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E56 Encontro Nacional da ANPAP - (RE)EXISTÊNCIAS (30 : 2021 : João Pessoa, PB)
(Re)existências: anais do 30º encontro nacional da ANPAP [Recurso
digital]. / – João Pessoa: ANPAP, 2021.
ISBN 978-65-5941-803-9
ISSN 2175-8212
CDD 700
CRB-4/1241
25/03/2023, 14:05 (Re)existências: anais do 30º encontro nacional da ANPAP | Even3 Publicações
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2ª Tesoureira
Teresinha Maria de Castro Vilela. CEAV/ANPAP.
AnpapInforma
Vera Lucia Didonet Thomaz. CPA/ANPAP.
Conselho Deliberativo
Presidenta
Madalena de Fatima Zaccara Pekala. PPGAV UFPB-UFPE/CAC/UFPE.
Ex-Presidentes
José Afonso Medeiros Souza. PPGARTES/ICA/UFPA.
Cleomar de Sousa Rocha. PPGACV/FAV/UFG.
Representantes dos Comitês Associativos
CC – Curadoria
Francisco Eduardo Coser Dalcol. PPGAV/IA/UFRGS. (Titular).
Mirtes Cristina Marins de Oliveira. PPG Design/UAM. (Titular).
Franciele Filipini dos Santos. CC/ANPAP. (Suplente).
CEAV – Educação em Artes Visuais
Lucia Gouvêa Pimentel. PPGARTES/EBA/UFMG. (Titular).
Ana Luiza Ruschel Nunes. PPGE/SECIHLA/UEPG. (Titular).
Leda Maria de Barros Guimrães. PPGACV/FAV/UFG. (Suplente).
CHTCA – História, Teoria e Crítica de Arte
Shannon Figueiredo de Souza Botelho. DAV/CP II. (Titular).
Luiz Alberto Ribeiro Freire. PPGAV/EBA/UFBA. (Titular).
Tatiana da Costa Martins. PPGAV/EBA/UFRJ. (Suplente).
CPCR – Patrimônio, Conservação e Restauro
Maria Herminia Olivera Hernández. PPGAV/EBA/UFBA. (Titular).
Luiza Fabiana Luiza Neitzke de Carvalho. ICH/UFPEL. (Titular).
Rosangela Marques de Britto. PPGARTES/ICA/UFPA. (Suplente).
CPA – Poéticas Artísticas
Luisa Angélica Paraguai Donati. PPGINTERDISCIPLINAR/CLC/PUC Campinas. (Titular).
Vera Lucia Didonet Thomaz. CPA/ANPAP. (Titular).
Janice Martins Sitya Appel. ILA/FURG. (Suplente).
Representações Regionais e/ou Estaduais
Centro-Oeste
Distrito Federal DF: Denise Conceição Ferraz de Camargo. PPGAV/IdA/UnB.
Goiás GO: Edgar Silveira Franco. PPGACV/FAV/UFG.
Mato Grosso do Sul MS: Marcos Antônio Bessa-Oliveira. PROFEDUC/UEMS.
Norte
Amazonas AM: Valter Frank de Mesquita Lopes. FAARTES/UFAM.
Pará PA: Orlando Franco Maneschy. PPGARTES/ICA/UFPA.
Rondônia RO: Pritama Morgado Brussolo. DARTES/UNIR.
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Nordeste
Bahia BA: Roseli Amado da Silva Garcia. CAHL/UFRB.
Ceará CE: José Maximiano Arruda Ximenes de Lima. PPGARTES/DEARTES/IFCE.
Rio Grande do Norte RN: Regina Helena Pereira Johas. DEART/CCHLA/UFRN.
Sergipe SE: Wellington Cesário. DAVD/UFS.
Sudeste
Espírito Santo ES: Júlia Rocha Pinto. DLCE/CE/UFES.
Minas Gerais MG: Juliana Gouthier Macedo. PROFARTES/EBA/UFMG.
Lucia Gouvêa Pimentel. PPGARTES/EBA/UFMG.
Rio de Janeiro RJ: Caroline Alciones de Oliveira Leite. PPGAV/EBA/UFRJ.
Shannon Figueiredo de Souza Botelho. DAV/CPII.
São Paulo SP: Agda Regina de Carvalho. CEUN/IMT.
Sul
Paraná PR: Renato Torres. EMBAP/UNESPAR.
Rio Grande do Sul RS: Sandro Ouriques Cardoso. IFRS.
