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Nesta Edição
Consultores Científicos
Expediente Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza – FM/Unesp/
Botucatu - SP
Cristiano Corrêa de Azevedo Marques – CCD/SES-SP
Coordenadora Eliseu Alves Waldman – FSP/USP/SP
Clélia Maria Sarmento de Souza Aranda José Cássio de Moraes – FCM-SC/SP
Luiz Eduardo Batista – CCD/SES-SP
Luiz Jacintho da Silva – FM/Unicamp
Coordenadoria de Editora Geral Maria Bernadete de Paula Eduardo – CCD/SES-SP
Controle de Doenças Clélia Maria Sarmento de Souza Aranda Vilma Pinheiro Gawyszewsk – CCD/SES-SP
Luiz Eloy Pereira1, Akemi Suzuki1, Ivani Bisordi1, Renato Pereira de Souza1, Luiza Terezinha Madia de Souza1,
Fabiola Maiumi Oshiro1, Matheus de Paula Cerroni1, Raymundo Soares de Azevedo Neto2, João Renato Rebello Pinho1
1
Seção Vírus Transmitidos por Artrópodos, do Instituto Adolfo Lutz, da Coordenadoria de Controle de Doenças,
da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo – IAL/CCD/SES-SP
2
Departamento de Patologia, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – FMUSP
Resumo
Com base nos estudos realizados no período de 1993 a 2003, durante a
vigilância ecoepidemiológica de hantavírus em regiões de Mata Atlântica e
do Cerrado do Brasil, relata-se a prevalência e os fatores relacionados à
infecção pelos hantavírus Araraquara e Juquitiba nas populações de
Bolomys lasiurus e Oligoryzomys nigripes, respectivamente. Foram realiza-
das capturas mensais de roedores em diversas localidades do País, nas
quais foram detectados casos humanos de síndrome cardiopulmonar por
hantavírus. Foram coletadas amostras de sangue para sorologia e detecção
de anticorpos específicos para hantavírus e obteve-se de cada roedor dados
referentes à espécie, peso, idade, sexo, condições reprodutivas e presença
de cicatrizes. As variáveis qualitativas nominais foram organizadas em
software de planilha eletrônica e analisadas pelo teste do qui-quadrado,
sendo escolhido como critério o nível de significância de 5%. Os resultados
mostram, pelas altas prevalências observadas em Bolomys lasiurus e
Oligoryzomys nigripes, que estas espécies atuam como reservatório no
Cerrado e na Mata Atlântica, respectivamente. Observa-se que a dinâmica
ecológica está intimamente relacionada com a transmissão e manutenção
de hantavírus na natureza, ficando claro que a atividade reprodutiva é o que
mais influencia a ocorrência de roedores soropositivos com cicatrizes,
devido às brigas por acasalamento. A prevalência de hantavírus em roedores
mostrou-se associada a fatores de idade e sexo, sendo mais comum nos
adulto e discretamente mais freqüente nos machos. A sazonalidade da
infecção varia de acordo com a espécie de roedor reservatório, sendo que
para o Bolomys lasiurus o pico da infecção ocorre no inverno e para
Oligoryzomys nigripes, na primavera. Percebeu-se, também, que a preva-
lência da infecção por hantavírus entre roedores foi maior no Cerrado que na
Mata Atlântica, e a sazonalidade dessa prevalência determinou picos na
primavera para a Mata Atlântica e no inverno para o Cerrado.
Abstract
On the basis of the studies carried through in the period of 1993 the 2003,
during the ecoepidemiológica monitoring of hantavírus in regions of Atlantic
Rainforest and Cerrado of Brazil, prevalence is told to it and the factors
related to the infection for hantavírus Araraquara and Juquitiba in the popula-
tions of Bolomys lasiurus and Oligoryzomys nigripes, respectively. Monthly
captures of rodents had been carried through, in diverse Brazil localities,
where human cases of Cardiopulmonar Syndrome had been detected for
Hantavírus. Samples of blood had been collected, for serology and detention
of specific antibodies for hantavírus and were gotten of each referring rodent,
data to the species, weight, age, sex, reproductive conditions and the presen-
ce of scars. The nominal qualitative variable had been organized in “software”
of electronic spread sheet and analyzed by the test of the qui-square, being
chosen the level of significance of 5% as criterion. The results respectively
show for the high prevalence observed in Bolomys lasiurus and
Oligoryzomys nigripes that these species act as reservoir in the Cerrado and
Atlantic Rainforest. It is observed that the ecological dynamics intimately is
related with the transmission and maintenance of hantavírus in the nature,
being clearly that the reproductive activity is what more influences the occur-
rence of seropositive rodents with scars, had to the fight for breeding. The
prevalence of hantavírus in rodents revealed associated the factors of age
and sex, being more common in the rodents adult and discrete more frequent
in the male rodents. The seasonality the infection in accordance with varies
the species of rodent reservoir, being that for the Bolomys lasiurus the peak of
the infection occurs in the winter and for Oligoryzomys nigripes the same
occurs in the spring. One also perceived that the prevalence of the infection
for hantavírus between rodents was bigger in the Cerrado what in Atlantic
Rainforest, and the seasonality of this prevalence determined peaks in the
spring for Atlantic Rainforest and in the winter for the Cerrado.
