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PROCESSOS INTERATIVOS
HOMEM - MEIO AMBIENTE
Tradução de
João Alves dos Santos
Revisão de
Suely Bastos
3ª edição
Coordenação editorial de
Antonio Christofoletti
bertrand
brosil _I
~
Título original: Man-Enuironment Processes
Publicado originalmente por George Allen & Unwin (Publishers) Ltd,
Londres.
© Copyright byD. Drew 1983.
Composição: Copidart
Capa: Isabel
CIP-Brasil, Catalogação-na-fonte
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, R].
Prefácio
Drew, David
D831p Processos interativos homem-meio ambiente I David Drew;
3.ed. tradução de João Alves dos Santos: revisão de Suely Bastos;
coordenação editorial de Antonio Christofoletti. - 3.ed. - Rio
de Janeiro: Bertrand Brasil. 1994. Cientistas malucos ou desagradáveis invasores vindos do espaço já foram
224p.
os personagens habituais dos autores de ficção científica a transformar o
Tradução de: Man-environment processes nosso mundo - normalmente para pior. No fmal do século XX, esses arti-
Inclui bibliografia fícios tornaram-se redundantes tanto na ficção como na realidade, pois é o
ISBN 85-286-0426-8
próprio homem que vem alterando o planeta, acidental e intencionalmente, às
1. Homem -Jnfluêncía sobre a natureza. I. Título. vezes em escala impressionante. Além das mudanças climáticas que se verifi-
CDD - 574.5222 caram no decurso de milhares de anos, o homem é hoje o mais poderoso
304.28 agente individual da alteração das condições na superfície terrestre.
94-1318 CDU -577.4
Até há pouco, comparativamente, os estudos geográficos versavam
sobre o funcionamento de aspectos específicos do mundo humano ou físico
1994 (natural) ou sobre a medida em que o ambiente se refletia nos atos humanos.
Impresso no Brasil Os fatores do ambiente físico serviam, ao menos em parte, para "explicar" os
Printed in Brazü
padrões das atividades humanas como, por exemplo, os povoados à beira de
Todos os direitos desta tradução reservados à: fontes ou estudos dos padrões de vegetação natural. As forças econômicas,
EDITORA BERTRAND BRASIL S.A. sociais e tecnológicas eram praticamente olvidadas nessa relação direta homem-
Av. Rio Branco, 99 - 202 andar - Centro
20040-004 - Rio de Janeiro - RJ
ambiente. Em larga medida, os estudos ambientais e ecológicos preocupavam-
Te!.: (021) 263-2082 - Fax: (021) 263-6112 - Telex: (21) 33798 se com o ambiente "natural" em que o homem era freqüentemente encarado
Caixa Postal 2356/20010 - Rio de Janeiro - RJ como um intruso indesejável, a ser ignorado se possível. Nenhuma dessas teses
Av. Paulista, 2073 - Conjunto Nacional pode ser considerada inteiramente realista nos dias de hoje, pois, embora os
Horsa I - Grupos 1301/1302
seres humanos constituam uma das formas de vida do planeta, eles se tornaram
01311-300 - São Paulo - SP
Te!.: (011) 285-4941/285-0251 Telex: (11) 37209
agora mais do que organismos passivos ocupando um nicho ecológico. O
Fax: (011) 285-5409 homem não só pode transformar e expandir o seu nicho, mas também afetar
os mecanismos do sistema da Terra ~m maior ou menor grau, em maior ou
Não é permitida a reprodução total ou parcial desta obra, por quaisquer
meios, sem a prévia autorização por escrito da Editora.
menor escala. Ele vem procurando, em ritmo acelerado, modificar o ambiente
para se contentar a si mesmo, em vez de mudar seus hábitos para melhor se
Atendemos pelo Reembolso Postal. adaptar ao ambiente.
O homem não é o senhor da Terra. Ainda é válido dizer que não conse-
gue viver em multidão onde não possa cultivar alimentos - mais da metade da
superfície terrestre -, mas por toda a parte a sua dependência da incons-
tância da natureza é quase total. Ele pode amenizar a realidade nua e crua
v
1
VI Processos Interativos Homem - Meio Ambiente
VII
VIII Processos Interativos Homem - Meio Ambiente
Prefácio V
Agradecimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. VII
IX
x XI
1. O ambiente
realizadas talvez se tornem irreversíveis, se não trouxerem consigo imprevi- regra geral, uma localização correspondente aos fatores mercado e mão-de-
síveis alterações de fundo. O homem já deixou de ser mero aspecto da biogeo- obra, ficando as de terminantes naturais confinadas à descoberta de uma área
grafia (simples unidade de um ecossistema), para se tornar cada vez mais um agradável para a moradia do pessoal. No entanto, não se pode dizer que o
elemento afastado do meio físico e biológico em que vive. Quando se tomar homem seja independente do meio. Citemos Ellen Semple: "A civilização
capaz de fabricar ou sintetizar alimentos de matérias inorgânicas - perspecti- alargou a trela do homem e almofadou-lhe a coleira ... mas a trela nunca se
va que não é improvável -, um vínculo basilar, o do homem com a terra viva, solta". Torna-se evidente que a espécie humana ainda está sujeita à natureza,
estará rompido. como o demonstram as péssimas colheitas de cereais na URSS, a diminuição
das pescas no Peru, por não ter ocorrido a ascensão de águas frias da corrente
litorânea de Humboldt, as secas do Sudão e da Etiópia, etc. Todos os anos a
1.2. O controle humano sobre a natureza imprensa noticia desastres semelhantes em alguma parte do mundo. Em certa
medida, o esforço que se requer para a obtenção de um dado retomo é
1.2.1. Determinismo, possibilismo e controle total proporcional ao grau de submissão às condições naturais - contrariar a "natu-
reza das coisas" exige mais esforço. As aplicações de tecnologia ultramoderna
;'"
"Os habitantes das regiões basálticas são difíceis de governar, propensos têm de ser estudadas com o maior dos cuidados, a fim de que sejam ade-
à insurreição e ímpios", pontificava o abade Giraud Soulavie há cerca de quadas ao meio ambiente e não tragam mais prejuízo do que benefício à
quatrocentos anos. No início do nosso século, Ellen Semple pensava que os população.
povos montanheses eram essencialmente conservadores e que, na Alemanha, Os exemplos a seguir são ilustrativos do domínio da natureza sobre o
as diferenças climáticas explicavam a natureza jovial e prazerosa dos bávaros, homem e vice-versa, variando a intensidade e a extensão geográfica dos
assim como o austero e enérgico caráter dos saxões do norte do país. fenômenos.
Semelhantes opiniões são consideradas hoje como pertencentes à esfera
lunática da geografia; no entanto, ainda que nas páginas deste livro se des-
taque a importância do homem na alteração do meio físico, convém notar 1.2.2. A natureza dominando o controle?
que também há outras opiniões. A teoria segundo a qual as condições naturais
governam o comportamento do homem e até mesmo aspectos do seu caráter Divisas de terras em Yorkshire. Os materiais empregados na construção
chama-se determinismo ou causalidade. Trata-se de uma noção derivada da de divisas de terras numa pequena área do norte de Yorkshire podem ser
idéia pós-darwiniana do homem enquanto produto da seleção natural, por vistos na Fig. 1.2. Também se pode ver a geologia local, que compreende
inexoráveis processos da natureza. Que a natureza obedece a um grande calcário carbonífero a Norte e a Leste, arenito no Sul, formações hulhíferas*
plano, ao qual o homem tem de se conformar e, dessa forma, prosperar, eis e folhelho a Oeste. Até recentemente, as cercas eram feitas com os materiais
uma tese inteiramente fora de moda. Há uma tese alternativa, que é a do disponíveis e apropriados. Na área aflorante de calcário, praticamente todos
possibilismo; o homem não é passivo, mas sim um agente geográfico, apto os muros divisórios são feitos com blocos desse material; nos solos mais
a agir sobre o meio e a modífícã-lo, dentro de limites naturais de espaço e de profundos com mata esparsa, situados ao Sul, as cercas vivas respondem por
possibilidades de desenvolvimento. um terço do total. As formações hulhíferas e o folhelho são impróprios para
Conforme já se observou, é impossível explicar as decisões e atividades fazer blocos e, por isso, não há nenhum muro que os empregue. Até os
humanas com base apenas nas limitações ambientais. Para que o deterrninismo resultados da glaciação são perceptíveis na distribuição dos tipos de divisórias.
fosse plenamente válido, a localização de uma fábrica seria determinada pela Regra geral, o movimento do gelo, nessa área, efetuou-se de Norte para Sul,
localização de matérias-primas e energia, admitindo a existência de um
mercado. Na realidade, os fatores econômicos, sociais e políticos, ou mesmo
o capricho pessoal do empresário, têm, no mínimo, importância igual. Por
* Em inglês, Coal Measures. Segundo D. Dineley, D. Hawkes, P. Hancock e B. Williams,
exemplo, a localização da indústria automobilística, no mundo inteiro, Earth resources - A dictionary of terms and concepts, Londres, 1976, são rochas em
quase que se tornou totalmente independente dos elementos naturais; além que ocorrem veios de carvão intercalados entre camadas de argila, arenito e folhelho.
disso, setores mais recentes (como a tecnología microeletrônica) têm, em (N. do T.)
6
o Homem e o Ambiente: Introdução o Ambiente 7
100
exposta à violência dos tempestuosos ventos do Oeste do Atlântico, serve para
ilustrar uma forma de subordinação ou de acomodação com a natureza, muito
diferente da que se observa nas áreas agrícolas das planícies inglesas. A faixa
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ocidental está recoberta de areias de origem glacial, que formam dunas relati-
vamente estabilizadas por gramíneas. Já a faixa oriental assenta em argila
barrenta densa e mal drenada, também de origem glacial. A agricultura, na
península, concentra-se na pecuária de corte, em conjunto com discretas
100 culturas de forragem, aveia e batata. O pastoreio na escassa vegetação das
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dunas logo desnuda o terreno, e o vento promove a rápida erosão da areia. Do
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c mesmo modo, o gado não pode ser levado para os brejos ao nível do mar, com
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sua vegetação grosseira de gramíneas. Contudo, em uma estreita faixa central
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da península, a areia impeli da da área oeste pelo vento misturou-se com a
argila barrenta, formando um bom solo margoso, bem drenado.
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Os lados extremos da península, tanto a Leste como a Oeste, cons-
100 8 :; 8+ = tituem áreas negativas em termos humanos, mas a área margosa do centro
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abrange todos os gêneros de aproveitamento e é intensivamente explorada. As
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estradas principais acompanham mais ou menos as divisas dos reduzidos
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Moteriais de divisórias englobando assim segmentos de cada tipo principal de solo. As fazendas
Figura 1.2 - Materiais usados para construir as divisórias das propriedades e a geologia refletem o mesmo padrão. Na península de Mayo, o homem seguiu a opção
do local, em Ingleton, Yorkshire. Os diagramas de blocos representam a mais fácil, curvando-se à lógica do meio, em vez de procurar adaptá-lo à sua
quantidade de divisórias que, na área de afloramento de um tipo particular
vontade.
de rocha, são construídas pelo uso de determinado material (conforme
dados de Mead, 1966). Áreas áridas. As regiões quentes e desérticas do mundo continuam
virtualmente inabitadas. A presença do homem está determinada, em termos
absolutos, pela disponibilidade de suprimento permanente de água, assim
criando depósitos erráticos de blocos calcários nas formações hulhíferas e no
como o volume da população é diretamente proporcional à quantidade de
arenito, mais jovens. Por isso, há muros feitos de matacões de calcário na área
água disponível. Os desertos requerem a maior soma de habilidade e tecno-
das formações hulhíferas e outros feitos de arenito e calcário na área do
logia para a sua transformação, motivo pelo qual continuam a ser, em larga
arenito, mas não se vê um só muro de rochas importadas na área dominante
por calcário. medida, os bastiões das sociedades "primitivas". Por exemplo, os bosquí-
manos do deserto de Kalahari, na África do Sul, são caçadores e colhedores
Essa vinculação entre um aspecto do ambiente natural e um aspecto da
que não fazem provisões para o futuro, usam o mínimo de instrumentos e não
atividade humana está mudando nos dias que correm, com o uso de cercas
praticam a agricultura. Eles mal se apartam da natureza e sua influência sobre
de arame e madeira. Modemamente, quase todos os cercados utilizam esses o meio ambiente é mínima. No entanto, tal sociedade, assim como outras do
materiais, inclusive os reparos nas antigas divisas. Em parte, isso acontece gênero, vive atualmente sob pressão de "culturas tecnológicas" exteriores e
porque erguer cercas é relativamente mais barato, mas também demonstra não é provável que perdure por muito tempo. Os bosquímanos estão come-
como a gente pode, em pequena escala, escapar às limitações impostas pelos çando a se dedicar à agricultura e já se preocupam com as divisões políticas do
recursos do meio circundante.
sul da África.
Mullet de Mayo. O extremo noroeste do Condado de Mayo, na região O pastoreio nômade ainda constitui uma prática generalizada nas
ocidental da Irlanda, constitui estreita península que se estende de Norte a margens dos desertos africanos. A procura de pastagens para os animais signi-
Sul e se chama Mullet de Mayo (Tainha de Mayo). Península rasa, remota e
fica que os nômades não têm povoação fixa. Acompanham o crescimento da
9
o Ambiente
8 o Homem e o Ambiente: Introdução
....
vegetação induzido pelas chuvas anuais, ao longo de rotas com centenas de Pro jeto de '"
quilômetros. Tamanho grau de dependência está ficando raro no mundo, mas importaçõo ~ Barragem
de ~a do ~. Roosevelt
o meio semiárido continua a ser uma área de problemas para o homem, como Colorado
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se verá no Capítulo 2.
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1.2.3. O homem dominando o controle . . ~ Coolidge
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Phoenix, Arizona. Um contraste extremo com a adaptação ao meio
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semiárido dos pastores nômades pode ser encontrado na região quase desér- ''..;;,"'.~
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tica e semelhante do sudoeste dos Estados Unidos. Phoenix, no Arizona,
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constitui uma ampla área urbana com 1,2 milhão de habitantes no deserto de ,
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Gila, extensão norte do grande deserto de Sonoran. A precipitação anual varia
muitíssimo, mas, normalmente, é inferior a 200 mm, a temperatura é quente
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e a vegetação natural forma uma cobertura parcial de artemísia tridentada e
suculenta. Todavia, como se vê na Fig. 13, a área de Phoenix constitui um
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oásis com cerca de 400 quilômetros quadrados de extensão naquilo que
- legenda -
outrora foi quase deserto. Nos arredores da cidade cultiva-se algodão da I" •••• "
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melhor qualidade, alfafa, frutas cítricas, tâmaras e figos. Também se criam I;.'~""
Área de Londres. Uma vista de olhos à Fig. 1.4 nos revelará o contraste
entre a atividade agrícola nas duas áreas até agora consideradas e na área de
Londres. A diversidade é a regra, que se deve mais à proximidade do vasto
mercado londrino do que à variedade de condições naturais. Os solos e a
drenagem apresentam ainda significado local - por exemplo, o gado predo- CANA DA
mina nos pesados terrenos de Wealden -, mas, acima de tudo, há um gradien-
te de crescente controle do ambiente na cidade. A horticultura está genera-
lizada especialmente' ao norte de Kent e no vale do Tâmisa; no vale do Lea,
EUA
a introdução de mudanças no uso da terra alcança o máximo, com a concen-
tração de estufas para o cultivo comercial de plantas, a maior da Inglaterra.
No conjunto da área, é fraca a relação entre agricultura e solo, já que as
impropriedades da terra podem ser corrigidas de maneira econômica por
1500 Eeúmeno 5
fertilizantes, drenagem ou o que for necessário. O alto grau de controle refle-
te-se nos custos - o investimento aplicado em, digamos, 1 hectare de estufas,
desabitodo
talvez seja cem vezes maior do que o necessário para 1 hectare de lavoura
mista e até mil vezes maior do que para a mesma área dedicada à criação de
gado. Custos tão altos implicam que o lucro por unidade territorial na agri- Eeúmeno 4
cultura tem de ser suficientemente grande para 'justificar esse uso em termos
subdesenvolvida
econômicos. No entanto, quanto maior a intensidade das alterações feitas
pelo homem, tanto menor a área em que elas se aplicam, devido à limitação
1000
de recursos, mão-de-obra e financiamento, tudo envolvendo o uso de energia.
Ecúmeno 3
2. extensivo (inteiramente agrícola, alto grau de influência humana na Figura 1.5 _ Densidade dernográfica e ecúmenos na parte oriental de Ontário, no Canadá.
vegetação e no solo);
14 o Homem e o Ambiente: Introdução 15
o Ambiente
3. exploratório (centros pequenos e isolados de intensa mudança am-
biental: neste caso, uma reação aos recursos naturais, como madeira, energia
hidrelétrica (EHE), cobre, níquel, ferro, urânio e cobalto). Entre esses centros
perduram extensas áreas virgens. O uso de tecnologia permite ao homem
sobreviver em uma taiga (floresta de coníferas), que de outra forma seria
inóspita, quando a motivação econômica for suficiente;
4. subdesenvolvido (não há assentamentos permanentes, relação sem
complicações entre o homem e o meio envolvendo a caça, também com
emprego de armadilhas); ~------
5. desabitado, com exceção de bases militares e postos de exploração t.
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mineral (não há ecúmeno) na zona subártica. E~u<!..dO! _
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1.3. Gradientes de manipulação
r--l ombientes sem cont,g-It : ~'contrtl. parcial: ~ quase domiClâncla :
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Os exemplos de ínteração homem-ambiente dados na Seção 1.2 de- ~ ealmenol 1 - 2
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cada vez maior do homem para criar o seu próprio ambiente foi a capacidade a.. ~ '" 'E
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de manter uma população em crescimento constante, fenômeno que distingue li - o..
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o homem do restante dos seres vivos. Não obstante, foram os avanços nas I I I I J 'O'"
técnicas industriais, agrícolas e medicinais, no curso dos últimos duzentos s
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pessoas, sendo a estimativa para o ano 2000 de 6 a 8 bilhões. As mutações g g g g g g 8 ~~
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ambientais introduzidas pelo homem marcham no mesmo ritmo. Na Fig. 1.8 oç
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podemos ver até que ponto vêm aumentando o teor de chumbo no gelo da os
Groenlândia, exemplo vivo dos efeitos colaterais que a atividade humana .~
produz sobre o meio físico. '""
·1
l.4. Conclusões
rentemente do que faria a vegetação preexistente, e assim por diante. Neste 2.1.2. Sistemas naturais
exemplo, as modificações introduzi das no ambiente foram em grande parte
Já descrevemos o funcionamento da Terra como sendo o de um sistema
involuntárias e, aparentemente, tão reduzidas que se diriam insignificantes.
gigantesco. Um sistema é um conjunto de componentes ligados por fluxos de
No entanto, somente a diminuta escala da intervenção torna a construção energia e funcionando como uma unidade. Assim, o aquecimento central de
da casa de interesse puramente acadêmico em termos de mudança ambiental. uma casa representa um sistema, do mesmo modo como um reservatório de
Na outra ponta da escala, se se desencadeasse uma guerra nuclear, presumi- água ou a atmosfera. Se o sistema recebe energia do exterior e devolve ener-
velmente com a única intenção de aniquilar o inimigo, quase todos os aspec- gia, diz-se que é um sistema aberto. Se a energia e, por conseqüência, a massa,
tos do Pl.aneta seriam alterados, ficando alguns irreconhecíveis, e as reações são retidas dentro do sistema (autocontenção), diz-se que é um sistema
em cadeia, sobretudo as biológicas, poderiam lançar as bases de um meio fechado.
ambiente inteiramente diverso, em futuro distante. Muito embora a Terra possa ser considerada corno um enorme sistema,
De que forma ver então o funcionamento da Terra como um todo com- ela pode ser dividida em inúmeros subsistemas. Três subsistemas são óbvios:
preensível, no seu complexo inter-relacionamento? Um dos métodos consis- o atmosférico, o continental ou litosférico e o aquático ou hidrosférico. e
te em encarar o Planeta como uma imensa máquina integrada, movida a na zona de interação dessas três unidades (Fig. 2.1) que ocorre a vida (bios-
energia, trabalhando subdividida em incontáveis máquinas menores que fera). Esta figura simplifica ao máximo a interação dos três ambientes.
operam dentro da estrutura geral do conjunto da máquina terrestre.
A energia que move a máquina da Terra provém da gravidade, do âmago 0energ;0
da Terra e do próprio movimento da Terra, mas em grau muito superior
provém do Sol, da radiação solar. e a energia do Sol que dá origem às formas
de relevo, aos climas e à vida. Sem a radiação solar, a Terra ficaria morta,
escura e quase imutável. A energia solar alcança a Terra via atmosfera, distri- energ;o energ;o
bui-se de modo variado e desigual pelo Pl.aneta, cumpre a sua função e depois
volta ao espaço. Em um dado período de tempo, a emissão é igual à retirada.
Entre a entrada e a saída, a energia flui por diversos canais (transferências) e
(] c:)
se acumula por longos períodos de tempo (carvão, petróleo) ou pequenos
períodos (solo, animais). Os seres humanos são depósitos de uma fração
infinitesimal dessa corrente de energia.