Santa Catarina SC: Luana Maribele Wedekin. PPGAV/CEART/UDESC.
Comissão Científica
Coordenação Geral
Prof. Dr. Robson Xavier da Costa. PPGAV UFPB-UFPE/CCTA/UFPB.
Avaliadores(as)
Profa. Dra. Agda Regina de Carvalho. CEUN/IMT.
Profa. Dra. Alexandra Cristina Moreira Caetano. Designer.
Prof. Dr. Alexandre Henrique Monteiro Guimarães. DAV/CPII.
Prof. Dr. Alexandre Sá Barretto da Paixão. PPGARTES/ART/UERJ.
Profa. Dra. Alice Jean Monsell. PPGAVI/CA/UFPel.
Profa. Dra. Ana Elisabete de Gouveia. PPGAV UFPB/UFPE/CAC/UFPE.
Profa. Dra. Ana Luiza Ruschel Nunes. PPGE/SECIHLA/UEPG.
Profa. Dra. Ana Maria Tavares Cavalcanti. PPGAV/EBA/UFRJ.
Me. Ana Renata dos Anjos Meireles. ULISBOA.
Profa. Dranda. Andréia Cristina Dulianel. PPGINTERDISCIPLINAR/CLC/PUC Campinas.
Prof. Dr. Aparecido José Cirillo. PPGA/CAR/UFES.
Prof. Dr. Arnaldo Valente Germano da Silva. PPGAV/ECA/USP.
Prof. Me. Artur Luiz de Souza Maciel. CEEAV/PPGARTES/EBA/UFMG.
Profa. Dra. Bianca Knaak. DAV/IA/UFRGS.
Profa. Me. Bruna Mazzotti Quintanilha. PPGAV/EBA/UFRJ.
Drando. Bruno Bortoloto do Carmo. PPGH/PUC-SP.
Profa. Dra. Carina Luisa Ochi Flexor. DAP/FAC/UnB.
Prof. Dr. Carlos Alberto Barbosa. FE/USP.
Prof. Dr. Carlos Augusto Moreira da Nóbrega. PPGAV/EBA/UFRJ.
Profa. Dranda. Caroline Alciones de Oliveira Leite. PPGAV/EBA/UFRJ.
Prof. Dr. Cesar Augusto Baio Santos. PPGAV/IAR/UNICAMP.
Profa. Dra. Clarissa Ribeiro Pereira de Almeida. CCT/UNIFOR.
Profa. Dra. Claudia Vicari Zanatta. PPGAV/IA/UFRGS.
Prof. Dr. Cleomar de Sousa Rocha. PPGACV/FAV/UFG.
Profa. Dra. Daniela Pinheiro Machado Kern. PPGAV/IA/UFRGS.
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Ficha catalográfica
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À CIGARRA, SEU DIREITO INALIENÁVEL: O SUJEITO É A OBRA
RESUMO
Este artigo se dedica à percepção do sujeito da obra Cigarra (2010) de Cildo Meireles na
experiência isolada do sujeito com o objeto. A obra foi realizada em homenagem a Frederico
Morais, e aos quarenta anos dos Domingos da Criação, em uma programação que
aconteceu em outubro de 2010 na área externa do Museu de Arte Moderna do Rio de
Janeiro (MAM-RJ). Para tanto, partimos da experiência com Cigarra, anos adiante da ação
realizada no MAM-RJ, além de contar com entrevistas realizadas pela autora com o artista e
com documentos do arquivo do MAM-RJ. Recorremos ao conceito de quiasma de Maurice
Merleau-Ponty (1971) e de ouvinte direto de Pierre Schaeffer (2003) para propor que a
interação com a obra Cigarra é dependente da atuação do sujeito, de maneira a tornar
possível a emergência de um ouvinte de múltiplas percepções que escuta com a pele e que,
juntamente com Cigarra, (re)existe, se renovando a cada tempo.
PALAVRAS-CHAVE
Cigarra (2010); Cildo Meireles; Imagens sonoras; Ritmo; Percepção.
