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BEPA
Volume 9 Número 97 janeiro/2012
97
Boletim Epidemiológico Paulista
BEPA ISSN 1806-423-X
Volume 9 Nº 97 janeiro de 2012
Nesta edição
Editorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
Avaliação do sistema de vigilância das meningites no município de São Paulo, com ênfase
para doença meningocócica
Evaluation of meningitis surveillance system in São Paulo, with emphasis on
meningococcal disease. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
Pensando o futuro nas ações presentes de promoção da saúde: uma reflexão para ação
Relato da síntese final do III Fórum de Promoção da Saúde*
Thinking about the future in the current actions for health promotion: a reflection for action
Final report of the 3rd Health Promotion Forum . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
CCD
COORDENADORIA DE
Editor Executivo
Clelia Maria Sarmento Souza Aranda
Editores Associados
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Os artigos publicados são de Adriana Bugno – IAL/CCD/SES-SP Cecília S. S. Abdalla
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É permitida a reprodução parcial Cristiano Corrêa de Azevedo Marques – IB/SES-SP
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Zilda M Souza – Nive/CVE/CCD/SES-SP
EDITORIAL
O BEPA. Boletim Epidemiológico Paulista, em 2012 inicia o 9º
ano de edição de uma revista que já pode ser considerada longeva. Em
sua concepção inicial, o BEPA foi inspirado no modelo editorial do
MMWR, editado pelo Centers for Disease Control and Prevention dos
Estados Unidos. Ao longo desses anos a publicação vem trilhando o
caminho do aprimoramento e se destacando pela conservação da
periodicidade mensal, opção desafiadora para qualquer equipe de
edição de um periódico.
A Coordenadoria de Controle de Doenças (CCD) destaca nesta
edição as novas Instruções aos Autores, com a ampliação do escopo de
categorias de artigos, para que um maior número de autores possa
encaminhar seus trabalhos e assim participar da construção do conteúdo
do BEPA.
Convidamos a todos a contribuir com nossa publicação,
trazendo-nos sua produção técnico-científica, notícias e relatos de
eventos para que as experiências possam ser compartilhadas e
divulgadas. Nossa equipe editorial está disponível para ajudar os autores
nesse processo, aliada aos nossos revisores, cuja inestimável
contribuição agradecemos por ser imprescindível para a manutenção da
qualidade do material que publicamos.
É oportuno que reafirmemos o caráter paulista do BEPA. Essa é a
publicação da Secretaria de Estado da Saúde, produzida pela CCD e
voltada à vigilância em saúde de São Paulo, cujos dados, análises e
informações contribuem também com outros estados e municípios da
federação no aperfeiçoamento do SUS.
Marcos Boulos
Coordenador de Controle de Doenças
Editor
Editorial
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Artigo original
RESUMO
As meningites têm distribuição mundial e sua epidemiologia depende de fatores
como: agente etiológico, aglomerados populacionais e faixa etária acometida.
Realizou-se a avaliação do Sistema de Vigilância das Meningites no município
de São Paulo nos anos de 2006 e 2008, com ênfase para a doença meningocócica,
preconizando a notificação e a investigação. A metodologia seguiu as
recomendações do Updated Guidelines for Evaluating Public Health
Surveillance Systems Recommendations from the Guidelines Working
Group/CCD e do roteiro para avaliação da Qualidade da Base de Dados do
SINAN. Para a descrição da vigilância das meningites foram entrevistados
técnicos responsáveis pela Vigilância das Meningites: do Centro de Vigilância
Epidemiológica “Prof Alexandre Vranjac”, das supervisões de vigilância em
saúde/SUVIS/SMS/SP e dos núcleos de epidemiologia hospitalar. Os dados
secundários foram obtidos a partir do SINAN com seleção de pacientes
residentes e atendidos no município de São Paulo em 2006 e 2008, segundo a
data de início dos sintomas. O presente estudo mostrou que os núcleos de
vigilância epidemiológica hospitalar são úteis para desencadear as medidas de
prevenção e controle e que o SINAN é uma ferramenta importante na geração
de informações. No entanto, faz-se necessário reconhecer suas limitações e
aperfeiçoar esse instrumento. No município de São Paulo a vigilância das
meningites mostrou-se complexa, aceita pelos técnicos, oportuna em relação à
investigação, inoportuna quanto a quimioprofilaxia e útil diante os objetivos
do sistema.
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ABSTRACT
Meningitis has a worldwide distribution and its epidemiology depends on several
factors such as: the etiologic agent, the settlements and the age group. We
conducted the assessment of Meningitis Surveillance System in São Paulo in
2006 and 2008, with emphasis on meningococcal disease reporting and
investigation. The methodology followed the recommendations of the Updated
Guidelines for Evaluating Public Health Surveillance Systems
Recommendations from the Guidelines Working Group / CCD and the roadmap
for assessing the quality of SINAN Database. To describe meningitis
surveillance we interviewed technicians from the Epidemiological Surveillance
Center Alexandre Vranjac, the Controller of Health Surveillance/SUVIS/SMS/SP
and the Hospital Epidemiological Surveillance Unit. Secondary data were
obtained from the SINAN with selection of patients residing in São Paulo in 2006
and 2008, according to the date of symptoms onset. The present study showed
that Hospital Epidemiological Surveillance Units are useful for initiating
Meningitides prevention and control and that the SINAN is an important tool in
generating information, however, it is necessary to recognize its limitations and
improve it. In São Paulo the surveillance of meningitis proved to be complex,
accepted by the technicians, timely in relation to investigation, inappropriately
timely to chemoprophylaxis and useful for the system purpose.