A intervenção do homem na evolução da Terra faz defletir, em nível
muito indefinido, a direção das correntes de energia (pela colheita de semea-
duras, em vez de deixar que as plantas murchem e devolvam a sua energia
acumulada ao solo, por exemplo), altera a magnitude das correntes de energia
(desviando água dos rios) e diminui ou acrescenta os depósitos de energia
natural (mineração de carvão, adição de fertilizantes artificiais ao solo).
(L,g,o
Figura 2.1 - Interação e interconexão dos grandes conjuntos do ambiente natural.
Encarando as coisas desta forma, toma-se evidente que as ações do homem
não podem ser confinadas e que elas acarretarão conseqüências em muitas
partes do meio físico, além do local da intervenção. Se esta vier a ter "bons" Portanto, a Terra opera como uma hierarquia de sistemas, todos parcial-
ou "maus" efeitos, em larga ou pequena escala, depende da natureza da mente independentes mas firmemente vinculados entre si. A intervenção
mutação operada e do ponto do meio físico em que se aplicou a alteração. humana não pode afetar de maneira significativa a atividade dos sistemas em
Veremos a seguir alguns exemplos de intervenção em diversos ambientes. escala global, como o sistema atmosférico, mas os sistemas de ordem inferior,
22 o Homem e a Ação do Meio Físico 23
o Homem e o Ambiente: Introdução
sobretudo aqueles que envolvem seres vivos (ecossistemas), são vulneráveis de compostos fosfáticos vêm aumentando com a exploração de substâncias
às mudanças feitas pelo homem. Os exemplos a seguir são de subsistemas naturais ricas em fosfato e com o uso de fosfato mineral como fertilizante e a
em escala global em que houve certo grau de intervenção humana e, portanto, fabricação de detergentes. Os resíduos dos detergentes vão parar diretamente
de modificação da atuação do sistema. na água e o excesso de fertilizantes fosfatados segue o mesmo curso do nitra-
to. A poluição do mar Báltico, descrita no Capítulo 8, deve-se principalmente
Ciclo do nitrogênio. O ciclo do nitrogênio terrestre (como sucede com ao excesso de fosfatos usados pelo homem. Altas cargas de fosfato provindas
o ciclo-do carbono) constitui um sistema relativamente aberto, com volumo-
,----+- ---------+----,
sas entradas provenientes da atmosfera e largas perdas devidas à desnitrifíca- I
I I
ção e à lixiviação (Fig.2.2). No fluxo do sistema há um circuito natural
entre a biomassa e o solo - amônia-nitrato-proteína -, prevalecendo um I
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I
..1 _
equilíbrio geral, ao menos durante breves períodos de tempo. A intervenção 'I quirnico I I , I
Atmosfera __ ...•.. --r-- I , NOz/N20 I
humana no ciclo do nitrogênio é considerável, atualmente. A invenção do - - -, I I poluição do ar ,
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processo de Haber para a síntese de amônia do nitrogênio atmosférico, no - - T ---
. começo do século, libertou o homem da dependência de fontes naturais, t I
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assim como introduziu enormes quantidades de compostos nitrogenosos I
I
"artificiais" no ciclo natural. O volume de nitrogênio de origem industrial , I
é hoje superior a um quarto do produzido biologicamente e, dentro de breves
Animais t- - - -l
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: Fertilizantes I
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anos, as duas fontes estarão igualizadas. Os nitratos são empregados sobretudo
em explosivos e em fertilizantes artificiais e, felizmente, esta última aplicação
proteína NH2 f-----1 o I I artificiais I +,
é a que tem maior efeito sobre o ciclo. f :!
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A simplificação geral dos ecossistemas (Capítulo 9) resultante da agri-
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cultura, junto com a coleta e a caça (plantas e animais), diminuiu os depósitos ~~ H +,
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biológicos de nitrogênio. Por outro lado, o desmatamento e a drenagem de
terras intensificaram a lixiviação do solo, ampliando assim o diâmetro do
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imenso de nitrogênio para a parte biológica do ciclo (duplicada em áreas de
agricultura intensiva), a diminuição da reciclagem interna e um curto-circuito
de partes do ciclo (colheitas). O excesso de nitrato perdido para o ciclo acaba
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chegando aos rios e lagos, mas em tais quantidades que por vezes o ecossis- Solo I ,- -P -I .-- - -,
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tema natural não é capaz de processã-lo. Daí o excesso de nutrientes e NH 4_
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alterações ocorridos na ecologia da água doce. Um dos sintomas desse fenô- I -,-
meno é o excessivo crescimento de algas. ~c: o I I
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mente fechado (Fig. 23). Faz parte do ciclo maior que envolve deposição nos 1-
Água .• -I
oceanos, incorporação em rochas fosfáticas, soerguimento, intemperismo e
incorporação ao solo, mas o ciclo biológico apresenta baixo nível de trocas
(entradas e saídas). Ou melhor, apresentava: a atividade humana comprimiu Figura 2.2 - O ciclo do nitrogênio: as linhas tracejadas indicam áreas de intervenção
imensamente a escala de tempo em que o ciclo do fósforo opera. As entradas humana no referido ciclo.
24 o Homem e o Ambiente: Introdução
o Homem e a Ação do Meio Físico 25
de esgotos no sistema hídrico de um dado local contaminam a água potável.
Mais uma vez, um ciclo natural sofreu radical alteração e um sistema quase contrário dos dois exemplos anteriores, o ciclo natural do mercúrio não tem
fechado anteriormente se tomou em parte aberto. um componente biológico significativo, pois a substância não faz parte
importante dos organismos vivos. Entretanto, a concentração biológica
ocorre sobretudo nos organismos marinhos, devido à acumulação de mer-
cúrio nos tecidos orgânicos, quando por difusão na água ocorre teores ele-
Cicio global
Animais vados. Essa amplificação biológica já atingiu os seres humanos, através da
ingestão de peixes contaminados (veja amplificação do DDT, Capítulo 9).
Plantas ~
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Figura 2.3 - O ciclo do fósforo. O bloco superior mostra o ciclo mundial fechado a ;§ 1
longo prazo. O diagrama principal mostra o subciclo biótico, em que as
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linhas tracejadas indicam as áreas de intervenção humana.
r-..l-...,
Solo Mercúrio - ..•.. --l Mineraçõo I
Ciclo do mercúrio. O mercúrio oferece o exemplo de uma substância nas rochas L _ .,.. _ J
que só se apresenta em pequeníssima quantidade nos sistemas naturais. Tra- L: L
poluição do ar e.•.do solo _
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ta-se de um metal pesado, que não é fácil de transportar, mas que hoje circula sedimentos
em volume muito maior devido à sua extração, concentração e disponibili-
dade final para fins industriais (Fig.2.4). A produção mineira corresponde Figur~ 2.4 - O ciclo do mercúrio, com referência especial à concentração biológica no
atualmente a 230% da entrada por processos naturais de intemperismo. Ao ambiente aquático. As linhas tracejadas indicam áreas de intervenção
humana.
o Homem e a Ação do Meio Físico 27
26 o Homem e o Ambiente: Introdução
Alterações percentuais reduzidas nas concentrações de bióxido de carbono,
Essa intensificação nos fluxos circulares ou taxa de mobilização das em qualquer sentido, são o suficiente para provocar mudanças (desestabilizar
substâncias naturais é uma característica da intervenção humana nos sistemas o sistema), estando ao alcance do homem produzir tais alterações (Capí-
da natureza. Por exemplo, a taxa de mobilização do ferro aumentou 1.300%, tulo 5). A intervenção efetiva em outros pontos do movimento da atmosfera
a do manganês 400% e a do chumbo 1.200%. Da mesma forma, as cargas de _ alterando os níveis de albedo" ou refletividade em uma grande área ou a
sedimentos em rios também se multiplicaram. À medida que os sistemas e evaporação em grande escala, por exemplo - exigiria um esforço muito maior
ciclos naturais são de tal maneira acelerados, eles vão-se ajustando às novas para chegar ao mesmo grau de mutação no sistema. Como é lógico, uma
condições, alcançando muitas vezes um novo equilíbrio. intervenção humana deliberada ocorre naqueles pontos vulneráveis ou de
alavanca do meio físico, onde um mínimo de esforço produz o máximo
de resultados. No caso dos recursos hídricos, a intervenção da engenharia
2.1.3. A estabilidade dos ambientes naturais de projetos concentra-se mais no estágio do fluxo fluvial do ciclo hidrológico
do que no estágio da precipitação pluvial. É muito mais fácil chegar-se à
Embora as atividades destinadas a alterar o ambiente, na sua maioria, alteração da biosfera por mudança na vegetação, como o desmatamento, do
tenham a intenção de ser benéficas do ponto de vista humano, o grau de inter- que alterando os outros fatores interdependentes do solo ou do clima.
relação dos fenômenos naturais a que nos referimos explica que mudanças O método empregado para iniciar uma alteração ambiental recebe o
inesperadas, ou até reações em cadeia, venham a resultar daquilo que preten- nome de desencadeamento (trigger), sendo vários os fatores: fogo, introdução
dia ser uma "benfeitoria" isolada. A intensidade dessas alterações inadvertidas de uma planta ou espécie animal estranhas, eliminação de um fator condicio-
depende em primeiro lugar do esforço (ou tensão) aplicado ao sistema pelo nante (por exemplo, adicionando certo adubo a uma planta) de vegetais
homem e, em segundo lugar, do grau de suscetibilidade à mudança (sensibi- ou animais, introdução de novo componente no ambiente (precipitação
lidade) do próprio sistema. radiativa, por exemplo).
Efetivamente, os sistemas mudam com o tempo, mas em longa duração Embora todos os sistemas sejam cadeias com elos de força variável,
(alterações climáticas, abertura de vales, colonização de vegetais, por exem- também acontece de alguns sistemas naturais se desintegrarem com maior
plo). À escala humana do tempo, os sistemas naturais parecem estáticos, facilidade do que outros, com uma rápida e irreversível modificação em seu
na sua maioria, mas até isso é verdadeiro apenas para efeito estatístico, já todo. Por exemplo, os sistemas biológicos (ecossistemas) reagem mais rapida-
que na realidade os sistemas oscilam em tomo de uma situação média - mente à tensão e oferecem menos resistência do que os sistemas inorgânicos.
estado conhecido como equilíbrio dinâmico. Por exemplo, ainda que a flora Tudo está na dependência da intensidade do impacto provocado pelo homem
de um campo possa variar em espécies, tipo e abundância no curso dos anos, nos aspectos do meio físico, desde o relativamente superficial, no caso do
em correspondência a flutuações climáticas e de pastoreio, de modo geral relevo, até o profundo, no caso de conjuntos de formas de vida. Os solos,
o caráter da flora permanecera constante, a menos que uma ou mais das que são em parte bióticos e em parte abióticos (inorgânicos), têm sofrido
variáveis dominantes (clima, solo, população) imponha uma alteração arn- um grau intennediário de mudança.
biental perdurável e de largas proporções. Entretanto, se se aplicar ao sistema Mesmo dentro de uma esfera particular do meio físico, varia ampla-
um esforço externo suficiente (ímpeto de mudar), então todo ele pode esta- mente a suscetibilidade às modificações impostas. Por exemplo, há ambientes
belecer um novo equilíbrio dinâmico, em nível diferente de operação. No climáticos e, portanto, vegetais e terrestres, equilibrados entre dois estados
exemplo da flora do campo, uma drenagem extensiva do solo poderia alterar diferentes, nos quais uma leve pressão exercida em dada-direção eliminaria
de tal forma o caráter e a umidade do solo de modo a provocar o aparecimen- o equihbrio, causando drástica mudança. As áreas mediterrâneas, da índia,
to de uma vegetação dominante de tipo mais xerófilo (resistente à seca).
Todos os sistemas naturais possuem um elo fraco na cadeia de causa
e efeito: um ponto em que o mínimo acréscimo de tensão (ímpeto de mudar)
traz consigo alterações no conjunto do sistema. Por exemplo, no sistema
• Albedo, do latim albus (branco), significa brancura ou alvura, e se usa em astronomia
atmosférico, as menores alterações na composição da atmosfera podem para medir a capacidade de reflexão. Um corpo que brilha por luz reflexa tem um albedo
desencadear mudanças climáticas à escala mundial, sendo provavelmente de 1/2, se reflete ou projeta metade da luz que incide sobre ele. (N. do T.)
mais atuantes as modificações no teor de poeira e de bióxido de carbono.
28 o Homem e o Ambiente: Introdução 29
o Homem e a Ação do Meio Físico
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~cidade de recuperação, como no caso da glaciação ou da vulcanicldade
que alteram a vegetação, os solos e os processos geomorfo1ógicos. A idéia
dos limiares em sistemas está representada, de forma esquemática, na
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Fig.2.6.
Uma trilha de pedestres. sobre qualquer gramado ilustra com clareza ~
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a noção de limiar. O constante pisar compacta o solo, diminui o teor de
infiltração e leva ao predomínio de plantas horizontais, rentes ao terreno. o
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Quando a compactação atinge certo nível e o solo já está bastante nu, a chuva X
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começa o trabalho de erosão. Antes desse estágio, se a passagem de gente ~ o
diminuísse, a vegetação original voltaria a se refazer ao fim de algum tempo, o '"::3
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mas depois dele a erosão retira a camada superficial do solo e os nutrientes ~ o ~ o ., !! 3
vegetais, de modo que ainda menos plantas sobrevivem, o que permite maior
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erosão. O limiar da recuperação foi ultrapassado e, mesmo que a trilha deixe o o ~ ao
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de ser percorrida, a recuperação ao estado original é muito demorada. Se a
trilha continua a ser usada, ela pode se transformar num canal de água efê-
mero, aprofundando-se a cada chuvarada, até chegar à rocha viva (Fig. 2.7).
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Mesmo neste exemplo, o limiar varia com o clima, a declividade do terreno e ""
31
30 o Homem e o Ambiente: Introdução o Homem e a Ação do Meio Físico
o tipo de solo. Os exemplos dos capítulos finais mostram que a ação humana
é amiúde responsável por impelir os sistemas naturais para além do seu limiar. Sistema inicial
O caso da trilha, com que ilustramos a desestabilização do sistema, (prado virQem)
também exemplifica outro aspecto do funcionamento dos sistemas - a exis-
tência de mecanismos que tendem a reforçar ou a diminuir a tendência de um
sistema para a mudança. São os chamados mecanismos de realimentaçi!j
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fi elo I e com veQetoção
\ sazonal e pa rclo I )
\ (b) novo nível de equilíbrio dinâmico
esforço eliminado (b) -----..l_ /"--,./ --, __/ -, _ / -,,_ Figura 2.7 _ Diagrama assinalando alteração no estado do sistema devido à tensão
continuada. O exemplo representa a erosão de um pasto sujeito ao pisoteio
constante em uma trilha do terreno. O sistema pode-se estabilizar em
qualquer dos estados intermediários assinalados, ou pode inverter a direção
se a tensão for eliminada antes de se ultrapassar o limiar. Observa-se tam-
Tempo • bém um circuito de realimentação positiva acentuando o processo de
erosão.
Figura 2.6 - Reação de um sistema ambiental perante um esforço ou tensão que lhe é
imposto: (a) com a cessação do esforço antes do nível do limiar há con-
dições para sua recuperação e restauração; (b) com a continuação do A discussão da operação dos sistemas vem sendo feita em termos de
esforço, até que o sistema ultrapasse o nível do limiar, não há mais condi- cadeias unidirecionais de causa e efeito (transferências de massa e energia),
ções para se voltar ao estado original. Quando há a eliminação do esforço, a mas na realidade as coisas raramente são tão simples. Há circuitos no sistema
estabilização ocorre em um novo nível de equilíbrio.
33
o Homem e a Ação do Meio Físico
32 o Homem e o Ambiente: Introdução
Na seção que se segue, três estudos detalhados ilustram algumas das
permitindo que as mudanças no "efeito" (vegetação mais pobre no caso da concepções discutidas neste capítulo; a primeira examina o modo de operar
trilha) alterem o modo como opera o mecanismo de causalidade (compacta- de um sistema natural e os efeitos da intervenção humana em sua operação.
ção do terreno), alterando, portanto, o "efeito" de uma maneira diferente.
Em um sistema de aquecimento central, o termostato situado em algum lugar
da casa forma um circuito de realimentação,já que, ao reagir às mudanças de 2.2. Sistemas naturais e intervenção humana
temperatura, pode modificar o funcionamento da caldeira. Os mecanismos de
realimentação servem para resistir aos efeitos da mudança imposta ou para 2.2.1. O ciclo dos nutrientes minerais
acelerã-los. As realimentações positivas reforçam a direção da mudança
original. No exemplo da trilha, ocorre realimentação positiva à medida que a Em última análise, a obtenção de alimentos depende da operação do
erosão intensificada faz diminuir a capa vegetal, o que por sua vez aumenta a ciclo de nutrientes minerais. Neles se incluem o nitrogênio, o fósforo, o
suscetibilidade à erosão. Outro exemplo de realimentação positiva contribuiu cálcio, o potássio e ciclos hidrológicos, junto com numerosos elementos
para alterar a vegetação e os solos da região montanhosa da Grã-Bretanha microquímicos. Isso tem sido um foco de intervenção humana, voluntária ou
(Capítulo 9). Nas áreas montanhosas, a alta precipitação e a baixa tempera-
involuntariamente, há milhares de anos.
tura estimulam uma excessiva lixiviação dos solos, removendo-lhes o óxido de Na Fig. 2.8 vê-se um modelo muito simplificado do ciclo mineral. Os
cálcio e acidificando-os, quer dizer, tomando-os menos férteis. A vegetação minerais são absorvidos do solo pelas plantas, incorporam-se no tecido vege-
bem enraizada (árvores) pode melhorar o processo de Iixiviação , absorvendo o tal, retomam à superfície como restolho e voltam ao solo via decomposição e
óxido de cálcio pelas raízes, incorporando-o no tecido da planta e devol- líxiviação. Trata-se de um sistema fechado, sem ganhos nem perdas para o
vendo-o depois ao terreno. Se a vegetação de raízes fundas desaparecer, por
causas naturais ou humanas, as plantas de raízes superficiais não serão capazes
de fazer subir o óxido de cálcio do fundo. O solo se acidificará depressa,
deixando crescer apenas a vegetação tolerante ao ácido (vegetação calcifuga).
O restolho de tais plantas será ácido, aumentando a acidificação do solo, de
modo que somente plantas cada vez mais ácido-tolerantes poderão crescer.
'\ ~ aspecto auto-intensificante da acidificacão do solo constitui um efeit
lpositivo de realimentação.
. A realimentação negativa é ilustrada pela relação normalmente estável
entre vertentes do vale e o rio em sua base, que transporta material de intem-
perismo proveniente das vertentes. Se o leito do rio se rebaixa Jlor qual~
d.POSlçã%r
razão, as vertentes do vale ficarão mais alcantiladas, mais material decom- morte dos tecidos \ ~~~~rção pelas
i I
~
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- posto será arrastado para a corrente, aumentando-lhe a carga de mãteriai
)etrítico, até que cessa a incisão e se restabelece o equilíbrio dinâmi~en~
rio e as vertentes. Nos capítulos a seguir surgem vários exemplos de meca- -. \'"
o~ nismos de realimentação: se forem positivos, aceleram toda e qualquer
mudança iniciada pelo homem; se forem negativos, reduzem o seu efeito.
retorno com a
decomposição
da restolho
s
\. A abordagem sistêmica descrita neste capítulo oferece apenas um meio
tft
<f de compreender o mundo natural. Para que seja util, ainda temos de apre-
sentar informações detalhadas sobre o real funcionamento de cada sistema.
Entretanto, no contexto da interferência humana no ambiente, a aborda~
~ sistêmica pode servir como meio de previsão das mudanças, de avaliação da
'tI "n~bilidad, dos sistemas naturais e de determinação dos pontos d,~-
Figura 2.8 _ Ciclo dos nutrientes minerais, formulado como um sistema fechado (con-
forme Gersmehl, 1976).
!'II ,_rência e dos limiares de sistemas que terão de ser modificados.
34
O Homem e o Ambiente: Introdução o Homem e a Ação do Meio Físico 35
8
''''da dl.,ol"da preclpltaçõo
no chuva (utrodo)
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Carvalhal 6.000 800 6.800 380 250
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(I morte do.
Pradaria 1.200 800 2.000 700 700
8
Deserto 150 O 150 85 85
Floresta úmida
Restolho "'o'.a co,"_ a
a•• o"ào
planto,
,.'a. tropical 11.000 180 11.180 2.000 1.500
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af,tom o P Preclpltoçoo
válvula de aaldo
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V IIr •• yftfo.
importantes tipos mundiais de solo-vegetação-clima.
O depÓsito
-.- fron,fII,inclo
Em condições ambientais estáveis, a atividade dos ciclos minerais toma-
se equilibrada, com as entradas e saídas estreitamente equiparadas, propor-
cionando alto grau de conservação interna da massa e da energia. Qualquer
Figura 2_9 - O ciclo de nutrientes mine-
Figura 2_10 - Válvulas de Controle so- alteração no ambiente desestabilizaria o sistema, numa amplitude que de-
rais, formulado como um
sistema aberto (conforme bre mecanismos de trans- pende do grau da modificação imposta e da sua sensibilidade total ou parcial.
