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ISSN 1806-423-X

ISSN 1806-4272 – online


Boletim Epidemiológico Paulista

BEPA
Volume 8 Número 92 agosto/2011
92
Boletim Epidemiológico Paulista
BEPA ISSN 1806-423-X
Volume 8 Nº 92 agosto de 2011

Nesta edição

Investigação de surto de hepatite A no município de Descalvado, SP,


setembro a novembro de 2008
Hepatitis A outbreak investigation in Descalvado county, SP,
September to November, 2008 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

Documento de diretrizes para prevenção das DST/aids em idosos


Guidelines for DST/Aids prevention in the elderly . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

Diretrizes para a atenção oncológica no Estado de São Paulo: contribuições


para o debate
Guidelines for oncologic attention in the State of São Paulo:
contributing to the debate . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

Instruções aos Autores


Autor´s Instructions . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

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EDIÇÃO 92
Bepa 2011;8(92):4-14

Artigo original

Investigação de surto de hepatite A no município de Descalvado, SP,


setembro a novembro de 2008
Hepatitis A outbreak investigation in Descalvado county, SP, September to
November, 2008
Eliana SuzukiI; Thais Claudia Roma de OliveiraII; Dionéia Aparecida RagettiIII; Érica Sofia Iost
Ozorio GalluciIV; Maria Laís Caputo de Barros SerraIV; Márcia Tereza BarbieriIV; Angela Maria
Miranda Spina, Isabel Takano ObaV; Maria Bernadete de Paula EduardoI
I
Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar. Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof.
Alexandre Vranjac”. Coordenadoria de Controle de Doenças. Secretaria de Estado da Saúde de São
Paulo. São Paulo, SP, Brasil
II
Programa Episus. Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac”. Coordenadoria de
Controle de Doenças. Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil
III
Vigilância Epidemiológica. Secretaria Municipal de Saúde. Descalvado, SP, Brasil
IV
Grupo de Vigilância Epidemiológica de Araraquara. Coordenadoria de Controle de Doenças.
Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil
V
Laboratório de Hepatites Virais. Centro de Virologia do Instituto Adolfo Lutz. Coordenadoria de
Controle de doenças. Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil

RESUMO
A hepatite A é uma doença viral de distribuição mundial. A transmissão é fecal-oral e
a exposição ocorre principalmente devido às condições inadequadas de saneamento.
O presente trabalho relata a investigação de surto de hepatite A (VHA) no município
de Descalvado, SP, após cinco anos sem notificação de ocorrência da doença. Foi
realizado o estudo de caso-controle composto por 34 casos com IgM positivo e 38
controles com IgM negativos, pareados por faixa etária e local de exposição, para
levantamento de fatores de risco e fonte de exposição. Os exames sorológicos foram
realizados pelo Centro de Diagnóstico Laboratorial de São Carlos, utilizando kits
comerciais da marca DiaSorin®, e pelo Instituto Adolfo Lutz, pela técnica da PCR
método in house. A mediana de idade dos casos foi de 6,5 anos, 55,9% de homens;
sintomas mais frequentes: icterícia (70,6%), urina escura (70,6%), fezes
esbranquiçadas (52,9%), náuseas (47,1%, febre (44,1%), vômito (44,1%), dor
abdominal (29,4%) e 2 hospitalizações (5,9%). O contato prévio com doentes foi o
fator de risco mais significante: OR de 21,4, IC 95% e p< 0,001. Verduras consumidas
sem desinfecção foi o segundo fator de risco mais significante: OR de 4,7; IC 95% e
p<0,001. O surto ocorreu em duas escolas e uma creche, atingindo vizinhos e
parentes do caso-índice. A ausência de casos por um período de cinco anos resultou
em aumento do número de susceptíveis, fazendo com que a ocorrência de um caso
fosse suficiente para desencadear o surto. O controle e a prevenção por bloqueio
vacinal e por imunoglobulina, assim como medidas educativas desencadeadas em
locais de possível exposição, interromperam a cadeia de transmissão.

PALAVRAS-CHAVE: Hepatite A. vigilância epidemiológica. Investigação de surto.


Doenças transmitidas por água e alimentos.

Surto de hepatite A em Descalvado, SP, 2008/Suzuki E, et al.

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ABSTRACT
Hepatitis A is a viral disease spread worldwide. Transmitted by fecal-oral
route and occurs mainly because of inadequate sanitary conditions. This
paper describes a Hepatitis A outbreak investigation in Descalvado county,
São Paulo, after five years without a case. Case-control study was conducted,
with 34 IgM anti-HAV positive cases and 38 IgM anti-HAV negative controls,
matched for age and exposure local, in order to identify risk factors and
exposure source. Serologic exams were performed by Center of Diagnostic
Laboratorial of São Carlos, using DiaSorin® commercial kits and Instituto
Adolfo Lutz using “in house” method PCR technique. Average age of the cases
was 6,5 years old, 55,9% were men, and presented symptoms as: jaundice
(70,6%); dark urine (70,6%); pale stools (52,9%); nausea (47,1%); fever
(44,1%); vomiting (44,1%); abdominal pain (29,4%) and 2 hospitalizations
(5,9%). The most significant risk factor was the previous contact with a HAV
patient: OR de 21,45; IC 95% e p< 0,001. Consumption of vegetables without
disinfections was a second relevant risk factor: OR de 4.7; IC 95% e p<0,001.
The outbreak occurred in two elementary schools, one private day nursery
and neighbors of primary case. five years without a case increased the
number of susceptible, making one case enough to cause an outbreak.
Educational measures, vaccine and immunoglobulin application controlled
the outbreak and prevented new cases.

KEY WORDS: Hepatitis A. Epidemiological surveillance. Outbreak investigation.


Foodborne and waterborne diseases.

INTRODUÇÃO
A hepatite A é uma doença viral de Em creches e outros espaços de convi-
distribuição mundial e sua ocorrência vência é comum ocorrer transmissão cíclica
pode ser esporádica ou epidêmica. Em da doença entre crianças e, a partir delas,
países em desenvolvimento os adultos para seus contatos domiciliares. É uma
são usualmente imunes devido à exposi- doença de início usualmente abrupto, com
ção ao vírus na infância, principalmente febre, mal-estar, anorexia, náusea, descon-
em razão de condições inadequadas de forto abdominal e aparecimento de icterí-
saneamento. Nesses locais as epidemias cia em poucos dias. Muitas infecções são
são incomuns, entretanto, com a melhoria assintomáticas, anictéricas ou leves,
das medidas sanitárias em muitas partes especialmente em crianças, e diagnostica-
do mundo, observa-se que os adultos das apenas por meio de testes laboratoriais
jovens tornam-se suscetíveis e o número de (sorologia). A letalidade relaciona-se com a
surtos vem aumentando. idade – estima-se em 0,1% para crianças

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menores de 14 anos, chegando a 1,1% para SP). A média, por ano de notificação, foi de
maiores de 40 anos. 333 surtos envolvendo 2.712 casos, além
A susceptibilidade é geral. A imunidade de mais de 300 casos individuais, aparen-
homóloga depois da infecção provavelmente temente não envolvidos em surtos, no
dura por toda a vida.
1
mesmo período. 7
O ser humano é o reservatório comum Em 30 de outubro de 2008, durante a
do vírus e o período de incubação varia de semana epidemiológica (SE) 44, a Divisão
15 a 50 dias. A transmissão normalmente de Doenças de Transmissão Hídrica e
ocorre de pessoa a pessoa, por via fecal- Alimentar do (DDTHA/CVE) recebeu
oral. O vírus é encontrado nas fezes, notificação da vigilância epidemiológica
alcançando picos em uma ou duas semanas (VE) da Secretaria Municipal de Saúde de
antes do surgimento dos sintomas ou da Descalvado, SP, de ocorrência de cinco
disfunção hepática, diminuindo rapida- casos de hepatite A, dos quais quatro eram
mente em seguida, concomitantemente ao crianças e um adulto, moradores do bair-
aparecimento dos anticorpos virais, que ro Jardim Albertina. Várias orientações
ficam detectáveis por 4 a 6 meses depois foram discutidas com vistas à identifica-
do início da doença. A maioria dos casos ção dos casos, coleta de exames e ações
de controle.
torna-se não transmissível após a primeira
semana de icterícia.
2,3
Em 10 de novembro, SE 46, o municí-
pio informou a existência de 12 casos com
Não há tratamento para a doença
sorologia reagente para hepatite A e 11
instalada, apenas terapêutica sintomática
suspeitos, com alteração de enzimas
e cuidados específicos em possíveis
hepáticas, aguardando os resultados das
complicações. Além das medidas de
sorologias já colhidas. Os casos eram
saneamento e de educação sanitária, a
pertencentes a creches, escolas e a mora-
imunoglobulina (IG) tem sido utilizada
dores do bairro Jardim Albertina. Foram
como profilaxia em surtos. Estudos
desencadeadas várias ações, entre elas o
mostram que uma vacina efetiva e segura
bloqueio vacinal e a profilaxia com imu-
abre uma importante perspectiva para a
noglobulina na escola, creche e comuni-
redução da incidência da hepatite A,
cantes. A partir do estudo descritivo,
indicando como necessidade sua introdu-
realizado pelas equipes de VE e do Grupo
ção no calendário infantil e em bloqueio
4-6
de Vigilância Epidemiológica de Arara-
de surtos. quara (GVE/CCD), foi tomada a decisão de
Entre 1999 e 2008, os surtos de hepati- realizar um estudo de caso-controle para
te A representaram 12,3% do total de determinação da fonte de transmissão.
surtos de doenças de transmissão alimen- Em 11 de novembro, SE 46, foi constituí-
tar (DTA) notificados ao Centro de Vigilân- da uma equipe de trabalho composta por
cia Epidemiológica “Prof. Alexandre uma aluna do Episus/CVE e uma técnica
Vranjac” (CVE) – órgão da Coordenadoria da DDTHA/CVE, que, em conjunto com as
de Controle de Doenças da Secretaria de equipes locais, desenvolveu a investiga-
Estado da Saúde de São Paulo (CCD/SES- ção em questão.

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Descalvado localiza-se a 242 km da da Família (ESF), com cobertura próxima


capital paulista. Sua população estimada é de 100% da população.
de 30.710 habitantes, com densidade Há cerca de cinco anos o município não
demográfica de 38,30 hab./km2, mortalidade apresentava registro de caso ou surto de
infantil de 10,43 óbitos/1.000 crian- hepatite A; e este epiosódio ocorreu predo-
ças/ano, expectativa de vida de 74,42 minantemente no bairro Jardim Albertina
anos, taxa de alfabetização de 91,84%, (Figuras 1 e 2).
boas condições socioeconômicas e de As escolas e a creche são vizinhas e as
saneamento. Tem na avicultura e agro- crianças transitam diariamente entre uma
pecuária suas principais at iv i d a d e s instituição e outra. As duas escolas fazem
econômicas. 8,9 O índice de desenvolvi- parte de um terreno único e a creche situa-
mento humano (IDH), em 2000, era de se no terreno vizinho.
10
0,82, colocando o município entre as Este trabalho tem por objetivo relatar
regiões de alta condições de vida e a investigação de surto de hepatite A,
desenvolvimento. Para o atendimento à identificado em outubro de 2008, no
saúde da população Descalvado conta município de Descalvado, SP, para levan-
com um hospital (santa casa), um posto tamento de fatores de risco e identifica-
de saúde, duas equipes de Pacs (Progra- ção do local provável de exposição do
ma de Agentes Comunitários em Saúde), caso índice, através do estudo caso-
um ambulatório de especialidade, um controle. Também visa divulgar as medi-
núcleo de atendimento à saude d a das de controle tomadas para interrupção
mulher e cinco equipes Equipes de Saúde do surto e prevenção de futuros casos.

Fonte: Prefeitura de Descalvado, 2009

Figura 1. Mapa da cidade de Descalvado, SP, bairro de Jardim Albertina.

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Fonte: DDTHA/CVE, 2008

Figura 2. Número de casos de hepatite A, por bairro de residência dos casos.


Descalvado, SP, novembro, 2008.

