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Silvia Federici no
4 DE SETEMBRO DE 2023 POR TERESA CRISTINA
Sesc Pompeia, em

Do “Consenso das São Paulo 27 de

Commodities” ao novembro de 2023

“Consenso da Amar a negritude

Descarbonização” como resistência


política 17 de novembro de
2023
Por Breno Bringel e Maristella Svampa
Publicado em Nueva Sociedad Imprimir pra quê?
Tradução por Rupturas Comunidade é a
resposta 16 de novembro

de 2023
Introdução
Lições do genocídio
em curso 10 de novembro
Estamos vivendo um momento decisivo, de 2023

marcado por um alto nível de fragilidade e


Silvia Federici:
incerteza diante da emergência climática e dos
“Ninguém se
múltiplos riscos e destinos globais possíveis. A emancipa
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narrativa de estabilidade, governança nacional trabalhando” 8 de


novembro de 2023
e governança global criada nas últimas
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décadas por atores hegemônicos desmoronou, O trabalho invisível e
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primeiro com a crise de 2008 e depois com a não remunerado das
pandemia de Covid-19. A imprevisibilidade e a mulheres 7 de novembro
de 2023
instabilidade se converteram na norma diante
de uma sequência de crises profundas (sociais, Israel, Ocidente e a
políticas, sanitárias, geopolíticas, econômicas catálise totalitária 6 de
e ecológicas) que não podem mais ser tratadas novembro de 2023

como antes, pois se justapõem e se reforçam


O poder e a
mutuamente. sabedoria do corpo 1
Estamos passando de múltiplas crises para de novembro de 2023

uma policrise civilizacional, ou seja, crises


Para onde vai a
inter-relacionadas que estão causalmente América Latina? 30 de
interligadas – isto é, produzem danos maiores outubro de 2023

do que a soma do que produziriam


Guerra e colapso
isoladamente – e questionam o modelo
socioambiental 27 de
civilizacional baseado no crescimento outubro de 2023

ilimitado, progresso e desenvolvimento.


Somam-se a esse cenário o fortalecimento da
extrema direita e dos autoritarismos, a erosão
da democracia, o controle digital e tecnológico
da vida e o fortalecimento da cultura da
guerra, conforme sugerido pelo Pacto
Ecossocial e Intercultural do Sul em sua
recente Declaração de Bogotá.

Diante destas tendências, a transição


socioecológica deixou de ser uma questão
restrita
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se tornar o eixo central das agendas políticas e


econômicas contemporâneas. Entretanto,
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duas questões importantes surgem aqui.
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Primeiro, diante da urgência da
descarbonização, há uma tendência de reduzir
a transição socioecológica – cujo
entendimento integral deve abranger os níveis
energético, produtivo, alimentar e urbano – à
transição energética. A segunda questão está
associada à forma como a transição energética
é realizada e quem pagará os custos.

A transição energética, impulsionada


principalmente por grandes corporações,
fundações e governos do Norte global e dos
países emergentes em direção à energia
supostamente “limpa”, está exercendo uma
pressão cada vez maior sobre o Sul global. Para
que a China, os Estados Unidos e a Europa
avancem em direção à desfossilização, novas
zonas de sacrifício estão sendo criadas nas
periferias globais. Há vários exemplos dessa
dinâmica: a extração de cobalto e lítio para a
produção de baterias de alta tecnologia para
carros elétricos afeta brutalmente o chamado
“triângulo do lítio” na América Latina e no
norte da África; a crescente demanda por
madeira de balsa – abundante na Amazônia
equatoriana – para a construção de turbinas
eólicas exigidas pela China e por países
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europeus destrói comunidades, territórios e


biodiversidade; e a nova licitação para
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megaprojetos de painéis solares e
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infraestrutura de hidrogênio aumenta ainda
mais a apropriação de terras.

Esse processo está se tornando conhecido no


ativismo e nos estudos críticos como
“extrativismo verde” ou “colonialismo
energético”: uma nova dinâmica de extração
capitalista e apropriação de matérias-primas,
bens naturais e mão de obra, especialmente
(embora não exclusivamente) no Sul global,
com o objetivo de uma transição para a
“energia verde”.

Argumentamos que o colonialismo energético


é a peça central de um novo consenso
capitalista, que de�nimos como o “Consenso
da Descarbonização”. Trata-se de um acordo
global que defende a mudança de uma matriz
energética baseada em combustíveis fósseis
para uma matriz sem emissões de carbono (ou
com emissões reduzidas), baseada em
energias “renováveis”. Seu leitmotiv é lutar
contra o aquecimento global e a crise
climática, estimulando uma transição
energética promovida pela eletri�cação do
consumo e pela digitalização. No entanto, em
vez de proteger o planeta, contribui para
destruí-lo,
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existentes, exacerbando a exploração dos


recursos naturais e perpetuando o modelo de
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mercantilização da natureza. Este texto
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analisa como se produziu a mudança dos
consensos capitalistas globais anteriores – o
“Consenso de Washington” e o “Consenso das
Commodities” – para o “Consenso da
Descarbonização”. Ele também discute suas
principais características, bem como as linhas
de continuidade e ruptura em um mundo
multipolar. Por �m, apresenta uma série de
re�exões e propostas em relação à transição
energética, tanto em termos geopolíticos
quanto locais-territoriais.

Do “Consenso de Washington” ao “Consenso


da Descarbonização” (via “Consenso das
Commodities”)

O processo de liberalização comercial e


econômica, desregulamentação, privatização,
redução do Estado e expansão das forças de
mercado nas economias nacionais, iniciado na
década de 1980 e consolidado na década de
1990, recebeu o nome de “Consenso de
Washington”. Conhecemos bem a receita
trágica: um pacote de reformas que promoveu
o fundamentalismo de mercado,
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estabelecendo o neoliberalismo como a única


alternativa após a queda do Muro de Berlim.
Foi umLOJA EBOOKS
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entre ONDE ENCONTRAR
diversos atores que SOBRE AUTORES

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promoveu a globalização neoliberal, com um
peso especial das instituições �nanceiras
internacionais, como o Banco Mundial (BM), o
Fundo Monetário Internacional (FMI) e a
Organização Mundial do Comércio (OMC).
Apesar das diferenças de nuance, uma série de
políticas de ajuste estrutural foi imposta aos
países do Sul, promovendo o livre mercado.