Gersmehl, 1976). ferência do ciclo de nu- Se se remove a cobertura florestal de certa área, a transferência de nutrientes
trientes minerais (confor- minerais do solo para a biomassa reduz-se abruptamente, tal como o volume
me Gersmehl, 1976).
acumulado de biomassa. A água, já agora desnecessária para a transpiração,
removerá mais nutrientes do solo por lixiviação e escoamento, ao mesmo
meio em geral. A Fig. 2.9 mostra um modelo mais realista, com os mesmos
tempo que aumenta o aporte de águas pluviais ao solo devido à falta de inter-
depósitos e transferências, mas revelando entradas e saídas de fora (sistema
ceptação das copas das árvores. Dessa forma, a acumulação global no sistema
aberto). A ação atmosférica, a precipitação pluvial, o transporte de terra e os
declina até que se chegue a novo equilíbrio, a nível inferior. Se a mudança na
fertilizantes artificiais são entradas externas; a lixiviação, a água de escoamen-
vegetação se devesse a alterações naturais (por exemplo, clima), o sistema
to e as colheitas representam saídas do sistema. O volume global de nutrientes
poderia mudar em caráter permanente, mas a velocidade de mudança seria
minerais dentro do ciclo, difere de um lugar para outro, e esse volume global,
baixa, sem probabilidade de reações catastróficas. Se a mudança fosse devida
o potencial de fertilidade, é em grande parte determinado pelos valores abso-
ao desmatamento, o sistema poderia recuperar-se, restabelecendo-se os níveis
lutos das entradas e saídas. A distribuição proporcional de nutrientes entre a
originais de vegetação e nutrientes, desde que não se ultrapassassem os limia-
três armazenagens também varia. Damos no quadro seguinte exemplos de tais
res dos ciclos dos nutrientes. Na Fig. 2.12 vê-se quais seriam os efeitos da
variações para alguns ecossistemas naturais (restolho e armazenagem na
derrubada da floresta de carvalhos sobre o ciclo mineral. A colheita de safras
biomassa) e taxas anuais de transferência (dos solos às plantas e das plantas ao
restolho). produz o mesmo efeito, mas a aplicação de fertilizantes artificiais compensa a
estocagem do solo, que diminuiria com a perda das folhagens.
37
36 o Homem e o Ambiente: Introdução O Homem e a Ação do Meio Físico
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Figura 2.11 -
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R restolho
Figura 2.12 _ Mudanças no ciclo de nutrientes minerais de uma região de floresta decÍ-
Os ecossistemas dotados de mecanismos rápidos e eficazes de transfe-
dua, antes e depois do corte das árvores.
rência recuperam-se da desestabilização com mais facilidade que os outros.
38
o Homem e o Ambiente: Introdução
o Homem e a Ação do Meio Físico 39
A introdução de formas estranhas de vida em dada área tem muitas As terras semiáridas do mundo constituem exemplos básicos de am-
vezes provocado reações em cadeia, imprevisíveis no início. Um exemplo bientes em delicado equílíbrío, propensos a rápida degeneração em caso de
disso são os coelhos que os normandos trouxeram para a Grã-Bretanha, para leve pressão. Em termos humanos, a margem para erros na exploração dessas
alimentação e uso das peles. A princípio, os animais foram mantidos em regiões é pequena, ao passo que as conseqüências de uma conduta equivocada
viveiros e, ainda que alguns escapassem, a população de coelhos bravos se têm amplitude continental. Desertificação é um vocábulo de significado
manteve escassa até o século XIX, talvez abaixo de um milhão. amplo, que inclui várias alterações climáticas, ecológicas e geomorfológicas,
que diminuem a produtividade biológica de uma área, tomando-a enfim ina-
.Embora o coelho não tivesse nenhum competidor sério no plano da
proveitável para a agricultura. Quase todas as terras áridas se acham em
busca de alimento e da procriação, exceto a lebre, os predadores naturais e
situaÇão de risco e a F AO (Food and Agriculture Organization) das Nações
41
o Hornern e a Ação do Meio Físico
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rebanho morre e sobrevém o colapso econômico e a fome. A erosão eólica Q fi:
pode agir com mais força, incidindo sobre extensas áreas de solo desnudo.
Quando as chuvas voltam, a superfície já é vulnerável à erosão das enxurradas,
originando ravinas e sulcos, degradando ainda mais a terra, onde só vingará ta
uma vegetação mais pobre. Eis uma ampliação extrema do exemplo da erosão o
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da trilha apresentado na Seção 2.1.3. ~ :g ~
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capítulos seguintes.
Dado o seu caráter altamente genérico, a Fig. 3.1 e a Tabela 3.1 repre-
sentam um guia razoável sobre as amplas variações existentes nos tipos de
solos. Os tipos enumerados são solos zonais, divididos de acordo com uma
classificação global em que solo, vegetação e clima estão presumivelmente
interligados, sendo o clima a causa primeira e os solos e a vegetação os efeitos.
O homem ainda não conseguiu alterar conjuntos completos de grupos de
solos zonais, a ponto de ser impossível reconhecê-los, como se fez com a
vegetação (Capítulo 4). No entanto, alterar a vegetação para fins agrícolas
ou florestais, com a conseqüente mudança no microclima, leva inevitavel-
mente à modificação das propriedades do solo, em face da estreita relação
causal dos três aspectos.
45
SoloS
44 Impacto do Homem Sobre Aspectos do Ambiente
Tabela 3.1 _ Principais tipos de solos, regiões climáticas e zonas de vegetação.
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Zona climática
Solos zonais
Zona de vegetação
Solo zonal
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não, de melhorar a produtividade da terra (fertilidade) - por exemplo,
I recorrendo a fertilizantes, irrigação ou drenagem. O exemplo ~xtremo de
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especialmente os relativos à água edáfica. Dessa forma, a irrigação simula
um clima mais úmido; o acréscimo de cal restabelece o carbonato retirado
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em matéria orgânica.
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49
48 Impacto do Homem Sobre Aspectos do Ambiente
Solos
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atividade biológica alta média ~
30 r morgo de
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40
3.3. Alteração física Figura 3.2 _ Deterioração estrutural provocada pelo uso de arado em solos acastanhados
(brunizens), formados em sedimentos argilo-<;ascalhentos, na Grã-Bretanha.
3.3.1. Deterioração estrutural causada pela lavoura Em (a), perfil original do solo; em (b), após a lavra (conforme o Agricul-
tural Advisory Council, 1970).
A crescente mecanização da lavoura vem permitindo que a terra seja
lavrada e gradeada em épocas do ano em que o solo, em outros tempos,
estaria demasiadamente úmido e pesado para trabalhar. Os agricultores vivem do trator e, quando a terra assenta, permanece como um horizonte de baixa
sob pressão econômica para semear o mais cedo possível. O resultado foi a
penneabilidade à infiltração de água.
deterioração da estrutura de solos síltico-argílosos de algumas regiões da
Inglaterra. Mudou a estrutura (Fig. 3.2) de um tipo de solo aberto e drenagem
livre para outro de horizonte compacto e estrutura maciça, que impede ao
3.3.2. Erosão do solo
mesmo tempo a drenagem e o desenvolvimento de raízes. Na Fig. 3.2b, o solo
apresenta um horizonte de "camadas de subsolo" com uma estrutura achata- O mais negativo dos efeitos do homem sobre o solo, evidentemente,
da à profundidade de 25 -30 centímetros. A camada se forma quando o solo consiste em criar condições para que se dê a erosão parcial ou total. Estrita-
é lavrado ainda em estado plástico, fácil de moldar e enlamear. A base do mente falando, não se trata tanto de uma alteração do caráter do solo como
sulco tem uma camada de finas partículas espalhadas pelo arado e pelas rodas
50
Impacto do Homem Sobre Aspectos do Ambiente 51
SoloS
.le um fato geomórfico, motivo pelo qual apresentaremos nesta obra vários do fósforo. Se se aplicam fertilizantes por muito tempo, a química do solo
exemplos de erosão total.
fica muito simplificada, com o estoque de nutrientes fortemente concentrado
Uma erosão catastrófica do solo é mais comum em ambientes de equí- em cálcio, fósforo e potássio. Outros elementos catiônticos são deslocados do
h1 rio delicado (semiáridos ou montanhosos, sobretudo), onde o solo é facil- estoque e lixiviados do solo pela água da chuva. Por sua vez, isso pode contri-
mente erodível. No entanto, a degradação física e química do solo está muito buir para o desencadeamento de mudanças na estrutura do solo. Os solos ricos
mais generalizada, e mesmo a agricultura mais cuidadosamente empreendida em potássio podem desenvolver uma estrutura colunar ou prismática, dura e
fará aumentar as perdas de cinco a cinqüenta vezes, em relação às terras refratária quando seca, lodosa quando molhada. O uso contínuo de fertili-
dotadas de cobertura vegetal natural. Ao promover a erosão, o homem está zantes à base de sulfato de amônio acidifica o solo e, portanto, pode "fixar"
efetivamente encurtando a duração geomorfológica e acelerando muito um outros nutrientes, não os tomando acessíveis às plantas (o zinco é um desses
processo natural (veja Capítulos 7 e 9). No imenso cinturão cerealífero dos microconstituintes). Os solos que foram estrumados ou usados como pasta-
Estados Unidos, os solos férteis tinham dois metros de profundidade e mais; gens por longos períodos costumam ser ricos em fosfato, podendo acumulã-lo
todavia, ao fim de um século de lavoura, um terço dessa profundidade desa- em um horizonte fosfático distinto com concentrações de 1.000 p.p.m. ou
pareceu em amplas áreas.
mais.
A erosão iniciada pelo homem não é necessariamente prejudicial. Na A aplicação científica de fertilizantes pode servir para o exato controle
bacia do Mediterrâneo, os solos velhos e profundos das vertentes tinham da química do solo, variando o equilíbrío de nutrientes segundo a planta
perdido quase todos os nutrientes desde o horizonte A e seu potencial agrí- cultivada e, de modo semelhante, o grau de acidez do solo (pH) pode ser
cola era limitadíssimo. O desbaste das florestas, mil a 5 mil anos atrás, provo- mantido dentro do limite ótimo dé ligeira acidez (PH 5 a 7) adicionando
cou a erosão pluvial do frágil hor.zonte A (solo arável), deixando à super- cal nas regiões úmidas. O reconhecimento de que as plantas requerem certos
fície o horizonte B, mais compacto e argiloso (subsolo). Desde aí, surgiu um elementos, em quantidades mícrométricaa, permitiu tomar muito mais
solo novo, "rejuvenescido", a partir do anterior subsolo. férteis os solos deficientes em um ou vários de tais elementos, mediante a sua
adição. O acréscimo de produtos com molibdênio, em teor de 100 gramas por
hectare, em conjunto com fertilizantes à base de fosfato, nos pastos das terras
3.4. Alteração química altas da Nova Zelândia, permitiu que se multiplicassem as bactérias que estabi-
lizam o nitrato, o que por sua vez estimulou o crescimento do trevo para
3.4.1. Fertilizantes artificiais forragem, na ausência de nitrato disponível. O uso de áreas turfosas já explo-
radas para a agricultura normalmente requer a adição de todo um espectro
As tentativas de conservação ou de melhora da fertilidade da terra de grandes e pequenos nutrientes vegetais, ausentes no solo orgânico. Ele-
através de fertilizantes químicos são relativamente novas, embora já se use há mentos como o cobre, o boro, o zinco e o ferro comumente faltam em solos
séculos estrumar e adubar a terra com argila rica em cal. Com a invenção dos orgânicos.
fertilizantes químicos, no século XIX, e com o reconhecimento da natureza
dos nutrientes das plantas, tomou-se possível alterar à vontade certos aspectos
da composição química dos solos. Hoje, os países desenvolvidos usam em 3.4.2. Salinização e dessalinização
geral os fertilizantes sintéticos. Basicamente, os fertilizantes artificiais mistu-
ram os nutrientes primordiais: nitrogênio, potássio e fósforo. Junto com o Os solos com alto conteúdo de sal (sais de potássio, sódio, magnésio e
cálcio, como nutriente condicionante, aquelas substâncias formam uma versão cálcio), ou altamente alcalinos, são característicos das regiões áridas e semiá-
muitíssimo simplificada da mescla de nutrientes vegetais acumulada no solo ridas. Trata-se de solos intrazonais desenvolvidos em pontos baixos de uma
natural, provinda do intemperismo das rochas e da decomposição de matéria Paisagem, devido à concentração e posterior evaporação da água de escoa-
orgânica. mento, que dissolveu sais da área circunvizinha, ou à existência de um nível
O cálcio, o potássio e o fósforo acumulam-se durante longos períodos hidrostático suficientemente próximo da superfície para permitir um movi-
em forma iôntica, à superfície de partículas de argila semelhantes a placas, mento ascendente (capilar) de água, que se evapora e deposita os sais dissol-
assim como se "fixam" (convertidos em forma insolúvel), no caso do cálcio e vidos. Os solos de tais áreas podem ser potencialmente férteis, desde que
52 53
Impacto do Homem Sobre Aspectos do Ambiente
Solos
irrigados. A irrigação, no entanto, corre o risco de ter mau uso: pode ser deposite no solo mais perto da superfície durante a estação seca. A menos que
usada para dessalinização, o que é bom, mas também pode causar a saliní- a pluviosidade e a irrigação sejam suficientes, em seguida, para fazer infiltrar o
zação de solos até então férteis. sal para o perfil do solo, ele se acumulará gradualmente até que o solo se
Os solos salinos (solonetz) são recuperados por lavagem prolongada, tome inútil. Na região de Bhakra, no Punjab, a irrigação elevou o nível hidros-
normalmente por pulverização de água de boa qualidade. Um sistema de valas tático em cerca de 9 metros nos primeiros dez anos de emprego dessa técnica,
de drenagem a profundidade adequada é indispensável para retirar a água numa área de 2,7 milhões de hectares. Na bacia do rio Murray, no sudeste da
salina do solo lixiviado. Uma vez removidos os sais nocivos - principalmente Austrália, os esquemas de irrigação, na década de 50, também tiveram vida
o sódio -, talvez seja necessário adicionar cálcio para restaurar a estrutura e o curta, pois as concentrações de sal na água de escoamento aumentaram dez
equilíbrío químico, empregando os processos de troca iôntica. vezes no período. Os efeitos de tal processo sobre o solo dependem em parte
Se a salinização se deve a um alto lençol aqüífero, as valas de drenagem dos sais predominantes. Se o cálcio é abundante, então a drenagem da terra
têm de ficar suficientemente abaixo da zona de ascensão capilar da água devolverá o solo ao estado original, mas, se os sais de sódio formam mais que
subterrânea para impedir que se restabeleça o processo de salinização. Os 12% do conteúdo salino global, então as partículas do tamanho de argila se
solos que se tomaram salinos por influxo da água de escoamento vinda de dispersam, a estrutura se perde e o solo vira um autêntico solonetz.
áreas circundantes poderão ser lavrados a fundo e tratados com gipsita para Muito embora uma gestão cuidadosa permita irrigações por séculos, a
melhorar a drenagem vertical e restabelecer o equilíbrío iôntico (cálcio) salinização tem constituído uma conseqüência quase inevitável a longo prazo.
adequado ao crescimento das plantas. Tais métodos foram empregados para O aumento gradativo do conteúdo de sal dos solos do Crescente Fértil, na
corrigir extensas áreas de terra, sobretudo nas estepes da URSS, nas regiões de Mesopotâmia, o berço da agricultura, infere-se do conteúdo cada vez maior de
estuário da Romênia. Os russos recorreram a uma solução diluída de ácido sal nos tijolos empregados na construção de casas locais, no decurso dos
sulfúrico para a remoção de sais: com isso o excedente de água de escoa- séculos. A destruição de suas terras aráveis pela salinização talvez esteja na
mento (lixiviada) contém sulfatos de sódio e cálcio em solução. O efeito origem do colapso desta e de outras velhas civilizações do mundo semiárido.
dessas técnicas de dessalinização reside em converter o solonetz intrazonal em
uma versão bem aquosa do solo zonal da área, chemozem no caso das estepes,
em poucos anos. 3.5. Criando novos solos
Vistas do ar, muitas terras de semeadura que foram irrigadas por um pe_
ríodo de vários anos mostram, entre o verde, manchas cinzentas que parecem 3.5.1. A regeneração dos solos de Exmoor
húmus. É o resultado do raquítico desenvolvimento das plantas pela salinízação,
representando o início de um processo que há de transformar a área num Um ambiente diametralmente oposto ao acima descrito é o das terras
quase deserto, no qual apenas sobreviverão as plantas dotadas de maior tole- altas da Grã-Bretanha. Os solos de Exmoor, ao norte de Devon e a oeste de
rância ao sal. Cerca de 20 a 40% das terras irrigadas do mundo são afetadas Somerset, entre 300 e 500 metros acima do nível do mar, são gleys turfosos,
até certo ponto pela salinização. Estima-se que a cada ano se perde tanta terra mal drenados, ácidos e onde vinga uma vegetação esparsa, dominada por
para o cultivo por salinização quanto a que se recupera devido a novos esque- Molinia (erva púrpura das charnecas). A correção desses solos vem sendo feita
mas de irrigação. Somente na Indía há 4 milhões de hectares afetados. intermitentemente há duzentos anos. As técnicas modernas consistem em arar
Nas regiões áridas, tanto a água subterrânea como a superficial são por a fundo, adição de fertilizante calcãrio e nitrogenoso e re-semeadura com
natureza mais salinas do que nas zonas úmidas. Além disso, a água usada para Festuca (capim-do-prado) e Agrostis (agróstea). São consideráveis as alte-
irrigação é a água de escoamento provinda de uma área muito mais ampla do rações no caráter do solo daí resultantes, como se vê na Fig. 3.3. As proprie-
que a mera chuva que cai na área irrigada. São necessários 30 hectares de dades químicas, físicas e biológicas são descritas para o solo natural e para o
bacia abastecedora, pelo menos, para irrigar um hectare de terra nas regiões COrrigido, a 5 centímetros de intervalo ao longo do perfil do solo. Os níveis
semiáridas; por conseguinte, os sais dissolvidos dos 30 hectares concentram-se menores da água edáfica e o maior pH do solo corrigido ampliam a vida do
na gleba de um hectare. solo (São dados os níveis de bactérias e de fungos), enquanto a oxidação reduz
A irrigação prolongada eleva o nível hidrostático, até que, ao chegar a 1 o Conteúdo de carbono. A quantidade de minhocas centuplicou no solo
ou a 1,5 metro abaixo da superfície, a ascensão capilar permitirá que o sal se corrigido.
55
54 Impacto do Homem Sobre Aspectos do Ambiente Solos
Isto está em oposição frontal aos processos da natureza e a situação do
Densidade por volume (g cm-3)
solo corrigido exige atenção constante. Onde a atenção foi negligenciada, os
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2
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solos começaram a reverter ao seu caráter original, em reação aos fortes
Umidade (%) Micro ~ org./ cml controles naturais do clima das terras altas, da topografia e do material de
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origem ou ancestral.
(a) Nõo regenerada
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~
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Nas regiões da Europa onde o solo não é fértil, o homem
pequenas áreas de solos artificiais, regra geral acumulando uma grossa
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; 5 I. " 'I nome de plaggen, querendo dizer solos de "torrão". A Fig. 3.4 mostra o perfil
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4 6 _ Legenda _
pH (b) Solo plaggen
densidade do solo (a) Solo natural
~ 20 ~O i •• umidade .'
carbono aludo .•.tl F'igura 3.4 _ Perfis do solo perto da costa do Condado de Kerry , na Irlanda. Em (a), solo
Carbono (%) ~ pH
natural da área; em (b), solo das proximidades, com espessos horizontes de
Figura 3.3 - Modificações nas características do solo de Exrnoor, devido aos processos plaggen criados pelo homem (oonforme Conry, 1976). .
de regeneração (conforme Maltby, 1975).
56 Impacto do Homem Sobre Aspectos do Ambiente
57
59
58 Plantas e Animais
Impacto do Homem Sobre Aspectos do Ambiente
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SUDESTE DA ÁSIA.
AMÉRICA CENTRAL EUROPA iNDIA. CHINA
.• - milho ~ 1 - beterraba dt forro98m 2 ~ - lentllho 32 - orroz
2 - pimenta v.rmelho 12 - poinço 22 - bi.ão 33 - cono-de-QÇÚeor
13 - centeiO 23 - ee metrc 34 - ehâ
AMERICA DO SUL
-14 - evetc 24 - cabra 35 - algodão do V. Mundo
3 - algodõo ee N. Mundo
15 - CiJonso 25 - comelo 36 - ~ojo
4 - tomote
5 - tabaco
46 - coelho 26 - ooto 37 - limdo
38 - banana
6 - bototo ORIENTE MÉDIO A'SIA CENTRAL
39 - loranja
7 - omendol", '17 - trigo 27 - maçô
40 - bibos
8 - feiJôo escorlot. 18 - c ••••ado 28 - pero
41 - ubu
9 - abatold 19 - olfoto 29 - cebola
42 - el,fonl.
10 - Ihomo 20 - .rvilha 30 - cOl/alo
43- búfalo
31 - loquI 44 - cachorro
FIgUra 4.2 - Processo de difusão de animais e plantas. Em (a), a transferência da videira
de sua área de origem (sombreada) (conforme Simmonds, 1976). Em (b),
difusão do estorninho europeu nos Estados Unidos, entre 1891 e 1928,
Figura 4.1 -- Origem de alguns animais domésticos e plantas (conforme Cox , Heaíev e após sua introdução em Nova lorque (conforme Elton, 1958).
Moore, 1973).
\.
