horticultura
Brasileira citar outro(s) trabalho(s) publicado(s) na própria revista, então este trabalho estará contribuindo para elevar o Fator
de Impacto de Horticultura Brasileira”.
Por fim, gostaria de afirmar que Horticultura Brasileira não comenta, sob hipótese alguma, críticas anônimas. As críticas
legítimas, por outro lado, são necessárias, muito bem vindas e vistas por nós, sempre, como uma contribuição preciosa à
revista.

Até o próximo número,

Paulo Melo, editor-chefe

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 257


Editor's letter

Dearest,

Horticultura Brasileira is here again. Our cover is once more committed to the International Year of Biodiversity. In this
issue, our dear Associate Editor, Prof. Antonio Amaral Júnior, comments on the importance of the conservation of germplasm,
and thus, of biodiversity. The image on the cover comes from Dr. Rosa Lia Barbieri, who, among several other responsibilities,
has been working hard on the theme.
We have reasons to celebrate. And to celebrate a lot! After two years of international indexing, we finally knew our first
Impact Factor at the Journal of Citation Reports: 0.312. Although moderate, it is significant when we consider that (1) it is our
very first figure and (2) a high ratio of our articles are written in Portuguese and therefore not fully available to everybody.
The Impact Factor is above our expectations, which surely indicates that the editorial policy we adopted, based on scientific
relevance, transparency and editorial responsibility, is correct. At the same time, the Impact Factor indicates that there is still
a long way to go. Join us in this journey!
Still talking about the Impact Factor, we received some messages asking about a statement we made at the Editor´s Letter
published at the previous issue. Hence, I would like to reinforce that indeed "citations from a journal in the same journal do
count for the impact factor. In other words, when a paper published in Horticultura Brasileira cites other(s) paper(s) published
in Horticultura Brasileira, then the paper is contributing to increase Horticultura Brasileira´s Impact Factor".
Finally, I would like to affirm that Horticultura Brasileira, under no circumstances, makes any comments about anonymous
criticism. On the other hand, true criticism is necessary, very welcome and received always as a precious contribution to the
journal.

See you in our next issue,

Paulo Melo, editor-in-chief

258 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Carta ao editor / Letter to the editor

Réplica às críticas feitas ao artigo de capa de Horticultura Brasileira v. 28, n. 2.

Prezado Sr. Editor Chefe,

Gostaria de ocupar este espaço para esclarecer aos leitores que as críticas feitas ao artigo de minha autoria, publicado capa
de Horticultura Brasileira, v. 28, n. 2 e intitulado “Plantas úteis nativas do Brasil na obra dos naturalistas”, enviadas ao
portal da Associação Brasileira de Horticultura (ABH) e também postadas em um grupo de discussão eletrônico de estudantes
da UFMG, não têm qualquer fundamento. Para tanto, ressalto os seguintes pontos:

(a) As críticas são anônimas e, como tal, não merecem crédito. O nome que as assina inexiste nos bancos de dados mais
comuns à comunidade científica. Tampouco foi encontrado em pesquisas mais amplas. É importante mencionar
ainda que o e-mail de correspondência informado pelo(a) autor(a) anônimo(a) ao portal da ABH não é real e que o
grupo de discussão dos estudantes da UFMG em que as críticas foram postadas foi retirado do ar. Portanto, não há
como responder diretamente ao(à) autor(a);
(b) Todas as informações taxonômicas incluídas no referido artigo de capa, assim como todas as demais informações
históricas e de nomenclatura botânica que divulgamos em nosso trabalho, são revisadas por uma botânica taxonomista
exclusiva do nosso grupo;
(c) Ao contrário do que o(a) autor(a) anônimo(a) afirma, o território de Minas Gerais nunca foi totalmente coberto por
florestas, exceto pela sua região leste. O restante do território mineiro é (ou foi) coberto por cerrados e caatingas;
(d) Somente os diários de viagem de Auguste de Saint-Hilaire encontram-se traduzidos e disponíveis na internet. Coube
a nós a honra de traduzir os demais textos e livros, especialmente aqueles relacionados às plantas medicinais.
Desconheço a razão das palavras grosseiras, descorteses e ofensivas utilizadas pelo(a) autor(a) anônimo(a), completamente
inadequadas ao meio científico em que todos atuamos e onde buscamos, sem cessar, a ética, o rigor científico e o respeito aos
colegas, não só àqueles com quem concordamos, mas, da mesma forma, àqueles de quem divergimos. É uma infelicidade
constatar que nem todos se pautam pelos mesmos princípios.
Para o nosso grupo foi uma honra ilustrar e comentar a capa de Horticultura Brasileira, v. 28, n. 2. Permanecemos ao dispor
da revista e da ABH para novas atividades e outros trabalhos.

Atenciosamente,

Profa.Maria das Graças Lins Brandão


Faculdade de Farmácia e Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG
Av. Gustavo da Silveira, 1035
30180-010 Belo Horizonte-MG
mbrandao@ufmg.br

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.-set. 2010 259


Artigo convidado / Invited article
HENZ GP. 2010. Desafios enfrentados por agricultores familiares na produção de morango no Distrito Federal. Horticultura Brasileira 28: 260-265.

Desafios enfrentados por agricultores familiares na produção de


morango no Distrito Federal
Gilmar P Henz
Embaixada do Brasil, Suíte 91, Private Bag X1, Menlo Park, 0102, Pretória, África do Sul; gilmar.henz@agricultura.gov.br

RESUMO ABSTRACT
Neste artigo são relatados, a partir de um levantamento realizado Challenges faced by smallholders in strawberry production
em 2009, as dificuldades e os desafios enfrentados por agricultores in the Federal District, Brazil
familiares na produção de morango no Distrito Federal (DF), assim In this article, I had highlighted the results of a survey carried out
como são discutidas algumas alternativas para mitigar os problemas. in 2009 on the situation and difficulties faced by strawberry growers,
As principais dificuldades relatadas pelos produtores foram, por or- characterized as smallholders, in the Federal District (DF), Brazil.
dem de importância: (1) incidência de pragas e doenças; (2) aquisição In addition, I discuss some alternatives to mitigate these problems.
de mudas; (3) custo de embalagens; (4) necessidade de mão-de-obra; The most cited challenges identified by smallholders were, in order
e (5) custos de produção elevados. Considerando-se estes resultados, of importance: (1) incidence of pests and diseases; (2) strawberry
algumas possíveis alternativas para aprimorar a produção de morango plantlet acquisition; (3) packing costs; (4) need of intensive labor;
do DF são: (a) produção local de mudas com qualidade sanitária e and (5) high production costs. Based on these information, some
custo adequado, para minimizar a dependência de material propagati- possible measures to improve the social and economic status of the
vo de outros estados; (b) melhor uso da concentração de instituições smallholders involved in the strawberry production in DF are: (a)
públicas e privadas de ensino superior, pesquisa e desenvolvimento e local production of plantlets, with sanitary quality and affordable
extensão rural presentes na região para buscar informações técnicas costs, to reduce the dependence on other Brazilian States; (b) a more
e apoio para o sistema de produção; (c) buscar uma forma de asso- intensive use of the several public and private universities, science and
ciativismo para ganhar escala de produção, ter acesso a mercados technology institutions and rural extension services available in DF
diferenciados e aumentar o peso político das demandas do setor; (d) to support the sector; (c) creation of an association or cooperative to
aprimorar o manuseio pós-colheita do morango, adotando embalagens scale up production, access distinct market niches and strengthen the
mais adequadas e refrigeração; (e) implementar ferramentas modernas political influence of the sector; (d) improve the postharvest handling
de rastreabilidade do morango, para aumentar o valor agregado do system by adopting modern packing materials and refrigeration; (e)
produto e ter acesso a mercados mais exigentes; (f) adotar as práticas adopt modern traceability tools, so as to increase the local strawberry
da “Produção Integrada do Morango (PIMo)”, lançadas pelo MAPA added value and, therefore, access more demanding markets; (f)
em 2006, e ingressar oficialmente no programa para obter um produto implement and join the “Strawberry Integrated Production Program
certificado, com alto padrão de qualidade; (g) realizar um estudo de (PIMo)”, officially launched by the Brazilian Ministry of Agriculture,
mercado sobre o consumo de morango no DF e suas tendências para Livestock and Food Supply in 2006; (g) survey the local strawberry
atender melhor os distintos segmentos de consumo e traçar estratégias market and consumer demands to develop a strategic marketing plan
de marketing para o morango candango. A pressão cada vez maior to serve the distinct market segments. The increasing consumers’
dos consumidores por produtos de qualidade, isentos de agrotóxi- demand for fruit quality and certified and residue free products will
cos e com certificação, seguramente tornará o sistema produtivo de surely push the strawberry production system in DF into a scenario
morango do DF mais eficiente e seletivo. of efficiency and excellence.

Palavras-chave: morango (Fragaria x ananassa), pequenos produ- Keywords: Strawberry (Fragaria x ananassa), smallholders, pro-
tores, custos de produção, mercado. duction costs, market.

(Recebido para publicação em 2 de fevereiro de 2010; aceito em 31 de agosto de 2010)


(Received on February 2, 2010; accepted on August 31, 2010)

O cultivo do morangueiro já pode


ser considerado como tradicional
e consolidado no Distrito Federal. O
tores iniciaram o cultivo de hortaliças e
frutas no Distrito Federal para abastecer
o mercado local, até então dependente
nistrativa de Brazlândia, atualmente o
principal pólo produtor de morango do
Distrito Federal, além de outras hortali-
morangueiro foi primeiramente intro- da importação de outros estados. Muitos ças e frutas (Lopes et al., 2005).
duzido e cultivado de forma empírica foram assentados pelo Instituto Nacio- A partir do início da década de 1990,
pelos agricultores de origem japonesa nal de Colonização e Reforma Agrária o cultivo do morangueiro no Distrito
vindos da região de Atibaia, São Paulo, (INCRA), a partir de 1970, no “Projeto Federal seguiu acompanhando a evolu-
até hoje o principal pólo de produção de Integrado de Colonização Alexandre ção tecnológica das regiões produtoras
morango naquele estado. Estes agricul- Gusmão (PICAG)”, na região admi- do sul de Minas Gerais e São Paulo,
260 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010
Desafios enfrentados por agricultores familiares na produção de morango no Distrito Federal

as principais do Brasil. A partir desta Maranhão e Piauí (Festa do Morango de a incidência de ácaros é um problema
época, foi reconhecido o potencial Brasília, 2010). bem conhecido na região, tanto que a
econômico do cultivo de morango no Dificuldades enfrentadas pelos irrigação por gotejamento é complemen-
DF. A introdução de novas cultivares e produtores de morango do Distrito tada com pelo menos duas aplicações
outras técnicas de cultivo possibilitaram Federal semanais de água por aspersão para
um salto de produção e qualidade que As informações sobre as dificulda- “lavar” as plantas e reduzir a população
tornaram o morango uma alternativa des e desafios enfrentados pelos produ- de ácaros. Um levantamento sistemático
econômica atraente para os produtores tores de morangueiro do Distrito Federal das doenças e pragas que ocorrem na
rurais do Distrito Federal, não obstante foram obtidas a partir de um trabalho de região na atualidade pode resultar em
o custo de produção (Lopes et al., 2005). conclusão de curso em agronomia reali- economia na aplicação de vários fun-
Além disto, o cultivo do morangueiro zado no período de junho a outubro de gicidas e inseticidas ou pelo menos no
tem um grande papel social para o 2009 (Araújo & Pereira, 2009), em que número das aplicações.
Distrito Federal pela elevada demanda os próprios produtores do Distrito Fede- Aquisição das mudas
de mão-de-obra, que representa parte ral, por meio de entrevistas presenciais O processo de obtenção de mudas é
significativa do custo total da cultura e e aplicação de questionários, indicaram uma das etapas críticas para o sucesso do
contribui para a geração de emprego e suas preocupações. As principais dificul- cultivo do morangueiro porque envolve
renda (Lopes et al., 2005). dades relatadas pelos produtores foram, decisões gerenciais relevantes, como
A cultura do morango adaptou-se por ordem de importância (Figura 1): a qualidade do material propagativo,
muito bem à altitude do Distrito Federal, incidência de pragas e doenças (28%), o preço unitário, a disponibilidade e a
em torno de 1.000 metros, e às condi- aquisição de mudas (24%), custo de escolha das cultivares. De acordo com a
ções climáticas do Planalto Central, em embalagens (24%), necessidade de mão- estimativa do custo de produção de um
que ocorrem temperaturas mais altas no de-obra (19%) e custos de produção hectare de morango no Distrito Federal,
verão, boas para a produção de mudas, elevados (5%). a aquisição de mudas corresponde a 20%
seguido de um inverno ameno e seco, A seguir serão discutidas com mais do custo total (EMATER-DF, 2008). Os
que favorece a floração, frutificação e profundidade algumas destas dificulda- produtores de morango do Distrito Fe-
qualidade dos frutos. Estas condições des, as possíveis causas de sua lembran- deral têm grande dependência de alguns
edafoclimáticas diferem significativa- ça e citação pelos agricultores familiares poucos fornecedores locais, que por sua
mente das demais regiões brasileiras e a indicação de algumas soluções. vez, adquirem as mudas de revendedores
produtoras de morango, como o sul de Incidência de pragas e doenças do sul de Minas Gerais e São Paulo ou,
Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo Assim como outras plantas oleríco- ainda, de uma empresa do Rio Grande
e Rio Grande do Sul, especialmente em las, o morangueiro é muito suscetível do Sul, que importa mudas da Argentina
relação à umidade relativa e precipitação a doenças e pragas, várias delas de e do Chile. As mudas são transportadas
no período de produção. difícil diagnóstico e controle, e que por caminhão, geralmente sem refrigera-
A “Associação Rural e Cultural Ale- podem causar grandes perdas, mesmo ção e, nesta condição, podem apresentar
xandre Gusmão (ARCAG)” e a EMA- considerando-se o ciclo de produção problemas fisiológicos significativos
TER-DF promovem anualmente, entre relativamente curto. Por esta razão, é posteriormente. O “vermelhão”, pro-
o final de agosto e o início de setembro, compreensível a grande preocupação blema detectado no Distrito Federal em
a “Festa do Morango de Brasília” e a demonstrada pelos agricultores familia- 2009, aparentemente se enquadra nesta
“Exposição Agrícola de Brasília”, dois res do Distrito Federal com a incidência situação, uma vez que nenhum patógeno
eventos paralelos que movimentam a de pragas e doenças. De um modo geral, ou agente causal associado às plantas
região e valorizam seus principais pro- os produtores de hortaliças utilizam foi identificado até o momento (Henz
dutos. Neste ano (2010), foi realizada preventivamente vários agrotóxicos e & Reis, 2009).
a 15a edição da Festa do Morango de o cultivo de morango não foge a esta A equipe técnica da INCAPER
Brasília, com bons motivos para celebrar realidade, como pode ser comprovado lançou em 2004 a publicação “Mudas
a cultura na região. O ano apresentou pela participação deste item no custo de Morangueiro - Tecnologias para
uma excelente safra, estimada em 5 mil de produção do morango nas diferentes a Produção em Viveiro” (Balbino
t. A produtividade, 40 t ha-1, é 25% su- regiões brasileiras. et al., 2004), um conjunto completo
perior em relação ao ano anterior devido No Distrito Federal, já foram cons- de informações sobre a produção de
às temperaturas mais baixas em 2010, tatadas várias das principais doenças do mudas de morangueiro em viveiros,
que retardaram o início da safra, mas morangueiro (Furlanetto et al., 1996). complementada por outra publicação
melhoraram a produção e a qualidade Entretanto, é muito interessante esta sobre o sistema de produção no esta-
dos frutos (Costa & Queiroz, 2010). Em preocupação com doenças e pragas do (Balbino, 2006). A produção local
2010, 120 produtores cultivaram 70 ha porque as condições climáticas preva- de mudas de alta qualidade genética,
de morango na região de Brazlândia, lentes no período de cultivo no Planalto fisiológica e fitossanitária e com preço
utilizando cerca de 5 milhões de mudas. Central são desfavoráveis à maior parte acessível pode resolver ou atenuar este
Parte da produção local é exportada para dos agentes causais de doenças, princi- problema e a grande dependência do
outros estados, como Goiás, Tocantins, palmente fungos e bactérias. Entretanto, Distrito Federal em relação à importação

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 261


GP Henz

de mudas de outros estados. Além disto, priedades, as mulheres se encarregam necessitam de uma atenção especial para
é interessante estudar o comportamento da colheita, seleção e classificação dos que a atividade seja sustentável a médio
das diferentes cultivares de morangueiro frutos e embalagem. Mesmo pagando prazo e torne-se competitiva com outras
disponíveis no mercado nas condições salários relativamente altos, está difícil regiões produtoras.
de cultivo do DF, principalmente para o a contratação de mão-de-obra para a Aquisição de mudas
cultivo em túnel baixo. cultura do morango no Distrito Federal É indiscutível a importância da
Custo de embalagens pelo fato de haver maior oferta de em- qualidade e custo das mudas de moran-
No Distrito Federal, praticamente pregos regulares na região em outros gueiro para os produtores do Distrito
toda a produção local é comercializada setores, como serviços, e também pela Federal. Até o momento, este é um dos
em recipientes de material PET (‘cum- sazonalidade da demanda para a cultura principais entraves técnicos para a me-
bucas’), com peso médio de 250 g, acon- do morango. lhoria da produção local, principalmente
dicionados em embalagens de papelão Custo de produção porque o fornecimento das mudas está
que comportam até quatro unidades. De acordo com a EMATER-DF concentrado em poucos fornecedores,
Nenhuma destas embalagens é retor- (2008), o custo de produção de morango o que pode representar um risco para o
nável, o que acaba gerando um custo em um hectare, para uma produtividade atendimento de todos os pedidos, por
adicional razoável já que é necessário de 24 t ha-1, era R$ 51.502,53, estimado exemplo, no caso de expansão da área
fazer o descarte nos pontos de venda com preços de abril de 2008. Esta produ- cultivada. Outros riscos estão associados
do varejo. As equipes dos escritórios tividade equivalia a 20.000 caixas de 1,2 ao perigo potencial de introdução de no-
locais da EMATER-DF de Brazlândia kg, com os custos de produção corres- vas pragas e doenças por meio de mudas
e Alexandre Gusmão estão avaliando pondendo a R$ 31.132,53 de insumos e produzidas sem fiscalização adequada,
junto aos produtores a possibilidade de R$ 20.470,00 de serviços. A distribuição como ocorreu com a doença “flor preta”
trocar as embalagens de papelão por percentual aproximada destes custos, causada por Colletotrichum acutatum no
outras feitas de plástico, retornáveis e agrupada por itens de dispêndio, é a DF na década de 1990 (Henz & Reifsch-
mais duráveis, o que alteraria a com- seguinte: serviços/mão-de-obra (40%), neider, 1990; Henz et al., 1992).
posição de custos e também a logística mudas (20%), embalagens (18%), adu- As mudas comercializadas no DF
de distribuição e comercialização. Esta bos/corretivos (14%), plásticos para em geral são produzidas no sul de Minas
mudança pode ter maior impacto para “mulching” (5%), agrotóxicos (3%). Em Gerais e São Paulo, com a multiplica-
pequenos produtores que, em geral, tam- Minas Gerais, os custos operacionais de ção a campo, de forma convencional.
bém se responsabilizam pelas vendas. um hectare de morango são distribuídos No Distrito Federal, também existe a
Ao mesmo, seria interessante avaliar da seguinte maneira: embalagens (43%); oferta de mudas de empresas de São
outras embalagens, como diferentes mecanização/mão-de-obra (16%); mu- Paulo e do Rio Grande do Sul, que
formatos de recipientes PET, com pesos das (14,5%); fertilizantes e corretivos de multiplicam cultivares estrangeiras por
e tamanhos diferenciados, oferecendo solo (14%); agrotóxicos (10%) e 2,5% meio de cultura de tecidos a partir de
mais opções aos consumidores. para outros custos (Carvalho, 2005). plantas-matrizes importadas do Chile e
Necessidade de mão-de-obra Alguns itens do custo de produção da da Argentina, com qualidade sanitária e
Outro aspecto marcante da cultura cultura do morangueiro, como mudas integridade genética. O principal entrave
do morango é a grande necessidade de e embalagens, por exemplo, diferem para a popularização destas mudas no
mão-de-obra para os tratos culturais, es- sobremaneira do custo de produção de Distrito Federal é o seu custo unitário
pecialmente nas etapas de instalação da outras hortaliças. Por esta razão, um es- muito elevado quando comparado ao das
cultura e de colheita. O custo estimado tudo mais detalhado da composição dos mudas tradicionais. Esta é uma grande
da execução de serviços e de mão-de- custos das cultura é necessário para pro- dificuldade para os agricultores fami-
obra no Distrito Federal é de 40% do por modificações e avaliar seu impacto liares que não podem arcar com custos
custo total (EMATER-DF, 2008). No na rentabilidade da atividade. de produção elevados por conta dos
Espírito Santo, o cultivo de moranguei- Desafios para a produção de mo- riscos intrínsecos à cultura. Por questões
ro demanda um grande contingente de rango no Distrito Federal estratégicas, a produção local de mudas
mão-de-obra, estimada em 15 pessoas Atualmente, a produção de moran- por uma ou mais empresas ou produtores
ha ano-1, apenas nas operações de pro- go no Distrito Federal é uma importante especializados deve ser incentivada,
dução, colheita e manuseio pós-colheita, atividade para agricultores familiares principalmente para atender uma parte
alcançando o número de 2.400 pessoas principalmente por causa da alta pro- da demanda, estimada em cinco milhões
(Balbino et al., 2004; Balbino, 2006). dutividade e do emprego intensivo de mudas em 2010.
No caso do Distrito Federal, é comum de mão-de-obra, gerando emprego e Orientação técnica
ter vários membros da família trabalhan- renda. Como já descrito anteriormente, É preocupante o comportamento de
do nas distintas etapas de produção de a cultura é bem adaptada às condições grande parte dos produtores familiares
morango, além da contratação de um de solo e clima do DF, além de já existir de morango do Distrito Federal em
ou mais trabalhadores temporários no uma tradição de seu cultivo na região. relação à orientação técnica. Brasília
período de produção. De uma maneira Entretanto, existem vários aspectos da e região têm um grande número de
geral, em um grande número de pro- cadeia produtiva de morango local que instituições que podem auxiliar os

262 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Desafios enfrentados por agricultores familiares na produção de morango no Distrito Federal

produtores, como a EMATER-DF, a o progresso coletivo dos produtores maior poder na comercialização, hoje
Secretaria de Agricultura do Distrito familiares de morango do Distrito Fe- pulverizada por vários pequenos pro-
Federal, as unidades da Embrapa (Hor- deral. É interessante perceber que, na dutores ou concentrada em um grande
taliças, Cerrados, Recursos Genéticos e região dos Núcleos Rurais de Pipiripau produtor. A falta de uma associação ou
Biotecnologia), universidades públicas e Taquara, distante 60 km da cidade cooperativa tem impedido o progresso
e privadas (Universidade de Brasília, de Brasília, mas ainda no DF, existe coletivo e a evolução da produção de
Universidade Católica de Brasília, Fa- um ótimo exemplo nesta área. Uma morango na região, ao mesmo tempo
culdades da Terra de Brasília, UPIS), pequena associação de produtores de que dificulta a exportação do produto
ministérios (Agricultura, Pecuária e hortaliças, criada em 1997 com o apoio para outras regiões, como o Nordeste e
Abastecimento; Desenvolvimento Agrá- da EMATER-DF, se transformou em Norte, atualmente abastecidos por Mi-
rio; Desenvolvimento Social; Ciência e cooperativa de sucesso, a Cooperativa nas Gerais, Espírito Santo e São Paulo,
Tecnologia), além de vários escritórios Agrícola da Região de Planaltina-DF que têm maior volume de produção.
do SEBRAE. (Cootaquara). A Cootaquara atualmente Na região de Brazlândia já existe a
A mobilização deste grande poten- tem 140 cooperados que produzem 400 ARCAG, uma associação de produtores
cial de apoio ao pólo de produção de mo- t por mês de 40 produtos hortícolas, que congrega a comunidade japonesa
rango local depende apenas de uma me- sendo hoje o principal pólo de produção da região, os pioneiros agricultores que
lhor articulação e, principalmente, uma de pimentão sob cultivo protegido no introduziram a cultura do morango. Uma
demanda vinculada a uma organização, Brasil. Como resultado da atuação da outra associação ou cooperativa espe-
como uma associação de produtores ou Cooperativa, a região desenvolveu-se cífica para os produtores de morango
cooperativa. A atuação do MDA e do econômica e socialmente, constatando- ou do segmento de agricultura familiar
MDS neste segmento, em conjunto com se uma significativa melhoria no uso pode ser uma alternativa.
a EMATER-DF, pode ser mais efetiva de técnicas modernas de produção, Manuseio pós-colheita
considerando-se que a grande maioria aumento das oportunidades de trabalho
O manuseio pós-colheita do mo-
dos produtores de morango do Distrito e melhoria da qualidade de vida da
rango produzido no Distrito Federal
Federal enquadram-se nos critérios de população local (Lana et al., 2010).
deve ser aprimorado urgentemente, pois
agricultura familiar do PRONAF e ain- Teoricamente, o mesmo modelo pode
apresenta uma série de problemas que
da têm baixa escolaridade, o que pode ser replicado nos Núcleos Rurais de
afetam a qualidade e a durabilidade dos
afetar seu acesso e compreensão sobre Brazlândia e Alexandre Gusmão com
frutos. Algumas ações que precisam ser
informações técnicas ou científicas diri- os produtores de morango, que também
implementadas a curto prazo são:
gidas para outros públicos. Uma maior produzem outras hortaliças, como alfa-
(a) aumentar a higiene na colheita
capacitação técnica destes produtores ce, tomate, brócolos, couve-flor, couve,
e manipulação dos frutos pelos traba-
parece ser essencial para sua integração cenoura, beterraba, salsa, coentro, chu-
lhadores rurais nos galpões de benefi-
a sistemas produtivos de nível mais alto, chu, entre outras, além de ser uma região
ciamento dos agricultores familiares,
como a produção integrada e sistemas tradicional de produção de goiaba. Cer-
mediante a adoção de Boas Práticas
de rastreabilidade, por exemplo. tamente os custos de produção podem
Agrícolas (BPA);
Associativismo ser reduzidos pela compra em grandes
(b) adotar critérios transparentes e
A falta de uma cooperativa ou as- quantidades de insumos, de mudas e
consistentes na classificação dos frutos
sociação realmente ativa tem impedido também das embalagens, sem contar o
por tamanho, aparência e grau de ma-
durez, para recuperar a confiança dos
consumidores. Há uma reclamação geral
de que, a camada inferior de frutos nos
recipientes PET utilizados para comer-
cialização, tem qualidade muito inferior
àqueles da camada superior, visíveis no
momento da compra;
(c) adotar técnicas de pós-colheita
já consagradas para o morango, como
o pré-resfriamento em temperaturas
próximas a 0oC em câmara fria ou ar frio
forçado e o armazenamento em câmara
fria entre 2 a 3oC e 95% de umidade
relativa, com manutenção da cadeia de
frio em caminhões com sistema de re-
frigeração durante a comercialização e a
Figura 1. Dificuldades na produção do morango identificadas por agricultores familiares no distribuição para o mercado local.
Distrito Federal em 2009. Brasília, Embrapa Hortaliças, 2009 (difficulties on the production Rastreabilidade
of strawberries, identified by the familiar farmers in the Federal District, in 2009). A adesão a algum tipo de controle

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 263


GP Henz

de qualidade ou de rastreabilidade é um cuidados na implantação do cultivo, leva a exageros em determinados tratos


fator essencial para aumentar a confian- como definição de parcela, definição culturais, como a irrigação e aplicação
ça entre produtores e consumidores de da época de cultivo; localização da de fertilizantes e agrotóxicos.
morango. No Distrito Federal, toda a lavoura, com cuidados com rotação de Atualmente, existe pouco conheci-
comercialização é feita em recipientes culturas, declividade do terreno; sele- mento e capacidade financeira por parte
de PET, com peso variando de 250 a 300 ção da cultivar; polinização; sistema dos agricultores familiares para aprimo-
g em cada unidade. Muitos produtores de plantio, com definição do número rar o manuseio pós-colheita do morango,
ainda não utilizam um selo identifica- de linhas de plantas no canteiro, altura como por exemplo, a utilização de pré-
dor da procedência, com a composição dos canteiros, bordaduras, túnel baixo resfriamento e manutenção da cadeia
centesimal, data da colheita e validade ou alto; fertilização; manejo do solo; de frio até o varejo, com o transporte
do produto, o que ocasiona uma série de irrigação; qualidade da água; manejo da em caminhão refrigerado. Certamente,
problemas para os consumidores. parte aérea, como a eliminação de partes uma das maiores limitações é a produção
No Espírito Santo, por meio de uma doentes; adoção de técnicas de proteção relativamente pequena das unidades de
iniciativa da Secretaria de Agricultura e integrada, como MIP (Manejo Integrado 1 ha e a comercialização com venda
da INCAPER junto aos produtores de de Pragas), utilização de agrotóxicos direta para mercados menos exigentes.
morango dos municípios de Santa Maria registrados de acordo com a legislação Estes mercados certamente não teriam
de Jetibá, Domingos Martins, Castelo, vigente e receituário agronômico; uso como absorver os custos adicionais do
Venda Nova do Imigrante, Brejetuba, de EPI (Equipamento de Proteção Indi- uso de tecnologias mais sofisticadas ou
Vargem Alta, Alfredo Chaves e Afonso vidual) e manutenção de equipamentos de sistemas de garantia de qualidade ou
Cláudio, foi criado um selo (“Morangos de aplicação de agrotóxicos; obediência rastreabilidade. Incluem-se nesta cate-
das Montanhas do Espírito Santo – Qua- às recomendações técnicas no preparo, goria o morango destinado ao mercado
lidade com Responsabilidade”), que aplicação e armazenamento de agrotó- in natura para mercearias, ‘sacolões’
funciona como um certificado de ras- xicos; efetuar a tríplice lavagem e en- e pequenos mercados das cidades-
treabilidade do produto (SEAG, 2008). caminhar as embalagens de agrotóxicos satélite do Distrito Federal, também
Neste sistema, a adesão por parte dos aos centros de recolhimento; tomar os abastecidos por vendedores ambulantes
produtores é voluntária e sua produção cuidados devidos na colheita e pós- e pelo comércio de beira de estrada, e
é monitorada. Aproximadamente 90% colheita dos frutos, utilizar caixas de o morango congelado, destinado para
dos produtores da região possuem o selo plástico limpas e higienizadas; cuidar da agroindústrias de polpas, restaurantes
de origem (SEAG, 2008). Idéia seme- higiene na colheita; obedecer critérios e lanchonetes.
lhante poderia ser aplicada à produção de classificação, embalagem e etiqueta- O mercado consumidor de frutas e
de morango do Distrito Federal, que gem; obedecer às normas de transporte hortaliças do Distrito Federal e da região
possui área menor e mais concentrada e armazenamento; cuidar de aspectos de é muito diversificado e complexo por
da produção, inclusive com a criação de logística e distribuição do produto para conta dos distintos estratos sociais. Falta
um selo de qualidade para identificar o garantir a manutenção da qualidade até um estudo mais aprofundado sobre os
produto local. o ponto final de consumo. consumidores e suas preferências, para
Adesão ao “Programa de Produ- Com a implantação das práticas que assim os produtores de morango
preconizadas no sistema de produção pudessem explorar melhor os nichos de
ção Integrada do Morango (PIMo)”
integrada é possível reduzir o uso de mercado e oportunidades que atualmente
A adesão dos produtores de moran- agrotóxicos, com a diminuição das ignoram. Aparentemente, os produtores
go do Distrito Federal ao “Programa quantidades e do número de aplicações. familiares de morango do DF conhe-
de Produção Integrada do Morango Em conseqüência, são reduzidos tam- cem parcialmente alguns segmentos
(PIMo)” certamente resolveria uma bém os riscos de contaminação do solo,
de mercado, como os supermercados
parte significativa dos problemas e de- água, frutos e dos próprios produtores.
de pequeno e médio porte, e pequenos
safios levantados. As normas técnicas A produção integrada fornece ainda os
mercados, mercearias e “sacolões”,
para a produção integrada do morango já meios para aumentar a capacitação e
comuns nas cidades satélites, porque
publicadas pelo Ministério da Agricul- profissionalização dos agricultores e
fazem venda direta, sem passar por
tura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, obter produtos de melhor qualidade, re-
centrais de abastecimento.
2006) prevêem a capacitação dos produ- sultando em reconhecimento e aumento
tores em práticas agrícolas, como BPA da confiança dos consumidores. Considerações finais
(Boas Práticas Agrícolas) e PI (Produção Estudo de mercado O pólo produtivo de morango do
Integrada); organização dos produtores O morango tem alto custo de produ- Distrito Federal apresenta características
e gestão da PI Morango; capacitação em ção, similar a outras olerícolas de alto altamente favoráveis para a consecução
comercialização e marketing; segurança valor agregado, o que implica riscos ao de um arranjo produtivo local (APL),
do trabalho; educação ambiental; orga- investimento realizado no caso de haver em que o associativismo e a adoção de
nização dos produtores; planejamento algum problema que afete a produtivida- técnicas modernas de produção, como o
ambiental; cuidados com material pro- de ou aparência dos frutos. Este temor PIMo, e de uma estratégia comercial co-
pagativo (mudas), como a utilização de de perda financeira ocasionado pela letiva podem melhorar substancialmente
mudas oriundas de viveiros fiscalizados; possibilidade de problemas na produção a renda e a capacidade produtiva dos

264 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Desafios enfrentados por agricultores familiares na produção de morango no Distrito Federal

agricultores familiares locais, respon- valorização de seu produto, ocupando Vitória: Incaper, 80p.
sáveis por mais de 90% da produção de espaços importantes no mercado nacio- CARVALHO SP. (coord.). 2005. Boletim do
morango: cultivo convencional, segurança
morango brasiliense. nal. No Distrito Federal, os produtores alimentar, cultivo orgânico. Belo Horizonte:
Um bom exemplo a ser seguido é o do sistema orgânico já sabem disto e FAEMG. p.145-159.
do estado do Espírito Santo, em que a aqueles que identificam seus produtos COSTA R; QUEIROZ A. 2010, 15 de agosto.
Secretaria de Agricultura e a INCAPER, com selos próprios também sentem Brazlândia tem safra recorde de morango.
por meio de várias ações integradas de a diferença em estabelecer um elo de Disponível em: www.festadomorangodf.
com.br/2010.
pesquisa, desenvolvimento e inovação, confiança com os consumidores. Esta
é uma excelente oportunidade para EMATER-DF. 2008, 12 de julho. Custo de
implementaram diversas ações de apoio, Produção: Morango. Disponível em: http://
tais como introdução de cultivares uma mudança significativa na forma www.emater.df.gov.br/.
mais produtivas, produção integrada, de produzir e comercializar o morango FESTA DO MORANGO DE BRASILIA. 2010, 15
ampliação da produção de mudas in candango, com benefícios para todos. de agosto. 15a Festa do Morango de Brasília.
vitro, programa de monitoramento das Disponível em: www.festadomorangodf.com.
br/2010.
lavouras, ampliação e capacitação da AGRADECIMENTOS
FURLANETTO C; CAFÉ FILHO AC; TOMITA
rede de assistência técnica, além do CK; CAVALCANTI MH. 1996. Doenças
cadastro de produtores e a criação da O autor agradece às Engenheiras do morangueiro e aspectos da produção no
marca e selo próprios para caracterizar Agrônomas Tatiane M. Araújo e Sirlei
Distrito Federal. Horticultura Brasileira 14:
a produção capixaba. 218-220.
de Fátima Pereira, que executaram o HENZ GP; BOITEUX LS; LOPES CA.
Alguns dos desafios para tornar o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) 1992. Outbreak of strawberry caused by
Distrito Federal um grande pólo de com a cultura do morango junto à Facul- Colletotrichum acutatum in Central Brazil.
produção de morango, com reconhecida dade da Terra de Brasília (Unisaber); a Plant Disease 76: 212.
qualidade e confiabilidade, estão apre- todos os produtores de morango entre- HENZ GP; REIFSCHNEIDER FJB. 1990. Surto
sentados preliminarmente neste artigo. de antracnose em morangueiro no Distrito
vistados pelas informações prestadas e
Federal. Horticultura Brasileira 8: 28.
Entretanto, para alcançar esta condição, aos engenheiros agrônomos e técnicos
HENZ GP; REIS A. 2009. Alerta vermelho:
é fundamental a participação ativa dos da EMATER-DF (escritórios de Ale- “vermelhão” do morangueiro. Revista Cultivar
próprios agricultores familiares, que xandre Gusmão e Brazlândia), pelo HF 57: 20-22.
contam com uma situação privilegiada suporte técnico e informações. Também LANA MM; ANDRADE MO; BANCI CA. 2010.
em termos de facilidade de acesso a agradeço a leitura criteriosa e as valio- Proposição de um método para melhoria
informações e apoio por parte de insti- sas sugestões dos revisores ad hoc e do manuseio pós-colheita de pimentão
tuições públicas localizadas no próprio baseado no Mapeamento de Processos e
da Comissão Editorial da Horticultura Falhas e na Árvore de Realidade Atual.
Distrito Federal. No Brasil, em algumas Brasileira. Brasília: Embrapa Hortaliças. 36p. (Embrapa
cadeias produtivas de hortaliças, apesar Hortaliças. Documentos, 130).
de um grande esforço de instituições LOPES HRD; SILVA BC; NASCIMENTO EF;
públicas e do próprio MAPA, não houve
Referências RAMOS LX; PEREIRA M; CARNEIRO RG.
interesse por parte dos produtores em 2005. A cultura do morangueiro no Distrito
ARAÚJO TM; PEREIRA SF. 2009. Perfil dos Federal. Brasília: EMATER. 76p.
aderir ao sistema de produção integrada, produtores de morango do Distrito Federal
como por exemplo, os produtores de e incidência de doenças de pós-colheita. MAPA – MINISTÉRIO DA AGRICULTURA,
Brasília: Faculdade da Terra de Brasília, 134 PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. 2006,
batata do sul de Minas Gerais.
p (Monografia graduação). 22 de setembro. Normas Técnicas Específicas
Com certeza, a pressão dos consu- BALBINO JMS; COSTA H; PREZOTTI LC; para a Produção Integrada de Morango –
midores por produtos de qualidade, com TEIXEIRA CP; FORNAZIER MJ; ATHAYDE NTEPIMo. Disponível em: http://extranet.
certificação, tornará parte do sistema MO; BARBOSA WM. 2004. Mudas de agricultura.gov.br/sislegis-consulta/servlet/
morangueiro: tecnologias para a produção VisualizarAnexo?id=14065.
produtivo de morango do Distrito Fede-
em viveiro. Vitória: Incaper, 22p. (Incaper. SEAG. 2008, 6 de setembro. Qualidade do
ral cada vez mais eficiente e seletivo. As Documentos, 137). morango das montanhas capixabas incentiva o
outras regiões produtoras de morango BALBINO JMS. 2006. Tecnologias para produção, agroturismo na região. Disponível em: http://
no Brasil já têm várias iniciativas de colheita e pós-colheita de morangueiro. 2. ed. www.saeg.es.gov.br/?=p=1882&print=1.

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 265


Pesquisa / Research
RESENDE GM; ALVARENGA MAR; YURI JE; SOUZA RJ. 2010. Doses de nitrogênio e molibdênio no rendimento e teor de micronutrientes em alface
americana. Horticultura Brasileira 28: 266-270.

Doses de nitrogênio e molibdênio no rendimento e teor de micronutrientes


em alface americana
Geraldo M de Resende1; Marco Antônio R Alvarenga2; Jony E Yuri3; Rovilson José de Souza2
1
Embrapa Semi-Árido, C. Postal 23, 56302-970 Petrolina-PE; 2UFLA-Depto. Agricultura, C. Postal 37, 37200-000 Lavras-MG; 3UNIN-
COR, Av. Castelo Branco 82, 37410-000 Três Corações-MG; gmilanez@cpatsa.embrapa.br; marcoalvarenga@ufla.br; jonyyuri@uol.
com.br; rovilson@ufla.br

Resumo Abstract
O trabalho foi conduzido no município de Três Pontas, Sul de Doses of nitrogen and molybdenum effects on yield and
Minas Gerais, de outubro a dezembro de 2002, com o objetivo de micronutrient content of crisphead lettuce plants
avaliar a influência de doses de nitrogênio (N) e molibdênio (Mo) no The trial was carried out in Três Pontas, Minas Gerais State,
rendimento e teor de micronutrientes da alface americana. Utilizou- Brazil, from October to December, 2002, to evaluate the influence of
se o delineamento de blocos casualizados em arranjo fatorial 4 x doses of nitrogen and molybdenum on yield and macronutrient uptake
5, compreendendo quatro doses de N (0, 60, 120 e 180 kg ha-1) em of crisphead lettuce (Lactuca sativa L.). A randomized complete
cobertura adicionais à dose aplicada pelo produtor de 60 kg ha-1 e block design scheme with three replications was used, in which the
cinco doses de Mo via foliar (0,0; 35,1; 70,2; 105,3 e 140,4 g ha-1) treatments were a factorial combination of nitrogen rates (0, 60, 120
com três repetições. O maior rendimento de massa fresca comercial and 180 kg ha-1 of N) in top dressing in addition to the dose used by
foi obtido com a dose de 89,1 kg ha-1 de N em cobertura e 94,2 g farmers (60 kg ha-1 of N) and five foliar molybdenum rates (0.0;
ha-1 de Mo. Os resultados indicaram incremento nos teores de boro, 35.1; 70.2; 105.3 and 140.4 g ha-1). The highest yield of commercial
zinco, ferro e manganês com o aumento das doses de N e Mo. Em fresh mass was obtained using the dose of 89.1 kg ha-1 of nitrogen in
relação ao teor de cobre verificou-se efeito significativo da interação top dressing and 94.2 g ha-1 of molybdenum. The results indicated an
N x Mo, evidenciando para a maior dose de Mo (140,4 g ha-1) uma increase in the levels of Ca, Zn, Fe and Mn as a consequence of the
redução linear com o aumento das doses de N. application of higher doses of nitrogen and molybdenum. Significant
effect of the interaction N x Mo on the Cu level was verified and it was
evidenced, for the highest molybdenum level (140.4 g ha-1), a linear
reduction due to the application of increasing doses of nitrogen.

Palavras-chave: Lactuca sativa, rendimento, boro, zinco, cobre, Keywords: Lactuca sativa, yield, boron, zinc, copper, iron,
ferro, manganês. manganese.

(Recebido para publicação em 10 de fevereiro de 2009; aceito em 16 de junho de 2010)


(Received on February 10, 2009; accepted on June 16, 2010)

A alface americana, tipo repolhuda


(crisphead lettuce), vem adquirindo
importância crescente, principalmente,
desprendem-se com facilidade (Garcia
et al., 1982).
O Mo é constituinte de pelo menos
1993).
Informações relacionadas à fertili-
zação da alface com os micronutrientes
na região sul de Minas Gerais. O plantio cinco enzimas catalisadoras de reações boro, cloro, cobre, ferro, manganês,
deste tipo de alface visa principalmente (redutase do nitrato, nitrogenase e oxida- molibdênio e zinco, são escassas, prin-
atender as redes fast food de alimenta- se do sulfito) e três são encontradas em cipalmente em se tratando de alface tipo
ção, como MacDonald’s (Mota et al., plantas (Gupta & Lipsett, 1981), sendo a americana. Entretanto, estes nutrientes
2003). sua função mais importante relacionada são essenciais uma vez que a sua falta
A fertilização constitui uma das com o metabolismo do N. impede a planta de completar seu ciclo
práticas agrícolas mais caras e de maior O crescimento da alface, e como vital (Malavolta, 2006).
retorno econômico, resultando em maio- conseqüência o acúmulo de nutrientes,
O objetivo deste trabalho foi avaliar
res rendimentos e em produtos mais é lento até 30 dias após a emergência,
os efeitos de doses de N e de Mo sobre
uniformes e de maior valor comercial aumentando rapidamente após este pe-
o rendimento e teor de micronutrientes
(Ricci et al., 1995). A alface é uma ríodo. Apesar de absorver quantidades
na parte aérea da alface americana cul-
planta composta basicamente por folhas relativamente pequenas de nutrientes
tivada sob condições de verão no sul de
e responde à fertilização nitrogenada. A devido ao seu ciclo curto (2 a 3 me-
Minas Gerais.
deficiência de N retarda o crescimento ses), esta cultura pode ser considerada
da planta e induz à má formação da ca- exigente em nutrientes, principalmente
beça, folhas mais velhas amareladas que na fase final do seu ciclo (Katayama, MATERIAL E MÉTODOS
266 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010
Doses de nitrogênio e molibdênio no rendimento e teor de micronutrientes em alface americana

O experimento foi conduzido em linhas de 2,1 m de comprimento e digestão por via seca. O zinco, man-
propriedade rural, no município de Três espaçamento entre plantas de 0,30 x ganês e cobre foram determinados por
Pontas, sul de Minas Gerais, (21º22’00” 0,35 m. As linhas centrais formaram a espectrofotometria de absorção atômica
S; 45º30’45’’ W; 870 m altitude) (IBGE, área útil, retirando-se duas plantas em no extrato nitroperclórico. Os demais
2005), em solo classificado como La- ��� cada extremidade. Em toda a área foi micronutrientes foram analisados por
tossolo Vermelho Distroférrico textura instalada uma estrutura de proteção, espectrofotometria de absorção atômica
argilosa (Embrapa, 1999). O clima da constituída de túneis altos com 2,0 m (EAA), de acordo com Malavolta et al.
região é caracterizado por temperatura de altura, cobrindo dois canteiros por (1997).
média anual variando de 15,8 0C no túnel, constituído de tubos de ferro Os dados coletados foram subme-
mês mais frio, a 22,10C no mês mais galvanizados, coberta com filme plás- tidos à análise de variância e regressão
quente; com precipitação média anual tico transparente de baixa densidade, com base no modelo polinomial a 5%
de 1.529,7 mm e umidade relativa do aditivado com anti-UV, de 100 micras de de probabilidade.
ar de 76,2% (Brasil, 1992). A análise espessura. Os canteiros foram revestidos
química do solo resultou os valores: com filme plástico preto mulching, de 4
RESULTADOS E DISCUSSÃO
K= 70,0 mg dm-3; P (Mehlich)= 78,0 m de largura e 35 µm de espessura.
mg dm-3; Ca= 4,1 cmolc dm-3; Mg= 0,8 A fertilização ����������������������
básica de plantio uti-
cmolc dm-3; Al= 0,0 cmolc dm-3; H + Al= Houve efeitos significativos das
lizada pelo produtor constou de 30 kg
2,3 cmolc dm-3; Zn= 0,8 mg dm-3; Fe= doses de N e de Mo para massa fresca
de N + 410 kg de P2O5 + 120 kg de K2O.
25,0 mg dm-3; Mn= 14,2 mg dm-3; Cu= comercial da parte aérea. As doses
Após os adubos serem incorporados ao
1,0 mg dm-3; B= 0,3 mg dm-3; pH em de N foram ajustadas a um modelo
solo, instalou-se em cada canteiro duas
H20= 6,0 e MO= 24 g kg-1. quadrático, no qual 89,6 kg ha-1 de
linhas de tubo gotejador, com emissores
N em cobertura resultaram em maior
O delineamento experimental uti- espaçados a cada 30 cm e com vazão de
rendimento (Figura 1). Estes resulta-
lizado foi de blocos ao acaso; os 1,5 L h-1. As
�����������������������������
adubações em cobertura fo-
dos são inferiores aos encontrados por
tratamentos distribuídos em fatorial 4 ram realizadas através de fertirrigações
Tei et al. (2000), para alface tipo lisa
x 5, compreendendo quatro doses de diárias, totalizando 30 kg de N ha-1 e 60
e butterhead, que verificaram maiores
nitrogênio (0, 60, 120 e 180 kg ha-1) em kg de K2O ha-1.
produtividades com a dose de 155,0 kg
cobertura adicionais à dose aplicada A cultura foi mantida no limpo por ha-1 de N. Furtado (2001), avaliando
pelo produtor de 60 kg de N ha-1 e cinco meio de capinas manuais e o controle doses acima de 148,0 kg ha-1 de N, não
doses de molibdênio aplicadas via foliar fitossanitário foi realizado pelo método encontrou para massa fresca comercial
(0,0; 35,1; 70,2; 105,3 e 140,4 g ha-1), padrão do produtor, com pulverizações diferenças significativas.
com três repetições. A uréia foi utilizada semanais alternando produtos à base Em relação às doses de Mo obser-
como fertilizante nitrogenado e o mo- de oxicloreto de cobre, iprodione, pro- vou-se efeito quadrático com máxima
libdato de sódio como fonte de Mo. A cimidone e piretróides, de acordo com produtividade na dose de 94,2 g ha-1
uréia foi aplicada em cobertura aos 10, a necessidade. (Figura 2). Com o incremento das
20 e 30 dias após o transplante em 40%, O ���������������������������������
transplantio das mudas foi reali- doses de Mo em função das épocas de
30% e 30%, respectivamente, da dose zado 30 dias após a semeadura em 28 aplicação, Yuri et al. (2004) verificaram
total em avaliação. As doses de uréia de outubro de 2002 e a colheita foi feita efeitos quadráticos para massa fresca
avaliadas foram previamente diluídas em 9 de dezembro de 2002, quando as comercial, tendo as doses de 82,7 g
em água pura, aplicando-se 10 mL da plantas apresentaram-se completamente ha-1 proporcionado o maior rendimento
solução, lateralmente a cada planta. desenvolvidas. quando aplicado aos 21 dias após o
O molibdato de sódio foi aplicado aos Por ocasião da colheita avaliou-se o transplantio. Resultados positivos da
21 dias após o transplante por meio de rendimento de massa fresca comercial (g aplicação de Mo na cultura da alface
pulverizador costal manual capacidade planta-1) e retiraram-se amostras no terço são relatados por Zito et al. (1994), que
de 4 l em máxima pressão, gastando-se médio da cabeça comercial de todas observaram aumento médio de 24,1%,
300 l ha-1 de calda. as plantas úteis da parcela, obtendo-se na produção comercial de alface com a
O preparo do solo foi realizado com uma amostra (±300 g) por tratamento. aplicação desse micronutriente.
aração e gradagem, e os canteiros foram Estas foram lavadas em água corrente e Os teores de boro na parte aérea da
levantados a 0,20 m de altura. As mudas destilada, e secas em estufa com circu- alface receberam influência das doses de
foram feitas em bandejas multicelulares lação forçada de ar, a 65-700C, até peso N e Mo, assim como da interação destes
de 288 células cada uma, preenchidas constante, moídas e acondicionadas em fatores. O desdobramento da interação
com substrato artificial (Plantmax), sen- recipientes vedados com tampa de plás- Mo x N mostrou efeitos lineares posi-
do o transplante feito aos 25 dias após tico, com as devidas identificações. A tivos na ausência de Mo e na dose de
o semeio, quando as plantas apresen- análise dos micronutrientes no respecti- 70,2 g ha-1 de Mo, as quais aumentaram
taram dois pares de folhas definitivas, vo material foi realizada em laboratório linearmente com o incremento das doses
utilizando-se a cultivar Raider. da UFLA. de N (Tabela 1). Na dose de 35,1 g ha-1
As parcelas experimentais cons- O boro foi determinado pelo mé- de Mo, ajustou-se um modelo quadrático
tituíram-se de canteiros com quatro todo colorimétrico da curcumina com com teor mínimo de boro (19,8 mg kg-1)

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 267


GM Resende et al.

al., 1997), assim como em Ligustrum


500 vulgare (Stratton et al, 2001). Furtado
(2001) porém não observou diferença
significativa no teor de zinco em função
450 da aplicação de doses de N em alface
Massa fresca (g/planta)

americana.
400 Resultados similares foram observa-
Y = 416,9893 + 0,738711D - 0,0041203D2 R2 = 0,76** dos em relação ao teor de cobre na parte
aérea da alface (Tabela 1). Na análise
350
da interação Mo x N foram ajustados
modelos quadráticos, evidenciando para
300 a maior dose de Mo (140,4 g ha-1) um
efeito linear depressivo com o aumento
das doses de N. Na ausência da fertiliza-
250
ção com Mo, nas doses de 70,2 e 105,3
0 60 120 180
g ha-1, ajustaram-se modelos quadráticos
Doses de nitrogênio em cobertura (kg/ha)
com pontos de máximo teor de cobre
Figura 1. Massa fresca comercial de alface tipo americana em função de doses de nitrogênio nas doses de 62,2, 89,8 e 92,2 kg ha-1 de
(commercial fresh mass of crisphead lettuce in response to nitrogen levels). Três Pontas, N em cobertura. Para a dose de 35,1 g
Embrapa Semi-Árido, 2002. ha-1 de Mo houve ajuste quadrático com
ponto de mínimo teor de cobre na dose
500 de 113,3 g de N ha-1. Furtado (2001) não
observou aumento no teor de cobre em
alface americana submetida a aplicações
450 de doses crescentes de N, bem como Al-
Massa fresca (g/planta)

varenga et al. (2000) quando aplicaram


N e cálcio. No entanto, Resende et al.
400
(1997) constataram aumento linear no
Y = 402,9909 + 0,922334D - 0,0048947D2 R2 = 0,94** teor de cobre na parte aérea do milho
350 com as doses de N. Stratton et al. (2001)
observaram maior teor de cobre na parte
aérea de ligustrum (privet) em função da
300 aplicação de N. Segundo Santos (1991),
há um efeito de inibição não competi-
250 tiva entre os íons MoO42- e Cu2+, isto é,
o inibidor se combina com o sítio não
0,0 35,1 70,2 105,3 140,4
ativo do carregador.
Doses de molibdênio (g/ha)
Observaram-se efeitos significati-
Figura 2. Massa fresca comercial de alface tipo americana em função de doses de molib-
vos das doses de N, Mo e da interação
dênio (commercial fresh mass of crisphead lettuce in response to molybdenum levels). Três
Pontas, Embrapa Semi-Árido, 2002. N x Mo sobre o teor de ferro na parte
aérea da alface. O desdobramento da
na dose de 94,2 g ha-1 de N em cobertura. destes fatores no teor de zinco na parte interação entre doses de N e de Mo
Para a dose de 105,3 g ha-1 de Mo verifi- aérea da alface. Desdobrando-se a in- ��� ajustou modelos quadráticos para todas
cou-se efeito quadrático com maior teor teração Mo x N verificou-se um efeito as doses (Tabela 1). Na ausência de Mo
de boro (16,8 mg kg-1) na dose de 106,6 linear positivo para a dose de 35,1 g de obteve-se a dose de 133,9 kg de N ha-1
kg ha-1 de N. Estes resultados estão Mo ha-1, a qual aumentou com o incre- como a que proporcionou maior teor
coerentes com os obtidos por Resende mento das doses de N (Tabela 1). Na de ferro. Para as doses de 35,1; 70,2;
et al. (1997) que constataram aumento ausência de Mo, a dose de 74,6 kg de 105,3 e 140,4 g ha-1 de Mo estimou-se
linear no teor de boro na parte aérea do N ha-1 em cobertura promoveu o maior as doses 119,6; 95,6; 99,1 e 95,8 kg ha-1
milho, com o incremento das doses de teor de Zn. Os maiores teores de Zn de N, respectivamente, como as que
N, atribuindo este fato, ao papel do N foram obtidos para as interações entre resultaram em maior teor de Fe. Furtado
no desenvolvimento da planta. Furtado as doses de 70,2, 105,3 e 140,4 g ha-1 de (2001) observou tendência de maior teor
(2001) também encontrou tendência de Mo e 102,1, 113,3 e 86,3 kg ha-1 de N. de ferro com o incremento das doses de
maior teor de boro com o incremento das Também foram observados efeitos po- N em alface americana. Resende et al.
doses de N em alface americana. sitivos da fertilização nitrogenada sobre (1997) obtiveram maior teor de Fe na
Foram constatados efeitos significa- o teor de zinco na parte aérea de batata parte aérea de plantas de milho com
tivos das doses de N e Mo e da interação (Soltanpour, 1969) e milho (Resende et fertilização nitrogenada.

268 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Doses de nitrogênio e molibdênio no rendimento e teor de micronutrientes em alface americana

Tabela 1. Teores de micronutrientes na parte aérea de alface americana em função de ALVARENGA MAR; SILVA ec; SOUZA RJ;
doses de nitrogênio e de molibdênio (kg ha-1) (micronutrients content of crisphead lettuce CARVALHO JG. 2000. Efeito de doses de
aboveground part in response to nitrogen and molybdenum levels (kg ha-1)). Três Pontas, nitrogênio aplicadas no solo e níveis de cálcio
aplicados via foliar sobre o teor e o acúmulo de
Embrapa Semi-Árido, 2002.
micronutrientes em alface americana. Ciência
e Agrotecnologia 24: 905-916.
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BRASIL. Ministério da Agricultura e Reforma
nutrientes Equações de regressão R2 Agrária. 1992. Normas climatológicas - 1961-
(mg kg-1) 1990. Brasília: MARA. 84 p.
Y (0,0 ) = 16,0953 + 0,007755*D 0,98 EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA
AGROPECUÁRIA. 1999. Sistema brasileiro
Y (35,1) = Y = 18,1116 - 0,036444D + 0,0001935**D2 0,98 de classificação de solos. Brasília: Embrapa
Boro Produtividade de Informações (SPI). 412p.
Y (70,2) = 15,1883 + 0,007666*D 0,96
FURTADO SC. 2001. Nitrogênio e fósforo na
Y (105,3) = 11,7701+ 0,095086D - 0,0004461**D2 0,86 produtividade e nutrição mineral de alface
Y (0,0 ) = 41,1930 + 0,129411D - 0,0008675**D2 0,88 americana cultivada em sucessão ao feijão
após o pousio da área. Lavras: UFLA. 78p.
Y (35,1) = 41,3926 + 0,034655**D 0,99 (Tese mestrado).
Zinco Y (70,2) = 40,6691+ 0,049875D - 0,0002442**D2 0,96 GARCIA LCL; HAAG HP; DIEHL NETO
V. 1982. Nutrição mineral de hortaliças
Y (105,3) = 39,2673 + 0,037122D - 0,0001638*D2 0,77 XXXVIII: Deficiências de macronutrientes
em alface (Lactuca sativa L.), cv. Brasil 48 e
Y (140,4) = 36,9843 + 0,051516D - 0,0002986**D2 0,92
Clause’s Aurélia. Anais da Escola Superior de
Y (0,0 ) = 7,0993 + 0,018988D - 0,0001527**D2 0,91 Agricultura Luiz de Queiroz 39: 349-372.
Y (35,1) = 7,4318 - 0,013163D + 0,0000581**D2 0,99 Gupta UC; Lipsett J. Molybdenum in soils,
plants, and animals. 1981. Advances in
Cobre Y (70,2) = 6,9896 + 0,012050D - 0,0000671**D2 0,99 Agronomy 34: 73-115.
Y (105,3) = 6,4410 + 0,009127D - 0,0000495*D2 0,93 IBGE. 2005. Organização do território - vilas e
cidades. Disponível em: http:// www.Ibge.gov.
Y (140,4) = 6,1466 - 0,003388**D 0,96 br. Acessado em 19 de fevereiro de 2005.
Y (0,0 ) = 91,2893 + 0,191239D - 0,0007143**D2 0,88 KATAYAMA M. 1993. Nutrição e adubação de
alface, chicória e almeirão. In: SIMPÓSIO
Y (35,1) = 94,5004 + 0,191064D - 0,0007988**D2 0,72 SOBRE NUTRIÇÃO E ADUBAÇÃO
DE HORTALIÇAS, Jaboticabal. Anais...
Ferro Y (70,2) = 95,1256 + 0,083816D - 0,0004384*D2 0,95
Piracicaba: POTAFOS, cap. 4, p. 141-148.
Y (105,3) = 95,1406 + 0,091150D - 0,0004597*D2 0,99 Malavolta E. 2006. Manual de nutrição
mineral de plantas. São Paulo: Editora
Y (140,4) = 94,4838 + 0,148952D - 0,0007775**D2 0,84
Agronômica Ceres. 638p.
Y (0,0 ) = 23,6739 + 0,123483D - 0,0004588**D2 0,97 MALAVOLTA E; VITTI GC; OLIVEIRA
Y (35,1) = 21,6896 + 0,051188**D 0,89 SA. 1997. Avaliação do estado nutricional
das plantas: princípios e aplicações. 2. ed.
Manganês Y (70,2) = 22,6886 + 0,048366**D 0,98 Piracicaba: Associação Brasileira para a
Pesquisa da Potassa e do Fosfato. 319p.
Y (105,3) =22,4356 + 0,022900**D 0,95
M ota j H ; Y uri J E ; F reitas S A C ;
Y (140,4) = 19,8436 + 0,067283**D 0,82 Rodrigues JUNIOR JC; Resende GM;
Souza RJ. 2003. Avaliação de cultivares de
**Significativo pelo teste de F, p<0,01 (significant through F test, p<0,01); *Significativo alface americana durante o verão em Santana
pelo teste de F, p<0,05 (significant through F test, p<0,05). da Vargem, MG. Horticultura Brasileira 21:
234-237.
RESENDE GM; SILVA GL; PAIVA LE; DIAS
A análise do teor de manganês na enquanto Resende et al. (1997), verifica- PF; CARVALHO JG. 1997. Resposta do
milho (Zea mays L.) a doses de nitrogênio
parte aérea da alface mostrou efeitos ram aumento na absorção de manganês e potássio em solo da região de Lavras-MG.
significativos das doses de N e Mo e da na planta com a adubação nitrogenada III. Micronutrientes na parte aérea. Ciência e
interação entre esses nutrientes (Tabela em milho e por Stratton et al. (2001) em Agrotecnologia 21: 71-76.
1). Pelo desdobramento da interação Ligustrum vulgare (privet). RICCI MSF; CASALI VWD; CARDOSO AA;
RUIZ HA. 1995. Teores de nutrientes em duas
verificou-se na ausência de Mo, um ajus- Conclui-se que as doses de 89,1 kg
cultivares de alface adubadas com composto
te quadrático, no qual a dose de 134,6 ha-1 de N em cobertura e 94,2 kg ha-1 orgânico. Pesquisa Agropecuária Brasileira
kg ha-1 de N em cobertura resultou em de Mo proporcionaram a maior massa 30: 1035-1039.
maior teor de manganês. Para as demais fresca comercial, e que a interação N em SANTOS OS. 1991. Molibdênio. In: FERREIRA
doses de Mo ajustou-se modelos lineares cobertura e Mo foliar aumentaram os ME; CRUZ MCP. (eds). Micronutrientes na
Agricultura. Piracicaba: POTAFQS/CNPq.
positivos, ou seja, com o incremento das teores de boro, zinco, ferro e manganês e p. 191-217.
doses de N houve incremento no teor reduziram o teor de cobre na parte aérea SOLTANPOUR PN. 1969. Effect of nitrogen,
de manganês. Furtado (2001) observou de alface americana na maior dose de phosphorus and zinc placement on yield and
uma tendência de aumento do teor de Mo (140,4 kg ha-1). composition of potatoes. Agronomy Journal
manganês na parte aérea de alface ame- 61: 288-289.
ricana com o aumento das doses de N, REFERÊNCIAS STRATTON ML; GOOD GL; BARKER AV.

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GM Resende et al.

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270 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


DUARTE TS; PEIL RMN. 2010. Relações fonte:dreno e crescimento vegetativo do meloeiro. Horticultura Brasileira 28: 271-276.

Relações fonte:dreno e crescimento vegetativo do meloeiro


Tatiana da S Duarte1; Roberta MN Peil2
1
EPAGRI, C. Postal 121, 88400-000 Ituporanga-SC; 2UFPel-FAEM, Depto. Fitotecnia, Rod. BR 392, km 78, 96010-900 Pelotas-RS;
tatianaduarte@epagri.sc.gov.br; rmpeil@ufpel.tche.br

RESUMO ABSTRACT
Avaliou-se o efeito de diferentes relações fonte:dreno, determi- Effect of source:sink ratios and vegetative melon growth
nadas a partir de variações da densidade de plantio e do número de We evaluated the effect of different source:sink ratios determined
frutos/planta, sobre o crescimento vegetativo de plantas de meloeiro. through variations of planting density and number of fruits per plant
Foram realizados dois experimentos no período de primavera-verão during the vegetative growth of melon plants. Two experiments were
de 2004/2005, em estufa plástica. Em um dos experimentos, 3 densi- carried out in a plastic greenhouse in the 2004/2005 spring-summer
dades de plantio (1,7; 2,4 e 3,0 plantas m-2) e dois números de frutos/ season. In one experiment, three planting densities (1.7; 2.4 and 3.0
planta (3 e 4) foram estudados. No outro experimento estabeleceu-se plants m-2) and two different quantities of fruits per plant (3 and
dois tratamentos: remoção de todos os frutos e três frutos/planta, a 4) were studied. In the other experiment, two treatments were set:
fim de avaliar o efeito da ausência de frutos na planta. A partir dos pruning all fruits and keeping 3 fruits plant-1, in order to evaluate
dados de matéria seca e fresca e da área foliar (AF), aos 68 dias após the effect of the absence of fruits. From the data of dry and fresh
o transplante, foi determinada a produção e a distribuição de matéria matter and leaf area (LA) 68 days after setting, it was determined
seca para a fração vegetativa, bem como o índice de área foliar (IAF), dry matter production, distribution to the vegetative parts, leaf area
a área foliar específica (AFE) e os teores de matéria seca do caule index (LAI), specific leaf area (SLA) and dry-matter content of
e das folhas. O aumento da densidade de plantio não incrementou the stems and leaves. The increase of the planting density did not
a força de fonte, não alterando o crescimento vegetativo em épocas improve the source strength and had no effect on vegetative growth
de alta disponibilidade de radiação solar. A AF alcançada ao final during periods of the year with high solar radiation. At the end of
do cultivo foi relativamente baixa, o que diminuiu o efeito de maior the cropping period, the relatively low melon planting density LA,
sombreamento mútuo e permitiu a penetração de radiação solar no in association to a high available solar radiation, avoided an excess
interior do dossel, mesmo em densidades mais elevadas. O apareci- of mutual shading among plants; this allowed the penetration of
mento de um novo fruto compete mais com os frutos remanescentes solar radiation inside the vegetative canopy, even at higher planting
do que com os órgãos vegetativos. Os frutos competem com as densities. A new fruit competes more with the remaining fruits than
partes vegetativas aéreas indistintamente, ou seja, o caule e as folhas with the vegetative organs. The fruits compete indistinctly with the
atuam como um órgão único. As plantas de meloeiro se adaptam à vegetative aboveground parts. In other words, stem and leaf act as an
baixa demanda de drenos através do acúmulo de fotoassimilados nos entity. The melon plant adapts to a low demand of sinks accumulating
órgãos vegetativos. fotoassimilates in vegetative organs.

Palavras-chave: Cucumis melo, repartição de matéria seca, densi- Keywords: Cucumis melo, dry-matter partitioning, planting density,
dade de plantas, carga de frutos, área foliar específica. fruit load, specific leaf area.

(Recebido para publicação em 7 de maio de 2009; aceito em 4 de agosto de 2010)


(Received on May 7, 2009; accepted on August 4, 2010)

O processo produtivo das culturas


pode ser caracterizado através
do seu crescimento, o qual é definido
da planta, através da respiração, como
serem transportados e armazenados
temporariamente em órgãos de reserva
a fim de manter a sua capacidade produ-
tiva futura (Peil & Gálvez, 2005). Com
isso, o balanço apropriado entre o aporte
a partir da produção e distribuição da ou nos drenos, representados pelas e a demanda de assimilados da planta
matéria seca e fresca entre os diferentes raízes, meristemas e frutos das plantas. tem grande importância para maximizar
órgãos da planta (Marcelis, 1993a). A Segundo Marcelis (1996), a força de a produção, e pode ser obtido através de
distribuição de matéria seca entre os fonte não é considerada neste processo, adequada relação fonte:dreno.
diferentes órgãos de uma planta é o freqüentemente, como exercendo efeito A relação fonte:dreno pode ser ma-
resultado final de um conjunto de pro- direto na distribuição de matéria seca, nipulada aumentando ou diminuindo a
cessos metabólicos e de transporte, que mas atua indiretamente, via formação força de fonte (taxa fotossintética da
governam o fluxo de assimilados através de órgãos drenos. cultura) ou a força de dreno (demanda
de um sistema fonte-dreno. O produtor tem interesse em que a por assimilados). A densidade de plantio
Os órgãos fonte são responsáveis máxima proporção de assimilados seja afeta a penetração da radiação solar no
pela produção de assimilados a partir da destinada aos frutos. Não obstante, exis- dossel vegetal, a taxa fotossintética e o
fotossíntese e são representados princi- tem limites para a fração de assimilados equilíbrio entre o crescimento da fração
palmente pelas folhas. Os assimilados que pode ser desviada para esses, já que vegetativa e dos frutos. Modificações na
tanto podem ser usados como fonte as plantas necessitam destinar quantida- eficiência das fontes, a partir da elevação
energética necessária ao funcionamento de suficiente para os órgãos vegetativos, na população de plantas, aumentam a

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 271


TS Duarte & RMN Peil

produção absoluta de matéria seca da seca entre os órgãos vegetativos (caule dutividade elétrica e de pH. Fez-se repo-
cultura, apresentando efeito indireto de e folhas), pois estes são os responsáveis sição de nutrientes ou de água quando o
aumento da distribuição de matéria seca pela capacidade produtiva da planta. valor da condutividade elétrica sofreu,
para os órgãos vegetativos e redução da O objetivo deste trabalho foi es- respectivamente, uma diminuição ou um
distribuição para os frutos de plantas de tudar os efeitos de diferentes relações aumento, da ordem de 15%. A fertirriga-
tomate (Heuvelink, 1995b) e de pepino fonte:dreno, estabelecidas a partir de ção fez-se através de fluxo intermitente,
(Schvambach et al., 2002; Peil & Gál- variações da densidade de plantio e do programado em oito intervalos de tem-
vez, 2002a). Um incremento no número número de frutos por planta, na pro- po. A vazão média diária por planta foi
de frutos aumenta a distribuição de dução e distribuição de matéria seca estabelecida conforme a fase de desen-
fotoassimilados para os frutos em detri- vegetativa. volvimento, baseando-se em dados de
mento da fração vegetativa, mas diminui consumo d’água e coeficiente de cultura
a fração para cada dreno generativo do meloeiro cultivado em estufa plástica
MATERIAL E MÉTODOS
considerado individualmente, para as (Caron, 1999), além de 20% de solução
culturas do tomateiro (Heuvelink, 1997) nutritiva para drenagem.
e do pepino (Marcelis, 1992). O experimento foi conduzido em Estudou-se a densidade de plantio
Assim, as práticas de manejo das estufa “Arco”, revestida com filme de em três níveis: (1,7; 2,4; e 3,0 plantas
culturas, como a variação da densidade polietileno, localizada no Campus da m-2, distanciadas na linha a 0,7; 0,5 e 0,4
de plantio (Marcelis, 1996; Peil & Gál- UFPEL, de setembro de 2004 a janeiro m, respectivamente) e número de frutos
vez, 2002a; Schvambach et al., 2002; de 2005. Semeou-se a cultivar de melo- por planta, em dois níveis (3 e 4 frutos/
Fagan, 2005) e do número de frutos eiro tipo gália ”Hale’s Best Jumbo” var. planta). O delineamento experimental
por planta (Marcelis, 1993b; Heuve- reticulatus, em bandejas de poliestireno foi de parcelas subdivididas (parcela
link, 1997; Valantin et al., 1999; Peil & com 72 células, contendo vermiculita. para densidade de plantio e subparcela
Gálvez, 2002b), interferem nas relações As mudas foram produzidas em sis- para número de frutos), com 3 repeti-
fonte:dreno e no equilíbrio entre o cres- tema flutuante com solução nutritiva, ções. Cada parcela foi constituída por 20
cimento dos compartimentos vegetativo a mesma recomendada para o cultivo plantas e a subparcela por 10 plantas.
e generativo da planta (fonte:dreno). definitivo para a cultura do meloeiro
Um experimento adicional foi reali-
em substratos (Castro, 1999), porém na
Trabalhos semelhantes com o me- zado para investigar o efeito da ausência
concentração de 50%.
loeiro são escassos. Para esta cultura de frutos na planta (baixa demanda de
existem dados que indicam que a mani- Aos 35 dias após a semeadura, as drenos). Dois tratamentos foram esta-
pulação da relação fonte:dreno, através mudas foram transplantadas indi- belecidos, remoção de todos os frutos
de modificações da densidade de plantio vidualmente para sacos plásticos de da planta e três frutos/planta, ambos
e do número de frutos por planta, poderá cultivo contendo 13 L de casca de arroz na densidade de plantio de 1,7 plantas
refletir-se de maneira diferente sobre crua, perfurados na base. e dispostos m-2. O delineamento experimental foi
o crescimento dos frutos e dos órgãos no interior de 12 canais impermeáveis inteiramente casualizado com seis re-
vegetativos, em comparação com hor- (7,5 x 0,37 m), com declividade de 2%, petições. Cada parcela foi constituída
taliças que produzem frutos menores arranjados em seis linhas duplas, com por cinco plantas.
(Duarte et al., 2008a). A maioria das distância interna de 0,50 m e passeio Obteve-se matéria fresca e seca
informações sobre o crescimento e a de 1,19 m. acumulada das frações (folhas, caules
distribuição de matéria seca entre os O sistema de condução das plantas e frutos) ao final do experimento, 68
órgãos vegetativos de hortaliças de foi adaptado de Cermeño (1996). As dias após o transplante, incluindo os
fruto, principalmente o meloeiro, tem plantas foram tutoradas, com haste úni- frutos colhidos e as podas da fração
sido obtida a partir de experimentos com ca e despontadas ao alcançar o arame vegetativa realizadas durante o culti-
mudas, sendo ainda limitado o conheci- dos tutores. Somente após o oitavo nó, vo (4% da matéria seca acumulada).
mento sobre o crescimento vegetativo de permitiu-se o crescimento de hastes se- Determinou-se a área foliar acumulada,
plantas em frutificação (Marcelis, 1994). cundárias e a partir do décimo segundo ao final do experimento, através de in-
Poucas informações existem a respeito o desenvolvimento de frutos. Fez-se o tegralizador de área (LI-COR, modelo
do efeito da manipulação da fonte, desponte das hastes secundárias após a 3100). A matéria seca total da planta
através da variação da densidade de primeira folha seguida da flor herma- correspondeu à soma das folhas, caules
plantio sobre o crescimento vegetativo frodita. O raleio dos frutos realizou-se e frutos, e a matéria seca vegetativa à
e as relações de distribuição de matéria logo após a antese das flores hermafro- soma das folhas e caules. Com base
seca vegetativa de plantas adultas de ditas, conforme o tratamento utilizado, nos dados levantados, estabeleceram-se
meloeiro. Adicionalmente, como os respeitando-se a distância entre os frutos a produção e a distribuição de matéria
frutos do meloeiro são os maiores drenos deixados na planta (3 a 4 hastes secun- seca entre os diferentes órgãos da plan-
da planta (Duarte et al., 2008a; Duarte dárias entre frutos). ta, a área foliar específica (relação área
et al., 2008b), torna-se importante co- A solução nutritiva (Castro, 1999), foliar/matéria seca de folhas), o índice
nhecer o seu efeito sobre o crescimento, no sistema definitivo, foi monitorada de área foliar (relação área foliar/ área
a produção e a distribuição da matéria diariamente através das medidas de con- de solo ocupada), bem como os teores

272 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Relações fonte:dreno e crescimento vegetativo do meloeiro

de matéria seca (relação matéria seca/ específica e pelos teores de matéria seca órgãos da planta (Heuvelink, 1995a). A
matéria fresca em percentual) da fração dos órgãos vegetativos (Tabela 2), não redução da força de fonte das plantas nas
vegetativa total, caule e folhas. Os re- foi afetado pela modificação da força de densidades de plantio mais altas reduzi-
sultados foram submetidos à análise de fonte, a partir da variação da densidade ria a disponibilidade de fotoassimilados
variância e, quando houve diferenças de plantio para o meloeiro cultivado nas para o crescimento da fração vegetati-
significativas, as médias foram com- condições do presente trabalho, ou seja, va, e diminuiria conseqüentemente, a
paradas pelo teste de Duncan, a 5% de as modificações na densidade de plantio disponibilidade para o compartimento
probabilidade de erro. não afetaram a força da fonte, pois não generativo, o que levaria a uma redução
afetaram o crescimento vegetativo. na proporção de matéria seca alocada
RESULTADOS E DISCUSSÃO Situação diferente da observada para este (Heuvelink, 1995b).
ocorreu para outras culturas, como o As afirmativas acima são concordan-
pepino (Marcelis, 1993b, 1996; Peil, tes com os resultados obtidos por Mar-
Não houve interação entre os fatores 2000; Schvambach et al., 2002) e o celis (1993b) e Peil & Gálvez (2002a)
densidade de plantio e número de frutos/ tomateiro (Papadopoulos & Ormrod, para o pepino. Assim, pelo maior auto-
planta (p>0,05). 1991; Heuvelink, 1995a, 1995b), onde sombreamento que ocorre na maior
A matéria seca alocada para a fração houve aumento da distribuição propor- densidade, haveria redução da força
vegetativa em plantas com frutos variou cional da matéria seca para os órgãos de fonte (taxa fotossintética individual
de 38 a 43% ao final do ciclo de cultivo vegetativos, em função do aumento da de cada planta) e, conseqüentemente,
(Tabela 1), confirmando que os frutos densidade de plantas. da disponibilidade de fotoassimilados,
são os órgãos drenos de assimilados O manejo da densidade de plantio aumentando o índice de abortos e
mais potentes da planta (Marcelis, 1992; interfere no equilíbrio entre o cresci- reduzindo a proporção com que estes
Heuvelink, 1997; Duarte et al., 2008a; mento vegetativo e o reprodutivo da são destinados aos frutos, em benefício
Duarte et al., 2008b). planta de tomate (Heuvelink, 1995b) dos órgãos vegetativos, pois haveria
Efeito da densidade de plantio - O e de pepino (Peil & Gálvez, 2002a), um estímulo ao crescimento foliar para
crescimento vegetativo, representado já que afeta a penetração da radiação melhorar a captação de luz pelo dossel
pela produção de matéria seca total solar no interior do dossel vegetativo e, vegetativo.
da planta e dos órgãos vegetativos, conseqüentemente, a fotossíntese. Mo- A alta e crescente disponibilidade de
pela distribuição de matéria seca para dificações na força das fontes, através de radiação solar do período de primavera
a fração vegetativa (dada pela relação uma alteração na densidade de plantio e inicio de verão (1433,1 MJ m-2 de
matéria seca fração vegetativa/matéria ou do aumento da disponibilidade de radiação solar global exterior, do trans-
seca total da planta) (Tabela 2), bem radiação, afetariam indiretamente a plante até a colheita final), no qual se
como pela área foliar, pela área foliar distribuição de matéria seca entre os desenvolveu o experimento, associada

Tabela 1. Efeito da densidade de plantio e do número de frutos por planta sobre a matéria seca total acumulada pela planta1, pela fração
vegetativa2, folhas e caule e sobre a relação matéria seca da fração vegetativa/matéria seca total da planta e sobre as relações matéria seca
do caule e das folhas/matéria seca da fração vegetativa de meloeiro, 68 dias após o transplante (effect of plant density and the number of
fruits per plant on the total dry matter accumulated by plant, for vegetative fraction, leaves and stem and on the dry matter of the vegetative
fraction/total dry matter ratio of the plant and on the dry matter of stem and leaves/dry matter of the vegetative parts ratio of melon plants,
68 days after setting). Pelotas, UFPel, 2004.
Matéria seca Relação de matéria seca

Fator Total da Fração veg- Vegeta- Caule / Folhas/


Folhas Caule
planta etativa tiva / total da vegetativa vegetativa
(g planta-1) (g planta-1)
(g planta-1) (g planta-1) planta (g g-1) (g g-1) (g g-1)
Densidade de plan-
tio (plantas m-2)
1,7 410,9 a3 162,6 a 106,0 a 56,6 a 0,40 a 0,35 a 0,65 a
2,4 365,2 a 157,2 a 100,6 a 56,6 a 0,43 a 0,36 a 0,64 a
3,0 382,2 a 144,2 a 91,8 a 52,4 a 0,38 a 0,36 a 0,64 a
Número de frutos
por planta
3 375,2 a 154,0 a 97,8 a 56,2 a 0,41 a 0,36 a 0,64 a
4 397,0 a 155,4 a 101,2 a 54,2 a 0,39 a 0,35 a 0,65 a
1
Matéria seca da planta corresponde à parte aérea da planta (folhas + caule + frutos); 2Matéria seca da fração vegetativa corresponde à
soma de folhas e caule; 3Médias seguidas pelas mesmas letras nas colunas, dentro de cada fator, não diferem significativamente pelo teste
de Duncan (p≤5%).