Essas políticas foram elaboradas tendo a


América Latina como ponto de referência e
acabaram sendo referendadas por boa parte
dos governos da região. No entanto, os graves
efeitos ambientais e sociais e as múltiplas
crises econômicas que elas geraram em vários
países latino-americanos serviram de base
para sua crítica política e intelectual.
Resistência, redes e movimentos sociais
começaram a se articular contra os acordos de
livre comércio, a globalização neoliberal e seus
principais símbolos. Os protestos contra a
OMC, o Banco Mundial, o FMI, as campanhas
contra a Área de Livre Comércio das Américas
(ALCA) e o Fórum Social Mundial foram
processos fundamentais que articularam a
denúncia do “Consenso de Washington” com
o objetivo de gerar alternativas e
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convergências para “outros mundos


possíveis”.
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Na virada do século, esse ciclo global e
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regional de protestos foi acompanhado por
intensas mobilizações em países como
Argentina (2001), Venezuela (2002) e Bolívia
(2003), que impulsionaram o surgimento do
chamado “ciclo progressista” latino-
americano e de um imaginário pós-neoliberal.
Os progressismos latino-americanos exigiram
um papel mais proeminente do Estado, com
políticas sociais direcionadas e, em alguns
casos, redistributivas, mas o �zeram de forma
intimamente ligada ao fortalecimento do
capital privado multinacional. O que foi
vendido em vários países como uma política
win-win, em que os pobres melhoravam de
vida enquanto os ricos continuavam a
enriquecer, foi possível graças à entrada da
América Latina em uma nova ordem
econômica e político-ideológica sustentada
pelo auge dos preços internacionais de
matérias-primas e bens de consumo cada vez
mais exigidos pelos países centrais e potências
emergentes como a China.

Essa nova ordem, caracterizada pela


hegemonia do desenvolvimento
neoextrativista, marcou a transição para outro
tipo
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Commodities “, visto por atores muito diversos


e heterogêneos – dos mais conservadores aos
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mais progressistas – como uma autêntica
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“oportunidade econômica”. As economias
latino-americanas foram reprimarizadas e a
dinâmica de desapropriação se acentuou de
forma muito violenta, com a destruição da
biodiversidade e a expulsão e o deslocamento
de populações de seus territórios.

Nesse contexto, aumentaram a


con�ituosidade social e a resistência das
comunidades e dos movimentos sociais à
expansão do agronegócio, aos megaprojetos
de mineração a céu aberto, à construção de
grandes barragens hidrelétricas e à expansão
da fronteira de petróleo e energia para
hidrocarbonetos não convencionais. Mas as
lutas de resistência contra o
desenvolvimentismo neoextrativista, nas
quais os movimentos ecoterritoriais
desempenharam um papel de liderança, não se
limitaram a um repertório reativo. Do “não”
emergiram muitos “sins” e alternativas ao
desenvolvimento e novos horizontes
propositivos começaram a ser cultivados,
como o Bem Viver, os bens comuns, a
plurinacionalidade, os direitos à natureza e o
paradigma do cuidado.

Onossa
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2010 coincidiu com o �m desse ciclo


progressista e com o fortalecimento da direita
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em vários países, em meio a uma profunda
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deterioração dos sistemas políticos e ao
questionamento dos atores sociais e políticos
estabelecidos. Uma forte polarização se
estabeleceu entre o progressismo, que passou
a ser atacado e �cou na defensiva, e as forças
conservadoras ou reacionárias que começaram
a de�nir a agenda.

A pandemia de Covid-19 surgiu nesse contexto


como um evento global crítico, que acelerou e
consolidou mudanças geopolíticas que já
estavam em andamento, como a militarização
global, o fortalecimento da China, a disputa
inter-imperialista e o aumento da distância
entre o centro e a periferia. Ao mesmo tempo,
abriu-se uma nova janela política de discussão
sobre como seria o mundo pós-pandemia.
Apesar da insistência dos setores dominantes
em manter os negócios como de costume,
apostando mais em um “retorno à
normalidade” do que em uma “nova
normalidade”, uma lógica adaptativa do
capitalismo em direção a um modelo
supostamente mais “limpo” e “ecológico”
também começou a ganhar terreno.

Grandes corporações transnacionais,


instituições
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apoio de várias organizações internacionais e


especialistas, começaram a colocar a
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necessidade de descarbonizar a matriz
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energética no centro da agenda econômica e
política. O Acordo de Paris e os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODSs)
tornaram-se as principais referências o�ciais
para gerar estruturas internacionais
compartilhadas. No terreno nacional, vários
países criaram seus Pactos Verdes ou Green
New Deals e até mesmo ministérios de
Transição Ecológica. Atores supranacionais,
como a Comissão Europeia, também
pressionaram por um Pacto Verde Europeu,
formulado com o objetivo de se tornar o
primeiro continente “neutro em relação ao
clima”. Assim, o discurso “NetZero até 2050”
começou a aparecer em grande parte dos
discursos convencionais, inclusive em alguns
que eram abertamente negacionistas até anos
atrás e agora começaram a oferecer “soluções
climáticas”. Foi assim que surgiu o mais
recente consenso capitalista: o que chamamos
de “Consenso da Descarbonização”.

O “Consenso da Descarbonização”:
características, contradições e implicações

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O “Consenso da Descarbonização” baseia-se


em um objetivo comum amplamente aceito.
Em umLOJA EBOOKS
mundo ferido BLOG ONDE ENCONTRAR
pelo colapso, quem SOBRE AUTORES

CONTATO
poderia seREPORTAR ERROS
opor à descarbonização eà
neutralidade climática? A questão principal
não é o quê, mas como. A descarbonização é
bem-vinda, mas não dessa forma. Entre os
objetivos dessa descarbonização hegemônica
não estão a desconcentração do sistema
energético, o cuidado com a natureza, muito
menos a justiça climática global, mas outras
motivações, como atrair novos incentivos
�nanceiros, reduzir a dependência de alguns
países na busca pela segurança energética,
expandir nichos de mercado ou melhorar a
imagem das empresas. Em outras palavras, se
os atores dominantes adotam essa agenda, é
porque a veem como uma nova janela de
oportunidade para o reposicionamento
geopolítico e a acumulação capitalista, mais
especi�camente, uma “acumulação por
desfossilização” que aprofunda a contradição
capital/natureza.