61
60 Impacto do Homem Sobre Aspectos do Ambiente Plantas e Animais
---4
E..9u2.dO!
a biosfera é particularmente vulnerável à mudança e, de maneira mais óbvia I,
4.2. Vegetação
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f7'""'l
fundra
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deserto
~ floresta
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umldo tropical
O·taçõo de montanha
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Um mapa convencional dos grandes tipos de vegetação está na Fig. 4.3. mil dec,'duo
florestas tropicala
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..c:: estado do solo também é alterado. Deste modo, grandes áreas do mundo são
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artificialmente mantidas como pradarias (vegetação de plagioclímax), mas a
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não ser que o solo se tenha alterado radicalmente em reação à nova vegeta-
c:: ção, ao clima ou à erosão, o menor relaxamento da pressão imposta pelo
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2, homem fará reverter a vegetação, gradativamente, ao seu equilíbrio natural.
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Há exceções em zonas sensíveis, onde o limiar foi ultrapassado e a vegetação
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o-
original jamais retoma. Prováveis exemplos disso são a floresta úmida tropical
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-o e as regiões semiáridas.
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00
As alterações deliberadas da vegetação (agricultura) são tratadas no
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'" Capítulo 9. Os exemplos de modificações na distribuição de plantas e animais,
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" apresentados no restante deste capítulo, são de mudanças em grande parte
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as prímulas, planta dos prados abertos, ocupavam habitats bem diferentes.
Na Grã-Bretanha, a perda das matas e a modificação das terras de pastoreio
forçou ambas as espécies a ocupar um nicho comum artificialmente construí-
do em sebes e soutos aparados. A proximidade levou à miscigenação e produ-
-e
'" ziu uma planta intermediária, com o longo pedúnculo da prímula coroado
'"
"3 pelas flores da primavera. Outra influência humana reside no fato de escolher
,§ ou arrancar ambas as espécies para decoração. Hoje em dia a prímula verda-
c
c,
'" deira é relativamente rara e a distribuição da primavera se alterou em grande
-e'" escala, não existindo mais, virtualmente, perto dos centros urbanos.
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'E" Flora das ferrovias. Os meios de transporte exerceram influência na
g -:u'" flora inglesa. Seja carroça, automóvel, trem ou canal, o resultado foi o entre-
~c:: ~ laçamento contínuo, relativamente uniforme e aberto dos habitats do país .
.~ c
';: .E c'" Desta forma, as espécies convenientes recebem condições ideais de propa-
~~~~ t., !
~
.• f;,'"
o
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I
gação com o mecanismo artificial de dispersão representado pelo meio de
transporte. A difusão de tais espécies foi rápida e linear, ao contrário da
S eiit '"""
.§> progressão normalmente va~arosa no campo de amplas frentes de avanço.
~
64
Impacto do Homem Sobre Aspectos do Ambiente Plantas e Animais 65
o exemplo mais conhecido de flora das ferrovias é o de wna planta 4.2.4. A flora mediterrânea: mudanças em grandes escalas
estranha (mediterrânea), a tasneira de Oxford [Senecio squalidus}, que esca-
pou do Jardim Botânico de Oxford em 1790. Noventa anos depois alcançava As áreas de clima mediterrâneo ocupam apenas 3% da superfície da
a linha da Great Westem Railway naquela cidade, para se espalhar celere. Terra, mas a importância delas, em termos humanos, está fora de qualquer
mente por todas as linhas da ferrovia no sul da Inglaterra, medrando no proporção com o seu tamanho, especialmente na área mediterrânea da
transtornado chão e com a sua penugenta semente deslocada para diante Europa, mas também em regiões como o sul da Califómia. A instabilidade e a
pelas correntes de ar geradas pelos trens ao passar. Plantas nativas como a vulnerabilidade são características da vegetação mediterrânea, principalmente
tasneira viscosa (Senecio viscosus) espalharam-se pelo ambiente árido do das florestas. Isso reflete a natureza intermediária do clima, em parte tem-
cascalho da linha, ao passo que a criação de ambientes opostos, frios e úmidos perado, em parte tropical, assim corno a áspera e montanhosa natureza de
à entrada dos túneis e à sombra das plataformas possibilitou a migração de muitas áreas mediterrâneas. A seca e a pluviosidade exemplificam o regime
certas espécies de fetos. Nos últimos anos, a rede de estradas de ferro foi de precipitação, estimulando a erosão do solo, ao passo que a diversidade
truncada, limitando bastante os habitats. Os modernos trens de alta veloci- da natureza da flora florestal (quatro vezes o número de espécies das florestas
dade são agentes poderosos de dispersão via correntes de ar, mas o uso de temperadas) deixa cada espécie mais propensa à extinção.
herbicidas pulverizados para controlar a vegetação dos aterros reduziu seve- Um ambiente em tão delicado equilíbrio se torna muito sensível à
ramente a variedade das espécies, permitindo, assim, o desenvolvimento das influência humana, a qual rompeu em larga escala os ecossistemas regionais.
resistentes, como a lígula (Corrigiola litoralis], Do ponto de vista humano, as regiões mediterrâneas estão equilibradas entre
a fertilidade e a frugalidade, ficando o equilíbrio na dependência da forma
como se lida com a terra. O modelo ideal de uso do solo exigiria manter as
4.2.3. Mudanças em média escala florestas nas montanhas e praticar a agricultura nas planícies, mas tal sistema
raras vezes foi empregado, tanto na bacia do Mediterrâneo propriamente
Vietnã. Durante a guerra do Vietnã (1954-1973) o homem exerceu dito como em qualquer parte do mundo. Na área européia, sobretudo, o
fortíssimo controle sobre a vegetação - floresta úmida tropical _, para fins conflito entre pastoreio e agricultura foi decisivo na determinação do destino
puramente militares. Um quinto de toda a área florestal foi desfolhada da vegetação natural.
pelas forças norte-americanas, usando poderosos herbicidas, com concentra- Calcula-se que os tipos de vegetação criados pelo homem ocupam mais
ção trezes vezes maior que a necessária para matar ervas daninhas em agri- de 3/4 das terras altas da região mediterrânea da Europa. Áreas de coloni-
cultura. Calcula-se que os efeitos perdurem por cem anos, desconhecendo-se zação mais recente passaram por mudança comparável. Por exemplo, no
em grande parte as conseqüências ecológicas. Os bombardeios ainda causaram Chile e na Califómia, até a grama e as ervas dos pastos, onde antigamente
maior impacto, convertendo 2 mil quilômetros quadrados de selva em terra havia floresta, são importadas quase todas da Europa, pois suportam melhor
nua, somente no ano de 1971.
o pisoteio do gado que a flora natural.
No entanto, é na Europa que as mudanças sofridas pela vegetação medi-
Opúncia. O cacto opúncia foi levado da América do Sul para a Austrá- terrânea estão bem documentadas. As florestas de carvalhos ou de pinheiros,
lia, como cerca eficaz para o gado. Encontrou lá um espaçoso nicho e se que formam a vegetação natural de cerca de 80% da zona montanhosa, vêm
alastrou de forma descontrolada, arruinando praticamente 250 mil quilôme- sendo exploradas há pelo menos 10 mil anos. Boa parte da madeira foi usada
tros quadrados de terra de lavoura, estrago comparável ao do coelho. Desco- para construção ou para carvão, mas áreas imensas foram desmatadas no todo
briu-se que a aplicação de produtos químicos não produzia nenhum efeito ou em parte para a criação de pastos. O corte de florestas ocorreu em surtos
e acabou por se adotar uma forma de controle ecológico "natural". Outra de atividade divididos em períodos diferentes, mas as perdas maiores se
espécie estrangeira foi importada da América do Sul, a mariposa Cactoblastis deram nos três últimos séculos. A remoção da cobertura florestal e o pasto-
cactorum, cujas larvas penetram na opúncia e destróem a planta por dentro. reío, que impede a regeneração, gerou microclimas mais extremos, permitiu
Em três anos a população de opúncias diminuiu 80% e, ao fim de vinte anos, uma extensa erosão do solo e, mesmo que a terra tenha sido abandonada,
tinha-se estabelecido um equilfbrin natural entre o cacto e o predador, perma- SOmente wna vegetação menor surgiu. A Fig.4.5 ilustra a seqüência da
necendo a população de opúncias em nível aceitável. degradação vegetal associada ao corte de florestas para fins agrícolas ou de
66
Impacto do Homem Sobre Aspectos do Ambiente 67
Plantas e Animais
pastoreio. O ritmo em que a regressão se efetiva, em cada caso, depende de
a regeneração da floresta. Contudo, as áreas de intenso pastoreio ou exaustas
fatores locais de solo, topografia e clima, juntamente com a intensidade e a
duração do esforço imposto pelo homem. pela lavoura, virtualmente se tomarão desertos nos quais somente as plantas
mais tenazes sobreviverão, como o asfódelo. Essas áreasjá ultrapassaram um
A perda de floresta estimula as espécies vegetais leves e resistentes à
limiar que não lhes permite recuperar a condição original.
seca a se tomarem dOminantes; de modo semelhante, o pastoreio faz disse-
Napoleão, que nasceu na Córsega, dizia que seria capaz de reconhecer
minar as plantas intragáveis e as que se propagam por vergôntea. A mudança,
a terra natal mesmo de olhos vendados, só pelo cheiro da vegetação aromá-
regra geral, se dá de uma vegetação mesofítica para outra xerofítica. O
tica. Essas plantas, entretanto, são as do maquis (mato) e petit maquis ou
maquis e o chaparral, que caracterizam boa parte das regiões mediterrâneas,
garrigue, que hoje recobrem uma larga proporção da Córsega, em substituição
são floras relativamente ricas e, se não forem perturbadas possibilitarão talvez
às florestas originais de carvalhos e pinheiros. A vegetação da Córsega foi
muito mais degradada pela ação do homem do que a de qualquer outra região
Floresta de climax
mediterrânea comparável. Mais de 75% da zona agrícola potencialmente
azinheira sobreiro importante, que se' situa entre as altas montanhas e a planície costeira, se
pinheiro
desmatamento transformaram em chaparral. A floresta natural restringe-se a capões isolados
paro eu Iti vo
o
..
Q;
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Floresta secundário
no meio de um mar de maquis, sendo evidente a associação de uma vegetação
ainda mais degradada tgarrigue) com o povoamento. São grandes áreas de
~ terras aráveis abandonadas .
., Carvalho quermes
o pinheiro As florestas originais de carvalhos sempre verdes, nas montanhas mais
"- altas, foram extensivamente abatidas para a obtenção de carvão e tanino nos
"
o
i
E
!
Moquis alto / matagal
séculos XV e XVI, mas elas já tinham começado a desaparecer muito antes.
Já no século V a floresta de faias estava começando a substituir o carvalho,
~ pois os inúmeros porcos mantidos nas serras comiam os brotos e as bolotas,
o lentisco louro cisto Agricultura
'o
o- ~ inibindo a regeneração. Mesmo hoje, a Córsega tem 30 mil suínos, quando o
o mOrangueiro te rraplenagem
~ " ótimo se calcula em 4 mil. A tradição pastoral da ilha levou ao corte de vastas
'" 8.~
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<> florestas de faias e pinheiros, expondo o solo a severa erosão, mesmo em
~ ~ abandono
vertentes comparativamente suaves. O pastoreio dos sumos, cabras e ovelhas
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'"
E
Maquis baixo /'garrigue
impediu o rebrotar das espécies, ao passo que o abandono da terra, com o
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E
alfazema
alecrim
tomilho
cisto
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declínío da economia, fez com que o espinhoso maquis se tomasse impene-
~ trável. Atualmente, a vegetação da Córsega é, em grande parte, produto da
o
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Estepe
intervenção humana.
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õ terra nua
asfódela uparto
4.3. Animais
"ê
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I
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c 4.3.1. Relação entre o homem e os animais
8-
c
.g Descalvada
~ solo nu
Mais do que com a vegetação, a interferência humana nas populações
xerófita a animais redundou em efeitos mais abrangentes e imprevisíveis, como no
exemplo com o coelho (Capítulo 2). Quanto mais alto estiverem os animais
na cadeia alimentar, maior é o grau do controle exercido pelo homem. Apesar
Figura 4.5 - Seqüência da degradação e regeneração para a vegetação mediterrânea dos inseticidas, as populações de insetos são na sua maioria relativamente
sob influências humanas ou naturais.
imunes ao controle humano e chegam mesmo a proliferar em ambientes
69
68 Impacto do Homem Sobre Aspectos do Ambiente P\lIntas e AniInais
As colônias européias conheceram a introdução de animais em escala
"controlados". Os animais de maior porte são menos numerosos e mais fáceis muito superior e em período mais curto. Um exemplo significativo é o da
de manipular. A erradicação de certas espécies e a criação seletiva de outras Nova Zelândia, onde, no decurso dos últimos cem anos, foram acrescentados
fizeram aumentar a quantidade de animais herbívoros, à custa dos carnívoros à faun nativa o coelho, o ouriço-cacheiro, o rato, a lebre, o ancinho, a
(caçados para eliminação das espécies predadoras ou por divertimento). doninha , o furão, a raposa, a cabra, o gato, o cão, o cervo, o gambá, o melro,
Também houve reduções e eliminações por destruição do habitat, freqüente- a
a gralha, o pato bravo, o tentilhão, o pintassilgo e a cotovia.
mente uma conseqüência indesejada do mau uso da terra. A extinção e a Três exemplos de ecossistemas animais modificados são apresentados a
introdução de espécies animais são aspectos opostos da manipulação humana, seguir: extinção, proliferação e mutações em larga escala num ecossistema
embora possam ocorrer conjuntamente. Quando se levaram cabras para as
ilhas Galápagos, no Pacífico Oriental, as populações indígenas de tartarugas aquático.
gigantes e de iguanas declinaram rapidamente, já que todas estavam compe-
tindo pelos mesmos alimentos, as cabras com mais êxito.
4.3.2. Modificando ecossistemas animais
No mínimo duzentas espécies de mamíferos e de aves se extinguiram nos
últimos três séculos, em conseqüência da atividade humana. A taxa foi de Grande borboleta azul. A fauna com pequena população natural e
uma espécie por ano no século atual. Outras 250 espécies estão em vias de de- habitat muito restrito (falta de adaptabilidade) é particularmente propensa à
saparecimento. A maior delas - a baleia azul - vem rareando nos últimos anos. extinção, como resultado da atividade humana. Isso pode acelerar um pro-
A captura nas águas do Antártico foi superior a 5 mil exemplares em 1950, cesso natural ou reverter uma tendência natural (colonização). Muitas vezes,
1.700 em 1960 e zero em 1970. É matéria de grande especulação o efeito, as borboletas entram nesta categoria, pois as lagartas de certas espécies são
sobre os ecossistemas marítimos, da extinção de uma espécie como esta. altamente seletivas na escolha do alimento. A grande borboleta acobreada
Variam muito as razões que levaram à introdução de espécies animais tinha desaparecido da Grã-Bretanha desde 1865, por causa da drenagem dos
em novos habitats. Às vezes houve vontade deliberada, científica ou de outra Fens, e a sucessora dela, vinda da Holanda, apenas sobrevive com extremos
natureza; outras vezes, foi por inadvertência. O sucesso de uma espécie levada
para novo habitat depende da existência de um nicho vago para ocupar. cuidados no paul de Woodwalton.
Também se supõe que a grande borboleta azul (fI-faculinea arcon), raro
Alguns animais introduzidos, atualmente naturalizados na Inglaterra em maior exemplar nativo das terras baixas do sul da Inglaterra, se extinguiu por volta
ou menor número, incluem: de 1980. O ciclo vital da borboleta é altamente especializado. As lagartas
alimentam-se de flores e sementes de tomilho durante três semanas, antes de
gamo, rato doméstico pré-história se tomarem crisálidas. Estas, em seguida, caem ao chão e são levadas para o
coelho, faisão, rato preto, carpa Idade Média subsolo por uma espécie particular de formiga, que obtém delas uma secreção
rato marrom, cervo, esquilo cinza séculos XVII-XIX doce, ao mesmo tempo que lhes proporciona um ambiente seguro no formi-
visão, canguru pequeno 1900 gueiro até o mês de maio, quando a borboleta emerge. O crescente aproveita-
ratão do banhado 1930 mento das baixadas em atividades agrícolas fragmentou a imensa população
sapo de ventre amarelo 1950 de borboletas azuis em ''ilhas'', ao mesmo tempo que o declínio da população
peixe ciprinídeo 1960 de coelhos possibilitava que as áreas remanescentes de turfa desenvolvessem
gerbilo, porco-espinho de crista 1970 um tipo mais espigado de vegetação, excluindo aquela bem roçada pelo gado
que as formigas preferiam. Então, é provável que o número de borboletas
As populações de muitos desses imigrantes são demasiado reduzidas, azuis caiu abaixo do mínimo necessário para a perpetuação da espécie; sua
mas outras, como o esquilo cinza, prosperaram imensamente. Este já superou extinção exemplifica o que a destruição deliberada de um habitat é capaz de
de muito o esquilo vermelho nativo em todas as regiões, menos no oeste, onde
tem poucos inimigos naturais e acredita-se que tem sério efeito sobre a popu- fazer.
lação de aves, pelo fato de destruir ovos. Por comparação, os canguruzinhos Parasitas do coqueiro, Malásia. A extinção acidental de um inseto não é
do Derbyshire levam uma existência confinada, sem nenhum inimigo natural nada em comparação com as explosões populacionais provocadas pelo homem
senão o homem.
71
através do rio São Lourenço, o lago situado em cota mais baixa, o Ontário,
estava, na origem, biologicamente isolado do conjunto por causa das Cata-
ratas do Niágara, que ligavam o São Lourenço com o lago Erie. As Cataratas
também ofereciam uma barreira à navegação, até que foram superadas no
século XIX pela construção de canais. O canal de Erie (Fig.4.6a) ligava o
rio Hudson, no Estado de Nova Iorque, com o lago Ontário através do rio
Oswego (1819) e foi depois, em 1825, estendido até o lago Erie. O canal
de Welland (1829) oferece uma rota direta entre os lagos Ontário e Erie.
Os canais também são condutos biológicos, mas isso foi muitos anos
l !ompreio
antes que se tomassem evidentes os efeitos, em termos de transformações na A arenque '"
quantidade, composição e distribuição de espécies de peixes. Duas espécies dO A.
viáveis no sentido tecnológico, mas a nossa ignorância dos pormenores da de esforçO possa produzir uma alteração verdadeiramente significativa. É
ação da atmosfera implica que não está de maneira alguma claro qual a cadeia possível ter uma noçãO da magnitude dos fluxos de energia atmosférica se se
de causa e efeito que poderia resultar de intervenções de tão larga escala. O adlnitir que a combustão de mil toneladas de carvão gera urna unidade de
que é certo é que não seria benéfico para todos os povos da Terra. energia. Compare-se então com os seguintes fenômenos, que envolvem ener-
Não obstante, é provável que no decurso deste século o homem tenha
começado inadvertidamente a acelerar o ritmo de mudança do clima do globo, ~a:
sobretudo no hemisfério Norte. É muito difícil avaliar a magnitude dessas Energia envolvida
mudanças ou ter a certeza se elas são naturais ou não, mas supõe-se que a (unidades)
tendência natural para o esfriamento no clima mundial desde a década de 50 10
já foi detida, esperando-se um aquecimento perceptível lá pelo ano 2000. Por Trovoada 10.000
volta de 2050 talvez tenhamos o clima mais quente dos últimos mil anos. As Bomba nuclear grande 100.000
mudanças nas regiões polares devem ser duas a três vezes maiores que a média Consumo mundial diário de energia 1.000.000
mundial; se o gelo derreter em proporções consideráveis, isso provocaria Depressão de latitude média 10.000.000
outras grandes e talvez irreversíveis distorções na circulação atmosférica e nos Circulação das monções 1.000.000.000
padrões do equilíbrio térmico. Essas alterações são consideradas como sendo Recepção diária de radiação solar, global
prováveis conseqüências diretas da modificação da composição atmosférica,
especialmente do teor de poeira e bióxido de carbono. Ao contrário dos
demais aspectos do ambiente físico até agora examinados, a atmosfera é um Por esta base, a capacidade do homem para desviar ou alterar seme-
sistema contínuo e único, de modo que as mudanças são transmissíveis em lhante fluxos de modo significativo, quanto mais empurrar o sistema para
toda a sua extensão. Portanto, alterações no segmento atmosférico do ciclo além dos seus limiares, parece muito limitada, com exceção das zonas climá-
do carbono, digamos, ou no albedo de amplas áreas da superfície terrestre, ticas delicadamente equilibradas, como as regiões semiáridas propensas à deser-
possivelmente não darão início a mutações climáticas de escala local, mas sim tificação, descritas no Capítulo 2. No entanto, há pontos fracos dentro da
de escala mundial. atmosfera, em dois dos quais o homem está agindo na atualidade.