3
Introdução “Deer Mouse” Peromyscus maniculatus , após um
Os hantavírus são reconhecidos como um proble- período prolongado de chuvas, causado pelo fenô-
ma de saúde pública mundial. No Velho Mundo, a meno climático El Niño. Com as chuvas, a oferta de
febre hemorrágica por hantavírus (FHSR) emergiu a alimento nessa região desértica aumentou, levando a
partir de 1951 na Eurásia, envolvendo roedores da um incremento da população de roedores silvestres.
subfamília Murinae e Arvicolinae
4,8,9,10,12,16
. Os hantaví- Com o restabelecimento das condições climáticas a
rus que causam síndrome cardiopulmonar por oferta de alimento diminuiu, levando a população de
hantavírus (SCPH) estão associados a roedores da roedores a procurar alimentos nas residências rurais,
subfamília Sigmodontinae, típicos do continente ocasionando, desta forma, o maior contato do homem
americano. Emergiram a partir de julho de 1993, com com os transmissores do vírus e, conseqüentemente,
13
o isolamento do hantavírus Sin Nombre, responsável o aparecimento da doença .
pela epidemia de doença respiratória grave, na No Brasil, em dezembro de 1993, no município de
região do Sudoeste dos Estados Unidos, represen- Juquitiba, no Estado de São Paulo, foi documentada
12
tando o primeiro registro de SCPH no mundo . pela primeira vez a ocorrência de casos humanos de
Sabe-se que esta epidemia foi desencadeada por SCPH, causados por um vírus semelhante ao Sin
um desequilíbrio da população do roedor hospedeiro Nombre, posteriormente denominado vírus
v a lo r e s r e la t iv o s
v a lo r e s r e la t iv o s
n ú m e r o a b s o lu t o
infectados no outono (7,5%) e na primavera (6,3%). 2000 80
1500 60
2000 100
1000 40
n ú m e r o ab s o lu to
valo r e s r e lativo s
80
1500
500 20
60
1000 0 0
40 presente ausente
500 presença de cicatriz
20
positiva negativa % positiva % negativa
0 0
verão outono inverno primavera Figura 4. Bolomys lasiurus encontrados com anticorpos para
hantavírus segundo a presença de cicatrizes, 1998 a 2003.
estações do ano
positiva negativa % positiva % negativa 1000 100
n ú m e r o a b s o lu t o
v a lo r e s r e la t iv o s
Figura 2. Distribuição de Bolomys lasiurus encontrados com
anticorpos para hantavírus segundo a estação do ano, 1998 a 2003. 800 80
600 60
A distribuição percentual de Bolomys lasiurus
encontrados naturalmente infectados por hantaví- 400 40
rus segundo o sexo pode ser vista na Figura 3.
200 20
Observa-se que a proporção de machos infectados
(12,0%) é significativamente (p=0,007) maior que a 0 0
de fêmeas (9,2%). jovem adulto
1600 100 idade
n ú m e r o a b s o lu t o
400
20 750
v a lo r e s r e la t iv o s
80
0 0 600
60
macho fêmea
450
sexo
40
positiva negativa % positiva % negativa 300
Figura 3. Bolomys lasiurus encontrados com anticorpos para 20
hantavírus segundo o sexo, 1998 a 2003. 150
0 0
A Figura 4 apresenta o número de Bolomys verão outono inverno primavera
lasiurus encontrados infectados com relação a estações do ano
cicatrizes. Verifica-se que a presença de anticorpos positiva negativa % positiva % negativa
é significativamente maior (p<0,001) nos roedores Figura 6. Distribuição de Bolomys lasiurus machos encontrados com
com cicatrizes (17,5%) que nos roedores sem anticorpos para hantavírus segundo a estação do ano, 1998 a 2003.
cicatrizes (8,0%).
A Figura 5 mostra os dados relativos aos machos A freqüência sazonal de machos escrotados de
de Bolomys lasiurus encontrados naturalmente Bolomys lasiurus encontrados infectados pode ser
infectados segundo a idade. Observa-se que a verificada na Figura 7. Observa-se que a proporção
proporção de machos adultos (19,7%) infectados de machos de Bolomys lasiurus escrotados e infecta-
é significativamente (p<0,001) maior que a de jo- dos (15,9%) é significativamente maior (p<0,001) que
vens (6,5%). a de não escrotados (9,8%).
Verifica-se na Figura 6 que a variação sazonal da Na Figura 8 temos a proporção de machos de
proporção de machos de Bolomys lasiurus encontra- Bolomys lasiurus infectados com relação à presença
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v a lo r e s r e la t iv o s
n ú m e r o a b s o lu t o
n ú m e r o a b s o lu t o
800 750
v a lo r e s r e la t iv o s
60 80
600 600
40 60
400 450
20 40
200 300
0 0 150 20
escrotado não escrotado
0 0
condição reprodutiva verão outono inverno primavera
positiva negativa % positiva % negativa estações do ano
Figura 7. Bolomys lasiurus machos encontrados com anticorpos positiva negativa % positiva % negativa
para hantavírus segundo a condição reprodutiva, 1998 a 2003. Figura 10. Distribuição de Bolomys lasiurus fêmeas encontradas
com anticorpos para hantavírus segundo a estação do ano, 1998
a 2003.
v a lo r e s r e la t iv o s
n ú m e r o a b s o lu t o
presente ausente
1200 80
presença de cicatriz
positiva negativa % positiva % negativa 900 60
Figura 8. Bolomys lasiurus machos encontrados com anticorpos
para hantavírus segundo a presença de cicatrizes, 1998 a 2003. 600 40
300 20
Quanto à proporção de fêmeas de Bolomys
0 0
lasiurus infectadas segundo a idade, a Figura 9
vagina aberta vagina fechada
retrata que a infecção é significativamente (p<0,001)
condição reprodutiva
mais freqüente nas fêmeas adultas (13%) do que nas positiva negativa % positiva % negativa
jovens (7%).
Figura 11. Bolomys lasiurus fêmeas encontradas com anticorpos
para hantavírus segundo a condição reprodutiva, 1998 a 2003.
2500 100
n ú m e r o a b s o lu t o
v a lo r e s r e la t iv o s
v a lo r e s r e la t iv o s
1200 80 (10,7%) e inverno (3,3%) em relação ao outono
(1,2%) e verão (0,0%).