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 273


TS Duarte & RMN Peil

Tabela 2. Efeito da densidade de plantio e do número de frutos por planta sobre o índice de área foliar (IAF), área foliar acumulada pela
planta, área foliar específica (AFE)1 e o teor de matéria seca da fração vegetativa2, do caule e das folhas de meloeiro, 68 dias após o trans-
plante (effect of plant density and the number of fruits per plant on the leaf area index (LAI), leaf area accumulated by plant, specific leaf
area (SLA) and rate of dry matter of the vegetative parts, stem and leaves of melon plants, 68 days after setting). Pelotas, UFPel, 2004.
Teor de matéria seca (%)
Área foliar AFE
Fatores IAF Fração vegeta-
(cm2 planta-1) (cm2 g-1) Caule Folhas
tiva
Densidade de plantio
(plantas m-2)
1,7 1,60 b3 9405,5 a 88,7 a 10,9 a 8,0 a 13,5 a
2,4 2,75 a 11472,7 a 114,0 a 10,5 a 7,5 a 13,5 a
3,0 2,63 a 8768,1 a 95,5 a 10,1 a 7,3 a 12,8 a
Número de frutos/planta
3 2,60 a 8786,4 a 89,8 a 10,6 a 7,7 a 13,5 a
4 2,10 a 10977,7 a 108,5 a 10,3 a 7,4 a 13,0 a
1
AFE corresponde à relação área foliar/matéria seca de folhas; 2Fração vegetativa corresponde à soma: folhas e caule; 3Médias seguidas
pelas mesmas letras nas colunas, dentro de cada fator, não diferem significativamente pelo teste de Duncan (p≤5%).

à maior radiação solar refletida favore- densidade de plantio fosse diluído, favo- dos entre os diferentes órgãos da planta
cida pelo piso branco da estufa (Gijzen, recendo similaridade na disponibilidade é regulada pelos próprios drenos (Heu-
1995), assim como, às características de fotoassimilados entre as diferentes velink, 1995a). Assim, a distribuição de
do meloeiro, como o baixo índice de densidades e, consequentemente, não matéria seca estaria relacionada com a
área foliar (IAF) (Tabela 2), colaborou diferindo o crescimento vegetativo das carga de frutos (número ou matéria total
para os resultados obtidos no presente plantas. de frutos na planta), havendo a redução
trabalho. Para as culturas do tomateiro e A matéria seca alocada para o caule e do crescimento vegetativo quando au-
do pepino em ambiente protegido, o IAF as folhas (Tabela 1) também não sofreu menta-se o número de frutos, conforme
alcança, normalmente, valores superio- influência da densidade de plantio e foi observado para a cultura do tomateiro
res a 3,0 ao final do cultivo, podendo semelhante à relatada por Valantin et (Heuvelink, 1995a; Heuvelink, 1997) e
inclusive chegar a valores superiores al. (1999). do pepino (Marcelis, 1996; Peil & Gál-
a 5,0-6,0 (Peil, 2000). Por outro lado, Efeito do número de frutos vez, 2002b). Para o tomateiro, a fração
para o meloeiro tutorado e podado, ao por planta - A redução da relação de biomassa alocada para os órgãos
final do cultivo, o IAF alcança valores fonte:dreno, através do aumento de três vegetativos diminui, segundo relação do
bem inferiores ao destas culturas. Outros para quatro no número de frutos/planta, tipo saturante com o número de frutos. A
autores encontraram valores de IAF não alterou a produção de matéria seca saturação para essa cultura (i.e. quando o
bastante baixos para o meloeiro quando total da planta e da fração vegetativa, a aumento do número de frutos não mais
conduzido tutorado em comparação ao distribuição de assimilados para a fração altera a distribuição de matéria seca da
tomateiro e ao pepino, não passando de vegetativa e entre os órgãos vegetati- planta) seria atingida para carga superior
2,5 (Andriolo et al., 2003; Andriolo et vos (relações caule/fração vegetativa a 45 frutos/planta (Heuvelink, 1997),
al., 2005; Fagan, 2005). Este comporta- e folhas/fração vegetativa) (Tabela 1), enquanto que para o meloeiro a carga
mento deve-se, principalmente, à menor bem como, a área foliar, a área foliar saturante seria muito inferior à do to-
área individual de suas folhas em com- específica e os teores de matéria seca mateiro. A não influência do número de
paração ao tomateiro e ao pepino, o que dos órgãos vegetativos (Tabela 2). Esse frutos (3 a 4 frutos/planta) na proporção
aliado à alta disponibilidade radiativa resultado não era esperado, pois existem de matéria seca distribuída para os frutos
do período, resultou em que o efeito do indicações que em hortaliças de frutos, do meloeiro, avaliada neste trabalho,
maior sombreamento mútuo na maior a proporção da distribuição de assimila- juntamente com informações obtida por

Tabela 3. Efeito da ausência de frutos na planta de meloeiro sobre a área foliar acumulada, área foliar específica (AFE)1 e o teor de matéria
seca da fração vegetativa2, caule e folhas (effect of the absence of fruits in the melon plant on the accumulated leaf area, specific leaf area
(SLA) and of dry matter of the fraction vegetative ratio, stem and leaves). Pelotas, UFPel, 2004.
Área foliar AFE Teor de matéria seca (%)
Número de frutos planta-1
(cm2 planta-1) (cm2 g-1) Fração vegetativa Caule Folhas
0 9345,1 a 3
39,6 b 11,6 a 10,5 a 15,2 a
3 9083,6 a 87,8 a 10,8 b 7,6 b 13,5 b
1
AFE corresponde à relação área foliar/matéria seca de folhas; 2Fração vegetativa corresponde à soma: folhas e caule; 3Médias seguidas
pelas mesmas letras nas colunas não diferem significativamente pelo teste de Duncan (p≤5%).

274 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Relações fonte:dreno e crescimento vegetativo do meloeiro

Tabela 4. Efeito da ausência de frutos na planta de meloeiro sobre a matéria seca total acumulada pela planta1, pela fração vegetativa2, pelas
folhas e pelo caule e sobre as relações matéria seca do caule e das folhas / matéria seca da fração vegetativa (effect of the absence of fruits
in melon plant on the total dry matter accumulated by plant, the vegetative parts, leaves and stem and on the dry matter of stem and leaves/
dry matter ratio of the parts vegetative). Pelotas, UFPel, 2004.
Matéria seca Relação de matéria seca
Número de frutos Total da Fração Caule / Folhas /
por planta Folhas Caule
planta vegetativa vegetativa vegetativa
(g planta-1) (g planta-1)
(g planta-1) (g planta-1) (g g-1) (g g-1)
0 358,1 a3 358,1 a 236,3 a 121,8 a 0,34 a 0,66 a
3 394,6 a 161,8 b 103,5 b 58,3 b 0,36 a 0,64 a
1
Matéria seca da planta corresponde à parte aérea (folhas + caule + frutos); 2Matéria seca da fração vegetativa corresponde à soma: folhas
+ caule; 3Médias seguidas pelas mesmas letras nas colunas não diferem significativamente pelo teste de Duncan (p≤5%).

Fagan (2005) para essa mesma cultura, com remoção de todos os frutos (Ta- para o tomateiro (Heuvelink, 1995a) e
indica que o número de frutos estuda- bela 3). Maior número de frutos por para o pepino (Marcelis, 1994; Peil &
dos já tenha atingido a saturação. Para planta geraria competição entre esses Gálvez, 2002b). A possível existência
Fagan (2005), plantas com dois frutos e os órgãos vegetativos, diminuindo o de um compartimento de estocagem
apresentaram menor fração de biomassa crescimento destes últimos. No entanto, (“pool”) temporário dos assimilados
alocada para os órgãos vegetativos do esse efeito pode ser reduzido quando de carbono dentro da planta, para sua
que plantas com um fruto. A análise dos não houver limitação de radiação solar posterior utilização, foi sugerida por De
resultados de Fagan (2005) e dos obtidos (verão). Koning (1994). Os modelos de previsão
no presente trabalho sugere que, para o O período de realização deste tra- do crescimento das culturas, também,
meloeiro, a saturação da carga de frutos balho, como citado anteriormente, consideram o caule e as folhas como
se encontra a partir de 2 frutos/planta. caracterizou-se por alta disponibilidade compartimento único. Esse comparti-
Quando se aumenta o número de frutos de radiação solar, o que, provavelmente, mento único é alimentado pela fotossín-
por planta, a demanda de fotoassimila- aumentou a atividade de fonte e não li- tese e é onde todos os órgãos da planta
dos pelos frutos se eleva, instalando-se mitou a produção de assimilados, sendo buscam os assimilados necessários para
uma forte competição por assimilados estes suficientes para manter o cresci- seu crescimento e funcionamento.
entre esses. Entretanto, o aparecimento mento vegetativo similar, independente A ausência de frutos na planta
de um novo fruto compete mais com do número de frutos por planta. causou forte redução da área foliar
os frutos remanescentes do que com os específica (AFE; Tabela 3). A menor
Efeito da ausência de frutos na
órgãos vegetativos, conforme também AFE deve-se, principalmente, à maior
planta - A ausência de frutos não afetou
observado por Valantin et al. (1999), matéria seca foliar (Tabela 4), uma vez
a produção de matéria seca da planta
mostrando que a força de dreno de que a área foliar não foi afetada (Tabela
como um todo, enquanto que a produção
um fruto individual decresce com o 3), indicando que o meloeiro responde
de matéria seca das folhas e do caule e,
aumento no número destes. Desta for- à baixa demanda de drenos, através do
consequentemente, da fração vegetati-
ma, limita-se o acúmulo de matéria no acúmulo de fotoassimilados nas folhas.
va, mais do que duplicou (Tabela 4). A
fruto e se mantém o acúmulo nas partes Para o tomateiro, a baixa demanda
presença de frutos na planta reduziu o
vegetativas, mesmo com o aumento na de drenos (alta relação fonte:dreno,
crescimento vegetativo, devido à maior
fixação de frutos. Esse comportamento devido à remoção de frutos) aumenta
demanda por assimilados estabelecida
também foi observado por Barni et al. o conteúdo de carboidratos devido à
pelos frutos, confirmando que os frutos
(2003) para o meloeiro. Isso mostra maior disponibilidade destes na planta,
são os maiores drenos por assimilados.
que a planta do meloeiro tem limite em o que, freqüentemente, leva à inibição da
sua capacidade produtiva. Quando os Embora a matéria seca produzida fotossíntese como resultado final (Ne-
assimilados são usados no sentido de pela parte vegetativa tenha diminuído derhoff et al., 1992). Por outro lado, para
aumentar o número de frutos fixados em mais de 50% no tratamento com o pepino não foi observada redução da
por planta, há conseqüente redução no três frutos, em conseqüência da menor fotossíntese como resposta ao aumento
peso médio dos frutos e não redução no produção de matéria seca das folhas e da relação fonte:dreno (Marcelis, 1991).
crescimento vegetativo. do caule, a distribuição de matéria seca Aparentemente, as plantas de pepino, à
Como a área foliar (AF) não variou entre o caule e as folhas não foi afetada semelhança do meloeiro, se adaptam à
entre os tratamentos (Tabela 2), e sim (Tabela 4). Esse comportamento indica baixa demanda de dreno, reduzindo a
o número de frutos por planta, quando que para o meloeiro, os frutos competem AFE (Peil & Gálvez, 2002b).
aumentou-se o número destes reduziu- com as partes vegetativas aéreas indis- Conforme Heuvelink (1995a), essa
se a relação fonte:dreno. No presente tintamente, ou seja, o caule e as folhas menor AFE, ou maior concentração
trabalho, as podas estabelecidas para atuam como compartimento único (ór- de matéria por área foliar, devido à
conduzir as plantas nivelaram a AF nos gão único) de estocagem temporária de remoção total de frutos, pode provocar
tratamentos, inclusive no tratamento assimilados, assim como já observado enrolamento das folhas do tomateiro e,

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 275


TS Duarte & RMN Peil

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276 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


OLIVEIRA AP; SANTOS JF; CAVALCANTE LF; PEREIRA WE; SANTOS MCCA; OLIVEIRA ANP; SILVA NV. 2010. Yield of sweet potato fertilized
with cattle manure and biofertilizer. Horticultura Brasileira 28: 277-281.

Yield of sweet potato fertilized with cattle manure and biofertilizer


Ademar P Oliveira1,5; João F Santos2; Lourival F Cavalcante1,5; Walter E Pereira1,5; Maria do Carmo CA
Santos3,5; Arnaldo Nonato P Oliveira4,5; Natália V Silva4,5
1
UFPB-CCA, C. Postal 02, 58397-000 Areia-PB; 2EMEPA, Lagoa Seca-PB; 3UFCG, Progr. Pós-graduação em Recursos Humanos,
58104-533 Campina Grande-PB; 4Graduação em Agronomia, UFPB; 5Bolsista CNPq; ademar@pp.cnpq.br

ABSTRACT RESUMO
In Northeastern Brazil, the sweet potato is cultivated in small Produção da batata-doce adubada com esterco bovino e
farms, in a family farming systems, constituting themselves an biofertilizante
alternative way for the generation of food, employment and income. Na região Nordeste do Brasil, a batata-doce é principalmente
This study aimed to assess the effect of cattle manure levels and plantada por pequenos produtores em sistema de agricultura fami-
biofertilizer concentrations on the sweet potato cultivar White liar, constituindo-se numa alternativa de alimentação e geração de
Queen productivity. The experiment was carried out from March emprego e renda. Este trabalho teve por objetivo avaliar o efeito
to September 2007 at the EMEPA Experimental Station in Lagoa das doses de esterco bovino e de concentrações de biofertilizante
Seca, Brazil. The experimental design was randomized blocks, in sobre a produtividade da batata-doce, cultivar Rainha Branca. O
split split plot 6 x 4 x 2 + 1 scheme, with four replications. The plots experimento foi conduzido no período de março a setembro de 2007
consisted of cattle manure levels (0, 10, 20, 30, 40 and 50 t ha-1), the na Estação Experimental da EMEPA, em Lagoa Seca-PB, Brasil. O
subplot of biofertilizer concentrations (0, 15, 30 and 45%) and the delineamento experimental foi de blocos casualizados, em esquema
sub subplots consisted of methods of biofertilizer application, to the de parcelas subdivididas 6 x 4 x 2 + 1, em quatro repetições. A parcela
soil or leaves. Also, there was an additional control treatment using foi constituída de doses de esterco bovino (0, 10, 20, 30, 40 e 50 t
N, P and K mineral fertilizer. Commercial and total root productivity ha-1), a subparcela de concentrações de biofertilizante (0, 15, 30 e
was evaluated. The levels of 30.8 and 31.2 t ha-1 of cattle manure 45%). A subsubparcela foi representada pelas formas de aplicação do
were responsible for the highest commercial and total sweet potato biofertilizante no solo e via foliar, aos 20, 30, 40, 50, 60, 70, 80, 90
root productivity (17.4 and 13.1 t ha-1, respectively). Biofertilizer e 100 dias após o plantio. Foi aplicado um tratamento adicional com
concentrations of 29 and 28%, applied to soil and to leaves provided, adubação N, P e K. Foram avaliadas produtividade total e comercial
respectively, the greatest productivities of total roots (15.4 and 13.1 de raízes. As doses de 30,8 e 31,2 t ha-1 de esterco bovino resultaram
t ha-1), whereas concentrations of 30 and 27%, also applied to soil em máximas produtividades total e comercial de raízes de batata-doce,
and leaves were responsible, respectively, for the highest commercial 17,4 e 13,1 t ha-1, respectivamente. As concentrações de 29 e 28%
root productivity (11 and 9.7 t ha-1). de biofertilizante, aplicadas no solo e via foliar, respectivamente,
proporcionaram as maiores produtividades total de raízes (15,4 e
13,1 t ha-1) e as concentrações de 30 e 27%, também aplicadas no
solo e via foliar foram responsáveis, respectivamente, pelas máximas
produtividades comerciais de raízes (11 e 9,7 t ha-1).

Keywords: Ipomoea batatas, organic fertilization, productivity. Palavras-chave: Ipomoea batatas, adubação orgânica,
produtividade.

(Recebido para publicação em 26 de novembro de 2008; aceito em 9 de julho de 2010)


(Received on November 26, 2008; accepted on Juy 9, 2010)

S weet potato is the fourth most


consumed vegetable in Brazil. It is
cultivated in all the Brazilian geographic
reasons, by the poor knowledge about
the crop organic and mineral nutritional
necessities (Oliveira et al., 2007).
matter content (Trani et al.,1997).
The vegetable crops are benefited by
the utilization of organic manure, which
regions, especially in the South and in The utilization of animal organic improves crop quality and productivity.
the Northeast ones. In the Brazilian manure is believed to improve the These benefits are consequences of
Northeast region, sweet potato plays quality of soil and to provide economic the improvement of many physical,
an important social role, since it is an benefits for the vegetable crop growers, chemical and biological soil properties,
energetic food source, which is part since it promotes soil fertility by the which is provided by the application
of the food chain of the poorest social nitrogen accumulation, increasing of organic fertilizers (Ferreira et al.,
strata. Additionally, it is more cultivated the mineralization potential of this 1993). The cattle manure is the most
and spread in the regions which are close element and, consequently, improving utilized source, especially on soils with
to the big consumer centers (Soares et the nitrogen availability to the crop low organic matter content (Filgueira,
al., 2002). Besides of its importance, (Galvão et al., 1999). Nonetheless, the 2000).
sweet potato presents a low average required manure dose will depend on the Positive effects of organic fertilization
yield (6,8 t ha-1), caused, among other soil type, texture, structure and organic on productivity have been obtained from

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 277


AP Oliveira et al.

some vegetable crops whose roots Gaussen bioclimatic classification, the water) were necessary for each form of
comprise the commercialized product. 3DTH northeastern sub-dry bioclimate application (to soil and to plant leaves).
For carrot, Praxedes (2000) verified predominates over this area, which 750 L ha -1 were necessary for each
higher production with treatments presents an average annual rainfall of concentration treatment.
which received cattle manure and cattle about 1,400 mm. The biofertilizer was prepared
manure plus biofertilizer, of 22.0 and According to the Köppen following the methodology of Santos
20.3 t ha-1 of roots. For sweet potato, classification, the climate is AS’, (1992), which was constituted by
Hollanda (1990) obtained the highest characteristically hot and humid, fermentation during 30 days of a mixture
economic efficiency of root production which presents rainfall events during of fresh cattle manure and water in the
with the application of 40 t ha-1 of cattle autumn and winter. The soil, according proportion of 50% (volume/volume =
manure. to Embrapa (1999), is the Neossolo v/v), into a plastic container without
Another useful and cheap procedure Regolítico Psamítico Típico, with the air. In addition to these ingredients, we
is the employment of biofertilizers following chemical attributes: pH = 6.5; added 2% of plant ash, 2.5% of chicken
which are prepared through the aerobic P = 94.76 mg dm-3; K = 121.83 mg dm-3; litter and 1% of limestone. To make
digestion of organic material. Those Ca = 3.50 cmolc dm-3; Mg = 0.75 cmolc the system anaerobic, the mixture was
liquid fertilizers have been utilized in dm-3 and organic matter = 13.1 g kg-1. poured into a 200-liter container, up to
the organic agriculture in substitution to The cattle manure chemical attributes 15-20 cm of the top. Then, the container
the mineral fertilizers (Fernandes et al., were: N= 7.20 g dm-3; P2O5= 3.60 g kg-1; was hermetically sealed and a hose was
2000) in order to sustain the nutritional K2O= 4.10 g kg-1; C= 105.85 g dm-3= introduced through the lid. The other
balance of the plants and make them less C/N= 14/1 and organic matter = 182.07 hose end was immersed into water in
susceptible to the pests and pathogens g kg-1. The biofertilizer presented the a 20-centimeter container, to allow the
(Santos, 2001). following chemical attributes: N = 8.2 release of gases.
In short cycle crops, as the vegetable g kg-1; P = 0.44 g L-1; K = 0.65 g L-1; S The plots corresponding to the
crops, the utilization of biofertilizers = 0.54 g L-1; Ca = 0.93 g L-1 and Mg = mineral N, P and K fertilization were
must be carried out weekly through spray 0.92 g L-1. applied, at the planting moment, 30 kg
application in order to provide a rapid The randomized blocks experimental ha-1 of N and 10 kg ha-1 of K2O. The top-
and efficient nutrient complementation design in the split split plot scheme 6 x dressing was constituted by 60 kg ha-1
for a good plant development. Pinheiro 4 x 2 + 1 with four replications was of N and 20 kg ha-1 of K2O split in equal
& Barreto (2000) obtained improvement adopted. The main plots were doses of parts at 30 and 45 days after planting. As
of commercial production of cucumber, cattle manure (0, 10, 20, 30, 40 and 50 sources of N and K2O, amonium sulphate
eggplant, tomato, lettuce and sweet t ha-1), the subplots were biofertilizer and potassium chloride were utilized.
pepper as a result of the application concentrations (0, 15, 30 and 45%), and Considering the P2O5 level presented
of a biofertilizer produced with cattle the sub subplots were two methods of by the soil, phosphate fertilization was
manure at 20% in greenhouse and in biofertilizer application (to the soil or not carried out.
field. In sweet potato, there is almost to the plant leaves). There was, also, a Forty-centimeter stems of the Rainha
no information about the utilization of control treatment with mineral N, P and Branca cultivar of sweet potato were
biofertilizers. It evidences the necessity K fertilization. used for planting. These stems, which
of researches in order to make the The sub subplots were constituted by were obtained from a nursery close to
biofertilizer utilization for this crop five 3.50-meter-length furrows, of which the experimental area, were cut one day
a feasible alternative fertilization the central furrow and the two plants before planting. At planting, they were
method. of each end were eliminated. Thus, the buried to 10-12 cm depth from its basis
The present research work aimed at sub subplot useful area was constituted with a little hook and they were spaced
evaluating the production of sweet potato by four 2.5-meter-length furrows (40 0.80 x 0.30 m.
depending on different doses of cattle plants and 10 m2), the subplots were Irrigation was carried out twice a
manure and different concentrations constituted by 16 furrows (160 plants week during the dry periods, providing
of biofertilizers applied to soil or to and 40 m2) and the main plots were adequate moisture conditions for
plant leaf. constituted by 96 furrows (960 plants the plant development. Hand hoeing
and 240 m2). was carried out in order to keep the
MATERIAL AND METHODS The cattle manure was mixed to experimental area free from weeds.
soil fifteen days before planting and Considering the absence of pests and
The experiment was carried out the biofertilizer treatments were applied diseases, actions for their management
from May to September 2007 at the to soil and to the plant leaf 20, 30, 40, were not performed.
EMEPA experimental station in Lagoa 50, 60, 70, 80, 90 and 100 days after Harvesting was carried out 110
Seca, Paraíba State, Brazil, 6º 58’12’’ planting. days after planting, at the sweet potato
South latitude, 32º 42’15’’ West In order to meet the necessity of physiological maturity point, and
longitude and 534 m high (Gondim the useful plants into the tertiary plots, total and commercial productivity of
& Fernandes, 1980). According to the three liters of solution (biofertilizer plus roots were evaluated. Commercial

278 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Yield of sweet potato fertilized with cattle manure and biofertilizer

productivity referred to the weight


of uniform smooth roots, weighting 20 y1 = 10.901 + 0.4195**x - 0.0068**x2

Productivity of roots (t ha-1)


80 g or more, according to Embrapa R2 = 0.93
(1995). The results were submitted to
variance and regression analysis at 5% 16
of significance.

RESULTS AND DISCUSSION 12

Cattle manure dose, biofertilizer y2 = 7.5495 + 0.3561**x - 0.0057**x2


concentration and the application 8
method influenced significantly (p<0.01)
R2 = 0.95
total and commercial yield of sweet
4
potato roots. In regression analysis,
the average values of productivity 0 10 20 30 40 50
depending on cattle manure doses and
Cattle manure doses (t ha-1)
biofertilizer concentrations matched
quadratic models (Figures 1 and 2). Figure 1. Commercial (y2) and total (y1) productivity of sweet potato roots according to
The highest total and commercial cattle manure levels (produtividade total (y1) e comercial (y2) de raízes de batata-doce em
productivity of roots were 17.4 and 13.1 função de doses de esterco bovino). Lagoa Seca, EMEPA, 2007.
t ha-1 obtained with 30.8 and 31.2 t ha-1
of cattle manure, which represented a
yield improvement of 35.2 and 41%,
respectively, in comparison to the 18 y1 soil = 11.108 + 0.3081x - 0.0053x2
productivity obtained without cattle R2 = 0.962
manure application (Figure 1). Santos et
Total productivity of roots(t ha-1)

al. (2006) obtained improvement of 54% 16


for commercial productivity of sweet
potato roots through the application of
32 t ha-1 of cattle manure. The highest
14
yield obtained by these authors for
commercial root production percentage 12
is, possibly, due to the higher dose of
cattle manure and to its higher content
of nutrients (N = 8.2 g kg-1; P = 5.2 g 10 y2 leaf = 9.8111+ 0.2325x - 0.0041x2
kg-1 and K = 4.9 g kg-1), in relation to R2 = 0.9606
the cattle manure used in the present
research work. 8
To w a r d s t h e b i o f e r t i l i z e r 0 15 30 45
concentration, the highest total root
yields were 15.4 and 13.1 t ha-1, obtained Biofertilizer concentrations (% )
with the concentrations of 29 and
28%, applied to soil and to leaves, Figure 2. Total productivity of sweet potato roots according to biofertilizer concentrations
respectively (Figure 2). Nevertheless, application in the soil and on leaves (produtividade total de raízes de batata-doce em função de
concentrações de biofertilizante aplicado no solo e via foliar). Lagoa Seca, EMEPA, 2007.
the concentrations of 30 and 27%,
also applied to soil and to leaves
resulted, respectively, in the highest in comparison to its application to The highest commercial root
commercial yields of roots (11.0 and the plant leaves (Figures 2 and 3). productivities obtained through the
9.7 t ha-1) (Figure 3). Whereas the total However, Oliveira et al. (2007) obtained application of cattle manure and
productivities were respectively 27.7 productivity of 12.9 t ha-1 of commercial biofertilizer were higher than the
and 24.4% higher in comparison to the roots of sweet potato with the utilization Paraíba State average productivity
treatments without biofertilizers, these of cattle manure and a concentration of (6,8 t ha-1) (Silva et al., 2002) and the
values were of 29.4 and 25.3% for the 20% of biofertilizer. On the other hand, national average productivity 10 t ha-1
commercial yield. Barbosa (2005) produced 13.4 t ha-1 (Soares et al., 2002). It demonstrates
The biofertilizer applied to soil of commercial sweet potato roots with those organic insumes are efficient
improved total and commercial the application of biofertilizer at the for the improvement of sweet potato
productivity in 2.3 and 1.3 t ha -1 concentration of 20%. productivity. The highest productivity

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 279


AP Oliveira et al.

nutrients presented by the biofertilizer


12 y1 soil = 7.6203 + 0.224x - 0.0037x2 and the cattle manure, which indicates
R2 = 0.9376 these organic fertilizers match the
nutritional necessities of the sweet
Commercial productivity '

potato plant.
of roots (t ha-1)

10 Some authors verified sweet potato


responses to the application of mineral
fertilizers. Oliveira et al. (2006a) and
Brito et al. (2006) obtained sweet
8 potato production improvement as
y2 leaf = 7.1614 + 0.1885x - 0.0035x2 effect of application of phosphorus and
R2 = 0.9547 potassium, respectively. Therefore, the
absence of sweet potato responses to
the N, P and K fertilization can also be
6
explained by nutrient leaching due to the
0 15 30 45 excessive rainfall during the experiment
Biofertilizer concentrations (%) conduction. According to MeIo et al.
(2000), nutrients from fertilizers can
Figure 3. Commercial productivity of sweet potato roots according to biofertilizer concentra- be easily leached, especially nitrogen.
tions application in the soil and on leaves (produtividade comercial de raízes de batata-doce Oliveira et al. (2006b) reported lower
com concentrações de biofertilizante aplicado no solo e via foliar). Lagoa Seca, EMEPA, production of sweet potato commercial
2007. roots with high occurrence of rainfall.
Thus, the results which were
obtained through the utilization of of macro and micronutrients, to the obtained in the present work indicate
cattle manure and biofertilizer applied longer period of contact between the cattle manure and biofertilizer can be
to soil overcame the national average root and the biofertilizer, to the lower a good alternative for the sweet potato
productivity in 3.1 and 1.0 t ha -1 , evapotranspiration and to the higher organic fertilization. However, further
respectively. Therefore, these nutrient absorption of water and nutrients by research should be carried out under
sources can be recommended to the the sweet potato plant (Cavalcante & different soil types and rainfall levels
sweet potato organic fertilization, mainly Lucena, 1987; Galbiatti et al., 1991). in order to check them.
the cattle manure. The cattle manure doses and the
The cattle manure efficiency for biofertilizer concentrations which References
improving the yield of sweet potato provided the highest productivities,
commercial roots is, possibly, related in addition to the initial soil nutrient BRITO CH; OLIVEIRA AP; ALVES AU;
to its chemical composition, to the content were enough to match the DORNELAS CSM; SANTOS JF; NÓBREGA
improvement of the physical and sweet potato nutritional necessities. JPR. 2006. Produtividade da batata-doce em
função de doses de K2O em solo arenoso.
biological properties of the soil and to The right use of organic fertilizers can Horticultura Brasileira 24: 320-323.
the supply of nutrients such as nitrogen, supply the plant necessities for some CAVALCANTE LF; LUCENA ER. 1987.
phosphorus and potassium. Considering macronutrients (Raij, 1991). Likewise, Fosfogesso e biofertilizante bovino num solo
the low organic matter content of the Soares et al. (2002) and Santos et al. salino sódico sobre germinação, crescimento
e produção de matéria seca de Vigna (Vigna
soil (13.19 g kg-1), the positive results (2006) reported that cattle manure unguiculata L. WALP). Revista Tecnologia e
obtained through the utilization of cattle application improved the production of Ciência 1: 16-20.
manure are related to the improvement tuber roots. Furthermore, Oliveira et al. EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de
of the soil cation exchange capacity (2007) reported improvement of tuber Hortaliças. 1995. Cultivo da batata-doce
(Ipomoea batatas (L.) Lam). (Instruções
and the supply of nutrients to the sweet roots productivity with the application Técnicas, 7).
potato plant (Varanine et al., 1993; of biofertilizers. EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos.
Filgueira, 2000). There was no significant difference 1999. Sistema Brasileiro de Classificação de
Solos. Brasília: Produções de Informações.
The sweet potato response to the between organic and mineral N, P and 412p.
utilization of the biofertilizer can be K fertilization. However, according to FERNANDES MCA; LEAL MAA; RIBEIRO
related to the fact that the application of Filgueira (2000), sweet potato presents RLD; ARAÚJO ML; ALMEIDA DL. 2000.
liquid organic fertilizers to the vegetable good responses to the application of Cultivo protegido do tomateiro sob manejo
orgânico. A Lavoura 634: 44-45.
crops can provide higher nutrient nitrogen, phosphorus and potassium.
FERREIRA ME; CASTELLANE PE; CRUZ
absorption (Gabaltti et al., 1991; Souza In the present work, the absence of MCP. 1993. Nutrição e adubação de hortaliças.
& Resende, 2003). The higher sweet responses to the utilization of N, P and Piracicaba: Potafos. 487p.
potato productivities obtained through K can be related to the high contents FILGUEIRA FAR. Manual de Olericultura. 2000.
the application of biofertilizer to the soil of P (94,76 mg dm-3) and K (126,83 Viçosa: UFV. 402p.
can be related to the balanced supply mg dm-3), in addition to the quantity of FREITAS SP; SEDIYAMA T; SEDIYAMA MAN;

280 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Yield of sweet potato fertilized with cattle manure and biofertilizer

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de conserva de palmito como substrato para plantas. Horticultura Brasileira 28: 282-286.

Aproveitamento dos resíduos da produção de conserva de palmito como


substrato para plantas
Maria Helena Fermino1; Reinaldo S Gonçalves2; Alice Battistin1; José Ricardo P Silveira1; Ângela Cris-
tina Busnello1; Miriam Trevisam1
¹FEPAGRO, R. Gonçalves Dias, 570, Menino Deus, 90130-060 Porto Alegre-RS; ²UFRGS-Instituto de Química, C. Postal 15049;
91501-970 Porto Alegre-RS; maria-fermino@fepagro.rs.gov.br; reinaldo@iq.ufrgs.br; alice-battistin@fepagro.rs.gov.br; jose-silveira@
fepagro.rs.gov.br; acbusnello@yahoo.com.br; miriamagronomia@gmail.com

Resumo Abstract
Avaliou-se as características físicas e químicas dos resíduos da Reutilization of wastes from the production of palm heart
extração do palmito da palmeira real australiana [Archontophoenix canning as substrates for plants
alexandrae (F. Muell.) H. Wendl. & Drude] com vistas à sua utilização A study was held to evaluate the physical and chemical
como substrato para plantas. Estudou-se amostras originárias de dois characteristics of wastes from the extraction of the heart of the
locais, do interior e do litoral, e subdividiu-se as mesmas segundo Australian real palm (Archontophoenix alexandrae), in order to use
as partes da planta em folhas, estipe, e “cartucho” (bainhas), sendo it as substrates for plants. Samples from inland and from seaside
analisadas na forma in natura e após sofrer hidrólise ácida. Todas as were subdivided into leaves, stipe and "cartridge" (sheaths) and
amostras foram caracterizadas determinando-se a densidade úmida analyzed in the in natura form and after acid hydrolysis. All samples
e seca, a porosidade total, o espaço de aeração, a disponibilidade de were characterized by humid and dry density, total porosity, aeration
água, o valor de pH, a condutividade elétrica e o teor total de sais space and availability of water, pH, electric conductivity and total
solúveis. Não houve diferença estatística entre as amostras para as content of soluble salts. There was no statistical difference among
características físicas estudadas. As amostras oriundas do litoral não the samples for the studied physical characteristics. The samples
diferiram daquelas obtidas no interior, assim como, as amostras que from seaside did not differ from those from inland and the samples
sofreram hidrólise ácida não diferiram daquelas in natura. Da mesma that have suffered acid hydrolysis did not differ from those in natura.
forma, as partes da planta (folhas, estipe e cartucho) não apresen- Also, the parts of the plant (leaves, stipe and cartridge) showed no
taram diferenças significativas entre si. No entanto, os resultados significant differences among themselves. The results of chemical
das características químicas consideradas não são apropriados para characteristics showed the utilization of wastes from the production
a utilização dos resíduos da indústria de conserva de palmito como of palm heart canning as substrates for plants is not recommended.
substrato para plantas e indicam a necessidade de novos estudos Additionally, the results evidenced the need for new studies with
com resíduos provenientes de plantio controlado da palmeira real waste from controlled planting of Australian real palm.
australiana.

Palavras-chave: Archontophoenix alexandrae, palmeira real


Keywords: Archontophoenix alexandrae, Australian real palm, acid
australiana, hidrólise ácida, características físicas, características
hydrolysis, physical characteristics, chemical characteristics.
químicas.

(Recebido para publicação em 31 de março de 2009; aceito em 24 de junho de 2010)


(Received on March 31, 2009; accepted on June 24, 2010)

A s plantas olerícolas, florestais, fru-


tíferas, ornamentais, medicinais,
aromáticas e mesmo culturas industriais
1991; Miner, 1994; Fermino, 1996; Mül-
ler, 2000) do uso de diversos materiais
como substrato para plantas, como por
do potencial do material como substra-
to, as grandes empresas, que até então
cultivavam o coqueiro para obtenção
como fumo necessitam, em pelo menos exemplo estercos, fibras naturais, lixo do coco e da água, passaram a implan-
algumas fases do seu desenvolvimento, urbano, solo, poliuretanos, aguapé, tar áreas de cultivo com o objetivo de
do cultivo em recipientes (bandejas, bagaço de cana, “confete” de papel (for- obter matéria-prima para as fábricas de
sacos, vasos, tubetes, entre outros). Ao mulário contínuo), maravalha, cascas substrato. Este substrato tem despertado
meio onde se desenvolvem as raízes em de árvores, casca de arroz e até mesmo interesse internacional como substituto
substituição ao solo in situ e que portan- pneu picado. de materiais considerados excelentes
to, serve de suporte à planta, denomina- Um dos exemplos mais recentes como a turfa e a fibra de xaxim.
se substrato (Kämpf, 2000). e de grande abrangência no país é a Por outro lado, a Mata Atlântica
Existem referências na literatura fibra da casca do coco. Até então se abriga nove gêneros e trinta e nove
(Maas & Adamson, 1975; Worral, 1978; constituía num “poluente” do ambiente espécies de palmeiras, sendo a palmeira
Günther, 1984; Verdonck, 1984; Waller sendo utilizada em baixa escala pela juçara (Euterpe edulis Mart.), de onde
& Wilson, 1984; Lamanna et al., 1991; indústria para confecção de bancos de se obtém o palmito, uma espécie nativa
Raja Harun et al., 1991; Schmilewski, automóveis. A partir da determinação que cresce no substrato inferior da flo-

282 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Aproveitamento dos resíduos da produção de conserva de palmito como substrato para plantas

resta. A exploração do palmito sempre grupos segundo a origem: plantas do disponível, água tamponante e dispo-
se deu de forma extrativista, buscando interior e do litoral, respectivamente. nível foi realizada através de curvas
a matéria-prima nas reservas naturais Os resíduos, após a retirada do pal- de retenção de água nas tensões de 0,
existentes, sem haver preocupação mito, foram ainda segregados em três 10, 50, e 100 cm de altura de coluna
com o repovoamento das áreas ex- grupos segundo as partes da planta: de água, correspondendo às pressões
ploradas. folhas, estipe e “cartucho” (bainhas). de 0, 10, 50 e 100 hPa (De Boodt &
Como não poderia deixar de acon- Estes resíduos ainda foram utiliza- Verdonck, 1972). Funis de Bütner com
tecer, a palmeira nativa Euterpe edulis, dos na forma in natura (triturados e placas porosas (1/2 bar) foram utilizados
tornou-se escassa e com grande possi- secos a 65ºC) e após sofrer hidrólise como correspondente à mesa de tensão
bilidade de ser extinta. Com a redução ácida, a 1% (v/v) de ácido sulfúrico (Kiehl, 1979).
da população desta palmeira, outras por 30 minutos de autoclavagem em * vedação do fundo dos anéis com
espécies passaram a ser estudadas, condições de temperatura de 1200C e tecido de nylon preso por um atilho de
buscando-se plantas mais precoces e que 1,5 atm de pressão (trituração, hidrólise borracha e pesagem destes anéis;
produzam um produto com a qualidade e secagem a 650C). * preenchimento dos anéis metá-
do palmito obtido com a palmeira nati- 2. Métodos para a caracterização licos, de 68,7 mL de capacidade, com
va. Dentre elas, tem merecido destaque física e química - Para análise das os substratos; a quantidade deve ser
a palmeira real australiana (Archonto- características físicas determinou-se a calculada através da densidade dos
phoenix alexandrae). densidade úmida e seca, a porosidade mesmos, para garantir a uniformidade
A colheita do palmito é feita após total, o espaço de aeração e a dispo- de volume;
um período médio de desenvolvimento nibilidade de água. As características * colocação dos anéis em bandejas
que varia de quatro anos, para a palmeira químicas analisadas foram valor de pH, plásticas com água até 1/3 de sua altura,
real australiana, e de até oito anos, para condutividade elétrica e teor total de para saturação, por 24 horas;
as nativas como a juçara. A cada planta sais solúveis. * retirada dos anéis da água;
de palmito colhida, extrai-se cerca de Para a obtenção da densidade de * pesagem dos anéis. O volume de
400 g de palmito comercial, gerando-se volume foi utilizado o método adotado água contida na amostra neste momento
aproximadamente 13 kg de resíduos que pela União das Entidades Alemãs de corresponde ao ponto zero de tensão
incluem estipe, folhas e bainhas. Parte Pesquisas Agrícolas (VDLUFA), para (0 hPa), correspondendo à porosidade
deste material permanece no local da análise de substratos hortícolas (Hoff- total;
colheita ou do processamento, sem ne- mann, 1970; Röber & Schaller, 1985).
nhuma finalidade prática, gerando cerca * transferência dos anéis para o funil,
Preencher uma proveta plástica previamente ajustado para tensão de 10
de 20 toneladas por semana de “lixo”,
transparente e graduada, de 500 mL, cm de coluna de água;
conforme dados da empresa Natusol.
com o substrato. Após, esta proveta é * permanência no funil até atingir
Considerando os fatos expostos, o deixada cair, sob a ação do seu próprio
presente estudo teve por objetivo avaliar equilíbrio (cerca de 48 horas); pesa-
peso, de uma altura de 10 cm por dez gem;
as características físicas e químicas dos vezes consecutivas. Com auxílio de uma
resíduos provenientes da extração do * retorno dos anéis ao funil ajusta-
espátula nivela-se a superfície levemen-
palmito da palmeira real australiana com do para tensão de 50 cm de coluna de
te, e lê-se o volume obtido (em mL). Em
vistas a sua utilização como substrato água;
seguida pesa-se o material úmido (em g)
para plantas. e leva-se à estufa para secagem a 650C * aguardar equilíbrio; pesagem;
até peso constante (ou 48 horas). * retorno dos anéis ao funil ajustado
Material e métodos Os valores das densidades de volume para tensão de 100 cm de coluna de
foram obtidos aplicando-se as seguintes água.
1. Preparo das amostras - O pre- fórmulas: * aguardar equilíbrio; pesagem;
sente estudo foi realizado em laboratório * secagem das amostras em estufa a
da FEPAGRO, de agosto a dezembro de 3 Peso úmido ( g ) 1050C até peso constante (ou 48 horas),
D. úmida (k g m − ) = * 1000
2004. Os resíduos oriundos da palmei- Volume (mL) para determinação dos teores de umida-
ra real australiana (Archontophoenix de e peso da matéria seca.
alexandrae), foram coletados em dois ( Peso úmido − Peso sec o) A construção das curvas de retenção
Matéria sec a (%) = 1 − * 100
locais do Rio Grande do Sul: do interior Peso úmido de água foi efetuada com os valores de
do estado, no município de Vale do Sol umidade volumétrica obtidos através
onde se localiza a empresa Natusol, e D. sec a (k g m −3 ) =
D. úmida (k g m −3 ) * Matéria sec a (%) dos percentuais de água retida para
de várias propriedades no município de 100
cada tensão.
Torres, no litoral do estado. Desta forma, A determinação da porosidade total, De posse destes dados, foram obti-
os resíduos foram divididos em dois espaço de aeração, água facilmente dos os seguintes parâmetros:

1
Comunicação pessoal. 2004. Informação de seu proprietário Alceu Silva

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 283


MH Fermino et al.

Porosidade Total (PT): corresponde Alemanha (Röber & Schaller, 1985) e tre as amostras para as características
à umidade volumétrica presente nas ALVA, na Aústria (Baumgarten, 2002). físicas estudadas. As amostras oriundas
amostras saturadas (tensão 0) A condutividade do extrato, expressa do litoral não diferiram daquelas obti-
como teor de KCl, determina o Teor das no interior do Rio Grande do Sul,
PT =
[ Peso úmido (tensão 0) − Peso sec o (estufa )]
*100
Total de Sais Solúveis (TTSS) de uma assim como, as amostras que sofreram
Volume d o anel suspensão de substrato:água deionizada, hidrólise ácida não diferiram daquelas
Espaço de Aeração (EA): represen- na proporção 1:10 (peso:volume), atra- in natura, também as partes da planta
tado pela diferença obtida entre a poro- vés dos seguintes passos: (folhas, estipe e cartucho) não apresen-
sidade total e a umidade volumétrica na * colocar em frasco “snap-cap”, taram diferenças significativas entre
tensão de 10 cm. 20 g de substrato e 200 mL de água si (Figuras 1 e 2). O valor máximo
deionizada; assumido pelo coeficiente de variação
[ Peso úmido (tensão 0) − Peso úmido (tensão 10)] * agitar por 3 horas em agitador foi de 21% para a variável densidade
EA = * 100
Volume d o anel
mecânico; seca, quando avaliada dentre as partes
da planta, os demais valores de CV
* deixar em repouso até decantação
situaram-se abaixo de 10%.
Água Facilmente Disponível das partículas;
(AFD): volume de água encontrado Os resultados das características
* havendo necessidade, proceder a
entre os pontos 10 e 50 cm de tensão. físicas (DU, DS, PT e EA) encontram-se
filtração das suspensões com papel de
dentro das faixas consideradas adequa-
filtro ou centrifugação;
[ Peso úmido (tensão 10) − Peso úmido (tensão 50)]
das para cultivo, indicando que os resí-
AF D =
Volume d o anel
* 100 * fazer leitura em condutivímetro, duos oriundos da extração do palmito da
da condutividade elétrica do material palmeira real australiana são adequados
Água Tamponante (AT): a água filtrado;
volumétrica liberada entre 50 e 100 cm para uso como substrato para plantas.
* realizar uma prova em branco para Entretanto, necessita-se verificar sua
de tensão.
ajustes devido ao uso do papel filtro para adequação ao cultivo em recipiente e a
a filtragem; manutenção da estrutura física através
[ Peso úmido (tensão 50) − Peso úmido (tensão 100)]
AT = * 100
Volume d o anel * expressar os resultados em gramas da resistência à decomposição.
de KCl por litro de substrato, através dos Os valores de densidade seca (entre
Água Disponível (AD): volume seguintes cálculos: 82 e 143 g L-1) são considerados baixos,
de água liberado entre 10 e 100 cm de sendo indicados para uso em bandejas,
tensão. TTSS (g L−1 ) =
X * C * 56,312 * [D. úmida (k g m −3 )] / 1000
conforme Kämpf (2000) (Figura 1).
[ Peso úmido (tensão 10) − Peso úmido (tensão 100)]
100.000
AD =
Volume d o anel
* 100 Todas as amostras apresentaram al-
sendo: tos valores de porosidade total (entre 84
Métodos para a caracterização e 90%v), dentro da faixa de referência
química X = leitura do condutivímetro em (0,85%v) para substratos, segundo De
Siemens * 10-
4
Boodt et al. (1974) (Figura 2).
Valor de pH - As leituras foram
feitas em suspensões de substrato:água C = constante da célula do condutiví- Todos os materiais têm altos valo-
deionizada na proporção de 1:2,5 (v:v), metro = 1 para aparelhos com correção res de espaço de aeração (entre 0,48 e
através de potenciômetro. O método automática de temperatura 0,64%v) quando comparados ao valor
consiste em: 56,312 = fator de correção para de referência internacional que é de
expressar a condutividade em mg de 0,25%v, sugerido por De Boodt et al.
* colocar, em becker de 100 mL,
KCl/100g de substrato, à temperatura (1974), embora Bunt (1973) e Verdonck
20 mL da amostra (calculado segundo
de 250C. & Gabriels (1988) sugiram valores entre
a densidade) e 50 mL de água deioni-
100.000 = fator de conversão das 0,10 e 0,15%v. Assim, inicialmente, este
zada;
unidades para kg m-³ (= g L-¹) material pode ser indicado para produ-
* homogeneizar as suspensões com ção de mudas pelo sistema de estaquia
bastão de vidro logo após a colocação e/ou em sistemas com alta freqüência de
da água, e depois de 30 minutos e uma Todas as análises, físicas e químicas,
regas. Considerando-se que a maioria
hora; foram realizadas em três repetições. As
dos materiais componentes de substratos
* fazer a leitura com potenciômetro variáveis físicas foram analisadas pelo
têm baixos valores de espaço de aeração,
previamente calibrado; Programa Sigma Stat 3.2. As médias
torna-se promissor o uso destes resíduos
* lavar o eletrodo após cada leitura apresentadas para caracterização dos
como componentes em misturas e como
com água deionizada e secar em papel resíduos são as originais, não tendo
condicionadores.
toalha. sofrido nenhuma transformação.
Já os resultados da água facilmente
Teor total de sais solúveis - O mé- disponível e da água tamponante são
todo utilizado foi o recomendado pela Resultados e discussão insignificantes quando existentes, indi-
Federação dos Institutos para Pesquisas cando que estes materiais não disponi-
e Análises Agrícolas VDLUFA, na Não houve diferença estatística en- bilizam água para as plantas em cultivo

284 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Aproveitamento dos resíduos da produção de conserva de palmito como substrato para plantas

hidrolisada do litoral e, 5,02 das folhas


in natura do interior). No entanto, é
possível verificar que a hidrólise ácida
diminuiu todos os valores de pH dos
materiais.
Gruszynski (2002) reuniu resultados
de pesquisa do valor de pH recomenda-
do por diversos autores para substratos,
quando em cultivo de plantas ornamen-
tais. Nela encontram-se referências de
valor de pH, em água, entre 5,4 e 6,8
para culturas diversas, à exceção de
samambaias, bromélias, azaléias e coní-
feras que requerem pH entre 4,5 e 5,0.
A salinidade, em solos, é expressa
como condutividade elétrica (CE) que
expressa a capacidade do meio de
conduzir eletricidade. Em substratos,
a salinidade é expressa como teor total
de sais solúveis (TTSS), que expressa
a concentração de sais em determinado
Figura 1. Densidade úmida e seca dos resíduos oriundos da indústria de conserva do palmito, volume de substrato, calculada como
proveniente da palmeira real australiana (Archontophoenix alexandrae), segundo o local de KCl.
origem (interior e litoral), o tratamento recebido (in natura e hidrolizado) e parte da planta Assim, em substratos, não basta
(folhas, estipe e cartucho) [humid and dry density of residues from the canning industry of observar o valor da CE, mas considerar
palm heart (Archontophoenix alexandrae), according to the place of origin (inland and sea- a densidade do material. Para o mesmo
side), the received treatment (in natura and hydrolysed) and part of the plant (leaves, estip valor de CE, maior será a salinidade no
and cartridge - sheaths)]. Porto Alegre, FEPAGRO, 2005.
recipiente, quanto maior for a densidade
do substrato.
(Figura 2). los (Tabela 1). Todos os valores de pH Todos os valores de salinidade va-
Os resultados das características estão fora das recomendações, ou muito riam de médio (1,06 kg m-3 para estipe
químicas consideradas sugerem a rea- altos como 8,83 do estipe in natura do hidrolisado do interior) a extremamente
lização de mais estudos para confirmá- interior, ou baixos (entre 1,83 das folhas alto (6,60 kg m-3 para estipe in natura

Tabela 1. Características químicas (valor de pH, condutividade elétrica (CE) e teor total de sais solúveis (TTSS) dos resíduos da indústria de
conserva do palmito, segundo a origem (interior e litoral), tratamento (in natura e hidrolizada) e partes da planta (folhas, estipe e cartucho)
[chemical characteristics (pH, electric conductivity (CE) and total content of soluble salts (TTSS) of the waste of canning industry of heart
of palm tree, according to the origin (inland and seaside), treatment (in natura and hydrolyzed) and parts of the plant (leaves, estipe and
cartridge)]. Porto Alegre, FEPAGRO, 2005.
Local Tratamento Partes da planta PH (H2O) CE* (dS m-1) TTSS (kg m-3)
Folhas 5,02 2,27 3,78
In natura Estipe 8,83 4,10 6,60
Cartucho 4,89 2,07 3,01
Interior
Folhas 2,44 0,90 1,45
Hidrolizada Estipe 2,51 0,62 1,06
Cartucho 2,44 0,70 1,11
Folhas 4,20 1,28 1,86
In natura Estipe 4,26 1,00 1,38
Cartucho 3,30 1,28 2,04
Litoral
Folhas 1,83 1,11 1,93
Hidrolizada Estipe 2,17 0,64 1,12
Cartucho 2,06 0,88 1,55
*diluição do extrato 1:10 substrato:água (volume:volume) [dilution of the extract 1:10 substrate:water (volume:volume)].

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 285


MH Fermino et al.

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286 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


KANO C; CARDOSO AII; VILLAS BÔAS RL. 2010. Influencia de doses de potássio nos teores de macronutrientes em plantas e sementes de alface.
Horticultura Brasileira 28: 287-291.

Influencia de doses de potássio nos teores de macronutrientes em plantas


e sementes de alface
Cristiaini Kano1; Antonio Ismael Inácio Cardoso2; Roberto L Villas Bôas3
1
APTA - Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, C. Postal 01, 13910-000 Monte Alegre do Sul-SP; 2UNESP-FCA, Depto.
Produção Vegetal, Setor Horticultura, C. Postal 237, 18610-307 Botucatu-SP; 3UNESP-FCA, Depto. Recursos Naturais ,Setor Ciência do
Solo; criskano@hotmail.com; ismaeldh@fca.unesp.br

RESUMO ABSTRACT
Avaliou-se a influência de doses de potássio aplicadas em co- Macronutrient content in lettuce affected by potassium side
bertura nos teores de nutrientes em plantas de alface cultivada para dressing
produção de sementes. O delineamento experimental utilizado foi The influence of potassium rates applied in side dressing was
blocos casualizados, com cinco tratamentos (0,0; 1,0; 1,5; 2,0 e 2,5 evaluated on the nutrient content of lettuce plants cultivated for
g planta-1 de K2O) e seis repetições. Os dados foram submetidos à seed production. The experiment was carried out in randomized
análise de variância e à análise de regressão. Somente os teores de complete blocks, with five treatments (0.0; 1.0; 1.5; 2.0 and 2.5 g
potássio e magnésio determinados na matéria seca da parte aérea das plant-1 of K2O) and six replications. Only the potassium and the
plantas foram influenciados significativamente pelas doses de potássio magnesium content in the dry matter of the plant aboveground part
testadas, em que para o teor de potássio ocorreu aumento linear e was affected by the treatments. The potassium content increased and
para o de magnésio houve redução também linear. Conclui-se que the magnesium content decreased, both linearly, as an effect of the
os tratamentos testados não interferiram de forma significativa nos application of increasing potassium rates. Also, despite of the effect
teores de macronutrientes das sementes, apesar de ter modificado os on the plant potassium content, the treatments did not affect the seed
teores de potássio e de magnésio na matéria seca da parte aérea das macronutrient content.
plantas de alface, cultivar Verônica.

Palavras-chave: Lactuca sativa L., potássio, concentração de nu- Keywords: Lactuca sativa L., potassium, nutrients content.
trientes, sementes.

(Recebido para publicação em 7 de janeiro de 2009; aceito em 5 de agosto de 2010)


(Received on January 7, 2009; accepted on August 5, 2010)

A tendência atual do sistema de


exploração agrícola tem sido au-
mentar a produtividade das culturas
e dos tecidos de reserva, assim como sua
composição química, dependem de uma
adequada disponibilidade de nutrientes
lavolta, 1980; Marschner, 1995; Davis
et al., 1997).
No Estado de São Paulo, Raij et al.
associada às reduções nos custos de no substrato de crescimento das plantas, (1996) recomendam para produção de
produção. Para isso, é necessário que as o que certamente irá influenciar o meta- alface (produção comercial de folhas)
práticas culturais relacionadas aos tra- bolismo e o vigor da semente (Carvalho as quantidades de 150; 100 e 50 kg ha-1
tamentos fitossanitários e às adubações & Nakagawa, 2000). de K2O, quando o teor de K+ trocável no
sejam eficientes. O conhecimento sobre Ao lado do nitrogênio, o potássio é solo for de 0 a 1,5; de 1,6 a 3,0 e maior
o conteúdo de nutrientes nas plantas é um dos elementos mais extraídos pelas que 3,0 mmolc dm-3, respectivamente.
importante para avaliar a capacidade de plantas e sua deficiência ocasiona redu- Recomendação ligeiramente diferente
remoção de nutrientes de cada cultura. ções no crescimento e na formação da é apresentada por Filgueira (2003) que
Esta informação pode ser utilizada na “cabeça” de alface. Em quantidades ade- indica doses de até 90 kg ha-1 de K2O.
definição das recomendações econômi- quadas, o potássio desempenha várias Embora existam estudos sobre
cas de adubação (Raij et al., 1996). funções na planta, tais como: controle nutrição mineral e recomendações de
Uma planta bem nutrida produzirá da turgidez celular, ativação de enzimas adubação para o cultivo comercial de al-
maior número de sementes. No início envolvidas na respiração e fotossíntese, face, raramente se encontram trabalhos
da fase reprodutiva, as exigências nutri- regulagem dos processos de abertura e relacionados à produção de sementes,
cionais, para a maioria das espécies, tor- fechamento de estômatos, transporte de em que o ciclo de cultivo é bem maior.
nam-se mais intensa, sendo mais crítica carboidratos, transpiração, resistência A escassez de informações relacionadas
por ocasião da formação das sementes, à geada, seca, salinidade e às doenças; às exigências nutricionais pode limitar
quando ocorre considerável translo- aumentar a resistência ao acamamento, a obtenção de altas produtividades e
cação de nutrientes, como potássio e além de estar diretamente associado à interferir diretamente na qualidade das
nitrogênio. A boa formação do embrião qualidade dos produtos agrícolas (Ma- sementes produzidas. Kano (2006) ob-

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 287


C Kano et al.

servou aumentos lineares na quantidade planta-1 de K2O) aplicando-se parte no (1996) para a produção de “cabeça”.
extraída de todos os macronutrientes plantio e o restante em cobertura. Foram Após as plantas atingirem o ponto
pela cultura de alface para produção utilizadas seis repetições por tratamento comercial de colheita (33 DAT), con-
de sementes. Em áreas adubadas com e a unidade experimental foi composta tinuou-se com aplicações semanais de
fósforo foram observados aumentos na por seis plantas. nitrogênio (mesma dose) até a colheita
extração de 3,7 a 15 vezes, dependendo O solo utilizado foi Latossolo Ver- das sementes (121 DAT), totalizando a
do nutriente considerado em relação aos melho Distrófico Típico (Embrapa, adubação com 3,5 g planta-1 de N.
resultados obtidos por Beninni (2005). 1999) que apresentava as seguintes Quanto ao potássio, foi aplicado no
De acordo com Sá (1994), plantas características: pH(CaCl2)= 4,0; Presina= plantio 1 g planta-1 de K2O utilizando-se
adubadas de forma adequada produzem 2 mg dm-3; matéria orgânica = 2 g dm-3; como fonte o cloreto de potássio, exceto
maiores quantidades de sementes e de V(%)= 11; e os valores de H+Al; K; Ca; para o tratamento T1 (testemunha), de
melhor qualidade. Mg; SB e CTC expressos em mmolc dm-3 acordo com a recomendação de Raij et
Harrington (1960), avaliando a respectivamente de: 25; 1,2; 2,0; 1,0; 3,0 al. (1996), para uma população de 150
germinação de sementes de alface, ce- e 28. A análise física desse solo indicou mil plantas ha-1. Já em cobertura, o po-
noura e de pimenta oriundas de plantas 761, 199 e 40 g kg-1 de areia, argila e tássio (cloreto de potássio) foi fornecido
cultivadas sob severa deficiência de silte, respectivamente. em duas épocas: no ponto comercial
nutrientes, verificou que a deficiência A calagem foi realizada 30 dias antes para colheita da “cabeça” (33 DAT), e
de potássio ocasionou diminuição na do transplante das mudas, utilizando-se no início do florescimento (84 DAT), da
produção de sementes e na porcentagem calcário de alta reatividade, de modo a seguinte forma: T1= sem fornecimento
de sementes normais. Porém, Delouche elevar a saturação de bases a 80% e pH de potássio; T2= 1 g planta-1 no ponto
(1980) ressalta que a resposta típica próximo de 6,0 conforme recomenda- comercial para colheita da “cabeça” (C)
de plantas cultivadas em solo de baixa ções de Raij et al. (1996). e sem fornecimento no início do flores-
fertilidade relaciona-se mais a reduções A adubação de plantio com ni- cimento (F); T3= 1 g planta-1 no C e 0,5
na quantidade de sementes produzidas e trogênio e matéria orgânica também g planta-1 no F; T4= 1 g planta-1 no C e
não na qualidade. foram feitas de acordo com a análise 1 g planta-1 no F; e T5= 1 g planta-1 no
O potássio em cobertura foi utili- química do solo e conforme proposta C e 1,5 g planta-1 no F.
zado nesse trabalho visando suprir as de Raij et al. (1996), considerando a A semeadura foi realizada em bande-
necessidades da cultura para semente, produção comercial de alface “cabeça”, jas de poliestireno no dia 17/02/04. Após
cujo ciclo é muito superior àquele para isto é, aplicou-se 0,26 g planta-1 de N a emergência procedeu-se o desbaste
a produção de “cabeça”, pois se con- na forma de sulfato de amônio e 500 g deixando apenas uma planta por célula
sideram duas etapas, uma vegetativa e planta-1 de composto orgânico comer- da bandeja.
outra reprodutiva. cial (Biomix), como fonte de matéria As mudas foram transplantadas em
Dada a situação apresentada ante- orgânica. Quanto ao fósforo, (fornecido 24/03/04 para vasos de plástico com
riormente, conduziu-se este trabalho apenas no transplantio das mudas e utili- capacidade para 13 litros de solo e fo-
com o objetivo de avaliar a influência de zado o superfosfato triplo como fonte), ram cultivadas, uma planta por vaso. Na
doses de potássio nos teores de macro- utilizou-se a dose de 3,9 g planta-1 de estufa os vasos foram dispostos em seis
nutrientes na matéria seca da parte aérea P2O5 que é 50% superior àquela reco- linhas espaçados de 1,0 x 0,5 m.
e nas sementes de plantas de alface. mendada por Raij et al. (1996), visando As plantas foram tutoradas de modo
atender ao aumento da demanda por a evitar o tombamento na fase repro-
este nutriente, devido ao aumento do dutiva e a irrigação foi realizada por
MATERIAL E MÉTODOS
ciclo de cultivo e garantir o aumento na gotejadores individuais instalados em
produtividade de sementes. cada vaso.
O trabalho foi conduzido na Fazenda A análise química do composto A colheita das sementes foi realizada
Experimental São Manuel, pertencente orgânico comercial Biomix indicou manualmente no ponto de maturação
à Faculdade de Ciências Agronômicas pH= 7,7 e valores de MO; N; P2O5; fisiológica, conforme Reghin et al.
da UNESP em Botucatu-SP, localizada K2O; Ca; Mg e de S expressos em % (2000), iniciando-se aos 121 DAT e
à latitude sul de 22o 46’, longitude oeste respectivamente de 53; 1,30; 0,90; 0,47; finalizando-se aos 141 DAT. Logo após
de 48º 34’ e altitude de 740 m. A cultura 6,80; 0,25 e 0,34. A relação C/N foi de a colheita, as sementes foram armazena-
de alface crespa, cultivar Verônica, foi 23/1 e umidade = 60%. das e mantidas em câmara seca (20ºC e
conduzida em ambiente protegido por Na adubação de cobertura foram 40% UR), até o início das análises.
filme plástico, com estrutura tipo arco, fornecidos o nitrogênio e o potássio. A Para a avaliação dos teores dos nu-
de 20 m de comprimento, 7 m de largura adubação de cobertura com nitrogênio trientes (nitrogênio, fósforo, potássio,
e 3,8 m de altura, na parte mais alta e pé foi feita com nitrato de cálcio (0,19 g cálcio, magnésio e enxofre) na parte aé-
direito de 2,5 m. planta-1 de N por aplicação) e foram rea das plantas de alface, foram coleta-
O delineamento experimental utili- realizadas três aplicações aos 10, 18 e das duas plantas por parcela, no mesmo
zado foi blocos casualizados, com cinco aos 24 dias após o transplante (DAT), dia da última colheita de sementes.
tratamentos (0,0; 1,0; 1,5; 2,0 e 2,5 g conforme recomendação de Raij et al. As plantas coletadas foram encami-

288 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Influencia de doses de potássio nos teores de macronutrientes em plantas e sementes de alface

nhadas ao laboratório de análise química Ao comparar os teores de nutrientes Malavolta et al. (1997), que explicam
de plantas da UNESP, devidamente la- da MSPA obtidos neste estudo para a que altas concentrações de potássio no
vadas e secas em estufa com circulação produção de sementes com os apresen- substrato podem inibir competitivamen-
forçada de ar e mantidas à temperatura tados por Raij et al. (1996) nas folhas de te a absorção de magnésio.
constante de 65°C, até atingirem massa alface para o consumo, observa-se que Quanto aos teores de macronutrien-
constante, seguindo a metodologia des- os teores de N, P, K, Ca, Mg e S ficaram tes contidos nas sementes, não houve
crita por Malavolta et al. (1997). abaixo da faixa considerada ideal por efeito significativo de doses de potás-
Após as determinações de massa, as aqueles autores. Isto pode sugerir que, sio, verificado pelo teste F da análise
amostras foram moídas em moinho tipo para a produção de sementes, os teores de variância, para todos os nutrientes
Wiley. A digestão sulfúrica foi utilizada são diferentes daqueles encontrados avaliados (Tabela 2). Entretanto foi
para determinação de nitrogênio e a em alface para o consumo de folhas, possível observar a seguinte ordem
digestão nítrico-perclórica foi utilizada provavelmente devido ao estádio se- decrescente dos teores de nutrientes:
para determinação dos demais nutrientes nescente das plantas ao final do ciclo N>K>P>Mg>Ca>S. Estes resultados
(fósforo, potássio, cálcio, magnésio e reprodutivo. diferem daqueles obtidos por Kano
enxofre), tanto na matéria seca da parte O teor de potássio na MSPA aumen- (2006), principalmente em relação aos
aérea (MSPA) como nas sementes, tou linearmente com o aumento da dose teores de fósforo e magnésio que foram
seguindo as metodologias apresentadas de potássio aplicada (Figura 1A), indi- maiores que os de potássio e de cálcio,
por Malavolta et al. (1997). cando que a planta aumenta a absorção respectivamente.
Os dados obtidos foram submetidos deste nutriente à medida que aumenta a Lott et al. (1995), em uma revisão
à análise de variância, teste F e análise disponibilidade do mesmo no solo. Já o sobre várias culturas, descreveram
de regressão para verificar o efeito de teor de magnésio reduziu linearmente também que entre os macronutrientes
doses de potássio. com o aumento da dose de potássio avaliados, o teor de nitrogênio nas
aplicada (Figura 1B). Estes resultados sementes foi sempre maior que o dos
estão de acordo com o apresentado por demais nutrientes. Resultados seme-
RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os teores de potássio e de magnésio Tabela 1. Teores médios de macronutrientes (g kg-1) na matéria seca da parte aérea das
da matéria seca da parte aérea (MSPA) plantas de alface coletadas no final do ciclo (macronutrient content in dry matter of lettuce
das plantas de alface coletadas no final aboveground part harvested at the end of the crop cycle). São Manuel, UNESP, 2004.
do ciclo foram influenciados signifi- Doses de potássio
N P K Ca Mg S
cativamente pelas doses de potássio. (g planta-1 de K2O)
Entretanto, para os teores de nitrogênio, T1 (0,0) 13 1,0 14 12 3,1 1,1
fósforo, cálcio e enxofre não foram T2 (1,0) 13 1,0 20 12 3,0 1,1
verificados efeitos significativos (Ta-
T3 (1,5) 13 0,9 22 13 3,1 1,1
bela 1).
A ordem decrescente dos teores T4 (2,0) 13 1,0 25 12 2,6 1,2
dos macronutrientes da MSPA foi T5 (2,5) 11 0,9 27 12 2,4 1,1
K>N≈Ca>Mg>S≈P. Estes resultados F 2,08 ns 1,69 ns 11,8 ** 0,59 ns 4,12 * 0,36 ns
estão parcialmente de acordo com Kano CV (%) 14,8 12,9 16,5 14,5 14,2 12,1
(2006), que ao avaliar o efeito de doses ns
não significativo pelo teste F; *;**significativo a 5 e a 1% de probabilidade pelo teste F
de P2O5 em plantas de alface cultivar (nsnot significant by the F test; *;**significant at 5 and 1% of probability by the F test).
Verônica para produção de sementes,
verificou que a ordem decrescente
Tabela 2. Teores médios de macronutrientes (g kg-1) nas sementes de alface, em função de
dos teores de nutrientes na MSPA foi
doses de potássio (average contens of macronutrients in lettuce seeds (g kg-1) depending on
K>Ca≈N>Mg>P>S. Beninni (2005)
potassium rates). São Manuel, UNESP, 2004.
trabalhando com alface comercial (cul-
tivar Verônica) para produção de folhas, Doses de potássio
N P K Ca Mg S
também verificou maior teor de potássio (g planta-1 de K2O)
na MSPA, seguido pelo teor de N, Ca, T1 (0,0) 38 5,8 6,3 2,0 3,0 1,8
P, S e Mg. T2 (1,0) 41 6,1 6,0 1,9 3,1 1,8
Neste estudo, os teores médios (g T3 (1,5) 44 6,4 6,1 2,0 3,1 1,7
kg-1) de N, P, K, Ca, Mg e S na MSPA T4 (2,0) 43 5,7 6,1 1,9 3,0 1,7
foram de 13; 1,0; 22; 12; 2,8 e 1,0,
respectivamente (Tabela 1), valores T5 (2,5) 43 6,1 6,2 1,8 3,1 1,7
semelhantes àqueles obtidos por Kano F 0,49 ns 2,41 ns 0,37 ns 1,85 ns 0,41 ns 1,21 ns
(2006), para a mesma cultivar, exceto CV (%) 19,1 7,4 6,8 7,1 6,0 7,9
para o teor de potássio. ns
não significativo pelo teste F (nsnot significant by the F test).

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 289


C Kano et al.

Resultados semelhantes foram obtidos


30 A
por Kano (2006). O teor de fósforo
y = 12,2925 + 3,1125x encontrado nas sementes ficou próximo
Teor de potássio (g kg ) daquele obtido por Carvalho (1978)
-1 2 **
26 R = 0,95 que foi de 6,4 g kg-1. O maior teor de
fósforo na semente pode ser justificado
pelo fato deste nutriente ser armazenado
22 como sais do ácido fítico, constituindo
a fitina (Malavolta, 1980; Marschner,
1995; Lott et al., 1995).
18 Quanto ao potássio, os teores nas se-
mentes foram cerca de 3,5 vezes inferio-
res àqueles observados na MSPA e não
14 diferiram entre os tratamentos testados
(Tabelas 1 e 2); resultado semelhante
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 ao obtido por Kano (2006). Carvalho
-1 (1978) obteve em sementes de alface,
Dose de K2O (g planta )
teor médio de potássio nas sementes de
5,5 g kg-1, valor próximo ao obtido neste
3,4 experimento (Tabela 2).
3,2 Da mesma forma que ocorre com o
Teor de magnésio (g kg )
-1

potássio, os teores de cálcio nas semen-


3 tes foram cerca de seis vezes a menos
que na MSPA (Tabelas 1 e 2), fato que
B segundo Malavolta et al. (1997) deve
2,8
estar ligado à baixa mobilidade do cálcio
2,6 no floema. Resultado semelhante tam-
bém foi obtido por Kano (2006).
2,4 O teor de enxofre nas sementes foi
y = 3,3958 - 0,1892x
2 ** ligeiramente superior àquele observado
2,2 R = 0,81 na MSPA (Tabelas 1 e 2), coincidindo
com os resultados obtidos por Kano
2 (2006).
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 Apesar da diminuição do teor de
-1 magnésio na MSPA em função das doses
Dose de K2O (g planta ) de potássio, nas sementes não foram
Figura 1. Teores de potássio (A) e magnésio (B) na matéria seca da parte aérea das plantas observados efeitos dos tratamentos tes-
de alface coletadas no final do ciclo, em função de doses de K2O (potassium and magnesium tados. Provavelmente este efeito se deve
content in dry matter of lettuce aboveground part harvested at the end of the crop cycle). ao fato de ter ocorrido translocação de
São Manuel, UNESP, 2004. magnésio para as sementes, via meca-
nismos internos das plantas para garantir
alta qualidade das sementes, tendo por
lhantes foram obtidos com as sementes nem sempre os resultados ocorrem na fim a sobrevivência da espécie, como
de feijão, por Vieira (1986) e por Ramos mesma direção como indicam aqueles indicam Kano et al. (2006). Entretanto,
Júnior et al. (2003). obtidos por Carvalho (1978) que, ao Delouche (1980) ressalta que a resposta
O teor de nitrogênio encontrado na avaliar o efeito da adubação nitrogenada típica de plantas cultivadas em solo de
semente foi cerca de três vezes superior na produção e qualidade de sementes de baixa fertilidade é a redução na quan-
àquele observado na MSPA (Tabelas 1 e alface, verificou que o teor de nitrogênio tidade de sementes produzidas e não a
2). Isso demonstra a importância deste nas sementes não foi influenciado pela sua qualidade.
elemento na composição da semente, adubação nitrogenada e ficaram abaixo Finalizando, pode-se concluir que os
geralmente rica em proteínas, além de dos valores obtidos neste estudo. tratamentos testados (doses de potássio)
ser um nutriente facilmente redis- A redistribuição do fósforo da parte não interferiram de forma significati-
tribuído na planta (Malavolta et al., vegetativa da planta para as sementes, va nos teores de macronutrientes das
1997). Kano (2006), para essa mesma ocorreu de forma semelhante ao obser- sementes, apesar de ter modificado os
cultivar, também obteve maior teor de vado para o nitrogênio, uma vez que teores de potássio e de magnésio na
nitrogênio nas sementes do que no resto o teor obtido foi cerca de seis vezes matéria seca da parte aérea das plantas
da parte aérea da planta. Entretanto, superior ao da MSPA (Tabelas 1 e 2). de alface, cultivar Verônica.

290 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Influencia de doses de potássio nos teores de macronutrientes em plantas e sementes de alface

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função do raleio de frutos. Horticultura Brasileira 28: 292-298.