Mudanças na refletividade da superfície (albedo) alteram o aquecimento
da atmosfera inferior e elas estão relacionadas a uma alteração no uso da
5.2. Pontos de atuação no sistema atmosférico terra. Em segundo lugar, mas potencialmente muito mais importante, é a
composição da atmosfera, sobretudo a quantidade presente de gás de bióxido
o determinante fundamental do clima é a entrada de radiação solar que de carbono. O aumento da concentração deste gás, devido primeiramente à
impulsiona os mecanismos da atmosfera. Todos os elementos do clima - tem- queima de combustíveis fósseis e, como efeito secundário, ao desmatamento
peratura e padrões de pressão, o vento e a precipitação pluviométrica - são (Seção 5.4.2), é considerado o responsável pela tendência do clima mundial
efeitos secundários da diferença de aquecimento da atmosfera e da superfície para o aquecimento. Como o bióxido de carbono é um agente importante da
da Terra. Portanto, as alterações introduzidas no equilíbrio térmico irão absorção da radiação de ondas longas, tal substância ocupa urna posição deci-
causar mudanças climáticas máximas e a maior seqüência de mudanças ulte- siva no equihbrio térmico, de modo que pequenas modificações na sua
riores. As alterações introduzi das no funcionamento dos processos secun- concentração são capazes de produzir intensas flutuações na temperatura do
dários, como a precipitação pluviométrica e o sistema dos ventos, tendem a globo.
ter efeitos mais restritos. Todas as tentativas deliberadas de modificação Os exemplos de alteração climática apresentados neste capítulo estão
climática visavam esses processos secundários (dispersão da névoa ou preci- distribuídos segundo uma escala (de mícro a macro: da casa ao hemisfério) e,
pitação de chuvas, por exemplo). depois, conforme as mudanças sejam inadvertidas ou deliberadas. Todas as
Por felicidade, talvez, a vasta escala do sistema atmosférico e os enor- alterações de larga escala são acidentais, tal como efetivamente ocorre com a
mes fluxos de energia que se verificam, implicam que são relativamente redu- mais intensa mudança de mesoescala - o típico clima urbano considerado no
zidos os pontos de interferência no sistema, em que uma pequena aplicação Capítulo 10.
76
Impacto do Homem Sobre Aspectos do Ambiente
A AtJI10sfera 77
5.3. Escalas de mudança
(jet-stream), forma-se a~m~ da zona de fluxo turbulen~o. O e~ifício Irá
5.3.1. Mudança microclimática converter em calor a radiação solar que entra, de forma diferente a das vizi-
nhanças, dependendo da cor, textura e densidade dos materiais de construção
do edifício. Muitos edifícios atuam como ilhas miniaturais de calor, devido
o motivo primordial da construção de edifícios é obter abrigo, criando tanto ao aumento da absorção e subseqüente irradiação de energia solar como
um clima inteiramente controlado e artificial dentro de pequenina área. No
ao calor produzido por combustão. Deste modo, o edifício possuirá uma fraca
entanto, todo edifício cria igualmente o seu próprio microclima, diferente na
célula de convecção própria com ar quente ascendente. A umidade é menor
vizinhança imediata, que tanto pode ser como não ser desejável. Deveria ser
perto da estrutura, pois a água da superfície é depressa removida por drenos
obrigatório para os arquitetos modernos considerar esses aspectos climáticos
ao projetar uma construção. Os climas urbanos (Capítulo 10) formam uma nas áreas construídas.
assembléia tremendamente complexa de milhares de climas locais sobre.
postos, criados pelas estruturas.
Um único edifício modifica muitos dos parâmetros climáticos, ainda
5.3.2. Mudança mesoclimática
que em escala diminuta. A Fig. 5.1 mostra a alteração da circulação de vento
n 1 área em volta de um edifício. O fluxo livre e lamínar entra em disrupção, Nas áreas rurais, o clima sofre alterações em grandes espaços (talvez
criando alta pressão no lado contra o vento e baixa pressão com redemoinho centenas ou milhares de quilômetros quadrados) por mudança no uso da
no lado abrigado. Uma Corrente miniatural de ar, em fluxo de alta velocidade terra. Os efeitos são maiores junto do chão, mas as condições atmosféricas são
alteradas em uma abóbada de 30 a 100 metros de altura. Isso é discutido no
contexto do ambiente da mata tropical, no Capítulo 9, mas o desmatarnento
,... - -- ti., ..
nas regiões de clima frio e seco provoca os mesmos efeitos.
Nos territórios do nordeste do Canadá, fez-se uma queimada numa área
de taiga com podsol subjacente. O microclima local, medido 24 anos depois,
~~S? revelou características bem diferentes do clima existente nas matas vizinhas.
Os níveis de albedo eram inferiores aos da mata (16% contra 19%). Por conse-
qüência, a absorção acrescida de radiação pelo terreno na área queimada
gerou maiores temperaturas à superfície (mais IOoC no verão) e no solo
(b) Seçõo longitudinal mostrando os perfis de
I velocid9de 10
vent,o I (mais 4°C). A falta de uma zona "protetora" de vegetação - apenas vingam
1
~/jfg~'~-~--- 2 3 4 5
pequenos arbustos e erva - fez aumentar a temperatura do solo e ainda mais a
variação da temperatura de dia e de noite (37°C em vez de 28°). Os gradien-
tes térmicos nos 10 centímetros mais baixos da atmosfera aumentaram de
5 para 7°Cjcentímetro.
À falta de árvores, a velocidade do vento aumentava ao nível do ter-
reno, diminuindo a capa de neve em 20% e a umidade do solo, mas facilitando
(e) Planta do padrõo de fluxo do ar a infiltração de água da chuva, pois não há folhas para interceptá-Ia. A longo
Legenda prazo, isso alterará a evolução do solo (maior lixiviação), e daí a vegetação e
A fluxo normal novamente, portanto, o microclima.
B fluxo deslocado Ainda que as alterações climáticas aqui exemplificadas se afigurem
e turbu lêncio
grandes; na realidade estão em larga medida concentradas .nas mais baixas
o fluxo descendente (rumo)
camadas da atmosfera, diminuindo rapidamente os efeitos com a altitude. São
raros os exemplos comprovados de alterações climáticas de média escala
Figura 5.1 - Modificação do padrão de fluxo de ventos nas vizinhanças de um edifício
(conforme Oke, 1978). devidos à atividade humana, fora das áreas urbanas e talvez daquelas recente-
mente reflorestadas.
81
nuarem a aumentar à taxa atual, pode se verificar uma elevação da tempera- Ácido nítrico ...- radiação solar
podem perdurar por setenta anos, sofrendo como único grande declínío Ir
natural uma lenta decomposição por raios ultravioleta na estratosfera.
~
A concentração de freons na troposfera, atualmente, é de cerca de I
0,0002' p.p.m., mas estima-se que chegará ao máximo de quase 0,0003 p.p.m. Nitrato d. Ozõnlo
-,
trovoadas tenha mudado. o • o ..:
C7I ,......
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5.5. Mudança climática deliberada /
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atmosfera, podem ser elevadas usando revestimento de palha sobre as semen- 11 r .3 e';
-g 8 e
teiras, que reduz o albedo e retarda a re-radiação de energia. Com as colheitas 81 o'-~
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particularmente sensíveis às geadas - as frutas cítricas são um bom exemplo
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- talvez valesse a pena agir ativamente para tentar manter as temperaturas do e tO Õ
-;;;, 8. .•.•
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ar dentro da camada de vegetação acima do nível crítico do prejuízo por e f -e
geadas. As técnicas empregadas somente são eficazes em condições marginais, ::s 8. ~
onde só é necessário elevar uns poucos graus a temperatura. Do mesmo modo, ~~E
cd
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~ ~ o
também só podem ser usadas em locais afetados pelo esfriamento radiativo do
ar (in situ). O esfriamento por advecção (injeção de ar frio) envolve a contínua ~ ~ ~ ~
cd 1& •.•• "C)
-e ~ ~ tO
substituição do ar artificialmente aquecido por ar frio e exigiria quantidades ,g..,.. •..• -ótO .5o
impossíveis de consumo de energia. ~ :O'õ
------ \ -- ~ ~ cd
on o .,;
rompendo a inversão da temperatura e a camada de ar frio à superfície, que
caracteriza as geadas de radiação. Também se empregam ventiladores que -
o
(UI) Oloe op ,eA!U op DUI!:lD DJn,,\;,
i
agitam o ar, para sustar a inversão e misturar ar mais quente vindo do alto,
sem a adição de calor artificial.
84
Impacto do Homem Sobre Aspectos do Ambiente 85
'" Atmosfera
Um método algo mais arriscado de controle da temperatura reside em
de rebaixamento dos fluxos de vento, com modificação do clima local. A
usar o calor latente da fusão, liberado quando efetivamente se verifica o
extensãO da zona de influência e a intensidade da alteração climática depen-
congelamento da água. Quando a temperatura cai logo abaixo de zero, espar-
dem da altura, grossura e natureza da faixa de abrigo. Embora essas faixas
ge-se uma fina camada de água sobre as plantas. Ao congelar, o calor emitido
ajuda a retardar o resfriamento posterior. sejam usadas na Grã-Bretanha (mais como sebes do que como fileiras de
árvores), é nas áreas marginais das terras aráveis, devido à falta de chuva e ao
risco de erosão do solo, que as faixas de abrigo são mais valiosas.
5.5.2. Faixas de abrigo Na década de 30, depois do episódio da dust-bowl ("concha de poeira")
nos Estados Unidos, 30 mil quilômetros de faixas de abrigo foram plantados
na região atingida do meio-oeste. Supõe-se que a renda agrícola aumentou de
Os métodos passivos de mudança climática local são bem mais comuns 5 a 25% nos campos protegidos por essas cercas quebra-ventos.
que o exemplo anterior. Um dos mais antigos, registrado pela primeira vez em
Norfolk no século XVIII, consiste no plantio de fileiras de árvores para cortar
o vento e proporcionar melhor clima a sua volta. A faixa de abrigo serve para 5.5.3. Alteração da umidade atmosférica
proteger uma residência exposta, diminuir a erosão eólica do solo ou reter a
umidade do solo, reduzindo a velocidade do vento e, por conseqüência, o A tentativa de alteração das condições da umidade atmosférica constitui
coeficiente de evaporação.
um exemplo, com certo grau de êxito, de manipulação de um aspecto do
Os efeitos de uma faixa de abrigo na velocidade e na direção do vento clima em escala mediana. Sérios esforços têm sido feitos para dispersar as
vêem-se na Fig. 5.4, que mostra a pequena zona de ascensão e a extensa zona gotículas de nuvens (dispersão da neblina) e para induzir a coalescência das
gotículas (fazer chover). É possível dispersar a neblina em áreas limitadas, em
15
geral aeroportos, desde que a neblina não seja muito densa,em outras palavras,
quando existe um ponto de alavanca para alterar as condições atmosféricas
para outras que não sustentem as gotículas em suspensão.
12 --------~~~ ~
• ~ O congelamento das neblinas pode ser feito pelo espalhamento de
•..... pequeníssimas partículas de gelo seco ou iodeto de prata, para induzir as
E
gotículas de água a congelar nas partículas, formando eventualmente cristais
o 9 bastante grandes para se precipitarem ao solo por ação da gravidade. As
o
:;:: neblinas quentes são de dispersão mais difícil, ainda que misturando o ar ene-
~
~ voado com ar mais seco, do alto, mediante o uso de rotores de helicóptero,
..e
'"
.q
6 algumas vezes dê certo. A neblina pode ser "germinada" com partículas
higroscópicas (hidrato de lítio ou uréia), que absorvem vapor de água,
secando por isso o ar e provocando a evaporação da neblina. O método mais
3 comum consiste em aquecer artificialmente a camada de neblina, aumentando
. assim a sua capacidade de vapor de água até um nível suficiente para evaporar
a Umidade disponível. O sistema Turboc1air, existente no Aeroporto de Orly,
o • em Paris, consiste em doze motores a jato em câmaras subterrâneas, sendo
200 100 capaz de remover a neblina por uma extensão de 1.200 metros.
200 300 400 soo
A técnica de "germinação", descrita acima, também se usa para desen-
Distância horizontal (m )
C~dear a precipitação de nuvens, onde o regime pluviométrico seja insufi-
<lente. Baseia-se na presunção de que as nuvens à temperatura correta, que não
Figura 5.4 - Redução da velocidade do vento nas vizinhanças de uma faixa de abrigo, P.roduzem precipitação, não têm partículas pequeníssimas em número sufí-
formada por árvores com 6 metros de altura.
CIente, em tomo das quais a coagulação das gotículas das nuvens se verifica, a
86 Impacto do Homem Sobre Aspectos do Ambiente
fim de criar cristais de gelo bastante grandes para caírem ao chão. A adição de
partículas super-resfriadas de gelo seco ou de iodeto de prata, ou de combi-
nações de nitrato de amônio ou uréia, visa corrigir a deficiência.
A adição das partículas se faz por pulverização aérea ou por vaporização
a partir do solo. A "germinação" de nuvens somente é bem-sucedida quando
as condições naturais se aproximam das necessárias para que a chuva caia. O
que o homem pode fazer é empurrar o sistema para o limiar do estado de
6. A água
precipitação. É difícil, evidentemente, saber se a chuva que cai de uma nuvem
"germinada" se deve à "germinação" ou se ela teria caído de qualquer ma-
neira. Seja como for, alega-se que certos projetos desenvolvidos na Austrália 6.1. introdução
e nos Estados Unidos são responsáveis por um aumento de 10 a 30% no
índice pluviométrico de áreas com milhares de quilômetros quadrados.
Também se tem procedido à germinação de furacões, com o objetivo de
congelar rapidamente as gotículas de água e, portanto, a liberação do calor
latente da fusão. Parece que isso reduz a velocidade máxima dos ventos em
partes da circulação do furacão, se for germinada a área imediata ao "olho". Pode-se dizer que a água doce é o mais importante recurso da humani-
Em 1969, o Projeto Stormfury, dos Estados Unidos, germinou cinco furacões dade, individualmente considerado. À escala mundial, o que inibe a expansão
no Caribe a duas horas de intervalo com iodeto de prata, na altitude de 10 da agricultura e o povoamento de vastas regiões é a insuftciência de água. À
mil metros. A velocidade do vento diminuiu entre 15 e 30%. Igualmente escala local, os recursos hídricos determinam a localização de certas indústrias,
espetaculosos foram os esforços para impedir as tempestades de granizo, tão como a geração de' energia; antigamente, o estabelecimento de povoações
prejudiciais à agricultura, disparando invólucros contendo núcleos de coagu- estava em relação estreita com a localização de rios e fontes. As povoações
lação contra as nuvens - passivos de produzir saraiva, objetivando causar a dos oásis oferecem um exemplo cabal.
precipitação antes que se formem as pedras de granizo. Do ponto de vista humano, as limitações impostas pela água são supri-
mento insuficiente (desertos, estiagem) ou demasiado (pântanos, inundações).
De resto, excessos ou deficiências podem ocorrer em qualquer lugar, por
5.6. Conclusões motivos sazonais ou ocasionais.
Em parte, foi por causa da absoluta importância da água potável que a
Em comparação com as mudanças provocadas pelo homem e discutidas alteração na sua ocorrência no tempo e no espaço provocou as primeiras
no restante deste livro, a influência humana sobre o clima é muito mais difícil tentativas do homem para modificar o ambiente natural. Na verdade, o desen-
de avaliar. É certo que o clima fica alterado à escala estritamente local, por volvimento da agricultura e da sociedade organizada sempre esteve vinculado
exemplo, nas proximidades de edifícios. Em perspectiva mais ampla, a peque- ao controle da água, especialmente para irrigação. As civilizações do antigo
níssima alteração acaso induzida pelo homem pode ser suplantada pela mu- Egito e da China, assim como da India e da Mesopotâmia, chamam-se "civi-
dança natural. Nosso conhecimento do sistema atmosférico mundial ainda é lizações hidráulicas". Sua ascensão e subseqüente queda estão intimamente
muito limitado. . relacionadas ao uso e abuso da água.
Mesmo que a alteração do clima por obra do homem seja mais uma A intromissão no ciclo hidrológico tem continuado até o presente. Com
possibilidade futura do que um fato do presente, as respectivas conseqüências o advento da moderna tecnologia, o grau da interferência aumentou de ma-
são enormes. A atmosfera e a terra sólida são os dois aspectos mais indepen- neira assustadora; atualmente, são poucos os sistemas de drenagem, no
dentes do sistema planetário. Por conseguinte, a mudança do clima provocará mundo inteiro, que têm caráter inteiramente natural. Embora o controle dos
mudanças em cascata nos processos geomorfológicos, do solo e da vegetação, sistemas hidrológicos seja maior nos países desenvolvidos, as modificações
o que, por sua vez, por realimentação, trará novas alterações climáticas. 87
89
88 Impacto do Homem Sobre Aspectos do Ambiente /'. Água
tubulação desde o ponto de entrada (precipitação pluvial) varia de lugar para 8vapotronspiroção precipitaçao
(sa(da) (enlrada)
lugar na superfície terrestre, dependendo da natureza da terra e do clima. Em r--
qualquer localidade, a distribuição da água também muda com o tempo. À -< >-
superfície da terra, a água se concentra em bacias de drenagem, cada uma das
quais funcionando em sua própria série de depósitos e de transferências da
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água que entra. O escoamento de muitas bacias pode se reunir antes que a
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--<6::~:J~~::'í~~"
I..·· . . ; .. escoamento
água alcance o mar. Na Fig. 6.2 esclarecemos alguns trajetos fluviais dentro ~ew~ra~o
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da Fig. 6.2 correspondem aos de uma bacia de dimensões médias, com rochas 'ü
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permeáveis subjacentes, num clima como o da Grã-Bretanha. Toda a água que : .... . . .' ." . . .' tescoomo::'o
. ..... '··1 Õ
possa, evidentemente, facultar reações em cadeia que remontem através dele. ">
A dimínuiçâo da capacidade do solo para absorver as chuvas, devido a ~
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prováveis mudanças no uso da terra, poderia afetar a distribuição de água por ~
todos os trajetos ulteriores, ao passo que a subtração da água subterrânea pode- - legenda -
ria afetar apenas o fluxo dos rios, os depósitos lacustres e a vazão para os ocea-
nos. Um exemplo de realimentação artificial do sistema seria o uso da água sub-
1'.><:1 ARMAZENAGEM
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floresta
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r,oene ra da
floresta
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natural
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terra não sofreu alterações, usados para verificação de mudanças naturais na <,
vazão durante o período. Na primeira bacia, houve desmatamento da floresta ..•....•• --'~.~
decídua em 1940. A reação, em termos de caudal dos rios, foi imediata e
o 30 60
espetaculosa, tendo a vazão anual aumentado bruscamente - o equivalente a Tempo depois que a chuva começo (min.)
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--
escoamento
: :':,":... ' .
Na URSS e no Canadá descobriu-se que, lavrando a terra no outono, a água de .' ..
escoamento direto diminuía até 45%. No entanto, se pesados aguaceiros com- ti
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pactarem e achatarem a superfície arada antes que a vegetação se regenere,
é possível que o escoamento terrestre aumente na superfície mais lisa e
menos permeável. i
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Nas áreas semiáridas ou de seca sazonal, os efeitos de qualquer mudança ..
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no uso da terra sobre a hidrologia são mais evidentes. Também existem áreas . escoa·
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mais propensas à erosão do solo (Capítulo 3) pelas mesmas razões. Deve-se ARMAZENAGEM :...- ~~ J::
tomar medidas para diminuir a intensidade e o volume do escoamento de uma transpiração DO SOLO. a
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bacia, embora se continue a praticar a agricultura. :- ,.,
superfície ocorre nas áreas urbanas, onde a maior parte da superfície está ,g "
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inteiramente impermeabilizada por concreto, asfalto ou telhados. A vegetação
quase não existe e a armazenagem superficial de água está reduzida ao mí- 1l
Q. descargo
subterrânea
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nimo. Dessa forma, as perdas por evaporação são muito baixas e há mais
água disponível para correr através do restante do sistema. Entretanto,
como a Fig. 6.4 mostra, o homem tudo fez para que se tomem gravemente
limitadas as opções abertas à água. Na sua maior parte, tem de correr por
canos de esgoto e bueiros, mal sendo usadas as transferências e depósitos
ARMAZENAGEM
SUBTERRANEA
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1==
~
inferiores. No Capítulo 10 damos alguns exemplos de tais efeitos.
As alterações verificadas em armazenagens e transferências naturais e, daí,
no funcionamento do ciclo hidrológico, são apresentadas na forma de diagrama
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- legenda -
nas Fig. 6.5 (em floresta decídua), 6.2 (agricultura) e 6.4 (condições urbanas).
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O objetivo da drenagem da terra é duplo: serve para reduzir os níveis
sazonais ou permanentes do nível freático e para remover o excesso de água
da terra por meio de canais artificiais, mais depressa do que em condições
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transpi,açõo DO: ·SOLO· ."
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naturais. Dessa forma, os mecanismos de armazenagem e de transferência são
modificados. A drenagem de campo (drenagem subterrânea) em geral é feita
instalando linhas paralelas de tubos de plástico ou de cerâmica a um ou dois
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metros da superfície. Nos solos pesados, podem-se fazer condutos a céu
aberto, denominados drenos de escavação, raspando a terra com um instru-
mento em forma de bala praticamente à tona. Os drenos de escavação correm
." em ângulo reto para os canos de escoamento (plástico ou cerâmica), os quais,
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por sua vez, vazam para valas que geralmente cercam em roda o perímetro
do campo. As valas fazem parte de um sistema integrado de drenagem que por
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ARMAZENAGEM
SU BTERRÂNEA
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último desemboca em um curso de água natural .