900 60 700 100
n ú m e r o a b s o lu t o
600 40 600
v a lo r e s r e la t iv o s
80
500
300 20 60
400
0 0 300 40
presente ausente 200
presença de embrião 20
100
positiva negativa % positiva % negativa
0 0
Figura 12. Bolomys lasiurus fêmeas embrionadas encontradas com verão outono inverno primavera
anticorpos para hantavírus, 1998 a 2003.
estações do ano
1200 100 positiva negativa % positiva % negativa
v a lo r e s r e l a t iv o s
n ú m e r o a b s o lu t o
v a lo r e s r e la t iv o s
80
Figura 13. Bolomys lasiurus fêmeas encontradas com anticorpos 500
para hantavírus segundo a presença de cicatrizes, 1998 a 2003. 400 60
300 40
As análises dos dados de Oligoryzomys nigripes,
200
reservatório do vírus Juquitiba, segundo idade, distri- 20
100
buição sazonal, sexo e presença de cicatrizes estão
referidas nas Figuras 14 a 26, a seguir expostas. 0 0
macho fêmea
A Figura 14 retrata os dados referentes à freqüên- sexo
cia de anticorpos em Oligoryzomys nigripes de positiva negativa % positiva % negativa
acordo com a idade dos roedores. Observa-se que a
Figura 16. Oligoryzomys nigripes encontrados com anticorpos para
proporção de adultos infectados (6,2%) é significati- hantavírus segundo o sexo, 1998 a 2003.
vamente maior (p<0,001) do que a de jovens (0,6%).
1000 100 A Figura 17 apresenta o número de Oligoryzomys
n ú m e r o a b s o lu t o
v a lo r e s r e la t iv o s
200 20 800 80
0 0 600 60
jovem adulto
400 40
idade
positiva negativa % positiva % negativa 200 20
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400 100
Temos na Figura 18 a proporção de machos de
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Oligoryzomys nigripes naturalmente infectados 80
300
segundo a idade. Verifica-se que a proporção de
60
machos adultos (8,4%) infectados é significativamen- 200
te maior (p<0,001) que a de jovens (0,6%). 40
500
v a lo r e s r e la t iv o s
80 0 0
escrotado não escrotado
400
60 condição reprodutiva
300 positiva negativa % positiva % negativa
40 Figura 20. Oligoryzomys nigripes machos encontrados com
200
anticorpos para hantavírus segundo a condição reprodutiva, 1998
100 20 a 2003.
500 100
0 0
v a lo r e s r e la t iv o s
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jovem adulto 400 80
idade
positiva negativa % positiva % negativa 300 60
Figura 18. Oligoryzomys nigripes machos encontrados com
anticorpos para hantavírus segundo a idade, 1998 a 2003. 200 40
100 20
A distribuição sazonal de machos de 0 0
Oligoryzomys nigripes infectados descrita na Figura presente ausente
19 evidencia o significativo (p=0,001) aumento na presença de cicatriz
proporção de roedores infectados na primavera positiva negativa % positiva % negativa
(17,2%) e inverno (4,1%), sendo menor no outono Figura 21. Oligoryzomys nigripes machos encontrados com
(0,7%) e verão (0,0%). anticorpos para hantavírus segundo a presença de cicatrizes, 1998
a 2003.
750 100
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600 80
Oligoryzomys nigripes infectadas naturalmente em
450 60 relação à idade. Embora não sendo considerada
significativa a diferença estatística entre as fêmeas
300 40
jovens e adultas (p=0,14), observa-se que a propor-
150 20 ção de infecção é maior nas adultas (2,6%) do que
nas jovens (0,6%).
0 0
400 100
verão outono inverno primavera
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estações do ano 80
300
positiva negativa % positiva % negativa
60
Figura 19. Distribuição de Oligoryzomys nigripes machos encontra- 200
dos com anticorpos para hantavírus segundo a estação do ano, 1998 40
a 2003.
100
20
v a lo r e s r e la t iv o s
250 80 cia de anticorpos nas fêmeas de Oligoryzomys
200 nigripes com relação à presença de cicatrizes. Nota-
60 se que a proporção de fêmeas infectadas com
150
40
cicatrizes (2,4%) é pouco maior do que as sem
100 cicatrizes (1,8%). Esta diferença não foi estatistica-
50 20 mente significativa (p=0,644).
1200 100
0 0
a b s o lu t o
v a lo r e s
verão outono inverno primavera 80
900
estações do ano
positiva negativa % positiva % negativa 60
Figura 23. Distribuição de Oligoryzomys nigripes fêmeas encontra- 600
das com anticorpos para hantavírus segundo a estação do ano, 1998 40
r e la t iv o s
n ú m e r o
a 2003.
300
20
A freqüência de anticorpos com relação às condi-
0 0
ções reprodutivas das fêmeas de Oligoryzomys
presente ausente
nigripes é descrita na Figura 24. Observa-se, pratica- presença de cicatriz
mente, a mesma proporção de fêmeas infectadas positiva negativa % positiva % negativa
tanto com a vagina aberta (1,8%) quanto fechada Figura 26. Oligoryzomys nigripes fêmeas encontradas com
(1,9%). A associação não foi estatisticamente signifi- anticorpos para hantavírus segundo a presença de cicatrizes,
1998 a 2003.
cativa (p=0,94).