INTRODUÇÃO
As meningites têm distribuição mundial e diferenciação do agente em sorogrupos. Até o
sua expressão epidemiológica depende de momento, são conhecidos 13 sorogrupos e dentre
fatores como: agente etiológico, aglomerados estes, os principais causadores de doença são: A,
populacionais e faixa etária acometida. A B, C, W135 e Y. No Brasil, a partir de 2000, houve
notificação é imediata a simples suspeita devido diminuição proporcional do sorogrupo B e
a sua morbimortalidade.1-3 aumento progressivo do sorogrupo C.4-6,1,3
O agente etiológico da doença meningocócica A transmissão da N. meningitidis ocorre
é a Neisseria meningitidis: diplococo, intracelu- enquanto o agente estiver presente na nasofaringe
lar, aeróbio, imóvel, negativo a coloração pelo e a infecção se inicia após invasão da mucosa e
método de Gram e com polissacarídeos capsula- disseminação pela corrente sanguínea. Usual-
res responsáveis pelo mecanismo de virulência e mente, o portador sadio é um adulto, sendo este o
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UNIDADES
DE SAÚDE
Variáveis essenciais não obrigatórias
*Supervisões de Vigilância em Saúde
Figura 1. Componentes do Sistema de Vigilância das Meningites no Investigação: sinais e sintomas, internação,
município de São Paulo
classificação final, evolução do caso, punção
lombar, contato compatível com caso de meningi-
Identificação de duplicidades
te, data de internação, data punção lombar, data do
A identificação das duplicidades ocorreu a
encerramento, número de comunicantes, caso
partir das seguintes variáveis: número de
secundário, se confirmado especifique, critério de
notificação no SINAN, nome do paciente,
confirmação, e para doença meningocócica a
nome da mãe, data de nascimento, sexo, data de
determinação do sorogrupo.
início dos primeiros sintomas, data de notifica-
ção, local de atendimento e município de
residência. Utilizou-se a notificação com o Atributos qualitativos
maior número de informações. Simplicidade
A) Descrever as fichas de notificação
Completitude das variáveis obrigatórias e compulsória das meningites em
essenciais e das variáveis essenciais não relação às variáveis necessárias para
obrigatórias a confirmação diagnóstica e definição
Entre todos os casos notificados foi verificada do agente etiológico, com ênfase para
a proporção de preenchimento das variáveis os anos de 2006 e 2008.
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Aceitabilidade Oportunidade
Cada item utilizado para avaliação deste Oportunidade de internação
atributo foi categorizado em adequado e inade- Para esta descrição utilizou-se o período entre
quado, conforme descrito abaixo: a data de início dos sintomas e a data de interna-
1. Oportunidade de Notificação: (período ção. A internação foi oportuna quando ocorreu em
entre a data de internação e a data de até 24 horas. Este item foi avaliado apenas para a
notificação) a notificação foi oportuna doença meningocócica.
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Simplicidade
Dados essenciais e obrigatórios e dados A notificação das meningites deve ser
essenciais e não obrigatórios imediata, mas apenas os seguintes agentes
A completitude das variáveis referentes aos etiológicos: N. meningitidis e H. influenzae são
campos chave, notificação e investigação foi passíveis de medidas de prevenção e ou contro-
excelente, como representado na Tabela 1. le. Estas ações, no entanto, têm particularidades
Os dados referentes à investigação apresenta- relacionadas a cada um dos agentes etiológicos
ram uma completitude variando entre ausência de implicados.
preenchimento, no campo caso secundário, bom A operacionalização do sistema necessita do
para o campo número de comunicantes e excelen- envolvimento de profissionais capacitados para
te para os demais campos (variáveis). A distribui- cada uma dessas atividades, tanto no município
ção das variáveis essenciais e não obrigatórias em quanto no estado e esfera federal. Sendo assim,
relação à completitude está representada na é necessário um grande número de profissionais
Tabela 2. qualificados para vigiar este agravo.
Tabela 1. Completitude das variáveis essenciais e obrigatórias para os casos notificados de meningites entre os pacientes residentes
e atendidos no município de São Paulo, 2006 e 2008.
2006 2008
Notificação Excelente
Agravo/doença 100,0 100,0
Data de nascimento 100,0 100,0
Data dos primeiros sintomas 100,0 100,0
Nome do paciente 100,0 100,0
Sexo 100,0 100,0
Município de residência 100,0 100,0
Investigação Excelente
Data da investigação 100,0 100,0
Realização de quimioprofilaxia 90,4 91,5
Vacinação de bloqueio 98,2 *
*Variável ausente da ficha de notificação
Fonte: SINAN/DDTR/CVE/CCD/SES-SP (Dados acessados: 06/2009 e 02/2010)
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Tabela 2. Completitude das variáveis essenciais e não obrigatórias para os casos notificados de
meningites entre pacientes residentes e atendidos no município de São Paulo, 2006 e 2008.
