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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA

& IMERSÃO LABCRÍTICA


CATÁLOGO E TEXTOS CRÍTICOS

Elke Siedler & Sérgio Andrade


(orgs.)
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA
& IMERSÃO LABCRÍTICA
CATÁLOGO E TEXTOS CRÍTICOS

Orgs.
ELKE SIEDLER
SÉRGIO ANDRADE
Editora ANDA.
1.ª Edição - Copyright© 2022 dos organizadores.
Direitos desta Edição Reservados à ANDA Editora.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Trilhas digitais para dança & imersão labcrítica [livro eletrônico] : catálogo e textos
críticos / organização Elke Siedler, Sérgio Andrade. -- Salvador, BA : ANDA -
Associação Nacional de Pesquisadores em Dança, 2022.
PDF

ISBN 978-65-87431-28-4

1. Arte e dança 2. Arte e tecnologia 3. Dança -


Brasil 4. Mídias digitais I. Siedler, Elke. II. Andrade, Sérgio.

22-133572 CDD-792.8

Índices para catálogo sistemático:

1. Dança : Artes 792.8

Eliete Marques da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9380

Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98. Se incorreções
forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores. Foi realizado o Depósito Legal na Fundação
Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nº 10.994, de 14/12/2004, e 12.192, de 14/01/2010.

Editora ANDA.
Av. Milton Santos s/n
Ondina – Salvador, Bahia.
CEP 40170-110
ELKE SIEDLER
SÉRGIO ANDRADE

TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA


CATÁLOGO E TEXTOS CRÍTICOS

Editora ANDA
2022
Associação Nacional de Pesquisadores em Dança
ANDA

Diretoria Gestão 2018-2021 Diretoria Gestão 2021-2023


Dr.ª Lígia Losada Tourinho (UFRJ) Dr. Alysson Amâncio de Souza (URCA)
Dr. Lucas Valentim Rocha (UFBA) Dr.ª Maria Inês Galvão Souza (UFRJ)
Dr. Thiago Silva de Amorim Jesus (UFPel) Dr.ª Meireane Rodrigues Ribeiro de Carvalho (UEA)
Dr. Vanilto Alves de Freitas (UFU) Dr. Vanilto Alves de Freitas (UFU)

Suplência Diretoria
Dr.ª Carmen Anita Hoffmann (UFPel)

Conselho Deliberativo, Científico e Fiscal Gestão Conselho Deliberativo, Científico e Fiscal Gestão
2018-2021 2021-2023
Dr.ª Dulce Tamara da Rocha Lamego da Silva (UFBA) Dr. Diego Pizarro (IFB)
Dr.ª Eleonora Campos da Motta Santos (UFPel) Me. Jessé Da Cruz (FURB)
Dr. Marcilio de Souza Vieira (UFRN) Dr.ª Yara dos Santos Costa Passos (UEA)
Dr. Marco Aurélio da Cruz Souza (FURB)

ANDA EDITORA
EDITORES
Dr.ª Lígia Losada Tourinho (UFRJ)
Dr. Marco Aurélio da Cruz Souza (UFPel)

REVISÃO
Os autores

CAPA, DIAGRAMAÇÃO E PROJETO GRÁFICO


William Gomes
CORREALIZAÇÃO

Programa de Pós-Graduação em Dança da UFBA (PPGDANCA)


Programa de Pós-Graduação Profissional em Dança da UFBA (PRODAN)
Programa de Pós-Graduação em Dança da UFRJ (PPGDan)
Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da UFPEL (PPGAV)
Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da UFRN (PPGArC)

CONSELHO CIENTÍFICO 2021-2023


Prof.ª Dr.ª Amanda da Silva Pinto (UEA)
Prof.ª Dr.ª Amélia Vitória de Souza Conrado (UFBA)
Prof. Dr. Amílcar Pinto Martins (Universidade Aberta de Lisboa/Portugal)
Prof.ª Dr.ª Ana Macara (Instituto de Etnomusicologia – Centro de estudos em música e dança/pólo FMH;
ULisboa – FMH – Portugal)
Prof.ª Dr.ª Elisabete Alexandra Pinheiro Monteiro
(Instituto de Etnomusicologia – Centro de estudos em música e dança/pólo FMH; ULisboa – FMH – Portugal)
Prof.ª Dr.ª Eleonora Campos da Motta Santos (UFPel)
Prof. Dr. Fernando Marques Camargo Ferraz (UFBA)
Prof.ª Dr.ª Helena Bastos (USP)
Prof. Dr. Marco Aurélio da Cruz Souza (UFPel)
Prof.ª Dr.ª Pegge Vissicaro (Northern Arizona University)
Prof. Dr. Rafael Guarato (UFG)
Prof. Dr. Sebastian G-Lozano – Universidade Católica San Antonio de Murcia, España
Prof. Dr. Thiago Silva de Amorim Jesus (UFPel)
Prof. Dr. Daniel Moura (UFS)
Prof. Dr. Lucas Rocha Valentim (UFBA)
Prof.ª Dr.ª Rebeca Recuero Rebs (UFPel)
Prof. Dr. Diego Pizarro (Instituto Federal de Brasília)
Prof.ª Dr.ª Melina Scialom (UFBA)
Prof.ª Dr.ª Daniela Llopart Castro (UFPel)
Prof. Dr. Adriano Bittar (UEG)
Prof.ª Dr.ª Aline Nogueira Haas (UFRGS)
Prof.ª Dr.ª Fabiana Amaral (Pesquisadora do MeDHa/UFG)
Prof.ª Dr.ª Lenira Peral Rengel (UFBA)
Prof.ª Dr.ª Isabela Buarque (DAC/UFRJ)
Prof.ª Dr.ª Lara Seidler (DAC/UFRJ)
Prof.ª Dr.ª Yara dos Santos Costa Passos (UEA)
Prof. Dr. Giancarlo Martins (UNESPAR/FAP)
Prof.ª Dr.ª Jaqueline Reis Vasconcellos (Instituto Arte na Escola – Região Nordeste)
Prof.ª Dr.ª Christiane Araújo (UEMS)

__________________________
Esta obra foi aprovada pelo conselho científico, editores e diretoria da ANDA.
SOBRE OS/AS ORGANIZADORES(AS)

Elke Siedler é artista da dança, curadora das


Trilhas Digitais para Dança 2021. Doutora em Comunicação e
Semiótica (PUC/SP); Mestre em Dança e Especialista em Estudos
Contemporâneos em Dança (UFBA); Licenciada e Bacharela em
História (UFSC), Licenciada em Artes Visuais (CLARETIANO) e Teatro
(UNÍTALO). Professora Substituta da Licenciatura e Bacharelado em
Dança (UNESPAR/FAP), desde 2017, onde coordena o projeto de
extensão Dança: Cuidado de Si. Performer e co-fundadora do
coletivo artístico Insólita Assemble e co-diretora do Espaço de
Criação Composteira (espaço de pesquisa). Foi bailarina do Grupo
Cena 11 Cia. de Dança.

E-mail: elkesiedler@gmail.com
Orcid: https://orcid.org/0000-0003-4775-9578

Sérgio Pereira Andrade


(Sérgio Andrade) é artista, professor e pesquisador de dança,
performance e filosofia. Curador das Trilhas Digitais para Dança
2021. É Professor do Departamento de Arte Corporal da UFRJ,
lecionando nos Programas de Graduação e Pós-Graduação em
Dança da instituição. Coordena o Laboratório de Crítica (LabCrítica),
projeto de pesquisa e extensão onde desenvolve várias atividades
colaborativas de pesquisa-criação, formação, publicação,
curadoria e intercâmbio em dança e performance. Sérgio Andrade
é Doutor e Mestre em Filosofia pela PUC-Rio, Mestre em Artes
Cênicas e Licenciado em Dança pela UFBA. Entre 2020-2021, realizou
pesquisa de Pós-Doutorado na Universidade de Nova York (NYU).

Site: www.labcritica.com.br
E-mail: sergio.andrade@eefd.ufrj.br
Orcid: https://orcid.org/0000-0003-1334-9394
AGRADECIMENTOS

Esta publicação é fruto de um trabalho coletivo intenso, de modo que expressamos sinceras
gratulações a todas as pessoas que nos acompanharam nessa jornada. Em especial, à
Diretoria ANDA (gestão 2018-2021) — formada por Lígia Losada Tourinho, Lucas Valentim
Rocha, Thiago Silva de Amorim Jesus e Vanilton Alves de Freitas — e ao Conselho Deliberativo,
Científico e Fiscal ANDA — constituído por Marco Aurélio da Cruz Souza, Dulce Tamara da Rocha
Lamego da Silva, Marcílio de Souza Vieira e Eleonora Campos da Motta Santos — pela confiança
em nosso trabalho e por apostar nas Trilhas Digitais para Dança e na Imersão LabCrítica. Ao
Secretário da ANDA, Marcelo Silvio Santos, pela prontidão no ofício de acompanhamento das
possíveis soluções para melhor execução dos referidos projetos, a William Gomes (Design
Gráfico) e Ian Guimarães Habib (Redes Sociais ANDA), e a todas as demais pessoas que
colaboraram na realização da mostra. Com o mesmo apreço e entusiasmo, agradecemos às
demais coordenadoras da Imersão LabCrítica—ANDA 2021, Lígia Losada Tourinho, Maria Inês
Galvão e Silvia Chalub, que mobilizaram diálogos essenciais para desdobramentos críticos das
proposições artísticas apresentadas nas Trilhas e que, ainda somadas às demais proposições
coordenadas pela Imersão, contribuíram para o avanço de atividades de extensão do
Congresso ANDA. Ainda, a Silvia pela generosidade de revisar o texto de apresentação desta
publicação. Por fim, a todas as pessoas autoras, artistas e realizadoras que responderam às
convocatórias das Trilhas e Imersão, em especial, àquelas que compõem os materiais desta
publicação, sem as quais nossas motivações e projetos não fariam qualquer sentido.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 12 OCEAN... Em CORPO, DANÇA e imagens
Elke Siedler & Sérgio Andrade corporeográficas 100
Iara Cerqueira Linhares de Albuquerque
Catálogo Trilhas Digitais para Dança 20
Ocean: incorporação do corpo na obra e
TRILHAS #1 21 da obra no corpo? 104
Iara Sales
TRILHAS #2 31
Encantadas da maré 107
TRILHAS #3 44 Jéssica Lima

TRILHAS #4 57 A obra como sinapse para o que acontece


sem razão 110
TRILHAS #5 67 Danilo Lima

Textos Críticos LabCrítica 81 Ao Passo que o Tempo Passa e


Orientação de Gestos para Nada: relatos da pandemia
Lígia Tourinho, Maria Inês Galvão, nas Trilhas Digitais para Dança 113
Sérgio Andrade & Silvia Chalub Luciane Coccaro

Eu edito, tu me editas, Entre a dança e a tela,


todos dançam. 82 entre o dentro e o fora,
Fernanda Nicolini a existência grita por liberdade 118
Carmem Arce
Abre o caminho que a afropresença
está passando, abre o caminho Os encantos do encontro da dança
que a afroancestralidade nas trilhas digitais 121
está dançando. 88 Samara Regina Gomes de Melo
Tatiana Damasceno
Um convite 124
Eu Sou o paradoxo da cor de Resistir 90 Laura Silveira
Dandara Ferreira
Bora? 127
Trilhas #1, um manifesto poético 95 Thiago de Souza
Marissel Marques
Sobre as pessoas autoras,
Danças necessárias 97 artistas e realizadoras 129
Cláudia Natália Giraldo Gonzales
Índice remissivo 151
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

APRESENTAÇÃO

Esta publicação reúne o catálogo da programação das Trilhas Digitais


para Dança e os textos críticos resultantes da Imersão LabCrítica ANDA 2021. São
trinta pesquisas e experimentos artísticos de dança em mídias digitais mais
quatorze textos críticos, resultantes de ações realizadas no VI Congresso Científico
Nacional de Pesquisadores em Dança — 2ª Edição Virtual. O evento online tomou
lugar em junho de 2021, contando com uma diversidade de artistas e pesquisadores
de abrangência nacional e internacional. O atravessamento de assuntos e
experiências em dança organizados nestas páginas reitera o encontro entre o
exercício da curadoria e da crítica, e destacam, sobretudo, um recorte da produção
e reverberação de obras majoritariamente criadas ao longo da pandemia de Covid-
19. Também, as produções de anos pregressos já apontavam movimentos e
urgências que pouco depois se intensificariam, por sua rachadura estrutural, no
momento pandêmico. Nesse sentido, esta publicação, ao documentar, lança os
materiais aqui organizados a outras articulações, favorecendo a geração de
futuros debates sobre a memória da ANDA e o atual momento histórico que
vivemos.
Em tempos de novas perguntas, nos contextos artístico e acadêmico, e
frente às múltiplas e históricas opressões sociais e de governo, nossas práticas em
dança enfurecem como ações dinâmicas de inventividade e resistência. Pensar e
sugerir caminhos, encontros e desvios, ainda que provisórios, são
atravessamentos comuns tanto para a curadoria das Trilhas Digitais para Dança,
quanto para a Imersão LabCrítica ANDA 2021, esta última coordenada por Lígia
Tourinho, Maria Inês Galvão, Sérgio Andrade e Silvia Chalub. Ambas ações tomaram
como desafio a proposição de novos exercícios de espaço e alteridade no
Congresso ANDA.
Com as Trilhas Digitais para Dança, a curadoria tomou o desafio e a
responsabilidade de reformular a anterior Mostra Artística da ANDA. Mais do que
somente selecionar e organizar proposições de artistas-pesquisadores que se
12
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

inscrevem previamente ao evento, a curadoria passou a ativamente sugerir outras


rotas para o Congresso. A partir da proposição de perguntas, da organização de
novos formatos de inscrição e da tessitura de dramaturgias entre as obras e as
demais atividades do evento, as Trilhas estabeleceram tramas de maior
diversidade, gerando espaços de participação em nossa comunidade junto a
artistas, ativistas e demais agentes da dança que trabalham dentro e fora da
Universidade.
Ao longo das edições dos Congressos e Encontros Científicos da ANDA, a
“mostra artística” realizada durante o evento, apostou, por muitas vezes, no
compartilhamento e difusão da produção artística local, da cidade sede do evento,
via apresentações em espaços teatrais e não convencionais, de artistas-
acadêmicos convidados. Entretanto, foi somente a partir de 2019 que se
compreendeu a necessidade de expandir o campo de ação da Mostra de Dança por
meio da seleção de trabalhos, via edital de chamamento público de membros
associados. Já em 2020, a Mostra teve que se adequar aos contornos do evento
online, devido ao início da pandemia da Covid-19, priorizando somente as
possibilidades de configuração em dança que pudessem ser mediadas pela
plataforma do YouTube. Foi também em 2020 que a Imersão LabCrítica tomou lugar
pela primeira vez no congresso da ANDA, oferecendo um minicurso imersivo de
crítica além da fruição, do debate crítico e da produção textual a partir da
programação. As discussões críticas da materialidade das danças daquela mostra
de 2020, atentas sobretudo à condição de apresentação online, abriram as portas
para se pensar outros modos de existência da Mostra Artística. Foi desse debate
que se estendeu por todo o congresso, nos espaços de encontro da Imersão
LabCrítica, e além, nas reuniões de avaliação do evento entre os organizadores da
Mostra e da Imersão LabCrítica junto à reunião da diretoria da ANDA, que surgiu a
concepção de se propor um novo e específico espaço no congresso de 2021. Ao
invés de somente “mostrar” trabalhos artísticos ao final de cada noite do evento,
convergimos na instância de convocar debates a partir dos materiais de danças em
mídias digitais.

13
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Assim, em 2021, a curadoria das Trilhas Digitais para Dança, via carta
aberta à comunidade da ANDA, convocou a reflexão coletiva para
[...] atentarmos às responsabilidades éticas, às afecções geradas pelos
encontros de nossas proposições online e offline e ao movimento que
elas geram frente às distopias atuais. Entendemos que as urgências
sócio-políticas, ambientais e sensíveis no contexto das
performatividades hegemônicas, normativas, neoliberais, necrofílicas,
coloniais, racializadas, genderizadas, extrativistas e excludentes se
reinventam e se reforçam neste tempo de pandemia e de intensificação
da cultura digital online. Convocamos, então, a pensar: Quais escutas
precisamos abrir? Como nossas danças mobilizam o trabalho coletivo
de desestabilizar as distopias contingentes? Como produzir e acionar
rotas de fuga necessárias? Quais proposições precisamos dançar?1

Foi pensando em trilhas para evocar essas questões que a comissão


curatorial convidou a comunidade da ANDA a propor experimentos delineados pelos
processos relacionais que emergem das plataformas digitais online, aceitando
trabalhos que estivessem em diferentes etapas de elaboração. Para tanto, os
formatos de inscrição criados foram definidos como:

A. Danças audiovisuais: proposições de/em dança que assumem variados


formatos na relação dança e audiovisual, a exemplo: videodança, registro de
apresentações, videoarte, filme, dança para tela, dança digital pré-gravada, gravações
de motion capture e animações — com duração entre 1 e 10 minutos;
B. Documentários: ação documentarista audiovisual voltada ao campo da dança
e/ou às questões do Congresso ANDA 2021 — com duração máxima de 30 minutos;
C. Plataformas Digitais: projetos de acervo digital, livro-objeto digital, série de
foto-performance organizadas em plataformas digitais, podcasts, sites, metodologias
web, games online, entre outras proposições criativas arquivadas em plataformas
digitais;
D. Live-performances: apresentações online e performances telemáticas via
plataformas digitais transmitidas ao vivo — com duração máxima de 15 minutos; e
E. Cross-coisas: performance ao vivo a partir de roteiro online que pode combinar
os formatos anteriores (“a”, “b”, “c” , “d”), bem como se servir das redes sociais online
e plataformas digitais, buscando variados modos de comunicação, interação e fruição
— com duração máxima de 20 minutos.

1
Trecho da carta da comissão curatorial, que foi difundida a partir de 15 de Março de 2021 pelos canais de comunicação da ANDA. Cf.
GUIMARÃES, D.; ANDRADE, S.; SIEDLER, E. (2021). Carta da equipe curatorial das Trilhas Digitais para Dança à comunidade do VI Congresso
Científico Nacional de Pesquisadores em Dança – 2ª Edição Virtual. Disponível em:
<https://drive.google.com/file/d/1Rcw0s0WEHcP_AuKIrv06vaKYfrwdzZqa/view>. Acesso em 21 set. 2021.

14
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Conforme destacamos na carta da comissão curatorial,2 esses diferentes


formatos emergiram por considerar que as danças que fazemos já são múltiplas e
que seus heterogêneos modos de fazer constituem e situam a materialidade de
nossas práticas incorporadas. A crise sanitária emergida com a pandemia de Covid-
19, efetivamente, acionou uma geografia específica, na qual as plataformas digitais
online são utilizadas como locus estratégico de movimentos de aproximação e
distância de tais práticas. Nesse sentido, as proposições de dança na internet no
contexto da pandemia somente ganharam maior visibilidade por conta dessa
contingência. Ao criar esses formatos de inscrição de proposições para as Trilhas,
portanto, a curadoria buscou diagramar tais lógicas operativas contingentes ao
mesmo tempo experimentando e mobilizando, ainda que provisoriamente, a
reconfiguração artística desses contextos.
A Comissão Curatorial recebeu e analisou 131 proposições, das quais 30
foram selecionadas para a diagramação final da programação. Nesse processo, os
formatos das Trilhas foram sendo reposicionados entre as etapas de convocação,
seleção, composição de programação e execução online. A noção de Cross-coisas,
por exemplo, efetivamente não vingou, visto que, a maioria das propostas inscritas
sob esta categoria a compreenderam como espaço para proposição de pesquisas
e experimentos artísticos que flertavam com o trânsito entre linguagens artísticas
e não como um trânsito entre as demais categorias e outras mídias, como
trabalhos organizados por roteiros itinerantes entre plataformas. Os trabalhos
selecionados para compor as Trilhas foram diagramados em cinco agrupações
entremeadas ao longo dos três dias da programação do congresso, friccionando
danças umas nas outras e instaurando uma dramaturgia, por vezes incidental,
somente experimentada na apresentação streaming realizada durante o evento.
Em particular, destacaríamos a exibição da sessão Trilhas #4 que deu lugar a um
conjunto de transmissões ao vivo de projetos de dança em plataformas digitais e
live-performance, momento de encontro que desafiou fortemente a equipe de
produção do evento, deslocando qualquer prévia noção de limite entre o

2
Op. cit., n.p.

15
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

programado e o imprevisível, o contorno e o ruído.3 De forma geral, as danças


apresentadas nas Trilhas, portanto, operaram como rotas de intensificação e
transformação tanto das perguntas iniciais da convocatória como das demais que
foram decorrendo da execução do projeto e suas dramaturgias. Tais provocações
seguem ecoando ainda urgentes, pois não se encerram nos limites da apreciação
de uma mostra.
Foi acreditando na continuidade do movimento de bifurcação e
desdobramento, para além de uma mera mostra artística—como “a cereja do
bolo”— de um evento científico, que o Laboratório de Crítica (LabCrítica) se aliou a
essa iniciativa.4 Pelo segundo ano consecutivo, o laboratório realizou uma edição
online da Imersão LabCrítica no Congresso ANDA. Neste ano, a ação instaurou um
espaço de reflexão dialógica com as Trilhas Digitais para Dança, congregando
pessoas artistas, pesquisadoras e estudantes vindos de vários contextos no Brasil
e no exterior. A Imersão combinou atividades teórico-práticas, como um minicurso
de crítica de dança e performance, estudo e fruição da programação das Trilhas,
debates em grupo, exercícios de escrita e produção textual orientada, culminando
nos textos críticos aqui publicados.

3
A comissão curatorial tanto adotou a noção de “Trilhas” para se referir aos formatos de proposição (dança audiovisual, documentário,
dança em plataforma digital, live-performance e cross-coisas) como também para nomear as agrupações de cada sessão de
apresentação no congresso (Trilhas #1, #2, #3, #4 e #5) que combinavam mais de um formato de proposição; trilhas são também as
rotas de perguntas emergentes geradas nos encontros entre danças. As sessões #1, #2, #3 e #5 foram apresentadas em grupos de
transmissão pré-agendados no YouTube, com horários de estreia organizados em diversos momentos da programação do evento;
partiam sempre com um documentário e na sequência seguiam com um conjunto de danças audiovisuais. Já a sessão #4 combinou
trabalhos distribuídos nos perfis dos próprios artistas e do Portal Anda em diversas redes sociais (no Instagram, no Spotify e no
YouTube), além de um site e uma exposição multi-autoral. A diversidade de materiais organizados na sessão Trilhas #4 exigiu, portanto,
dinâmicas diferentes de apresentação: duas proposições (Dança e Imagem Sonora, de Thiago de Souza, e Mãe-Artista ou Artista-Mãe?,
de Iara Sales et al) tiveram seus links de acesso difundidos no material de comunicação da programação geral do evento, podendo ser
acessadas a qualquer momento pelos participantes do congresso; e as outras duas (Mosaico de Banha e Pixel, Ep. 01, de Jussara Belchior
e Anderson do Carmo, e I’M A LIVE, de Clara de Clara e Henrique Hokamura) estrearam em horários de transmissão específicos, levando
o público a saltar de uma plataforma para outra. Ainda, para ajudar na compreensão da coreografia entre plataformas e também para
oportunizar um momento de fruição coletiva das danças organizados na sessão #4, a comissão curatorial organizou uma live no
YouTube com os artistas envolvidos que apresentaram alguns fragmentos de seus projetos. A dramaturgia emergida no jogo entre
todas as trilhas, as ressonâncias e ruídos técnico-estéticos ocasionados pela transmissão streaming foram matérias de importantes
debates na Imersão LabCrítica, estando igualmente marcados nos textos críticos produzidos, como se poderá acompanhar a seguir.
4
“Laboratório de Crítica (LabCrítica) é um projeto de pesquisa e extensão, vinculado aos cursos de Graduação e Pós-Graduação em
Dança do Departamento de Arte Corporal da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Criado em 2012, o LabCrítica se dedica ao estudo e
ao exercício da crítica e das práticas de teorização em dança e performance. Investigações, publicações, experimentos artísticos,
eventos e outros desdobramentos do LabCrítica são desenvolvidos a partir de ações conjuntas entre a comunidade acadêmica, artistas
e públicos diversos interessados nos diálogos entre dança, performance, pensamento e outras artes.” Cf. www.labcritica.com.br/.

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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

As atividades da Imersão LabCrítica iniciaram uma semana antes do


Congresso, período no qual as pessoas participantes se dedicaram ao estudo da
metodologia LabCrítica e da diagramação curatorial do evento, a partir dos temas
“dramaturgias e sensorialidades em danças digitais” e “materialidades de dança e
performatividades de arquivo”. Os participantes ainda experimentaram a criação
de pequenas palestras performances como exercícios de crítica performativa que
cruzavam os temas estudados, as pesquisas em curso das pessoas participantes,
bem como suas memórias de alguma fruição de dança recente, vivenciada ao longo
da pandemia. Os encontros do grupo se intensificaram durante o evento com o
acompanhamento das Trilhas na programação e se estenderam por mais um mês
de orientação para a produção textual final. Através dessa convivência intensa e
compartilhada, as pessoas participantes da imersão mobilizaram o trânsito de
questões entre suas experiências, o contexto pandêmico, as Trilhas e os demais
espaços do evento.
Mais do que encenar um caráter avaliativo individual dos trabalhos
apresentados, o exercício da crítica na Imersão foi voltado à mobilização de
debates que se espacializam pelos múltiplos encontros dissensuais reflexivos
entre os diversos materiais e contextos de dança experienciados. Trata-se,
portanto, de um gesto de seguir alterando, lançando o pensamento com as danças
nas dobras do tempo, atravessando e suscitando outros fóruns. Os textos críticos
resultantes da Imersão, logo, ao invés de se encerrar na tarefa estéril de dar
sentido interpretativo às Trilhas, são ensaios, provisões que convocam outras
danças, outras críticas.
As partilhas que as Trilhas e a Imersão materializam não figuram a
conformação de um mesmo tom, de uma unidade apassivadora e/ou
homogeneidade. De outro modo, os resultados aqui organizados são um recorte,
senão uma sugestão provisória feita a partir das proposições artísticas e da
participação de pessoas que responderam às convocatórias públicas lançadas pela
Comissão Curatorial e pelo Laboratório de Crítica, dentro dos limites do Congresso
ANDA. Nesse contexto, a seleção e o arranjo entre sujeitos e materiais são mais
uma tentativa de composição e dramaturgia de rotas e desvios, (re)combinações

17
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

para sustentar o movimento de alteridade de que falávamos há pouco. Uma


navegação porosa entre as imagens, vídeos, sites, sinopses, fichas técnicas,
referências, críticas e biografias aqui intertextualizadas deixará notar a pluralidade
de assuntos, de arquipélagos, de lugares de fala e de materiais que, ainda quando
agrupados, reservam incondicionalmente uma força disjuntiva, descarrilante e
ruidosa.
Pensar tal pluralidade, porém, convoca-nos a um exercício contínuo e
vigilante, nos impelindo a também avançar nas discussões que não contemplamos.
Destacamos, sobretudo, ao que se refere às políticas de acessibilidade ao
Congresso da ANDA, que por ora são incipientes. O evento ainda não conseguiu
desenvolver um conjunto de práticas de acessibilidade para toda a sua
programação, além da tradução em libras que foi disponibilizada somente para as
palestras principais do evento. Entendemos, por exemplo, que a exibição das Trilhas
Digitais para Dança deveria ter sido organizada em diálogo com estratégias gerais
definidas pelo Congresso, previamente estudadas para garantir modos de fruição
para pessoas com deficiência. O enfrentamento dessa questão precisa ser
demoradamente pensado nos próximos eventos e demais ações organizadas pela
associação. Acreditamos que é necessário compor uma política efetiva (com
programas, diretrizes, ações e metas) voltada ao tema, elaborada por um conselho
especializado, que seja formado majoritariamente por pessoas com deficiência
pesquisadores e artistas da área, a fim de contemplar essas especificidades.
Sabemos que esse debate já ocorre na Associação, protagonizado por pessoas com
deficiência artistas e pesquisadoras, e que ele tem atravessado discussões em
Comitês Temáticos e nas Plenárias dos Congressos. Ao trazer essa reflexão,
portanto, ecoamos os rastros de uma luta que já está em curso e que ainda requer
um avanço concreto das reivindicações em pauta.
Entendemos que a experiência do trabalho coletivo sobre as ações aqui
documentadas avivou perguntas sobre os modos de se fazer um congresso
científico no campo da Dança. Nossa área é repleta de práticas específicas diversas
que podem sugerir variados arranjos para o congresso da ANDA, a partir da
colaboração entre grupos de pesquisa e instituições. As trocas que emergiram do

18
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

encontro provisório entre Trilhas e Imersão suscitam a continuidade do convite à


renovação de propostas e ao experimento de outros formatos de colaboração
entre pesquisa, crítica e curadoria em dança. E assim, como que num suspiro,
pensamos: seria maravilhoso se no próximo ano, outras pessoas associadas
propusessem outros espaços, outras trilhas. Quem sabe?
Importa ainda ressaltar que em todo o período compreendido entre a
organização e a realização das Trilhas Digitais para Dança e da Imersão LabCrítica
no Congresso ANDA 2021 até à finalização desta publicação, estivemos
atravessados pela pandemia de Covid-19, um momento de extrema dor e
sofrimento. No Brasil, em especial, seguimos vivendo uma imensurável desolação
sem precedentes, grande parte fruto de escolhas políticas e econômicas que
cruelmente nos são colocadas a despeito da vida e de sua incondicional
constituição coletiva. Logo, fazemos ainda um convite à leitura desta publicação
como um experimento de registro performativo num tempo de luta e solidariedade,
de quando ainda em luto insistimos no exercício de investigação material de
espaços, de relações, de curas e de ancoragens para seguirmos dançando.