METODOLOGIA
Estudo descritivo da investigação de anticorpos IgM anti-HAV ou sintomático
surto, com identificação e rastreamento sem exame laboratorial, mas com vínculo
dos casos, possíveis portadores e contatos. epidemiológico com caso confirmado
Levantamento e análise dos prontuários laboratorialmente, e realização do questio-
médicos e fichas epidemiológicas dos nário de investigação epidemiológica.
casos para identificação dos sinais e Definição de controle: todo indivíduo
sintomas. pertencente à mesma área geográfica e
Estudo de caso-controle com realização faixa etária dos casos, ausência de anticor-
de exames sorológicos dos casos e dos pos IgM anti-HAV e realização do questio-
controles selecionados, entrevista por nário de investigação epidemiológica.
meio de questionário específico para Considerou-se surto a ocorrência de
identificação individual e socioeconômico, dois casos ou mais de hepatite A, associa-
sinais e sintomas, atendimento médico, dos a uma fonte comum de transmissão.
exames laboratoriais, fatores de risco no Variáveis socioeconômicas e 16 fatores
domicílio, hábitos alimentares, saneamen- de risco foram levantados por meio de
to básico, contato fora do município, inquérito, aplicado aos casos e controles. O
contato ambiental e detecção dos elos questionário em pacientes menores de 18
epidemiológicos entre os indivíduos. anos foi aplicado aos pais ou responsáveis
População de estudo: moradores do pelo menor. O banco de dados e os cálculos
município de Descalvado que realizaram o estatísticos foram realizados pelo EPI-Info
exame sorológico para anti-HAV IgM, no CDC, versão 2000.
período da SE 36 a SE 50 (1 de setembro a Os exames sorológicos dos casos
9 de dezembro) de 2008. suspeitos foram realizados pelo Centro
Definição de caso: todo indivíduo sinto- de Diagnóstico Laboratorial (CDL), em
mático ou assintomático com presença de São Carlos, SP. Os exames sorológicos de

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anti-VHA IgM para identificação de con- (SE 49). A curva epidêmica do surto pode
troles para o estudo foram realizados pelo ser observada na Figura 3, evidenciando a
Instituto Adolfo Lutz Central (IAL/CCD), em concentração de casos na SE 47, com
São Paulo, SP, pela técnica do ensaio imuno- 13,95% do total. A idade média dos 34
enzimático, utilizando kits comerciais da casos foi de 6,5 anos (mínima de 2 e máxima
marca DiaSorin® e pela técnica da PCR de 35) e 55,9% eram do sexo masculino.
(reação da polimerase em cadeia), método As faixas etárias entre zero a 10 anos
in house. foram as mais acometidas pela doença. Na
Inspeções sanitárias foram conduzidas Figura 4 observam-se 21 casos em menores
pela equipe de vigilância sanitária do de 10 anos (64,70%) e 13 em maiores de 10
município na creche, escolas, no refeitó- anos (35,3%).
rio (comum a ambas) e meio ambiente, O bairro com a maior frequência de
para identificação de possíveis fatores casos foi o Jardim Albertina, com 73%,
de risco à doença. Agentes ESF e comuni- seguido por Parque Vitória e Jardim São
tários da cidade realizaram as visitas Cristovão, com 8,8% cada. Jardim Milênio,
domiciliares. Ricardo Cesar e Morada do Sol tiveram um
A vacinação de bloqueio foi administra- caso cada (2,9%).
da para pessoas entre 1 e 40 anos de idade, Dos 34 casos, 25 (73,5%) manifesta-
pertencentes às escolas, creche e contac- ram alguma sintomatologia, sendo os
tantes do caso índice. Para menores de 1 sinais e sintomas mais frequentes: icterícia
ano e maiores de 40 anos foi administrada (70,6%), urina escura (70,6%), fezes
imunoglobulina. 11 O bloqueio vacinal foi esbranquiçadas (52,9%), náuseas
realizado entre as SE 46 e 47 (Figura 3) e a (47,1%), febre (44,1%), vômito (44,1%),
vacina utilizada foi da GlaxoSmithKline. dor abdominal (29,4%), fraqueza (11,8%),
cefaléia (11,8%), hepatomegalia (5,9%),
dor muscular (2,9%) e desidratação
RESULTADOS (2,9%). Ocorreram duas hospitalizações
O primeiro caso ocorreu em 4 de setem- (5,9%): adulto de 29 anos e criança de 3
bro (SE 36) e o último em 5 de dezembro anos (Tabela 1).

Aplicação de Imunoglobulina
e vacinação
número de casos

Fonte: DTHA/CVE, 2008 semana epidemiológica


Figura 3. Curva epidêmica dos casos de hepattite A, por semana epidemiológica.
Descalvado, SP, 2008.

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número de casos

faixa etária
Fonte: DTHA/CVE, 2008
Figura 4. Número de casos no surto de hepatites A, por faixa etária. Descalvado, SP,
novembro, 2008.

Tabela 1. Sinais e sintomas dos casos do surto de hepatite A em


Descalvado, SP, novembro de 2008.
Sinais e sintomas Sim % Não % Total
Icterícia 24 70,6 10 29,4 100
Urina escura 24 70,6 10 29,4 100
Fezes esbranquiçadas 18 52,9 16 47,1 100
Náuseas 16 47,1 18 52,9 100
Febre 15 44,1 19 55,9 100
Vômito 15 44,1 19 55,9 100
Dor abdominal 10 29,4 24 70,6 100
Cefaleia 4 11,8 30 88,2 100
Fraqueza 4 11,8 30 88,2 100
Hospitalização 2 5,9 32 94,1 100
Hepatomegalia 2 5,9 32 94,1 100
Desidratação 1 2,9 33 97,1 100
Dor muscular 1 2,9 33 97,1 100
Fonte: DDTHA/CVE/CCD/SES-SP, 2008

Os fatores de risco analisados foram: aquisição dos alimentos domésticos; local


contato prévio com pacientes com hepati- de aquisição de frutas, verduras e legumes;
te A; locais frequentados nas semanas e higienização de frutas, verduras e legu-
anteriores ao surto; local e fonte de consu- mes antes do consumo. Os fatores de risco
mo de água; modo de eliminação do esgoto; estaticamente significantes são demonstra-
higiene do leite consumindo; local de dos no Quadro 1.

Quadro 1. Fatores de risco associados ao surto de hepatite A em Descalvado, SP, setembro a novembro de 2008.
(Medida de associação)
Casos Controles
Fatores de risco Odds ratio (OR)
Exposto % Total Exposto % Total OR IC X2 p
Contato prévio
26 76,5 34 5 13,2 38 21,45 6,27-73,37 28,93 0,001
com doente
Verdura sem
25 73,5 34 14 36,8 38 4,7 1,73-13,04 9,59 0,001
desinfecção
Fonte: questionário de investigação do tipo caso-controle do surto de hepatite A, em Descalvado, SP, setembro a novembro de 2008.

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O estudo encontrou associação entre outros na escola em que a criança estuda-


contato prévio com caso de hepatite A e va e na creche adjacente, que também
adoecimento de OR = 21,45; IC 95%, e frequentava, envolvendo inclusive
p< 0,001. O consumo de verduras sem amigos e familiares residentes no bairro
desinfecção, independentemente do local Jardim Albertina. O fluxograma da trans-
de aquisição, mostrou associação à doença missão da doença nesta comunidade está
(OR = 4,7; IC 95%, e p<0,001); plotado na Figura 5, numerados de um a
Muitos dos casos secundários tiveram 34, em ordem cronológica do apareci-
contato com o caso-índice: criança de 9 mento dos primeiros sintomas.
anos de idade que havia se banhado em O primeiro caso sintomático ocorreu
rio com águas poluídas, próximo de sua em 4 de setembro e o último, em 5 de
casa. Assim, a partir deste caso surgiram dezembro.

Círculos verdes: casos na creche; círculos laranjas: casos na escola; círculos azuis: casos na família e amigos.
Círculos violetas: sem vínculo social com casos acima.
Triângulos verdes: assintomáticos na creche; triângulo laranja: assintomático na escola; triângulo azul: assintomático na família e amigos.
Dentro das figuras está a data do início dos sintomas e a sua numeração ordenada cronologicamente. Os casos numerados nos triângulos estão
numerados a título de quantificação dos casos.

Fonte: DTHA/CVE, 2008

Figura 5. Fluxograma da transmissão da doença no surto de hepatite A. Descalvado, 2008.

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DISCUSSÃO
O caso-índice estudava na escola do como a hepatite A. Entretanto, a presença
bairro Jardim Albertina, no período da de possíveis focos de exclusão social ou de
manhã, permanecendo à tarde em uma sala saúde, com pessoas sem hábitos de higiene
cedida pela creche. Na hora da merenda adequados e educação sanitária devida,
todas as crianças entravam em contato. mesmo em meio a uma infraestrutura
O primeiro caso provavelmente adqui- urbana adequada e com ações de saúde
riu a infecção ao banhar-se no rio impró- disponíveis, pode representar importante
prio para banho, próximo à sua residência. fator de risco para a circulação do vírus e a
Mas a infecção poderia também ter sido disseminação da hepatite A, além de
adquirida pelo consumo de verduras e outras doenças, especialmente conside-
legumes crus contaminados ou ingestão de rando fatores como a intensificação do
queijo de produção caseira, trazido pelos convívio em espaços coletivos fechados,
familiares de outro Estado, conforme as como escolas e creches.
informações obtidas na investigação A ausência de casos por um período de
epidemiológica. A residência desse caso cinco anos leva ao aumento do número de
era provida de sistema público de abaste- susceptíveis. Dessa forma, a ocorrência
cimento de água e esgoto, mas observou- de um caso foi suficiente para disseminar
se, na visita realizada pelo agente de saúde a doença na comunidade e transmitir
da ESF e agentes comunitários, que as para jovens e adultos jovens que eram
c o n d i ç õ e s e ra m b a s t a n te p re c á r i a s , susceptíveis.
inclusive com deposição de excrementos Observou-se a interrupção na cadeia de
no quintal da casa. Em decorrência dessa transmissão da hepatite A após a profila-
constatação, a família passou a receber xia por imunoglobulina e vacinação. O
orientações de higiene e saúde dos agentes último caso manifestou sintomatologia em
de saúde, ainda que com certa resistência até 20 dias após a vacinação, sendo consi-
em aceitá-las. derado já infectado, pois recebeu a vacina
O município de Descalvado possui no dia 19 de novembro e apresentou
saneamento básico em aproximadamente sintomas em 20 dias, que corresponde ao
100% do seu território, bem como servi- período necessário para conferir proteção
ços de saúde com boa cobertura em todos contra a doença.
os bairros, inclusive no Jardim Albertina, Outras medidas foram ainda recomen-
onde houve a maior concentração de dadas e desencadeadas durante a inves-
casos. Alta cobertura de saneamento tigação: educação nas escolas sobre
básico e de serviços de saúde à população práticas de higiene e riscos em contrair
é essencial para uma baixa incidência da doenças por práticas recreacionais, de
maioria das doenças infecciosas. A manu- lazer em locais inadequados; informações
tenção da qualidade sanitária é reconheci- para a população sobre boas práticas de
damente responsável pelo declínio de produção/manipulação de alimentos,
doenças consideradas endêmicas, no cuidados com a origem da matéria-prima e
Brasil e em todo mundo, e sem dúvida para de fornecedores (alimentos previamente
a diminuição da circulação de doenças preparados); desinfecção dos alimentos

Surto de hepatite A em Descalvado, SP, 2008/SuzukiI E, et al.

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crus, cozimento, refrigeração e armazena- casos e em locais de possível transmissão,


mento adequados dos alimentos, dentre foi decisiva para cortar a cadeia de trans-
outros aspectos. missão, não tendo sido registrado mais
nenhum caso após dois meses da profila-
xia. Entretanto, esse surto reforça a
CONCLUSÃO
importância de introdução de medidas de
A investigação epidemiológica mostrou
prevenção mais efetivas e duradouras,
tratar-se de um surto de hepatite A a s s o-
tais como a introdução da vacina contra a
c i a d o à transmissão pessoa a pessoa e a
hepatite A no calendário infantil de
fatores de risco, como higiene pessoal
rotina e para bloqueio de surtos, que
inadequada e consumo de verduras e
pode ser um meio seguro para reduzir a
legumes crus sem desinfecção. A fonte de
incidência da doença.
exposição provável foi o rio próximo à
residência do caso.
As condições adequadas de saneamento AGRADECIMENTOS
básico e de serviços de saúde do município Á vigilância sanitária, à ESF e a todos
diminuíram a circulação da hepatite A, e aqueles que participaram da investigação e
esta ausência de contato com o vírus da das ações de saúde e educação para contro-
doença fez aumentar o número de suscep- le e prevenção da doença. À dra. Helena
tíveis na população. Essa situação propi- S a to , d a D iv i s ã o d e I m u n i z a ç ã o d o
ciou a ocorrência de surtos na comunidade C V E / C C D / S E S - S P, p e l a s o r i e n t a ç õ e s
susceptível. técnicas referentes à aplicação de vacinas e
A conduta de controle e prevenção em imunoglobulinas nas diferentes idades e
tempo oportuno, por bloqueio vacinal e situações epidemiológicas do grupo de
por imunoglobulina nos contatos dos indivíduos envolvidos no surto.

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8. Secretaria de Estado da Saúde. Centro de
Vigilância Epidemiológica. Informe Net
DTA – Hepatite A [on-line] 2006 [acesso
Recebido em: 11/04/2011
em 13/01/2011]. Disponível em: Aprovado em: 19/07/2011

Correspondência/correspondence to:
Eliana Suzuki
Av. Dr. Arnaldo, 351, 6º andar, sala 607 – Cerqueira Cesar
CEP: 01246-000 – São Paulo/SP, Brasil
Tel.: 55 11 3066-8234/3081-9804
E-mail: esuzuki@cve.saude.sp.gov.br

Surto de hepatite A em Descalvado, SP, 2008/SuzukiI E, et al.

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Informe

Documento de diretrizes para prevenção das DST/aids em idosos


Guidelines for DST/Aids prevention in the elderly
Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids. Coordenadoria de Controle de Doenças.
Área Técnica de Saúde da Pessoa Idosa. Grupo Técnico de Ações Estratégicas – GTAE.
Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil

Envelhecimento e saúde da pessoa idosa


Atualmente, o envelhecimento popula- contratados e conveniados ao SUS, a viabili-
cional apresenta-se como um fenômeno de zação de meios que permitam a presença do
grande relevância em todo o mundo. Os acompanhante de pacientes acima de 60
avanços da medicina, associados às novas anos de idade, quando internados, e autori-
tecnologias, tornaram possível o aumento zou a cobrança da diária do acompanhante
da longevidade. A expectativa de vida no SIH/SUS.
dobrou no século passado: no Brasil, O Estatuto do Idoso reafirma os direitos
passou dos 34,7 anos em 1900 para 68,5 dos idosos na área da saúde, entre eles a
em 2000. Atualmente já está por volta dos necessidade do atendimento geriátrico e
72 anos, com perspectiva de aumentar gerontológico em ambulatórios, unidades
ainda mais. geriátricas de referência, com pessoal
De acordo com dados do IBGE, em 2009, especializado nas áreas de geriatria e
pessoas idosas eram quase 4,5 milhões no gerontologia social, e atendimento domi-
Estado de São Paulo, o que representa ciliar, bem como a reabilitação orientada
10,7% da população total. Esse número pela geriatria e gerontologia, para redução
deverá chegar a 7 milhões em 2020. Essa das sequelas decorrentes do agravo à
perspectiva certamente exigirá uma políti- s a ú d e . C o n s i d e ra a i n d a n e c e s s á r i a s
ca pública para esta população, a fim de políticas públicas que permitam o enve-
garantir dignidade e qualidade de vida aos lhecimento digno e saudável em nossas
idosos. cidades, com acesso e oportunidades
1
Segundo o Estatuto do Idoso Brasileiro, compatíveis com as possibilidades das
são consideradas pessoas idosas as que pessoas idosas. É fundamental também
têm 60 anos ou mais. Para garantir os garantir atendimento preferencial nas
direitos dessa população foram elabora- unidades de saúde, acolhimento com
das portarias nacionais e estaduais. Esses humanização, dignidade e respeito.
dispositivos legais criaram condições para Em 2007, o governo paulista editou a lei
pro mover a autonomia do idoso, sua nº 12.548/07, 3 que consolida a legislação
integração e participação efetiva na relativa aos idosos em São Paulo. Ainda em
sociedade, reafirmando o direito à saúde 2007 foi criado um grupo de trabalho para
nos diversos níveis de atendimento do a elaboração da política de atenção à
Sistema Único de Saúde (SUS). pessoa idosa no Estado, hoje denominado
A Política Nacional de Saúde do Idoso 2 Projeto Futuridade, coordenado pela
tornou obrigatória aos hospitais públicos, Secretaria Estadual de Assistência e

