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Orgs.
ELKE SIEDLER
SÉRGIO ANDRADE
Editora ANDA.
1.ª Edição - Copyright© 2022 dos organizadores.
Direitos desta Edição Reservados à ANDA Editora.
Trilhas digitais para dança & imersão labcrítica [livro eletrônico] : catálogo e textos
críticos / organização Elke Siedler, Sérgio Andrade. -- Salvador, BA : ANDA -
Associação Nacional de Pesquisadores em Dança, 2022.
PDF
ISBN 978-65-87431-28-4
22-133572 CDD-792.8
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98. Se incorreções
forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores. Foi realizado o Depósito Legal na Fundação
Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nº 10.994, de 14/12/2004, e 12.192, de 14/01/2010.
Editora ANDA.
Av. Milton Santos s/n
Ondina – Salvador, Bahia.
CEP 40170-110
ELKE SIEDLER
SÉRGIO ANDRADE
Editora ANDA
2022
Associação Nacional de Pesquisadores em Dança
ANDA
Suplência Diretoria
Dr.ª Carmen Anita Hoffmann (UFPel)
Conselho Deliberativo, Científico e Fiscal Gestão Conselho Deliberativo, Científico e Fiscal Gestão
2018-2021 2021-2023
Dr.ª Dulce Tamara da Rocha Lamego da Silva (UFBA) Dr. Diego Pizarro (IFB)
Dr.ª Eleonora Campos da Motta Santos (UFPel) Me. Jessé Da Cruz (FURB)
Dr. Marcilio de Souza Vieira (UFRN) Dr.ª Yara dos Santos Costa Passos (UEA)
Dr. Marco Aurélio da Cruz Souza (FURB)
ANDA EDITORA
EDITORES
Dr.ª Lígia Losada Tourinho (UFRJ)
Dr. Marco Aurélio da Cruz Souza (UFPel)
REVISÃO
Os autores
__________________________
Esta obra foi aprovada pelo conselho científico, editores e diretoria da ANDA.
SOBRE OS/AS ORGANIZADORES(AS)
E-mail: elkesiedler@gmail.com
Orcid: https://orcid.org/0000-0003-4775-9578
Site: www.labcritica.com.br
E-mail: sergio.andrade@eefd.ufrj.br
Orcid: https://orcid.org/0000-0003-1334-9394
AGRADECIMENTOS
Esta publicação é fruto de um trabalho coletivo intenso, de modo que expressamos sinceras
gratulações a todas as pessoas que nos acompanharam nessa jornada. Em especial, à
Diretoria ANDA (gestão 2018-2021) — formada por Lígia Losada Tourinho, Lucas Valentim
Rocha, Thiago Silva de Amorim Jesus e Vanilton Alves de Freitas — e ao Conselho Deliberativo,
Científico e Fiscal ANDA — constituído por Marco Aurélio da Cruz Souza, Dulce Tamara da Rocha
Lamego da Silva, Marcílio de Souza Vieira e Eleonora Campos da Motta Santos — pela confiança
em nosso trabalho e por apostar nas Trilhas Digitais para Dança e na Imersão LabCrítica. Ao
Secretário da ANDA, Marcelo Silvio Santos, pela prontidão no ofício de acompanhamento das
possíveis soluções para melhor execução dos referidos projetos, a William Gomes (Design
Gráfico) e Ian Guimarães Habib (Redes Sociais ANDA), e a todas as demais pessoas que
colaboraram na realização da mostra. Com o mesmo apreço e entusiasmo, agradecemos às
demais coordenadoras da Imersão LabCrítica—ANDA 2021, Lígia Losada Tourinho, Maria Inês
Galvão e Silvia Chalub, que mobilizaram diálogos essenciais para desdobramentos críticos das
proposições artísticas apresentadas nas Trilhas e que, ainda somadas às demais proposições
coordenadas pela Imersão, contribuíram para o avanço de atividades de extensão do
Congresso ANDA. Ainda, a Silvia pela generosidade de revisar o texto de apresentação desta
publicação. Por fim, a todas as pessoas autoras, artistas e realizadoras que responderam às
convocatórias das Trilhas e Imersão, em especial, àquelas que compõem os materiais desta
publicação, sem as quais nossas motivações e projetos não fariam qualquer sentido.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 12 OCEAN... Em CORPO, DANÇA e imagens
Elke Siedler & Sérgio Andrade corporeográficas 100
Iara Cerqueira Linhares de Albuquerque
Catálogo Trilhas Digitais para Dança 20
Ocean: incorporação do corpo na obra e
TRILHAS #1 21 da obra no corpo? 104
Iara Sales
TRILHAS #2 31
Encantadas da maré 107
TRILHAS #3 44 Jéssica Lima
APRESENTAÇÃO
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
Assim, em 2021, a curadoria das Trilhas Digitais para Dança, via carta
aberta à comunidade da ANDA, convocou a reflexão coletiva para
[...] atentarmos às responsabilidades éticas, às afecções geradas pelos
encontros de nossas proposições online e offline e ao movimento que
elas geram frente às distopias atuais. Entendemos que as urgências
sócio-políticas, ambientais e sensíveis no contexto das
performatividades hegemônicas, normativas, neoliberais, necrofílicas,
coloniais, racializadas, genderizadas, extrativistas e excludentes se
reinventam e se reforçam neste tempo de pandemia e de intensificação
da cultura digital online. Convocamos, então, a pensar: Quais escutas
precisamos abrir? Como nossas danças mobilizam o trabalho coletivo
de desestabilizar as distopias contingentes? Como produzir e acionar
rotas de fuga necessárias? Quais proposições precisamos dançar?1
1
Trecho da carta da comissão curatorial, que foi difundida a partir de 15 de Março de 2021 pelos canais de comunicação da ANDA. Cf.
GUIMARÃES, D.; ANDRADE, S.; SIEDLER, E. (2021). Carta da equipe curatorial das Trilhas Digitais para Dança à comunidade do VI Congresso
Científico Nacional de Pesquisadores em Dança – 2ª Edição Virtual. Disponível em:
<https://drive.google.com/file/d/1Rcw0s0WEHcP_AuKIrv06vaKYfrwdzZqa/view>. Acesso em 21 set. 2021.
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
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Op. cit., n.p.
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
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A comissão curatorial tanto adotou a noção de “Trilhas” para se referir aos formatos de proposição (dança audiovisual, documentário,
dança em plataforma digital, live-performance e cross-coisas) como também para nomear as agrupações de cada sessão de
apresentação no congresso (Trilhas #1, #2, #3, #4 e #5) que combinavam mais de um formato de proposição; trilhas são também as
rotas de perguntas emergentes geradas nos encontros entre danças. As sessões #1, #2, #3 e #5 foram apresentadas em grupos de
transmissão pré-agendados no YouTube, com horários de estreia organizados em diversos momentos da programação do evento;
partiam sempre com um documentário e na sequência seguiam com um conjunto de danças audiovisuais. Já a sessão #4 combinou
trabalhos distribuídos nos perfis dos próprios artistas e do Portal Anda em diversas redes sociais (no Instagram, no Spotify e no
YouTube), além de um site e uma exposição multi-autoral. A diversidade de materiais organizados na sessão Trilhas #4 exigiu, portanto,
dinâmicas diferentes de apresentação: duas proposições (Dança e Imagem Sonora, de Thiago de Souza, e Mãe-Artista ou Artista-Mãe?,
de Iara Sales et al) tiveram seus links de acesso difundidos no material de comunicação da programação geral do evento, podendo ser
acessadas a qualquer momento pelos participantes do congresso; e as outras duas (Mosaico de Banha e Pixel, Ep. 01, de Jussara Belchior
e Anderson do Carmo, e I’M A LIVE, de Clara de Clara e Henrique Hokamura) estrearam em horários de transmissão específicos, levando
o público a saltar de uma plataforma para outra. Ainda, para ajudar na compreensão da coreografia entre plataformas e também para
oportunizar um momento de fruição coletiva das danças organizados na sessão #4, a comissão curatorial organizou uma live no
YouTube com os artistas envolvidos que apresentaram alguns fragmentos de seus projetos. A dramaturgia emergida no jogo entre
todas as trilhas, as ressonâncias e ruídos técnico-estéticos ocasionados pela transmissão streaming foram matérias de importantes
debates na Imersão LabCrítica, estando igualmente marcados nos textos críticos produzidos, como se poderá acompanhar a seguir.
4
“Laboratório de Crítica (LabCrítica) é um projeto de pesquisa e extensão, vinculado aos cursos de Graduação e Pós-Graduação em
Dança do Departamento de Arte Corporal da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Criado em 2012, o LabCrítica se dedica ao estudo e
ao exercício da crítica e das práticas de teorização em dança e performance. Investigações, publicações, experimentos artísticos,
eventos e outros desdobramentos do LabCrítica são desenvolvidos a partir de ações conjuntas entre a comunidade acadêmica, artistas
e públicos diversos interessados nos diálogos entre dança, performance, pensamento e outras artes.” Cf. www.labcritica.com.br/.
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
Setembro de 2021.
Elke Siedler
Sérgio Andrade
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Catálogo
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA
Trilhas #1
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
Liberdade
Documentário | Piauí/Bahia | 2019 | 14’
https://youtu.be/NraZwpTtRKg
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
Sinopse
Liberdade é um curta documentário de Dança que aborda, a partir do
encontro de uma artista de dança com mulheres em situação prisional
na cidade de Teresina, a realidade permeada por desejos de liberdade
vivenciados por essas mulheres. Na obra a dança opera como
desestabilizadora dos discursos de poder que sub humanizam corpas
invisíveis, mulheres cis e trans. Como fio condutor da expressão dos
desejos dessas corpas que, mesmo privadas de liberdade, podem — por
meio de gestos, ações, experiências de dança — experimentar situações
de liberdade.
Ficha Técnica
Idealização e Roteiro: Luzia Amélia Marques / Cia Luzia Amélia • Direção e
Fotografia: Sergio Caddah • Câmera: Alexandre Soares • Trilha sonora:
Sarkyss • Realização: Cia. Luzia Amélia & Caddah Studio • Finalização:
Respira Filmes • Assistente Coreografia: Drika Monteiro / Cia Luzia Amélia
• Produção: Jone Clay e Andreia Barreto • Apoio Institucional: Governo do
Estado do Piauí, Secretaria de Estada da Justica/Sejus, Secretaria de
Estado da Cultura/Secult • Patrocínio: SIEC • Agradecimentos Especiais:
Dina de Carvalho Miranda, Cristiane de Praga Antunes da Costa, João de
Moura Neto, Margareth Monteiro Martins, Aureni Oliveira, Valdsom Braga
(pinturas), Penitenciária Feminina de Teresina e Carmelo Santa Teresa de
Jesus e São João da Cruz • Internas na Dança: Andressa Matias, Célia
Leite, Daniele Silva, Edilene Silva, Elda Dos Santos, Isalene Dos Santos,
Julianna Nascimento, Kawuai Rêgo, Ketleen Rocha, Ludmila, Mara Silva,
Maria Do Socorro Silva, Michele Da Silva, Nicole, Samara, Sayane De Souza
• Músicas: Sarkyss, álbum DBRASILIS (trilha sonora) • Esperanto, álbum
Guitarra Maravilhosa (rádio carro).
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
Átopos
Dança audiovisual | Maranhão | 2019 | 2’24”
https://vimeo.com/360172487
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
Sinopse
Átopos é parte da série Esboços Eróticos, d’Aloka das Américas. A Loka
dança em Curitiba, no acampamento pela libertação de Lula. Dança numa
cidade em que se espalham os outdoors da Operação Lava-Jato. Dança
ouvindo de alienados que dança é uma macaquice. Dança o espanto da
colonialidade diante de corpos em vontades indecifráveis. LULA LIVRE!
Balbúrdia se faz de calcinha!
Ficha técnica
Direção/performance: Tiago Amate • Fotografia: Luana de Moraes
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
Pretxs 3000
Dança audiovisual | Brasil/EUA | 2021 | 13’30”
https://vimeo.com/527576346
Sinopse
Pretxs 3000 surgiu a partir da inquietação artística do coreógrafo Augusto
Soledade perante a pandemia global do COVID-19 e do convite do produtor,
Guego Anunciação, para realizar uma residência artística virtual com bailarines
pretes de Salvador, BA em fevereiro de 2021. Na sua concepção, a obra busca
imaginar, afirmar e projetar a presença do povo negro no futuro. No processo
de criação da obra juntamente com os intérpretes criadores, usamos uma série
de perguntas sobre a vida para os negros no ano 3000 como ponto de partida:
como estará nossa relação uns com ou outros e com o mundo? Quais serão
nossos sonhos, desejos e inspirações? Que tipo de mundo físico estaremos
inseridos? Neste processo os criadores intérpretes trabalharam de casa e com
isolamento social usando a tecnologia de smartphone como veículo de
capturação de imagens.
Ficha técnica
Pretxs 3000 • Mostra Artística da Residência Artística com Augusto Soledade •
Concepção e Criação: Augusto Soledade • Intérpretes Criadores: Alex Lago, Aline
Moreira, Anderson Nascimento (Slick), Felipe Silva, Hugo Martins, Iago Araújo
Sousa, Lais Oliveira, Lukas di Jesus, Kadu Fragoso ,Monalisa Azevedo, Marcos
Ressurreição (Marcola), Nanda Rachell, Telma Amorim, Ravana Alexandrino &
Tarcio Santos • Trilha Sonora: Marcos Santos, Assistência de Dramaturgia:
Guilherme Silva • Consulta Cinematográfica: Gabriel Oliveira • Texto: Elenco •
Narração: Guilherme Silva • Edição de Vídeo: Àwó Dúdú Produções • Direção
Geral: Guego Anunciação • Projeto financiado pelo Prêmio Anselmo Serrat de
Linguagens Artísticas, da Fundação Gregório de Mattos, Prefeitura Municipal de
Salvador, por meio da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, com recurso
oriundo da Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo e Governo
Federal.
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
Cyber Bo Waack
Dança audiovisual | Paraná | 2020 | 1’42”
https://www.youtube.com/watch?v=qN_urcBS8wQ
Sinopse
Esta performance trata-se de um exercício/experimentação na
utilização de materiais disponíveis em uma situação de precariedade no
acesso a tecnologias já existentes no mundo, porém que neste momento
não estão ao alcance de todos. O uso de órteses e as chamadas
"gambiarras" auxiliam criativamente na produção de uma videodança,
trazendo para a realidade o visual/estética adotado: a distopia
cyberpunk.
Ficha técnica
Produção e edição: Renata Riss • Filmagem (amadora): Bia Riss • Apoio na
construção do cenário: Elizabete Riss Corá, Mariana Corá & Ezequiel Riss
• Imagem divulgação ANDA (frame da obra recebida)
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
En la Piel 2.0
Dança audiovisual | Brasil/Argentina | 2020 | 4’
https://vimeo.com/430087656
Sinopse
En la piel. Sobre e sob o corpo inscrevem-se histórias, sentimentos,
desejos e a força do tempo que (de)forma o que somos de dentro pra
fora e de fora pra dentro. Na pele inscreve-se o contentamento de
sermos o que podemos ser e a resistência em matéria/carne de
continuar existindo como somos.