Setembro de 2021.

Elke Siedler
Sérgio Andrade

19
[Digite aqui]

Catálogo
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA

Programação de pesquisas e experimentos artísticos de dança em mídias


digitais. Trinta trabalhos organizados em cinco trilhas compostas de danças
audiovisuais, documentários, live-performances e plataformas digitais que
estiveram em exibição ao longo do 6º Congresso ANDA—2ª edição virtual e
por todo o mês de Junho de 2021 através dos perfis do Portal ANDA nas redes
sociais ou via links web disponíveis na programação geral do evento. Neste
catálogo, disponibilizamos os links de acesso às obras acompanhados das
sinopses e dos dados técnicos das produções, seguindo a ordem da
programação desenhada para o evento.

Nota informativa: Todas as descrições das fotografias que


compõem este catálogo foram feitas pelos organizadores
da publicação para fins de acessibilidade das imagens.
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Trilhas #1

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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Liberdade
Documentário | Piauí/Bahia | 2019 | 14’

https://youtu.be/NraZwpTtRKg

Crédito da imagem: Sergio Caddah.


Descrição da imagem: Fotografia em preto e branco e em formato retangular na
horizontal. No primeiro plano, há uma grade de ferro desfocada posicionada na
saída de um corredor. No segundo plano, ao lado esquerdo, há um homem de
costas, observando um grupo de mulheres que vem do fundo. O foco mais nítido
está no plano de fundo da imagem, na qual se destaca um grupo de mulheres
que caminham em direção à grade no primeiro plano.

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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Sinopse
Liberdade é um curta documentário de Dança que aborda, a partir do
encontro de uma artista de dança com mulheres em situação prisional
na cidade de Teresina, a realidade permeada por desejos de liberdade
vivenciados por essas mulheres. Na obra a dança opera como
desestabilizadora dos discursos de poder que sub humanizam corpas
invisíveis, mulheres cis e trans. Como fio condutor da expressão dos
desejos dessas corpas que, mesmo privadas de liberdade, podem — por
meio de gestos, ações, experiências de dança — experimentar situações
de liberdade.

Ficha Técnica
Idealização e Roteiro: Luzia Amélia Marques / Cia Luzia Amélia • Direção e
Fotografia: Sergio Caddah • Câmera: Alexandre Soares • Trilha sonora:
Sarkyss • Realização: Cia. Luzia Amélia & Caddah Studio • Finalização:
Respira Filmes • Assistente Coreografia: Drika Monteiro / Cia Luzia Amélia
• Produção: Jone Clay e Andreia Barreto • Apoio Institucional: Governo do
Estado do Piauí, Secretaria de Estada da Justica/Sejus, Secretaria de
Estado da Cultura/Secult • Patrocínio: SIEC • Agradecimentos Especiais:
Dina de Carvalho Miranda, Cristiane de Praga Antunes da Costa, João de
Moura Neto, Margareth Monteiro Martins, Aureni Oliveira, Valdsom Braga
(pinturas), Penitenciária Feminina de Teresina e Carmelo Santa Teresa de
Jesus e São João da Cruz • Internas na Dança: Andressa Matias, Célia
Leite, Daniele Silva, Edilene Silva, Elda Dos Santos, Isalene Dos Santos,
Julianna Nascimento, Kawuai Rêgo, Ketleen Rocha, Ludmila, Mara Silva,
Maria Do Socorro Silva, Michele Da Silva, Nicole, Samara, Sayane De Souza
• Músicas: Sarkyss, álbum DBRASILIS (trilha sonora) • Esperanto, álbum
Guitarra Maravilhosa (rádio carro).

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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Átopos
Dança audiovisual | Maranhão | 2019 | 2’24”

https://vimeo.com/360172487

Crédito da imagem: Luana de Moraes.


Descrição da imagem: Fotografia em cores e em formato retangular horizontal.
A imagem destaca uma pessoa não binária de pele parda que veste uma meia
calça arrastão preta rasgada e uma camiseta vermelha com a imagem do rosto
do ex-presidente Lula, com a frase “Lula Livre”. A pessoa caminha em direção à
fotógrafa. No plano de fundo, várias pessoas em pé e de costas, olham para o
prédio da Polícia Federal. No canto superior esquerdo há uma bandeira LGBTQIA+.

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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Sinopse
Átopos é parte da série Esboços Eróticos, d’Aloka das Américas. A Loka
dança em Curitiba, no acampamento pela libertação de Lula. Dança numa
cidade em que se espalham os outdoors da Operação Lava-Jato. Dança
ouvindo de alienados que dança é uma macaquice. Dança o espanto da
colonialidade diante de corpos em vontades indecifráveis. LULA LIVRE!
Balbúrdia se faz de calcinha!

Ficha técnica
Direção/performance: Tiago Amate • Fotografia: Luana de Moraes

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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Pretxs 3000
Dança audiovisual | Brasil/EUA | 2021 | 13’30”

https://vimeo.com/527576346

Sinopse
Pretxs 3000 surgiu a partir da inquietação artística do coreógrafo Augusto
Soledade perante a pandemia global do COVID-19 e do convite do produtor,
Guego Anunciação, para realizar uma residência artística virtual com bailarines
pretes de Salvador, BA em fevereiro de 2021. Na sua concepção, a obra busca
imaginar, afirmar e projetar a presença do povo negro no futuro. No processo
de criação da obra juntamente com os intérpretes criadores, usamos uma série
de perguntas sobre a vida para os negros no ano 3000 como ponto de partida:
como estará nossa relação uns com ou outros e com o mundo? Quais serão
nossos sonhos, desejos e inspirações? Que tipo de mundo físico estaremos
inseridos? Neste processo os criadores intérpretes trabalharam de casa e com
isolamento social usando a tecnologia de smartphone como veículo de
capturação de imagens.

Ficha técnica
Pretxs 3000 • Mostra Artística da Residência Artística com Augusto Soledade •
Concepção e Criação: Augusto Soledade • Intérpretes Criadores: Alex Lago, Aline
Moreira, Anderson Nascimento (Slick), Felipe Silva, Hugo Martins, Iago Araújo
Sousa, Lais Oliveira, Lukas di Jesus, Kadu Fragoso ,Monalisa Azevedo, Marcos
Ressurreição (Marcola), Nanda Rachell, Telma Amorim, Ravana Alexandrino &
Tarcio Santos • Trilha Sonora: Marcos Santos, Assistência de Dramaturgia:
Guilherme Silva • Consulta Cinematográfica: Gabriel Oliveira • Texto: Elenco •
Narração: Guilherme Silva • Edição de Vídeo: Àwó Dúdú Produções • Direção
Geral: Guego Anunciação • Projeto financiado pelo Prêmio Anselmo Serrat de
Linguagens Artísticas, da Fundação Gregório de Mattos, Prefeitura Municipal de
Salvador, por meio da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, com recurso
oriundo da Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo e Governo
Federal.

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Cyber Bo Waack
Dança audiovisual | Paraná | 2020 | 1’42”

https://www.youtube.com/watch?v=qN_urcBS8wQ

Sinopse
Esta performance trata-se de um exercício/experimentação na
utilização de materiais disponíveis em uma situação de precariedade no
acesso a tecnologias já existentes no mundo, porém que neste momento
não estão ao alcance de todos. O uso de órteses e as chamadas
"gambiarras" auxiliam criativamente na produção de uma videodança,
trazendo para a realidade o visual/estética adotado: a distopia
cyberpunk.

Ficha técnica
Produção e edição: Renata Riss • Filmagem (amadora): Bia Riss • Apoio na
construção do cenário: Elizabete Riss Corá, Mariana Corá & Ezequiel Riss
• Imagem divulgação ANDA (frame da obra recebida)

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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

En la Piel 2.0
Dança audiovisual | Brasil/Argentina | 2020 | 4’

https://vimeo.com/430087656

Sinopse
En la piel. Sobre e sob o corpo inscrevem-se histórias, sentimentos,
desejos e a força do tempo que (de)forma o que somos de dentro pra
fora e de fora pra dentro. Na pele inscreve-se o contentamento de
sermos o que podemos ser e a resistência em matéria/carne de
continuar existindo como somos.

Ficha técnica
Concepção/direção: Valdemir de Oliveira e Odacy de Oliveira • Direção de
movimento/intérprete: Odacy de Oliveira • Câmera: Odacy de Oliveira •
Edição: Maronilson Júnior • Paisagem Sonora: Moncho Bunge

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Tremor
Dança audiovisual | Inglaterra | 2021 | 3’30”

https://youtu.be/StV9Sxm1YJ8

Crédito da imagem: Elaborado por Valéria Vicente.


Descrição da imagem: Fotografia em cores e em formato retangular horizontal
que recorta a imagem do corpo de uma mulher negra, da altura das costelas até
às sobrancelhas. Ela está posicionada ao lado direito da foto e veste uma roupa
com várias texturas em verde. Tem os cabelos curtos ondulados e não usa
maquiagem. Ela olha em direção à câmera. A luz vem predominantemente do
lado direito da foto, provocando uma maior escuridão no lado posterior. Ao
fundo há uma superfície reflexiva e escura indefinida.

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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Sinopse
Tremor é uma frequência somática, um modo de tornar o corpo
disponível aos estímulos do espaço e do ambiente, liberando o corpo para
redistribuir energias pessoais e sociais. O vídeo foi realizado através da
colaboração de Valéria Vicente e Dominique Rivoal (França/Inglaterra)
com design de som por Patrick Wladyka. A pesquisa esteve associada à
investigação de doutorado que tendo como partida a imersão no
carnaval de Olinda, relaciona tremor, trauma e colonialidade, discutindo
o papel do corpo na descolonização do pensamento, da aestesis e das
emoções.

Ficha técnica
Performer: Valéria Vicente • Filmaker: Dominique Rivoal •
Design de som: Patrick Wladyka

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Trilhas #2

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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Amor Mundi
Documentário | São Paulo | 2020 | 18’

https://youtu.be/ZjhHXwTk1S0

Crédito da imagem: Alex Merino.


Descrição da imagem: Fotografia em cores e em formato retangular horizontal.
A imagem destaca uma mulher de pele branca, com uma máscara transparente,
vestida com um macacão branco e tingido, na parte da frente, com manchas de
cores de tom pastel. Ela está apoiada sobre os joelhos, com o tronco dobrado
para a lateral e apoiada sobre o antebraço direito. O chão é revestido por um
linóleo preto e no alto esquerdo da foto aparece uma garrafa de vidro
transparente e com água, pendurada por um cabo.

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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Sinopse
Esse minidocumentário nasceu do desejo de registrar as motivações e
angústias do processo de criação do trabalho Amor Mundi, da Cia
Fragmento de Dança, durante os anos de 2019 e 2020. Três semanas
antes de sua estreia, o processo foi interrompido em razão da crise
sanitária. Tratava-se de projeto contemplado pelo Programa de Ação
Cultural (PROAC/SP), com prazo para finalização e, depois de cinco meses
fora da sala de ensaio, os artistas voltaram a se encontrar e enfrentaram
os desafios de adaptação para a linguagem audiovisual. Não era previsto
desenvolver um minidocumentário, mas percebemos que registrar esse
momento de frustrações e questionamentos, que envolvem novas
dramaturgias, passou a ser tão importante quanto a própria criação.
Tornou-se precioso, para nós, esse registro-memória. Foi uma tentativa
de pensar nossas vidas e artes numa simbiose necessária, que impôs a
sua urgência. Que outras danças são essas, nos perguntamos. O que
podem essas danças?

Ficha técnica
Coreografia e direção: Vanessa Macedo • Intérpretes: Diego Hazan,
Letícia Mantovani, Maitê Molnar, Thainá Souza, Vanessa Macedo e
Vinicius Francês • Iluminação e edição de vídeo: André Prado • Concepção
de vídeo projeção: Bianca Turner • Captação de imagem: Vic Von Poser •
Assistente de captação de imagem: Alexandre Szolnoky • Composição,
síntese sonora, gravação e mixagem: Ricardo Pesce • Participação
especial Didgeridoo: Paulo Jesus • Figurino: Daíse Neves • Assistente de
figurino: Pablo Azevedo • Consultoria para cenário: Rogério Marcondes •
Edição do minidocumentário: Vinicius Francês • Produção executiva:
AnaCris Medina

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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Gestos para Nada


Dança audiovisual | Rio de Janeiro | 2021 | 3’36”

https://youtu.be/WY3HtY1YMjQ

Crédito da imagem: João Veneu Videla.


Descrição da imagem: Duas fotos em preto e branco e em formato retangular
na vertical, dispostas lado a lado. Na foto da esquerda, há uma mulher sentada
no sofá, toda vestida de preto, com braços e pernas cobertas até os pulsos e
tornozelos. Suas mãos estão apoiadas no sofá, seu tronco levemente inclinado
para frente e seu rosto está totalmente borrado, indefinido devido ao
movimento da cabeça. Atrás dela, há uma superfície clara. A foto da esquerda
é da mesma mulher, continuando o movimento de balanço do tronco e da
cabeça. O cabelo comprido, em situação de movimento, tapa o seu rosto.

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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Sinopse
GESTOS PARA NADA, um trabalho de criação atravessado pela pesquisa
realizada do Grupo Linha – Derivas, Danças e Pensamento a respeito das
atuações de Fernand Deligny com crianças autistas. A partir de textos,
filmes, cartografias e a metodologia nas áreas de convivência, em uma
área rural do sul da França como propôs Deligny, inspiro-me no verbete
GESTO PARA NADA. Abril, 2021. Gestos para Nada! Em meio ao isolamento
social, este termo criado na década de sessenta, passa a ser
extremamente pertinente para mim. Como não se questionar das nossas
ações programadas e comportamentos repetitivos mediante o universo
em suspensão que estamos vivendo? Um gesto sem propósito (para
nada) indica a crítica da intencionalidade de Deligny. Esse gesto sem
propósito é realizado sem nenhuma intenção particular, sem nenhuma
funcionalidade. Me aproprio, deste verbete do seu glossário, para fazer
uma leitura, um questionamento para nosso tempo atual pandêmico.
Para que normal queremos voltar?

Ficha técnica
Concepção, Roteiro e performance: Beatriz Veneu • Câmera e edição de
vídeo: João Veneu Videla • Música: In the Hospital, Crowander
(freemusicarchive.org)

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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

meet.com/hjz-htcc-hfs
Dança audiovisual | Goiás | 2020 | 5’40”

https://youtu.be/8_jJe63K53Y

Crédito da imagem: Tainá Barreto e Viviane Reis.


Descrição da imagem: Composição de seis fotografias, quatro retangulares na
horizontal, distribuídas duas em cada lado, e outras duas quadradas, ocupando
o centro da imagem. Todos os recortes fotográficos estão sobrepostos num
fundo preto, formando um único quadro em paisagem. Em cada recorte de
imagem, há uma mulher de pele branca experimentando diferentes apoios e
formas a partir da relação corpo e ambiente. Em três desses recortes, vemos
elas se relacionarem com uma estrutura em formato de meia lua que gera uma
base instável e dinâmica para o corpo.

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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Sinopse
Duas dançarinas, cada uma em sua casa. Encontros virtuais, um diálogo
possível. A instabilidade e o devaneio como temas no corpo. A vídeo-
dança meet.com/hjz-htcc-hfs é uma poesia sobre o isolamento social e
as tentativas de conexão por meio do corpo em movimento. Com
imagens coletadas em celular, o vídeo assume a precariedade do
momento pandêmico e compõe uma narrativa sobre o (não) encontro, a
espera, o estar em si mesmo. Esta obra é resultado de uma pesquisa
sobre movimento instável e o aparelho Flymoon, desenvolvida com
estudantes da Licenciatura em Dança do IFG, campus Aparecida de
Goiânia.

Ficha técnica
Direção: Tainá Barreto e Tatiana Devos Gentile • Fotografia e atuação:
Tainá Barreto e Viviane Reis • Edição: Tatiana Devos Gentile • Música:
Jaime Ernest Dias – tema “Princesa” • Duração: 5’40” • Realização: grupo
de pesquisa sobre Flymoon/Lic. Dança/IFG • Coordenação da pesquisa:
Tainá Barreto • Edital InspirArte/IFG

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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Casulo
Dança audiovisual | Bahia/Minas Gerais | 2020 | 5’51”

https://vimeo.com/498515007

Crédito da imagem: Ananda Campana.


Descrição da imagem: Fotografia em cores e em formato retangular horizontal.
A imagem destaca uma mulher de pele branca, cabelos compridos e vestido
preto. Ela está em um corredor estreito, de paredes brancas, apoiada com os
braços nas laterais e cabeça baixa. O cabelo comprido liso tapa seu rosto.

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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Sinopse
Casulo é a implosão de 3 mulheres quarentenadas. Uma dançarina-
cineasta, uma dançarina-arquiteta e uma dançarina-fisioterapeuta. É
turbilhão, catarse e fusão com novos espaços e formas de existir pela
tela do celular. É a casa que transita entre prisão e abrigo. A alma que
não sabe se grita ou se sonha. E o corpo que se reinventa para caber no
agora e no reencontro com a própria natureza. É Cabrália, Belo Horizonte
e Salvador no mesmo lugar.

Ficha técnica
Videoartista: Ananda Campana • Criação e Interpretação: Ananda
Campana, Branca Peixoto, Claudia Auharek

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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Dançando o Invisível
das Cidades
Dança audiovisual | Bahia | 2021 | 3’

https://youtu.be/ZQETe7p1UKc

Crédito da imagem: Clara Passaro.


Descrição da imagem: Fotografia em cores e em formato retangular horizontal.
Destaca um jogo de sobreposições de diferentes graus de opacidade de uma
mesma imagem: uma mulher de pele branca e cabelos curtos, vestida com uma
blusa branca, sem mangas segurando com a mão direita um galho de folha
verde. Ela aparece dos ombros para cima.

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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Sinopse
Em 2019, as artistas Clara Passaro e Nara Dourado começaram uma
investigação poético-artística em torno de três árvores centenárias que
se encontram na rota da construção do BRT pela Prefeitura de Salvador.
Em 2021, em meio a segunda onda da pandemia no Brasil, protegidas em
casa, elas recebem a notícia de que as obras do BRT foram retomadas e
as árvores seriam demolidas. Este vídeo é a dança da despedida, uma
dança-improvisação sobre o luto da partida, sobre a iminência da perda
que este momento nos desafia a confrontar. "O corpo envelhece e morre,
mas segue dançando com a Energia do Universo", Kazuo Ohno.

Ficha Técnica
Criação de vídeo, edição de áudio e dançarina: Nara Dourado • Criação de
vídeo, edição de imagem e dançarina: Clara Passaro • Trilha sonora:
música de Arvo Part, spiegel im spiegel • Gravações de áudio na Av.
Juracy Magalhães, Salvador-BA.

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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Vai num pé, volta no outro


Dança audiovisual | São Paulo | 2020 | 5’47”

https://youtu.be/KbUlh5qXlrU
O vídeo contém Libras e audiodescrição.

Crédito da imagem: Raíza Ferreira.


Descrição da imagem: Fotografia em cores e em formato retangular horizontal.
A imagem destaca uma mulher de pele parda que usa uma máscara de proteção
facial preta com dois filtros de ar redondos, que tem detalhes amarelos e
brancos. O ângulo da foto é levemente posicionado de baixo para cima, o que
recorta o corpo da mulher da altura do peito até o topo da cabeça, fazendo-o se
avolumar por quase toda a imagem. Seu cabelo preto liso está preso pelos
elásticos da máscara e seus olhos esboçam uma feição de esforço. Ela usa uma
blusa vermelha de mangas compridas que está bem justa ao seu corpo, a qual é
sobreposta por outra blusa de alça preta. No plano de fundo da imagem, se vê o
céu azul cortado por alguns postes e fios de eletricidade.

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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Sinopse
A videodança reflete sobre a precarização do trabalho ou a uberização —
desafio presente na contemporaneidade. A Cia Pé na Tábua teve como
ponto de partida o Artigo 23 da Declaração Universal dos Direitos
Humanos e escolheu o cotidiano dos entregadores de aplicativos para
atualizar e ressignificar sua dança, que nessa obra é também trilha
sonora. Esta proposta integra a programação do projeto Direitos Plurais,
idealizado pelo Sesc Ribeirão Preto e é de autoria da Cia. de Sapateado
Pé na Tábua, sediada em Ribeirão Preto e, há 13 anos, atuante no interior
do estado de São Paulo.

Ficha técnica
Cia. de Sapateado Pé na Tábua • Artistas: Ana Luiza Yosetake, Renata
Defina, Rodrigo Lima, Tulio Alves Monteiro • Designer: Rodrigo Lima •
Produção audiovisual: Raíza Ferreira • Som direto: Edcarlos Santos -
Interior dos Sonhos • Direção de Produção: Priscila Prado | Bem Feito
Produções • Agradecimento: Tato Siansi - Kauzare Filmes • Realização:
Cia de Sapateado Pé na Tábua com apoio do Sesc Ribeirão Preto

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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Trilhas #3

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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Dança de Agoras
Documentário | Pernambuco | 2017 | 17’

https://www.youtube.com/watch?v=fVrvNUQreOg

Crédito da imagem: Ju Brainer.


Descrição da imagem: Fotografia em cores e em formato retangular horizontal.
A imagem destaca uma mulher negra, vestida com uma camiseta branca e tiara
vermelha nos cabelos presos. O quadro recorta a imagem da mulher da cintura
para cima, posicionando-a ao lado esquerdo da foto. Ela sorri com os dentes à
mostra e olhos semiabertos. No plano de fundo, folhagens de árvores inundam
a paisagem.

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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Sinopse
O documentário Dança de Agoras articula movimentos e pensamentos
sobre o fazer da dança que se constrói a partir do improviso, levando
para a tela um jogo de conversas sobre o imprevisível, o risco, o jogo, o
corpo criando em movimento e os impulsos e desafios de improvisar.
Participaram do documentário seis artistas/grupos de Recife (PE) que
têm experiências e vivências múltiplas com improvisação, seja no
universo de criação nas danças tradicionais, na performance, ou nas
danças contemporâneas, e também como foco de interesse acadêmico
ou pedagógico. O documentário é resultado da pesquisa A improvisação
do movimento como caminho para composição cênica, do Acervo
RecorDança (PE).

Ficha técnica
Direção: Liana Gesteira • Concepção: Juliana Brainer, Liana Gesteira,
Raphaela Spencer, Taína Veríssimo e Valéria Vicente • Roteiro: Liana
Gesteira, Raphaela Spencer e Taína Veríssimo • Edição e montagem:
Raphaela Spencer • Filmagem e fotografia: Juliana Brainer • Som direto e
edição de áudio: Carlos Carvalho • Entrevistados: Liana Gesteira, Gabriela
Santana, Giordanni Gorki (Kiran), Janaina Gomes, Fabio Soares, Paulo
Michelotto, Polyanna Monteiro, Jonas Araújo e Lili Guedes • Coordenação
da pesquisa: Liana Gesteira • Pesquisadoras: Juliana Brainer, Liana
Gesteira e Taína Veríssimo • Consultoria de pesquisa: Valéria Vicente •
Colaboração pesquisa: Marcela Felipe e Diogo Lins • Divulgação: Beth
Oliveira / Tecendo Comunicação • Identidade visual: Iara Sales •
Agradecimento aos espaços de gravação das entrevistas: Espaço
Compassos, Coletivo Lugar Comum, Centro São Salomão de Capoeira •
Realização: Acervo RecorDança

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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Ocean
Dança audiovisual | São Paulo | 2021 | 5’56”

https://youtu.be/wVqUEetaQ4U

Crédito da imagem: Victor Isidro.


Descrição da imagem: Fotografia em cores e em formato retangular na
horizontal. No primeiro plano, ao lado direito, um plástico bolha desfocado, com
tons suaves de azul translúcidos, encobre parte do rosto de um homem de pele
branca. Do seu rosto, só vemos um de seus olhos, uma de suas orelhas e parte
de seus cabelos cacheados. A região inferior ao redor do olho está pintada com
uma maquiagem azul bem espessa e delineada. Ao fundo há uma superfície lisa
branca com algumas sombras.

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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Sinopse
Ocean é uma videodança experimental e integra o projeto de pesquisa
de iniciação científica Corpo, movimento e visualidade: um processo
híbrido de criação em dança contemporânea, com orientação de Juliana
Moraes. Atravessada pelo trabalho de Lygia Clark e Hélio Oiticica, essa
dança de plástico transita entre o visceral e o artificial, escorre pela pele
e se afunda nas águas de um corpo mareado.

Ficha técnica
Concepção, interpretação, edição de vídeo e trilha sonora original: Victor
Isidro • Captação de vídeo: Gabriel Pestana • Orientação de pesquisa:
Juliana Moraes

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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

A Mulher de Azul
Dança audiovisual | Rio Grande do Sul | 2020 | 7’56”
https://www.youtube.com/watch?v=mA1qymcdN0o

Crédito da imagem: Luana Echevenguá Arrieche.


Descrição da imagem: Fotografia em cores e em formato retangular horizontal.
A imagem destaca uma mulher de pele branca e cabelos compridos, com um
vestido de manga longa na cor azul. A cabeça está voltada para baixo, os braços
estão esticados e apoiados sobre uma mesa de madeira clara que contém uma
tesoura, uma xícara sobre um pires e uma jarra branca. Um pequeno lenço
acetinado vermelho repousa sobre o pires. No plano de fundo da imagem, se vê
uma grande janela com vista para um prédio.

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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Sinopse
A mulher de azul é uma narrativa audiovisual de videodança composta
através do processo de criação vivenciado no Mestrado em Artes Visuais
de 2018 a 2020, a qual foi gravada no último ano de pesquisa, vinculada
ao PPGAVI. Está permeada por memórias afetivas que ativaram
discursos acerca do feminino, universo representado pelas mulheres
próximas à artista. Teve como inspiração três obras da cineasta
ucraniana Maya Deren (1917-1961): Meshes of the Afternoon (1943); Study
in Choreography for the Camera (1945); Ritual in Transfigured Time
(1946).

Ficha técnica
Artista pesquisadora (roteiro, captação, edição, fotografia e som): Luana
Echevenguá Arrieche • Orientações: Rosângela Fachel de Medeiros e
Eleonora Campos da Motta Santos

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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

D = m/V
Dança audiovisual | Minas Gerais | 2021 | 1’57”

https://drive.google.com/file/d/1VZu6Ic2U6vhjVaiXoaPN
k8GrJAb2yNs5/view

Crédito da imagem: Samuel Leandro.


Descrição da imagem: Fotografia em cores e em formato retangular horizontal.
A foto retrata uma imagem caleidoscópica de uma pessoa vestida com calça
roxa e camisa azul.

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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Sinopse
A densidade é uma grandeza física presente na natureza e relacionada
no cotidiano a complexidade de uma informação ou a uma vasta
quantidade de informações sobre algum tema. No corpo ela é percebida
através do tônus muscular ativo, forte ou pesado, qualidades labanianas
de movimento, e através da diminuição da aceleração do movimento
resistindo ao ar que circunda o corpo. Na física, ela é medida na razão da
massa pelo volume. Esta obra consiste na investigação da densidade no
corpoimagem dançante a partir da pesquisa teórica sobre corpos
massivos astronômicos. Esta videodança explora a densidade no tônus,
na velocidade e no áudio propondo gerar sensações cinestésicas a partir
dessa exploração. A videodança D = m/V tem apoio financeiro da UFOP e
faz parte da mostra de processo do curso de formação online:
"Videodança — convergência e modos próprios do fazer", com a
concepção e coordenação pedagógica de Lilian Graça com o apoio
financeiro da Lei Aldir Blanc via Secretaria de Cultura e Fundação Cultural
do Estado da Bahia.

Ficha técnica
Concepção e intérprete: Samuel Leandro • Música: Awful, Josh Ban •
Imagens e edição: Samuel Leandro

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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Mãos, Sabão e Águas a Dançar


Dança audiovisual | Rio de Janeiro | 2021 | 4’

https://www.youtube.com/watch?v=Uz-OA29-l7I

Crédito da imagem: Coletivo Dança/Educação.


Descrição da imagem: Composição de doze fotografias em cores e em formato
retangular vertical, posicionadas seis em cima e seis embaixo, que juntas
formam uma única imagem retangular horizontal. A conexão das imagens se dá
por suas sobreposições em um fundo azul. Em cada imagem recortada há uma
criança ou um adulto — pessoas de pele preta, parda e branca — fazendo
variados gestos com as mãos e os braços. Nos recortes é possível identificar
detalhes de objetos pessoais e cômodos de ambientes domiciliares.

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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Sinopse
É criando que resistimos e nos reinventamos. Resistimos ao medo e à
insegurança deste tempo e criamos novas ressignificações para o
espaço-tempo de nossas casas. O Coletivo Dança/Educação da UFRJ
pensa a dança como direito das crianças e, diante deste tempo, busca
como dançar brincando e aprendendo, utilizando recursos audiovisuais.
Escolhemos o importante gesto de "lavar as mãos com água e sabão"
para mover nossa dança e nos instigar a criar, recriar e partilhar uma
coreografia que traz ludicidade para o dia a dia. O processo de criação do
vídeo foi trazendo esse momento de partilha e leveza, que sai da casa
de cada um dos participantes e vai para as casas das crianças que
assistem e dançam junto. Assim, o gesto cotidiano adquire outra
presença e o movimento se transforma em dança.

Ficha técnica
Idealização e textos: Mabel Botelli • Discentes: Arielle Santos, Caroline
Faria, Isaac Vale, Luana Bernardino, Marcos Souza, Samara Vicença.
Dançantes: Arielle Santos, Arthur Bernardino, Caroline Faria, Helena
Vitória Guerreiro, Isaac Vale, Luana Bernardino, Luna Maria Oliveira,
Marcos Souza, Maria Vitória Leão, Samara Vicença, Sarah Mulque •
Ilustrações: Inajah Cesar e Mariana Castro - Desenhos vinculados ao
Caderno de Dança/Educação para crianças, ÁGUAS - Coletivo
Dança/Educação • Edição do vídeo: Arielle Santos • Trilha sonora: Águas
- Osvaldo Aguilar • Voz: Luiza Borges • Mixagem sonora: Alexandre Alvim

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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Corpo Criança, Corpo que Dança:


a NATUREZA no Brincar
Dança audiovisual | Bahia/São Paulo | 2021 | 8’

Crédito da imagem: Drica Rocha.