Produtividade e qualidade de tomates Santa Cruz e Italiano em função


do raleio de frutos
Fernando H Shirahige1; Arlete MT de Melo2; Luis Felipe V Purquerio2; Cássia Regina L Carvalho2; Paulo
César T de Melo1
1
USP-ESALQ, Depto. Prod. Vegetal, C. Postal 09, 13418-900 Piracicaba-SP; 2IAC-APTA, Centro de Horticultura, C. Postal 28, 13012-
970 Campinas-SP; fhshirah@usp.br; arlete@iac.sp.gov.br; felipe@iac.sp.gov.br; climonta@iac.sp.gov.br; pctmelo@esalq.usp.br

RESUMO ABSTRACT
O manejo do tomateiro cultivado em ambiente protegido, com Yield and fruit quality of Santa Cruz and Italian tomatoes
ênfase no raleio de frutos, pode contribuir de forma significativa depending on fruit thinning
para a produção de frutos de qualidade superior, expressando assim The management of the tomato plant under greenhouse, with
o potencial de cada cultivar. Foi avaliado o efeito do raleio de fru- emphasis on fruit thinning, contributes significantly to the production
tos na produtividade e seus componentes e em alguns atributos de of fruits of superior quality, expressing the potential of each cultivar.
qualidade de frutos de genótipos de tomateiro dos segmentos Santa We determined the effect of fruit thinning on yield and its components
Cruz e Italiano de crescimento indeterminado, visando ao consumo in in tomato hybrids of the Santa Cruz and Italian types of indeterminate
natura. Avaliaram-se 12 genótipos de tomate de mesa (seis híbridos growth, and we performed the qualitative characterization of the fruits,
experimentais e seis cultivares) e dois modos de condução (plantas aiming in natura market. Twelve fresh-market tomato genotypes (six
conduzidas com e sem raleio de frutos). O experimento foi com par- experimental hybrids and six commercial cultivars) and two training
celas subdivididas, distribuídas em blocos completos ao acaso com methods (with and without manual fruit thinning) were evaluated. A
três repetições. As parcelas foram representadas pelos genótipos e randomized complete block design was used in this trial, with split-
as subparcelas pelos modos de condução. Avaliaram-se o número de plots and three replications. The plots were represented by genotypes
frutos por planta, produtividade comercial de frutos, produtividade and the subplots were constitued by training methods. Number
de frutos não-comercializáveis, massa média do fruto, comprimento of fruits per plant, yield of marketable and not marketable fruits,
e largura do fruto, pH, teor de sólidos solúveis totais (SS), acidez average fruit weight, fruit length and fruit width were measured.
titulável (AT), relação entre SS e AT, teor de ácido ascórbico e For quantitative characterization, pH, soluble solids concentration
teor de licopeno. O raleio dos frutos proporcionou incremento da (SS), tritratable acidity (AT), ascorbic acid content, SS and AT ratio
produtividade comercial, massa média, comprimento e largura do and lycopene content were measured. The fruit thinning increased
fruto para os híbridos THX-02 e THX-03, do segmento Santa Cruz, marketable yield, average weight, length and width for the Santa Cruz
e THX-04, THX-05 e Netuno, do segmento Italiano e não mostrou hybrids THX-02 and THX-03 and for THX-04, THX-05 and Netuno,
vantagens para a produção e seus componentes para os demais genó- classified as Italian type. The fruit thinning did not provide benefits for
tipos e características avaliadas. Considerando o raleio de frutos, os yield and its components for the other evaluated characteristics and
genótipos Giuliana e Sahel obtiveram maior produtividade comercial genotypes. Giuliana and Sahel genotypes presented higher marketable
e massa média do fruto. Sem o raleio de frutos, ‘Netuno’ alcançou yield and average fruit weight. Without fruit thinning, ‘Netuno’
maior número de frutos por planta, porém, o híbrido Sahel foi quem reached the highest number of fruits per plant, but the hybrid Sahel
se destacou por apresentar maior produtividade comercial e massa showed higher marketable yield and average fruit weight. Thinning
média do fruto. O raleio não influenciou a qualidade organoléptica did not affect the organoleptic quality of the genotypes. ‘Avalon’
dos genótipos avaliados. ‘Avalon’ apresentou maior teor de ácido showed higher ascorbic acid content than ‘Netuno’ and ‘Sahel’, and
ascórbico que ‘Netuno’ e ‘Sahel’. ‘Débora Max’, THX-01, THX-02 ‘Débora Max’, ‘THX-01’, ‘THX-02’ and ‘THX-04’, which were
e THX-04 foram semelhantes entre si quanto ao teor de licopeno e similar to each other in the content of lycopene, overcame ‘Giuliana’,
superaram ‘Giuliana’, ‘Sahel’, THX-03 e THX-06. ‘Sahel’, ‘THX-03’, and ‘THX-06’.

Palavras-chave: Solanum lycopersicum, manejo cultural, caracterís- Keywords: Solanum lycopersicum L., cultural management,
ticas organolépticas, hortaliças, cultivo protegido, segmentação organoleptic characteristics, vegetable crops, protected crop, varietal
varietal. segmentation.

(Recebido para publicação em 14 de julho de 2009; aceito em 10 de agosto de 2010)


(Received on July 14, 2009; accepted on August 10, 2010)

A cultura do tomate (Solanum lyco-


persicum L.) desempenha impor-
tante papel na economia nacional, sendo
toneladas de tomate (FNP, 2009). A
ampla utilização do tomate deve-se,
principalmente, às suas qualidades orga-
grande maioria das cultivares existentes
no mercado. Os principais pigmentos
carotenóides encontrados são o licopeno
um dos principais produtos olerícolas. O nolépticas e ao seu valor como alimento e o beta-caroteno (Chitarra & Chitarra,
Brasil se destaca entre os dez maiores funcional em vista das propriedades 1990).
países produtores, tendo alcançado, antioxidantes do licopeno, o pigmento A produção de tomate para consu-
em 2008, um total de 3,77 milhões de carotenóide que dá a cor vermelha à mo in natura no Brasil sofreu grandes

292 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Produtividade e qualidade de tomates Santa Cruz e Italiano em função do raleio de frutos

transformações tecnológicas na última drenos. Os fotoassimilados de uma folha cultivares e as subparcelas pelo raleio,
década, sendo que a introdução de híbri- podem ser translocados para qualquer avaliando-se plantas com e sem raleio de
dos do tipo longa vida foi, sem dúvida, fruto, dependendo das condições da frutos. A parcela foi composta por dois
uma das mais importantes. No entanto, a planta. Como os frutos são drenos me- canteiros de fileiras simples, com oito
qualidade gustativa desses híbridos tem tabólicos fortes, os fotoassimilados são plantas totais. Como bordaduras, foram
sido alvo de críticas, pois os mesmos translocados preferencialmente a estes utilizadas três plantas em cada extre-
genes que conferem a característica órgãos (Peluzio et al., 1999). A relação midade dos canteiros. Foram avaliados
desejável “longa vida” causam também fonte-dreno pode exercer influência nas seis híbridos experimentais (três do
alterações indesejáveis no sabor, aroma, variações da produção por planta, bem grupo Santa Cruz denominados THX-
textura e teor de licopeno (Melo, 2003). como no tamanho e massa individual 01, THX-02 e THX-03 e três do grupo
Para atenuar o impacto negativo junto dos frutos (Peluzio et al., 1999). Por- Italiano denominados THX-04, THX-05
ao consumidor devido à expansão dos tanto, o raleio ou desbaste de frutos é e THX-06) oriundos do programa de
híbridos Salada longa vida, as empresas uma técnica cultural que quando adotada melhoramento genético do IAC, Cam-
do setor sementeiro vêm investindo em pelos produtores pode alterar a relação pinas. Como testemunhas, usaram-se
maior diversificação varietal. O maior fonte-dreno, propiciando aumento da seis cultivares comerciais, sendo três do
interesse das empresas é disponibilizar produtividade, no tamanho e peso médio grupo Italiano: Giuliana (Sakata), Netu-
para o consumidor tipos de tomate com dos frutos, bem como na qualidade dos no (Eagle) e Sahel (Syngenta), e três do
melhor qualidade gustativa e diferencia- mesmos (Alvarenga, 2004). grupo Santa Cruz: Avalon (Hortivale),
dos em termos de tamanho, cor, formato, O teor de sólidos solúveis é uma das Débora Max (Sakata) e Maravilha.
firmeza e textura (Dorais et al., 2001). principais características dos frutos no A calagem e as adubações de plantio
Dentro dessa estratégia, os tomates do que diz respeito ao sabor, visto que é e cobertura foram realizadas com base
tipo Italiano ou Saladete têm mostra- nesta fração que se encontram os açú- em análise, seguindo-se a recomendação
do tendência de expansão de cultivo cares e os ácidos. Este teor é também de adubação e calagem para o Estado
nos últimos anos. Em geral, os frutos indicador da qualidade dos frutos e dos de São Paulo (Trani & Raij, 1996).
das cultivares híbridas desse padrão seus subprodutos. Quanto maior for o Produziram-se as mudas em bandejas de
disponíveis no mercado têm excelente teor de sólidos solúveis, maior será o poliestireno expandido com 128 células,
qualidade gustativa e versatilidade de rendimento industrial. De acordo com preenchidos com o substrato comercial
uso culinário, podendo ser consumidos Dorais et al. (2001) e Caliman (2003), Plantmax®, que foram transplantadas
em saladas, na confecção de molhos a maior disponibilidade de fotoassimila- para canteiros de 0,6 x 30 m quando
caseiros e na forma de tomate seco dos aos frutos pode ocasionar o aumento atingiram o estádio de quatro a cinco
(Machado et al., 2007). De outro lado, do tamanho bem como propiciar uma folhas definitivas, aos 40 dias após a
as versões híbridas da cultivar Santa melhoria de sabor. semeadura. A condução foi feita com
Clara têm atraído também a atenção Existem poucas informações sobre a haste única, sendo as plantas distribuí-
de uma parcela do setor produtivo por produção de tomates do segmento Santa das em canteiros distanciados de 0,4 m
apresentarem frutos de maior durabi- Cruz e Italiano sob o efeito do raleio de entre si, com espaçamento de 0,55 m
lidade pós-colheita sem que possuam frutos em ambiente protegido. Dessa entre plantas na linha. Tutorou-se cada
quaisquer dos genes que retardam o forma, o objetivo do presente trabalho planta individualmente com fitilho, eli-
processo de maturação e alto potencial foi avaliar o efeito do raleio de frutos na minando-se todas as brotações das axilas
produtivo. Ademais, as vantagens desses produtividade e qualidade de tomates de das folhas. As hastes das plantas foram
híbridos, em comparação aos longa vida cultivares de crescimento indeterminado podadas após a emissão do 8º racemo.
convencionais, é que seus frutos têm ca- dos segmentos Santa Cruz e Italiano, em Após o pegamento dos frutos, foi feito
racterísticas organolépticas superiores, ambiente protegido. o raleio dos mesmos nas subparcelas
além de serem uniformes e exibirem determinadas, deixando-se seis frutos
coloração vermelha mais intensa. Com por racemo.
efeito, essa diversificação é positiva e MATERIAL E MÉTODOS Aos 110 dias após o transplante
favorece os consumidores que passaram (DAT), em 15/07/2008, iniciou-se a
a ter uma gama cada vez mais diversi- Um experimento foi conduzido de 26 colheita dos frutos de cada tratamento
ficada de tomates à sua disposição nos de fevereiro a 11 de setembro de 2008, no estádio de maturação totalmente
pontos de venda. em condições de ambiente protegido vermelho e ainda firme, prolongando-
É importante destacar que na cultura (estufa agrícola), no Centro de Horticul- se por nove semanas, realizando-se
do tomateiro, incrementos na produtivi- tura do Instituto Agronômico (IAC), em uma colheita por semana. Avaliou-se:
dade podem ser logrados com a adoção Campinas-SP, (22o54'20''S, 47o05'34''W, a) número de frutos por planta (FP); b)
de técnicas de manejo cultural diferen- 674 m de altitude). O delineamento produtividade comercial de frutos (PC),
ciadas. Segundo Tanaka & Fujita (1974) experimental foi blocos completos obtida pela massa total de frutos com
o tomateiro pode ser dividido em unida- ao acaso, com parcelas subdivididas, diâmetro transversal maior que 33 mm
des fonte-dreno. As folhas são fontes de com 12 tratamentos e três repetições. e sem defeitos (sintomas de doenças,
fotoassimilados e os frutos os principais As parcelas foram representadas pelas pragas, distúrbios fisiológicos e/ou da-

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 293


FH Shirahige et al.

nos físicos), com resultado expresso em sendo os resultados expressos em ºBrix; da interação entre o manejo (raleio de
toneladas por hectare; c) produtividade b) acidez titulável (AT), determinada frutos e não raleado) e cultivares. Os
de frutos não-comercializáveis (PR), de acordo com o método descrito por híbridos THX-02, THX-03, Netuno,
obtida pela massa total de frutos com Carvalho et al. (1990), expressando- Sahel, THX-04 e THX-05 apresentaram
diâmetro transversal menor que 33 mm se os resultados em porcentagem de maior FP nas plantas sem raleio de frutos
e de frutos com defeitos, com resultado ácido cítrico da polpa; c) teor de ácido (Tabela 1), com valores que variaram de
expresso em toneladas por hectare; d) ascórbico (AA), determinado por titulo- 57,3 (‘Sahel’) a 76,0 frutos planta-1 (‘Ne-
massa média do fruto (MM), relação metria, de acordo com o método descrito tuno’). Os demais genótipos, não foram
entre a produtividade comercial de fru- por Carvalho et al. (1990), sendo os afetados pelo raleio. Uma provável ex-
tos (massa) e o número de frutos comer- resultados expressos em mg de ácido plicação para tal ocorrência pode estar
ciais, com resultado expresso em gramas ascórbico por 100 g de polpa; d) pH, afe- relacionada à seleção de combinações
por fruto; e) comprimento (CM) e f) rido pela leitura direta em peagâmetro híbridas de tomate de mesa com tendên-
largura do fruto (LR), avaliados com uso marca Tecnal; e) sabor (flavor), obtido cia de fixar poucos frutos por racemo (5
de um paquímetro digital (Mitutoyo 150 pela relação entre os teores de sólidos a 6), visando obter aumento da massa
mm) em 60 frutos comerciais coletados solúveis e acidez titulável (SS/AT); f) média do fruto. Segundo Nagai (1990),
ao acaso de plantas de cada subparcela, licopeno (LI), determinado por análise os programas privados de melhoramento
a partir da segunda colheita, avaliando espectrofotométrica, de acordo com o genético dedicaram esforços nesse senti-
10 frutos por colheita e expressando os método descrito por Rodrigues-Amaya do uma vez que frutos com massa média
(2001), sendo os resultados expressos
resultados em centímetro. entre 200 e 250 gramas recebiam maior
em microgramas de licopeno em 100
As análises das características quali- cotação de preços na comercialização.
gramas de polpa.
tativas foram realizadas em laboratório Considerando as plantas sem raleio de
Os valores dos componentes da
do IAC, em Campinas. Aos 130 dias fruto, o genótipo Netuno obteve maior
produção bem como das características
após o transplante, colheram-se 12 qualitativas dos frutos foram submeti- número de frutos por planta (76,0
frutos de cada subparcela no estádio dos à análise de variância. Utilizou-se frutos planta-1). Machado et al. (2007)
de maturação completa, com frutos o programa estatístico SISVAR, versão reportaram resultados de um ensaio com
vermelhos e firmes, e determinaram-se 4.3. As médias foram comparadas pelo tomate do segmento Italiano ou Saladete
as características físico-químicas: a) teste de Tukey a 5%. realizado sob diferentes densidades
teor de sólidos solúveis (SS), determi- de plantio e sistemas de poda, em que
nado pela leitura direta em refratômetro RESULTADOS E DISCUSSÃO obtiveram média de 57,2 frutos planta-1
digital “Atago modelo Palete 101”, deixando oito cachos por planta, porém,
utilizando-se da polpa homogeneizada Para os componentes de produção não foi analisado o efeito do raleio. Deve
em triturador doméstico tipo ‘mixer’, avaliados, houve efeito significativo ser ressaltado que são raros os trabalhos

Tabela 1. Número de frutos por planta (FP), produtividade comercial (PC) e produtividade de frutos não-comercializáveis (PR) das cultivares
de tomate dos segmentos Santa Cruz e Italiano, com e sem raleio de frutos [number of fruits per plant (FP), marketable yield (PC) and not
marketable fruit yield (PR) of Santa Cruz and Italian tomato types, according to fruit thinning and non-thinning]. Campinas, IAC, 2008.
FP (frutos planta-1) PC (t ha-1) PR (t ha-1)
Cultivar*
Raleado Não raleado Raleado Não raleado Raleado Não raleado
Híb. Avalon 47,0 Aa1 47,7 Ea 104,3 Ca 99,7 CDEa 10,4 ABa 11,2 Da
Híb. Débora Max 47,7 Aa 48,7 Ea 100,1 CDa 99,6 CDEa 13,1 Aa 12,1 Da
PA Maravilha 47,5 Aa 49,0 Ea 89,2 Ea 90,2 EFGa 13,6 Aa 12,0 Da
Híb. THX-01 47,8 Aa 49,3 Ea 102,1 CDa 101,3 Ca 12,9 ABa 14,2 Da
Híb. THX-02 48,0 Ab 63,7 Ca 94,3 DEa 80,7 GHb 6,8 Bb 28,8 BCa
Híb. THX-03 48,0 Ab 65,2 BCa 88,8 Ea 77,5 Hb 11,3 ABb 27,9 Ca
Híb. Netuno 48,0 Ab 76,0 Aa 118,3 Ba 100,6 CDb 7,8 ABb 36,0 Aa
Híb. Giuliana 47,5 Aa 49,3 Ea 128,8 Aa 126,1 Ba 9,8 ABa 11,4 Da
Híb. Sahel 48,0 Ab 57,3 Da 131,5 Ab 140,5 Aa 9,8 ABa 12,7 Da
Híb. THX-04 47,8 Ab 63,8 BCa 117,1 Ba 98,5 CDEb 8,9 ABb 34,3 ABa
Híb. THX-05 48,0 Ab 66,7 Ba 103,3 CDa 87,6 FGb 10,2 ABb 37,3 Aa
Híb. THX-06 47,5 Aa 48,8 Ea 93,8 DEa 91,3 DEFa 10,2 ABa 12,5 Da
CV parc.(%) 1,68 2,91 12,77
CV subparc.(%) 2,30 3,65 15,43
*Híb.= híbrido; PA= polinização aberta; 1Médias seguidas pelas mesmas letras maiúsculas na coluna e minúsculas na linha, não diferem
entre si pelo teste de Tukey a 5%.

294 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Produtividade e qualidade de tomates Santa Cruz e Italiano em função do raleio de frutos

Tabela 2. Massa média (MM), comprimento (CM) e largura (LR) do fruto das cultivares de tomate dos segmentos Santa Cruz e Italiano,
com e sem raleio de frutos [average fruit weight (MM), fruit length (CM), fruit width (LR) of Santa Cruz and Italian tomato types,
according to fruit thinning and non-thinning]. Campinas, IAC, 2008.
MM (g fruto-1) CM (cm) LR (cm)
Cultivar*
Raleado Não raleado Raleado Não raleado Raleado Não raleado
Híb. Avalon 150,3 BCDa1 147,7 Ba 6,7 EFa 6,4 DEa 6,7 Aa 6,4 Aa
Híb. Débora Max 143,8 CDEa 141,1 BCa 6,2 Fa 6,4 DEa 5,8 CDEFa 6,1 ABCa
PA Maravilha 131,4 FGHa 129,5 DEFa 6,6 EFa 6,3 Ea 6,4 ABCa 6,0 ABCa
Híb. THX-01 142,1 CDEFa 141,7 BCa 6,8 EFa 6,7 CDEa 6,2 ABCDa 6,0 ABCa
Híb. THX-02 128,1 GHa 118,5 Fb 6,9 DEFa 6,3 Eb 6,1 ABCDEa 5,6 BCDb
Híb. THX-03 122,7 Ha 106,2 Gb 7,9 BCa 6,1 Eb 6,6 ABa 5,6 CDb
Híb. Netuno 156,8 Ba 142,0 BCb 8,3 BCa 7,7 Bb 5,3 FGa 4,9 Eb
Híb. Giuliana 169,4 Aa 169,1 Aa 9,9 Aa 9,6 Aa 6,0 BCDEFa 5,8 ABCa
Híb. Sahel 172,9 Aa 166,8 Aa 7,8 BCDa 7,6 BCa 6,4 ABCa 6,3 Aba
Híb. THX-04 153,3 BCa 138,5 CDb 8,0 BCa 7,2 BCDb 5,6 DEFa 5,0 DEb
Híb. THX-05 139,8 DEFa 126,3 EFb 8,7 Ba 7,7 Bb 5,4 EFGa 4,9 Eb
Híb. THX-06 134,6 EFGa 133,3 CDEa 7,5 CDEa 7,4 BCa 4,9 Ga 5,1 DEa
CV parc.(%) 2,19 4,36 4,61
CV subparc.(%) 3,27 4,09 3,76
*Híb.= híbrido; PA= polinização aberta; 1Médias seguidas pelas mesmas letras maiúsculas na coluna e minúsculas na linha, não diferem
entre si pelo teste de Tukey a 5%.

existentes na literatura envolvendo esses linhas de 0,8 m e com oito cachos por nho de ‘Netuno’, THX-04 e THX-05,
segmentos de tomate mostrando o efeito planta. Wamser et al. (2007), avaliando os quais produziram, respectivamente,
do raleio no número de frutos por planta a produção de tomate Débora e Nemo 78,3%, 74,0% e 72,6% menos frutos não
bem como no aumento da massa média Netta, em função do espaçamento entre comercializáveis nas plantas submetidas
de fruto. plantas e do número de cachos por haste ao raleio quando comparadas às não
Para produtividade comercial de no tutoramento vertical com fitilho, rela- raleadas (Tabela 1). Isso se deve, prova-
frutos (PC), dentro do grupo Santa Cruz, taram média da produtividade comercial velmente, à redução do número de frutos
os híbridos experimentais THX-02 e de 94,5 t ha-1. Ambos os autores não nas plantas submetidas ao raleio que, por
THX-03 mostraram PC superiores em avaliaram o efeito do raleio. consequência, contribuiu para o aumen-
16,8% e 14,6%, respectivamente, nas Somente o híbrido Sahel apresentou to da massa média do fruto e diminuição
plantas que foram raleadas em com- maior PC e FP, em 6,8% e 19,4%, res- de frutos não-comercializáveis. Apesar
paração àquelas não raleadas (Tabela pectivamente, nas plantas não raleadas de ‘Netuno’ e THX-05 terem alcançado
1). Para o segmento Italiano, o raleio quando comparadas às raleadas, e foi es- maior média de FP em plantas não sub-
de frutos influenciou o desempenho de tatisticamente semelhante na PR, MM, metidas ao raleio de fruto, foram os que
‘Netuno’, THX-04 e THX-05. Esses CM e LR nos dois sistemas de manejo atingiram maior PR (36,0 e 37,3 t ha-1,
híbridos, quando raleados, alcançaram das plantas (Tabelas 1 e 2). Sendo assim, respectivamente).
produções superiores em 17,6%, 18,9% o efeito do raleio de frutos não mostrou Para massa média do fruto (MM)
e 17,9%, respectivamente, em compa- vantagens para produção nesse genótipo. o efeito do raleio variou conforme o
ração ao desempenho deles sem raleio. Esse híbrido é reconhecidamente de alto híbrido de ambos os segmentos varie-
Somente o híbrido Sahel obteve maior potencial produtivo e tem a tendência de tais (Tabela 2). No grupo Santa Cruz,
PC, em 6,8% (140,5 t ha-1), nas plantas exibir elevado pegamento de frutos por os híbridos experimentais THX-02 e
não raleadas quando comparadas às racemo (Shirahige et al., 2009). THX-03 mostraram MM superiores
raleadas (131,5 t ha-1). Considerando o Para produtividade de frutos não-co- em 8,1% e 15,5%, respectivamente,
raleio de fruto, os genótipos Giuliana e mercializáveis (PR) do tipo Santa Cruz, nas plantas que receberam o raleio de
Sahel alcançaram maior PC. Dentro das os híbridos experimentais THX-02 e fruto quando comparados às sem raleio.
plantas sem o raleio de fruto, o híbrido THX-03 apresentaram reduções nas pro- Por sua vez, para o segmento Italiano,
Sahel foi quem obteve maior PC. Ma- duções de frutos não-comercializáveis o efeito do raleio de fruto influenciou
chado et al. (2007) encontraram média em 76,4% e 59,5%, respectivamente, o desempenho dos híbridos Netuno,
da produtividade comercial de 111,3 t nas plantas raleadas quando compa- THX-04 e THX-05, que alcançaram
ha-1 em plantas do segmento Italiano radas às não raleadas (Tabela 1). Para produções superiores em 10,4%; 10,7%
ou Saladete com espaçamento entre o segmento Italiano, o raleio de fruto e 10,7%, respectivamente, nas plantas
plantas de 0,5 m, espaçamento entre influenciou positivamente o desempe- que foram raleadas quando compara-

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 295


FH Shirahige et al.

Tabela 3. Valores de pH, teor de sólidos solúveis (SS), acidez titulável (AT), relação entre que foram raleadas quando comparadas
SS e AT (SS/AT), teor de ácido ascórbico (AA) e teor de licopeno (LI), das cultivares de às cultivadas sem raleio de fruto. Melo
tomate dos segmentos Santa Cruz e Italiano, com e sem raleio de frutos [values of pH, et al. (2007), avaliando cruzamentos
soluble solid content (SS), titratable acidity (AT), SS and AT ratio (SS/AT), ascorbic acid dialélicos entre genótipos de tomateiro
(AA) and lycopene (LI) of Santa Cruz and Italian tomato types, according to fruit thinning
de mesa, relataram médias de CM entre
and non-thinning]. Campinas, IAC, 2008.
6,0 e 7,6 cm.
AA LI
Tratamento pH SS (%) AT (%) SS/AT Com relação à largura do fruto
(mg 100g-1) (µg 100g-1) (LR), os híbridos avaliados foram in-
Raleado 4,16 a1 4,56 a 0,34 a 13,74 a 21,22 a 4.544,96 a fluenciados da mesma maneira que o
Não raleado 4,16 a 4,64 a 0,35 a 13,37 a 21,84 a 4.330,70 a comprimento do fruto (CM), sendo que
CV (%) 1,34 6,19 13,42 11,28 13,39 20,77 o efeito do raleio dependeu de cada ge-
Médias na coluna seguidas de mesma letra, não diferem entre si, pelo teste de Tukey a 5%.
1 nótipo. No grupo Santa Cruz, os híbridos
experimentais THX-02 e THX-03 mos-
traram largura de fruto superior em 8,9%
dos às sem raleio. Esses resultados se plantas submetidas ao raleio, quando e 17,9%, respectivamente, nas plantas
devem, ao que tudo indica, à alteração comparadas às sem raleio. Tanto nas cultivadas sob raleio quando compara-
da relação fonte/dreno das plantas que plantas submetidas ao raleio e sem raleio das às sem raleio de fruto. Os resultados
sofreram o raleio, aumentando o teor de de fruto, o genótipo Giuliana obteve confirmam a descrição encontrada nos
assimilados disponíveis por fruto nos maior comprimento médio do fruto. Os catálogos das empresas de sementes de
cachos que foram submetidos ao raleio. resultados confirmam o padrão típico que o padrão de largura dos frutos das
Tais resultados foram também relatados de fruto de cada grupo varietal estudado cultivares do tipo Santa Cruz é mais lar-
por Leal et al. (2003) e Shirahige et al. em que o comprimento é o principal di- go que o dos híbridos do segmento Ita-
(2009), que obtiveram médias do MM ferencial. Alvarenga (2004) considerou liano. No presente trabalho, no tocante
estatisticamente superiores em plantas que as cultivares dos grupos Italiano ou ao segmento Italiano, o efeito do raleio
cultivadas sob raleio. Tanto nas plantas Saladete têm comprimento de fruto que de fruto influenciou a LR dos híbridos
submetidas ao raleio e sem raleio de varia de 7 a 10 cm. Por sua vez, as cul- Netuno, THX-04 e THX-05 propiciando
fruto, os genótipos Giuliana e Sahel al- tivares do grupo Santa Cruz produzem frutos maiores em 8,2%, 12,0% e 10,2%,
cançaram maior massa média do fruto. frutos mais curtos com comprimento respectivamente, nas plantas que foram
A influência do raleio no compri- variando de 6 a 8 cm. No presente estu- raleadas em comparação às não raleadas.
mento do fruto (CM) variou conforme do, para o segmento Italiano, o efeito do Isso pode ser atribuído ao menor número
o híbrido dentro de cada grupo varietal raleio de fruto exerceu influência sobre de frutos por planta e maior massa média
estudado (Tabela 2). Para o grupo Santa o CM dos híbridos Netuno, THX-04 e dos frutos nas plantas raleadas (Tabelas
Cruz, os híbridos experimentais THX- THX-05, contribuindo para a produção 1 e 2, respectivamente), resultando em
02 e THX-03 mostraram CM superiores de frutos maiores em 7,8%, 11,1% e maior crescimento dos frutos devido à
em 9,5% e 29,5%, respectivamente, nas 13,0%, respectivamente, nas plantas menor competição por fotoassimilados

Tabela 4. Valores de pH, teor de sólidos solúveis (SS), acidez titulável (AT), relação entre SS e AT (SS/AT), teor de ácido ascórbico (AA)
e teor de licopeno (LI) em tomates das cultivares dos segmentos Santa Cruz (SC) e Italiano (IT) [values of pH, soluble solid (SS), titratable
acidity (AT), SS and AT ratio (SS/AT), ascorbic acid (AA) and lycopene (LI) of tomato fruits of cultivars of Santa Cruz (SC) and Italian
(IT) types]. Campinas, IAC, 2008.
Cultivar* Tipo pH SS (%) AT (%) SS/AT AA (mg 100g-1) LI (µg 100g-1)
Híb. Avalon SC 4,11 abc 5,0 a 0,39 ab 13,1 ab 25,0 a 5.252,7 ab
Híb. Débora Max SC 4,17 abc 5,0 a 0,38 abc 13,3 ab 22,4 ab 5.707,7 a
PA Maravilha SC 4,13 abc 4,8 ab 0,37 abc 12,9 ab 22,0 abc 4.649,8 abc
Híb. THX-01 SC 4,19 abc 4,8 ab 0,34 abc 14,0 ab 23,4 ab 5.538,6 a
Híb. THX-02 SC 4,09 bc 4,8 ab 0,41 a 12,0 ab 22,4 ab 5.358,1 a
Híb. THX-03 SC 4,07 c 3,8 d 0,37 abc 10,3 b 23,7 ab 3.354,8 cd
Híb. Netuno IT 4,21 ab 4,4 bcd 0,28 c 15,7 a 17,7 bc 4.049,0 abc
Híb. Giuliana IT 4,19 abc 4,1 cd 0,29 bc 14,2 ab 19,5 abc 2.194,5 d
Híb. Sahel IT 4,15 abc 4,2 cd 0,34 abc 12,2 ab 15,7 c 3.281,6 cd
Híb. THX-04 IT 4,17 abc 4,9 ab 0,36 abc 13,7 ab 24,0 ab 5.503,0 a
Híb. THX-05 IT 4,23 a 4,9 ab 0,33 abc 15,5 a 20,9 abc 4.771,1 abc
Híb. THX-06 IT 4,23 a 4,6 abc 0,29 bc 15,8 a 21,7 abc 3.583,0 bcd
CV (%) 1,46 5,69 13,36 13,88 13,97 18,68
*Híb.= híbrido; PA= polinização aberta; Médias na coluna seguidas de mesma letra, não diferem entre si, pelo teste de Tukey a 5%.

296 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Produtividade e qualidade de tomates Santa Cruz e Italiano em função do raleio de frutos

entre os frutos restantes nas plantas sub- THX-03 diferiu dos genótipos comer- et al. (1978), frutos de alta qualidade
metidas ao raleio. Resultados similares ciais utilizados como testemunhas e contêm mais de 0,32% de AT, 3% de SS
foram relatados por Melo et al. (2007) de dois outros híbridos experimentais e relação SS/AT maior que 10. Os ge-
que avaliaram cruzamentos dialélicos (THX-01 e THX-02). É importante nótipos avaliados exibiram valores para
entre genótipos de tomateiro de mesa salientar que ‘Avalon’ é um híbrido que a relação SS/AT acima de 10, variando
e verificaram médias de LR entre 5,6 tem como um de seus genitores um ge- de 10,3 (‘THX-03’) a 15,8 (‘THX-06’),
e 7,2 cm. nótipo de porte determinado selecionado sendo, portanto, adequados para o con-
Para os componentes de qualidade para processamento industrial (Melo et sumo in natura (Tabela 4).
dos frutos de tomateiro, não houve al., 2009). No que se refere ao grupo Na Tabela 4, encontram-se os dados
efeito significativo da interação entre o Italiano, ‘THX-04’ e ‘THX-05’, ambos referentes aos teores de ácido ascórbico
manejo (raleio e não raleio de frutos) e com 4,9% de SS, mostraram-se superio- (AA). ‘Avalon’ destacou-se pelo maior
cultivares e nem de manejo (Tabela 3). res aos híbridos comerciais Sahel (4,2%) teor de AA (25,0 mg 100 g-1), mas diferiu
No entanto, houve diferenças significa- e Giuliana (4,1%). Essas diferenças se apenas de ‘Sahel’ (15,7 mg 100 g-1) e
tivas entre as cultivares evidenciando devem, provavelmente, à característica ‘Netuno’ (17,7 mg 100 g-1). Os híbri-
que os genótipos são geneticamente genética de cada cultivar. Resultados dos experimentais THX-01, THX-02,
contrastantes e que, no presente estudo, similares foram encontrados no experi- THX-03 e THX-04 obtiveram teores
tais características foram influenciadas mento de 2007 realizado por Shirahige de vitamina C estatisticamente iguais
unicamente pela constituição genotí- et al. (2009), utilizando os mesmos à maioria das testemunhas comerciais,
pica de cada cultivar. Esses resultados híbridos experimentais. Ferreira (2001) superando o híbrido Sahel. O valor
são concordantes com os descritos por obteve valores entre 3,57% a 3,75% para médio de AA relativo aos genótipos
Guimarães et al. (2004), que não encon- frutos de ‘Santa Clara’ produzidos em do segmento Santa Cruz (23,1 mg 100
traram diferenças significativas quanto campo. Já Carvalho & Tessarioli Neto g-1) encontra-se de acordo com a média
a SS/AT, AT, SS e pH de tomateiros do (2005) relataram valores de 4,49% para padrão para frutos de tomate, que é de
grupo Santa Cruz submetidos à poda ‘Débora Max’ e 5,05% para ‘Andréia’, 23 mg 100 g-1, enquanto o valor médio
apical e de cachos florais. sendo essa última cultivar pertencente de AA para as cultivares do segmento
Os valores de pH encontrados no ao grupo Italiano ou Saladete. Italiano (19,9 mg 100 g-1) está abaixo
presente estudo para as cultivares de A acidez titulável (AT), representada da média padrão para frutos de tomate
tomate dos grupos Santa Cruz e Italiano pelo teor de ácido cítrico, influencia (Crawford, 1966).
(Tabela 4) variaram de 4,23 (THX-05 principalmente o sabor dos frutos (Gior- Os teores de licopeno encontrados
e THX-06) a 4,07 (THX-03) e foram dano et al., 2000). Os valores da acidez variaram de 2.194,5 µg 100 g-1 (‘Giu-
similares aos relatados por Camargos et titulável variaram de 0,41% (THX-02) liana’) a 5.707,7 µg 100 g-1 (‘Débora
al. (2000) e Carvalho & Tessarioli Neto a 0,34% (THX-01) para genótipos do Max’). Os híbridos Débora Max, THX-
(2005), corroborando a classificação dos grupo Santa Cruz, e de 0,36% (THX-04) 01, THX-02 e THX-04 foram iguais
frutos de tomate como ácidos, segundo a 0,28% (‘Netuno’) do segmento Italia- quanto ao teor de licopeno e superaram
Giordano et al. (2000). O genótipo no (Tabela 4). Valores similares de AT ‘Giuliana’, ‘Sahel’, THX-03 e THX-06.
experimental THX-03 obteve valor de foram reportados por Gil et al. (2002) Os valores médios para o teor de licope-
pH inferior aos híbridos THX-05 (4,23), (0,35%) e Carvalho & Tessarioli Neto no das cultivares dos segmentos Santa
THX-06 (4,23) e Netuno (4,21). (2005) (0,38% a 0,41%). O genótipo Cruz e Italiano foram 4.976,9 µg 100 g-1
O teor de sólidos solúveis (SS), experimental THX-02 obteve valor de e 3.897,0 µg 100 g-1, respectivamente.
determinado em ºBrix é o principal com- AT superior aos híbridos testemunhas Esses valores são inferiores à faixa
ponente responsável pelo sabor do fruto Netuno (0,28%) e Giuliana (0,29%). de teor ideal desse pigmento (5.000 a
e, pode indicar a influência causada pela Os demais híbridos experimentais não 8.000 µg 100 g-1), o qual confere a cor
adubação, temperatura e irrigação, além diferiram estatisticamente das teste- vermelha ao fruto de tomate (Campos,
de ser uma característica genética da munhas. 2006). Portanto, em geral, os frutos das
cultivar (Giordano et al., 2000). No caso O sabor do tomate está relacionado cultivares avaliadas no presente estudo,
do uso de tomate como matéria-prima com a presença de diversos constituin- independentemente do tipo varietal,
para processamento, a porcentagem tes químicos, destacando-se açúcares apresentaram deficiência de cor. Com re-
de SS tem influência marcante sobre o e ácidos, além de suas interações. lação ao segmento Santa Cruz, os teores
rendimento industrial. Portanto, quanto Conhecendo-se o teor de sólidos solú- de licopeno verificados nesse trabalho,
maior o teor de sólidos solúveis, maior é veis e de acidez titulável dos frutos é em média, estão abaixo daqueles que
o rendimento e menor o gasto de energia possível estabelecer a relação SS/AT. Campos (2006) reportou para cultiva-
no processo de concentração da polpa. Alto valor na relação indica uma exce- res do mesmo grupo (5.123,0 µg 100
Nesse trabalho, observou-se, no grupo lente combinação de açúcar e ácido, a g-1). Deve ser destacado que, os baixos
Santa Cruz (Tabela 4), valor médio de qual se correlaciona com sabor suave, teores de licopeno, em média, para os
SS de 4,7% para todas as cultivares ava- enquanto que valores baixos estão dire- híbridos do tipo Italiano, provavelmente
liadas com amplitude de 5,0% (‘Avalon’ tamente relacionados com sabor ácido está diretamente relacionado ao fato de
e ‘Débora Max’) a 3,8% (THX-03). (Zambrano et al., 1996). Segundo Kader que três deles são do tipo longa vida

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 297


FH Shirahige et al.

(‘Giuliana’, ‘Netuno’ e THX-06) sendo as influenced by some postharvest handling


portadores de genes que retardam o ALVARENGA MAR. 2004. Tomate: produção procedures. Journal of American Society for
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do fruto é um importante parâmetro de (MG): Universidade Federal de Viçosa (Tese MELO PCT. 2003. Desenvolvimento sustentável
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Deve ser enfatizado que hortaliças e Suplemento. CD-ROM.
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298 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


FERNANDES AM; SORATTO RP; EVANGELISTA RM; NARDIN I. 2010. Qualidade físico-química e de fritura de tubérculos de cultivares de batata na
safra de inverno. Horticultura Brasileira 28: 299-304.

Qualidade físico-química e de fritura de tubérculos de cultivares de


batata na safra de inverno
Adalton M Fernandes1; Rogério P Soratto1; Regina Marta Evangelista2; Israel Nardin3
UNESP-FCA, Depto. Prod. Vegetal (Agricultura), C. Postal 237, 18610-307 Botucatu-SP; 2UNESP-FCA, Depto. Gestão e Tecnologia
1

Agroindustrial; 3UNESP-FCA, Progr. Pós-graduação Lato Sensu em Ciência e Tecnologia de Alimentos; soratto@fca.unesp.br

RESUMO Abstract
Com o aumento do consumo de batata processada na forma de Physicochemical and frying quality of potato cultivars in
fritura, torna-se essencial a identificação dos parâmetros de qualidade winter season
dos tubérculos de batata. Objetivou-se avaliar a composição físico- Given the raising consumption of potato chips, the identification
química e qualidade de fritura de tubérculos de cultivares de batata, of quality parameters of potato tubers has become essential.
produzidos na safra de inverno. Os tubérculos foram provenientes The purpose of this work was to evaluate the physicochemical
de experimento de campo conduzido durante a safra de inverno de characteristics and frying quality of potato tubers of different cultivars
2008, no município de Itaí-SP. o delineamento experimental utilizado grown in the winter cropping season. Tubers were obtained from a
foi blocos casualizados, com quatro repetições e cinco tratamentos, field experiment in the winter season in Itaí, São Paulo State, Brazil.
representados pelas cultivares Agata, Asterix, Atlantic, Markies e The experimental design was of completely randomized blocks with
Mondial. Os tubérculos das cultivares Mondial e Agata apresentaram four replications. Treatments consisted of five potato cultivars (Agata,
características adequadas para o mercado fresco, sendo indicadas para Asterix, Atlantic, Markies and Mondial). Tubers of Mondial and Agata
a preparação de massas e pratos assados em que é essencial a manu- cultivars showed suitable characteristics for fresh market, so they can
tenção de sua forma. Markies apresentou dupla aptidão culinária, ou be recommended for the preparation of pasta and baked dishes, for
seja, possui qualidade adequada ao preparo de massas e fritura. Os which the preservation of the tuber shape is essential. Markies showed
tubérculos das cultivares Atlantic, Asterix e Markies apresentaram boa double cooking ability, i.e., suitable for preparation of pasta as well
qualidade de fritura, no entanto, a cultivar Markies apresentou polpa as for frying. The tubers of Atlantic, Asterix and Markies cultivars
dos tubérculos, palitos e chips de coloração amarela mais intensa. presented good frying quality, however, Markies cultivar showed
pulp, sticks and chips with more intense yellow color.

Palavras-chave: Solanum tuberosum, matéria seca, açúcares redu- Keywords: Solanum tuberosum, dry matter, reducing sugars, flesh
tores, cor da polpa, cor do chips. colour, chips colour.

(Recebido para publicação em 26 de outubro de 2009; aceito em 16 de agosto de 2010)


(Received on October 26, 2009; accepted on August 16, 2010)

A batata (Solanum tuberosum L.) é


a hortaliça de maior importância
econômica no Brasil, sendo comerciali-
2009). Bregagnoli (2006) relata que a
classificação da batata em relação à sua
aptidão de uso (fritura, cozimento ou
interferem na qualidade e coloração
do produto final, sendo dessa forma,
consideradas como parâmetros de qua-
zada quase que exclusivamente na forma massa) é dependente das características lidade da batata para fritura (Zorzella et
in natura (Zorzella et al., 2003). Nos bromatológicas dos tubérculos. al., 2003). Além disso, o teor de matéria
pontos de venda, o consumidor escolhe Com a redução do consumo de seca está diretamente relacionado com
tubérculos prioritariamente pelo forma- batata adquirida na forma in natura e o rendimento de fritura e a textura do
to, por características visuais como cor e aumento considerável do consumo de produto processado, pois influencia a
brilho da pele, e pelo preço de aquisição, batata processada industrialmente, na absorção de óleo durante o processo de
se interessando pouco pelas característi- forma de fritura, durante a última década fritura (Pereira, 2003).
cas de qualidade e composição interna. em muitos países (Andreu et al., 2007), altos teores de açúcares redutores
A procura de informações por parte torna-se essencial a identificação dos causam escurecimento indesejável da
dos consumidores no que diz respeito parâmetros de qualidade dos tubérculos batata durante a fritura, reduzindo a
à adequada forma de preparo e utiliza- de batata. aceitação comercial. Outros fatores
ção da batata tem sido cada vez maior Neste contexto, a composição quí- como pH da polpa, acidez e conteúdo
(Feltran et al., 2004). A qualidade mica e bioquímica dos tubérculos é de amido podem interferir de forma
interna da batata é determinada pela importante não somente para determinar indireta na qualidade tecnológica dos
composição química dos tubérculos a qualidade da batata, mas também a tubérculos (Feltran et al., 2004).
(Moreno, 2000), que sofre influência qualidade do produto final. caracte- As características físicas e bioquími-
principalmente do manejo da adubação rísticas como o conteúdo de açúcares cas dos tubérculos sofrem influência do
e da cultivar empregada (quadros et al., redutores e o teor de matéria seca ambiente, porém, tendem a ser constan-

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 299


AM Fernandes et al.

tes em uma mesma cultivar (Salamoni et quantificação dos sólidos solúveis algu- a 180°C. A coloração das batatas fritas
al., 2000). Assim, cada cultivar possui mas fatias da polpa foram maceradas e e da polpa nos tubérculos frescos foram
características especiais, o que evidencia duas gotas do suco foram colocadas no determinadas pelo método instrumental
a importância de identificá-las em rela- prisma do refratômetro eletrônico (Ata- em cinco pontos de cada amostra, utili-
ção a sua melhor forma de utilização. go, modelo PR32), e após um minuto zando-se o colorímetro digital (Minolta
Dessa forma, o objetivo desse trabalho fez-se a leitura direta dos graus Brix. CR-400), com determinação dos valores
foi avaliar a qualidade físico-química Para a determinação da acidez titulável, L* (indica luminosidade), a* (indica
para fritura de tubérculos de cultivares 50 g de polpa foram trituradas com 100 variação de cor do verde até o vermelho)
de batata, produzidos durante a safra mL de água destilada e a mistura foi e b* (indica variação de cor do azul até
de inverno. filtrada e titulada com solução hidróxido o amarelo) (Papadakis et al., 2000).
de sódio a 0,1 N, tendo como indicador Com os valores de a* e b* calculou-se o
MATERIAL E MÉTODOS fenolftaleína (Brasil, 2005). Com os ângulo hue (ºh=tan-1(b*/a*)), que define
dados de acidez e °Brix calculou-se a a tonalidade de cor, e o chroma
relação entre o teor de sólidos solúveis
Tubérculos da classe graúda de (C*= (a*)² + (b*)² ),
e a acidez titulável (SS/AT).
cinco cultivares de batata produzidos que define a intensidade da cor (Mc-
A determinação do pH foi realizada
durante a safra de inverno de 2008 em
com 50 g de polpa, as quais foram tri- guire, 1992).
área produtora de batata no município
turadas em 100 mL de água destilada, Os resultados foram submetidos
de Itaí, SP (23°28’ S; 49°08’ W) foram
e nestas fez-se a leitura direta do pH, à análise de variância e as médias
usados no presente trabalho. No campo,
com medidor de pH digital (Digimed, comparadas pelo teste de Tukey a 5%
o plantio foi realizado manualmente, em
modelo DM-2). O teor de matéria seca de probabilidade. Foram realizadas
8/6/2008, no espaçamento de 0,80 m
foi determinado pelo método gravimé- análises de correlação simples entre
entre fileiras e 0,35 m entre plantas. Aos
trico a 105°C em estufa com circulação as características físico-químicas dos
97 dias após o plantio (DAP) quando as
de ar até peso constante (Brasil, 2005), tubérculos, visando determinar o grau
plantas entraram no início do estádio de
e as cinzas foram determinadas pela de associação entre elas.
senescência, ou seja, quando iniciou-se
calcinação em mufla a 550ºC, de acordo
o amarelecimento das folhas, realizou-se
com o método 942.05 da AOAC (2000).
a dessecação da parte aérea de todas as
A metodologia utilizada para a deter- RESULTADOS E DISCUSSÃO
cultivares com o herbicida Diquat (330
minação de fibra alimentar total, nos
g do i.a. ha-1). Os tubérculos das linhas
tubérculos de batata foi a proposta pela As cultivares Asterix, Markies e
centrais de cada parcela foram colhidos
AOAC (1997). Mondial apresentaram polpa mais firme
25 dias após a dessecação da parte aérea
Os teores de açúcares totais, redu- quando comparada às demais, sendo que
das plantas, para as determinações das
tores e amido foram determinados na a cultivar Agata apresentou polpa com
características físico-químicas.
matéria seca, segundo metodologia menor firmeza (Tabela 1). Feltran et al.
o delineamento experimental seguiu (2004) também observaram diferenças
descrita por Somogyi, adaptada por
o experimento de campo, ou seja, blocos significativas entre as cultivares Asterix
Nelson (1944) e as leituras realizadas em
ao acaso, com quatro repetições e cinco (8,15 N) e Agata (6,74 N), quanto aos
espectrofotômetro a 535 nm, e os dados
tratamentos, representados pelas culti- valores de firmeza da polpa. Cultivares
de açúcares convertidos para teores na
vares de batata Agata, Asterix, Atlantic, que possuem polpa mais firme e amare-
matéria fresca.
Markies e Mondial. las são indicadas para preparo de massas
A qualidade de fritura foi avaliada
Para as avaliações físico-químicas pela coloração das batatas após o pro- (Pereira et al., 2005).
foram utilizados quatro tubérculos da cessamento na forma de palitos e chips. Os valores de sólidos solúveis
classe graúda proveniente de cada uni- Para isso, um tubérculo de cada unidade (°Brix) foram maiores nos tubérculos
dade experimental do campo. Foram experimental (repetição) foi utilizado das cultivares Atlantic e Markies, que
avaliados: firmeza, sólidos solúveis, para formar uma amostra de cada cul- diferiram das demais cultivares (Tabela
acidez titulável, pH da polpa, cinzas, tivar. Os tubérculos foram processados 1). De acordo com Chitarra & Chitarra
teor de fibras totais, teor de matéria seca, na forma de chips e palitos. A fritura foi (2005), os sólidos solúveis são cons-
teor de açúcares totais e redutores, teor feita em óleo de soja refinado durante tituídos principalmente por açúcares
de amido, cor da polpa e cor das fritas 3 minutos em fogão doméstico, sendo (sacarose), o que pode ser confirmado
na forma de palito e chips. a temperatura do óleo monitorada com com as correlações positivas dessa va-
A firmeza foi determinada em cada termômetro e as batatas processadas riável com os teores de açúcares totais
um dos quatro tubérculos (com casca) de postas para fritar quando a temperatura (r= 0,54; p<0,01) e redutores (r= 0,58;
cada unidade experimental, utilizando- do óleo atingiu 180ºC. A proporção de p<0,01). Robles (2003) observou valo-
se texturômetro (Stevens - LFRA óleo foi de 10:1, ou seja, 1 L de óleo para res de °Brix variando de 5,88 a 5,93 em
Texture Analyser) com profundidade cada 100 gramas de batata. Essa propor- tubérculos da cultivar Atlantic. Feltran et
de penetração de 20 mm e velocidade ção minimizou a queda de temperatura al. (2004) não observaram diferenças em
de 2,0 mm s-1 e ponteiro TA 9/1000. Na quando as batatas foram imersas no óleo tubérculos das cultivares Agata (5,46),

300 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Qualidade físico-química e de fritura de tubérculos de cultivares de batata na safra de inverno

Tabela 1. Firmeza, sólidos solúveis, acidez titulável, relação sólidos solúveis/acidez titulável (SS/AT) e pH da polpa em tubérculos de
cultivares de batata, produzidos na safra de inverno (firmness, soluble solids, titratable acidity, soluble solids/titratable acidity ratio (SS/
AT) and pulp pH in potato cultivars produced in the winter cropping season). Botucatu, FCA-UNESP, 2008.
sólidos solúveis acidez titulável Sólidos solúveis/
Cultivares firmeza (N) pH da polpa
(°Brix) (% ácido cítrico) acidez titulável
Agata 6,72c 4,32b 0,20a 24,22bc 6,10c
Asterix 9,31a 4,25b 0,17a 24,68abc 6,18bc
Atlantic 8,05b 5,05a 0,20a 29,23ab 6,33ab
Markies 9,08a 5,27a 0,20a 29,55a 6,40a
Mondial 8,88a 3,95b 0,20a 22,50c 6,06c
CV(%) 4,10 4,41 9,13 8,72 1,43
Médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem entre si pelo teste Tukey a 5% de probabilidade de erro (means followed by the
same letter, in column, do not differ by the Tukey test at 5% of probability).

Tabela 2. Teores de matéria seca, amido, açúcares totais e açúcares redutores, fibra total e cinzas em tubérculos de cultivares de batata,
produzidos na safra de inverno (dry matter, starch, total sugars, reducing sugars, fibers and ashes content of the tubers of potato cultivars
produced in the winter cropping season). Botucatu, FCA-UNESP, 2008.
Matéria seca Amido (base Açúcares Açúcares
Cultivares Fibra total1 Cinzas1
(%) seca) (%) totais1 redutores1
Agata 14,10c 72,20b 0,12b 0,10ab 0,60a 0,79c
Asterix 16,70b 78,20ab 0,25a 0,17a 0,54a 0,91b
Atlantic 19,00a 84,80a 0,19ab 0,12ab 0,53a 1,02a
Markies 17,20ab 74,40ab 0,30a 0,18a 0,54a 0,99ab
Mondial 13,30c 77,50ab 0,11b 0,04b 0,49a 0,76c
CV(%) 5,70 6,20 27,80 33,40 12,70 5,01
Médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem entre si pelo teste Tukey a 5% de probabilidade de erro. 1Porcentagem da matéria
fresca (means followed by the same letter, in column, do not differ by the Tukey test at 5% of probability; 1Percentage of fresh mass).

Asterix (5,94) e Mondial (4,88). Assim, Os maiores valores de pH da pol- menores teores de água são mais ade-
os valores relatados por Robles (2003) pa foram observados nas cultivares quados à fritura e ao preparo de purês
e Feltran et al. (2004) são maiores que Markies e Atlantic, embora a última (Pereira et al., 2005), favorece o rendi-
os observados no presente trabalho. não tenha diferido da cultivar Asterix mento da fritura e a produção de chips,
Contudo, de acordo com pereira (1987), (Tabela 1). Considerando que, os va- proporcionando menor retenção de óleo
menor valor de sólidos solúveis não é lores de pH da polpa dos tubérculos de e garantindo a crocância do produto final
indicativo de baixa qualidade. todas as cultivares estudadas estavam (Melo, 1999). Cultivares com menor
Não houve diferença significativa acima de 6,0, nota-se que os tubérculos teor de matéria seca em seus tubérculos
entre as cultivares quanto aos valores de se encontravam em bom estado de ma- como Agata e Mondial, são mais firmes
acidez titulável (Tabela 1), demonstran- turação e conservação, pois os valores no cozimento, sendo indicadas para a
do que a quantidade de ácidos orgânicos de pH ótimos para a ação de enzimas preparação de pratos assados onde é
presentes na polpa dos tubérculos de ba- que degradam o amido são menores essencial a manutenção de sua forma
tata não difere entre as cultivares. Estes (Nardin, 2009). Os valores observados (Pereira, 1987). Melo (1999) relata que
dados estão de acordo com os obtidos neste trabalho foram superiores aos para a obtenção de tubérculos com alto
por Feltran et al. (2004) e Robles (2003) relatados por feltran et al. (2004), con- teor de matéria seca, deve-se plantar
que também não observaram diferenças tudo, semelhantes aos verificados por cultivares que tenham essa caracterís-
estatísticas para essa variável entre a Nardin (2009). Foi observada correlação tica genética, mas que em alguns casos
maioria das cultivares estudadas. positiva (r= 0,82; p<0,001) entre o pH somente essa medida não é suficiente,
A cultivar Markies apresentou re- da polpa e teor de matéria seca, ou seja, pois o acúmulo de matéria seca nos tu-
lação sólidos solúveis/acidez titulável quanto maior o teor de matéria seca, bérculos pode ser alterado por diversas
mais elevada, embora não tenha diferido menor a acidez da polpa. condições ambientais.
estatisticamente das cultivares Asterix As cultivares Atlantic e Markies os teores de amido (base seca)
e Atlantic (Tabela 1). Esse valor, geral- apresentaram maiores teores de matéria variaram de 84,8% na cultivar Atlantic
mente, é um bom indicativo do sabor, seca, sendo que a Markies não diferiu a 72,2% na Agata (Tabela 2). Essa va-
pois dá uma boa idéia do equilíbrio entre da Asterix (Tabela 2). Tubérculos com riável correlacionou-se positivamente
esses dois componentes. maiores teores de carboidratos e com com o teor de matéria seca (r= 0,39;

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 301


AM Fernandes et al.

Tabela 3. Coloração da polpa e após a fritura na forma de palitos e chips de tubérculos de vares Agata, Asterix e Mondial (Tabela
cultivares de batata, produzidos na safra de inverno (flesh and frying color in sticks and 2). Os teores de cinzas nos tubérculos
potato chips of tubers of potato cultivars produced in the winter cropping season). Botucatu, da cultivar Atlantic e Markies foram
FCA-UNESP, 2008. superiores aos obtidos por Quadros et
Cultivares L* a* b* Ângulo hue (ºh) Chroma (C*) al. (2009), que observaram teores da
Fritas na forma de palitos ordem de 0,93%.
Agata 60,7 -2,3 20,5 96,1 20,7 Os atributos de cor das batatas
Asterix 61,2 -4,6 17,6 103,5 18,2 fritas encontram-se na tabela 3. As
cores foram expressas em termos de
Atlantic 73,0 -4,5 15,6 106,1 16,2
três atributos: luminosidade (L*), que
Markies 71,0 -5,7 22,1 104,4 22,8 diferencia cores claras de escuras e seu
Mondial 61,6 -2,9 21,6 98,1 21,8 valor varia de zero para cores escuras a
Fritas na forma de chips 100 para cores claras; ângulo hue (°h)
Agata 35,7 -2,9 10,5 105,4 11,0 que é indicativo de tonalidade e, satura-
Asterix 61,4 -4,0 17,8 103,0 18,2 ção ou chroma que define a intensidade
de cor (C*) (Mcguire, 1992). A cultivar
Atlantic 51,2 -0,6 13,0 94,1 13,3
Atlantic apresentou palitos mais claros
Markies 50,8 -4,5 21,9 101,9 22,4 (maiores valores de L*) que as demais
Mondial 45,8 -1,5 20,2 95,6 20,3 cultivares, enquanto que, os chips de cor
Polpa fresca mais clara foram obtidos com a cultivar
Agata 59,8b -3,7 18,7 101,2a 19,0b Asterix e Atlantic. De maneira geral,
houve a tendência de coloração mais
Asterix 66,2ab -3,5 19,8 100,1a 20,1b
clara nos palitos que nos chips, com
Atlantic 66,1ab -2,5 13,6 100,4a 13,8c exceção da cultivar Asterix, em que a
Markies 68,6a -4,5 25,0 100,2a 25,4a forma de processamento não teve efeito
Mondial 63,0ab -3,7 20,2 100,4a 20,5ab sobre a luminosidade do produto final.
CV(%) 5,0 - - 0,7 11,2 Coleman (2004) classificou a cor
Médias seguidas de mesma letra nas colunas (para cor da polpa) não diferem entre si pelo da batata após a fritura como sendo de
teste Tukey a 5% de probabilidade de erro (means followed by the same letter, in column qualidade inaceitável (L*<55); aceitá-
(for flesh color), do not differ by the Tukey test at 5% of probability). vel (L*≥55 e ≤70) e de alta qualidade
(L*>70). Assim, de acordo com esse
autor, as cultivares Atlantic e Markies
p<0,10), confirmando os relatos de de açúcares redutores nos tubérculos apresentaram palitos de alta qualidade
Fontes & Finger (2000) e freitas et al. podem ser atribuídas aos altos valores e, as demais apresentaram palitos de
(2006) de que o amido representa de 60 de coeficiente de variação. coloração aceitável. No entanto, quando
a 80% da matéria seca dos tubérculos. Stark et al., (2003) relatam que processada na forma de chips, apenas
Além disso, possui influência direta batatas para serem aceitas para o pro- a cultivar Asterix apresentou chips de
com a textura dos produtos processados cessamento, devem possuir teores de cor aceitável, enquanto todas as demais
(Pereira, 2003). açúcares redutores geralmente abaixo apresentaram chips de cor inaceitável
Os principais açúcares encontrados de 0,035% da massa fresca para pro- (Coleman, 2004). Resultados seme-
na batata são os redutores (glicose e cessamento na forma de chips e 0,12% lhantes foram obtidos por Müller et al.
frutose) e não redutores (sacarose), os quando processadas na forma de palitos. (2009) em tubérculos da cultivar Asterix
quais têm valores variados, que oscilam Assim, segundo esses autores, nas con- produzidos nas condições de cultivo de
entre épocas de plantio, entre produto- dições de cultivo de inverno, nenhuma primavera e outono.
res e cultivares (robles, 2003). O teor das cultivares avaliadas apresentam Embora os teores de açúcares redu-
de açúcares totais foi semelhante nas teores de açúcares redutores adequados tores estejam normalmente correlacio-
cultivares Markies, Asterix e Atlantic, para processamento na forma de chips nados com os valores de cor dos chips
sendo que esta última não diferiu das e apenas as cultivares Agata, Atlantic e (Coelho et al., 1999; Feltran et al.,
outras duas (Tabela 2). Já a concentração Mondial apresentam teores de açúcares 2004), cultivares com teores de açúcares
de açúcares redutores, nos tubérculos redutores adequados para o processa- redutores considerados inadequados
das cinco cultivares, variou de 0,04% mento na forma de palitos. para a fritura na forma de palitos (Aste-
a 0,18% da matéria fresca (Tabela 2). Não foram observadas diferenças rix e Markies) e chips (Agata, Asterix,
As cultivares Markies e Asterix apre- entre o teor de fibras totais nos tubércu- Atlantic, Markies e Mondial) apresen-
sentaram maiores teores de açúcares los das cultivares estudadas (Tabela 2). taram tanto palitos (Agata, Asterix e
redutores, contudo diferindo apenas da Os maiores teores de cinzas foram obti- Mondial) como chips (Asterix) de cor
cultivar Mondial. As pequenas diferen- dos nos tubérculos da cultivar Atlantic, aceitável, além de palitos com cor de
ças entre as cultivares quanto aos teores a qual diferiu estatisticamente das culti- alta qualidade (Atlantic e Markies). Isso

302 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Qualidade físico-química e de fritura de tubérculos de cultivares de batata na safra de inverno

provavelmente está relacionado com a Wrolstad (1997) em chips de cinco cul- compostos fenólicos na intensidade
concentração de aminoácidos e polife- tivares de batata, as quais variaram entre da coloração das fritas (Zorzella et al.,
nóis totais que também têm demonstra- cores mais intensas (C*=28) a cores de 2003; Freitas et al., 2006), o que torna
do certa influência sobre a intensidade menor intensidade (C*=19). Embora fundamental avaliar a cor da fritura para
de coloração das batatas fritas (Zorzella esses autores tenham obtido chips com uma conclusão mais apurada, uma vez
et al., 2003; Freitas et al., 2006). cor mais intensa, a tonalidade amarela que a cor é considerada um dos parâme-
De acordo com a seqüência CIELAB dos chips produzidos foi inferior às ob- tros mais importantes na definição da
hue (Mcguire, 1992), que define a cor servadas no presente experimento. qualidade das batatas fritas (Pedreschi
vermelha como 0ºh, amarelo como 90°h, A cor da polpa dos tubérculos fres- et al., 2007).
verde como 180°h e azul como 270°h, cos também é um fator determinante da Embora não tenha sido avaliada a
as cultivares estudadas apresentaram qualidade dos produtos processados. Os textura do material após a fritura, com
palitos e chips de coloração amarelada. valores do ângulo hue foram indicativos base em observações visuais constatou-
As cultivares Agata e Mondial apre- de que todas as cultivares apresentaram se que as cultivares Atlantic e Markies
sentaram palitos com tonalidade mais polpa de coloração amarelada (valores ficaram com aspectos de mais crocantes
próxima da amarela (menor valor de próximos de 100ºh). Porém, a cultivar (absorveram menos óleo), enquanto as
ângulo hue). Já para os chips as cultiva- Atlantic teve como característica apre- cultivares Agata e Mondial ficaram com
res Atlantic (94,1°h) e Mondial (95,6°h) sentar polpa de cor clara (menores va- aparência de mole e encharcada. Isso
apresentaram menores valores de ângulo lores de C*), pois, mesmo apresentando provavelmente está relacionado com
hue, ou seja, tonalidade mais amarelada valores semelhantes às demais cultivares os maiores teores de sólidos solúveis e
(Tabela 3). Rodriguez-Saona & Wrols- para o ângulo hue, a intensidade da cor matéria seca observados nos tubérculos
tad (1997) estudando a influência da foi significativamente menor (C*=13,8), das cultivares Markies e Atlantic
composição de tubérculos de batata na enquanto que as cultivares Markies e (Tabelas 1 e 2).
qualidade de cor dos chips, verificaram Mondial apresentaram polpa de cor Diante dos resultados obtidos con-
que as tonalidades de cor dos chips amarelo mais escuro ou mais intenso, cluiu-se que os tubérculos das cultivares
variaram de amarelo-alaranjado (75°h) como pode ser observado pelos maio- Mondial e Agata apresentam caracterís-
a avermelhado (63°h). res valores de C* (Tabela 3). Assim, ticas adequadas para o mercado fresco,
O chroma (C*) define a intensidade nota-se que a cor da polpa (branco ou sendo indicadas para a preparação de
de cor, ou seja, valores próximos a zero amarelo) influiu na cor do produto final massas e pratos assados em que é essen-
são indicativos de cores neutras (branco após a fritura, uma vez que a cultivar cial a manutenção de sua forma. Markies
e/ou cinza) e valores ao redor de 60 Atlantic, de polpa mais clara, apresentou apresenta dupla aptidão culinária, ou
indicam cores vívidas e/ou intensas. As tanto palitos como chips mais claros seja, possui qualidade adequada ao
cores mais intensas dos chips e palitos (menores valores de C* e valores de L* preparo de massas e fritura. Os tubér-
(maiores valores de C*) foram obser- relativamente elevados), enquanto que culos das cultivares Atlantic, Asterix e
vadas nas cultivares Markies (C*=22,8 Markies e Mondial de polpa amarelo Markies apresentam boa qualidade de
nos palitos; C*=22,4 nos chips) e Mon- intenso apresentaram palitos e chips de fritura, no entanto, a cultivar Markies
dial (C*=21,8 palitos; C*=20,3 chips), coloração mais intensa/escura (maiores apresenta polpa dos tubérculos, palitos e
ou seja, essas cultivares apresentaram valores de C*). chips de coloração amarela mais intensa,
palitos e chips de coloração amarela rodriguez-saona & wrolstad (1997) comparada às demais cultivares.
mais intensa que as demais. A menor relataram que diferença em apenas
intensidade de cor foi obtida nos pa- uma dimensão de cor (L*, ângulo hue e AGRADECIMENTOS
litos das cultivares Atlantic (C*=16,2) chroma) é suficiente para proporcionar
e Asterix (C*=18,2) e nos chips das diferentes características visuais nos
cultivares Agata (C*=11,0) e Atlantic chips. Como relatado por estes autores, Ao CNPq pela concessão de bolsa de
(C*=13,3) (Tabela 3). Esses resultados apenas o teor de açúcares redutores, não Mestrado ao primeiro autor e de Produ-
demonstram que as cultivares Markies e é suficiente para explicar ou predizer a tividade em Pesquisa ao segundo autor.
Mondial proporcionaram chips e palitos qualidade da coloração da batata frita, Ao Grupo Ioshida pela concessão da
de coloração mais intensa, os quais são já que cultivares com diferentes teores área para condução do experimento de
rejeitados pelo mercado consumidor de açúcares redutores apresentaram co- campo e, à Associação Brasileira da Ba-
(Menéndez et al., 2002; Pereira et al., loração de chips similares. No presente tata (ABBA) pelo auxílio financeiro.
2007). Já as cultivares Atlantic, Asterix e trabalho foi verificado que as cultivares
Agata, apresentaram fritura de cor ama- Markies e Mondial, que apresentaram REFERÊNCIAS
relada, porém, de menor intensidade, o maior (0,18%) e menor (0,04%) teor
ou seja, mais clara (menores valores de de açúcares redutores, respectivamente, ANDREU MA; PINTO CABP; SIMON GA. 2007.
C*), característica essa, adequada para apresentaram palitos de cor aceitável Genetic markers for processing traits in potato.
Crop Breeding and Applied Biotechnology
processamento (Pereira et al., 2007). (Mondial) e de alta qualidade (Markies). 7: 67-73.
Diferentes intensidades de cor foram Nesse sentido, tem sido demonstrada AOAC. 1997. Official methods of analysis
observadas por Rodriguez-Saona & a influência de alguns aminoácidos e of the Association of Analytical Chemists

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 303


AM Fernandes et al.

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304 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


BLANK AF; SOUZA EM; PAULA JWA; ALVES PB. 2010. Comportamento fenotípico e genotípico de populações de manjericão. Horticultura Brasileira
28: 305-310.

Comportamento fenotípico e genotípico de populações de manjericão


Arie F Blank1; Evanildes M de Souza1; José WA de Paula1; Péricles B Alves2
1
UFS-Depto. Eng. Agronômica, Av. Marechal Rondon s/n, 49100-000 São Cristóvão-SE; 2UFS-Depto. Química; afblank@ufs.br;
evanildes@gmail.com; weltonze@hotmail.com; pericles@ufs.br

RESUMO ABSTRACT
Genótipos de manjericão (Ocimum basilicum L.) apresentam Phenotypic and genotypic behavior of basil populations
diferentes teores, rendimentos e composições químicas de óleos Basil (Ocimum basilicum L.) genotypes present different
essenciais. Fatores influenciam na produção do óleo essencial de contents, yields and chemical constituents in its essential oils. Factors
manjericão, como a cultivar plantada e o método de cultivo. O estudo influence the essential oil production of basil, such as cultivar and
dos parâmetros genéticos tem sido ferramenta útil na identificação de cultivation method. The study of genetic parameters is a useful tool
genótipos superiores. Este trabalho teve o objetivo de estimar alguns to identify superior genotypes. In this work we estimated some
parâmetros genéticos associados ao comportamento produtivo de seis genetic parameters associated to the production behavior of six basil
populações de manjericão nos anos agrícola 2004/05 e 2005/06. As populations cultivated in 2004/05 and 2005/06. The variables dry
características massa seca de folha + inflorescência e rendimento de weight of leaves + inflorescences and essential oil yield presented high
óleo essencial apresentaram grande variabilidade por forte influência variability because of strong influence of the studied years. Linalool
dos anos estudados. Já o teor de linalol manteve sua produtividade content presented constant values during the two years. Essential oil
estável ao longo dos dois anos. Teor e rendimento de óleo essencial content and yield and linalool content in the essential oil presented
e teor de linalol no óleo essencial apresentaram herdabilidades altas high herdability in the combined analyses, indicating genetic control
na análise conjunta, indicando controle genético e grande possibi- and great possibilities to transmit them to the following generations.
lidade de serem transmitidas para as gerações futuras. Na análise The combined analyses showed highest essential oil content and
conjunta as populações PI 197442-S3-bulk 3, PI 197442-S3-bulk 5 e yield for the populations PI 197442-S3-bulk 3, PI 197442-S3-bulk 5
PI 197442-S3-bulk 8 apresentaram os maiores teores e rendimentos and PI 197442-S3-bulk 8. For the major chemical constituent of the
de óleo essencial. Quanto ao constituinte químico majoritário do essential oil, linalool, all the populations presented similar content.
óleo essencial, o linalol, todas as populações apresentaram teores Only the minor chemical constituents were different.
semelhantes, diferindo apenas na presença de alguns constituintes
químicos minoritários.

Palavras-chave: Ocimum basilicum L., planta medicinal e aromática, Keywords: Ocimum basilicum L., medicinal and aromatic plant,
óleo essencial, linalol, variância genética, herdabilidade. essential oil, linalool, genetic parameters, genetic variance,
herdability.

(Recebido para publicação em 6 de março de 2009; aceito em 17 de agosto de 2010)


(Received on March 6, 2009; accepted on August 17, 2010)

O gênero Ocimum compreende em


torno de 3200 espécies, originárias
do sudeste asiático e África Central,
Ocimum coletados no Brasil apresentam
óleos essenciais com diferentes compo-
sições (Vieira & Simon, 2000), enquanto
interação genótipo x ambiente, é de
fundamental importância em qualquer
programa de melhoramento, pois indica
que se adaptaram muito bem aos solos outros demonstram a influência do está- o controle genético do caráter, importan-
brasileiros. O manjericão (Ocimum basi- dio de desenvolvimento da planta (Bahl te para o estabelecimento de estratégias
licum) faz parte de um grupo de plantas et al., 2001), das épocas e dos horários de seleção.
medicinais e aromáticas de grande valor de colheita (Silva et al., 2003), do tempo A herdabilidade tem um caráter
econômico, pois é muito utilizada para e temperatura de secagem das folhas preditivo, expressando a proporção da
diversos fins, como ornamental, condi- (Carvalho Filho et al., 2006) sobre o variância genética na variância fenotí-
mentar, medicinal, aromática, na indús- teor e a composição química do óleo pica, calculada em termos de estimativa
tria farmacêutica e de cosméticos e para essencial. Desta forma, o estudo dos pa- (h2); ela também não é uma medida fixa,
produção de óleo essencial, sendo esta râmetros genéticos é ferramenta útil na podendo variar sob diferentes condições
última característica a mais valorizada identificação de materiais superiores. que podem envolver genótipo, ano e
(Rosas et al., 2004). O conhecimento da variabilidade local (interação genótipo x ambiente).
Vários fatores influenciam a produ- genética existente, através de parâ- Em alguns momentos a seleção
ção do óleo essencial do manjericão, metros genéticos como herdabilidade, de materiais mais produtivos ou mais
desde a cultivar utilizada até o método coeficiente de correlação genética e adaptados, pode apresentar dificuldades
de cultivo e colheita utilizados. Alguns as implicações dos efeitos ambientais em razão da baixa herdabilidade ou por
estudos demonstram que acessos de sobre estas estimativas, refletidas na problemas na medição e identificação

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 305


AF Blank et al.

de suas características. Nesse sentido, 197442-S3-Bulk 8) e duas cultivares rante 160 minutos.
o conhecimento das correlações entre comerciais, consideradas testemunha A composição do óleo essencial foi
caracteres avaliados é muito útil em (Genovese e Osmin Purple) doadas analisada em cromatógrafo acoplado a
programas de melhoramento, podendo pela empresa Johnny’s Selected Seeds. um espectrômetro de massas com coluna
o progresso de um caráter ser predito As sementes da UFS foram obtidas por capilar DB-5 (Shimadzu QP5050A).
sempre que forem conhecidas as cor- meio de misturas de linhagens fenotipi- Os constituintes foram identificados
relações genéticas entre dois caracteres camente semelhantes, compondo bulks. pelo banco de dados do equipamento
e a herdabilidade do caráter no qual a O delineamento experimental foi em (espectroteca NIST 107 e NIST 21) e por
seleção é praticada (Falconer & Mackay, blocos ao acaso com três repetições. comparação dos índices de retenção cal-
1996; Cruz & Regazzi, 2004). Foram cultivadas quatro linhas de cinco culados através da co-injeção utilizando
A correlação fenotípica pode ser plantas, sendo a parcela útil constituída uma série homóloga de hidrocarbonetos
diretamente mensurada a partir de de seis plantas. lineares (n-C8-n-C19) com padrões.
medidas de dois caracteres, em certos As mudas foram produzidas em ban- As características avaliadas foram
números de indivíduos da população. dejas de poliestireno de 128 alvéolos, submetidas à análise de variância con-
Essa correlação tem causas genéticas colocando-se uma semente por célula, junta segundo modelo proposto por Ven-
e ambientais, porém, só as genéticas realizando-se irrigações diárias por covsky & Barriga (1992), considerando
envolvem uma associação de natureza aspersão, em ambiente protegido com como aleatório o efeito de anos e fixo o
herdável, tendo como causa dessa corre- 50% de sombreamento. Como substrato, efeito de populações.
lação, principalmente, a pleiotropia e as usou-se pó de coco + vermiculita na O modelo matemático empregado
ligações gênicas em situações de dese- proporção de 1:1, adicionado de 6 g L-1 foi: Yij = m + Gi + Aj + GAij + εij , em
quilíbrio (Falconer & Mackay, 1996). de fertilizante Hortosafra® 6-24-12 + que Yij: valor fenotípico médio do cará-
Em progênies de pupunheira foram micronutrientes. Após 30 dias, as mudas ter Y medido no material genético i, no
identificadas correlações positivas e sig- foram transplantadas para o campo, o ano j; m: média geral paramétrica dos
nificativas entre altura da planta no corte que foi realizado em dezembro de 2004 dados em estudo; Gi: efeito da i-ésima
e diâmetro da planta na altura do colo, e de 2005. O espaçamento utilizado foi população fixa; Aj: efeito do j-ésimo
facilitando a seleção por características de 0,3 m entre plantas e 0,6 m entre ano, aleatório; GAij: efeito da interação
indiretas nessa cultura (Yokomizo & fileiras nos dois anos de experimento. de i-ésima população com o j-ésimo
Farias Neto, 2003). Em populações de As colheitas foram feitas em fevereiro ano, aleatório; εij: erro médio associado
soja caracteres altamente correlaciona- de 2005 e de 2006. à observação Yij, aleatório.
dos mostraram ganhos indiretos muito Realizou-se a calagem, com calcário As estimativas dos parâmetros gené-
próximos aos dos ganhos pela seleção dolomítico, para elevar a soma de bases ticos e fenotípicos, como a herdabilidade
direta, a exemplo de número de vagens, a 80%. Na adubação de plantio, foram (h2), coeficiente de variação (CV %),
número de sementes e produção, apesar utilizados 700 kg ha-1 de NPK (18-18- correlações fenotípicas e genotípicas
de ser sempre menor em relação à sele- 18) + 60.000 L ha-1 de esterco bovino e foram efetuadas através do programa
ção direta (Costa et al., 2004). em cobertura, aos 30 dias após o plantio GENES (Aplicativo Computacional em
Este trabalho teve como objetivo (DAP), aplicaram-se 700 kg ha-1 de NPK Genética e Estatística) versão 2006.4.1
estimar a variabilidade de alguns parâ- (18-18-18) (Camêlo et al., 2005). (Cruz, 2006).
metros genéticos associados ao compor- As características analisadas, por A partir das esperanças dos qua-
tamento produtivo de seis populações ocasião da colheita, foram comprimento drados médios foram estimados os
de manjericão, no município de São e largura de folha, relação comprimento/ componentes da
Cristóvão-SE, nos anos agrícolas de largura de folha, altura de planta; massa
2004/05 e 2005/06. seca de folha + inflorescência e de caule. 2
Durante a plena floração foi realizado variância genética ( σ g )
MATERIAL E MÉTODOS o corte das plantas a uma altura de 20 2
cm do solo às 8:00 horas da manhã e e ambiental ( σ e )
as folhas + inflorescências foram secas para as principais características
Os experimentos foram realizados em estufa de secagem com fluxo de ar
na UFS, no município de São Cristóvão, avaliadas. Foram também estimados os
forçado por cinco dias a 40°C (Carvalho parâmetros genéticos como coeficientes
de latitude 11°00’ S e longitude 37°12’ Filho et al., 2006) e os caules a 60°C até
W, com altitude de 47 m, nos anos agrí- de herdabilidade (h2) e razão CVg/CVe.
massa constante; teor e rendimento de
colas 2004/05 e 2005/06, nos meses de óleo essencial e teor de linalol no óleo 2 2 2 2
outubro a fevereiro. s f =s g +s e +s ge
essencial.
Os materiais avaliados foram quatro Para extração do óleo essencial (fo-
populações de manjericão, provenientes lhas + inflorescências secas) realizou-se QM P − QM PA
da Universidade Federal de Sergipe a hidrodestilação, com aparelho tipo fˆ g =
(NSL 6421-S 3-Bulk 14, PI 197442- Clevenger, colocando-se 75 g de folha ar
S3-Bulk 3, PI 197442-S3-Bulk 5 e PI seca e 2.000 mL de água destilada du-

306 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Comportamento fenotípico e genotípico de populações de manjericão

Tabela 1. Parâmetros genéticos da análise conjunta em relação aos caracteres massa seca de
folha + inflorescência, teor e rendimento de óleo essencial, e teor de linalol no óleo essencial
2
QM PA − QM R g −1 de seis populações de manjericão, cultivadas em dois anos (genetic parameters of the com-
s ge = ⋅ bined analysis in relation to the characters dry weight of leaves + inflorescences, essential
r g oil content and yield, and linalool content in the essential oil of six basil populations,
cultivated in two years). São Cristóvão, UFS, 2007.