ABSTRACT
This paper is dedicated to the perception of the subject in the work Cigarra (2010) by Cildo
Meireles in the isolated experience of the subject with the object. The work was carried out in
honor of Frederico Morais, and of the forty years of Domingos da Criação, in a program that
took place in October 2010 in the external area of the Museum of Modern Art in Rio de
Janeiro (MAM-RJ). To do so, we start from the experience with Cigarra, years ahead of the
action carried out at MAM-RJ, in addition to interviews conducted by the author with the artist
and documents from the archives of MAM-RJ. We used the concept of chiasm by Maurice
Merleau-Ponty (1971) and of direct listener by Pierre Schaeffer (2003) to propose that the
interaction with the work Cigarra is dependent on the subject’s action, in order to make
possible the emergence of a listener of multiple perceptions that she/he listens to with her/his
skin and that, together with Cigarra, (re)exists, renewing itself every time.
KEYWORDS
Cigarra (2010); Cildo Meireles; Sound images; Rhythm; Perceptions.
Do lado de fora
O convite para a participação de Cildo Meireles com a realização de uma obra para
Encontros do lado de fora: som, palavra e ruídos 8 fazia referência a O som do
Domingo9, realizado em maio de 1971. Cigarra demandava a ação do sujeito para
que ela de fato se efetivasse. A obra de Cildo Meireles pretendia espalhar-se entre
vários sujeitos que, ao mesmo tempo ou quase, estalavam o objeto nos jardins ou
nos pilotis do MAM-RJ, onde a acústica reverberante favorecia o prolongamento de
um estalido rápido e certeiro. Em meio a sonoridades, zumbidos e ruídos de
proposições de artistas e da experimentação de sujeitos que festejavam Frederico
Morais e os quarenta anos dos Domingos da Criação, a Cigarra estalava, por entre
as iniciais de Cildo Meireles, gravadas no casco do inseto metálico, e em sua base
flexível, onde o primeiro nome do artista é acompanhado pelo ano da obra. A
Cigarra canta com a barriga10, ao contraí-la seu ruído é produzido assim como seu
homônimo na fauna, propagando seu canto agudo a partir do estalo provocado por
nossos dedos, por entre apertos mais velozes ou mais lentos.
A obra de Cildo Meireles, no entanto, não se ateve àquele domingo de 2010. Cigarra
canta, desta vez, não mais em meio a uma coletividade de sua espécie e, tampouco,
nos jardins e pilotis do museu. A Cigarra se renova a cada aperto que por ela
procurar, reverberando seu estalo por entre os dedos que a provocarem. Voltamos
nossa atenção para nossas mãos, nas quais constatamos uma única Cigarra.
Percebemos que não se trata daquela obra realizada sob os pilotis do MAM-RJ,
posto o isolamento do inseto de metal que, generosamente, nos dá a medida sonora
de seu ruído solo – trata-se de uma obra que a antecede e que (re)existe no tempo.
Figura 1. Cildo Meireles, Cigarra, 2010. Foto: Caroline Alciones de Oliveira Leite.
Cildo Meireles relata que escutava muito o canto das cigarras, mas que, com o
tempo, ele foi sumindo, aventando a possibilidade de os insetos estarem sendo
devorados pelos micos cujo habitat se transmutou para o ambiente urbano. (2019,
em entrevista à autora, ainda não publicada) Em nossa percepção, o canto das
cigarras, escasseado, persiste, às vezes em coro, às vezes no solo da resistência de
uma única cigarra a desafiar a lógica urbana16.
Na superfície da pele
Cigarra, ainda que isolada, nos proporciona uma percepção que remete à
“apalpação tátil” sobre a qual Merleau-Ponty ponderava a propósito da interrogação
do visível a partir dos desejos provocados por aquilo que é visível. (1971, p. 130) A
expressão destacada está longe de ser redundante, diante da possibilidade que há
em se apalpar através da visão, em perceber no corpo o toque daquilo que sequer
tocamos, como quando sentimos a escuta ser arranhada pelo ruído ou por imagens
sonoras de uma unha percorrendo um quadro negro ou de um garfo a atritar uma
panela de ferro – sons de elevada frequência sonora. Encontramos no tato uma
apalpação sonora, a possibilidade de perceber o som.
Figura 2. Cildo Meireles, Cigarra, 2010. Foto: Caroline Alciones de Oliveira Leite.
É na espessura de nosso corpo que tocamos a Cigarra e que somos por ela
atravessados ao mesmo tempo em que a atravessamos, como se processos de
metamorfose pudessem se dar em loop e entre duas instâncias distintas – obra e
sujeito –, cujas existências objetiva e fenomenológica se confundem de tal forma
que já não se torna possível, nem interessante, delimitar as partes do amálgama –
“o mundo é a carne universal. Não cabe mesmo dizer, como o fizemos há pouco,
que o corpo é feito de duas faces [...].” (MERLEAU-PONTY, 1971, p. 134) Estamos
presos ao som percebido, a alegria entusiasmada de brincar de ser Cigarra, de criar
a primavera e o verão em uma noite de maio.