Descrição da imagem: Fotografia em cores e em formato retangular horizontal.
No primeiro plano, uma taça de vinho preenchida com água até a sua metade e
com conchas do mar ao fundo. Através da transparência desse objeto, se
visualiza uma criança em pé (recortada do joelhos para cima) com os braços
erguidos que olha para o lado esquerdo da foto. Atrás dela, vê-se uma parede
branca.

55
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Sinopse
Corpo criança, corpo que dança: a NATUREZA no brincar é uma obra
fílmica de dança para infância criada a partir da interação da criança
com a natureza que a cerca. O processo de criação se deu pela relação
dança-brincar-natureza por meio da improvisação, da coreografia e do
espaço-casa durante a pandemia e teve como mote: o conto indígena A
Dança do Arco Íris e o Corpo-Natureza como reconhecimento do
pertencer. Utilizando-se dos recursos da videochamada como ambiente
de troca e criação dos registros das imagens e como possibilidade de
composição investigava de dança pelas telas.

Ficha técnica
Direção e edição de vídeo: Drica Rocha • Crianças Participantes: Alice
Ribeiro de Arruda, Anny Carollyne da Silva Barbosa, Cezar Ramos Luz,
Juliana Gomes Brito, Kinda da Cruz Araujo, Luna Soledad Aguiar Pais,
Natalia Moura Mendonça, Nina Almeida Rocha • Orientações artísticas:
Dany Viegas, Drica Rocha, Jota Júnior e Negro Du • Poesia sonora: Jota
Júnior • Músicas: Plantadeira, composição Minuska e interpretação: NINA
Almeida Rocha; Rap na Praia e Pequeno Castelim, voz e composição:
KINDA da Cruz Araújo

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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Trilhas #4

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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Dança e Imagem Sonora


Dança em plataforma digital | Rio de Janeiro | 2021
Acesse via Spotify:

https://open.spotify.com/show/1AsqOvTz7umlXDwU0p1nqm?si=K
w9XDPAVQSy6Xeqtq23zQw&dl_branch=1
Acesse via YouTube:

https://youtube.com/channel/UCu-v2V0Z2Jxya9pVVCREQxg

Crédito da imagem: Thiago de Souza.


Descrição da imagem: Fotografia em cores e em formato retangular horizontal.
Destaca um grande amontoado de objetos aleatórios no chão de uma rua, que
compõem muitas camadas e planos para a imagem. Ao fundo, destaca-se a
passagem de carros, um prédio, um posto de gasolina à direita e uma placa de
sinalização que diz “Ramos, Olaria, Penha”.

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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Sinopse
Dança e Imagem Sonora é um projeto de contação de dança em formato
audiovisual. Como comunicar uma dança a partir das palavras e
sensações que ela convoca? De que maneira podemos retomar uma
tradição oral para documentar e capilarizar, dar continuidade às
informações e segredos contidos em uma coreografia? Dança e Imagem
Sonora é um gesto comprometido em sustentar essas e muitas outras
questões, tomando como ponto de partida as danças espalhadas pela
cidade do Rio de Janeiro. Traduzir composições coreográficas em
paisagens sonoras, tais composições contadas por alguém que vê e/ou
que dança a dança escolhida, é o desafio que temos para trilhar.
Elegendo o texto como protagonista da ação, e não a imagem
cinematográfica, desejamos ativar a companhia do espectador,
convidando-o a passear pelos percursos cinestésicos da experiência
narrada e encontrando, quem sabe, familiaridade afetiva e memorial
com a dança na sua intimidade.

Ficha técnica
Captação de áudio, paisagem sonora e edição: Caique Mello • Identidade
visual: Clara Ramos • Concepção, roteiro, narração e produção: Thiago de
Souza

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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Mãe-Artista ou Artista-Mãe?
Dança em plataforma digital — Site e exposição virtual | Pernambuco | 2021

www.maeartistadanca.46graus.com

Crédito da imagem: Jocarla.


Descrição da imagem: Fotografia de uma composição de fotografias em cores e
em preto e branco, costuradas umas sobre as outras por uma linha vermelha.
Uma foto maior atrás, em preto e branco, faz a base para a costura; com ela é
possível reconstituir o rosto de uma mulher de pele clara e cabelos curtos. Os
outros recortes menores estão costurados e sobrepostos à foto maior como se
fossem retalhos de outras imagens: dois retalhos de fotografia em cores de
olhos de duas crianças diferentes de pele branca; e outros três retalhos, duas
em cores e outra em preto e branco, de bochechas e pescoços de mulheres mais
velhas, também de pele branca.

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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Sinopse
Ser mãe ou ser artista? Houve um tempo em que era necessário escolher
entre ser uma das duas coisas. Ao acolher a maternagem e seu tempo
próprio, seus processos, suas dores e suas delícias, nasce a artista-mãe.
Nasce também o corpo-mãe e toda a complexidade física, psíquica e
social do tornar-se mãe. A residência artística remota para as mães
artistas da dança nasceu dessa potência e transbordou. Nela, 18
mulheres de todas as regiões do país e duas assessoras-doulas se
encontraram e se acolheram virtualmente nos meses de janeiro a abril
de 2021, em plena pandemia do Covid-19. O resultado deste trabalho está
reunido na exposição permanente Mãe-Artista ou Artista-Mãe?, na aba
"CRIAS", que traz, através da arte, um olhar reflexivo de mães artistas
tratando sobre suas maternagens, sem ter que escolher entre ser mãe
ou ser artista.

Ficha técnica
Orientação, idealização, identidade visual e coordenação geral: Iara
Sales • Mães-Artistas: Ana Luíza Reis (SP), Cecília Carvalho (MG/BA),
Cristine Olofsson (PE), Daiana Carvalho (SP), Drica Ayub, (PE), Iara Sales
(PE), Isa Flor (DF/BA), Janahina Cavalcante (CE/BA), Jocarla (BA/SP), Luana
Araújo (SP/SC), Lucimar Cerqueira (BA), Maíra Tukui (BA), Milena Mariz
(BA), NaíseS Costa (PA), Natalie Revorêdo (PE), Patrícia Raquel (PE),
Rafaela Kalaffa (DF) e Talitha Mesquita (MG) • Assessoria de direção de
arte: Gabriela Holanda • Assessoria de Imagens e Desenvolvimento do
Site: Thaís Lima • Assessoria técnica de edição e edição de entrevistas:
Tonlin Cheng • Assessoria de Comunicação: Thaís Moura Lima

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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Mosaico de Banha e Pixel, Ep. 01


Dança em plataforma digital — trabalho em processo |
Santa Catarina | 2021

https://www.instagram.com/trabalhoremotoadiposo/

Crédito da imagem: Ana Clara Joly.


Descrição da imagem: Imagem retangular vertical de um mosaico de vários
recortes de rostos e mãos de um homem barbado e de uma mulher, ambos
gordos e de pele branca. As feições de ambos são deformadas tanto pelos
gestos das mãos que estão manipulando os rostos quanto pelo jogo de recortes
e sobreposições do mosaico. No topo da imagem, há uma predominância de
pedaços de dedos em riste, enquanto na parte inferior vários pedaços

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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

diferentes de uma barba. No centro da imagem, nota-se um nariz e a


composição de três recortes de uma boca entreaberta.

Sinopse
A ação Mosaico de Banha e Pixel, Ep. 01 é uma série episódica de
performances que formaliza transitoriamente a pesquisa
desenvolvida por Jussara Belchior e Anderson do Carmo no projeto
T.R.A. (trabalho remoto adiposo [ou] técnicas para retardar a
antecipação), contemplado pelo Prêmio Elisabete Anderle de
Estímulo à Cultura 2020. Como proposta de apresentação nas
plataformas virtuais, Mosaicos de banha e pixel se dá como uma
série de experiências que exploram diferentes aspectos da relação
entre as corpas gordas no contexto da dança contemporânea e na
pandemia, articulando-se, principalmente, a partir da questão:
Como confrontar o imaginário em relação à gordura corporal como
resultante da demanda de isolamento social e consequente
permanência no espaço doméstico?

Ficha técnica
Criação, direção e dança: Anderson do Carmo e Jussara Belchior •
Interlocução audiovisual: Sarah Ferreira • Interlocução
performativa: Miro Spinelli • Interlocução gráfica visual: Ana Clara
Joly • Produção: Rhaisa Muniz

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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

I’M A LIVE
Live-performance | São Paulo | 2020 | 15’

https://www.instagram.com/p/CPrRVELpdKb/

Crédito da imagem: elaborado pelos organizadores (frame da transmissão no


Instagram).
Descrição da imagem: Composição de duas imagens quadradas, levemente
arredondadas nas extremidades, uma sobre a outra. A imagem de cima está
colorizada por um filtro azul e, no seu centro, há um homem de perfil que olha
para baixo. A imagem de baixo está colorizada por um filtro verde e, também ao
centro, há uma mulher de perfil, olhando para cima.

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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Sinopse
I'M A LIVE é um espetáculo-performance virtual criado em 2020 durante
a pandemia de Covid-19 e uma obra híbrida de dança, música e artes
visuais. A Live Performance questiona sobre a presença e a ausência do
corpo no mundo real e no mundo virtual, é performada a partir da
utilização das próprias ferramentas e estéticas virtuais. O corpo funde-
se com a tela, a performance abraça as limitações da plataforma, é
genuinamente íntegra, não poderia se dar de outra forma, não
aconteceria no palco e em nenhum outro espaço.

Ficha técnica
Concepção, direção e interpretação: Clara de Clara e Henrique Hokamura
• Cenografia e Iluminação: Caró • Trilha sonora: Nathanael Martins

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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

[Extra]5

Resistência~Eu~Sou
Dança audiovisual | Piauí | 2020 | 5’15’’

Sinopse
Um estudo de dança autobiográfica para vídeo em diálogo com a música
Eu Sou, de WD. Por ser um ‘jovem gay afeminado’, considerado um corpo
estranho fora do padrão de normalidade, fui julgado, observado e
discriminado ao longo de minha trajetória escolar. As marcas dessa
experiência me serviam de espelho, reproduziam as relações de poder
que eram notadas em espaços da cidade, nas experiências vivenciadas
com a família, entre professoras(es) e alunas(os) e principalmente nos
momentos de liberdade (brincadeiras, brinquedos e danças). Os insultos,
as provocações e os apelidos decorrentes dos meus trejeitos de bicha
procuravam destacar características consideradas como defeitos para
uma sociedade LGBTfóbica e racista como a que eu estava inscrito. A
arma que me parecia mais eficaz naquele momento era a invisibilidade.

Ficha Técnica
Criação: Weslley da Silva Rodrigues

5
Devido a questões operacionais na programação das Trilhas, o trabalho foi adicionado ao perfil @portalanda no Instagram
posteriormente ao evento.

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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Trilhas #5

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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

ESTELLA, encruzilhada de afetos


Documentário | Bahia | 2018 | 7’

https://vimeo.com/262349203

Crédito da imagem: Berg Kardy e Andréia Oliveira.


Descrição da imagem: Fotografia em cores e em formato quadrado, de um corpo
em uma paisagem de enseada à contraluz. A pessoa está de perfil e em pé
carregando um objeto comprido que tem uma de suas extremidades apoiadas
na fina areia que recobre o espaço. À sua frente, uma bolsa de nylon repousa no
chão. No plano de fundo, a água espelha a cor do pôr-do-sol que pinta o céu de
muitos tons de vermelho, azul e amarelo. O horizonte é bem marcado pela
silhueta da vegetação que contorna a enseada.

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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Sinopse
O vídeodança.doc ESTELLA, encruzilhada de afetos é uma teia de
memórias do processo de criação em dança arvorada pela
descolonização do conhecimento. Trazendo a gira as práticas de
escavar, colher, cuidar, semear, balanço e ginga vivenciadas junto às
mulheres voltadas às atividades pesqueiras e outras que atravessavam
o território salino, construindo uma dança.manifesto em reverência às
mulheres-mangue.

Ficha técnica
Roteiro, Performance, Pesquisa e Montagem: Andréia Oliveira • Imagens:
Berg Kardy e Andréia Oliveira • Orientação: Lara Rodrigues Machado •
Agradecimento: à toda Comunidade de Encarnação de Salinas e toda
corpa que se permite mergulhar em ESTELLA.

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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Negrafia
Dança audiovisual | Pernambuco | 2018 | 2’40”

https://youtu.be/d5qQ6qYbxe0

Crédito da imagem: Foto divulgação.


Descrição da imagem: Foto em cores e em formato quadrado de um perfil de
uma mulher de pele negra. Ela tem cabelos crespos volumosos que estão
moldados com o auxílio de uma tiara colorida. Tem sobrancelhas bem definidas,
usa um batom vinho e um brinco de penacho e de pedra transparente. Ela veste
uma camisa preta de alça e olha para fora do quadro.

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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Sinopse
Jacicleide Conceição da Silva, mulher negra, pobre e periférica, estudante e
professora de dança, nos apresenta em poucos minutos uma narrativa visual
em movimento de sua herança ancestral e cultural. Sua dança e sua
expressão são símbolos significativos em meio a paisagem com que interage,
seu corpo representa a resistência negra presente nos quilombos
contemporâneos urbanos. Através de uma sonoridade que remete às
manifestações afro tribais, seus braços cortam o ar, sua silhueta brinca no
escuro e seus pés reforçam a força da mulher negra. O racismo insiste em
deslegitimar e invisibilizar os corpos negros e a periferia e é por isso que
afirmar sua identidade, suas raízes e o seu lugar é um ato de resistência
política e social.

Ficha técnica
Performer: Jacicleide da Silva • Direção: Amanda de Souza e Priscilla Melo •
Iluminação: Amanda de Souza • Coreografia: Jacicleide da Silva • Montagem e
edição: Priscilla Melo

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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Ao Passo que o Tempo Passa


Dança audiovisual | Rio de Janeiro | 2020 | 10’

https://youtu.be/giOeVbmmtxA

Crédito da imagem: Natália Cirilo.


Descrição da imagem: Fotografia em cores e em formato retangular horizontal.
A imagem destaca duas pessoas em pé. Uma mulher de pele branca, usando um
vestido amarelo, está encostada com a parte da frente do seu corpo nas costas
de um homem de pele negra, vestido com uma saia longa e amarela e uma
camiseta branca. Ambos estão virados para o lado direito de quem vê a foto. Ela
repousa a sua mão direita e a sua cabeça sobre a mão e o ombro dele. No plano
de fundo da imagem, se vê uma rede de dormir e uma janela fechada por uma
cortina bege. No canto superior esquerdo há uma samambaia e, no chão, um
pequeno móvel de madeira com livros. No canto inferior direito há um móvel
coberto com um pano verde.

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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Sinopse
O que você vive ou pensa hoje? A partir da investigação sobre o filme
Moscou, de Eduardo Coutinho, surge o projeto Ao Passo Que o Tempo
Passa. Em uma das cenas do longa-metragem, acontece um exercício de
improvisação teatral no qual os atores relatam um momento marcante
do passado e futuro do presente. Em meio ao isolamento social para
alguns e impossibilidade de isolamento para outros, nos sentimos
provocados a pensar mais sobre nossas memórias, sentimentos,
objetivos e como atingi-los. Movidos pelo tempo presente, uma
experimentação performática corporal com relatos de 23 pessoas, de
diferentes eixos sociais, gêneros e com idades entre 20 e 30 anos. Como
o tempo pode fazer a palavra, música? Corpo e estímulos sonoros, as
possíveis sincronias e dissincronias entre esses atores, criando
momentos de diálogos entre palavras e sonoridades.

Ficha técnica
Concepção/Idealização: Isabella Serricella e Diego Ávila • Direção de
Movimento: Anna Clara Franco • Edição de Vídeo e Áudio: Diego Ávila •
Assistente de Edição: Gabriel Rochlin • Câmeras: Isabella Serricella, Lucas
Santana e Natália Cirilo • Intérpretes: Isabella Serricella e Lucas Santana

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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Manguedança
Dança audiovisual | Rio de Janeiro | 2019 | 7’10”

https://youtu.be/e-MLziXifwA

Crédito da imagem: Nádia Oliveira.


Descrição da imagem: Fotografia em cores e em formato retangular na
horizontal de um par de pernas de uma pessoa de pele branca se entrelaçando
meio a uma vegetação de mangue, como se fossem continuidade da vegetação.
As pernas estão cruzadas e as meias pontas dos pés estão submersas na areia
fina branca que recobre toda a paisagem. Algumas folhas estão caídas no chão
e no plano de fundo, ao lado esquerdo, há galhos secos e um rio escuro.

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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Sinopse
Nascer e renascer nos organismos do Manguezal. Vazar meu ser
dançante por entre as marés. Amassar minha carne na areia, sair
nas folhas, respirar pelas raízes e ir para o Abismo Alimentador de
Tudo. Deixai-me aqui nesta dança pelo Mangue como quem de lá
nunca saiu.

Ficha técnica
Autora e intérprete-criadora: Yasmin Moreira • Direção: Ana Célia
de Sá Earp • Edição e captura de imagens: Nádia Oliveira •
Orientação: Ana Célia de Sá Earp, André Meyer e Taciana Moreira

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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Nos Ares da Serra


Dança audiovisual | Minas Gerais | 2021 | 9’05”

https://youtu.be/gGOKLaYbGdk

Crédito da imagem: Tadeu de Oliveira.


Descrição da imagem: Fotografia em cores e em formato retangular na vertical,
destacando, em primeiro plano, uma silhueta preta de uma grande árvore de
tronco bastante largo, com muitos galhos e folhagens. Há amarrações de tecido
perpassadas entre alguns galhos da árvore, que fazem grandes argolas no ar.
Uma pessoa está sentada em uma das argolas, também em contraluz; seus pés
flutuam no ar como se ela estivesse num grande balanço. No fundo da imagem,
há uma paisagem colorida com vários tons de vegetação e serra que encontram
o horizonte do céu azul e as nuvens brancas. O contraste entre a silhueta preta
e as demais cores da paisagem é bastante intenso.

76
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Sinopse
Nos Ares da Serra é um vídeodança fruto do projeto artístico
multidisciplinar homônimo, proposto pela pesquisadora corporal e
artista Cláudia Millás, contemplado pela Lei Aldir Blanc do município de
Andradas – MG, em parceria com artistas locais. Parte-se da interação
do corpo no espaço natural, reunindo elementos da dança, do circo, das
técnicas verticais e do audiovisual, que dialogam com o ambiente da
Serra do Pau D’alho, localizada na zona rural do município. O projeto
nasceu do desejo da autora de desenvolver pensamentos/ações
ecológicos capazes de aproximar o público e fomentar a necessidade de
cuidado e responsabilidade pelo espaço que se vive. No presente
contexto de isolamento social, decorrente do combate a pandemia do
Covid-19, em que se instaura uma série de restrições, incertezas
financeiras e instabilidades de saúde, o vídeodança busca criar uma
experiência sensível, capaz de proporcionar um momento de desfrute e
emancipação ao público.

Ficha técnica
Concepção artística, criação, performance e direção geral do projeto:
Cláudia Millás • Trilha sonora: Anderson Martins e Silva • Direção de
fotografia e videomaker: João Fábio Matheasi • Figurino: Warner Júnior •
Registro fotográfico: Tadeu de Oliveira e responsável técnico de trabalho
em altura: Tadeu de Oliveira • Equipe técnica de montagem: Tadeu de
Oliveira e William Esperança • Consultoria cenográfica: Juliana Sá • Arte
Gráfica: João Fábio Matheasi • Produção executiva e assessoria de
imprensa: Bianca Martinelli • Apoio: Prefeitura Municipal de Andradas
(MG), Bramido do Elefante e NanoCirco

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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Aterra
Dança audiovisual | Sergipe | 2021 | 4’

https://drive.google.com/file/d/1aK89fSwI2wmy3_4xGM
IL-8OirtYs3bVD/view?usp=sharing

Crédito da imagem: Geca.


Descrição da imagem: Composição de fotografias em cores e em formato
retangular horizontal. A imagem é um cartaz de divulgação composto por 6
fotos ordenadas lado a lado, sendo que três na parte superior e três na inferior,
que apresentam partes do corpo humano em relação à natureza, com destaque
para a terra, plantas e céu azul. No primeiro plano e no centro da imagem está
escrito: “ATERRA. Videodança. Produção: grupo de estudo e pesquisa corpo e
ambiente. @corpoeambiente”.

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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Sinopse
Atravessados pela pandemia, ATERRA é o primeiro videodança criado
pelo Grupo de Estudos Corpo e Ambiente (GECA) cada qual em sua casa.
Aflorado como a terra em si, ou como tudo que vem dela, da terra como
mãe natureza, visível no banho, na comida, nas plantas, no vento, no sol,
nas #GotasdeNatureza em nossa casa. A partir disso, criamos este
trabalho, com a percepção individual de cada intérprete, com uma
vontade comum: a de dançar esses momentos. Buscamos os pés, o chão,
o céu, a natureza em cada canto de nosso isolamento e a convidamos
para dançar. Buscamos memórias afetivas coreográficas, nesta nova
configuração, ATERRA surgiu deste investigar, de aterrar em casa, de
aterrar no chão e na conexão, no momento que vivemos.

Ficha técnica
Direção Geral: Thábata Liparotti • Direção Artística: Leo Torres e Reijane
Santos • Assistente de Direção Artística: Wanderson Aurélio • Intérprete-
Criadores: Grupo de Estudo e Pesquisa Corpo e Ambiente – GECA
(@corpoeambiente) Dillyane Freitas, Leo Torres, Reijane Santos, Rívia
Paixão, Rohana Fonseca, Sara Sullovon, Thábata Liparotti e Vanessa
Carranza • Música: 'Entrelinhas' - Prod. All4n (@all75an) • Edição de Áudio:
Reijane Santos • Edição de Vídeo: Leo Torres.

79
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Cresce
Dança audiovisual | Santa Catarina | 2020 | 1’32”

https://youtu.be/RDlc5L8oVzE

Crédito da imagem: Claudinei Sevegnani.


Descrição da imagem: Fotografia em cores e em formato retangular horizontal.
Destaca um homem de pele branca, vestido com uma calça jeans azul e
camiseta branca. No lugar da cabeça existe um vaso de planta. Ele está sentado
em um sofá azul, com quatro almofadas brancas estampadas dispostas duas de
cada lado. Em uma almofada destaca-se a estampa de um abacaxi e na outra a
figura de alce azul. No plano de fundo, há três quadros pendurados na parede
branca. No canto esquerdo da foto, há um móvel com uma planta e um porta-
retrato.

Sinopse
Corpo, planta, mãos, pés, pulos, sofá. Planta, corpos, mãos, corpo, cadeira. Corpo, espaço,
o tempo estirado na sala, na cozinha, entre as portas. Uma planta continua crescendo.

Ficha técnica
Criação: Claudinei Sevegnani

80
Textos Críticos LabCrítica
Orientação de
Lígia Tourinho, Maria Inês Galvão, Sérgio Andrade & Silvia Chalub

Textos resultantes da Imersão LabCrítica — ANDA 2021. A


Imersão LabCrítica é uma ação extensionista do
Laboratório de Crítica, projeto permanente de pesquisa e
extensão da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
voltada à formação em crítica junto às programações de
festivais, mostras e circuitos artísticos nacionais e
internacionais. A ação é realizada pelo laboratório desde o
ano de 2012, como atividades coordenadas pelos
membros do Grupo de Pesquisa do Laboratório de Crítica
(GP LabCrítica/CNPq). Em 2021, sob a coordenação de Lígia
Tourinho, Maria Inês Galvão, Sérgio Andrade e Silvia
Chalub, a Imersão LabCrítica no Congresso ANDA teve uma
carga horária total de 30h e foi compreendida por
minicurso de crítica de dança e de performance, estudo e
fruição da programação das Trilhas Digitais para Dança,
debates em grupo e exercícios de escrita que culminaram
na produção dos textos críticos aqui publicados.
Mais sobre o LabCrítica em: labcritica.com.br
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

sobre os possíveis motivos pelos quais estamos

Eu edito, tu fazendo o que fazemos e como estamos fazendo, a


partir da observação dos resultados imagéticos

me editas, obtidos a partir da edição. No exercício de


observação atenta de criações de danças para tela6,

todos produzidas no intervalo de março de 2020 a junho de


2021 e apresentadas na programação do Trilhas

dançam. Digitais para Danças 2021, algo pode estar querendo


ser dito tendo a dança como canal, para além do que
Fernanda Nicolini
foi pensado pelos criadores dos trabalhos e a partir
dos processos de criação, em especial a edição. Um
dizer a partir de recorrências de alguns aspectos
O que você vê é só o que você vê? O
visuais nas obras. Algo que só poderia ser dito
processo de edição do que você vê só se mostra
depois deste período de quase um ano e meio de
como técnica para execução de resultados ou pode
relações necessárias com a digitalidade. Um dizer
estar para além? Mesmo não sabendo exatamente
que pode ser um sinal para além do campo da dança.
como foi feito o que estamos assistindo é possível
Decidi então realizar um levantamento destes sinais
especular os caminhos técnicos de execução que
a partir destes trabalhos apresentados. O que pode
resultam nessas imagens. Digo isso a partir do meu
estar escondido subliminarmente?
lugar, de uma artista criadora que também vem
Os Estudos de Tendências pretendem
investigando modos de edição, ferramentas, filtros,
identificar as mudanças e mentalidades no aspecto
aplicativos e programas de edição amadores e
social a partir da profunda observação do mundo
profissionais. Este mergulho que vem se dando ao
real e das mídias digitais (trendsppotting),
longo de mais de um ano, a partir da experiência de
sublinhando a força de alguns padrões,
aprender fazendo, testando, errando e tentando
representações, práticas e discursos. Pretendem
pode facilitar a identificação de pares e a pensar
analisar um mapeamento das mentalidades
sobre processos. O que pretendo aqui é refletir
baseado num estudo plural da sociedade e suas

6
A curadoria nomeou distintas categorias para inscrição de danças audiovisuais entre outros. Não pretendo reivindicar
trabalhos na programação das Trilhas Digitais para Dança, nenhuma destas no texto apenas dançar entre o que foi
como danças audiovisuais, documentários, live-performances estabelecido e o que me contempla. Logo, os dois termos
e plataforma digitais. O embate sobre a definição de termos é danças audiovisuais e danças para tela serão utilizados com o
antiga pelos profissionais do campo e engloba muitas mesmo significado.
nomenclaturas como danças para tela, videodança, cinedança,

82
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

dinâmicas (GOMES; COHEN; FLORES, 2018, p.56). Dessa apresentarem elementos visuais em comum. Os
maneira, meu exercício aqui estará longe de efeitos mais recorrentes ordenados pelo número de
detectar modismos nas danças audiovisuais aparições foram: divisão da tela e multiplicação da
pandêmicas e sim, a partir de dados levantados, imagem em quadros englobando a multiplicação de
voltado à observação minuciosa e a imagens preenchendo o espaço e o recurso PIP –
transversalidade entre tecido artístico, social e Picture in Picture (15/18); filtros de cores
mercadológico, identificar sinais para questões saturadas(10/18); utilização da voz e palavra (8/18);
interessantes a serem refletidas e debatidas. Para empatados em quarto lugar aparecem a câmera
que possamos aprofundar as reflexões em um raio aérea e a câmera em movimento (ambos aparecem
mais amplo, acho relevante ressaltar que as em 6/18); em seguida a aceleração da imagem (5/18)
tendências surgem quando mudanças externas e em sexto lugar o espelhamento da imagem(3/18).
revelam novos modos de responder as Ilustrando, teríamos o seguinte gráfico:
necessidades, como por exemplo o isolamento Multiplicação e divisão de telas e
imagens
social que nos levou a trabalhos digitais. Estes Saturação de cores

trabalhos no entanto não constituem a tendência Voz e palavra

em si e sim suas manifestações. A tendência Câmera aérea

Câmera em movimento
enquadra-se no campo do invisível e abarca uma
Aceleração da Imagem
complexidade muito mais abrangente do que a
Espelhamento da imagem
lógica de causa e efeito. Já o processo e a maneira
como fazemos, que é sempre minha abordagem Quais são os motivos pelos quais incidem
preferida, pode ser chamado de “onda” (id.p.57). em 83% das danças audiovisuais apresentadas o
Pois bem, quais as ondas podem estar nestas recurso de multiplicação das imagens e telas? Esta
danças para tela apresentadas na programação da pode ser uma reflexão para lançarmos uma onda, se
Trilhas Digitais para Dança? O que querem dizer a pensarmos nos processos pelos quais estamos
respeito do nosso tempo? aprendendo a criar no último ano. Até então os
aplicativos mais básicos de edição de vídeos e fotos
Dados dançados para dispositivos móveis tinham funções mais
Foram apresentados ao longo de três dias simples como esta de duplicação de imagem. Na
de programação um total de 30 trabalhos, dentre emergência das criações pandêmicas este foi um
estes 21 danças audiovisuais, dos quais 18 foram dos primeiros recursos incorporados aos processos,
base para o levantamento de dados por o mais prático e acessível para a maioria dos que

83
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

não tinham muita intimidade com a ferramenta. Mas uma reconexão com uma pequena muda ou vasinho
isto não é algo para considerarmos depreciativo e de plantas.
sim para nos levar a compreensão de que lançar Já em Casulo (2020), de Claudia Auharek e
mão deste recurso gera efeitos distintos no Branca Peixoto Vasconcelos8, uma avalanche de
espectador seja de forma proposital e planejada, telas pipocam ao olhar do espectador, deixando
seja inconscientemente. nossa respiração em suspensão. Surgem, somem,
Em Dançando o Invisível das Cidades duplicam-se, piscam, mudam de cor, triplicam e
(2021), de Nara Dourado e Clara Passaro7, a imagem multiplicam-se no tempo da música de Bach,
é apresentada durante todo o trabalho em tela concerto para violino n.1 em lá menor, utilizada na
dividida em duas partes, com as artistas em trilha sonora. Um gran finale, em que edição de
enquadramento fixo, tal qual uma reunião de Zoom imagem e o último acorde musical casam
ou Meets. Esta imobilidade do aparelho gera um perfeitamente encerrando o trabalho, nos faz
sossego perene que tranquiliza o espectador respirar novamente e pensar como podemos
enquanto assiste corpos humanos interagindo com descansar nossos olhos depois de tudo isso. Tudo
corpos não humanos plantas, tão vivos quanto nós. isso causa uma sensação de que a dança proposta
A movimentação acontece e se recorta produzindo neste trabalho está mais no diálogo entre outros
imagens a partir das artistas que ora saem do olhar corpos como os efeitos visuais e a trilha sonora,
da câmera ora, se voltam completamente a dialogar deixando o corpo das artistas em segundo plano. E
com ela (ou conosco). Assim prossegue durante todo tudo bem, pode ter sido uma escolha.
o tempo do trabalho. Dentro deste minimalismo de Se pudéssemos traçar um paralelo entre
recursos visuais o que as artistas acabam trazendo os dois trabalhos poderíamos dizer que o primeiro
ao protagonismo é o gesto e a dança que se afirmam estaria beirando o dadaísmo, ao utilizar o ordinário
presentes e desnudas sem a maquiagem de como uma gravação de uma reunião de vídeo
excessivas sobreposições de efeitos na edição. conferência, ressaltando a potência da
Demonstram uma espécie de tranquilidade quase simplicidade, do que já está ali, trazendo a atenção
impossível nesses tempos, um “vai ficar tudo para o cotidiano na criação. Já o segundo trabalho
bem...” a partir de um encontro/retorno com a estaria de mãos dadas com o barroco, quando muito
natureza mesmo que estejamos na cidade bastando é sempre mais. E tudo bem, podem ter sido escolhas.