Nesse novo consenso, a descarbonização não é


vista como parte de um processo mais amplo
de mudança do per�l metabólico da sociedade
(nos padrões de produção, consumo,
circulação de bens e geração de resíduos), mas
como um �m em si mesmo. Embora se
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reconheça a gravidade da emergência


climática, estão sendo construídas políticas
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que não apenas são insu�cientes, mas também
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têm impactos muito graves, uma vez que a
exploração dos recursos naturais está se
intensi�cando e a ideologia do crescimento
econômico inde�nido está sendo mantida.
Com mais uma transformação na retórica da
“sustentabilidade”, abre-se uma nova fase de
pilhagem ambiental do Sul global, afetando a
vida de milhões de seres humanos e de seres
sencientes não humanos, comprometendo
ainda mais a biodiversidade e destruindo
ecossistemas estratégicos. O Sul global, mais
uma vez, se torna um depósito de recursos
supostamente inesgotáveis, de onde são
extraídos minerais estratégicos para a
transição energética do Norte global, bem
como um destino para os resíduos e a poluição
gerados por essa nova “revolução industrial”.

O “Consenso da Descarbonização” mobiliza


continuamente o discurso do potencial
tecnológico e da inovação. Ao mesmo tempo,
defende explicitamente os “negócios verdes”,
o “�nanciamento climático”, as “soluções
baseadas na natureza”, a “mineração
climaticamente inteligente”, os “mercados de
carbono” e várias formas de investimento
especulativo. Quase sem nenhuma solução de
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continuidade, as políticas de
“responsabilidade social” das empresas
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extrativistas foram convertidas nas últimas
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décadas em políticas de “responsabilidade
socioambiental”, em uma tentativa de
construir uma imagem de responsabilidade
ecológica que contrasta fortemente com a
realidade. Em suma, propõe-se um tipo de
transição baseada em uma lógica
fundamentalmente mercantil e com uma
interface hiperdigitalizada, que gera novas
mercadorias e formas so�sticadas de controle
social e territorial.

O “Consenso da Descarbonização” é, em
consequência, marcado pelo imperialismo
ecológico e pelo colonialismo verde. Ele
mobiliza não apenas práticas, mas também
um imaginário ecológico neocolonial. Por
exemplo, a ideia de “espaço vazio”, típica da
geopolítica imperial, é frequentemente usada
por governos e empresas. Se no passado essa
ideia, que complementa a noção ratzelliana de
“espaço vital” (Lebensraum), gerou ecocídio e
etnocídio indígena – e mais tarde serviu para
promover políticas de “desenvolvimento” e
“colonização” de territórios -, hoje ela é usada
para justi�car a expansão territorial para
investimentos em energia “verde”. Dessa
forma, grandes extensões de terra em áreas
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rurais pouco povoadas são vistas como


espaços vazios adequados para a construção de
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turbinas eólicas ou fábricas de hidrogênio.
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Esses imaginários geopolíticos das transições
corporativas reproduzem relações coloniais,
que não apenas podem ser vistas como uma
imposição de fora para dentro, do Norte para o
Sul. Em muitos casos, o que está em jogo é
também um tipo de colonialismo verde
interno, que cria as condições para o avanço do
extrativismo verde com base em alianças e
relações coloniais entre as elites nacionais e as
elites globais.

O “Consenso de Descarbonização” também


gera, em nome da “transição verde”, pressões
nos próprios territórios do Norte global, tanto
nos EUA quanto na Europa , com um grande
impacto nas áreas rurais menos populosas.
Mas nada disso se compara aos impactos e à
escala desses processos na periferia
globalizada. Como bem aponta um estudo
recente de Alfons Pérez sobre os Pactos
Verdes:

A distribuição geográ�ca da extração e


das reservas atuais dessas matérias-
primas essenciais desenha um mapa que
é certamente diferente daquele da
extração de combustíveis fósseis.
Embora
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epicentro geoestratégico para o


fornecimento de hidrocarbonetos, o foco
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agora está mudando para outras áreasSOBRE AUTORES

CONTATO
doREPORTAR
planeta.ERROS
As principais regiões para a
exploração desses elementos estão
concentradas no Sul global e em regiões
como a África Subsaariana, o Sudeste
Asiático, a América do Sul, a Oceania e a
China.

Apesar da busca incessante por esses minerais


críticos, a forma e a temporalidade da
implementação do “Consenso da
Descarbonização” provocam contradições até
mesmo entre seus próprios promotores. A
exacerbação de políticas esquizofrênicas – ou
double bind, para usar os termos de Gregory
Bateson – parece ser um sinal da policrise
civilizacional. Há aqueles que, embora
reconheçam sua importância, procuram adiar
a descarbonização e extrair até a última gota
de petróleo, como é o caso de muitas empresas
de combustíveis fósseis e seu lobby junto aos
governos. Um exemplo foi o presidente Joe
Biden que, em março de 2023, desa�ando sua
promessa eleitoral, aprovou o Projeto Willow,
que permite a expansão da fronteira
petrolífera no Ártico do Alasca, colocando em
risco um ecossistema extremamente frágil que
já está sofrendo com o derretimento do gelo
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devido ao aquecimento global. Outro exemplo


vem da União Europeia que, ao mesmo tempo
em queLOJA
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expandir ONDE ENCONTRAR
o Pacto SOBRE
Verde Europeu, AUTORES

CONTATO
optou por REPORTAR
voltar aoERROS
carvão até meados de
2022, usando como justi�cativa a crise
energética acelerada pela guerra na Ucrânia.
Assim, o governo alemão ordenou, em janeiro
de 2023, a demolição de um vilarejo para dar
lugar à expansão de uma mina de carvão de
lignito, o tipo de carvão mais poluente entre os
combustíveis fósseis. Ao mesmo tempo, como
parte do plano europeu de recuperação pós-
crise, a Alemanha pressionou os estados-
membros da UE a destinar parte desses fundos
para o desenvolvimento do hidrogênio verde.
Mais recentemente, o governo brasileiro
também parece haver entrado no Consenso da
Descarbonização, anunciando um plano de
‘transformação ecológica’ ancorado, contudo,
na lógica do crescimento econômico e sem
renunciar a novas frentes de exploração de
petróleo.

O tipo de lógica pós-fóssil promovida pelo


“Consenso da Descarbonização” leva,
portanto, a uma transição corporativa,
tecnocrática, neocolonial e insustentável.
Diversas projeções alertam que, abordada
dessa forma, a transição energética é
metabolicamente insustentável. O próprio
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Banco Mundial alertou, em 2020, que a


extração de minerais
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como gra�te, lítio e cobalto, poderia
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aumentar em quase 500% até 2050
para atender à crescente demanda por
tecnologias de energia limpa. Estima-se
que mais de 3 bilhões de toneladas de
minerais e metais serão necessários
para a implantação de energia eólica,
solar e geotérmica, bem como para o
armazenamento de energia, a �m de
alcançar uma redução de temperatura
abaixo de 2 °C no futuro.