2
fˆ g MS fol+infloresc.
Óleo essencial
h = Parâmetro Teor Rendimento Linalol (%)
Q M G ar (g planta-1) (mL plan-
(%) ta-1)
Variância genética 0,619 2,795 0,044 13,156
100 fˆ g Variância residual 24,333 0,144 0,082 55,715
CV g =
m h2 % (média) 11,984 98,763 67,247 71,454
CVg (%) 5,313 56,332 45,647 4,631
RESULTADOS E DISCUSSÃO CVe (%) 39,555 12,811 57,916 9,529
Razão CVg / CVe 0,134 4,397 0,736 0,486
As populações de manjericão apre-
sentaram valores significativos para os A razão CVg/CVe pode ser emprega- correlações negativas e significativas
caracteres teor e rendimento de óleo da como um índice indicativo do grau de (p<0,05) foram: massa seca de caule
essencial, indicando a existência de facilidade de seleção das progênies para x largura de folha e largura de folha x
variabilidade entre elas, o que beneficia cada caráter, quando a razão estimada relação comprimento/largura de folha.
o processo de melhoramento. As demais for igual ou maior que 1,0, tem-se uma A maior correlação encontrada foi
características tiveram comportamento situação muito favorável para o processo teor de óleo essencial x relação compri-
semelhante, justificando a seleção de seleção, ou seja, a variação genética mento/largura de folha, indicando nessa
baseada no teor e rendimento de óleo disponível é a maior responsável pelos associação que quanto maior a relação
essencial. valores de C.V. estimados dos dados ex- comprimento/largura da folha, maior o
perimentais (Yokomizo & Farias Neto, teor de óleo essencial na planta.
Não foi detectado efeito dos dife-
2003). No experimento os valores da Para o ano agrícola de 2005/06, as
rentes anos agrícolas para o teor de
razão CVg/CVe para teor e rendimento correlações positivas e significativas
linalol no óleo essencial, o que pode
de óleo essencial foram altos (Tabela 1), (p<0,01) foram: altura de planta x (mas-
ser interessante para manter os níveis
justificando sua utilização no processo sa seca de caule e largura de folha); teor
de produtividade ao longo dos anos.
de melhoramento. de óleo essencial x (largura de folha e
As demais características avaliadas ti-
Os coeficientes de variação genética relação comprimento/largura de folha);
veram influência significativa dos anos
foram altos para teor e rendimento de rendimento de óleo essencial x largura
agrícolas.
óleo essencial, indicando suficiente de folha teve correlação negativa e sig-
Quanto ao efeito da interação po- variabilidade genética que pode ser ex-
pulações e anos (P x A), não foram de- nificativa (p<0,01) (Tabela 2).
plorada, já que as populações estudadas
tectadas diferenças significativas entre A maior correlação positiva encon-
são compostas por bulks (Tabela 1).
as progênies para as quatro principais trada no ano agrícola de 2005/06 foi
Valores positivos na correlação
características analisadas nos diferentes entre a altura da planta e a largura da
indicam que os dois caracteres são bene-
anos e não ocorreu melhoria do desem- folha (Tabela 2), indicando que quanto
ficiados ou prejudicados pelas mesmas
penho de uma população em relação maior a altura da planta maior será a
causas de variações ambientais, e valo-
à outra, com a alteração do ano. Isso largura da folha.
res negativos indicam que o ambiente
indica que as populações apresentam favorece um caráter em detrimento do As magnitudes das correlações dife-
suficiente adaptação fenotípica para outro (Cruz & Regazzi, 2004). Nesse riram entre os dois anos, demonstrando
manter suas características mesmo com sentido pode-se verificar na Tabela 2, haver influência dos anos nas correla-
o passar do tempo. que entre os caracteres no ano agrícola ções e assim necessitar de um maior
Todos os caracteres, com exceção de de 2004/05, houve correlações genéticas número de repetições para confirmar
massa seca de folhas + inflorescências positivas significativas (p<0,01) para os resultados.
apresentaram herdabilidades altas que os caracteres massa seca de folha + Para altura de planta todas as popu-
podem ser utilizadas nos processos de inflorescências x massa seca de caule; lações avaliadas apresentaram alturas
melhoramento, pois são indicativos teor de óleo essencial x relação compri- semelhantes quando alcançaram a plena
de que as qualidades superiores en- mento/largura de folha; rendimento de floração (Tabela 3). Resultados seme-
contradas podem ser transmitidas para óleo essencial x relação comprimento/ lhantes foram identificados por Blank et
gerações futuras, mantendo com isso, largura de folha. Já os caracteres massa al. (2004) quando caracterizaram diver-
pelo menos, os mesmos patamares de seca de caule x largura de folha tiveram sos acessos de Ocimum sp. Observaram-
produtividade (Tabela 1). correlações positivas ao nível de 5%. As se alturas de planta diferentes nos anos

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 307


AF Blank et al.

Tabela 2. Correlações genotípicas dos caracteres altura de planta (Alt), massa seca de folha + inflorescência (MS fol), massa seca de caule
(MS cau), teor (Teor) e rendimento (RE mL) de óleo essential, teor de linalol (Lina), comprimento (Comp) e largura (Larg) da folha e relação
comprimento/largura de folha (C/L) envolvendo seis populações de manjericão, nos anos 2004/05 e 2005/06 (genotipic correlations of the
characters plant height (Alt), dry weight of leaves + inflorescences (MS fol), dry weight of stalks (MS cau), content (Teor) and yield (RE
mL) of essential oil, linalool content (Lina), length (Comp) and width (Larg) of leaves and length/width relation of leaves (C/L), involving
six basil populations, in the years 2004/05 and 2005/06). São Cristóvão, UFS, 2007.
MS fol MS cau Teor RE mL Lina
Caracteres Comp (cm) Larg (cm) C/L -
(g pl-1) (g pl-1) (%) (mL pl-1) (%)
2004/2005
Alt (cm) - - - - -0,417 -
- -
MS fol (g pl-1) 1 0,892** -0,210 -0,204 - -0,458 -0,331 -0,106
MS cau (g pl-1) 1 -0,125 -0,157 - - -0,779* 0,127
Teor (%) 1 - - -0,181 -0,525 0,906**
RE mL (mL pl ) -1
1 - 0,140 -0,549 0,895**
Lina (%) 1 - -0,010 -
Comp (cm) 1 0,683 -0,095
Larg(cm) 1 -0,786*
2005/2006
Alt (cm) 0,444 0,923** -0,482 -0,606 0,221 - 0,978** -0,272
MS Fol (g pl ) -1
1 - - - 0,626 0,162 - -
MS Cau (g pl-1) 1 - - -0,071 0,707 - -
Teor (%) 1 - 0,245 -0,132 0,875** 0,990**
RE mL (mL pl-1) 1 0,527 -0,169 -0,945** -
Lina (%) 1 0,329 -0,023 0,346
Comp (cm) 1 0,622 0,105
Larg (cm) 1 -0,715
** *Significativo a 1 e 5%, respectivamente, pelo teste t (Student). (** *significant at 1 and 5%, respectively, by the t test (Student)); - =
; ;

valores absolutos maiores que 1,0. (- = absolute values higher than 1.0).

agrícolas, sendo que no ano de 2005/06 Quanto à massa seca do caule (Ta- às cultivares Genovese e Osmin Purple.
as alturas foram maiores, confirmando bela 3), observou-se comportamento Alguns autores por meio do melho-
que houve influência das variações am- semelhante em relação à massa seca de ramento genético de manjericão vêm
bientais. Dentro dos anos, verificou-se folhas + inflorescências, apesar de não desenvolvendo novas cultivares como
diferença entre as populações, indicando apresentarem correlações genotípicas ‘Mrs. Burns’ (manjericão tipo limão)
a presença de variabilidade entre elas. (Tabela 2). (Charles & Simon, 1990), com teor de
Em média, as populações produziram Para o teor de óleo essencial, hou- óleo essencial em torno de 1,5% e a
maior massa seca de folha + inflorescên- ve diferenças significativas entre as cultivar ‘Sweet Dani’, com teor de óleo
cia no ano de 2004/05, não apresentando populações dentro de cada ano e entre essencial em torno de 0,7% (Morales &
diferenças significativas entre elas em os anos agrícolas detectou-se diferença Simon, 1997). Resultados obtidos por
cada ano, confirmando a forte influência apenas para ‘Genovese’. Os maiores Blank et al. (2004) para os acessos PI
ambiental (Vencovsky & Barriga, 1992) valores médios foram encontrados nas 197442 e NSL 6421 mostraram teor de
(Tabela 3). Em estudos realizados com populações PI 197442-S3-Bulk 3, PI óleo essencial de 2,54% e 0,69%, para os
seis genótipos de sambacaitá (Hyptis 197442-S3-Bulk 5 e PI 197442-S3-Bulk mesmos acessos, indicando, assim, que
pectinata), verificou-se massa seca de 8 (4,36%) (Tabela 4). Dentro de cada após a seleção, obtiveram-se aumentos
folhas entre 3,02 e 20,43 g planta-1 na ano também mantiveram-se os maiores de 54,7% e 84,1%, respectivamente, na
primeira colheita, no estado de Sergipe valores, demonstrando superioridade em média dos ambientes.
(Arrigoni-Blank et al., 2005). relação aos demais genótipos, inclusive As médias dos rendimentos de óleo

308 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Comportamento fenotípico e genotípico de populações de manjericão

Tabela 3. Altura (cm), massa seca de folha + inflorescência e de caule de seis populações linalol como o segundo componente
de manjericão, cultivadas nos anos agrícolas 2004/05 e 2005/06 (plant height, dry weight of majoritário (20,1%) para manjericão
leaves + inflorescences and stalks of six basil populations, cultivated in the years 2004/05 roxo e sua ausência no manjericão ver-
and 2005/06). São Cristóvão, UFS, 2007. de. Trabalhos realizados por Kamada et
Anos agrícolas al. (1999), ao estudar três genótipos de
Populações
(2004/05) (2005/06) manjericão em quatro ambientes distin-
Genovese 42,36 a B 68,73 a A tos, verificaram que nesses ambientes
não houve a presença do linalol, nem
NSL 6421-S3-Bulk 14 48,57 a A 57,77 a A
em pequenas quantidades, sendo um
Osmin Purple 48,74 a A 51,40 a A dos componentes majoritários o 1,8
PI 197442-S3-Bulk 3 48,82 a A 56,07 a A cineol, variando de 2,70% no basilicão
PI 197442-S3-Bulk 5 47,24 a A 52,17 a A a 15,57% no manjericão-branco.
PI 197442-S3-Bulk 8 42,41 a B 55,73 a A Em estudos realizados por Kamada
Média 46,36 B 56,98 A et al. (1999) não houve considerável
CV(%) 12,16 modificação química do óleo essencial
de O. basilicum em função dos am-
Massa seca de folha + inflorescência (g planta-1)
bientes, portanto a plasticidade não foi
Genovese 13,84 a A 13,38 a A detectada no caráter qualitativo.
NSL 6421-S3-Bulk 14 19,35 a A 13,65 a A Os caracteres rendimento de óleo
Osmin Purple 21,91 a A 14,36 a B essencial e teor de linalol no óleo es-
PI 197442-S3-Bulk 3 17,37 a A 9,06 a B sencial apresentaram herdabilidades
PI 197442-S3-Bulk 5 20,97 a A 9,76 a B altas, indicando forte controle genético
e grande possibilidade de serem trans-
PI 197442-S3-Bulk 8 12,51 a A 11,59 a A
mitidas para as gerações futuras. Para
Média 17,66 A 11,96 B massa seca de folhas + inflorescências
CV(%) 34,89 secas observou-se herdabilidade baixa,
Massa seca de caule (g planta-1) indicando pouco controle genético. As
Genovese 6,00 a A 9,07 a A populações PI 197442-S3-bulk 3, PI
NSL 6421-S3-Bulk 14 6,21 a A 5,49 a A 197442-S3-bulk 5 e PI 197442-S3-bulk 8
tiveram os maiores teores e rendimentos
Osmin Purple 9,98 a A 5,48 a A
de óleo essencial. Quanto ao constituinte
PI 197442-S3-Bulk 3 9,90 a A 3,16 a B químico majoritário do óleo essencial,
PI 197442-S3-Bulk 5 8,11 a A 3,84 a A o linalol, todas as populações apresen-
PI 197442-S3-Bulk 8 5,07 a A 4,10 a A taram comportamentos semelhantes,
Média 7,54 A 5,65 A diferindo apenas na presença de alguns
CV(%) 44,70 constituintes químicos minoritários.
Médias seguidas das mesmas letras minúsculas, nas colunas, e maiúsculas nas linhas, não
diferem entre si, pelo teste de Scott-Knott (p≤0,05) (means followed by the same small AGRADECIMENTOS
letters in the columns and the capital letters in the lines, did not differ from each other by
the Scott-Knott test (p<0.05)).
Os autores agradecem ao ETENE/
FUNDECI/BNB pelo financiamento
essencial apresentaram variabilidade em relação ao ano 2005/06. da pesquisa e ao CNPq, pela bolsa de
entre os materiais que variaram de 0,23 O componente majoritário no óleo produtividade do primeiro autor e pela
a 0,80 mL planta-1 entre as populações. essencial, para todas as populações bolsa de iniciação científica do terceiro
As populações PI 197442-S3-Bulk 3, avaliadas, foi o linalol, não sendo ob- autor.
PI 197442-S3-Bulk 5 e PI 197442-S3- servadas diferenças significativas entre
Bulk 8 tiveram os maiores rendimentos as médias das populações e entre os
médios por planta, em relação às demais anos (Tabela 4). Estudos realizados por REFERÊNCIAS
populações, principalmente em relação Silva et al. (2003), com manjericão em
ARRIGONI-BLANK MF; SILVA-MANN R;
às cultivares testemunhas (Tabela 4). duas épocas de colheita e dois horários, CAMPOS DA; SILVA PA; ANTONIOLLI AR;
Em função de uma maior produção de constataram que o linalol foi o segundo CAETANO LC; SANTANA AEG; BLANK
massa seca de folhas + inflorescências componente majoritário, com um teor AF. 2005. Morphological, agronomical and
pharmacological characterization of Hyptis
das populações PI 197442-S3-Bulk 3 e médio de 21,61%. Resultados seme-
pectinata (L.) Poit germplasm. Revista
PI 197442-S3-Bulk 5 no ano 2004/05 lhantes foram encontrados por Sajjadi Brasileira de Farmacognosia 15: 298-303.
em relação ao ano 2005/06 (Tabela 4), (2006), ao avaliar a composição química BAHL JR; GARG SN; BANSAL RP. 2001. Yield
as mesmas apresentaram maiores rendi- de duas cultivares de manjericão, verde and quality of school essential oil from the
mentos de óleo essencial no ano 2004/05 e roxo, cultivadas no Irã, e verificou o vegetative flowering and fruiting stage crops

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 309


AF Blank et al.

Tabela 4. Teor e rendimento de óleo essencial e teor de linalol no óleo essencial de seis PB; EHLERT PAD; MELO AS; CAVALCANTI
populações de manjericão, cultivadas nos anos agrícolas 2004/05 e 2005/06 (content and yield SCH; ARRIGONI-BLANK MF; SILVA-
of essential oil and linalool content in the essential oil of six basil populations, cultivated in MANN R. 2006. Influence of the harvesting
time, temperature and drying period on basil
the agricultural years 2004/05 and 2005/06). São Cristóvão, UFS, 2007.
(Ocimum basilicum L.) essential oil. Revista
Anos agrícolas Brasileira de Farmacognosia 16: 24-30.
Populações CHARLES DJ; SIMON JE. 1990. Comparasion of
(2004/05) (2005/06)
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Genovese 2,06 b A 1,22 b B basil (Ocimum sp.). Journal of the American
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NSL 6421-S3-Bulk 14 1,42 c A 1,50 b A 462.
Osmin Purple 1,11 c A 1,31 b A COSTA MM; MAURO AO; UNÊDA-TREVISOLI
SH; ARRIEL NHC; BÁRBARO IM; MUNIZ
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Médias seguidas das mesmas letras minúsculas, nas colunas, e maiúsculas nas linhas, não basilicum L.) em dois horários e duas épocas
diferem entre si, pelo teste de Scott-Knott (p≤0,05). (means followed by the same small de colheita. Revista Brasileira de Plantas
letters in the columns and the capital letters in the lines, did not differ from each other by Medicinais 6: 33-38.
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310 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


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Efeito de diferentes temperaturas na qualidade de mandioquinha-salsa


minimamente processada
Elisângela Elena Nunes1; Eduardo Valério de B Vilas Boas2; Roberta H Piccoli2; Andréa Luiza RP Xisto2;
Brígida M Vilas Boas3
1
UFT, C. Postal 66, 77402-970 Gurupi-TO; 2UFLA, Depto Ciência dos Alimentos, C. Postal 3037, 37200-000 Lavras-MG; 3Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul de Minas, Rod. Machado-Paraguaçu, km 3, Santo Antônio, 37750-000 Machado-MG;
evbvboas@dca.ufla.br; rhpiccoli@dca.ufla.br; andreaxisto@hotmail.com; elisanunescarvalho@hotmail.com; bmvboas@hotmail.com

RESUMO ABSTRACT
O objetivo do presente trabalho foi avaliar a vida útil de Effect of different temperatures on the quality of fresh-cut
mandioquinha-salsa ‘Amarela de Senador Amaral’ minimamente Peruvian carrot
processada e armazenada em três temperaturas de armazenamento. The shelf life of fresh-cut Peruvian carrots ‘Amarela de Senador
As raízes foram descascadas manualmente, fatiadas (±1 cm de es- Amaral’, stored under three temperatures, was evaluated. The roots
pessura), imersas em solução de dicloro isocianurato de sódio 100 were peeled manually, sliced (±1 cm thick), immersed in a solution
mg L-1 por 15 minutos e acondicionadas em embalagem rígida de of sodium dichloroisocyanurate 100 mg L-1 during 15 minutes and
polipropileno (15 x 11,5 x 4,5 cm). As embalagens, contendo cerca packed in rigid polypropylene package (15 x 11.5 x 4.5 cm). The
de 150 g de raízes minimamente processadas, foram armazenadas a packages containing around 150 g of fresh cut roots were stored under
0±1ºC, 5±1ºC ou 10±1ºC durante 15 dias, sendo realizadas análises 0±1ºC, 5±1ºC or 10±1ºC during 15 days. The analyses were performed
a cada 3 dias. O delineamento experimental foi inteiramente casua- every 3 days. The experimental design was completely randomized
lizado em fatorial 3 x 6, sendo 3 temperaturas de armazenamento e in a 3 x 6 factorial (3 storage temperature) and 6 periods of storage,
6 períodos de armazenamento, com 3 repetições. O armazenamento with three replicates. The storage at 0ºC provided higher L* and b*
a 0ºC determinou, ao longo do armazenamento, aumento nos valores values, lower a* values, lower peroxidase, polyphenoloxidase and
de L* e b*, menores valores de a*, menor atividade da peroxidase, polygalacturonase activity, pectic solubilization and respiration rate.
polifenoloxidase, poligalacturonase, solubilização péctica e taxa res- This temperature is the most proper for the storage of the fresh-cut
piratória, sendo a temperatura mais indicada para o armazenamento peruvian carrot ‘Amarela de Senador Amaral’.
da mandioquinha-salsa ‘Amarela de Senador Amaral’ minimamente
processada.

Palavras-chave: Arracacia xanthorrhiza, processamento mínimo, Keywords: Arracacia xanthorrhiza, fresh-cut, polyphenoloxidase,
peroxidase, polifenoloxidase. peroxidase.

(Recebido em 6 de maio de 2009; aceito em 16 de agosto de 2010)


(Received on May 6, 2009; accepted on August 16, 2010)

A mandioquinha-salsa é uma planta


eudicotiledônea, da ordem Um-
bellales, família Apiaceae (Umbellife-
raízes e tubérculos, devido à deficiência
na maioria dos aminoácidos essenciais.
É notadamente fonte de vitaminas e mi-
in natura para mercados distantes, des-
tacadamente para as principais capitais
nordestinas. Isso foi possível graças ao
rae), gênero Arracacia, espécie Arra- nerais. Entre as vitaminas, ressaltam-se embalamento a vácuo, transporte refri-
cacia xanthorrhiza Bancroft. A família as do complexo B (tiamina, riboflavina, gerado em caixas de isopor e disposição
das apiáceas compreende também a niacina e piridoxina) e a vitamina A. do produto em gôndolas refrigeradas nos
cenoura, a salsa, o coentro, o aipo e o Entre os minerais, destacam-se o cálcio, pontos de venda, em geral grandes redes
funcho, entre outras. o magnésio, o fósforo e o ferro. Devido de supermercados. O prazo de validade
De acordo com Pereira (1997), a esses fatores, é especialmente reco- do produto é de 15 dias (Madeira &
a mandioquinha-salsa caracteriza-se mendada na alimentação de crianças e Souza, 2004).
como alimento essencialmente ener- pessoas idosas. A mandioquinha-salsa é uma das
gético, destacando-se os teores de Raízes embaladas e mantidas sob hortaliças que apresenta grande deman-
carboidratos em relação aos demais refrigeração são formas de apresentação da na forma minimamente processada.
nutrientes. Dos carboidratos totais, para o mercado varejista que agregam Entretanto, diversos cuidados devem ser
cerca de 80% correspondem ao amido valor ao produto e que também podem tomados no processamento mínimo, re-
e 6% aos açúcares totais. O amido de aumentar a sua vida de prateleira (Avelar lacionados à espessura do corte, controle
mandioquinha-salsa contém baixos Filho, 1989). Adicionalmente, agrega do metabolismo e uso de refrigeração.
teores de amilopectina e ausência total valor ao produto final, trazendo maior Os produtos minimamente proces-
de fatores anti-nutricionais, conferindo- retorno financeiro para o produtor. sados devem ser mantidos em refrige-
lhe alta digestibilidade. As proteínas são Recentemente, permissionários ins- ração, sendo este fator importante no
incompletas, como ocorre em outras talados na Ceagesp têm levado o produto retardamento da perda de qualidade, na

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 311


EE Nunes et al.

alteração da composição da atmosfera fatias de mandioquinhas-salsa foram vermelho (+100) e a coordenada b* está
modificada ao redor do produto, na acondicionadas em embalagem rígida relacionada à intensidade de azul (-70) e
perda das características nutricionais, de polipropileno (15 x 11,5 x 4,5 cm); amarelo (+70); g) peroxidase (POD): A
na diminuição da contaminação micro- e e) Armazenamento: as embalagens, extração e determinação da atividade da
biológica, na manutenção da qualidade contendo cerca de 150 gramas de mini- peroxidase foram realizadas de acordo
sensorial dos mesmos, e também na mi- mamente processadas, foram armazena- com o método proposto por Matsumo
nimização das injúrias provocadas pelo das em câmaras frias nas temperaturas & Uritane (1972). A atividade expressa
processamento (Brecht, 1995). Estes de 0±1ºC, 5±1ºC e 10±1ºC por um em unidade por minuto por grama de
produtos geralmente são mais perecíveis período de 15 dias. Práticas de higiene tecido fresco (U min-1 g-1), segundo o
que os que lhes deram origem e, por foram utilizadas para desinfecção do método de Teisson (1979); h) fenilala-
isso, devem ser mantidos a baixas tem- ambiente, facas e utensílios, utilização nina amônia-liase (PAL): foi realizada
peraturas, sendo 0ºC considerada ideal. de equipamentos de proteção individual com base na técnica preconizada por
Entretanto, por razões econômicas, são pelos manipuladores. Rhodes & Wooltorton (1971). A ativida-
utilizadas temperaturas ao redor de 5 O delineamento experimental foi in- de enzimática foi expressa em U min-1
a 10ºC, acelerando assim o processo teiramente casualizado em fatorial 3 x 6, g-1, definida como conteúdo de enzima
de deterioração (Rinaldi et al., 2005). sendo 3 temperaturas de armazenamento que produz um aumento na absorbância
Uma das técnicas mais eficientes para (0, 5 e 10ºC) e 6 períodos de armazena- a 290 nm de 0,01 por minuto (Zucker,
aumentar a durabilidade de hortaliças mento (0, 3, 6, 9, 12 e 15 dias), com 3 1965); I) polifenoloxidase (PPO): a
é o seu armazenamento sob baixa tem- repetições. Cada embalagem contendo extração e determinação da atividade
peratura. A temperatura diminui a taxa 150 g de mandioquinha-salsa minima- da PPO foram realizadas de acordo
de respiração, a perda de água e retarda mente processada foi considerada como com o método proposto por Matsumo &
o amadurecimento de vegetais (Lana et parcela experimental. As análises físicas, Uritane (1972). A atividade expressa em
al., 1998). químicas, físico-químicas e bioquímicas unidade por minuto por grama de tecido
O objetivo deste trabalho foi avaliar foram realizadas a cada 3 dias. fresco (U min-1 g-1), segundo o método
a vida útil pós-colheita de mandioqui- de Teisson (1979); j) taxa respiratória:
Foram analisadas a) acidez titu-
nhas-salsa minimamente processadas, foi determinada utilizando recipientes
lável: determinada por titulação com
sob três temperaturas de armazena- de vidro os quais foram fechados por
solução padronizada de NaOH 0,01N,
mento, buscando adequar uma melhor 1 hora, com tampa plástica, contendo
tendo como indicador a fenolftaleína
temperatura de armazenamento. septo de silicone, por onde foram re-
Os resultados foram expressos em %
tiradas alíquotas da atmosfera interna,
de ácido málico; b) teor de sólidos so-
com auxílio do analisador de gases PBI
MATERIAL E MÉTODOS lúveis: determinado por refratometria,
Dansensor. Os resultados, expressos em
utilizando refratômetro digital ATAGO
% de CO2, foram convertidos em mL
Raízes de mandioquinhas-salsa PR-100 e expressos em ºBrix; c) açúca-
CO2 kg-1 h-1, levando-se em considera-
cultivar Amarela de Senador Amaral res solúveis totais: foram extraídos com
ção o volume do recipiente, a massa e
foram adquiridas no comércio local de álcool etílico a 80% e determinados pelo
o volume dos frutos em cada recipiente
Lavras e transportadas para o laboratório método de antrona (Dische, 1962). Os
e o tempo que esse mesmo recipiente
da Universidade Federal de Lavras. As resultados foram expressos em g 100g-¹;
permaneceu fechado.
raízes foram selecionadas, descartando- d) Poligacturonase (PG): a extração foi
realizada segundo a técnica de Buescher As análises estatísticas foram
se aquelas que apresentavam injúrias, la- realizadas com o auxílio do programa
vadas em água corrente com detergente, & Fumanski (1978), com modificações
de Vilas Boas (1995). O doseamento da SISVAR (Ferreira, 2000). Após a análise
sendo em seguida imersas em solução de variância, as médias, foram compa-
de dicloro isocianurato de sódio 100 mg PG foi realizado segundo Markovic et
al. (1975), com modificações de Vilas radas pelo teste de Tukey a 1 e 5% de
L-1 por 20 minutos, drenado o excesso probabilidade. Os modelos de regres-
de solução sanificante com auxílio de Boas (1995). A atividade enzimática
foi expressa em nmol de ácido galac- sões polinomiais foram selecionados
peneiras plásticas e secas ao ar. com base na significância do teste de F
As etapas do processamento cons- turônico g-1 min-1; e) pectina solúvel:
foi extraída de acordo com a técnica de cada modelo testado e também pelo
taram de: a) Corte: as raízes foram des- coeficiente de determinação.
cascadas manualmente, fatiadas (1 cm de McCready & McComb (1952) e
de espessura) com auxílio de multipro- determinada espectrofotometricamente
cessador MASTER AT; b) Sanificação: a 530 nm. f) cor: os valores L*, a* e RESULTADOS E DISCUSSÃO
as fatias foram imersas em solução de b* foram medidos, por reflectrometria,
dicloro isocianurato de sódio 100 mg utilizando-se colorímetro Minolta, A acidez titulável e o teor de sólidos
L-1 por 15 minutos; c) Eliminação do modelo CR 300. Onde a coordenada solúveis foram influenciados significati-
excesso de água: as fatias foram drena- L* indica quão claro e quão escuro é o vamente apenas pelo tempo de armaze-
das por aproximadamente 3 minutos em produto (valor zero cor preta e valor 100 namento. Houve um aumento nos teores
escorredor doméstico; d) Embalagem: cor branca), a coordenada a* está rela- de acidez titulável a partir do sexto dia,
após a retirada do excesso de água as cionada à intensidade de verde (-50) e independentemente da temperatura de

312 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Efeito de diferentes temperaturas na qualidade de mandioquinha-salsa minimamente processada

et al., 1991).
0,3
Os teores de sólidos solúveis au-
mentaram até o terceiro dia de arma-
0,25
Acidez Titulável (%)
zenamento, declinando em seguida, até
0,2
o final do armazenamento. O aumento
ocorrido no terceiro dia de armaze-
0,15 namento pode estar relacionado com
0,1 y = -0,0002x 3 + 0,0045x 2 - 0,0236x + 0,1603
possíveis reações bioquímicas na parede
R2 = 0,9352 celular. A redução dos sólidos solúveis
0,05 pode ter sido influenciada pelo aumento
0 da taxa respiratória do produto, utili-
0 3 6 9 12 15
zando as reservas existentes nas células
(Figura 1).
Tempo de armazenamento (Dias)
O teor de açúcares totais foi in-
fluenciado significativamente apenas
pelo fator de tempo de armazenamento,
7,4 tendo sido observado declínio ao longo
do armazenamento a partir do terceiro
Sólidos solúveis (ºBrix)

7,2 y = 0,0022x 3 - 0,0531x 2 + 0,2849x + 6,597


R2 = 0,7649 dia de armazenamento (Figura 1). Foi
7 observado comportamento semelhante
6,8 ao teor de sólidos solúveis, uma vez que
são carboidratos de baixo peso molecu-
6,6
lar, componentes dos sólidos solúveis,
6,4 responsáveis diretos pela determinação
6,2 do sabor doce de frutos e hortaliças
6
(Santos et al., 2005).
0 3 6 9 12 15 Foi observado efeito interativo
dos fatores temperaturas e tempo de
Tempo de armazenamento (Dias)
armazenamento para as variáveis PG e
pectina solúvel. As fatias armazenadas
a 0ºC apresentaram menor atividade
da PG e solubilização péctica quando
1,72 y = 0,0002x 3 - 0,005x 2 + 0,0301x + 1,6372
R2 = 0,8408
comparadas às fatias armazenadas a 5
Açúcares Totais (%)

1,7 e 10ºC (Tabela 1).


1,68 Verificou-se interação significativa
1,66 entre os fatores tempo de armazenamen-
1,64 to e temperatura de armazenamento para
os valores L*, a* e b*. No sexto dia de
1,62 armazenamento as fatias armazenadas
1,6 a 10ºC apresentavam-se mais escuras
1,58 que as armazenadas a 0ºC, uma vez que
0 3 6 9 12 15 apresentaram os menores valores de L*
e os maiores valores de a*. O valor L* é
Tempo de armazenamento (Dias)
um indicador de escurecimento durante
o armazenamento, resultante de reações
Figura 1. Acidez titulável, sólidos solúveis e açúcares solúveis totais de mandioquinha- de escurecimento oxidativo ou aumento
salsa minimamente processada armazenada em diferentes temperaturas (0; 5; ou 10ºC) da concentração de pigmentos. Segundo
(titratable acidity, soluble solids and total soluble sugars of fresh cut Peruvian carrot stored Haminiuk et al. (2005), diminuição no
under different temperatures: 0; 5 or 10ºC). Lavras, UFLA, 2007. valor L* e aumento no valor de a* são
indicativos de escurecimento. A tempe-
armazenamento (Figura 1). Segundo va) no processo respiratório. O aumento ratura de 0ºC foi efetiva em retardar a
Roura et al. (2000), logo após o pro- na acidez de produtos armazenados redução do valor b* em comparação a
cessamento mínimo, o tecido vegetal por curtos períodos de armazenamento 5 e 10º C, ao longo do armazenamento.
apresenta uma respiração maior, levando pode ser explicado pela geração de ra- Logo, as fatias de mandioquinha-salsa
a uma diminuição da acidez no início do dicais (ácidos galacturônicos) a partir armazenadas a 0ºC apresentavam colo-
armazenamento, devido ao consumo dos da hidrólise dos constituintes da parede ração mais amarela, o que faz com que
ácidos orgânicos (substâncias de reser- celular, em especial, as pectinas (Senter sejam mais aceitas pelos consumidores

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 313


EE Nunes et al.

Tabela 1. Atividades de poligalacturonase e conteúdo de pectina solúvel de mandioquinhas- (Tabela 2).


salsa minimamente processada armazenada em diferentes temperaturas (polygalacturonase
A atividade das enzimas POD e PAL
activity and content of soluble pectin of fresh cut Peruvian carrot stored under different
temperatures). Lavras, UFLA, 2007.
foi afetada significativamente pelos fa-
tores temperatura e tempo de armazena-
Dias de armazenamento mento. A temperatura de 0ºC foi efetiva
Temperatura de em retardar a atividade da POD e da
0 3 6 9 12 15
armazenamento PAL, em comparação às armazenadas a
Poligalacturonase (nmol min g ) -1 -1
5 e 10ºC (Tabela 3), o que sugere que na
0ºC 8,10 a 8,00 b 7,72 b 8,00 c 8,46 c 8,53 c temperatura mais baixa, estas enzimas
atuaram formando lignina induzidas
5ºC 8,15 a 8,39 a 8,60 a 9,02 b 8,99 b 8,86 b
pelo frio. A POD participa do escure-
10ºC 8,08 a 8,33 a 8,61 a 9,34 a 9,28 a 9,25 a cimento em hortaliças minimamente
Pectina solúvel (%) processadas e está relacionada com
processos de cicatrização juntamente
0ºC 155,27 a 181,30 b 192,23 c 242,67 c 249,93 c 253,37 b com a PAL como, por exemplo, a ligni-
5ºC 159,10 a 206,43 a 213,33 b 268,17 b 265,20 b 278,10 a ficação (Cantos et al., 2002). A lignina é
um polímero complexo formado a partir
10ºC 158,10 a 200,73 a 236,03 a 286,73 a 291,73 a 290,60 a
de uma mistura de fenilpropanóides
Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem estatisticamente entre si pelo teste de simples. Muitos desses compostos são
Tukey (p≤0,05) (means followed by the same letter in the column did not differ significantly induzidos por diferentes estresses, tais
from each other by Tukey test (p≤0.05).
como os danos causados pelo frio. O
Tabela 2. Valores de L*, a*, b* e atividade de peroxidase e fenilalanina amônia-liase de
ácido clorogênico, os ésteres de alquil
mandioquinhas-salsa minimamente processada armazenads em diferentes temperaturas ferulato e outros ésteres fenólicos de
(values of L*, a*, b* and activities of peroxidase and phenylalanine ammonia lyase of fresh parede celular podem agir diretamente
cut Peruvian carrot stored under different temperatures). Lavras, UFLA, 2007. como componentes de defesa ou podem
Dias de armazenamento ser precursores da síntese de lignina,
Temperatura de suberina e outras barreiras polifenólicas
0 3 6 9 12 15 (Dixon & Paiva, 1995).
armazenamento
Valor L* Atividade da PPO foi afetada sig-
0ºC 79,88 a 81,33 a 80,48 a 81,23 a 81,68 a 80,54 a nificativamente pelo tempo de armaze-
5ºC 79,88 a 80,71 a 80,13 ab 79,23 b 78,50 b 77,65 b namento e temperatura, isoladamente.
Ao longo do armazenamento houve um
10ºC 79,88 a 80,68 a 78,73 b 77,89 b 76,69 c 71,54 c incremento na atividade da PPO (Figura
Valor a* 3). Na temperatura de 0ºC foi verificada
0ºC -1,84 a -1,37 a -1,13 a -0,36 b 0,31 c 0,58 c menor atividade dessa enzima (51,76 U
min-1 g-1) quando comparada com o ar-
5ºC -1,84 a -1,31 a -1,16 a -0,34 b 1,01 b 2,28 b
mazenamento a 5ºC (69,86 U min-1 g-1) e
10ºC -1,84 a -1,06 a -0,03 b 1,93 a 3,80 a 4,66 a 10ºC (77,06 U min-1 g-1). O escurecimen-
Valor b* to enzimático requer quatro diferentes
componentes: oxigênio, enzimas, cobre
0ºC 42,93 a 38,50 a 36,37 a 35,94 a 34,88 a 35,18 a
e substrato. A enzima mais importante
5ºC 42,93 a 37,19 ab 33,51 b 32,46 b 31,94 b 32,14 b em frutos e hortaliças minimamente
10ºC 42,93 a 35,13 b 31,77 b 31,09 b 32,77 b 31,49 b processadas é a PPO. Os fatores que
Peroxidase (U min g ) -1 -1 influenciam tal escurecimento em frutos
e hortaliças são a concentração da PPO,
0ºC 78,35 a 77,93 c 97,27 c 105,34 c 126,31 c 129,80 c componentes fenólicos presentes, pH,
5ºC 82,47 a 105,17 b 119,41 b 157,29 b 191,17 b 198,76 b temperatura e disponibilidade de O2 nos
10ºC 77,56 a 139,61 a 150,34 a 190,67 a 205,51 a 223,45 a tecidos (Laurila et al., 1998).
Fenilalanina amônia-liase (U min-1 g-1) A taxa respiratória foi influenciada
significativamente pela interação en-
0ºC 1,62 a 3,77 a 5,04 a 7,03 a 5,57 a 6,30 a tre os fatores temperatura e tempo de
5ºC 1,08 a 0,91 b 0,85 b 0,92 b 0,83 b 0,81 b armazenamento. Até o 3º dia de arma-
zenamento não foi verificada diferença
10ºC 0,96 a 0,83 b 0,82 b 0,71 b 0,69 b 0,64 b significativa no comportamento respira-
Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem estatisticamente entre si pelo teste tório das fatias de mandioquinha-salsa
de Tukey (p≤0,05) (means followed by same letter in column did not differ significantly armazenadas a 0; 5 e 10ºC. A partir do
from each order by Tukey test (p≤0.05). 6º dia, até o final do armazenamento,

314 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


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Figura 2. Atividade de polifenoloxidase de mandioquinhas-salsa minimamente processa- in minimally processed vegetables and fruits.
das armazenadas em diferentes temperaturas (0; 5 ou 10ºC) (polyphenoloxidase activity of Postharvest News and Information 9:53-65.
fresh cut Peruvian carrot stored under different temperatures: 0; 5 or 10ºC). Lavras, UFLA, McCREADY PM; McCOMB EA. 1952. Extraction
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salsa: alternativa para o pequeno produtor.
Tabela 3. Taxa respiratória (mL CO2 kg-1 h-1) de mandioquinhas-salsa minimamente proces- Lavras: UFLA. (UFLA. Boletim Agropecuário
sada armazenada em diferentes temperaturas (respiratory rate (mL CO2 kg-1 h-1) of fresh cut da Universidade Federal de Lavras, 60).
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Peruvian carrot stored under different temperatures). Lavras, UFLA, 2007. B. 1975. Pectolytic enzymes from banana.
Temperatura de Dias de armazenamento Collection Czechoslovak Chemistry
Community, 40: 769-774.
armazenamento 0 3 6 9 12 15 MATSUMO H; URITANI I. 1972. Phisiological
behavior of peroxidase enzimas in sweet potato
0ºC 7,37 a 8,93 a 21,02 a 19,67 a 16,33 a 11,98 a root tissue injured by cutting or back root.
5ºC 8,68 a 9,90 a 28,75 b 34,55 b 28,90 b 16,15 b Plant and Cell Physiology 13: 1091-1101.
PEREIRA AS. 1997. Valor nutritivo da
10ºC 8,48 a 10,27 a 44,25 c 34,63 b 30,15 b 16,76 b mandioquinha-salsa. Informe Agropecuário
Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem estatisticamente entre si pelo teste 19: 11-12.
de Tukey (p≤ 0,05) (means followed by same letter in column did not differ significantly RINALDI MM; BENEDETTI BC; CALORE L.
from each order by Tukey test (p≤ 0.05)). 2005. Efeito da embalagem e temperatura de
armazenamento em repolho minimamente
processado. Ciência e Tecnologia de Alimentos
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as fatias armazenadas à temperatura de AGRADECIMENTOS ROURA SI; DAVIDOVICH LA; DEL VALLE
0ºC apresentaram menores valores de CE. 2000. Quality loss in minimally processed
Os autores agradecem ao CNPq, swiss related to amount of damage area.
taxa respiratória do que as armazenadas Lebensmittel Wissenschaft und Technology
a 5 e 10ºC (Tabela 4). A temperatura a CAPES e a FAPEMIG pelo apoio 23: 53-59.
financeiro. RHODES MJC; WOOLTORTON LSC. 1971.
é um dos fatores de maior influência Changes in the activity of enzymes of
na respiração, havendo um valor ideal phenylpropanoid metabolism in tomatoes
para a manutenção de cada tipo de REFERÊNCIAS stored at low temperatures. Phytochemistry
16: 655-659.
produto vegetal, para que esse alcance SANTOS JCB; VILAS BOAS EVB; PRADO
um máximo de qualidade comestível. AVELAR FILHO JA. 1989. Estudo da MET; PINHEIRO ACM. 2005. Avaliação da
conservação pós-colheita da mandioquinha- qualidade do abacaxi ‘Pérola’ minimamente
A atividade respiratória é reduzida pelo salsa (Arracacia xanthorrhiza Bancroft). processado armazenado sob atmosfera
uso de baixas temperaturas (Chitarra & Viçosa: UFV. 42p. (Tese mestrado). modificada. Ciência e Agrotecnologia. 29:
Chitarra, 2005). Assim, conclui-se que a BRECHT JK. 1995. Physiology of lightly 346-352.
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mandioquinha-salsa ‘Amarela de Sena- 30: 18-22. PAYNE JA. 1991. Sugar and non-volatile acid
dor Amaral’ minimamente processada, BUESCHER RW; FURMANSKI RJ. 1978. Role composition of persimmons during maturation.
of pectinesterase and polygalacturonase in the Journal of Food Science 56: 980-991.
quando armazenada 0ºC, preserva a formation of woolliness in peaches. Journal of TEISSON C. 1979. Lê brunissement interne
qualidade, mantendo maiores valores de Food Science 43: 264-266. de I’ananás. I-Historique. II- Material e
L* e b*, menores valores de a*, menor CANTOS E; TUDELA JA; GIL MI; ESPÍN méthodos. Fruits 34: 245-281.
JC. 2002. Phenolic compounds and related VILAS BOAS EVB. 1995. Modificações pós-
atividade da peroxidase, polifenoloxi- enzymes are not rate-limiting in browning colheita de banana ‘Prata’ (Musa acuminata
dase, poligalacturonase, solubilização development of fresh-cut potatoes. Journal x Musa balsiniana grupo AAB) Y-irradiada.
of Agricultural and Food Chemistry 50: Lavras: UFLA 73p. (Tese mestrado).
péctica e taxa respiratória, sendo esta a 3015-3023. ZUCKER M. 1965. Induction of phenylalanine
temperatura ideal para armazenamento CHITARRA MIF; CHITARRA AB. 2005. Pós- dreaminase by light and its relation to
colheita de frutos e hortaliças: fisiologia e chlorogenic acid syntesis in potato tuber tissue.
e conservação do produto. manuseio. 2.ed. Lavras: UFLA, 785p. Plant Physiology 40: 779-784.

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 315


MAGALHÃES AG; MENEZES D; RESENDE LV; BEZERRA NETO E. 2010. Desempenho de cultivares de alface em cultivo hidropônico sob dois níveis
de condutividade elétrica. Horticultura Brasileira 28: 316-320.

Desempenho de cultivares de alface em cultivo hidropônico sob dois


níveis de condutividade elétrica
Adriana G Magalhães1; Dimas Menezes1; Luciane V Resende2; Egídio Bezerra Neto3
UFRPE, Depto. Agronomia, Av. Dom Manoel de Medeiros s/n, 52171-900 Recife-PE; 2UFLA, C. Postal 37, 37200-000 Lavras-MG;
1

UFRPE, Dep. Química; agmguedes@gmail.com; dimas@depa.ufrpe.br; luciane.vilela@dag.ufla.br; egidio@dq.ufrpe.br


3

RESUMO ABSTRACT
O objetivo do trabalho foi comparar cultivares de alface de folhas Evaluation of two electric conductivity levels on the
soltas lisas, submetidas a estresse osmótico em soluções nutritivas hidroponic cultivation of lettuce
sob cultivo hidropônico. Foram realizados dois experimentos, cada The aim of this work was to compare loose-leaf lettuce cultivars
um com uma condutividade elétrica (C.E.) de 2,0 dS m-1 e 2,5 dS submitted to osmotic stress in nutrient solutions in hydroponic
m-1. Os tratamentos foram as cultivares de alface Babá de Verão, culture. Two experiments were carried out, with electric conductivity
Floresta, Luisa, Manoa, Regina 579, Saia Véia e Vitória Verdinha. of 2.0 or 2.5 dS m-1. The treatments were the cultivars Babá de
O delineamento experimental foi blocos casualizados, com três re- Verão, Floresta, Luisa, Manoa, Regina 579, Saia Véia, and Vitória
petições. A colheita foi feita aos 45 dias após a semeadura. Nenhuma Verdinha. The experimental design was randomized blocks with three
cultivar se destacou no conjunto das características avaliadas, embora replications. Harvest was performed 45 days after sowing. None
a Manoa tenha apresentado o maior índice de queima de bordas das among the cultivars differed clearly on the characteristics evaluated.
folhas, sem diferir estatisticamente da Saia Véia e Babá de Verão. However, “Manoa” showed the highest rate of leaf-edge burning,
As cultivares Regina 579 e Vitória Verdinha são as preferidas dos without significant difference in comparison to “Saia Véia” and
produtores hidropônico de Pernambuco, devido à falta de genótipos “Babá de Verão” for summer. The cultivars Regina 579 and Vitória
mais adaptados a essa modalidade de cultivo, e por apresentarem Verdinha are preferred by the growers of hydroponic vegetables
folhas lisas, levemente enrugadas e de textura macia. of Pernambuco, due to the lack of better genotypes for this type
of cultivation and due to the presence of smooth slightly-wrinkled
leaves with soft texture.

Palavras-chave: Lactuca sativa L., queima das bordas, cultivo Keywords: Lactuca sativa L., tipburn, hydroponics.
hidropônico.

(Recebido para publicação em 28 de novembro de 2008; aceito em 27 de agosto de 2010)


(Received on November 28, 2008; accepted on August 27, 2010)

A cultura da alface (Lactuca sativa


L.) é explorada em todo o territó-
rio nacional e compõe parcela importan-
doenças, facilidade nos tratos culturais,
melhor programação e rendimento da
produção. Esse controle é uma das
Segundo Beninni et al. (2003) e Co-
metti et al. (2004b), um dos principais
problemas enfrentados pelos produtores
te das hortaliças na dieta da população, principais vantagens conferidas pela de alface, nos sistemas hidropônico
tanto pelo sabor, pelo baixo custo e qua- hidroponia, dada a rapidez e a facilidade e convencional, é o aparecimento da
lidade nutritiva, como fonte de vitami- com que isso pode ser feito (Gualberto queima das bordas ou tip burn, que é
nas, sais minerais e fibras. Constitui-se et al., 1999). um distúrbio fisiológico ocasionado pela
na mais popular hortaliça dentre aquelas Um dos princípios básicos para deficiência localizada de cálcio, mesmo
em que as folhas são consumidas cruas produção vegetal, tanto no solo como quando esse elemento encontra-se em
e ainda frescas (Fernandes et al., 2002; em sistemas de cultivo sem solo, é o níveis adequados no solo ou solução
Cometti et al., 2004a). fornecimento de todos os nutrientes nutritiva. Esse nutriente é um dos cons-
Em Pernambuco, a alface está pre- de que a planta necessita. A qualidade tituintes do pectato de cálcio, composto
sente nos cinturões verdes das maiores química e microbiológica da água usa- que atua como elemento cimentante da
cidades, concentrando-se em Vitória de da também constitui fator de grande parede celular e a sua deficiência leva
Santo Antão, na Mesorregião da Mata importância, principalmente no cultivo a um enfraquecimento da estrutura e
Pernambucana. Em 2005, foram comer- hidropônico. Nesse sistema, a absorção rompimento dos vasos lactíferos; com
cializadas na CEASA-PE uma média é geralmente proporcional à concentra- isso há liberação do látex, levando a
de 180,10 t mês-1 de alface de cultivo ção de nutrientes na solução próxima às um colapso celular e necrose do tecido
convencional (CEASA-PE, 2006). raízes, sendo muito influenciada pelos (Fernandes & Martins, 1999).
O cultivo da alface é realizado nos fatores ambientais, tais como salini- A queima das bordas, na maioria
sistemas convencional, orgânico e, mais dade, oxigenação, temperatura, pH da das vezes, está associada à deficiên-
recentemente, hidropônico. Este último solução nutritiva, intensidade de luz, cia de cálcio, induzida por condições
possibilita melhor controle ambiental, fotoperíodo, temperatura e umidade do edafoclimáticas adversas do meio, tais
com menor incidência de pragas e ar (Silva, 2005). como estresse osmótico, normalmente

316 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Desempenho de cultivares de alface em cultivo hidropônico sob dois níveis de condutividade elétrica

encontrado em condições de controle Tabela 1. Composição da solução nutritiva proposta por Castellane & Araújo (1995) e
inadequado da solução nutritiva, tempe- adaptada para as condições locais (composition of nutrient solution proposed by Castellane
ratura elevada tanto do ambiente, como & Araújo (1995) and adapted to local conditions). Recife, UFRPE, 2005/2006.
da solução, luminosidade, altitude local Idade das plantas, condutividade elétrica
e umidade relativa (Bernardes, 1997; Até 10 dias 11 a 45 dias 11 a 45 dias
Kopp et al., 2000; Pereira et al., 2005). Fertilizantes
(C.E. 1,6 dS m-1) (C.E. 2,5 dS m-1) (C.E. 2,0 dS m-1)
Sua ocorrência pode evoluir de simples
(g 1000 L-1)
pontos escurecidos para a necrose total
dos tecidos meristemáticos num estádio Sulfato de magnésio 285 520 390
mais avançado. Esta necrose ocorre nas Nitrato de potássio 320 613 460
margens das folhas em desenvolvimen- Nitrato de cálcio 530 1000 750
to, na parte interna das plantas, ou seja, Fosfato monopotássico 100 200 150
nos tecidos mais jovens. O efeito ocorre
Quelatec A/Z 24 40 30
em muitas hortaliças, especialmente em
alface e brássicas. As folhas sofrem uma Acido bórico 1,5 2 1,5
constrição das bordas ao se tornarem
adultas, reduzindo o valor de mercado
dois experimentos, cada um com uma 2006. As médias mensais da tempera-
do produto (Cometti, 2003).
condutividade elétrica. Os tratamentos tura máxima, em Recife, nos meses de
A preferência do consumidor do
foram constituídos por cultivares de janeiro, fevereiro, março e abril foram,
Nordeste do Brasil é por alface de fo-
alface de folha solta e lisa (Babá de respectivamente, 31, 32, 32 e 31°C; e da
lhas lisas, soltas e verde escuras, que
Verão (Isla), Floresta (Asgrow), Luisa temperatura mínima 24, 24, 23 e 23°C
por sua vez é mais afetada pela queima
(Horticeres), Manoa (Takii), Regina 579 (Agritempo, 2006).
das bordas no cultivo hidropônico
(Sakata), Saia Véia (Hortivale) e Vitória A semeadura foi em placas de
(Magalhães et al., 2005). A queima das
Verdinha (Hortivale)). Adotou-se o deli- espuma fenólica com células de 2 x 2
bordas das folhas é um defeito grave na
neamento de blocos casualizados, com x 2 cm, umedecidas com água duran-
classificação comercial da alface. Outros
três repetições, distribuídas no tempo, te cinco dias. Após esse período, as
atributos importantes são o número de
para otimização do espaço disponível. plântulas foram levadas para mesa de
folhas e a massa da planta, que podem
A parcela foi constituída por 20 plantas, desenvolvimento, na qual receberam
ser influenciados, entre outros fatores,
sendo 16 na área útil. Foi utilizada a solução nutritiva durante 10 dias. Após
pela cultivar, fotoperíodo e temperatura
solução nutritiva de Castellane & Araújo 15 dias, as plantas foram transferidas
do ambiente de cultivo (Oliveira et al.,
(1995), adaptada para as condições lo- para perfis de polipropileno com di-
2004).
cais, cuja composição está apresentada âmetro de 5,0 cm, no espaçamento de
Nos últimos anos, tem-se observado
na Tabela 1. 10 x 10 cm, passando a receber solução
crescente aumento na disponibilidade
No primeiro experimento, utilizou- nutritiva, no sistema hidropônico NFT,
de cultivares de alface. Algumas são
se a solução nutritiva com a condutivi- por mais 15 dias. Passado esse período,
recomendadas para cultivo em ambiente
dade elétrica de 2,5 dS m-1. Foi realizada foram transferidas para perfis de 7,5 cm
protegido, onde as temperaturas eleva-
a semeadura para a primeira e segunda de diâmetro, no espaçamento de 25 x 25
das constituem-se em fator limitante
repetições em 2 de setembro de 2005 e cm por mais 15 dias, totalizando o ciclo
ao desenvolvimento desse sistema de
a avaliação final em 18 de outubro de cultural de 45 dias, no qual receberam
produção em determinadas regiões,
2005. Na terceira repetição, a semeadura solução nutritiva na fase de desenvolvi-
enquanto para outras não existem reco-
foi realizada em 31 de outubro de 2005 e mento (Tabela 1).
mendações específicas.
a avaliação final em 14 de dezembro de Foi utilizado como reservatório da
O objetivo do trabalho foi avaliar o
2005. As médias mensais da temperatura solução nutritiva uma caixa de amianto
desempenho de cultivares de alface de
máxima, em Recife, nos meses de se- revestida com impermeabilizante. A
folhas lisas, em cultivo hidropônico, sob
tembro, outubro, novembro e dezembro condução da solução para os perfis foi
dois níveis de condutividade elétrica.
foram, respectivamente, 30, 30, 31 e realizada com a utilização de uma eletro-
31°C; e da temperatura mínima 22, 23, bomba com temporizador programado
MATERIAL E MÉTODOS
24 e 24°C (Agritempo, 2006). para permanecer ligado por 15 minutos
No segundo experimento, utilizou-se e desligado por 15 minutos, de 6:00
O trabalho foi desenvolvido no a solução nutritiva com a condutividade até 18:00 horas e, apenas dois aciona-
Depto. de Agronomia, da UFRPE, em elétrica de 2,0 dS m-1. Foi realizado mentos de 15 minutos, às 22:30 e 2:30
Recife-PE (8o10'52''S; 34o54'47''W), no o semeio para a primeira e segunda horas. O volume da solução nos tanques
período de setembro de 2005 a abril de repetições em 7 de janeiro de 2006 e a foi mantido pela reposição de água e
2006. O cultivo foi hidropônico NFT avaliação final em 23 de fevereiro de nutrientes diariamente. O pH foi mo-
sob ambiente protegido com filme de 2006. Na terceira repetição, o semeio nitorado todos os dias com peagâmetro
polietileno transparente de 150 µm, foi realizado em 11 de março de 2006 digital portátil e mantido entre 5,5 e 6,5.
aberto nas laterais. Foram realizados e a avaliação final em 26 de abril de A condutividade elétrica da solução foi

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 317


AG Magalhães et al.

monitorada com condutivímetro digital


IQB =
[(0x A )+ (1x A )+ (2x A )] x 100 As características observadas foram
portátil e mantida em 2,5 e 2,0 dS m-1 submetidas à análise de variância indivi-
(NTFx 2)
para o primeiro e segundo experimentos, dual e conjunta, utilizando o programa
respectivamente, por meio da reposição , onde IQB é o Índice de Queima de estatístico Genes (Cruz & Regazzi,
de nutrientes e água. Bordas, “0” é o número de plantas sem 1997), e as médias foram comparadas
A colheita das plantas com raízes sintomas de queima, “A” é o número pelo teste de Tukey, a 5% de probabi-
realizou-se aos 45 dias após a semeadu- de folhas afetadas pela queima, “1” é o lidade.
ra, quando avaliaram-se a massa fresca número de plantas com sintomas leves
das plantas inteiras, número de folhas, de queima, “2” é o número de plantas RESULTADOS E DISCUSSÃO
massa das folhas, massa do caule e raiz, com sintomas severos de queima, e NTF
comprimento do caule e o índice de
é o número total de folhas, tendo-se o Não houve diferença significativa
queima das bordas.
resultado final em porcentual e trans- entre a massa fresca da planta inteira das
Na avaliação da queima das bordas,
foi utilizado um índice desenvolvido cultivares submetidas à condutividade
formado em ( X + 1) para a análise
por Mckinney (1923), que contabiliza elétrica (C.E.) de 2,5 dS m-1, sendo a
estatística.
o número de folhas afetadas: média geral de 172,2 g (Tabela 2). No

Tabela 2. Massa fresca da planta inteira com raiz e número de folhas de cultivares de alface cultivadas em solução nutritiva com condu-
tividade elétrica de 2,5 dS m-1 e 2,0 dS m-1 (fresh weight of whole plant and number of leaves of lettuce cultivars grown in nutrient solution
with electrical conductivity of 2,5 dS m-1 and 2,0 dS m-1). Recife, UFRPE, 2005/2006.
Massa fresca da planta inteira (g) Número de folhas planta-1
Cultivares
2,5 dS m-1 2,0 dS m-1 Média* 2,5 dS m-1 2,0 dS m-1 Média
Regina 579 188,5a** 110,1a 149,3ab 38a 31a 35a
Luisa 156,7a 46,5b 101,6ab 32ab 20bc 26bc
Vit. Verdinha 185,5a 130,1a 157,8a 34ab 29a 31ab
Floresta 136,8a 29,2b 82,9b 33ab 17c 24bc
Babá de Verão 162,7a 89,3a 125,9ab 32ab 25ab 28ab
Manoa 182,0a 91,4a 136,7ab 22b 19bc 21c
Saia Véia 192,5a 39,2b 115,8ab 35ab 18c 27bc
Média 172,2 76,5 124,3 32 22 27
CV (%) 27,9 19,4 31,9 15 10 15
DMS 38,7 4,11
*Dados obtidos através da análise conjunta dos dois experimentos; **Médias seguidas das mesmas letras, nas colunas, não diferem entre
si, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade (*data from both experiments analysed together; **Values followed by the same letter in
columns are not different through Tukey test at 5%).

Tabela 3. Massa das folhas frescas e massa do caule e raiz de cultivares de alface cultivadas em solução nutritiva com condutividade elétrica
de 2,5 dS m-1 e 2,0 dS m-1 (fresh mass of leaves and mass of stem and root of lettuce cultivars grown in nutrient solution with electrical
conductivity of 2.5 dS m-1 and 2.0 dS m-1). Recife, UFRPE, 2005/2006.
Massa das folhas frescas (g) Massa do caule e raiz (g)
Cultivares
2,5 dS m-1 2,0 dS m-1 Média* 2,5 dS m-1 2,0 dS m-1 Média
Regina 579 129,6a** 76,0a 102,8a 58,7a 32,4ab 45,5ab
Luisa 113,3a 29,2bc 71,2a 52,9a 15,7cd 34,3abc
Vit. Verdinha 133,0a 87,6a 110,3a 58,3a 38,4a 48,4a
Floresta 93,4a 19,3c 56,3a 42,4a 9,4d 25,9c
Babá de Verão 96,4a 61,7ab 79,0a 52,7a 25,3bc 39,0abc
Manoa 134,3a 65,8a 100,0a 53,7a 24,3bc 39,0abc
Saia Veia 130,4a 26,8c 78,6a 46,8a 11,2d 29,0bc
Média 118,6 52,34 85,5 52,2 22,4 37,3
CV (%) 31,9 22,27 36,1 21,6 19,0 27,5
DMS 30,0 10,0
*Dados obtidos através da análise conjunta dos dois experimentos; **Médias seguidas das mesmas letras, nas colunas, não diferem entre
si, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade (*data from the both experiments analysed together; **Values followed by the same letter in
columns are not different through Tukey test at 5%).

318 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Desempenho de cultivares de alface em cultivo hidropônico sob dois níveis de condutividade elétrica

entanto, encontraram-se valores próxi- nutritiva de 2,0 dS m-1 de C.E., as cvs. As cultivares Vitória Verdinha, Re-
mos daqueles com média de 183,65 g Vitória Verdinha, Regina 579 e Babá gina 579 e Babá de Verão não diferiram
obtidos por Kopp et al. (2000) e Santos de Verão não diferiram entre si, mas entre si, mas apenas a primeira diferiu
et al. (2000), trabalhando com a cultivar as duas primeiras foram superiores às das demais. A cultivar que apresentou o
de alface Regina, sob condições ambien- demais, devido a essas cultivares apre- maior comprimento do caule foi Vitória
tais diferentes, principalmente quanto sentarem melhor desenvolvimento para Verdinha, enquanto Saia Véia, apre-
aos fatores climáticos. as condições climáticas da região. A cv. sentou o menor comprimento de caule
A cv. Vitória Verdinha destacou-se Regina 579 apresentou o maior núme- com 2,0 dS m-1 de C.E. Dependendo da
na massa fresca da planta inteira em ro de folhas, diferindo da cv. Floresta cultivar, temperaturas elevadas e dias
condutividade elétrica de 2,0 dS m-1, não (Tabela 2). longos podem ocasionar o pendoa-
diferindo significativamente de Regina Para a massa das folhas e massa mento da alface. Após a indução do
579, Manoa e Babá de Verão (Tabela do caule e raiz, as cultivares também florescimento a planta emite o pendão
2). Magalhães et al., (2005) trabalhando não apresentaram diferenças signifi- floral, o que a torna imprópria para a co-
com a mesma cultivar e o mesmo nível cativas ao nível de 2,5 dS m-1 de C.E. mercialização devido à má formação da
de condutividade obtiveram 193,5 g de Em relação à condutividade elétrica de cabeça e ao gosto amargo que as folhas
média da massa da planta inteira. Como 2,0 dS m-1, as cvs. Floresta e Saia Véia desenvolvem, em função do acúmulo
foi proporcionado à cultivar uma C.E. apresentaram as menores massas das rápido de látex.
de 2,0 dS m-1, possivelmente o ambiente folhas, respectivamente, sem diferirem Em 2,5 dS m-1 de C.E., o menor
e principalmente a temperatura podem das cvs. Luísa, Vitória Verdinha e Re- índice de queima das cultivares Luisa
ter contribuído para o melhor desenvol- gina 579 que apresentaram as maiores e Regina 579 é coerente com o obser-
vimento da planta. massas frescas das folhas, não diferindo vado por Magalhães et al. (2005), que
Em número de folhas, com C.E. de da cv. Manoa (Tabela 3). ‘Saia Veia’ avaliando a cultivar Regina, obtiveram
2,5 dS m-1, destacou-se a cv. Regina 579, e ‘Floresta’ apresentaram as menores 0% de incidência de queima das bordas.
com 38 folhas planta-1, em relação à cv. massas de caule e raiz, enquanto ‘Vitória Regina é a cultivar de folhas soltas e
Manoa, com 22 folhas planta-1. Esta cul- Verdinha’ e ‘Regina 579’ apresentaram lisas mais utilizada em cultivos hidro-
tivar apresentou desenvolvimento foliar as maiores massas. pônicos em Pernambuco, justamente por
mais lento, e isto provavelmente está Os comprimentos dos caules não ser tolerante à queima das bordas das
relacionado com as características gené- foram diferentes significativamente, folhas. Por outro lado, a cv. Manoa foi a
ticas da cultivar. Em trabalhos realizados mas eles apresentaram expressivo mais suscetível à queima das bordas das
com condutividade elétrica em torno de alongamento, indicando tendência ao folhas, enquanto as outras não diferiram
2,0 dS m-1 a 2,64 dS m-1, obtiveram-se pendoamento precoce na solução nu- estatisticamente entre si (Tabela 4).
número de folhas próximos aos encon- tritiva com 2,5 dS m-1 de C.E. Segundo Na análise conjunta com os dois
trados neste trabalho (Fernandes et al., Ryder (1986) e Mendonça (2003), tem- níveis de solução nutritiva, para a massa
2002; Magalhães et al., 2005). peraturas acima de 20°C estimulam o fresca da planta inteira, as cvs. Vitó-
Com relação ao número de folhas pendoamento precoce, que é acentuado ria Verdinha e Floresta apresentaram
das alfaces cultivadas em solução à medida que a temperatura aumenta. diferenças significativas, enquanto as

Tabela 4. Comprimento do caule e índice de queima das bordas de cultivares de alface cultivadas em solução nutritiva com condutividade
elétrica de 2,5 dS m-1 e 2,0 dS m-1 (stem length and rate of leaf-edge burning of lettuce cultivars grown in nutrient solution with electrical
conductivity of 2.5 dS m-1 and 2.0 dS m-1). Recife, UFRPE, 2005/2006.
Comprimento do caule (cm) Índice de queima das bordas (%)
Cultivares
2,5 dS m-1 2,0 dS m-1 Média* 2,5 dS m-1 2,0 dS m-1 Média
Regina 579 8,3a** 6,2ab 7,2ab 1,0b 1,4b 0,5bc
Luisa 4,6a 2,5b 3,6b 1,0b 1,0b 0,0c
Vit. Verdinha 6,7a 9,2a 8,0a 1,9ab 1,7b 2,7bc
Floresta 6,6a 2,0b 4,3ab 2,0ab 1,1b 1,8bc
Babá de Verão 7,2a 4,6ab 5,9ab 2,9ab 1,9b 5,5abc
Manoa 6,9a 3,5b 5,2ab 3,8a 3,0a 12,5a
Saia Véia 4,2a 1,9b 3,2b 3,9a 1,4b 8,0ab
Média 6,4 4,3 5,3 2,3 1,7 4,4
CV (%) 39,1 41,3 43,9 38,0 22,1 40,2
DMS 2,3 0,8
*Dados obtidos através da análise conjunta dos dois experimentos; **Médias seguidas das mesmas letras, nas colunas, não diferem entre
si, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade (*data from both experiments analysed together; **Values followed by the same letter in
columns are not different through Tukey test at 5%).

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 319


AG Magalhães et al.

demais não apresentaram diferenças sig- nica concedida à primeira autora, através FERNANDES AA; MARTINEZ HEP; PEREIRA
nificativas entre si. A cv. Manoa apresen- de recursos do Programa de Apoio ao PRG; FONSECA MCM. 2002. Produtividade,
acúmulo de nitrato e estado nutricional de
tou o menor número de folhas e a Regina Desenvolvimento Sustentável da Zona cultivares de alface, em hidroponia, em função
579, o maior número (Tabela 2). da Mata de Pernambuco (PROMATA). de fontes de nutrientes. Horticultura Brasileira
Quanto à massa das folhas frescas, as 20: 195-200.
GUALBERTO R; RESENDE FV; BRAZ LT.
cultivares não apresentaram diferenças REFERÊNCIAS 1999. Competição de cultivares de alface sob
significativas. Em relação à massa do cultivo hidropônico “NFT” em três diferentes
caule e raiz, a cv. Vitória Verdinha apre- AGRITEMPO - Sistema de Monitoramento espaçamentos. Horticultura Brasileira 17:
sentou maior massa diferindo das cvs. Agrometeorológico. 2006. Disponível em: 155-158.
http://www.agritempo.gov.br/agroclimas/
Saia Véia e Floresta que apresentaram sumario?uf=PE. Acesso em: 02 de julho de
KOPP LM; SCHUNEMANN APP; BRACCINI
as menores massas (Tabela 3). NETO J; LEMOS CAS; SIMONETTI RB;
2006.
SILVA ESB. 2000. Avaliação de seis cultivares
As cultivares Saia Véia e Luisa apre- BENINNI ERY; TAKAHASHI HW; NEVES
de alface sob duas soluções nutritivas em
sentaram os menores comprimentos do CSVJ. 2003. Manejo do cálcio em alface de
sistema de cultivo hidropônico. Revista
cultivo hidropônico. Horticultura Brasileira
caule, diferindo da cultivar Vitória Ver- Faculdade de Zootecnia, Veterinária e
21: 605-610.
Agronomia 7: 19–25.
dinha, que teve o maior. A cv. Luisa não BERNARDES LJL. 1997. Hidroponia. Alface
MAGALHÃES AG; MESQUITA JCP; MENEZES
apresentou índice de queima das bordas uma história de sucesso. Charqueada: Estação
D; RESENDE LV; MELO RO. 2005. Linhagens
das folhas e Manoa foi a mais suscetível experimental de hidroponia “alface & cia”,
e cultivares de alface de folhas lisas sob cultivo
p. 135.
à queima das bordas das folhas (Tabela hidropônico. In: CONGRESSO BRASILEIRO
CASTELLANE PD; ARAÚJO JAC. 1995.
4). Segundo Beninni et al. (2003), fa- Cultivo sem solo: hidroponia. Jaboticabal:
DE OLERICULTURA, 45. Resumos...
Fortaleza: SOB (CD-ROM).
tores que inibem o desenvolvimento da FUNEP. 43p.
pressão radicular como alta intensidade MENDONÇA IF. 2003. Cultivo hidropônico da
CEASA-PE. Centro de Abastecimento Alimentar
alface sob diferentes relações nutricionais.
luminosa, alta temperatura do ar, alta de Pernambuco. 2006. Disponível em: www.
Recife: UFRPE. 75p. (Tese mestrado).
ceasape.org.br. Acessado em: 10 de fevereiro
salinidade e condições que favoreçam MCKINNEY HH. 1923. Influence of soil
de 2006.
o rápido crescimento promovem apare- COMETTI NN. 2003. Nutrição mineral de alface temperature and moisture on infection of wheat
cimento de queima das bordas. (Lactuca sativa L.) em cultura hidropônica - seedlings by Helminthosporium sativum.
Sistema NFT. Rio de Janeiro: UFRRJ-Instituto Journal of Agricultural Research 26: 195-
Nas condições em que este trabalho 218.
de Agronomia. 106p. (Tese doutorado).
foi realizado, nenhuma cultivar se des- OLIVEIRA ACB; SEDIYAMA MAN; PEDROSA
COMETTI NN; MATIAS GCS; ZONTA E;
tacou no conjunto das características MARY W; FERNANDES MS. 2004a. MW; GARCIA NCP; GARCIA SLR. 2004.
avaliadas, embora a cv. Manoa tenha Compostos nitrogenados e açúcares solúveis Divergência genética e descarte de variáveis
apresentado o maior índice de queima em tecidos de alface orgânica, hidropônica em alface cultivada sob sistema hidropônico.
e convencional. Horticultura Brasileira 22: Acta Scientiarum 26: 211-217.
de bordas das folhas, porem sem diferir
748-753. PEREIRA C; JUNQUEIRA AMR; OLIVEIRA
estaticamente de “Saia Veia” e “Babá COMETTI NN; FRANTZ J; BUGBEE B. 2004b. SA. 2005. Balanço nutricional e incidência
de Verão”. A preferência dos produtores A colheita antecipada pode prevenir queima de queima de bordos em alface produzida
hidropônicos de Pernambuco é pela cv. de bordas (tipburn) em alface hidropônica em sistema hidropônico – NFT. Horticultura
Regina 579, seguida pela cv. Vitória cultivada em câmara de crescimento. Brasileira 23: 810-814.
In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
Verdinha, evidenciando-se a falta de OLERICULTURA, 44. Anais eletrônicos...
RYDER JE. 1986. Lettuce breeding. In: Breeding
genótipos mais adaptados a essa condi- vegetable crops. Westport: The Avi Publishing
Campo Grande: SOB. Disponível em: www.
Company: 433-474.
ção de cultivo. niltoncometti.hpg.ig.com.br/index.htm.
Acessado em: 20 de janeiro de 2006. SANTOS O; SCHMIDT D; NOGUEIRA FILHO;
CRUZ CD; REGAZZI AJ. 1997. Modelos LONDERO FA. 2000. Cultivo sem solo:
AGRADECIMENTOS biométricos aplicados ao melhoramento hidroponia. Santa Maria, CCR/UFSM. 107p.
genético. Viçosa: UFV. 390 p. SILVA APP. MELO B. Hidroponia. Disponível
FERNANDES HS; MARTINS SR. 1999. Cultivo em: http://www.fruticultura. iciag.ufu. br/
À FACEPE, pelo financiamento da de alface em solo em ambiente protegido. hidropo.htm. Acessado em: 03 de março de
pesquisa e pela bolsa de cooperação téc- Informe Agropecuário 20: 56-63. 2005.

320 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


NOVO MCSS; PRELA-PANTANO A; TRANI PE; BLAT SF. 2010. Desenvolvimento e produção de genótipos de couve manteiga. Horticultura Brasileira
28: 321-325.

Desenvolvimento e produção de genótipos de couve manteiga


Maria do Carmo de SS Novo1; Angélica Prela-Pantano1; Paulo E Trani2; Sally F Blat3
1
IAC-APTA, Centro de Ecofisiologia e Biofísica; 2IAC-APTA, Centro de Horticultura, C. Postal 28, 13012-970 Campinas-SP; 3APTA-
Polo Regional Centro Leste de Ribeirão Preto; jpsnovo@iac.sp.gov.br; angelica@iac.sp.gov.br; petrani@iac.sp.gov.br; sally@apta.
sp.gov.br

RESUMO ABSTRACT
O experimento foi conduzido na casa de vegetação no Centro Development and yield of kale genotypes
de Ecofisiologia e Biofísica do IAC, em Campinas-SP, de agosto The experiment was carried out in a glasshouse in the Centro de
a dezembro de 2008. As cultivares de couve Manteiga São José, Ecofisiologia e Biofísica of the Instituto Agronômico de Campinas,
Verde-Escura, IAC-Campinas, Orelha de Elefante e Vale das Garças São Paulo State, Brazil, between August and December 2008. The
foram avaliadas a cada quatorze dias até 126 dias após a instalação kale cultivars Manteiga São José, Verde-Escura, IAC-Campinas,
do experimento. As couves foram produzidas a partir de mudas. Os Orelha de Elefante, and Vale das Garças were evaluated every 14 days
tratamentos foram dispostos em blocos ao acaso, com oito repetições until 126 days after planting. The kales were produced from plantlets.
com parcelas subdivididas para época de avaliação. Foram medidos The experimental design was a randomized complete block with eight
a altura média de plantas e o diâmetro do caule e colhidas todas as replications, in a split-plot design for time of evaluation. The plant
folhas consideradas apropriadas para comercialização. Estas foram height and stem diameter were measured and all commercial leaves
contadas, medidas suas áreas foliares e determinadas as suas bio- were harvested and counted. Leaf areas were measured and their fresh
massas frescas e secas. Contou-se ainda o número de brotações e and dry weights were determined. The sprout number and all totally
o número de folhas totalmente expandidas que ainda não estavam expanded but not yet commercial leaves were counted and the total
apropriadas para colheita e determinou-se o número total de folhas. number of leaves was calculated. Vale das Garças was the cultivar
A cultivar Vale das Garças apresentou o maior desenvolvimento with highest vegetative development for all variables analyzed.
vegetativo em todas as variáveis analisadas. A ‘Orelha de Elefante’, Although the sprout, commercial leaves and total number of leaves
por possuir folhas com área foliar específica maiores, teve biomassas showed lower values in ‘Orelha de Elefante’, the final yield of fresh
fresca e seca totais semelhantes à da Vale das Garças embora tenha and dry leaves of this cultivar presented higher specific foliar area
apresentado menor número de brotações, de folhas colhidas e total and its fresh and dry weight were similar to that of Vale das Garças.
de folhas. Concluiu-se que essas duas cultivares constituem boas ‘Vale das Garças’ and ‘Orelha de Elefante’ presented themselves as
alternativas para a produção de couve. a good alternative for kale production.

Palavras-chave: Brassica oleracea L. var. acephala, desenvolvi- Keywords: Brassica oleracea L. var. acephala, plant development,
mento da planta, fisiologia de hortaliça. vegetable physiology.