7
Apresentado na programação da Trilhas Digitais 2. O vídeo 8
Apresentado no Trilhas Digitais 5. O vídeo está disponível em:
está disponível em: https://youtu.be/ZQETe7p1UKc , último https://youtu.be/0Dm-5V-uFFU, último acesso em 7 jul. 2021.
acesso em 7 jul. 2021.

84
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

De maneira consciente ou não proposital, a edição em detrimento de uma reprodução técnica em


nestes trabalhos define suas dinâmicas, espaços e busca de uma perfeição adquirida através dos
seu tempo, assim como a escolha do efeito utilizado. aparelhos tecnológicos. Tanto os modos de
Mas ambos me fazem retornar a um corpo que produção quanto os modos de recepção são
desdobra, multiplica, se põe lado a lado com o outro transformados em função da difusão e da
mesmo estando em espaços diferentes. Um outro exposição. Na era da reprodutibilidade técnica a arte
corpo, um corpo_vídeo. Talvez este efeito e sua perdeu qualquer aparência de autonomia. Neste
potencial recorrência nas danças audiovisuais ponto a obra de arte surge através da montagem
apresentadas pelas Trilhas Digitais para Dança (BENJAMIN, 1955, p.6). Logo, pensar nos processos
demonstrem uma onda de desejo pelas descobertas artísticos telemáticos contemporâneos nos leva a
da potência de um corpo desdobrado ou de dançar o pensar também sobre nossa autonomia sobre as
impossível, algo que só é viável através de criações proporcionadas ou não pela montagem ou
processos digitais. Podem ter sido escolhas. Mas e edição.
quando não é? Estamos cientes de que estamos E esta afirmação ganha força quando
alimentando a demanda do mercado digital a partir observamos que das 18 danças audiovisuais
de nossas escolhas em edição? Estamos escolhendo apresentadas, 6 foram editadas pelos próprios
fazer desta ou daquela maneira, utilizando este ou criadores, 5 foram editadas por pessoas diferentes
aquele recurso ou apenas reproduzindo efeitos do diretor, criador ou intérprete do trabalho e 7 não
visuais disponíveis e mais acessíveis para uso de especificaram quem fez sua montagem9. O que pode
mão de obra especializada e amadora que o nos chamar atenção nestes dados, criando mais
mercado nos oferece? Estamos editando nossas uma onda, é o fato da maioria não especificar o
danças a partir da nossa vontade ou da oferta do realizador da edição. Refletir sobre o aspecto da
mercado digital? Estamos fazendo ou estão fazendo edição, principalmente nas danças audiovisuais, se
por nós? faz crucial no ponto da emissão e recepção de
Walter Benjamin atribui ao cinema, uma sentido. Um trabalho editado pelo próprio criador e
das categorias fundantes das danças audiovisuais, intérprete da obra, que adquiriu ao longo do último
o momento no qual a arte perde seu caráter ano as habilidades básicas de edição com
aurático, ou seja sua potência de efemeridade e aplicativos e programas amadores para seguir
singularidade em um determinado espaço-tempo trabalhando, se difere de um outro editado por

9
Dados levantados dos próprios vídeos e de suas fichas
técnicas.

85
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

alguém que já tem habilidades por mais tempo e um Na medida em que os recursos são
conhecimento técnico maior. Mensagens diferentes utilizados e temos no aparelho de reprodução uma
em dramaturgias elaboradas a partir de pontos de apresentação de realidades paralelas e oníricas
vista diferentes. O editor se faz coautor da obra, como imagens monocromáticas, ou múltiplas
quando o mesmo não é seu criador também. Isso no imagens de mim mesma em uma única tela, ângulos
entanto não garante ou define a qualidade do aproximados, enquadramentos impossíveis ao ser
trabalho, porém atribui uma certa estetização para humano, construídos nos pilares da perfectibilidade,
as obras, gerando propensões sociais, econômicas e nos apegamos na forma apartando-nos do
do próprio campo a criarem esse juízo de valor como relacional dos trabalhos e da realidade histórica e
critério para seleções e até mesmo crítico. social. Talvez este seja o relacional que me capturou
Acredito que atentarmos ao processo de em Dançando o Invisível das Cidades A forma por si
estetização das danças audiovisuais tendo como só, em caráter de arte-pela-arte reafirma
sinal o processo de edição e montagem nos coloca privilégios de classes dominantes, da alienação, do
também em alerta a respeito do que reflete este consumo e submete-se ao mercado tecnológico,
mesmo processo em escala social. Um processo contribuindo para a eliminação da autocrítica do
estetizador em arte coloca privilégios em uma campo, neste caso especificamente a dança
realidade já tão cruel que beira a insubsistência de audiovisual. Não produz choque, reitera padrões.
artistas. A utilização de recursos complexos de Talvez seja só mais um debate em formato digital:
efeitos e processos de edição na danças danças virtuosísticas ou danças experimentais
audiovisuais não se constituem como uma sensíveis? Espetacularizar a dança ou uma dança
linguagem artística de vanguarda, pois este não é mais relacional com o espectador?
um campo novo e nem os trabalhos, em sua maioria, O conceito de vanguarda nas artes pode
estão sendo desenvolvidos para produzirem ser compreendido como gesto contra o aparelho de
fricções ou questionamentos internos na instituição submissão ao qual a obra de arte está submetida;
dança. Isso me parece mais uma questão de dirige-se contra o funcionamento da arte na
aceitação ao meio do que uma ação de reflexão sociedade burguesa que decide tanto pelo efeito da
sobre práxis no campo e seus desdobramentos. obra quanto sobre o seu conteúdo particular
Quanto mais eu pareço saber muito, mesmo sem (BÜRGER, 1993, p.90). Não estamos na vanguarda das
saber, posso ser mais aceito ou reconhecido, ou ter danças audiovisuais porque sabemos utilizar mais
mais oportunidades. A polidez da especialização que os recursos de edição ou aplicativos, nem
nos corrói pouco a pouco. inaugurando processos. Tampouco nossas

86
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

produções estão questionando o próprio campo das Na atual conjuntura de produção


danças audiovisuais. Apenas temos mais acesso a engendrada por um mercado de danças para tela
recursos de difusão e replicabilidade destas artes. cada vez mais contingente, em que programas,
A obra de arte é seu próprio tempo. Mais plataformas e aplicativos de edição infinitos nos
do que estar inserida em uma linha histórica ela é fazem desejar e fetichizar este ou aquele efeito,
quem constrói esta linha, traduzindo e respondendo estes ou aqueles ritmo e composição de imagem, te
aos acontecimentos, anseios e comportamentos da provoco a pensar: este desejo é necessidade da
sociedade de uma época. Qual linha do tempo nossa arte? É necessidade de quem? Minha aposta é
estamos desenhando a partir da edição de nossas que enquanto editamos nossas danças, seguimos
danças telemáticas, para tela, audiovisuais? O ponto sendo editados na utopia do artista criador
de vista da vanguarda como um meio de autocrítica dançante e de sua autonomia.
para as artes como defendido por Peter Bürger em
sua Teoria da Vanguarda, parte de um olhar europeu Referências

e afirma que um processo artístico pode ter efeitos BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era da
reprodutibilidade técnica. 1ª versão do texto publicado
distintos em contextos históricos diferentes (id. em 1955. Disponível em https://www.docero.com/benjamin ,
último acesso em: 7 jul. 2021.
p.129). Logo, pensar sobre movimentos
vanguardistas no Brasil sem levar em conta o BÜRGER, Peter. Teoria da vanguarda. Tradução Ernesto
Sampaio. Lisboa: Vega Ltda, 1993.
próprio contexto brasileiro colonizado e
COHEN, Suzana; FLORES, Ana Marta; GOMES, Nelson. “Estudos
embranquecido, torna-se também incoerente. Uma de Tendências: contributo para uma abordagem de análise e
gestão da cultura”. Revista Moda Palavra. V.11, n.22, 2018,
vanguarda na arte se coloca também uma luta anti- pp. 49-81.
imperialista e antirracista tendo suas categorias GULLAR, Ferreira. Vanguarda e subdesenvolvimento.
como canais. Ferreira Gullar em seu ensaio Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1978.

Vanguarda e Subdesenvolvimento, que destrincha


tão bem situação de vanguarda no hemisfério sul,
aponta que: a verdadeira vanguarda artística em
um país como o Brasil, é aquela que, buscando o
novo, busca a libertação do homem a partir da
situação concreta (1978, p.23). Gullar também
reflete sobre a as mudanças estéticas e artísticas
no Brasil se darem pela velocidade do processo sócio
econômico (id. p.40).

87
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

inventar novas maneiras de olhar. Um olhar imbricado,

Abre o provocado por nevoeiros e pequenos clarões.


No mar das Trilhas Digitais para Dança, o corpo

caminho negro navega no encontro, se configurando como um


dispositivo aonde materiais variados de produção de

que a afro- pensamentos de dança, plantam a afropresença não só


na própria exposição das Trilhas, como também na

presença tela-casa de espectadores localizados em diferentes


lugares.

está
Eu Sou (2020), videoclipe de WD, abre a
discussão sobre a invisibilidade e a falta de oportunidade
das pessoas negras em nossa sociedade. “E reconhecerei

passando, a verdade e a verdade vos libertará – João 8:32”, “75%


das vítimas de homicídios no Brasil são negros”, “O Brasil

abre o cami- é o país que mais mata LGBTQI+ no Mundo”, “A pobreza no


Brasil tem cor e ela é preta”— é citando esses versos que

nho que a WD inicia seu videoclipe. Logo depois, o vemos


percorrendo as vielas e os trilhos de um trem que

afroancestra- acompanha uma comunidade desnutrida de qualquer


atenção do poder público, ao som de um coral que assim

lidade está
cantava:

Eu sou
dançando. A voz da resistência preta
Eu sou
Tatiana Damasceno Quem vai empretar minha bandeira
Eu sou
E ninguém isso vai mudar
Tudo começou dar certo
Olhar, olhar e olhar! Será que só esse sentido Quando eu aprendi me amar
do corpo, tão amplo e imediato, consegue apreender a
imensidão de movimentos, interações, entrelinhas e No clipe, a relação corpo e câmera é
falas poéticas presentes nas produções artísticas arquitetada por múltiplas imagens, palavras e lugares
visionadas por meio de uma tela? Olhar escutando, que também denunciam a realidade racista e a constate
sentindo as texturas, os cheiros, a porosidade dos afetos, violência sofrida pelos corpos negros que, na sociedade,
o timbre das vozes, observar as camadas sobrepostas e escapam da centralidade. Mas, além disso, ele apresenta

88
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

esses corpos pela chave do protagonismo, das diáspora configura-se como uma ação de resistência.
realizações, do corpo plural, poético, belo, dinâmico e Talvez essa ação esteja convidando o espectador a agir
resiliente, como nos trechos da música cantada por WD e pensar sobre o corpo negro no território brasileiro há
no videoclipe. quase 500 anos. Quando você olha o corpo preto o que
você vê, o que você não vê e o que você não quer ver?
Se a minha pele te incomoda porque Afinal são quase 500 anos. Com a sensorialidade
É preta
expandida e empretecendo múltiplos espaços, o corpo
Eu te aviso
Ela é resistência preto feminino afirma sua identidade, experiências,
Aceita
saberes e força produtiva na arte, por meio de um
....
repertório afropoético.
Seu nariz é lindo, preto
Expondo e discutindo pautas diferenciadas
Sua boca é linda
Seu cabelo é lindo, preto através da produção da dança audiovisual, a
Sua cor é linda
programação das Trilhas Digitais para Dança traz
Seguindo o barco da afropresença nas Trilhas, corporeidades pretas repletas de èmí, a força-motriz do
a dança audiovisual Negrafia (2018), de Jacicleide ser humano gingam o encantamento, excitando o
Conceição da Silva, Amanda Souza e Priscilla Melo, revela, interator, aquele que se coloca diante da tela, a
logo no primeiro instante, uma mulher preta, forte, altiva participar da ação. Mas, entre o espaço virtual da tela e o
e com um olhar determinado. A cena, acentua a estética espaço da casa do espectador, é preciso jogar o jogo do
afrodiaspórica grafada no corpo preto feminino que afrouxamento da corporeidade, reconhecendo e
apresenta sua identidade nos cabelos, ao portar brincos aceitando a presentificação da sensorialidade de uma
confeccionados com penas da galinha d’angola e roupas outra forma. Na encruza entre o virtual e o real, o
com estampas recriadas do grafismo africano. espectador pode vivenciar um tempo alargado para
Executando movimentos energéticos, mergulhar na memória dos acontecimentos sociais e
potentes e simbólicos da dança afro-brasileira, ao som humanos. Mas ainda fica a pergunta: que mais essas
de um conjunto de tambores, a dançarina conduz um imagens nos dizem?
jogo que envolve os sentidos, ao produzir a presença do
corpo preto feminino em diferentes espaços de uma
comunidade, muitas vezes, tendo a paisagem da cidade
como fundo.
Nessas transições, o corpo, dançando em
locais mais iluminados e mais escuros, realça os
movimentos dos pés que, batendo de forma ritmada no
chão de barro, deixa claro um meio muito antigo de
comunicação e interação com os ancestrais e que na

89
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

também obriga que esse mesmo corpo reviva o

Eu Sou racismo em outros espaços da sua vida tornando-o,


muitas das vezes, um protagonista. A grande

o paradoxo contradição que encontro quando me deparo com


obras artísticas de pessoas pretas com temas

da cor de antirracistas é justamente essa: o mesmo mal que


nos assola e nos leva a morte, também se

Resistir transforma em uma condição de vida. O clipe de


Dandara Ferreira Wesley da Silva traz referências de trabalhos de
outros artistas pretos que tratam sobre a mesma
Eu Sou (2020), de WD, é um videoclipe que
temática. É interessante trazer para a reflexão que
traz como tema o racismo e a homofobia. A primeira
ter grandes artistas negros reconhecidos e bem-
imagem do clipe é uma tela preta com um versículo
sucedidos não passa apenas pelo campo da
bíblico: "E conhecereis a verdade, e a verdade vos
representatividade, mas, dentro do contexto racial,
libertará" (João 8:32). Logo após a tela preta se
abre espaço para a experimentação de outras
repete, só que com dados sobre o genocídio da
formas de recriação dos mesmos temas que não
população negra brasileira, os assassinatos à
estão no lugar da representação. Ou seja, quando
comunidade LGBTQIA+ e informações referentes à
assistimos um trabalho de uma pessoa preta
pobreza no Brasil. Esse recurso do texto informativo
falando sobre a dor de sofrer racismo, não
acontece outras vezes durante o videoclipe e
presenciamos uma atuação que parte de uma
reforça as cenas que se desdobram durante sua
pesquisa, estamos testemunhando uma realidade
exibição, conferindo veracidade a elas e
intrínseca àquela vida: uma vez que todo preto
costurando-se às informações. Esse trabalho
vivencia o racismo, assim como todo homossexual
reverbera dentro de mim de várias formas: desperta
experiência a homofobia (aqui a construção desse
sentimentos intensos e opostos ao mesmo tempo.
pensamento não parte de um lugar generalizado,
Sinto uma montanha russa de emoções. E foi
mas da própria estrutura social racista, machista e
refletindo sobre, que percebi a existência de um
homofóbica que alicerça a nossa sociedade e impõe
paradoxo que estimulou essa escrita.
padrões hegemônicos que assolam - e matam - os
O racismo entranhado na nossa sociedade
grupos minorizados). Assim, ter como referência
não só faz com que o corpo preto se defenda e lute
obras de destaque de artistas pretos, não se resume
contra ele a cada momento da sua existência, como
a identificação, mas também como impulsionador

90
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

de novas maneiras de pensar, fazer e discutir combatemos o racismo nos defendendo e resistindo
repertórios com temáticas racistas, como esse a ele, como também o incorporamos no nosso
texto, por exemplo. trabalho, nas nossas relações, nos nossos afetos. A
A relação do cantor com a câmera é arte é política, é uma das formas de se fazer
direta, seu olhar nos confronta a todo tempo revolução, é a maneira como o artista se expressa.
juntamente à letra forte e real da música que exalta Dessa forma, é natural que as questões que
a beleza negra e se coloca como um grito de guerra atravessam o artista estejam vivas em suas
ao se intitular “resistência”. A lente é a ponte para a criações. Mas, trazendo para a configuração racial,
construção da ligação com o espectador. É especificamente das pessoas pretas, me pergunto:
estabelecido um diálogo quase palpável a partir das por que temos em nossos trabalhos, em sua maioria,
imagens que se misturam entre a performance do as mesmas narrativas? Por que além de viver o
cantor e cenas familiares que se apresentam racismo, temos que colocá-lo como foco do que
também na própria letra: a presença de um elenco produzimos? Ou será que pretos só possuem
todo não branco e as pautas raciais, sociais e do questões com a cor da sua pele, a falta de
movimento LGBTQIA+, presentes nas escolhas das oportunidade e o ódio por quem se é? Por que a
locações da cena como a periferia, por exemplo. maior parte do que é produzido artisticamente por
Imagens como a de um homem negro e gay com pretos está relacionado com a nossa luta? Pretas e
feridas nas costas, revelam uma analogia a história pretos se apaixonam. Pretas e pretos sofrem por
cristã de Jesus Cristo. Covas com cruzes, como num amor. Pretas e pretos se decepcionam. Pretas e
cemitério, levam o nome de corpos negros vítimas pretos descobrem novas formas de fazer o mesmo.
fatais da necropolítica, como a vereadora carioca Pretas e pretos se interessam por assuntos
Marielle Franco (1979-2018), brutalmente aleatórios. Pretas e pretos bebem. Pretas e pretos
assassinada. O clipe constrói uma narrativa que são felizes. Pretas e pretos possuem problemas
poderia até ser interpretada como sensacionalista, psicológicos. Pretas e pretos fazem grandes
se não fosse a realidade brutal da vida preta. descobertas. Pretas e pretos vivem!
Nossa sociedade estruturalmente racista
nos coloca nesse lugar: Falar sobre racismo.
Resistência — sobrevivência Aprendemos desde que nascemos a lutar. Resistir se
O racismo contido na estrutura da nossa romantizou. Me pergunto: estamos resistindo ou
sociedade obriga a comunidade negra a vivenciar o sobrevivendo? É cansativo levantar todos os dias e
ódio contra a sua cor em vários âmbitos. Não só saber que temos uma guerra diária para enfrentar.

91
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

E caio no mesmo lugar, no paradoxo entre necessitar experiência pontual. Estar vivenciando esse período
usar a minha arte para conseguir viver e de não complexo em que me encontro, influenciou
aguentar mais viver para usar a arte como luta. diretamente na minha percepção, recepção e
Escrevo esse texto tomada pelas reflexão sobre temas que me afetam diretamente.
sensações que me perpassaram e ainda reverberam Esse texto materializa questões que me
fortemente no meu corpo. Corpo de uma mulher transcendem e que ganharam força ao assistir as
preta. E assim, julgo importante pontuar que todas Trilhas Digitais para a Dança. Fiquei muito feliz ao ver
os pensamentos transportados para esse texto, pesquisas de pessoas pretas. Sabemos que estamos
ocorreram simultaneamente com um processo de por toda parte, mas não são todos os lugares que
desgaste emocional e mental diante da atual ocupamos. Também sabemos que os artistas pretos
realidade que atinge o Brasil: Pandemia da COVID-19, existem, criam e pesquisam. Mas entendemos
milhares de mortos, escassez de recursos básicos igualmente que o espaço da academia ainda é muito
para a população, um governo despreparado e — o elitizado e que, apesar de atualmente encontrarmos
que mais tem me atravessado, apesar de não serem um maior número de pessoas não brancas ocupando
fatos inéditos, mas sim, infelizmente, mais do esse lugar, pretos ainda são minoria. Dessa forma, é
mesmo — uma explosão escancarada do genocídio muito emocionante reconhecer os meus e
do povo preto e pobre desse país. Entorpecida pelo identificar a abertura nos espaços de formação para
caos, o que me mantém viva, em todos os sentidos, as classes minorizadas, enaltecendo suas
é a arte. Especificamente a dança, que é o meu capacidades e dando voz para suas questões. Mas
trabalho, meu objeto de pesquisa, meu repouso e ao fazer uma análise geral, praticamente todos os
minha terapia. Dançar no meio da loucura me trabalhos de pessoas pretas, se não todos, estavam
mantém sã o suficiente para seguir em frente ou me associados à temática racial. O incômodo não é
mantém na loucura o bastante para encarar a produzirmos sobre, mas sim, pensar que o fazemos
realidade. E, é nesse contexto, que tenho buscado inseridos nessa estrutura que “não nos permite” (de
estar mais inserida na tentativa de não adoecer e, uma maneira bem sutil) falar de outros assuntos
quem sabe, me curar do que o mundo tem me além de nossa luta para nos mantermos vivos.
adoecido. Trata-se de um desgaste desmedido de
viver um ciclo vicioso, consequência do sistema
racista.
Estar em contato com os trabalhos
apresentados nas Trilhas Digitais para Dança foi uma

92
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Livre eu não sou há necessidade, mas compreendo que essa


Um exercício interessante de se fazer é ir necessidade é injusta, porque nos coloca nessa
até as plataformas de streamings e procurar por posição quase que obrigatória de usar a nossa arte
produções com protagonismo negro (dos últimos “apenas” para nos defender e/ou conscientizar,
dois anos) e suas temáticas. Encontraremos como se nossa vida girasse em torno do racismo.
pouquíssimos filmes/séries/documentários que Como se não bastasse lidarmos com o ódio durante
tratam de temas inerentes à vida. Em sua maioria, toda nossa vida. Percebo que o racismo estrutural
veremos histórias sobre pretos sendo mortos, nos atinge cada vez mais com mais afinco, inclusive
presos e/ou condenados injustamente, todos em nossas escolhas sobre o que queremos
decorrentes do racismo. Acharemos também comunicar através da nossa arte. É um monstro
histórias verídicas que enaltecem a importância de invisível que nos persegue e nos enjaula, que nos
vidas pretas e personalidades, mas, ainda sim, a alimenta e nos dá a falsa sensação de que estamos
narrativa é sempre a mesma: ressaltam, e muitas o destruindo. Escolhemos tratar desse tema por que
das vezes, romantizam as dificuldades passadas temos prazer em falar dele ou por que temos a
pelo protagonista. É como se a nossa sobrevivência urgência de aniquilá-lo? A sensação que eu tenho é
fosse puro entretenimento. Sem contar a violência que essa urgência nos consome diariamente em
(física, verbal e moral) explícita que fazem questão doses homeopáticas.
de recriar. Quando penso nisso me pergunto: Será
que realmente precisamos de mais conteúdos como Eu não quero mais resistir
esses? Já vivemos e noticiamos nosso sofrimento Trago paradoxo nessa escrita-desabafo
todos os dias, por que produzir mais dor? Será que como reflexo da contradição que enxergo e que
novas histórias baseadas em outras vivências existe dentro de mim ao discutir as questões
também não são uma forma de se combater o apontadas. Sinto a obrigação de afirmar que ter o
racismo? Eu, particularmente, não tenho mais racismo como tema de obras artísticas criadas por
condições psicológicas de assistir esses tipos de pessoas negras é totalmente legítima. Acredito
conteúdo. também que é nossa obrigação fazê-lo em respeito
Baseada nessas reflexões questiono a a nossa vontade de externalizar o que nos dói.
problemática racial para os trabalhos artísticos de Porém, a minha análise está contida no fato de que
pessoas pretas. A ideia não é fazer uma crítica ou ao mesmo passo que nos colocamos como linha de
defender que não devemos mais produzir a partir frente na luta contra o racismo através dos nossos
disso, ao contrário. Acredito que o fazemos porque trabalhos, também nos tornamos reféns da mesma

93
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

temática. No entanto, a crítica, de maneira alguma,


é endereçada aos artistas pretos, porque entendo
perfeitamente que estamos nessa posição porque
fomos colocados há séculos. Deixo essas perguntas
como um espaço de reflexão para as pessoas
brancas, que estão no auge do seu privilégio e que
podem tratar de qualquer assunto que os aflige sem
ter o peso e/ou a culpa de não estar fazendo mais
por uma causa essencial à sua existência. É
justamente por isso que destaco o videoclipe Eu Sou,
pelo grande paradoxo que ele representa (inclusive,
no próprio título): um clipe bem produzido, com
muitas referências importantes, uma carga política
forte e determinada. Figurino, maquiagem e luz
propícia para exaltar e destacar a beleza das
pessoas pretas. Uma letra potente e voraz, um
retrato fiel da nossa realidade. O orgulho de ser
quem é e poder expressar isso através da arte, do
furor de resistir, mas também a dor de ter que, por
meio da própria arte, reviver o pesadelo de ser preto
no Brasil e ser obrigado a resistir ao invés de
simplesmente viver. Para mim, não existe beleza na
resistência, apenas dor. Finalizo esse texto
ressaltando que as reflexões que aqui apresentadas
partem de um lugar totalmente subjetivo e que se
fundem com a esperança de um futuro diferente e
(talvez) utópico.

94
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

harmônicos, em que não se nota os sobretons e os

Trilhas #1, semitons. A tessitura de cada uma das cincos Trilhas


Digitais para a Dança traz um tom fundamental, ou

um manifesto seja, uma nota principal, que também pode ser lida
como texto dramatúrgico, e, que é, efetivamente,

poético percebido como um posicionamento frente às


distopias atuais12. E é nessa que Trilha #1, sessão que
Marissel Marques
abriu a programação artística do congresso, enreda
sete trabalhos de dança em mídias digitais cuja
Quantos tons são possíveis encontrar nas cadência cria uma representação da negritude
Trilhas Digitais para Dança do VI Congresso Científico brasileira.
Nacional de Pesquisadores em Dança – 2ª Edição A trilha inicia no presídio feminino do Piauí
Virtual? com o documentário Liberdade (2019), de Luzia
As Trilhas Digitais para Dança são uma Amélia Marques & Adriana Bittencourt Machado.
reformulação da Mostra Artística, modelo das Enquanto vemos o trabalho de dança que Luzia
edições anteriores, e, segundo a curadoria , sua 10
desenvolve com as detentas, ouvimos
programação é constituída por pesquisas e questionamentos sobre os direitos humanos
experimentos artísticos de dança em mídias daquelas presidiárias: qual é a cor de quem tem a
digitais . A novidade é a variação das vozes nesta
11
liberdade cerceada, qual é a raça e o gênero dessas
mostra, tendo em vista a inclusão de agentes da pessoas?
dança externos às universidades, o que dá a ver um A curadoria cria uma ondulação, por meio
amplo espectro da diversidade da nossa brasilidade. do sequenciamento dos trabalhos, que neste caso
A antologia sobrepõe-se aos formatos dos segue de um presídio a outro. A segunda dança
trabalhos para se configurar como um exercício audiovisual Átopos (2019), de Tiago Amate, tem
oculto de desdobramento de uma dança a partir da como cenário o ato Lula Livre em frente à Polícia
outra, as quais tocam nossa alma pelos batimentos Federal de Curitiba. A arte dos tons apontaria nesta
e vibrações dos corpos soantes, como nos sons escolha como uma das múltiplas frequências

10
Ver carta da equipe curatorial aberta à comunidade em: 11
Os trabalhos são classificados como dança audiovisual,
https://drive.google.com/file/d/1Rcw0s0WEHcP_AuKIrv06vaK videoclipe, documentário, live-performance ou plataforma
YfrwdzZqa/view, último acesso em 10 jul. 2021. digital.
12
Conforme informa os curadores sobre os critérios de seleção
das danças na carta aberta à comunidade supracitada.