Relatórios mais recentes são ainda mais


assustadores com relação ao aumento do uso
de “minerais de transição”. Como argumenta
o jornalista francês Guillaume Pitron,
“centenas de milhares de turbinas eólicas,
algumas mais altas que a Torre Ei�el, serão
construídas nos próximos anos e exigirão
enormes quantidades de cobalto, zinco,
molibdênio, alumínio, zinco, cromo… entre
outros metais”.

O “Consenso da Descarbonização” restringe o


horizonte da luta contra as mudanças
climáticas ao que a pesquisadora brasileira
Camila Moreno de�ne como a “métrica do
carbono”: uma forma limitada de quanti�car o
carbono
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CO2, que oferece uma espécie de moeda para a


troca internacional, gerando a ilusão de que
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algo está sendo feito contra aONDE ENCONTRAR
degradação SOBRE AUTORES

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ambiental. Dessa forma, o problema
subjacente é encoberto e não apenas a poluição
continua, mas também novos negócios são
feitos com a poluição (por meio, por exemplo,
do comércio de compensação de emissões). Os
limites naturais e ecológicos do planeta
continuam sendo ignorados, pois é evidente
que não há lítio ou minerais críticos
su�cientes se os modelos de mobilidade e os
padrões de consumo não forem alterados. O
próprio fato de as baterias de lítio, assim como
os projetos eólicos e solares, também exigirem
minerais (como cobre, zinco e muitos outros)
deve nos alertar para a necessidade de uma
reforma radical do sistema de transporte e do
modelo de consumo existentes.

Portanto, a transição não pode ser reduzida


apenas a uma mudança de matriz energética
que garanta a continuidade de um modelo
insustentável. Ao propor uma transição
energética corporativa de curto prazo, o
“Consenso da Descarbonização” mantém o
padrão hegemônico de desenvolvimento e
acelera a fratura metabólica, com o objetivo de
preservar o estilo de vida e o consumo atuais,
especialmente nos países do Norte e nos
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setores mais ricos em escala global.

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Continuidades e rupturas entre os três
CONTATO REPORTAR ERROS
consensos capitalistas

Se durante a Guerra Fria a imaginação


geopolítica hegemônica falava de um mundo
bipolar, dividido em dois blocos
ideologicamente polarizados, com a queda do
Muro de Berlim começou a ser forjada uma
imaginação geopolítica hegemônica baseada
em consensos capitalistas globais. Se
analisarmos o “Consenso da
Descarbonização” sob a perspectiva da
processualidade sócio-histórica, veremos que
há continuidades e rupturas entre os três
consensos hegemônicos em vigor nas últimas
décadas. Entre os pontos de continuidade, três
elementos principais podem ser destacados. O
primeiro é o discurso da inevitabilidade, que
a�rma que não há alternativa a esses
consensos. Após o “There is no Alternative”
do Consenso de Washington, a restrição do
mundo do possível foi sendo aperfeiçoada com
diferentes repertórios de legitimação social,
seja o acesso ao consumo pelos setores
populares, seja a retórica de respirar um ar
mais saudável. O “Consenso das Commodities”
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foi construído com base na ideia de que havia


um acordo sobre a natureza irrevogável ou
LOJA
irresistível daEBOOKS BLOG
dinâmica ONDE ENCONTRAR
extrativista SOBRE
resultante AUTORES

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da crescente demanda global por matérias-
primas, cujo objetivo era fechar a
possibilidade de alternativas. De maneira
semelhante, o “Consenso da
Descarbonização” hoje busca instalar a ideia
de que, dada a urgência climática, não há outra
transição possível e que a única existente e
“realista” é a transição corporativa.

Em segundo lugar, todos esses consensos


implicam em uma maior concentração de
poder em atores não democráticos (grandes
corporações, agentes �nanceiros e
organizações internacionais), minando
qualquer possibilidade de governança
democrática, ainda mais em um contexto de
“transição”. Isso se manifesta de duas formas
principais. Por um lado, é visto na captura
corporativa dos espaços de governança.
Espaços como a Conferência das Partes (COP),
que, como órgão supremo da Convenção-
Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças
Climáticas, deveriam ser fóruns multilaterais
para avançar na luta contra as mudanças
climáticas, são cada vez mais uma feira de
negócios para o capitalismo verde que
mantém as relações de poder energético entre
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o Norte e o Sul. Podemos dizer que as COPs


servem ao “Consenso da Descarbonização”,
LOJA
assim como aEBOOKS BLOG
OMC serviu ao ONDE ENCONTRAR
“Consenso de SOBRE AUTORES

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Washington” e ao “Consenso das
Commodities“.

Por outro lado, ela se manifesta na forte


concentração de poder entre as grandes
empresas, do início ao �m das cadeias globais.
Se considerarmos o caso do lítio na Argentina
e no Chile, por exemplo, no �nal da cadeia de
valor global estão os gigantes automotivos
(Toyota, BMW, Audi, Nissan, General Motors)
e empresas elétricas como a Vestas e a Tesla.
50% da industrialização de baterias para
fábricas automotivas está concentrada em
empresas chinesas, e o controle da extração
também é dominado por poucas empresas: a
americana Albemarle, a chilena SQM, a
americana Livent Corp, a australiana Orocobre
e a chinesa Ganfeng. Por sua vez, o Chile e a
Argentina exportam carbonato de lítio, uma
commodity sem valor agregado e, apesar dos
anúncios recorrentes sobre
“industrialização”, os países do chamado
“triângulo do lítio” estão longe de controlar a
cadeia global do lítio, das salinas às baterias.

Em muitos casos, a extração de lítio está sendo


realizada sem licença social, acordo ou
consulta
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habitam esses territórios há milênios e que


denunciam o consumo excessivo de água e
LOJA EBOOKS BLOG
seus impactos no processo deONDE ENCONTRAR
extração. Nas SOBRE AUTORES

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Salinas Grandes, em Jujuy, Argentina, desde
2010, um grupo de comunidades indígenas
(chamadas de “as 33 comunidades”) vem
rejeitando a extração de lítio em seus
territórios, exigindo consulta livre, prévia e
informada e defendendo uma perspectiva
holística e ancestral que integra território,
autonomia, Bem Viver, plurinacionalidade,
água e sustentabilidade da vida. O salar é
considerado pelos povos indígenas como “um
ser vivo, um doador de vida”, e eles têm como
lema “A água e a vida valem mais do que o
lítio”, como pode ser visto estampado no
Aerocene Pacha, um balão de ar quente sem
combustível que o artista argentino Tomás
Saraceno ergueu em janeiro de 2020.

