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19/07/2021 As Forças Armadas do caos | Opinião | EL PAÍS Brasil

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As Forças Armadas do caos


Militares brasileiros estão associados ao uso da força para o silenciamento das consequências da
miséria e do descaso. Fazem isso mais uma vez na pandemia. Por isso, a única saída é o
impeachment

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Sem máscara, o presidente Jair Bolsonaro participa de evento em comemoração aos 80 anos da Aeronáutica, na quarta passada. ERALDO PERES / AP

VLADIMIR SAFATLE

26 JAN 2021 - 18:14 EST

Uma das maiores ilusões a respeito do Governo Bolsonaro é que ele seria composto por dois eixos em
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estado contínuo de antagonismo. De um lado, haveria o núcleo ideológico, com suas pautas de regressão
social e isolamento internacional, enquanto no outro lado encontraríamos o núcleo militar. Se o primeiro
seria impulsionado pela crença em ser o protagonista maior de uma revolução conservadora no Brasil, o
segundo seria ainda pautado por certa perspectiva “moderada” e “racional”.
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Darias llama a la 'prudencia' ante el aumento de contagios Darias llama a la
“estratégia
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coronavírus”
Clara Grima, las
matemáticas del
'influencer',
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El rincón de los
inmortales 305.
Sacrificios en
cascada de Aronián
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Os crimes de |
#SEGURIDAD
LosBolsonaro
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Na verdade, essa foi a melhor narrativa que as Forças Armadas poderiam encontrar para si mesmas. Isso durante a
pandemia,
lhes permitiu tomar de assalto o poder executivo, colocando milhares de seus membros da ativa e da segundo juristas
reserva dentro da estrutura do poder, sem ter que assumir o ônus de agente fundamental do caos. que pressionam
Jogando a carta do corpo técnico que assume o Estado corrompido, procurando defende-lo de ideólogos Augusto Aras

que viriam de todos os lados, as Forças Armadas tentaram vender ao país a imagem de serem uma espécie
de força de contenção indispensável e inevitável. Bastou uma pandemia com seus desafios reais para que
toda essa história ruísse

Cresce pressão
Na verdade, o país viu, agora em escala catastrófica, a repetição do que sempre ocorre quando as Forças
por
Armadas tomam a frente. O que está a ocorrer no Brasil atualmente é sim a implementação consequente responsabilizar
do ideário que anima suas Forças Armadas. Pois longe de serem uma parte da solução, elas são Bolsonaro por
Manaus e ideia
historicamente o eixo fundamental do problema.
de
impeachment
Faz parte das tomadas de poder das Forças Armadas criar essa imagem de serem animadas por um volta a ser
aventada
conflito interno, como se estivéssemos a todo momento a lidar com uma instituição dividida entre o bom
policial e o mau policial. Já na ditadura militar havia a pantomima do conflito entre o núcleo duro e os
moderados. Foi isso que permitiu aos militares fazer um duplo papel, entre o Governo e a oposição ao Governo delas
próprias. Se a ditadura brasileira conseguiu durar inacreditáveis 20 anos é porque tal pantomima fazia parte do modo normal
de governo. Para fazer o Governo funcionar, era fundamental que os opositores encontrassem, nas próprias Forças
Armadas, a esperança de uma contenção das Forças Armadas. Da mesma forma, agora estamos a ver o pretenso conflito
entre o grupo ligado a Bolsonaro e os generais mais sensatos. Sensatez essa que não foi capaz de influenciar em uma ação
sequer que pudesse tirar o país do caminho em direção às mais de 200.000 mortes, isso a despeito de todo o esforço estatal
de desaparecimento de corpos.

Quem fizer uma pesquisa a respeito das propagandas louvando o “ideal de desenvolvimento” do regime militar encontrará
essas campanhas narrando a vitória do homem (sim, eram sempre homens) sobre o “inferno verde” representado pela
Amazônia. Vitória essa que se daria através da abertura de estradas como a Transamazônica ou de projeto absurdos e
corruptos como o Projeto Jari. Fotos de grande troncos de árvores centenárias cortadas e empilhadas em caminhões
ilustravam o canto do país que vencia suas “fronteiras internas” à base do fogo, do roubo, da posse e do desaparecimento
dos corpos de ameríndios mortos. O que Bolsonaro fez foi simplesmente levar às últimas consequências o ideário que
sempre moveu as Forças Armadas como ponta de lança da guerra do Brasil contra si mesmo. As chamas cuja fumaça chega
agora até nossas grandes cidades não é fruto de um Nero tropical, mas a consequência lógica do espírito que suas Forças
Armadas sempre representaram.