(Recebido para publicação em 24 de setembro de 2009; aceito em 25 de agosto de 2010)


(Received on September 24, 2009; accepted on August 25, 2010)

A couve manteiga (Brassica olera-


cea L. var. acephala) é uma horta-
liça arbustiva anual ou bienal, da família
ferro, vitamina A, niacina e vitamina C.
É ainda uma excelente fonte de carote-
nóides apresentando, entre as hortaliças,
riores a 10-5oC, a couve tende a florescer
fato que não é desejável, pois paralisa a
produção de folhas comerciais.
Brassicaceae cujo consumo no Brasil maiores concentrações de luteína e beta Existem diversas cultivares da couve
tem gradativamente aumentado devi- caroteno, reduzindo riscos de câncer no manteiga, sendo classificadas quanto à
do, provavelmente, às novas maneiras pulmão e de doenças oftalmológicas aparência, cor e textura das folhas. O
de utilização na culinária e às recentes crônicas como cataratas (Lefsrud et banco de germoplasma de couve no IAC
descobertas da ciência quanto às suas al., 2007). conta com 33 genótipos com grande
propriedades nutricêuticas. De acordo É uma cultura típica de outono- diversidade morfológica e genética
com Camargo et al. (2008) e Camargo inverno se desenvolvendo melhor em (Sawazaki et al., 1997). Para a facilidade
Filho & Camargo (2009), em 2006, a temperaturas mais amenas (16 a 22oC), de identificação no campo, esses mate-
área plantada de couve no estado de São apresentando certa tolerância ao calor riais foram nomeados, desde a década
Paulo era de 1200 ha, aumentando para podendo, em alguns locais, ser plantada de 40, por letras do alfabeto conforme
1424 ha em 2007, com produtividades ao longo de todo ano (Filgueira, 2000). a cronologia de sua introdução. Mais
de 26,7 e 28,8 toneladas por hectare, Pode permanecer produtiva por vários recentemente, após a listagem alfabética
respectivamente. Segundo Lorenz & meses, mas é altamente exigente em ter se encerrado, para a introdução de
Maynard (1988), comparativamente a água (Hussar et al., 2004). Segundo Ca- novos materias adotou-se nomenclatura
outras hortaliças folhosas, a couve man- margo (1984), no estado de São Paulo, baseada nos locais de origem dos mes-
teiga se destaca por seu maior conteúdo produções mais elevadas são obtidas de mos. No estado de São Paulo, a cultivar
de proteínas, carboidratos, fibras, cálcio, abril a novembro. Em temperaturas infe- do grupo denominado de ‘Manteiga’

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 321


MCSS Novo et al.

é a de maior aceitação comercial por vasos plásticos empregados na produ- nitrogenadas iniciaram-se catorze dias
possuir folhas com limbo verde claro, ção de mudas eram de cor preta, com após o plantio aplicando-se o equivalen-
tenras, lisas ou pouco onduladas e com diâmetro superior de 8 cm e 0,5 L de te a 20 kg ha-1 de N na forma de nitrato
pecíolos e nervuras verdes bem claras capacidade. As mudas das cultivares de amônio. Na metade do ciclo, com o
(Camargo, 1984). Manteiga São José (N), Verde-Escura crescimento das plantas, aumentaram-se
As cultivares de couve manteiga (V), Orelha de Elefante (U) e Vale das as doses para o equivalente a 30 kg ha-1
apresentam diferentes padrões de altura. Garças (V) foram coletadas de plantas de N empregando-se o mesmo fertilizan-
Segundo Nieuwhof (1969), cultivares que estavam com 110 dias de idade no te nitrogenado. Após o transplantio, os
que apresentam plantas de 40-80 cm de campo e as de ‘IAC-Campinas’ (CP) vasos foram irrigados até a percolação
altura são classificadas de média a alta e com 54. Essas foram plantadas em subs- da solução do solo sendo colocada na
aquelas com pelo menos 90 cm, de altas. trato da marca comercial Plantmax HA, superfície dos vasos uma camada de
As plantas da maioria das cultivares composto de casca de pinus carbonizada um centímetro de vermiculita. Durante
comercializada no Brasil são de porte e vermiculita e, formadas em estufa com o experimento os vasos foram irrigados
médio a alto. No estado de São Paulo, cobertura plástica de polietileno trans- sempre que necessário. Aos 79 dias após
90% das cultivares de couve são mul- parente, com trama de 150 µm, e com o inicio do experimento, as plantas de
tiplicadas por mudas e estas têm como laterais cobertas com tela tipo sombrite todas as cultivares foram tutoradas com
características plantas com porte alto. de 2 mm de abertura, desde a superfície estacas de bambu para evitar a quebra
Na fase de colheita, quando a altura das do solo até dois metros de altura. das hastes.
plantas varia entre 60 e 100 cm , muitas A ocorrência de baixas temperaturas Os vasos foram dispostos em blo-
vezes, se faz necessário estaqueá-las. (12-15oC) dificultou o desenvolvimento cos ao acaso, com oito repetições com
As cultivares compactas, com altura das mudas atrasando o transplantio. As parcelas subdivididas para época de
inferior a 50 cm, híbridas, multiplicadas mudas, com sete a oito centímetros de avaliação sendo que cada parcela era
por sementes, são pouco cultivadas de- altura, vigorosas, bem formadas e bem constituída por um vaso. As avaliações
vido a características morfológicas não enraizadas, foram transplantadas 45 foram realizadas aos 14, 28, 42, 56, 70,
atrativas para o consumidor. Apresentam dias após o inicio de sua formação, para 84, 98, 112 e 126 dias após a instalação
folhas de cor mais escura, nervuras vasos plásticos, com formato trapezoidal do experimento.
proeminentes e de cor clara, que o con- (diâmetro maior de 25,6 cm, diâmetro Em cada avaliação foram medidas,
sumidor associa a maior tempo de coc- menor de 16,2 cm e altura de 22,5 cm). com régua, a altura de plantas (a partir
ção. O objetivo do trabalho foi avaliar O vasos foram preenchidos com solo do nível do solo até a extremidade das
cinco genótipos de couve manteiga, com classificado como Latossolo Vermelho folhas mais altas) e o diâmetro do caule
diferentes aspectos fenológicos quanto distrófico, peneirado (malha de 4 mm) (medido com paquímetro na metade da
ao seu desenvolvimento com ênfase na e dispostos sobre mesas de concreto altura da planta). Foram também avalia-
produção de folhas. com 2,50 m de comprimento e 0,85 m dos o número de folhas apropriadas para
de largura, em casa de vegetação. Em a comercialização (número de folhas
cada vaso foram colocados oito litros maiores que 8 cm, partindo-se das folhas
MATERIAL E MÉTODOS
de terra. basais até a última folha com o tamanho
Os resultados da análise química e pertinente) e o total de folhas na plan-
O experimento foi conduzido nas
granulométrica de amostra composta ta. A colheita das folhas foi realizada
dependências do Centro Experimental,
coletada nos vasos do experimento cortando-se o pecíolo rente ao caule.
do Instituto Agronômico, Campinas-SP,
foram: matéria orgânica: 21 g dm-3; pH Foram medidas suas áreas foliares (em
de agosto a dezembro de 2008, em casa
em CaCl2: 6,1; P resina: 6 mmolc dm-3; integrador de área foliar LI-COR 3100)
de vegetação não climatizada (6,60 m de
K: 0,8 mmolc dm-3; Ca: 23 mmolc dm-3; e calculou-se a área foliar por planta e
largura x 7,70 m de comprimento x 3,00
Mg: 9 mmolc dm-3; H+Al: 15 mmolc por folha (área foliar específica) e deter-
m de altura), coberta com vidro trans-
dm -3; SB: 23 mmol c dm -3; CTC: 48 minadas suas biomassas frescas e secas
parente, com possibilidade das laterais
mmolc dm-3; V: 69%; Fe: 8 mg dm-3; Mn: (determinada em estufa com ventilação
serem abertas para facilitar a ventilação.
1,6 mg dm-3; Cu: 1,1 mg dm-3; Zn: 0,5 forçada de ar a 65ºC até atingir a massa
Foram avaliadas as cultivares de couve
mg dm-3e B: 0,13 mg dm-3, argila: 390 constante). Visando ainda estimar a
da coleção de germoplasma do IAC
g kg-1, silte 80 g kg-1, areia grossa: 340 possibilidade de produção de mudas
descritas a seguir: Manteiga São José
g kg-1, areia fina: 190 g kg-1. O solo foi pelo agricultor, contou-se o número de
(N), Verde-Escura (P), IAC-Campinas
corrigido com o equivalente a 1 t ha-1 de brotações, as quais foram retiradas das
(CP), Orelha de Elefante (U) e Vale das
calcário dolomítico fino (PRNT=90%) plantas e descartadas após a contagem
Garças (V).
trinta dias antes do transplantio. Quinze pois, segundo Tavares et al. (1998), se
As mudas foram formadas pelo dias após a aplicação do calcário foi os brotos são deixados nas axilas das
sistema de estaquia verde coletando-se aplicado ao solo o equivalente a 200 kg folhas há redução no desenvolvimento
as brotações laterais, com três a quatro ha-1 de P2O5 (superfosfato simples), 90 da planta e dificuldade no controle de
centímetros de altura e dois folíolos, kg ha-1 de K2O (sulfato de potássio) e pulgões, praga muito comum nesta cul-
no terço basal das plantas matrizes. Os 0,5 kg ha-1 de B (bórax). As coberturas tura. Os pulgões, quando no início de

322 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Desenvolvimento e produção de genótipos de couve manteiga

sua incidência, foram controlados com 140


■ N: Ŷ = 20,94 + 0,377x
2
R = 98,76%
2
1A
■ N: Ŷ = 1,68/(1 + 0,4129EXP
(-0,128x
))
2
R = 85,05% 1B
 Δ P: Ŷ = 32,37 + 0,523x R = 98,99% 2 2

deltametrina em alternância com Neem.


 Δ P: Ŷ = 1,09 + 0,0222x - 0,000138x R = 98,08%
2
--- □ CP: Ŷ = 24,48 + 0,528x R = 98,99% --- □ CP: Ŷ = 0,91 +0,0117x - 0,000073x
2 2
R = 89,61%
120 2
-.-. ◊ U: Ŷ = 31,06 + 0,427x R = 96,35% 2,2 2 2

Para prevenção de oídio foram realiza-


-.-.◊ U: Ŷ = 1, 43 + 0,0135x + 000008x R = 95,55%
2
--.--♦ V: Ŷ = 34,92 + 0,576x R = 98,49% --.-- ♦V: Ŷ = 1,62 + 0,0083x - 0,000047x
2 2
R = 93,30%
100

das aplicações de leite cru a 5%.

Altura da planta

Diâmetro do caule
80
1,8

(cm)
A análise de variância dos resultados

(cm)
60

foi feita usando o software Excel, de 40


1,4
acordo com o método para experimen- 20

tos em parcelas subdivididas (Steel & 0

Torrei, 1980), empregando-se o teste


1
14 28 42 56 70 84 98 112 126
14 28 42 56 70 84 98 112 126
Dias após o transplantio

de Duncan a 5% de probabilidade para Dias após o transplantio

a comparação entre as médias das cul- 12 ■ N: Ŷ = 10,79 - 0,167x + 0,000996x


 Δ P: Ŷ = 10,79 - 0,171x + 0,0010x
2
2 2
R = 95,34%
2
R = 91,61%
1C
20
■ N: Ŷ = 16,84 - 0,168x + 0,000981x
 Δ P: Ŷ = 16,39 - 0,167x + 0,000935x
2

2
R
2
R = 94,00%
2=
90,24%
1D

tivares e regressão polinomial para os 10


--- □ CP: Ŷ = 9,16 - 0,133x + 0,0008x
-.-.◊ U: Ŷ = 8,46 - 0,129x + 0,00075x
2

2
2
R = 87,44%
2
R = 93,50%
18 --- □ CP:Ŷ = 14,52 - 0,130x + 0,000708x
-.-.◊ U: Ŷ = 12,93 - 0,144x + 0,000816x
2
2 2
R = 88,65%
2
R = 87,99%

efeitos de épocas. Como foi observada 2 2 16 2 2


--.-- ♦ V: Ŷ = 11,76 - 0,172x + 0,001010x R = 82,76% --.-- ♦ V: Ŷ = 19,03 - 0,171x + 0,000928x R = 91,46%
14

heterogeneidade da variância, os dados


8

N folhas colhidas

N total de folhas
12

de número médio de folhas colhidas


(n pl )

(n pl )
-1

-1
6 10

o
e total de folhas e de brotações foram 8

o
o

transformados em x + 1 para análise


6

4
2
estatística, mas nas tabelas são apresen- 2

tados os dados originais. 0


14 28 42 56 70 84 98 112 126
0
14 28 42 56 70 84 98 112 126
Dias após o transplantio Dias após o transplantio

Figura 1. Diferenças entre as cultivares de couve Manteiga São José (N), Verde-Escura (P),
RESULTADOS E DISCUSSÃO
IAC-Campinas (CP), Orelha de Elefante (U) e Vale das Garças (V) quanto à altura média de
plantas, diâmetro médio do caule e número de folhas colhidas e total de folhas, por planta, dos
Em todas as épocas de avaliação, a 14 aos 126 dias após a instalação do experimento [differences in plant height, stem diameter,
cultivar Vale das Garças (V) apresentou and number of leaves and total number of leaves in a plant from 14 to 126 days after the
plantas com maior altura média e a beginning of the assay among kale cultivars Manteiga São José (N), Verde-Escura (P), IAC-
‘Manteiga São José’ (N), a menor (Fi- Campinas (CP), Orelha de Elefante (U) and Vale das Garças (V)]. Campinas, IAC, 2008.
gura 1A). Nas avaliações realizadas aos
14 e aos 42 dias, as plantas da cultivar
Verde-Escura (P) não diferiram em al- 5000 ■ N: Ŷ = 2633,10 - 11,089x
2
R = 85,98%
2A
700
2B

tura daquelas da ‘Vale das Garças’ (V).  Δ P: Ŷ = 2221,52 - 9,762x


--- □ CP: Ŷ = 3167,00 - 14,189x
2
R = 92,10%
2
R = 84,68%
Aos 112 dias a cultivar Manteiga São 2
600
4000 -.-.◊ U: Ŷ = 2932,57 - 13,467x R = 82,99%
2
--.--♦V: Ŷ = 3556,12 - 15,288x R = 81,89%
José (N) apresentou plantas de porte 500
Área foliar específica

mais baixo que a ‘Verde-Escura’ (P) e 3000


(cm folha )
Área foliar

400
-1
(cm pl )
-1

‘Vale das Garças’ (V), não diferindo es-


2

300
2000
tatisticamente das demais. Para todas as 2 2
200  ■ N: Ŷ = 175,54 + 8,4612x - 0,0641x
cultivares, as alturas médias das plantas
R = 88,15%
2 2
1000  Δ P: Ŷ = 171,01 + 6,5311x - 0,0499x R = 77,11%

de couve aumentaram linearmente em


2 2
100 --- □ CP: Ŷ = 265,36 + 10,2640x - 0,0828x R = 85,39%
2 2
-.-.◊ U: Ŷ = 315,42 + 8,7511x - 0,0683x R = 72,96%

função do tempo (Figura 1A), indican-


2 2
--.-- ♦ V: Ŷ = 310,82 + 5,5801x - 0,0454x R = 86,60%
0 0
14 28 42 56 70 84 98 112 126 14 28 42 56 70 84 98 112 126 140
do que as condições do ambiente onde Dias após o transplantio Dias após o transplantio

as plantas se desenvolviam estavam 300


■ N: Ŷ = 179,85 - 0,787x
2
R = 88,59% 2C  ■ N: Ŷ = 18,40 - 0,230x + 0,00137x
2 2
R = 85,99% 2D
25
favoráveis. Segundo Niewhof (1969),
2 2 2
  Δ P: Ŷ = 155,19 - 0,746x R = 94,47%  Δ P: Ŷ = 16,44 - 0,182x + 0,00107x R = 79,36%
2 2 2
--- □ CP: Ŷ = 171,49 - 0,799x R = 86,31% 23 --- □ CP: Ŷ = 14,35 - 0,098x + 0,00048x R = 79,50%

as cultivares de couve de porte médio a


2 2
250 -.-. ◊ U: Ŷ = 336,26 - 4,793x + 0,0229x R = 95,50% -.-.◊ U: Ŷ = 21,55 - 0,297x + 0,0017x
2 2
R = 71,69%
2 2 21 2 2
--.-- ♦ V: Ŷ = 269,52 - 2,83x + 0,0129x R = 86,60% --.-- ♦ V: Ŷ = 24,30 - 0,366x + 0,00257x R = 76,71%
Biomassa seca de folha (g planta)

alto são as preferidas pelos agricultores,


-1
Biomassa fresca de folha

200 19

pois suas folhas são mais facilmente 17


(g planta )
-1

150
colhidas. Cabe ressaltar que, embora 15

13
quinzenalmente as plantas tivessem 100
11
sido adubadas, apenas a cultivar Vale 50 9

das Garças (V) apresentou, no final do 7

ciclo, plantas com altura média superior 0


14 28 42 56 70 84 98 112 126
5
14 28 42 56 70 84 98 112 126
a 1,00 m. Dias após o transplantio
Dias após o transplantio

Em relação ao diâmetro médio do


Figura 2. Diferenças entre as cultivares de couve Manteiga São José (N), Verde-Escura (P),
caule das plantas, a partir dos 42 dias
IAC-Campinas (CP), Orelha de Elefante (U) e Vale das Garças (V) quanto à área foliar por
após o início do experimento, as cultiva- planta e específica e biomassas fresca e seca de folhas dos 14 até 126 dias após a instalação
res Verde-Escura (P), Orelha de Elefante do experimento [differences in the foliar area in a plant and specific foliar area and fresh- and
(U) e Vale das Garças (V) não diferiram dry-leaves weight from 14 to 126 days after the beginning of the assay among kale cultivars
entre si (Figura 1B). A cultivar IAC- Manteiga São José (N), Verde-Escura (P), IAC-Campinas (CP), Orelha de Elefante (U) and
Campinas (CP) foi a que apresentou Vale das Garças (V)]. Campinas, IAC, 2008.

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 323


MCSS Novo et al.

Tabela 1. Diferenças entre as cultivares de couve Manteiga São José (N), Verde-Escura (P), IAC-Campinas (CP), Orelha de Elefante (U)
e Vale das Garças (V) quanto ao número de brotações dos 14 até 126 dias após a instalação do experimento e quanto ao número total de
brotações (Brotações (No)), de folhas colhidas (NF colhidas) e de total de folhas (NT folhas) e biomassas frescas (BFF) e secas das folhas
(BFS) durante todo o experimento [differences in the number of sprouting from 14 to 126 days after the beginning of the assay and in
total number of sprouting, in number of picked leaves and total number of leaves in the plant and fresh- and dry-leaves weight during the
experiment among kale cultivars Manteiga São José (N), Verde-Escura (P), IAC-Campinas (CP), Orelha de Elefante (U) and Vale das
Garças (V)]. Campinas, IAC, 2008.
Dias após a instalação do experimento (n0 brotações/planta)
Cultivar
14 28 42 56 70 84 98 112 126
N 1,1bc2 8,0a 3,8b 4,3bc 3,5bc 5,3b 4,1a 8,6a 6,4a
P 4,9a 2,9b 4,4b 6,4ab 4,3abc 5,3b 2,5a 7,8ab 5,9a
CP 0,7c 5,4a 4,3b 7,9a 5,6ab 2,5c 3,8a 4,1bc 4,6a
U 3,2 b 7,4a 3,8b 2,8c 2,9c 5,3b 3,2a 3,8c 4,2a
V 1,8bc 6,6a 8,7a 6,9ab 6,9a 10,0a 3,5a 4,6abc 4,1a
CV (%) 33,88 18,42 21,43 18,41 20,38 18,36 22,36 20,14 22,37
Brotações (n0) NF colhidas NT folhas BFF BSF
Cultivar
(no planta-1)1 (g planta-1)
N 45,2b2 47,34b 100,81a 1123,0b 94,5b
P 44,4b 45,31c 94,84b 929,9d 94,5b
CP 38,9c 43,01d 88,62c 1039,6c 94,1b
U 36,7c 36,39e 64,31d 1287,0a 102,4a
V 53,0a 49,89a 102,38a 1365,7a 131,6a
CV (%) 8,90 2,63 3,81 7,50 10,9
1
Dados transformados em x + 1 para análise estatística, mas na tabela são apresentados os dados originais. 2Médias seguidas pela mesma
letra na coluna, que comparam as cultivares dentro de cada época de avaliação, não diferem entre si pelo teste de Duncan a 5%. [1data
transformed in x + 1 to statistical analysis but in the table are presented the original data. 2means within columns followed by the same
letters that compare the cultivars within each evaluation time, are not significant by Duncan test at 5%].

plantas com menor diâmetro médio em 1C). Entretanto, cabe ressaltar que aos Para todas as cultivares avaliadas foi
todas as avaliações. Houve aumento no 84, 98 e 126 dias após o transplantio, a observada redução no número total
diâmetro médio das cultivares Verde Es- cultivar IAC-Campinas (CP) produziu de folhas de acordo com uma equação
cura (P), IAC-Campinas (CP), Orelha de o mesmo número de folhas que ‘Vale do segundo grau, obtida de equação
Elefante (U) e Vale das Garças (V) até, das Garças’ (V). A ‘Orelha de Elefante’ quadrática, estimando-se que valores
aproximadamente, 80 dias com redução (U), em todas as épocas de avaliação, mínimos seriam observados aos 85, 89,
após esse período. O diâmetro do caule apresentou menor número de folhas 92, 88 e 92 dias, respectivamente para as
das plantas da cultivar Manteiga São comerciais. Em todas as cultivares cultivares Manteiga São José (N), Verde
José (N) diminuiu de acordo com um foi observada redução no número de Escura (P), IAC-Campinas (CP), Orelha
modelo logístico (Figura 1B). A avalia- folhas colhidas em função do tempo, de Elefante (U) e Vale das Garças (V)
ção do diâmetro do caule pode auxiliar sendo estimado que os menores valores (Figura 1D).
no estudo para determinar o melhor foram obtidos entre 83 e 86 dias após o Nas avaliações de área foliar por
período de tutoramento evitando assim transplantio (Figura 1C). Os menores planta, em geral, verificou-se que a
perda de plantas pelo vento. Chakwizira valores obtidos no número de folhas cultivar Vale das Garças (V) foi a que
(2007) verificou que o desenvolvimento colhidas coincidem com o aumento apresentou maiores valores (Figura 2A).
de hastes de couve está relacionado com da temperatura que se deu no final de Entretanto, aos 28, 42, 70, 84, 98 e 112
as condições do ambiente. Entretanto, outubro e início de novembro. Nesse dias a ‘IAC-Campinas’ (CP) não diferiu
segundo Trani (2008), as diferenças período as temperaturas máximas e da ‘Vale das Garças’ (V). A cultivar
fisiológicas da couve podem estar rela- mínimas variaram, dentro da casa de Verde-Escura (P) foi a que apresentou
cionadas não apenas com as condições vegetação, de 27,6 a 34,2oC e 16,2 a menor área foliar por planta em todas as
climáticas da região do cultivo, mas 21,8oC respectivamente, para os meses épocas de avaliação, mas aos 70 dias,
também às características botânicas da de outubro e início de novembro. a Manteiga São José (N) e a Orelha de
planta e suas respostas a tratos culturais De modo geral, a cultivar Vale das Elefante (U) também apresentaram va-
como a adubação nitrogenada. Garças (V) foi a mais produtiva e a lores de área foliar similares à da ‘Verde-
Em relação ao número de folhas co- ‘Orelha de Elefante’ (U) a que apre- Escura’ (P). Aos 126 dias, no final do
lhidas, de modo geral, a cultivar Vale das sentou o menor número total de folhas ciclo da couve, as cultivares Manteiga
Garças (V) foi mais produtiva (Figura em todas as avaliações (Figura 1D). São José (N), Verde-Escura (P), IAC-

324 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Desenvolvimento e produção de genótipos de couve manteiga

Campinas (CP) e Orelha de Elefante (U) houve redução nas biomassas frescas (V) constituem boas alternativas para a
apresentaram área foliares inferiores à de folhas até, respectivamente, aos 104 produção de couve.
da Vale das Garças (V). Para todas as e 110 dias após o transplantio com pos-
cultivares houve redução linear na área terior aumento (Figura 2C). REFERÊNCIAS
foliar por planta em função do tempo Em relação à biomassa seca de
(Figura 2A). As oscilações térmicas folhas, exceto aos 28, 42 70 e 112 dias CAMARGO ANMMP; CAMARGO FP;
podem ter afetado o desenvolvimento após o transplantio, a ‘Vale das Garças’ CAMARGO FILHO WP. 2008. Distribuição
das couves. No entanto, embora tenha (V) apresentou valores mais elevados geográfica da produção de hortaliças no
havido reduções na área foliar, a couve Estado de São Paulo: participação no País,
que as demais (Figura 2D). Aos 28 dias, concentração regional e evolução no período
‘Vale das Garças’ (V) mostrou-se mais a biomassa seca da cultivar Orelha de 1996-2006. Informações Econômicas 38:
adaptada que os demais materiais às va- Elefante (U) foi superior à das demais 28-35.
riações térmicas ocorridas no período. e aos 42 dias não houve diferença entre CAMARGO LS. As hortaliças e seu cultivo. 1984.
Verificou-se que, na maioria das as cultivares para essa variável. Aos 70 2ª ed rev. aumentada. Campinas: Fundação
Cargill. p.210.
avaliações, a ‘Orelha de Elefante’ (U) dias, a biomassa seca da cultivar Vale
CAMARGO FILHO WP; CAMARGO, FP. 2009.
apresentou maior área foliar específica das Garças (V) não diferiu das obtidas
Análise das alterações na cadeia de produção
não diferindo até os 112 dias da ‘IAC- pelas ‘Verde-Escura’ (P) e ‘IAC-Campi- de hortaliças em São Paulo,1995-2007. IEA/
Campinas’ (CP) (Figura 2B) sendo nas’ (CP). Houve redução na biomassa CATI. Anuários, banco de dados. Disponível
superiores às da ‘Manteiga São José’ seca de folhas até 84, 85, 102, 87 e 71 em: www.iea.sp.gov.br. Acessado em 27 de
abril de 2009.
(N) e da ‘Verde-Escura’ (P). Embora a dias após o transplantio, respectivamen-
cultivar ‘Orelha de Elefante’ (U) tenha te para as cultivares Manteiga São José CHAKWIZIRA, E. 2008. Growth and development
of ‘Pasja’ and kale crops with two methods and
apresentado maior área foliar específica, (N), Verde-Escura (P), IAC-Campinas four rates of phosphorus (P) application.
seu número de folhas foi menor que dos (CP), Orelha de Elefante (U) e Vale das L i n c o l n : L I N C O L N U N I V E R S I T Y.
outros materiais. Dos 14 aos 42 dias, Garças (V) com posterior aumento. (Tese mestrado). Disponível em: http://
a área foliar específica das cultivares researcharchive.lincoln.ac.nz/dspace/handle/
As plantas de couve apresentaram 10182/929. Acessado: 16 de abril de 2009.
IAC-Campinas (CP), Orelha de Elefante brotações nas axilas das folhas e a partir FILGUEIRA FAR. 2000. Novo manual de
(U) e Vale das Garças (V) não diferiram das raízes. Não houve diferença entre olericultura. Viçosa: UFV. 420p.
estatisticamente entre si. Para todas as cultivares quanto ao local de emissão HUSSAR GJ; PARADELA AL; SERRA W;
cultivares houve aumento da área foliar de brotações (dados não apresentados). JONAS TC; GOMES JPR. 2004. Efeito
específica de acordo com uma equação Em algumas avaliações, as emissões do uso do efluente de reator anaeróbio
do segundo grau, obtida de equação compartimentado na fertirrigação da couve.
de brotações eram apenas observadas a Revista Ecossistema 29: 65-72.
quadrática, estimando-se que valores partir das raízes e em outras em ambos
LEFSRUD M; KOPSELL D; WENZEL A;
máximos seriam observados aos 66, 65, os locais. Entretanto, as mudas produzi- SHEEHAN J. 2007. Chances in kale (Brassica
61, 64 e 61 dias, respectivamente para as das nas axilas das folhas foram sempre oleracea L. var. acephala) carotenoid and
cultivares Manteiga São José (N), Verde maiores que as provenientes das raízes. chlorophyll pigment concentrations during
Escura (P), IAC-Campinas (CP), Orelha leaf ontogeny. Scientia Horticulturae 112:
Não houve constância nas respostas
136-141.
de Elefante (U) e Vale das Garças (V) das cultivares quanto ao número de
LORENZ OA; MAYNARD DN. 1988. Handbook
(Figura 2B). brotações emitidas, e nem interação for vegetable growers. 3a ed. New York: John
Até os 28 dias após o transplantio, entre época de avaliação e cultivares Wiley-Interscience Publication. 456p.
a cultivar Orelha de Elefante (U) apre- (Tabela 1). NIEUWHOF M. 1969. Cole Crops. Londres:
sentou biomassa fresca de folha superior Em relação ao número total de World Crops Books. p.92-95.
à dos outros genótipos (Figura 2C). Na brotações, de folhas colhidas e total de STEEL RGD; TORREI JH. 1980. Analysis of
maioria das avaliações, a cultivar Vale folhas formadas foi observado que a variance. IV: Split-plot designs and analysis.
In: STEEL RGD; TORREI JH (eds). Principles
das Garças (V) apresentou biomassa cultivar Vale das Garças (V) foi a mais and procedures of statistics. 2ª ed. New York:
fresca de folhas superior e a cultivar produtiva e a ‘IAC-Campinas’ (CP) e Mc Graw Hill. p.377-400. (Capítulo 16).
Verde-Escura (P) inferior à dos outros a ‘Orelha de Elefante’ (U) as menos TAVARES M; TRANI PE; SIQUEIRA WJ. 1998.
genótipos (Figura 2C). Cabe ressaltar (Tabela 1). A cultivar Manteiga São José Couve. Brassica oleracae L. var. acephala. In:
que, aos 42 e 84 dias após o transplan- (N) apresentou número total de folhas FAHL JI; CAMARGO MBP; PIZZINATTO
tio, as biomassas frescas das cultivares que não diferenciou estatisticamente MA; BETTI JA; MELO AMT; DEMARIA IC;
FURLANI AMC (eds). Instruções agrícolas
IAC-Campinas (CP), Orelha de Elefante da ‘Vale das Garças’ (V). As cultivares para as principais culturas econômicas. 6a ed.
(U) e Vale das Garças (V) não diferiram Orelha de Elefante (U) e Vale das Gar- rev. atual. Campinas: Instituto Agronômico.
estatisticamente entre si. As biomassas ças (V) foram superiores com maiores (Boletim 200). p.201-202.
frescas das cultivares Manteiga São José biomassas fresca e seca de folhas e a TRANI PE. 2008. Avaliação agronômica,
(N), Verde-Escura (P) e IAC-Campinas ‘Verde-Escura’ (P) e ‘IAC-Campinas’ organoléptica e caracterização botânica da
coleção de germoplasma de couve de folhas
(CP) foram linearmente reduzidas com (CP), as menores biomassas frescas do IAC. São Paulo: Secretaria de Agricultura
o tempo. Para ‘Orelha de Elefante’ (U) (Tabela 1). Concluiu-se que as cultivares e Abastecimento. 3p. (Projeto SIGA, NRP
e ‘Vale das Garças’ (V) estimou-se que Orelha de Elefante (U) e Vale das Garças 137).

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 325


CECÍLIO FILHO AB; REZENDE BLA; COSTA CC. 2010. Economic analysis of the intercropping of lettuce and tomato in different seasons under protected
cultivation. Horticultura Brasileira 28: 326-336.

Economic analysis of the intercropping of lettuce and tomato in different


seasons under protected cultivation
Arthur Bernardes Cecílio Filho1; Bráulio Luciano A Rezende2; Caciana C Costa3
1
UNESP-FCAV, Depto Produção Vegetal, Via de Acesso Prof. Paulo D Castellane s/n, 14884-900 Jaboticabal-SP; 2UEPG, Depto Fitotec-
nia e Fitossanidade, Av. Carlos Cavalcanti 4.748, 84030-900 Ponta Grossa-PR; 3UCG-CCTA, Unid. Acad. Agronomia e Tecnologia de
Alimentos, R. Cel. João Leite, 517, Centro, 58840-000 Pombal-PB; rutra@fcav.unesp.br; blrezende@ig.com.br; ccc_agro@hotmail.com

ABSTRACT RESUMO
Lettuce and tomato are vegetables that can be grown in protected Análise econômica de consórcios de alface e tomate
cultivation, under given conditions. Considering their expensive estabelecidos em diferentes épocas em ambiente protegido
production systems, intercropping might be an excellent alternative A alface e o tomate são hortaliças que, em determinadas con-
to optimize costs. Four experiments were carried out at the São dições, podem ser cultivadas em ambiente protegido. Sob esta
Paulo State University (UNESP), at Jaboticabal, Brazil, to study the condição de cultivo, consorciá-las é uma alternativa para otimizar
economic viability of intercropping lettuce and tomato under protected custos. Avaliou-se a viabilidade econômica de quatro cultivos con-
cultivation. To set the intercropping, lettuce was transplanted 0, 10, sorciados de alface e tomate, em ambiente protegido, na UNESP, em
20, and 30 days after transplanting (DAT) tomato and vice-versa, in Jaboticabal-SP. Os consórcios foram estabelecidos pelo transplante de
two seasons, namely April to September 2003 and January to June alface 0, 10, 20 e 30 dias após o transplante (DAT) do tomate e vice-
2004, when monocultures of both vegetables were also carried out. versa, em duas épocas (abril a setembro de 2003 e janeiro a junho de
At the first planting season, operational profits (OP) in intercropping 2004), assim como monoculturas das duas hortaliças. Quando a alface
(lettuce transplanted 0, 10, and 20 DAT tomato) were higher than in foi transplantada 0, 10 e 20 dias após o transplante (DAT) do tomate,
monocultures. At the first season, the return rates (RR) and OP were na primeira época de cultivo, e 0 DAT, na segunda época, os lucros
very much alike, whereas at the second season, RR in intercropping operacionais (LO) foram superiores ao observado nas monoculturas.
were lower than in monoculture. Transplanting tomato after lettuce, As taxas de retorno (TR), no primeiro cultivo, apresentaram o mesmo
at both the first and second seasons, resulted in higher OP than those comportamento de LO, enquanto, na segunda época, TR dos consórcios
in monocultures. RR, OP and the profitability index (PI) were higher foram inferiores às das monoculturas. Consórcios com o transplante do
at the first than at the second season, independent of the growing tomate após alface, na primeira e segunda época de cultivo, apresen-
system. RR in intercropping, independently of the intercropping taram LO superiores aos das monoculturas. TR de consórcios foram
schedule, were higher than in monoculture. In general, PI of tomato superiores às de monoculturas, independentemente da época em que
in monoculture and in intercropping were quite similar and both were foram estabelecidos. Os índices de lucratividade (IL) da monocultura
higher than PI in the monoculture of lettuce. The economic indexes de tomate foram muito próximos aos do consórcio e maiores do que os
confirmed the agronomic viability (expressed by the index of area use da monocultura de alface. Os consórcios e monoculturas da primeira
efficiency) of transplanting lettuce and tomato simultaneously in both época apresentaram maiores TR, IL e LO do que na segunda época. Os
growing seasons; transplanting lettuce 10 and 20 DAT tomato, in the indicadores econômicos ratificaram a viabilidade produtiva (expressa
second season; and transplanting tomato after lettuce in all studied pelo índice de uso eficiente da área) dos consórcios com transplante de
schedules. The economic indexes reached their peaks when tomato alface e tomate simultaneamente, nas duas épocas; alface 10 e 20 DAT
and lettuce were transplanted at the same day, in the first growing após tomate, na primeira época e; todos os consórcios com transplante
season (in average): OP of BRL$ 12,948.63 (US$ 4,273.48) in 614.4 de tomate após a alface. O melhor resultado econômico foi obtido no
m-2; RR of 6.7% and IP of 85%. plantio de abril a setembro com transplantes das duas culturas na mesma
data. Para essa condição, foram obtidos os maiores índices: LO médio de
R$ 12.948,63 em 614,4 m2; TR médio de 6,7% e IL médio de 85%.

Keywords: Lactuca sativa, Lycopersicon esculentum, intercropping, Palavras-chave: Lactuca sativa, Lycopersicon esculentum, cultivo
protected cultivation, economic feasibility, profitability. consorciado, ambiente protegido, viabilidade econômica, rentabili-
dade.
(Recebido para publicação em 19 de maio de 2008; aceito em 16 de setembro de 2009)
(Received on May 19, 2008; accepted on September 16, 2009)

I ntercropping is a cultivation system


in which two or more crops grow
concurrently in the same area for
of the biological diversity and reduction
in labor and environmental impacts due
to the smaller area that is diverted to
The advantages of intercropping
over single cropping are usually
demonstrated by indexes that assess the
at least part of their cycles (Cecilio cultivation. In addition, intercropping area use efficiency. Nevertheless, this is
Filho & May, 2002). Intercropping has can increase profitability, especially not enough. To disclose the superiority
direct benefits, such as the increase in as consequence of the more efficient of intercropping over single cropping
food production per cultivated area in use of the applied inputs, including beyond doubt, the economic analysis
comparison to single cropping; as well machine hours and the energy spent in should also be considered (Zanatta et
as indirect benefits, as the improvement food production. al., 1993). Farmers must undertake

326 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Economic analysis of the intercropping of lettuce and tomato in different seasons under protected cultivation

continuous efforts to improve their agent that produces. Therefore, all experiments, tomato was transplanted
production efficiency, focusing more factors used to produce a particular at the same date for both inter- and
intensively on what takes place inside good should be paid, including the single-cropping;
the farm. In this perspective, the analysis fixed costs (Matsunaga et al., 1976). (b) Experiments 3 and 4: carried out
of production costs gains relevance as Rezende et al. (2005a) reported a total from April 17 to September 23, 2003,
agriculture becomes more and more operating cost for lettuce production, and from January 30 to June 24, 2004,
competitive (Martin et al., 1998). under protected cultivation (625 m2), to evaluate the transplant of tomato after
Vegetables have variations in of BRL$ 539.03 (US$ 177.901), while lettuce, using the same time intervals
commercial characteristics, prices, and Rodrigues et al. (1997) observed a total adopted for lettuce in experiments 1 and
production costs throughout the year operating cost, also under protected 2. Lettuce inter- and single-crops were
(Rao et al., 2005a,b). The analysis of cultivation (350 m2), of BRL$ 311.06 transplanted in the same day.
the seasonal variation of tomato prices (US$ 102.67 i ). However, the crop Tomato and lettuce were allocated
in the wholesale market of São Paulo economic viability may be altered to six plots of 48.0 x 1.2 m (length,
(CEAGESP) in the period 1995-99 by a range of factors, including crop width) in a 48.0 x 12.8 m (length, width)
showed that the prices paid for the 24 management (Rezende et al., 2005c) and greenhouse (614.4 m2). Lettuce, cultivar
kg tomato container were higher from planting season (Tarsitano et al., 1999; Vera, crisp type, was transplanted at
February to April and lower from April Costa et al., 2005). The methodology of the spacing of 0.30 x 0.25 m, resulting
to June (Camargo Filho & Mazzei, the production operating cost consists, in a stand of 4,530 plants, while for
2000). In the same years, Camargo in short, on gathering all variable items, tomato, cultivar Deborah Max, we used
Filho & Mazzei (2001) found that the represented by their costs in expended a double-row spacing of 1.20 x 0.60
prices for the three lettuce groups, currency, plus some short term fix costs x 0.50 m, which resulted in a stand
namely crisp, butter, and head lettuce, represented by the depreciation of the of 1,132 plants. Cultivation practices
were higher in January and February equipment and facilities used in the were the same in all experiments. The
and lower from June to September, due production. This approach avoids the area was cleared only with herbicides,
to the usually larger supply in the latter need of using subjective criteria, since using a 20-L backpack sprayer, and then
period. Because of the seasonality of the main purpose of the operating cost is prepared using a three 26’’ disc plow.
prices, highest yields not always result to be an indicator, as accurate as possible, Beds were raised with a 1.20 m wide
in higher profitability, either in single for decision-making (Matsunaga et al., seedbed tiller, with six spades. Weeding
or intercropping. For the second, this 1976). was carried out by hand hoeing both in
is especially true when yield reduces The objective of this study was seedbeds and aisles, four and three times
significantly in one of the intercropped to study the economic viability of for tomato and lettuce in monoculture,
species. Rao et al. (2005c) found intercropping lettuce and tomato, in respectively, and four times in the
that in the intercropping of lettuce two growing seasons, under protected intercropped plots. Six and three side-
and tomato, although the indexes for cultivation. dressings were applied for tomato and
area use efficiency showed a large lettuce, respectively, independent of
superiority (up to 79%) of intercropping MATERIAL AND METHODS the cropping system. Fungicides were
over monoculture, the figures were sprayed four times in lettuce, in both
not that comfortable when it comes to seasons, and 35 and 30 times in tomato
The yield of tomato and lettuce,
profitability. The authors attributed the in the first and second growing seasons,
as well as the indexes for area use
lack of proportionality between the two respectively. No other pesticides were
efficiency were obtained in four
parameters to the low values paid for used. Tomato plants were driven using
experiments carried out at the São Paulo
lettuce, which contributed with merely plastic ribbons, and submitted to sprout
State University (UNESP), campus of
7% to the intercropping gross revenue. thinning and top-pruning.
Jaboticabal. The experiments were set
On the other hand, if the intercropping For both crops, we used drip-
in pairs, in two seasons, as follows:
did not show high profitability in irrigation, spaced at 10 cm, two and four
(a) Experiments 1 and 2: carried out
relation to the tomato single cropping, rows of drippers for respectively tomato
from April 17 to September 9, 2003 (1st
it exceeded by far the monoculture of and lettuce. In the intercropping system,
growing season) and from January 30
lettuce, which was not economically we used four rows of drippers. The
to May 27, 2004 (2nd growing season),
viable (negative operating profit). irrigation did not demand moving the
using tomato and lettuce as main and
For an adequate analysis of the secondary crops, respectively. Lettuce drippers. Therefore, to estimate labor, we
economic viability of intercropping, one was transplanted 0, 10, 20 and 30 days took into account only the time required
should seek the actual production cost. after transplanting (DAT) tomato. to switch the system on and off, and to
Classically, the production cost is defined For each transplanting date in the perform repairs. The irrigation time was
as the sum of the values of all services intercropping there was a correspondent taken in average as 30 minutes per day
and factors used in the production of a lettuce monoculture, meant for assessing throughout the crop cycle, both in single
good, which is equivalent to the total all possible environmental influences and intercropping. The post-harvest
value of the monetary sacrifice of the over the plant performance. For both activities considered were washing,

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 327


AB Cecílio Filho et al.

grading and packaging according to established during the experiments. The implements (Table 2): equipment hour-
market standards. All production costs technical coefficients for general tillage cost (EHC) included fuel expenses
were estimated assuming a continuously operations, i.e., weeding, plowing and plus an additional value for repairs,
cultivated greenhouse. seedbed raising (Table 1) were based maintenance, parking, and insurance.
The total operating costs (TOC) for on Brancalião (1999). The estimate The implement hour-cost (IHC) included
each growing season, both for single and of TOC did not allow for costs with grease and repairs. The actual EHC,
intercropping, were estimated according commercialization. including IHC, for a Massey Ferguson
to Matsunaga et al. (1976), as also The unit values of each item, 275 72HP was BRL$ 9.69 and 9.77
adopted by the Institute of Agricultural referring to May 2005, were estimated (US$ 3.20i and 3.22i), for the first and
Economics (IEA). This methodology as follows: second seasons, respectively, and were
considers the actual disbursements made (a) Labor: wages were established estimated as follows:
during the production cycle, covering according to the values recommended (1) EHC = i + p + r + m + f, and;
costs with labor, inputs and machine by the Union of Rural Workers of (2) IHC = r + g, where;
transit, as well as repairs, maintenance Jaboticabal and refer to May 2005: i = insurance, 0.75% of the equipment
and depreciation of the equipments, BRL$ 335.00 and 424.24 (US$ 110.56i value, per year;
implements and facilities used for and 140.00i), respectively for ordinary
p = parking, 1% of the equipment or
production. workers and tractor drivers, with a
implement value, per year;
The nominal prices of all items monthly workload of 200 hours, for
needed for production in April 2003 both growing seasons. Social security r = repair, 10% of the equipment or
(beginning of the 1st growing season) contributions made by employers implement value, per year;
and January 2004 (beginning of the represented 43% of the salary. Thus, for m = maintenance, equivalent to
2nd growing season) were corrected to the two growing seasons, the estimated BRL$ 1.99 (US$ 0.65i) and 2.01 h-1 for
actual values of May 2005, in Brazilian hour-cost were BRL$ 2.40 and 3.03 the first and second growing season,
Reais (BRL$), by the General Price (US$ 0.80i and 1.00i) for ordinary work respectively;
Index (GPI). The TOC of each crop was and tractor driving, respectively; f = fuel, equivalent to 5.8 and 6.1 L
estimated using the technical coefficients (b) Hour-cost for equipments and h-1 when dragging the seedbed tiller or

Table 1. Technical coefficients and costs of equipments and implements used to grow tomato and lettuce in single and intercropping, under
protected cultivation, in Brazilian Reais (BRL$)1 corrected2 for May, 2005 (coeficientes técnicos e custo de máquinas e implementos para
o cultivo solteiro e em consórcio de tomate e alface, em ambiente protegido, em reais (R$)1 corrigidos2 para maio de 2005). Jaboticabal,
UNESP, 2009.
Tomato Lettuce Tomato x lettuce
Agricultural
Time spent Activity cost Time spent Activity cost Time spent Activity cost
practices
(h) (BRL$)1 (h) (BRL$)1 (h) (BRL$)1
First season
Land clearing3 0.30 0.045 0.30 0.045 0.30 0.045
Plowing4 0.25 5.27 0.25 5.27 0.25 5.27
Seedbed raising5 0.85 18.39 0.85 18.39 0.85 18.39
Pesticide spraying6 64.75 9.71 7.40 1.11 64.75 9.71
Irrigation7 76.00 11.40 26.00 3.90 76.00 11.40
Manual harvest8 28.00 24.08 5.40 4.65 33.40 28.72
Total 614.4 m-2 170.15 68.90 40.2 33.37 175.55 73.55
Second season
Land clearing3 0.30 0.045 0.30 0.045 0.30 0.045
Plowing4 0.25 5.28 0.25 5.28 0.25 5.28
Seedbed raising5 0.85 18.56 0.85 18.56 0.85 18.56
Pesticide spraying6 55.50 8.34 7.40 1.11 55.50 8.33
Irrigation7 65.00 9.10 21.00 2.94 65.00 9.10
Manual harvest8 28.00 22.96 5.40 4.43 33.40 27.39
Total 614.4 m-2 149.90 64.28 35.20 32.37 155.30 68.70
1
US$ 1.00 = BRL$ 3.03, May, 2005 (US$ 1,00 = BRL$ 3,03, maio de 2005); 2Prices corrected using the General Price Index (IGP) (preços
corrigidos utilizando o Índice Geral de Preços (IGP)); 3,6Herbicides applied using a backpack sprayer, 20 L (herbicidas aplicados utilizando
pulverizador costal, 20 L); 4Tractor 72 HP + plow 3 26”-disks (trator 72 CV + arado de 3 discos com 26’’); 5Tractor 75 HP + seedbed tiller
(trator 75 CV + rotoencanteirador); 7Motorpump 1 HP (motobomba 1 CV); 8Wheel barrel (carrinho de mão).

328 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Economic analysis of the intercropping of lettuce and tomato in different seasons under protected cultivation

the plow, respectively; the Terminal Wholesale Market of calculated according to the following:
g = grease, calculated as the São Paulo (CEAGESP, 2005) from (a) Experiments 1 and 2: for tomato,
consumption (kg m-1) x price; 2000 to the month of harvest, in 2004, we calculate the average of the prices
(c) Input prices: the nominal input corrected to actual values of May 2005 paid during the months of harvest,
prices in Jaboticabal were corrected by the General Price Index (GPI). namely July to September and April
to actual prices as stated before (Table These prices included additional 30% to June, for respectively the first and
2); for costs of packing, shipping, loading second seasons. For lettuce, we used
(d) Depreciation (Table 2): the and unloading, rural social security the average of the prices received at the
depreciation was calculated using the and fees. harvest dates, namely June 2, 17 and
linear method, in which the good is The average prices paid for lettuce 27, July 8, 2003, in the first season, and
depreciated during its life at a constant in March, April, May, June, and July March 13, 19 and 29, and April 15, 2004,
rate, according to the following: D = were BRL$ 1.22 (US$ 0.40 i), 1.20 in the second season, corresponding to
(IV-RV)/NH, where: D = depreciation in (US$ 0.39 i), 1.43 (US$ 0.47 i), 1.54 lettuce transplanted respectively 0, 10,
$ year-1, IV = initial value (new good); (US$ 0.50i) and 1.27 kg-1 (US$ 0.42i), 20 and 30 DAT tomato in both seasons.
RV = residual value; N = life (years) and, respectively. For, tomato, the average The GI of the intercropping established
H = hours of use per year. The residual prices were BRL$ 1.21 (US$ 0.40i), by transplanting lettuce 30 DAT tomato
value for the tractor was taken as 20% 1.05 (US$ 0.35 i), 0.97 (US$ 0.32 i), in the first season, and 20 and 30 DAT
of a new tractor, while no residual value 1.01 (US$ 0.33i), 1.03 (US$ 0.34i) and tomato, in the second season, resulted
was considered for the implements. 1.06 kg-1 (US$ 0.35i), respectively in exclusively from tomato sales, since
The prices of tomato and lettuce April, May, June, July, August, and the lettuce produced at this dates did not
used for estimating the gross income September. The gross income (GI) reach the commercial standard;
were the average price practiced at of the different growing systems was (b) Experiments 3 and 4: for lettuce,

Table 2. Inputs, useful life and annual use of implements, and grease used to grow tomatoes and lettuce in single and intercropping, under
protected cultivation, in Brazilian Reais (BRL$)1 corrected2 for May, 2005 (insumos, vida útil e uso ao ano de implementos e consumo
de graxa para o cultivo solteiro e em consórcio de tomate e alface, em ambiente protegido, em reais (R$)1 corrigidos2 para maio de 2005).
Jaboticabal, UNESP, 2009.
1st season 2nd season
Implements and Description/ Useful life Annual Grease
Unit Price Hour-cost Price Hour-cost
inputs trademark (years) use (kg h-1)
(BRL$)1,2 (BRL$)1,2 (BRL$)1,2 (BRL$)1,2
Tractor MF (272 cv) Unit 10 1000 h 0.05 65,594.29 9.69 66,071.59 9.77
Plow 3 26’’ discs Unit 7 480 h 0.04 4,172.54 1.20 3,509.42 1.05
Seedbed tiller Lavrale Unit 8 480 h 0.06 8,278.91 2.25 8,436.83 2.26
Backpack sprayer Jato (20 L) Unit 5 120 h - 179.54 0.15 177.89 0.15
Wheel barrel - Unit 4 270 h 0.09 167.62 0.86 170.82 0.82
Motorpump 1 hp Unit 10 30 h - 444.87 0.15 415.74 0.14
Drip line Netafilm m 2 720 h - 0.60 - 0.61 -
Styrofoam tray 128 cells Unit 2 3 cycles - 4.99 - 5.08 -
Styrofoam tray 288 cells Unit 2 7 cycles - 4.99 - 4.83 -
Smooth wire nº 14 kg - - - 4.94 - 4.94 -
Plastic ribbon White kg - - - 7.48 - 6.91 -
Grease - kg - - - 8.83 - 8.39 -
Diesel - L - - - 1.67 - 1.69 -
Ammonium Nitrate - 50 kg - - - 67.33 - 64.87 -
Potassium (KCl) - 50 kg - - - 54.86 - 52.86 -
Single superphos- - 50 kg - - - 22.94 - 23.38 -
phate
Tomato seeds Débora Max 10 g - - - 227.42 - 231.76 -
Lettuce seeds Vera 100 g - - - 39.90 - 39.64 -
Greenhouse Masonry m2 10 365 days - 11.97 - 12.20 -
1
US$ 1.00 = BRL$ 3.03, May, 2005 (US$ 1,00 = R$ 3.03, maio de 2005); 2Prices corrected using the General Price Index (IGP) (preços
corrigidos utilizando o Índice Geral de Preços (IGP)).

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 329


AB Cecílio Filho et al.

which was transplanted in a single day, largest cost was depreciation, which almost all due to non specialized labor. In
the harvests were carried out on June represented 17.9 and 15.5% in the first the first and second growing seasons, the
2, and March 13, respectively for crops and second seasons, respectively. total cost for labor, respectively BRL$
established on April 17, 2003, and The distribution of labor was as 531.83 and 503.03 (US$ 175.52 and
January 30, 2004. For tomato, the GI follows: 29% for harvesting in both 166.02i) in 614.4 m2, accounted for 25.8
was estimated as described for lettuce in growing seasons, followed by side and 26.4% of tomato TOC. According
experiments 1 and 2. In the first season, dressing (15%) and weeding (15%). to Anuário (2005), the cost of labor for
tomato harvests took place from July to Rodrigues et al. (1997), in an experiment growing table tomatoes in a protected
August, when tomato was transplanted also under protected cultivation, found environment is BRL$ 1,951.00 (US$
0 and 10 days after lettuce, and from that the harvest consumed 76% of the 643.89i) 350 m-2, which corresponds
July to September, when transplanted 20 labor, and that labor represented only to 31% of the estimated production
and 30 days after lettuce. In the second 17% of TOC. However, when surveying cost. Pesticides were the second largest
season, tomato harvests were carried out costs, Rodrigues et al. (1997) did not expense and represented 22.0 and 20.8%
from April to June, independent of the include the labor required for clearing of the total costs respectively in the first
transplanting date. the area, seedling production and and second seasons. Although tomato is
To assess the efficiency of the weeding. Tarsitano et al. (1999) reported well known as a high nutrient demanding
intercropping systems, we used the a share of 20.5% for labor in lettuce crop, fertilizers amounted to not roughly
operating profit (OP), calculated as TOC, estimated in BRL$ 390.78 (US$ 11% of the total costs, including liming.
the difference between GI and TOC 128.97i) for 275 m2. Instead, Anuário (2005) reports that
(Martin et al., 1998); the return rate Among inputs, fertilizers were the the shares for fertilizers and pesticides
(RR), which is the reason between GI most expensive item, representing correspond respectively to 20.6 and
and TOC; and the profitability index 33.9% of the costs for inputs and 12.7% of the tomato production cost.
(PI), corresponding to the ratio between 13.4% of TOC for lettuce grown as a Greenhouse depreciation was an
net and gross income and presented as single crop, in the first season. In the important item in the composition of
the relationship between OP and GI, following season, fertilizers were again tomato TOC as a single crop, accounting
in percentage. PI shows the rate of the most expensive input and accounted for approximately 14.5% of the TOC
available income for the activity after for 33.2% of the item and 13.8% of the in both seasons. The lowest figures for
paying all operating costs (Martin et TOC. Very close to fertilizers was the greenhouse depreciation observed for
al., 1998). cost of liming, representing around 12% lettuce are due to the higher number
of TOC, in both seasons. Nevertheless, of cycles that are possible to carry out
RESULTS AND DISCUSSION the high liming cost can be significantly with lettuce in comparison to tomato in
reduced by using lime with low CCE, the same period of time, estimated here
such as calcite. If this was the case, as ten years.
Based on the technical coefficients
we estimate that the liming cost in the TOC for intercropping in the first
and income from lettuce when the
present greenhouse (614.4 m2) would and second growing seasons were,
vegetable was grown as single crop, in
have been BRL$ 5.00 (US$ 1.65i), as respectively, BRL$ 2,277.46 and
both the first and second growing seasons
low as 1% of the TOC. 2,117.11 (US$ 751.64 and 698.72i), in
(Tables 3 and 4), the total operating costs
(TOC) were estimated, respectively, in The TOC for tomato as single crop 614.40 m2, under protected cultivation
BRL$ 596.56 and 566.99 (US$ 196.89 were BRL$ 2,060.31 and 1,908.92 (US$ (Tables 3 and 4). As observed for
and 187.13i) to a 614.4 m2 greenhouse. 679.97 and 630.00i) respectively for lettuce and tomato in single cropping,
Rezende et al. (2005a) and Robinson the first and second growing seasons, labor was the main component of TOC
et al. (1997) observed lettuce TOC of in a 614.4 m2 greenhouse (Tables 3 and also in intercropping, corresponding
BRL$ 539.03 (US$ 117.90i) in 625 m2 4). The difference between growing to 28.0 and 28.8% respectively in the
and BRL$ 311.06 (US$ 102.66i) in 350 seasons was due to the more intensive first and second seasons. Rezende
m2, respectively, both in greenhouse. use of pesticides and irrigation in et al. (2005a) reported that labor
The difference in lettuce TOC between the first season. Without considering corresponded to 20.6% of the TOC
the two seasons was very small. In both possible optimizations in labor and and was also its heaviest component.
growing seasons, the most expensive machine hours, among many other Nevertheless, while labor, specialized
item was labor (Tables 3 and 4): BRL$ components of the production cost, and or not, required 293.34 hours in single
173.56 and 170.56 (US$ 57.28 and assuming a direct correlation between cropping, the demand fell to 265.39
56.29i), for 614.4 m2, respectively for costs in 614.4 m2 and its estimate in hours in intercropping. The economy
the first and second growing seasons, 10,000 m2, the TOC of tomato in single of 27.95 hours happened because there
accounting for 28.5 and 29.5% of the cropping amounted to approximately were common operations for both crops.
lettuce TOC, respectively in the first and BRL$ 32,301.68 (US$ 10,660.62i) ha-1 When land clearing, plowing, seedbed
second seasons, very close to the 26% (average for the two seasons). raising, side dressing, hand hoeing and
reported by Rezende et al. (2005b) for Labor was the heaviest component irrigation were carried out to one crop,
lettuce grown in open field. The second in tomato TOC in both growing seasons, they were automatically being carried

330 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Economic analysis of the intercropping of lettuce and tomato in different seasons under protected cultivation

Table 3. Technical coefficients and total operational costs to grow tomato and lettuce in single and intercropping, under protected cultivation
from April to September, 2003 (coeficientes técnicos e custo operacional total para o cultivo solteiro e em consórcio de tomate e alface, em
ambiente protegido, no período de abril a setembro de 2003). Jaboticabal, UNESP, 2009.
Tomato Lettuce Tomato x lettuce
Agricultural practices1 Labor in Tractor Machine Labor in Tractor
Machine
Labor in Tractor
Machine
+ imple- + imple- + imple-
common driver common driver common driver
ment3 ment3 ment3
Hours for a 614.4 m2 greenhouse
Production of seedlings 1.12 - - 3.08 - - 4.20 - -
Land clearing 0.30 - 0.30 0.30 - 0.30 0.30 - 0.30
Plowing - 0.25 0.25 - 0.25 0.25 - 0.25 0.25
Seedbed raising - 0.85 0.85 - 0.85 0.85 - 0.85 0.85
Liming and fertilizing 2.15 - - 2.15 - - 2.15 - -
Planting site plotting 1.34 - - 5.38 - - 6.72 - -
Transplant 1.20 - - 4.60 - - 5.80 - -
Hand hoeing 12.60 - - 10.50 - - 12.60 - -
Sidedressing 11.52 - - 10.62 - - 22.14 - -
Pesticide spraying 64.75 - 64.75 7.40 - 7.40 64.75 - 64.75
Irrigation 19.00 - 76.00 6.50 - 26.00 19.00 - 76.00
Placing of plastic ribbons 12.53 - - - - - 12.53 - -
Staking/sprout thinning 34.30 - - - - 34.30 - -
Top pruning 7.00 - - - - - 7.00 - -
Harvest and post harvest 52.40 - 28.00 20.40 - 5.40 72.80 - 33.40
Total (hours) 220.21 1.10 170.15 70.93 1.10 40.20 264.29 1.10 175.55
Total cost (BRL$ 614.4
528.50 3.33 68.90 170.23 3.33 33.37 634.30 3.33 73.55
m-2)1,2
Inputs Amount BRL$ 614.4 m-2 1,2 Amount BRL$1 614.4 m-2 1,2 Amount BRL$1 614.4 m-2 1,2
Lime (kg) 70.00 70.00 70.00 70.00 70.00 70.00
Single superphosphate (kg) 58.50 26.91 38.89 17.89 58.50 26.91
Potassium chloride (kg) 30.00 33.00 5.95 6.55 30.00 33.00
Ammonium nitrate (kg) 64.50 87.08 41.10 55.49 101.36 136.84
Substrate (kg) 25.00 10.00 25.00 10.00 50.00 20.00
Herbicide (L) 0.50 7.68 0.50 7.68 0.50 7.68
Seeds (g) 6.05 137.58 5.09 2.04 - 139.61
Surfactant (L) 1.64 24.53 0.22 3.23 1.64 24.53
Pesticides - 429.03 - 63.10 - 429.03
Smooth wire nº 14 (kg) 13.00 64.22 - - 13.00 64.22
Plastic ribbons (kg) 22.50 168.30 - - 22.50 168.30
Costs BRL$ 614.4 m-2 1,2
Inputs 1,058.33 235.97 1,120.12
Operational 1,659.07 442.90 1,831.30
Depreciation (greenhouse) 311.60 106.60 311.60
Depreciation (others) 89.64 47.06 134.56
Total operational cost 2,060.31 596.56 2,277.46
1
US$ 1.00 = BRL$ 3.03, May, 2005 (US$ 1,00 = R$ 3.03, maio de 2005); 2Prices corrected using the General Price Index (IGP) (preços
corrigidos utilizando o Índice Geral de Preços (IGP)); 3Cost includes fuel, maintenance, repairs, garage, and insurance (os custos incluem
combustível, manutenção, reparos, garagem e seguro).

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 331


AB Cecílio Filho et al.

Table 4. Technical coefficients and total operational costs to grow tomato and lettuce in single and intercropping, under protected cultiva-
tion from January to June, 2004 (coeficientes técnicos e custo operacional total para o cultivo solteiro e em consórcio de tomate e alface,
em ambiente protegido, no período de janeiro a junho de 2003). Jaboticabal, UNESP, 2009.
Tomato Lettuce Tomato x lettuce
Agricultural practices1 Labor in Tractor Machine Labor in Tractor Machine Labor in Tractor Machine
common driver +ment
imple- common driver +ment imple- common driver +mentimple-
3 3 3

Hours for a 614.4 m greenhouse


2

Production of seedlings 1.12 - - 3.08 - - 4.20 - -


Land clearing 0.30 - 0.30 0.30 - 0.30 0.30 - 0.30
Plowing - 0.25 0.25 - 0.25 0.25 - 0.25 0.25
Seedbed raising - 0.85 0.85 - 0.85 0.85 - 0.85 0.85
Liming and fertilizing 2.15 - - 2.15 - - 2.15 - -
Planting site plotting 1.34 - - 5.38 - - 6.72 - -
Transplant 1.20 - - 4.60 - - 5.80 - -
Hand hoeing 12.60 - - 10.50 - - 12.60 - -
Sidedressing 11.52 - - 10.62 - - 22.14 - -
Pesticide spraying 55.50 - 55.50 7.40 - 7.40 55.50 - 55.50
Irrigation 16.25 - 65.00 5.25 - 21.00 16.25 - 65.00
Placing of plastic ribbons 12.53 - - - - - 12.53 - -
Staking/sprout thinning 34.30 - - - - 34.30 - -
Top pruning 7.00 - - - - - 7.00 - -
Harvest and post harvest 52.40 - 28.00 20.40 - 5.40 72.80 - 33.40
Total (hours) 208.21 1.10 149.90 69.68 1.10 35.20 252.29 1.10 155.30
Total cost
499.70 3.33 64.28 5 167.23 3.33 32.37 605.50 3.33 68.70
(BRL$ 614.4 m-2)1,2
BRL$ BRL$1 BRL$1
Inputs Amount Amount Amount
614.4 m-2 1,2 614.4 m-2 1,2 614.4 m-2 1,2
Lime (kg) 70.00 70.00 70.00 70.00 70.00 70.00
Single superphosphate (kg) 58.50 27.50 38.89 18.28 58.50 27.50
Potassium chloride (kg) 30.00 31.80 5.95 6.31 30.00 31.80
Ammonium nitrate (kg) 64.50 83.85 41.10 53.43 101.36 131.77
Substrate (kg) 25.00 10.25 25.00 10.25 50.00 20.50
Herbicide (l) 0.50 7.83 0.50 7.83 0.50 7.83
Seeds (g) 6.05 140.24 5.09 2.04 - 142.28
Surfactante (l) 1.40 14.22 0.22 2.19 1.40 14.22
Pesticides - 382.52 - 64.60 - 382.52
Smooth wire nº 14 (kg) 13.00 64.22 - - 13.00 64.22
Plastic ribbons (kg) 22.50 155.48 - 22.50 155.48
Costs BRL$ 614.4 m -2 1,2

Inputs 987.90 234.92 1,048.10


Operational 1,555.21 437.86 1,725.64
Depreciation (greenhouse) 271.70 87.78 271.70
Depreciation (others) 82.01 41.35 119.77
Total operational cost 1,908.92 566.99 2,117.11
1
US$ 1.00 = BRL$ 3.03, May, 2005 (US$ 1,00 = R$ 3.03, maio de 2005); Prices corrected using the General Price Index (IGP) (preços
2

corrigidos utilizando o Índice Geral de Preços (IGP)); 3Cost includes fuel, maintenance, repairs, garage, and insurance (os custos incluem
combustível, manutenção, reparos, garagem e seguro).

332 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Economic analysis of the intercropping of lettuce and tomato in different seasons under protected cultivation

Table 5. Yield and coefficients of economic efficiency for tomato and lettuce grown in single and intercropping, transplanting lettuce after
tomato (produtividade e indicadores de eficiência econômica do cultivo de tomate e alface em monocultura e consórcio, com transplante
de alface após tomate). Jaboticabal, UNESP, 2009.
Yield Gross Total Operational
(t 614.4 m-2) income operational cost profit PI2
Cropping systems RR1 AUE3
(%)
Tomato Lettuce BRL$ 614.4 m -2 5,6
x 1,000
First growing season
Intercropping
T + L 0 DAT-T4 12.7 1.1 14.7 2.3 12.4 6.4 84 1.85
T + L 10 DAT-T 12.4 1.2 14.6 2.3 12.3 6.4 84 1.85
T + L 20 DAT-T 11.8 1.0 13.7 2.3 11.4 6.0 83 1.63
T + L 30 DAT-T 12.6 0.6 12.9 2.3 10.7 5.7 82 1.36
Monocultures
Tomato 12.5 - 12.9 2.1 10.8 6.2 84 -
Lettuce 0 DATT - 1.2 1.9 0.6 1.3 3.2 69 -
Lettuce 10 DATT - 1.4 2.1 0.6 1.5 3.5 72 -
Lettuce 20 DATT - 1.4 2.2 0.6 1.6 3.6 72 -
Lettuce 30 DATT - 1.6 2.0 0.6 1.4 3.4 70 -
Second growing season
Intercropping
T + L 0 DAT-T4 8.5 0.6 9.9 2.1 7.8 4.7 79 1.44
T + L 10 DAT-T 8.1 0.2 9.0 2.1 6.9 4.3 77 1.17
T + L 20 DAT-T 8.2 0.2 8.8 2.1 6.7 4.2 76 1.13
T + L 30 DAT-T 8.9 0.2 9.6 2.1 7.5 4.5 78 1.24
Monocultures
Tomato 9.0 - 9.7 1.9 7.8 5.1 80 -
Lettuce 0 DATT - 1.2 1.5 0.6 0.9 2.6 62 -
Lettuce 10 DATT - 0.9 1.1 0.6 0.5 1.9 48 -
Lettuce 20 DATT - 0.8 1.0 0.6 0.4 1.7 42 -
Lettuce 30 DATT - 0.7 0.9 0.6 0.3 1.6 37 -
1
RR= return rate (taxa de retorno); 2PI= profitability index (índice de lucratividade); 3AUE= area use efficiency (uso eficiente da área); 4T
+ L 0 DAT-T= tomato + lettuce transplanted 0 days after tomato (tomate + alface transplantado 0 dias após tomate); 5US$ 1.00 = BRL$
3.03, May, 2005 (US$ 1,00 = R$ 3.03, maio de 2005); 6Prices corrected using the General Price Index (IGP) (preços corrigidos utilizando
o Índice Geral de Preços (IGP)).

out also for the other. Pesticide spraying production inputs and the increase of fertilizers and other inputs is optimized
may also be considered a common food production per area. In addition, (Horwith, 1985), with consequent
practice for tomato and lettuce, as in intercropping is, by definition, a crop reduction in the environmental impact
the early stages of both crops there is diversification program. of vegetable growing. In addition,
a mutual need to control Tospovirus TOC for intercropping was 14.3% intercropping concurs to a more
vectors, which cause the spotted wilt. lower than the sum of the costs of the efficient use of the area in small farms
Labor optimization is one of the major two crops when grown as single crops and greenhouses, reminding that the
advantages of intercropping over single in the first season. This percentage latter are high cost structures both for
cropping (Puiatti et al., 2000), once it meant savings of BRL$ 379.41 (US$ acquisition and construction, as well as
improves profitability. Camargo Filho 125.22i) in 614.4 m2. In the second for maintenance.
& Mazzei (1992) state that effective season, TOC for intercropping was In the first growing season, the
measures to improve the profitability 14.5% lower (savings of BRL$ 358.80, gross income (GI) of intercropping was
of the rural activity are the control of US$ 118.42 i, in 614.4 m 2) than the always higher than those from single
production costs, keeping them as low sum of costs for the two single crops. cropping (Table 5), even when the
as possible, and crop diversification. Nevertheless, it must be stressed lettuce production was not considered
Thus, intercropping adapts perfectly that the savings due to intercropping (intercropping established 30 DAT) due
well to such perspective, since it go far beyond the monetary aspect. to plant stunting and the consequent
minimizes costs by the optimization of In intercropping, the use of water, unfeasibility for commercialization. In

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 333


AB Cecílio Filho et al.