Diretrizes para prevenção das DST/aids em idosos

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Desenvolvimento Social. A elaboração do relacionados a isso. Cabe considerar ainda


Plano se deu em consonância com as que o uso de preservativos não faz parte da
deliberações da I Conferência Nacional cultura do idoso e está muito associado,
dos Direitos da Pessoa Idosa, que teve para essa geração, à promiscuidade.
como objetivo a construção da Rede Além disso, o idoso tem particularida-
Nacional de Proteção e Defesa dos Direitos des ao envelhecer que podem tornar
da Pessoa Idosa (Renadi), uma ação para mais difícil desde o diagnóstico até o
colocar em prática as demandas organiza- tratamento adequado das DST e aids,
das a partir de oito eixos temáticos: ações misturando-se a agravos mais comuns da
para efetivação dos direitos da pessoa velhice. A maior prevalência de aids
idosa; previdência social da pessoa idosa; entre os que envelhecem passa tanto pela
saúde da pessoa idosa; violência e maus maior sobrevida dos doentes quanto pela
tratos contra a pessoa idosa; assistência aumaento da incidência em faixas
social à pessoa idosa; financiamento e etárias mais avançadas. Ambos os desafi-
orçamento público para efetivação dos os impõem a qualificação do cuidado.
direitos das pessoas idosas; educação,
cultura, esporte e lazer para as pessoas
Aids e envelhecimento:
idosas; e controle democrático.
contextualizando a questão
A longevidade que se conquistou traz
No Brasil, notam-se proporções crescen-
como desafio a possibilidade de envelhecer
tes nos casos de aids entre indivíduos com
com qualidade de vida e com funcionalida-
50 anos e mais de idade, de 7% e 13% nos
de. As políticas com foco no envelhecimento
anos de 1996 e 2004, respectivamente. 4,5
ativo atuam no sentido da promoção de
Contudo, entre os maiores de 60 anos essa
saúde, sendo que se considera de extrema
proporção se mantém em aproximada-
importância a abordagem das questões
mente 2,5% do total de casos notificados
relacionadas à sexualidade. O incentivo à
no mesmo período. A taxa de incidência
socialização e à retomada de vínculos ao
entre os maiores de 60 anos em 2000 foi de
envelhecer, dando relevância às atividades 6
5,1 por 100 mil habitantes e em 2007
coletivas e à dança, por exemplo, possibili-
passou para 7,2.
tam encontros que, associados ao uso de
medicamentos que melhoram o desempe- Nos Estados Unidos, 10% das pessoas
nho sexual masculino em idades mais que vivem com aids têm 50 anos ou mais.
7,8
avançadas, podem contribuir para o No Canadá, chega a 12% das notificações.
aumento da atividade sexual entre idosos. No Brasil, até os anos 1980, a transmis-
Acreditar que o idoso volta a ser criança e são sanguínea era o principal fator de risco
deixa de ter sexualidade é um equivoco que das pessoas acima de 60 anos; atualmente é
pode camuflar a realidade dessas pessoas. atribuída ao contato sexual, principalmente
Hoje são consumidores e cidadãos de entre homens que fazem sexo com homens
direitos que passam a usufruir cada vez (HSH), com aumento dos casos em heteros-
mais sua capacidade de amar e se relacio- sexuais. 6 É importante ressaltar que os
nar até o final de suas vidas, não estando números baseiam-se em casos notificados
imunes a transtornos afetivos e biológicos de aids, ou seja, não é possível determinar o

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número de idosos que vivem com HIV aprofundamento da análise de informações


(soropositivos, conhecedores ou não de seu sorológicas e comportamentais dos porta-
status sorológico). dores recém-diagnosticados como infecta-
No Estado de São Paulo, de 1980 até 30 dos pelo HIV, a exemplo da informação dos
de junho de 2009, dos 166.003 casos de aids Centros de Testagem e Aconselhamento
notificados no Sistema Nacional de Agravos (CTA) e dos recém-matriculados nos
de Notificação (Sinan), 3.704 tinham 60 serviços que acompanham portadores.
anos e mais, com taxa de incidência em O diagnóstico do HIV em idosos frequen-
2007 de 5,12 casos para cada 100 mil temente é realizado quando as pessoas
habitantes. A proporção de aids em idosos procuram o tratamento para uma doença
aumentou de 1,9% em 1998 para 4% do relacionada ao vírus, após todas as outras
total de casos notificados em 2007. possibilidades de diagnóstico serem
Em relação à categoria de exposição, esgotadas. Segundo GROSS, 10 62% dos
entre os 2.508 casos notificados em homens casos que levaram o idoso ao primeiro
com 60 anos ou mais a transmissão hete- atendimento em um serviço especializado
rossexual foi a mais frequente (42%), em HIV/aids foi o encaminhamento pós-
seguida dos homo e bissexuais (homens internação. Os idosos apresentam com mais
que fazem sexo com homens), 21,7%. frequência aids no momento do diagnóstico
Entre as 1.196 mulheres na mesma faixa da infecção pelo HIV do que os pacientes
etária, 74,7% eram heterossexuais e 24% mais jovens (36% versus 5%). 11 A incidência
permaneceram na categoria de exposição de casos com diagnóstico tardio de aids em
ignorada.
9
adultos mais velhos pode estar relaciona-
Na análise dos casos paulistas não é da ao estigma, à marginalização, à falta de
possível apontar que os indivíduos estão se informações dirigidas a idosos, ao sub-
infectando em idade mais avançada. Mas os diagnóstico, a estereótipos e preconceitos
dados indicam que os diagnósticos da de alguns profissionais de saúde.
doença foram realizados em idades mais Uma questão importante do HIV em
elevadas, provavelmente pelo aumento do idosos é diferenciar as condições relaciona-
período de incubação do HIV, em função da das à idade e ao vírus e as que são relacio-
introdução da terapia antirretroviral de nadas a ambos. O diagnóstico diferencial é
alta potência, dos aprimoramentos dos um processo complexo, pois muitas
recursos clínico-laboratoriais utilizados doenças próprias da idade e do HIV são
no seguimento dos pacientes e das medi- semelhantes. Além disso, o idoso pode ter
das preventivas adotadas pelo programa múltiplos diagnósticos. A maioria dos
9
de controle da aids. É possível que as sintomas físicos relacionados à infecção
alterações observadas nas taxas de inci- pelo HIV, como fadiga, falta de ar, dor
dência reflitam mudanças comportamen- crônica, perda de peso, anorexia, altera-
tais, como aumento da atividade sexual em ções de memória, depressão, erupção
faixas etárias mais elevadas, consequente- cutânea e sintomas de aterosclerose, pode
mente, maior exposição às DST. Essa ser relacionada apenas ao processo de
questão poderá ser esclarecida por meio envelhecimento, sendo tratada sem a
de estudos específicos nessa faixa de idade, identificação do vírus como um fator causal

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ou relacionado. Da mesma forma, as infec- homeostático, além de alterações farmaco-


ções bacterianas, pneumonias, infecções cinéticas e farmacodinâmicas, que podem
por herpes vírus, inclusive herpes zoster, e alterar o metabolismo das drogas e mudar a
outras infecções podem ser identificadas sua eficácia.
como doenças da idade e tratadas sem uma Além das patologias relacionadas ao HIV,
conexão com o HIV. São exemplos a pneu- o uso de medicamentos antirretrovirais e
mocistose, que pode ser confundida com profilaxias para infecções oportunistas
insuficiência cardíaca congestiva; o status podem fazer surgir patologias como o
mental alterado, a dificuldade de memó- diabetes mellitus e a hipertensão, entre
ria recente e o intelecto diminuído outras. Estas também requerem a adminis-
relacionados à infecção pelo HIV podem tração de medicamentos, os quais podem
ser confundidos com Alzheimer; a neuro- resultar em polifarmácia, elevando o risco
patia periférica e mielopatia pelo HIV se de surgimento de efeitos colaterais e
assemelham com outras doenças da idade. interações medicamentosas.
O diagnóstico precoce em idosos é Pessoas acima de 50 anos apresentam
fundamental, uma vez que estes apresen- maior dificuldade para obter incremento
tam uma evolução mais rápida da doença de CD4, quando comparadas a indivíduos
e/ou maior risco de progressão, devido ao mais jovens. Portanto, a terapia antirre-
fato das células CD4 caírem mais rapida- troviral deve ser introduzida o mais
mente a níveis inferiores. 12 A progressão precocemente possível, a fim de maximi-
da doença nesta população não está zar a resposta virológica e minimizar o
relacionada ao grau ou perda da função risco de resistência viral.
14

imune específica, mas sim à rápida perda Na abordagem do paciente idoso, o


de células CD4. 13,12 Portanto, os idosos conhecimento amplo e as visões comple-
infectados pelo HIV podem necessitar de mentares de múltiplos profissionais são
profilaxia para infecções oportunistas elementos essenciais para que se possa
mais cedo, no curso da doença. captar toda a complexidade de fatores que
Devemos considerar, além do HIV, a influenciam o envelhecer e o adoecer nesta
interação com outras doenças ou condi- população. Portanto, os profissionais de
ções agudas, pois as morbidades como saúde precisam estar sensibilizados para as
diabetes mellitus, doenças cardíacas, especificidades das pessoas idosas que
hipertensão, artrite, complicações neu- vivem com HIV e seus familiares.
ropsiquiátricas e cognitivas são frequen- Na avaliação inicial devem ser incorpo-
tes, assim como doenças relacionadas à radas questões relacionadas à prevenção,
idade, como a osteoporose, que com a ao tratamento, à adesão, ao sigilo e apoio
presença do HIV aumentam o risco de social, englobando desde a avaliação clínica
complicações severas. até a mensuração qualitativa de suas
São poucos os estudos sobre tratamento capacidades funcionais. Os profissionais
do HIV em idosos, mas sabemos que eles de saúde, incluindo generalistas, geriatras
apresentam alterações fisiológicas como a e especialistas em HIV precisam de uma
perda da capacidade de reserva funcional base sólida de conhecimentos sobre a
de órgãos vitais e deterioração do controle doença e seu impacto em pessoas idosas,

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tanto em termos de co-morbidades e que reúnem os articuladores da atenção


diagnósticos diferenciais como em relação básica e da saúde da pessoa idosa.
aos sistemas sociais. Os profissionais de Nos municípios pode-se contar com
saúde devem estar ainda atentos às ques- apoio dos coordenadores dos programas
tões psicossociais como medo, autoesti- municipais de DST/aids, da atenção básica
ma baixa e homofobia, principalmente a e saúde da pessoa idosa, além de grupos de
depressão e o isolamento. Muitas vezes envelhecimento ativo, estruturas forma-
p r e c i s a m d e c u i d a d o s d o m i c i l i a re s , das por serviços e profissionais que atuan-
necessitando de apoio para revelar o do articuladamente formam uma rede que
diagnóstico a terceiros. O estímulo à autono- favorece a diminuição da vulnerabilidade
mia e à independência deve orientar a institucional e social às DST/aids.
conduta profissional. Outras instituições, tanto governamen-
tais quanto não governamentais, podem
Diretrizes para ações de ser agregadas a essa rede, aumentando sua
prevenção às DST/aids em idosos capilaridade. Para tanto, é preciso ter
conhecimento desses seguimentos, o que
Para elaborar diretrizes de ações de
poderá ocorrer por meio do mapeamento
prevenção às DST/aids para a pessoa
local, identificando assim maior número
idosa, sob perspectiva integral e inter-
de parceiros.
setorial, faz-se necessário o envolvimento
de vários parceiros institucionais e da
sociedade civil. Implementar a rede de Recomendações para os serviços
atendimento à pessoa idosa constitui-se A parceria com a rede de atenção básica
estratégia para melhorar o acesso desta é fundamental, pois por meio dela é possí-
população não só a serviços de saúde, mas vel promover discussões sobre sexualida-
também promoção social, direitos, lazer e de, diversidade sexual, prevenção, acesso a
cultura. Assim, vemos a articulação entre insumos (preservativos masculinos, femini-
as Secretarias de Saúde, Promoção Social, nos e gel lubrificante) e oferecer testagem
Justiça, Esporte, Lazer e Cultura amplian- para o HIV, sífilis e hepatites B e C, nos
do as possibilidades de melhoria da diversos momentos do atendimento.
qualidade de vida destas pessoas. A rede A preparação dos profissionais de saúde
de atenção à saúde do idoso será ampliada para o atendimento adequado ao idoso deve
nas regiões e municípios com as diretrizes ser prioridade, sendo necessária a amplia-
delineadas pelo Pacto no Saúde. ção de sua visão em relação aos indivíduos
Na atual estrutura da Secretaria de com mais de 60 anos, ressaltando que a
Estado da Saúde de São Paulo pode-se contar sexualidade não tem idade e faz parte de
com os Grupos de Vigilância Epidemiológica todas as fases da vida das pessoas. A falta de
(GVE), vinculados à Coordenadoria de conhecimento, aliada ao despreparo, leva
Controle de Doenças (CCD), nos quais se os profissionais a infantilizar o idoso, a
encontram os interlocutores do Programa negar sua sexualidade e a possibilidade do
Estadual de DST/AIDS-SP e também dos uso de drogas. Quando aparecem questões
Departamentos Regionais de Saúde (DRS), ligadas à atividade sexual podem ocorrer