95
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

possíveis de combinação dos tons afins e dos tons a própria percepção sensorial do espaço interno (do
secundários os quais são derivados do tom corpo) e do externo (cômodos da casa), conforme a
fundamental. O arranjo da trilha faz-se por dois música que ela escuta com fones de ouvido. Como
conectivos (ou por duas notas), sendo eles, o recurso audiovisual, ela utiliza a alteração das cores
presídio e a liberdade, ambos estritamente das imagens, além de movimentos coreográficos da
relacionados à política, que atravessam tanto câmera combinados com cortes de edição. En la Piel
Liberdade como Átopos. (2020), de Valdemir de Oliveira & Odacy de Oliveira
Seguindo a trilha, o terceiro trabalho, o Sousa, é um devaneio das múltiplas formas
videoclipe Eu Sou (2020), de WD, é acima de tudo um geométricas possíveis que um corpo pode assumir
grito de afirmação da beleza negra. Extremamente pela distorção da imagem. Um corpo deformado,
engajado politicamente também pelas imagens que duplicado, recortado, dentre outras possibilidades.
nos fazem refletir sobre o número de homicídios de Chegamos na última dança audiovisual,
pessoas negras no Brasil. quase sem perceber — Tremor (2021), de Valéria
O quarto vídeo é uma sobreposição das Vicente & Dominique Rivoal. Essa traz algo
camadas anteriores, que nos leva ainda mais longe. enigmático, um corpo que treme ou vibra sem
Pretxs 3000 (2021), de Augusto Soledade, traz como enunciar ao certo o que o faz vibrar e o que vibra
temática a água, mas dá destaque a diversos com ele próximo. Ela remete-nos à incorporação dos
símbolos da cultura africana através das rituais afrodiaspóricos e assim Trilha #1 retoma o
vestimentas da movimentação dos intérpretes, que tom fundamental — a negritude.
se nota referência à capoeira, a pontos de gira de A Trilha Digital para Dança #1 é um
umbanda ou candomblé, ao hip-hop, entre outras manifesto!13
memórias incorporadas da afro-diáspora.
A seguir um espaço abre-se para duas
danças audiovisuais as quais circulam o eixo
fundamental da Trilha quase que emancipados. Na
essência, exploram os recursos do audiovisual, mas
poderiam ser uma viagem de LSD. Em Cyber Bo
Waack (2020), de Renata Riss, a intérprete joga com

13
Agradeço a Silvia Chalub e Sérgio Andrade pela dedicação.
Aos participantes do LabCrítica e em especial ao amigo Dr.
Renato Fabbri pela leitura minuciosa e pelas correções.

96
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

que o LabCrítica foi uma aproximação para a

Danças compreensão do movimento artístico brasileiro e


dos debates que aí estão a ser gerados e

necessárias articulados.
Junto às Trilhas Digitais para Dança, parte
Claudia Natalia Giraldo González
da programação do 6º Congresso ANDA 2021, achei
um espaço valioso de corpos em movimento, cheios
Assumir o desafio de escrever para o
de intenções. Compartilhar uma roda com pessoas
LabCrítica, a partir do meu lugar social hoje como
que praticam e pensam a performance e a dança a
mulher cis, branca-mestiça, migrante do e no Sul
partir de diferentes abordagens, técnicas e pontos
Global, classe trabalhadora, artista, e especialmente
de vista me deu motivação para ser espectadora e
dançarina, tem sido complexo principalmente por
leitora e, ao mesmo tempo, foi um estímulo para a
causa do contexto da pandemia. Nossos corpos
criatividade num ambiente onde percebi uma
estão confinados aos espaços das nossas casas,
grande abertura para discutir as nossas
aquela casa que é agora local de trabalho, de estudo
observações e ideias.
e de descanso. Corpos forçados a não tocar, a não ir
Contudo, devo dizer que pensei que seria
para a rua e que agora interagem através da sua
muito mais fácil o trabalho da escrita, mas esse
imagem captada e devolvida a uma tela, num
tempo de confinamento na pandemia é uma questão
espaço com quatro cantos de noventa graus, corpos
“doméstica” atual que não está separada das
aprisionados entre pequenos mediadores feitos de
nossas tarefas e ideais mais acadêmicos. Há muita
circuitos.
coisa acontecendo nos nossos corpos, corpos que
Complexo também devido ao meu
estão confinados e que se adaptam. Aqueles
estatuto de migrante, que exige que eu decodifique
mesmos corpos que também dançam. Apesar disso,
outra cultura, outra língua, outras formas de ser e
mesmo em confinamento, não conseguimos
de habitar o território. Embora a sociedade brasileira
escapar ao sistema de produção onde nossos corpos
tenha muitas semelhanças com a sociedade
estão a serviço do sistema econômico dominante
colombiana (da qual provenho), com o passar dos
que exige constantemente rapidez e produção para
meus poucos anos aqui tenho conseguido perceber
um mercado. O que é que produzimos agora e para
que no campo da arte é necessário ir além das
quem? Existe uma velocidade de produção que
semelhanças e que é importante compreender as
promove um mercado acelerado onde nossas casas
particularidades. Partindo deste lugar, quero dizer
e espaços de tranquilidade e de liberdade íntima

97
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

foram invadidos pela ideia de produção, e também ser inesperado, desconfortável ou que cause
por preocupação e ansiedade, dependendo da perturbação. A partir daí, vamos observar uma
situação de cada pessoa, de cada corpo. Mas por que paisagem e um solo profanado e torturado,
menciono estas vicissitudes da vida quotidiana num passamos da admiração da beleza ao nojo, ao
texto que pretende ser uma crítica de dança? desapontamento. O vídeo avança e o que parecia ser
Porque o nosso presente é uma encruzilhada e a arte um elogio, uma exaltação a um abrigo natural,
não está separada da vida. consegue, ao capturar estes objetos intrusivos,
É precisamente no meio dessa causar uma sensação de impotência. Surgem cada
encruzilhada da vida que gostaria de destacar a vez mais plásticos na pintura, objetos estranhos,
obra Manguedança (2019) do projeto Corpos indesejáveis. A performer que antes brincava com
Telúricos da UFRJ, que fez parte das Trilhas Digitais árvores e areia, agora também habita aquele espaço
para Dança, durante a programação do 6º Congresso com o lixo acumulado que se mistura à matéria
ANDA 2021. O vídeo abre com um quadro em que orgânica.
vemos uma paisagem, um mangue, há uma mulher Nesta dança audiovisual, a vida é
naquele lugar que emana um estado de encurralada e o seu espaço invadido pelo lixo;
contemplação e prazer. Água e galhos de árvores resíduo que antes, em algum período da sua história,
induzem a um estado de tranquilidade com aquele fez parte da cadeia de produção. Aqui, pude ver o
nicho da natureza, a continuidade das imagens dá poder da obra e refletir sobre o seu propósito. Nós,
uma importância às texturas que a vida torna pessoas, temos uma esperança de vida que é
possível naquele lugar. geralmente inferior a um século, mas a velocidade e
Assim que nossa mente começa a ficar a forma como vivemos essas vidas estão a deixar
confortável na transmissão da cena, começam a ser vestígios (produções) que tornam outras vidas
mostrados alguns objetos e peças facilmente impossíveis no presente e no futuro. A peça levanta
reconhecíveis, lixo. Pedaços de plástico, de uma questão muito importante, pelo menos pra
diferentes tipos, garrafas, tampas de garrafas, mim: É a vida viável hoje? E se a vida não é possível
pedaços de origem irreconhecível, tudo misturado e sem o bem-estar e saúde dos seus ambientes, seus
deslocado. Aqui o trabalho introduz o que pretendo solos e suas raízes, como seria a arte possível num
chamar de momento de irrupção. Refiro-me ao mundo de não futuro para a vida?
instante em que um elemento entra em nosso Este vídeo é um material importante para
princípio de realidade, nos nossos espaços a discussão urgente que temos que fazer desde
contemplativos, sagrados e sublimes; algo que pode todos os campos do conhecimento, especialmente

98
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

daqueles campos que foram insensíveis à dizer que estes são os tipos de danças e atuações
materialidade e à corporeidade da natureza, mas que estão por vir, com temas que rompem tal
que obtiveram dela as suas matérias-primas. Como paradigma e que se preocupam com a defesa da
é que tudo isto atinge aqueles de nós que atuam em vida. Tomara venham danças mais resilientes, mais
um palco ou num espaço cénico? comunitárias. Precisamos treinar os nossos corpos
Embora a arte tenha na sua história para estarem prontos para dançá-las.
explorado a beleza da mata, da floresta e dos
espaços naturais em geral, hoje as artes parecem
estar chegando, de forma muito tímida, à criação de
outras propostas, a outro desenho no campo da
arte. Por esse motivo, eu quis destacar este
trabalho como um texto poético, ecopoético, de
uma realidade caótica. Não basta procurar incluir
pautas e identidades sociais, que obviamente são
importantes e necessárias – eu mesma como
migrante luto por elas –, mas é preciso ao mesmo
tempo compreender que tudo isto só será possível
em territórios e num planeta capazes de sustentar
a vida. Haverá vida em abundância na medida em
que conseguirmos respeitar e reconhecer a
corporeidade da natureza e vê-la como sujeita de
direitos. Este é um tema vital e central para as obras
de arte e para os artistas.
A obra Manguedança (2019), do projeto
Corpos Telúricos da UFRJ, estimula as/os artistas a
revelar a capacidade autodestrutiva da sociedade
ocidental, para assim talvez evitar acabar como
cadáveres afogados na sua própria linha de
produção compulsiva. Corpos envoltos em plástico,
junto às nossas próprias montanhas de lixo, como
bem ilustra a imagem final do vídeo. Atrevo-me a

99
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

um olhar bidimensional da ultrassonografia e as

OCEAN... Em várias impressões desse corpo que estava por vir.


Trazer algumas memórias dessa época me faz

CORPO, DANÇA reconhecer e acessar questões referentes ao


momento atual, para reconhecer e seguir em frente

e imagens ou mesmo rever quais configurações que estão em


processo no campo da dança nesse momento,

corporeográ- principalmente nas artes da cena. Não posso deixar


de lembrar o quanto pensar sobre esses caminhos

ficas percorridos me fazem retornar às minhas práticas


profissionais e projetos de pesquisa artística.
Iara Cerqueira Linhares de Albuquerque
Acredito que esse caminho proposto me faz
reconfigurar outras trilhas, outros olhares e quais
(...) Eu... A andorinha
contou que, sozinha, tessituras estão sendo processadas nesse
canta, mas não faz verão. momento que me debruço a olhar um processo a ser
Tem boi na linha.
É o mesmo trem, a mesma estação. apresentado.
Resumindo: No dia 03 de junho de 2021, foi
-Até logo, eu vou indo.
Que é que estou fazendo aqui? apresentado nas Trilhas Digitais14 o videodança
Quero outro jogo, OCEAN que integra o projeto de iniciação científica:
que este é fogo de engolir
corpo, movimento, visibilidade: um processo híbrido
— Belchior de criação em dança contemporânea CNPQ/PIBIC
Unicamp, sob a orientação da professora Dra. Juliana
Inicio o texto aproximando memórias Moraes e com concepção, edição e vídeo de Victor
afetivas ao revisitar experiências em dança, Isidoro e captação de imagem de Gabriel Pestana.
publicações e práticas artísticas que me fazem Primeiramente o rosto/ruído parece estar
também recordar o início da minha gravidez, sendo apresentado propositadamente como
atravessadas com as muitas imagens de OCEAN prólogo, um grande oceano por vir (metáfora que
como um corpo/feto que viria ao mundo a partir de instiga a pensar uma aproximação corpo/mar em

14
Trilhas digitais para Dança fez parte do 6º Congresso ANDA – ano foram apresentados 30 trabalhos, organizados em cinco
2ª Edição Virtual. Uma programação de pesquisas e trilhas compostas de danças audiovisuais, documentários,
experimentos artísticos de dança em mídias digitais. Nesse live-performances e plataformas digitais.

100
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

fluxo contínuo e geradores de movimento/mundo). as tonalidades expostas e não falar sobre


Se formos pensar na imensidão de um oceano, desigualdade, egoísmo, racismo e o negacionismo
proponho olhar as cenas apresentadas e fazer uma nesse momento de crise sanitária e que se faz
relação com uma proposta de dançar para revelar em cenas de desabafos, ações e muita
suspender o mar, ou como sugere Ailton Krenak resistência (respiro).
(2019), em seu livro Ideias para Adiar o fim do mundo, Nas imagens apresentadas localizamos
dancemos como uma experiência mágica de esses lugares e suas condições adversas, de
suspender o céu, ou, ampliar nossa perspectiva moradia, saúde e educação que resvala num
existencial mantendo-se fiel às nossas visões e sentimento de impotência, pois atualmente é
poéticas de existência, como um saber profético impossível quantificar o número de pessoas
para caminhar com respeito ao diverso e nos ocupantes das ruas expostas a essa precariedade.
mantermos vivos. Durante esse percurso o encaminhamento das
A partir desse ponto de vista eu aproximo cenas traduz um efeito que nos leva a outros
OCEAN para pensar o quanto essas imagens nos faz espaços, fiquei pensando: O que isso pode vir a
compreender nossas subjetividades, a partir de uma gerar? Qual relação existe no texto que emerge
interdependência corpo e mente, ou como nos daquela ação corpórea? O que fez meu coração
tornamos sujeitos que somos, com nossas ações, acelerar? Não proponho respostas, podemos pensar
nas relações com os outros, nas nossas escolhas e juntos.
como criamos um espaço capaz de mergulhar e Se formos levar pela imaginação, posso
nadar livremente. O espaço (i)limitado que a cena pensar no ambiente imerso em vida, que o plástico
nos apresenta, com o corpo aparecendo em pode ser roupa e ao mesmo tempo asas, buscando
diversos planos gera uma plasticidade que parece nos deslocar de um espaço a outro, de um universo
descrever o momento que estamos a outro, assim como para outra “realidade” por vir
compulsoriamente confinados e dominados pelo (materialidades infinitas). Podemos também pensar
medo. A cor vermelha e os sons promovem uma em nadadeiras, afinal a tradução do título da
cinestesia que mesmo nesse lugar restrito, limitado performance nos coloca nesse mar, e assim
e bidimensional somos capazes de dançar, inventar podermos ao invés de afundar, nadar e boiar.
e compartilhar afetos, receios e atrair para um Saliento que as imagens apresentadas ao interferir
dançar coletivo, pois foi essa sensação que me no meu estado cinestésico de corpo/escrita podem
capturou no momento que assisti essa obra, minha variar em outros corpos, cada qual com suas
sensação foi vamos nos unir (sic). Impossível olhar diversidades de experiências e capacidade de

101
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

articulação sensorial. Enquanto espaço de escrita, esquinas da vida. São uma multidão de corpos que
no meu caso elas potencializam o desafio de refletir se aglomeram nas UPAS e hospitais diante de um
e interpretar sobre o que está sendo apresentado número que notifica somente alguns corpos. Se
correlacionando a essa atual situação. pararmos para pensar, números existem, porém se
Durante a apreciação um subtexto se fez formos nos guiar pelo que está sendo dimensionado,
presente. Momentos de instabilidades, incertezas e estaremos de fato cometendo um terrível erro, face
motivos que nos deixaram/deixam em alguns às desigualdades que atravessam nosso país.
momentos incertos para onde seguirmos (pausa). A Quando as cores começam a mudar, o
presença nas telas, o distanciamento físico, as tonalizar da cena, me faz refletir em relação à
mortes, os cenários confusos, e os efeitos que nos complexidade de uma investigação que compõem
causaram e causam, não são suficientes para esse fazer artístico e seus entrelaçamentos de
desistirmos (pausa). Na continuação as cenas se vida-morte-vida. Retomo a primeira imagem, e
fazem potência para continuar, inicialmente com lembro-me do olhar daquele corpo me direcionando
dúvidas sobre esse processo de vida que quase nos a pensar questões relativas a corpos não binários,
destruiu, mas isso foi se transformando e geralmente sacrificados por serem minoritários.
produzindo bons encontros, inclusive testando Minha referência é Madonna, mesmo existindo
nossa capacidade de adaptação. Reflito sobre outras referências mais atuais, sua capacidade
experiências passadas e logo penso, ao inventiva e articulada politicamente me remete a
aumentarmos nossas ações aqui e acolá, essa cena, para que possamos pensar determinadas
partilhando, inventando, aproximando, tensionando normatividades insistentes e sua busca em romper
e tecendo afetos/encontros nesse ambiente, estereótipos estigmatizados e cheios de poeira.
podemos ver e sentir a importância de um agir O artista nas telas maquiado de azul (pode
consciente e coletivo nos impelindo a desejar novos ser como ele olha o mar, a vida, as pessoas ou como
atravessamentos, e outros modos de existir ou eu vejo o mar) parece querer relacionar seu
re(existir). cotidiano com cores “diversas” ou talvez um
Logo após, aparece uma imagem que me recurso para pensar questões de gênero e
faz referência a um empacotamento. Pouco depois sexualidade, pois o figurino que veste e reveste
o corpo tonalizado de vermelho, lembra-me do também em alguns momentos, nos remete a um(a)
encharcamento de informações diárias que aparece bailarina em uma caixinha de música, uma discussão
na TV e em redes sociais, e o quanto eu “vejo” gente que avança quando pensamos o que Boaventura de
sendo empacotada aos montes e diariamente nas Souza Santos (2019) cita quando a continuidade da

102
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

dominação segrega um senso comum capitalista, relação as suas imagens), como provocação, ícone
racista e sexista que serve as forças de direita, até da cultura, ou pop. Não entendo sua imagem
porque é reproduzido incessantemente por grande distante de uma crítica às reflexões de vida. Se nos
parte da opinião pública e pelas redes sociais. aproximarmos de sua história pessoal, iremos
Trazer a questão de gênero para essa perceber que seu caminho durante um período foi
discussão seja necessário e pontual. A imagem apresentando temas como sexualidade, mas
disforme com o plástico que parece sufocar e o continua presente em todos os seus atuais
corpo intensifica um estado de aprisionamento e momentos artísticos, mesmo sendo apreciada como
nos remete o quanto precisamos nos adentrar produto, “rainha pop”, ou da linha da
nessas discussões e partilhar, apoiar e intensificar espetacularização. E com isso, retorno a outro
uma luta em comum. Pensando em quantas mortes momento, quando os giros se intensificam. O que
diárias somos notificados, pois o vermelho que emerge enquanto espectador como crítico é uma
aparece recorrente também lembra o sangue sensação de cansaço com tantos discursos de
desses corpos sacrificados e as carnes penduradas aparência e pouco engajamento de si e do outro.
nos açougues, envolvida em plástico filme, prontas Um corpo que dança produz também
para serem vendidas nos mercados a qualquer emoções (fiquei abafada em alguns momentos) a
preço. Não é qualquer carne, mas uma carne que se partir das imagens codificadas, afinal o plástico
apresenta colorida, diversa, transvestida, mesmo já sendo usado em produções artísticas me
maquiada. O que isso pode significar? Todas as faz pensar em insubmissão dos corpos, mais que
materialidades ali geradas nos convocam a cair e tremer, uma ode a reflexão para o reexistir a
tencionar um sentimento de cumplicidade, para que partir de um desejo coletivo, sendo unos. A
vidas geradas possam continuar seguindo, possibilidade desse espaço como produção de
existindo, reivindicando. Inicialmente com a cor afetos é um convite a se pensar politicamente e
vermelha, observo e intersecciono com uma decidir sobre o que queremos para nós, afinal
placenta que gera vida, continuidade, uma estamos todos vivendo juntos, mais juntos do que
convocação em conjunto para viver, na luta contra nunca, mesmo estando separados.
a morte que nos circunda na atualidade. Trago
Referências
Madonna novamente para pensar sobre essas KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São
Paulo: Companhia das letras, 2019
políticas de vida. Ao dar sentido nas imagens que ela
nos apresenta (entendo que algumas pessoas SOUZA SANTOS, Boaventura. Boaventura: Descolonizar o
saber e o poder. Disponível em:
podem divergir sobre a subversividade ou não em https://outraspalavras.net/crise-civilizatoria/descolonizar-o-
saber-e-o-poder, último acesso em 21 jun. 2021.

103
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Digitais para Dança, dentro da programação online

Ocean: do VI Congresso da ANDA 2021.


O exercício de alteridade na apreciação de
incorporação uma obra de arte, o ver com os olhos livres, é fugaz
e me escapa. Ocean16 (2021), de Victor Isidro (SP),
do corpo na chega em mim como um rastro, rastro meu, talvez

obra e da obra
como um desejo do que poderia ser também a obra
Corpo dentro17 (2021), de NaíseS Costa (PA), se ela

no corpo?15
tivesse um pouco mais de recursos, materiais e
tempo18.
Iara Sales Uma brincadeira com um plástico e um
convite ruído que acontece pontualmente no início
Meus olhos me traem ou estão apenas
de Ocean é onda do mar. Para além disso, Isidro está
cansados. Exaustos de tanta luz azul. Fruto de um
submerso em seu próprio oceano, em seus
habitar a vida em contexto pandêmico onde a
experimentos entre corpo e a relação, investigação
sociabilização, as demandas de trabalho, o lazer e a
com o objeto (plástico) enquanto veste. Um corpo
diversão estão quase todos dentro de uma tela, de
entre, um corpo dentro, um corpo coisa. Um corpo
algum dispositivo eletrônico, alcançados por um
dentro, uma luz vermelha, um som que lembra o de
clique e por um corpo curvado de olhos embaçados.
“ruído branco”19, me leva diretamente ao imaginário
É neste contexto possível que assisto às Trilhas
do útero materno, da placenta. Do ser dentro,

15
“Incorporação do corpo na obra e da obra no corpo” aqui faz conversarmos sobre o seu processo criativo, ela pariu o seu
alusão a frase de Hélio Oiticica, proferida pelo artista na filho, não tendo a oportunidade de refazer a experimentação a
entrevista A arte penetrável de Hélio Oiticica, de Ivan Cardoso, partir das orientaçõesartísticas e sugestões técnicas
para a Folha de S. Paulo, em 16/11/1985. Cf. OITICICA, 1985 apud recebidas. E por um desejo forte meu e dela, de que ela
in JACQUES, 2003, p.29. participasse da exposição (mesmo em puerpério) e finalizasse
16
Ocean (2021), esteve presente na curadoria das Trilhas o ciclo e processo da residência com a criação de uma obra
Digitais para Dança, dentro da programação da ANDA 2021. artística, eu e Thaís Lima (assessora de imagens), finalizamos
17
Corpo Dentro (2021), de NaíseS Costa (PA), pode ser visto o vídeo com o material teste que existia, tornando-o a obra
dentro da exposição permanente Mãe-Artista ou Artista-Mãe?, Corpo dentro (2021).
através do link: 19
Ruído branco trata-se de um sinal sonoro que contém todas
https://maeartistadanca.46graus.com/crias/corpo-dentro/ as frequências na mesma potência, comumente utilizado para
18
O vídeo de NaíseS Costa, foi criado a partir de um vídeo teste facilitar o sono tanto dos bebês quanto de adultos. Um ruído
experimento feito por ela e seu primo para materializar a sua branco pode ser, por exemplo, o som contínuo de um ventilador
ideia e mostrar para mim, orientadora artística e para as duas ligado. E para os bebês, já existem várias "sonoridades",
assessoras artísticas do projeto de residência artística Mãe- disponíveis na internet, que lembram o som "natural" do útero
Artista ou Artista-Mãe?. Poucos dias após mostrar o vídeo e materno, por exemplo.

104
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

submerso dentro do seu primeiro oceano, entre Ocean, entrelaçada à questões pertencentes ao
fluidos, sangue e vida. conjunto de "antiobras de artes"21Parangolés(1964-
É perceptível a investigação do artista 1979), de Hélio Oiticica (RJ).
com o objeto enquanto vestimenta, da vestimenta
enquanto corpo ou prótese. Há deleite sensorial e Os Parangolés são capas, tendas e
estandartes, mas sobretudo capas, que
gestos simples. Assistindo Ocean nas Trilhas vão incorporar literalmente as três
influências da favela que Oiticica acabava
Digitais, tenho a impressão de que se trata de uma de descobrir: a influência do samba, uma
vez que os Parangolés eram para ser
investigação do “deleite pelo deleite” do uso do vestidos, usados e, de preferência, o
objeto plástico ou da vestimenta enquanto corpo. E participante deveria dançar com eles; a
influência da ideia de coletividade
me pergunto se o artista tem como mote aguçar a anônima, incorporada na comunidade da
Mangueira: com os Parangolés, os
nossa sensorialidade como faziam os Parangolés, de espectadores passavam a ser
participantes da obra e – diga-se – a ideia
Hélio Oiticica, ou os objetos sensoriais de Lygia Clark. de participação do espectador encontrou
aí toda sua força; e a influência da
Depois da descoberta em coletivo, arquitetura das favelas, que pode ser
durante os encontros da imersão LabCrítica e resumida na própria ideia de abrigar, uma
vez que os Parangolés abrigam
posteriormente ao ler a sinopse20 da obra, de que de efetivamente e, ao mesmo tempo, de
forma mínima, os que com eles estão
fato o artista estava a investigar os trabalhos de vestidos (JACQUES,2003, p.29).

Oiticica e Clark, pausei e foi preciso abandonar um


A revolução Parangolés é um convite a nos
pouco minhas primeiras sensações ou desejos de
tornarmos um “Ser-Obra”. Ao vivenciarmos
profundidade em outras possíveis direções. Então,
sensorialmente a experiência de vestirmos a obra e
resolvo me apegar ao mote da sensorialidade que
nos tornamos a obra. Ou melhor, como afirma
percebo existir em Ocean. Tal sensorialidade me
Oiticica, na experimentação de quem veste a obra, o
chega como um convite, feito pelo Victor Isidro, para
corpo deixa de ser espectador ou mero suporte da
mover junto e que também me impulsiona ao DESEJO
obra, “se tratava mais de uma incorporação:
de me enFIAR dentro daqueles materiais e mover-
‘incorporação do corpo na obra e da obra no corpo’,
sufocar-renascer como denúncia.
(...) por meio da dança, ou melhor, na e pela
A partir dessa experiência de apreciação,
estrutura da dança” (OITICICA, 1985, apud JACQUES,
rabisco algumas elucubrações sobre a videodança
2003, p.29).

20
Sinopse da obra: Ocean, é uma videodança experimental e dança de plástico transita entre o visceral e o artificial, escorre
integra o projeto de pesquisa de iniciação científica "Corpo, pela pele e se afunda nas águas de um corpo mareado.
movimento e visualidade: um processo híbrido de criação em 21
Maneira como o artista Hélio Oiticica considerava a série
dança contemporânea", com orientação de Juliana Moraes. (obras) Parangolés (1964-1979) - in https://mam.rio/obras-de-
Atravessada pelo trabalho de Lygia Clark e Hélio Oiticica, essa arte/parangoles-1964-1979/ (acesso em 23 de junho de 2021).

105
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Oiticica afirma que os Parangolés são Ocean é abrigo, é corpo-dança-veste, é


antiobras, portanto estão isentos de “premissas coletividade anônima. E Victor, um corpo solo
morais, intelectuais ou estéticas – a anti-arte está coletivo, nos convida a continuarmos a mover,
isenta disto – é uma simples posição do homem nele mesmo dentro de um apartamento em isolamento
mesmo e nas suas possibilidades criativas vitais” social, os nossos próprios oceanos.
(OITICICA, 1966 apud TEIXEIRA, 2017, p.51-52). No
entanto, identifico que os Parangolés têm um Referências

caráter político muito forte, pressupõem uma JACQUES, Paola Berenstein. Estética da ginga: a
arquitetura das favelas através da obra de Hélio Oiticica. Rio
manifestação cultural coletiva, carregam sempre de Janeiro: Casa da palavra, 2003.
em sua “dança” um tom de denúncia e as “capas” TEIXEIRA, Amanda Gatinho. “Um olhar sobre a poética dos
estão quase sempre demarcadas com frases de parangolés de Hélio Oiticica” In Arteriais - Revista do
Programa de Pós-Gradução em Artes, [S.l.], p. 51-59,
conteúdo-denúncia extremamente crítico e ago. 2017. ISSN 2446-5356. Disponível em:
<https://periodicos.ufpa.br/index.php/ppgartes/article/view/
politizado. 4863>. Acesso em: 11 jul. 2021. doi:
http://dx.doi.org/10.18542/arteriais.v3i4.4863.
Os Parangolés são de fato fascinantes e
por serem tão fascinantes e mais que isso, uma obra
bastante disseminada, muitas vezes os artistas que
fazem referências a essa obra, nem sempre tocam
em todas as camadas que ela opera. No caso de
Ocean, traçando um paralelo, as camadas que ficam
perceptíveis são a sensorial, possivelmente
inspirada pelo corpo-dança que os Parangolés
proporcionam; a investida nos materiais e a
plasticidade de um corpo coisa.
Enquanto espectadora, narro o que assisti
a partir das minhas próprias referências, então vi
vida morte e vida. Vi um corpo dentro de uma
placenta, vi um corpo sufocando com falta de ar e vi
também experimentações do objeto enquanto
corpo. E num anseio por poesia, vejo a profundidade
que o título Ocean carrega.