As marcas do ritmo
A obra de Cildo Meireles aguarda, como imagem cristalizada, pelo sujeito que possui
em si e em estado de latência o anseio que vibra em simpatia com as notas de
Cigarra, retirando-a de sua inércia através do toque e do aperto. Entre a obra e os
mais distintos sujeitos, as individualidades e as subjetividades ressoarão suas
particularidades, ainda que as características objetivas de Cigarra (Figura 3) sejam
as mesmas. Há, no ritmo que se imprime ao toque, a singularidade de cada sujeito.
Assim como, para o filósofo brasileiro Hilan Bensusan (2016), os ritmos seriam
ingredientes da subjetividade em uma perspectiva ecológica, na obra de Cildo
Meireles o ritmo impresso na produção sonora estabelecida ressoa no ar, por entre
escutas perceptivas ou não, por entre idiossincrasias do sujeito. Não apenas a obra
é lançada para fora de sua inércia, mas o próprio sujeito, empurrado para fora de
sua percepção vigilante, despertado da sonolência que o guia no automático do
cotidiano, por uma nota específica que o faz vibrar de seu interior para fora e de fora
para dentro. Uma nota que, de antemão, o sujeito já possui em si, uma frequência
que, de antemão, já existe em seu interior em estado de latência (TABORDA, 2021)
e que é disparada ao ser tocada pelo estímulo que lhe é exterior.
Figura 3. Cildo Meireles, Cigarra, 2010. Foto: Caroline Alciones de Oliveira Leite.
A Cigarra pode ser apertada por um sujeito e seu som pode despertar um segundo,
terceiro ou tantos outros sujeitos que somente escutem. A vista e os ouvidos
buscarão, com alguma dificuldade, encontrar a pequena fonte sonora. Uma vez
desperto, o sujeito se engaja no ritmo da obra como quem compreende que, melhor
do que somente escutar, é tocar o som enquanto se é, igualmente, por ele tocado –
reciprocidade.
Ao escutar a obra, o sujeito toma parte da obra para si; ao produzir o som e,
inevitavelmente, escutá-lo e percebê-lo no corpo, o sujeito se torna a obra. Sujeito e
obra pulsam juntos, na alternância que estrutura a unidade mínima da arquitetura do
ritmo 18 , abrindo um recorte de tempo intensivo, uma dimensão temporal de um
tempo criado e estruturado a partir da percepção da obra e que, no entanto, não se
esgota quando a obra se silencia ao ser descolada do toque. A obra carregará
consigo as marcas deixadas pelo sujeito que a estalou, assim como o sujeito jamais
será o mesmo face às tantas imagens, de distintas ordens, produzidas em cada
estalo do inseto metálico.
Para além da experiência naquele domingo de 2010, outros contatos com Cigarra se
tornam possíveis, ainda que no isolamento de um único sujeito em estado de
disponibilidade para ser um ouvinte de múltiplas percepções – produzindo o som,
escutando com a pele e viabilizando a (re)existência da obra que se renova no
tempo. O ciclo vital da cigarra gira em torno de seu canto, a perpetuação de sua
espécie depende do canto, assim como a alegria da antecipação da chuva da
primavera e do verão. Cientificamente ou poeticamente a cigarra está em estado de
disponibilidade para a cantoria, bastando os estímulos necessários para se engajar
em seu ritmo e cantar o anúncio da chuva. Percebemos na Cigarra de Cildo Meireles
a disponibilidade em ser tocada e em ser amalgamada ao sujeito que, mais cedo ou
mais tarde, acabará por dela soltar as mãos. À Cigarra, seu direito inalienável de ser
cigarra – cantar.