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atitudes preconceituosas, comportamentos sensorial e intelectual e sua


de julgamento e discriminação. interface com o envelhecimento nos
É fundamental perceber e aceitar a planejamentos de ações
realidade dessa população e, sobretudo, programáticas.
reconhecer o seu direito de envelhecer ! Produção de material informativos
com saúde e qualidade, em todas as áreas que leve em conta a diversidade e a
da vida. Importante estar atento ainda especificidade nesta faixa etária.
para os aspectos de acessibilidade (arqui-
tetônicos): os serviços devem estar adap-
Como fazer
tados às demandas e características da
população idosa. Levar aos espaços de convivência de
idosos atividades que possam promover
o diálogo, permitindo o aparecimento
Atividades que podem ser
de q u e s tõ e s l i ga d a s à s exu a l i d a d e ,
desenvolvidas para pessoas idosas
propiciando a discussão das diferentes
! Oferta de insumos de prevenção maneiras de vivenciá-la, diversas práticas
(preservativo masculino, feminino e sexuais possíveis, incluindo a discussão
gel lubrificante) nas unidades do uso de preservativos. A adequação do
básicas de saúde e nos espaços de preservativo a ser utilizado pelos casais
convivência de idosos. deve ser avaliada para facilitar o seu
! Aumento da oferta de testagem para manuseio. Nas relações heterossexuais
as sorologias de hepatites B e C, para os homens que apresentam dificul-
sífilis e HIV, contribuindo para o dade de ereção pode-se sugerir o uso de
diagnóstico precoce. preservativo feminino pela parceira. Para
! Estímulo à coleta de papanicolaou mulheres com dificuldade no manuseio do
em mulheres idosas. preservativo feminino recomenda-se o uso
! Realização de oficinas de sexo do preservativo masculino pelo parceiro,
mais seguro com linguagem e aliado ao gel lubrificante à base de água.
exposição adequadas às Nas relações homossexuais masculinas e
necessidades desta população. entre HSH é sempre importante orientar o
! Levantamento das necessidades uso do gel lubrificante associado ao uso
de populações específicas, do preservativo masculino.
como profissionais do sexo,
usuários de droga e de lésbicas, Vale lembrar
gays, bissexuais, travestis e
Sabe-se que há uma hierarquia de risco
transexuais (LGBT). entre as práticas sexuais, 16 sendo a de
! Inclusão das discussões sobre menor risco para a infecção do HIV a prática
sexualidade dos idosos em todas as do sexo oral. Entretanto, nela há sempre a
atividades de prevenção, inclusive possibilidade de se adquirir outras DST.
com grupos religiosos. Por isso, quando o uso do preservativo ou
! Inclusão das discussões sobre outras formas de prevenção (barreira) não
raça/etnia, gênero, deficiência física, forem possíveis, recomenda-se evitar a

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ejaculação na cavidade bucal, minimizan- envolvidos(as) na relação


do assim o risco de infecções. Nessa afetiva/amorosa podem explicitar
hierarquia a prática de sexo anal é a de um acordo de não-uso de
maior risco, sendo fundamental usar preservativo entre si, combinando o
sempre gel lubrificante e preservativo. uso de preservativo em caso de
Independente de estratégias adotadas relações sexuais com outras pessoas,
para o incentivo ao uso de preservativos, visando o controle da situação de
existem pessoas ou relações de parceria exposição do casal a riscos de
que não irão adotá-los imediatamente, DST/HIV.
consistentemente e às vezes nunca. No b) Sexo exclusivamente com o parceiro:
caso dos idosos devemos levar em parceiros(as) envolvidos(as) em
consideração essa questão, visto tratar- uma relação afetiva/amorosa podem
se de uma geração para a qual o uso do explicitar um acordo de prática
preservativo não estava presente no início sexual exclusiva entre eles(as),
da vida sexual e epidemia da aids ainda descartando a possibilidade de
não era uma realidade. Assim, estas pessoas sexo com outras pessoas.
provavelmente devem ter dificuldades de
É importante salientar que “acordos” e
incorporar o insumo no cotidiano de suas
“pactos” são estratégias de prevenção
vidas. Por isso, é importante que os
profissionais de saúde fiquem atentos e sujeitas à “quebra” e ao descumprimento.
tenham uma escuta qualificada que
propicie um diálogo franco e viabilize Realização da testagem anti-HIV
orientações adequadas às diferentes Parceiros(as) envolvidos(as) em a relação
situações vivenciadas pelo idoso. Nesses podem realizar o teste anti-HIV conside-
casos, é essencial considerar estratégias
rando o período de janela imunológica,
de prevenção para pessoas ou casais que
após no mínimo três meses de relação de
não aderem ao uso do preservativo.
parceria sexual exclusiva. Dessa forma,
podem tentar garantir uma situação de
Diminuição do risco com “acordos” e não exposição ao vírus HIV, caso abando-
“pactos” entre parceiros nem o uso do preservativo.
As parcerias afetivas podem auxiliar É importante ressaltar que a testagem
as estratégias de diminuição do risco deve ser precoce e periódica, e tem como
com a proposta de “acordos” ou “pac- finalidade a diminuição da exposição à
16
tos”. Isso pode ser proposto quando os infecção, caso algum parceiro tenha se
parceiros tiverem liberdade para reali- infectado. A periodicidade do exame deve
zar tais consensos. ser combinada pelo casal, conforme a
a) Adoção de preservativo com dinâmica de relação. De forma geral, pode-
terceiros: parceiros(as) se pensar em uma periodicidade bianual.

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Diminuição de risco na adoção Essas mudanças buscam diminuir a


de condutas sexuais diferenciadas exposição ao risco de infecção por DST/
Existem estratégias que podem ser HIV. Lembrar, entretanto, que nas situa-
estimuladas visando proporcionar a dimi- ções que evitam contato com sangue ou
nuição do risco no sexo: secreções sexuais o risco é menor, mas
[
práticas sexuais não penetrativas; não nulo.
[
práticas que priorizem o sexo oral; e As diretrizes estaduais para a saúde
[
práticas que busquem reduzir o do idoso são fundamentais para fortale-
contato com o esperma ou com a cer o direito desta população à vida
menstruação. plena.

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[tese de doutorado]. São Paulo: Syndr Hum Retrovirol. 1992;5:348-53.
Faculdade de Saúde Pública da USP; 2006. 12. Phillips AN, Lee CA, Elford J, Webster A,
5. Ministério da Saúde do Brasil. Janossy G, Timms A , et al. More rapid
Boletim Epidemiológico de DST/aids. progression to aids in older HIV-infected
Brasília: 2004. people: the role of CD4+T-cell counts. J

Diretrizes para prevenção das DST/aids em idosos

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Bepa 2011;8(92):15-23

Acquir Immune Defic Syndr Hum years of age. Results from the french
Retrovirol. 1991;4:970-5. hospital database on HIV. AIDS.
13. Grabar S, Kousignian I, Sobel A, Le Bras P, 2004;18:2029-38.
Gasnault J, Enel P, et al. Immunologic and 14. Secretaria de Estado da Saúde.
clinical responses to highly active Conjugalidades e prevenção às DST/aids.
antiretroviral therapy over 50 São Paulo; 2010.

Correspondência/correspondence to:
Paula de Oliveira e Sousa
Rua Santa Cruz, nº 81 – Vila Mariana
CEP 04121-000 – São Paulo/SP – Brasil
Tel.: 55 11 5087-9835
E-mail: paulasousa@crt.saude.sp.gov.br

Diretrizes para prevenção das DST/aids em idosos

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Saúde em dados
contextualização
GAI
GRUPO TÉCNICO DE AVALIAÇÃO E INFORMAÇÃO EM SAÚDE
SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE

Diretrizes para a atenção oncológica no Estado de São Paulo: contribuições


para o debate
Guidelines for oncologic attention in the State of São Paulo: contributing
to the debate
Maria Cecilia M. M. A. CorreaI; Michel Naffah FilhoII; Mônica A. M. CecilioII;.
Rosana Maria TameliniII
I
Instituto do Câncer do Estado de São Paulo. Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.
São Paulo, SP. Brasil
II
Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. São Paulo, SP. Brasil

“Tudo o que muda a vida vem quieto no escuro, sem preparos de avisar.”
Guimarães Rosa

INTRODUÇÃO
De forma genérica, o termo câncer é precocemente outro terço. Técnicas ade-
utilizado para caracterizar um grupo de quadas de controle da dor e cuidados
mais de cem doenças, com diferenças e paliativos disponíveis podem garantir uma
características próprias, que apresentam melhor qualidade de vida aos pacientes
como fator comum uma falha nos mecanis- com quadros mais avançados da doença.
mos de crescimento, proliferação e morte Estudos da Organização Mundial da
celular. Atualmente, o câncer representa Saúde (OMS) demonstram que a elaboração
um dos principais problemas de saúde de programas nacionais ou regionais é
pública em todo o mundo. essencial enquanto estratégia de controle
Alguns números referentes ao ano de do câncer, independentemente da situação
1
2007 confirmam a magnitude do problema econômica do país ou região. É nesse
no Brasil: 546 mil internações, média contexto que o presente trabalho se insere.
mensal de 235 mil pacientes em quimiote- Inicialmente, são apresentados os
rapia e 101 mil em radioterapia. Também principais aspectos normativos da atenção
no Estado de São Paulo o câncer caracteri- oncológica, dados e informações que
za-se como problema de saúde pública, com abordam a situação do câncer em São Paulo,
mortalidade crescente, totalizando cerca de em seus diferentes aspectos; posterior-
18% dos óbitos em 2009. mente, são apontadas diretrizes e ações
Apesar da magnitude do problema e dos necessárias para instituir um programa
transtornos físicos e emocionais vinculados estadual de atenção oncológica, tendo
à doença, o conhecimento hoje disponível sempre como referência um projeto que
permite prevenir cerca de um terço dos contemple as estratégias para a preven-
casos novos, bem como detectar e tratar ção, a detecção precoce, o tratamento e a

Atenção oncológica no Estado de São Paulo: contribuições para o debate/Correa MCMMA et al.

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paliação, buscando o uso racional dos condições técnicas para o


recursos disponíveis e tendo como princí- tratamento de todos os tipos de
pios norteadores a universalidade, equida- câncer. Deve prestar atendimento em
de, integralidade e garantia de acesso. cirurgia oncológica, oncologia
clínica, radioterapia e hematologia
(oncologia pediátrica opcional).
Normas técnico-administrativas
da atenção oncológica Estabelece que as unidades e centros
·
credenciados deverão submeter-se à
O arcabouço normativo da área da
regulação, fiscalização, controle e
oncologia no Sistema Único de Saúde
avaliação do gestor estadual ou
(SUS) tem como base duas portarias,
municipal.
ambas de 2005: a GM 2.439, que institui a
Política Nacional de Atenção Oncológica, e Estabelece que para o planejamento
·
a SAS 741, que define a Rede de Atenção da rede de atenção deverá ser
Oncológica. considerado o número de casos
novos anuais (excluindo-se
Os principais pontos a destacar nas
câncer de pele não melanoma).
duas portarias:
Considera que para 1.000 casos
·
Organiza uma linha de cuidados que
·
novos de câncer espera-se que 500 a
perpassa todos os níveis de atenção
600 necessitem de cirurgia
(básica, média complexidade e alta
oncológica, 700 necessitem de
complexidade) e de atendimento
quimioterapia e 600 de radioterapia.
(promoção, prevenção, diagnóstico,
Estabelece que a produção das
·
tratamento, reabilitação e cuidados
Unacon e dos Cacon deverá guardar
paliativos).
proporcionalidade entre as
Constitui redes regionais de atenção
· modalidades terapêuticas acima
oncológica, hierarquizadas, com descritas.
referência e contrarreferência,
Define que a incidência média de
·
garantindo acesso e atendimento
câncer hematológico é de 5% a 6%
integral.
do total e a de câncer pediátrico (0 a
Define Unidade de Assistência
· 18 anos) de 3% a 4%.
de Alta Complexidade em Oncologia
(Unacon), que é o hospital que
possui condições técnicas para a Situação do câncer no Estado de
São Paulo
assistência especializada de
tratamento dos cânceres mais
prevalentes. Essa unidade, Dados de incidência
minimamente, deve contar com No Brasil, as estimativas de incidência de
cirurgia oncológica e oncologia câncer são elaboradas pelo Instituto
clínica. Nacional do Câncer (Inca), órgão do Minis-
Define Centro de Assistência de Alta
· tério da Saúde. Os últimos dados disponibi-
Complexidade em Oncologia (Cacon) lizados têm como referência o ano de 2010, 2
como o hospital que possui as vistos na Tabela 1.

Atenção oncológica no Estado de São Paulo: contribuições para o debate/Correa MCMMA et al.

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Tabela 1. Estimativas das taxas brutas de incidência* e do número de casos novos de câncer,
segundo sexo e localização primária. Estado de São Paulo, 2010.
Masculino Feminino
Topografia
Casos Taxa bruta Casos Taxa bruta
Cavidade oral 3.230 15,19 890 4,02
Colo do útero ... ... 3.190 14,37
Cólon e reto 4.880 22,94 5.190 23,43
Esôfago 2.010 9,45 510 2,29
Estômago 3.910 18,38 2.070 9,34
Leucemias 1.320 6,22 1.130 5,08
Mama feminina ... ... 15.080 68,04
Pele melanoma 950 4,48 1.040 4,69
Próstata 13.160 61,84 ... ...
Traqueia/brônquio/pulmão 4.880 22,94 2.620 11,83
Outras localizações 20.490 96,30 25.030 112,95
Subtotal 54.830 257,70 56.750 256,08
Pele não melanoma 11.810 55,51 12.670 57,19
Todas as neoplasias 66.640 313,19 69.420 313,27
Fonte: Inca/MS
*Por 100.000 habitantes.