500 100
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400 80 Discussão
300 60 A correlação entre a soropositividade para hantaví-
rus e a idade dos roedores identificados como reserva-
200 40 tórios na natureza revelaram maior proporção de
100 20
soropositividade em adultos de Bolomys lasiurus e
Oligoryzomys nigripes em relação aos jovens (Figuras
0 0 1 e 14). Esta maior ocorrência de resultados positivos
vagina aberta vagina fechada no que se refere à presença de anticorpos em roedores
condição reprodutiva adultos, provavelmente, deve estar relacionada ao
positiva negativa % positiva % negativa maior tempo de exposição ao vírus, porque os roedo-
Figura 24. Oligoryzomys nigripes fêmeas encontradas com res mais velhos tiveram mais eventos de briga que os
anticorpos para hantavírus segundo a condição reprodutiva,
1998 a 2003. mais novos, conforme observado por Childs et al.2,3
para Peromyscus maniculatus, nos Estados Unidos.
A proporção de fêmeas de Oligoryzomys nigripes Verifica-se que a sazonalidade da freqüência de
encontradas embrionadas com relação à infecção infecção dos roedores de ambas as espécies é
por hantavírus é descrita na Figura 25. Observa-se distinta. Para Bolomys lasiurus o pico de infecção
que as embrionadas (1,2%) apresentaram menor ocorre no inverno (Figura 2) enquanto para
positividade para hantavírus que as não embrionadas Oligoryzomys nigripes aparece na primavera (Figura
(2,1%), não atingindo nível de significância (p=0,607) 15). No caso de Bolomys lasiurus, a elevação da
que diferencie tal relação. freqüência de roedores com anticorpos no inverno
450 100 pode ser explicada pela restrição do ambiente devido
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conquista de fêmeas. Considera-se a possibilidade quatro vezes mais roedores soropositivos com
desta espécie, característica da Mata Atlântica, não cicatrizes do que sem (Figura 17). Esta predominân-
ser influenciada por fatores climáticos, da mesma cia também foi relatada por Childs et al.2 nos Estados
forma que as espécies de Cerrado, visto que a Mata Unidos. Estes achados reforçam a idéia de que a
Atlântica, por ser considerada um ambiente mais forma principal de transmissão do hantavírus na
estável que o Cerrado antropizado, não sofreria o natureza entre os roedores é por brigas.
fenômeno de retração da vegetação, o que restringi- Com base nas grandes diferenças existentes
1,11
ria os habitats . entre machos e fêmeas de roedores quanto à
Com relação à distribuição da freqüência de infecção por hantavírus, foram analisados separa-
roedores com anticorpos para hantavírus segundo o damente por sexo os parâmetros de idade, sazona-
sexo, existe uma diferença entre as proporções de lidade e cicatriz nas espécies reservatórias de
soropositividade dos machos e das fêmeas. Em hantavírus. Nestas análises quase não se observou
Bolomys lasiurus (Figura 3) a diferença é um pouco diferença dos padrões descritos para ambos os
maior nos machos e para Oligoryzomys nigripes sexos. Porém, ressalta-se que para a espécie
(Figura 16), é três vezes maior do que nas fêmeas. Oligoryzomys nigripes (Figura 18 a 26) as diferen-
A maior ocorrência de soropositividade para ças foram sempre mais acentuadas que em
hantavírus nos machos, provavelmente, está relacio- Bolomys lasiurus (Figuras 5 a 13).
nada às brigas durante o período de procriação, pois Quando se comparou as fêmeas embrionadas de
há um aumento na procura de fêmeas receptivas que Oligoryzomys nigripes com relação à presença de
se encontram com a vagina aberta. Quando se anticorpos para hantavírus, notou-se uma predomi-
compara as duas espécies reservatórias em relação nância de não prenhas em relação às prenhas
às condições reprodutivas neste estudo, nota-se que (Figura 25). Por outro lado, observou-se em Bolomys
36% dos machos de Bolomys lasiurus são escrota- lasiurus percentual inverso, com as prenhas predomi-
dos e apenas 10,1% das fêmeas são receptivas com nantes sobre as não prenhas (Figura 12).
a vagina aberta. Por outro lado, em Oligoryzomys Os motivos deste padrão de soropositividade
nigripes esta diferença é ainda maior, sendo os devem-se provavelmente aos diferentes comporta-
machos escrotados 53,7% e as fêmeas receptivas mentos observados nas fêmeas desses roedores.
somente 10,3%. Talvez isso explique porque a Oligoryzomys nigripes é uma espécie mais solitária,
predominância de machos soropositivos em relação que constrói ninhos individuais em ocos de arvore ou
às fêmeas seja muito mais acentuada em moitas de capim, nos quais as fêmeas, quando
Oligoryzomys nigripes do que em Bolomys lasiurus. prenhas, isolam-se dos demais indivíduos da espé-
Ressalta-se que para as espécies reservatórias de cie, defendendo o território do ninho. Por sua vez,
hantavírus a condição reprodutiva nos machos é um Bolomys lasiurus formam grandes colônias, fosso-
fator determinante para infecção, isto é, os machos riais, nas quais as fêmeas prenhas interagem inten-
escrotados são encontrados mais soropositivos que samente dentro das galerias, onde ocorrem peque-
os não escrotados (Figuras 7 e 20). No entanto, para nas disputas territoriais. Provavelmente estes
as fêmeas não se verifica diferença na soropositivida- padrões de interação social são determinantes na
de entre as encontradas com a vagina aberta e diferença de freqüência de infecção das fêmeas
fechada (Figuras 11 e 24). Este achado reforça a idéia prenhas de ambas as espécies.
de que, realmente, existem mais brigas entre os
Em resumo, observa-se que a dinâmica ecológica
machos do que entre as fêmeas.
está intimamente relacionada à transmissão e
Conforme já mencionado, a competição por manutenção de hantavírus na natureza. Fica claro
alimento, território e acasalamento está entre as que a atividade reprodutiva é o que mais influencia a
causas que mais contribuem para as cicatrizes ocorrência de roedores soropositivos com cicatrizes
encontradas nos roedores capturados. Este parâme- devido às brigas por acasalamento.