Dos 160 mil quilômetros de cursos d'água da Grã-Bretanha, cerca de
90 mil quilômetros são valas artificiais e 3 mil são canais. Calcula-se que, na
Inglaterra e em Gales, há de 1 a 3 quilômetros de canais naturais por quilô-
...
metro quadrado (densidade de drenagem de 1 a 3). Os condutos de drenagem
.~
artificial elevam a densidade para cerca de 2 a 6 km/km". Tais cifras não
- legendo -
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levam em conta a imensidade de valas e canos; o seu número é incalculável,
pois a drenagem de campos vem sendo praticada há séculos. A Fig. 6.6 indica
a extensão aproximada da drenagem subterrânea na Inglaterra e em Gales, nos
1:".::>1 ARMAZENAGEM anos de 1973-4. Na prática, os bueiros, sarjetas e os sumidouros das cidades
'"ÀRMA"tENAGEM
preenchem as mesmas funções que os drenos de terra da região rural, embora
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- TRANSFERÊNCIA se destinem a escoar a água de superfície.
O impacto hidrológíco da drenagem da terra aumenta muito a densi-
dade de drenagem de uma dada área. Significa isso que a distância que um
pingo de chuva tem de percorrer entre a caída no solo e o ponto de chegada a
Figura 6.5 - Modificações no ciclo hidrológico de uma bacia hidrogrãfíca, após o reflo- um canal é muito reduzida. Além disso, o depósito total de água no solo
restamento. Confrontar com a Figura 6.2, que mostra as condições de uma diminui e a modificação dos níveis hidrostáticos do solo fará aumentar o
bacia semelhante, oão florestada.
coeficiente de escoamento da água do solo para os canais de drenagem. Agora,
98
Impacto do Homem Sobre Aspectos do Ambiente
A Água 99
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(b) Area do bocio atual, /
após drenagem de /
campo e construções/I o
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de canal s /
/
/ (c) Ampliação mostrando todos
/ ." os canais superficiais de
/
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drenagem
o 2km
/ '----'
J!--
Figura 6.7 - Bacia do rio Clarinbridge , no Condado de Galway.
ter início a drenagem do solo. Nessa área formada por baixadas em parte
cavernosas ou cársticas, de calcário recoberto de colinosos depósitos glaciais,
não havia nenhuma corrente natural contínua. O sistema de drenagem se
reduzia a uma série de depressões profundas e separadas umas das outras e a
alguns lagos sazonais, chamados turloughs. O programa de drenagem do solo
envolveu não só o escoamento subterrâneo e a escavação de uma rede retilínea
Figura 6.6 - Porcentagem das terras recebendo trabalhos de drenagem, na Inglaterra e
em Gales, nos anos 1973-74 (conforme Green, 1979). de valas, mas também a abertura, usando explosivos, de canais artificiais de
rios que levam ao mar. Na Fig. 6.7b só aparecem os rios e os principais drenos
de campo. A Fig. 6.7c é uma ampliação de pequena área que mostra o con-
a água alcança os canais mais depressa e em maior quantidade, diminuindo o junto da rede de drenagem. A densidade original de drenagem, ali, era de
volume disponível para distribuição ou armazenamento em outras partes do aproximadamente 0,2 km/km". Atualmente é de aproximadamente 20
sistema hidrológico e, dessa forma, o escoamento dos aguaceiros para os rios krnjkm", fora a drenagem subterrânea.
tende a aumentar bastante. Os efeitos na armazenagem e movimentação da água subterrânea, nos
Um exemplo extremo de adições feitas pelo homem ao sistema natural níveis dos lagos e no caudal dos rios, foram impressionantes e muitas vezes
de drenagem está contido na Fig. 6.7. Na 6.7a vemos o sistema de drenagem adversos, do ponto de vista humano. Nos meses de verão não há água de
da bacia do rio Clarinbridge, com 92 quilômetros quadrados de área, no Con- Superfície na área, pois a precipitação pluviométrica em excesso é rapida-
dado de Galway, Irlanda, como ele era no começo do século passado, antes de mente descarregada no mar pelo excelente sistema de drenagem. As chuvas de
verão infiltram-se no calcário subjacente. Os níveis de água subterrânea caem
101
ção era simplesmente melhorar a drenagem do solo, mas o resultado afetou o ~ , ':D~:SUptRFIGI:E"
abastecimento de água subterrânea e de superfície, a ecologia do local e o
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fluxo dos rios. A Fig. 6.8 revela os efeitos da drenagem do solo sobre o
ciclo hidrológico, que raramente são tão adversos como estes. '~
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6.2.4. Agua subterrânea ~
ARMAitNAGEM'
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Nas áreas que têm por base rochas permeáveis, parte da precipitação "
pluvial infíltra-se no solo e na rocha, tomando-se água subterrânea. Na hipo-
tronspi,oção
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tética bacia mostrada na Fig. 6.2, cerca de 20% da precipitação penetra no
depósito subterrâneo. Esta água está em movimento e eventualmente reapa-
rece à superfície, sendo a descarga geralmente feita para rios e com menos '\t
~
II:®
descol9o
freqüência para lagos, mares ou fontes (Fig. 6.1). O homem pode extrair
água de uma rocha aqüífera onde quer que seja, abrindo poços. Se o coefi-
ciente de extração for igual. ou menor que o de recarga, o efeito geral se
I ARMAZENAGE~",:': -
resume a um curto-circuito de parte do ciclo hidrológico. A descarga de água
SUBTERRÂNEA:'"
do depósito subterrâneo pode ser feita sempre que desejável por poços e ......
sondas, embora com isso o fluxo para as fontes e rios diminua em proporções
correspondentes.
A água subterrânea serve para muitos fins. Pode ser bombeada para um \1
~
rio a fim de lhe aumentar o fluxo, o que apenas acelera o processo natural de _ legenda -
O",
transferência, ou empregada na irrigação. Neste último caso, a água é devol-
ARMAZENAGEM
vida ao depósito inicial de superfície por um circuito artificial sobre o sistema :',' .
hi drológico.
Serão muito diferentes as conseqüências se a água for extraída do lençol
aqüífero a uma taxa superior à da recarga natural. Para que se mantenha esse
- TRANSFERÊNCIA
os níveis eram 230 metros mais baixos que em condições naturais. As linhaS
de circulação da água subterrânea foram invertidas.
A extração de enormes quantidades de água dos depósitos subterrâneOS
acelerou-se em todo o mundo no século atual. O resultado foi a transferência
Fiawa 6.9 - Mudanças nos níveis da água subterrânea na área de Chicago, entre 1864 e
dessa água para outros pontos do ciclo hidrológico. Já se aventou que a 1958 (conforme Suter, 1959).
elevação recente dos níveis da água do mar, assim como o aumento do volume
do gelo polar, talvez representem a água subterrânea que foi deslocada para
novos sistemas de armazenagem, por evaporação e precipitação. Se a responsa- 6.2.5. Controle de rios
bilidade fosse das alterações climáticas, então a elevação dos níveis oceânicOS
faria diminuir o gelo polar, mas parece que o que está aumentando é o volume A modificação dos rios e a da água subterrânea correspondem habitual-
geral da água de superfície. lbente a tentativas deliberadas de melhorar os recursos hídricos de determinada
105
104 Impacto do Homem Sobre Aspectos do Ambiente I ,.Agua
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parte do curso consiste de lagos naturais. A descarga da maior parte dos rios ! o't1.Qô .~ Jã :g :§ -8 :g
varia através do tempo, dependendo do nível de entradas forneci das pela água ~
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subterrânea, pela água do solo e pelo fluxo superficial. Em termos humanos, ~~.~ ~ o
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esta variação de fluxos significaria, num extremo, inundações, e, no outro,
escassez de água.
A intervenção humana em sistemas hidrográficos normalmente tem a
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na Tabela 6.1; por sua vez, cada uma dessas categorias será discutida a seguir. esti .~ .!lI
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Regularização da descarga. A quantidade de água a extrair de um rio,
em caráter perene, é determinada pelo caudal mínimo e, se este puder ser ele-
vado, então o suprimento garantido também aumentará. A técnica mais -
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comum de regularização do caudal consiste na construção de represas nas
cabeceiras de um rio. As águas armazenadas no reservatório assim formado
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podem então ser liberadas em quantidade suficiente para manter o fluxo
mínimo a jusante. Quanto maior a flutuação sazonal do débito do rio, mais
úteis serão os reservatórios reguladores (Fig. 6.10). Os rios mediterrâneos,
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com forte débito no inverno e baixíssimas descargas no verão, há muito que
vêm sendo objeto de controle por reservatórios de regularização (Seção
6.3.4). Aliás, há raríssimos rios no mundo que ainda têm um regime inteira-
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mente "natural", inalterado pela ação do homem.
Na Grã-Bretanha, o sistema Servem-Wye oferece exemplo de uma ~
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grande unidade de drenagem em que o débito dos rios é determinado artifi- o a .g .g -e
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cialmente em medida cada vez maior (Fig. 6.11). As cabeceiras dessas bacias
drenam boa parte das terras altas do centro de Gales, estando sujeitas a violen-
tas inundações e grandes variações sazonais de descarga.
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106
Impacto do Homem Sobre Aspectos do Ambiente
A Água 107
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Figura 6.11 - Regularização do fluxo fluvial na bacia de drenagem do Severn-Wye (con-
forme a Water Resources Board, 1973).
Jon. Junho DIz.
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Barragem de Bakethln O
finalidades de uma bacia hidrogrâfica talvez seja a obra da Tennessee Valley
Repmo Kle/der •..
1 _ 201cm
I
Authority (TV A), no sudeste dos Estados Unidos. A bacia, com 100 mil
quilômetros quadrados, foi uma das áreas mais afetadas pela dust-bowl da
da Ki.'da, ~ década de 30. A agricultura de subsistência, o pastoreio intensivo, o desma-
Estaçõo de ;1 Extração de tamento e outros desacertos tinham exposto vastas extensões de terra a várias
absorçõo e '- :i. Ovington paro formas de erosão, desnudando a camada superficial do solo, aumentando a
bombeamento
de Riding Mil! a área de Tyneside sedimentação nos rios e intensificando as cheias.
~
~
r dutos
tún:~PIOS
~&oerwent
"'~yne
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)t;s~~d:~6
.
Medidas de controle foram tomadas tanto na terra como nos rios. O
principal curso de água, desde a montante de Knoxville até a confluência com
o Ohío, em Paducah, é virtualmente um comprido lago, que se formou com a
construção de nove grandes barragens entre 1935 e 1944. Uma série ulterior
, ..r- /"I-... Re;:;(;~rio
de barragens nos afluentes (Fig.6.13a) veio a regularizar por completo o
tunel Derwent- 'I de Derw8nt
Wear ',' ~, ~............-------.;:;.,
R. B~ •• n8 Extração de
Lumley para
caudal do rio, não com um simples reservatório na nascente, mas através de
R Wear '{" Escoadouro um conjunto de barragens ao longo do curso dos rios. O projeto da TV A
a área de
~.',,\ Wear abrangia múltiplas fmalidades,desde a melhora da navegação à geração de
túnel Wear _ iT Wearside
Tees ~: energia hidrelétrica e à drenagem de pântanos. Concomitantemente, toma-
RlI5erWlfÓrio •• ram-se medidas conservacionistas da terra, para reduzir ao mínimo o escoa-
da Cow GI'88II " Escoadou pora a área
li de Eggleslon de Teesicfe.•
mento superficial. Por exemplo, a bacia do Parker Branch (43 hectares)
V _ Groasholme era típica das piores áreas afetadas. Um terço da terra estava sulcado de
ElI traÇÕesda
R.Wlne
'~7;
voçorocas e abandonado, pois as cheias tinham provocado violenta erosão.
•..•'" Broken Scar
e Darlington O trabalho de resgate envolveu o reflorestamento das encostas íngremes com
R.Ba/der
Extração de pinheiros, o plantio de acácias negras nas voçorocas para estabilizá-Ias e o
Blackwel/ desenvolvimento de técnicas agrícolas conservacionistas (Seção 6.2.1). Pas-
sados dez anos, a produção agrícola da bacia havia duplicado, as cheias das
tempestades de verão tinham se reduzido à metade e a quantidade de sedi-
mento nos rios diminuíra 65% (Fig. 6. 13b). A pequena bacia do Parker
Figura 6.12 - Projeto da represa de Kielder, no nordeste da Inglaterra, mostrando o
reservatório de regularização e a localização proposta para o aqueduto Branch foi selecionada pela TVA para estudos especiais, mas um pouco por
(conforme Kirby, 1979). toda a parte da bacia do Tennessee aconteceram alterações semelhantes
no uso da terra e na hidrologia,
112 Impacto do Homem Sobre Aspectos do Ambiente
AAgua 113
o
'CoB, 6.3.4. O rio Nilo
i -I li
. ,'" Introdução. De todos os grandes rios do mundo, nenhum sofreu tão
~
0.8
I ~
"lJ
c: ",a
00 o
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't: ••
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drásticas medidas de controle por tanto tempo como o Nilo. A primeira civi-
lização no antigo Egito dependia inteiramente das águas do Nilo, correndo
~
~!~"iJ ~ '" através de uma terra árida e inóspita Desde a noite dos tempos, a população
-I ~g-
-o.> i '" 0&ri° 'C (e por vezes a prosperidade econômica) viveu sempre em nexo estreito com a
) o~
disponibilidade de água do rio para irrigação. Em certo sentido, as culturas do
,t:J'" 01::~
\ aS Q) ....; Nílo representam um exemplo do meio físico exercendo poderoso domínio
{ ~i~
s ~ sobre as atividades humanas. Todavia, apesar das limitações de um ambiente
~~~ crítico, os recursos hídrícos vitais foram aproveitados a tal ponto que o
. &oS ambiente de amplas zonas do vale do Nilo se transformou por completo.
~'o
01:: E! d:!
e Dispondo sempre de mais água, a população do Egito aumentou, obrigando
& .s0ll)
.li
ao desenvolvimento de novos projetos de aproveitamento do rio. O ciclo da
!S ~
ª
::I
<>. 0=8 ~s:: demanda perdura até hoje.
~il,ª
> tf.c:
g '" o Hidrologia do Nilo. Ao longo de 6.700 quilômetros, o Nilo drena 10%
'" .g ã da superfície do continente africano (Fig. 6.14). A baciahidrográfica abrange
~ ~
parte do Egito, Sudão, Eti6pia, Zaire, Uganda, Tanzânia e Quênía, Mais de
o fil~
~ lib,f 60% do caudal do rio provém do Nilo Azul, que nasce nas montanhas da
~~o Etiópia, Esta região tropical é, tradicionalmente, úmida e seca, com o clima
gJ :E ~
,I;l ,...,0r; modificado pela altitude. O Nilo Branco drena uma área muito maior, mas
",e!! contribui com menos de 30% do fluxo, advindo o restante do afluente
•• E! '"
~ ~.~ tO
Atbara, que drena parte das montanhas do norte da Eti6pia e parte do Sudão.
°
(I'J
= l3.
(I)
~
g
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0'C-8
recebe nenhum afluente.
O Nilo Branco tem origem na zona equatorial, onde a estiagem não é
! o~t~ pronunciada O seu caudal, portanto, é relativamente constante durante o
-I ~~,ª ano, o que é reforçado pelo efeito regulador dos lagos Vitória e Alberto, que
o rio atravessa Em contraposição, as cabeceiras do Nilo Azul e do Atbara se
I
e ]%: acham em regiões com marcante concentração pluviométrica nos meses de
-ã ~ os verão, Daí, o regime do Nilo, ao atravessar o deserto egípcio, se caracteriza
!:l ~ ,g
por violento pico de cheias e baixíssimo fluxo no resto do ano. A enchente
8~~ anual alcança Assuã em julho-agosto e o norte do país um mês depois, mais
.-..
.s - I
r<I
II:Í
ou menos. Nada menos que 2/3 da descarga anual do Nilo ocorre entre agosto
e outubro. Dada a irregularidade do regime do rio no descurso do ano, o obje-
. MAR· MEO;TERRÃNEO' .: ..•. quadrados de área. A enchente caminhava no sentido norte, pelo que a inun-
.. ;.-:.... .
. ~ b
1000km
J
dação se propagava a jusante do vale. Quando as águas regrediam, deixavam
uma camada de aluvião, abrindo caminho ao trabalho agrícola, que rendia
uma colheita anual em cerca de 65% da planície de inundação.
Essa harmoniosa relação com o meio foi interrompida há uns 5 mil anos
LÍelA pelo rei Menes, que mandou construir a primeira represa no NUo. Era uma
pequena estrutura a sul de Mênfis, mas que assinalou o começo da luta do
ARÁSIA homem para reter as desperdiçadas águas das cheias do NUo. Com a coerência
SAUOITA
e a disciplina introduzidas pelos faraós, projetos mais ambiciosos de controle
" do rio foram concretizados. Aproximadamente em 1500 a.C., ergueram
paredes em tomo do lago Qarun, 30 quilômetros a sudoeste do Cairo, a fim
de receber água suficiente para a irrigação, por gravidade, de 20 mil hectares
de novas terras. Mais tarde, a invenção da espiral de Arquimedes e do shaduf
permitiu elevar a água acima do seu nível natural e ser usada para irrigação.
Durante a época colonial, a tecnologia da Revolução Industrial facultou
manipulações de porte. No século XIX, os franceses e os belgas construíram
uma barragem ao norte do Cairo, desviando água para três canais que irrigam
terras do delta. Os ingleses elevaram a altura da barragem do Cairo e construí-
, ram a primeira Barragem de Assuã, com 3 quilômetros de comprimento e que
ETIOPIA se destinava a deixar passar as primeiras cheias repletas de sedimentos, re-
tendo a parte mais limpa do caudal da cheia em regressão. Em 1933, a Bar-
,
.". '.....
rv-- ragem de Assuã foi elevada 40 metros, ficando com uma capacidade de 500
L.Rod;ifo / _ milhões de metros cúbicos, em resposta ao rápido crescimento demográfico
IQOENIA
ZAIRE do país. Reservatórios de regularização também foram construidos mais a
II ,../ " montante do rio. As barragens de Sennar e de Roseires, no NUo Azul, permi-
)/ tiram a irrigação de imensa área entre o NUo Azul e o Branco, ao sul de
Cartum, assim como uma barragem nas Cataratas de Owen, em Uganda, veio
-Legenda _
I barragens /represos controlar em parte o caudal do NUo Branco, do lago Vitória em diante .
......<D- ria/logo A Caloralos de Owen Até hoje, o projeto mais ambicioso foi a construção da Grande Bar-
S Sennor
rio sazonal C Awlia ragem de Assuã, na fronteira com o Sudão. O lago Nasser, daí resultante, tem
O Grande de Assuõ uma área de 5. 700 quílõmetros quadrados e capacidade de retenção de 15,5/
canal de Jonglei E Mohommed Ali
109m3 de água. Esta capacidade é superior âs necessidades de regularização
das variações sazonais da descarga e visa compensar a redução abaixo da
Figura 6.14 - Sistema de drenagem do rio Nilo, mostrando as pnnClp81Sestruturas de média do caudal do rio por vários anos. A irrigação perene, e não mais quando
controle fluvial.
das enchentes sazonais da bacia, tornou-se possível em amplas áreas abertas à
agricultura, já sendo possível obter, pelo menos, duas colheitas anuais. A Fig.
6.14 mostra a extensão das estruturas de controle no sistema hidrográfico do
Domesticação do Mio. No Egito pré·dinástico, a sociedade adaptou-se NUo.
ao caráter do Nilo, As cheias de verão ultrapassavam os obstáculos naturais, O efeito cumulativo dos reservatórios reguladores e dos projetos de
inundando as bacias da planície de inundação, com 70 a 100 quilômetros irrigação no regime do NUo foi profundo. A jusante da Grande Barragem de
Assuã, um dos maiores rios do mundo pouco mais é do que um canal. As
116
Impacto do Homem Sobre Aspectos do Ambiente
A Água 117
mudanças verificadas nas variações do caudal do Nilo nos últimos tempos
podem ser vistas na Fíg, 6.15. No período 1964-74, a Grande Barragem de por se tomar consciência das importantes alterações ambientais para os 33 mil
Assuã foi terminada e enchi da, pondo fim às cheias a jusante do curso. Mais quilômetros quadrados da região do Sudd. Além das prováveis mudanças na
de 80% da descarga de Assuã' é extraída, alcançando o Mediterrâneo apenas vegetação, .na vida selvagem e na humana, é de supor que a contração dos
um fio de água. e
o aproveitamento quase total do rio como recurso hídrico. solos argilosos que atualmente são inundados na estação chuvosa produza
Entretanto, o fluxo total por ano é hoje menor do que antes da construção uma paisagem de cômoros e buracos na sua maior parte. O pântano retém
dos reservatórios, devido à perda de água por evaporação nos lagos. A distri- grande proporção das matérias em solução carreadas pelo NUo Branco e,
buição do caudal pelo tempo é que foi alterada, em benefício do homem. portanto, quando o canal estiver pronto, a concentração de sais dissolvidos
aumentará acentuadamente a jusante do rio. Ao contrário de muitos projetos
anteriores, houve sérias pesquisas sobre os prováveis efeitos ambientais do
empreendimento. Sempre que possível, procura-se reduzir ao mínimo os
;;- .2 efeitos adversos .. Imaginando o futuro, projetos ainda mais ambiciosos já
If'E foram propostos para os trechos médio e superior do NUo, até que, da nas-
o
.•.. 10
cente à foz, o sistema de drenagem tenha sido aproveitado na sua plenitude .