Notas
do Rio de Janeiro, entre janeiro e agosto de 1971. Foram seis: Um domingo de papel (24 de janeiro), O domingo
por um fio (7 de março), O tecido do domingo (28 de março), Domingo terra a terra (25 de abril), O som do
domingo (30 de maio) e O corpo a corpo do domingo (29 de agosto). Os materiais empregados foram doados por
indústrias e colocados à disposição do público, que com eles exercitava livremente sua criatividade. [...] Não se
tratava de levar a arte (produto acabado) ao público, mas a própria criação, ampliando-se, assim, a faixa de
criadores de arte mais do que consumidores de arte. A arte não é propriedade de quem a compra, a coleciona e,
no limite, de quem a faz. A arte é um bem comum do cidadão.” (MORAIS, 2017a, p. 5)
5 “Encontros Contemporâneos da Arte são uma iniciativa das produtoras Matizar e Automatica cujo principal
objetivo é articular ação e reflexão sobre as artes visuais e seus desdobramentos no contexto cultural do Brasil
contemporâneo. Em parceria com o Instituto Moreira Salles (IMS) e o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
(MAM-RJ), uma série de eventos em variadas frentes mostrará ao público uma ampla produção de ideias, sons e
imagens cujo ponto de partida é a potência da arte como espaço permanente de criação.” No dia 23 de outubro
de 2010, o IMS recebeu Cildo Meireles, Carlos Vergara e Moacir dos Anjos para a mesa Arte e Política.
(INSTITUTO MOREITA SALLES, outubro de 2010)
6 Os Domingos da Criação aconteceram em consonância com atividades que, desde 1969, vinham sendo
realizadas na Unidade Experimental do MAM-RJ (MORAIS, 2017a), criada e coordenada por Cildo Meireles, Luiz
Alphonsus e Guilherme Vaz em parceria com Frederico Morais. Artistas e público atuavam na criação a partir da
escolha de determinado material como possibilidade para o fazer artístico, algo que para Cildo Meireles se
aproximaria de um procedimento científico. (MEIRELES, 2017)
7 “Eu acabei não participando muito desses Domingos. Foi um ano que eu estava muito egoísta. Foi um ano em
que teve muitos projetos, muitos trabalhos. [Em 2010, nos Encontros do lado de fora: som, palavra e ruídos] me
pediram uma coisa assim, e aí eu resolvi fazer esse projeto. Era um projeto ligado ao som, seria pelo Domingo
do Som.” (MEIRELES, 2020, p. 182, em entrevista à autora)
8 O “Domingo do som, palavra e ruído” aconteceu em 24 de outubro de 2010 e integrou a programação
Encontros com os Domingos da Criação que foi realizada em homenagem ao Frederico Morais e aos Domingos
da Criação no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Além de Cildo Meireles, participaram da programação
os artistas Paulo Vivacqua, Vivian Caccuri e Jefferson Miranda. (MUSEU DE ARTE MODERNADO DO RIO DE
JANEIRO, programação de outubro de 2010)
9 “O som do domingo (30/05/1971). Foi o primeiro evento da série em que nenhum material foi oferecido ao
público, que dispôs apenas do amplo espaço para exercitar sua criatividade. E o público compareceu levando
seus materiais sonoros: violões, violinos, flautas, tamborins, chocalhos e, também, latas de cerveja, tambores de
gasolina, garrafas, caixas de fósforo, folhas de alumínio. Alguns foram ao museu apenas para berrar e gritar,
para pôr pra fora uma raiva há muito contida.” (MORAIS, 2017b, p. 244)
10 “Entre as cigarras, a produção de som por estruturas especifica é uma característica restrita aos machos, pois
apenas eles possuem o órgão cimbálico (BOULARD, 1973). Este é um sistema complexo, situado no primeiro
segmento abdominal e é compreendido por dois conjuntos simétricos em relação ao plano sagital do corpo. [...]
de maneira geral, a principal estrutura é uma membrana convexa, chamada de tímbalo, com propriedades
elásticas e faixas longitudinais esclerotizadas. [...] Aderido ao tímbalo, encontra-se o músculo timbálico. O som é
produzido devido à contração dos músculos timbálicos que deprimem a superfície dos tímbalos, deformando as
costelas e plaquetas, o que, consequentemente, gera um ruído. [...] A sucessão das impulsões sonoras
produzidas pela vibração deformante dos tímbalos constitui o canto das cigarras ou timbalização. [...] Bennet-
Clark e Young (1994) [...] concluíram que a frequência sonora produzida por cigarra de determinada espécie é
inversamente proporcional ao seu tamanho corpóreo.” (MACCAGNAN, 2008, p. 5-6)
11 Registro audiovisual dos Encontros do lado de fora: som, palavra e ruídos. Disponível em <
de 2010 no MAM-RJ. Outras sete mil teriam ficado em Friburgo, onde aguardavam o momento em que Gerônimo
Maurício, que costuma auxiliar Cildo Meireles com as obras em que o artista faz uso de metal, pudesse unir o
casco à haste metálica responsável pelo estalido da Cigarra.