Ficha técnica
Concepção/direção: Valdemir de Oliveira e Odacy de Oliveira • Direção de
movimento/intérprete: Odacy de Oliveira • Câmera: Odacy de Oliveira •
Edição: Maronilson Júnior • Paisagem Sonora: Moncho Bunge
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
Tremor
Dança audiovisual | Inglaterra | 2021 | 3’30”
https://youtu.be/StV9Sxm1YJ8
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
Sinopse
Tremor é uma frequência somática, um modo de tornar o corpo
disponível aos estímulos do espaço e do ambiente, liberando o corpo para
redistribuir energias pessoais e sociais. O vídeo foi realizado através da
colaboração de Valéria Vicente e Dominique Rivoal (França/Inglaterra)
com design de som por Patrick Wladyka. A pesquisa esteve associada à
investigação de doutorado que tendo como partida a imersão no
carnaval de Olinda, relaciona tremor, trauma e colonialidade, discutindo
o papel do corpo na descolonização do pensamento, da aestesis e das
emoções.
Ficha técnica
Performer: Valéria Vicente • Filmaker: Dominique Rivoal •
Design de som: Patrick Wladyka
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
Trilhas #2
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
Amor Mundi
Documentário | São Paulo | 2020 | 18’
https://youtu.be/ZjhHXwTk1S0
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
Sinopse
Esse minidocumentário nasceu do desejo de registrar as motivações e
angústias do processo de criação do trabalho Amor Mundi, da Cia
Fragmento de Dança, durante os anos de 2019 e 2020. Três semanas
antes de sua estreia, o processo foi interrompido em razão da crise
sanitária. Tratava-se de projeto contemplado pelo Programa de Ação
Cultural (PROAC/SP), com prazo para finalização e, depois de cinco meses
fora da sala de ensaio, os artistas voltaram a se encontrar e enfrentaram
os desafios de adaptação para a linguagem audiovisual. Não era previsto
desenvolver um minidocumentário, mas percebemos que registrar esse
momento de frustrações e questionamentos, que envolvem novas
dramaturgias, passou a ser tão importante quanto a própria criação.
Tornou-se precioso, para nós, esse registro-memória. Foi uma tentativa
de pensar nossas vidas e artes numa simbiose necessária, que impôs a
sua urgência. Que outras danças são essas, nos perguntamos. O que
podem essas danças?
Ficha técnica
Coreografia e direção: Vanessa Macedo • Intérpretes: Diego Hazan,
Letícia Mantovani, Maitê Molnar, Thainá Souza, Vanessa Macedo e
Vinicius Francês • Iluminação e edição de vídeo: André Prado • Concepção
de vídeo projeção: Bianca Turner • Captação de imagem: Vic Von Poser •
Assistente de captação de imagem: Alexandre Szolnoky • Composição,
síntese sonora, gravação e mixagem: Ricardo Pesce • Participação
especial Didgeridoo: Paulo Jesus • Figurino: Daíse Neves • Assistente de
figurino: Pablo Azevedo • Consultoria para cenário: Rogério Marcondes •
Edição do minidocumentário: Vinicius Francês • Produção executiva:
AnaCris Medina
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
https://youtu.be/WY3HtY1YMjQ
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
Sinopse
GESTOS PARA NADA, um trabalho de criação atravessado pela pesquisa
realizada do Grupo Linha – Derivas, Danças e Pensamento a respeito das
atuações de Fernand Deligny com crianças autistas. A partir de textos,
filmes, cartografias e a metodologia nas áreas de convivência, em uma
área rural do sul da França como propôs Deligny, inspiro-me no verbete
GESTO PARA NADA. Abril, 2021. Gestos para Nada! Em meio ao isolamento
social, este termo criado na década de sessenta, passa a ser
extremamente pertinente para mim. Como não se questionar das nossas
ações programadas e comportamentos repetitivos mediante o universo
em suspensão que estamos vivendo? Um gesto sem propósito (para
nada) indica a crítica da intencionalidade de Deligny. Esse gesto sem
propósito é realizado sem nenhuma intenção particular, sem nenhuma
funcionalidade. Me aproprio, deste verbete do seu glossário, para fazer
uma leitura, um questionamento para nosso tempo atual pandêmico.
Para que normal queremos voltar?
Ficha técnica
Concepção, Roteiro e performance: Beatriz Veneu • Câmera e edição de
vídeo: João Veneu Videla • Música: In the Hospital, Crowander
(freemusicarchive.org)
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
meet.com/hjz-htcc-hfs
Dança audiovisual | Goiás | 2020 | 5’40”
https://youtu.be/8_jJe63K53Y
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
Sinopse
Duas dançarinas, cada uma em sua casa. Encontros virtuais, um diálogo
possível. A instabilidade e o devaneio como temas no corpo. A vídeo-
dança meet.com/hjz-htcc-hfs é uma poesia sobre o isolamento social e
as tentativas de conexão por meio do corpo em movimento. Com
imagens coletadas em celular, o vídeo assume a precariedade do
momento pandêmico e compõe uma narrativa sobre o (não) encontro, a
espera, o estar em si mesmo. Esta obra é resultado de uma pesquisa
sobre movimento instável e o aparelho Flymoon, desenvolvida com
estudantes da Licenciatura em Dança do IFG, campus Aparecida de
Goiânia.
Ficha técnica
Direção: Tainá Barreto e Tatiana Devos Gentile • Fotografia e atuação:
Tainá Barreto e Viviane Reis • Edição: Tatiana Devos Gentile • Música:
Jaime Ernest Dias – tema “Princesa” • Duração: 5’40” • Realização: grupo
de pesquisa sobre Flymoon/Lic. Dança/IFG • Coordenação da pesquisa:
Tainá Barreto • Edital InspirArte/IFG
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
Casulo
Dança audiovisual | Bahia/Minas Gerais | 2020 | 5’51”
https://vimeo.com/498515007
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
Sinopse
Casulo é a implosão de 3 mulheres quarentenadas. Uma dançarina-
cineasta, uma dançarina-arquiteta e uma dançarina-fisioterapeuta. É
turbilhão, catarse e fusão com novos espaços e formas de existir pela
tela do celular. É a casa que transita entre prisão e abrigo. A alma que
não sabe se grita ou se sonha. E o corpo que se reinventa para caber no
agora e no reencontro com a própria natureza. É Cabrália, Belo Horizonte
e Salvador no mesmo lugar.
Ficha técnica
Videoartista: Ananda Campana • Criação e Interpretação: Ananda
Campana, Branca Peixoto, Claudia Auharek
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
Dançando o Invisível
das Cidades
Dança audiovisual | Bahia | 2021 | 3’
https://youtu.be/ZQETe7p1UKc
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
Sinopse
Em 2019, as artistas Clara Passaro e Nara Dourado começaram uma
investigação poético-artística em torno de três árvores centenárias que
se encontram na rota da construção do BRT pela Prefeitura de Salvador.
Em 2021, em meio a segunda onda da pandemia no Brasil, protegidas em
casa, elas recebem a notícia de que as obras do BRT foram retomadas e
as árvores seriam demolidas. Este vídeo é a dança da despedida, uma
dança-improvisação sobre o luto da partida, sobre a iminência da perda
que este momento nos desafia a confrontar. "O corpo envelhece e morre,
mas segue dançando com a Energia do Universo", Kazuo Ohno.
Ficha Técnica
Criação de vídeo, edição de áudio e dançarina: Nara Dourado • Criação de
vídeo, edição de imagem e dançarina: Clara Passaro • Trilha sonora:
música de Arvo Part, spiegel im spiegel • Gravações de áudio na Av.
Juracy Magalhães, Salvador-BA.
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
https://youtu.be/KbUlh5qXlrU
O vídeo contém Libras e audiodescrição.
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
Sinopse
A videodança reflete sobre a precarização do trabalho ou a uberização —
desafio presente na contemporaneidade. A Cia Pé na Tábua teve como
ponto de partida o Artigo 23 da Declaração Universal dos Direitos
Humanos e escolheu o cotidiano dos entregadores de aplicativos para
atualizar e ressignificar sua dança, que nessa obra é também trilha
sonora. Esta proposta integra a programação do projeto Direitos Plurais,
idealizado pelo Sesc Ribeirão Preto e é de autoria da Cia. de Sapateado
Pé na Tábua, sediada em Ribeirão Preto e, há 13 anos, atuante no interior
do estado de São Paulo.
Ficha técnica
Cia. de Sapateado Pé na Tábua • Artistas: Ana Luiza Yosetake, Renata
Defina, Rodrigo Lima, Tulio Alves Monteiro • Designer: Rodrigo Lima •
Produção audiovisual: Raíza Ferreira • Som direto: Edcarlos Santos -
Interior dos Sonhos • Direção de Produção: Priscila Prado | Bem Feito
Produções • Agradecimento: Tato Siansi - Kauzare Filmes • Realização:
Cia de Sapateado Pé na Tábua com apoio do Sesc Ribeirão Preto
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
Trilhas #3
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
Dança de Agoras
Documentário | Pernambuco | 2017 | 17’
https://www.youtube.com/watch?v=fVrvNUQreOg
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
Sinopse
O documentário Dança de Agoras articula movimentos e pensamentos
sobre o fazer da dança que se constrói a partir do improviso, levando
para a tela um jogo de conversas sobre o imprevisível, o risco, o jogo, o
corpo criando em movimento e os impulsos e desafios de improvisar.
Participaram do documentário seis artistas/grupos de Recife (PE) que
têm experiências e vivências múltiplas com improvisação, seja no
universo de criação nas danças tradicionais, na performance, ou nas
danças contemporâneas, e também como foco de interesse acadêmico
ou pedagógico. O documentário é resultado da pesquisa A improvisação
do movimento como caminho para composição cênica, do Acervo
RecorDança (PE).
Ficha técnica
Direção: Liana Gesteira • Concepção: Juliana Brainer, Liana Gesteira,
Raphaela Spencer, Taína Veríssimo e Valéria Vicente • Roteiro: Liana
Gesteira, Raphaela Spencer e Taína Veríssimo • Edição e montagem:
Raphaela Spencer • Filmagem e fotografia: Juliana Brainer • Som direto e
edição de áudio: Carlos Carvalho • Entrevistados: Liana Gesteira, Gabriela
Santana, Giordanni Gorki (Kiran), Janaina Gomes, Fabio Soares, Paulo
Michelotto, Polyanna Monteiro, Jonas Araújo e Lili Guedes • Coordenação
da pesquisa: Liana Gesteira • Pesquisadoras: Juliana Brainer, Liana
Gesteira e Taína Veríssimo • Consultoria de pesquisa: Valéria Vicente •
Colaboração pesquisa: Marcela Felipe e Diogo Lins • Divulgação: Beth
Oliveira / Tecendo Comunicação • Identidade visual: Iara Sales •
Agradecimento aos espaços de gravação das entrevistas: Espaço
Compassos, Coletivo Lugar Comum, Centro São Salomão de Capoeira •
Realização: Acervo RecorDança
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
Ocean
Dança audiovisual | São Paulo | 2021 | 5’56”
https://youtu.be/wVqUEetaQ4U
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
Sinopse
Ocean é uma videodança experimental e integra o projeto de pesquisa
de iniciação científica Corpo, movimento e visualidade: um processo
híbrido de criação em dança contemporânea, com orientação de Juliana
Moraes. Atravessada pelo trabalho de Lygia Clark e Hélio Oiticica, essa
dança de plástico transita entre o visceral e o artificial, escorre pela pele
e se afunda nas águas de um corpo mareado.
Ficha técnica
Concepção, interpretação, edição de vídeo e trilha sonora original: Victor
Isidro • Captação de vídeo: Gabriel Pestana • Orientação de pesquisa:
Juliana Moraes
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
A Mulher de Azul
Dança audiovisual | Rio Grande do Sul | 2020 | 7’56”
https://www.youtube.com/watch?v=mA1qymcdN0o
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
Sinopse
A mulher de azul é uma narrativa audiovisual de videodança composta
através do processo de criação vivenciado no Mestrado em Artes Visuais
de 2018 a 2020, a qual foi gravada no último ano de pesquisa, vinculada
ao PPGAVI. Está permeada por memórias afetivas que ativaram
discursos acerca do feminino, universo representado pelas mulheres
próximas à artista. Teve como inspiração três obras da cineasta
ucraniana Maya Deren (1917-1961): Meshes of the Afternoon (1943); Study
in Choreography for the Camera (1945); Ritual in Transfigured Time
(1946).
Ficha técnica
Artista pesquisadora (roteiro, captação, edição, fotografia e som): Luana
Echevenguá Arrieche • Orientações: Rosângela Fachel de Medeiros e
Eleonora Campos da Motta Santos
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
D = m/V
Dança audiovisual | Minas Gerais | 2021 | 1’57”
https://drive.google.com/file/d/1VZu6Ic2U6vhjVaiXoaPN
k8GrJAb2yNs5/view
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
Sinopse
A densidade é uma grandeza física presente na natureza e relacionada
no cotidiano a complexidade de uma informação ou a uma vasta
quantidade de informações sobre algum tema. No corpo ela é percebida
através do tônus muscular ativo, forte ou pesado, qualidades labanianas
de movimento, e através da diminuição da aceleração do movimento
resistindo ao ar que circunda o corpo. Na física, ela é medida na razão da
massa pelo volume. Esta obra consiste na investigação da densidade no
corpoimagem dançante a partir da pesquisa teórica sobre corpos
massivos astronômicos. Esta videodança explora a densidade no tônus,
na velocidade e no áudio propondo gerar sensações cinestésicas a partir
dessa exploração. A videodança D = m/V tem apoio financeiro da UFOP e
faz parte da mostra de processo do curso de formação online:
"Videodança — convergência e modos próprios do fazer", com a
concepção e coordenação pedagógica de Lilian Graça com o apoio
financeiro da Lei Aldir Blanc via Secretaria de Cultura e Fundação Cultural
do Estado da Bahia.
Ficha técnica
Concepção e intérprete: Samuel Leandro • Música: Awful, Josh Ban •
Imagens e edição: Samuel Leandro
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
https://www.youtube.com/watch?v=Uz-OA29-l7I
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
Sinopse
É criando que resistimos e nos reinventamos. Resistimos ao medo e à
insegurança deste tempo e criamos novas ressignificações para o
espaço-tempo de nossas casas. O Coletivo Dança/Educação da UFRJ
pensa a dança como direito das crianças e, diante deste tempo, busca
como dançar brincando e aprendendo, utilizando recursos audiovisuais.
Escolhemos o importante gesto de "lavar as mãos com água e sabão"
para mover nossa dança e nos instigar a criar, recriar e partilhar uma
coreografia que traz ludicidade para o dia a dia. O processo de criação do
vídeo foi trazendo esse momento de partilha e leveza, que sai da casa
de cada um dos participantes e vai para as casas das crianças que
assistem e dançam junto. Assim, o gesto cotidiano adquire outra
presença e o movimento se transforma em dança.
Ficha técnica
Idealização e textos: Mabel Botelli • Discentes: Arielle Santos, Caroline
Faria, Isaac Vale, Luana Bernardino, Marcos Souza, Samara Vicença.
Dançantes: Arielle Santos, Arthur Bernardino, Caroline Faria, Helena
Vitória Guerreiro, Isaac Vale, Luana Bernardino, Luna Maria Oliveira,
Marcos Souza, Maria Vitória Leão, Samara Vicença, Sarah Mulque •
Ilustrações: Inajah Cesar e Mariana Castro - Desenhos vinculados ao
Caderno de Dança/Educação para crianças, ÁGUAS - Coletivo
Dança/Educação • Edição do vídeo: Arielle Santos • Trilha sonora: Águas
- Osvaldo Aguilar • Voz: Luiza Borges • Mixagem sonora: Alexandre Alvim
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
Sinopse
Corpo criança, corpo que dança: a NATUREZA no brincar é uma obra
fílmica de dança para infância criada a partir da interação da criança
com a natureza que a cerca. O processo de criação se deu pela relação
dança-brincar-natureza por meio da improvisação, da coreografia e do
espaço-casa durante a pandemia e teve como mote: o conto indígena A
Dança do Arco Íris e o Corpo-Natureza como reconhecimento do
pertencer. Utilizando-se dos recursos da videochamada como ambiente
de troca e criação dos registros das imagens e como possibilidade de
composição investigava de dança pelas telas.