Conforme se observa, os tumores mais Ao analisarmos a série histórica dos


incidentes no sexo masculino são devidos números referentes ao Estado de São
ao câncer de próstata, pele não melanoma, Paulo, observamos que na última década
cólon e reto, traqueia/brônquio/pulmão e ocorreram mudanças importantes no
estômago. No sexo feminino destacam-se os perfil de mortalidade da população
tumores de mama, pele não melanoma, paulista. Pode ser observado que, ao
cólon e reto, colo do útero e traqueia/ lado da estabilização da mortalidade por
brônquio/pulmão como os mais incidentes doenças do aparelho circulatório, regis-
na estimativa enfocada. tra-se queda dos óbitos por causas externas
e aumento da mortalidade proporcional
Dados de mortalidade pelas neoplasias, responsável em 2009
De maneira semelhante ao que ocorre na por cerca de 18% dos óbitos ocorridos no
grande maioria dos países, também o Brasil Estado.
e o Estado de São Paulo assistem ao aumen- Em 2009 ocorreram 43.788 óbitos por
to do câncer como problema de saúde câncer em território paulista, sendo
pública, sendo crescentes as taxas de 54,4% deles do sexo masculino e 45,6%,
mortalidade pela doença. feminino. A Figura 1 apresenta as dez
Os últimos dados disponíveis sobre mor- topografias mais frequentes na mortalida-
3
talidade no País têm como referência 2009. de por câncer em 2009, segundo gênero.

Atenção oncológica no Estado de São Paulo: contribuições para o debate/Correa MCMMA et al.

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Mama 16,1% Traqueia/brônquio/pulmão 14,5%

Colón/reto 10,7% Próstata 11,3%

Traqueia/brônquio/pulmão 9,9% Estomago 9,3%

Estomago 5,5% Cólon/reto 8,4%

Pâncreas 5,2% Lábio/c. oral/faringe 6,0%

Ovário 4,2% Esôfago 5,8%

Colo de útero 4,1% Fígado/v.biliares IH 4,7%

Meninges/SNS 3,9% Pâncreas 4,1%

Corpo do útero 3,9% Meninges/SNS 3,9%

Fígado/v.biliares IH 3,8% Laringe 3,8%

Fonte: SIM (Sistema de Informações de Mortalidade)

Figura 1. Causas mais frequentes de óbito por câncer. Estado de São Paulo, 2009.

4
Estudo desenvolvido em 2008 analisou ambos os sexos. Observou-se aumento na
a tendência da mortalidade por câncer no tendência de mortalidade por câncer de
Estado de São Paulo entre 1980 e 2004. No mama nas mulheres e declínio para o
período, foi observado que as taxas de câncer de colo uterino. Também apontou
mortalidade brutas por câncer variaram de tendência de aumento na mortalidade por
83,6 a 111,6/100.000 habitantes para o câncer de próstata. Todas essas tendências
sexo masculino e de 64,4 a 88,8/100.000 foram estatisticamente significativas.
habitantes para o feminino. As taxas de
mortalidade ajustadas por idade variaram Rastreamento do câncer
de 129,5 a 145,6 óbitos/100.000 habitantes
A política federal de detecção precoce
para o sexo masculino e de 84,2 a 95,4
do câncer, definida pelo I nca , preconiza
óbitos/100.000 habitantes para o feminino.
rastreamento para o câncer de colo do
Para o sexo masculino observou-se uma útero 5 e para o de mama. 6 Para o de colo de
tendência estatisticamente significativa útero a estratégia utilizada emprega o
de aumento na mortalidade por câncer, no exame de colpocitologia oncótica ou t este
período estudado, enquanto no sexo de Papanicolaou no grupo etário de 25 a
feminino também foi observada tendência 59 anos, sendo que a periodicidade reco-
de crescimento, porém sem significância mendada prevê inicialmente um exame ao
estatística. ano ; no caso de dois exames normais
O mesmo estudo apontou que houve seguidos, deve ser realizado a cada três
tendência de aumento da mortalidade por anos. Para o câncer de mama feminino é
câncer de pulmão e de cólon/reto, bem como preconizado o exame clínico da mama para
de declínio para o câncer de estômago, para todas as mulheres, a partir dos 40 anos,

Atenção oncológica no Estado de São Paulo: contribuições para o debate/Correa MCMMA et al.

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realizado anualmente e inserido no Em São Paulo, o rastreamento de


atendimento integral à saúde da mulher, e câncer é realizado, via de regra, de maneira
o rastreamento por mamografia para as oportunística e conduzida pelos municí-
mulheres com idade entre 50 e 69 anos, pios ; como não existe uma política estadual
com intervalo máximo de dois anos entre sobre o assunto, não raro se depara com
os exames. práticas de rastreamento nos municípios
No sentido de aprimorar os dados sobre realizadas de maneira equivocada, enfocan-
as práticas de rastreamento do câncer de do outras topografias ou outros grupos
colo de útero e mama, dentre outras ações, etários, situação para as quais não existem
o Ministério da Saúde desenvolveu dois evidências cientificas suficientes que
sistemas de informações: o Sistema de justifiquem a atividade preventiva.
Informação do Câncer do Colo do Útero Com o objetivo principal de diminuir a
(Siscolo) e o Sistema de Informação do demanda reprimida de mamografias, São
Câncer de Mama (Sismama). 7 Como ambos Paulo organizou, entre maio de 2005 e
os sistemas registram somente exames novembro de 2009, mutirões para a realiza-
realizados, seus dados não permitem que ção de exames mamográficos. Essa prática
se faça qualquer estimativa de cobertura atingiu sua meta principal, mas não deve
de rastreamento. ser encarada como adequada para o
O Siscolo é um sistema de informação rastreamento em câncer.
específico para o câncer do colo do útero e,
em tese, coleta dados dos exames realiza- Dados de estadiamento clínico
dos e também informações sobre o segui-
O estadiamento clínico dos tumores é
mento das pacientes com resultados
uma informação fundamental em oncolo-
alterados. Dados referentes a 2010, para o
gia, pois é utilizada para avaliar a exten-
Estado de São Paulo, registram um total de
2.435.266 exames citopatológicos cérvi- são da doença, determinar o planejamen-
co-vaginais, 72,3% deles realizados na to do tratamento do paciente e apontar o
faixa etária preconizada pelo Inca (25 a prognóstico de um caso novo de câncer. É
59 anos) para o rastreamento deste tipo um dos principais dados do Registro
de câncer. Hospitalar de Câncer (RHC), sistema que
coleta diferentes informações sobre os
O Sismama, por sua vez, coleta os dados
casos novos tratados nos hospitais
dos exames de mamografia realizados.
paulistas. No Estado o RHC está sob a
Mostra para o Estado de São Paulo, em
coordenação da Fundação Oncocentro de
2010, a realização de 901.020 mamogra-
fias, das quais 742.623 foram registradas São Paulo (Fosp).
como rastreamento do câncer de mama. Usada internacionalmente para o
Dos exames realizados para rastreamento estadiamento dos tumores, a Classificação
nas mulheres residentes no Estado, somen- TNM avalia as características fundamen-
te 51,6% o foram para a faixa etária preco- tais de um câncer: extensão local (T),
nizada pelo Inca (50 a 69 anos). disseminação regional (N) e metástases à

Atenção oncológica no Estado de São Paulo: contribuições para o debate/Correa MCMMA et al.

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distância (M). Varia de 0 a IV, sendo este esteve representado no estudo com os
último valor o pior estadiamento. dados dos RCBP de Campinas (SP) e de
Dados de estadiamento clínico referente Goiânia.
aos tumores de colo do útero, mama e Nesse período, a pesquisa aponta para
cólon/reto, passíveis de detecção precoce um índice de sobrevida mais alto na Améri-
por rastreamento, disponíveis no site da ca do Norte, Austrália, Japão e ocidente
Fosp, 8 mostram números preocupantes, europeu do que na Argélia, Brasil e países
pois parte considerável dos casos foi do oriente europeu.
diagnosticada nas fases mais avançadas da
doença – estádios III ou IV: 25%, 36% e Rede oncológica cadastrada
57%, respectivamente para câncer de colo
A Tabela 2 apresenta a quantidade de
do útero, mama feminina e câncer colorretal.
serviços habilitados no Estado de São Paulo
e respectiva população residente por
Dados de sobrevida Departamento Regional de Saúde (DRS),
Analisar sobrevida em câncer significa divisão administrativa da Secretaria
basicamente medir o tempo decorrido Estadual da Saúde. Conforme pode ser
entre o diagnóstico do tumor e a ocorrência observado, estão cadastrados para o
de algum evento determinado, habitual- atendimento oncológico em São Paulo 71
mente o óbito. instituições, além de três serviços isolados
No Brasil e também no Estado de São Paulo específicos para radioterapia.
não se dispõe de análises completas de A distribuição espacial dessas institui-
sobrevida em câncer por tipo de tumor. Dessa ções, apresentada na Figura 2, mostra
forma, serão aqui apresentados alguns dados algumas desigualdades regionais de forma
que têm como referência um estudo compara- bastante evidente. Nota-se, por exemplo,
tivo mundial (Concord) envolvendo pacientes que toda a região oeste do Estado apresen-
com câncer na América do Norte, Europa, ta um número menor de hospitais habilita-
9
Austrália, Japão, Argélia e Brasil. dos. Além disso, quando se comparam os
O estudo analisou dados de 101 Regis- DRS 16 e 17, respectivamente Sorocaba e
tros de Câncer de Base Populacional Taubaté, que apresentam população
(RCBP) de 31 países, abrangendo uma residente semelhante, observa-se que o
população de 9 milhões de pessoas que DRS de Taubaté conta com um número
tiveram diagnóstico de câncer primário muito maior de serviços cadastrados. O
de mama (em mulheres), cólon e reto e DRS de Registro, que se configura como a
próstata, entre 1990 e 1994. A sobrevida área mais carente, conta somente com uma
refere-se aos cinco anos seguintes, ou instituição credenciada, cadastrada como
seja, até 31 de dezembro 1999. O Brasil Unacon e sem radioterapia.

Atenção oncológica no Estado de São Paulo: contribuições para o debate/Correa MCMMA et al.

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Tabela 2. População residente, número de serviços habilitados por tipo, segundo Departamento Regional de Saúde
(DRS). Rede de oncologia no Estado de São Paulo, abril de 2011.
Serviços habilitados
DRS População residente
Unacon Cacon Hospital geral S. I. Radio

1 Grande São Paulo 19.683.975 13 6 6 1


2 Araçatuba 719.323 1 0 0 0
3 Araraquara 920.257 2 0 0 0
4 Baixada Santista 1.664.136 3 1 0 0
5 Barretos 411.690 0 1 0 0
6 Bauru 1.624.623 3 1 0 0
7 Campinas 4.031.910 5 1 0 0
8 Franca 649.807 0 1 0 0
9 Marília 1.068.408 3 1 0 0
10 Piracicaba 1.412.584 5 0 0 0
11 Presidente Prudente 722.192 1 0 0 1
12 Registro 273.566 1 0 0 0
13 Ribeirão Preto 1.327.989 1 2 0 0
14 São João da Boa Vista 773.781 2 0 0 0
15 São José do Rio Preto 1.470.348 2 1 0 0
16 Sorocaba 2.243.016 2 0 0 0
17 Taubaté 2.264.594 6 0 0 1
Total 41.262.199 50 15 6 3
Fonte: População – IBGE/Datasus, 2010; Serviços – CPS/Grupo de Credenciamento

Figura 2. Distribuição dos serviços de Oncologia nas regiões de saúde. Estado de São Paulo, 2011.

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Dados sobre recursos da rede cadastrada


Os recursos referentes à rede de atenção de Internação Hospitalar (AIH) e o atendi-
oncológica cadastrada pelo SUS encontram- mento ambulatorial pelas Autorizações de
se informados no Cadastro Nacional de Procedimentos de Alta Complexidade
Estabelecimentos de Saúde (CNES) e (Apac), para quimioterapia e radioterapia.
apresentam alguns equívocos, como o As Tabelas 3 e 4 apresentam, respectiva-
registro do número de salas e não do mente, a produção totalizada por Departa-
número de cadeiras disponíveis para a mento Regional de Saúde e por hospital
central de quimioterapia, fato que dificulta para o atendimento oncológico pelo SUS no
ainda mais a correta quantificação dos Estado, estando registrados o número de
recursos realmente disponíveis. Colabora cirurgias oncológicas realizadas, e o
para essa dificuldade de quantificar recur- número de Apac de quimioterapia e radio-
sos o fato de que não existe referência sobre terapia apresentadas durante o ano de
o quanto da capacidade instalada está 2010. Um primeiro destaque a ser aponta-
disponível exclusivamente para o SUS. do é que os sistemas de informação utiliza-
Alguns dados constantes no CNES dos não possibilitam de maneira imediata
podem ser considerados discrepantes ou que se quantifiquem pacientes, mas sim
mesmo ausentes. Mas refletem as informa- procedimentos. Este fato limita a análise
ções cadastradas pelos próprios serviços dos dados, principalmente quando o foco se
ou pelos gestores que estavam disponíveis dá nas Apac de quimioterapia e radiotera-
para consulta em abril de 2011. pia, pois um mesmo paciente estará regis-
trado em várias Apac durante o ano. Além
Apesar da dificuldade em mensurar os
disso, no atendimento ambulatorial
recursos físicos disponíveis, chama a
quimioterápico, um mesmo paciente pode
atenção o déficit referente aos equipamen-
gerar mais de uma Apac simultaneamente,
tos de radioterapia. De fato, levantamento
uma vez que pode estar recebendo trata-
elaborado pela Fundação Oncocentro de
10 mento quimioterápico endovenoso, repre-
São Paulo sobre o parque radioterápico
sentado por um tipo de Apac e também
disponível para o SUS no Estado de São
medicação oral enquanto hormonioterapia,
Paulo apontou, em 2010, a existência de 79
representada por outra.
equipamentos para uma necessidade
Os dados apresentados, quando compa-
estimada de 172 (déficit de 93).
rados à população residente, devem
também ser analisados com cautela, pois a
Dados de produção em oncologia produção apresentada pelos serviços de
Os dados de produção referentes ao uma determinada regional de saúde não
tratamento dos pacientes oncológicos necessariamente foi realizada para a
podem ser analisados a partir dos sistemas população residente neste mesmo territó-
de informação do SUS destinados ao paga- rio. Alguns exemplos podem ilustrar como
mento dos prestadores, sendo a parte a simples análise dos dados de produção
hospitalar avaliada por meio das cirurgias avaliados sem que se conheça a popula-
oncológicas registradas nas Autorizações ção alvo dos serviços oferecidos pode

Atenção oncológica no Estado de São Paulo: contribuições para o debate/Correa MCMMA et al.