13 Optamos por não adentrar a esfera da fábula, a fim de proteger a cigarra e a formiga da atribuição moralizante
do caráter humano.
14 Cientificamente, esta informação não procede. As cigarras não cantam para anunciar a chegada da chuva,
mas, no geral, para atrair para si as fêmeas: “para algumas espécies, já foi relatada a capacidade de o macho
produzir diferentes modalidades de sinais acústicos, utilizados em diferentes contextos, como: o canto de
chamado que tem como função atrair fêmeas e, em alguns casos, machos a longas distâncias; o som de corte
utilizado a curtas distâncias para a formação de casais; som de disputa entre machos muito próximos; ou, ainda,
o som produzido quando o macho é capturado por algum predador (AIDLEY, 1969; COCROFT; POUGUE, 1996;
SUEUR, 2003). [...] Porém, entre as várias funções comportamentais, a principal e comum a todas as espécies é
aquela com fins de atrair parceiros para a reprodução. O canto dos machos, a partir de pontos fixos, atrai fêmeas
até eles (COOLEY, 2001).” (MACCAGNAN, 2008, p. 6)
15 Cientificamente, esta informação não procede. As cigarras não explodem de tanto cantar. A estrutura do
animal enrijecida comumente encontrada fixa em troncos de árvores, ou mesmo caída ao chão, e que justifica a
crença de que o animal teria explodido, trata-se do exoesqueleto. Espécie de carcaça abandonada pela ninfa na
metamorfose que a transforma na cigarra de fato e que viabiliza ao animal suas asas: “antes da emergência do
adulto, as ninfas de cigarra de último instar saem das galerias subterrâneas através de um orifício e sobem em
troncos, permanecendo imóveis por um curto período de tempo, para então sofrer metamorfose (COSTA LIMA,
1942), deixando presa ao tronco, após a emergência do adulto, sua última exúvia.” (MACCAGNAN, 2008, p. 4)
16 “As cigarras ainda podem apresentar um comportamento de canto solitário ou de canto em coro, onde se
agregam em grande número, e os machos cantam juntos (BOULARD, 1990; SUEUR, 2002; SUEUR; AUBIN,
2002; SUEUR, 2003; VILLET; SANBORN; PHILLIPS, 2003).” (MACCAGNAN, 2008, p. 6)
17 “O ataque é a posição inicial do objeto sonoro. Quando um sistema é excitado repentinamente, tem-se como
resultado um enriquecimento do espectro, o que dá um contorno áspero e dissonante ao som. Assim, cada
ataque de um determinado som é acompanhado de ruído e, quanto mais repentinamente ele aparece, mais o
ruído se faz presente – fato que é especialmente significativo com suas breves alternâncias de tempo.”
(SCHAFER, 2011, p. 183)
18 O pulso é a unidade mínima na arquitetura do ritmo.
Referências
MEIRELES, Cildo. “Esse universo dos sons que a gente não escuta”: entrevista com Cildo
Meireles. (Entrevistadora: Caroline Alciones de Oliveira Leite). Revista Poiésis, Niterói, v.
21, n. 36, p. 175-206, jul./dez. 2020.
MEIRELES, Cildo. Entrevista realizada pela autora no ateliê do artista (Rio de Janeiro), em
14 de janeiro de 2020 (não publicada).
MEIRELES, Cildo. Entrevista realizada pela autora no ateliê do artista (Rio de Janeiro), em
31 de janeiro de 2019 (não publicada).
MEIRELES, Cildo. Entrevista com Cildo Meireles. (Entrevistadores: Jéssica Gogan e
Frederico Morais). In: GOGAN, Jessica; MORAIS, Frederico. Domingos da Criação: uma
coleção poética do experimental em arte e educação. Rio de Janeiro: Instituto Mesa,
2017.
MORAIS, Frederico. No fazer criador todos se confundem. In: GOGAN, Jessica; MORAIS,
Frederico. Domingos da Criação: uma coleção poética do experimental em arte e
educação. Rio de Janeiro: Instituto Mesa, 2017a [2001]. p. 5
WILD, Oscar. The Picture of Dorian Gray. Barueri (SP): Novo Século Editora, 2019.