Em terceiro lugar, a constante busca pela


expansão das fronteiras capitalistas envolve,
em todos esses casos, a promoção de
megaprojetos voltados para o controle, a
extração e a exportação de bens naturais. E,
para isso, há uma clara aposta em garantir
“segurança jurídica” ao capital com bases
regulatórias e legais que permitam a maior
lucratividade empresarial. Não é inocente, por
exemplo, que nos novos acordos comerciais
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bilaterais que a UE está negociando (com o


Chile e o México, entre outros) ela tenha
LOJA EBOOKS BLOG
incorporado capítulos sobre ONDE ENCONTRAR
energia e SOBRE AUTORES

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matérias-primas para garantir o acesso a
minerais essenciais para a transição. A
Comissão Europeia deixou bem claro na
declaração do Pacto Verde Europeu que “o
acesso aos recursos é uma questão de
segurança estratégica para a implementação
do Pacto Verde” e que é essencial “garantir o
fornecimento de matérias-primas
sustentáveis, em especial as necessárias para
as tecnologias renováveis, digitais, espaciais e
de defesa”. Nesse contexto, apresentou, em
março de 2023, uma proposta para uma
“Regulamentação de Matérias-Primas
Críticas”, ostensivamente destinada a garantir
um fornecimento seguro e sustentável dessas
matérias-primas. No entanto, conforme
explicado em um relatório do Centre for
Research on Multinational Corporations
(SOMO, para sua sigla em holandês), a
estratégia proposta pela UE não levará a um
fornecimento sustentável de minerais críticos
para a Europa, pois exacerbará os riscos aos
direitos humanos e ao meio ambiente,
prejudicará a dinâmica econômica nos países
parceiros e continuará a reforçar o consumo
insustentável nos países ricos.
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Além dessas linhas de continuidade, há


também novidades. Uma característica
LOJA EBOOKS BLOG
importante do “Consenso deONDE ENCONTRAR SOBRE AUTORES

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Descarbonização” está ligada à complexidade
das relações neocoloniais em um mundo
multipolar, marcado pela competição inter-
imperial, onde a geopolítica se transforma em
geoeconomia e em múltiplos colonialismos.
Não é apenas a UE, que carece de minerais
essenciais, que está buscando acesso direto a
eles. A China, apesar de possuir esses
minerais, está muito bem-posicionada no Sul
global, onde há quase duas décadas vem
fazendo investimentos muito agressivos em
setores extrativistas estratégicos, mantendo
um tipo de relacionamento diferente daqueles
estabelecidos pelos EUA e pela Europa. Uma
das peculiaridades da nova dependência
gerada entre a China e os países latino-
americanos, dos quais, em quase todos os
casos, é o principal parceiro comercial, é que,
embora seus investimentos sejam de longo
prazo em diferentes setores (agronegócio,
mineração, petróleo, infraestrutura ligada às
atividades extrativistas), em termos de
transferências de tecnologia –
particularmente em relação à transição verde
– ela tende a usar tecnologia chinesa de ponta,
que também inclui, às vezes, mão de obra
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chinesa. A disputa inter-imperial é concluída


com os EUA. Embora essas questões pareçam
LOJA EBOOKS BLOG ONDE ENCONTRAR SOBRE AUTORES
estar ausentes das declarações do
CONTATO REPORTAR ERROS
Departamento de Estado, em várias ocasiões a
chefe do Comando Sul, Laura Richardson,
deixou claro o interesse estratégico da
América do Sul para seu país (em termos de
água, petróleo, lítio, entre outros). Por �m,
acrescentamos que a Rússia, como um ator
tendencialmente hegemônico em um mundo
multipolar, está longe de ter o alcance das
potências mencionadas no campo da disputa
sobre a transição energética.

Outro elemento de distinção importante entre


esses três consensos é o papel do Estado.
Sabemos que o “Consenso de Washington” foi
marcado por uma lógica de Estado mínimo e o
“Consenso das Commodities” defendeu um
Estado moderadamente regulador, mas em
estreita aliança com o capital transnacional.
Por sua vez, o “Consenso da Descarbonização”
parece inaugurar o surgimento de um tipo de
neoestatismo de planejamento – em alguns
casos, mais próximo de um estado eco-
corporativo – que busca combinar a transição
verde com a promoção de fundos privados e a
�nanceirização da natureza. Dessa forma, as
transições verdes conduzidas por instituições
governamentais e pelo Estado tendem a se
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aproximar, facilitar e se fundir com as


transições corporativas, em uma dinâmica de
LOJA EBOOKS
subserviência do setorBLOG ONDE ENCONTRAR
público aos interessesSOBRE AUTORES

CONTATO REPORTAR ERROS


privados. Entretanto, em alguns casos em que
há ciclos intensos de mobilização social, o
Estado pode tentar recuperar alguma
autonomia relativa promovendo transições
ecossociais que incentivem a descentralização
e a desconcentração do poder corporativo.

Além disso, embora tanto o “Consenso das


Commodities” quanto o “Consenso da
Descarbonização” impliquem em uma lógica
extrativista, os produtos e os minerais
necessários foram ampliados. No primeiro
caso, são principalmente produtos
alimentícios, hidrocarbonetos e minerais,
como cobre, ouro, prata, estanho, bauxita e
zinco, enquanto no segundo, além dos
minerais mencionados, o foco de interesse são
os chamados minerais críticos para a transição
energética, como lítio, cobalto, gra�te, índio,
entre outros, e terras raras. Em ambos os
casos, a extração e a exportação de matérias-
primas têm consequências catastró�cas em
termos de destruição ecológica e geração de
dependência. No entanto, como argumenta a
socióloga alemã Kristina Dietz, um aspecto
fundamental que diferencia o extrativismo
verde do neoextrativismo é o discurso usado
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para legitimar o primeiro, uma vez que os


atores que o promovem a�rmam que ele é
LOJA
sustentável eEBOOKS BLOG
que é a única ONDE ENCONTRAR
maneira SOBRE
possível de AUTORES

CONTATO
enfrentar aREPORTAR ERROS
emergência climática.

Descarbonização sim, mas com justiça


geopolítica

Para que a descarbonização saia dessa lógica


perversa, ela deve ser desmercantilizada e
descolonizada a partir de um questionamento
estrutural. Qualquer hipótese de uma transição
ecossocial justa e integral deve enfrentar esse
desa�o e não pode estar ancorada apenas no
nível local – como geralmente acontece – mas
também deve considerar o nível geopolítico
como uma prioridade. Isso implica incorporar
o imperativo do decrescimento por parte do
Norte global, bem como a dívida ecológica com
os povos do Sul, buscando construir pontes
entre os atores e diagnósticos críticos em
busca de uma justiça ecológica global.