Ficha técnica
Direção e edição de vídeo: Drica Rocha • Crianças Participantes: Alice
Ribeiro de Arruda, Anny Carollyne da Silva Barbosa, Cezar Ramos Luz,
Juliana Gomes Brito, Kinda da Cruz Araujo, Luna Soledad Aguiar Pais,
Natalia Moura Mendonça, Nina Almeida Rocha • Orientações artísticas:
Dany Viegas, Drica Rocha, Jota Júnior e Negro Du • Poesia sonora: Jota
Júnior • Músicas: Plantadeira, composição Minuska e interpretação: NINA
Almeida Rocha; Rap na Praia e Pequeno Castelim, voz e composição:
KINDA da Cruz Araújo
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
Trilhas #4
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
https://open.spotify.com/show/1AsqOvTz7umlXDwU0p1nqm?si=K
w9XDPAVQSy6Xeqtq23zQw&dl_branch=1
Acesse via YouTube:
https://youtube.com/channel/UCu-v2V0Z2Jxya9pVVCREQxg
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
Sinopse
Dança e Imagem Sonora é um projeto de contação de dança em formato
audiovisual. Como comunicar uma dança a partir das palavras e
sensações que ela convoca? De que maneira podemos retomar uma
tradição oral para documentar e capilarizar, dar continuidade às
informações e segredos contidos em uma coreografia? Dança e Imagem
Sonora é um gesto comprometido em sustentar essas e muitas outras
questões, tomando como ponto de partida as danças espalhadas pela
cidade do Rio de Janeiro. Traduzir composições coreográficas em
paisagens sonoras, tais composições contadas por alguém que vê e/ou
que dança a dança escolhida, é o desafio que temos para trilhar.
Elegendo o texto como protagonista da ação, e não a imagem
cinematográfica, desejamos ativar a companhia do espectador,
convidando-o a passear pelos percursos cinestésicos da experiência
narrada e encontrando, quem sabe, familiaridade afetiva e memorial
com a dança na sua intimidade.
Ficha técnica
Captação de áudio, paisagem sonora e edição: Caique Mello • Identidade
visual: Clara Ramos • Concepção, roteiro, narração e produção: Thiago de
Souza
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
Mãe-Artista ou Artista-Mãe?
Dança em plataforma digital — Site e exposição virtual | Pernambuco | 2021
www.maeartistadanca.46graus.com
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
Sinopse
Ser mãe ou ser artista? Houve um tempo em que era necessário escolher
entre ser uma das duas coisas. Ao acolher a maternagem e seu tempo
próprio, seus processos, suas dores e suas delícias, nasce a artista-mãe.
Nasce também o corpo-mãe e toda a complexidade física, psíquica e
social do tornar-se mãe. A residência artística remota para as mães
artistas da dança nasceu dessa potência e transbordou. Nela, 18
mulheres de todas as regiões do país e duas assessoras-doulas se
encontraram e se acolheram virtualmente nos meses de janeiro a abril
de 2021, em plena pandemia do Covid-19. O resultado deste trabalho está
reunido na exposição permanente Mãe-Artista ou Artista-Mãe?, na aba
"CRIAS", que traz, através da arte, um olhar reflexivo de mães artistas
tratando sobre suas maternagens, sem ter que escolher entre ser mãe
ou ser artista.
Ficha técnica
Orientação, idealização, identidade visual e coordenação geral: Iara
Sales • Mães-Artistas: Ana Luíza Reis (SP), Cecília Carvalho (MG/BA),
Cristine Olofsson (PE), Daiana Carvalho (SP), Drica Ayub, (PE), Iara Sales
(PE), Isa Flor (DF/BA), Janahina Cavalcante (CE/BA), Jocarla (BA/SP), Luana
Araújo (SP/SC), Lucimar Cerqueira (BA), Maíra Tukui (BA), Milena Mariz
(BA), NaíseS Costa (PA), Natalie Revorêdo (PE), Patrícia Raquel (PE),
Rafaela Kalaffa (DF) e Talitha Mesquita (MG) • Assessoria de direção de
arte: Gabriela Holanda • Assessoria de Imagens e Desenvolvimento do
Site: Thaís Lima • Assessoria técnica de edição e edição de entrevistas:
Tonlin Cheng • Assessoria de Comunicação: Thaís Moura Lima
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
https://www.instagram.com/trabalhoremotoadiposo/
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
Sinopse
A ação Mosaico de Banha e Pixel, Ep. 01 é uma série episódica de
performances que formaliza transitoriamente a pesquisa
desenvolvida por Jussara Belchior e Anderson do Carmo no projeto
T.R.A. (trabalho remoto adiposo [ou] técnicas para retardar a
antecipação), contemplado pelo Prêmio Elisabete Anderle de
Estímulo à Cultura 2020. Como proposta de apresentação nas
plataformas virtuais, Mosaicos de banha e pixel se dá como uma
série de experiências que exploram diferentes aspectos da relação
entre as corpas gordas no contexto da dança contemporânea e na
pandemia, articulando-se, principalmente, a partir da questão:
Como confrontar o imaginário em relação à gordura corporal como
resultante da demanda de isolamento social e consequente
permanência no espaço doméstico?
Ficha técnica
Criação, direção e dança: Anderson do Carmo e Jussara Belchior •
Interlocução audiovisual: Sarah Ferreira • Interlocução
performativa: Miro Spinelli • Interlocução gráfica visual: Ana Clara
Joly • Produção: Rhaisa Muniz
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
I’M A LIVE
Live-performance | São Paulo | 2020 | 15’
https://www.instagram.com/p/CPrRVELpdKb/
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
Sinopse
I'M A LIVE é um espetáculo-performance virtual criado em 2020 durante
a pandemia de Covid-19 e uma obra híbrida de dança, música e artes
visuais. A Live Performance questiona sobre a presença e a ausência do
corpo no mundo real e no mundo virtual, é performada a partir da
utilização das próprias ferramentas e estéticas virtuais. O corpo funde-
se com a tela, a performance abraça as limitações da plataforma, é
genuinamente íntegra, não poderia se dar de outra forma, não
aconteceria no palco e em nenhum outro espaço.
Ficha técnica
Concepção, direção e interpretação: Clara de Clara e Henrique Hokamura
• Cenografia e Iluminação: Caró • Trilha sonora: Nathanael Martins
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
[Extra]5
Resistência~Eu~Sou
Dança audiovisual | Piauí | 2020 | 5’15’’
Sinopse
Um estudo de dança autobiográfica para vídeo em diálogo com a música
Eu Sou, de WD. Por ser um ‘jovem gay afeminado’, considerado um corpo
estranho fora do padrão de normalidade, fui julgado, observado e
discriminado ao longo de minha trajetória escolar. As marcas dessa
experiência me serviam de espelho, reproduziam as relações de poder
que eram notadas em espaços da cidade, nas experiências vivenciadas
com a família, entre professoras(es) e alunas(os) e principalmente nos
momentos de liberdade (brincadeiras, brinquedos e danças). Os insultos,
as provocações e os apelidos decorrentes dos meus trejeitos de bicha
procuravam destacar características consideradas como defeitos para
uma sociedade LGBTfóbica e racista como a que eu estava inscrito. A
arma que me parecia mais eficaz naquele momento era a invisibilidade.
Ficha Técnica
Criação: Weslley da Silva Rodrigues
5
Devido a questões operacionais na programação das Trilhas, o trabalho foi adicionado ao perfil @portalanda no Instagram
posteriormente ao evento.
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
Trilhas #5
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
https://vimeo.com/262349203
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
Sinopse
O vídeodança.doc ESTELLA, encruzilhada de afetos é uma teia de
memórias do processo de criação em dança arvorada pela
descolonização do conhecimento. Trazendo a gira as práticas de
escavar, colher, cuidar, semear, balanço e ginga vivenciadas junto às
mulheres voltadas às atividades pesqueiras e outras que atravessavam
o território salino, construindo uma dança.manifesto em reverência às
mulheres-mangue.
Ficha técnica
Roteiro, Performance, Pesquisa e Montagem: Andréia Oliveira • Imagens:
Berg Kardy e Andréia Oliveira • Orientação: Lara Rodrigues Machado •
Agradecimento: à toda Comunidade de Encarnação de Salinas e toda
corpa que se permite mergulhar em ESTELLA.
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
Negrafia
Dança audiovisual | Pernambuco | 2018 | 2’40”
https://youtu.be/d5qQ6qYbxe0
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
Sinopse
Jacicleide Conceição da Silva, mulher negra, pobre e periférica, estudante e
professora de dança, nos apresenta em poucos minutos uma narrativa visual
em movimento de sua herança ancestral e cultural. Sua dança e sua
expressão são símbolos significativos em meio a paisagem com que interage,
seu corpo representa a resistência negra presente nos quilombos
contemporâneos urbanos. Através de uma sonoridade que remete às
manifestações afro tribais, seus braços cortam o ar, sua silhueta brinca no
escuro e seus pés reforçam a força da mulher negra. O racismo insiste em
deslegitimar e invisibilizar os corpos negros e a periferia e é por isso que
afirmar sua identidade, suas raízes e o seu lugar é um ato de resistência
política e social.
Ficha técnica
Performer: Jacicleide da Silva • Direção: Amanda de Souza e Priscilla Melo •
Iluminação: Amanda de Souza • Coreografia: Jacicleide da Silva • Montagem e
edição: Priscilla Melo
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
https://youtu.be/giOeVbmmtxA
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
Sinopse
O que você vive ou pensa hoje? A partir da investigação sobre o filme
Moscou, de Eduardo Coutinho, surge o projeto Ao Passo Que o Tempo
Passa. Em uma das cenas do longa-metragem, acontece um exercício de
improvisação teatral no qual os atores relatam um momento marcante
do passado e futuro do presente. Em meio ao isolamento social para
alguns e impossibilidade de isolamento para outros, nos sentimos
provocados a pensar mais sobre nossas memórias, sentimentos,
objetivos e como atingi-los. Movidos pelo tempo presente, uma
experimentação performática corporal com relatos de 23 pessoas, de
diferentes eixos sociais, gêneros e com idades entre 20 e 30 anos. Como
o tempo pode fazer a palavra, música? Corpo e estímulos sonoros, as
possíveis sincronias e dissincronias entre esses atores, criando
momentos de diálogos entre palavras e sonoridades.
Ficha técnica
Concepção/Idealização: Isabella Serricella e Diego Ávila • Direção de
Movimento: Anna Clara Franco • Edição de Vídeo e Áudio: Diego Ávila •
Assistente de Edição: Gabriel Rochlin • Câmeras: Isabella Serricella, Lucas
Santana e Natália Cirilo • Intérpretes: Isabella Serricella e Lucas Santana
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
Manguedança
Dança audiovisual | Rio de Janeiro | 2019 | 7’10”
https://youtu.be/e-MLziXifwA
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Sinopse
Nascer e renascer nos organismos do Manguezal. Vazar meu ser
dançante por entre as marés. Amassar minha carne na areia, sair
nas folhas, respirar pelas raízes e ir para o Abismo Alimentador de
Tudo. Deixai-me aqui nesta dança pelo Mangue como quem de lá
nunca saiu.
Ficha técnica
Autora e intérprete-criadora: Yasmin Moreira • Direção: Ana Célia
de Sá Earp • Edição e captura de imagens: Nádia Oliveira •
Orientação: Ana Célia de Sá Earp, André Meyer e Taciana Moreira
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
https://youtu.be/gGOKLaYbGdk
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
Sinopse
Nos Ares da Serra é um vídeodança fruto do projeto artístico
multidisciplinar homônimo, proposto pela pesquisadora corporal e
artista Cláudia Millás, contemplado pela Lei Aldir Blanc do município de
Andradas – MG, em parceria com artistas locais. Parte-se da interação
do corpo no espaço natural, reunindo elementos da dança, do circo, das
técnicas verticais e do audiovisual, que dialogam com o ambiente da
Serra do Pau D’alho, localizada na zona rural do município. O projeto
nasceu do desejo da autora de desenvolver pensamentos/ações
ecológicos capazes de aproximar o público e fomentar a necessidade de
cuidado e responsabilidade pelo espaço que se vive. No presente
contexto de isolamento social, decorrente do combate a pandemia do
Covid-19, em que se instaura uma série de restrições, incertezas
financeiras e instabilidades de saúde, o vídeodança busca criar uma
experiência sensível, capaz de proporcionar um momento de desfrute e
emancipação ao público.
Ficha técnica
Concepção artística, criação, performance e direção geral do projeto:
Cláudia Millás • Trilha sonora: Anderson Martins e Silva • Direção de
fotografia e videomaker: João Fábio Matheasi • Figurino: Warner Júnior •
Registro fotográfico: Tadeu de Oliveira e responsável técnico de trabalho
em altura: Tadeu de Oliveira • Equipe técnica de montagem: Tadeu de
Oliveira e William Esperança • Consultoria cenográfica: Juliana Sá • Arte
Gráfica: João Fábio Matheasi • Produção executiva e assessoria de
imprensa: Bianca Martinelli • Apoio: Prefeitura Municipal de Andradas
(MG), Bramido do Elefante e NanoCirco
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
Aterra
Dança audiovisual | Sergipe | 2021 | 4’
https://drive.google.com/file/d/1aK89fSwI2wmy3_4xGM
IL-8OirtYs3bVD/view?usp=sharing
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
Sinopse
Atravessados pela pandemia, ATERRA é o primeiro videodança criado
pelo Grupo de Estudos Corpo e Ambiente (GECA) cada qual em sua casa.
Aflorado como a terra em si, ou como tudo que vem dela, da terra como
mãe natureza, visível no banho, na comida, nas plantas, no vento, no sol,
nas #GotasdeNatureza em nossa casa. A partir disso, criamos este
trabalho, com a percepção individual de cada intérprete, com uma
vontade comum: a de dançar esses momentos. Buscamos os pés, o chão,
o céu, a natureza em cada canto de nosso isolamento e a convidamos
para dançar. Buscamos memórias afetivas coreográficas, nesta nova
configuração, ATERRA surgiu deste investigar, de aterrar em casa, de
aterrar no chão e na conexão, no momento que vivemos.
Ficha técnica
Direção Geral: Thábata Liparotti • Direção Artística: Leo Torres e Reijane
Santos • Assistente de Direção Artística: Wanderson Aurélio • Intérprete-
Criadores: Grupo de Estudo e Pesquisa Corpo e Ambiente – GECA
(@corpoeambiente) Dillyane Freitas, Leo Torres, Reijane Santos, Rívia
Paixão, Rohana Fonseca, Sara Sullovon, Thábata Liparotti e Vanessa
Carranza • Música: 'Entrelinhas' - Prod. All4n (@all75an) • Edição de Áudio:
Reijane Santos • Edição de Vídeo: Leo Torres.
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
Cresce
Dança audiovisual | Santa Catarina | 2020 | 1’32”
https://youtu.be/RDlc5L8oVzE
Sinopse
Corpo, planta, mãos, pés, pulos, sofá. Planta, corpos, mãos, corpo, cadeira. Corpo, espaço,
o tempo estirado na sala, na cozinha, entre as portas. Uma planta continua crescendo.