A ficha individual de investigação SINAN não deixa claro quais e quantos sinais e sintomas
Windows 2006 é composta por 72 campos, são necessários para que um caso seja considera-
enquanto para a ficha utilizada no sistema do suspeito.
SINAN NET 2008 é composta de 60 campos. No Para definição de caso confirmado(1) são
sistema SINAN NET foram excluídos os utilizados diferentes critérios para confirmação de
campos referentes: aos métodos de diagnóstico cada etiologia. Para a doença meningocócica são
laboratorial, à caracterização da doença menin- possíveis as confirmações por: critério laboratori-
gocócica em relação ao sorotipo e subtipo, aos al (cultura, CIE, Aglutinação pelo Látex, Bacteri-
antibióticos utilizados, à vacinação de bloqueio, oscopia, PCR), clínico e clínico epidemiológico).
às informações de notificação atual. Apenas o Para a investigação é necessário realizar visita
campo data de evolução dos casos foi incluído. domiciliar e quando indicado, como no caso da
Na ficha de notificação SINAN Windows a doença meningocócica, identificar contatos
variável data de óbito consta no dicionário de próximos e elegíveis para quimioprofilaxia.
dados como data de evolução. Na evidencia da presença de surto, avaliar a
A definição de caso suspeito de meningite indicação da vacinação de bloqueio e organizar as
presente na ficha de investigação e no guia de medidas necessárias para a condução desta
vigilância epidemiológica1 é muito sensível e estratégia adicional de controle.
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Tabela 3. Distribuição dos agentes etiológicos entre os casos confirmados de meningites para os residentes e atendidos no município de
São Paulo, 2006 e 2008.
Casos confirmados
2006 2008
responsável por 35% a 40% dos casos confirma- Em relação ao gênero 228/409(55,7%) em
dos desta doença no estado. 2006 e 284/501(56,7%) em 2008 eram do sexo
Foram encontrados para os anos de 2006 e masculino. Os sintomas mais encontrados em
2008, 173/409(42%) e 293/501(59%) de casos todas as idades foram: febre, relatada em 90%
confirmados da doença meningocócica com dos casos, seguida, de vômitos e petéquias
sorogrupo definido. Destes 132(32%) e 224(45%) referidos em mais de 60% dos casos.
correspondem ao sorogrupo C. Seguido do Nos Quadros 2 e 3 estão descritos os
sorogrupo B com 24(5,9%) e 28(5,5%) dos casos coeficientes de incidência e a letalidade por
confirmados nos anos estudados. Supervisão de Vigilância em Saúde para os
A mediana de idade dos casos confirmados de anos de 2006 e 2008.
doença meningocócica, para o município de São
Paulo em 2006 e 2008 foi, respectivamente, Oportunidade
cinco e sete anos de idade, variando entre
menores de um ano até 91 e 87 anos.
Oportunidade de internação
No município de São Paulo, a faixa etária
mais acometida foram os menores de um ano, Em 2006, a internação para doença meningo-
com coeficientes de incidência de 31,2 e 35,4 cócica foi oportuna em 257(62,8%) casos e em
casos por 100.000 habitantes para 2006 e 2008, 308(61,5%) dos casos em 2008.
respectivamente. Em 2008, o tempo médio de internação
Os coeficientes de incidência e a taxa de hospitalar foi de nove dias, variando entre menos
mortalidade por faixa etária entre residentes e de 24 horas e 70 dias. Esta avaliação não foi
atendidos no município de São Paulo nos anos possível para 2006, pois a variável data de
de 2006 e 2008 estão representados respectiva- evolução, necessária para esta avaliação não era
mente nas Figuras 2 e 3. utilizada neste período.
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2006 2008
70
60
50
40
30
20
10
0
= 1 ano 2a4 5a9 10 a 14 15 a 19 20 a 39 40 anos
anos anos anos anos anos e mais
Fonte: SINAN/DDTR/CVE/CCD/SES-SP. Dados extraídos em 06/2009 e 02/2010 Projeção populacional (2006 e 2008) Fundação
SEADE.População menor de um ano para 2006 e 2008 - DATAUS Informações Sócio Demográficas, acessado em: setembro/2010.
Figura 2. Coeficiente de incidência de doença meningocócica por 100.000 habitantes/ano por faixa etária,
entre residentes e atendidos no município de São Paulo nos anos de 2006 e 2008
2006 2008
16
14
12
10
0
2a4 5a9 10 a 14 15 a 19 20 a 39 40 anos
= 1 ano anos anos anos anos anos e mais
Fonte: SINAN / DDTR / CVE / CCD / SES-SP. Dados extraídos em 06/2009 e 02/2010 Projeção populacional (2006 e 2008)
Fundação SEADE.DATASUS, acessado em: 09/2010
Figura 3. Taxa de mortalidade (100.000 habitantes/ano) de doença meningocócica segundo faixa etária,
entre os pacientes residentes e atendidos no município de São Paulo nos anos de 2006 e 2008
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Quadro 2. Distribuição dos casos confirmados de doença meningocócica, segundo coeficiente de incidência, óbitos e letalidade, por
Supervisão Técnica de Saúde (SUVIS) em residentes e atendidos no município de São Paulo no ano de 2006.