tro, associado à reprodução, foi analisado no presen-
te estudo quanto à presença de anticorpos para
hantavírus. Observou-se que a proporção de roedo- Conclusões
res com cicatrizes encontrados infectados é mais do Foi possível caracterizar os biomas nos quais os
que o dobro da verificada entre os sem cicatrizes. hantavírus foram encontrados no Brasil. Determina-
Quando se analisam as espécies de roedores reser- ram-se duas espécies de roedores associadas como
vatórios de hantavírus verifica-se que Bolomys reservatórios de hantavírus no País. O roedor Bolo-
lasiurus (Figura 4) apresenta o mesmo padrão das mys lasiurus para o vírus Araraquara, nas regiões de
demais espécies. Por outro lado, para a espécie Cerrado, e o roedor Oligoryzomys nigripes para o
Oligoryzomys nigripes nota-se a predominância de vírus Juquitiba, na Mata Atlântica.
15. Pereira, LE, Souza, LTM, Souza, RP, Bisordi, Souza LTM. Araraquara and Juquitiba hanta-
I, Suzuki, A, Katz, G. Histórico da Vigilância virus in southern and southeastern Brazil:
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Correspondência/Correspondence to:
Luiz Eloy Pereira
Instituto Adolfo Lutz
Av. Dr. Arnaldo, 355
CEP: 01246-902 – São Paulo/SP – Brasil
Tel.: (5511) 3068-2901
E-mail: lupereira@ial.sp.gov.br
Marli Prado1; Luis Eduardo Batista1,2; Cristiano Correa de Azevedo Marques1; Paula Opromolla1
1
Coordenadoria de Controle de Doenças, da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo – CCD/SES-SP
2
Instituto de Saúde – SES-SP
Resumo
O estudo tem como objetivo identificar a situação da variável raça/cor
para nascidos vivos e óbitos em menores de 1 ano para o Brasil, a região
Sudeste e o Estado de São Paulo, considerando-se os eventos captados
pelo Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e pelo Sistema de
Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), no período de 1998 a 2005.
Houve redução significativa da não-informação da variável raça/cor, tanto
dos nascidos vivos como dos óbitos, em São Paulo, na região Sudeste e no
País. Quanto aos registros de raça/cor informada, a categoria branca vem
apresentando redução proporcional em território paulista, no Sudeste e no
Brasil, enquanto a categoria raça/cor parda tem seus registros elevados
tanto nos óbitos quanto nos nascidos vivos nas três áreas consideradas,
variando apenas em intensidade. No Estado de São Paulo, a categoria preta
apresenta elevação de registros nos óbitos e nascidos vivos, enquanto no
País há pequena redução; e a região Sudeste registrou comportamento
distinto nos dois sistemas, com elevação do registro dessa categoria para
nascidos vivos e pequena redução nos óbitos. O SIM e o Sinasc vêm, pro-
gressivamente, elevando a qualidade de seus dados na variável raça/cor e
ampliando sua potencialidade para o desenvolvimento de estudos de recorte
étnico/raciais, subsidiando assim políticas voltadas para promover a equida-
de no Sistema Único de Saúde.
Abstract
This paper is designed to identify the situation of the variable race/color for
live births and deaths of children under one year old for Brazil, for the
Southeast region and for the State of São Paulo, taking into account the
events identified by the Information System on Mortality (SIM) and the
Information System on Live Births (Sinasc), during the period pf 1998 to 2005.
There was a significant decrease of misinformation regarding the variable
race/color both for live births and for deaths, in São Paulo, in the Southeast
region and in the country. Regarding the registers of race/color informed, the
category white presents a proportional reduction in the state of São Paulo, in
the Southeast and in Brazil, while the category race/color mulatto has
increased registers both for deaths as well as for live births in the three areas
under study, varying only in intensity. In the State of São Paulo the category
black presents increased registers in deaths and live births, whereas for the
country, there is a small decrease in both variables; the Southeast region
registered a different behavior in both systems, with an increase in registers
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of this variable, for live births and a small decrease in deaths. Both SIM and
Sinasc have, progressively, increased the quality of their databank and
enlarging their potential for the development of studies with ethnic/racial
venues, therefore aiding policies designed to promote the equity in the Single
Health System.
%
2000 20464 30,0 409099 12,8 5073 20,8 237988 18,2 1291 10,8 175840 25,1
2001 17347 28,0 370657 11,9 4603 21,4 212725 17,3 821 7,9 157547 22,4
10,0
2002 15216 25,8 360417 11,8 4193 21,3 203078 17,0 771 8,1 148762 19,9
2003 13177 22,9 340295 11,2 3320 17,3 197767 16,7 253 2,7 138713 20,0 0,0
2004 11699 21,6 312274 10,3 3142 17,1 169789 14,4 196 2,2 120891 17,4 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
2005 9071 18,2 279346 9,2 2792 16,2 141831 12,1 138 1,7 101516 16,4 -10,0
Variação
1998/2005 -62,7 -82,3 -52,4 -79,4 -94,2 -64,9 Ano
N° % N° % N° % N° % N° % N° % 81,0
80,0
1998 22478 61,1 912113 60,4 12315 67,7 398103 73,7 7971 81,3 303511 82,7
%
79,0
1999 24080 56,5 1292989 55,3 12562 67,3 618645 67,6 8267 80,6 409005 80,8
78,0
2000 27475 57,6 1560041 55,8 13297 68,8 727871 68,1 8438 79,4 413267 80,7 77,0
Obitos < 1 ano
2001 25449 57,1 1482911 54,0 11857 70,3 686441 67,4 7817 81,3 383295 80,7 76,0 Nasc Vivos
Linear (Obitos < 1 ano)
2002 23920 54,7 1442964 53,5 10758 69,4 664372 67,0 7227 82,5 375557 79,1 75,0
Linear (Nasc Vivos)
74,0
2003 23446 52,9 1400141 51,9 11104 69,7 653470 66,5 7558 83,8 375686 79,6
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
2004 22329 52,6 1399416 51,6 10520 68,9 668518 66,2 7187 82,0 394407 79,3 Ano
2005 20761 50,8 1373334 49,9 9681 67,2 669070 64,9 2071 79,3 403577 77,9
Variação - -16,8 - -17,4 - -0,8 - -11,9 - -2,5 - -5,9
1998/2005 Região Sudeste
76,0
Fonte: SIM/Sinasc/Ministério da Saúde
Nota 1: 2005 – Dados preliminares 74,0
72,0
País e, por último, São Paulo (Tabela 3). Obitos < 1 ano
Para raça/cor categoria preta, o Estado de São Figura 2. Evolução da proporção (%) de nascidos vivos e óbitos < 1
ano com a variável raça/cor branca nos totais de eventos com
Paulo quase duplicou o preenchimento da variável raça/cor declarada por residência, Estado de São Paulo, região
no registro dos óbitos de menores de 1 ano ao Sudeste e Brasil, 1998 a 20051.