Ficha técnica
Criação: Claudinei Sevegnani
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Textos Críticos LabCrítica
Orientação de
Lígia Tourinho, Maria Inês Galvão, Sérgio Andrade & Silvia Chalub
6
A curadoria nomeou distintas categorias para inscrição de danças audiovisuais entre outros. Não pretendo reivindicar
trabalhos na programação das Trilhas Digitais para Dança, nenhuma destas no texto apenas dançar entre o que foi
como danças audiovisuais, documentários, live-performances estabelecido e o que me contempla. Logo, os dois termos
e plataforma digitais. O embate sobre a definição de termos é danças audiovisuais e danças para tela serão utilizados com o
antiga pelos profissionais do campo e engloba muitas mesmo significado.
nomenclaturas como danças para tela, videodança, cinedança,
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
dinâmicas (GOMES; COHEN; FLORES, 2018, p.56). Dessa apresentarem elementos visuais em comum. Os
maneira, meu exercício aqui estará longe de efeitos mais recorrentes ordenados pelo número de
detectar modismos nas danças audiovisuais aparições foram: divisão da tela e multiplicação da
pandêmicas e sim, a partir de dados levantados, imagem em quadros englobando a multiplicação de
voltado à observação minuciosa e a imagens preenchendo o espaço e o recurso PIP –
transversalidade entre tecido artístico, social e Picture in Picture (15/18); filtros de cores
mercadológico, identificar sinais para questões saturadas(10/18); utilização da voz e palavra (8/18);
interessantes a serem refletidas e debatidas. Para empatados em quarto lugar aparecem a câmera
que possamos aprofundar as reflexões em um raio aérea e a câmera em movimento (ambos aparecem
mais amplo, acho relevante ressaltar que as em 6/18); em seguida a aceleração da imagem (5/18)
tendências surgem quando mudanças externas e em sexto lugar o espelhamento da imagem(3/18).
revelam novos modos de responder as Ilustrando, teríamos o seguinte gráfico:
necessidades, como por exemplo o isolamento Multiplicação e divisão de telas e
imagens
social que nos levou a trabalhos digitais. Estes Saturação de cores
Câmera em movimento
enquadra-se no campo do invisível e abarca uma
Aceleração da Imagem
complexidade muito mais abrangente do que a
Espelhamento da imagem
lógica de causa e efeito. Já o processo e a maneira
como fazemos, que é sempre minha abordagem Quais são os motivos pelos quais incidem
preferida, pode ser chamado de “onda” (id.p.57). em 83% das danças audiovisuais apresentadas o
Pois bem, quais as ondas podem estar nestas recurso de multiplicação das imagens e telas? Esta
danças para tela apresentadas na programação da pode ser uma reflexão para lançarmos uma onda, se
Trilhas Digitais para Dança? O que querem dizer a pensarmos nos processos pelos quais estamos
respeito do nosso tempo? aprendendo a criar no último ano. Até então os
aplicativos mais básicos de edição de vídeos e fotos
Dados dançados para dispositivos móveis tinham funções mais
Foram apresentados ao longo de três dias simples como esta de duplicação de imagem. Na
de programação um total de 30 trabalhos, dentre emergência das criações pandêmicas este foi um
estes 21 danças audiovisuais, dos quais 18 foram dos primeiros recursos incorporados aos processos,
base para o levantamento de dados por o mais prático e acessível para a maioria dos que
83
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
não tinham muita intimidade com a ferramenta. Mas uma reconexão com uma pequena muda ou vasinho
isto não é algo para considerarmos depreciativo e de plantas.
sim para nos levar a compreensão de que lançar Já em Casulo (2020), de Claudia Auharek e
mão deste recurso gera efeitos distintos no Branca Peixoto Vasconcelos8, uma avalanche de
espectador seja de forma proposital e planejada, telas pipocam ao olhar do espectador, deixando
seja inconscientemente. nossa respiração em suspensão. Surgem, somem,
Em Dançando o Invisível das Cidades duplicam-se, piscam, mudam de cor, triplicam e
(2021), de Nara Dourado e Clara Passaro7, a imagem multiplicam-se no tempo da música de Bach,
é apresentada durante todo o trabalho em tela concerto para violino n.1 em lá menor, utilizada na
dividida em duas partes, com as artistas em trilha sonora. Um gran finale, em que edição de
enquadramento fixo, tal qual uma reunião de Zoom imagem e o último acorde musical casam
ou Meets. Esta imobilidade do aparelho gera um perfeitamente encerrando o trabalho, nos faz
sossego perene que tranquiliza o espectador respirar novamente e pensar como podemos
enquanto assiste corpos humanos interagindo com descansar nossos olhos depois de tudo isso. Tudo
corpos não humanos plantas, tão vivos quanto nós. isso causa uma sensação de que a dança proposta
A movimentação acontece e se recorta produzindo neste trabalho está mais no diálogo entre outros
imagens a partir das artistas que ora saem do olhar corpos como os efeitos visuais e a trilha sonora,
da câmera ora, se voltam completamente a dialogar deixando o corpo das artistas em segundo plano. E
com ela (ou conosco). Assim prossegue durante todo tudo bem, pode ter sido uma escolha.
o tempo do trabalho. Dentro deste minimalismo de Se pudéssemos traçar um paralelo entre
recursos visuais o que as artistas acabam trazendo os dois trabalhos poderíamos dizer que o primeiro
ao protagonismo é o gesto e a dança que se afirmam estaria beirando o dadaísmo, ao utilizar o ordinário
presentes e desnudas sem a maquiagem de como uma gravação de uma reunião de vídeo
excessivas sobreposições de efeitos na edição. conferência, ressaltando a potência da
Demonstram uma espécie de tranquilidade quase simplicidade, do que já está ali, trazendo a atenção
impossível nesses tempos, um “vai ficar tudo para o cotidiano na criação. Já o segundo trabalho
bem...” a partir de um encontro/retorno com a estaria de mãos dadas com o barroco, quando muito
natureza mesmo que estejamos na cidade bastando é sempre mais. E tudo bem, podem ter sido escolhas.
7
Apresentado na programação da Trilhas Digitais 2. O vídeo 8
Apresentado no Trilhas Digitais 5. O vídeo está disponível em:
está disponível em: https://youtu.be/ZQETe7p1UKc , último https://youtu.be/0Dm-5V-uFFU, último acesso em 7 jul. 2021.
acesso em 7 jul. 2021.
84
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
9
Dados levantados dos próprios vídeos e de suas fichas
técnicas.
85
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
alguém que já tem habilidades por mais tempo e um Na medida em que os recursos são
conhecimento técnico maior. Mensagens diferentes utilizados e temos no aparelho de reprodução uma
em dramaturgias elaboradas a partir de pontos de apresentação de realidades paralelas e oníricas
vista diferentes. O editor se faz coautor da obra, como imagens monocromáticas, ou múltiplas
quando o mesmo não é seu criador também. Isso no imagens de mim mesma em uma única tela, ângulos
entanto não garante ou define a qualidade do aproximados, enquadramentos impossíveis ao ser
trabalho, porém atribui uma certa estetização para humano, construídos nos pilares da perfectibilidade,
as obras, gerando propensões sociais, econômicas e nos apegamos na forma apartando-nos do
do próprio campo a criarem esse juízo de valor como relacional dos trabalhos e da realidade histórica e
critério para seleções e até mesmo crítico. social. Talvez este seja o relacional que me capturou
Acredito que atentarmos ao processo de em Dançando o Invisível das Cidades A forma por si
estetização das danças audiovisuais tendo como só, em caráter de arte-pela-arte reafirma
sinal o processo de edição e montagem nos coloca privilégios de classes dominantes, da alienação, do
também em alerta a respeito do que reflete este consumo e submete-se ao mercado tecnológico,
mesmo processo em escala social. Um processo contribuindo para a eliminação da autocrítica do
estetizador em arte coloca privilégios em uma campo, neste caso especificamente a dança
realidade já tão cruel que beira a insubsistência de audiovisual. Não produz choque, reitera padrões.
artistas. A utilização de recursos complexos de Talvez seja só mais um debate em formato digital:
efeitos e processos de edição na danças danças virtuosísticas ou danças experimentais
audiovisuais não se constituem como uma sensíveis? Espetacularizar a dança ou uma dança
linguagem artística de vanguarda, pois este não é mais relacional com o espectador?
um campo novo e nem os trabalhos, em sua maioria, O conceito de vanguarda nas artes pode
estão sendo desenvolvidos para produzirem ser compreendido como gesto contra o aparelho de
fricções ou questionamentos internos na instituição submissão ao qual a obra de arte está submetida;
dança. Isso me parece mais uma questão de dirige-se contra o funcionamento da arte na
aceitação ao meio do que uma ação de reflexão sociedade burguesa que decide tanto pelo efeito da
sobre práxis no campo e seus desdobramentos. obra quanto sobre o seu conteúdo particular
Quanto mais eu pareço saber muito, mesmo sem (BÜRGER, 1993, p.90). Não estamos na vanguarda das
saber, posso ser mais aceito ou reconhecido, ou ter danças audiovisuais porque sabemos utilizar mais
mais oportunidades. A polidez da especialização que os recursos de edição ou aplicativos, nem
nos corrói pouco a pouco. inaugurando processos. Tampouco nossas
86
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
e afirma que um processo artístico pode ter efeitos BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era da
reprodutibilidade técnica. 1ª versão do texto publicado
distintos em contextos históricos diferentes (id. em 1955. Disponível em https://www.docero.com/benjamin ,
último acesso em: 7 jul. 2021.
p.129). Logo, pensar sobre movimentos
vanguardistas no Brasil sem levar em conta o BÜRGER, Peter. Teoria da vanguarda. Tradução Ernesto
Sampaio. Lisboa: Vega Ltda, 1993.
próprio contexto brasileiro colonizado e
COHEN, Suzana; FLORES, Ana Marta; GOMES, Nelson. “Estudos
embranquecido, torna-se também incoerente. Uma de Tendências: contributo para uma abordagem de análise e
gestão da cultura”. Revista Moda Palavra. V.11, n.22, 2018,
vanguarda na arte se coloca também uma luta anti- pp. 49-81.
imperialista e antirracista tendo suas categorias GULLAR, Ferreira. Vanguarda e subdesenvolvimento.
como canais. Ferreira Gullar em seu ensaio Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1978.
87
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
está
Eu Sou (2020), videoclipe de WD, abre a
discussão sobre a invisibilidade e a falta de oportunidade
das pessoas negras em nossa sociedade. “E reconhecerei
lidade está
cantava:
Eu sou
dançando. A voz da resistência preta
Eu sou
Tatiana Damasceno Quem vai empretar minha bandeira
Eu sou
E ninguém isso vai mudar
Tudo começou dar certo
Olhar, olhar e olhar! Será que só esse sentido Quando eu aprendi me amar
do corpo, tão amplo e imediato, consegue apreender a
imensidão de movimentos, interações, entrelinhas e No clipe, a relação corpo e câmera é
falas poéticas presentes nas produções artísticas arquitetada por múltiplas imagens, palavras e lugares
visionadas por meio de uma tela? Olhar escutando, que também denunciam a realidade racista e a constate
sentindo as texturas, os cheiros, a porosidade dos afetos, violência sofrida pelos corpos negros que, na sociedade,
o timbre das vozes, observar as camadas sobrepostas e escapam da centralidade. Mas, além disso, ele apresenta
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esses corpos pela chave do protagonismo, das diáspora configura-se como uma ação de resistência.
realizações, do corpo plural, poético, belo, dinâmico e Talvez essa ação esteja convidando o espectador a agir
resiliente, como nos trechos da música cantada por WD e pensar sobre o corpo negro no território brasileiro há
no videoclipe. quase 500 anos. Quando você olha o corpo preto o que
você vê, o que você não vê e o que você não quer ver?
Se a minha pele te incomoda porque Afinal são quase 500 anos. Com a sensorialidade
É preta
expandida e empretecendo múltiplos espaços, o corpo
Eu te aviso
Ela é resistência preto feminino afirma sua identidade, experiências,
Aceita
saberes e força produtiva na arte, por meio de um
....
repertório afropoético.
Seu nariz é lindo, preto
Expondo e discutindo pautas diferenciadas
Sua boca é linda
Seu cabelo é lindo, preto através da produção da dança audiovisual, a
Sua cor é linda
programação das Trilhas Digitais para Dança traz
Seguindo o barco da afropresença nas Trilhas, corporeidades pretas repletas de èmí, a força-motriz do
a dança audiovisual Negrafia (2018), de Jacicleide ser humano gingam o encantamento, excitando o
Conceição da Silva, Amanda Souza e Priscilla Melo, revela, interator, aquele que se coloca diante da tela, a
logo no primeiro instante, uma mulher preta, forte, altiva participar da ação. Mas, entre o espaço virtual da tela e o
e com um olhar determinado. A cena, acentua a estética espaço da casa do espectador, é preciso jogar o jogo do
afrodiaspórica grafada no corpo preto feminino que afrouxamento da corporeidade, reconhecendo e
apresenta sua identidade nos cabelos, ao portar brincos aceitando a presentificação da sensorialidade de uma
confeccionados com penas da galinha d’angola e roupas outra forma. Na encruza entre o virtual e o real, o
com estampas recriadas do grafismo africano. espectador pode vivenciar um tempo alargado para
Executando movimentos energéticos, mergulhar na memória dos acontecimentos sociais e
potentes e simbólicos da dança afro-brasileira, ao som humanos. Mas ainda fica a pergunta: que mais essas
de um conjunto de tambores, a dançarina conduz um imagens nos dizem?
jogo que envolve os sentidos, ao produzir a presença do
corpo preto feminino em diferentes espaços de uma
comunidade, muitas vezes, tendo a paisagem da cidade
como fundo.
Nessas transições, o corpo, dançando em
locais mais iluminados e mais escuros, realça os
movimentos dos pés que, batendo de forma ritmada no
chão de barro, deixa claro um meio muito antigo de
comunicação e interação com os ancestrais e que na
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
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de novas maneiras de pensar, fazer e discutir combatemos o racismo nos defendendo e resistindo
repertórios com temáticas racistas, como esse a ele, como também o incorporamos no nosso
texto, por exemplo. trabalho, nas nossas relações, nos nossos afetos. A
A relação do cantor com a câmera é arte é política, é uma das formas de se fazer
direta, seu olhar nos confronta a todo tempo revolução, é a maneira como o artista se expressa.
juntamente à letra forte e real da música que exalta Dessa forma, é natural que as questões que
a beleza negra e se coloca como um grito de guerra atravessam o artista estejam vivas em suas
ao se intitular “resistência”. A lente é a ponte para a criações. Mas, trazendo para a configuração racial,
construção da ligação com o espectador. É especificamente das pessoas pretas, me pergunto:
estabelecido um diálogo quase palpável a partir das por que temos em nossos trabalhos, em sua maioria,
imagens que se misturam entre a performance do as mesmas narrativas? Por que além de viver o
cantor e cenas familiares que se apresentam racismo, temos que colocá-lo como foco do que
também na própria letra: a presença de um elenco produzimos? Ou será que pretos só possuem
todo não branco e as pautas raciais, sociais e do questões com a cor da sua pele, a falta de
movimento LGBTQIA+, presentes nas escolhas das oportunidade e o ódio por quem se é? Por que a
locações da cena como a periferia, por exemplo. maior parte do que é produzido artisticamente por
Imagens como a de um homem negro e gay com pretos está relacionado com a nossa luta? Pretas e
feridas nas costas, revelam uma analogia a história pretos se apaixonam. Pretas e pretos sofrem por
cristã de Jesus Cristo. Covas com cruzes, como num amor. Pretas e pretos se decepcionam. Pretas e
cemitério, levam o nome de corpos negros vítimas pretos descobrem novas formas de fazer o mesmo.
fatais da necropolítica, como a vereadora carioca Pretas e pretos se interessam por assuntos
Marielle Franco (1979-2018), brutalmente aleatórios. Pretas e pretos bebem. Pretas e pretos
assassinada. O clipe constrói uma narrativa que são felizes. Pretas e pretos possuem problemas
poderia até ser interpretada como sensacionalista, psicológicos. Pretas e pretos fazem grandes
se não fosse a realidade brutal da vida preta. descobertas. Pretas e pretos vivem!