Sé 14 3,9 4 28,57%
Butantã 23 6 3 13%
Cachoeirinha 5 1,5 0 0
Freguesia do Ó 9 2,2 0 0
Guaianazes 9 3,1 0 0
Itaquera 24 4,6 0 0
Lapa/Pinheiros 15 2,8 0 0
Parelheiros 11 7,9 0 0
Penha 22 3,9 0 0
Sem informação 11 0
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Quadro 3. Distribuição dos casos confirmados de doença meningocócica, segundo coeficiente de incidência, óbitos e letalidade,
por Supervisão de Vigilância em Saúde (SUVIS) em residentes e atendidos no município de São Paulo no ano de 2008.
Sé 17 4,8 2 11,76%
Sem informação 8 2
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SINAN NET instalado conseguem visualizar a citado quando comparado as outras vacinas.
base de dados simultaneamente, aumentando a Imunização prévia com a vacina conjugada
oportunidade de realização das medidas de meningo C, foi referida em 1,5 e 3,9% dos
10,13
prevenção e controle. casos de meningites notificados, entre os
Nas supervisões de vigilância em saúde residentes e atendidos no município de São
observamos que o técnico responsável pelas Paulo. No período estudado este imunobiológi-
meningites realiza a avaliação e o encaminhamen- co não estava disponível na rotina. As vacinas
to das fichas de notificações conforme fluxos antimeningocócicas podem ser polissacarídi-
descritos e também realizam a digitação dos dados cas ou conjugadas. No Brasil a vacina polissa-
no SINAN. Este técnico geralmente é um médico carídica A/C é utilizada para o controle de
ou enfermeiro. surtos. A vacina conjugada contra o meningo-
coco do sorogrupo C está indicada na preven-
Entre as atribuições da vigilância epidemioló-
ção da infecção invasiva em crianças acima de
gica em esfera municipal estão: a análise e
dois meses e, também, em situações de surto. O
acompanhamento do comportamento epidemio-
lógico das DNC e outros agravos, investigação Brasil incluiu este imunobiológico no calendá-
4
epidemiológica, organização dos serviços com rio vacinal em setembro de 2010.
definição de padrões de qualidade para a assistên- O Sistema de Vigilância das Meningites foi
cia, e ainda a implantação, o gerenciamento e a considerado complexo e isto se deve principal-
14
operacionalização dos sistemas de informação. mente às características do próprio agravo. Entre
No município de São Paulo a qualidade dos os fatores que caracterizam esta complexidade
dados foi excelente em relação ao preenchimento foram destacados: a necessidade de treinamen-
das variáveis essenciais e obrigatórias. Para as tos,capacitação constantes para os profissionais
variáveis essenciais e não obrigatórias (investiga- envolvidos, a presença de múltiplos campos na
ção) a completitude variou entre ruim e boa para o ficha de notificação/investigação do SINAN, a
campo referente ao número de comunicantes e alta sensibilidade da definição de caso, a existên-
não houve preenchimento do campo referente à cia de vários critérios de confirmação de casos e a
variável caso secundário, limitando a geração de operacionalização das medidas de controle.
informações a partir destes dados. No caso da doença meningocócica, a comple-
Entre as variáveis referentes aos antecedentes xidade é ainda maior considerando a necessida-
epidemiológicos, a vacinação apresentou uma de de investigar contatos e a indicação criteriosa
completitude ruim. De acordo com os técnicos da quimioprofilaxia. Para este agravo é necessá-
entrevistados, uma das hipóteses para essa rio ainda avaliar e monitorar a ocorrência de
situação refere-se ao fato do paciente não levar a surtos com o intuito de indicar as medidas de
carteira de imunização para a consulta hospitalar e controle cabíveis.
outra possibilidade seria a baixa valorização deste As oportunidades de internação e quimioprofi-
dado pelo profissional que realiza a investigação laxia ocorreram em apenas metade dos casos, já
epidemiológica. para a oportunidade de investigação e encerra-
Quando este campo foi preenchido verifi- mento a adequação foi observada em praticamen-
cou-se que a BCG foi o imunobiológico mais te 100% das notificações de meningites no
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município de São Paulo, embora tenha ocorrido anos e, entre estes, predominantemente nos
15-17,8,9
diminuição proporcional dos casos notificados e lactentes.
encerrados em até 60 dias. Entre os sinais e sintomas a febre foi o sinal mais
A maioria dos casos notificados foi confirma- frequente em todas as faixas etárias, seguido de
da. Nesta situação duas hipóteses são possíveis: os vômitos, petéquias e rigidez de nuca. Para os
pacientes chegam ao hospital com quadro clinico maiores de um ano a cefaléia foi o sintoma clinico
muito sugestivo de meningite ou a notificação predominante, após a febre e os vômitos, conforme
18
ocorre após a confirmação do caso. A definição de descrito por outros autores.
caso é muito sensível, ou seja, pouco especifica e, A doença meningocócica apresenta-se atual-
portanto seria esperado um maior número de
mente em níveis endêmicos no estado de São Paulo
notificações em relação ao caso confirmado.
e apresenta tendência semelhante à descrita na
Ainda em relação ao SINAN as principais literatura com aumento do número absoluto de
limitações apontadas foram: perda de dados casos nos meses de inverno, oscilando na primavera
durante o fluxo dos lotes entre as diferentes e com declínio no verão.