O Norte global precisa urgentemente começar


a decrescer em várias áreas: em termos de
consumo, redução da esfera de
mercantilização, desmaterialização da
produção, transporte e distribuição das horas
de trabalho. Embora em muitas das propostas
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de decrescimento os fatores mencionados


acima pareçam estar ligados a uma lógica de
LOJA EBOOKS BLOG ONDE ENCONTRAR SOBRE AUTORES
redistribuição social, a “desmaterialização” –
CONTATO REPORTAR ERROS
ou seja, a redução da intensidade do uso de
matérias-primas e energia – é inexorável.
Embora seja uma responsabilidade prioritária
do Norte global, isso não signi�ca que seja
“apenas uma coisa do Norte”, como é
frequentemente argumentado no debate
público, e que o Sul tenha que reivindicar seu
“direito ao desenvolvimento”, porque é o
chamado desenvolvimento e a lógica do
crescimento insustentável que está nos
levando ao colapso hoje.

O decrescimento é uma demanda por justiça


global, no contexto de um planeta já
dani�cado. Além disso, como advertiram
vários defensores do decrescimento (como
Giorgos Kallis, Federico Dimaria e Jason
Hickel, entre muitos outros), a redução
progressiva do metabolismo social se
traduziria em menos pressão sobre os recursos
naturais e os territórios do Sul, o que abriria
um “espaço conceitual” no Sul global que
seria necessário para avançar em direção ao
pós-extrativismo. Ainda assim, como a�rma
Hickel, “o decrescimento é uma demanda por
descolonização. Os países do Sul devem ser
livres para organizar seus recursos e seu
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trabalho em torno da satisfação das


necessidades humanas e não em torno de
LOJA EBOOKS BLOG ONDE ENCONTRAR SOBRE AUTORES
servir ao crescimento do Norte”.
CONTATO REPORTAR ERROS
O complemento do decrescimento só pode ser
o pagamento da dívida ecológica com os povos
e países do Sul. Em termos contábeis, a dívida
climática é apenas uma linha no balanço de
uma dívida ecológica mais ampla. Assim, a
dívida ecológica poderia ser entendida como a
obrigação e a responsabilidade que os países
industrializados do Norte têm para com os
países do Sul pela pilhagem e exploração de
seus recursos naturais (petróleo, minerais,
�orestas, biodiversidade, recursos marinhos),
à custa da energia humana de seus povos e da
destruição, devastação e poluição de seu
patrimônio natural e de suas próprias fontes
de subsistência.

A dívida ecológica também está intimamente


ligada à dívida externa. A superexploração dos
recursos naturais se intensi�ca quando as
relações comerciais pioram para as economias
extrativistas, que precisam fazer pagamentos
da dívida externa e �nanciar as importações
necessárias. A pressão que os centros
capitalistas exercem sobre a periferia para
extrair recursos naturais é exacerbada no
contexto da dívida externa. O imperativo de
crescimento
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contrapartida a “obrigação de exportar” do


Sul, que nos países capitalistas periféricos
parece LOJA EBOOKS BLOG
estar associado ONDE ENCONTRAR
à necessidade SOBRE
de pagar AUTORES

aCONTATO REPORTAR ERROS


dívida externa e seus juros, o que renova um
círculo interminável de desigualdade. Isso está
acontecendo hoje na Argentina, um país com
uma dívida externa (contraída pelo governo
neoliberal de Mauricio Macri entre 2015 e
2019) que o torna incapaz de pensar em
qualquer alternativa de mudança que não seja
expandir as fronteiras do neoextrativismo, a
�m de obter dólares para aliviar os
pagamentos de juros da dívida externa com o
FMI.

Durante décadas, houve inúmeras e


recorrentes iniciativas exigindo reparações
abrangentes por responsabilidades históricas
e que também articulam explicitamente a
dívida ecológica com a dívida externa. Esse foi
o caso da campanha Quem deve a quem? que,
no auge do movimento altermundialista, na
virada do século, exigiu o cancelamento da
dívida externa e o pagamento da dívida
ecológica. Além de denunciar a natureza
ilegítima da dívida externa, o objetivo era
conscientizar a população do Norte global
sobre sua responsabilidade pela dívida
ecológica. Mais recentemente, em 27 de
fevereiro de 2023, o movimento Debt for
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Climate lançou um convite para se reunir com


representantes dos países mais afetados pela
LOJA
interseção daEBOOKS BLOG
crise climática ONDE ENCONTRAR SOBRE
e da dívida, a �m AUTORES

CONTATO
de discutirREPORTAR ERROS
o cancelamento da dívida do Sul
global e, assim, permitir uma transição justa.
Esse dia marcou o 70º aniversário do Acordo
de Londres, por meio do qual a Alemanha
recebeu um alívio de 50% da dívida acumulada
antes, durante e depois da Segunda Guerra
Mundial. Alguns dos países que permitiram
que a Alemanha vivesse seu chamado “milagre
econômico”, graças a esse cancelamento,
estão hoje altamente endividados. No entanto,
a Alemanha impede qualquer medida
progressiva para aliviar esses países de seu
pesado fardo de dívida, enquanto, ao mesmo
tempo, eles estão sofrendo as consequências
devastadoras da crise climática.

De acordo com Alberto Acosta, se isso foi


possível para a Alemanha em um contexto
pós-guerra, por que não seria possível para os
países do Sul em um cenário pós-pandemia e
de emergência climática? O Acordo de Londres
também nos oferece uma lista de questões a
serem consideradas no enfrentamento da
dívida externa: capacidade de pagamento,
cancelamento substancial da dívida, redução
signi�cativa das taxas de juros, transparência
nas negociações para determinar os benefícios
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das partes, cláusulas de contingência,


esquemas de gerenciamento de disputas e a
LOJA EBOOKS BLOG ONDE ENCONTRAR SOBRE AUTORES
possibilidade de arbitragem justa e
CONTATO REPORTAR ERROS
transparente, entre muitas outras. Para
avançar na busca de soluções duradouras, é
necessário, embora não seja su�ciente, exigir
o cancelamento da dívida, auditorias cidadãs e
atenção às repetidas denúncias de violência e
corrupção ligadas à dívida externa. Em suma,
uma recon�guração do sistema �nanceiro
internacional que deixe claro que nenhum país
pode se salvar sozinho, algo que não surgirá
espontaneamente, mas que requer uma
reativação das articulações internacionalistas
que conectem o Norte e o Sul global neste
cenário de policrise civilizacional.