Nossa sociedade estruturalmente racista
nos coloca nesse lugar: Falar sobre racismo.
Resistência — sobrevivência Aprendemos desde que nascemos a lutar. Resistir se
O racismo contido na estrutura da nossa romantizou. Me pergunto: estamos resistindo ou
sociedade obriga a comunidade negra a vivenciar o sobrevivendo? É cansativo levantar todos os dias e
ódio contra a sua cor em vários âmbitos. Não só saber que temos uma guerra diária para enfrentar.
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E caio no mesmo lugar, no paradoxo entre necessitar experiência pontual. Estar vivenciando esse período
usar a minha arte para conseguir viver e de não complexo em que me encontro, influenciou
aguentar mais viver para usar a arte como luta. diretamente na minha percepção, recepção e
Escrevo esse texto tomada pelas reflexão sobre temas que me afetam diretamente.
sensações que me perpassaram e ainda reverberam Esse texto materializa questões que me
fortemente no meu corpo. Corpo de uma mulher transcendem e que ganharam força ao assistir as
preta. E assim, julgo importante pontuar que todas Trilhas Digitais para a Dança. Fiquei muito feliz ao ver
os pensamentos transportados para esse texto, pesquisas de pessoas pretas. Sabemos que estamos
ocorreram simultaneamente com um processo de por toda parte, mas não são todos os lugares que
desgaste emocional e mental diante da atual ocupamos. Também sabemos que os artistas pretos
realidade que atinge o Brasil: Pandemia da COVID-19, existem, criam e pesquisam. Mas entendemos
milhares de mortos, escassez de recursos básicos igualmente que o espaço da academia ainda é muito
para a população, um governo despreparado e — o elitizado e que, apesar de atualmente encontrarmos
que mais tem me atravessado, apesar de não serem um maior número de pessoas não brancas ocupando
fatos inéditos, mas sim, infelizmente, mais do esse lugar, pretos ainda são minoria. Dessa forma, é
mesmo — uma explosão escancarada do genocídio muito emocionante reconhecer os meus e
do povo preto e pobre desse país. Entorpecida pelo identificar a abertura nos espaços de formação para
caos, o que me mantém viva, em todos os sentidos, as classes minorizadas, enaltecendo suas
é a arte. Especificamente a dança, que é o meu capacidades e dando voz para suas questões. Mas
trabalho, meu objeto de pesquisa, meu repouso e ao fazer uma análise geral, praticamente todos os
minha terapia. Dançar no meio da loucura me trabalhos de pessoas pretas, se não todos, estavam
mantém sã o suficiente para seguir em frente ou me associados à temática racial. O incômodo não é
mantém na loucura o bastante para encarar a produzirmos sobre, mas sim, pensar que o fazemos
realidade. E, é nesse contexto, que tenho buscado inseridos nessa estrutura que “não nos permite” (de
estar mais inserida na tentativa de não adoecer e, uma maneira bem sutil) falar de outros assuntos
quem sabe, me curar do que o mundo tem me além de nossa luta para nos mantermos vivos.
adoecido. Trata-se de um desgaste desmedido de
viver um ciclo vicioso, consequência do sistema
racista.
Estar em contato com os trabalhos
apresentados nas Trilhas Digitais para Dança foi uma
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um manifesto seja, uma nota principal, que também pode ser lida
como texto dramatúrgico, e, que é, efetivamente,
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Ver carta da equipe curatorial aberta à comunidade em: 11
Os trabalhos são classificados como dança audiovisual,
https://drive.google.com/file/d/1Rcw0s0WEHcP_AuKIrv06vaK videoclipe, documentário, live-performance ou plataforma
YfrwdzZqa/view, último acesso em 10 jul. 2021. digital.
12
Conforme informa os curadores sobre os critérios de seleção
das danças na carta aberta à comunidade supracitada.
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possíveis de combinação dos tons afins e dos tons a própria percepção sensorial do espaço interno (do
secundários os quais são derivados do tom corpo) e do externo (cômodos da casa), conforme a
fundamental. O arranjo da trilha faz-se por dois música que ela escuta com fones de ouvido. Como
conectivos (ou por duas notas), sendo eles, o recurso audiovisual, ela utiliza a alteração das cores
presídio e a liberdade, ambos estritamente das imagens, além de movimentos coreográficos da
relacionados à política, que atravessam tanto câmera combinados com cortes de edição. En la Piel
Liberdade como Átopos. (2020), de Valdemir de Oliveira & Odacy de Oliveira
Seguindo a trilha, o terceiro trabalho, o Sousa, é um devaneio das múltiplas formas
videoclipe Eu Sou (2020), de WD, é acima de tudo um geométricas possíveis que um corpo pode assumir
grito de afirmação da beleza negra. Extremamente pela distorção da imagem. Um corpo deformado,
engajado politicamente também pelas imagens que duplicado, recortado, dentre outras possibilidades.
nos fazem refletir sobre o número de homicídios de Chegamos na última dança audiovisual,
pessoas negras no Brasil. quase sem perceber — Tremor (2021), de Valéria
O quarto vídeo é uma sobreposição das Vicente & Dominique Rivoal. Essa traz algo
camadas anteriores, que nos leva ainda mais longe. enigmático, um corpo que treme ou vibra sem
Pretxs 3000 (2021), de Augusto Soledade, traz como enunciar ao certo o que o faz vibrar e o que vibra
temática a água, mas dá destaque a diversos com ele próximo. Ela remete-nos à incorporação dos
símbolos da cultura africana através das rituais afrodiaspóricos e assim Trilha #1 retoma o
vestimentas da movimentação dos intérpretes, que tom fundamental — a negritude.
se nota referência à capoeira, a pontos de gira de A Trilha Digital para Dança #1 é um
umbanda ou candomblé, ao hip-hop, entre outras manifesto!13
memórias incorporadas da afro-diáspora.
A seguir um espaço abre-se para duas
danças audiovisuais as quais circulam o eixo
fundamental da Trilha quase que emancipados. Na
essência, exploram os recursos do audiovisual, mas
poderiam ser uma viagem de LSD. Em Cyber Bo
Waack (2020), de Renata Riss, a intérprete joga com
13
Agradeço a Silvia Chalub e Sérgio Andrade pela dedicação.
Aos participantes do LabCrítica e em especial ao amigo Dr.
Renato Fabbri pela leitura minuciosa e pelas correções.
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necessárias articulados.
Junto às Trilhas Digitais para Dança, parte
Claudia Natalia Giraldo González
da programação do 6º Congresso ANDA 2021, achei
um espaço valioso de corpos em movimento, cheios
Assumir o desafio de escrever para o
de intenções. Compartilhar uma roda com pessoas
LabCrítica, a partir do meu lugar social hoje como
que praticam e pensam a performance e a dança a
mulher cis, branca-mestiça, migrante do e no Sul
partir de diferentes abordagens, técnicas e pontos
Global, classe trabalhadora, artista, e especialmente
de vista me deu motivação para ser espectadora e
dançarina, tem sido complexo principalmente por
leitora e, ao mesmo tempo, foi um estímulo para a
causa do contexto da pandemia. Nossos corpos
criatividade num ambiente onde percebi uma
estão confinados aos espaços das nossas casas,
grande abertura para discutir as nossas
aquela casa que é agora local de trabalho, de estudo
observações e ideias.
e de descanso. Corpos forçados a não tocar, a não ir
Contudo, devo dizer que pensei que seria
para a rua e que agora interagem através da sua
muito mais fácil o trabalho da escrita, mas esse
imagem captada e devolvida a uma tela, num
tempo de confinamento na pandemia é uma questão
espaço com quatro cantos de noventa graus, corpos
“doméstica” atual que não está separada das
aprisionados entre pequenos mediadores feitos de
nossas tarefas e ideais mais acadêmicos. Há muita
circuitos.
coisa acontecendo nos nossos corpos, corpos que
Complexo também devido ao meu
estão confinados e que se adaptam. Aqueles
estatuto de migrante, que exige que eu decodifique
mesmos corpos que também dançam. Apesar disso,
outra cultura, outra língua, outras formas de ser e
mesmo em confinamento, não conseguimos
de habitar o território. Embora a sociedade brasileira
escapar ao sistema de produção onde nossos corpos
tenha muitas semelhanças com a sociedade
estão a serviço do sistema econômico dominante
colombiana (da qual provenho), com o passar dos
que exige constantemente rapidez e produção para
meus poucos anos aqui tenho conseguido perceber
um mercado. O que é que produzimos agora e para
que no campo da arte é necessário ir além das
quem? Existe uma velocidade de produção que
semelhanças e que é importante compreender as
promove um mercado acelerado onde nossas casas
particularidades. Partindo deste lugar, quero dizer
e espaços de tranquilidade e de liberdade íntima
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foram invadidos pela ideia de produção, e também ser inesperado, desconfortável ou que cause
por preocupação e ansiedade, dependendo da perturbação. A partir daí, vamos observar uma
situação de cada pessoa, de cada corpo. Mas por que paisagem e um solo profanado e torturado,
menciono estas vicissitudes da vida quotidiana num passamos da admiração da beleza ao nojo, ao
texto que pretende ser uma crítica de dança? desapontamento. O vídeo avança e o que parecia ser
Porque o nosso presente é uma encruzilhada e a arte um elogio, uma exaltação a um abrigo natural,
não está separada da vida. consegue, ao capturar estes objetos intrusivos,
É precisamente no meio dessa causar uma sensação de impotência. Surgem cada
encruzilhada da vida que gostaria de destacar a vez mais plásticos na pintura, objetos estranhos,
obra Manguedança (2019) do projeto Corpos indesejáveis. A performer que antes brincava com
Telúricos da UFRJ, que fez parte das Trilhas Digitais árvores e areia, agora também habita aquele espaço
para Dança, durante a programação do 6º Congresso com o lixo acumulado que se mistura à matéria
ANDA 2021. O vídeo abre com um quadro em que orgânica.
vemos uma paisagem, um mangue, há uma mulher Nesta dança audiovisual, a vida é
naquele lugar que emana um estado de encurralada e o seu espaço invadido pelo lixo;
contemplação e prazer. Água e galhos de árvores resíduo que antes, em algum período da sua história,
induzem a um estado de tranquilidade com aquele fez parte da cadeia de produção. Aqui, pude ver o
nicho da natureza, a continuidade das imagens dá poder da obra e refletir sobre o seu propósito. Nós,
uma importância às texturas que a vida torna pessoas, temos uma esperança de vida que é
possível naquele lugar. geralmente inferior a um século, mas a velocidade e
Assim que nossa mente começa a ficar a forma como vivemos essas vidas estão a deixar
confortável na transmissão da cena, começam a ser vestígios (produções) que tornam outras vidas
mostrados alguns objetos e peças facilmente impossíveis no presente e no futuro. A peça levanta
reconhecíveis, lixo. Pedaços de plástico, de uma questão muito importante, pelo menos pra
diferentes tipos, garrafas, tampas de garrafas, mim: É a vida viável hoje? E se a vida não é possível
pedaços de origem irreconhecível, tudo misturado e sem o bem-estar e saúde dos seus ambientes, seus
deslocado. Aqui o trabalho introduz o que pretendo solos e suas raízes, como seria a arte possível num
chamar de momento de irrupção. Refiro-me ao mundo de não futuro para a vida?
instante em que um elemento entra em nosso Este vídeo é um material importante para
princípio de realidade, nos nossos espaços a discussão urgente que temos que fazer desde
contemplativos, sagrados e sublimes; algo que pode todos os campos do conhecimento, especialmente
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daqueles campos que foram insensíveis à dizer que estes são os tipos de danças e atuações
materialidade e à corporeidade da natureza, mas que estão por vir, com temas que rompem tal
que obtiveram dela as suas matérias-primas. Como paradigma e que se preocupam com a defesa da
é que tudo isto atinge aqueles de nós que atuam em vida. Tomara venham danças mais resilientes, mais
um palco ou num espaço cénico? comunitárias. Precisamos treinar os nossos corpos
Embora a arte tenha na sua história para estarem prontos para dançá-las.
explorado a beleza da mata, da floresta e dos
espaços naturais em geral, hoje as artes parecem
estar chegando, de forma muito tímida, à criação de
outras propostas, a outro desenho no campo da
arte. Por esse motivo, eu quis destacar este
trabalho como um texto poético, ecopoético, de
uma realidade caótica. Não basta procurar incluir
pautas e identidades sociais, que obviamente são
importantes e necessárias – eu mesma como
migrante luto por elas –, mas é preciso ao mesmo
tempo compreender que tudo isto só será possível
em territórios e num planeta capazes de sustentar
a vida. Haverá vida em abundância na medida em
que conseguirmos respeitar e reconhecer a
corporeidade da natureza e vê-la como sujeita de
direitos. Este é um tema vital e central para as obras
de arte e para os artistas.
A obra Manguedança (2019), do projeto
Corpos Telúricos da UFRJ, estimula as/os artistas a
revelar a capacidade autodestrutiva da sociedade
ocidental, para assim talvez evitar acabar como
cadáveres afogados na sua própria linha de
produção compulsiva. Corpos envoltos em plástico,
junto às nossas próprias montanhas de lixo, como
bem ilustra a imagem final do vídeo. Atrevo-me a
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
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Trilhas digitais para Dança fez parte do 6º Congresso ANDA – ano foram apresentados 30 trabalhos, organizados em cinco
2ª Edição Virtual. Uma programação de pesquisas e trilhas compostas de danças audiovisuais, documentários,
experimentos artísticos de dança em mídias digitais. Nesse live-performances e plataformas digitais.