19,9,15
REFERÊNCIAS
1. Ministério da Saúde. Meningites. Secretaria doenças de notificação imediata, relação dos
de Vigilância em Saúde. Guia de Vigilância resultados laboratoriais que devem ser
Epidemiológica. Brasília (DF); 2005;541-69. notificados pelos Laboratórios de Referência
2. Ministério da Saúde. Portaria nº 5, de 21 de Nacional ou Regional e normas para
fevereiro de 2006. Inclui doenças na relação notificação de casos. Diário Oficial da
nacional de notificação compulsória, define União. 22 fev 2006; Seção 1:34.
Sistema de vigilância das meningites no município de São Paulo, com ênfase para doença meningocócica/Figueira GCN et al.
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Correspondência/correspondence to:
Gerrita de Cassia N. FigueiraI –Suvis
Av. Dr. Arnaldo, 351, 6º andar – CEP: 01246-000, São Paulo, SP, Brasil
Tel.:/Fax: 55 11 3066-8757 – E-mail: gerritasiqueira@cassi.com.br
Sistema de vigilância das meningites no município de São Paulo, com ênfase para doença meningocócica/Figueira GCN et al.
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BEPA 2012;9(97):26-35
Informe técnico
INTRODUÇÃO
A coqueluche, também conhecida como tosse 3) Fase de convalescença – persiste por duas
comprida ou tosse espasmódica, é uma doença a seis semanas e, em alguns casos, pode
infecciosa aguda do trato respiratório inferior, prolongar-se por até três meses. Infecções
causada pela bactéria Bordetella pertussis. respiratórias de outra natureza, que se
Altamente contagiosa, pode acometer pessoas de instalam durante a convalescença da
qualquer faixa etária. Entretanto, os mais acometi- coqueluche, podem provocar o
dos pela doença são lactentes e crianças menores, ressurgimento transitório dos paroxismos.
pois tendem a apresentar quadros com maior Diversos agentes etiológicos podem determi-
gravidade e complicações.1-5 nar apresentação clínica semelhante, conhecida
A transmissão ocorre pelo contato direto com por “síndrome pertussis” ou “doenças coquelu-
indivíduos sintomáticos, por meio de secreções do chóides”, como a Bordetella parapertussis, vírus
trato respiratório - gotículas de secreção elimina- sincicial respiratório, os adenovírus, o hemófilo, o
das por tosse, espirro ou durante a fala. Em geral, Mycoplasma pneumoniae, Chlamydia trachoma-
7,3,6
crianças maiores ou adultos introduzem a doença tis e Chlamydia pneumoniae.
na família e podem manifestar o quadro clínico Nos países desenvolvidos, a despeito das altas
clássico da doença ou formas mais leves e até coberturas vacinais, a doença tem reaparecido em
mesmo atípicas, levando a um tratamento tardio e todas as idades. Essa situação suscitou a indicação
muitas vezes incompleto. Os primeiros sintomas de um reforço com a vacina acelular em adoles-
geralmente aparecem de 7-10 dias após a infec- centes e adultos nestes países. No Brasil, não há
6,1,4
ção, e os sinais e sintomas variam com a idade, dados suficientes que comprovem a emergência
condição vacinal e tempo decorrido desde a da coqueluche nestas faixas etárias; no entanto,
última dose da vacina. essa coorte de suscetíveis oligossintomáticos
A doença evolui em três fases consecutivas.
1,2,6
pode ser a fonte de infecção para crianças menores
8
ou para os incompletamente vacinados.
1) Fase catarral: possui duração de uma ou
duas semanas e manifestações respiratóri-
as iniciais acompanhadas de sintomas Cenário global
leves caracterizadas por: febre pouco A coqueluche é uma doença de distribuição
intensa, mal-estar geral, coriza e tosse universal, com ciclos hiperendêmicos a cada três
seca. ou cinco anos. A Organização Mundial da Saúde
2) Fase paroxística – geralmente afebril ou (OMS) estima a ocorrência de 50 milhões de
com febre baixa. Caracteriza-se por crise casos e 300 mil óbitos por ano. Atualmente, a
com tosse súbita, rápida e curta. coqueluche ocupa o quinto lugar dentre as causas
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Fonte: Prepared by the California Department of Public Health, Immunization Branch. 2011.
Figura 1. Distribuição dos números casos de coqueluche e internações na Califórnia (EUA), 2010-2011*
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Em Ohio (EUA), houve 964 casos notificados Este número caiu abruptamente a partir de 1983,
dos quais 605 foram confirmados durante o ano de mantendo, desde então, tendência decrescente.
2010. Foi o maior número de casos nos últimos 25 Em 2008, o número de casos confirmados foi de
anos. No mesmo ano, 7% de todos os casos foi 1.344 casos/ano e o coeficiente de incidência (CI)
1
relatado entre os lactentes com menos de seis foi de 0,71 /100.000 habitantes.