Table 6. Yield and coefficients of economic efficiency for tomato and lettuce grown in single and intercropping, transplanting tomato after
lettuce (produtividade e indicadores de eficiência econômica do cultivo de tomate e alface em monocultura e consórcio, com transplante de
tomate após alface). Jaboticabal, UNESP, 2009.
Gross Total operating Operating
Yield (t 614.4 m-2) PI2
Cropping systems income costs profit RR1 AUE3
(%)
Tomato Lettuce (R$ 614.4 m ) x 1,000
-2

First season
Intercropping
L + T 0 DAT-L4 13.1 1.6 15.8 2.3 13.5 6.9 86 2.07
L + T 10 DAT-L 12.7 1.7 15.6 2.3 13.3 6.8 85 2.12
L + T 20 DAT-L 12.7 1.5 15.4 2.3 13.1 6.8 85 1.99
L + T 30 DAT-L 12.7 1.6 15.5 2.3 13.3 6.8 85 2.07
Single Cropping
Lettuce - 1.5 2.4 0.6 1.8 3.9 75 -
Tomato 0 DAT-L 13.1 - 13.4 2.1 11.3 6.4 84 -
Tomato 10 DAT-L 12.8 - 13.1 2.1 11.0 6.2 84 -
Tomato 20 DAT-L 12.8 - 13.1 2.1 11.0 6.2 84 -
Tomato 30 DAT-L 12.7 - 13.0 2.1 10.9 6.2 84 -
Second season
Intercropping
L + T 0 DAT-L4 8.4 0.9 10.1 2.1 8.0 4.8 79 1.81
L + T 10 DAT-L 7.6 0.9 9.3 2.1 7.1 4.4 77 1.76
L + T 20 DAT-L 7.7 1.1 9.6 2.1 7.5 4.6 78 1.90
L + T 30 DAT-L 8.4 1.1 10.4 2.1 8.3 4.9 80 1.93
Single Cropping
Lettuce - 1.2 1.4 0.6 0.9 2.3 64 -
Tomato 0 DAT-L 7,9 - 8.5 1.9 6.6 4.5 78 -
Tomato 10 DAT-L 7.5 - 8.1 1.9 6.2 4.3 77 -
Tomato 20 DAT-L 7.9 - 8.5 1.9 6.6 4.5 78 -
Tomato 30 DAT-L 8.3 - 9.0 1.9 7.1 4.7 79 -
1
RR= return rate (taxa de retorno); 2PI= profitability index (índice de lucratividade); 3AUE= area use efficiency (uso eficiente da área);
4
L + T 0 DAT-L= lettuce + tomato transplanted 0 days after lettuce (alface + tomate transplantado 0 dias após alface); 5US$ 1.00 = BRL$
3.03, May, 2005 (US$ 1,00 = R$ 3.03, maio de 2005); 6Prices corrected using the General Price Index (IGP) (preços corrigidos utilizando
o Índice Geral de Preços (IGP)).

this particular case, tomato yield exceeded of the intercropping, when a crop was economic failure. In this case, OP has
that obtained in single cropping. As the transplanted 0, 10 and 20 days after not confirmed the productive advantage
intercropping systems progressed, with the other, proved to be higher than of intercropping pointed out by the index
lettuce being transplanted each turn those obtained in monoculture (Table of area use efficiency, which scored 1.36
later, GI decreased. This economic 5). Intercropping OP, when both crops (Table 5). This is a clear example of the
pattern closely resembles that observed were transplanted on the same day, was need to carry out economic analysis for
with the index of Area Use Efficiency 14.5% higher than OP observed for intercropping, as proposed by Zanatta
(AUE) (Table 5) and reflects the negative tomato grown as a single crop in the et al. (1993), in order to better judge
effect of tomato over lettuce, as lettuce same area. In addition, intercropping the results obtained out of different
transplant was delayed. OP exceeded in 1.6% the sum of the cropping systems.
The values for GI regarding the OP from tomato and lettuce grown The values observed for OP
monocultures of tomato and lettuce, as single crops in two greenhouses. showed that the labor reduction in
namely BRL$ 14.801,58 and 1.228,80 Only the intercropping started 30 DAT intercropping, although small and with
(US$ 4,885.00 and 405.54 i ) m -2 tomato did not show OP higher than a modest impact on TOC, was enough
respectively, in a 614.4 m2, were merely tomato as monoculture. In this date, to make intercropping economically
0.7% higher than the intercropping GI, the shrinking of lettuce yield and the viable in comparison to the single
when crops were transplanted at the impossibility of commercialization, crops. Considering a single 614.4 m2
same day. The operating profits (OP) due to stunting, were responsible for the greenhouse and intercropping lettuce

334 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Economic analysis of the intercropping of lettuce and tomato in different seasons under protected cultivation

and tomato by transplanting both at (1997) and Tarsitano et al. (1999) as other way around. GI was higher when
the same day, the farmer profitability lettuce production were scaled up tomato was transplanted after lettuce
increased in BRL$ 1,582.20 (US$ from two to four and eight 350 m 2 in the first season (Table 6) than in the
522.18i) in each crop. greenhouses. other three studied situations, namely
In the second growing season (Table RR for tomato as single crop the transplant of lettuce after tomato
5), the results for GI and OP differed to corresponded to almost twice the in both growing seasons (Table 5) and
a great extent from those observed in RR for the most profitable lettuce transplant of tomato after lettuce in the
the first season. In the second season, monocultures, in both seasons. RR were second growing season (Table 6). These
only the intercropping established lower in the second than in the first results reflect the high yields achieved
by transplanting both crops at the season independent of the crop system, by tomato and lettuce in the experiments.
same date had higher GI than tomato pressed by the drop in the tomato The high figures we observed for AUE,
as single crop. Moreover, OP for all and lettuce yields due to respectively as well as for returns, came very likely
intercropping schedules (0, 10, 20 or 30 the tomato leafminer (Tuta absoluta) from the good complementarity between
DAT tomato) was lower than those of and heat. RR is directly related to the lettuce and tomato, as depicted by the
the monoculture of tomato. Conversely, valuation of the crop product. Any factor lack of depressive effects on yield from
in the first season, GI and OP for all that lowers either quantity or quality one species over the other.
intercropping designs exceeded those with negative reflects on prices, will The highest OP, BRL$ 13,485.41
from monoculture, except for the bring RR down. Rezende et al. (2005c) (US$ 4,450.63i) in 614.4 m2, was obtained
intercropping started 30 DAT tomato. In observed reduction in lettuce RR both as in the first season, in intercropping, by
the second season, results were heavily single crop and intercropped with radish transplanting tomato and lettuce in
impacted by the general yield reduction as function of the increase in lettuce the same day. It went far beyond the
observed in lettuce, which was as strong density, which resulted in lighter plants figure from the monoculture of tomato,
as 50% when compared to lettuce in and less yield, thus, lower GI. BRL$ 2,222.47 (US$ 733.50i) in the
monoculture, when lettuce and tomato There were no differences regarding same acreage. The result is a clear
were transplanted on the same day. The the profitability index (PI) between the consequence of the integration on the
lettuce harvested out of intercropping intercropping set 0 and 10 DAT tomato use of labor, machinery and implements
established 20 and 30 DAT tomato had and tomato in monoculture (Table 5). On and also of other inputs in intercropping,
no commercial value and thus did not the other hand, PI indicated a turnover without depressing yield. The economic
provide any economic contribution to similarity between the intercropping advantage of intercropping is noticeable
the intercropping system. established 0 and 30 DAT tomato, which also by other parameters. The figure for
may mislead farmers in the choice of the intercropping TOC is lower than the
In general terms, the economic
the best intercropping schedule. PI sum of TOC of both monocultures. The
assessments corroborated the efficiency
showed that the two schedules gave same intercropping schedule, tomato
in using the greenhouse as expressed
farmers similar returns in relation to the and lettuce transplanted at the same
by the area use efficiency index (AUE)
investment. However, revenues may be day, produced, in 614.4 m2 of protected
in each intercropping schedule, in
very distinct between the two situations, environment, an OP BRL$ 466.57
both seasons. Return rates (RR) in
as in fact it happened. Thus, PI did not (US$ 153.98) higher than the sum of
intercropping had a similar behavior
reflect adequately the best intercropping OP for the monocultures of tomato
to OP. In the first and second season,
performance, as indicated by AUE, GI, and lettuce in 1,228.8 m2, equivalent
RR in intercropping, regardless of the
OP and RR for the intercropping set 0 to two greenhouses. Similarly, the
intercropping schedule, was higher than
and 10 DAT tomato, especially in the first intercropping established 10, 20 and
RR for tomato as single crop (Table 5).
growing season. Once PI is calculated 30 DAT also achieved, in 614.4 m2, OP
In the first season, while in tomato as
by the ratio between net and gross higher than the sum of monocultures, in
single crop, the farmer received BRL$
income, the figures for the intercropping 1,228.8 m2 (Table 6).
6.25 (US$ 2.06i) for each BRL$ 1.00
invested, in the intercropping set 0 established 20 and 30 DAT tomato, in The intercropping in the second
and 10 DAT tomato, the return was 10 the second season, were very close to growing season, as it was in the first
and 9% higher respectively, than the those observed for the intercropping set season, had higher economic viability
average obtained in single crops. RR 0 and 10 DAT, also in the second season, than the monoculture, if one considers
in intercropping can be higher if the even when in the first two schedules GI and OP. OP for intercropping, in
cultivated area is expanded, since the (20 and 30 DAT), there were severe 614.4 m2, exceeded the sum of OP of
capital needed to start and sustain the drops in both lettuce yield and quality, monocultures, in 1,228.8 m 2 (Table
activity is not directly proportional to which prevented commercialization 6). Cecilio Filho & May (2002), in the
the increase in the cultivated area, due and therefore, resulted in no lettuce evaluation of lettuce intercropped with
to the optimization of available inputs, contribution to incomes. radish, also found high complementarity
equipment and labor. Higher RR and Results were more promising in between the two vegetables, especially
shorter time to recover the investment intercropping schedules where tomato when radish was sown up to 7 DAT
were simulated by Rodrigues et al. was transplanted after lettuce than in the lettuce. These authors noted that in

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 335


AB Cecílio Filho et al.

this situation, intercropping had a GI the same day, in both seasons; lettuce Mercado de verduras: planejamento e estratégia
48% higher than lettuce as a single transplanted 10 and 20 DAT tomato, in na comercialização. Informações Econômicas
31: 45-54.
crop. Brown et al. (1985) found that the first season; and all schedules where C E C Í L I O F I L H O A B ; M AY A . 2 0 0 2 .
cabbage and tomato in intercropping tomato was transplanted after lettuce. Produtividade das culturas de alface e rabanete
had net incomes very close to the Considering our results, we could em função da época de estabelecimento do
monocultures. consórcio, em relação a seus monocultivos.
conclude that: a) the growing season
Horticultura Brasileira 20: 501-504.
RR in the monoculture of tomato was influenced the interaction between C O M PA N H I A D E E N T R E P O S T O S E
higher than in lettuce in both growing the species used in the intercropping ARMAZÉNS DE SÃO PAULO - CEAGESP.
seasons (Table 6), with a range similar and therefore the economic viability 2005. Preço médio mensal da alface crespa e
to what was observed in intercropping and superiority of intercropping over do tomate de mesa no período de 2000 a 2004.
Departamento de Economia, São Paulo.
whenever lettuce was transplanted after monoculture; b) the economic indexes
COSTA CC; REZENDE BLA; CECÍLIO FILHO
tomato (Table 5). RR in intercropping, were higher for intercropping and AB; MARTINS MIEG. 2005. Efeito da
regardless of the intercropping schedule, monoculture in the first than in the sazonalidade de preços sobre a viabilidade
was approximately 8,8% higher than second growing season; c) the delay in do cultivo consorciado de alface com rúcula.
in monoculture, in the first season. In transplanting lettuce in relation to tomato Horticultura Brasileira 23: suplemento CR-
ROM.
the second season, RR in intercropping was crucial for the economic superiority HORWITH B. 1985. A role for intercropping in
and in tomato as single crop were of intercropping over monoculture; d) modern agriculture. BioScience 35: 286-291.
very alike, with a slight superiority for whenever tomato was transplanted after MARTIN NB; SERRA R; OLIVEIRA MDM;
intercropping, 3.9% in average. lettuce, the intercropping exceeded the ÂNGELO JA; OKAWA H. 1998. Sistema
tomato monoculture, in economic terms; integrado de custos agropecuários –
As also observed for the CUSTAGRI. Informações Econômicas 28:
intercropping schedules where lettuce and e) intercropping allowed for the 7-28.
was transplanted after tomato, PI for optimization in the use inputs and labor, MATSUNAGA M; BEMELMANS PF; TOLEDO
those schedules where tomato was with consequent reduction in operating PEN; DULLEY RD; OKAWA H; PEDROSO
cost per unit of area. IA. 1976. Metodologia de custo de produção
transplanted after lettuce were very
utilizada pelo IEA. Agricultura em São Paulo
similar to each other. Tomato PI was 23: 123-139.
also higher than lettuce’s. In principle, ACKNOWLEDGEMENTS PUIATTI M; FÁVERO C; FINGER FL; GOMES
one could have assumed that PI for JM. 2000. Crescimento e produtividade de
intercropping would lie somewhere in inhame e de milho doce em cultivo associado.
First author thanks the National Horticultura Brasileira 18: 24-30.
between PI of lettuce and tomato as
Council for Scientific and Technological REZENDE BLA; CECÍLIO FILHO AB;
single crops. However, we observed CANATO GHD; MARTINS MIEG. 2005a.
Development (CNPq) for the granting of
a close correspondence between PI Análise econômica de consórcios de alface x
a researcher fellowship. tomate, em cultivo protegido, em Jaboticabal,
of intercropping and tomato, which is
SP. Científica 33: 42-49.
explained by the major contribution REZENDE BLA; CECÍLIO FILHO AB;
of tomato to costs and revenues in REFERENCES
CATELAN F; MARTINS MIEG. 2005b.
comparison to lettuce, and also by the Análise econômica de consórcios de alface
Anuário da Agricultura Brasileira. 2005. São americana x rabanete: um estudo de caso.
relative reduction in the production cost Paulo: FNP Consultoria & AgroInformativos. Horticultura Brasileira 23: 853-858.
per acreage. p. 495-502. REZENDE BLA; CECÍLIO FILHO AB;
Based on the economic indexes, BRANCALIÃO SR. 1999. Avaliação econômica MARTINS MIEG; COSTA CC. 2005c. Custo
tomato was the most interesting crop dos sistemas de semeadura direta e de produção e rentabilidade da alface crespa,
convencional na sucessão soja/sorgo na região em ambiente protegido, em cultivo solteiro
for farmers in both periods. Brown de Ribeirão Preto. Jaboticabal: UNESP-FCAV. e consorciado com tomateiro. Informações
et al. (1985), upon evaluating the 45p. (Monografia) Econômicas 35: 42-50.
intercropping of tomato and cabbage BROWN JE; SPLITTSTOESSER WE; GERBER RODRIGUES AB; MARTINS MIEG; ARAÚJO
and also of collard greens and melon, JM. 1985. Production and economic returns of JAC. 1997. Avaliação econômica da produção
vegetable intercropping systems. Journal of de alface em estufa. Informações Econômicas
concluded that, despite the high the American Society for Horticultural Science 27: 27-35.
production cost, the economic return 110: 350-353. TARSITANO MAA; PETINARI RA; DOURADO
provided by tomato justifies its use CAMARGO FILHO WP; MAZZEI AR. 1992. MC. 1999. Viabilidade econômica do cultivo
in intercropping, especially in small Variação estacional de preços de hortaliças de alface em estufa no município de Jales-SP.
e perspectivas no mercado. Informações Cultura Agronômica 8: 99-108.
acreages. The economic indexes have ZANATTA JC; scHIoCCHet MA; NADAL R.
Econômicas 22: 33-56.
ratified the feasibility of production, 1993. Mandioca consorciada com milho, feijão
expressed by the AUE index, for the CAMARGO FILHO WP; MAZZEI AR. 2000. ou arroz de sequeiro no Oeste Catarinense.
Abastecimento de legumes: tendência de Florianópolis: Empresa de Pesquisa
following intercropping schedules: preços. Informações Econômicas 30: 35-49. Agropecuária e Difusão de Tecnologia de
tomato and lettuce transplanted in CAMARGO FILHO WP; MAZZEI AR. 2001. Santa Catarina. 36p. (Boletim Técnico).

336 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


LALLA JG; LAURA VA; SEABRA JÚNIOR S; CARDOSO AII. 2010. Capacidade combinatória e heterose de linhagens de pepino do grupo japonês para
caracteres de produção. Horticultura Brasileira 28: 337-343.

Capacidade combinatória e heterose de linhagens de pepino do grupo


japonês para caracteres de produção
Juliana G de Lalla1; Valdemir Antonio Laura2; Santino Seabra Júnior3; Antonio Ismael Inácio Cardoso1
1
UNESP- FCA, Depto Produção Vegetal, C. Postal 237, 18610-307 Botucatu-SP; 2Embrapa Gado de Corte, C. Postal 154, 79002-970
Campo Grande-MS; 3UNEMAT, Cáçeres-MT; jugadum@hotmail.com; valdemir@cnpgc.embrapa.br; santinoseabra@hotmail.com;
ismaeldh@fca.unesp.br

RESUMO ABSTRACT
O objetivo do trabalho foi estimar o efeito da capacidade geral Combining ability and heterosis of lines from Japanese
(CGC) e específica (CEC) de combinação e a heterose de linhagens cucumber type for yield
e populações de pepino japonês, empregando-se um topcross. Fo- The objective of this work was to estimate general (GCA)
ram obtidos 16 híbridos experimentais a partir de duas populações and specific combining ability (SCA) and heterosis of lines and
testadoras (geração F2 de Yoshinari, TY, e de Natsusuzumi, TN) e oito populations of Japanese cucumber using a topcross. We obtained
linhagens S5 obtidas a partir do híbrido comercial Hokuho. Também 16 experimental hybrids crossing two test populations (Yoshinari,
foi avaliado o híbrido F1 Hokuho, totalizando 27 tratamentos. O de- TY, and Natsusuzumi, TN, F2 population) and eight S5 lines obtained
lineamento experimental utilizado foi em blocos casualizados, com from Hokuho commercial hybrid. The Hokuho hybrid F1 was also
quatro repetições e cada parcela foi constituída de quatro plantas. evaluated, totalizing 27 treatments. The experimental design used
Foram avaliadas as massas totais e comerciais, número de frutos was randomized block, with four replicates and four plants per plot.
total e comercial, porcentagem de frutos comerciais e massa média Weight of total and commercial fruits, total number of fruits, number
de frutos comerciais. A população de Yoshinari (TY) apresentou, of commercial fruits, percentage of commercial fruits and average
em média, melhor capacidade de se combinar com as linhagens de weight of commercial fruits were evaluated. Yoshinari population (TY)
Hokuho. A linhagem L7 apresentou os maiores valores positivos da presented, on average, better combining ability with lines of Hokuho.
estimativa da CGC para a maioria das características avaliadas. Os Line L7 presented the highest positive values of GCA for most of
híbridos H1Y e H1N, que apresentavam a linhagem L1 como parental, evaluated characteristics. Hybrids H1Y and H1N, with line L1 as one
foram os que apresentaram maiores valores para a estimativa da parental, showed higher values for SCA with the test populations for
CEC com as populações testadoras para a maioria das características most of evaluated characteristics, while the hybrids with line L5 (H5Y
avaliadas, enquanto os que tinham a linhagem L5 como parental (H5Y and H5N) showed the smallest values. Population Yoshinari F2 showed
e H5N) apresentaram os menores valores. A população F2 proveniente greater potential to obtain lines for crossings with lines of Hokuho,
do híbrido Yoshinari apresentou, em geral, maior potencial de originar in order to obtain hybrid with high yielding potential. Heterosis was
linhagens superiores para cruzamentos com linhagens de Hokuho, a positive for most evaluated characteristics.
fim de se obter híbridos com maior potencial produtivo. A heterose
foi positiva para a grande maioria das características avaliadas.

Palavras-chave: Cucumis sativus L., dialelo, efeito gênico, Keywords: Cucumis sativus L., diallel, gene effects, plant
melhoramento genético vegetal. breeding.

(Recebido para publicação em 16 de dezembro de 2008; aceito em 31 de agosto de 2010)


(Received on December 16, 2008; accepted on August 31, 2010)

A p rodução de pepino no estado


de São Paulo foi estimada em
56.000 t em 2007, atingindo uma área
essas condições de cultivo, há maior
controle ambiental, possibilitando a
utilização de cultivares com maior
híbridos F1 é motivada pelas vantagens
oferecidas aos produtores e consumido-
res, destacando-se o aumento da produti-
cultivada de aproximadamente 1.275 potencial produtivo, destacando-se os vidade, precocidade, maior uniformida-
ha, valor este que corresponde a mais híbridos F1 de pepino tipo japonês, que de, melhor padronização e qualidade dos
de duas vezes a área utilizada em 1990 se caracterizam por apresentar frutos frutos, melhor conservação pós-colheita
(IEA, 2009). A produtividade é muito tipicamente afilados e alongados, de e estabilidade de comportamento sob
variável tanto para cultivo rasteiro coloração verde escura. Atualmente, condições ambientais variáveis (Koch,
como tutorado, sendo que o cultivo existe um grande número de híbridos no 1995; Maluf, 2001).
tutorado é mais produtivo, enquanto mercado, podendo destacar Tsuyataro, Embora alógama, o pepino geral-
em culturas rasteiras, para industriali- Taisho, Yoshinari e Natsuhikari. mente não apresenta queda de vigor em
zação ou para mesa, a produtividade é O uso de sementes híbridas na pro- função da endogamia, porém apresenta
menor (Filgueira, 2003). É considerada dução comercial de hortaliças é hoje destacada heterose. A superioridade de
a segunda hortaliça em importância, prática comum nos países desenvolvidos híbridos F1 em pepino foi constatada
cultivada sob ambiente protegido. Sob e em desenvolvimento. A utilização de há mais de nove décadas por Hayes &

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 337


JG Lalla et al.

Jones em 1916, citados por Filgueira de híbridos comerciais, com posterior área da UNESP-FCA, Campus de Bo-
et al. (1986), porém o primeiro híbrido recombinação ou não das linhagens se- tucatu, localizada no município de São
comercial de pepino, denominado Bur- lecionadas (Koch, 1995). Na seleção, o Manuel-SP. Foi realizado de março a
pee Hybrid, introduzido pela “Burpee potencial de cada uma dessas linhagens maio de 2004, sob ambiente protegido
Seed Company”, só foi explorado pode ser avaliado por meio de sua capa- em casa-de-vegetação tipo arco, com
comercialmente em 1945 (Robinson & cidade geral e específica de combinação 7,0 metros de largura e 20,0 metros de
Decker-Walters, 1999). Segundo Maluf para os diferentes caracteres de interesse comprimento e pé direito de 1,8 m.
(2001), a utilização de linhagens ginói- agronômico. Plantas do híbrido Hokuho (Kyowa),
cas de pepino, principalmente a partir da Os híbridos de pepino tipo japonês com hábito de florescimento monóico-
década de 1970, possibilitou a produção utilizados comercialmente pelos produ- partenocárpico, foram intercruzadas,
em escala comercial de sementes F1. tores não foram desenvolvidos nas con- obtendo-se a geração F2. Posteriormen-
Do ponto de vista do produtor, o dições edafoclimáticas do Brasil. Desse te, a partir de 23 plantas desta popula-
efeito principal esperado da heterose modo, programas de melhoramento ção, foram realizadas cinco gerações
é o aumento da produtividade. Entre- genético devem começar utilizando ge- sucessivas de autofecundação pelo
tanto, conforme sugere Maluf (2001), nótipos comerciais importados, havendo método do Single Seed Descent até a
um grande número de outros caracteres assim a necessidade de obtenção de obtenção de 23 linhagens S5, das quais
agronômicos economicamente impor- cultivares nacionais, se possível, mais oito, tomadas ao acaso, foram utilizadas
tantes também podem ser melhorados tolerantes e adaptadas a condições de neste experimento (L1 a L8).
aproveitando-se da existência de hete- cultivo no Brasil. Plantas dos híbridos Natsusuzumi e
rose. Hutchins (1938) observou efeitos Para a obtenção de híbridos uni- Yoshinari, ambas com hábito de flores-
heteróticos para produtividade, número formes, uma alternativa é a seleção de cimento monóico-partenocárpico, foram
de frutos por planta e também para linhagens a partir de populações com também intercruzadas separadamente e
produção precoce. Ghaderi & Lower características desejáveis e a análise obtidas as gerações F2 que foram utili-
(1978) relataram que os híbridos foram da capacidade de combinação dessas. zadas como populações testadoras: TY
mais produtivos do que os parentais Deste modo, o emprego da análise da (população F2 de Yoshinari); TN (popu-
e apresentaram maior estabilidade capacidade combinatória é utilizado lação F2 de Natsusuzumi).
fenotípica. Delaney & Lower (1987) com a finalidade de auxiliar a seleção de Cada uma das oito linhagens do hí-
observaram heterose para produção, combinações híbridas de interesse para brido Hokuho foi cruzada separadamen-
número de ramificações e comprimento o melhoramento de plantas. te com as populações de Natsusuzumi
de entrenó. Davis (1927) e Jenkins & Brunson (20 plantas) e Yoshinari (20 plantas),
Lower et al. (1982) observaram he- (1932) introduziram o uso do esquema obtendo-se os híbridos experimentais,
terose relativa ao parental superior, tanto “topcross” para a avaliação do valor descritos a seguir: H1Y, H2Y, H3Y, ..., H8Y:
para produtividade quanto para compri- genético de linhagens (capacidade de híbridos experimentais provenientes do
mento da rama principal. Giordano combinação) em cruzamentos, o qual cruzamento das linhagens do híbrido
et al. (1982) encontraram valores de pode ser comparado a um dialelo par- Hokuho e a população Yoshinari, repre-
heterose relativa ao parental superior cial, ou com mais propriedade, com um sentada pela letra “Y”, usada como ge-
em vários híbridos de pepino de mesa delineamento genético fatorial. Segundo nitor masculino; H1N , H2N, H3N, ..., H8N:
para caracteres relacionados à produção. este esquema, todas as linhagens de híbridos experimentais provenientes do
Heterose positiva foi relatada em um um determinado conjunto são cruzadas cruzamento das linhagens do híbrido
dialelo entre quatro linhagens de pepino com um mesmo testador e o seu valor Hokuho e a população Natsusuzumi,
por Li et al. (1995) para produção total, genético é determinado com base em representada pela letra “N”, usada como
produção precoce, número de frutos, contrastes de médias de caracteres genitor masculino. Em ambos os casos,
massa média de frutos e área foliar e quantitativos. O uso do esquema top- o primeiro número corresponde à linha-
heterose negativa para comprimento de cross tornou-se um processo padrão nos gem utilizada como genitor feminino
haste. Cardoso (2006), avaliando um programas de melhoramento de plantas, proveniente de Hokuho.
dialelo entre linhagens de pepino tipo especialmente no milho (Miranda Filho Foram avaliados 27 tratamentos:
‘Caipira’, observou heterose para produ- & Gorgulho, 2001). os 16 híbridos experimentais (obtidos
ção de frutos em torno de 50%. Já para Neste trabalho o objetivo foi estimar conforme descrito anteriormente), oito
pepino japonês a média das heteroses foi a capacidade geral (CGC) e específica linhagens, as populações F2 de Yoshinari
menor que 25% (Cardoso, 2007). (CEC) de combinação, por meio de um e Natsusuzumi, e o híbrido comercial
Os programas de melhoramento de topcross entre linhagens e populações Hokuho. O delineamento experimental
cucurbitáceas, visando à obtenção de de pepino tipo japonês. utilizado foi blocos casualizados com
híbridos F1, utilizam como estratégias quatro repetições. Cada parcela foi
o desenvolvimento de linhagens obtidas constituída por quatro plantas.
MATERIAL E MÉTODOS
da autofecundação sucessiva de plantas A semeadura foi realizada em 15 de
superiores ou ainda linhagens obtidas março de 2004, em bandejas de poliesti-
de populações segregantes derivadas O experimento foi conduzido em reno expandido de 128 células. O trans-

338 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Capacidade combinatória e heterose de linhagens de pepino do grupo japonês para caracteres de produção

plante foi realizado quando as plântulas dade geral (CGC) e específica de com- experimentais contendo ‘Natsusuzumi’
apresentavam duas folhas definitivas. O binação foram obtidas de acordo com como um de seus genitores (H.N) foram
espaçamento utilizado foi de 1,0 m x 0,5 o modelo de Geraldi & Miranda Filho superiores à população de Natsusuzumi,
m. Durante a condução da cultura, a área (1988), onde foram inclusos somente os com exceção dos híbridos H6N e H8N.
foi mantida livre de plantas daninhas por genitores e os híbridos experimentais. Observou-se também que, em média,
meio de capinas manuais e a irrigação Também foram obtidas as estimativas, as linhagens avaliadas foram inferiores
foi realizada por gotejamento. em porcentagem, da heterose dos híbri- ao ‘Hokuho’, bem como às populações
A adubação foi realizada após aná- dos em relação à média dos genitores. testadoras e aos híbridos experimentais
lise química do solo, de acordo com a (Tabela 1). Os valores obtidos, todas
recomendação feita pelo Boletim 100 RESULTADOS E DISCUSSÃO as médias superiores a 84% (Tabela 1),
do Instituto Agronômico de Campinas foram elevados. Cardoso (2007) obteve
(Trani et al., 1997). O controle de pragas médias variando de 63 a 89%. Já Oviedo
Para as características número de
e doenças foi realizado de acordo com a et al. (2008) obtiveram, em média, 64%
frutos comerciais por planta (NFC/
necessidade da cultura, através de pul- de frutos comerciais e Lima (2009),
PL), número total de frutos por planta
verizações com inseticida Deltametrina 61%. Os valores obtidos são comuns em
(NFT/PL), massa de frutos comerciais
e fungicida Fenarimol. pepino caipira, conforme observado por
por planta (MC/PL) e massa total de
Cada planta foi tutorada individual- Godoy et al. (´2008 e2009), com médias
frutos por planta (MT/PL) não foram
mente eliminando-se todas as brotações superiores a 81%.
observadas diferenças significativas
e flores até o 5º nó da haste principal. (Tabela 1). De forma geral, a popula- Para a característica MMFCOM
Realizou-se também a desbrota das ção de ‘Yoshinari’ foi a que tendeu a foi observada a mesma tendência da
ramas laterais (após o 6º nó da haste apresentar valores médios superiores, característica %FC. A população de
principal), entre a segunda e terceira produzindo 12,9 frutos por planta com Yoshinari (TY), assim como os híbridos
folhas. Retirou-se o meristema apical massa média total de 1536,3 gramas, dos experimentais que a tinham como um
da planta quando esta atingiu a altura quais 12,4 eram comerciais e a massa de seus parentais (H.Y), com exceção de
do arame (cerca de 1,80 m). As colheitas em torno de 1200 gramas. A linhagem H6Y, foram estatisticamente semelhantes
foram efetuadas três vezes por semana, 1 foi a que apresentou os menores va- ao ‘Hokuho’ (testemunha) e às linhagens
colhendo-se frutos com cerca de 20 cm lores para NFC/PL, NFT/PL, MC/PL L1, L2 e L3 (Tabela 1) e diferiram da
de comprimento. e MT/PL entre as linhagens avaliadas. população de Natsusuzumi (TN) e dos
Foram avaliados a massa total de Comparativamente a outros autores que híbridos experimentais que o continham
frutos por planta (pesagem, em balança estudaram pepino japonês em ambiente como um de seus genitores (H.N), exceto
com precisão de 0,1 g, de todos os frutos protegido, os valores obtidos foram H3N, H4N e H7N. Ressalta-se que para esta
colhidos na parcela, obtendo-se a média inferiores. Cardoso & Silva (2003), característica, valores maiores indicam
por planta); massa de frutos comerciais que testaram 19 híbridos comerciais, um fruto com maior diâmetro, o que é
por planta (pesagem de todos os frutos verificaram que para o cultivo de verão indesejável, pois, para pepino japonês,
classificados como comercial, retos e a produção variou de 17,8 a 25,4 frutos/ desejam-se frutos com diâmetro de até 3
sem defeitos, produzidos na parcela, planta, e no inverno de 16,1 a 26,8 frutos cm. Esta é uma característica do híbrido
obtendo-se a média por planta); número por planta. Já Cardoso (2007) obteve Natsusuzumi, conforme relatado por
total de frutos por planta (contagem dos valores variando de 12,2 a 20,0 frutos/ Cardoso & Silva (2003).
frutos produzidos na parcela, obtendo-se planta; Oviedo et al. (2008) de 14,3 a Para Capacidade Geral de Combi-
a média por planta); número de frutos 21,6 frutos/planta; e Lima (2009) de nação (CGC) do Grupo I (populações
comerciais por planta (contagem dos 13,2 a 27,0 frutos/planta. testadoras) foi observado significância
frutos considerados comerciais na Apenas para as características por- (p<0,01) pelo teste F, apenas para a
parcela, obtendo-se a média por plan- centagem de frutos comerciais (%FC) característica MMFCOM. Já para o
ta); porcentagem de frutos comerciais e massa média de frutos comerciais Grupo II (linhagens) não houve signifi-
(percentual de frutos considerados (MMFCOM) foram observadas dife- cância para a maioria das características,
comerciais em relação ao total colhido renças estatísticas significativas entre exceto para %FC, enquanto para CEC
na parcela) e massa média de frutos co- os tratamentos pelo teste de Scott-Knott (combinações híbridas) não houve sig-
merciais (relação entre massa de frutos (Tabela 1). nificância, pelo mesmo teste, para todas
comerciais e o número destes). A população de Yoshinari (TY), bem as características avaliadas.
A partir dos valores médios de cada como os híbridos experimentais que De acordo com Sprague & Tatum
parcela dos tratamentos, efetuou-se a o tinham como um de seus genitores (1942), baixas estimativas de CGC
análise de variância para as caracterís- (H.Y), com exceção de H3Y, foram esta- indicam genitores em combinações que
ticas avaliadas para os 27 tratamentos. tisticamente semelhantes ao ‘Hokuho’ não diferem muito da média de todos os
As diferenças entre as médias foram (testemunha) e às linhagens L 1, L 2, cruzamentos. Valores elevados de esti-
comparadas pelo teste de Scott-Knott L4, L5 e L7 e superiores a população mativas de CGC (com sinal positivo ou
(p≤0,05). de Natsusuzumi (TN) para a caracte- negativo) indicam um desvio em relação
As estimativas dos efeitos da capaci- rística %FC. Já a maioria dos híbridos ao comportamento médio dos genitores,

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 339


JG Lalla et al.

Tabela 1. Médias em pepino tipo japonês para características de produção de frutos em populações testadoras, linhagens, híbridos experi-
mentais e no híbrido comercial Hokuho (averages in Japanese cucumber for fruit production characteristics of test populations, experimental
lines and hybrids and commercial hybrid Hokuho). São Manuel, UNESP, 2004.
NFC/PL NFT/PL MC/PL (g) MT/PL (g) %FC MMFCOM (g)
Populações testadoras
Yoshinari (TY) 12,4 a 12,9 a 1200 a 1512 a 95,22 a 96,82 b
Natsusuzumi (TN) 10,7 a 12,0 a 1129 a 1536 a 89,31 b 105,72 a
Linhagens ‘Hokuho’
L1 7,5 a 8,0 a 706 a 764 a 95,46 a 94,24 b
L2 9,5 a 9,9 a 896 a 1121 a 97,36 a 95,17 b
L3 7,6 a 8,1 a 704 a 890 a 91,91 b 92,56 b
L4 10,0 a 10,5 a 1033 a 1216 a 94,47 a 103,75 a
L5 7,7 a 8,2 a 877 a 1195 a 93,28 a 113,00 a
L6 9,1 a 10,0 a 983 a 1256 a 90,16 b 107,09 a
L7 10,6 a 11,4 a 1122 a 1410 a 93,65 a 107,56 a
L8 8,3 a 9,8 a 912 a 1257 a 84,09 c 107,64 a
Híbridos experimentais
H1Y 11,4 a 11,7 a 1039 a 1207 a 97,66 a 90,19 b
H2Y 8,8 a 9,2 a 854 a 1107 a 95,12 a 97,86 b
H3Y 11,8 a 12,7 a 1149 a 1530 a 91,79 b 99,40 b
H4Y 11,2 a 11,6 a 1069 a 1233 a 96,12 a 93,13 b
H5Y 7,0 a 7,3 a 698 a 888 a 96,78 a 100,07 b
H6Y 10,2 a 10,5 a 1131 a 1631 a 97,04 a 109,57 a
H7Y 11,1 a 11,6 a 1030 a 1210 a 95,73 a 91,67 b
H8Y 12,2 a 12,8 a 1139 a 1288 a 94,98 a 96,98 b
H1N 9,9 a 10,2 a 1038 a 1235 a 95,78 a 106,14 a
H2N 12,0 a 12,6 a 1230 a 1531 a 95,17 a 102,37 a
H3N 9,4 a 10,0 a 921 a 1280 a 94,64 a 96,87 b
H4N 12,1 a 12,3 a 1135 a 1367 a 98,58 a 93,02 b
H5N 9,4 a 9,9 a 1008 a 1218 a 94,72 a 107,81 a
H6N 9,7 a 10,5 a 1061 a 1435 a 91,96 b 109,73 a
H7N 10,0 a 10,4 a 1008 a 1299 a 95,72 a 100,41 b
H8N 9,6 a 10,4 a 995 a 1359 a 92,74 b 103,41 a
Híbrido ‘Hokuho’ 11,5 a 12,2 a 1151 a 1470 a 94,31 a 100,52 b
CV (%) 26,6 % 26,1 % 28,0 % 25,2 % 4,4 % 7,3 %
*médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem entre si, pelo teste de Scott-Knott, a 5% de probabilidade (*means followed by
the same letter in the column did not differ from each other, Scott-Knott test (p<0,05); NFC/PL= número de frutos comerciais por planta;
NFT/PL= número total de frutos por planta; MC/PL= massa de frutos comerciais por planta (g); MT/PL= massa total de frutos por planta
(g); %FC= porcentagem de frutos comerciais; MMFCOM= massa média de frutos comerciais (g) (NFC/PL= commercial number of fruits
per plant; NFT/PL= total number of fruits per plant; MC/PL= weight of commercial fruits per plant; MT/PL= weight of total fruits per plant;
%FC= percentage of commercial fruits; MMFCOM= average weight of commercial fruits).

no sentido favorável ou desfavorável NFT/PL e NFC/PL em comparação com hectare, o que corresponde a cerca de
com predomínio de efeitos gênicos a população de ‘Natsusuzumi’. Ressalta- 10% de acréscimo na produção.
aditivos, ou seja, genes que podem ser se que os valores não são desprezíveis. Já para MC/PL e MT/PL a popula-
transmitidos e se expressar em seus Por exemplo, para número de frutos ção de Natsusuzumi (TN) apresentou
descendentes. Dessa forma, conforme comerciais por planta, o valor da CGC valor positivo da estimativa de CGC
os resultados observados, em média, foi de 0,2 frutos por planta (Tabela 2). provavelmente por expressar a maior
a população de ‘Yoshinari’ apresenta Para uma população de 20.000 plantas massa média de fruto comercial (Tabela
maior quantidade de genes com efeitos por hectare (espaçamento 1,0 x 0,5), 2). Esse fato revela que, em média, esta
aditivos favoráveis para aumento no a estimativa é obter 40.000 frutos por população apresenta maior quantidade

340 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Capacidade combinatória e heterose de linhagens de pepino do grupo japonês para caracteres de produção

Tabela 2. Estimativa dos efeitos de capacidade geral de combinação (CGC) de parentais, para características de produção de pepino pelo
modelo de pais e F1’s (estimates of the effects of general combining ability (GCA) of parents, for production characteristics of cucumber
by the parents and F1’s model). São Manuel, UNESP, 2004.
NFC/PL NFT/PL MC/PL MT/PL %FC MMFCOM
Populações testadoras
Yoshinari (TY) 0,200 0,122 -6,031 -28,271 0,739 -2,320**
Natsusuzumi (TN) -0,200 -0,122 6,031 28,271 -0,739 2,320
Linhagens ‘Hokuho’
L1 -0,842 -1,058 -109,058 -176,597 1,450** -2,566
L2 0,329 0,217 7,963 3,912 1,558 -2,606
L3 0,271 -0,199 -63,626 -44,964 -0,902 -4,136
L4 0,903 0,774 73,810 29,061 1,330 -1,593
L5 -1,002 -1,089 -61,333 -60,384 0,400 4,612
L6 0,038 0,142 55,107 119,872 -1,057 4,546
L7 0,754 0,789 75,535 78,591 0,515 0,166
L8 0,091 0,424 21,602 50,509 -3,293 1,577
**significativo pelo teste F em nível de 1%; NFC/PL= número de frutos comerciais por planta; NFT/PL= número total de frutos por planta;
MC/PL= massa de frutos comerciais por planta (g); MT/PL= massa total de frutos por planta (g); %FC= porcentagem de frutos comerciais;
MMFCOM= massa média de frutos comerciais (g) (** significant by F test (1%); (NFC/PL= commercial number of fruits per plant; NFT/
PL= total number of fruits per plant; MC/PL= weight of commercial fruits per plant; MT/PL= weight of total fruits per plant; %FC=
percentage of commercial fruits; MMFCOM= average weight of commercial fruits).

Tabela 3. Estimativa da capacidade específica de combinação (CEC) dos híbridos experi- de genes com efeitos aditivos que favo-
mentais de pepino, para características de produção pelo modelo de pais e F1’s (estimates of recem o aumento desta característica,
the specific combining ability (SCA) of experimental hybrids of cucumber, of production o que nem sempre é desejável, pelos
characteristics of parents and F1’s model) São Manuel, UNESP, 2004. motivos já discutidos anteriormente.
Híbridos NFC/PL NFT/PL MC/PL MT/PL %FC MMFCOM As linhagens L1, L2 e L4 apresen-
H1Y 1,810 1,770 124,965 103,963 1,010 -5,606 taram os maiores valores positivos de
estimativa da CGC para % FC (Tabela
H2Y -2,051 -2,004 -177,116 -176,897 -1,638 2,103 2), significando que podem propor-
H3Y 1,549 1,952 189,094 294,640 -2,508 5,173 cionar, em média, uma melhoria na
H4Y -0,184 -0,191 -27,643 -75,805 -0,410 -0,640 qualidade dos frutos nos híbridos, en-
quanto a linhagem L8 apresentou o pior
H5Y -2,469 -2,638 -263,449 -331,220 1,180 -2,905
resultado. De forma geral, as linhagens
H6Y -0,279 -0,579 52,350 230,753 2,897 6,662 L4 e L7 apresentaram os valores mais
H7Y -0,146 -0,166 -68,958 -148,465 0,015 -6,858 favoráveis para CGC, para a maioria das
características avaliadas, significando
H8Y 1,627 1,409 93,835 -42,104 3,074 -2,960
que estas linhagens podem proporcio-
H1N 0,671 0,555 112,233 75,261 0,608 5,703 nar ganhos superiores nos cruzamentos
H2N 1,600 1,650 186,561 190,781 -0,110 1,973 em que participam devido ao acúmulo
H3N -0,360 -0,534 -50,849 -12,002 1,819 -1,997 de genes com efeito aditivo favoráveis
para aumentar a produção de frutos por
H4N 1,106 0,803 25,895 1,883 3,528 -8,391 planta. Por outro lado, as linhagens L1,
H5N 0,311 0,296 34,328 -58,462 0,598 0,194 L3 e L5, expressaram, para a maioria
H6N -0,419 -0,375 -29,692 -21,769 -0,705 2,181 das características, valores negativos
de CGC.
H7N -0,825 -1,082 -103,250 -115,957 1,483 -2,759
H8N -0,532 -0,777 -61,677 -28,005 2,311 -1,171 Também não houve diferença estatís-
tica significativa para as estimativas da
NFC/PL= número de frutos comerciais por planta; NFT/PL= número total de frutos por
planta; MC/PL= massa de frutos comerciais por planta (g); MT/PL= massa total de frutos CEC, para as características avaliadas.
por planta (g); %FC= porcentagem de frutos comerciais; MMFCOM= massa médio de frutos Porém, no geral, os híbridos que conti-
comerciais (g) (NFC/PL= number of commercial fruits per plant; NFT/PL= total number of nham a linhagem L1 como genitora (H1Y
fruits; MC/PL= weight of commercial fruits per plant; MT/PL= weight of total fruits; %FC= e H1N) foram os que apresentaram maio-
percentage of commercial fruits; MMFCOM= average weight of commercial fruits). res valores para CEC, para a maioria das

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 341


JG Lalla et al.

Tabela 4. Heterose em porcentagem dos híbridos em relação a média dos seus parentais, para de uma população de pepino tipo ‘Caipira’.
características de produção de pepino (heterosis in percentage of hybrids on the average of Horticultura Brasileira 24: 259-263.
their parents, for production characteristics of cucumber). São Manuel, UNESP, 2004. CARDOSO AII. 2007. Avaliação de linhagens
e híbridos experimentais de pepino do grupo
Híbridos NFT/PL NFC/PL MT/PL MC/PL MMFCOM %FC varietal japonês sob ambiente protegido.
Bragantia 66: 473-479.
H1Y 23,7 26,5 10,3 18,9 -7,0 2,4
CARDOSO AII; SILVA. N. 2003. Avaliação
H2Y -19,3 -20,1 -15,9 -18,5 1,9 -1,2 de híbridos de pepino tipo japonês sob
ambiente protegido em duas épocas de cultivo.
H3Y 20,8 18,2 27,4 21,6 5,0 -1,9 Horticultura Brasileira 21: 170-175.
H4Y -1,3 0,1 -9,6 -4,2 -4,1 1,3 DAVIS RL. 1927. Report of the plant breeder.
Puerto Rico: Agr. Exp. Sta. p.14-15.
H5Y -31,5 -30,3 -34,4 -32,7 -4,6 2,7 DELANEY DE; LOWER RL. 1987. Generation
H6Y -8,1 -4,6 17,8 3,6 7,5 4,7 means analysis of plant characters in crosses
between two determinate cucumber lines and
H7Y -4,8 -3,7 -17,2 -11,3 -10,3 1,4 Cucumis sativus var. hardwickii. The Journal
H8Y 12,8 18,0 -6,9 7,8 -5,1 5,9 of the American Society for Horticultural
Science 112: 707-711.
H1N 14,2 20,4 11,6 23,8 4,6 3,7 FILGUEIRA FAR. 2003. Novo manual de
olericultura: agrotecnologia moderna na
H2N 15,5 18,5 15,2 21,5 1,9 2,0
produção e comercialização de hortaliças.
H3N -0,4 3,5 5,5 1,3 -2,3 4,4 Viçosa: UFV. 402p.
F I L G U E I R A FA R ; G I O R D A N O , L B ;
H4N 9,7 16,6 -0,6 5,0 -11,2 7,3 FERREIRA, PE; VECHIA, PTD. 1986.
H5N -1,5 1,7 -10,8 0,5 -1,4 3,8 Avaliação de híbridos F1 de pepino do tipo
caipira. Horticultura Brasileira 4: 17-20.
H6N -4,4 -2,0 2,8 0,4 3,1 2,5 GERALDI IO; MIRANDA FILHO JB. 1988.
H7N -10,8 -6,4 -11,8 -10,5 -5,8 4,6 Adapted models for the analysis of combining
ability of varieties in partial diallel crosses.
H8N -4,5 1,4 -2,7 -2,5 -3,1 7,0 Revista Brasileira de Genética 11: 419-30.
NFC/PL= número de frutos comerciais por planta; NFT/PL= número de frutos totais por GHADERI A; LOWER RL. 1978. Heterosis
planta; MC/PL= massa de frutos comerciais por planta (g); MT/PL= massa de frutos totais and phenotypic stability of F 1 hybrids in
controlled environment. The Journal of the
por planta (g); %FC= porcentagem de frutos comerciais; MMFCOM= massa média de frutos
American Society for Horticultural Science
comerciais (g) (NFC/PL= commercial number of fruits per plant; NFT/PL= total number of 103: 275-278.
fruits; MC/PL= weight of commercial fruits per plant; MT/PL= weight of total fruits; %FC= GIORDANO LB; FERREIRA PE; LOPES JF.
percentage of commercial fruits; MMFCOM= average weight of commercial fruits). 1982. Análise dialélica em pepino para mesa,
visando o estudo de características relativas à
características avaliadas (Tabela 3). Isso Em geral, a população de Yoshinari produção. Horticultura Brasileira 3: 16-20.
revela uma boa complementação gênica (TY) foi a que apresentou, em média, a GODOY AR; CASTRO MM; CARDOSO AII.
2009. Desempenho produtivo, partenocarpia
entre esses materiais testados, já que a melhor capacidade de se combinar com e expressão sexual de linhagens de pepino
CEC é, em grande parte, dependente as linhagens de Hokuho, ou seja, há um caipira em ambiente protegido. Horticultura
de locos com efeito de dominância e/ alto potencial de se extrair linhagens Brasileira 27: 150-154.
ou epistasia. Segundo Miranda Filho & de Yoshinari para cruzamentos com GODOY AR; HIGUTI ARO; CARDOSO AII.
2008. Produção e heterose em cruzamentos
Gorgulho (2001), a CEC é interpretada linhagens de Hokuho, a fim de se obter
entre linhagens de pepino do grupo caipira.
como um efeito na expressão do híbrido híbridos tão bons ou melhores que o Bragantia 67: 817-825.
que é adicional aos efeitos da CGC, Hokuho, isto é, com elevado potencial HUTCHINS AE. 1938 Some examples of heterosis
podendo melhorar ou piorar a expressão produtivo. in cucumber Cucumis sativus L. Proceedings
do híbrido em relação ao efeito esperado Da mesma forma, as linhagens L7 of the American Society for Horticultural
com base somente nas CGC. Science 36: 660-664.
e L4 foram as que revelaram os maio-
Para a maioria das características IEA - Instituto de Economia Agrícola e
res valores positivos de CGC para a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral.
avaliadas, exceto para massa média maioria das características avaliadas, 2009, Disponível em www.iea.sp.gov.br/out/
de frutos comerciais e porcentagem significando que essas linhagens, nos banco/menu.php, acessado em 03/08/2009.
de frutos comerciais, foi observada cruzamentos em que participam, tendem JENKINS MT; BRUNSON AM. 1932. Methods
heterose positiva para os híbridos H1Y of testing inbred lines of maize in crossbred
a proporcionar maior acúmulo de genes combinations. American Society of Agronomic
e H3Y, variando de 2,4 a 27,4% (Tabela com efeito aditivo favoráveis, podendo Journal 24: 523-530.
4). Tendência semelhante para essas ser consideradas linhagens interessantes KOCH PS. 1995. Análise genética de um
características foram observadas por em futuras combinações com linhagens cruzamento dialélico em abobrinha (Cucurbita
Pinto (1978), Giordano et al. (1982), obtidas a partir do híbrido Yoshinari. pepo L.). Piracicaba: USP-ESALQ. 79p. (Tese
Filgueira et al. (1986), Cui et al. (1992), mestrado).
Li et al. (1995), Godoy et al. (2008) e LI JW; LI JW; WEI ZD. 1995. Genetic analysis
Lima (2009). Por sua vez, o híbrido H5Y REFERÊNCIAS for major agronomic characters in cucumber
(Cucumis sativus L.). Acta Horticulturae 402:
revelou os menores valores de heterose, 388-391.
variando de -4,6 a -4,4%. CARDOSO AII. 2006. Dialelo entre linhagens LIMA ATS. 2009 Análise dialélica entre linhagens

342 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Capacidade combinatória e heterose de linhagens de pepino do grupo japonês para caracteres de produção

de pepino do tipo japonês. Botucatu: FCA- plantas. Rondonópolis: Fundação MT. p. de pepino (Cucumis sativus L.). Piracicaba:
UNESP. 48p. (Tese Mestrado). 327-356. USP-ESALQ. 57p. (Tese mestrado).
LOWER RL; NIENHUIS J; MILLER CH. MIRANDA FILHO JB; GORGULHO EP. 2001. ROBINSON RW; DECKER-WALTERS DS. 1999.
1982. Gene action and heterosis for yield Cruzamentos com testadores e dialelos. Cucurbits. Cambridge: CAB International.
and vegetative characteristics in a cross In: NASS LL; VALOIS ACC; MELO IS; 226p.
between a gynoecious pickling cucumber VALADARES MC. (eds). Recursos genéticos SPRAGUE GF; TATUM LA. 1942. General vs.
inbred and a Cucumis sativus var. hardwickii e melhoramento – plantas. Rondonópolis: specific combining ability in single crosses
line. The Journal of the American Society for Fundação MT, p.650-671. of corn. Journal of the American Society of
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híbridos F 1 em hortaliças. In: NASS LL; japanese cucumber population. Scientia adubação e calagem para o Estado de São
VALOIS ACC; MELO IS; VALADARES MC. Agricola 65: 553-556. Paulo. Campinas: IAC. 258p. (Boletim
(eds). Recursos genéticos e melhoramento: PINTO CABP. 1978. Híbridos simples e triplos técnico, 100).

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 343


Comunicação científica / Scientific communication
OLIVEIRA AP; SILVA JA; OLIVEIRA ANP; SILVA DF; SANTOS RR; SILVA NV. 2010. Produção do maxixeiro em função de espaçamentos entre fileiras
e entre plantas. Horticultura Brasileira 28: 344-347.

Produção do maxixeiro em função de espaçamentos entre fileiras e entre


plantas
Ademar P de Oliveira1;4; Jandiê A da Silva2; Arnaldo Nonato P de Oliveira3; Damiana F da Silva3; Rodolfo
R Santos3; Natália V da Silva3;4
1
UFPB-CCA, C. Postal 02, 58397-000 Areia-PB; 2UFPB, Progr. Pós-graduação em Agronomia; 3UFPB, Graduação em Agronomia;
4
Bolsistas CNPq; ademar@pp.cnpq.br

RESUMO ABSTRACT
Avaliou-se o rendimento do maxixeiro, cultivar Nordestino, em Gherkin yield influenced by spacing between rows and
diferentes espaçamentos entre fileira e entre plantas, em experimento between plants in a row
na UFPb, em Areia-PB, de agosto/2007 a janeiro/2008. O delinea- The yield of the gherkin cv. Nordestino was evaluated with
mento experimental utilizado foi de blocos casualizados sendo os different spacings between rows and plants in a row in an essay which
tratamentos dispostos no esquema fatorial 3 x 4, compreendendo was carried out at the Universidade Federal da Paraíba, Brazil, from
três espaçamentos entre fileiras (1; 2 e 3 m) e quatro espaçamentos August/2007 to January/2008. The randomized block experimental
entre plantas (0,5; 1,0; 1,5; e 2,0 m), em quatro repetições. A parcela design was used and the treatments were arranged in the factorial
experimental foi composta de quatro fileiras de dez plantas totalizando scheme 3 x 4 - three spacings between rows (1.0; 2.0; and 3.0 m) and
40 plantas, com uma planta por cova, sendo as duas fileiras centrais four spacings between plants (0.5; 1.00; 1.5; and 2.0 m) - with four
consideradas como área útil. Foram avaliados a massa média de replicates. The experimental plot comprised four rows with ten plants
frutos comerciais, o número e a produção de frutos comerciais por in each one, totaling 40 plants, with one plant per hole. Two central
planta e a produtividade comercial de frutos. No espaçamento de 0,5 rows were considered as the useful area. The evaluated variables were
m entre plantas, houve redução em todas as características avaliadas the average mass of commercial fruits, the number and production of
com incremento dos espaçamentos entre fileiras. Os valores mais the commercial fruits plant-1 and the commercial productivity of fruits.
elevados para a massa média de frutos (38 g), número (78 frutos) e Setting 0.5 m between plants, all the characteristics under evaluation
produção de frutos por planta (36 e 34 kg) foram obtidos, respec- decreased as consequence of increasing spacings between rows. The
tivamente, nos espaçamentos de 2,0 e 3,0 m entre fileiras e 1,0 m highest values for average fruit mass (38 g), number of fruits (67 and
entre plantas. As maiores produtividades comerciais de frutos, 16 e 78) and productivity of fruits plant-1 (36 and 34 kg) were obtained at
12,9 t ha-1, ocorreram nos espaçamentos de 1,0 e 1,5 m entre plantas, spacings of 2.0 and 3.0 m between rows and 1.0 m between plants,
combinados, respectivamente, com 2,0 e 1,0 m entre fileiras, enquanto respectively. The highest productivities of commercial fruits (16 and
que o maior espaçamento entre plantas (2,0 m) promoveu redução 12.9 t ha-1) were obtained with 1.0 and 1.5 m between plants and
na produtividade de frutos. 2.0 and 1.0 m between rows. On the other hand, the highest spacing
between plants (2.0 m) reduced fruit productivity.

Palavras-chave: Cucumis anguria L., densidade de plantas, ren- Keywords: Cucumis anguria L., plant density, yield.
dimento.

(Recebido para publicação em 26 de agosto de 2009; aceito em 10 de agosto de 2010)


(Received on August 26, 2009; accepted on August 10, 2010)

O maxixe (Cucumis anguria L.) é


uma cultura de origem africana,
bastante cultivada no norte e nordeste do
não ser habitual, essa hortaliça também
pode ser consumida in natura na forma
de salada, substituindo com vantagem
para interceptar o máximo de radiação
solar útil à fotossíntese e, ao mesmo
tempo, maximizar a fração da matéria
Brasil. Produz frutos sem sabor amargo o pepino por ser menos indigesta. seca disponível para os frutos. Nesse
e com variações quanto à espiculosidade Sua maior potencialidade seria para sentido, a população de plantas atua
e ao tamanho, geralmente com massa o segmento de consumo em conserva na penetração da radiação solar e no
média de 30 g (Pimentel, 1985). Sua na forma de picles (Baird & Thieret, equilíbrio entre crescimento das partes
forma de consumo está associada à 1988; Koch & Costa, 1991; Robinson vegetativas e dos frutos. Alteração na
culinária tradicional do nordeste, onde & Decker-Walters, 1997). população de plantas ou no aumento da
o fruto maduro é cozido com outros A população ideal de plantas a ser disponibilidade de radiação solar afeta
ingredientes, originando o prato típico empregada é aquela suficiente para indiretamente a distribuição da matéria
denominado “maxixada”. Apesar de atingir o índice de área foliar ótimo seca entre os órgãos da planta (Resende
344 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul. - set. 2010
Produção do maxixeiro em função de espaçamentos entre fileiras e entre plantas

& Flori, 2004). De acordo com Marcelis entre plantas sobre o seu rendimento. normais para a cultura, incluindo irriga-
(1993), de forma indireta, esse efeito ção por aspersão, com turno de rega de
ocorre mediante alterações no número MATERIAL E MÉTODOS três vezes por semana, nos períodos de
de frutos em crescimento, os quais mo- ausência de precipitação e capinas com
dificam a capacidade de absorção de O experimento foi conduzido em auxílio de enxadas. Não foram efetua-
nutrientes pela planta. condições de campo no período de das aplicações de defensivos devido à
No tocante à densidade de plantio, agosto/2007 a janeiro/2008, em campo ausência de pragas ou de doenças.
as pressões exercidas pela população da Universidade Federal da Paraíba, As colheitas, em número de dez,
de plantas afetam de modo marcante o em Areia-PB, localizada a 6º 18’ 12” S foram iniciadas aos 60 dias após a se-
seu desenvolvimento. Quando a den- e 32º 18’ 15” W, em altitude de 560 m. meadura, prolongando-se ate 110 dias,
sidade de plantas por unidade de área O clima é do tipo As’ segundo Köppen, quando os frutos se encontravam ima-
aumenta, atinge-se um ponto no qual quente e úmido, com precipitação média turos e com coloração verde intensa. Os
as plantas competem por fatores essen- anual de 1400 mm. frutos colhidos foram transportados para
ciais de crescimento, como nutrientes, O solo utilizado foi classificado o galpão, para avaliação das característi-
luz e água (Janick, 1968). No pepino, a como Neossolo Regolítico psamítico cas peso médio, número e produção de
produção de frutos depende diretamente típico (Embrapa, 1999), de textura frutos por planta e produtividade comer-
do comportamento vegetativo da planta, franco, e foi preparado para plantio por cial de frutos. Como ainda não existem
que é responsável pela produção dos meio de capina e abertura de covas. As relatos sobre o padrão comercial de
assimilados (Resende & Flori, 2004). análises químicas na camada de 0-20 frutos para o maxixeiro, considerou-se
Nessa mesma hortaliça, de acordo cm foram realizadas conforme Embrapa comercial o fruto que apresentava colo-
com Schvambach et al. (2002), para (1997), resultando em pH (H2O)=5,4; P ração verde intensa, massa acima de 15
maximizar a produção de frutos, é ne- disponível = 9,93 mg dm-3; K = 38,37 g e ausência de barriga branca (mancha
cessário atingir o potencial máximo de mg dm-3; Ca+2 + Mg+2= 3,2 cmolc dm-3; branca devido o contato com o solo) e
assimilados ao nível da planta inteira e, H + Al trocável = 2,30 cmolc dm-3 e ma- ausência de radiação solar, conforme
em seguida, alocar para os frutos a maior téria orgânica = 13,5 kg dm-3. De acordo Modolo & Costa (2003). Os dados fo-
fração possível desses assimilados. com a análise física, o solo apresentou ram submetidos à análise de variância e
No meloeiro, o espaçamento entre as características: areia = 841,50 g kg-1; as médias comparadas pelo teste Tukey,
plantas tem influência no número e silte = 88,00 g kg-1; argila = 70,50 g ao nível de 5% de probabilidade.
tamanho de frutos, e proporciona alta kg-1; densidade do solo = 1,37 kg dm-3;
eficiência produtiva. Nessa hortaliça, densidade de partículas = 2,61 g dm-3 e RESULTADOS E DISCUSSÃO
Farias (1988) constatou que, aumen- porosidade total = 0,47 m3 m-3.
tando os espaçamentos entre plantas de O delineamento experimental uti- Houve efeito significativo (p<0,05)
melão para 0,30, 0,45, 0,60 e 0,75 m lizado foi de blocos casualizados, em dos espaçamentos entre plantas e entre
em fileiras com espaçamento de 0,80 m, esquema fatorial 3 x 4, com três espaça- fileiras sobre todas as características
aumentou a massa média dos frutos e a mentos entre fileiras (1,0; 2,0 e 3,0 m), e avaliadas. Verificou-se que os menores
porcentagem de plantas produtivas. No quatro espaçamentos entre plantas (0,5; valores para o peso médio de frutos,
pepino, Resende & Flori (2004) verifica- 1,0; 1,5 e 2,0 m), em quatro repetições. independente dos espaçamentos entre
ram comportamento linear negativo na As parcelas continham quatro fileiras fileiras, foram obtidos no espaçamento
produtividade de frutos com o incremen- de dez plantas, sendo consideradas nas 0,5 m entre plantas. Em cucurbitáceas,
to do espaçamento entre plantas. avaliações as duas fileiras centrais. A de forma geral, altas densidades de plan-
O maxixe vem sendo cultivado ao instalação da cultura foi realizada por tio produzem grande número de frutos
longo dos anos em quase todo o país, meio de semeadura direta, colocando- por área, porém com massa reduzida.
em áreas marginais de pequenos agri- se quatro sementes por cova da cultivar Esse fato, segundo Robinson & Walters
cultores e em fundos de quintais, sem Nordestino (Hortivale), realizando-se (1997), tem sido atribuído principal-
nenhuma tecnologia, principalmente desbaste quinze dias após, para duas mente às pressões de competição inter e
sem o uso de espaçamento adequa- plantas por cova. intraplantas. As maiores massas médias
do (Martins, 1986). As informações Conforme recomendação laborato- de frutos foram alcançadas no espaça-
existentes sobre espaçamentos para a rial, a adubação de plantio constou da mento de 1,0 entre plantas e 1,0 (38 g)
espécie foram feitas para as condições aplicação de 15 t ha-1 de esterco bovino, e 2,0 m (38 g) entre fileiras (Tabela 1).
das regiões Norte por Pimentel (1985) e 100 kg ha-1 de P2O5 e 60 kg ha-1 de K2O. Essa massa média é superior à verificada
Sudeste por Filgueira (2000). Portanto, Em cobertura foi fornecido 80 kg ha-1 de por Pimentel (1985), para as condições
como não há informações sobre o es- nitrogênio parcelado em partes iguais da Amazônia (36 g), porém, em espaça-
paçamento no maxixeiro em sistema de aos 30 e 60 dia, após a semeadura. Fo- mento elevado (3,0 x 2,0 m).
cultivo convencional (prostrado) para as ram utilizados como fontes de P2O5, K2O Resultados semelhantes foram obti-
condições edafoclimáticas de Areia-PB, e N, superfosfato simples, cloreto de dos para o número de frutos por planta.
o presente trabalho objetivou determinar potássio e sulfato de amônio, respectiva- No entanto, os mais elevados números
o efeito de espaçamentos entre fileiras e mente. Realizaram-se os tratos culturais de frutos por planta verificaram-se

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 345


AP Oliveira et al.

Tabela 1. Produção de maxixeiro influenciada pelo espaçamento entre fileiras e entre plantas combinados com os espaçamentos de
na fileira. (Gherkin yield influenced by spacing between rows and between plants in a row). 2,0 (16 t ha-1) e 1,0 m (12,9 t ha-1) entre
Areia, CCA-UFPB, 2008. fileiras. No maior espaçamento entre
Espaçamentos Espaçamentos entre plantas (m) plantas (2,0 m), as produtividades foram
entre fileiras (m) 0,5 1,0 1,5 2,0 baixas, semelhantes àquelas obtidas
Massa média de frutos comerciais (g) no espaçamento de 0,5 m (Tabela 1).
Em pepino, Resende & Flori (2004)
1,0 15 c 27 b 36 a 28 a
verificaram redução na produtividade
2,0 18 b 38 a 36 a 19 b de frutos com elevação de espaçamento
3,0 19 a 38 a 33 b 28 a entre plantas, e maiores produtividades
CV (%) 8,6 em espaçamentos intermediários. Em
Número de frutos por planta maxixe, Leal & Rego (2001) obtiveram
1,0 23 c 64 b 69 a 65 a redução no rendimento do maxixeiro
cultivado em espaçamentos entre plan-
2,0 49 a 67 b 60 b 50 b
tas a partir de 2,0 até 4,0 m. Todas as
3,0 43 b 78 a 73 a 55 b produtividades de frutos, independente
CV (%) 15,2 dos espaçamentos, ficaram dentro da
Produção de frutos por planta (kg) média ideal (4-5 t ha-1) para o maxixeiro,
1,0 1,4 b 2,9 a 2,7 a 2,8 a conforme Filgueira (2000), e as maiores
superaram a produtividade média para
2,0 2,0 b 3,6 a 3,0 a 2,2 b
o estado de São Paulo de 12 t ha-1, de
3,0 2,6 a 3,4 a 3,2 a 2,7 a acordo com Martins (1986).
CV (%) 16,6 De forma geral, os espaçamentos de
Produtividade comercial (t ha-1) 2,0 x 1,0 e 1,5 x 1,0 m foram aqueles
1,0 4,6 b 10,0 b 12,9 a 5,2 b que mais se destacaram em relação à
2,0 5,4 ab 16,0 a 9,6 b 6,6 a produtividade de frutos no maxixeiro,
3,0 6,4 a 11,0 b 7,5 b 4,8 c indicando que, para as condições de
clima e solo semelhantes a do presente
CV (%) 11,5 estudo, tais espaçamentos seriam os
Médias seguidas das mesmas letras nas colunas, não diferem pelo teste de Tukey, a 5% de mais indicados para o cultivo dessa
probabilidade (values followed by the same letters, in columns, did not differ by Tukey test hortaliça.
at 5% of probability).

REFERÊNCIAS
quando se utilizou 1,0 e 1,5 m entre valores inferiores em relação aos espa-
plantas e 3,0 m entre fileiras, 78 e 73 çamentos intermediários (1,0 e 1,5 m), BAIRD JR; THIERET JW. 1988. The bur
frutos, respectivamente, demonstrando demonstrando que nesse espaçamento gherkin (Cucumis anguria var. anguria,
Cucurbitaceae). Economy Botany 42: 447-
que o maxixeiro necessita de maior área entre plantas, mesmo sendo aumentado 451.
para produzir mais frutos por planta o espaçamento entre fileiras, o maxixeiro EMBRAPA. 1997. Manual de métodos de análise
(Tabela 1). De acordo com Robinson não terá sua produtividade incrementada de solo. Rio de Janeiro: Serviço Nacional
& Walters (1997), em cucurbitáceas (Tabela 1), possivelmente pelas pressões de Levantamento e Conservação de Solos.
altas populações de plantas produzem exercidas pela população de plantas que 212 p.
grande número de frutos por área, mas afetam de modo marcante o seu desen- EMBRAPA. 1999. Sistema Brasileiro de
Classificação de Solos. Brasília: Embrapa
baixo número de frutos comerciais. No volvimento. Em pepino, de acordo com
Informação Tecnológica. 412 p.
espaçamento de 2,0 m entre plantas, Gebologlu & Sagllam (2002), quando
FARIAS JRB. 1988. Comportamento da cultura
ocorreu redução no número de frutos a densidade de plantas por unidade de do melão em estufa plástica, sob diferentes
por planta. Esse resultado é concordante área aumenta, é provável que se atinja níveis de espaçamento, raleio e cobertura do
com aqueles obtidos por Peil & Lopez- um ponto no qual as plantas competem solo. UFP. 80p. (Tese mestrado).
Galvez (2002) e Resende & Flori (2004) por fatores essenciais de crescimento, FILGUEIRA FAR. 2000. Novo Manual de
em pepino, quando observaram redução como nutrientes, luz e água, reduzindo Olericultura. Viçosa: UFV. 402 p.
no número de frutos por metro quadrado sua capacidade produtiva. GEBOLOGLU N; SAGLLAM N. 2002. The
effect of different plant spacing and mulching
com o incremento do espaçamento entre Nos espaçamentos intermediários materials on the yield and fruit quality of
plantas. entre plantas, 1,0 e 1,5 m, não houve pickling cucumber. Acta Horticulturae 579:
A produção de frutos comerciais por diferença significativa para a produção 603-607.
planta e a produtividade comercial de JANICK J. A ciência de horticultura. 1968. Rio
de frutos por planta, mas foram superio-
de Janeiro: Freitas Bastos. 485 p.
frutos aumentaram com a elevação dos res aos espaçamentos de 0,5 e 2,0 m, e KOCH PS; COSTA CP. 1991. Herança de
espaçamentos entre fileiras, no espaça- responsáveis pelas mais elevadas produ- caracteres de planta e fruto em maxixe.
mento de 0,5 m entre plantas, mas com tividades comerciais de frutos, quando Horticultura Brasileira 9: 73-77.

346 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Produção do maxixeiro em função de espaçamentos entre fileiras e entre plantas

LEAL FR; RÊGO MCA. 2001. Influência de Modolo VA; Costa cp. 2003. Maxixe: e qualidade de cultivares de pepino para
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Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 347


BARBOZA VC; VIEIRA MC; HEREDIA ZÁRATE NA; PADOVEZZI VH; SANTOS MJG. 2010. Cama-de-frango em mono e policultivo de fáfia com
cravo-de-defunto e manjericão. Horticultura Brasileira 28: 348-354.

Cama-de-frango em mono e policultivo de fáfia com cravo-de-defunto e


manjericão
Valdenise C Barboza2; Maria do Carmo Vieira2,3; Néstor A Heredia Zárate2,3; Victor Hugo Padovezzi4;
Maicom Jorge G dos Santos4
2
UFGD, C. Postal 533, 79804-970 Dourados-MS; 3Bolsistas CNPq; 4Alunos, Curso de Agronomia, Faculdades Anhanguera de Dourados;
valcarbonari@hotmail.com; mariavieira@ufgd.edu.br

RESUMO ABSTRACT
O experimento foi conduzido em campo da Universidade Fede- Poultry manure in mono and intercrop of Brazilian ginseng
ral da Grande Dourados (UFGD), em Dourados-MS, de março de with marigold and basil
2005 a setembro de 2006, em Latossolo Vermelho distroférrico. O This study was carried out in field of the Universidade Federal
objetivo foi avaliar a produção da Pfaffia glomerata (Spreng) Peder- da Grande Dourados, in Dourados, Brazil, during the period
sen (fáfia) em monocultivo e os policultivos com Tagetes erecta L. from March 2005 to September 2006. The aim of the experiment
(cravo-de-defunto) e Ocimum basilicum L. (manjericão), sem e com was to evaluate Pfaffia glomerata (Spreng) Pedersen yield under
incorporação de cama-de-frango semidecomposta. Os fatores em monocropping system or intercropped with Tagetes erecta L. and
estudo foram a fáfia (F), o cravo-de-defunto (C) e o manjericão (M) Ocimum basilicum L, in a Distroferric Red Latosol (sand loam Rhodic
em monocultivos e os policultivos com duas fileiras de fáfia e três de Oxisol), using semi-decomposed poultry manure (PM). The study
cravo (F2C3) e duas fileiras de fáfia e três de manjericão (F2M3), todos objects were Brazilian ginseng (BG), marigold (M) and basil (B)
sem e com incorporação ao solo de cama-de-frango de corte semi- under monocropping and the intercropping of two Brazilian ginseng,
decomposta. Os dez tratamentos foram arranjados no delineamento three marigold (BG2M3) and three basil (BG2B3) lines, all of them
blocos casualizados, com quatro repetições. A produção de massa with or without semi-decomposed poultry manure (PM) as fertilizer.
fresca e seca da parte aérea da fáfia foi maior (13,22 t ha-1 e 4,39 t ha-1, Ten treatments were arranged in randomized blocks design, with four
respectivamente) em monocultivo, independente do uso da cama-de- replications. Fresh and dry weight production from shoot of Brazilian
frango. Por outro lado, nenhum dos tratamentos influenciou a massa ginseng were higher (13.22 t ha-1 and 4.39 t ha-1, respectively)
fresca e seca e o número de raízes da fáfia, que foram, em média, de under monocropping, independently of the use of poultry manure.
10,02 e 2,07 t ha-1 e 417.916 raízes ha-1, respectivamente. O diâmetro Nevertheless, none of experimental designs influenced the dry
das raízes foi maior (23,5 mm) no policultivo com o manjericão. As and fresh weight production or root number of Brazilian ginseng
produções de massas frescas e secas dos capítulos florais do cravo- which produced average values of 10.02 and 2.07 t ha-1 and 417,916
de-defunto foram maiores (14,28 t ha-1e 1,278 t ha-1, respectivamente) roots ha-1, respectively. Root diameter was higher (23.5 mm) under
no policultivo com a fáfia, mas apenas a produção de massa fresca intercropping system with basil. Dry and fresh weight of marigold
dos capítulos foi maior (14,17 t ha-1) com o uso da cama-de-frango. flowers were higher (14.28 t ha-1and 1.278 t ha-1, respectively) when
A produção de parte aérea do manjericão foram maiores (52,91 t intercropped with Brazilian ginseng, but only fresh weight of the
ha-1) no policultivo, independente com qual espécie; porém, não foi flowers was increased (14.17 t ha-1) by poultry manure application.
influenciada pelo uso da cama-de-frango. A razão de área equivalente Basil shoot production was higher (52.91 t ha-1) when intercropped,
(RAE) para o policultivo da fáfia com o cravo-de-defunto foi de 2,15 independently of the used species; however, they were not influenced
com cama-de-frango e de 1,99 sem cama e com o manjericão, foi by the use of poultry manure. Land equivalent ration (LER) for the
2,44 com cama e de 3,08 sem cama. Como os valores foram maiores Brazilian ginseng intercropped with marigold was 2.15 under poultry
que 1,0, indicam que os policultivos foram efetivos. manure application and 1.99 without it, and for the basil 2.44 under
poultry manure application and 3.08 without it. Values higher than
1.0 indicate that the intercropping systems were effective.

Palavras-chave: Pfaffia glomerata, Tagetes erecta, Ocimum basili- Keywords: Pfaffia glomerata, Tagetes erecta, Ocimum basilicum,
cum, associação de culturas. intercrops.

(Recebido para publicação em 28 de novembro de 2008; aceito em 17 de agosto de 2010)


(Received on November 28, 2008; accepted on August 17, 2010)

A Pfaffia glomerata (Spreng)


Pedersen (fáfia), Amarantha-
ceae, é uma espécie de clima tropical,
entre 1200 a 1500 mm anuais e altitudes
de até 1000 m. É frequente no Cerrado
e outros biomas do Mato Grosso do
Sul e Paraná. Está adaptada aos ciclos de
cheia e seca dessas áreas, apresentando
plasticidade às mudanças ambientais,
embora possa adaptar-se ao subtropical. Sul, incluindo o Pantanal, nas margens que podem facilitar sua exploração e
Ocorre em todo o Brasil e países limí- e ilhas do Rio Paraná, Paranapanema e cultivo. Por isso, é natural o grande
trofes, com precipitação pluviométrica Ivaí, entre São Paulo, Mato Grosso do número de formas e variedades dentro
1
Parte da tese de doutorado da primeira autora, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Agronomia-UFGD.