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articulação sensorial. Enquanto espaço de escrita, esquinas da vida. São uma multidão de corpos que
no meu caso elas potencializam o desafio de refletir se aglomeram nas UPAS e hospitais diante de um
e interpretar sobre o que está sendo apresentado número que notifica somente alguns corpos. Se
correlacionando a essa atual situação. pararmos para pensar, números existem, porém se
Durante a apreciação um subtexto se fez formos nos guiar pelo que está sendo dimensionado,
presente. Momentos de instabilidades, incertezas e estaremos de fato cometendo um terrível erro, face
motivos que nos deixaram/deixam em alguns às desigualdades que atravessam nosso país.
momentos incertos para onde seguirmos (pausa). A Quando as cores começam a mudar, o
presença nas telas, o distanciamento físico, as tonalizar da cena, me faz refletir em relação à
mortes, os cenários confusos, e os efeitos que nos complexidade de uma investigação que compõem
causaram e causam, não são suficientes para esse fazer artístico e seus entrelaçamentos de
desistirmos (pausa). Na continuação as cenas se vida-morte-vida. Retomo a primeira imagem, e
fazem potência para continuar, inicialmente com lembro-me do olhar daquele corpo me direcionando
dúvidas sobre esse processo de vida que quase nos a pensar questões relativas a corpos não binários,
destruiu, mas isso foi se transformando e geralmente sacrificados por serem minoritários.
produzindo bons encontros, inclusive testando Minha referência é Madonna, mesmo existindo
nossa capacidade de adaptação. Reflito sobre outras referências mais atuais, sua capacidade
experiências passadas e logo penso, ao inventiva e articulada politicamente me remete a
aumentarmos nossas ações aqui e acolá, essa cena, para que possamos pensar determinadas
partilhando, inventando, aproximando, tensionando normatividades insistentes e sua busca em romper
e tecendo afetos/encontros nesse ambiente, estereótipos estigmatizados e cheios de poeira.
podemos ver e sentir a importância de um agir O artista nas telas maquiado de azul (pode
consciente e coletivo nos impelindo a desejar novos ser como ele olha o mar, a vida, as pessoas ou como
atravessamentos, e outros modos de existir ou eu vejo o mar) parece querer relacionar seu
re(existir). cotidiano com cores “diversas” ou talvez um
Logo após, aparece uma imagem que me recurso para pensar questões de gênero e
faz referência a um empacotamento. Pouco depois sexualidade, pois o figurino que veste e reveste
o corpo tonalizado de vermelho, lembra-me do também em alguns momentos, nos remete a um(a)
encharcamento de informações diárias que aparece bailarina em uma caixinha de música, uma discussão
na TV e em redes sociais, e o quanto eu “vejo” gente que avança quando pensamos o que Boaventura de
sendo empacotada aos montes e diariamente nas Souza Santos (2019) cita quando a continuidade da
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dominação segrega um senso comum capitalista, relação as suas imagens), como provocação, ícone
racista e sexista que serve as forças de direita, até da cultura, ou pop. Não entendo sua imagem
porque é reproduzido incessantemente por grande distante de uma crítica às reflexões de vida. Se nos
parte da opinião pública e pelas redes sociais. aproximarmos de sua história pessoal, iremos
Trazer a questão de gênero para essa perceber que seu caminho durante um período foi
discussão seja necessário e pontual. A imagem apresentando temas como sexualidade, mas
disforme com o plástico que parece sufocar e o continua presente em todos os seus atuais
corpo intensifica um estado de aprisionamento e momentos artísticos, mesmo sendo apreciada como
nos remete o quanto precisamos nos adentrar produto, “rainha pop”, ou da linha da
nessas discussões e partilhar, apoiar e intensificar espetacularização. E com isso, retorno a outro
uma luta em comum. Pensando em quantas mortes momento, quando os giros se intensificam. O que
diárias somos notificados, pois o vermelho que emerge enquanto espectador como crítico é uma
aparece recorrente também lembra o sangue sensação de cansaço com tantos discursos de
desses corpos sacrificados e as carnes penduradas aparência e pouco engajamento de si e do outro.
nos açougues, envolvida em plástico filme, prontas Um corpo que dança produz também
para serem vendidas nos mercados a qualquer emoções (fiquei abafada em alguns momentos) a
preço. Não é qualquer carne, mas uma carne que se partir das imagens codificadas, afinal o plástico
apresenta colorida, diversa, transvestida, mesmo já sendo usado em produções artísticas me
maquiada. O que isso pode significar? Todas as faz pensar em insubmissão dos corpos, mais que
materialidades ali geradas nos convocam a cair e tremer, uma ode a reflexão para o reexistir a
tencionar um sentimento de cumplicidade, para que partir de um desejo coletivo, sendo unos. A
vidas geradas possam continuar seguindo, possibilidade desse espaço como produção de
existindo, reivindicando. Inicialmente com a cor afetos é um convite a se pensar politicamente e
vermelha, observo e intersecciono com uma decidir sobre o que queremos para nós, afinal
placenta que gera vida, continuidade, uma estamos todos vivendo juntos, mais juntos do que
convocação em conjunto para viver, na luta contra nunca, mesmo estando separados.
a morte que nos circunda na atualidade. Trago
Referências
Madonna novamente para pensar sobre essas KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São
Paulo: Companhia das letras, 2019
políticas de vida. Ao dar sentido nas imagens que ela
nos apresenta (entendo que algumas pessoas SOUZA SANTOS, Boaventura. Boaventura: Descolonizar o
saber e o poder. Disponível em:
podem divergir sobre a subversividade ou não em https://outraspalavras.net/crise-civilizatoria/descolonizar-o-
saber-e-o-poder, último acesso em 21 jun. 2021.
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
obra e da obra
como um desejo do que poderia ser também a obra
Corpo dentro17 (2021), de NaíseS Costa (PA), se ela
no corpo?15
tivesse um pouco mais de recursos, materiais e
tempo18.
Iara Sales Uma brincadeira com um plástico e um
convite ruído que acontece pontualmente no início
Meus olhos me traem ou estão apenas
de Ocean é onda do mar. Para além disso, Isidro está
cansados. Exaustos de tanta luz azul. Fruto de um
submerso em seu próprio oceano, em seus
habitar a vida em contexto pandêmico onde a
experimentos entre corpo e a relação, investigação
sociabilização, as demandas de trabalho, o lazer e a
com o objeto (plástico) enquanto veste. Um corpo
diversão estão quase todos dentro de uma tela, de
entre, um corpo dentro, um corpo coisa. Um corpo
algum dispositivo eletrônico, alcançados por um
dentro, uma luz vermelha, um som que lembra o de
clique e por um corpo curvado de olhos embaçados.
“ruído branco”19, me leva diretamente ao imaginário
É neste contexto possível que assisto às Trilhas
do útero materno, da placenta. Do ser dentro,
15
“Incorporação do corpo na obra e da obra no corpo” aqui faz conversarmos sobre o seu processo criativo, ela pariu o seu
alusão a frase de Hélio Oiticica, proferida pelo artista na filho, não tendo a oportunidade de refazer a experimentação a
entrevista A arte penetrável de Hélio Oiticica, de Ivan Cardoso, partir das orientaçõesartísticas e sugestões técnicas
para a Folha de S. Paulo, em 16/11/1985. Cf. OITICICA, 1985 apud recebidas. E por um desejo forte meu e dela, de que ela
in JACQUES, 2003, p.29. participasse da exposição (mesmo em puerpério) e finalizasse
16
Ocean (2021), esteve presente na curadoria das Trilhas o ciclo e processo da residência com a criação de uma obra
Digitais para Dança, dentro da programação da ANDA 2021. artística, eu e Thaís Lima (assessora de imagens), finalizamos
17
Corpo Dentro (2021), de NaíseS Costa (PA), pode ser visto o vídeo com o material teste que existia, tornando-o a obra
dentro da exposição permanente Mãe-Artista ou Artista-Mãe?, Corpo dentro (2021).
através do link: 19
Ruído branco trata-se de um sinal sonoro que contém todas
https://maeartistadanca.46graus.com/crias/corpo-dentro/ as frequências na mesma potência, comumente utilizado para
18
O vídeo de NaíseS Costa, foi criado a partir de um vídeo teste facilitar o sono tanto dos bebês quanto de adultos. Um ruído
experimento feito por ela e seu primo para materializar a sua branco pode ser, por exemplo, o som contínuo de um ventilador
ideia e mostrar para mim, orientadora artística e para as duas ligado. E para os bebês, já existem várias "sonoridades",
assessoras artísticas do projeto de residência artística Mãe- disponíveis na internet, que lembram o som "natural" do útero
Artista ou Artista-Mãe?. Poucos dias após mostrar o vídeo e materno, por exemplo.
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
submerso dentro do seu primeiro oceano, entre Ocean, entrelaçada à questões pertencentes ao
fluidos, sangue e vida. conjunto de "antiobras de artes"21Parangolés(1964-
É perceptível a investigação do artista 1979), de Hélio Oiticica (RJ).
com o objeto enquanto vestimenta, da vestimenta
enquanto corpo ou prótese. Há deleite sensorial e Os Parangolés são capas, tendas e
estandartes, mas sobretudo capas, que
gestos simples. Assistindo Ocean nas Trilhas vão incorporar literalmente as três
influências da favela que Oiticica acabava
Digitais, tenho a impressão de que se trata de uma de descobrir: a influência do samba, uma
vez que os Parangolés eram para ser
investigação do “deleite pelo deleite” do uso do vestidos, usados e, de preferência, o
objeto plástico ou da vestimenta enquanto corpo. E participante deveria dançar com eles; a
influência da ideia de coletividade
me pergunto se o artista tem como mote aguçar a anônima, incorporada na comunidade da
Mangueira: com os Parangolés, os
nossa sensorialidade como faziam os Parangolés, de espectadores passavam a ser
participantes da obra e – diga-se – a ideia
Hélio Oiticica, ou os objetos sensoriais de Lygia Clark. de participação do espectador encontrou
aí toda sua força; e a influência da
Depois da descoberta em coletivo, arquitetura das favelas, que pode ser
durante os encontros da imersão LabCrítica e resumida na própria ideia de abrigar, uma
vez que os Parangolés abrigam
posteriormente ao ler a sinopse20 da obra, de que de efetivamente e, ao mesmo tempo, de
forma mínima, os que com eles estão
fato o artista estava a investigar os trabalhos de vestidos (JACQUES,2003, p.29).
20
Sinopse da obra: Ocean, é uma videodança experimental e dança de plástico transita entre o visceral e o artificial, escorre
integra o projeto de pesquisa de iniciação científica "Corpo, pela pele e se afunda nas águas de um corpo mareado.
movimento e visualidade: um processo híbrido de criação em 21
Maneira como o artista Hélio Oiticica considerava a série
dança contemporânea", com orientação de Juliana Moraes. (obras) Parangolés (1964-1979) - in https://mam.rio/obras-de-
Atravessada pelo trabalho de Lygia Clark e Hélio Oiticica, essa arte/parangoles-1964-1979/ (acesso em 23 de junho de 2021).
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
caráter político muito forte, pressupõem uma JACQUES, Paola Berenstein. Estética da ginga: a
arquitetura das favelas através da obra de Hélio Oiticica. Rio
manifestação cultural coletiva, carregam sempre de Janeiro: Casa da palavra, 2003.
em sua “dança” um tom de denúncia e as “capas” TEIXEIRA, Amanda Gatinho. “Um olhar sobre a poética dos
estão quase sempre demarcadas com frases de parangolés de Hélio Oiticica” In Arteriais - Revista do
Programa de Pós-Gradução em Artes, [S.l.], p. 51-59,
conteúdo-denúncia extremamente crítico e ago. 2017. ISSN 2446-5356. Disponível em:
<https://periodicos.ufpa.br/index.php/ppgartes/article/view/
politizado. 4863>. Acesso em: 11 jul. 2021. doi:
http://dx.doi.org/10.18542/arteriais.v3i4.4863.
Os Parangolés são de fato fascinantes e
por serem tão fascinantes e mais que isso, uma obra
bastante disseminada, muitas vezes os artistas que
fazem referências a essa obra, nem sempre tocam
em todas as camadas que ela opera. No caso de
Ocean, traçando um paralelo, as camadas que ficam
perceptíveis são a sensorial, possivelmente
inspirada pelo corpo-dança que os Parangolés
proporcionam; a investida nos materiais e a
plasticidade de um corpo coisa.
Enquanto espectadora, narro o que assisti
a partir das minhas próprias referências, então vi
vida morte e vida. Vi um corpo dentro de uma
placenta, vi um corpo sufocando com falta de ar e vi
também experimentações do objeto enquanto
corpo. E num anseio por poesia, vejo a profundidade
que o título Ocean carrega.
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
com a terra, dançando sobre ela inicia o filme, — “Ô abertura em todo o chão. Elas entendem sobre as
Estella!” Em seguida, vemos um barco navegando e marés, brincam de saber e de se envolver com o
batendo sobre uma maré suave... é a carta de mar, dão risada quando ele, o mar, as engana.
documentário de Andréia Oliveira, Berg Kardy e Lara marisco, da terra, da areia. Outra relação do tempo
Rodrigues Machado, nos conta sobre a memória da com o mar... precisa esperar a natureza dar! Tem dia
festa que se faz presente no corpo. Gravado em que o mar não quer, a maré não desce ou fica
Salinas das Margaridas, cidade do interior da Bahia, perigoso se arriscar, então melhor confiar na
a obra retrata o cotidiano, a vida e a lida de mulheres natureza e aguardar o que ela pode dar. Mais do que
marisqueiras. Esse lugar, lugar de resistência da dependência, é respeito à grande mãe que alimenta.
dessa força de captura para se tornar corpo, que interior e que fala da festa, que ainda observa em
como a morte alimenta de alguma forma o corpo ao sua rua, no seu portão a festa que ficou em seu
longo da vida. Me recordo também do corpo ancião, corpo. Conta ela, contos de gente de verdade. Toda
da força da cabeça, da cabaça que é mais difícil de vez que vejo gente, me lembro do que é ser gente,
quebrar. Como a cabeça engatilha a encarnação de me lembro do fogo e do afago que vive e mora
um corpo todo e produz pela memória, afeto, dentro de gente, e que mesmo com tudo que se
emoção, trabalho e festa, a vida? passa, ainda me recorda o quão bonito pode ser—ser
com a energia do feminino em religiões de matrizes Quando Dona Xôxa, senta-se na beirada da
africanas. Especificamente, Iemanjá, considerada a rua, lá na Bahia, pra poder falar ou ver a vida, me
rainha das águas, protetora dos pescadores, dona lembra uma prática muito comum no subúrbio
107
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
carioca no verão: todo mundo se senta na calçada mainha. Essa senhora, especificamente ela por
da porta por não aguentar o calor de casa; ligam as todas suas características, me remete a encantada
mangueiras, tem cerveja, as crianças são da linha de Nanã Buruquê. Essas matriarcas
autorizadas a ficar na rua. Essa prática me lembra parecem encarnar a força dos encantos dessas
do que é ser gente e de como essa gente é em meio orixás, desses encantos que são fonte de energia e
a tudo. É como se a experiência de proximidade ao fé. São como Nanã, orixá da sabedoria, dos portais
sentir o calor do chão do asfalto quente do subúrbio de entrada e saída deste plano para o outro, da
sempre nos identificasse. A rua é o lugar do energia da transformação e da criação, da junção da
encontro e o lugar da festa que a Dona Xôxa conta; é terra e da água, para dar sentido à vida e a moldam
onde circulam seres e seus saberes em atitude de de um jeito que caiba a sua forma. Uma sabedoria de
pertença. Ela fala de festa e, pelo rito, ela pertence corpo, sabedoria de gente.
a sua própria noção de identidade comunitária. Estella nos faz olhar para esse olhar para
Andreia, umas das realizadoras e também o chão como sustento, para essa posição invertida,
personagem do documentário, usa canto e conto, que já inverte a lógica da existência e que puxa da
passa a mão rente ao corpo molhando a pele. A cena terra para nutrir. Em tela, mulheres mantenedoras
me faz lembrar. Com ela, já me vem o cheiro de sal, dos seus espaços e de sua economia. Mulheres
a pele salgada, o sal esquecido na pele e a maresia negras, gordas, e anciãs da sabedoria, da pesca, do
no nariz. E também o quanto da terra, do chão se corte, da maré, do mar a mar. O barulho d’água,
transforma em energia, cura e alimento. O cenário delas mexendo no marisco, lavando o marisco,
sempre seco fala que na secura mora o encanto que abrindo chão, a pequena foice de ferro raspando o
encontra a mão das matriarcas. O mar some, risca- chão, nesse movimento de sacolejar, sacolejando a
se o chão e encanta a comida, ainda suja, que, com própria vida e os olhares da gente. E a meiota de
a ajuda da água doce e corrente, torna-se também mar, estar no meio do mar, de maré pra lá e pra cá,
sustento. O mar se encantando na mão de mulheres pra estar ali precisa saber, se não a maré engole. A
que zelam por ele e tem ali, o dom, ou a necessidade risada do saber da ancestralidade, que não está no
de transformar. livro, e só dá para escutar nesse corpo.