meses de idade e vacinação incompleta. Tais Até a 32ª semana epidemiológica de 2011,
crianças foram responsáveis por 78% dos casos foram notificados 1.975 e confirmados 583
hospitalizados. Já em 2011, foram notificados 144 casos/ano de coqueluche no país, dos quais 76,3%
casos da doença com 105 casos confirmados.14,15,10 (445/583) em crianças menores de um ano, sendo
Em julho de 2011, registrou-se a ocorrência de 88,3% (393/445) dos casos em crianças menores
um surto de coqueluche na Argentina contabili- de seis meses. Quanto ao sexo, 56,4% (329/583)
zando 2.048 casos suspeitos da doença e 220 casos pertencia ao sexo feminino; 87,1% (508/583) dos
confirmados até a 31ª Semana Epidemiológica casos ocorreu em zona urbana. Registrou-se 69%
(SE). A maior proporção de casos foi confirmada (402) de internações e o coeficiente de incidência
laboratorialmente e ocorreu entre a segunda e foi de 0,3/100 mil habitantes.18
décima primeira SE. A distribuição dos casos por O número absoluto desses casos notificados
faixa etária concentrou-se em crianças com menos foi maior no estado de São Paulo com 815 casos
de seis meses, sendo os menores de dois meses notificados, seguidos dos seguintes estados: Rio
responsáveis por 40,37% das notificações.16 Grande do Sul com 201 casos, Bahia com 147
casos e Pernambuco com 108 casos. A incidên-
cia dos casos de coqueluche foi maior na região
Brasil
sudeste com 0,5/100 mil habitantes e 0,2/100
No calendário vacinal do Programa Nacional
mil habitantes nos estados de São Paulo e Rio de
de Imunização (PNI) a vacina coqueluche é Janeiro, respectivamente. A região nordeste foi a
aplicada para as crianças até seis anos de idade. A segunda região do Brasil com a maior incidência
primeira dose aos dois, a segunda aos quatro e a de casos da doença com 0,7/100 mil habitantes
terceira aos seis meses de idade, utilizando-se a no estado de Alagoas (Tabela 1). Como critério
vacina combinada DTP+Hib (Haemophilus de confirmação, 45% (265/583) obteve confir-
influenzae tipo b) e dois reforços, um aos 15 meses mação laboratorial por cultura. Quanto à
e o outro entre os quatro e seis anos de idade, evolução dos casos, 82% (478) apresentou
17,1,6
aplicando-se vacina DTP. resolução satisfatória.
18
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MG 25 0,1
ES 4 0,1
RJ 30 0,2
SP 219 0,5
PR 32 0,3
SC 9 0,1
RS 53 0,5
MS 4 0,2
MT 0 0,0
GO 2 0,0
DF 17 0,7
Total 583 0,3
*Dados provisórios, até setembro de 2011.
Fonte: SINANNet/URI/CGDT/DEVEP/SVS/MS População/100.000-IBGE/
DATASUS, 2011*
Em 2011, ocorreu um surto, também, no confirmação do surto foi 45% (9/20) laboratorial-
estado de Alagoas, no município de Jaramataia, mente e 11,1% (1/9) por meio de cultura.18
onde foram notificados 41 casos suspeitos e 20 Em agosto do mesmo ano, foi confirmado um
foram confirmados (48,8%). Dentre estes, 70% surto da doença em Feira de Santana, na Bahia,
(14/20) dos casos notificados era do sexo masculi- com 82 casos suspeitos e, destes, 47 foram
no e 50% (10/20) da faixa etária dos casos estava confirmados. O agravante é que desde o ano 2000,
entre um e seis anos de idade, com média de seis apenas eram registrados casos esporádicos da
19
anos e intervalo de quatro meses e 32 anos. A doença na cidade.
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Número de casos confirmados
30
25
20
15
10
5
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
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90 60,0
80
50,0
70
% de casos confirmados
Número de casos suspeitos
60 40,0
50
30,0
40
30 20,0
20
10,0
10
0 0,0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43
Semana Epidemiológica
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Como critério de confirmação, 83,5% proteção contra a doença, a geração das princi-
(377/451) dos casos foi confirmado laboratorial- pais fontes de infecção para os bebes.20,22,24,9
mente, (Figura 4), demonstrando-se um percen- No estado de São Paulo, no período de 2.000 a
tual progressivamente ascendente nos últimos 2.011 (dados provisórios até outubro/2011),
anos. Quanto à evolução, 75,8% (342/451) observa-se que a cobertura vacinal nos menores
evoluiu para cura. de um ano de idade, foram elevadas, variando
Entende-se que a vacinação é uma estratégia entre 93,57% a 100,78%.
efetiva e eficiente de prevenção e controle da Enquanto que nas regiões onde as coberturas
coqueluche, porém a imunidade não é permanente vacinais são baixas, cujas crianças não receberam
e dura em média cinco a 10 anos. A proteção cai as doses de reforço indicadas no segundo ano de
gradualmente com o passar do tempo, sendo cerca vida e na idade pré-escolar (quatro a seis anos), a
de 85% após quatro anos, chegando cerca de 50% maioria dos casos ainda é registrada na população
nos três anos seguintes e após 10 anos já é mais infantil, o principal reservatório da bactéria.
21,20,22,24
1,5,17
reduzida.
Em populações aglomeradas, condição que
Nos locais onde as coberturas vacinais são facilita a transmissão, a incidência da coquelu-
elevadas, a doença afeta principalmente che pode ser maior na primavera e no verão;
adolescentes, adultos jovens e lactentes não porém em populações dispersas, nem sempre
vacinados ou com esquema vacinal incomple- se observa essa sazonalidade. Não existe uma
to. Acredita-se que o principal motivo para distribuição geográfica preferencial nem
permanência da circulação da bactéria se deva característica individual que predisponha à
à redução dos títulos de anticorpos protetores doença, a não ser presença ou ausência de
contra coqueluche cinco a dez anos após imunidade específica. Entretanto, nos últimos
infecção natural ou da última dose da vacina anos, surtos de coqueluche vêm sendo registra-
coqueluche. E consequentemente, à queda na dos em populações com baixa cobertura
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
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REFERÊNCIAS
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The role of adults in household outbreaks of months-ACIP. MMWR. 2011;60:1424-6.