)(
•••• 8
o Outras conseqüências do controle do Nilo. Conforme sucede com
e' 6
quase todas as tentativas de modificação dos sistemas naturais, também com a
8
8l 4
Lago Nas"r cheio regularização do Nilo ocorreram alterações em outros aspectos do ambiente.
o
2 Algumas eram previstas, outras não.
Os lagos e reservatórios atuam como retentores de sedimentos e, no
caso de cheia dos lagos, a maior parte do material em suspensão decanta no
fundo do lago. O lago Nasser retém virtualmente toda a carga suspensa do
Nilo. Por conseqüência, sua capacidade de armazenagem de água vem se redu-
Figura 6.15 - Regime do rio Nilo, na região do delta, antes e depois da construção da
zindo constantemente, ao passo que cessou a deposição do valioso lodo na
Grande Barragem de Assuã (o débito fluvial foi medido no Cairo; confor-
me S. el Din, 1977). planície de inundação situada a jusante. Parte da energia elétrica gerada em
Assuã entra na fabricação de fertilizantes artificiais, indispensáveis para substi-
tuir o lodo que tanto enriquecia o solo.
o canal de Jonglei. No entanto, outras modificações estão projetadas Antes de construída a Grande Barragem de Assuã, 60 a 180 milhões de
para o Nilo. Entre Mongala e Malakal, no Sudão, o Nilo Branco corre por toneladas de sedimento eram depositados, anualmente, na foz dos distribu-
400 quilômetros através da extensa região pantanosa do Sudd. Os pântanos de tários Rosetta e Damietta, no delta do Nilo. A falta de recarga da água subter-
papiro e caniço são inundados nos meses de verão e aproximadamente entre rânea pelo rio, nessa área, vem fazendo com que a água salgada do mar polua
1/3 e a metade da descarga do rio perde-se por evapotranspiração. Ou seja, o lençol aqüífero aluvial do delta. Além disso, vem aumentando a salinidade
mais ou menos o equivalente às perdas por evaporação do lago Nasser. Em das velhas terras de lavoura.
1978 começaram as obras no canal de Jonglei, que tem 320 quilômetros de A jusante da Grande Barragem de Assuã, a descarga relativamente cons-
comprimento e passa ao lado do pântano. Com 50 metros de largura, foi tante do rio permitiu que a vegetação das margens e da água formasse colônias
cuidadosamente construído para manter a velocidade do fluxo em cerca de estáveis, que estreitaram o canal e aumentaram a transpiração da água.
1 metro por segundo, rápido demais para permitir a excessiva deposição de O pequeno fluxo residual que entra no Mediterrâneo provocou mudan-
sedimentos ou o crescimento de ervas daninhas, mas bastante lento para ças na parte sudeste do mar. As zonas costeiras e principalmente as de es-
causar a erosão das margens ou do leito. tuário são, do ponto de vista biológico, normalmente das mais produtivas. A
Embora o projeto do canal de Jongleí estivesse em estudos por muitos falta de nutrientes carreados pela água do Nilo talvez seja responsável pelo
anos, as obras foram adiadas, em parte por motivos econômicos, mas também forte declínio na captura de sardinha e camarão no litoral, desde a construção
da Barragem de Assuã Antes, pescavam-se cerca de 18 mil toneladas de
118
Impacto do Homem Sobre Aspectos do Ambiente A Água 119
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cutados em escala continental, salvo nos Estados Unidos e na Austrália
(rio Snowy), ainda que pudessem ser considerados como projetos regionais
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,'-•• ••-~-- -- --~...... "'3,9% __ ',' ,,' de escala muito grande.
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"' , • ". A escassez não se deve à falta de idéias ou de tecnología, Têm havido
" , ", • " '-'o~ ,~: ,. OS.AEL I projetos eminentemente práticos e outros completamente malucos, pois o
'-- ", ,~- . 100"
homem dispõe de capacidade tecnológica para transformar os sistemas de
\ o J
\ I drenagem do mundo inteiro conforme lhe aprouver. Se alguma restrição
existe, ela se deve aos custos, que são enormes, e, muito recentemente, à
... tomada de consciência ecológica sobre as possíveis repercussões indesejáveis
(b) \ , para o ambiente.
>3,9% ,
I
<3,9% \
I
,.'...".- .., Um projeto que muitos cientistas pressentem beirar o injustificável,
,,
I , .••- - -~%. - ,," dada a incerteza quanto a seus efeitos colaterais, será aqui examinado. Na
,
," .
?J9Cftr - •• " I
>3,9%
URSS vem-se considerando há vários anos o desvio do curso dos rios que se
escoam para o Oceano Ártico, para que desaguem em direção ao sul, através
das terras semiáridas do Casaquístão, no mar Cáspio. O projeto se acha (em
----' " 1983) na fase de pré-estudos e estará completo no ano de 2010. O empreendi-
1001un mento apresenta vantagens óbvias. As terras de semeadura do sul, potencial-
mente férteis, receberiam farta água de irrigação. Depois, os rios que correm
para o norte, cuja água quase não tem serventia, são sujeitos a sérias cheias na
Figura 6.16 - Alterações (porcentuaís) na salinidade da água no sudeste do mar Mediter- primavera, pois no final do inverno as cabeceiras degelam um pouco antes dos
râneo, considerando a fase (a) anterior e a (b) posterior da construção da trechos inferiores, a norte. A extração de grandes quantidades de água desses
Grande Barragem de Assuã (conforme S. el Din, 1977).
rios reduziria tal problema.
O mais ambicioso desses projetos (Fig. 6.11) envolve o desvio das águas
do sistema hidrográfico Ob-Istysh, a norte, com uma bacia de 2.500 mil
Outros efeitos sobre a biologia do rio e do mar do Levante estão come-
quilômetros quadrados. Uma barragem situada abaixo da confluência dos
çando a surgir. Os fluxos constantemente baixos do Nilo inferior são favo-
rios formaria um lago (ou mar!) duas vezes maior que a Inglaterra e Gales.
ráveis aos moluscos que hospedam os transmissores da esquistossomíase,
Parte do caudal excedente seria transferida ao sul para Tobo1sk, por canal,
120
Impacto do Homem Sobre Aspectos do Ambiente
A Água 121
declínio. O mar Cáspio recebe 75% de suas águas do rio Volga O desmaia-
Lel/endo mente na bacia de drenagem deste rio reduziu a armazenagem natural de
--- •. - - -
"'ta "_1 do
tranlfwiMkI água, e a.montante de Volgogrado um conjunto de barragens reduziu o rio
ár.a ••• IrrI9aoão a urna série de lagos artificiais, onde a metade ou mais da descarga do rio se
propo,ta,
perde por extração e evaporação. Essa queda na afluência pode explicar o
::~
;":.~~ fWro, atlal declínio do nível das águas do Cáspio desde 1930. Somente na década que vai
(:...:..: .. ,v-. :.;:'::':':..:.'... de 1961 a 1971 o nível caiu 2 metros. Como o mar está raso em boa área da
sua parte norte, o leito aparece em vários lugares e o delta do Volga se esten-
deu 32 quilômetros em direção ao mar nos últimos trinta anos. A pesca no
~::,,:\:,:: .' ~::.' Si~E~'I~
";: mar Cáspio foi severamente afetada
;li
....:.. :. :: ':.:'::.'.:" .' CEN~~.~ }:.
~ Os benefícios em potencial do desvio do Ob-Irtysh-Ienísseí, portanto,
i
parecem grandes. No entanto, a escala do projeto é tal que as conseqüências
poderiam ser sentidas no mundo inteiro. No momento não se podem prever
os efeitos da redução do fluxo de água doce para o Ártico, da formação de
um novo e grandioso sistema de água doce e da irrigação de vastas extensões
da estepe. Já se argumentou que o Oceano Ártico ficaria sem gelo todo o ano
em tomo de extensos trechos. Por seu turno, isso permitiria a formação de
uma nova massa de ar sobre ele, aqueci da pela água O clima da Sibéria Oci-
dental talvez se tomasse menos continental e o aumento da precipitação
1000u :.'
I
Figura 6.17 - Projetos para a transferência de água entre bacias e para irrigação, na
parte central da URSS. 6.4. Novas fontes de água
Uma forma extrema de intervenção humana no ciclo hidrológico é a
e outra parte seria aplicada num projeto local de irrigação. O restante seria introdução de água ''nova'' no sistema. Até agora, essa água ''nova'' é em
então recalcado sobre a bacia vertente do Irtysh, para um reservatório de quantidade insignificante, mas no futuro, e principalmente nas regiões semi-
armazenagem, e daí iria alimentar, no sul, o rio Amu Dar'ya, no Usbequistão, áridas, a água doce "artificial" talvez afete o funcionamento do ciclo hídro-
correndo então para o mar Cáspio. Durante o percurso, a água seria canalizada lógico.
sob o rio Syr Dar'ya. A distância total entre a Barragem de Ob e o mar de A dessalínízação de água salobra ou de água do mar, usando destilação
Ara! é de 2.500 quilômetros. A ligação posterior do Mar de Aral ao mar por descarga ou métodos de membrana, está ficando muito comum, sobretudo
Cáspio faria aumentar a distância. nas regiões costeiras e nos países ricos. A capacidade mundial de dessaliníza-
ção em 1976 era de cerca de 2.400 milhões de litros de água do mar por dia,
Uma versão ainda mais grandiosa envolve o represamento de outros
aumentando 16% ao ano. Em países como Israel, Austrália e Kuwait, assim
grandes rios drenando para o norte, para as planícies da Sibéria Ocidental
como no oeste dos Estados Unidos, usinas médias de dessalínízação já vêm ope-
como o Ienissei e seu afluente, o Angara, As águas desse lago seriam transfe-
rando há anos. Há uma limitação, que é a enorme quantidade gasta de energia.
ridas para o "mar de Ob". Dessa maneira, mais de 10 mil quilômetros quadra-
Uma idéia mais pitoresca de obter água doce é o rebocamento de ice-
dos de estepes, na Sibéria Ocidental e Casaquistão seriam irrigadas através
desse projeto. bergs da Antártica para as regiões costeiras onde a água é escassa. O ideal é
que os icebergs fossem estáveis e em forma de tábua, com um volume de
O nível das águas do Cáspio e do Aral abaixou rapidamente nas últimas
aproximadamente 1 quilômetro cúbico. Importadores prováveis são a Aus-
décadas e o objetivo do empreendimento também seria deter ou reverter o
trália (sul), Arábia Saudita e Calif6rnia (sul).
122
Impacto do Homem Sobre Aspectos do Ambiente
7.1. Introdução
6.5. ConclusOes
A ação do intemperismo pode ser acentuada por mudanças no clima gelada. Até há pouco tempo o povoamento dessas regíees era mfnimo, mas a
local, como sucede com o intemperismo químico nas áreas urbanas (Capítulo exploração madeireira e de recursos minerais levou a forte expansão da colo-
10), mas na sua maior parte se intensifica nas estruturas feitas pelo homem. mzação humana do subártíco, principalmente na URSS. Inicialmente, a falta
Os movimentos de massa são acelerados quando se desestabilizam taludes em de apreciação do ambiente acarretou sérios problemas. O homem teve de
obras de construção, assim como a erosão aumenta quando o solo é endure- adaptar seus hábitos às limitações do meio.
cido pelo pisoteio das pessoas em áreas de lazer no campo (Capítulo 2). Os Já se mencionou a tundra como um ambiente crítico e instável, em
mecanismos de transporte, principalmente os fluviais e os litorâneos, estão termos de solo e vegetação. O mesmo vale para o relevo, onde a instabilidade
sujeitos a modífícação. A escavadeira mecânica tornou-se um agente geomór- deriva do derretimento sazonal da camada superficial (camada ativa) da terra.
fico: a ''buldozogênese'' pode criar novas formas de relevos e destruir as Essa camada tanto pode engrossar como afinar, em função de vários fatores
existentes. naturais ou humanos (Fig. 7.1). Embora os processos naturais tenham, de
Como sucede com todos os aspectos do meio físico, as alterações intro- longe, muito maior importância, nem por isso as mudanças provocadas pelo
duzidas no relevo podem ser conseqüência deliberada ou inadvertida de homem deixam de ter significado local. Se a espessura da camada ativa
qualquer outra atividade. "Vales" artificiais são formados na construção de diminui, por compressã'o da superfície ou por escavação, o permafrost derrete
rodovias e ferrovias, assim como podem formar-se por séculos de erosão de até mais fundo. As ferrovias e oleodutos se transfonnam, então, em linhas de
uma trilha, como se deu com as profundas veredas de Devon. Há o caso da terreno altamente erosivo, podendo agir como foco de erosão hidráulica
construção de sistemas de drenagem para controle da hidrologia de uma zona, durante a primavera, período de derretimento. Com o aprofundamento dos
assim como há o da intensa formação de voçorocas por mau uso da terra.
Podem-se formar novas terras aterrando lagoas e pântanos, ou mediante a
deposição de sedimentos excedentes em estuários, devido à erosão do solo
carreada para os rios. Por exemplo, nas cabeceiras do golfo Pérsico acumu- TipO de
mudança ~ Agen!e ~ Processo ~ Resul!ado - Reaçõa
laram-se 250 quilômetros quadrados de terra, em tempos históricos, devido à
erosão nas bacias do Tigre e do Eufrates. Depressões são escavadas para a
exploração de minérios, assim como podem resultar de subsidência do solo,
em função da abertura de minas ou da drenagem da terra.
Somente no que respeita às taxas de erosão e sedimentação do solo
(aumentadas milhares de vezes em certas áreas de alta irregularidade) é que
parece ser o homem capaz de alterar a formação do relevo numa escala que deseQuilibrio ~ derretimento
!érmleo de rrmalrOS!
vai do regional ao continental. De outro modo, ele é um agente geomórfico
importante apenas em escala relativamente pequena ou em grau limitado,
liberação de
como o demonstram os exemplos a seguir. 9"10 ",,[edente
subsidêncla
7.2. Regiões permageladas (permafrost) '" do 9010
canais, O degelo também irá mais fundo, com o que se agrava a erosão vertical Fairbanks, produziu um degelo desigual e, em três anos, os campos estavam
- um mecanismo positivo de realimentação que leva ainda a maior erosão transformados em um conjunto de montículos de um metro de altura, no
(Capítulo 2). No norte do Canadá, já se registraram valas de 3 metros de meio do gelo, tomando a terra inaproveitável.
altura ao longo de uma trilha de caminhões, em uma estação. Para sobreviver no ambiente de permagelo, o homem teve que se
As escavações que abrem fossos provocam um degelo semelhante e, se adaptar a ele. A cobertura vegetal é mantida e o isolamento reforçado, prepa-
ali se forma um lago, o permagelo que está por baixo derrete mais, induzindo rando caminhos de pedra britada quando se pretende fazer uma construção.
os fossos a se alargarem por queda das beiradas e erosão. A zona de degelo se As casas recebem alicerces de estacas, que são espetadas a fundo no perma-
aprofunda de modo direto devido a fontes artificiais de calor, como edífí- gelo, erguendo-se acima do nível do chão. Já os oleodutos são sempre sus-
cações ou oleodutos, e remoção da cobertura vegetal da superfície. A
â
pensos e as escavações são evitadas na medida do possível. Um· dos projetos
vegetação atua como camada isoladora, minimizando a transferência de calor mais controvertidos, o da construção do oleoduto para o transporte de petró-
entre o ar e a terra. Se for retirada, o calor atmosférico é conduzido a maior leo dos contrafortes do norte do Alasca para o sul, só foi realizado quando
profundidade abaixo da superfície. A Fig. 7.2 mostra o efeito da retirada todas as medidas práticas haviam sido tomadas para proteger o ambiente.
progressiva da vegetação rasteira perto de Fairbanks, no Alasca. O corte de Mexer com o ambiente de permagelo foi tão prejudicial, em termos de reação
árvores fez reduzir em 28 metros a espessura do permafrost em dez anos e a imediata, que hoje o problema é abordado com a maior cautela.
limpeza total da vegetação levou a camada ativa a aprofundar-se 38 metros no
mesmo período. Embora o corte da vegetação mostrado na Fig. 7.2 fosse
realizado para pesquisa, a limpeza mais extensiva da vegetação tem provocado
7.3. Morfologia fluvial
subsidências terrestres complexas e de larga escala. O desrnatamento de 2
quilômetros quadrados de terra para pastagem, no vale de Tanara, perto de
Já discutimos no Capítulo 6 as alterações feitas em sistemas fluviais em
termos hidrológicos. Seja porém qual for o objetivo dessas alterações, se para
Vegeloção natural Área desmatada Área desmatada
aumentar ou diminuir o caudal, para a formação de reservatórios, a modifi-
( musgo e turfa) ( terra nua)
cação de canais, a construção de pontes ou de molhes, sempre se transtorna
o equilíbrio dinâmico natural do rio. O equilíbrio entre erosão e deposição
muda de localização e de intensidade, além do que as mudanças raramente são
confinadas à zona imediata em que se realizam: o aprofundamento do leito
o
é de um rio talvez afete o seu comportamento por quilômetros e quilômetros,
:; 10 tanto a montante como a jusante.
"-ec 20 CAMADA SAZONALMENTE
Muitas vezes, o que se faz é acentuar ou reproduzir os processos natu-
~ )- DERRETIDA rais. Um reservatório pode simular os efeitos de um lago natural, atuando
c
PERMAFROST i i i i , , •••. (camada ativa) como depósito de sedimentos, formando deltas e, mediante a retirada da
~30
e
o.. carga do rio, contribuindo para intensificar a erosão do leito ajusante. Como
40 alternativa, se se extrai água diretamente do reservatório e o caudal do rio a
jusante se reduz, a erosão diminui, permitindo o assoreamento do canal. O
legenda: aumento ou a diminuição da descarga acelera as alterações que a variação da
I I I I I I i I posição da camada de lIelo apcj. 10 ano. de al.raçõe. na vegetação precipitação pluvial provocaria. O aumento muito grande da carga de sedi-
- - - - - - posição orllllnal da camada de lIelo
mentos que alcança os rios, nas áreas onde se fazem obras de urbanização ou
de agricultura intensiva, simula os períodos naturais de erosão. Em todos os
casos, o que o homem faz é abreviar o tempo e intensificar o efeito de tais
Figura 7.1 - Aprofundamento da camada ativa em dez anos, numa área de permafrost
mudanças. O exemplo que se segue ilustra parte das conseqüências que pode-
do Alasca, onde a vegetação foi modificada em diferentes graus de alte-
ração (conforme Linnell, 1960). rão advir das modificações de um sistema hidrográfico.
129
128 Impacto do Homem Sobre Aspectos do Ambiente As Formas de Relevo
o rio Willow, em lowa, Estados Unidos da América, que é um afluente O segundo fator é a relativa fragilidade de muitas linhas costeiras, prin-
do Missouri, desenvolve-se no seu curso superior em espessos e compactos cipalmente nos ambientes marinhos batidos pelas ondas (alta energia). Fre-
depósitos sedimentares. Antes das obras realizadas no começo do século, o rio qüentemente, a energia natural e a plasticidade dos materiais são fáceis de
coleava por meandros em canais de 20 a 30 metros de largura, com um romper, desviar, diminuir ou amplificar. As modificações costeiras inten-
gradiente médio de 1 m por 1.000 m, O braço principal do rio foi regulari- cionais destinam-se a prevenir a erosão ou a recuperar terreno, para facilitar
zado num canal com 6 metros, em linha reta, o que fez aumentar o gradiente a atividade econômica do litoral ou para fins de recreio. Os processos naturais
médio para 1 m por 660 m. As mudanças no regime fluvial, devidas princi- afetados são iguais aos que ocorrem nos rios - correntes, marés e ondas. A
palmente à aceleração da velocidade do caudal, foram impressionantes e erosA'o e a deposição de materiais nas praias de recreio já criaram muitos
rápidas. Abriu-se uma ruptura de declive (knickpoint), de três metros, que problemas, como a desestabilização de dunas esparsamente cobertas de vege-
regrediu para montante, através dos canais da cabeceira, acabando por eli- tação, por serem pisoteadas, o que provoca erosão e díspersão em seguida. A
minar os efeitos do nivelamento e provocando alargamento tanto como apro- baía de Seaford, em Sussex, oferece um bom exemplo disso.
fundamento dos canais. Os efeitos sobre a rede de canais e o perfi1longitu- A direçlo dominante das ondas na costa de Sussex, que é sudoeste, pro-
dinal foram extensos, lembrando de perto os induzidos por urna falha natural voca urna migração dominante de materiais das margens no sentido norte-
no nível de base, que se chamam efeitos de rejuvenescimento. oeste para sudeste. A área de Newhaven, mostrada na Fig. 7.3, exemplifica o
Outro resultado desse "rejuvenescimento" causado pelo homem foi o que pode acontecer quando a mígração costeira é impedida por uma estrutura
desmoronamento das margens, com aumento da carga de sedimentos no rio. feita pelo homem. Os molhes do porto (vistos em preto), na foz do rio Ouse,
Estes se depositavam nos trechos baixos do curso e exigiam drenagem. Nas foram construídos para dar proteção contra as marés tempestuosas. O quebra-
cabeceiras, a mesma erosão das margens gerou voçorocas e a degradação da mar estende-se por 800 metros mar adentro e, efetivamente, bloqueia o movi-
terra, enquanto o entrincheiramento do rio a um nível mais baixo fez o nível mento em díreção leste do material das praias. Nos 250 anos decorridos desde
de água dos poços abaixar na região de 3 a 5 metros. Resposta tão drástica de a sua construção, considerável quantidade de material se acumulou a oeste da
um sistema fluvial à interferência humana é excepcional e relaciona-se com os barreira, formando uma praia que em certos lugares tem 300 metros de
níveis baixos dos limiares da área em particular. Seja como for, poucos rios largura. A deriva de material prosseguiu para leste do estuário do Ouse, ao
há no mundo que estejam livres da ação do homem. longo da costa, mas sem substítuíção do material deslocado. Desse modo, as
praias, que são a proteção natural contra a erosão das falésias, foram arras-
tadas, fazendo com que aumentasse a erosão pelas vagas. Isso, por sua vez,
obrigou à construção de paredões costeiros, os quais também alteram a dire-
7.4. Ambientes litorâneos ção e a capacidade erosiva das vagas, mudando assim o padrão de entalha-
mento e deposição ao largo da costa.