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simplificar a discussão, levando a conclu- pelos serviços credenciados para o atendi-


sões distorcidas. Os serviços habilitados do mento oncológico: 44.580 ao ano. Número
DRS 7 - Campinas, por exemplo, atenderam insuficiente quando analisado à luz do que
em radioterapia, em 2010, a pacientes define o Ministério da Saúde como necessi-
residentes de outros dez Departamentos dade de cirurgias oncológicas – 60% dos
Regionais de Saúde. De forma semelhante, casos novos estimados de câncer, que no
no Hospital Pio XII, de Barretos, 85,6% das Estado de São Paulo supera 110.000 (todas
cirurgias oncológicas foram realizadas para as topografias, exceto pele não melanoma).
residentes de outros DRS e Estados. Mesmo que a esse total tenham sido soma-
Outro fator que limita a análise sobre a das as 7.873 cirurgias oncológicas realiza-
produção das instituições é a apresenta- das em hospitais não cadastrados pelo SUS
ção dos números brutos de cirurgias para o atendimento oncológico, o valor
oncológicas e Apac de quimioterapia e resultante ainda não atinge as necessida-
radioterapia sem a especificação das des definidas pela Política de Atenção
topografias dos tumores tratados. Sabe-se Oncológica.
que determinados hospitais apresentam Outra questão que merece destaque é o
expertise e recursos especializados para o fato de que vários serviços credenciados
tratamento de determinadas neoplasias, para o tratamento dos pacientes com
concentrando dessa forma sua produção câncer realizam um número ínfimo de
nessas áreas, ficando outras topografias a cirurgias oncológicas, inferior inclusive ao
cargo de outras instituições. Para exempli- realizado por hospitais gerais que não
ficar, suponha-se que o hospital credencia- fazem parte da rede de oncologia. Os dados
do no DRS XI - Presidente Prudente, único apresentados mostram estabelecimentos
para aquela região de saúde, não possua com expressiva produção de cirurgias e de
recursos adequados para o tratamento Apac de quimioterapia e radioterapia, ao
cirúrgico do câncer de pulmão, mas lado de serviços credenciados com produ-
concentre seus recursos nos tumores do ção pouco significativa. Quando se anali-
aparelho digestivo, bastante frequentes. sam especificamente os dados de produção
Esse hospital poderia apresentar um das cirurgias oncológicas, nota-se que
número total elevado de cirurgias oncoló- somente 12 hospitais fizeram mais de 1.000
gicas e Apac, mas não poderia ser conside- cirurgias ao longo do ano de 2010 e repre-
rado referência para o tratamento do sentaram juntos mais de 57% do total das
câncer de pulmão, fato que obrigaria os cirurgias oncológicas realizadas pela rede
pacientes daquela região a procurar credenciada para o tratamento do câncer
hospitais mais distantes para o tratamento no Estado de São Paulo.
da neoplasia pulmonar. Na análise da produção de quimiotera-
Apesar dos limites apresentados, que pia e radioterapia observa-se também
restringem a análise dos dados de produção concentração dos recursos. Somente dez
das instituições, alguns destaques podem hospitais foram responsáveis pela apresen-
ser assinalados. O primeiro diz respeito ao tação de 50% das Apac de quimioterapia e
total de cirurgias oncológicas realizadas 60% da produção de radioterapia.

Atenção oncológica no Estado de São Paulo: contribuições para o debate/Correa MCMMA et al.

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Tabela 3. População residente, número de cirurgias oncológicas, Apac de radioterapia e quimioterapia, segundo
Departamento Regional de Saúde (DRS). Estado de São Paulo, 2010.
Apac
DRS População residente Cirurgias oncológicas
Radioterapia Quimioterapia

1 Grande São Paulo 19.683.975 18.369 61.376 231.982


2 Araçatuba 719.323 232 - 6.026
3 Araraquara 920.257 636 2.517 12.917
4 Baixada Santista 1.664.136 1.177 1.714 27.267
5 Barretos 411.690 5.090 26.522 64.792
6 Bauru 1.624.623 5.543 16.856 62.535
7 Campinas 4.031.910 3.791 21.445 70.731
8 Franca 649.807 547 1.872 15.085
9 Marília 1.068.408 736 5.392 15.586
10 Piracicaba 1.412.584 1.138 6.840 19.573
11 Presidente Prudente 722.192 421 2.812 15.052
12 Registro 273.566 245 - 47
13 Ribeirão Preto 1.327.989 1.824 6.073 30.492
14 São João da Boa Vista 773.781 119 2.095 5.785
15 São José do Rio Preto 1.470.348 1.558 3.933 26.734
16 Sorocaba 2.243.016 719 4.815 25.823
17 Taubaté 2.264.594 2.435 10.170 44.041

Total 41.262.199 44.580 174.432 674.468


Fonte: População IBGE/Datasus 2010; produção SIH-SUS/SIA-SUS

Tabela 4. Número de cirurgias oncológicas, Apac de radioterapia e quimioterapia em unidades habilitadas na rede de
oncologia, segundo Departamento Regional de Saúde (DRS), município e hospital. Estado de São Paulo, 2010.
Cirurgias Apac
DRS Município Hospital (CNES)
oncoló gicas Radioterapia Quimioterapia
1 Diadema Hospital Estadual de Diadema/Hospital Serraria 292 - -
1 Mogi das Cruzes Centro Oncologico Mogi das Cruzes 33 3.689 13.937
1 São Bernardo do Campo Hospital de Ensino Fundação do ABC 328 6.382 6.326
1 São Bernardo do Campo HMU Fundação do ABC 80 - -
1 Santo André Hospital Estadual Mario Covas/Santo André 877 - 6.063
1 Santo André Centro Hospitalar de Santo André 130 - 318
1 Santo André Instituto de Radioterapia do ABC - 3.612 -
1 São Caetano do Sul Complexo Hospitalar Marc 145 - -
1 São Paulo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo 3.809 - 47.981
1 São Paulo HC-FMUSP/Hospital das Clínicas São Paulo 1.651 8.417 4.169
1 São Paulo Centro de Referência da Saúde da Mulher de São Paulo 1.629 - 45.039
1 São Paulo Irmandade Santa Casa de São Paulo 1.372 - 18.010
1 São Paulo Casa de Saúde Santa Marcelina/São Paulo 1.355 8.711 17.855
1 São Paulo Instituto Brasileiro de Controle do Câncer IBCC 1.138 7.342 24.830
1 São Paulo Hospital São Paulo/Unifesp 1.004 1.581 10.759
1 São Paulo Instituto do Câncer Arnaldo Vieira de Carvalho 912 14.068 17.652
1 São Paulo Hospital do Câncer AC Camargo 799 3.223 5.840
1 São Paulo Hospital de Heliópolis 743 - 1.077
1 São Paulo Hospital das Clínicas Luzia de Pinho Melo 443 - -
1 São Paulo Hospital de Transplantes do Estado De SP/EJ Zerbini 410 - 4.991
1 São Paulo Hospital São Joaquim/Beneficência Portuguesa 369 4.351 4.242
1 São Paulo Hospital Ipiranga 368 - 2.334
1 São Paulo Conjunto Hospitalar do Mandaqui 168 - -
1 São Paulo Hospital Geral de Vila Nova Cachoeirinha 36 - -
1 São Paulo Hospital Infantil Darcy Vargas UGA III 27 - 559
1 Taboão da Serra Hospital Geral de Pirajussara 251 - -
Total DRS 1 - Grande São Paulo 18.369 61.376 231.982

Atenção oncológica no Estado de São Paulo: contribuições para o debate/Correa MCMMA et al.

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Cirurgias Apac
DRS Município Hospital (CNES)
oncoló gicas Radioterapia Quimioterapia
2 Araçatuba Santa Casa de Araçatuba 232 - 6.026
Total DRS 2 - Araçatuba 232 - 6.026
Araraquara Santa Casa de Araraquara 293 1.326 7.731
São Carlos Santa Casa de São Carlos 343 1.191 5.186
Total DRS 3 - Araraquara 636 2.517 12.917
4 Guarujá Hospital Santo Amaro 266 - 1.603
4 Santos Hospital Guilherme Álvaro Santos 438 - 4.575
4 Santos Hospital Santo Antônio Santos/Sociedade Portuguesa de Beneficência 250 - 8.012
4 Santos Santa Casa de Santos 223 1.714 13.077
Total DRS 4 - Baixada Santista 1.177 1.714 27.267
5 Barretos Fundação Pio XII 5.090 26.522 64.792
Total DRS 5 - Barretos 5.090 26.522 64.792
6 Avaré Santa Casa de Avaré 93 - 571
6 Bauru Hospital Estadual de Bauru 521 1.985 10.966
6 Botucatu Hospital das Clínicas de Botucatu 580 2.927 11.321
6 Jaú Hospital Amaral Carvalho 4.349 11.944 39.677
Total DRS 6 - Bauru 5.543 16.856 62.535
7 Bragança Paulista Hospital Univiversitário São Francisco 229 - 2.730
7 Campinas Hospital de Clínicas da Unicamp 1.503 6.815 35.932
7 Campinas Hospital Municipal Dr. Mario Gatti 464 1.900 4.658
7 Campinas Hospital e Maternidade Celso Pierro 440 - 6.680
Centro Infantil de Investigações Hematológicas
7 Campinas 216 9.850 2.695
Dr. Domingos A. Boldrini
7 Jundiaí Hospital São Vicente de Paulo 939 2.880 18.036
Total DRS 7 - Campinas 3.791 21.445 70.731
8 Franca Santa Casa de Franca 547 1.872 15.085
Total DRS 8 - Franca 547 1.872 15.085
9 Assis Hospital Regional de Assis 79 - 1.718
9 Marília Santa Casa de Marília 295 - 6.643
9 Marília Hospital das Clínicas de Marília/Famar 148 5.392 5.168
9 Tupã Hospital São Francisco 214 - 2.057
Total DRS 9 - Marília 736 5.392 15.586
10 Araras Hospital São Luiz de Araras 118 - 3.361
10 Limeira Santa Casa de Limeira 297 1.619 5.335
10 Piracicaba Hospital dos Fornecedores de Cana de Piracicaba 334 3.044 5.043
10 Piracicaba Santa Casa de Piracicaba 250 2.177 4.716
10 Rio Claro Santa Casa de Rio Claro 139 - 1.118
Total DRS 10 - Piracicaba 1.138 6.840 19.573

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Cirurgias Apac
DRS Município Hospital (CNES)
oncoló gicas Radioterapia Quimioterapia

11 Presidente Prudente Santa Casa Hospital Dr. Aristóteles Oliveira Martins 421 - 15.052

11 Presidente Prudente Instituto de Radioterapia Presidente Prudente - 2.812 -


Total DRS 11 - Presidente Prudente 421 2.812 15.052
12 Pariquera-Açu Hospital Regional Vale do Ribeira 245 - 47
Total DRS 12 - Registro 245 - 47

13 Ribeirão Preto Hospital das Clínicas Faepa 1.255 5.151 18.145


13 Ribeirão Preto Hospital Imaculada Conceição 390 922 9.206
13 Ribeirão Preto Santa Casa de Ribeirão Preto 179 - 3.141
Total DRS 13 - Ribeirão Preto 1.824 6.073 30.492
14 Mogi Guaçu Hospital Municipal Dr. Tabajara Ramos 13 - 4.790

14 São João da Boa Vista Santa Casa de Misericórdia Dona Carolina Malheiros 106 2.095 995

Total DRS 14 - São João da Boa Vista 119 2.095 5.785


15 Catanduva Hospital Padre Albino 266 - 1.769

15 São José do Rio Preto Hospital de Base 844 - 17.589

15 São José do Rio Preto Santa Casa de Misericórdia de São José do Rio Preto 448 3.933 7.376

Total DRS 15 - São José do Rio Preto 1.558 3.933 26.734


16 Sorocaba Conjunto Hospitalar Sorocaba 380 - 23.498
16 Sorocaba Santa Casa de Sorocaba 339 4.815 2.325
Total DRS 16 - Sorocaba 719 4.815 25.823
17 Assis Hospital São Francisco de Assis 384 - 8.609
17 Guaratinguetá Hospital Frei Galvão 274 2.596 8.603

17 São José dos Campos Hospital e Maternidade Pio XII – IPMMI Obra Ação Social 347 - 5.110

17 São José dos Campos Hospital Materno-Infantil Antoninho da Rocha Marmo 103 - 8.345

17 São José dos Campos Centro De Tratamento Fabiana Macedo de Morais GACC 50 - 831

17 São José dos Campos Instituto de Radioterapia Vale do Paraíba/Cenon - 4.187 -

17 Taubaté Hospital Regional do Vale do Paraíba 1.277 3.387 12.543


Total DRS 17 - Taubaté 2.435 10.170 44.041
Total geral 44.580 174.432 674.468

Fonte: SIH-SUS/SIA-SUS

Dados de produção de exames diagnósticos mama e colo de útero, o Sistema de Infor-


Os exames diagnósticos representam papel mações Ambulatoriais (SIA) do Ministério
importante na assistência oncológica, pois da Saúde não permite identificar, do total
sua adequada disponibilização garante dos procedimentos realizados, quais foram
agilidade tanto para a confirmação diagnósti- os exames utilizados especificamente na
ca como para o estadiamento dos tumores e atenção oncológica.
seguimento adequado dos pacientes em Outro aspecto que merece destaque é
tratamento. Entretanto, torna-se difícil que o estabelecimento de tetos financeiros
quantificar de maneira desejável os exames para procedimentos de média e alta com-
mais importantes utilizados em oncologia, plexidades pode impactar de maneira
uma vez que, com exceção dos tumores de negativa o diagnóstico e o seguimento dos