Correspondência/Correspondence to:
Divisão de Doenças de Transmissão Respiratória
Av. Dr. Arnaldo, 351 – 6º andar
CEP: 01246-000 – Pacaembu, São Paulo/SP, Brasil
Tel: 55 11 3066-8757
E-mail: dvresp@saude.sp.gov.br
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Relato de encontro
Pensando o futuro nas ações presentes de promoção da saúde: uma reflexão para ação
Relato da síntese final do III Fórum de Promoção da Saúde*
Thinking about the future in the current actions for health promotion: a reflection for action
rd
Final report of the 3 Health Promotion Forum
Anna Maria Chiesa
Departamento de Saúde Coletiva da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo/SP, Brasil
O III Fórum de Promoção da Saúde* foi ram à tona a riqueza de possibilidades advindas
°
realizado como parte do 12 Congresso Paulista de da operacionalização da PS na realidade
Saúde Pública objetivando instrumentalizar e concreta, muito embora também tenham
estimular os profissionais de saúde do Sistema explicitado a dificuldade de incorporação das
Único de Saúde (SUS) e instituições parceiras, ações de PS de forma articulada com as demais
nas ações de Promoção da Saúde (PS). ações programáticas. Destacam-se dentre as
experiências exitosas a potência das parcerias
As apresentações centraram-se nos seguintes
estabelecidas com organizações do terceiro
eixos temáticos: desenvolvimento de ações de PS
setor, seja na promoção da atividade física ou na
nas diferentes esferas de governo; capacitação e
cessação do tabagismo.
formação em PS; e experiências exitosas em PS.
Tendo em vista o desafio de discutir o futuro
Desde a proposição da Política Nacional de
das ações de Promoção da Saúde, há que se
Promoção da Saúde (PNPS) em 2006 é possível
aprofundar a reflexão sobre o patrimônio já
identificar inúmeros avanços em termos da
existente, buscando superar uma tradição acadê-
estruturação de ações específicas, com respectivo
mica de iniciar um diagnóstico a partir das
financiamento para os municípios, sobretudo
lacunas. Neste sentido, é fundamental destacar os
àquelas relacionadas mais diretamente aos
seguintes elementos:
condicionantes das doenças cardiovasculares. O
Plano Estadual de Saúde de São Paulo explicita a •Evidências científicas: é grande o
importância da PS principalmente nas ações da conhecimento acumulado sobre a relação
Vigilância em Saúde das Doenças e Agravos não dos modos de vida e o processo saúde
Tranmissíveis (DANT), além das ações da atenção doença nos indivíduos
básica. e grupos sociais. Não estamos abordando
uma área pouco conhecida.
No tocante à formação, foram debatidos os
desafios inerentes à complexidade que a temática •Experiências exitosas: as cinco relatadas
da PS abarca bem como à necessidade de incorpo- indicam a importância de sua sustentação
ração de tecnologias de ensino à distância para e ampliação. O papel indutor da PNPS
atender ao grande número de profissionais que encontra eco na realidade concreta e a
não detém os conhecimentos necessários para população adere e participa.
operacionalizar a PS em sua amplitude. •Marco legal: a PNPS pode apoiar o
As cinco experiências apresentadas trouxe- processo de adaptação de fortalecimento
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pois deve ocorrer tanto na assistência Sabe-se que tais instrumentos são mais
individual, ao contemplar as dimensões voltados para a identificação de distúrbios
física, emocional, espiritual dos usuários; físicos (patologias), do que para
como na organização dos serviços, ao compreender outras dimensões
garantir acesso e resolubilidade nos envolvidas no processo saúde-doença, tais
diferentes níveis de complexidade do como as sociais, familiares e subjetivas.
sistema de saúde.1 Operacionalizar a Portanto, há que se resgatar o papel da
PNPS implica ampliar o olhar dos dimensão clínica para a operacionalização
profissionais no sentido do fortalecimento da PS. As experiências têm se dado muito
dos potenciais de saúde dos indivíduos e mais no eixo da Vigilância, o que já é
grupos. O que significa não se restringir muito significativo, mas resta agora
aos tratamentos das doenças e problemas buscar articulação com as áreas
manifestados e sim desenvolver projetos programáticas para construir uma linha
terapêuticos que reconheçam a qualidade de cuidado.
de vida como meta de saúde a ser •Finalmente, é preciso reconhecer que as
alcançada. A Promoção da Saúde, como práticas de Promoção da Saúde são
campo de conhecimentos e práticas, complexas, diversas e muito abrangentes.