elevá-lo a 91,3%. Para o País e região Sudeste,
houve redução de 16,7% e 1,1%, respectivamente.
O Estado iniciou o período com 1,6%, evoluindo para
dados não apresenta magnitude, sofrendo, ainda,
3,1%; o País partiu de 3,9% encerrando-o com 3,2%
influência da subnotificação de eventos em algu-
e a região Sudeste iniciou e manteve 4,2%. Importan-
mas unidades da federação.
te observar o baixo volume de registros em números
absolutos para essa categoria, tanto para óbitos Analisando-se todo o período, a melhoria do
como para nascidos vivos, o que no universo dos preenchimento da categoria preta nos nascidos vivos
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Tabela 3. Evolução da proporção (%) da variável raça/cor parda dos
nascidos vivos e óbitos de menores de 1 ano nos totais de eventos Estado de São Paulo
com raça/cor declarada por residência, Estado de São Paulo, região 25,0
Sudeste e Brasil, anos de 1998 a 20051.
20,0
BRASIL SUDESTE SAO PAULO
Óbitos Nascidos Vivos Óbitos Nascidos Vivos Óbitos Nascidos Vivos 15,0
Ano N° % N° % N° % N° % N° % N° %
%
10,0
1998 12234 33,3 542829 35,9 4892 26,9 126530 23,4 1606 16,4 56771 15,5
1999 15255 35,8 865647 57,3 4779 25,6 233732 25,6 1644 16,0 85065 16,8 5,0 Óbitos < 1 ano
Nasc Vivos
Linear (Nasc Vivos)
2000 17527 36,7 1109873 39,7 4770 24,7 298262 27,9 1622 15,3 88368 17,3 Linear (Óbitos < 1 ano)
0,0
2001 16851 37,8 1143123 41,6 4179 24,8 293369 28,8 1516 15,8 82393 17,3 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Ano
2002 17567 40,2 1151123 42,7 4007 25,8 293151 29,5 1286 14,7 90026 19,0
2003 18701 42,2 1201636 44,5 4030 25,3 296196 30,1 1156 12,8 87170 18,5 Região Sudeste
50,0
2004 18030 42,4 1224588 45,1 3968 26,0 306378 30,4 1253 14,3 92379 18,6 45,0
40,0
2005 18146 44,4 1373334 49,9 4088 28,4 327063 31,7 456 17,5 103465 20,0
35,0
Variação 30,0
40,0
%
100,0 30,0
80,0 20,0
Óbitos < 1 ano
60,0 10,0 Nasc Vivos
Linear (Óbitos < 1 ano)
Linear (Nasc Vivos)
40,0 0,0
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
20,0 Ano
Parda 33,6 38,8 5,5 35,5 6,6 29,0 Observando a variação em termos proporcionais
Preta -16,7 -5,0 -1,1 22,3 91,3 35,4 para nascidos vivos e óbitos < 1 de ano, verificamos
Fonte: SIM/Sinasc/Ministério da Saúde
que a raça/cor categoria branca sofreu redução
Nota 1: 2005 – Dados preliminares proporcional de registros tanto no SIM como no
Gráfico 1. Variação (%) da evolução de nascidos vivos e óbitos < de Sinasc. Para nascidos vivos o País reduziu 17,4%, a
1 ano para a variável raça/cor nas categorias branca, parda e preta, região Sudeste 11,9% e São Paulo, 5,9%. Para os
por residência, Estado de São Paulo, regiao Sudeste e Brasil, 1998
a 20051. óbitos a redução foi de 16,8% para o País, o Estado
%
1,5
1998 1434 3,9 36075 2,4 773 4,2 12792 2,4 159 1,6 4758 1,3
1,0
1999 1519 3,6 62069 4,1 786 4,2 27076 3,0 186 1,8 8656 1,7 Óbitos < 1 ano
Nasc Vivos
0,5
2000 1807 3,8 88980 3,2 847 4,4 34621 3,2 208 2,0 8181 1,6 Linear (Óbitos < 1 ano)
Linear (Nasc Vivos)
0,0
2001 1746 3,9 81851 3,0 739 4,4 30962 3,0 216 2,2 7168 1,5 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Ano
2002 1649 3,8 73975 2,7 682 4,4 29460 3,0 210 2,4 7255 1,5
2003 1641 3,7 66818 2,5 754 4,7 29044 3,0 279 3,1 7214 1,5 Região Sudeste
5,0
2004 1499 3,5 62954 2,3 719 4,7 29596 2,9 285 3,3 8280 1,7
4,5
2005 1327 3,2 62498 2,3 606 4,2 29835 2,9 81 3,1 9104 1,8 4,0
3,5
Variação
1998/2005 -16,7 -5,0 -1,1 22,3 91,3 35,4 3,0
1,5
Óbitos < 1 ano
respectivamente. 3,5
3,0
de Saúde. Ano
Mortalidade (SIM) e o Sistema de Informações Figura 4. Evolução da proporção (%) de nascidos vivos e obitos < 1
sobre Nascidos Vivos (Sinasc) vêm apresentando ano com a variável raça/cor preta nos totais de eventos com raça/cor
declarada, por residência, estado de São Paulo, Região Sudeste e
mais melhorias progressivas e significativas na Brasil, 1998 a 20051.