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No entanto, essa guerra do Brasil contra si mesmo foi não apenas contra a natureza. Ela foi uma guerra contra sua própria
população. A história das Forças Armadas brasileiras é a história de uma guerra interna, de uma guerra civil não declarada
que vai de Canudos e Contestado até o uso do Exército como “força de pacificação” nas comunidades do Rio de Janeiro. Ela
foi a história do uso da força e do extermínio contra movimentos populares de toda ordem desde o Império. Ela foi ainda a
história perpetua da “caça ao comunismo” desde o aparecimento do primeiro líder popular da república brasileira, Luís
Carlos Prestes: um militar que escolheu o lado das lutas populares e que antecipou as táticas que seriam usadas, de maneira
vitoriosa, na grande marcha chinesa. Esse fantasma da “caça ao comunismo” é a razão de existência das Forças Armadas
brasileiras, e Bolsonaro sabe muito bem disso. É ele que lhe levou a dizer: “Quem decide se um povo vai viver na democracia
ou na ditadura são as suas Forças Armadas”. “Comunismo” é o nome que as Forças Armadas brasileiras usam para se referir
à figura de um povo insurreto.

Mas, principalmente, militares brasileiros estão associados ao uso da força para o silenciamento das consequências da
miséria e do descaso. Faz-se necessário lembrar disso mais uma vez pois o que estamos a ver nessa pandemia, a catástrofe
humanitária que a gestão das Forças Armadas produziu, não é um acaso. É a consequência necessária da maneira com que
os militares sempre lidaram com a morte da sua própria população. Longe de procurar “proteger” as populações, suas ações
sempre se deram no sentido de lembrar aos setores vulneráveis da população brasileira de que eles são matáveis sem dolo e
sem imagem. É isso que as Forças Armadas estão a fazer mais uma vez com sua gestão criminosa e omissa em relação à
pandemia.

Em menor escala, isso já ocorreu entre nós outras vezes. Que se lembrem dos espaços de silêncio da história brasileira.
Lembremos, por exemplo, da natureza da violência estatal para confinar e deixar morrer populações em crises de seca. Foi
no Ceará, entre 1915 e 1932, que o Brasil conheceu campos de concentração (sim, esse foi inclusive o termo usado à época)
criados em cidades como Senador Pompeu, Ipu, Quixeramobim, Crato e Cariús, destinados a impedir que os flagelados da
seca chegassem à capital. Campos nos quais se confinavam milhares de retirantes e se morria em massa por descaso,
omissão e indiferença. E vejam que coincidência, o número de mortes é ainda hoje incerto (estimam-se só no Patu, em
Senador Pompeu, até 12.000 mortes sem certidão de óbito e em vala coletiva). Ou seja, esse é de fato o modus operandi das
Forças Armadas.

Contra a revolta de setores da sociedade diante de tal descaso, as Forças Armadas agora ameaçam o país com um estado de
defesa, que suspenderia certas garantias institucionais, e que seria a forma efetiva de um autogolpe de Bolsonaro. No
momento em que até tal carta é colocada sobre a mesa, o país não pode mais ser leviano em relação ao impeachment
daquele que ocupa atualmente a presidência da república. Há sob sua responsabilidade direta uma somatória de crimes de
omissão, de responsabilidade, de incentivo a comportamento que resultaram em um verdadeiro genocídio da população
brasileira. Nenhum presidente da república tem tantas razões para ser afastado, julgado e encarcerado quanto o senhor Jair
Bolsonaro.

Há um ano, vários foram os que insistiram que a única saída seria o impeachment. Naquela ocasião, não faltaram os que
disseram que clamar por um impeachment era colocar a política à frente das exigências imediatas de gestão. Disseram que
era importante obrigar o Governo a atuar contra a pandemia, ao invés de dispersar forças em um pedido de impeachment. A
história demonstrou, no entanto, que não havia possibilidade alguma de levar Bolsonaro a gerir a pandemia. Ao contrário, ele
não desprezou ocasião alguma para colaborar efetivamente para a situação na qual nos encontramos agora, com a
população brasileira em estado de máxima vulnerabilidade, insuflando a indiferença em relação à morte e à ausência de
proteção efetiva por parte do Estado.

Tudo isso demonstra como há de se lembrar, mais uma vez, que a única saída é o impeachment. E àquelas e àqueles que
esqueceram, impeachment se conquista através da ocupação das ruas e do bloqueio das atividades. Os que têm privilégios

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ligados à segurança fornecida pelo acesso a serviços privados de saúde deveriam usar tal privilégio e forçar o fim deste
Governo através da ocupação das ruas. Essa é a única coisa realmente concreta que podemos fazer para defender o país
contra a pandemia. E só a certeza da existência dessa força popular que fará as Forças Armadas ocuparem seu único e
verdadeiro lugar: esse caracterizado pelo afastamento da vida política nacional, o silêncio em relação à política e o retorno
aos quartéis. Um pretenso Governo Mourão, por ser fruto da pressão popular, já nasceria natimorto. Isso até que
consigamos enfim uma sociedade que não precise mais de Forças Armadas, pois se defende a si mesma.

Vladimir Safatle é professor titular do Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo.

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