Dona Lucia, também marisqueira, uma Existe um momento, entre cenas, que
mulher retinta, seios fartos e uma blusa lilás, aparece a festa que Dona Xôxa parece falar, entre as
caminha sob as águas com seu balde na cabeça; ruas com chão de terra batida. Um grupo sai em
caminha e ri, parece que acha graça de ser filmada, cortejo e, pela presença dos palhaços, me soa como
ela avisa para quem filma que vai à casa de sua uma Folia de Reis, outras pessoas seguindo o grupo
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
Uma camada vibracional que possui produção filtra a imagem para evidenciar o high
implica na ecologia (exaurida) que o globo terrestre Se estamos a fruir danças audiovisuais,
vem testemunhando a partir das extrações dos como internautas, podemos reconhecer escolhas e
componentes orgânicos que nela compõem e se fez os acasos — quando aparecem — que compõem as
emergir. Se em uma pandemia contemporânea a nós 30 danças audiovisuais das Trilhas Digitais. Falo aqui
[e é a partir dessa situação que escrevo este texto] de imagens turvas, oscilações sonoras, no modo on-
reconheço-me como um agente que interfere e line, com ecos repetitivos e decadentes que podem,
compõe os lugares e espaços que meu corpo passa, inclusive, ser escolha política (como é político?) de
ou permanece, sinto uma característica no agir de um(a) autor(a)(e) que decide reconhecer esses
heterotopias, que é modular a alteridade entre ruídos e apresentá-los como parte de suas
organismos vivos e suas relações com os objetos dramaturgias coreográficas no audiovisual. Além da
casualidades temos as Trilhas Digitais para provoca a pensar por qual dispositivo foi feita essa
experimentos (!) artísticos em dança, como parte do (político?), o aparelho celular como dispositivo de
experiência de fruição das danças audiovisuais desempenho, tem uma resolução de imagem baixa.
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
Classe baixa (político?). Nesse sentido, elaborar precariedade socioeconômica que atinge o sistema
perguntas nas obras artísticas que são exibidas em da arte, com condições de trabalhos similares à
redes virtuais de socialização, passa também pelo terceirização para a produção artística que vai
interesse na resolução de imagens. compor a programação das instituições de arte e
cultura. Agora me identifico (política?), suspendo,
... Nossa realidade tem sido tão turva. rejeito, turvo-me, nego, estou, fico, avesso me
afundo, me esqueço, não respiro, não pisco o olhar,
As hipóteses de mundos nas obras são estou no real, e a hipótese ali apresentada foi
sempre eficazes, uma vez que estabelece elaborada por uma humanidade (isso é político?).
encontros (para lembrar de Ailton Krenak que nos Podemos perceber em alguns segundos
apresenta a possibilidade de pensar criticamente a e/ou minutos de frames dispersos pelas Trilhas, os
existência do encontro de mundos). Desse encontro, acasos com as imagens turvas e ruidosas em:
temos a experiência, e ela sendo um dos interesses Pretxs 3000 (2021), de Augusto Soledade, que nos
na arte, estamos em um ambiente complexo para a possibilita ver corpxs pretxs prontxs para mergulhar
nossa cognição. Assim sendo, como internauta e em em infinito; Cyber Bo Waack (2020) de Renata Riss,
contato com as obras audiovisuais, mediado por um que experimenta realidades em domicílio; em Ocean
repertório de diversas mídias como cinema, TV, (2021), de Victor Isidro Lopes, que ao envolver o seu
outdoor, lambes, de vídeos e imagens, sempre corpo de plásticos, sugere sufoco, mas também
interessada na nitidez técnica, antecipo o meu uma crítica sobre as camadas artificiais que nos
encontro (sempre que vejo uma obra audiovisual já compõe; em D = m/V (2021), de Samuel Leandro, que
espero uma “boa” resolução?) com essa resolução dança como que imagina uma casa galáxia; em
bem focada, bem enquadrada, bem nítida, com Mosaico de Banha e Pixel, Ep. 1 (2021), de Jussara
transições lentas e imperceptíveis. Mas Belchior & André Luiz do Carmo, que questiona o
encontramos alguns riscos nessa antecipação, imaginário sobre todoo corpo vir a se tornar gordo
como na escolha (política?) contra essa resolução. por conta da necessidade de estarmos em casa
Câmera no corpo. Penso no dispositivo como prevenção contra a COVID-19; e em Dança e
celular, em casa, acoplado ao corpo, sendo a sua Imagem Sonora (2021), de Thiago de Souza, que na
extensão. Um movimento. R a s t r o s riscando a tela. experiência de transmissão teve ruído e oscilações
Nesse momento, as obras mediam o em sua reprodução, com eco e sobreposições
encontro do meu repertório pré-estabelecido e me sonoras, compondo mais uma camada de
aproximam das experimentações em videoarte, e da apreciação do trabalho.
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
Sou flechada por uma lembrança do retomo a tarefa de escrever após ser flechada por
passado. Frase/tema de abertura de Ao Passo que o duas obras audiovisuais Ao Passo que o Tempo
Tempo Passa (2020) 22, de Isabella Serricella e Diego Passa (2020), de Isabella Serricella e Diego Avila e
Avila. O audiovisual traduz o tempo pandêmico Gestos para Nada (2021)23, de Beatriz Veneu.
enunciado na trama entre dança e fala. Da No primeiro, Ao Passo que o Tempo Passa
experiência de assistir compartilho impressões mostra uma mulher jovem branca e um homem
agenciadas acerca da forma em que a dança e os jovem negro dançando em diferentes espaços ao
relatos falados produziram reverberações. Como som de seus próprios registros de voz. Ao assistir
habitamos mundos virtuais de sentido? Quais percebi que a presença de uma voz feminina e uma
danças estão por vir? Nos provocava em seu título o masculina indica que podem se referir aos bailarinos
sexto congresso científico da ANDA neste ano. Ao que aparecem dançando no vídeo, mas na ficha
Passo que o Tempo Passa produz paisagens sonoras técnica aparece a informação de que os relatos
e imagéticas. Minha atenção se dividiu entre o que é foram compostos por vinte e três pessoas. Esse
visto e naquilo que é ouvido. As falas e a dança são dado permitiu pensar na presença de memórias e
duas presenças e diferentes formas de articular lembranças de mais depoimentos do que apenas os
depoimentos de passado, futuro e presente. Ingold dos protagonistas da cena, mesmo na ausência
(2008) afirmava que por meio das atividades dessas outras vozes em áudio no vídeo.
corporais de olhar e escutar acionamos sensações Que temas aparecem? Data de morte do
distintas, de um tipo através dos olhos, e de outro, pai, dia de jogo de futebol, pensamentos sobre
pelos orifícios dos ouvidos. A experiência sensorial é racismo, sobre a dança, embora a frase inicial
nosso único acesso aos conhecimentos do mundo. colocada no vídeo indague sobre o passado
Não existe nem real e nem virtual. O que há são aparecem questionamentos sobre o futuro de
nossas representações e as obtemos via nossas diversas formas e também no modo interrogativo.
percepções. E, sinceramente estou cansada de Temas sobre a faculdade, sobre fazer mestrado,
tanta invasão virtual. Meus olhos e meus ouvidos sobre não saber o que fazer e não saber como vai
não aguentam mais dar atenção a tanta informação. ser o futuro. Aliás as questões acerca do futuro
Num esforço de compartilhar tumultos sensoriais parecem ser devolvidas a quem assiste porque
22
Audiovisual apresentado nas Trilhas Digitais para a Dança 5
no dia 4 de junho de 2021 às 11h45 pelo Portal Anda na
plataforma do Youtube.
23
Audiovisual apresentado nas Trilhas Digitais para a Dança 2
no dia 02 de junho de 2021 às 18h pelo Portal Anda na
plataforma do Youtube.
114
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
emociono, mas o principal, estou presente. A mortes pela Covid-19. Sou um pouco a Beatriz sem
escolha de gravar o vídeo em preto e branco rosto transitando por estados sensório-motores
contrasta com a luxúria colorida de Ao Passo que o distintos e conflitantes. Sim Beatriz, eu sou também
Tempo Passa, dedicado a mostrar quase toda a o seu cabelo solto jogado na cara. Sou esse cabelão
paleta de cores possíveis. Sem exuberância e sem tapando a face. O cabelo é materialidade ativa em
trocas de figurino, apenas num traje preto, a seu solo, responsável por encobrir e esconder a cara
imagem de Beatriz em Gestos para Nada foi para evidenciar as impossibilidades e as incertezas
registrada no centro da tela do celular entre duas do momento atual.
tarjas pretas, efeito alcançado pelo gravação na Termino esse testemunho descrevendo
vertical. Simplicidade, economia. Logo salta a ideia minha posição no espaço em relação às danças para
de redução do espaço. Beatriz está o tempo inteiro a tela visualizadas no momento pandêmico. Após as
sentada no mesmo sofá. Uma presença no vídeo duas experiências de assistir aos vídeos de dança
feito em casa durante o interminável confinamento. com o mesmo tema, aqui do outro lado do monitor
Gravação caseira. Volto a plataforma YouTube e estou sentada na cadeira em frente ao meu
clico no play para assistir novamente o vídeo/solo, computador, local no qual passa/passagem/passo a
uma, duas, talvez cinco vezes. Ainda escavo maior parte do tempo paralisada. Meu corpo se
impressões. Nossa, como o simples penetra fundo. restringe ao rosto/cabeça. As atividades físicas
Me coloco na tarefa proposta por Ingold (2008) ver é mais praticadas são ouvir e ver. Da cabeça para
uma coisa separada de ouvir. Se tratam de baixo permaneço de pernas cruzadas, uma delas
estímulos sensórios distintos, se colocados juntos insiste em balançar enquanto viajo no pensamento
podem poluir, redundar, pesar. Percebo ausência de para outros estados que também são corpo e dança.
música durante boa parte do depoimento de Beatriz. A chance de expandir minhas presenças no espaço
No final há música e posso ler as frases escritas na reduzido e isolado foi um presente dado pelo
tela. A presença é estado. Tenho a sensação de audiovisual de Beatriz Veneu. Sou grata por poder
estar lá. As fotografias em sequência no vídeo ter estado junto e por ter acesso ao que me resta no
sugerem passagens por estados corpóreos. Os aqui e agora.
cabelos no rosto estão presentes durante boa parte Lancei um olhar para a trança feita de
do audiovisual. Penso na potência que tem o que passagens entre passado, presente e futuro.
apenas sugere, a eficácia daquilo que não é Identifiquei nos audiovisuais escolhidos para
mostrado. Ao isolar a imagem do rosto é ampliada a dissecar a presença enquanto passagem. A
ideia de ausência, sem rosto viramos estatística de presença no presente incitou passagens por
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
Audiovisuais Comentados
Ao Passo que o Tempo Passa (Rio de Janeiro | 2020 |
10’). Idealização: Isabella Serricella e Diego Avila.
Direção de movimento: Anna Clara Franco. Edição de
áudio e vídeo: Diego Avila. Assistente de edição de
vídeo: Gabriel Rochlin. Intérpretes: Isabella Serricella
e Lucas Santana. Câmera: Natália Cirito. Relatos:
Anna Clara Franco, Ana Luiza Gonçalves, Bia Perez,
Carol Maciel, Cuini da Silva, Diego Avila, Dinis Zanotto,
Guilherme Soifer, Isabella Serricella, João Gabriel
Mandolini, João Mandarino, Juliana Fogel, Juliana
Moulin, Larissa Lopes, Luana Valentim, Lucas
Santana, Matheus Macena, Pedro Quaresma, Rafaela
Durovi, Rebeca Goldoni, Samuel Valladares, Sofia
Dietmann e Thauan El Pavuna. Rio de Janeiro/RJ.
Referências
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
e o fora,
Os trabalhos apresentados este ano nas
Trilhas Digitais remetem a um sistema de
a existência
existências interligadas, que emergem das
condições impostas pela pandemia e nos convidam
grita por
a contatar com mundos diferentes que reagem de
formas diferentes ao imposto pelo vírus nefasto.
24
Umwelt é o processo vital, sistema coerente em que sujeito 25
Documentário da Cia Fragmento de Dança, apresentado em
e objeto se definem como elementos inter-relacionados em Trilhas Digitais para Dança, no 6º Congresso ANDA 2021 – 2ª Ed.
um todo maior” Jakob von UexKüll (1988). Virtual, dia 02/06/2021.
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
produtores, plateia — a dramaturgia toma corpo e a jogar os cabelos para frente e para trás, numa
mágica acontece, o verbo se faz movimento e sequência freneticamente incômoda... Como ficar
habita aquele espaço quando as palavras já não dão alheia a tudo isso? Como não relacionar o espaço
conta de expressar o que se quer dizer. Elas então cênico ao espaço real, quando nos vemos
materializam-se em corpo-movimento, e assim, aprisionados pelo vírus nefasto assim como a
somente assim, dizem o que vai no íntimo dos intérprete está presa ao espaço reduzido daquele
partícipes deste da experiência estética. móvel da sala? Ações dementes geram forte reação
Por ser ambientado em uma sala de no espectador e nos remetem à dor, morte. E o que
ensaio, tudo parece íntimo, subjetivo, interno, como dizer de nós?... nós permanecemos27.
se as vozes quisessem romper o espaço-tempo e se Em meet.com/hjz-htcc-hfs (2020)28, de
libertar do invólucro em que se encontravam, seja Tainá Barreto, Tatiana Devos Gentile e Viviane Reis o
das máscaras, seja do ambiente fechado, da câmera vai e vem do corpo quando reage ao balanço do
que capta o instante expressivo. objeto côncavo estimula um jogo de estabilidade-
Neste ínterim, como se fosse um devaneio desestabilidade que nos leva a sensações de
pessoal, Gestos para Nada (2021)26, de Beatriz Veneu, libertação espaço-corporal, tão necessárias para a
complementa o estado dos corpos dantes respiração, para a vida; ao buscar o equilíbrio as
observados em Amor Mundi (2020), num diálogo com intérpretes hora parecem estar flutuando, hora
o umwelt pessoal, que ao relacionar-se com o parecem que poderão cair a qualquer momento.
exterior, introjeta a dor, o incômodo do isolamento, Aquele objeto côncavo se torna o umwelt onde toda
a solidão nos verbos corporais, situação que pode a cena se desenrola, até que outros ambientes
ser observada quando a narradora verbaliza que surgem, levando o espectador à experiência
“[...] quatro mil, cento e noventa mortos em 24 estética -sentidos, olhares, escutas se aguçam para
horas... isolamento social, imunidade, gestos para perceberem a ação cênica.
nada, gestos sem propósito, pandemia, suspensão, Assim, o corpo move-se, flutua, numa
contágio, retenção, casa, fica quieta, dança que transforma ambientes em estado de
repetição...[...]”, e ao mesmo tempo o corpo pertença e de presença, numa fluência onipresente
aprisionado no sofá em movimentos repetitivos, o
26
Dança audiovisual apresentada em Trilhas Digitais para el viejo romance, ‘yo permanezco...’ salto del seis al veinte, y al
Dança, no 6º Congresso ANDA 2021 – 2ª Ed. Virtual, dia treinta y al uno del mes, ¡nada! Sigo aquí, como me ven
02/06/2021. ustedes. [...]”.