11
cobertura e qualidade da informação . A elevação
na completude da informação, tanto para a No caso das estatísticas (nascimentos e óbitos), a
Declaração de Nascido Vivo quanto para a autoclassificação – precedimento mais amplamente
Declaração de Óbito, tem sido relatada9 e esforços recomendado – é impedida em função de limites
vêm sendo empreendidos por gestores dos três bastante óbvios. Assim, sua classificação, quando
níveis de governo, impulsionados pela necessidade efetuada, tem sido atribuição de um familiar ou de um
de subsidiar a formulação, monitoramento e avalia- profissional de saúde, que pode estar permeado por
ção das intervenções em saúde. subjetividades e/ou ideologias.
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As variáveis dos sistemas de informações sobre elemento estratégico para a gestão. In:
mortalidade e sobre nascidos vivos comumente são BRASIL. Ministério da Saúde. Gestão
utilizadas para o cálculo de taxas e/ou coeficientes e Municipal de Saúde: textos básicos. Rio
índices e proporções, sejam no numerador ou no de Janeiro: Ministério da Saúde; p. 163-
denominador. Para os cálculos de indicadores 169, 2001.
segundo variáveis raciais/étnicas seus limites têm 3. Goldbaum M. Epidemiologia e serviços
sido evidenciados dada à elevada proporção da não- de saúde. Cad de Saúde Pública. 1996;
informação. Não obstante, esses dados têm demons- 12 (2): 95-8.
trado a evolução continuada da completude da 4. Castro RCF. Comunicação científica na
informação sobre raça/cor tanto para nascidos vivos área da saúde pública: perspectivas
como para os óbitos. No caso em estudo os óbitos de para a tomada de decisão em saúde
menores de 1 ano – os dados também demonstram baseada em conhecimento. [Tese de
comportamentos distintos entre os sistemas e as Doutorado]. São Paulo: Faculdade de
regiões. Para a mortalidade infantil, na qual o nume- Saúde Pública da Universidade de São
rador e o denominador são originários desses siste- Paulo; 2003. 238 p.
mas, tais limites são potencializados e, se a unidade
de análise apresentar subnotificação importante 5. Pacheco LMS. Informação e contexto:
desses registros, obrigatoriamente, o pesquisador uma análise arqueológica. [Dissertação].
acaba por lançar mão de estimativas. Rio de Janeiro: ECO/UFRJ e
IBICT/CNPq; 1992.
Por fim, importante considerar que, mesmo com
uma elevação proporcional acentuada de melhoria da 6. Moraes IHS. Informação em Saúde: da
informação, em termos absolutos o ganho pode não prática fragmentada ao exercício da
estar revestido de magnitude, ou seja, a composição cidadania. São Paulo e Rio de Janeiro:
étnica da população em estudo obviamente estará Hucitec e Abrasco, 1994.
representada nos dados de mortalidade, bem como 7. Almeida MF. O Uso das Informações em
não de nascidos vivos. Logo, diferenças regionais Saúde na Gestão dos Serviços. Rev
serão evidenciadas. Assim, a elevação da informação Saúde e Sociedade. 1995; 4(1/2): 39-42.
sobre raça/cor pode estar sendo impulsionada por 8. Brasil, Ministério da Saúde. Secretaria de
seus perfis populacionais étnicos e sua conseqüente Vigilância em Saúde. Departamento de
valorização, o que não necessariamente representa Análise de Situação em Saúde. Saúde
um esforço sistemático derivado de uma política de Brasil, 2006: uma análise da
melhoria desta informação. Obviamente não impede desigualdade em saúde. Brasília, 2006.
o reconhecimento de que o SIM e o Sinasc vêm, 9. Brasil, Ministério da Saúde. Secretaria de
progressivamente, elevando a qualidade de seus Vigilância em Saúde. Departamento de
dados e ampliando a sua potencialidade para o Análise de Situação em Saúde. Saúde
desenvolvimento sobre estudos de recorte étni- Brasil, 2005: uma análise da situação de
co/raciais, e subsidiando o desenvolvimento de saúde no Brasil. Brasília, 2005.
políticas voltadas a promoção da equidade no âmbito 10. Petruccelli JL. A declaração de cor/raça
do Sistema Único de Saúde. no censo 2000: um estudo comparativo.
In: IBGE, Departamento de População e
Referência bibliográfica Indicadores Sociais, 2002, 24p. (textos
1. Lopes F. Experiências desiguais ao nascer, para discussão - diretoria de pesquisas
viver, adoecer e morrer: tópicos em saúde da número 6).
população negra no Brasil. In: Batista LE e 11. Cardoso AM, Santos RV, Coimbra Jr CEA.