Nesse marco, o decrescimento e o pós-


extrativismo são duas perspectivas
complementares e multidimensionais que
permitem a construção de pontes
internacionalistas e Norte-Sul em torno de
uma transição ecossocial integral. Ambas
formulam uma crítica aos limites ecológicos
do planeta e enfatizam a insustentabilidade
dos modelos de consumo imperial e do
aprofundamento das desigualdades sociais.
São também conceitos-horizonte que
constituem um ponto de partida para a
construção de ferramentas de mudança e
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alternativas civilizacionais, com base em outro


regime socioecológico, diferente do regime
LOJA EBOOKS BLOG ONDE ENCONTRAR SOBRE AUTORES
economicista e pragmático de certos
CONTATO REPORTAR ERROS
ambientalismos do momento. Podem avançar,
com justiça climática, em direção a um
horizonte de transformação ecossocial.

Construir transições ecossociais justas,


populares e territorializadas

Em contraste com o que propõe o “Consenso


da Descarbonização”, a energia deve ser vista
como um direito e a democracia/soberania
energética como um horizonte para sustentar
o tecido da vida. A justiça ecossocial deve ter
como objetivo eliminar a pobreza energética e
desmantelar as relações de poder. No
horizonte de uma transição energética justa,
os combustíveis fósseis devem ser deixados no
solo e os processos de exploração de
hidrocarbonetos devem ser “desescalonados”,
conforme sugerem as companheiras da
organização Censat Agua Viva na Colômbia, o
que implica uma ruptura de sentido para
ressigni�car a natureza.

Há cada vez mais vozes que, felizmente,


buscam desmascarar o “Consenso da
Descarbonização”, argumentando que a
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transição energética não pode ser feita às


custas da água, dos ecossistemas e dos povos.
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Elas mostram, ao mesmo tempo, que as
CONTATO REPORTAR ERROS
transições ecossociais justas não são e não
podem ser uma projeção do futuro, mas estão
acontecendo no presente, na experiência
cotidiana de múltiplos territórios urbanos e
rurais, no Norte e no Sul. Como resultado, o
desa�o não é tanto construir novas utopias e
narrativas ecoutópicas para um mundo em que
gostaríamos de viver, mas expandir,
reconhecer e aprimorar essas práticas,
conduzidas por diversas comunidades,
organizações e movimentos sociais, que já
existem e pre�guram alternativas sociais.

As transições ecossociais populares e


territoriais estão, portanto, ancoradas em
experiências concretas que, embora locais,
podem ser ampliadas, conectadas e inspirar
outras realidades. Elas têm vários eixos
estratégicos que se alimentam mutuamente:
energia (comunidade), alimentos
(agroecologia e soberania alimentar),
produção e consumo (estratégias de
deslocalização e práticas pós-extrativistas de
economia social e solidária, agricultura
urbana), trabalho e cuidado (redes de cuidado
e sociabilidades anticapitalistas),
infraestruturas (moradia, mobilidade etc.),
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cultura e subjetividade (mudança cultural e de


mentalidade), disputa política e normativa
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(geração de novos imaginários políticos
CONTATO REPORTAR ERROS
relacionais vinculados a direitos territoriais e
da natureza, eco-dependência, eco-
feminismos, múltiplas dimensões da justiça e
ética interespécies).

Essas propostas entendem que as transições


ecossociais não podem se restringir apenas às
questões climáticas e energéticas, como é
comum no tipo dominante de transição, mas
devem ser holísticas e integrais. Elas exigem
uma transformação estrutural do sistema
energético, mas também do modelo urbano e
de produção, bem como dos vínculos com a
natureza: desconcentrar, desprivatizar,
desmercantilizar, descentralizar,
despatriarcalizar, desierarquizar, reparar e
curar. Além disso, ela busca um conceito de
justiça integral que transcende a visão
limitada das transições corporativas: o social
não pode ser separado do ambiental; e a justiça
social, ambiental, étnica, racial e de gênero
também são indissociáveis.

Longe de romantizar as experiências de


transições ecossociais justas, é essencial
entender suas contradições, di�culdades e
obstáculos internos e externos. Nesse registro,
anossa
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são elementos fundamentais. Por exemplo,


uma alternativa ecossocial restrita a pequenas
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comunidades e lugares especí�cos que não seSOBRE AUTORES

CONTATO REPORTAR ERROS


relacionam com outras experiências não é o
mesmo que experiências localizadas, mas não
localistas, que buscam construir articulações e
sentidos para além de seu próprio território.
Em um contexto de desglobalização gradual, a
tentação de uma forte desconexão é grande.
Mas para que as transições justas avancem,
precisamos da criação de blocos regionais
fortes, bem como do avanço na direção de um
estado ecossocial.

A crise ecológica e climática está introduzindo


novos riscos, a maioria com danos
irreversíveis, que afetam a população de forma
desigual. Como o economista Rubén Lo Vuolo
aponta, precisamos ir além da lógica de um
Estado que repara os danos para construir um
Estado capaz de preveni-los. A distribuição
deve ser pensada independentemente do
crescimento. Um Estado ecossocial deve
buscar um mecanismo de proteção social que
seja o mais universal possível. Em vez de
garantir uma aposentadoria (para aqueles que
contribuem há anos), devemos buscar uma
renda universal ou uma renda básica, a �m de
passar de um Estado compensatório para um
Estado preventivo, mais preocupado com as
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necessidades das pessoas do que com os


interesses das corporações.
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Sem uma mobilização social constante,
CONTATO REPORTAR ERROS
coordenada e maciça, é improvável que isso
aconteça. Não se trata apenas de reunir os
movimentos climáticos ou repensar o
ambientalismo, mas também de integrar uma
multiplicidade de lutas que nem sempre
estiveram conectadas entre si, mas que nos
últimos anos tendem a aderir
progressivamente ao paradigma das
transições justas, contribuindo para que
avancem em suas diferentes dimensões:
movimentos feministas, antirracistas,
camponeses, indígenas, animalistas, sindicais,
de economia popular e solidária, entre outros.
Longe das soluções individualistas que
emergem do “Consenso da Descarbonização”,
isso nos permite entender que a saída é
coletiva; que não é apenas técnica, mas
profundamente política. Essa é a chave para
gerar processos de con�uência e libertação
cognitiva que permitam nos percebermos
como sujeitos valiosos, embora não únicos, na
construção urgente e necessária de uma
história interespécies que merece ser vivida.