106
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

de força materna, senhora zeladora de todas as

Encantadas cabeças para o Candomblé de origem Iorubá, que


muitas vezes aparece com um com um igbá

da maré (cabaça) na cabeça. E donas marisqueiras, essas


mulheres, que também transformam, o que está
Jessica Lima
dentro da terra em colheita, usam um ferro como

O chamamento de uma mulher que dialoga instrumento de caça, riscando um ponto de

com a terra, dançando sobre ela inicia o filme, — “Ô abertura em todo o chão. Elas entendem sobre as

Estella!” Em seguida, vemos um barco navegando e marés, brincam de saber e de se envolver com o

batendo sobre uma maré suave... é a carta de mar, dão risada quando ele, o mar, as engana.

chegança. Ato de mariscar: a posição de peito para o

Estella, encruzilhada de afetos (2018), chão, catando o sustento, do chão, do mar, do

documentário de Andréia Oliveira, Berg Kardy e Lara marisco, da terra, da areia. Outra relação do tempo

Rodrigues Machado, nos conta sobre a memória da com o mar... precisa esperar a natureza dar! Tem dia

festa que se faz presente no corpo. Gravado em que o mar não quer, a maré não desce ou fica

Salinas das Margaridas, cidade do interior da Bahia, perigoso se arriscar, então melhor confiar na

a obra retrata o cotidiano, a vida e a lida de mulheres natureza e aguardar o que ela pode dar. Mais do que

marisqueiras. Esse lugar, lugar de resistência da dependência, é respeito à grande mãe que alimenta.

memória, me aciona um encontro com a chegança Dona Xôxa, moradora de Encarnação de

da morte, um encontro com memória encarnada Salinas, é uma personagem-gente, moradora do

dessa força de captura para se tornar corpo, que interior e que fala da festa, que ainda observa em

como a morte alimenta de alguma forma o corpo ao sua rua, no seu portão a festa que ficou em seu

longo da vida. Me recordo também do corpo ancião, corpo. Conta ela, contos de gente de verdade. Toda

da força da cabeça, da cabaça que é mais difícil de vez que vejo gente, me lembro do que é ser gente,

quebrar. Como a cabeça engatilha a encarnação de me lembro do fogo e do afago que vive e mora

um corpo todo e produz pela memória, afeto, dentro de gente, e que mesmo com tudo que se

emoção, trabalho e festa, a vida? passa, ainda me recorda o quão bonito pode ser—ser

Estella nos faz pensar nas Yabás, Orixás gente.

com a energia do feminino em religiões de matrizes Quando Dona Xôxa, senta-se na beirada da

africanas. Especificamente, Iemanjá, considerada a rua, lá na Bahia, pra poder falar ou ver a vida, me

rainha das águas, protetora dos pescadores, dona lembra uma prática muito comum no subúrbio

107
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

carioca no verão: todo mundo se senta na calçada mainha. Essa senhora, especificamente ela por
da porta por não aguentar o calor de casa; ligam as todas suas características, me remete a encantada
mangueiras, tem cerveja, as crianças são da linha de Nanã Buruquê. Essas matriarcas
autorizadas a ficar na rua. Essa prática me lembra parecem encarnar a força dos encantos dessas
do que é ser gente e de como essa gente é em meio orixás, desses encantos que são fonte de energia e
a tudo. É como se a experiência de proximidade ao fé. São como Nanã, orixá da sabedoria, dos portais
sentir o calor do chão do asfalto quente do subúrbio de entrada e saída deste plano para o outro, da
sempre nos identificasse. A rua é o lugar do energia da transformação e da criação, da junção da
encontro e o lugar da festa que a Dona Xôxa conta; é terra e da água, para dar sentido à vida e a moldam
onde circulam seres e seus saberes em atitude de de um jeito que caiba a sua forma. Uma sabedoria de
pertença. Ela fala de festa e, pelo rito, ela pertence corpo, sabedoria de gente.
a sua própria noção de identidade comunitária. Estella nos faz olhar para esse olhar para
Andreia, umas das realizadoras e também o chão como sustento, para essa posição invertida,
personagem do documentário, usa canto e conto, que já inverte a lógica da existência e que puxa da
passa a mão rente ao corpo molhando a pele. A cena terra para nutrir. Em tela, mulheres mantenedoras
me faz lembrar. Com ela, já me vem o cheiro de sal, dos seus espaços e de sua economia. Mulheres
a pele salgada, o sal esquecido na pele e a maresia negras, gordas, e anciãs da sabedoria, da pesca, do
no nariz. E também o quanto da terra, do chão se corte, da maré, do mar a mar. O barulho d’água,
transforma em energia, cura e alimento. O cenário delas mexendo no marisco, lavando o marisco,
sempre seco fala que na secura mora o encanto que abrindo chão, a pequena foice de ferro raspando o
encontra a mão das matriarcas. O mar some, risca- chão, nesse movimento de sacolejar, sacolejando a
se o chão e encanta a comida, ainda suja, que, com própria vida e os olhares da gente. E a meiota de
a ajuda da água doce e corrente, torna-se também mar, estar no meio do mar, de maré pra lá e pra cá,
sustento. O mar se encantando na mão de mulheres pra estar ali precisa saber, se não a maré engole. A
que zelam por ele e tem ali, o dom, ou a necessidade risada do saber da ancestralidade, que não está no
de transformar. livro, e só dá para escutar nesse corpo.
Dona Lucia, também marisqueira, uma Existe um momento, entre cenas, que
mulher retinta, seios fartos e uma blusa lilás, aparece a festa que Dona Xôxa parece falar, entre as
caminha sob as águas com seu balde na cabeça; ruas com chão de terra batida. Um grupo sai em
caminha e ri, parece que acha graça de ser filmada, cortejo e, pela presença dos palhaços, me soa como
ela avisa para quem filma que vai à casa de sua uma Folia de Reis, outras pessoas seguindo o grupo

108
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

com música, alternando entre batuques e


instrumentos de sopro. A alegria que a “folia” traz,
faz da rua o encontro das gentes. Xôxa,
ancestralidade viva que é, demonstra sua fé na
festa, quando o corpo dela encarna esse momento,
e logo encarna outros ancestrais, a festa incorpora
as ruas, enquanto faz as encruzilhadas de afetos
brincarem, dançarem ou seguirem a procissão. Essa
risada ancestral é quando a manifestação engorda
de tanta gente! E os antigos celebram, dão uma
risada alta e bem larga pelo povo que entrou na fuga
e no desvio!
A maré baixa acolhe as marisqueiras. O
vazio diz que é a hora de abraçar a terra e ir ao fundo
do mar. E com a partida de Estella, escutamos ecoar:
Como a força, ou talvez resistência—de viver e de
sobreviver—dessas mulheres ainda se espraiam
para o resto das coisas da vida?
A cabeça sustenta o peso da história,
sustenta a curvatura que o corpo faz para ir em
direção à terra e dali suspender.

109
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

online dessa programação estimulou essa escrita,


A obra uma escrita em colaboração com a IMERSÃO
LabCrítica. Me interesso aqui pela perspectiva do A-

como sinapse C-A-S-O, que não é erro (categoria falida para


análise), mas como aquilo que rompe com o nosso

para o que repertório de fruição de obras audiovisuais.


Também, tomo em tensão a expectativa do cinema

acontece que se interessa por uma narrativa linear, nos


apresentando frames e sons capturados do(s)

sem razão cotidiano(s), através do(s) qual(is) empaticamente


nos identificamos, a partir de uma realidade
Danilo Lima
detalhista, enquadrada e que no trabalho de pós-

Uma camada vibracional que possui produção filtra a imagem para evidenciar o high

erupções é a arte, dessas que assentam o corpo e o definition.

implica na ecologia (exaurida) que o globo terrestre Se estamos a fruir danças audiovisuais,

vem testemunhando a partir das extrações dos como internautas, podemos reconhecer escolhas e

componentes orgânicos que nela compõem e se fez os acasos — quando aparecem — que compõem as

emergir. Se em uma pandemia contemporânea a nós 30 danças audiovisuais das Trilhas Digitais. Falo aqui

[e é a partir dessa situação que escrevo este texto] de imagens turvas, oscilações sonoras, no modo on-

reconheço-me como um agente que interfere e line, com ecos repetitivos e decadentes que podem,

compõe os lugares e espaços que meu corpo passa, inclusive, ser escolha política (como é político?) de

ou permanece, sinto uma característica no agir de um(a) autor(a)(e) que decide reconhecer esses

heterotopias, que é modular a alteridade entre ruídos e apresentá-los como parte de suas

organismos vivos e suas relações com os objetos dramaturgias coreográficas no audiovisual. Além da

nesse estado de emergência. quebra de um domínio da alta resolução imagética,

Nessas relações, características e acolher e escolher esses acasos também nos

casualidades temos as Trilhas Digitais para provoca a pensar por qual dispositivo foi feita essa

Dança, uma programação de pesquisas e captação. E pensando socioeconomicamente

experimentos (!) artísticos em dança, como parte do (político?), o aparelho celular como dispositivo de

6º Congresso ANDA – 2ª edição virtual. A minha criação contemporâneo, a depender de seu

experiência de fruição das danças audiovisuais desempenho, tem uma resolução de imagem baixa.

110
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Classe baixa (político?). Nesse sentido, elaborar precariedade socioeconômica que atinge o sistema
perguntas nas obras artísticas que são exibidas em da arte, com condições de trabalhos similares à
redes virtuais de socialização, passa também pelo terceirização para a produção artística que vai
interesse na resolução de imagens. compor a programação das instituições de arte e
cultura. Agora me identifico (política?), suspendo,
... Nossa realidade tem sido tão turva. rejeito, turvo-me, nego, estou, fico, avesso me
afundo, me esqueço, não respiro, não pisco o olhar,
As hipóteses de mundos nas obras são estou no real, e a hipótese ali apresentada foi
sempre eficazes, uma vez que estabelece elaborada por uma humanidade (isso é político?).
encontros (para lembrar de Ailton Krenak que nos Podemos perceber em alguns segundos
apresenta a possibilidade de pensar criticamente a e/ou minutos de frames dispersos pelas Trilhas, os
existência do encontro de mundos). Desse encontro, acasos com as imagens turvas e ruidosas em:
temos a experiência, e ela sendo um dos interesses Pretxs 3000 (2021), de Augusto Soledade, que nos
na arte, estamos em um ambiente complexo para a possibilita ver corpxs pretxs prontxs para mergulhar
nossa cognição. Assim sendo, como internauta e em em infinito; Cyber Bo Waack (2020) de Renata Riss,
contato com as obras audiovisuais, mediado por um que experimenta realidades em domicílio; em Ocean
repertório de diversas mídias como cinema, TV, (2021), de Victor Isidro Lopes, que ao envolver o seu
outdoor, lambes, de vídeos e imagens, sempre corpo de plásticos, sugere sufoco, mas também
interessada na nitidez técnica, antecipo o meu uma crítica sobre as camadas artificiais que nos
encontro (sempre que vejo uma obra audiovisual já compõe; em D = m/V (2021), de Samuel Leandro, que
espero uma “boa” resolução?) com essa resolução dança como que imagina uma casa galáxia; em
bem focada, bem enquadrada, bem nítida, com Mosaico de Banha e Pixel, Ep. 1 (2021), de Jussara
transições lentas e imperceptíveis. Mas Belchior & André Luiz do Carmo, que questiona o
encontramos alguns riscos nessa antecipação, imaginário sobre todoo corpo vir a se tornar gordo
como na escolha (política?) contra essa resolução. por conta da necessidade de estarmos em casa
Câmera no corpo. Penso no dispositivo como prevenção contra a COVID-19; e em Dança e
celular, em casa, acoplado ao corpo, sendo a sua Imagem Sonora (2021), de Thiago de Souza, que na
extensão. Um movimento. R a s t r o s riscando a tela. experiência de transmissão teve ruído e oscilações
Nesse momento, as obras mediam o em sua reprodução, com eco e sobreposições
encontro do meu repertório pré-estabelecido e me sonoras, compondo mais uma camada de
aproximam das experimentações em videoarte, e da apreciação do trabalho.

111
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Da esquerda para direita, frames de Pretxs 3000, Cyber Bo Waack,


Ocean, D = m/V, Mosaico de Banha e Pixel, Ep. 1.

A política (escolha?) neste texto, se


vincula ao r i s c a r a tela, anunciando o dispositivo
precário na criação, este como ferramenta desses
artistas contemporâneos, que mesmo podendo
optam não simular, com recursos de programas de
edição, a sua precariedade em um estado de
emergência. Sendo assim, temos a casualidade
como uma possibilidade na criação de obras
audiovisuais, como também, ou pelo menos, tornar
possível que produções com baixa tecnologia sejam
consideradas como um gesto contra/es-
curo/imprevisto na massiva e insistente nitidez
imagética que o capitalismo através do audiovisual
simula a realidade.

112
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Uma lembrança do passado. Passar,

Ao Passo passo, passagens. A dança em trilhas. Vestígios. Ver


e escutar, abusivo acordo simultâneo. A coreografia

que o Tempo transborda da tela em fragmentos. Sobreposição.


Rastros coloridos. Falas curtas. Imagem e som

Passa e emergem recortados. Sou convocada a acionar o


modo - Pare, olhe, escute! - de Tim Ingold (2008).

Gestos para Minha percepção se torna engajamento ativo e


exploratório. Escavo em busca de marcas e

Nada: impressões. Passo de passagem por trajetos


duplicados. Dois corpos iludindo adição. Acessos e

relatos da atalhos são vistos/ouvidos. Repetição. Sentada me


desloco na imaginação. Lembranças e incertezas

pandemia nas me capturam a pensar sobre como vai ser a dança,


a vida e os projetos daqui pra frente. A trança feita

Trilhas de passado, presente e futuro se entrecruza e me


confunde. Me atenho ao que não escapa e naquilo

Digitais para que me atinge. Sou convidada a escutar gestos e


materializar falas. Relatos do mundo pandêmico são

Dança audíveis, necessários, sussurrados, fragmentados,


sobrepostos. Interrogações se transfiguram em
Luciane Moreau Coccaro
trajetos de incessantes passos dançados. Excesso
de movimento. Eu queria ficar como estava até
agora, paralisada. Sinto trocar a pele ao incorporar a
antropóloga vidente sugerida pela antropologia das
sensações (STOLLER, 1989), mesmo sabendo não
poder adivinhar as intenções dos artistas em suas
criações. Uma vez penetrada pelo mundo do outro
tento organizar a experiência sensorial nessa
escrita.

113
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Sou flechada por uma lembrança do retomo a tarefa de escrever após ser flechada por
passado. Frase/tema de abertura de Ao Passo que o duas obras audiovisuais Ao Passo que o Tempo
Tempo Passa (2020) 22, de Isabella Serricella e Diego Passa (2020), de Isabella Serricella e Diego Avila e
Avila. O audiovisual traduz o tempo pandêmico Gestos para Nada (2021)23, de Beatriz Veneu.
enunciado na trama entre dança e fala. Da No primeiro, Ao Passo que o Tempo Passa
experiência de assistir compartilho impressões mostra uma mulher jovem branca e um homem
agenciadas acerca da forma em que a dança e os jovem negro dançando em diferentes espaços ao
relatos falados produziram reverberações. Como som de seus próprios registros de voz. Ao assistir
habitamos mundos virtuais de sentido? Quais percebi que a presença de uma voz feminina e uma
danças estão por vir? Nos provocava em seu título o masculina indica que podem se referir aos bailarinos
sexto congresso científico da ANDA neste ano. Ao que aparecem dançando no vídeo, mas na ficha
Passo que o Tempo Passa produz paisagens sonoras técnica aparece a informação de que os relatos
e imagéticas. Minha atenção se dividiu entre o que é foram compostos por vinte e três pessoas. Esse
visto e naquilo que é ouvido. As falas e a dança são dado permitiu pensar na presença de memórias e
duas presenças e diferentes formas de articular lembranças de mais depoimentos do que apenas os
depoimentos de passado, futuro e presente. Ingold dos protagonistas da cena, mesmo na ausência
(2008) afirmava que por meio das atividades dessas outras vozes em áudio no vídeo.
corporais de olhar e escutar acionamos sensações Que temas aparecem? Data de morte do
distintas, de um tipo através dos olhos, e de outro, pai, dia de jogo de futebol, pensamentos sobre
pelos orifícios dos ouvidos. A experiência sensorial é racismo, sobre a dança, embora a frase inicial
nosso único acesso aos conhecimentos do mundo. colocada no vídeo indague sobre o passado
Não existe nem real e nem virtual. O que há são aparecem questionamentos sobre o futuro de
nossas representações e as obtemos via nossas diversas formas e também no modo interrogativo.
percepções. E, sinceramente estou cansada de Temas sobre a faculdade, sobre fazer mestrado,
tanta invasão virtual. Meus olhos e meus ouvidos sobre não saber o que fazer e não saber como vai
não aguentam mais dar atenção a tanta informação. ser o futuro. Aliás as questões acerca do futuro
Num esforço de compartilhar tumultos sensoriais parecem ser devolvidas a quem assiste porque

22
Audiovisual apresentado nas Trilhas Digitais para a Dança 5
no dia 4 de junho de 2021 às 11h45 pelo Portal Anda na
plataforma do Youtube.
23
Audiovisual apresentado nas Trilhas Digitais para a Dança 2
no dia 02 de junho de 2021 às 18h pelo Portal Anda na
plataforma do Youtube.

114
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

aparecem de forma interrogativa e geram se estamos mesmo conseguindo dançar em tantas


perguntar sobre elas. Anotei o recado aos brancos: locações, e acho que nem podemos falar tanto sobre
“O racismo é coisa de branco. Eles que tem que esse momento. Beatriz Veneu me puxou à
resolver. Os nossos ancestrais eram reis e rainhas”. suspensão ancorada no tempo presente. Sua
A escolha de compor um audiovisual no qual presença me convocou a sentar/estar/dançar ao
as vozes falam de temas que abordam e sugerem lado dela para repetirmos juntas o balanço do tronco
refletir dimensões sobre passado e futuro oferece para frente e para trás (alusão clichê ao movimento
contraponto com a parte visual da dança mostrada de pessoas autistas). A imagem fílmica gravada na
na tela. A visualidade da dança apresentada em pelo vertical no dispositivo celular é interrompida por
menos 13 formas diferentes de gravar e/ou editar pausas que apresentam fotografias desfocadas
nos coloca no tempo presente pandêmico, no qual dela. Ah! A força das pausas na dança. Lembram que
estamos todos inseridos. No vídeo aparece um duo eu queria continuar paralisada? Então, através da
gravado em diferentes locações urbanas. Quando os ausência de tantas imagens e vozes, percebi o corpo
bailarinos estão dançando dentro de casa ou local feito de cabelos na cara. A falta de excesso de
fechado eles aparecem sem máscara e se dançam movimentos no vídeo de Beatriz me captura e me
na rua, quintal de uma casa, garagem de carros, vias coloca bem no presente desses sombrios tempos
arborizadas ao ar livre, eles aparecem portando a pandêmicos. Lembrem, eu sempre quis estar
máscara (indicação preventiva ao contágio de parada, imóvel, quieta. A economia visual/audível
Covid-19). me atinge profundamente, sinto a dança na carne,
Presente, a máscara avisa: estamos no começo a olhar sem foco e esvaziada. A flecha
presente. Da lembrança que marca o momento atual atravessa meu peito enquanto meus pensamentos
imposto pela pandemia, comento outro audiovisual em suspenso, tardam, pairam sobre mim. Consigo
Gestos para Nada (2021), de Beatriz Veneu. Ao ler as frases apresentadas na tela preta durante o
contrário da poluição visual/sonora e da sensação audiovisual. Ecoam em mim as palavras:
de saltitar sem pausas por insistentes imagens e “Suspensão. Sonhos. Solavanco. 2021. Para nada.
vozes experimentadas no Ao Passo que o Tempo Para tudo”. Gestos para Nada me fez parar, olhar,
Passa, Beatriz Veneu escolheu outro modo de escutar e receber o solavanco na coluna. Sobre o
comunicar a existência da dança pandêmica. Menos título? Não consigo imaginar nada mais apropriado.
se torna mais. Posso relatar o impacto causado ao No presente, Gestos para Nada foi um
assistir Gestos para Nada. Senti o contrário do presente que me fez visualizar/acessar exatamente
vivenciado no primeiro vídeo. Não é não! Não o meu espaço interno. Estou abalada, fico quieta, me

115
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

emociono, mas o principal, estou presente. A mortes pela Covid-19. Sou um pouco a Beatriz sem
escolha de gravar o vídeo em preto e branco rosto transitando por estados sensório-motores
contrasta com a luxúria colorida de Ao Passo que o distintos e conflitantes. Sim Beatriz, eu sou também
Tempo Passa, dedicado a mostrar quase toda a o seu cabelo solto jogado na cara. Sou esse cabelão
paleta de cores possíveis. Sem exuberância e sem tapando a face. O cabelo é materialidade ativa em
trocas de figurino, apenas num traje preto, a seu solo, responsável por encobrir e esconder a cara
imagem de Beatriz em Gestos para Nada foi para evidenciar as impossibilidades e as incertezas
registrada no centro da tela do celular entre duas do momento atual.
tarjas pretas, efeito alcançado pelo gravação na Termino esse testemunho descrevendo
vertical. Simplicidade, economia. Logo salta a ideia minha posição no espaço em relação às danças para
de redução do espaço. Beatriz está o tempo inteiro a tela visualizadas no momento pandêmico. Após as
sentada no mesmo sofá. Uma presença no vídeo duas experiências de assistir aos vídeos de dança
feito em casa durante o interminável confinamento. com o mesmo tema, aqui do outro lado do monitor
Gravação caseira. Volto a plataforma YouTube e estou sentada na cadeira em frente ao meu
clico no play para assistir novamente o vídeo/solo, computador, local no qual passa/passagem/passo a
uma, duas, talvez cinco vezes. Ainda escavo maior parte do tempo paralisada. Meu corpo se
impressões. Nossa, como o simples penetra fundo. restringe ao rosto/cabeça. As atividades físicas
Me coloco na tarefa proposta por Ingold (2008) ver é mais praticadas são ouvir e ver. Da cabeça para
uma coisa separada de ouvir. Se tratam de baixo permaneço de pernas cruzadas, uma delas
estímulos sensórios distintos, se colocados juntos insiste em balançar enquanto viajo no pensamento
podem poluir, redundar, pesar. Percebo ausência de para outros estados que também são corpo e dança.
música durante boa parte do depoimento de Beatriz. A chance de expandir minhas presenças no espaço
No final há música e posso ler as frases escritas na reduzido e isolado foi um presente dado pelo
tela. A presença é estado. Tenho a sensação de audiovisual de Beatriz Veneu. Sou grata por poder
estar lá. As fotografias em sequência no vídeo ter estado junto e por ter acesso ao que me resta no
sugerem passagens por estados corpóreos. Os aqui e agora.
cabelos no rosto estão presentes durante boa parte Lancei um olhar para a trança feita de
do audiovisual. Penso na potência que tem o que passagens entre passado, presente e futuro.
apenas sugere, a eficácia daquilo que não é Identifiquei nos audiovisuais escolhidos para
mostrado. Ao isolar a imagem do rosto é ampliada a dissecar a presença enquanto passagem. A
ideia de ausência, sem rosto viramos estatística de presença no presente incitou passagens por

116
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

lembranças do que havia antes da pandemia.


Enquanto passo pelo momento atual de isolamento
traço rotas de fuga para pensar em quais danças
estão por vir? E devolvo a questão final de Beatriz
Veneu: Normal? Para que normal queremos voltar?

Audiovisuais Comentados
Ao Passo que o Tempo Passa (Rio de Janeiro | 2020 |
10’). Idealização: Isabella Serricella e Diego Avila.
Direção de movimento: Anna Clara Franco. Edição de
áudio e vídeo: Diego Avila. Assistente de edição de
vídeo: Gabriel Rochlin. Intérpretes: Isabella Serricella
e Lucas Santana. Câmera: Natália Cirito. Relatos:
Anna Clara Franco, Ana Luiza Gonçalves, Bia Perez,
Carol Maciel, Cuini da Silva, Diego Avila, Dinis Zanotto,
Guilherme Soifer, Isabella Serricella, João Gabriel
Mandolini, João Mandarino, Juliana Fogel, Juliana
Moulin, Larissa Lopes, Luana Valentim, Lucas
Santana, Matheus Macena, Pedro Quaresma, Rafaela
Durovi, Rebeca Goldoni, Samuel Valladares, Sofia
Dietmann e Thauan El Pavuna. Rio de Janeiro/RJ.

Gestos para Nada (Rio de Janeiro | 2021 | 3’36”).


Criação e performance: Beatriz Veneu. Imagem e
edição de vídeo: João Veneu Videla. Música:
Crowander – At the hospital. Rio de Janeiro/RJ.

Referências

INGOLD, Tim. «Pare, Olhe, Escute! Visão, Audição e Movimento


Humano», Ponto Urbe [Online], 3 | 2008, posto online no dia 31
julho 2008, consultado o 20 junho 2021.
URL:http://journals.openedition.org/pontourbe/1925;
DOI: https://doi.org/10.4000/pontourbe ,1925.

STOLLER, P. The Taste of Ethnographic Things: The Senses in


Anthropology. Philadelphia, PA: University of Pennsylvania
Press, 1989.

117
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

As telas onde se projetam as obras são

Entre a dança imagens que vemos e que nos veem no espaço


virtual que, respondendo ao ato do olhar,
e a tela, apresentam mundos diversos que se abrem como
rasgaduras no umwelt24 tecnológico, mostrando-
entre o dentro nos o real encarnado no corpo, na tela, no olhar.

e o fora,
Os trabalhos apresentados este ano nas
Trilhas Digitais remetem a um sistema de

a existência
existências interligadas, que emergem das
condições impostas pela pandemia e nos convidam

grita por
a contatar com mundos diferentes que reagem de
formas diferentes ao imposto pelo vírus nefasto.

liberdade Assim como em Amor Mundi (2020)25, de


Vanessa Macedo & Vinícius Francês. Inspirado na

Carmem Arce obra de Hanna Arendt e concebido antes da


pandemia para os palcos, foi recomposto para o
Nas Trilhas Digitais para Dança,
espaço virtual das telas durante a pandemia. As
apresentado durante a programação do 6º
relações, o inesperado, os riscos, os cuidados são
Congresso ANDA 2021, mergulhamos em
marcos primordiais que estabelecem diálogo íntimo
paragens/corpos que são o espaço do discurso
entre intérpretes e espaço cênico, quando dos
humano que muitas vezes a realidade opressora
desvios e choques com as garrafas que se
teima em tentar calar.
espatifam ao toque do corpo, como se gritassem as
Luz, cor, espaço, corpo, corpo observador,
impressões e percepções dos bailarinos. Estes, em
espaços dentro, espaços fora, dentro-fora, fora-
determinados momentos do vídeo, verbalizaram os
dentro, dispositivos que coabitam na tela da
incômodos suscitados no construto da obra em
virtualidade, alheios ao sentir humano, mas
razão do isolamento imposto pela pandemia.
geradores ou coautores da e na ação,
Neste espaço coletivo, formado por vários
complementam o quadro que vai se formando nas
grupos humanos — coreógrafos, intérpretes,
telas cheias de olhos ávidos por dança, por vida.

24
Umwelt é o processo vital, sistema coerente em que sujeito 25
Documentário da Cia Fragmento de Dança, apresentado em
e objeto se definem como elementos inter-relacionados em Trilhas Digitais para Dança, no 6º Congresso ANDA 2021 – 2ª Ed.
um todo maior” Jakob von UexKüll (1988). Virtual, dia 02/06/2021.

118
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

produtores, plateia — a dramaturgia toma corpo e a jogar os cabelos para frente e para trás, numa
mágica acontece, o verbo se faz movimento e sequência freneticamente incômoda... Como ficar
habita aquele espaço quando as palavras já não dão alheia a tudo isso? Como não relacionar o espaço
conta de expressar o que se quer dizer. Elas então cênico ao espaço real, quando nos vemos
materializam-se em corpo-movimento, e assim, aprisionados pelo vírus nefasto assim como a
somente assim, dizem o que vai no íntimo dos intérprete está presa ao espaço reduzido daquele
partícipes deste da experiência estética. móvel da sala? Ações dementes geram forte reação
Por ser ambientado em uma sala de no espectador e nos remetem à dor, morte. E o que
ensaio, tudo parece íntimo, subjetivo, interno, como dizer de nós?... nós permanecemos27.
se as vozes quisessem romper o espaço-tempo e se Em meet.com/hjz-htcc-hfs (2020)28, de
libertar do invólucro em que se encontravam, seja Tainá Barreto, Tatiana Devos Gentile e Viviane Reis o
das máscaras, seja do ambiente fechado, da câmera vai e vem do corpo quando reage ao balanço do
que capta o instante expressivo. objeto côncavo estimula um jogo de estabilidade-
Neste ínterim, como se fosse um devaneio desestabilidade que nos leva a sensações de
pessoal, Gestos para Nada (2021)26, de Beatriz Veneu, libertação espaço-corporal, tão necessárias para a
complementa o estado dos corpos dantes respiração, para a vida; ao buscar o equilíbrio as
observados em Amor Mundi (2020), num diálogo com intérpretes hora parecem estar flutuando, hora
o umwelt pessoal, que ao relacionar-se com o parecem que poderão cair a qualquer momento.
exterior, introjeta a dor, o incômodo do isolamento, Aquele objeto côncavo se torna o umwelt onde toda
a solidão nos verbos corporais, situação que pode a cena se desenrola, até que outros ambientes
ser observada quando a narradora verbaliza que surgem, levando o espectador à experiência
“[...] quatro mil, cento e noventa mortos em 24 estética -sentidos, olhares, escutas se aguçam para
horas... isolamento social, imunidade, gestos para perceberem a ação cênica.
nada, gestos sem propósito, pandemia, suspensão, Assim, o corpo move-se, flutua, numa
contágio, retenção, casa, fica quieta, dança que transforma ambientes em estado de
repetição...[...]”, e ao mesmo tempo o corpo pertença e de presença, numa fluência onipresente
aprisionado no sofá em movimentos repetitivos, o

26
Dança audiovisual apresentada em Trilhas Digitais para el viejo romance, ‘yo permanezco...’ salto del seis al veinte, y al
Dança, no 6º Congresso ANDA 2021 – 2ª Ed. Virtual, dia treinta y al uno del mes, ¡nada! Sigo aquí, como me ven
02/06/2021. ustedes. [...]”.
27
Como diz Lorca (1934) em seu discurso em Buenos Aires “[...] 28
Filme apresentado em Trilhas Digitais para Dança, no 6º
Pasan días, pasan noches y un mes y medio, pero... como dice Congresso ANDA 2021 – 2ª Ed. Virtual, dia 02/06/2021.