Kalckmann S (org). Seminário saúde da Mortalidade Infantil segundo raça/cor no
população negra. Estado de São Paulo, 2004. Brasil: o que dizem os sistemas nacionais
São Paulo: Instituto de Saúde, 2005. de informação? Cad Saúde Pública 2005;
2. Branco MAF Informação em Saúde como 21 (5): 1602-08.
Correspondência/Correspondence to
Marli Prado
Coordenadoria de Controle de Doenças
Av. Dr. Arnaldo, 351 – 1º andar – sala 131
Cerqueira César – São Paulo/SP
CEP: 01246-000
E-mail: mbueno@saude.sp.gov.br
Divisão de Imunização
Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac”
Coordenadoria de Controle de Doenças
Secretaria de Estado da Saúde – DI/CVE/CCD/SES-SP
A influenza (gripe) é uma doença viral aguda do familiares foram apontados como os principais
trato respiratório, caracterizada pelo início súbito de incentivadores, enquanto o médico foi citado como
febre, calafrios, dor de garganta, cefaléia, mialgia e fator incentivador em apenas 10% dos casos, apesar
tosse não produtiva. Nos idosos é mais freqüente a de 80% dos entrevistados freqüentarem os
ocorrência de complicações como pneumonia e consultórios habitualmente. Estas pesquisas também
maiores taxas de hospitalizações e mortalidade. De mostraram que quase a totalidade das pessoas
acordo com os dados da Organização Mundial da vacinadas declarou não ter apresentado reação (90%
Saúde (OMS), estima-se que no mundo 600 em 2001 e 96% em 2002). As reações, quando
milhões de pessoas/ano apresentam um episódio citadas, foram febre, dores no corpo e na cabeça.
de gripe. Considerando os resultados destas pesquisas,
Os idosos, em especial os institucionalizados e os as equipes técnicas das Regionais de Saúde e dos
portadores de doenças crônicas, são alvos de sérias municípios começaram a incrementar as
complicações em decorrência da infecção pelo vírus informações junto aos profissionais da área e à
influenza, como a pneumonia primária viral, imprensa, na tentativa de melhor esclarecer a
pneumonia bacteriana secundária e exacerbação de população de que a vacina contra influenza é bem
doença pulmonar ou cardíaca crônica. tolerada e pouco reatogênica, e os seus reais
É importante esclarecer que no mesmo perío- benefícios são a prevenção das complicações
do da circulação da influenza manifestações decorrentes da infecção pelo vírus, redução das
clínicas envolvendo o trato respiratório podem ser hospitalizações e da mortalidade nos idosos e nas
causadas por numerosos outros tipos de vírus, pessoas com doenças crônicas cardiovasculares,
como o rinovírus (resfriado comum) e o vírus pulmonares e diabetes.
sincicial respiratório, que não são prevenidos pe- Como resultado deste trabalho, em 2003 a
la vacinação. cobertura vacinal no Estado de São Paulo
Desde 1999 são realizadas campanhas aumentou para 75% e dentre os 645 municípios,
nacionais de vacinação contra influenza; no 564 alcançaram índices iguais ou superiores à meta
primeiro ano no Estado de São Paulo 84% dos preconizada, representando uma homogeneidade
idosos foram vacinados. Em 2000, 2001 e 2002 de 87%.
houve uma queda nas coberturas vacinais que Desde 2003, as equipes de saúde vêm
atingiu 63,9%, 66,6% e 65,6%, respectivamente. A incrementando as informações sobre os benefícios
meta a ser alcançada é de 70%. da vacina contra influenza; como resultado, verifica-
Preocupada com esta situação, e com o objetivo se que ano a ano as nossas coberturas vacinais e a
de identificar os motivos da redução da adesão à homogeneidade vêm aumentando e superando as
vacinação, a Secretaria de Estado da Saúde metas preconizadas pelo Ministério da Saúde.
realizou pesquisas de opinião pública junto à Em 2006 foram vacinadas 2.920.479 pessoas
população-alvo das campanhas. Os resultados com 60 anos ou mais, com cobertura vacinal de
indicaram o medo das reações à vacina e a não 80,22% e homogeneidade de 94,26%. Em 2007
preocupação com a gripe entre os principais foram vacinadas 2.998.206 pessoas (cobertura
motivos da não-adesão. A iniciativa própria e os vacinal de 81,26%) e apenas 36 municípios não
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Campanha Estadual de Vacinação do Idoso (pessoas com 60 anos
atingiram a meta de vacinar 70% das pessoas com ou mais), cobertura vacinal e homogeneidade, 1999-2007
60 anos ou mais (homogeneidade de 94,41%). O
Cobertura
Grupo de Vigilância Epidemiológica X – Osasco e Ano População Doses aplicadas
vacinal
Municípios <70%
XXIII – Registro alcançaram as maiores coberturas
vacinais, respectivamente 94,53% e 92,31%. Todos 1999* 1.937.783 1.628.466 84,04 84
os GVEs alcançaram a homogeneidade de pelo 2000 2.974.804 1.901.796 63,93 329
menos 70%.
Além da divulgação nos meios de comunicação 2001 3.364.622 224.059 66,61 306
dos benefícios da vacinação, os esclarecimentos 2002 3.409.103 2.234.970 65,56 248
sobre os principais mitos em relação à vacina contra
influenza, a ação integrada com as equipes de saúde 2003 3.451.858 2.575.241 74,60 81
das Regionais e dos municípios, incluindo a realiza- 2004 3.494.555 2.727.952 78,06 39
ção de “cafés da manhã”, bingos, participação nos
“bailes da saudade” e sorteio de presentes, são 2005 3.591.383 2.792.380 77,75 53
iniciativas fundamentais para que o Estado de São 2006 3.640.716 2.920.479 80,22 37
Paulo continue vacinando cada vez mais a população * Pessoas vacinadas com 65 anos ou mais
com 60 anos ou mais. Fonte:API/Divisão de imunização/CVE/CCD/SES-SP
Correspondência/Correspondence to:
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