27
Como diz Lorca (1934) em seu discurso em Buenos Aires “[...] 28
Filme apresentado em Trilhas Digitais para Dança, no 6º
Pasan días, pasan noches y un mes y medio, pero... como dice Congresso ANDA 2021 – 2ª Ed. Virtual, dia 02/06/2021.
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
que ocupa os vários mundos-corpos dentro, fora, num estado de atenção e velocidade que o urbano
além... numa relação pendular espaço-temporal. impõe. Os carros, motos, entregadores, dirigidos
No desenrolar dramatúrgico das Trilhas, o pela voz robótica que controla e cobra eficiência
corpo transmuta-se em Casulo (2020)29, de Ananda suscitam a ideia de velocidade, de pressa, num
Campana, Branca Peixoto e Claudia Auharek, criando ritmo desenfreado, mas que não abafa a arte, a
uma sinfonia imagética tendo Bach como estratégia poesia, a sensibilidade. Ainda que os pés se movam
sonora, transformando-se no dentro/fora, num sapatear frenético por sobre a vida, a saia da
conectando o corpo ao espaço claustrofóbico do bailarina, esvoaçante ao vento, nos mostra que o
corredor e ao liberto da floresta, que pode ser um corpo permanece, existe, se faz presente ali,
devaneio (ou não?); uma vontade de sair, de estar sublime e perene, resistente e resiliente, em seu
fora, bailando e dançando, incorporando o ambiente mover lento e calmo e belo. É como se os pés
externo ao interno. As intérpretes expõem seus retirassem do chão a força para suplantar a
íntimos em metáforas corpóreas ao som de Bach, insipidez do cotidiano, fortalecendo a poesia dos
querendo libertar-se do claustro pandêmico, corpos dançantes que teimam em ver a beleza da
sufocante. existência que os faz humanos.
Esta mesma vontade é suscitada em Nesta mostra digital, o sentido do existir
Dançando o invisível das cidades (2021)30, de Nara transparece em cada movimento, em cada gesto,
Dourado & Clara Passaro. Neste bailar, o mundo lá em cada fala, em cada pessoa. O olhar é direcionado
fora teima em continuar alheio ao que se passa no para ver além do que a tela mostra: a essência do
íntimo de nós mesmos, de nossos interiores, de que somos em nós mesmos.
nossa natureza; os sons de espaços diversos se
confundem, o urbano e a natureza coabitam, se
contrapõem, se sobrepõem, e rompem a dualidade
provável.
Sinais opostos estão presentes também
em Vai num pé, volta no outro (2020)31, da Cia Pé na
Tábua, onde o cotidiano abafa nossa sensibilidade
29
Dança audiovisual interpretada por Ananda Campana, Branca 30
Dança audiovisual Nara Dourado & Clara Passaro, apresen-
Peixoto e Claudia Auharek, apresentada em Trilhas Digitais tada em Trilhas Digitais para Dança, no 6º Congresso ANDA 2021
para Dança, no 6º Congresso ANDA 2021 – 2ª Ed. Virtual, dia – 2ª Ed. Virtual, dia 02/06/2021.
02/06/2021. 31
Dança audiovisual da Cia Pé na Tábua, apresentada em Trilhas
Digitais para Dança, no 6º Congresso ANDA 2021 – 2ª Ed. Virtual,
dia 02/06/2021.
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
Desejam boa noite, reencontram alguns amigos, 2021. As Trilhas foi o espaço dedicado para a
falam da empolgação de estar ali e das espectativas apresentação dos trabalhos artísticos que foram
para os espetáculos da noite. Todos entram e a selecionados pela curadoria do evento, dentre todos
contagem de um minuto para o começo das os inscritos para a seleção. Divididos em cinco
cadeira e voltar o foco e todos os sentidos para o de um trabalho artístico que transitavam entre
espetáculo que irá começar. As cortinas se abrem. diversas possibilidades da dança para o
Poderia claramente estar falando dos Eu, assim como acredito que a maioria das
minutos antecedentes a qualquer espetáculo que pessoas, já assistiram algum tipo de apresentação
aconteça de forma presencial em algum teatro ou artística online; todos percebemos as diferenças e
estou falando sobre os encontros para assistir a principal semelhança que quero falar é o encontro. O
tivemos que reinventar nossos lugares de artistas e assim como a maioria das artes, permeia o lugar do
121
TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
de fato partilha. Que segue permeando atos e ainda a necessidade de ampliar meu olhar para as
sentimentos. Que segue se reconfigurando e se possibilidades da dança, seja ela digital ao não. As
descobrindo como se partilhar nessa nova imagens de uma dança que fala do que se sente no
experiência do online. pensamento, do que se vive na sociedade
Para mim, fica muito claro que os contemporânea e das problemáticas que
encontros e as partilhas em suas diversas precisamos gritar para o mundo seguem ecoando.
possibilidades realizados através da arte, seguem Dessa partilha, guardo a imagem das crianças que
acontecendo no formato online. Mesmo estando em dançam curiosas, da moça de azul que pensa e sente
minha sala, assistindo as obras pela tela do meu muito, da resistência de ser quem se é e de um
computador ou do meu celular pude sentir e futuro... analógico, digital, singular na pluralidade, e,
experienciar a delicadeza dessas “teias” que foram acima de tudo em constante movimento.
as trilhas. Me colocava disposta e disponível a esses E agora, aqui, neste texto, que também é
encontros e partilhas, reativando minhas memórias um encontro-partilha, gostaria de trazer uma
e sentimentos vividos nos teatros, ficando em mim provocação/reflexão para as obras que ainda
a esperança do desejo por novas possibilidades de veremos: vamos começar a pensar no que a dança
fazer-ver-pensar arte e do reencontro com a arte e nos partilha?
tudo que ela traz presencialmente. Fica em mim
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
Um convite
Laura Silveira
Pausa no texto.
Respire.
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA | ANDA
Repare. Pelos seus ouvidos você pode escutar o mundo e a si mesmo, simultaneamente. Repare, que até
o que ouve do lado de fora é de alguma maneira algo que tem dentro de você, física e simbolicamente.
O som nos chega a partir da vibração que entra pelos ouvidos, percorre um labirinto líquido e ciliado
produzindo estímulos nervosos que são interpretados pelo cérebro. Somos então atravessados fisicamente por
essas vibrações, e a partir da interpretação desses sons construímos sentidos, memórias, padrões e cenas
imaginárias.
A obra Dança e Imagem Sonora (2021)32 de Thiago de Souza nos faz esse convite, ao nos apresentar
histórias de dança que vão nos embalando e nos levando a um estado parecido com o sonhar. Digo sonhar pois
podemos ali criar mundos, sentir e experimentar coisas que estão distantes da nossa realidade no atual contexto
pandêmico, como caminhar livremente pela cidade encontrando amigos, frequentando bares, teatros, bailes e
vivendo nossas vidas sem o pano de fundo atual de caos, medo e distanciamento a que estamos submetidos há
mais de um ano. É possível então se colocar como as crianças ao ouvir o famoso chamado - Era uma vez - e se
deixar levar pela imaginação.
Num momento em que nunca fomos tão solicitados pela visão e às respostas imediatas exigidas por
aparatos e aplicativos virtuais que nos conectam ao mundo, a experiência de uma tela preta em que ‘nada
acontece’ como no espetáculo Entre ver (2015)33 de Denise Stutz, ou o fechar dos olhos cedendo espaço à
experiência de outras sensorialidades e tempos é realmente um ato de encantamento conduzido por Thiago com
sua voz em Dança e Imagem Sonora (2021). Um mergulho pela intimidade da cidade do Rio de Janeiro é uma
maneira de suspender o céu34 como diria Krenak, onde conseguimos, através da contação de histórias, dançar
juntos e estar juntos mais uma vez, através de nossas memórias coletivas, individuais e de nossos desejos,
adiando sempre o fim e construindo mundos apesar de.
32
Disponível nas plataformas Youtube e Spotify através dos links:<https://open.spotify.com/show/1AsqOvTz7umlXDwU0p1nqm?si=-
3v-i1JGScyklwrgz2U9Pw&utm_source=whatsapp&dl_branch=1> e <https://www.youtube.com/channel/UCu-
v2V0Z2Jxya9pVVCREQxg>. Último acesso em 11 jul. 2021.
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Nesse espetáculo a matéria principal de construção da cena é a própria imaginação dos espectadores, visto que a artista só aparece
brevemente num momento pontual do espetáculo, na maior parte do tempo o que se vê é o palco vazio. A construção se dá então a
partir da narração dessa dança, articulando memórias e rastros de corpo.
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“Cantar, dançar e viver a experiência mágica de suspender o céu é comum em muitas tradições. Suspender o céu é ampliar o nosso
horizonte, não o horizonte prospectivo, mas existencial. É enriquecer as nossas subjetividades, que é a matéria que este tempo que nós
vivemos quer consumir. Se existe uma ânsia por consumir a natureza, existe também uma por consumir subjetividades - as nossas
subjetividades. Então vamos vivê-las com a liberdade que fomos capazes de inventar (...) ser capazes de manter nossas subjetividades,
nossas visões e nossas poéticas sobre a existência” (KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras,
2019, p. 15).
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TRILHAS DIGITAIS PARA DANÇA & IMERSÃO LABCRÍTICA
Somos então convocados a pensar sobre quais as danças estão porvir 35, e como elas podem gerar esse
deslocamento de hábitos e sentidos, nos provocando a estranhar e recriar a vida e a arte a cada instante. Os seis
episódios de podcast que compõe essa obra realizam isso ao comunicar a dança a partir dos seus elementos não
exatamente visíveis e sim, a partir de suas impressões, como as sensações, a sugestão de palavras, memórias e
até mesmo a consciência de corpo evocada pela oralidade, ativando a escuta dessas danças e a experiência pela
cidade.
No episódio do Beijo, por exemplo, conhecemos a “avó do samba” e os centros do mundo se beijam pela
descrição poética de Thiago sobre a umbigada do Jongo. É nesse mesmo episódio que passeamos também pela
boemia do bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, onde dá pra sentir o calor da rua em suas aglomerações desejantes.
Presenciamos em Nostalgia de pés descalços, um espetáculo de dança sugerido pelas impressões do narrador e
a construção do roteiro é tão precisa que, ao encerrar o episódio, tive a sensação de que acabava de sair do
mesmo teatro em que estavam os personagens. É marcante também, a sensação de passar pela vibrante
passarela ao final do episódio Binha, onde a relação corpo e espaço fica evidente na construção do passinho e do
funk carioca.
Repare. Este texto, assim como a obra de Thiago, são um convite, em última análise, à sensibilidade. Ao
estar no aqui e agora, reparando nas sutilezas e encantamentos que perpassam nossas vidas e cotidianos, um
convite à imaginação, ao corpo e ao dançar da própria vida.
Aqui, o viver, o dançar e o sonhar se confundem, as memórias, as imagens e as sensações estão e são
corpo. E, no atual contexto em que estamos, tendo que lidar de tantas maneiras com a imprevisibilidade da
própria vida e sobre as perspectivas de futuro, nada como ter alguém para nos lembrar, como faz Thiago, que:
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Questionamento trazido como tema do 6º Congresso Científico Nacional de Pesquisadores em Dança (2021), em sua segunda edição
virtual realizada pela ANDA.
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Bora?
Thiago de Souza
É junho de 2021. Faz quinze meses que estou vivendo a/na/em pandemia de Covid-19. As notícias não
são boas… nunca foram. A novidade é que o momento pede distância. Todo o consolo de um abraço apertado, um
chamego, um cafuné, não são possíveis. Há de se guardar distanciamento a fim de parar o vírus insensível. A
maioria não consegue guardar esse distanciamento, porque a atual administração, igualmente insensível, não
cria as condições necessárias. Eu consigo me manter em casa. Por enquanto. A vida corre na velocidade da
timeline vigiada das redes sociais e os encontros só são possíveis através da mediação dos grandes servidores
em videoconferências. Passo meus dias em frente a tela desde março de 2020. Não que não usasse gadgets
antes, mas agora elas são minha única fonte de sustento, de comunicação, de sociabilização.
Sento em frente a tela mais uma vez, só que para assistir dança. Lembro quando ia ao teatro. Acesso o
YouTube no navegador e imediatamente os algoritmos me sugerem tudo aquilo que me faz ficar distraidamente
atento em frente a tela. Lembro a última vez que dancei em cena. No buscador digito o nome do canal onde será
transmitida a programação: Portal ANDA, Trilhas Digitais para Dança. Lembro que posso sair a qualquer momento,
posso dar pause, posso recomeçar. Em tempo começa a transmissão e assisto a todas as danças daquela noite
e a transmissão é encerrada. Ainda fico em frente a tela por mais uma hora lidando com os algoritmos.
Em En la Piel 2.036 (2020), Odacy Oliveira dança e opera sua câmera. Flerta com ela. Talvez esteja
dialogando com o efeito de espelhamento contido na obra. Parece estar se divertindo criando formas impossíveis
com seu outro eu, seu duplo. A edição de Maronilson Jr nos apresenta um ambiente onírico, vermelho e aliado com
o efeito de transparência, a dança duplicada de Odacy se transforma em uma prancha de Rorschach num deserto
marciano. A paisagem sonora conduzida por Moncho Bunge conversa com o ambiente alienígena proposto pela
edição. A encenação criada pela edição, enquadramento e paisagem sonora compõem a dança cheia de
curiosidade encarnada por Odacy e é essa dança, que conduz e convida minha atenção a ser atenta. A presença
inquieta e comprometida de Odacy atravessa a moldura da tela e sorri pra mim.
Olho ao meu redor num olhar que toca as superfícies da sala. Faço delas pele. Me levanto e decido rever
a peça, mas antes preparo minha atenção como um astronauta que se prepara para ir ao espaço: Vou ao banheiro,
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En la piel 2.0 (2020) é uma dança em vídeo de Odacy Oliveira e Valdemir Oliveira, editado por Maronilson Jr em uma paisagem sonora
de Moncho Bunge. Assisti essa dança no contexto do 6º Congresso ANDA—2ª edição virtual na programação de pesquisas e experimentos
artísticos de dança em mídias digitais Trilhas Digitais para Dança em Junho de 2021.
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tomo um banho, troco de roupa como se estivesse saindo de casa para assistir uma dança em busca de
sensibilidades. Sento novamente em frente a tela e… play. O deserto vermelho está lá mais uma vez, a paisagem
sonora alienígena também, mas a dança encarnada por Odacy ganha outras cores, cheiros e sabores como se
não tivesse sido a mesma dança que assisti momentos antes. A maneira pelo qual o gesto dançado surge já não
parece um flerte com a câmera, mas uma busca num espelho. O vermelho na pele se funde com o da paisagem
tal qual Odacy e seu duplo numa tentativa de amálgama. Ao final, Odacy mais uma vez atravessa a moldura e
sorri pra mim, mas desta vez como quem diz: viu!? Me vejo refletido na tela e flerto durante breves segundos
com meu duplo.
A dança digital da pandemia me exige um engajamento diferente do feed. Não é uma questão de like.
Talvez seja uma questão de presença, tal qual na dança de En la piel 2.0. Talvez um convite para aguçar a
sensibilidade e partilhar este sensível. Lembra quando era possível estar junto? Dançar junto presencialmente?
Bora experimentar com a sensibilidade à revelia do vírus e do desgoverno? Te convido.
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