348 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Cama-de-frango em mono e policultivo de fáfia com cravo-de-defunto e manjericão

da espécie, pela ampla distribuição prática tradicional de produção de de alimentos e bebida, além da indústria
geográfica, ocupando condições eda- alimentos e biomassa nas regiões tro- de cosméticos. Apresenta propriedades
foclimáticas distintas (Corrêa Júnior picais, onde pequenas propriedades e inseticidas, repelentes e antimicrobia-
& Ming, 2001; Corrêa Júnior & Ming, operações intensivas predominam. A nas, daí seu uso na conservação de grãos
2004; Kamada et al., 2009). fáfia tem ciclo de cultivo relativamente (Fernandes et al., 2004; Carvalho Filho
A importância medicinal e econô- longo, podendo as raízes ser colhidas a et al., 2006).
mica da fáfia, na forma de fitomedica- partir do primeiro até o quinto ano após Luz et al. (2009) utilizaram cama-
mentos e suplementos alimentares, é o plantio (Corrêa Júnior & Ming, 2004) de-frango nas doses 2, 4, 6, 8 e 10 kg
demonstrada pela ampla industrializa- e considerando que nos primeiros meses m-2 em dois genótipos de manjericão e
ção e comercialização de seus produtos, o solo fica descoberto em grande exten- não observaram influência significativa
que são encontrados na maioria das são, pode ser estudada a possibilidade de nas alturas das plantas, no comprimento
farmácias e drogarias brasileiras, o que policultivo dessa espécie com outras que e largura das folhas nem no teor de óleo
tornou-se ameaça às populações naturais cobrem mais rapidamente o solo, dentre essencial. Por outro lado, houve influên-
devido ao uso das raízes e, principal- elas Tagetes erecta (cravo-de-defunto) e cia no teor de linalol do óleo essencial
mente, devido ao extrativismo. Dentre Ocimum basilicum (manjericão). dos dois genótipos estudados. Blank et
os vários usos populares das raízes da Espécies de Tagetes sp., conhecidas al. (2005) estudaram cinco tipos de adu-
fáfia, alguns têm sido referendados como “flor dos mortos” e cravo-de-de- bação (adubo formulado Hortosafra®,
cientificamente, dentre eles, proteção da funto, possuem óleos essenciais usados esterco de galinha, esterco de galinha
mucosa gástrica; atividade tônica, afro- como condimento, corante de alimentos, + Hortosafra®, esterco bovino, esterco
disíaca, antinociceptiva, antinflamatória inseticida, fungicida, para controlar bovino + Hortosafra®) e três horários
e adaptógena, contra estresses físico e ervas daninhas e como fonte de pig- de colheita (8:00, 12:00 e 16:00 h) na
mental (Russowski & Nicoloso, 2003; mento para ração de galinhas, visando produção de Ocimum basilicum L. cv.
Freitas et al., 2004; Marques et al., intensificar a cor amarela das gemas dos Genovese. A massa seca da parte aérea
2004; Neto et al., 2005; Otofuji et al., ovos. Têm sido usadas para controlar das plantas foi significativamente maior
2005; Mendes & Carlini, 2007; Freitas fitonematóides e a maioria dos estudos quando foram adubadas com Hortosa-
et al., 2008; Freitas et al., 2009). indica que essas plantas são muito fra® e esterco de galinha, em relação ao
A produtividade da fáfia é maior em eficientes, especialmente, contra as es- esterco bovino. O horário de colheita
substratos à base de cama-de-frango e pécies de Pratylenchus e Meloidogyne das plantas não influenciou significa-
terriço, na proporção de 1:1, por favo- (Medina et al., 1993; Gutiérrez et al., tivamente o teor e rendimento de óleo
recerem a formação de maior número 2006). Em melão, T. patula serviu como essencial.
e tamanho de raízes, mais compridas, planta atrativa para Neohydatothrips sp.; Nenhum trabalho foi encontrado na
embora com menor diâmetro. Plantas Frankliniella sp. 1; Caliothrips sp. e F. bibliografia consultada com policultivo
cultivadas na mistura de esterco de aves schultzei (Thysanoptera) e, dessa forma, de fáfia com Tagetes e, ou com manjeri-
e terriço, na proporção de 1:5 e 1:3, pro- pode ser recomendado para plantio na cão. Por isso, objetivou-se com a realiza-
duziram 3,7 e 3,5 vezes mais massa seca, bordadura do cultivo principal para re- ção deste trabalho avaliar o crescimento
respectivamente, do que as plantas não duzir a infestação por espécies fitófagas e a produção da Pfaffia glomerata em
cultivadas com esterco (Bentes et al., de tripes (Peres et al., 2009). mono e policultivo com Tagetes erecta
2000). Nascimento et al. (2007) avalia- Tagetes são usadas em rotação de e Ocimum basilicum, cultivados em solo
ram a produção da fáfia e da tansagem, culturas, mas, em muitas situações, sem e com cama-de-frango.
em mono e policultivo e verificaram funcionam muito bem em policultivo.
que a razão de área equivalente (RAE) A produção do tomate em policultivo
MATERIAL E MÉTODOS
foi de 1,07, para o policultivo de três com Tagetes erecta foi maior do que
fileiras de tansagem alternadas com duas no monocultivo, devido ao aumento da
fileiras de fáfia (T3F2) espaçadas de 36 taxa fotossintética líquida, maior teor O experimento foi desenvolvido
cm, considerando as produtividades de de clorofila, maior espessura das folhas em campo da Universidade Federal da
massa fresca das folhas de tansagem e em consequência, maior número de Grande Dourados em Dourados-MS
e das raízes de fáfia [RAE T3F2(36) = cachos e de frutos (Gómez-Rodriguez, de março de 2005 a setembro de 2006.
1,07]. A RAE para o policultivo quatro 2007). Situa-se em latitude de 22º11 43”S,
fileiras de tansagem alternadas com duas O manjericão pode ser utilizado longitude de 54º56 08”W e altitude de
fileiras de fáfia (T4F2) espaçadas de 54 como planta medicinal, aromática ou 458 m. O clima da região, segundo a
cm foi de 1,50, indicando, nos dois ca- condimentar in natura e processado, classificação de Köppen, é Mesotérmico
sos, a viabilidade do policultivo. como folhas secas inteiras ou moídas Úmido; do tipo Cwa, com temperaturas
A intensa exploração predatória das como fonte de óleo essencial valorizado e precipitações médias anuais variando
reservas naturais justifica a elaboração no mercado internacional pelo alto teor de 20 a 24oC e de 1250 mm a 1500 mm,
de planos de manejo ou projetos de de linalol. O óleo essencial, obtido da respectivamente.
cultivo para a fáfia. Dentre eles, poderia destilação de folhas e inflorescências, é O solo é do tipo Latossolo Vermelho
ser utilizado o policultivo de espécies, utilizado na culinária e na aromatização Distroférrico, de textura argilosa, com

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 349


VC Barboza et al.

as seguintes características químicas, na área nativa em Dourados. O manjericão triplas, tanto no monocultivo (Figura
profundidade de 0-20 cm: pH em água de folha miúda e o cravo-de-defunto 1B) quanto no policultivo com a fáfia
= 5,1; pH em CaCl= 4,5; M.O.= 31,2 são cultivares comerciais adquiridos (Figura 1C), com espaçamentos de 0,33
g kg-1; P= 24 mg dm-3; e 5,0; 6,9; 22,9; da Feltrin. m entre fileiras simples e 0,83 m entre
16,3; 72,0; 34,0 e 106,10 mmol dm-3 de As mudas das três espécies em es- fileiras triplas. Os espaçamentos entre
K, Al, Ca e Mg, H+Al, SB e CTC, res- tudo foram produzidas em bandejas de plantas dentro das fileiras foram de 20
pectivamente. Os resultados das análises poliestireno expandido de 128 células, cm para o cravo-de-defunto e 40 cm para
físicas do solo foram 760,0; 90,9; 89,2 e utilizando-se o substrato comercial o manjericão.
60,2 g kg-1 de argila, silte, areia grossa Plantmax®. O transplante do cravo-de- Durante a condução do experimento,
e areia fina, respectivamente; densidade defunto e do manjericão ocorreu quando as irrigações foram feitas utilizando-se
do solo = 1,12 e densidade de partículas as mudas atingiram cerca de 10 cm de o sistema de aspersão, com o intuito de
= 2,08. A cama-de-frango apresentou C altura e apresentavam de quatro a cinco manter o solo sempre úmido, sem exata
orgânico = 20,56 g kg-1 e 28,50; 24,30; folhas definitivas, aos 25 dias após a determinação quantitativa, sendo que
1,87 g kg-1 de P, K e N, respectivamente, semeadura (DAS) e o transplante da na fase inicial, até as plantas de fáfia
além de relação C/N= 10,99. fáfia foi quando apresentavam cerca de apresentarem em torno de 30 cm de
Os fatores em estudo foram a fáfia 15 cm, aos 180 DAS. altura, o que ocorreu aproximadamente
(Pfaffia glomerata) (F), o cravo-de- A área de cultivo foi preparada uti- aos 45 dias após o transplante, os turnos
defunto (Tagetes erecta) (C) e o man- lizando-se uma aração e uma gradagem de rega foram diários e, posteriormente,
jericão (Ocimum basilicum) (M) em niveladora, com posterior levantamento a cada dois dias. O controle de plantas
monocultivos e os policultivos com dos canteiros com rotoencanteirador. A daninhas foi de forma manual entre as
duas fileiras de fáfia e três de cravo- cama-de-frango foi distribuída a lanço e fileiras e entre as plantas e com o auxílio
de-defunto (F2C3) e duas fileiras de incorporada ao solo, a uma profundidade de enxada entre os canteiros.
fáfia e três de manjericão (F2M3), todos de 0-20 cm, um dia antes do transplan- Foi avaliada a altura de plantas de
sem e com cama-de-frango de corte te, nas parcelas correspondentes ao fáfia a partir do transplante das mudas,
semidecomposta incorporada ao solo. tratamento. Não houve necessidade de até os 360 dias após, em intervalos de
Os dez tratamentos foram arranjados se fazer calagem, conforme a análise 30 dias, utilizando-se régua de madeira
no delineamento experimental blocos de solo. graduada em centímetros, colocada
casualizados, com quatro repetições. Para o transplante nos canteiros, a desde o nível do solo até a inflexão da
A área total de cada parcela foi de 4,5 fáfia foi arranjada em fileiras duplas, folha mais alta. Na colheita aos 365 dias
m2 (1,5 m de largura x 3,0 m de com- tanto no monocultivo (Figura 1A) após o transplante, as plantas foram ar-
primento) e a área útil de 3,0 m2 (1,0 m quanto no policultivo (Figura 1C), com rancadas inteiras e feita a separação das
de largura do canteiro x 3,0 m de com- espaçamentos de 0,33 m entre fileiras partes aéreas e raízes. Foi determinado
primento). As sementes da fáfia foram simples e consequente espaçamento de o número de raízes por planta e, com
obtidas de plantas cultivadas no Horto 1,167 m entre fileiras duplas. O espaça- o auxílio de um paquímetro digital,
de Plantas Medicinais da UFGD, com mento entre plantas dentro das fileiras mediu-se o diâmetro de uma amostra de
dois anos de idade; cuja origem foi de foi de 0,50 m. O cravo-de-defunto e o dez raízes. Todas as partes das plantas
sementes coletadas de várias plantas da manjericão foram arranjados em fileiras foram pesadas, em balança digital com
precisão de 0,01 g para obtenção da
0,33 m 0,33 m 0,33 m 0,16 0,33 m 0,33 m 0,16 0,16 0,33 m 0,33 m 0,16 massa fresca. Posteriormente, foram
cortadas, colocadas em sacos de papel
e acondicionadas em estufa com circula-
...........F...........F........ .....X...........X...........X... .....X.....F.....X.....F.....X.. ção de ar forçada, com temperatura mé-
...........F...........F. ...... .....X...........X...........X... .....X.....F.....X.....F.....X.. dia de 60±2°C até massa constante, para
...........F...........F........ .....X...........X...........X... .....X.....F.....X.....F.....X.. obtenção das massas secas. Nas massas
secas das raízes e das partes aéreas
...........F...........F........ .....X...........X...........X... .....X.....F.....X.....F.....X.. foram avaliados os teores de nitrogênio
(N), fósforo (P) e potássio (K), pelos
Fáfia solteira Cravo de defunto ou Fáfia consorciada com métodos semi-micro-Kjeldahl, colori-
(A) Manjericão solteiros cravo de defunto ou man- métrico do metavanadato molibdato e
(B) jericão (C) fotometria de chama de emissão através
Figura 1. Arranjo das plantas de fáfia no monocultivo (A), manjericão ou cravo-de-defunto do Fotômetro de chama, respectivamen-
no monocultivo (B) e policultivo (C) (arrangement of plants of Pfaffia glomerata in mono- te, seguindo a metodologia descrita por
cropping (A), basil or marigold in monocropping (B) and intercropping (C). Dourados, Malavolta et al. (1997).
UFGD, 2005/2006.
0,33 m = espaçamento entre fileiras de plantas ou do início da parcela até a fileira de plantas
A avaliação da produção dos capítu-
(spacing between rows of plants or between the beginning of the plot and the row of plants); los florais do cravo-de-defunto foi feita
0,16 = espaçamento de 0,165 m do início da parcela até a fileira de plantas (spacing of 0.165 colhendo-os em todas as plantas, pela
m from beginning of the plot up to the plant row). manhã, usando como índice de colheita

350 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Cama-de-frango em mono e policultivo de fáfia com cravo-de-defunto e manjericão

a abertura das flores liguladas. As co- Aos dados de altura das plantas cultivo solteiro, de 185 cm e 183 cm,
lheitas foram feitas a partir de 60 dias da fáfia foram ajustadas equações de aos 172 e 164 dias após o transplante,
após o transplante (DAT), com intervalo regressão, em função dos dias após o nos espaçamentos entre fileiras de 54 e
médio de seis dias, durante dez semanas transplante, com o emprego de polinô- 36 cm, respectivamente. As diferenças
consecutivas. Para obtenção de massas mios ortogonais. Os dados de produção nos valores e épocas de obtenção das
frescas e secas das partes aéreas de todas foram analisados individualmente por alturas máximas devem ser resultado de
as plantas, as plantas foram cortadas espécie e submetidos à análise de va- condições climáticas e de solo diferentes
rente ao solo, quando havia sinais de riância, utilizando-se o aplicativo com- e ao fato de a fáfia ter caules facilmente
senescência de cerca de 50% das folhas, putacional SAEG. Quando detectou-se quebradiços e que rebrotam constante-
aos 130 DAT. significância pelo teste F, as médias de mente, o que deve ter sido distinto nos
Para o manjericão, foram feitas duas produção para as formas de cultivo de dois trabalhos.
colheitas, cortando-se as partes aéreas, a fáfia foram testadas por Tukey, até 5% As maiores produções de massas
10 cm do nível do solo, sendo a primeira de probabilidade. frescas e secas da parte aérea da fáfia no
no início do florescimento, aos 80 DAT, monocultivo (Tabela 1) confirmam a ci-
e a segunda, após a rebrota, aos 150 RESULTADOS E DISCUSSÃO tação de Santos (1997) de que, sob poli-
DAT, em pleno florescimento. Para a cultivo, a produção é menor. A ausência
obtenção das massas frescas e secas da do efeito da cama-de-frango indica que
As alturas das plantas de fáfia apre-
parte aérea total foi considerada a soma o solo já tinha teor de matéria orgânica
sentaram crescimento quadrático, inde-
das duas colheitas. suficiente para suprir as necessidades
pendente da forma de cultivo (Figura 2),
O policultivo foi avaliado utilizando das plantas da fáfia, conforme a análise
sendo a altura média máxima de 169 cm,
a expressão da razão de área equivalen- apresentada. Resultados diferentes fo-
alcançada aos cerca de 300 dias após o
te (RAE) proposta por Caetano et al. ram observados por Nascimento et al.
transplante. Isso indica que as plantas
(1999), a saber: RAE = Fp/Fm + Cp/Cm (2007), quando avaliaram a capacidade
apresentaram taxas de crescimento
+ Mp/Mm, onde respectivamente, Fp, produtiva da fáfia e da tansagem, em
características e pouco influenciadas
Cp e Mp = produções de massa fresca monocultivo com duas fileiras de fáfia
pelo ambiente. Os valores obtidos são
da fáfia, do cravo-de-defunto e do man- espaçadas de 36 ou de 54 cm, e em
semelhantes àqueles de Nascimento et
jericão em policultivo e Fm, Cm e Mm policultivo com três e quatro fileiras
al. (2007), exceto quanto à época da
= produções de massa fresca da fáfia, de plantas de tansagem por canteiro e
altura máxima, pois quando cultivaram
do cravo-de-defunto e do manjericão observaram que o tipo de cultivo e os
a fáfia com a tansagem, observaram al-
em monocultivo. espaçamentos entre fileiras não influen-
turas máximas das plantas de fáfia, sob
ciaram na produção de massa fresca e
seca da parte aérea da fáfia.
O número e as massas frescas e
secas das raízes da fáfia não foram in-
fluenciados pelo policultivo e nem pela
cama-de-frango (Tabela 1). Esses resul-
tados podem ser explicados por Larcher
(2000) e Taiz & Zeiger (2004) quando
citam que os sistemas vegetais têm me-
canismos de auto-regulação, baseando-
se na capacidade de adaptação do orga-
nismo individual e das populações ou no
equilíbrio das relações de interferência,
como competição por nutrientes, água e
outros. Resultados semelhantes foram
obtidos por Nascimento et al. (2007),
ao constatarem que o policultivo e os
espaçamentos entre fileiras no cultivo de
fáfia com tansagem não influenciaram a
produção de massa fresca e seca da parte
Figura 2. Altura de plantas de fáfia, em função da idade, em mono e policultivo com man- aérea e das raízes da fáfia.
jericão e cravo-de-defunto, com e sem cama-de-frango incorporada ao solo; CV (%) = 4,07; Os diâmetros das raízes da fáfia
(mono = monocultivo; poli = policultivo; man = manjericão; cr = cravo-de-defunto; cc = com foram influenciados pela forma de cul-
cama-de-frango; sc = sem cama-de-frango) (height of plants of Brazilian ginseng, depending
tivo, sendo os maiores valores obtidos
on the age, in mono and intercropping cultivation with basil and marigold, with and without
nas raízes das plantas sob policultivo
poultry manure incorporated to the soil) (mono = monocropping; poli = intercropping; man
= basil; cr =marigold; cc = with poultry manure; sc = without poultry manure). Dourados, com manjericão e naquelas sob mono-
UFGD, 2005/2006. cultivo. Como os diâmetros das raízes

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 351


VC Barboza et al.

Tabela 1. Massas frescas (MFPA) e secas da parte aérea (MSPA), número de raízes, massas frescas (MFRA) e secas (MSRA) e diâmetro
de raízes de fáfia aos 365 dias após o transplante, em mono e policultivo, com e sem cama-de-frango incorporada ao solo (fresh (MFPA)
and dry weight (MSPA) of the shoot, number of roots, fresh (MFRA) and dry (MSRA) weight and diameter of roots of Brazilian ginseng,
365 days after the transplant, in mono or intercropping cultivation, with and without poultry manure incorporated to the soil). Dourados,
UFGD, 2005/2006.
MFPA MSPA Número MFRA MSRA Diâmetro
(t ha-1) (t ha-1) (1000 ha-1) (t ha-1) (t ha-1) (mm)
Forma de cultivo
Monocultivo 13,22 a 4,39 a 477,50 a 10,71 a 2,09 a 20,90 a
Policultivo fáfia e cravo-de-defunto 9,16 b 2,87 b 433,33 a 9,35 a 1,64 a 17,97 b
Policultivo fáfia e manjericão 9,20 b 2,43 b 342,92 a 9,98 a 2,45 a 23,52 a
Cama-de-frango
Com 10,28 a 3,21 a 445,00 a 10,13 a 1,91 a 20,00 a
Sem 10,75 a 3,24 a 390,83 a 9,91 a 2,22 a 21,59 a
CV (%) 21,14 27,07 27,58 31,27 42,16 15,43
Médias seguidas da mesma letra nas colunas, para a forma de cultivo, não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey e para cama-de-
frango, pelo teste F, até 5% de probabilidade (values followed by the same letter in the columns, for the form of cultivation, do not differ
statistically for the Tukey test and for poultry manure, for the F test, up to 5% of probability).

foram maiores e os números e massas de 25,67 mg kg-1 de massa seca da raiz, secas dos capítulos florais do cravo-de-
frescas e secas foram semelhantes, é respectivamente. Segundo Epstein & defunto foram maiores nas plantas sob
provável que os comprimentos tenham Bloom (2006), o requerimento de N e policultivo cravo-de-defunto e fáfia e
sido menores. K para o ótimo crescimento das plantas nas plantas cultivadas em solo com
Os teores de nitrogênio, fósforo e está aproximadamente entre 2 e 5% na cama-de-frango (Tabela 2). A maior
potássio nas massas secas das partes massa seca dependendo da espécie e do produção das plantas sob policultivo
aéreas e das raízes da fáfia não foram órgão analisado. Os dados obtidos neste em relação ao monocultivo mostra coe-
influenciados pela interação policultivo experimento foram maiores do que os rência com o trabalho de Santos (1997),
e cama-de-frango, nem pelo policultivo valores de referência necessários para sobre as plantas poderem apresentar
nem pela cama-de-frango. Os teores o desenvolvimento normal das plantas. mecanismos de compensação da produ-
médios de fósforo obtidos foram de Quanto aos sistemas de cultivo, a não tividade, em função de modificações das
0,636 mg kg-1 e 0,592 mg kg-1, respec- ocorrência de competição na absorção populações delas nas associações, bem
tivamente, para a raiz e a parte aérea, de nutrientes pelas plantas no policultivo como nos arranjos espaciais ou mesmo
sendo maiores que os requeridos para o denota que a CTC e a saturação de bases em função do sincronismo de plantio
ótimo crescimento das plantas, que fica estavam dentro do ótimo requerido pela e do desenvolvimento temporal das
entre 0,1 a 0,5 mg kg-1, dependendo da fáfia, que necessita de solos com bom espécies. Além disso, o sombreamento
espécie vegetal e do órgão analisado teor de matéria orgânica, conforme a da fáfia no cravo pode ter favorecido a
(Epstein & Bloom, 2006). Os teores de análise de solo apresentada. maior produtividade de capítulos florais.
N e K foram em média de 10 mg kg-1 e As produções de massas frescas e O efeito positivo com o uso da cama-

Tabela 2. Número (NCF), massas fresca e seca de capítulos florais (MFCF; MSCF) e massas fresca (MFPA) e seca da parte aérea (MSPA)
do cravo-de-defunto, em mono e policultivo com a fáfia, com e sem cama-de-frango incorporada ao solo (number (NCF), fresh (MFCF) and
dry (MSCF) weight of floral capitula and fresh (MFPA) and dry (MSPA) weight of the shoot of the marigold, in mono and intercropping
cultivation with the Brazilian ginseng, with and without poultry manure incorporated to the soil). Dourados, UFGD, 2005/2006.
NCF MFCF MSCF MFPA MSPA
(1000 ha-1) (t ha-1) (t ha-1) (t ha-1) (t ha-1)
Forma de cultivo
Monocultivo 2,46 a 11,94 b 1,09 b 25,45 a 8,11 a
Policultivo cravo-de-defunto e fáfia 2,73 a 14,28 a 1,28 a 25,86 a 9,29 a
Cama-de-frango
Com 2,63 a 14,17 a 1,27 a 28,02 a 9,94 a
Sem 2,62 a 12,05 b 1,09 b 23,33 b 7,47 b
CV (%) 23,77 9,50 13,51 18,97 21,21
Médias seguidas da mesma letra nas colunas, não diferem entre si pelo teste F, até 5% de probabilidade (averages followed by the same
letter in the columns, do not differ for the F test, up to 5% of probability).

352 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Cama-de-frango em mono e policultivo de fáfia com cravo-de-defunto e manjericão

Tabela 3. Massas fresca (MFPA) e seca (MSPA) da parte aérea do manjericão em mono e cravo-de-defunto com cama-de-frango
policultivo com a fáfia, com e sem cama-de-frango incorporada ao solo, aos 150 DAT (dias (2,15) e sem (1,99) cama-de-frango, e
após o transplante) (fresh (MFPA) and dry (MSPA) weight of the shoot of the basil in mono da fáfia com manjericão com cama-de-
and intercropping cultivation with the Brazilian ginseng, with and without poultry manure in- frango (2,44) e sem (3,08), e por eles
corporated to the soil, 150 DAT (days after the transplant)). Dourados, UFGD, 2005/2006.
terem sido superiores a 1,0, concluiu-
MFPA (t ha-1) MSPA (t ha-1) se que os policultivos entre a fáfia e o
Forma de cultivo cravo-de-defunto, e da fáfia com manje-
Monocultivo 34,91 b 3,43 b ricão, com e sem cama-de-frango, foram
Policultivo manjericão e fáfia 52,91 a 4,59 a efetivos. Em relação ao policultivo da
fáfia com o cravo-de-defunto, pode-se
Cama-de-frango
ter o efeito adicional de controle dos
Com 28,87 a 2,89 a fitonematóides presentes no solo, cuja
Sem 26,43 a 2,99 a suscetibilidade é notória nas raízes das
CV (%) 37,05 42,57 plantas da fáfia, prejudicando o valor
Médias seguidas da mesma letra nas colunas, não diferem entre si pelo teste F, até 5% de comercial delas (Kanno, 2006). Embora
probabilidade (values followed by the same letter in the columns, do not differ for the F não tenha sido avaliado estatisticamente
test, up to 5 % of probability). neste trabalho, observou-se visualmente,
que as plantas no policultivo estavam
livres de galhas.
de-frango incorporada ao solo, segundo orgânica suficiente para suprir as neces-
Nas condições em que foi condu-
Silva & Mendonça (2007), talvez seja sidades das plantas, conforme a análise
zido o experimento concluiu-se que o
devido ao provável aumento de macro e apresentada. Resultados diferentes fo-
comportamento produtivo da fáfia foi
micronutrientes disponíveis no solo para ram obtidos por Blank et al. (2005) em
semelhante em solo com e sem adição
as plantas, redução do alumínio trocável Ocimum basilicum L. cv. Genovese. Os
de cama-de-frango; os policultivos da
e da fixação do fosfato, onde a matéria autores estudaram cinco tipos de adu-
fáfia com o cravo-de-defunto e com o
orgânica do solo libera parte do N e P, bação (adubo formulado Hortosafra®,
manjericão foram viáveis, em solo sem
promovendo incrementos na produção esterco de galinha, esterco de galinha
e com incorporação de cama-de-frango e
conforme a análise da cama-de-frango + Hortosafra®, esterco bovino, esterco
o melhor policultivo foi o de fáfia e man-
apresentada. bovino + Hortosafra®) e três horários
jericão, com as plantas cultivadas em
As produções de massas frescas de colheita (8:00, 12:00 e 16:00 h) e
solo sem adição de cama-de-frango.
e secas da parte aérea e dos capítulos observaram que a massa seca da parte
florais do cravo-de-defunto foram in- aérea das plantas foi significativamente
fluenciadas, significativamente, pelo uso maior quando foram adubadas com REFERÊNCIAS
da cama-de-frango, incorporada ao solo Hortosafra® e esterco de galinha, em
BENTES LB; HIDALGO AF; SILVA JF. 2000.
(Tabela 2). Provavelmente, a cama-de- relação ao esterco bovino. Os autores Produção e crescimento de raízes de Pfaffia
frango utilizada pode ter contribuído atribuíram esse resultado ao fato de o glomerata sob cultivo orgânico. In: SIMPÓSIO
na regulação da temperatura e na ma- esterco bovino possuir menores teores DE PLANTAS MEDICINAIS DO BRASIL,
de fósforo, potássio, enxofre e zinco. Por 16. Resumos... Recife: Universidade Federal
nutenção da umidade do solo, além de de Pernambuco. p. 75. Resumo AG-033.
ter reduzido a perda de nutrientes por outro lado, as produções do manjericão
BLANK AF; SILVA PA; ARRIGONI-BLANK
lixiviação e melhorado os atributos foram maiores sob policultivo com a MF; SILVA-MANN R; BARRETOS MCV.
físicos, químicos e microbiológicos do fáfia. Isso provavelmente tenha ocorri- 2005. Influência da adubação orgânica e
solo (Kiehl, 2008). Resultados seme- do devido à menor disponibilidade de mineral no cultivo de manjericão cv. Genovese.
Revista Ciência Agronômica 36: 175-180.
lhantes foram observados por Vieira et radiação fotossinteticamente ativa para
CAETANO LCS; FERREIRA JM; ARAÚJO
al. (2006) quando estudaram o policul- as folhas localizadas na parte inferior M. 1999. Produtividade da alface e cenoura
tivo de capuchinha com alface, sem e das plantas do manjericão, acarretando em sistema de consorciação. Horticultura
com incorporação ao solo de cama-de- aumento no sombreamento, fazendo Brasileira 17: 143-146.
com que houvesse um aumento na ex- CARVALHO FILHO JLS; BLANK AF; ALVES
frango, pois observaram que a produção PB; EHLERT PAD; MELO AS; CAVALCANTI
de massa fresca das flores da capuchinha pansão foliar e no crescimento da parte SCH; ARRIGONI-BLANK MF; SILVA-
não foi influenciada pelo policultivo, aérea para melhor interceptação solar, MANN R. 2006. Influence of the harvesting
mas, sim pelo uso de 10 t ha-1 de cama- fenômeno denominado “evitação à time, temperature and drying period on basil
sombra”. Além disso, pode ter ocorrido (Ocimum basilicum L.) essential oil. Revista
de-frango incorporada ao solo. Brasileira de Farmacognosia 16: 24-30.
As produções das massas frescas e consequente diminuição da temperatura CORRÊA JÚNIOR C; MING LC. 2001. Collection
secas da parte aérea do manjericão não no microclima (Larcher, 2000; Taiz & of fafia [Pfaffia glomerata (Spreng.) Pedersen]
foram influenciadas pelo uso da cama- Zeiger, 2004), o que possivelmente, in north-western State of Paraná - Brazil. Acta
pode ter favorecido o desenvolvimento Horticulturae 576: 29-32.
de-frango incorporada ao solo (Tabela
do manjericão. CORRÊA JÚNIOR C; MING LC. 2004. Fáfia
3), tal como ocorreu com a produção da
[Pfaffia glomerata (Spreng.) Pedersen]: o
fáfia, o que deve-se, provavelmente, ao Considerando-se os valores das ginseng brasileiro. In: ALEXIADES MN;
fato de o solo já possuir teor de matéria RAEs do policultivo da fáfia com o SHANLEY P. (eds). Productos forestales,

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 353


VC Barboza et al.

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354 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


OLIVEIRA FL; DORIA H; TEODORO RB; RESENDE FV. 2010. Características agronômicas de cultivares de alho em Diamantina. Horticultura
Brasileira 28: 355-359.

Características agronômicas de cultivares de alho em Diamantina


Fábio Luiz de Oliveira1; Haroldo Doria1; Ricardo B Teodoro1; Francisco V Resende2
UFVJM, Depto. Agronomia, R. da Glória, 187, 39100-000 Diamantina-MG; 2Embrapa Hortaliças, C. Postal 218, 70359-970 Brasília-
1

DF; fabiocapi@yahoo.com.br; ricardo.agronomia@hotmail.com; fresende@cnph.embrapa.br

RESUMO ABSTRACT
Um estudo foi realizado, durante o período da safra 2007, com Agronomic characteristics of garlic cultivars in Diamantina,
objetivo de avaliar as características agronômicas período de emer- Brazil
gência das plântulas, altura de plantas, diâmetro de bulbos frescos e A study was carried out in Diamantina, Minas Gerais State, Brazil,
curados, números de bulbilhos por bulbo e produtividade comercial during the 2007 season, to evaluate the agronomic characteristics of
de quatorze cultivares de alho em Diamantina-MG. O delineamen- garlic cultivars. The experimental design was of randomized blocks,
to experimental adotado foi de blocos casualizados, com quatro with four replications. Treatments were garlic cultivars ‘Gigante do
repetições, cujos tratamentos foram as cultivares de alho Gigante Núcleo’, ‘Gigante de Lavínia’, ‘Gigante Roxo’, ‘Gigante Roxão’,
do Núcleo, Gigante de Lavínia, Gigante Roxo, Gigante Roxão, ‘Chinês Real’, ‘Chinês São Joaquim’, ‘Cateto Roxo’, ‘Cateto Roxo
Chinês Real, Chinês São Joaquim, Cateto Roxo, Cateto Roxo (livre PfLv’ (free of virus), ‘Hozan’, ‘Amarante’, ‘Peruano’, ‘Caturra’,
de vírus), Hozan, Amarante, Peruano, Caturra, Gravatá e Amarante ‘Gravatá’ and ‘Amarante Gouveia’. ‘Hozan’, ‘Gigante de Lavínia’,
Gouveia. As cultivares Hozan, Gigante de Lavínia, Chinês Real e ‘Chinês Real’ and ‘Peruano’ presented the best vegetative growth
Peruano apresentaram melhor desenvolvimento vegetativo inicial, in the initial stage, with higher plant height values up to 60 days.
com maiores valores em altura de plantas, até os 60 dias. Com relação Regarding the number of cloves/bulb, the cultivars ‘Gravatá’ (16.5),
ao número de bulbilhos/bulbo destacaram-se as cultivares Gratavá ‘Cateto Roxo PfLv’ (15.75), ‘Cateto Roxo’ (15.25) and ‘Chinês Real’
(16,5), Cateto Roxo PfLv (15,75), Cateto Roxo (15,25) e Chinês Real (15.25) presented higher values than the other evaluated cultivars.
(15,25), diferindo das demais. A ‘Gigante de Lavínia’ destacou-se ‘Gigante de Lavínia’ presented the highest marketable yield (12.61 t
com a maior produtividade comercial (12,61 t ha-1), seguida pelas ha-1), followed by the cultivars ‘Gravatá’ (10.87 t ha-1), ‘Chinês Real’
cultivares Gravatá (10,87 t ha-1), Chinês Real (10,65 t ha-1), Cateto (10.65 t ha-1), ‘Cateto Roxo Pf Lv’ (10.63 t ha-1) and ‘Caturra’ (9.68
Roxo Pf Lv (10,63 t ha-1) e Caturra (9,68 t ha-1). A Amarante Gouveia, t ha-1). The cultivar ‘Amarante Gouveia’, presented a yield of 7.50 t
a cultivada na região, apresentou produtividade de 7,50 t ha-1, valor ha-1, which was inferior to the national average yield (8.47 t ha-1).
inferior à média nacional (8,47 t ha-1).

Palavras-chave: Allium sativum, Vale do Jequitinhonha, produtivi- Keywords: Allium sativum, Jequitinhonha Valley, yield, cultivars.
dade, cultivares.

(Recebido para publicação em 20 de julho de 2009; aceito em 19 de agosto de 2010)


(Received on July 20; 2009; accepted on August 19, 2010)

O alho (Allium sativum L.) é uma


das hortaliças mais importantes
no Brasil, sendo utilizado na culinária
O estado de Minas Gerais destaca-se
no cenário nacional como o maior pro-
dutor de alho, com produções da ordem
genéticos ao uso unicamente da cultivar
Amarante Gouveia. Esta cultivar vem
sendo cultivada por sucessivas gerações
regional e nacional, nas quais seu sabor de 24 mil toneladas, o que corresponde e nos últimos anos tem se observado
e propriedade condimentar são muito a cerca de aproximadamente 27,0% da queda em sua produtividade, e na qua-
apreciados. Apesar da importância produção brasileira (IBGE, 2008). Essa lidade do alho colhido, o que estaria
da cultura no cenário nacional, atual- hortaliça é uma importante geradora de ligado à ocorrência de doenças viróticas,
mente o Brasil é o maior importador divisas, pois possibilita a geração de que são intensificadas e perpetuadas
mundial, da ordem de cerca de 146 grande número de empregos, sobretudo pelos sucessivos ciclos. Carvalho (1981)
mil toneladas por ano, com produtos no campo, devido à elevada exigência relata que, sendo a reprodução do alho
vindos principalmente da China e Ar- de mão-de-obra desde a semeadura até a por via assexuada, por meio dos bulbi-
gentina (ANAPA, 2008). Entretanto, a comercialização, possibilitando rentabi- lhos, ocorre uma ampla disseminação
oferta do produto nacional no mercado lidades para grandes, médios e pequenos de doenças, principalmente viroses,
interno tem apresentado um aumento produtores (Vilela & Henz, 2000). que contribuem efetivamente para a
gradativo da produção entre 2004 e O alho é uma cultura de grande im- degenerescência das plantas e redução
2007. O levantamento Sistemático da portância para o Vale do Jequitinhonha, da produtividade. Assim, a busca por
Produção Agrícola correspondente ao sobretudo na região do Alto Jequitinho- cultivares adaptadas às condições eda-
ano agrícola 2008 contabilizou uma nha, com destaque para os municípios de foclimáticas da região e mais resistentes
oferta bruta de aproximadamente 91,6 Gouveia e Diamantina, onde se encontra à ocorrência de doenças viróticas, pode
mil toneladas, abaixo da média de 99,8 grande número de produtores, de base contribuir para a melhoria da produtivi-
mil toneladas colhidas no ano anterior familiar. Estes agricultores familiares dade da cultura na região. Nesse sentido,
(CONAB, 2009). reduziram a diversidade de materiais Resende et al. (1995), trabalhando com

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 355


FL Oliveira et al.

cinco clones da cultivar Gigante Roxo, Roxo, Gigante Roxão, Chinês Real, ção das médias.
selecionados por meio de cultura de me- Chinês São Joaquim, Cateto Roxo,
ristema, e limpeza de vírus, verificaram Cateto Roxo (livre de vírus), Hozan, Resultados e Discussão
produtividades superiores, variando de Amarante, Peruano, Caturra, Gravatá e
67,2 a 114,0%, quando comparados à Amarante Gouveia.
testemunha (cultivar convencional sem Não houve diferença significativa
O plantio foi realizado na primeira
limpeza de vírus). para o tempo de emergência de plântu-
semana de abril, sendo uma repetição
las entre as cultivares estudadas, sendo
Menezes Sobrinho et al. (1999) em cada canteiro de 1,5 m de largura, 9,0
que todas apresentaram em torno de
destacam que dentre os fatores que afe- m de comprimento e 0,25 m de altura,
80% de emergência aos 24 dias depois
tam a produção de alho em uma região adubados inicialmente com vermicom-
do plantio.
deve ser considerada a diversidade de posto, na dose de 20 t ha-1, enriquecido
cultivares, devido à ação diferencial com 2% de P2O5 (superfosfato simples) Observou-se que as plantas apre-
dos genes em condições climáticas di- e K2O (Cloreto de potássio) e 6% de ni- sentaram diferenças significativas para
ferentes. Segundo Trani et al. (2005) a trogênio (sulfato de amônio). As carac- altura das plantas aos 60 dias após o
estabilidade da produção da cultura do terísticas químicas do vermicomposto plantio, e não havendo diferenças aos
alho pode estar na diversidade de uso de usado foram: 11,6 g de N kg-1, 0,51 g de 90 e 120 dias (Tabela 1). As cultivares
materiais genéticos nas lavouras, pois as P kg-1, 0,94 g de K kg-1, 1,76 g de Ca kg-1 Cateto Roxo, Amarante Gouveia, Gra-
produtividades de diferentes cultivares e 0,57 g de Mg kg-1. Aos 60 dias após o vatá, Cateto Roxo PfLv, Gigante Roxo,
de alho apresentam variações em função plantio foi feita adubação de cobertura Chinês São Joaquim, Caturra, Amarante,
das condições edafoclimáticas da região com esterco bovino na dose de 10 t ha-1. Gigante Roxão e Gigante do Núcleo
e também dos tratos culturais emprega- As características químicas do esterco apresentaram menor altura quando
dos na lavoura. usado foram: 11,4 g de N kg-1, 0,24 g avaliadas aos 60 dias após plantio com
de P kg-1, 1,19 g de K kg-1, 0,92 g de alturas entre 23,7 e 27,0 cm. Aos 90 e
Objetivou-se avaliar o comporta-
Ca kg-1 e 0,34 g de Mg kg-1. A irrigação 120 dias a diferença não mais existiu,
mento de cultivares de alho nas con-
foi realizada manualmente com uso de quando, segundo Resende et al. (1999),
dições edafoclimáticas do município
regadores, sendo os canteiros irrigados é a fase de crescimento intenso das plan-
de Diamantina, no estado de Minas
diariamente pela manhã e à tarde. tas e essas tendem a apresentar maiores
Gerais.
investimentos no acúmulo de reservas
Cada parcela dos tratamentos com-
nos bulbos. Ferreira (1972) relata que
Material e Métodos portou 50 plantas, espaçadas de 20
esse período pode se estender até os
cm entre linhas e 10 cm entre plantas,
120 dias, dependendo da cultivar e das
sendo considerada área útil aquela
O estudo foi desenvolvido na área condições edafoclimáticas.
compreendida pelas 20 plantas centrais
experimental da Universidade Federal de cada parcela. Na primeira repetição As cultivares Hozan, Gigante de
dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, foram semeados os bulbilhos-semente Lavínia, Chinês Real e Peruano apre-
em Diamantina-MG (longitude 43º 36’ da segunda geração classificados como sentaram melhor desenvolvimento
W, latitude 18º 15’ S, 1296 m de altitu- graúdos (peso médio de 4 g), na segunda vegetativo inicial, com maiores valores
de), na safra de 2007. Durante a con- os médios (peso médio de 3 g), na ter- em altura das plantas, até os 60 dias,
dução do experimento, a precipitação ceira os pequenos (peso médio de 2 g) quando comparada a algumas cultivares
média da região foi de 787,2 mm, com e na quarta uma mistura das três classes (Tabela 1); no entanto aos 90 dias essa
média de temperaturas do ar variando de de bulbilhos-semente. diferença praticamente deixou de existir,
23,1ºC a 14,9ºC (AGRITEMPO, 2008). demonstrando uma possível equiparação
Avaliou-se o período de emergência
O solo da área foi classificado como entre as cultivares na fase de intenso
das plântulas, altura das plantas (cm) e o
Neossolo Quartzarênico Órtico Típico, desenvolvimento vegetativo. Esse resul-
diâmetro dos bulbos (mm) em formação,
textura franco arenoso, cujas amostras tado corrobora com os estudos realizado
aos 60, 90 e 120 dias após o plantio. Aos
obtidas entre 0-20 cm apresentaram as por Menezes Sobrinho et al. (1999), que
150 dias foi feita a colheita de todas as
características químicas: pH 5,5 em avaliaram diferentes genótipos por meio
cultivares, quando se avaliou a massa
CaCl2; 13,1 mg dm-3 de P; 43 mg dm-3 de de agrupamento destes, onde também
total dos bulbos frescos (g m-2). Após um
K; 1,0 cmolc dm-3 de Ca e 0,5 cmolc dm-3 observaram superioridade para a culti-
período de cura de 20 dias, avaliou-se
de Mg; 0,6 cmolc dm-3 de Al e saturação var Hozan em relação a outras cultiva-
a massa total de bulbos curados (g m-2),
por bases igual a 10%. Após a análise a res, apenas nessa fase inicial. Resultados
diâmetro (mm) e massa média indivi-
área recebeu a aplicação de 1,0 t ha-1 de diferentes foram obtidos por Mota et al.
dual dos bulbos curados (g), número de
calcário dolomítico. (2005) observando maiores alturas para
bulbilhos por bulbo e a produtividade
O delineamento experimental ado- comercial (t ha-1). as cultivares Gigante Roxo (63,4 cm),
tado foi de blocos casualizados, com Os dados foram submetidos à análise Cateto Roxo (61,8 cm) e Amarante (66,8
quatro repetições, cujos tratamentos de variância e para aqueles com signifi- cm) aos 70 dias de plantio.
foram as cultivares de alho Gigante do cância, aplicou-se o teste de Scott-Knott As plantas apresentaram diferença
Núcleo, Gigante de Lavínia, Gigante a 5% de probabilidade para a compara- significativa para o diâmetro dos bul-

356 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Características agronômicas de cultivares de alho em Diamantina

Tabela 1. Altura das plantas e diâmetros dos bulbos em formação de cultivares de alho (plant height and bulb diameter of garlic cultivars).
Diamantina, UFVJM, 2007.
Altura das plantas (cm) Diâmetro do bulbo (mm)
Cultivares
601 90 120 60 90 120
Gigante do Núcleo 27,0 b 2
39,2 a 40,2 a 18,5 b 27,2 b 43,0 a
Gigante de Lavínia 29,2 a 36,5 a 32,0 a 23,0 a 27,2 b 42,5 a
Gigante Roxo 25,2 b 36,0 a 50,0 a 17,0 b 24,2 b 40,0 b
Gigante Roxão 26,7 b 41,2 a 47,0 a 25,5 a 31,5 b 40,2 b
Chinês Real 29,2 a 43,2 a 46,2 a 23,0 a 35,7 a 46,0 a
Chinês S. Joaquim 25,7 b 39,0 a 45,5 a 22,5 a 30,0 b 42,2 a
Cateto Roxo 23,7 b 31,2 a 40,0 a 22,0 a 30,5 b 39,5 b
Cateto Roxo PfLv 25,0 b 45,5 a 41,5 a 23,5 a 37,5 a 44,7 a
Hozan 34,5 a 43,2 a 44,0 a 25,5 a 28,5 b 40,2 b
Amarante 26,7 b 38,0 a 46,5 a 23,0 a 30,0 b 42,2 a
Peruano 31,5 a 36,0 a 39,7 a 23,2 a 28,0 b 36,7 b
Caturra 25,7 b 39,2 a 44,0 a 23,7 a 30,7 b 38,2 b
Gravatá 24,7 b 38,7 a 42,7 a 23,7 a 27,7 b 44,0 a
Amarante Gouveia 24,0 b 39,7 a 44,7 a 22,0 a 33,7 a 47,2 a
CV (%) 13,06 11,66 10,46 11,79 13,91 9,27
1
Dias após o plantio. 2Médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem estatisticamente entre si, Teste Scott-Knott, p<0,05 (means
followed by the same letter in the column do not differ from each other, Scott-Knott’s test, p<0,05).

bos em formação aos 60, 90 e 120 dias taram valores estatisticamente inferiores et al. (2003), trabalhando com algu-
após o plantio. Pelos resultados obtidos às demais. mas dessas cultivares em Lavras-MG
percebe-se que algumas cultivares ini- É valido ressaltar que estas dife- encontraram valores superiores, com
ciam o investimento em bulbificação renças no desenvolvimento inicial das as cultivares apresentando em torno
mais precocemente que outras, com cultivares podem ter ocorrido devido às de 29,75 g e 45,83% dos bulbos entre
exceção das cultivares Gigante do características genéticas dos materiais, 47 e 55 mm e apenas 6,35% com 37 a
Núcleo e Gigante Roxo que apresenta- mas também em função da propagação 42 mm. De acordo com Mota (2003),
ram os menores diâmetros em relação convencional. Esta propagação incorre essas diferenças normalmente ocorrem
à maioria das cultivares. Aos 90 dias no uso de bulbilhos-semente que podem em função das variações nas condições
observa-se que muitas cultivares já estar em estado de maturação fisiológica edafoclimáticas em que os materiais
apresentavam diâmetros semelhantes diferenciada, além de outros fatores foram cultivados.
estatisticamente, com destaque para como fotoperíodo, temperatura, altitude Com relação ao número de bulbi-
algumas cultivares como Chinês Real, elevada, fertilidade do solo e manejo lhos/bulbo observa-se que a Gravatá,
Cateto Roxo PfLv e Amarante Gouveia. da irrigação, que podem interferir no Cateto Roxo PfLv, Cateto Roxo e Chi-
Esses resultados podem ser reflexos da desenvolvimento das cultivares. nês Real apresentam os maiores valores,
priorização das plantas em investir na Houve diferenças significativas para diferindo das outras cultivares (Tabela
formação dos bulbos, já que cultivares a massa e o número de bulbilhos por 2). Resende et al. (1999) observaram
como Cateto Roxo PfLv e Amarante bulbo, não se observando diferenças valores maiores com a cultivar Gigante
Gouveia estavam aumentando o diâ- para o diâmetro médio do bulbo curado Roxão, 22,25 bulbilhos quando traba-
metro do bulbo e investindo na altura (Tabela 2). Os resultados, com relação lhando com material oriundo de cultura
das plantas mais tardiamente. Este fato à massa média dos bulbos curados, de tecidos, e 16,25 quando a planta era
levaria as cultivares a ter diâmetros de demonstram que as cultivares Gigante oriunda de multiplicação convencional.
bulbos estatisticamente superiores à de Lavínia, Chinês Real, Cateto Roxo Já Resende (1997), em avaliações de
maioria; entretanto, a cultivar Chinês PfLv, Caturra e Gravatá apresentaram algumas cultivares em Porteirinha-MG,
Real consegue se destacar tanto na altura superioridade sobre as demais. Esses observou valores para a cultivar Gigante
das plantas como no diâmetro do bulbo resultados se aproximam dos encon- Roxão de 16,37 bulbilhos. Resende et
(Tabela 1). trados por Trevisan et al. (1997) para a al. (2003), trabalhando em condições do
Contudo aos 120 dias a maioria das cultivar Gigante de Lavínia de 27,47 g município de Lavras-MG, verificaram
cultivares se destacaram com relação para os bulbos curados e mais de 45% valores um pouco superiores, para as
ao diâmetro do bulbo, exceto a Gigante dos bulbos curados entre 35 e 45 mm de cultivares Amarante (12,09), Gigante de
Roxo, Gigante Roxão, Cateto Roxo, diâmetro, trabalhando nas condições de Lavínia (18,27) e Gigante Roxo (17,22).
Peruano, Caturra e Hozan que apresen- Santa Maria-RS. No entanto Resende No entanto, Corrêa et al. (2003) encon-

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 357


FL Oliveira et al.

Tabela 2. Massa e diâmetro médio do bulbo curado e número de bulbilhos por bulbo de traram valores inferiores para a cultivar
cultivares de alho (diameter and weight of dehydrated bulb and number of cloves per bulb Gravatá (11,45) e Souza & Macedo
of garlic cultivars). Diamantina, UFVJM, 2007. (2003) para a cultivar Gigante do Nú-
Massa média dos Diâmetro médio dos Número de cleo (8,00). Estes resultados reforçam a
Cultivares bulbos curados bulbos curados bulbilhos por afirmação de que as cultivares apresen-
(g) (mm) bulbo tam diferenças em seu comportamento
Gigante do Núcleo 15,61 b1 36,75 a 13,00 b em função dos fatores edafoclimáticos
a que elas são submetidas, conforme
Gigante de Lavínia 25,22 a 39,75 a 12,75 b
discutido por Menezes Sobrinho et al.
Gigante Roxo 16,05 b 36,00 a 10,25 b (1999). Isso levanta a possibilidade dos
Gigante Roxão 17,20 b 33,50 a 9,25 b produtores do município trabalharem
Chinês Real 21,31 a 38,75 a 15,25 a com outras cultivares de alho, que nesse
Chinês São Joaquim 15,21 b 32,50 a 10,25 b ensaio apresentaram resultados tão bons
Cateto Roxo 16,81 b 35,25 a 15,25 a quanto o material genético já usado, o
que aumentaria a diversidade genética
Cateto Roxo Pf Lv 21,27 a 37,50 a 15,75 a
local, promovendo a redução de viroses
Hozan 12,61 b 31,50 a 11,00 b e por conseqüência maior estabilidade
Amarante 16,11 b 36,25 a 10,75 b produtiva na região.
Peruano 10,75 b 32,50 a 10,25 b Não houve diferenças significativas
Caturra 19,37 a 34,00 a 11,00 b entre as cultivares para a massa total de
Gravatá 21,74 a 36,50 a 16,50 a bulbos frescos colhidos por unidade de
área. No entanto, após o período de 20
Amarante Gouveia 15,01 b 39,50 a 12,75 b
dias de cura, sob as condições do mês
CV (%) 24,73 14,06 21,21 de outubro, em Diamantina, notou-se
1
Médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem estatisticamente entre si, Teste diferenças para a massa total de bulbos
Scott-Knott, p<0,05 (means followed by the same letter in the column do not differ from curados e por conseqüência na produti-
each other, Scott-Knott’s test, p<0,05).
vidade comercial (Tabela 3). A diferença
entre as cultivares para a massa total dos
Tabela 3. Massa total de bulbos frescos e curados e produtividade comercial de cultivares bulbos curados está ligada à diferença na
de alho (total weight of fresh and dehydrated bulbs and marketable yield of garlic cultivars). queda de peso apresentada pelos bulbos
Diamantina, UFVJM, 2007. durante o período de cura. Por exemplo,
a cultivar Gigante de Lavínia apresentou
Massa total de Massa total de Produtividade
queda de 26% no peso total de bulbos,
Cultivares bulbos frescos bulbos curados comercial
enquanto a cultivar Peruano apresentou
(g m-2) (g m-2) (t ha-1)
35% e a Amarante Gouveia 32%. Esse
Gigante do Núcleo 431,80 a1 312,23 b 7,80 b resultado demonstra que as cultivares
Gigante de Lavínia 689,46 a 504,43 a 12,61 a apresentam comportamentos diferentes
quanto a perda de água durante o perío-
Gigante Roxo 466,80 a 321,16 b 8,02 b
do de cura, e por isso podem necessitar
Gigante Roxão 527,50 a 344,13 b 8,60 b de períodos diferenciados de colheita e
Chinês Real 563,15 a 426,20 a 10,65 a cura para alcançarem uma estabilidade
Chinês São Joaquim 444,32 a 304,30 b 7,60 b de peso para a comercialização. Oliveira
et al. (2004) observaram que a época
Cateto Roxo 470,00 a 336,25 b 8,40 b de colheita interfere nos resultados de
Cateto Roxo Pf Lv 572,42 a 425,52 a 10,63 a perda de massa ao final do armazena-
Hozan 403,22 a 252,30 b 6,30 b mento pois, à medida em que se colheu
bulbos mais desenvolvidos, em estádio
Amarante 492,07 a 322,32 b 8,05 b avançado de maturação, as perdas fo-
Peruano 333,37 a 215,17 b 5,37 b ram reduzidas, apresentando os bulbos
Caturra 574,44 a 387,55 a 9,68 a colhidos aos 162 dias as menores perdas
em relação aos colhidos semanalmente a
Gravatá 602,25 a 434,90 a 10,87 a
partir de 132 dias após plantio.
Amarante Gouveia 446,60 a 300,27 b 7,50 b Após o período de cura, observou-se
CV (%) 31,93 24,72 24,77 que a cultivar Gigante de Lavínia (12,61
1
Médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem estatisticamente entre si, Teste t ha-1) apresentou a maior produtividade
Scott-Knott, p<0,05 (means followed by the same letter in the column do not differ from comercial, mas não diferiu das cultivares
each other, Scott-Knott’s test, p<0,05). Gravatá, Chinês Real, Cateto Roxo PF

358 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Características agronômicas de cultivares de alho em Diamantina

Lv e Caturra. Salienta-se que a cultivar Os autores agradecem à FAPEMIG, OLIVEIRA CM; SOUZA RJ; YURI JE; MOTA
Amarante Gouveia classificou-se no UFVJM e Embrapa Hortaliças pelas JH; RESENDE GM. 2003. Determinação
do ponto de colheita na produção de alho.
grupo que apresentou as produtivida- contribuições indispensáveis para rea- Horticultura Brasileira 21: 506-509.
des mais baixas (Tabela 3). Em alguns lização deste trabalho. OLIVEIRA CM; SOUZA RJ; MOTA JH; YURI
trabalhos foram identificadas produ- JE; RESENDE GM. 2004. Época de colheita
tividades para a cultivar Gigante de Referências e potencial de armazenamento em cultivares
Lavínia, próximas às observadas nesse de alho. Determinação do ponto de colheita
estudo: Oliveira (1999) com 11,11 t ha-1, na produção de alho. Horticultura Brasileira
AGRITEMPO. Disponível em: www.agritempo.
22: 804-807.
Oliveira et al. (2003) com 10,24 t ha-1. gov.br/agroclima/sumario. Acessado em 25 de
agosto de 2008. RESENDE FV; SOUZA RJ; FAQUIN V;
Em outros trabalhos foram observadas
ANAPA. Importação de Alho no Brasil 2008. RESENDE JTV. 1999. Comparação do
produtividades inferiores, como nos crescimento e produção entre alho proveniente
Disponível em: www.anapa.com.br/.../
estudos de Resende (1997) com 7,94 t importacoes-de-alho-no-brasil-2008.pdf de cultura de tecidos e de multiplicação
ha-1, Trevisan et al. (1997) com 8,71 t Acessado em 20 de novembro de 2009. convencional. Horticultura Brasileira 17:
ha-1 e Silva et al. (2001), com 8,37 t ha-1. CARVALHO MG. 1981. Viroses do alho. 118-124.
Quanto às demais cultivares, os resul- Fitopatologia Brasileira 6: 299-300. RESENDE FV; SOUZA RJ; PASQUAL M.
CONAB. Alho: balanço de oferta e demanda e 1995. Comportamento em condições de
tados observados foram superiores aos
produção no Brasil. Disponível em: www. campo de clones de alho obtidos por cultura
encontrados por alguns autores, como anapa.com.br/principalimages/stories/ de meristema. Horticultura Brasileira 13:
Mota (2003) para as cultivares Gravatá e alhojulho2009.pdf. Acessado em: 20 de 44-46.
Gigante Roxão e Trani et al. (2005) para novembro de 2009.
RESENDE GM. 1997. Desempenho de cultivares
a cultivar Cateto Roxo. Outros apre- CORRÊA TM; PALUDO SK; RESENDE FV; de alho no norte de Minas Gerais. Horticultura
OLIVEIRA PSR. 2003. Adubação química
sentaram resultados semelhantes como e cobertura morta em alho proveniente de
Brasileira 15: 127- 130.
os observado por Trani et al. (2005), cultura de tecidos. Horticultura Brasileira RESENDE GM; CHAGAS SJR; PEREIRA LV.
que também observaram as menores 21: 601-604. 2003. Características produtivas e qualitativas
de cultivares de alho. Horticultura Brasileira
produtividades com a cultivar Peruano FERREIRA FA. 1972. Análise do crescimento de
quatro cultivares de alho (Allium sativum L.). 21: 686-689.
(5,7 t ha-1), trabalhando no município de
Viçosa: UFV. 41 p (Tese mestrado). SILVA EC; SOUZA RJ; SANTOS VS. 2001.
Campinas-SP. IBGE. Sistema IBGE de recuperação automática Efeito do método de multiplicação na produção
Vale ressaltar que muitas das cul- – SIDRA; Disponível em: www.sidra.ibge. e no armazenamento de cultivares de alho.
tivares estudadas apresentaram produ- gov.br/bda/tabela/listabl.asp?c=1612#nota. Ciência Agrotécnica 25: 281-287.
tividade comercial, estatisticamente Acessado em 25 de agosto de 2008. SOUZA RJ; MACEDO FS. 2003. Produção e
igual à Amarante Gouveia, e produções MENEZES SOBRINHO JA; CHARCHAR qualidade de cultivares de alho catarinenses,
JM; ARAGÃO FAS. 1999. Caracterização submetidas à vernalização, na região de
inferiores à média nacional da última sa- morfológica de germoplasma de alho por Lavras-MG. In: Congresso Brasileiro
fra, que foi de 8,47 t ha-1 (IBGE, 2008). análises multivariada, componentes principais de Olericultura, 43. Resumos... Recife:
Além da Gigante de Lavínia, podem ser e variáveis canônicas. Horticultura Brasileira
SOB (CD-ROM).
destacadas as cultivares Gravatá (10,87 17: 96-101.
MOTA JH. 2003. Diversidade Genética e TRANI PE; PASSOS FA; FOLTRAN DE;
t ha-1), Chinês Real (10,65 t ha-1), Cateto TIVELLI SW; RIBEIRO IJA. 2005. Avaliação
Características Morfológicas Físico-Quimicas
Roxo Pf Lv (10,63 t ha-1) e Caturra (9,68 e Produtivas de Cultivares de Allium sativum dos acessos de alho pertencentes à coleção
t ha-1). Com base nos resultados obtidos, L. Lavras: UFLA. 49p (Tese doutorado). do Instituto Agronômico de Campinas.
as cultivares estudadas aumentam a MOTA JH; SOUZA RJ; REZENDE GM; Horticultura Brasileira 23: 935-939.
possibilidade de adoção de novas culti- TEIXEIRA IR. 2005. Similaridade TREVISAN JN; MARTINS GA; SANTOS
morforlógica de cultivares de alho (Allium NRZ. 1997. Influência da época de plantio na
vares pelos produtores de Diamantina, sativum L.). Revista Científica Eletrônica produção de classes de bulbos comerciais de
o que aumentaria a diversidade genética de Agronomia. Disponível em: www.revista. cultivares de alho (Allíum sativum L.). Ciência
local, contribuindo para a estabilidade inf.br/agro08/. Acessado em 15 de dezembro Rural 27: 7-11.
produtiva na região. de 2008.
VILELA NJ; HENZ GP. 2000. Situação atual da
OLIVEIRA CM. 1999. Determinação do ponto de participação das hortaliças no agronegócio
colheita em cultivares de alho. Lavras: UFLA. brasileiro e perspectivas futuras. Cadernos de
AGRADECIMENTOS 51 p (Tese mestrado). Ciência & Tecnologia 17: 71-89.

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 359


Página do horticultor / Grower's page
LALLA JG; LAURA VA; RODRIGUES APDC; SEABRA JÚNIOR S; SILVEIRA DS; ZAGO VH; DORNAS MF. 2010. Competição de cultivares de
brócolos tipo cabeça única em Campo Grande. Horticultura Brasileira 28: 360-363.

Competição de cultivares de brócolos tipo cabeça única em Campo


Grande
Juliana G de Lalla1; Valdemir A Laura1, 2; Adriana PDC Rodrigues1; Santino Seabra Júnior3; Denis S da
Silveira1; Vinícius H Zago1; Marlos F Dornas1
1
UNIDERP, C. Postal 2153, R. Alexandre Herculano 1400, Jardim Veraneio, 79037-280 Campo Grande–MS; 2EMBRAPA-CNPGC, C.
Postal 154, 79002-970 Campo Grande–MS; 3UNEMAT, Avenida São João s/n, Bairro Cavalhadas, 78200-000 Cáceres–MT; jugadum@
hotmail.com; valdemir.laura@pq.cnpq.br; adricontreiras@hotmail.com; santinoseabra@hotmail.com; denisx@terra.com.br; vinizago@
hotmail.com; mfdornas@hotmail.com

RESUMO ABSTRACT
O experimento foi conduzido na horta da UNIDERP, Campo Single-head broccoli cultivars evaluation in Campo Grande,
Grande-MS, de junho a setembro de 2005. Objetivou-se avaliar o Brazil
desempenho de diferentes cultivares de brócolos tipo cabeça única The experiment was carried out in field at the Universidade
disponíveis no mercado para as condições edafoclimáticas de Campo para o Desenvolvimento do Estado e Região do Pantanal, located in
Grande. Foram avaliadas oito cultivares comerciais: BRO68 (Rogers), Campo Grande, Brazil, from June to September 2005. The aim of
Marathon (Sakata), Green Parasol (Takii), Centenário (Takii), Legacy this work was to evaluate the performance of commercial single-head
(Asgrow), Magestic Crown (Asgrow), AF649 (Sakata) e Brócolis de broccoli cultivars for Campo Grande. Eight commercial cultivars
Cabeça (Topseed). O delineamento experimental utilizado foi em were evaluated: BRO 68 (Rogers), Marathon (Sakata), Green Parasol
blocos casualizados completos, com quatro repetições, sendo cada (Takii), Centenário (Takii), Legacy (Asgrow), Majestic Crown
parcela composta por dez plantas. Foram realizadas seis colheitas, (Asgrow), AF649 (Sakata) and Brócolis de Cabeça (Topseed). The
a partir de 89 dias após a semeadura, de acordo com formação da experimental design was a completely randomized block with four
inflorescência e o ponto de colheita, independente do tamanho. replications, with ten plants per plot. Six harvests were performed,
Foram avaliadas as características massa fresca (g) e diâmetro da from 89 days after the sowing date, according to the broccoli
inflorescência (cm) e produtividade (t ha-1). Para cultivo em Campo inflorescence formation and the harvest point, independently from
Grande, as cultivares Centenário, AF649, BRO68 e Marathon são the size. Fresh inflorescence mass (g) and diameter (cm) and yield (t
as mais indicadas para plantio entre junho a setembro, pela maior ha-1) were measured and evaluated. Among the evaluated cultivars,
produtividade. the most recommended for production in Campo Grande from June
to September are Centenário, AF649, BRO 68 and Marathon.

Palavras-chave: Brassica oleracea var. italica, seleção, produção, Keywords: Brassica oleracea var. italica, selection, production,
produtividade. yield.

(Recebido para publicação em 9 de fevereiro de 2009; aceito em 29 de julho de 2010)


(Received on February 9, 2009; accepted on July 29, 2010)

A couve-brócolos ou brócolos (Bras-


sica oleracea var. italica) é uma
planta cultivada em diversas regiões do
lada, pois os consumidores exigem um
produto de qualidade bem uniforme.
As cultivares mais plantadas do tipo
anticancerígenas (Rosa & Rodrigues,
2001).
No Brasil, o cultivo de brócolos é
mundo, principalmente naquelas com cabeça única são os híbridos Legacy, realizado principalmente nos cinturões
temperaturas mais amenas. Em geral, Magestic Crown, Titleist, Maraton e verdes e a maior parte da produção é
a parte consumida é a inflorescência, BRO 68, cultivados principalmente no destinada ao mercado na forma in na-
que pode ser do tipo ramoso, líder de outono e inverno nos estados do Sul e tura, nas feiras livres e supermercados.
mercado in natura ou do tipo cabeça Sudeste do Brasil, já que a adaptação e o Já o brócolos tipo cabeça única pode ser
única, que vem ganhando espaço no cultivo no verão ainda são desafios para produzido também para processamento
mercado in natura, embora tenha sido os melhoristas (Seabra Júnior, 2005). e congelamento (Filgueira, 2003).
desenvolvido originalmente para indus- O brócolos vem ganhando cada vez No estado de São Paulo, o bróco-
trialização. Com o crescimento das redes mais importância dentre as hortaliças, los teve acréscimo na sua área anual
de cozinhas industriais e de fast food, o pelo seu alto valor nutritivo e proprieda- plantada de 622%, passando de 482 ha
brócolos cabeça única vem ganhando des nutracêuticas, pela presença de glu- em 1990 (Camargo Filho & Mazzei,
espaço, principalmente na forma conge- cosilonatos, apresentando propriedades 2000), para aproximadamente 3.000 ha

360 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul. - set. 2010


Competição de cultivares de brócolos tipo cabeça única em Campo Grande

em 2006, com produção em média de cultivar de brócolos tropical conhecida Legacy (Asgrow), Magestic Crown
três milhões de engradados com 15 kg mundialmente é a Ramoso Piracicaba de (Asgrow), AF649 (Sakata) e Brócolis
(IEA, 2007). Verão, desenvolvida no Brasil. A emis- de Cabeça (Topseed). O delineamento
Para a obtenção de produtos com alta são mais tardia da inflorescência central, experimental foi em blocos casualizados
qualidade, é necessário conciliar alguns em cultivares adaptadas ao período de completos, com quatro repetições, sendo
fatores como adubação equilibrada, inverno, como Ramoso Santana, com- cada parcela composta por dez plantas.
cultivares adaptadas e controle fitossani- parativamente ao que ocorre com as As mudas foram produzidas em
tário correto, considerando a existência cultivares adaptadas ao cultivo de verão bandejas de poliestireno expandido com
da relação entre o estado nutricional da indica requerimento de temperaturas 128 células preenchidas com o substrato
planta e sua suscetibilidade à ação de mais baixas para a diferenciação floral Plantmax® e transplantadas aos 30 dias
patógenos (Huber, 1994). (Athanásio & Silva, 1985). após a semeadura (DAS), quando apre-
Para seu desenvolvimento, o bróco- Em Mato Grosso do Sul, quase a sentavam de três a quatro folhas verda-
los requer clima ameno ou temperado totalidade do brócolos produzido é do deiras. O espaçamento utilizado foi de
resistindo a baixas temperaturas e a tipo Ramoso, sendo mínima a produção 1,0 x 0,5 m e a irrigação foi realizada
geadas leves, produzindo também sob de brócolos tipo cabeça única. Dentre por aspersão, diariamente. Foi realizada
determinadas condições em climas mais os vários fatores que influenciam ne- calagem de acordo com a análise de solo
quentes (Filgueira, 2003). No Brasil, gativamente a produção comercial e e adubação na cova utilizando 2,0 g de
predominam cultivares de outono- a qualidade dessa hortaliça está a alta N, 10,0 g de P2O5 e 15,0 g de K2O (Tra-
inverno, tendo sido selecionadas algu- temperatura que podem chegar a 32ºC, ni et al., 1997). Posteriormente, foram
mas para altas temperaturas. Embora o inclusive no outono-inverno. Não há re- realizadas três coberturas quinzenais
plantio de verão seja menos produtivo, comendações indicando cultivares mais com 3,0 g de N por planta além de uma
a rentabilidade do cultivo nessa época produtivas para o cultivo nas condições adubação com Bórax (3,0 g por planta),
é favorecida por preços mais altos em edafoclimáticas do Estado. aos 15 dias após o transplante. Os outros
virtude de a colheita ocorrer no período A avaliação de cultivares de brócolos tratos culturais, como controle de pragas
da entressafra. e a indicação dos mais adaptados ao e doenças, foram realizados de acordo
O crescimento e a qualidade das estado de Mato Grosso do Sul permi- com a necessidade da cultura.
brássicas são melhores com temperatu- tirá a obtenção de produtos de melhor Foram realizadas seis colheitas,
ras médias de 15 a 18ºC e máximas de qualidade e poderá reduzir os problemas sendo a primeira aos 89 DAS e a última
24ºC (Trevisan et al., 2003). Períodos de sazonalidade dessa hortaliça. Essa aos 116 DAS, de acordo com a formação
prolongados de temperatura acima de informação também poderá diminuir a da inflorescência e o ponto de colheita,
25ºC podem retardar a formação de importação de brócolos de outros esta- independente do tamanho. Foram ava-
inflorescência em plantas que se encon- dos e o preço no comércio local. liadas massa fresca média e diâmetro
tram em fase de crescimento vegetativo, Diante do exposto, objetivou-se da inflorescência e produtividade. Os
reduzindo o tamanho delas e causando neste trabalho avaliar o desempenho dados foram submetidos à análise de
desenvolvimento de folhas ou de diversas cultivares de brócolos tipo variância e ao teste de Tukey, a 5% de
brácteas nos pedúnculos florais cabeça única disponíveis no mercado probabilidade, utilizando o programa
(Bjorkman & Pearson, 1998). Para a para as condições edafoclimáticas de GENES (Cruz, 1997).
indução do florescimento, o principal Campo Grande-MS.
fator é a ocorrência de temperaturas bai-
xas após a fase vegetativa denominada RESULTADOS E DISCUSSÃO
período juvenil (Booij & Struik, 1990),
MATERIAL E MÉTODOS
sendo que esta reação varia de acordo Os resultados obtidos neste estudo
com a cultivar. O experimento foi conduzido na mostram a aptidão de Campo Grande
Por outro lado, elevações abruptas Horta Experimental e Didática da para o desenvolvimento de algumas
de temperatura podem provocar cresci- UNIDERP, Campus III, Campo Grande cultivares de brócolos tipo cabeça única,
mento excessivamente rápido da inflo- (532 m altitude), de junho a setembro de de junho a setembro. Verificou-se neste
rescência e alongamento do pedúnculo 2005. A temperatura média no período período que todas as cultivares emitiram
em determinadas cultivares. Durante o do experimento foi de 22,4ºC, sendo que inflorescência apesar de a região ser tro-
período da colheita, temperaturas altas a máxima no período do experimento pical e apresentar temperaturas cálidas.
aceleram o desenvolvimento das inflo- foi de 33,6ºC e a mínima de 16,5ºC. Isso porque, segundo Booij e Struik
rescências, dificultando sua colheita Segundo Embrapa (1999), o solo é do (1990), a indução e diferenciação floral
no estágio ideal para comercialização tipo Neossolo Quartzarênico. no brócolos ocorrem em decorrência de
(Trevisan et al., 2003). Foram avaliadas oito cultivares co- baixas temperaturas após a fase juvenil
A incorporação genética de tole- merciais de brócolos tipo cabeça única, e de acordo com Nowbuth (1998), nessa
rância a temperaturas mais elevadas constituindo os tratamentos: BRO 68 fase são exigidas temperaturas de 15 a
permite o cultivo também em épocas (Rogers), Marathon (Sakata), Green 17ºC durante 30 dias. Porém, pode-se
menos favoráveis a essa cultura. A única Parasol (Takii), Centenário (Takii), inferir que as temperaturas elevadas du-

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 361


JG Lalla et al.

Tabela 1. Massa fresca e diâmetro da inflorescência e produtividade de brócolos tipo cabeça possivelmente por outras características
única em função das cultivares, em Campo Grande-MS, de junho a setembro (fresh head mass como compacidade, granulometria e al-
and diameter and yield of single-head broccoli in function of cultivars, in Campo Grande, tura da inflorescência, não avaliadas nes-
Brazil, from June to September.) Campo Grande, UNIDERP, 2005. te estudo. Vargas et al. (2006) também
Massa fresca Diâmetro da não verificaram diferenças significativas
Produtividade
Cultivares inflorescência inflorescência para a massa fresca e diâmetro da in-
(t ha-1)
(g) (cm) florescência ao estudarem as cultivares
Centenário (Takii) 568,7 a 15,5 a 17,1 a BRO 68, Legacy e Marathon.
AF649 (Sakata) 513,4 ab 16,6 a 15,4 ab A variabilidade no desempenho
BRO 68 (Rogers) 482,6 ab 16,0 a 14,5 ab das cultivares estudadas revelou a
possibilidade de produção de brócolos
Marathon (Sakata) 430,1 ab 15,4 a 12,9 ab
tipo cabeça única em Campo Grande,
Green Parasol (Takii) 408,5 b 15,2 a 12,2 b com semeadura realizada em junho e
Legacy (Asgrow) 405,5 b 15,2 a 12,2 b as cultivares que se apresentaram mais
Magestic Crown (Asgrow) 375,9 b 15,2 a 11,3 b promissoras para produzir neste período
Brócolis de Cabeça (Topseed) 99,2 c 9,0 b 3,0 c foram Centenário, AF649, BRO 68 e
Marathon.
CV (%) 16,1 7,0 16,1
Médias seguidas da mesma letra nas colunas não diferiram entre si pelo teste de Tukey
(p<0,05) [means followed by the same letter in the column did not differ from each other, REFERÊNCIAS
Tukey’s test (p<0.05)].
ATHANÁZIO JC; SILVA N. 1985. Heterose
em couve-brócolos ramoso para o verão.
rante o ciclo da planta não coincidiram por Trevisan et al. (2003), ao estudar Horticultura Brasileira 3: 12-15.
com os períodos críticos. Em um estudo cultivares do tipo ramoso em Santa BJORKMAN T; PEARSON K. 1998. High
realizado em Jaboticabal no verão, em Maria-RS, os quais obtiveram produção temperature arrest of inflorescence
development in broccoli (Brassica oleracea
casa de vegetação, verificou-se que variando de 7,1 a 16,3 t ha-1, com uma var. italica L.) Journal of Experimental Botany
as cultivares Marathon e Centura não população de 14.200 plantas ha-1. Isso 49: 101-106.
emitiram inflorescência (Grilli et al., leva a inferir que, uma vez selecionados BOOIJ R; STRUIK, PC. 1990. Effects of
2003). Neste estudo, porém, a cultivar materiais para as condições regionais, temperature on leaf and curd initiation in
relation to juvenility of cauliflower. Scientia
Marathon emitiu inflorescência. a produtividade pode ser tão elevada Horticulturae 44: 201-214.
A cultivar Brócolis de Cabeça apre- quanto de regiões tradicionais no cultivo CAMARGO FILHO WP; MAZZEI AR. 2000.
sentou a menor média para todas as dessa hortaliça. Abastecimento de legumes: tendência de
características estudadas, sendo apenas A cultivar Legacy produziu 47,5% preços. Informações Econômicas 30: 35-49.
CRUZ CD. 1997. Aplicativo computacional em
17,4%, em média, da produção e produ- a mais do que Lyra Filho et al. (1997)
Genética e Estatística: Programa Genes.
tividade da cultivar Centenário, e 42% obtiveram (6,4 t ha-1) em Pernambuco, Viçosa: UFV. 442p.
menor em relação ao diâmetro da in- onde trabalharam com uma população EMBRAPA, 1999. Sistema Brasileiro de
florescência. Essa cultivar permaneceu de plantas semelhante à utilizada nesta Classificação de Solos. Brasília: Embrapa
na fase vegetativa por um tempo pro- pesquisa (22.000 plantas ha-1). Informação Tecnológica. 412p.
longado, não formando inflorescências FILGUEIRA FAR. 2003. Novo manual de
Na cultivar Marathon (12,9 t ha-1) olericultura: cultura e comercialização de
viáveis comercialmente, o que ocorreu, verifica-se um rendimento superior ao hortaliças Viçosa: UFV. 412p.
provavelmente, pela baixa tolerância a obtido por Rincón et al. (1999) (11,9 t GRILLI GVG; CINTRA AAD; BRAZ LT;
temperaturas mais altas. ha-1), os quais utilizaram uma população FRACASSO JV; SILVA FS. 2003. Desempenho
de híbridos de brócolis em casa de vegetação
A cultivar Centenário apresentou de 50.000 plantas ha-1. Contudo Vargas
no verão. In: CONGRESSO BRASILEIRO
maior produtividade e massa fresca et al. (2006) obtiveram produtividade DE OLERICULTURA, 43. Resumos... Recife:
média da inflorescência que as cultiva- superior (22,7 t ha-1) com uma popu- SOB (CD-ROM).
res Green Parasol, Legacy e Magestic lação de 31.250 plantas ha-1. Também HUBER DM. 1994. The influence of mineral
Crown. Para essas características foi a obtiveram produtividade superior com nutrition on vegetable diseases. Horticultura
Brasileira 12: 206-214.
que apresentou maior média, sem diferir as cultivares BR068 e Legacy. Isso se
IEA - Instituto de Economia Agrícola. 2007, 21
estatisticamente das cultivares AF649, deu devido a fatores edafoclimáticos de junho. Área e produção dos principais
BRO 68 e Marathon (Tabela 1). A produ- adequados possibilitando que o poten- produtos da agropecuária do estado de São
tividade obtida pela cultivar Centenário cial produtivo dessas cultivares fosse Paulo. Disponível em: www.iea.sp.gov.br/out/
é superior às produtividades obtidas expresso. banco/menu.php.
LYRA FILHO HP; MARANHÃO EHA;
(9,4 a 13,0 t ha-1) por Melo & Giordano O diâmetro da inflorescência não MARANHÃO EAA; RODRIGUES VJLB.
(1995), em Brasília, na densidade de acompanhou as diferenças de produti- 1997. Competição de cultivares e híbridos de
22.000 plantas ha-1. vidade (Tabela 1), nem a massa fresca couve-brócolos Brassica oleracea var. italica
L. na Zona da Mata do Estado de Pernambuco.
A média de produtividade da cultivar da inflorescência. A diferença observada In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
Centenário, foi superior ao valor obtido na produtividade pode ser explicada OLERICULTURA, 37. Resumos... Manaus:

362 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Competição de cultivares de brócolos tipo cabeça única em Campo Grande

SOB. (CD-ROM). Agrária. Producción y Protección de los e calagem para o Estado de São Paulo.
MELO PE; GIORDANO LB. 1995. Características Vegetales 14: 225-236. Campinas: Instituto Agronômico/Fundação
agronômicas e para processamento de híbridos ROSA EAS; RODRIGUES AS. 2001. Total and IAC. 176p. (Boletim Técnico, 100).
comerciais e experimentais de couve- individual glucosinalate content in 11 broccoli TREVISAN JN; MARTINS GAK; LÚCIO ADC;
brócolos de cabeça única. In: CONGRESSO cultivars grown in early and late seasons. CASTAMAN C; MARION RR; TREVISAN
BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 35 HortScience 36: 56-59. BG. 2003. Rendimento de cultivares de
Resumos... Foz do Iguaçu: SOB. 13: 95. SEABRA JÚNIOR. 2005. Influência de doses de brócolis semeadas em outubro na região
NOWBUTH RD; PEARSON S; THOMAS nitrogênio e potássio na severidade à podridão centro do Rio Grande do Sul. Ciência Rural
G; MONTEIRO AA. 1998. The effect of negra e na produtividade de brócolis tipo 33: 233-239.
temperature and shade on curd initiation in inflorescência única. Botucatu: UNESP-FCA. VARGAS PF; CHARLO HCO; CASTOLDI R;
temperature and tropical cauliflower. Acta 81p (Tese doutorado). BRAZ LT. 2006. Desempenho de cultivares
Horticulturae 459: 79-87. TRANI PE; TAVARES M; SIQUEIRA WJ. 1997. de brócolos de cabeça única cultivados no
RINCÓN L; SAEZ J; CRESPO JAP; LOPEZ Brócolis, couve-flor e repolho. In: RAIJ BV, verão. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
MDG; PELLICER C. 1999. Crecimiento y CANTARELLA H; QUAGGIO JA, FURLANI OLERICULTURA, 46. Resumos... Goiania:
absorcion de nutrients del brócoli. Investigación AMC. (Ed.). Recomendações de adubação SOB (CD-ROM).

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 363


SILVA JBC; MACHADO CAN; MONTEIRO JG. 2010. Sistema auxiliar de bombeamento de solução nutritiva em cultivos hidropônicos de hortaliças.
Horticultura Brasileira 28: 364-369.

Sistema auxiliar de bombeamento de solução nutritiva em cultivos


hidropônicos de hortaliças
João Bosco C da Silva1; Carlos Arthur N Machado1; Juliana G Monteiro2
1
Embrapa Hortaliças, C. postal 218, 70359-970 Brasília-DF; 2UEG, Campus de Ipameri, Rodov. GO 330, km 241 s/n, Ipameri-GO;
jbosco@cnph.embrapa.br

RESUMO ABSTRACT
O sistema de hidroponia mais utilizado consiste em cultivar Auxiliary pumping of nutrient solution for hydroponic culture
plantas em calhas ou outros contentores por onde circula a solução of vegetables
nutritiva de forma intermitente. Este processo exige disponibilidade The most usual hydroponics system consists of plant cultivation
permanente de energia elétrica para o bombeamento de solução nutri- into gutter pipe or other containers through which the nutrient solution
tiva, podendo ocorrer grandes perdas no caso de falhas prolongadas circulates intermittently. This system requires continuous electricity
no fornecimento elétrico. Foram avaliados dois sistemas auxiliares supply for pumping nutrient solution, so it is highly vulnerable to
de bombeamento. Em um deles, a circulação da solução é feita por prolonged failures in the electricity supply. Two auxiliary systems
força de ar comprimido que, por controle de nível com bóia elétrica were evaluated for pumping. In one, the solution movement is
e acionamento de válvulas pneumáticas, permite realizar diversos promoted by compressed air. The electric buoys and pneumatics
ciclos de circulação da solução nutritiva com o ar acumulado no valves controllers perform several cycles of nutrient solution, using
cilindro do compressor. O outro sistema consiste em um conjunto the air accumulated into the cylinder’s compressor. The other system
de motobombas que funcionam com energia de 12 volts, acumulada consists of a set of 12-volt pumps fed by batteries which are supplied
em baterias abastecidas por carregador. O sistema para testes foi by a charger. The tested system had a compressor with a motor of
composto por um compressor de 1 cv com cilindro de ar de apro- one hp, a cylinder of 45 L, and two solution tanks. One tank had 60
ximadamente 45 L e dois reservatórios de solução, sendo o inferior L, which allows pressurization. Specifically for the used compressor,
com capacidade de 60 L, que permite a pressurização. Especifica- it was obtained, on average, four cycles of solution transference
mente para o compressor utilizado obteve-se em média, quatro ciclos for each full cylinder of the compressor, without electricity. The
de transferência de solução por cada carga do compressor cheio e total volume of solution transference for each cylinder was 200
desligado. O volume total de solução movimentada por cada carga L, which corresponds to the movement of approximately 5 L of
do compressor foi de 200 L, o que corresponde à movimentação de solution per liter of compressed air. The other system consists of
aproximadamente 5 L de solução por litro de ar comprimido. O outro three 12-volt pumps model 500 gph with capacity for 1890 L h-1 of
sistema consiste de três motobombas de 12 volts, modelo 500 gph liquid transference and consumption of 2.5 amps h-1, supplied by an
com capacidade de recalque de 1890 L h-1 e consumo de 2,5 ampér automotive battery. The set worked, on average, for 3 hours and 20
h-1, acionadas por uma bateria automotiva. O conjunto funcionou, minutes for each battery charge. The volume of pumped solution was
em média, durante 3 horas e 20 minutos para cada carga da bateria. approximately 500 L h-1. With these parameters it is possible to make
O volume de solução movimentado foi de aproximadamente 500 L projects of systems for auxiliary pumping according to the volume
h-1. Com os parâmetros obtidos é possível dimensionar os sistemas of solution to be pumped and the convenient intervals, since there
de bombeamento auxiliar de acordo com o volume de solução a ser are many models of air compressors, automotive batteries, chargers
movimentado e com o intervalo de segurança que for conveniente, and 12-volts pumps.
pois existem no mercado inúmeros modelos de compressores de ar,
baterias automotivas de várias capacidades de carga e vários modelos
de motobomba de 12 volts.

Palavras-chave: Hidroponia, bombeamento de segurança, circulação Keywords: Hydroponics, safety pumping, circulation of solution.
de solução.