119
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

que ocupa os vários mundos-corpos dentro, fora, num estado de atenção e velocidade que o urbano
além... numa relação pendular espaço-temporal. impõe. Os carros, motos, entregadores, dirigidos
No desenrolar dramatúrgico das Trilhas, o pela voz robótica que controla e cobra eficiência
corpo transmuta-se em Casulo (2020)29, de Ananda suscitam a ideia de velocidade, de pressa, num
Campana, Branca Peixoto e Claudia Auharek, criando ritmo desenfreado, mas que não abafa a arte, a
uma sinfonia imagética tendo Bach como estratégia poesia, a sensibilidade. Ainda que os pés se movam
sonora, transformando-se no dentro/fora, num sapatear frenético por sobre a vida, a saia da
conectando o corpo ao espaço claustrofóbico do bailarina, esvoaçante ao vento, nos mostra que o
corredor e ao liberto da floresta, que pode ser um corpo permanece, existe, se faz presente ali,
devaneio (ou não?); uma vontade de sair, de estar sublime e perene, resistente e resiliente, em seu
fora, bailando e dançando, incorporando o ambiente mover lento e calmo e belo. É como se os pés
externo ao interno. As intérpretes expõem seus retirassem do chão a força para suplantar a
íntimos em metáforas corpóreas ao som de Bach, insipidez do cotidiano, fortalecendo a poesia dos
querendo libertar-se do claustro pandêmico, corpos dançantes que teimam em ver a beleza da
sufocante. existência que os faz humanos.
Esta mesma vontade é suscitada em Nesta mostra digital, o sentido do existir
Dançando o invisível das cidades (2021)30, de Nara transparece em cada movimento, em cada gesto,
Dourado & Clara Passaro. Neste bailar, o mundo lá em cada fala, em cada pessoa. O olhar é direcionado
fora teima em continuar alheio ao que se passa no para ver além do que a tela mostra: a essência do
íntimo de nós mesmos, de nossos interiores, de que somos em nós mesmos.
nossa natureza; os sons de espaços diversos se
confundem, o urbano e a natureza coabitam, se
contrapõem, se sobrepõem, e rompem a dualidade
provável.
Sinais opostos estão presentes também
em Vai num pé, volta no outro (2020)31, da Cia Pé na
Tábua, onde o cotidiano abafa nossa sensibilidade

29
Dança audiovisual interpretada por Ananda Campana, Branca 30
Dança audiovisual Nara Dourado & Clara Passaro, apresen-
Peixoto e Claudia Auharek, apresentada em Trilhas Digitais tada em Trilhas Digitais para Dança, no 6º Congresso ANDA 2021
para Dança, no 6º Congresso ANDA 2021 – 2ª Ed. Virtual, dia – 2ª Ed. Virtual, dia 02/06/2021.
02/06/2021. 31
Dança audiovisual da Cia Pé na Tábua, apresentada em Trilhas
Digitais para Dança, no 6º Congresso ANDA 2021 – 2ª Ed. Virtual,
dia 02/06/2021.

120
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

de espectadores. Lugares no sentido mais concreto

Os encantos da palavra e também nos mais subjetivos dela. As


salas de casa agora tornaram-se também teatros,

do encontro cinemas, espaços culturais, salas de ensaio, casa de


show, etc. Agora, quase tudo, e principalmente a

da dança nas produção cultural, passou a ser mediado por telas,


que nos fazem perder algumas coisas e ganhar

trilhas outras. Alguns se adaptaram rápido com isso, outros


sofrem — ou seguem em uma postura resistente —

digitais até hoje, mais de um ano depois do início da


pandemia.
Samara Regina Gomes de Melo
Mas aqui, quero falar em especial de um
momento. Quero falar das Trilhas Digitais Para

Cinco minutos antes, todos se encontram. Dança, no 6º Congresso da Anda — 2ª edição. em

Desejam boa noite, reencontram alguns amigos, 2021. As Trilhas foi o espaço dedicado para a

falam da empolgação de estar ali e das espectativas apresentação dos trabalhos artísticos que foram

para os espetáculos da noite. Todos entram e a selecionados pela curadoria do evento, dentre todos

contagem de um minuto para o começo das os inscritos para a seleção. Divididos em cinco

apresentações se inicia. É hora de se ajeitar na momentos-apresentações, cada um continha mais

cadeira e voltar o foco e todos os sentidos para o de um trabalho artístico que transitavam entre

espetáculo que irá começar. As cortinas se abrem. diversas possibilidades da dança para o

Agora. Começou. vídeo/imagem/digital.

Poderia claramente estar falando dos Eu, assim como acredito que a maioria das

minutos antecedentes a qualquer espetáculo que pessoas, já assistiram algum tipo de apresentação

aconteça de forma presencial em algum teatro ou artística online; todos percebemos as diferenças e

espaço de apresentação artística. Mas, na verdade, semelhanças entre o presencial e o online. A

estou falando sobre os encontros para assistir a principal semelhança que quero falar é o encontro. O

espetáculos que acontecem de forma encontro entre as obras, entre o espectador e as

virtual/digital. obras e o encontro entre espectadores.

Desde o início da pandemia do Covid-19, Acredito muito na ideia de que a dança,

tivemos que reinventar nossos lugares de artistas e assim como a maioria das artes, permeia o lugar do

121
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

acontecimento e do sentimento, da concretude do as crianças experimentam as possibilidades do


ato e do subjetivo do sensível. E de que essa corpo e da câmera, ações que me levaram
dualidade complementar, que só pode acontecer diretamente ao encontro da criança curiosa que fui.
através dos encontros promovidos pela arte, gera Esses encontros conseguiram me teletransportar
partilhas. por diferentes espaço e tempo, mesmo eu estando
Sobre os encontros-partilhas, gostaria de no mesmo lugar e olhando para a mesma tela.
começar falando do encontro desta espectadora A surpresa e descoberta também
que escreve com algumas obras. Nas Trilhas Digitais, permeavam as questões que seriam o ponto em
o espectador era levado a um espaço que acontece, comum em cada trilha. A presença de obras que
assim como em outros festivais, a um lugar de debatiam questões de Interseccionalidade entre
surpresa, de descobrimento. Por mais que a sinopse gênero, raça, classe e etnia foi uma destas
nos dissesse algo, o que se colocava na tela tinha surpresas. Às vezes, estes temas eram abordados
sempre algo de novo e inesperado. Nesse sentido, a de formas tão diferentes que ao invés de criar uma
forma dramatúrgica da obra, a maneira como sua linha sobre eles, criavam uma teia. Vemos, por
narrativa era construída se colocava como exemplo, a articulação de raça, classe e gênero
estratégia fundamental. Em A Mulher de Azul (2020), tanto num videoclipe, Eu Sou (2020), de WD— que faz
dança audiovisual de Luana Echevenguá Arrieche, referência ao universo da cultura pop, como em
Eleonora Campos da Mota Santos & Rosangela Pretxs 3000 (2021), de Augusto Soledade, o qual se
Fachel de Medeiros, vemos a edição entre imagem e articula mais numa perspectiva mais afrofuturista,
palavras como ferramenta fortíssima que nos faz trazendo consequentemente um material mais
“mergulhar” no pensamento da performer. A junção recheado de intervenções digitais.
das palavras narradas com as ações da performer, Toda a experiência com as Trilhas Digitais
associadas a edição da imagem, que algumas vezes para Dança me lembrou a ideia de partilha do
repetia uma mesma cena em velocidade diferente sensível, proposta pelo filósofo francês Jacques
ou de forma realocada na narrativa, me deu a Rancière, que diz que a partilha é comum e exclusiva
sensação de a obra nos contava sobre freneticidade ao mesmo tempo. O que me leva ao segundo
dos pensamentos colocados em cena. Já em Corpo encontro-partilha que ainda gostaria de debater
Criança, Corpo que Dança: a NATUREZA no Brincar aqui, o do espectador com si mesmo após esse
(2021), dança audiovisual de Adriane da Rocha primeiro encontro com a obra. Aos meus olhos é aí
Xavier, vimos o próprio universo infantil e das que se encontra o exclusivo dentro do comum que
vivências da infância construir a cena. Na imagem, Rancière fala. Onde o encanto do encontro torna-se

122
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

de fato partilha. Que segue permeando atos e ainda a necessidade de ampliar meu olhar para as
sentimentos. Que segue se reconfigurando e se possibilidades da dança, seja ela digital ao não. As
descobrindo como se partilhar nessa nova imagens de uma dança que fala do que se sente no
experiência do online. pensamento, do que se vive na sociedade
Para mim, fica muito claro que os contemporânea e das problemáticas que
encontros e as partilhas em suas diversas precisamos gritar para o mundo seguem ecoando.
possibilidades realizados através da arte, seguem Dessa partilha, guardo a imagem das crianças que
acontecendo no formato online. Mesmo estando em dançam curiosas, da moça de azul que pensa e sente
minha sala, assistindo as obras pela tela do meu muito, da resistência de ser quem se é e de um
computador ou do meu celular pude sentir e futuro... analógico, digital, singular na pluralidade, e,
experienciar a delicadeza dessas “teias” que foram acima de tudo em constante movimento.
as trilhas. Me colocava disposta e disponível a esses E agora, aqui, neste texto, que também é
encontros e partilhas, reativando minhas memórias um encontro-partilha, gostaria de trazer uma
e sentimentos vividos nos teatros, ficando em mim provocação/reflexão para as obras que ainda
a esperança do desejo por novas possibilidades de veremos: vamos começar a pensar no que a dança
fazer-ver-pensar arte e do reencontro com a arte e nos partilha?
tudo que ela traz presencialmente. Fica em mim

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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Um convite
Laura Silveira

Experimente parar para ouvir, isso,

pode ser agora mesmo aí onde está.

Pausa no texto.

Respire.

Perceba os sons ao seu redor,

o que você ouve?

Consegue ouvir o silêncio?


Alguns ruídos?
Vozes?

Ouve a minha voz? As vozes da sua cabeça, ou um ronco do seu estômago?

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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Repare. Pelos seus ouvidos você pode escutar o mundo e a si mesmo, simultaneamente. Repare, que até
o que ouve do lado de fora é de alguma maneira algo que tem dentro de você, física e simbolicamente.
O som nos chega a partir da vibração que entra pelos ouvidos, percorre um labirinto líquido e ciliado
produzindo estímulos nervosos que são interpretados pelo cérebro. Somos então atravessados fisicamente por
essas vibrações, e a partir da interpretação desses sons construímos sentidos, memórias, padrões e cenas
imaginárias.
A obra Dança e Imagem Sonora (2021)32 de Thiago de Souza nos faz esse convite, ao nos apresentar
histórias de dança que vão nos embalando e nos levando a um estado parecido com o sonhar. Digo sonhar pois
podemos ali criar mundos, sentir e experimentar coisas que estão distantes da nossa realidade no atual contexto
pandêmico, como caminhar livremente pela cidade encontrando amigos, frequentando bares, teatros, bailes e
vivendo nossas vidas sem o pano de fundo atual de caos, medo e distanciamento a que estamos submetidos há
mais de um ano. É possível então se colocar como as crianças ao ouvir o famoso chamado - Era uma vez - e se
deixar levar pela imaginação.
Num momento em que nunca fomos tão solicitados pela visão e às respostas imediatas exigidas por
aparatos e aplicativos virtuais que nos conectam ao mundo, a experiência de uma tela preta em que ‘nada
acontece’ como no espetáculo Entre ver (2015)33 de Denise Stutz, ou o fechar dos olhos cedendo espaço à
experiência de outras sensorialidades e tempos é realmente um ato de encantamento conduzido por Thiago com
sua voz em Dança e Imagem Sonora (2021). Um mergulho pela intimidade da cidade do Rio de Janeiro é uma
maneira de suspender o céu34 como diria Krenak, onde conseguimos, através da contação de histórias, dançar
juntos e estar juntos mais uma vez, através de nossas memórias coletivas, individuais e de nossos desejos,
adiando sempre o fim e construindo mundos apesar de.

32
Disponível nas plataformas Youtube e Spotify através dos links:<https://open.spotify.com/show/1AsqOvTz7umlXDwU0p1nqm?si=-
3v-i1JGScyklwrgz2U9Pw&utm_source=whatsapp&dl_branch=1> e <https://www.youtube.com/channel/UCu-
v2V0Z2Jxya9pVVCREQxg>. Último acesso em 11 jul. 2021.
33
Nesse espetáculo a matéria principal de construção da cena é a própria imaginação dos espectadores, visto que a artista só aparece
brevemente num momento pontual do espetáculo, na maior parte do tempo o que se vê é o palco vazio. A construção se dá então a
partir da narração dessa dança, articulando memórias e rastros de corpo.
34
“Cantar, dançar e viver a experiência mágica de suspender o céu é comum em muitas tradições. Suspender o céu é ampliar o nosso
horizonte, não o horizonte prospectivo, mas existencial. É enriquecer as nossas subjetividades, que é a matéria que este tempo que nós
vivemos quer consumir. Se existe uma ânsia por consumir a natureza, existe também uma por consumir subjetividades - as nossas
subjetividades. Então vamos vivê-las com a liberdade que fomos capazes de inventar (...) ser capazes de manter nossas subjetividades,
nossas visões e nossas poéticas sobre a existência” (KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras,
2019, p. 15).

125
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Somos então convocados a pensar sobre quais as danças estão porvir 35, e como elas podem gerar esse
deslocamento de hábitos e sentidos, nos provocando a estranhar e recriar a vida e a arte a cada instante. Os seis
episódios de podcast que compõe essa obra realizam isso ao comunicar a dança a partir dos seus elementos não
exatamente visíveis e sim, a partir de suas impressões, como as sensações, a sugestão de palavras, memórias e
até mesmo a consciência de corpo evocada pela oralidade, ativando a escuta dessas danças e a experiência pela
cidade.
No episódio do Beijo, por exemplo, conhecemos a “avó do samba” e os centros do mundo se beijam pela
descrição poética de Thiago sobre a umbigada do Jongo. É nesse mesmo episódio que passeamos também pela
boemia do bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, onde dá pra sentir o calor da rua em suas aglomerações desejantes.
Presenciamos em Nostalgia de pés descalços, um espetáculo de dança sugerido pelas impressões do narrador e
a construção do roteiro é tão precisa que, ao encerrar o episódio, tive a sensação de que acabava de sair do
mesmo teatro em que estavam os personagens. É marcante também, a sensação de passar pela vibrante
passarela ao final do episódio Binha, onde a relação corpo e espaço fica evidente na construção do passinho e do
funk carioca.
Repare. Este texto, assim como a obra de Thiago, são um convite, em última análise, à sensibilidade. Ao
estar no aqui e agora, reparando nas sutilezas e encantamentos que perpassam nossas vidas e cotidianos, um
convite à imaginação, ao corpo e ao dançar da própria vida.
Aqui, o viver, o dançar e o sonhar se confundem, as memórias, as imagens e as sensações estão e são
corpo. E, no atual contexto em que estamos, tendo que lidar de tantas maneiras com a imprevisibilidade da
própria vida e sobre as perspectivas de futuro, nada como ter alguém para nos lembrar, como faz Thiago, que:

“Dançar é como andar de bicicleta, a gente nunca esquece".

Para que não nos esqueçamos jamais do calor dos abraços,


dos sorrisos,
da brisa do vento,
e do prazer de estarmos vivos

35
Questionamento trazido como tema do 6º Congresso Científico Nacional de Pesquisadores em Dança (2021), em sua segunda edição
virtual realizada pela ANDA.

126
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Bora?
Thiago de Souza

É junho de 2021. Faz quinze meses que estou vivendo a/na/em pandemia de Covid-19. As notícias não
são boas… nunca foram. A novidade é que o momento pede distância. Todo o consolo de um abraço apertado, um
chamego, um cafuné, não são possíveis. Há de se guardar distanciamento a fim de parar o vírus insensível. A
maioria não consegue guardar esse distanciamento, porque a atual administração, igualmente insensível, não
cria as condições necessárias. Eu consigo me manter em casa. Por enquanto. A vida corre na velocidade da
timeline vigiada das redes sociais e os encontros só são possíveis através da mediação dos grandes servidores
em videoconferências. Passo meus dias em frente a tela desde março de 2020. Não que não usasse gadgets
antes, mas agora elas são minha única fonte de sustento, de comunicação, de sociabilização.
Sento em frente a tela mais uma vez, só que para assistir dança. Lembro quando ia ao teatro. Acesso o
YouTube no navegador e imediatamente os algoritmos me sugerem tudo aquilo que me faz ficar distraidamente
atento em frente a tela. Lembro a última vez que dancei em cena. No buscador digito o nome do canal onde será
transmitida a programação: Portal ANDA, Trilhas Digitais para Dança. Lembro que posso sair a qualquer momento,
posso dar pause, posso recomeçar. Em tempo começa a transmissão e assisto a todas as danças daquela noite
e a transmissão é encerrada. Ainda fico em frente a tela por mais uma hora lidando com os algoritmos.
Em En la Piel 2.036 (2020), Odacy Oliveira dança e opera sua câmera. Flerta com ela. Talvez esteja
dialogando com o efeito de espelhamento contido na obra. Parece estar se divertindo criando formas impossíveis
com seu outro eu, seu duplo. A edição de Maronilson Jr nos apresenta um ambiente onírico, vermelho e aliado com
o efeito de transparência, a dança duplicada de Odacy se transforma em uma prancha de Rorschach num deserto
marciano. A paisagem sonora conduzida por Moncho Bunge conversa com o ambiente alienígena proposto pela
edição. A encenação criada pela edição, enquadramento e paisagem sonora compõem a dança cheia de
curiosidade encarnada por Odacy e é essa dança, que conduz e convida minha atenção a ser atenta. A presença
inquieta e comprometida de Odacy atravessa a moldura da tela e sorri pra mim.
Olho ao meu redor num olhar que toca as superfícies da sala. Faço delas pele. Me levanto e decido rever
a peça, mas antes preparo minha atenção como um astronauta que se prepara para ir ao espaço: Vou ao banheiro,

36
En la piel 2.0 (2020) é uma dança em vídeo de Odacy Oliveira e Valdemir Oliveira, editado por Maronilson Jr em uma paisagem sonora
de Moncho Bunge. Assisti essa dança no contexto do 6º Congresso ANDA—2ª edição virtual na programação de pesquisas e experimentos
artísticos de dança em mídias digitais Trilhas Digitais para Dança em Junho de 2021.

127
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

tomo um banho, troco de roupa como se estivesse saindo de casa para assistir uma dança em busca de
sensibilidades. Sento novamente em frente a tela e… play. O deserto vermelho está lá mais uma vez, a paisagem
sonora alienígena também, mas a dança encarnada por Odacy ganha outras cores, cheiros e sabores como se
não tivesse sido a mesma dança que assisti momentos antes. A maneira pelo qual o gesto dançado surge já não
parece um flerte com a câmera, mas uma busca num espelho. O vermelho na pele se funde com o da paisagem
tal qual Odacy e seu duplo numa tentativa de amálgama. Ao final, Odacy mais uma vez atravessa a moldura e
sorri pra mim, mas desta vez como quem diz: viu!? Me vejo refletido na tela e flerto durante breves segundos
com meu duplo.
A dança digital da pandemia me exige um engajamento diferente do feed. Não é uma questão de like.
Talvez seja uma questão de presença, tal qual na dança de En la piel 2.0. Talvez um convite para aguçar a
sensibilidade e partilhar este sensível. Lembra quando era possível estar junto? Dançar junto presencialmente?
Bora experimentar com a sensibilidade à revelia do vírus e do desgoverno? Te convido.

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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Sobre as pessoas
autoras, artistas e
realizadoras

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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Adriane da Rocha Xavier (Drica Rocha) é


dançarina, fisioterapeuta e preparadora corporal. Estuda
licenciatura em Dança pela Universidade Federal da Bahia
(2018). Integrou como bailarina a Oficina Cultural
Contemporânea de Barueri (2006-2017). Na Secretaria de
Cultura de Barueri/SP atuou como professora, ministrando
aulas de ballet lúdico infantil e dança contemporânea para
adolescentes e adultos nos equipamentos públicos (2013-
2017) Premiada pelo edital Arte como Respiro do Itaú
Cultural (2020). Foi premiada pelo edital Dança para
Infância da Fundação Cultural do Estado da Bahia com o
projeto Corpo criança, corpo que dança: a NATUREZA no
brincar.

Anderson do Carmo é artista e pesquisador das artes.


Transita entre as linguagens da dança e do teatro nas
funções de dançarino, ator, diretor, coreógrafo e
dramaturgista. Passa pelos elencos do Grupo Cena 11 Cia
de Dança e da La Vaca Productora de Arte e estabelece
parcerias com Arthur Gomes, Jussara Belchior e Letícia de
Souza. É doutorando no PPGT-CEART e tem produção
intelectual publicada em jornais, livros, sites e
documentários.

Andréia Oliveira, soteropolitana, do Kilombo Urbano


Cabula, é intelectual Preta Baixa Renda, Dançarina,
Educadora, Performer, Produtora Cultural e Aprendiz de
Capoeira. Doutoranda e Mestra em Dança pelo (PPGDANÇA/
UFBA 2018).

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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Augusto Soledade, Guggenheim Fellow (2008), é o


diretor artístico fundador e coreógrafo da Augusto
Soledade Brazzdance, companhia de dança em Miami, FL,
e é professor associado de dança na Universidade da
Flórida. Soledade foi nomeado para o USArtist Fellowship
em 2018 e foi selecionado para o Programa de Residência
Internacional Vila Sul, no Instituto Goethe, na Bahia, Brasil.
Em 2016, Soledade foi premiado pela sétima vez com a
Miami Dade Choreographer’s Fellowship, do Miami Dade
Cultural Affairs. Em 2012, ele foi premiado com o Knight
Arts Challenge Grant. Também em 2012, foi premiado pela
segunda vez consecutiva com o Individual Artist
Fellowship da Secretaria de Cultura do Estado da Flórida.
Augusto Soledade é Mestre em Dança pela SUNY
Brockport, Baiano e radicado nos EUA; iniciou seu
treinamento de dança na UFBA, e treinou com Garth Fagan
e Clyde Morgan. Formado em jornalismo pela Universidade
Federal da Bahia.

Beatriz Guedes Veneu (Bia Veneu) é designer e


artista pesquisadora em dança, com interesse na
construção de pensamentos decolonias e
dasacomodados. Acredita na liberdade dos ventos
transformadores e outras possibilidades de
interpretações de mundo. Graduanda em Teoria da Dança
no Departamento de Artes Corporais da UFRJ, faz parte do
Grupo LINHA: Derivas, Dança e Pensamento (DAC/UFRJ),
que vem se debruçando em torno das discussões em
torno da prática de Fernand Deligny, assim como
exercícios de experimentações artísticas atravessados
por seu pensamento. Produz pensamento crítico e

131
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

criações em dança através de mais 2 projetos de


Extensão, dos quais faz parte: a Revista Espaço onde o
trabalho intelectual é performado por todo o corpo; e do
grupo onucleo — Núcleo de Pesquisa, Estudos e Encontros
em Dança, onde o conhecimento é também a imaginação
de porvir, da possibilidade de encontros que transformam.
Integra o coletivo de Arte Experimental LaKERMESSE, com
trabalhos em instalação e corpo.

Berg Kardy, soteropolitano, performer, mediador


cultural, facilitador educacional, artivista... Mestrando e
Estudante do Curso de Especialização em Dança do
PPGDANÇA/UFBA 2019).

Branca Peixoto é formada em Dança pelo CEFAR e em


Arquitetura e Urbanismo pela UFMG. Hoje cursa o Master
de Design do Entretenimento no IED Rio, coordena o Núcleo
de Pesquisa em Cenografia do Galpão Cine Horto,
integra o elenco do musical Because e dá aulas de ballet
no Colégio Loyola. Além de artista da dança independente,
hoje atua na “criação de espaços
sensíveis”, por meio da PAR Cenografia e Arquitetura com
Bruna Cosfer.

Carmem Arce é professora do Curso de Dança da


Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Doutoranda
em Dança pelo PPGDança/UFBA, Mestre em Letras e Artes
pelo PPGLA/UEA, arte-educadora pelo SEMED/AM. Foi
diretora da Escola Superior de Artes e Turismo da UEA e
atualmente é Coordenadora da Licenciatura em Dança da
UEA. Na mesma instituição, coordena o Projeto LABOCORPO

132
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Residência Coreográfica e a Residência Pedagógica-


Dança. Foi bailarina, coreógrafa, diretora artística da Cia
de Dança Gitanos del Fuego.

Cia Pé na Tábua. Idealizada por Renata Defina, após


regressar de uma temporada como sapateadora da “BAM
Ensemble”, de Chicago, tendo como objetivo unir
sapateadores atuantes de modo colaborativo em
processos criativos e na produção cultural. A Cia atua em
Ribeirão Preto, SP, há mais de uma década e uma de suas
maiores motivações é a difusão do sapateado feito no
Brasil. Para tanto, há uma preocupação constante com a
formação de público e acessibilidade. Em 2020, a Cia
recebeu Prêmio por Histórico de Realização em Dança pela
Secretaria da Cultura e Economia Criativa do Governo do
estado de São Paulo (Lei Aldir Blanc). Atualmente, está em
fase de criação dos espetáculos: Atalhos, aprovado no
PROAC — Edital de Espetáculo Inédito e Temporada de
Dança e Eu não dançarei sem você, pesquisando possíveis
caminhos de comunicação entre o sapateado, o público e
língua brasileira de sinais — LIBRAS.

Claudia Auharek é artista da dança, graduada em


fisioterapia e em ciências sociais. Seus trabalhos
artísticos autorais articulam performance, intervenção
urbana e videoarte. É educadora do movimento somático
pelo Body-Mind Centering® e atualmente oferece cursos
sobre anatomia e cinesiologia em diálogo com o campo da
dança e da educação somática relacionados à anatomia
corporalizada e processos de embodiment.

133
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Claudia Natalia Giraldo González é formada em


Licenciatura em Artes Visuais pela Universidad del Valle,
em Cali – Colômbia. Dançarina e professora, interessada
na crítica de dança dentro dos ritmos populares e das
danças de salão. Membro de coletivos que articulam a arte
com a migração, as questões socioambientais e o
feminismo.

Cláudia Millás é doutora em Artes Cênicas pela


Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO),
mestra em Artes da Cena pela Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP) e graduada em Dança (bacharel e
licenciada) pela mesma Universidade. Atua como docente
no Departamento de Arte Corporal da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e artista independente.
Participou de mais de 15 projetos de criação e circulação
de espetáculos de companhias de dança, trupes de circo
e grupos de teatro, contemplados por leis de fomento
cultural municipais, estaduais e federais, além de SESCs e
SESIs.

Claudinei Sevegnani é artista, professor e


pesquisador. Doutor em Artes Cênicas, Mestre em Dança e
Especialista em Estudos Contemporâneos em Dança pela
UFBA, Bacharel em Artes Cênicas pela UFSC. Atua nos
seguintes temas: pesquisa e criação em arte
contemporânea, estudos do corpo, improvisação em
dança, performance e artes do vídeo.

Coletivo de Dança/Educação da UFRJ. Formado por:


Mabel Botelli, professora do Departamento de Arte

134
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Corporal da UFRJ; Arielle Santos, graduanda de


Licenciatura em Dança UFRJ, Designer (PUC-RIO); Caroline
Faria, graduanda de Licenciatura em Dança UFRJ e
graduada em Bacharelado de Artes Visuais UERJ; Isaac
Vale, graduando de Licenciatura em Dança UFRJ,
Cenógrafo e Figurinista pela SP Escola de Teatro; Luana
Bernardino, graduanda em Licenciatura em Dança UFRJ;
Marcos Henrique Souza, graduando de Bacharelado em
Dança UFRJ e designer Gráfico SENAC-RJ; Samara Vicença,
graduanda de Licenciatura em Dança UFRJ e
intérprete/criadora em KVS Cia de Danças.

Dandara Ferreira é estudante do Programa de Pós


Graduação em Dança (PPGDan – Mestrado) da UFRJ;
Graduada em Licenciatura em Dança (UFRJ); Intérprete
criadora do Projeto de Pesquisa e Extensão Arriscado —
Um Diálogo entre Dança e Acrobacia (DAC/UFRJ);
Integrante do Projeto de Pesquisa Preparação Corporal
para Atores (DAC/UFRJ); Integrante do Grupo de Pesquisa
Investigações Sobre o Corpo Cênico (PPGDan/UFRJ).

Danilo Lima é ator e especialista em estudos


contemporâneos em dança (UFBA). Na especialização,
desenvolveu pesquisa analítica sobre duas concepções
cênicas contemporâneas no uso do circuito de câmera
fechado. Atua como curador independente e mediador
cultural em artes cênicas. Formado em Mediação Cultural
Contemporânea e de Jornalismo Cultural e de Crítica de
Artes no Brasil. Integra o Grupo de Pesquisa Poéticas
Tecnológicas: corpoaudiovisual.

135
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Dominique Rivoal é artista visual e filmaker. Tem


formação em Dança e Artes Visuais, Mestrado em Arte
digital e em Coreografia. Seus filmes são frequentemente
criados em colaboração com artistas de dança, usando o
corpo como ponto de partida para contar histórias e exibir
efeitos visuais interessantes. Atua como professora e na
equipe de documentação do Departamento de Arte e
design da Middlesex University, em Londres.

Elke Siedler é artista da dança, curadora das Trilha


Digitais para Dança 2021. Doutora em Comunicação e
Semiótica (PUC/SP); Mestre em Dança e Especialista em
Estudos Contemporâneos em Dança (UFBA); Licenciada e
Bacharela em História (UFSC), Licenciada em Artes Visuais
(CLARETIANO) e Teatro (UNÍTALO). Professora Substituta da
Licenciatura e Bacharelado em Dança (UNESPAR/FAP),
desde 2017, onde coordena o projeto de extensão Dança:
Cuidado de Si. Performer e co-fundadora do coletivo
artístico Insólita Assemble e co-diretora do Espaço de
Criação Composteira (espaço de pesquisa). Foi bailarina do
Grupo Cena 11 Cia. de Dança.