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pacientes envolvidos. Vale destacar, como curar o que for curável (estratégias para
exemplo, uma comparação possível do detecção precoce e tratamento); aliviar a
montante de exames produzidos com as dor e melhorar a qualidade de vida
estimativas de necessidade. No caso de (estratégia de cuidados paliativos e gestão
mamografias, tomando a faixa etária de 50 para o sucesso); e fortaler os mecanismos
11
a 69 anos, temos no Estado de São Paulo de gestão.
um total de 3.785.266 mulheres (popula- É dentro desse caráter abrangente que
ção residente, 2010). Considerando que esta proposta se insere. São sugeridas
estas deveriam realizar uma mamografia a diretrizes que contemplam todas as faces
cada dois anos, a necessidade seria de da atenção oncológica, sendo que, ao final
1.892.633 mamografias de rastreamento do texto, são apontadas algumas premissas
nesta faixa etária. A produção apresentada que os autores deste documento entendem
em 2010 referente ao SUS foi de 1.057.186 como essenciais para que o projeto avance
(para todas as idades). de forma concreta. Espera-se que as diretri-
Outro exemplo é a pesquisa de sangue zes aqui apontadas possam servir de
oculto nas fezes. Considerando a popula- subsídio para a construção de um plano
ção maior de 50 anos temos um total de diretor de oncologia completo e consisten-
9.195.531 pessoas no Estado de São te para o Estado de São Paulo.
Paulo (população residente, 2010). Da
mesma forma, considerando o parâme-
Promoção e proteção da saúde
tro de realização de um exame a cada
O câncer é considerado por muitos
dois anos, teríamos uma necessidade
como uma doença em certa medida evitá-
estimada da ordem de 4.597.765 exa-
vel, já que algumas de suas causas estão
mes, sendo que o produzido em 2010 no
ligadas à atividade humana. Dessa forma, a
SUS foi da ordem de 155 mil, muito aquém
prevenção primária do câncer busca
do necessário apenas para o rastreamento
diminuir a incidência da doença por meio
do câncer colorretal.
do desenvolvimento de intervenções que
visam, em última instância, à promoção de
Diretrizes para a atenção oncológica um estilo de vida saudável.
no Estado de São Paulo
As principais ações envolvidas na
Qualquer programa de atenção oncológi- prevenção primária são de caráter trans-
ca visa, em última instância, a redução da versal, podendo ser citadas como princi-
incidência e da mortalidade por câncer, o pais o controle do tabaco, a adoção de uma
aumento da sobrevida e uma melhor dieta saudável, o incentivo às atividades
qualidade de vida dos pacientes. físicas e o combate à obesidade, a redução
A Organização Mundial de Saúde do consumo de álcool, a imunização
preconiza que seus Estados membros contra o vírus da hepatite B, a diminuição
elaborem planos globais de ação contra o das exposições ocupacionais e a orienta-
câncer que contemplem: prevenir o que ção para se evitar a exposição prolongada
for prevenível (estratégias de prevenção); ao sol.

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Para a promoção da saúde apontam-se as população alvo e sua convocação, ações


seguintes diretrizes: para garantir diagnóstico e tratamento
Diretriz 1: potencialização de ações que ágeis, controle de qualidade em todas as
promovam um estilo de vida saudável, de etapas do processo e seguimento adequa-
modo a estimular hábitos alimentares do dos casos tratados. 12
saudáveis, incentivar atividade física e Para o câncer de colo do útero e também
combater o tabagismo, o consumo de álcool, para o de mama deverão ser seguidas as
a exposição excessiva ao sol e a obesidade normas preconizadas pelo Inca. Para o
Diretriz 2: implementação de programa câncer colorretal propõem-se projetos
específico de educação em saúde para pilotos que utilizem como método a pesqui-
crianças e adolescentes, de modo a estimu- sa de sangue oculto nas fezes, preferente-
lar um estilo de vida saudável, particular- mente com o método imunoquímico, que
mente relacionado com alimentação, apresenta grande vantagem sobre o método
atividade física, exposição ao sol e combate tradicional (guáiaco), por ser específico
ao tabaco e álcool. Sugere-se uma parceria para hemoglobina humana. Como público
com a Secretaria de Estado da Educação. alvo sugerem-se os adultos com 50 anos ou
mais, com exame realizado a cada dois anos
Diretriz 3: incremento às ações de apoio
e, em caso de possibilidade da pesquisa do
aos fumantes que pretendam abandonar o
sangue oculto, complementação diagnósti-
hábito de fumar.
ca imediata com colonoscopia.
Diretriz 4: implementação de ações de
Embora o objetivo final deva ser o
educação em saúde, englobando diferentes
rastreamento de base populacional para os
mídias, para a prevenção do câncer
tumores de colo do útero, mama e
Diretriz 5: desenvolvimento de ações especí- cólon/reto, entende-se que esse processo
ficas para a informação adequada e sensibili- deve ser gradativo, de modo a possibilitar
zação dos grupos populacionais alvos dos que os casos diagnosticados pelo rastrea-
programas de rastreamento do câncer. mento possam ser tratados com agilidade e
qualidade exigidas. Dessa forma, são
Detecção precoce propostas as seguintes diretrizes:
A p revenção secundária ao câncer Diretriz 6: desenvolvimento de ações
utiliza como estratégia para o diagnóstico específicas que viabilizem o rastreamento
precoce as técnicas de rastreamento do câncer para os tumores do colo do
populacional, existindo atualmente útero, mama e cólon/reto, tendo sempre
evidências científicas suficientes para como objetivo a implementação do rastre-
preconizar o rastreamento para o câncer amento organizado ou de base populacio-
de colo do útero, mama e colorretal. O nal, realizado através da atenção primária
rastreamento pode ser classificado como à saúde.
oportunístico ou organizado. No primeiro, Diretriz 7: transformação do rastrea-
os exames são ofertados aos pacientes que mento oportunístico realizado para os
oportunamente chegam às unidades de tumores de colo do útero e mama para
saúde. Já o modelo organizado compreende um modelo de rastreamento de base
uma série de intervenções: definição da populacional.

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Diretriz 8: planejamento e implantação de assistência. Sempre que possível deve-se


modelo adequado de rastreamento popula- descentralizar as ações, mas procedimen-
cional do câncer colorretal. tos complexos ou tratamento de tumores
raros deverão ser realizados em centros
de referência.
Assistência aos pacientes
Na definição dessa rede de atenção
À medida que se aprimoram o diagnós-
oncológica devem obrigatoriamente estar
tico precoce e o tratamento, as enfermida-
incluídos os casos referentes aos tumores
des oncológicas tendem a adquirir o
da infância, que demandam recursos
caráter de cronicidade, fato que exige um
específicos. Após estudos iniciais, também
número elevado de consultas, exames e
deverão ser contemplados alguns indica-
tratamentos, tanto em nível ambulatorial
dores: tempo máximo admitido para o
como hospitalar. Dessa forma, o tratamen-
diagnóstico do tumor e seu estadiamento
to oncológico deve ser oportuno, integral,
clínico; tempo máximo para o início das
multidisciplinar e realizado em institui- diferentes modalidades terapêuticas; e
ções de saúde especializadas no atendi- distância máxima a ser percorrida pelo
mento dessas doenças. paciente para o tratamento dos tumores
Devido à complexidade que permeia mais prevalentes.
toda a assistência oncológica, parece claro Hoje, diferentes estimativas são utiliza-
que somente através da incorporação de das para que se definam as necessidades
mecanismos de gestão eficientes é que os de serviços especializados em tratamen-
diferentes setores que trabalham com a to do câncer no SUS, fato que invariavel-
atenção oncológica dentro do SUS poderão mente conduz os gestores a diagnósticos
garantir equidade de acesso, agilidade e equivocados ou superficiais. Entende-se
qualidade no tratamento do paciente. A que a utilização de mecanismos claros de
regulação do acesso à assistência surge, regulação do acesso à assistência, com o
assim, como o principal mecanismo de s u p o r t e d e fe r ra m e n t a s d e g e s t ã o ,
gestão a ser implantado, ao lado de ações permitirá que se conheça mais sobre as
permanentes de avaliação e controle. reais deficiências da rede de atenção
As peculiaridades inerentes ao câncer oncológica.
impõem um modelo de regulação que Os diferentes dados apresentados
considere as diferenças topográficas da sobre a rede credenciada e sua respectiva
doença, a capacidade técnica dos serviços produção de serviços mostram que não
credenciados e a necessidade de regiona- existem, hoje, ferramentas suficientes
lização da atenção. Necessário se faz que para avaliar em detalhes se o rol de insti-
os diferentes níveis de assistência à saúde tuições cadastradas para o atendimento
participem do processo de atenção oncológico no Estado de São Paulo é
oncológica, criando uma rede de atenção suficiente ou não. Dessa forma, necessário
constituída de diferentes tipos de insti- se faz criar instrumentos que permitam
tuições, que se articulam entre si, tendo avaliar e quantificar detalhadamente a
sempre como objetivo a regionalização da rede cadastrada e os serviços oferecidos.

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Como exceção deve ser considerada a Médicos de Especialidades (AME),


premente adequação do parque radioterá- unidades de saúde planejadas para o
pico, pois a aquisição de equipamentos e a diagnóstico rápido de patologias e
adaptação física dos serviços demandam que já trabalham com vários
planejamento de longo prazo e investi- protocolos para diagnóstico
mentos consideráveis. 12 oncológico.
Como a implantação deste novo modelo Confirmado o diagnóstico de câncer, o
·
de atenção requer uma série de ações que caso deve ser encaminhado a uma
p o d e m i mpactar a atual assistência central de regulação em oncologia,
oncológica desenvolvida em nosso Estado, que, por meio de protocolos definidos,
propõe-se que seja implantado paulatina- encaminhará o paciente a um centro
mente. O câncer de mama feminino, por especializado para o diagnóstico da
integrar o Pacto pela Vida (Ministério da extensão do tumor e o consequente
Saúde), alta incidência, mortalidade crescen- planejamento terapêutico. Esse centro
te e por já possuir uma linha de cuidado será o responsável pelo tratamento.
definida, nos parece a escolha ideal para ser
o primeiro a ser abordado em projeto inicial.
Fase de tratamento
O câncer de próstata, por sua relevância, ou
O planejamento terapêutico deve ser
·
os tumores hematológicos que exigem
elaborado em centro especializado,
transplante de medula óssea também
por comissão formada por
podem ser os enfocados inicialmente.
diferentes profissionais implicados
Propõe-se o seguinte modelo a ser no tratamento.
adotado, considerando-se as característi-
O planejamento terapêutico deve ser
·
cas regionais:
baseado em protocolo clínico único, a
ser seguido por todos os envolvidos
Fase diagnóstica no tratamento.
O nível de atenção primária exerce o
· O tratamento deve ser realizado,
·
principal ponto na suspeita preferentemente, em um único
diagnóstica e tem papel fundamental centro especializado, sendo que,
no diagnóstico precoce de alguns dependendo dos recursos
tumores, através de ações vinculadas disponíveis, poderá ser
ao rastreamento do câncer de colo do descentralizado somente para o
útero, mama e cólon/reto. tratamento radioterápico.
Todo caso suspeito deve ser
·
encaminhado para o nível secundário Fase de seguimento
ou para os centros especializados em
O acompanhamento do paciente
·
câncer, para a confirmação é de responsabilidade do centro
diagnóstica. De forma semelhante especializado ao qual está vinculado.
serão encaminhados os pacientes
A atenção básica deve ter
·
selecionados para os exames de
participação clara na identificação
rastreamento. Papel importante aqui
precoce das recidivas.
deve ser atribuído aos Ambulatórios

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Fase avançada agilidade necessárias para o enfrentamen-


Aqui a função de maior destaque
· to do câncer, sob regulação.
corresponde às unidades de cuidados Diretriz 13: desenvolver ações que
paliativos, sendo importante a permitam avaliar a real capacidade dos
participação da atenção básica e serviços especializados credenciados para
da assistência domiciliar. o atendimento oncológico pelo SUS no
O suporte psicológico é
· Estado de São Paulo, de modo a identificar
imprescindível em todas as fases, mas necessidades específicas regionais, neces-
nesta é fundamental. sidade de novos equipamentos ou atualiza-
Nesse contexto, propõem-se as seguin- ção dos equipamentos já existentes.
tes diretrizes para a área assistencial: Diretriz 14: elaborar plano de ampliação
Diretriz 9: desenvolver novas ferramentas do parque radioterápico, de forma a
para qualificar e quantificar com detalhes a compatibilizar as necessidades populacio-
rede credenciada e seus serviços ofereci- nais, desigualdades regionais e recursos
dos, garantindo aos gestores informações disponíveis.
suficientes para planejamento desta rede e Diretriz 15: estabelecer mecanismos
concluir pela suficiência da rede atual ou, objetivos de avaliação de desempenho da
pelo contrário, pela necessidade de creden- rede estadual de atenção ao câncer.
ciamento de novas instituições e/ou
ampliação das já cadastradas. Cuidados paliativos
Diretriz 10: desenvolver ações para a Apesar dos avanços obtidos no diag-
elaboração de protocolos assistenciais, nóstico precoce e no tratamento dos
contemplando diagnóstico, tratamento e pacientes oncológicos, estima-se que
seguimento dos pacientes, devendo ser parte dos acometidos pelo câncer irá
abordados inicialmente os tumores mais morrer por causa da doença. Dessa forma,
relevantes epidemiologicamente. O Manual ao longo da patologia oncológica devem
de Oncologia Clínica, elaborado pelo Insti- coexistir terapêuticas antineoplásicas e
tuto de Câncer do Estado de São Paulo ações de cuidado paliativo, predominan-
(Icesp) pode ser adotado como modelo. do as últimas nas fases terminais.
Diretriz 11: implantar mecanismos de Recomenda-se que um programa de
regulação do acesso à assistência, através c u i d a d o s p a l i a t ivo s i n c l u a d e s d e o
de ferramentas de gestão que permitam a controle da dor e de outros sintomas até
operacionalização de centrais de oncologia, medidas de suporte e apoio para o
coordenadas e articuladas entre si. paciente e a família. Como em geral as
Diretriz 12: implantar uma rede estadual ações de cuidados paliativos referentes
de atenção ao câncer, com a participação de ao câncer diferem pouco daquelas outras
diferentes instituições articuladas entre si, decorrentes de uma série de doenças
com o objetivo de desenvolver ações que crônicas, os programas de cuidados
envolvam todas as etapas do controle da paliativos devem ser pensados e estrutu-
doença, de modo a buscar a integração, rados de modo a incluir uma série de
hierarquização, regionalização, equidade e pacientes com transtornos crônicos e