Notas
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1. Michael Lawrence, Scott Janzwood y


Thomas Homer-Dixon: «What is a Global
LOJA EBOOKS
Polycrisis? And HowBLOG ONDE ENCONTRAR
Is It Di�erent from a SOBRE AUTORES

CONTATO REPORTAR ERROS


Systemic Risk?», informe para discussão,
Cascade Institute, 9/2022.
2. Ver https://pactoecosocialdelsur.com
/declaracion-de-bogota/
3. M. Svampa y Pablo Bertinat (eds.): La
transición energética en la Argentina. Una
hoja de ruta para entender los proyectos en
pugna y las falsas soluciones, Siglo XXI
Editores, Buenos Aires, 2022.
4. M. Svampa: «‘Consenso de los
Commodities’ y lenguajes de valoración en
América Latina» en Nueva Sociedad No 244,
3-4/2013, disponível em nuso.org.
5. B. Bringel y Geo�rey Pleyers (eds.): Alerta
global. Políticas, movimientos sociales y
futuros en disputa en tiempos de pandemia,
Clacso, Buenos Aires, 2020.
6. Este conceito foi formulado pelo Grupo de
Estudios en Geopolítica y Bienes Comunes
de la Universidad de Buenos Aires. Ver, entre
otros, «El litio y la acumulación por
desfosilización en Argentina» en M. Svampa
y P. Bertinat (eds.): La transición energética
en Argentina.
7. Thea Riofrancos: «Por qué relocalizar la
extracción de minerales críticos en el Norte
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global no es justicia climática» en Viento


Sur, 8/3/2022.
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8. A. Pérez: Pactos verdes en tiempos de
CONTATO REPORTAR ERROS
pandemias. El futuro se disputa ahora,
Observatori del Deute en la Globalització /
Libros en Acción / Icaria, Barcelona, 2021, p.
62.
9. G. Bateson: Steps to an Ecology of Mind,
Chandler, San Francisco, 1972.
10. Etienne Beeker: «¿Hacia dónde va la
transición energética alemana?» em Agenda
Pública, 15/2/2023.
11. Banco Mundial: Minerals for Climate Action:
The Mineral Intensity of the Clean Energy
Transition, BM, Washington, DC, 2020.
12. G. Pitron: «El impacto de los metales raros.
Profundizando en la transición energética»
em Green European Journal, 5/2/2021.
13. C. Moreno, Daniel Speich Chassé y Lili Fuhr:
A métrica do carbono: abstrações globais e
epistemicídio ecológico, Fundação Heinrich
Böll, Río de Janeiro, 2016.
14. Melisa Argento, Ariel Slipak y Florencia
Puente: «Cambios en la normativa de
explotación y creación de una empresa 100%
estatal», Serie Políticas y Líneas de Acción,
Clacso, 2021.
15. Para mais informações, ver
https://pacha.aerocene.org
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16. A. Pérez, op. cit., p. 58.


17. Disponivel em: single-market-
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economy.ec.europa.eu/publications
CONTATO REPORTAR ERROS
/european-critical-raw-materials-act_en.
18. «SOMO Position Paper on Draft Critical Raw
Materials Regulation», 17/5/2023,
disponível em somo.nl/somo-position-
paper-on-critical-raw-materials-
regulation/.
19. M. Svampa y A. Slipak: «Amérique Latine,
entre vieilles et nouvelles depéndances: le
rôle de la Chine dans la dispute
(inter)hégémonique» em Hérodote. Revue
de Géographie et de Géopolitique vol.
2018/4, No 171, 2018.
20. M. Argento, A. Slipak y F. Puente, p. cit.
21. Camilo Solís: «Laura Richardson: la jefa del
Comando Sur de EEUU que pretende el litio
sudamericano y que cierren Russia Today y
Sputnik» em Interferencia, 6/6/2023.
22. K. Dietz: «Transición energética y
extractivismo verde», Serie Análisis y
Debate No 39, Fundación Rosa Luxemburgo,
O�cina Región Andina, Quito, 9/2022. Ver o
artigo nesse número, p. 108.
23. F. Demaria: «Decrecimiento: una propuesta
para fomentar una transformación
socioecológica profundamente radical» em
Oikonomics No 16, 11/2021. Vale destacar
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que enquanto na Europa o debate sobre o


decrecimiento desbordou o campo
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militante, abandonando seu caráter
CONTATO REPORTAR ERROS
«abstrato» para permear os relatórios do
Painel Intergovernamental sobre
Mundanças Climáticas (que questionam a
lógica do crescimento econômico) e inserir-
se cada vez mais na discussão política
institucional de la União Europeia, nos EUA,
pelo contrário, esse continua sendo um
tema tabu, inclusive dentro dos círculos
ecossocialistas, pouco propensos a retomá-
lo nos debates sobre a transição ecossocial.
24. J. Hickel: «The Anti-Colonial Politics of
Degrowth» em Resilience, 4/5/2021.
25. «Alerta verde No 78: ¡No más saqueo, nos
deben la deuda ecológica!» em Ecología
Política No 18, 1999.
26. M. Svampa y E. Viale: «De la ceguera
ecológica a la indignación colectiva»,
ElDiarioAR, 14/5/2023.
27. Francisco Cantamutto y Martín Schoor:
«América Latina y el mandato exportador»
en Nueva Sociedad edición digital, 6/2021,
disponível em nuso.org.
28. Joan Martínez Alier y Arcadi Oliveres: ¿Quién
debe a quién? Deuda ecológica y deuda
externa, Icaria, Barcelona, 2010.
29. A. Acosta: «Un aniversario histórico, 70 años
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del Acuerdo de Londres. ¿Por qué es un


imposible para los países del sur?» em
LOJA EBOOKS BLOG ONDE ENCONTRAR SOBRE AUTORES
Ecuador Today, 23/2/2023.
CONTATO REPORTAR ERROS
30. Ver o Mani�esto de los Pueblos del Sur por
una Transición Justa y Popular, 2023,
disponível em:
pactoecosocialdelsur.com/mani�esto-de-
los-pueblos-del-sur-por-una-transicion-
energetica-justa-y-popular-2/.
31. Ver, a respeito, os trabajos de Pablo Bertinat
e a Declaración de Bogotá del Pacto
Ecosocial e Intercultural del Sur.
32. R. Lo Vuolo: «Crisis climática y políticas
sociales. Del Estado de Bienestar al Estado
Eco-Social», Serie Documentos de Trabajo
CIEPP No 111, 12/2022.

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