define a qualidade de vida como Extrapolam, em muito, o setor saúde. É
resultante de adequada compreensão das preciso construir alianças com outros
necessidades humanas, materiais e
setores nos territórios de atuação, para
espirituais.2,3 Uma das dificuldades que a
ampliar a potencia das ações. Um
operacionalização da PNPS encontra é a
exemplo nesta direção é a oportunidade
falta de compreensão dos profissionais de
que se coloca atualmente de implantação
saúde em relação ao conceito de
da rede de centros de Referência de
promoção da saúde. Estudos4-6 têm
Assistência Social (CRAS) como
apontado que os profissionais têm
desdobramento do Sistema Único de
entendimento superficial deste conceito e
Assistência Social (SUAS). Ações de
muitas vezes, reduzem-no à prevenção de
mobilização social para modificação dos
doenças e agravos instalados no corpo
condicionantes de saúde e de atuação
físico. É comum que os profissionais
junto a famílias de maior vulnerabilidade
dicotomizem ações de promoção e ações
social podem ser elaboradas em conjunto,
curativas. Isto prejudica a incorporação da
com mais chances de obter sucesso.
dimensão da PNPS nas práticas
profissionais e nos serviços de saúde. Um A síntese aqui exposta visou ressaltar os
aspecto que pode explicar essa aspectos positivos das práticas já em andamento,
dificuldade dos profissionais de saúde em destacando-se as diferentes dimensões que
compreender e aplicar o conceito de subsidiam os processos. O campo da PS é amplo
promoção da saúde no seu cotidiano e complexo e há que se avançar no melhor deta-
refere-se à limitação dos instrumentos e lhamento das possíveis contribuições a partir
protocolos clínicos atualmente em uso. das diferentes inserções nos serviços de saúde e
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REFERÊNCIAS
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de Vigilância em Saúde. Secretaria São Paulo. Escola de Enfermagem da USP.
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4. Ávila LK. A promoção da saúde na Rev. Latino-Am. Enfermagem, Junho 2008,
organização das ações de enfermagem em 16(3):419-24.
Correspondência/Correspondence to:
Departamento de Saúde Coletiva da EEUSP
Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, nº 419, 2º andar
CEP: 05403-000 – Cerqueira César – São Paulo/SP – Brasil
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Extensão máxima: 6.000 palavras; Resumo 7. Informe técnico – Texto institucional que
(Abstratct) de até 250 palavras; entre 3 e 6 pala- tem por objetivo definir procedimentos, condutas
vras-chave (key words); sem limite de referênci- e normas técnicas das ações e atividades desen-
as bibliográficas e 6 ilustrações (tabelas, figuras, volvidas no âmbito da Secretaria de Estado da
gráficos e fotos). Saúde de São Paulo (SES-SP). Inclui, ainda, a
3. Artigos de opinião – São contribuições de divulgação de práticas, políticas e orientações
autoria exclusiva de especialistas convidados sobre promoção à saúde e prevenção e controle de
pelo Editor Científico, destinadas a discutir ou riscos e agravos. No máximo 5.000 palavras; 6
tratar, em maior profundidade, temas relevantes ilustrações (tabelas, figuras, gráficos e fotos); e
ou especialmente oportunos ligados às questões 30 referências bibliográficas. Não inclui resumo
de saúde pública. Não há exigência de resumo nem palavras-chave.
ou abstract. 8. Resumo – Serão aceitos resumos de teses
4. Artigos especiais – São textos não classificá- e dissertações até dois anos após a defesa. Devem
veis nas categorias acima referidas, aprovados conter os nomes do autor e do orientador, título
pelos Editores por serem considerados de especial do trabalho (em português e inglês), nome da
relevância. Sua revisão admite critérios próprios, instituição em que foi apresentado e ano de defe-
não havendo limite de tamanho ou exigências pré- sa. No máximo 250 palavras e entre 3 e 6 pala-
vias quanto à bibliografia. vras-chave.
5. Comunicações rápidas – São relatos cur- 9. Pelo Brasil – Deve apresentar a análise de
tos destinados à rápida divulgação de eventos um aspecto ou função específica da promoção à
significativos no campo da vigilância à saúde. A saúde, vigilância, prevenção e controle de agra-
sua publicação em versão impressa pode ser ante- vos nos demais estados brasileiros. No máximo
cedida de divulgação em meio eletrônico. No 3.500 palavras; resumo com até 250 palavras;
máximo 2.000 palavras; Resumo de até 150 pala- entre 3 e 6 palavras-chave; 20 referências; e 6
vras; entre 3 e 6 palavras-chave; 4 ilustrações ilustrações (tabelas, figuras, gráficos e fotos).
(tabelas, figuras, gráficos e fotos); e 10 referên- 10. Atualizações – Textos que apresentam,
cias. É recomendável que os autores das comuni- sistematicamente, atualizações de dados estatís-
cações rápidas apresentem, posteriormente, um ticos gerados pelos órgãos e programas de pre-
artigo mais detalhado. venção e controle de riscos, agravos e doenças
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objetivo apresentar ocorrências relevantes para a ilustrações. Não inclui resumo nem palavras-
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ças, agravos, e programas de prevenção ou publicados em outros periódicos de relevân-
eliminação. Sua estrutura é semelhante à do artigo cia, nacionais ou internacionais, abordando
original, porém sem resumo ou palavras chave, temas importantes cuja veiculação seja consi-
máximo de 5.000 palavras; 15 referências; e 4 derada, pelos editores , de grande interesse
ilustrações (tabelas, figuras, gráficos e fotos). à saúde.
12. Relatos de encontros – Devem enfocar o Os critérios éticos da pesquisa devem ser
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