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po te n c i a l m e n te m o r t a i s . Estudos já Outros aspectos fundamentais à


realizados por grupo da Secretaria de atenção oncológica não foram aqui aborda-
Estado da Saúde de São Paulo apontam dos devido à sua complexidade, mas
que os recursos disponíveis para os sugere-se que também mereçam atenção
cuidados paliativos podem estar locali- especial. Podemos citar, dentre outros, a
zados em hospitais de pequeno porte. formação de recursos humanos para área,
Essa área de cuidado, tão importante e a pesquisa em oncologia e também a
ainda bastante incipiente, deve ser aborda- política de incorporação tecnológica que
da por equipe multidisciplinar, articulada será adotada pela Secretaria de Estado da
com a o sistema de saúde local. Para tanto, Saúde de São Paulo. A complexidade das
as seguintes diretrizes para a área de atividades relacionadas à atenção oncoló-
cuidados paliativos são propostas: gica desenvolvida no Estado exige que
Diretriz 16: definir as necessidades diferentes estruturas e instâncias, estaduais
regionais de cuidados paliativos, se e municipais, participem do processo, cada
possível de forma articulada com outros qual executando tarefas específicas. A
setores da assistência à saúde, tendo como ausência de tal articulação resulta em ações
objetivo chegar o mais próximo da resi- por vezes descoordenadas, parciais ou
dência dos pacientes, dando-lhes prefe- reduntantes e falta de definição clara das
rentemente apoio qualificado domiciliar. responsabilidades.
Diretriz 17: implementar estudos para a Dessa forma, e tendo como objetivo coor-
definição de modelos de cuidados paliati- denar todas as diferentes ações da área,
vos em oncologia, de forma a contemplar sugere-se a criação de um grupo técnico para
as diferentes ações necessárias e também a atenção oncológica, vinculado diretamen-
as especificidades regionais. te ao Gabinete do Secretário Estadual da
Saúde. Esse grupo teria como tarefa
Diretriz 18: desenvolver estudos e ações
principal articular os diferentes setores
visando a definição de uma política
que atuam na área da oncologia no
estadual de alívio da dor em oncologia,
Estado de São Paulo, além de subsidiar o
apontando critérios para a dispensação
processo de pactuação entre gestores
de medicamentos e facilitando o acesso
municipais e estaduais acerca do papel a
aos mesmos.
ser exercido por cada esfera de gestão. O
Merece também destaque a atenção que
p rimeiro re s u l t a d o e s p e r a d o d e s s e
devem ter os diferentes sistemas de infor-
trabalho seria a elaboração de um plano
mações que permeiam a atenção ao câncer,
estadual de oncologia.
desde os vinculados ao pagamento dos
procedimentos realizados pelos prestado-
res até aqueles mais específicos, como os Considerações finais
registros de câncer. Esses registros, por sua Por sua magnitude, complexidade e
impôrtancia estratégica, devem merecer gravidade, o câncer pode ser considerado
tratamento preferencial por parte dos um dos principais problemas de saúde
envolvidos com a questão. pública no Brasil, particularmente no

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Bepa 2011;8(92):24-43

Estado de São Paulo. Tal fato gera a necessi- de gestores de saúde, prestadores, univer-
dade de se adotar medidas diversas, quer de sidades e sociedades científicas num
educação e promoção da saúde, quer de grande pacto estadual que permita a
diagnóstico e tratamento, quer ainda de qualificação da atenção oncológica em
reabilitação e cuidados paliativos, que São Paulo.
concorram para a diminuição das taxas de Também imprescindíveis para o êxito
incidência e mortalidade pela doença. Para das ações são o adequado cadastramento
tanto, necessário se faz priorizar o proble- das instituições que compõem a rede de
ma e concentrar esforços numa ação atenção oncológica, a implantação efetiva
conjunta, coordenada, com medidas que de um sistema de regulação em oncologia
garantam maior eficiência ao objetivo de e, ainda, o desenvolvimento de um sistema
prevenir o que for previnível, curar o que for de informações que permeie todas as fases
curável e melhorar a qualidade de vida dos da atenção oncológica.
pacientes oncológicos. Para atingir esses objetivos este artigo
Compatibilizar as diferentes necessida- buscou definir as principais linhas de
des a p re s e n t a d a s c o m o s re c u r s o s cuidado a serem abordadas, além de
disponíveis – físicos, humanos e finance- apontar diferentes diretrizes que podem
iros – é uma tarefa tão difícil quanto servir de subsidio para a elaboração de um
imprescindível. Mas urgente se faz orga- plano diretor de oncologia para o Estado
nizar as ações, buscando o envolvimento de São Paulo.

REFERÊNCIAS
1. OMS - Organización Mundial de do gasto público [dissertação de
la Salud, Programas Nacionales de mestrado]. São Paulo: Faculdade de
Control del Câncer. Políticas y pautas para Ciências Médicas da Santa Casa de
la gestion. Genebra; 2004. São Paulo; 2008.
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de Câncer [homepage na internet] Nacional de Câncer [homepage na
Estimativa 2010 – Incidência de Câncer internet] Plano de ação para a Redução
no Brasil [acesso em abril de 2011]. da Incidência e Mortalidade por
Disponível em: http://www.inca.gov.br/ Câncer do Colo do Útero [acesso em abril
estimativa/2010. de 2011]. Disponível em: http://
3. Ministério da Saúde, Datasus [homepage www1.inca.gov.br/inca/Arquivos/
na internet]. Informações de Saúde – sumario_colo_utero_versao_2011.pdf.
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Disponível em: http://www.datasus.gov.br. Nacional de Câncer [homepage na
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Paulo: uma análise da morbimortalidade e o rastreamento do câncer de mama

Atenção oncológica no Estado de São Paulo: contribuições para o debate/Correa MCMMA et al.

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Bepa 2011;8(92):24-43

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www1.inca.gov.br/inca/Arquivos/ 10. Secretaria de Estado da Saúde de
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de 2011]. Disponível em: http:// Nacional de Câncer. Encontro
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in five continents: a worldwide 55(2): 99-113, abr-jun.2009.

Correspondência/correspondence to:
Michel Naffah Filho
Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 188
CEP: 05403-000 – São Paulo/SP, Brasil
Te.: 55 11 3066-8456
E-mail: mnaffah@saude.sp.gov.br

Atenção oncológica no Estado de São Paulo: contribuições para o debate/Correa MCMMA et al.

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Instruções aos Autores

Missão recusa ou devolução ao autor com as sugestões


O Boletim Epidemiológico Paulista apontadas pelo revisor.
(Bepa) é uma publicação mensal da Coorde-
nadoria de Controle de Doenças (CCD), órgão Tipos de artigo
da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo
Artigos de pesquisa – Apresentam resulta-
(SES-SP) responsável pelo planejamento e
dos originais provenientes de estudos sobre
execução das ações de promoção à saúde e
quaisquer aspectos da prevenção e controle de
prevenção de quaisquer riscos, agravos e
agravos e de promoção à saúde, desde que no
doenças, nas diversas áreas de abrangência
escopo da epidemiologia, incluindo relatos de
do Sistema Único de Saúde de São Paulo
casos, de surtos e/ou vigilância. Esses artigos
(SUS-SP). Editado nos formatos impresso e
devem ser baseados em novos dados ou
eletrônico, documenta e divulga trabalhos
perspectivas relevantes para a saúde pública.
relacionados a essas ações, de maneira
Devem relatar os resultados a partir de uma
rápida e precisa, estabelecendo canal de
perspectiva de saúde pública, e podem, ainda,
comunicação entre as diversas áreas do SUS-
ser replicados e/ou generalizados por todo o
SP. Além de disseminar informações entre os
sistema (o que foi encontrado e o que a sua
profissionais de saúde de maneira rápida e
descoberta significa).
precisa, tem como objetivo incentivar a
produção de trabalhos técnico-científicos Revisão – Avaliação crítica sistematizada da
desenvolvidos no âmbito da rede pública de literatura sobre assunto relevante à saúde
saúde, proporcionando a atualização e, pública. Devem ser descritos os procedimentos
conseqüentemente, o aprimoramento dos adotados, esclarecendo os limites do tema. Os
profissionais e das instituiçõesresponsáveis artigos desta seção incluem relatos de políticas
pelos processos de prevenção e controle de de saúde pública ou relatos históricos baseados
doenças, nas esferas pública e privada. em pesquisa e análise de questões relativas a
doenças emergentes ou reemergentes.
Comunicações rápidas – São relatos curtos
Política editorial destinados à rápida divulgação de eventos
Os manuscritos submetidos ao Bepa devem significativos no campo da vigilância à saúde. A
atender às instruções aos autores, que seguem sua publicação em versão impressa pode ser
as diretrizes dos Requisitos Uniformes para antecedida de divulgação em meio eletrônico.
Manuscritos Apresentados a Periódicos Biomédi- Informe epidemiológico – Tem por
cos, editados pela Comissão Internacional de objetivo apresentar ocorrências relevantes
Editores de Revistas Médicas (Committee of para a saúde coletiva, bem como divulgar
Medical Journals Editors – Grupo de Vancouver), dados dos sistemas públicos de informação
disponíveis em: http://www.icmje.org/. sobre doenças e agravos e programas de
Após uma revisão inicial para avaliar se os prevenção ou eliminação de doenças infecto-
autores atenderam aos padrões do Bepa, os contagiosas.
trabalhos passam por processo de revisão por Informe técnico – Texto institucional que
dois especialistas da área pertinente, sempre tem por objetivo definir procedimentos,
de instituições distintas daquela de origem do condutas e normas técnicas das ações e
artigo, e cegos quanto à identidade e vínculo atividades desenvolvidas no âmbito da
institucional dos autores. Após os pareceres, o Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo
Conselho Editorial, que detém a decisão final (SES-SP). Inclui, ainda, a divulgação de práti-
sobre a publicação ou não do trabalho, avalia a cas, políticas e orientações sobre promoção à
aceitação do artigo sem modificações, a sua saúde e prevenção e controle de agravos.

Instruções aos Autores


página 44
Bepa 2011;8(92):44-45

Resumo – Serão aceitos resumos de teses e Os critérios éticos da pesquisa devem ser
dissertações até um ano dois anos após a defesa. respeitados. Nesse sentido, os autores devem
Pelo Brasil – Deve apresentar a análise de explicitar em MÉTODOS que a pesquisa foi
concluída de acordo com os padrões exigidos
um aspecto ou função específica da promoção à
pela Declaração de Helsink e aprovada por
saúde, vigilância, prevenção e controle de
comissão de ética reconhecida pela Comissão
agravos nos demais Estados brasileiros.
Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), vincula-
Atualizações – Textos que apresentam, da ao Conselho Nacional de Saúde (CNS), bem
sistematicamente, atualizações de dados como registro dos estudos de ensaios clínicos
estatísticos gerados pelos órgãos e programas em base de dados, conforme recomendação aos
de prevenção e controle de riscos, agravos e editores da Lilacs e Scielo, disponível em:
doenças do Estado de São Paulo. http://bvsmodelo.bvsalud.org/site/lilacs/
Editoriais – São escritos por especialistas homepage.htm. O nome da base de dados, sigla
convidados a comentar artigos e tópicos e/ou número do ensaio clínico deverão ser
colocados ao final do RESUMO.
especiais cobertos pelo Bepa.
O trabalho deverá ser redigido em Português
Relatos de encontros – Devem enfocar o
do Brasil, com entrelinhamento duplo. O
conteúdo do evento e não sua estrutura.
manuscrito deve ser encaminhando em formato
Cartas – As cartas permitem comentários eletrônico (e-mail, disquete ou CD-ROM) e
sobre artigos veiculados no Bepa, e podem ser impresso (folha A4), aos cuidados do Editor
apresentadas a qualquer momento após a sua Científico do Bepa no seguinte endereço:
publicação.
OBS – Os informes técnicos, epidemiológi- Boletim Epidemiológico Paulista
co, Pelo Brasil, atualizações e relatos de
Av. Dr. Arnaldo, 351, 1º andar, sala 131
encontros devem ser acompanhados de carta
Cerqueira César – São Paulo/SP, Brasil
do diretor da instituição à qual o autor e
CEP: 01246-000
oobjeto do artigo estão vinculados. Clique aqui
bepa@saude.sp.gov.br
para ter acesso ao modelo.

Estrutura dos textos


Apresentação dos trabalhos
O manuscrito deverá ser apresentado
Ao trabalho deverá ser anexada uma carta segundo a estrutura das normas de Vancouver:
de apresentação, assinada por todos os TÍTULO; AUTORES e INSTITUIÇÕES; RESUMO
autores, dirigida ao Conselho Editorial do e ABSTRACT; INTRODUÇÃO; METODOLOGIA;
Boletim Epidemiológico Paulista. Nela deve- RESULTADOS; DISCUSSÃO e CONCLUSÃO (se
rão constar as seguintes informações: o houver); AGRADECIMENTOS; REFERÊNCIAS;
trabalho não foi publicado, parcial ou inte- e TABELAS, FIGURAS e FO-TOGRAFIAS anexas,
gralmente, em outro periódico; nenhum autor conforme ordem a seguir.
tem vínculos comerciais que possam repre- A íntegra das instruções aos autores quanto
sentar conflito de interesses com o trabalho à categoria de artigos, processo de arbitragem,
desenvolvido; todos os autores participaram preparo de manuscritos e estrutura dos textos,
da elaboração do seu conteúdo (elaboração e entre outras informações, estão disponíveis no
execução, redação ou revisão crítica, aprova- site: http://www.cve.saude.sp.gov.br/agencia/
ção da versão final). bepa37_autor.htm.

Instruções aos Autores


página 45
CCD
COORDENADORIA DE
SECRETARIA
CONTROLE DE DOENÇAS DA SAÚDE

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