(Recebido para publicação em 19 de março de 2009; aceito em 27 de agosto de 2010)


(Received on March 19, 2009; accepted on August 27, 2010)

D iversas espécies olerícolas são cul-


tivadas no sistema hidropônico. O
sistema mais comum consiste no cultivo
é conduzida por gravidade, passa pelas
calhas e é recolhida em um depósito
inferior de onde é novamente recalcada
sar grande prejuízo, devido ao resseca-
mento do sistema radicular das plantas.
Este é um fator limitante, principalmente
das plantas em calhas ou outros conten- para o depósito superior (Castelane & em locais distantes dos centros urbanos,
tores, com fornecimento da solução nu- Araújo, 1995; Furlani, 1998). onde as falhas são mais frequentes e
tritiva de forma intermitente. A solução O sistema de circulação de solução mais prolongadas, devido às dificul-
nutritiva é inicialmente recalcada para nutritiva é geralmente acionado por dades no atendimento das equipes de
um depósito superior, localizado acima energia elétrica. As falhas prolongadas manutenção.
do nível das calhas de cultivo. A solução no fornecimento de energia podem cau- O uso de geradores elétricos es-

364 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Sistema auxiliar de bombeamento de solução nutritiva em cultivos hidropônicos de hortaliças

tacionários é a opção mais utilizada


para garantir a continuidade do bom-
beamento da solução nutritiva, porém
estes equipamentos são relativamente
caros, especialmente quando dotados
de sistemas automatizados de partida e
desligamento.
Outra opção poderia ser a utilização
de painéis de captura de radiação solar
para acumular energia em baterias de 12
V e estas acionarem bombas (Combrink
& Harms, 2001). Contudo, os painéis
geram apenas cerca de 18 w h-1, durante
o período de exposição, o que é muito
pouco se considerarmos que um motor
elétrico de 1 cv consome 750 w h-1.
Neste trabalho são apresentadas duas
alternativas de sistemas paralelos ao
bombeamento convencional, acionados
e revertidos automaticamente durante
os intervalos de interrupção de energia
elétrica.

MATERIAL E MÉTODOS

Os dois sistemas propostos foram


instalados na Embrapa Hortaliças, de
forma não associada ao sistema de cul-
tivo, visando avaliar o funcionamento e
estabelecer os parâmetros iniciais para
utilização destes sistemas.
Função dos sistemas - As insta-
lações propostas funcionam de forma
paralela ao sistema de bombeamento
convencional, sendo dotados de me-
canismos automáticos de acionamento
e reversão entre o sistema paralelo e o
convencional, todas as vezes que ocorrer
a interrupção e o restabelecimento no Figura 1. Sistema de bombeamento auxiliar por motobombas de 12 volts (auxiliary pumping
fornecimento de energia elétrica. system through 12-volt pumps). Brasília, Embrapa Hortaliças, 2008.
Sistema de 12 volts - O sistema
consiste em utilizar baterias automotivas sistema e na figura 3, o sistema instala- circuito alternativo de 12 volts. A tensão
para mover uma ou mais motobombas do. Enquanto a rede de energia elétrica de 12 volts fecha o contato do relé de
auxiliares. O conjunto avaliado consiste convencional estiver presente, a chave subtensão (R3), que dispara o tempori-
de três motobombas que funcionam contactora (C1) permanece energizada, zador (R1), de acordo com tempo regu-
com energia de 12 volts, acumulada abrindo o circuito alternativo de 12 volts lado, fechando o contato do relé (R2)
em baterias abastecidas por carregador e mantendo o circuito de bombeamento que aciona as motobombas durante os
durante os períodos de fornecimento de convencional funcionando. Durante este intervalos programados. O líquido (so-
energia elétrica. Possui ainda um relê tempo, a bateria de 12 volts é carregada e lução nutritiva) contido no reservatório
temporizador, chave contadora e chave mantida em carga máxima, por meio de inferior (C), localizado abaixo do nível
de nível, que automatizam o funciona- um Carregador Flutuador, que permite da calha de cultivo é recalcado para a
mento e a reversão para o bombeamento ficar ligado na rede elétrica por tempo extremidade superior da calha ou para
convencional quando o abastecimento indeterminado. outro reservatório (A).
for restabelecido. Na falta de energia elétrica da rede, De acordo com o tempo programa-
Funcionamento - Na figura 1 é a chave contactora (C1) abre o circuito do, é acionada a válvula solenóide (V1),
apresentado o esquema de instalação do de bombeamento convencional e fecha o através do temporizador (R1), fechando

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 365


JBC Silva et al.

ou abrindo a saída de solução nutritiva


do reservatório (A). A chave de nível
(S1) instalada no reservatório inferior
(C) aciona ou desativa o funcionamento
das bombas de acordo com o nível de
líquido contido no reservatório. De
acordo com o tempo programado, o relé
temporizado abre ou fecha o seu contato
e a solenóide (V1), permitindo ou não
que a solução nutritiva armazenada no
reservatório superior escoe pela calha
de cultivo. Estes ciclos irão se repetir
enquanto a carga da bateria permitir,
pois quando a mesma abaixar para 10,5
volts, o relé de subtensão (R3) abrirá
o seu contato, desligando o circuito
alternativo, evitando, portanto o dano
aos motores das bombas.
Sistema com ar comprimido - Na
figura 2 é apresentado o esquema da ins-
talação e na figura 4, o sistema instalado.
A circulação da solução é feita por força
de ar comprimido que, ao ser aplicado
em um depósito vedado, força a saída da
solução contida dentro dele e a sua trans-
ferência para outro depósito localizado
acima das calhas. O controle de nível
com bóia elétrica e o acionamento de
válvulas pneumáticas permitem realizar
diversos ciclos de circulação da solução
nutritiva com o ar acumulado no cilindro
do compressor durante o período de
fornecimento de energia elétrica.
Funcionamento - Ao se aplicar o
ar comprimido no reservatório vedado
(C) (Figura 2), a solução nele contida
sai pela tubulação instalada no fundo e
se transfere para o reservatório elevado
(A). Ao final do processo de transfe-
rência da solução, a chave de nível Figura 2. Sistema de bombeamento auxiliar por meio de ar comprimido (auxiliary pumping
system through compressed air). Brasília, Embrapa Hortaliças, 2008.
(S1) instalada dentro do reservatório
inferior, interrompe o acionamento da
válvula (V3) que corta o fluxo de ar, ao o sistema pneumático, abrindo a vál- O intervalo entre ciclos de circulação
abrir o circuito de 12 v que comanda vula de ar comprimido (V3) que injeta da solução nutritiva é estabelecido por
a válvula solenóide controladora de ar pressão no reservatório inferior, fazendo meio de um temporizador (R1) que con-
(V3). No mesmo instante, devido à au- a transferência do líquido para o reser- trola a energia que aciona a válvula (V3)
sência de pressão na linha pneumática, vatório superior. No mesmo instante, e esta controla o fluxo de ar comprimido
ocorre também a abertura das válvulas a válvula de água (V1), instalada no de todo o sistema.
de água (V1 e V5) e do suspiro (V2), cano de saída do reservatório superior, O ciclo de circulação se repete até
permitindo o retorno da solução nu- é fechada, interrompendo o fluxo da que a pressão do ar contido no depósito
tritiva do reservatório superior para o solução pela calha. A válvula do suspiro do compressor não seja mais suficiente
inferior, passando pela calha (B) onde (V2) também é fechada, para permitir a para acionar as válvulas, principalmente
são cultivadas as plantas. pressurização do reservatório. A válvula a (V3), que controla o fluxo de ar.
Quando o nível da solução transfe- de retenção (V2), instalada no cano de A reversão para o sistema conven-
rida para o reservatório inferior atinge o entrada do reservatório inferior, não cional de bombeamento se dá quando a
máximo, a chave de nível (S1) fecha o permite o retorno da solução nutritiva e energia elétrica aciona o relê (R1) que
circuito de 12 v que aciona novamente nem a saída do ar. abre o circuito de 12 volts, interrompen-

366 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Sistema auxiliar de bombeamento de solução nutritiva em cultivos hidropônicos de hortaliças

contendo cerca de 15 cm de lâmina de


A B água, apenas o suficiente para manter as
bombas submersas. As bombas foram
conectadas a tubulações (mangueiras ¾
Bomba de polegada) com 3 m de comprimento,
12 v posicionadas para as alturas de recalque
de 1,5 m e 2,5 m. Foram realizadas três
medições de vazão de cada bomba,
durante dez minutos, com o tempori-
Depósito zador regulado para cinco minutos de
funcionamento e trinta segundos de
Carregador C interrupção. As medições foram feitas
de bateria com uma bateria nova, de 45 ampér e
completamente carregada e também
com uma bateria em final de vida útil.
Para o sistema de ar comprimido,
o protótipo (figura 4) foi composto por
um compressor com motor de 1 cv, com
Bateria cilindro de ar de aproximadamente 45 L
e o consumo aproximado de 1,2 Kwh.
Dois reservatórios de solução, sendo o
Figura 3. Sistema auxiliar de bombeamento, utilizando bombas de 12 volts (auxiliary
inferior com capacidade de 60 L, que
pumping system using 12-volt pumps). Brasília, Embrapa Hortaliças, 2008.
permite a pressurização, e outro, com
capacidade para 250 L, que foi instalado
na altura de 3 m. Os ciclos de circulação
A da solução nutritiva foram controlados
B por válvulas pneumáticas, controladoras
Depósito
de pressão e bóias elétricas.
superior

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com a bateria nova, as três bombas


de 500 gph funcionaram durante seis
horas e vinte minutos. Depois de três
C horas de funcionamento, a vazão era de
564 L h-1, tendo um pequeno declínio de
vazão ao longo do tempo. Com a bateria
usada, a primeira medição da vazão,
medida após a primeira hora de fun-
cionamento foi de 536 L h-1. Após duas
horas e trinta minutos a vazão estava em
Depósito 360 L h-1 e a bateria se esgotou com três
inferior horas de funcionamento, apresentando a
vazão de 270 L h-1. Efetuada a regressão
Figura 4. Sistema auxiliar de bombeamento, utilizando ar comprimido. A - protótipo experi- linear dos dados obteve-se a equação:
mental,. B - válvula solenóide, C - sistema de controle. (auxiliary pumping system through
Y (L h-1) = -1,867 X (min) + 631,31 (R2
compressed air. A - experimental prototype, B - solenoid valve, C - controlers) Brasília,
Embrapa Hortaliças, 2008.
= 0,8854).
Embora as três bombas sejam da
do o funcionamento da válvula (V3), fabricante do seu pressostato. Nesta mesma especificação de vazão (500
que por sua vez, interrompe o fluxo de condição, a carga da bateria também é gph) e os fabricantes não citem ne-
ar comprimido. restaurada por meio de um Carregador nhuma outra característica que possam
Enquanto houver o fornecimento de Flutuador. diferenciá-las, uma delas apresentou o
energia elétrica o compressor se recarre- Avaliação dos sistemas – Para o desempenho inferior (bomba 3 na figura
ga e mantém o reservatório de ar com- sistema de 12 v (Figura 3), três bom- 5). As outras bombas apresentaram de-
primido na pressão máxima, de acordo bas submersas, modelo 500 gph foram sempenho similar entre si, mesmo sendo
com a faixa de pressão estabelecida pelo instaladas em um depósito de água de fabricantes diferentes.

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 367


JBC Silva et al.

Figura 5. Desempenho de três bombas de 500 gph e 12 volts, funcionando com energia fornecida por bateria ou por rede
elétrica transformada, com recalques de 1,5 e 2,5 m (performance of three 12-volt pumps of 500 gph powered by battery or
by transformed electric power and elevations of 1.5 and 2.5 m). Brasília, Embrapa Hortaliças, 2008.

Utilizando a energia da bateria, o madamente 74 psi, até o esgotamento do Volume por ciclo: 50,5 L (média de
desempenho das bombas foi reduzido ar comprimido. Portanto, seria possível quatro medições)
em relação ao fornecimento de energia ocorrerem vários ciclos de circulação de Tempo de recalque: 2:30 minutos
elétrica transformada, lembrando que solução nutritiva, dependendo, contudo, (média de oito medições)
as medições foram realizadas em con- do volume do cilindro de ar do com- Tempo de retorno: 13 minutos
dições críticas de bateria usada e em pressor e do volume do reservatório de
Pressão exigida por ciclo: 24 libras
meia carga, enquanto que, utilizando solução. Poderiam ainda ser instalados
(psi) para o compressor com cilindro de
bateria nova, a vazão medida durante as vários reservatórios em série, acoplados
aproximadamente 45 L
duas primeiras horas foi de 584,5 L h-1, o em um único compressor.
que é bem mais próximo do valor 675,7 Após a instalação do protótipo, Número de ciclos por carga do
L h-1, obtido com as bombas ligadas na verificou-se que a pressão mínima para compressor: 4
rede elétrica, quando a altura de recalque funcionamento das válvulas é de 25 psi, Consumo do compressor para encher
era de 2,5 m. o que reduziu em muito a eficiência do o cilindro de ar vazio: 0,204 Kwh
Quando a altura de recalque foi sistema em relação ao que foi previsto Com estes resultados, considerando
menor (1,5 m), o funcionamento das no projeto, conforme dados apresenta- que a circulação de solução nutritiva nos
bombas foi mais uniforme, com pouca dos a seguir. sistemas hidropônicos é intermitente,
diferença entre a vazão obtida com acio- Quando a pressão é inferior a 25 psi, com tempo de circulação de 15 minutos,
namento por bateria (média de 791,6 L a válvula de acionamento pneumático seguido de mesmo tempo de interrup-
h-1) e o acionamento por rede elétrica (V2) não funciona adequadamente e ção, cada carga do compressor corres-
transformada (média de 895,4 L h-1). ocorre o escape do ar aplicado no re- ponde a uma hora de funcionamento do
Para o protótipo com ar comprimido, servatório, não havendo a transferência sistema hidropônico, sem fornecimento
quando foi elaborado o projeto, estimou- da solução. Este dado não estava dis- de energia elétrica.
se que a pressão a ser aplicada no reser- ponível antes da elaboração do projeto Com os parâmetros obtidos é possí-
vatório seria de aproximadamente seis e, portanto, não havia como especificar vel dimensionar os sistemas de acordo
libras por polegada quadrada (psi), que outro modelo de válvula. com o volume de solução a ser movi-
correspondente a três metros de coluna Como se trata de um protótipo cons- mentado e com o intervalo de segurança
de água (mca), o que seria suficiente truído com peças que não foram desen- que for conveniente, pois existem no
para transferir a solução nutritiva de um volvidas para este tipo de aplicação, eles mercado inúmeros modelos de com-
reservatório para o outro. devem ser ainda melhorados. pressores de ar, baterias automotivas
Com esta estimativa, considerando Partindo do compressor cheio e des- de várias capacidades de carga e vários
que o compressor tem o pressostato re- ligado, verificou-se o número de ciclos modelos de motobomba de 12 volts.
gulado para funcionamento na faixa de de circulação de água, tempo de trans- Para o sistema de ar comprimido é
80 a 110 psi e supondo que o corte de ferência do líquido entre os depósitos, necessário avaliar outros modelos de
energia elétrica ocorresse com a pressão volume de liquido transferido e pressão válvulas solenóides, sugerindo-se utili-
mínima (80 psi); haveria então uma necessária para cada ciclo, obtendo-se zar as válvulas esféricas de acionamento
faixa útil de funcionamento de aproxi- o seguinte: pneumático (Guia Nei Brasil, 2009).

368 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Sistema auxiliar de bombeamento de solução nutritiva em cultivos hidropônicos de hortaliças

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Adubação orgânica e cobertura do solo no crescimento e produção de


camapu
Nei Peixoto1; Fabrício de C Peixoto2; Úrsula L Vaz1; Sarah Cristine M Neri1; Juliana G Monteiro1
1
UEG, Rod. GO 330, km 241, Anel Viário, 75780-000 Ipameri-GO; 2UNESP, Via de Acesso Paulo Donato Castelanni, km 05, 14870-000
Jaboticabal-SP; nei.p@terra.com.br; fcpeixoto81@yahoo.com.br; ursula_lv22@hotmail.com; sarah.crist@hotmail.com; geseira@bol.
com.br;

RESUMO ABSTRACT
Foi implantado um experimento na UEG, em Ipameri-GO, visan- Plant growth and production of husk tomato depending on
do estudar os efeitos da adubação orgânica residual e cobertura do organic fertilization and mulching
solo no desenvolvimento e produção de camapu. A semeadura foi feita A field trial was carried out in Ipameri, State of Goias, Brazil,
em bandejas de poliestireno expandido em 01/10/2007 e as mudas to study the effect of residual cattle manure and soil covering on
foram mantidas em telado com 50% de sombreamento, até a data de plant growth and yield of husk tomato. Sowing was carried out in
plantio no campo, em 27/11/2007, em sucessão ao plantio de tomate. October 01, and seedlings were kept under greenhouse with 50%
O delineamento experimental utilizado foi em blocos casualizados, of shadow, until planting in the field in November 11, 2007, after
com três repetições, com parcelas subdivididas, tendo na parcela duas tomato crop. The experimental design was randomized block with
doses de esterco de curral curtido (30 e 60 t ha-1) e nas sub-parcelas split-plot scheme with three replications. Cattle manure treatments
três tipos de cobertura do solo (plástico preto, capim braquiária e sem were applied to the plots (30 and 60 t ha-1) and soil covering to sub-
cobertura). Cada sub-parcela foi constituída por 20 plantas, dispostas plots (black plastic, Brachiaria grass and without covering). The sub
no espaçamento de 1,00 x 0,30 m. A cobertura plástica favoreceu plot consisted of 20 plants arranged at space of 1.00 x 0.30 m. Black
tanto o crescimento das plantas, quanto a produtividade. O efeito do plastic covering favored plant growth and yield. Minor effects were
esterco de curral foi pouco evidenciado. As curvas de crescimento obtained with residual cattle manure. Plant height followed cubic
em altura seguiram modelos cúbicos de regressão. regression model.
Palavras-chave: Physalis pubescens, altura da planta, Keywords: Physalis pubescens, plant height, yield.
produtividade.

(Recebido para publicação em 11 de fevereiro de 2009; aceito em 31 de agosto de 2010)


(Received on February 11, 2009; accepted on August 31, 2010)

H á controvérsias quanto ao centro


de origem do camapu (Physalis
sp.), visto que espécies do gênero são
pelo segmento produtivo, quanto pela
pesquisa (Colômbia, 2008; González
et al., 2008).
(Physalis pubescens), em resposta à adu-
bação orgânica e da cobertura do solo.

encontradas nos diversos continentes, Algumas espécies do gênero Physa- MATERIAL E MÉTODOS
mas a origem americana é considerada lis são nativas do Brasil, mas, por serem
como mais provável (CIAT, 2004; Ru- tratadas como planta daninha (Erasmo Foi implantado um experimento na
fato et al., 2008). et al., 2004) e, como hospedeiras de UEG em Ipameri-GO, visando estudar
No Brasil diversas espécies do gê- doenças (Santos et al., 2004; Silva et o efeito residual de adubação orgânica
nero, entre elas a P. pubescens, ocorrem al., 2006), têm perdido variabilidade ao e cobertura do solo no desenvolvimento
espontaneamente, sendo seus frutos longo do tempo. e produção de camapu, em sucessão ao
bem doces consumidos in natura ou na O extrato da planta de camapu tem tomate cereja. A semeadura, utilizando-
forma de sucos por habitantes do meio efeito moluscicida (Santos et al., 2003) se sementes de plantas nativas locais, foi
rural, apresentando grande potencial e medicinal (Silva & Agra, 2005; Lopes feita em bandejas de poliestireno expan-
para introdução ao cultivo (Menichelli, et al., 2006; Rufato et al., 2008). dido em 01/10/2007, mantida sob telado,
2004). A partir de estudos desenvolvidos na com 50% de sombreamento, até a data
As espécies Physalis angulata e Estação Experimental Santa Luzia, no de plantio no campo, o que ocorreu aos
Physalis peruviana são consideradas estado de São Paulo, espécies do gênero 57 dias após a semeadura, nas mesmas
iguaria em restaurantes sofisticados, vêm despertando o interesse de produ- unidades experimentais utilizada na
sendo cultivadas na América Latina, tores, sendo que hoje os maiores polos cultura anterior.
principalmente na Colômbia, onde de expansão da cultura se encontram nos Antes do plantio do tomate o solo
ocupa a segunda posição na pauta de estados de Santa Catarina e Rio Grande apresentava as características químicas:
exportação do país, segundo Rufato do Sul (Rufato et al., 2008). pH 5,6 em CaCl2, V 33%, MO 23 g dm3,
et al. (2008). Nesse país tais espécies O objetivo desse trabalho foi estudar P 30 mg dm-3 e os seguintes valores em
têm recebido atenção especial, tanto o crescimento e a produção de camapu mmolc dm-3: Al 1,6; H+Al 47; K 1,7;

370 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Adubação orgânica e cobertura do solo no crescimento e produção de camapu

Ca 16; Mg 5; saturação de bases 23 e Tabela 1. Altura das plantas, (cm) aos 21, 35, 49, 63 e 79 dias após transplante (DAT), para
CTC 70. seis combinações de adubação residual com esterco de curral e cobertura do solo (plant height
(cm) at 21, 35, 49, 63 and 79 days after transplanting (DAT), for six combinations of residual
O delineamento experimental utili-
fertilization with cattle manure and mulching). Ipameri, UEG, 2007-2008.
zado foi em blocos casualizados, com
parcelas subdivididas, tendo na parcela Tratamento 21 DAT 35 DAT 49 DAT 63 DAT 79 DAT
os resíduos de duas doses de esterco de P1S1 5,47 a 36,84 a 81,22 a 105,82 a 120,00 a
curral curtido (P1= 30 e P2= 60 t ha-1) P1S2 6,87 a 22,89 ab 61,38 bc 93,98 ab 110,00 ab
aplicado para a cultura do tomate e nas P1S3 5,31 a 21,90 b 61,66 bc 87,13 b 96,33 b
sub-parcelas três tipos de cobertura do
P2S1 5,54 a 23,94 ab 63,36 bc 99,89 ab 116,67 a
solo (S1= sem cobertura, S2= capim
braquiária e S3= plástico preto), também P2S2 5,86 a 20,26 b 56,64 c 88,54 b 106,00 ab
remanescentes da cultura anterior e P2S3 6,80 a 26,76 ab 74,02 ab 97,34 ab 117,00 a
três repetições, sendo cada sub-parcela CV (%) 15,32
constituída por 20 plantas, dispostas Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey, ao
no espaçamento de 1,00 m x 0,30 m, nível de 5% de probabilidade (means followed by the same letter in column do not differ
sendo consideradas úteis as 16 plantas from each other, by the Tukey’s test, p<0.05); P1 e P2= doses de 30 e 60 m3ha-1 de esterco de
centrais. curral, respectivamente; S1, S2 e S3= cobertura do solo com plástico preto, capim brachiaria
e sem cobertura, respectivamente (P1 and P2= dose of 30 and 60 m3ha-1 of cattle manure,
Na cultura anterior, de tomate tipo respectively; S1, S2 and S3= soil covering with black plastic, brachiaria grass and without
cereja, utilizou-se, como adubação quí- covering, respectively).
mica no plantio, comum aos tratamen-
tos, 200 kg ha-1 de N, 800 kg ha-1 de P2O5 Tabela 2. Altura das plantas, (cm), em cada dose de esterco e produtividade, em função
e 700 kg ha-1 de K2O e, em cobertura, do tipo de cobertura do solo (plant height (cm) in each dose of cattle manure, and yield, in
300 kg ha-1 do formulado 20-00-20, aos response of mulching). Ipameri, UEG, 2007-2008.
30 dias após plantio. Não foi feita adu- Altura aos 35 DAT Altura aos 49 DAT Produti-
bação química adicional para a cultura
Cobertura do solo Esterco Esterco Esterco Esterco vidade
de camapu, além da residual do plantio
anterior. Foi utilizada irrigação, por (30 m ha ) (60 m ha ) (30 m ha ) (60 m3ha-1)
3 -1 3 -1 3 -1
(t ha-1)
gotejamento, de forma a atender às ne- Plástico preto (S1) 36,84 a 23,94 ab 81,22 a 63,36 ab 13,00 a
cessidades hídricas da cultura e capinas, Capim (S2) 22,89 b 20,26 b 61,38 b 56,64 b 10,31 b
quando necessárias. Não foram feitas Sem cobertura (S3) 21,90 b 26,76 a 61,66 b 74,02 a 10,12 b
pulverizações com defensivos, visando
CV (%) 9,38 7,45 12,27
avaliar a rusticidade da espécie.
Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey, ao
Foram obtidos dados de altura das nível de 5% de probabilidade (means followed by the same letter in column do not differ
plantas, a partir de 21 dias após o plan- from each other, by Tukey’s test, p<0.05).
tio definitivo a cada 14 dias, até início
de colheita, e de produção em número
e massa de frutos por parcela, sendo botões florais, não quantificadas, o que medidas, os tratamentos com 30 m3ha-1
as colheitas realizadas duas vezes por pode ter interferido no rendimento da de esterco de curral e cobertura plástica
semana, a partir de 12/02/2008, durante cultura. proporcionaram maiores alturas.
um mês, colhendo-se frutos com sinais Foram significativos os efeitos de O número médio de frutos por
de maturação na planta, evidenciado doses de esterco de curral e cobertura planta foi de 377, sem haver diferenças
pela cor amarelada e recém caídos das de solo e da interação entre tratamen- significativas entre os tratamentos. Para
plantas. Estes foram submetidos às aná- tos e épocas de medidas das plantas. produtividade, foram significativos
lises de variância, utilizando o aplicativo Na primeira medida os tratamentos se apenas os efeitos da cobertura do solo,
ESTAT. As médias de doses de esterco igualaram estatisticamente. Nas demais sendo que a cobertura com plástico preto
e tipo de cobertura foram comparadas o tratamento P1S1 (30 m3ha-1 de esterco foi a mais favorável, quanto à média das
pelo teste de Tukey, com 5% de probabi- e cobertura do solo com plástico preto) doses de esterco (Tabela 2). Não foram
lidade de erro e as curvas de crescimento apresentou as plantas mais altas em to- encontradas na literatura consultada
em altura em função do tempo definidas das as observações, mas igualando-se, informações sobre a produtividade de
por análise de regressão. sempre à P2S3 (60 m3ha-1 e solo sem Physalis pubescens, nem sobre o seu
cobertura), mostrando haver confundi- cultivo e comercialização, ao contrário
mento entre os dois fatores (Tabela 1). de outras espécies do gênero.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Quando isolados os efeitos dos fa- As curvas de crescimento de todos os
tores, observou-se não haver diferenças tratamentos seguiram modelos cúbicos,
Foi observada elevada incidência de significativas para altura de plantas em mostrando crescimento lento e contínuo,
ácaro branco na cultura o que provocou, relação às doses de esterco para a média no período inicial, mais lento após o iní-
no início de florescimento, perdas de das medidas, mas na segunda e terceira cio de frutificação e mais acentuado nas

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 371


N Peixoto et al.

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LIMA CSM; KRETZCHMAR AA. 2008.
40 Y5 Aspectos técnicos da cultura da Physalis.
Y6 Pelotas: UFPEL, 101p.
20
SANTOS CDG; D’ÁVILA AC; INONE-AGATA
0 AK; REZENDE RO 2004. Espécies vegetais
0 10 20 30 40 50 60 hospedeiras de begomovirus isolados de
Dias após início de observação tomateiro em Goiás e Distrito Federal.
Fitopatologia Brasileira 29: 450-455.
Figura 2. Altura média de plantas de camapu em função da idade, na dose de 60 m3 ha-1 de
SANTOS JAA; TOMASSINI TCB; XAVIER
esterco de curral com cobertura plástica (Y4), capim (Y5) e sem cobertura (Y6) do solo (husk
DCD; RIBEIRO IM; SILVA MTG; MORAIS
tomato plant average height depending on plant age in 60 m3 ha-1 of cattle manure and soil FILHO ZB. 2003. Molluscicidal activity of
mulch with plastic (Y4), grass (Y5) and without mulch (Y6)). Ipameri, UEG, 2007-2008. Physalis angulata L. extracts and fractions on
Biomphalaria tenagophila under laboratory
condictions. Memórias do Instituto Oswaldo
observações finais (Figuras 1, 2). contrário de Physalis angulata e P. Cruz 98: 425-428.

Com base nesses resultados conclui- peruviana, a espécie P. pubescens não SILVA KN; AGRA MF. 2005. Estudo etnobotânico
requer tutoramento, e é beneficiada pela comparativo entre Nicandra physalodes e
se que Physalis pubescens pode ser Physalis angulata (Solanaceae). Revista
produzido em plantios sucessivos com cobertura do solo com plástico preto, Brasileira de Farmacognosia 15: 344-351.
outras hortaliças, aproveitando-se o efei- que proporciona maior desenvolvimento SILVA MCL; SANTOS CDG; SANTOS AA;
e produção de frutos sadios, além de LIMA JAA. 2006. Vírus da mancha amarela
to residual de fertilizantes. Entretanto,
da gravioleira: transmissão, hospedeiros,
apresenta pragas que requerem controle dispensar capinas frequentes e reduzir purificação e produção de anti-soro. Ciência
para bom desempenho da cultura. Ao o consumo de água na irrigação. Agronômica 37: 160-165.

372 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


LUZ JMQ; OLIVEIRA G; QUEIROZ AA; CARREON R. 2010. Aplicação foliar de fertilizantes organominerais em cultura de alface. Horticultura
Brasileira 28: 373-377.

Aplicação foliar de fertilizantes organominerais em cultura de alface


José Magno Q Luz1; Gercimara Oliveira1; Angélica A Queiroz1; Ricardo Carreon2
UFU-ICA, Av. Amazonas, s/n, Bl. 2E, Umuarama, 38400-902 Uberlândia-MG; 2Aminoagro, SAAN, Qd. 1, n° 760, 70632-100 Brasília-
1

DF; jmagno@umuarama.ufu.br; ricardo@aminoagro.agr.br

RESUMO ABSTRACT
A aplicação de fertilizantes organominerais tem permitido respos- Foliar application of organic mineral fertilizer in lettuce
tas positivas em diversas olerícolas. No presente trabalho avaliou-se Biofertilizer application provides positive responses of several
a produção de mudas e produção comercial de alface, cultivar Vera, vegetable crops. The effect of foliar application of liquid biofertilizers
em função da aplicação foliar de fertilizantes organominerais líquidos, on seedling and on commercial production of lettuce cultivar Vera
de outubro de 2005 a janeiro de 2006. A etapa de produção de mudas were evaluated from October 2005 to January 2006. Seedling
foi realizada em viveiro especializado na produção de mudas de hor- production was carried out in a nursery specialized in the production
taliças em Uberlândia e a condução da fase de campo foi realizada of vegetable seedlings, in Uberlandia, Minas Gerais State, Brazil, and
em área da Universidade Federal de Uberlândia. Analisou-se altura the crop growing was carried out at a field of the Universidade Federal
e número de folhas, massa fresca da parte aérea e diâmetro de raízes de Uberlandia. Plant height, number of leaves, aboveground part
das mudas, massas fresca da parte aérea e de raízes das plantas na fresh weight and root diameter were evaluated on seedlings and fresh
fase de campo. Foram empregados os fertilizantes organominerais weight of the aboveground part and roots were evaluated on plants
Aminoagro Raiz, Aminoagro Folha Top, Aminoagro Mol, Nobrico in the field. Aminoagro Raiz, Aminoagro Folha Top, Aminoagro
Star, Aminolom Foliar e Lombrico Mol 75. O primeiro experimento Mol, Nobrico Star, Aminolom Foliar and Lombrico Mol 75 were
utilizando mudas foi instalado em delineamento inteiramente casua- the assessed biofertilizers. The first experiment using seedlings was
lizado com 15 repetições. O segundo experimento instalado a campo, arranged in a completely randomized design with 15 replications and
foi feito em blocos ao acaso com 4 repetições. O uso exclusivo dos the second one, which was carried out in the field, was in randomized
produtos organominerais líquidos, via aplicação foliar foi superior à blocks with four replications. The solely use of liquid organomineral
testemunha para a maioria das variáveis avaliadas nas fases de muda biofertilizers, via foliar application, was superior in comparison to the
e campo na alface, cultivar Vera. control treatments for most of the evaluated variables at the plantlet
and field stages.

Palavras-chave: Lactuca sativa, adubos, adubação foliar. Keywords: Lactuca sativa, fertilizer, foliar fertilizer.

(Recebido para publicação em 22 de dezembro de 2008; aceito em 7 de junho de 2010)


(Received on December 22, 2008; accepted on June 7, 2010)

A alface (Lactuca sativa) é originária


da Europa e da Ásia Ocidental,
sendo uma planta de caule pequeno
(Camargo Filho & Mazzei, 2001). Seu
cultivo é feito de maneira intensiva e
predominantemente pela agricultura
mudas de hortaliças. Mudas de tomate,
alface, repolho, couve-flor, pimentão
e berinjela são atualmente produzidas
no qual se prendem as folhas lisas familiar, sendo responsável pela geração neste sistema, utilizando substratos
ou crespas, podendo ou não formar de cinco empregos diretos por hectare comerciais ou elaborados pelo próprio
cabeça, apresentando vários tons de (Costa & Sala, 2005). produtor, a partir de compostagem de
verde. A raiz é superficial explorando A produção em larga escala de resíduos orgânicos.
apenas os primeiros 25 cm do solo. É mudas de boa qualidade tem motivado Entre as tecnologias que podem
uma planta anual, florescendo sob dias os produtores a adotarem técnicas mais contribuir na melhoria da qualidade
longos e altas temperaturas vegetando modernas, procurando obter mudas dos produtos vegetais, ao mesmo tem-
preferencialmente em condições de dia uniformes. A utilização de mudas per- po diminuindo os custos de produção,
curto e temperaturas amenas (Filgueira, mite maior controle do espaçamento, podemos citar a fertirrigação e a fer-
2003). garantia da população desejada, plantas tilização foliar. Ambas têm a função
A sua larga adaptação às condições uniformes, além de facilitar o controle de complementar e corrigir possíveis
climáticas, a possibilidade de cultivos de plantas infestantes (Fontes, 2005). falhas da fertilização via solo, além de
sucessivos ao longo ano, o baixo custo A produção de mudas vigorosas de estimular fisiologicamente determinadas
de produção, a baixa suscetibilidade alface é estratégica para obtenção de alto fases da cultura.
a pragas e doenças e segurança na rendimento. Segundo Sousa & Resende A prática da fertirrigação tem-se
comercialização, fazem com que esta (2003), 60% do sucesso de uma cultura mostrado mais eficiente no fornecimen-
seja a hortaliça mais cultivada pelos está no plantio de mudas de boa quali- to de nutrientes para diversas culturas
pequenos produtores, o que lhe confere dade. O sistema de bandejas multicelu- olerícolas, com uma série de vantagens
grande importância econômica e social lares é o mais utilizado na produção de sobre a forma tradicional (Alvarenga,

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 373


JMQ Luz et al.

1999). Por outro lado, a adubação foliar Star são produtos considerados como físicas do Latossolo Vermelho Amarelo
permite complementar de maneira equi- enraizantes; Aminoagro Folha Top e distrófico foram: areia grossa = 215 g
librada a fertilização do solo, ou mesmo, Aminolom Foliar são aplicados para kg-1; areia fina = 255 g kg-1; silte = 122
para situações de estresses quando se maior desenvolvimento foliar e, Amino- g kg-1 e argila 407 g kg-1. Foi realizada
pretende uma resposta rápida da cul- agro Mol e Lombrico Mol 75 são fontes aplicação de calcário conforme análise
tura, em caso de carência de nutrientes de matéria orgânica líquida (Tabela 1). de solo e com base nas recomendações
(Filgueira, 2003). A composição dos fertilizantes organo- da Quinta Aproximação do Estado de
Considerando o contexto da agri- minerais líquidos utilizados encontra-se Minas Gerais (Ribeiro et al., 1999).
cultura global, que busca o aumento da na Tabela 1. Após 26 dias de semeadura as mudas
produção e a redução de custos devido a Produção de mudas – este experi- foram transplantadas para os canteiros
um mercado cada vez mais competitivo, mento foi instalado sob delineamento com 4 folhas definitivas segundo Fil-
a adubação foliar é um dos meios mais inteiramente casualizado, conduzido gueira (2003). Imediatamente após o
eficientes para solucionar deficiências em bandejas multicelulares com 200 transplantio, as plantas receberam uma
nutricionais específicas (Lopes & Gui- células, sendo uma bandeja para cada pulverização dos tratamentos, que foi
dolin, 1989). tratamento, com 15 repetições. Cada repetida semanalmente em cada trata-
Com a utilização crescente da fertir- muda foi considerada uma repetição. mento. Nessa fase a pulverização foi
rigação e da adubação foliar, os produtos Na semeadura empregou-se o substrato feita com pulverizador manual capaci-
organominerais em forma líquida, pul- comercial Plantmax, sem adubação dade de 20 L. As plantas da testemunha
verizados via foliar, têm possibilidade de plantio, uma semente por célula. eram pulverizadas com água.
de uso. Porém, essa prática ainda é re- Os tratamentos foram iniciados após As plantas receberam os tratos cultu-
cente na olericultura, não se dispondo da a semeadura e continuados com uma rais comuns à cultura da alface, exceto
informação como estes produtos agem e pulverização semanal. Cada bandeja re- aplicação de nitrogênio em cobertura.
influenciam a produção de mudas, sua cebeu a pulverização de um tratamento. A colheita ocorreu aos 65 dias após o
produtividade e qualidade de hortaliças Nesta fase a pulverização foi feita com transplantio e as oito plantas centrais
em geral (Sala, 2005). pulverizador manual capacidade de 5 L. da linha do meio da parcela foram
No presente trabalho objetivou-se Após a semeadura as bandejas de alface arrancadas por inteiro, sendo avaliados
avaliar a produção de mudas e a produ- permaneceram empilhadas por dois o diâmetro da planta, massa fresca da
ção comercial de alface, cultivar Vera, dias em ambiente protegido e depois parte aérea (folhas e caule) e massa
em função da aplicação de fertilizantes foram para uma estufa tipo túnel onde fresca das raízes.
organominerais líquidos comerciais. receberam os tratos culturais comuns à Para os dois experimentos, as médias
produção de mudas de alface. foram submetidas à análise de variância
Aos 26 dias após a semeadura foram pelo software SISVAR (Ferreira, 2003)
MATERIAL E MÉTODOS avaliados o número de folhas definitivas, e as características que foram significa-
altura, massa fresca da parte aérea e das tivas pelo teste F a 5% de probabilidade
O trabalho foi constituído de dois raízes. Foram coletadas aleatoriamente foram comparadas pelo teste de Scott-
experimentos, sendo um com produção quinze mudas por bandeja para a avalia- Knott a 5% de probabilidade.
de mudas e outro, com produção comer- ção, sendo cada muda correspondente a
cial de alface. Em ambos experimentos uma repetição no tratamento avaliado.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
empregou-se a cultivar de alface Vera, Produção comercial de alface
crespa, de folhas soltas. O experimen- - Este experimento foi conduzido a
to visando a produção de mudas foi campo, em delineamento de blocos ao Produção de mudas - De maneira
realizado em viveiro especializado na acaso com 4 repetições. As mudas de geral os fertilizantes organominerais
produção de mudas de hortaliças em alface foram plantada no espaçamento promoveram um maior desenvolvimen-
Uberlândia. A etapa relativa à produção de 30 x 25 cm. O experimento foi con- to das mudas em relação ao tratamento
comercial foi conduzida em campo da duzido em canteiros de 1 m de largura testemunha com destaque para os pro-
Universidade Federal de Uberlândia. O e cada parcela apresentou 2,5 m de dutos Aminoagro Mol (Tabela 2). As
período de execução dos experimentos comprimento, perfazendo uma área de alturas das mudas de alface encontradas
foi de dezembro de 2005 a fevereiro 2,5 m2 com três linhas de plantio e 10 no presente estudo foram maiores do
de 2006. plantas por linha, sendo cada canteiro que aquelas observados por Resende
Os experimentos foram conduzidos um bloco. O solo dos canteiros, de tex- et al. (2003) que, estudando mudas de
com sete tratamentos, constituídos dos tura média, apresentou as características alface americana cultivar Raider, em
fertilizantes organominerais líquidos: químicas: matéria orgânica = 18 g kg-1; função dos tipos de bandejas e idade de
Aminoagro Raiz, Aminoagro Folha Top, pH em H2O (1:2,5) = 5,8; P Mehlich-1 transplantio utilizando substrato Plant-
Aminoagro Mol, Nobrico Star, Amino- = 28,9 mg dm-3; K = 53,0 mg dm-3; Ca max, encontraram aos 26 dias após a
lom Foliar e Lombrico Mol 75, além da = 2,1 cmolc dm-3; Mg = 0,4 cmolc dm-3; semeadura nas bandejas, plântulas de
testemunha sem aplicação de fertilizante H + Al = 3,4 cmolc dm-3 e V = 44% alface com altura média de 8,0 cm. A
(Tabela 1). Aminoagro Raiz e Nobrico (EMBRAPA, 1997). As características diferença entre os resultados obtidos no

374 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Aplicação foliar de fertilizantes organominerais em cultura de alface

Tabela 1. Composição percentual dos fertilizantes organominerais líquidos utilizados na produção de mudas e produção a campo de alface,
cv. Vera (composition of the organic mineral liquid fertilizer used in the seedling and field lettuce, cv. Vera production). Uberlândia, UFU,
2006.
Nitrogênio Potássio
M.O. Carbono total
Produtos solúvel em água solúvel em água M.O. (%) N (%)
(%) (%)
(%) (%)
Aminoagro raiz 30 (345 g/L) 17 (195,5 g/L) 11 (126,5 g/L) 1 (11,5 g/L) 9,8 10
Aminoagro Folha Top 35 (402,5 g/L) 20 (230 g/L) 10 (115 g/L) 1 (11,5 g/L) 23,0 --
Aminoagro Mol 35 (399 g/L) 20 (228 g/L) 11 (125,4 g/L) 1 (11,4 g/L) 26,0 10
Produtos K (%) Mg (%) Cu (%) Zn (%) Fe (%) Mn (%) B (%)
Aminoagro raiz -- -- 0,30 0,70 -- 1,7 0,50
Aminoagro Folha Top 2,5 0,06 0,07 0,07 0,14 -- 0,03
Aminoagro Mol 2,8 -- -- -- -- -- --

Tabela 2. Altura, número de folhas, massa fresca da parte aérea (MFPA) e de raízes (MFR) de mudas de alface, cv. Vera, aos 26 dias pós-
semeadura; diâmetro, massa fresca da parte aérea (MFPA) e de raízes (MFR) de alface, cv. Vera tratadas com fertilizantes organominerais
líquidos (height, number of leaves and weight of fresh aboveground part and roots of lettuce seedlings, cv Vera, 26 days after sowing;
diameter, fresh weight of aboveground part and of roots of lettuce, cv. Vera, 26 days after sowing, treated with liquid organomineral
products). Uberlândia, UFU, 2006.
Mudas Plantas adultas
Tratamentos Altura Número de MFPA MFR Diâmetro MFPA MFR
(cm) folhas (g 10-1) (g 10-1) (cm) (g) (g)
Nobrico Star 9,9 b 4,2 a 14,72 a 2,72 a 27,5 a 186,2 a 12,4 a
Aminolom Foliar 8,3 c 3,9 b 8,98 c 2,00 b 25,7 a 158,8 a 10,9 a
Lombrico Mol 75 7,1 c 4,1 b 8,91 c 2,45 a 28,1 a 203,6 a 12,9 a
Aminoagro Raiz 10,9 a 4,3 a 12,61 b 2,00 b 27,4 a 182,0 a 12,8 a
Aminoagro Folha Top 10,3 b 4,1 a 13,09 b 2,23 b 27,5 a 200,4 a 13,3 a
Aminoagro Mol 11,3 a 4,1 a 15,07 a 2,52 a 26,2 a 164,6 a 11,3 a
Testemunha 8,1 c 3,2 b 9,23 c 1,89 b 19,7 b 91,5 b 6,5 b
CV (%) 14,02 13,80 15,86 17,10 7,92 21,63 15,0
Erro Padrão 0,3410 0,1429 0,4829 0,0998 1,0320 18,3423 0,8588
Médias seguidas por letras distintas na coluna diferem entre si ao nível de 5% pelo teste de Scott-Knott (average values followed by different
letters in the column differ from each other at the level of 5% by the test of Scott-Knott).

presente experimento e os de Resende com exceção dos tratamentos com a folhas definitivas.
et al. (2003) pode ser devido à aplica- aplicações dos fertilizantes Aminolom Com relação ao peso da matéria
ção dos produtos organominerais pois, Foliar e Lombrico Mol 75, os demais fresca da parte aérea das mudas de al-
Arimura, et al. (2005), trabalhando com produtos apresentaram diferenças sig- face, ocorreram resultados semelhantes
mudas de alface cultivar Vera, avaliadas nificativas quando comparados com a às variáveis discutidas anteriormente,
32 dias após a semeadura, e com os testemunha (Tabela 2). A testemunha destacando-se Aminoagro Mol dentre
produtos organominerais Nobrico Star e apresentou número de folhas médio os tratamentos avaliados (Tabela 2).
Aminolom Foliar na dose de 2 mL L-1 de igual a 3,2, enquanto que, com o empre- O peso da matéria fresca foi maior do
água, obtiveram altura média de mudas go dos fertilizantes organominerais No- que aquele obtido por Resende et al.
de alface em torno de 10,0 cm. brico Star, Aminoagro Mol, Aminoagro (2003), que obtiveram aos 26 dias
Os resultados obtidos permitem Raiz e Aminoagro Folha Top, o número após a semeadura 2,0 g, mostrando
inferir que as mudas pulverizadas com médio de folhas foi respectivamente: mais uma vez que a aplicação de fertili-
os produtos poderiam ser transplantadas 4,2; 4,1; 4,3 e 4,1 (Tabela 2). Essa é ou- zantes organominerais via foliar resulta
antes dos 26 dias pois, segundo Filgueira tra característica que reforça a afirmação em benefícios para o desenvolvimento
(1982), as mudas de alface devem ser anterior de que as mudas tratadas com das mudas de alface. No entanto, para o
transplantadas quando estão com altura fertilizante organomineral alcançaram peso da matéria fresca de raíz, além do
entre 8 e 10 cm, diminuindo o tempo o ponto de transplantio mais cedo em Aminoagro Mol, os produtos Lombrico
entre a semeadura e a comercialização relação à testemunha, já que Filgueira Mol 75 e Nobrico Star, também resul-
das plantas de alface. (2003) preconiza que as mudas de alface taram em valores significativamente
Para o número de folhas definitivas, devem ser transplantadas com quatro superiores à testemunha (Tabela 2).

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 375


JMQ Luz et al.

Melo (2006) analisando 14 pro- zantes organominerais foram incluídas em www.abbabatatabrasileira.com.br/


dutos comercias e experimentais não na Classe 15 (de 150 a 200 g), classe revista10_024.htm
CAMARGO FILHO WP; MAZZEI AR. 2001.
encontrou diferenças estatísticas entre esta de melhor valor comercial. Mercado de verduras: planejamento e estratégia
os produtos avaliados e a testemunha, Alfaces com maior diâmetro e peso na comercialização. Informações Econômicas
possivelmente, pela baixa dosagem de cabeça, automaticamente promove- 31: 45-54.
aplicada (2 mL L -1) e pelo fato dos ram ganhos de produtividade em relação CEASA MG. 2007, 15 de maio. Programa
produtos não terem sido aplicados Brasileiro para modernização da Horticultura.
às alfaces menores e mais leves. Portan- Disponível em http://www.ceasaminas.com.br/
desde a fase de mudas, limitando-se to, os ganhos de produtividade são pro- agroqualidade/alface.asp
somente ao pós-transplantio. Por outro porcionais ao diâmetro e peso da parte COSTA CP; SALA FC. 2005. A evolução da
lado, Silva (2007) verificou que na fase aérea. Diante do exposto e com base nos alfacicultura brasileira. Horticultura Brasileira
de mudas o produto experimental N1, dados do presente trabalho pode-se in- 23: 1 (artigo de capa).
também enraizante como o Nobrico EMBRAPA-Empresa Brasileira de Pesquisa
ferir que os fertilizantes organominerais Agropecuária-Centro Nacional de Pesquisa
Star e Aminoagro Raiz, destacou-se em aumentaram a produtividade da alface de Solos (Rio de Janeiro-RJ). Manual de
relação às variáveis avaliadas. Freire em relação à testemunha. métodos de análise de solo. Rio de Janeiro:
(2004), ao analisar 13 fertilizantes or- De maneira geral, o maior cresci- Embrapa. 212p.
ganominerais líquidos comerciais em mento e desenvolvimento da cultura
FERNANDES HS; MARTINS SR. Cultivo de
mudas e em campo de alface, obteve alface em solo em ambiente protegido. Informe
com o uso dos produtos em relação à Agropecuário 20: 56-63.
resultados positivos para cinco destes testemunha, se deve à sua composição, FERREIRA DF. 2003, 15 de julho. Programa
produtos (Aminolom Foliar, Lombrico pois todos são ricos em matéria orgânica de análises estatísticas (Statistical Analysis
Mol 75, Vitam, Nobrico Star e Amino- e nitrogênio, concordando com Kataya- Software) e planejamento de experimentos -
lom Floracion). SISVAR. Lavras: UFLA. Disponível em http://
ma (1993), Fernandes & Martins (1999) www.ufla.br
Na cultura da batata, segundo ABBA e Filgueira (2003). A superioridade das EMBRAPA-Empresa Brasileira de Pesquisa
(2007), os produtos comerciais Amino- fontes orgânicas está relacionada ao Agropecuária-Centro Nacional de Pesquisa
lom Foliar e Nobrico Star, aplicados fornecimento contínuo de nutrientes à de Solos (Rio de Janeiro-RJ). Manual de
desde o plantio até os 70 dias após a métodos de análise de solo. Rio de Janeiro:
cultura, embora de forma mais lenta Embrapa. 212p.
emergência, promoveram incremento que as fontes químicas, conforme relata FILGUEIRA FAR. 1982. Manual de olericultura.
de 51 sacas por hectare. Kiehl (1985). São Paulo:Agronômica Ceres. 357p.
Produção comercial de alface - as De acordo com os resultados obtidos FILGUEIRA FAR. 2003. Novo manual de
plantas tratadas com os fertilizantes or- agrotecnologia moderna na produção e
conclui-se que os produtos utilizados
comercialização de hortaliças. Viçosa: UFV.
ganominerais foram significativamente tiveram influência positiva nas fases 412 p.
superiores à testemunha, tendo em de produção de muda e a campo de FONTES PCR. 2005. Olericultura: teoria e
média 27,1 cm de diâmetro transver- alface, cultivar Vera, influenciando no prática. Viçosa:UFV. 486p.
sal, enquanto a testemunha apresentou tamanho das mudas e na qualidade do FREIRE GBD. 2004. Produção de alface,
19,7 cm (Tabela 2) na colheita feita produto final, podendo ser utilizados na cultivar Vera, com produtos organominerais
líquidos. Uberlândia: UFU. 29p. (Monografia
aos 65 dias após transplantio. Segundo fertilização dessa cultura. graduação).
Filgueira (2003) e Sakata (2006), em KATAYAMA M. 1993. Nutrição e adubação de
condições de campo, a alface crespa alface, chicória e almeirão. In: FERREIRA
AGRADECIMENTOS
deve ser colhida entre 60 e 70 dias pós- ME; CASTELLANE PD; CRUZ MCP.
transplantio, quando atinge o máximo Nutrição e adubação de hortaliças. Piracicaba:
Os autores agradecem à Aminoagro POTAFOS. p.141-148.
desenvolvimento, porém, apresentando
pela disponibilização dos produtos Kiehl EJ. 1985. Fertilizantes Orgânicos. São
as folhas ainda tenras com bom sabor Paulo: Editora Ceres. 492 p.
e sem nenhum sinal de pendoamento. utilizados e pelo financiamento do
LOPES AS; GUIDOLIN JA. 1989. Adubação
Esses foram os critérios adotados para a trabalho. Foliar. Campinas: IAC. 145p.
colheita da alface nesse trabalho. MELO CS. 2006. Eficiência agronômica de
Massas frescas de cabeças e raízes REFERÊNCIAS produtos organominerais líquidos comerciais e
experimentais no cultivo da alface. Uberlândia:
das plantas submetidas aos tratamentos UFU. 24p. (Monografia graduação).
ALVARENGA MAR. 1999. Crescimento, teor e
com os fertilizantes organominerais acúmulo de nutrientes em alface americana SOUSA JL; RESENDE P. 2003. Manual de
líquidos não diferiram entre si, porém, (Lactuca sativa L.) sob doses de nitrogênio Horticultura Orgânica. Viçosa: Aprenda
foram estatisticamente superiores à aplicadas no solo e de níveis de cálcio Fácil. 560p.
aplicados via foliar. Lavras: UFLA. 117p. RESENDE GM; YURI JE; MOTA JH; SOUZA
testemunha (Tabela 2). Com base na (Tese doutorado). RJ; FREITAS SAC; RODRIGUES JUNIOR
classificação utilizada pela CEASA ARIMURA NT; LUZ JMQ; CARREON R; SILVA JC. 2003. Efeitos de tipos de bandejas e
MG (2007), as plantas de alface da MAD; GONÇALVES MV. 2005. Produção de idade de transplantio de mudas sobre o
testemunha se enquadram na Classe 5 mudas de alface em função da aplicação de desenvolvimento e produtividade de alface
(peso menor que 100 g), que é a pior produtos organominerais líquidos comerciais americana. Horticultura Brasileira 21: 558-
e experimentais. Horticultura Brasileira 23 563.
classe com pouco ou sem nenhum valor (Suplemento CD Rom). Ribeiro AC; Guimarães PT; Alvares
comercial. Já as plantas submetidas aos ABBA - Associação Brasileira da Batata. 2007, VH. 1999. Recomendações para o uso de
tratamentos com a aplicação dos fertili- 08 de junho. Batata Show 2006. Disponível corretivos e fertilizantes em Minas Gerais-5ª

376 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Aplicação foliar de fertilizantes organominerais em cultura de alface

aproximação. Viçosa: 359p. SALA FC; COSTA CP. 2005. ‘PiraRoxa’: cultivar e no campo em função da aplicação de
SAKATA. 2007, 15 de maio. Catálogo de de alface crespa de cor vermelha intensa produtos organominerais líquidos comerciais
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com.br/ SILVA JEG. 2006. Produção de mudas de alface (Monografia graduação).

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 377


Nova cultivar / New cultivar
CARDOSO JC. 2010. Laeliocattleya ‘Brazilian Girl Rosa’: cultivar de orquídea para cultivo em vaso. Horticultura Brasileira 28: 378-381.

Laeliocattleya ‘Brazilian Girl Rosa’: cultivar de orquídea para cultivo


em vaso
Jean C Cardoso
Vliet Flora, Lab. Biotecnologia Vegetal, C. Postal 170, 13825-000 Holambra-SP; jeancardosoctv@gmail.com

RESUMO ABSTRACT
A obtenção de cultivares de espécies ornamentais é estratégica Laeliocattleya ‘Brazilian Girl Rosa’: orchid cultivar for pot
para o desenvolvimento do país e possibilita obter plantas adaptadas growth
às condições climáticas de cultivo. Aproximadamente 200 plantas de The generation of cultivars of ornamental species is strategic
um cruzamento intergenérico entre um híbrido de Cattleya e outro de for the country development and provides the achievement of plants
Laelia foram submetidos à seleção massal na fase de desenvolvimento which are adapted to the climatic conditions for cultivation. Nearly
vegetativo, selecionado-se aquelas com desenvolvimento mais rápido 200 plants from an intergeneric cross between a hybrid of Cattleya
e sem sintomas de pragas e doenças. Ao final de três anos e meio, and another hybrid of Laelia were subjected to mass selection
uma planta com características de crescimento vegetativo vigoroso, during the vegetative stage. The ones with quick development and
sem sintomas das principais pragas e doenças da cultura e boa qua- without symptoms of pests and diseases were selected. After three
lidade de floração foi selecionada como nova cultivar Laeliocattleya and a half years, a plant presenting vigorous vegetative growth, no
‘Brazilian Girl Rosa’. A primeira floração demonstrou inflorescência symptoms of the crop major pests and diseases and high flowering
longa e boa arquitetura com quatro flores de diâmetro médio de 11,7 quality was selected as the new ‘Brazilian Girl Rosa’ cultivar of
cm, pétalas e sépalas firmes e proporcionais ao tamanho das flores. Laeliocattleya. The first flowering displayed good architecture and a
A coloração predominante das flores foi o rosa, com senescência aos long inflorescence with four flowers presenting an average diameter
20 dias após a antese. of 11.7 cm and, also, firm petals and sepals which were proportional
to the flower size. Pink was the flower predominant color and the
senescence occurred 20 days after anthesis.

Palavras-chave: Laeliocattleya, plantas ornamentais, melhoramento Keywords: Laeliocattleya, ornamental plants, breeding program,
genético, desenvolvimento, floração, pragas e doenças. growth, flowering, pests and diseases.

(Recebido para publicação em 23 de dezembro de 2009; aceito em 15 de julho de 2010)


(Received on December 23, 2009; accepted on July 15, 2010)

A floricultura nacional tem aumenta-


do sua participação no PIB brasi-
leiro dos últimos anos, com produção
às condições climáticas brasileiras.
Como exemplo pode-se citar o programa
de melhoramento genético de antúrios
Américas do Sul e Central, das quais
uma grande parte é nativa do Brasil (La
Croix, 2008). Muitas espécies anterior-
de flores em diferentes regiões do país do Instituto Agronômico de Campinas mente consideradas do gênero Laelia,
tanto para o mercado interno quanto (IAC). foram classificadas novamente, sendo
para as exportações. A exportação de Entre as mais de 30.000 espécies alocadas dentro do gênero Sophronitis
produtos da floricultura brasileira somou de orquídeas encontradas no mundo, entre outros, podendo haver mudanças
US$35,6 milhões no ano de 2008, porém aproximadamente 10% desse total são de nomeclatura (Van den Berg & Chase,
a quantidade de importações no setor endêmicas do Brasil. 2000).
(US$14,1 milhões) ainda é alta (Kyiuna Dentre as plantas superiores, os gê- A manutenção de programas de me-
et al., 2009). neros Cattleya e Laelia estão alocados lhoramento genético e obtenção de no-
O aumento na produção e comer- dentro da classificação botânica no gru- vas cultivares e híbridos de orquídeas do
cialização de flores no Brasil apenas foi po das monocotiledôneas, Família Or- gênero Cattleya e Laelia é um processo
possível devido às pesquisas aplicadas chidaceae, Subfamília Epidendroideae, demorado, devido ao longo período
do setor nas áreas de genética, fisiologia Tribo Epidendreae, Subtribo Laeliinae, juvenil da maioria das espécies destes
e nutrição, que tem contribuído para Aliança Cattleya. O gênero Cattleya gêneros, que não raramente passam de
o desenvolvimento de novas tecnolo- compreende cerca de 50 espécies distri- 5 anos. Nesse contexto, a obtenção de
gias e com elevação da produção por buídas pela América do Sul e com uma novas cultivares ou híbridos destas espé-
área, características essenciais para a espécie na América Central, das quais cies tem sido feita através de cruzamen-
viabilidade econômica da produção aproximadamente 27 ocorrem no Brasil tos entre clones superiores e avaliação e
comercial, além do desenvolvimento de e o gênero Laelia compreende cerca seleção de progênies com características
variedades mais resistentes e adaptadas de 50 a 75 espécies distribuídas pelas ornamentais e agronômicas de interesse.

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Laeliocattleya ‘Brazilian Girl Rosa’: cultivar de orquídea para cultivo em vaso

Atualmente, programas de melhora- aproximadamente 25-30 dias. As pétalas 0,05% de Mg, 0,25% de Ca, 0,10% de
mento genético de outras espécies de e sépalas são inteiramente brancas e SO42-, 0,0125% de B, 0,0125% de Cu-
orquídeas, como Dendrobium nobile, o labelo branco com o fundo amarelo quelato, 0,05% de Fe-quelato, 0,025%
tem gerado novas cultivares de interesse (Figura 1A). Como características de de Mn-quelato, 0,005% de Mo e 0,025%
comercial (de Faria et al., 2009). cultivo estão a facilidade de cultivo, alto de Zn-quelato.
O maior desafio no melhoramento vigor no desenvolvimento da parte aérea Para seleção das progênies, ao
genético é o desenvolvimento de cul- e raízes, primeira floração com quatro total foram aclimatizadas e cultivadas
tivares superiores às que já existem no anos de cultivo em estufa e com uma a em estufa aproximadamente duzentas
mercado (Borém & Miranda, 2009). A duas flores. A floração ocorre uma vez plantas (progênies) provindas do labo-
seleção das plantas ornamentais com ao ano nos meses de maio a julho. Apre- ratório. Após cerca de dezoito meses
qualidades superiores deve considerar: senta tolerância à antracnose, mancha de de cultivo em pote plástico preto nº5,
as características ornamentais como Alternaria e podridão de pseudobulbos aproximadamente cinqüenta plantas
coloração, tamanho e proporcionalidade causadas por Pythium e Phytophtora. que apresentaram crescimento vigoroso
das flores, além do vigor vegetativo; O híbrido tem suscetibilidade à mancha e sem sintomas de pragas e doenças
as características agronômicas como o de Cercospora e podridão seca causada foram selecionadas para plantio em pote
crescimento rápido e vigoroso, flores- por Fusarium. plástico preto n° 12. Uma nova seleção
cimento rápido, durabilidade das flores, Laelia ‘Rubin’ (feminino) de plantas foi realizada após dezoito
resposta à adubação, facilidade de culti- Planta de porte baixo com pseu- meses com o mesmo critério, sendo
vo e propagação e resistência a pragas e dobulbos unifoliados e inflorescência obtidas vinte plantas que foram então
doenças; a adaptabilidade às diferentes terminal com uma a duas flores de tama- transplantadas para pote plástico preto
regiões de cultivo e; o aspecto inovador nho médio, pétalas finas e durabilidade n° 15 para avaliação das características
da cultivar que a torna interessante co- aproximada de 15 dias. As pétalas têm de florescimento. Após cerca de seis
mercialmente ou para o produtor. coloração branca com estrias de cor meses do cultivo, uma planta com ca-
O objetivo desse programa de lilás. As sépalas são brancas e o labelo racterísticas de florescimento superiores
melhoramento genético desenvolvido tem coloração lilás intenso com fundo foi selecionada e avaliada.
para orquídeas foi obter plantas com amarelo (Figura 1B). O híbrido tem As características vegetativas ava-
qualidades ornamentais satisfatórias e bom desenvolvimento de parte aérea e liadas foram o vigor e o tempo de
competitivas para o mercado de flores raízes, porte baixo, facilidade de cultivo, desenvolvimento, além do número de
de vaso no Brasil, com atenção especial primeira floração com quatro a cinco pseudobulbos e de folhas no momento
à seleção de plantas com floração mais anos de cultivo em estufa e com uma a da primeira floração. As características
rápida e tolerantes às principais pragas três flores. A floração ocorre duas a três reprodutivas avaliadas foram o tempo
e doenças da cultura, reduzindo o tempo vezes por ano, com uma inflorescência para primeira floração, tamanho das
de cultivo e evitando a necessidade de terminal. Apresenta tolerância à antrac- inflorescências, número, qualidade e co-
uso de defensivos agrícolas, que elevam nose, mancha de Alternaria e susceti- loração das flores na primeira floração.
os custos de produção da cultura e difi- bilidade às podridões de pseudobulbos Também foram avaliados a presen-
cultam o cultivo. causadas por Pythium e Phytophtora, ça e sintomas das principais pragas e
além de mancha de Cercospora e podri- doenças nas plantas durante o desen-
MÉTODO DE MELHORA- dão seca causada por Fusarium. volvimento vegetativo e reprodutivo
MENTO As sementes obtidas do cruzamento das progênies em cultivo, ao longo dos
foram semeadas em condições in vitro e quatro anos, eliminando-se no momento
mantidas por 12 meses em sala de cres- das seleções aquelas que apresentavam
O experimento foi desenvolvido
cimento e condições de meio de cultura presença de cochonilhas, percevejos e
junto ao Setor de Biotecnologia e Orqui-
até as plantas atingirem aproximada- pulgões, além da presença de fungos
dicultura da Fundação Shunji Nishimura
mente 4-5 cm de diâmetro e serem trans- dos gêneros Colletotrichum, Alternaria
de Tecnologia localizado no município
plantadas para bandeja em condições de e Cercospora, causadores de manchas
de Pompéia-SP, desde 2005.
estufa. As plantas foram aclimatizadas foliares, além de Fusarium, Pythium e
O método de melhoramento utiliza-
em condições de estufa agrícola com tela Phytophtora, causadores de podridões
do foi de cruzamentos controlados entre
de sombreamento de 70% e temperatura em pseudobulbos e raízes. Ao longo do
matrizes superiores, seguido de seleção
média anual de 26°C. As plantas foram ciclo de cultivo das progênies não foram
massal das progênies.
cultivadas em substrato contendo 50% utilizados defensivos agrícolas, com
As cultivares utilizadas como geni-
de chips de coco e 40% de casca de pinus o objetivo de selecionar plantas mais
toras foram Cattleya ‘Memorian Joseph
e 10% de carvão vegetal. A irrigação foi tolerantes às mesmas pragas e doenças
Madella’ (masculino):
realizada através de microaspersores descritas anteriormente, no período de
Planta de porte médio com pseudo-
aplicando-se aproximadamente 2 mm cultivo.
bulbos ora unifoliados, ora bifoliados
e inflorescência terminal com duas a de água duas vezes por semana. A adu-
três flores de tamanho médio, pétalas bação utilizada constou da aplicação de CARACTERÍSTICAS
com diâmetro médio e durabilidade de fertilizante ultrassolúvel 20-20-20, com

Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 379


JC Cardoso

Tabela 1. Medidas dos componentes das flores de orquídea Laeliocattleya cv. Brazilian anos de cultivo em estufa. A primeira
Girl Rosa obtidas no momento da primeira floração (measures of the flower components of floração ocorreu nos meses de setembro
the Laeliocattleya cv. Brazilian Girl Rosa orchid, obtained at the first flowering). Pompéia, e outubro. Na avaliação realizada no
Fundação Shunji Nishimura de Tecnologia, 2009. momento da primeira floração foram
1ª Flor 2ª Flor 3ª Flor 4ª Flor Média contados 8 pseudobulbos, com média
diâmetro Flores 12,30 12,60 11,20 11,00 11,78 de duas brotações por ano. A altura da
horizontal Pétalas 6,30 6,50 6,00 6,10 6,23 planta sem considerar a inflorescência
(cm) Labelo 6,00 5,90 5,80 5,50 5,80 e flores foi de 28 cm e com a inflores-
cência e flores foi de 41 cm. O compri-
Diâmetro Flores 12,30 12,00 11,10 11,30 11,68
mento da inflorescência foi de 18 cm
vertical Pétalas 4,70 4,60 4,10 4,00 4,35 sem considerar as flores e 28 cm com
(cm) Labelo 3,70 3,50 3,40 3,60 3,55 as flores, proporcionado boa distribuição
das quatro flores, não permitindo perda
de qualidade por sobreposição, caracte-
rística comum em plantas com mais de
três flores (Figura 1C). Todas as flores
tiveram sua antese de uma única vez, o
que favorece a comercialização do pro-
duto pelo impacto visual do conjunto da
inflorescência e flores abertas. As flores
de ‘Brazilian Girl Rosa’ são de tamanho
médio, com pétalas levemente curvadas
para frente e sépalas firmes e retas em
relação ao plano da flor, labelo fechado
e sem exposição do ginostêmio e com
diâmetro entre as bordas de tamanho
médio, proporcional ao tamanho dos
demais componentes das flores (Tabela
1). As pétalas e sépalas têm coloração
rósea maciça e a região exposta do
labelo mostra três cores principais: a
porção inferior que ocupa quase me-
tade da porção visível com tonalidade
rosa-avermelhado de forte intensidade,
a porção mediana com duas manchas
laterais brancas e que contornam a parte
superior visível do labelo e a região mais
interna de coloração amarela (Figura
Figura 1. Genitores masculino (A) e feminino (B), características da inflorescência (C) e
detalhes da flor (D) da progênie Laeliocattleya ‘Brazilian Girl Rosa’ (male (A) and female (B)
1D). Durante os quatro anos de cultivo
genitors, inflorescence characteristics (C) and flower details (D) of the progeny Laeliocattleya não foram observados a presença ou
‘Brazilian Girl Rosa’). Pompéia, Fundação Shunji Nishimura de Tecnologia, 2009. sintomas das principais pragas e doen-
ças ocorrentes no cultivo de orquídeas,
mesmo sem a aplicação de defensivos
O sistema de seleção massal para as sem o uso de defensivos agrícolas. No agrícolas.
características vegetativas, selecionando entanto, após o primeiro florescimen-
plantas com melhor vigor e velocidade to, uma das plantas selecionadas com MANUTENÇÃO E DIS-
de desenvolvimento possibilitaram floração precoce (PMP101) apresentou TRIBUIÇÃO DE PLANTAS
selecionar plantas com floração mais podridão de brotações, folhas e pseudo-
rápida. O florescimento mais rápido de bulbos e foi descartada como possível
orquídeas do gênero Laeliocattleya e nova cultivar. A nova cultivar está sendo micro-
afins é de importância fundamental no propagada via cultura de gemas axilares
A cultivar ‘Brazilian Girl Rosa’ foi
cultivo, já que estas plantas apresentam e apicais para realização de testes em
selecionada pelas suas características
desenvolvimento lento e longo período outras regiões produtoras de flores do
superiores de cultivo e vigor no desen-
juvenil. estado de São Paulo. Mudas podem ser
volvimento. A planta teve crescimento
adquiridas no laboratório de biotecno-
Ao final do processo de seleção vegetativo e de raízes vigoroso e satis-
logia vegetal da Vliet Flora, localizada
foram obtidas duas plantas com carac- fatório semelhante às suas genitoras e
em Holambra-SP.
terísticas interessantes para o cultivo floresceu pela primeira vez com quatro

380 Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010


Laeliocattleya ‘Brazilian Girl Rosa’: cultivar de orquídea para cultivo em vaso

AGRADECIMENTOS REFERÊNCIAS Indicadores do Agronegócio 4. Disponível


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mento desse trabalho e em especial ao AB. UEL 6: nova cultivar de Dendrobium. Edition, London, Timberpress Inc., p.86,
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Sr. Shunji Nishimura pelos anos de tra- 524p.
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Hortic. bras., v. 28, n. 3, jul.- set. 2010 382
são outros. Nesse novo contexto, ção de plantas do MAPA para Esse assunto foi amplamente
os programas de melhoramento resguardar materiais ainda não debatido na 4a.Conferência Na-
são chamados a contribuir com o melhorados, certamente porque cional de Ciência, Tecnologia e
agronegócio de forma a permitir contêm genes de importância Inovação, ocorrida em Brasília,
que mantenham sua produtivida- para a agricultura. Ações de entre 26 e 28 de maio de 2010.
de, porém sem agredir o meio restrição ao intercâmbio entre Foram discutidas as dificuldades
ambiente ou avançar em terras as instituições nacionais têm se que os próprios órgãos gover-
ainda não cultivadas. O aumento tornado hodiernamente um mal namentais nacionais impõem
da produção agrícola doravante para o progresso dos programas para a prospecção de acessos
deve ser fruto do manejo da de melhoramento de plantas no da biodiversidade para estudos
sazonalidade de cultivo. Alguns Brasil. Ao contrário, os pro- científicos; os entraves para o in-
grupos de plantas se adaptam gramas deveriam desfrutar de tercâmbio de acessos entre insti-
melhor a esta exigência, como harmonia, sendo conduzidos tuições nacionais, que precisam
é o caso das hortaliças, que sem espírito competitivo, para ser removidos; a necessidade de
reúnem uma gama de espécies, que o país pudesse avançar se pensar em arranjos locais de
Foto: Rosa Lia Barbieri várias delas fundamentais para continuamente. segurança alimentar e nutricio-
a alimentação não apenas dos Neste aspecto, são recebi- nal; a importância dos alimentos
brasileiros, mas dos povos de das como um alento as ações biofortificados; o uso de insu-
Novo paradigma da ciência todos os continentes. mos alternativos; a migração
agronômica: manutenção mais recentes das agências de
Um dos pilares para a prática fomento no incentivo a redes do atual sistema de agricultura
da agrobiodiversidade sem empresarial para um sistema
impedir o crescimento da do melhoramento sustentável é a de pesquisa, desenvolvimen-
conservação das espécies. Neste to e inovação, como ocorre agrícola sustentável e lucrativo;
produção agrícola o estreitamento da interação
quesito, os bancos de germo- em editais da CAPES, CNPq,
Em decorrência da elevação plasma são de inestimável valor. FAP’s, com participação do público-privada; a maior habi-
da temperatura global, o grande Ousando tratar desse particular FNDCT, por meio do INCT. lidade na construção de redes
desafio para o desenvolvimento tema como pré-melhoramento, Cita-se como exemplo o Edital com centros de convergência (e
da agricultura hoje é buscar ren- não há como vislumbrar progra- Redes de Pesquisa em Agrobio- não de excelência), envolvendo
tabilidade, porém, preservando mas de melhoramento eficazes diversidade e Sustentabilidade instituições “âncoras”, com fun-
a agrobiodiversidade e, assim, ao homem, que não agridam o da Agropecuária Nacional. damento no reconhecimento ao
evitando a carência de alimentos meio ambiente, sem se reportar Neste edital, “o Ministério da direito à alimentação (Emenda
para grande parte da população à conservação de espécies nesses Ciência e Tecnologia (MCT) e Constitucional 64). Assim, a
mundial. bancos, quer seja ex situ ou in o Conselho Nacional de Desen- agricultura precisará deixar de
vivo. Na competente concepção volvimento Científico e Tec- ser somente produtora de ali-
O Brasil da década de 1930 mentos, fibras e energia. Indo
tinha 80% de sua população no de Francisco Ferreira e Marcos nológico (CNPq), em conjunto
Carlos, da Embrapa Recursos com o Ministério da Educação mais além, é preciso substituir
meio rural produzindo alimentos o modelo baseado na oferta
para os 20% que residiam nos Genéticos e Biotecnologia, (MEC), com a Coordenação
“os acervos preservados nas de Aperfeiçoamento de Pessoal (pesquisa básica alimentando
centros urbanos. Hoje, apenas a aplicada para atender aos se-
20% da população vive na zona coleções de germoplasma são de Nível Superior (Capes), Em-
o alicerce da riqueza nacional brapa, Fundações de Amparo à tores secundários e terciários)
rural, ao passo que os outros por um modelo baseado na
80% constituem os residentes relacionada à segurança ali- Pesquisa Estaduais (Fundação
mentar e à agricultura”. Um demanda, em que a pesquisa
urbanos. Não vamos aqui avan- Araucária, FAPEAM, FAPE- busca soluções para problemas
çar nos efeitos sociais pernósti- belo exemplo dessa riqueza MA, FAPEPI, FAPERGS, FA-
ilustra a capa deste número de locais e regionais. Resumindo,
cos da urbanização sem plane- PES, FAPESB, FAPESPA, FA- a atual tecnologia produtora
jamento, mas em outra questão Horticultura Brasileira. Em um
PITEC, FUNDECT, FAPEMIG, de alimentos precisará evoluir
fundamental: a nova concepção esquema eficiente para preser-
vação da agrobiodiversidade, os FACEPE, FAPEMAT, FAPEG, para uma tecnologia baseada
de agricultura alicerçada na se- FAPESC, FAPESP, FAPDF e no respeito à sustentabilidade
gurança alimentar como política bancos de germoplasma ex situ
e a conservação on farm devem FAPERN) e os CTs Agro e Hi- humana. Este é o grande desafio!
de Estado. Nesta concepção, a importância
ser complementares, levando, dro, atuaram em conjunto com
Atualmente, a agricultura quando adequado, ao melhora- o objetivo de apoiar projetos da manutenção da agrobiodiver-
brasileira é responsável por 40% mento participativo, realizado em redes que visem a contribuir sidade não é mais “substantivo”,
das exportações do país. A partir em conjunto com os agriculto- significativamente para o avanço é “verbo”!
da década de 1990, o Brasil pas- res, em suas propriedades. da conservação da agrobiodi- Antonio Teixeira do Ama-
sou rapidamente de importador versidade e sustentabilidade
para exportador de diversos Todavia, a despeito da ine- ral Júnior (UENF, Campos dos
da agropecuária nacional, com Goytacazes-RJ; amaraljr@
produtos agrícolas, sobretudo quívoca importância dos bancos investimento global estimado
de espécies que não são origi- de germoplasma, há um grande uenf.br)
de R$ 51,7 milhões em capital,
nárias da América do Sul, tendo lapso entre a conservação e custeio e bolsas.” Creio, pois, As ideias aqui expressas
a agricultura empresarial como o efetivo uso dos acessos no que estamos diante da premente refletem a opinião do autor e
mola propulsora. Porém, o cres- melhoramento de plantas. Não necessidade de desmitificar dis- não da Comissão Editorial. As
cimento da agricultura no Brasil, raro, existem restrições ao in- cursos vácuos antes proferidos informações aqui apresentadas
o país que possui a maior reserva tercâmbio de germoplasma, que pela voga do mote da sustenta- são, igualmente, responsabili-
florestal do planeta, ocorreu de de forma velada ou não, ocorrem bilidade para tratar, de vez, deste dade do autor.
forma não sustentável, sem a entre instituições nacionais e, tema, como a pauta principal do
devida consciência de preserva- também, no relacionamento Estado no âmbito da agricultura
ção da agrobiodiversidade e dos com o exterior. Os programas
e, assim, focar o olhar em novos
efeitos colaterais da expansão da de melhoramento realizados
padrões de desenvolvimento e
fronteira agrícola sobre o aque- pelas empresas nacionais têm
cimento global. Os tempos agora utilizado a estrutura de prote- inovação.

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