Fernanda Nicolini é Mestra em Dança pelo


PPGDan/UFRJ. Bailarina, performer e pesquisadora.
Investiga danças entre corpos humanos e não humanos
incluindo o campo digital e desenvolve a metodologia
OBJETOSUJEITOBJETO (OSO). É integrante do
GPICC/CNPq/UFRJ e criadora e mediadora dos Grupos de
Estudos sobre Processos de Criação em Dança e Processos
Criativos em Artes. ferdinicolini@gmail.com

136
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Grupo de Estudos Corpo e Ambiente (GECA). O


grupo surgiu em 2017 com intuito de investigar
academicamente e artisticamente a relação
corpoambiente na Dança. Nascido no Curso de
Licenciatura em Dança da Universidade Federal de Sergipe
nossos integrantes são professores, graduados ou
graduandos do curso. O Grupo participou de eventos como
ANDA edições 2019 e 2020; ABRACE em 2019; Seminário de
Pesquisa em Dança de Joinville no ano de 2018 e EDUCON
em 2017. Atualmente o GECA conta com 10 integrantes em
cidades e estados diferentes e vêm mudando seu formato
de trabalho, tanto para abarcar novas proposições,
pesquisas e desdobramentos, quanto pela pandemia que
nos vem propondo adaptabilidade constante em nosso
fazer.

Henrique Cesar Hokamura Silva é mestrando em


artes da cena na UNICAMP (2020), possui bacharelado em
dança pela mesma instituição. Sua área de concentração
de investigação na linguagem da dança é Poéticas e
Linguagens da Cena. Foi contemplado com o importante
edital estadual PROAC primeiras obras de criação de
espetáculo de dança - espetáculo CORPOS AUSENTES
(2017); PROAC registro e licenciamento de espetáculos
inéditos de dança para difusão online — espetáculo
CORPOS AUSENTES (2021); o edital Aluno Artista fomentado
pela UNICAMP — projeto Revitalizar, projeto
Extravagancias e Sutilezas, projeto corpo quase casa
(2017, 2019, 2020). Realizou duas iniciações cientificas em
que foi investigado a prática criativa e composicional em
dança a partir de imagens — projeto CORPO-IMAGEM?

137
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

CORPO-IMAGEM!: uma investigação coreográfica e o


projeto CORPO-LEVANTE: um estudo de composição entre
corpo e imagem (2018 e 2019). Participou como intérprete-
criador no espetáculo DRAGA da EXQUISITA cia (2019-2020).

Iara Cerqueira Linhares de Albuquerque é artista


e pesquisadora de dança, professora adjunta do
Departamento de Ciências Humanas e Letras no curso de
Licenciatura em Dança da Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia – UESB e colaboradora no PPGCEL- UESB.
Doutorado em Comunicação e Semiótica PUC – SP (2016).
Coordenadora do Grupo de Pesquisa NEC - CNPQ/UESB.
Área de interesse: processos de criação, panoptismo,
discurso, biopolítica e preparação corporal para artistas
da cena. Orcid: 0000-0003-1540-0405

Iara Sales (PE) é mãe, artista e pesquisadora de dança


e performance, produtora cultural e designer gráfico.
Graduada em Licenciatura em Dança pela UFBA (2008), em
Design Gráfico pelo IFPE (2018), especialista em Estudos
Contemporâneos em Dança pela UFBA (2019) e faz parte do
Grupo de Pesquisa do LabCrítica (UFRJ/CNPq). E-mail:
isalesagra@gmail.com
Instagram: @iarasalesagra

Isabella Serricella foi aluna no teatro O Tablado de


2010 a 2018. Licenciada em dança pela Faculdade Angel
Vianna, atriz pelo Sindicato dos artistas do RJ. Estudante
de Graduação em Pedagogia pela Universidade Estácio de
Sá. Atriz nas peças “O Patinho Feio”, direção de Bernardo
Jablonski e “O Despertar da Primavera”, direção de Ricardo

138
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Kosovski, entre outras. Bailarina nos trabalhos “Inato” e


“Catarse”, da Cia Motiro; prêmio de 2º melhor espetáculo
com “Catarse”, no Festival Set, em Portugal. Em 2020, se
apresentou online com o espetáculo “24 lugares”, direção
de Flávia Tápias. Em 2021 estreou a obra inédita da
Companhia Motiro, “Imo”. Foi contemplada pelo projeto
DMV, de Daniela Alves, para a realização de um novo vídeo-
dança em solo.

Jacicleide da Silva é artista docente, graduanda em


Licenciatura em Dança pela Universidade Federal de
Pernambuco-UFPE. Nascida e criada na zona norte do
recife e inserida na cultura popular desde os quatro anos
de idade no Maracatu de baque virado Nação Gato Preto.
Atualmente media aulas de dança em projetos, mulher
negra periférica que luta para que o ensino da dança afro-
brasileira esteja presente no currículo da educação
formal.

Jessica Lima, e também Ibis, é artista, professora e


pesquisadora. Mestranda do PPGDAN UFRJ, especialista em
didática/IFRN e graduada em Dança (bacharelado e
licenciatura), atua como professora da EJA na FIOCRUZ-RJ.
Em Dança, tem como base as manifestações populares
brasileiras, entre ritos, performances, cantos, rezas,
trabalhos e ruas, as corporalidades brincantes compõem
o seu fazer de vida artístico docente.

Jussara Belchior é bailarina gorda. Em seu trabalho


solo Peso Bruto (2017) investiga sobre os tabus e
preconceitos sobre as gordas. Doutoranda pelo PPGT —

139
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

UDESC com a pesquisa Investigações pesadas — Bolsista


CAPES. Pesquisadora da dança, diretora, assistente de
direção, interlocutora e crítica em parceria com outras
artistas. Integrou o elenco do Grupo Cena 11 Cia de Dança
entre 2007 e início de 2018. Interessa-se poéticas e
políticas de movimento e posicionamento através da
dança.

Lara Rodrigues Machado é professora-doutora da


UFSB, orientadora do processo criativo e pesquisa de
ESTELLA. Autora da proposta metodológica O Jogo da
construção Poética, proposição que guiou a construção do
solo de dança.

Laura Silveira é artista da dança e pesquisa a


correlação entre corpo, cidade e performatividade como
fruto de sua formação em Arquitetura e Urbanismo (UFF),
e Dança Contemporânea (Escola e Faculdade Angel
Vianna). Realizou pesquisa acadêmica sobre o tema
“Coreografias Urbanas na criação de espaços comuns e
imaginário coletivo” pela FAPERJ e atualmente tem se
dedicado a estudos na área de cinema, desenvolvendo
videodanças.

Liane Gesteira é artista integrante do Coletivo Lugar


Comum, pesquisadora do Acervo RecorDança e
doutoranda em Dança pela UFBA. Desenvolve pesquisas
artísticas no campo da improvisação, composição e
performance. Em 2016 e 2017 desenvolveu uma pesquisa
no Acervo chamada A improvisação do movimento como
caminho para construção cênica. Em 2017 e 2019

140
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

participou como colaboradora da pesquisa Improvisar-se


Dançando: compartilhando modos de ser na dança,
realizada pelo E aí? Coletivo Artístico (PE). Em 2017,
ministrou a oficina Improvisação e Dramaturgia na Dança
e como residente no Festival Temporal, em Fortaleza (CE).
Foi coordenadora das quatro edições do Contato Coletivo
– Encontro de Contato Improvisação de PE. Atuou como
dançarina-criadora nas videodanças Maxixe (2010), Bokeh
(2010) e Dança Aí!(2011) e Rebu (2012), produzidas pela Cia
Etc; na videodança Pequena Criatura 4, produzida pelo
Margaridas Dança (BSB); e na videodança Nada Falta
(2019).

Lígia Tourinho é Professora Associada do


Departamento de Arte Corporal da UFRJ, atuando nos
cursos de graduação e pós-graduação em dança.
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Dança
— PPGDan/UFRJ (2019-2021). É artista do movimento e
pesquisadora das Artes da Cena. É doutora em Artes pela
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), mestre em
Artes, bacharel em Artes Cênicas pela mesma instituição
e Especialista em Laban/Bartenieff pela Faculdade Angel
Vianna (FAV).

Luana Echevenguá Arrieche começou a estudar


sobre videodança em 2012 em paralelo a sua formação em
Licenciatura em Dança (UFPel). Em 2015 concluiu sua
monografia, na qual investigou como estava inserido o
tema videodança nas Graduações de Dança Licenciatura
no Rio Grande do Sul. Em 2018, ingressou no Mestrado em
Artes Visuais pesquisando processo de criação em

141
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

videodança, na linha de pesquisa Processo de Criação e


Poéticas do Cotidiano, na Universidade Federal de Pelotas,
pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais
(PPGAVI/UFPel). Em 2020, participou como organizadora do
I FIVRS — I Festival Internacional de videodança do Rio
Grande do Sul. Defendeu sua dissertação em dezembro de
2020, no mesmo período em que foi contemplada pelo
edital de formação e fomento cultural pela Lei Aldir Blanc
(nível municipal) para ministrar um minicurso sobre
videodança.

Luciane Coccaro é Professora Adjunta dos Cursos de


Graduação em Dança do Departamento de Arte Corporal
da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Doutora
em Ciências Humanas/Sociologia pelo Programa de Pós-
Graduação em Sociologia e Antropologia do IFCS/UFRJ.
Mestre em Antropologia Social (PPGAS/IFCH/UFRGS).
Coordenadora do Projeto de Pesquisa em Metodologia:
Dança, etnografias, autoetnografias e outras narrativas
(DAC/EEFD/UFRJ) Bailarina e atriz. Prêmio Açorianos de
Melhor Bailarina (2000/POA) e Prêmio Volkswagen na
montagem da Cantora Careca (2003/SP).

Luzia Amelia Marques é bailarina, performer,


coreógrafa, ativista e arte-educadora. Doutoranda em
Dança pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Seus trabalhos artísticos mais recentes são: Batalha da
Morte (2020), Oxum do Norte (2020) — solo de dança
contemporânea, Liberdade (2019) — curta documentário
de dança; Banho de Sangue (2018, 2019, 2020) —
performance; e Esboço Brazil (2016).

142
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Mabel Botelli é artista/educadora, coreógrafa,


psicomotricista. Professora Associada I, DAC–EEFD–UFRJ.
Doutora em Psicossociologia, IP, UFRJ. Conselheira do
Instituto Tear, Pontão de Cultura, RJ. Foi Coordenadora da
Licenciatura em Dança, UFRJ (2013/2017). Foi professora da
Escola Angel Vianna (1988-2008). Foi diretora artística da
Cia Cirandeira, última obra: Marias Brasilianas a arte do fio.
Atual representante do RJ na Federação de
Arte/Educadores do Brasil-FAEB.

Maria Inês Galvão é Professora Associada do


Departamento de Arte Corporal/UFRJ, atuando nos cursos
de graduação e pós-graduação em dança. Vice-
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Dança
— PPGDan/UFRJ (2019-2021). Possui doutorado em Artes
Cênicas pela Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro (2010), mestrado em Ciências da Arte pela
Universidade Federal Fluminense (UFF, 2002). Líder do
Grupo de Pesquisa Investigações sobre o Corpo Cênico
(GPICC).

Marissel Marques possui especialização em Estudos


Contemporâneos no âmbito da Pós-graduação do Centro
de Estudo Interdisciplinar do Século XX (CEIS20), do
Instituto de Investigação Interdisciplinar da Universidade
de Coimbra, onde atualmente é Doutoranda. É mestra pela
Pós-graduação em Ensino, História e Filosofia das Ciências
e Matemática da Universidade Federal do ABC, Santo
André, Brasil, e licenciada em Dança pela Universidade

143
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Estadual de Campinas, Campinas, Brasil.


marissel.marques@gmail.com

Nara Dourado explora o corpo-memória a partir de


múltiplas linguagens que perpassam a dança,
performatividades e artes visuais. Graduada em Artes
Plásticas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e pós-
graduada em Arteterapia pelo Instituto Junguiano da
Bahia (IJBA), estudou, através de intercâmbio, na
Université Lille III, em Lille, França, a fim de ir a fundo
nessas memórias. Desde então, pesquisa artes orientais
como meio de acesso ao corpo, só que por outro viés de
estudo.

Renata Riss é estudante do último ano de graduação em


dança na UNESPAR II — Faculdade de Artes do Paraná.
Professora de danças urbanas em academias de danças
desde 2016. Professora de dança e educadora social para
crianças e adolescentes no Centro Social Marello entre
2017 e 2018. Dançarina da Cia Pyramid, grupo de
competição de danças urbanas, entre 2015 e 2018.
Dançarina do Epifania Dance Project entre 2016 e 2017.
Criadora e coreógrafa do grupo de dança Delirium em 2019
e início de 2020.

Samara Melo é jornalista, mestranda em jornalismo na


UFPB, onde desenvolve a pesquisa A dança que as move:
livro reportagem perfil sobre artistas da dança paraibana.
É também graduanda na licenciatura em dança na UFPB.
Tem interesse sobre as seguintes temáticas: história da
dança, estudos de recepção, dança e gênero, videodança,

144
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

jornalismo literário, perfis e biografias, narrativas de vida


e processos criativos.

Samuel Leandro de Almeida é artista-pesquisador


da dança com ênfase em processos criativos com novas
tecnologias. Técnico em Informática para Internet pelo
IFRN (2012-2015); Licenciado em Dança pela UFRN (2016-
2019); Mestrando em Artes Cênicas no Programa de Pós-
Graduação em Artes Cênicas da UFOP (2020) com a
pesquisa em desenvolvimento investigando a
intermidialidade entre o corpo e o vídeo na videodança
com financiamento da PROPP/UFOP.

Sérgio Pereira Andrade (Sérgio Andrade) é artista,


professor e pesquisador de dança, performance e
filosofia. Curador das Trilhas Digitais para Dança 2021. É
Professor do Departamento de Arte Corporal da UFRJ,
lecionando nos Programas de Graduação e Pós-Graduação
em Dança da instituição. Coordena o Laboratório de Crítica
(LabCrítica), projeto de pesquisa e extensão onde
desenvolve várias atividades colaborativas de pesquisa-
criação, formação, publicação, curadoria e intercâmbio
em dança e performance. Doutor e Mestre em Filosofia
pela PUC-Rio, Mestre em Artes Cênicas e Licenciado em
Dança pela UFBA. Entre 2020-2021, realizou pesquisa de
Pós-Doutorado na Universidade de Nova York (NYU).
www.labcritica.com.br | sergio.andrade@eefd.ufrj.br

Silvia Chalub é mestranda em Dança pelo PPGDan/UFRJ.


Graduada em Comunicação Visual com pós-graduação
latu senso em Comunicação e Imagem, na PUC-Rio. Entre

145
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

1998 e 2013, coordenou a editora Saber Viver


Comunicação, especializada em publicações na área da
saúde. Em 2012, iniciou sua pesquisa no campo das artes
do corpo, dança e performance. Desde 2013, integra o
Laboratório de Crítica do Departamento de Arte Corporal
da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(LabCrítica/UFRJ), onde, atualmente, trabalha em
iniciativas de editoração e publicação.

Tainá Barreto é artista-pesquisadora graduada em


Dança (UNICAMP) e Mestre em Arte (UNB). Docente do
curso de Licenciatura em Dança do Instituto Federal de
Goiás IFG. Desenvolve pesquisas sobre danças tradicionais
em interface com a produção contemporânea de dança.
Orienta processos criativos, é coordenadora do grupo de
pesquisa sobre Flymoon e movimento instável do IFG.
Tatiana Devos Gentile é artista visual. Formada em dança
pela Faculdade Angel Vianna (RJ), cursou cinema na Paris
VIII (França). Desde 2009 realiza a intervenção Mire veja:
você dança pra mim?, em que convida pessoas pra
dançarem e exibe os filmes em um lambe-lambe. Foi
contemplada pelo Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna
(2018), realizou diversos videodanças, entre eles
meet.com (2020) em parceria com Tainá Barreto, FF>>
(Rumos Itaú Cultural 2006/2007) e Hedonês (2016). Atua na
curadoria de mostras de cinema. Dirigiu e produziu o curta
Meu avô, o fagote (2011).

Tatiana Damasceno. Mulher preta. Artista, docente e


pesquisadora nos Cursos de Dança (Licenciatura,
Bacharelado e Teoria) e do Curso de Pós-Graduação em

146
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Dança da Escola de Educação Física e Desportos da


Universidade Federal do Rio de Janeiro. Coordenadora do
Núcleo de Pesquisa em Dança e Cultura Afro-
Brasileira/NUDAFRO. Integrante do Grupo de Pesquisa
Ancestralidades em Rede. tatidamaria@gmail.com

Tiago Amate é artista multimídia com dedicação a


investigações e experimentos transdisciplinares no
trânsito de linguagens, entre dança, performance e
imagens em movimento. Mestre pelo Programa de Pós-
graduação em Dança da Universidade Federal da Bahia
(UFBA), onde desenvolveu pesquisa acerca das relações
entre videodança e a condição digital das
audiovisualidades contemporâneas. O trabalho se
debruça em iniciativas de artistas, na relação dança-
cinema, que se utilizam do ciberespaço da web para
tensionar a experiência de corpos dançantes com câmera,
constituindo trânsitos híbridos entre linguagens. Há sete
anos investiga a relação corpo-câmera no projeto de
videodança Aloka das Américas.

Thiago de Souza é graduando em Teoria da Dança pela


UFRJ. Atua desde 2005 em colaboração com artistas e
companhias de dança como intérprete, criador e
cinematógrafo.

Valéria Vicente é doutora e mestre em Artes Cênicas


pela UFBA, professora do Departamento de Artes Cênicas
da UFB. Investiga os processos de negociação cultural
através do corpo e inviste no corpo pessoal como caminho
para a decolonização do pensamento. Na prática de dança

147
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

se especializou sobre o frevo e improvisação, realizando


os trabalhos: Chega! (2021), COvid-a (2020), Ebulição
(2018), Re/in-Flexão (2017), Re-flexão (2016), Frevo de Casa
(2014), Fervo (2006) e Pequena Subversão, criação para o
programa Rumos Dança, Itaú Cultural (2007).

Vanessa Macedo é artista, pesquisadora e professora.


Doutora em artes cênicas pela Escola de Comunicações e
Artes (ECA-USP), pós-doutoranda nessa mesma
instituição, integrante do Grupo de Pesquisa LADCOR –
Laboratório de Dramaturgias do Corpo, mestre em artes
pela UNICAMP e bacharel em Direito pela UFRN. Fundou a
Cia Fragmento de Dança/SP no ano de 2002, na qual é
diretora e coreógrafa residente. Produziu 19 trabalhos
artísticos com os quais foi contemplada por diversos
editais e prêmios de incentivo à dança, apresentando-se
em várias cidades do Brasil e em festivas nacionais e
internacionais. Em 2019, foi professora visitante na
graduação em dança da UNICAMP e, em 2020, professora
convidada da Pós-graduação da ECA-USP. Atualmente, é
uma das coordenadoras artístico pedagógica do Centro de
Referência da Dança SP. Integra, desde o seu início em
2012, o Movimento a Dança se Move.

Victor Isidro estuda Dança na Universidade Estadual de


Campinas (Unicamp), integra o Coletivo Atravessadas, é
pesquisadore, iluminadore e produtore cultural. Fez parte
da criação, produção e execução dos projetos
"Resistências" (2018) e "Extravagâncias e Sutilezas" (2019),
ambos contemplados pelo edital Programa Aluno — Artista
SAE Unicamp. Concebeu a iluminação, produziu e foi

148
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

criadore-intérprete dos espetáculos DRAGA, com


orientação da Profª Ana Terra (2019), Desvu (2018) com
orientação da Profª Patrícia Noronha e Resistências (2018-
2019). Desenvolve o projeto de iniciação científica Corpo,
movimento e visualidade: um processo híbrido de criação
em dança contemporânea (2020-2021), com orientação da
Profª Juliana Moraes e contemplado com a bolsa
PIBIC/CNPq. Participa do Programa de Apoio Didático com
a orientação da Profª Juliana Moraes e já foi orientade em
processos criativos por Silvia Geraldi e Patrícia Noronha.
Também participa como intérprete-criadore no projeto
MONTAGEM, premiado pelo Proac Expresso LAB 37/2020 do
estado de São Paulo.

Weslley da Silva Rodrigues é professor, Mestrando


em Educação da UFPI, artista da dança, servidor da
Prefeitura Municipal de Teresina, lotado na Secretaria
Municipal de Educação SEMEC atuo como docente nas
áreas de Educação Física, Dança e Teatro. Professor do
Instituto de Formação Superior Piauiense IFASPI no curso
de graduação em Educação Física e no Instituto Superior
de Educação São Judas Tadeu nos cursos de graduação em
Pedagogia e Pós-graduação. Docente na Associação de
Pais e Amigos dos Excepcionais APAE de Piripiri. Membro
do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação e Educação
Física Escolar (GEPEEFE/UFPI/CNPq).

Yasmin Rodrigues Moreira é estudante do


Bacharelado em Dança na UFRJ. Intérprete da Cia Inove
Dance de, desde de 2018, é bolsista de Iniciação Artística e
Cultural no Laboratório de Imagem e Criação em Dança da

149
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

UFRJ, atuando como intérprete-criadora e pesquisadora


em dança na Companhia de Dança Contemporânea da
UFRJ. Coordenadora e Coreógrafa do Projeto Social Manoel
e Tereza. Coautora do livro Dança e Natureza: Um Ensaio
sobre o Corpo Ambiental em Helenita Sá Earp, lançado em
2019. É também modelo fotográfica.

150
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Índice remissivo

A Mulher de Azul Cia Pé na Tábua, 42, 43, 120, 133


Dança audiovisual de Luana Echevenguá Clara de Clara, 16, 65
Arrieche, Eleonora Campos da Motta Santos Clara Passaro, 40, 41, 84, 120
& Rosângela Fachel de Medeiros, 49, 122 Claudia Auharek, 39, 84, 120, 133
Adriane da Rocha Xavier Cláudia Millás, 76, 77, 134
Drica Rocha, 55, 122, 130 Claudia Natalia Giraldo González, 97, 134
Amanda de Souza, 71 Claudinei Sevegnani, 80, 134
Amor Mundi Corpo Criança, Corpo que Dança
Documentário da Cia Fragmento de Dança, 32, 33, 118, 119 Dança audiovisual de Adriane da Rocha Xavier, 55, 122
Ana Célia de Sá Earp, 75 Cresce
Ana Luíza Reis, 61 Dança audiovisual de Claudinei Sevegnani, 80
Anderson do Carmo, 62, 63, 130 Cristine Olofsson, 61
André Meyer, 74, 75 Cross-coisas, 14, 15
Andréia Oliveira, 69, 107, 130 Cyber Bo Waack
Ao Passo que o Tempo Passa Dança audiovisual de Renata Riss, 27, 96, 111, 112
Dança audiovisual de Isabella Serricella, 72, 73, 113, 114, 115, D = m/V
116, 117 Dança audiovisual de Samuel Leandro, 51, 52, 111, 112
Arielle Santos, 54, 135 Daiana Carvalho, 61
Aterra Dança audiovisual, 14, 24, 26, 27, 28, 29, 34, 36, 38, 40, 42,
Dança audiovisual de Thábata Liparotti et al, 78 47, 49, 51, 53, 55, 66, 70, 72, 74, 76, 78, 80, 119, 120
Átopos Dança de Agoras
Dança audiovisual de Tiago Amate, 24, 25, 95, 96 Documentário de Liana Gesteira, 45, 46
Augusto Soledade, 26, 96, 111, 122, 131 Dança e Imagem Sonora
Beatriz Veneu, 35, 114, 115, 116, 117, 119 Dança em plataforma digital de Thiago de Souza, 16, 58, 59,
Berg Kardy, 69, 107, 132 111, 125
Branca Peixoto, 38, 39, 84, 120, 132 Dança em plataforma digital, 58, 60, 62
Carmem Arce, 118, 132 Dançando o Invisível das Cidades
Caroline Faria, 54, 135 Dança audiovisual de Nara Dourado & Clara Passaro, 40,
Casulo 84, 86
Dança audiovisual de Claudia Auharek & Branca Peixoto, Dandara Ferreira, 90, 135
38, 39, 84, 120 Danilo Lima, 110, 135
Cecília Carvalho, 61 Documentário, 14, 22, 32, 45, 68, 118
Cia Fragmento de Dança, 33, 118 Dominique Rivoal, 29, 30, 96, 136

151
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

Drica Ayub, 61 Liberdade


Drica Rocha, 56, 130 Documentário da Cia. Luzia Amélia & Caddah Studio, 22,
Eduardo Coutinho, 73 23, 95, 96, 142
Eleonora Campos da Motta Santos, 50 Lígia Tourinho, 21, 141
Elke Siedler, 19, 136 Live-performance, 14, 64
En la piel 2.0 Luana Araújo, 61
Dança audiovisual de Valdemir de Oliveira & Odacy de Luana Bernardino, 54, 135
Oliveira, 128 Luana Echevenguá Arrieche, 50, 122, 141
En la Piel 2.0 Luciane Moreau Coccaro, 113
Dança audiovisual de Valdemir de Oliveira & Odacy de Lucimar Cerqueira, 61
Oliveira, 28, 127 Luzia Amélia Marques, 22, 23, 95
ESTELLA, encruzilhada de afetos Lygia Clark, 48, 105
Documentário de Andréia Oliveira, Berg Kardy & Lara Mabel Botelli, 54, 134, 143
Rodrigues Machado, 68, 69 Mãe-Artista ou Artista-Mãe?
Eu Sou Dança em plataforma digital de Iara Sales et al., 16, 60, 61,
Videoclipe de WD, 88, 90, 94, 96, 122 104
Fernanda Nicolini, 82, 136 Maíra Tukui, 61
Gestos para Nada Manguedança
Dança audiovisual de Beatriz Veneu, 34, 35, 113, 114, 115, Dança audiovisual de Yasmin Moreira, Nádia Oliveira, Ana
116, 119 Célia de Sá Earp & André Meyer, 74, 98, 99
Hélio Oiticica, 48, 104, 105, 106 Mãos, Sabão e Águas a Dançar
Henrique Hokamura, 16, 65 Dança audiovisual do Coletivo Dança/Educação da UFRJ, 53
I’M A LIVE Marcos Souza, 54
Dança em plataforma digital de Clara de Clara e Henrique Maria das Dores Gonçalves, 78
Hokamura, 16, 64 Maria Inês Galvão, 21, 143
Iara Cerqueira Linhares de Albuquerque, 100, 138 Marissel Marques, 95, 143
Iara Sales, 16, 46, 104, 138 Maya Deren, 50
Isaac Vale, 54, 135 meet.com/hjz-htcc-hfs
Isabella Serricella, 73, 114, 117, 138 Dança audiovisual de Tainá Barreto, Tatiana Devos Gentile
Jacicleide Conceição da Silva, 71, 89 & Viviane Reis, 36, 37, 119
Janahina Cavalcante, 61 Milena Mariz, 61
Jessica Lima, 107, 139 Mosaico de Banha e Pixel, Ep. 01
Jocarla, 61 Dança em plataforma digital de Jussara Belchior e
Jussara Belchior, 63, 111, 130, 139 Anderson do Carmo, 16, 62, 63
Lara Rodrigues Machado, 69, 107, 140 Nádia Oliveira, 75
Laura Silveira, 124, 140 NaíseS Costa, 61, 104
Liana Gesteira, 45, 46 Nara Dourado, 41, 84, 120, 144

152
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA

Natalie Revorêdo, 61 Samuel Leandro, 51, 52, 111, 145


Negrafia Sérgio Andrade, 19, 21, 145
Dança audiovisual de Jacicleide Conceição da Silvia Chalub, 21, 96, 145
Silva, Amanda de Souza & Priscilla Melo, 70, 89 Tainá Barreto, 37, 146
Nos Ares da Serra Talitha Mesquita, 61
Dança audiovisual de Cláudia Millás, 76, 77 Tatiana Damasceno, 88, 146
Ocean Tatiana Devos Gentile, 37, 119, 146
Dança audiovisual de Victor Isidro, 47, 48, 104, 105, Thábata Liparotti, 79
106, 111, 112 Thiago de Souza, 16, 59, 111, 125, 127, 147
Odacy de Oliveira, 28, 96 Tiago Amate, 24, 25, 95, 147
Odacy Oliveira, 127 Tremor
Parangolés Dança audiovisual de Valéria Vicente & Dominique Rivoal,
Obra de Helio Oiticica, 105, 106 29, 30, 96
Patrícia Raquel, 61 Vai num pé, volta no outro
Plataformas Digitais, 14 Dança audiovisual da Cia Pé na Tábua, 42, 120
Pretxs 3000 Valdemir de Oliveira, 28, 96
Dança audiovisual de Augusto Soledade, 26, 96, 111, 112, 122 Valéria Vicente, 30, 46, 96, 147
Priscilla Melo, 71, 89 Vanessa Macedo, 33, 118, 148
Rafaela Kalaffa, 61 Victor Isidro, 47, 48, 104, 105, 111, 148
Reijane Santos, 79 Vinicius Francês, 32
Renata Riss, 27, 96, 111, 144 Viviane Reis, 36, 37, 119
Resistência~Eu~Sou WD
Dança audiovisual de Weslley da Silva Rodrigues, 66 WD (Washington Duarte), cantor, 66, 88, 89, 90, 96, 122
Rosângela Fachel de Medeiros, 49, 50 Weslley da Silva Rodrigues, 66, 149
Samara Regina Gomes de Melo, 121 Yasmin Moreira, 75
Samara Vicença, 54, 135

153
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA

portalanda.org.br

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