Dois fatores são responsáveis pela forte alteração sofrida pelos ambien- Embora os litorais sejam freqüentemente considerados como ambientes
tes litorâneos, superior mesmo à da maioria dos outros ambientes geomôr- "sensíveis", por vezes certas áreas são particularmente instáveis e propensas
ficos. Em primeiro lugar, as costas do mundo inteiro são focos de povoa- a sérias mudanças, mesmo que a interferência humana seja pequena. A linha
mento humano. De toda a população mundial, vivem junto do mar; metade de falésias do litoral de East Anglia caracteriza-se pelo seu rápido afastamento
das cidades do mundo com mais de 1 milhão de habitantes está à beira-mar. (até 1 metro por ano) sob condições naturais e alto teor de migração de
Dessa forma, a pressão sobre a zona litorânea é grande, enquanto se genera- detritos para o largo. As tentativas de proteção, construindo um molhe em
lizam as alterações que visam beneficiar o ser humano. Na Holanda, 75% do frente das falésias, não foram inteiramente bem-sucedidas. A erosão da costa a
relevo costeiro foi radicalmente modificado pela ação do homem, tal como
jusante do molhe é freqüente e rápida, deixando o molhe como única linha de
40% do mesmo relevo nos Estados Unidos. Na Grã-Bretanha, somente a região
defesa; mas, o que é mais importante, se as falésias estão protegidas da erosão
norte da Escócia apresenta largos trechos de relevo costeiro intocado. No
marinha, desaparece a principal fonte de materiais, para a margem costeira.
Japão, a costa que se estende por 100 quilômetros entre Yokohamae Kisarazn
é quase toda artificial, consistindo de ilhas, penínsulas, baías e planícies Cerca de 95% da areia das praias deriva das falésias, contribuindo os calmos
oriundas da atividade antrópica. rios da região com os restantes 5%.
130 Impacto do Homem Sobre Aspectos do Ambiente
131
As Formas de Relevo
o
A estação balneária de Clacton, ao sul de Harwich, está perdendo celere-
'O
1;1
mente uma de suas maiores atrações - a praia -, por causa das modificações
introduzidas nessa parte da costa de East Anglía. A deriva de materiais ao
~ longo da costa se faz no sentido sul, à taxa de 40 a 70 mil metros cúbicos
gC' por ano. Parte do sedimento forma a restinga de Ponta Colne, na foz do rio
o Blackwater, mas o restante vai alimentar as praias situadas a norte (Fig. 7.4).
'O
,fà Contudo, o estuário de Harwich é dragado, sendo retirados 250 mil metros
o
l cúbicos de sedimento por ano, que é vendido no interior. Em conseqüência
Ir § disso, a migração de materiais continuou para sul de Harwich, mas sem haver
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substituição suficiente de material, o que provocou extensas perdas da praia
w de Clacton e o quase total desnudamento do litoral em Walton-on-the-Naze,
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'O até deixar à mostra uma plataforma construída na subjacente formação
Argila de Londres.
~ Exemplos de reações em cadeia provocadas por urna única alteração no
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rânea no subsolo das encostas do vale elevaram-se com o enchimento do reser-
vatório, enfraquecendo o estrato de calcário ainda mais e lubrificando as
camadas de argila. Em outubro de 1963 veio um período de fortes chuvas,
que elevaram ainda mais o nível da água subterrânea e aumentaram o peso das
camadas cimeiras de rocha, até que, por fim, uma massa rochosa caiu no
reservatório pela vertente abaixo. A queda demorou um minuto, mas o o op 1 km
I I I
volume deslocado continha 240 milhões de metros cúbicos de rocha, atino
gindo uma área do vale que media 1,8 quilômetro de largura por 1,6 quilô- Primeiro fase.grave Fase intermediória
metro de comprimento. A água deslocada transbordou da represa, emitindo F==3
§3
inundaçõo
1933-4
em
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.. ··: Inundação ou Qrande alaQamenta
janeiro 1936 - janeiro 1949
uma vaga de 100 metros de altura pelo vale abaixo. Morreram 2.600 pessoas.
Neste caso, empurrar um sistema natural para além de seu limiar deu resul- lt--:1
-_-
1 nundapão permanente
1935-6 r;-:-;l
Segunda fase grave
inundaçõo ou Qrande
tados calamitosos. ~ alaQa menta 19!10- 2
Inundação ou alaoarnenta
• eIII jaMlro 1937 borda de elevação
~
7.6. Tectônica artificial - subsidência da terra
FiguIa 7.s _ Estágios sucessivos do crescimento de um lago de subsidência, devido à
A subsidência da terra, associada com a atividade humana, constitui o mineração de carvão, no vale do StOUI, na área carbonífera de Kent (con-
melhor documento de atividade tectônica artificial. A subsidência pode forme Coleman, 1955).
134 135
Impacto do Homem Sobre Aspectos do Ambiente
As Fonnas de Relevo
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GD
de água, resultantes da extração subterrânea de sal. Os povoados das áreas "I~ ~'~
t:>,.,
carboníferas costumam apresentar formas dramáticas de subsidência, com
casas arruinadas e estradas com o leito deformado. A subsidência superficial
pode se estender no plano horizontal por uma distância de até a metade da
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profundidade dos trabalhos e, no plano vertical, até 2/3 da espessura do veio I =
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rio Stour, na zona carbonífera de Kent. Uma pequena subsidência (até 60 •.. -"1.,0\
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centúnetros) ocorreu na década de 30, após a retirada de um veio de carvão '"ta ~ ~
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com 1;2 a 1,5 metro de espessura. Atualmente, estão afetados quase 4 quilô- ..•,------
1. II\ltfOat6t\OO
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metros quadrados, sujeitos a inundações. A subsidência pode sobrevir catas- ~y '"~
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troficamente. Nas minas de ouro perto de Johannesburgo, formaram-se de-
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pressões com 50 metros de diâmetro e 30 metros de profundidade, depois de ~ ~ ~ i ~ e \D8
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reduziu muito o coeficiente de subsidência entre 1936 e 1943, quando I
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diminuiu a extração de água e os níveis hidrostáticos puderam se recuperar. ., ttI
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A extração de petróleo é capaz de produzir uma subsidência intensa,
mas altamente localizada. As jazidas de Wilmington, perto de Los Angeles n
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(Fig. 7.6a) talvez ofereçam o exemplo mais chocante. De 1928 a 1971 veri-
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ficou-se uma elipse de subsidência, com uma queda máxima de 9,3 metros. 'Oe",
Como boa parte da área estava apenas a 2 ou 3 metros do nível do mar, foi ., E.. ttI
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preciso construir complicados molhes. O deslocamento horizontal e vertical ~8 ~ êd Q.)
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136 Impacto do Homem Sobre Aspectos do Ambiente
7.7. Conclusões
Chega a ser quase verdadeiro dizer que se sabe mais a respeito da Lua
que da profundidade dos oceanos. O ambiente marinho é completamente
alheio ao homem e suas formas de vida evoluíram de maneira inteiramente
Atmosfera separada das formas de vida terrestre; pouco se conhece, em termos compara-
tivos, sobre a ecologia básica ou o sistema de cadeias alimentares que operam
Pllcipitação pu/v..eri-
evaporaçãa zaçaa 0'11, 'nla nos oceanos. Tal ignorância significa que o homem é insensível aos efeitos
calar das mudanças que ele provoca no ambiente subaquático, cujas conseqüências
calor
perda de não silo obrigatoriamente as mesmas ocorridas na terra e cujos organismos
gases
evaporação deposiçãa t talvez não possuam os necessários mecanismos de retroalímentação negativa
plIClP/taÇÕJ car' ono
deposlçõo
para resistir às mudanças.
r--- Oceanos
O homem ainda mantém, com os oceanos, uma relação mesolítica, de
caça e coleta, se excetuarmos as experiências embrionárias com a maricultura;
no entanto, a tecnologia disponível permitiu-lhe interferir nos oceanos em
,.dimentas
• carga em medida considerável. Acredita-se que as águas temperadas do Atlântico Norte
se/lição e do Pacífico Norte estão sendo alvo de uma pescaria que atingiu o seu poten-
cial pleno e que certas espécies estão sendo capturadas acima do limite: as
~ sedimentação precipita çãa
química sardinhas ao largo da Califómia, o salmão a noroeste do Pacífico, o arenque
no Atlântico. A baleia azul, um mamífero, embora sob proteção atualmente,
foi caçada até o ponto de extinção. A influência humana varia em grau, sendo
Fundo dos oceanos
máxima em estuários e plataformas continentais (8% da área oceânica) e
menor nas zonas profundas dos oceanos e nas regiões litorâneas despovoadas.
Seja como for, já não se pode admitir que os oceanos ainda constituam um
ambiente natural.
Terras ascensãa
emersas 8.2.2. Poluiçao oceânica
3
/
fosfoto / 8.3. Conclusões
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/
Antigamente, o homem temia a vastidão dos oceanos e, como pareciam
I:JI oxigênio ••••, ,
.3 2 I ser infinitos, estava justificado que se servisse deles como lata de lixo para os
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,, I resíduos da terra. Agora já se tomou consciência de que eles são finitos e que
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a poluição começa a ficar preocupante.
A perfuração no litoral ainda representa uma indústria limitada. Os
poços de petróleo são o exemplo mais conhecido, embora se esteja extraindo
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das águas rasas, atualmente, enxofre, areia e pedregulho, magnetita, diamantes,
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,, ouro, cromita, fosfato e tungstênio, entre outras substâncias. Nódulos de
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manganês estão sendo dragados do mar alto. À medida que se vão conhecendo
melhor os recursos do fundo dos mares, a mineração tende a aumentar em
extensão e profundidade, criando novos problemas de poluição.
1900 1910 1930 19!10 1970
Ainda que os mares abertos sejam "internacionais", foi muito difícil
Ano
que as nações chegassem a um acordo sobre a sua utilização, principalmente
no que se refere li poluição. A economia é a responsável pela falta de acordo.
Figura 8.3 - Modificações na qualidade da água, na Fossa de Landsort, no mar Báltico
Da mesma forma a Lua, que não tem nenhum valor econômico imediato, hoje
(a figura foi originariamente publicada no New Scientist, de Londres,
revista semanal de ciência e tecnologia). não pertence a ninguém e nela as atividades humanas são governadas pelo
Direito Internacional.
• Foi assim que traduzimos halocline, já que da halometria se diz ser o processo para
avaliar a qualidade das soluções salinas. (N. do T.)
PARTE C - IMPACTO HUMANO EM
GERAL
9. O ambiente rural-agrícola
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';-;; com o desenvolvimento tecnol6gico. Uma relação de subsídio maior que 1,0
~; significa que se está obtendo mais energia da terra do que aplicando, ou seja,
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o .2 c: que se está recorrendo energia acumulada (com efeito, luz solar acumulada
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se está aplicando mais energia do que retirando. Os subsídios de energia
atingem o máximo em países como a Grã-Bretanha e os Estados Unidos da
América, onde a agricultura é mais "eficaz" - por exemplo, o gado vacum
~ criado nos pastos recebe, na Grã-Bretanha, subsídios que chegam a alcançar
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010. 9.3.2. Efeitos indiretos
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ciclos naturais de energia e de massa anteriormente descritos têm larguíssimo
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alcance. Nos Capítulos de 3 a 8 considerou-se o impacto do homem sobre
o -- a.
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!l aspectos particulares do ambiente. A agricultura lida com a epiderme da Terra
E e é aí que podem ocorrer as maiores mudanças na maior parte das caracte-
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""I rísticas do meio físico. A Tabela 9.1 resume alguns efeitos da agricultura
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sobre várias facetas do ambiente. O lado direito da tabela poderia se estender
de modo indefinido, com o desencadeamento das reações em cadeia. Note-se
1
~ l igualmente o grau de inter-relação por meio da qual a mudança, digamos, de
uma agricultura itinerante para outra arável, é capaz de alterar o caráter do
8 solo, o microclima, a hidrologia local, os índices de erosão do solo e, por
ie 0 2
u-II)
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conseguinte, a carga de sedimentos fluviais. Por sua vez, os efeitos de reali-
mentação poderão alterar de novo as propriedades de vários fatores am-
bientais; a erosão intensificada alterará a textura e a umidade do solo, o que
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~ mudará a fertilidade da terra, o rendimento das safras e em seguida o micro-
o E~ clima.
(DI6.Jeue 9p epDP/Un/D!{)./9Ua ~ cxFnpwd) Dl{)JaUa ap SOIPJsqns NaI
Muitas das alterações mostradas na Tabela 9.1 já foram discutidas em
capítulos anteriores, de modo que só daremos alguns detalhes das mudanças
provocadas pela atividade agrícola.
150
o Impacto Humano em Geral
o Ambiente Rural-Agrícola 151
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og ~ (NPK) &[0 a norma para a agricultura européia, empregando os Estados
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Unidos cerca de 30,5 bilhões de quilogramas por ano. Nessas regiões, o
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das plantas, havendo provas indicativas de que se vem usando excesso de
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~ fertilizantes, principalmente nitrogênio. Suprir o solo de nitrogênio é difícil,
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s ,g ~ visto que, na forma em que ele está disponível, como nitrato, não se pode
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rios. Assim, é necessário reforçar a aplicação, mas nem por isso ele é aprovei-
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tado pelas plantas. Estima-se que a taxa de aproveitamento é inferior a 50%
da aplicação. Nlo se conhece com certeza o destino final do nitrato rema-
.J:l -g ~s§~ -"O •••.
~~ff~! ~~ ~~ ~ nescente, embora se saiba que a concentração de nitrato triplicou em certos
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rios do sul da Inglaterra nos últimos trinta anos. Na East Anglla, o teor de
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~ nitrato da água subterrânea aproximou-se do máximo considerado seguro
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"0._ o sive à melhoria da terra, podendo ser que a drenagem (Capítulo 6), ao acelerar
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o escoamento com alta concentração de nitrato, contribui, no mínimo, tanto
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~ aplicação exagerada. Os níveis de detritos dissolvidos de produtos químicos
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o tJ:S c não-fertílízantes aumentaram 30% durante os últimos trinta anos, na Ingla-
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Herbicidas e praguicidas. Os ambíguos resultados da drenagem do solo
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também parecem ser os mesmos dos herbicidas. Como sucede com os fertili-
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zantes, a água de escoamento é o principal meio de transporte dos herbicidas
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~.~s '.... ~ '§ "'Q.~ ~ ê e praguicidas, que 810 empregados como tóxicos, ao contrário dos fertili-
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indesejáveis um pouco por toda a parte do ecossistema.
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] 8. As substâncias cuja desintegração é mais lenta, em condições naturais,
.9 810 as que apresentam maior risco. Os praguicidas organoclorados (DDT,
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Aldrin) levam anos para se decompor. Os organofosfatados ou carbonatados
(por exemplo, Malathion) não &[0 muito persistentes. Os herbicidas Simazine
e linuron persistem por mais de um ano, mas o Chloroprophon se decompõe
em quatro a cinco semanas. As substâncias duradouras é que potencialmente
são a origem de maiores danos.
153
152 o Impacto Humano em Gera! o Ambiente Rural-Agrícola
y
bétula .. a atividade humana começou a afetar o ambiente em termos materiais. O
pinheiro
40000 · . ... . .'
Neolítico, ou Nova Idade da Pedra, marcou o início da agricultura e, por-
frio
bétula tanto, o primeiro distanciamento humano da dependência absoluta do meio
Paleolítica
tundra .. imediato.
No início do Neolítico, a maior parte da Grã-Bretanha estava coberta
Figura 9.2 - Cronologia pós-glacial da Grã-Bretanha. de florestas. Predominavam o carvalho, a faia e o olmo, com bastante freixos
em certos locais e pinheiros na Alta Escócia. Aqui e ali, por entre as florestas,
brejos e pântanos. A altitude máxima do crescimento das árvores era de 700
o
curioso é que as mais recentes tendências na agricultura do sul e do a 900 metros acima do nível do mar (no momento, o carvalho não cresce
leste da Inglaterra são no sentido da criação de uma paisagrem de vastos acima de 450 metros em Dartmoor e no Lake District, e o pinheiro acima de
campos, de prados verdes e culturas destituídas de árvores. Vista de longe, 640 metros, mais ou menos, nos Caimgorms). Somente nos píncaros a flo-
essa paisagem se assemelha à de 14 mil anos atrás, quando a tundra predo- resta estava ausente, substituída por arbustos ou grama com comunidades
minava, após o recuo da camada de gelo. árticas-alpinas (Fig.9.3). Os solos de cor acastanhada logo se disseminaram,
Os séculos seguintes assistiram à colonização da Grã-Bretanha, primei- em reação ao clima e à cobertura florestal. Nas planícies, as florestas eram
ro por arbustos e depois por uma sucessão de matas que atingiu a maior densas e os solos freqüentemente pesados. Nos solos ácidos, de granulaç[O
156
o Impacto Humano em Geral o Ambiente Rural-Agrícola 157
grosseira ou demasiadamente secos, especialmente nas regiões montanhosas limpar um trecho da mata e plantar ou criar gado nele por alguns anos.
a cobertura florestal era mais fraca. Era aqui que residia o elo mais frágÜ DepoiS, o trecho era abandonado e se recuperava.
no sistema solo-vegetação~lima e, por conseguinte, o ponto da Primeira Nos solos pesados, tal técnica pouco alteraria as condições naturais,
intervenção eficaz do homem. O Neolítico pertence à época chamada de mas o homem do Neolítico demonstrava forte preferência pelos solos mais
ótimo climático, quando as temperaturas eram um tanto mais quentes que as leves de greda, areia e cascalhentos. Os solos secos deste tipo levam mais
de hoje e o índice pluviométrico talvez um pouco menor. tempo para recuperar a fertilidade e a vegetação original, depois de explo-
As invasões ocorridas no Neolítico levaram para a Grã-Bretanha a cul- rados. ~ possível que algumas das charnecas e montanhas abertas de greda
tura do machado de pedra polida, provinda do Oriente Médio, a domestica- do sul da Inglaterra tenham sido desmatadas nessa época, ficando despidas
ção dos animais e o cultivo agrícola. Basicamente, a agricultura consistia em de árvore para sempre .
A área costeira em tomo de Gwithian, em Cornualha, estava revestida
de matas no pré-Neolítico, mas depois que foi convertida em pastos, no
Neolítico, a areia recobriu a área, impedindo a regeneração da floresta.
~.
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O D
-legenda -
floresta de
carvalhos
Assim, as primeiras mudanças permanentes foram feitas em áreas isoladas.
Lá pelo fim do Neolítico e na Idade do Bronze, o equilíbrio entre o homem
E3 pinheiro. e a natureza começou a se inclinar a favor do homem. O solo, a vegetação,
~ outras espécies
a água e a topografia ainda exerciam forte influência no tipo de povoamento,
r"7I charnecas e
mas, gradativamente, ela se tomou menos determinista, com a capacidade
~ turfalras alias
f:"':'1 turfelras
hwnana de decidir, até certo ponto, sobre o caráter do meio circundante. O
~ balxal estudo de grãos polínicos fósseis preservados em pântanos revela que, durante
o Neolítico, a quantidade de olmos declinou bruscamente. O olmo é urna das
árvores mais exigentes em termos de fertilidade do solo e seu declínio se atri-
o 100km
I I bui provavelmente à influência do homem. A tradição, ainda vigente em parte
da Europa, de usar ramos de olmo como forragem talvez se tenha iniciado
nessa época. A bétula, a aveleira, as grarníneas e as ervas silvestres começaram
a substituir o olmo, o que significa mais terra aberta com solo menos fértil.
Na Idade do Bronze e no início da Idade do Ferro, o clima se dete-
riorou um pouco, ficando mais frio e úmido, até que por cerca de 500 a. C. se
tornou bem semelhante ao atual.
A Idade do Ferro (de 500 a. C. em diante) assistiu a mudanças irrever-
síveis no relevo. A nova tecnologia com base nos instrumentos de ferro, os
novos métodos agrícolas e o aumento da população redundaram em maior
controle do meio imediato. Foi então que se formou a paisagem própria das
regiões montanhosas. Estas, uma vez desmatadas, degenaram rapidamente, em
face do clima mais frio e úmido. Os solos escuros se lixiviaram, tomando-se
mais ácidos e podsólícos, ao passo que a erosão do solo se agravava nas
encostas íngremes. A vegetação natural diminuiu proporcionalmente e o
pastoreio tomaria impossível a regeneração das árvores. O manto de turfa se
espalhou sobre as regiões montanhosas que tinham sido até pouco antes culti-
vadas ou florestadas.
Figura 9.3 - Distribuição provável da vegetação há cerca de 6 mil anos, antes da inter-
Pode ser que tais alterações tivessem ocorrido sem a presença do
ferência humana (conforme Eyre, 1968).
homem, corno resultado direto da mudança do clima. No entanto, o sistema
158
o Impacto Humano em Geral
o Ambiente Rural-Agrícola 159
terra marrom-floresta decídua é bastante estável, salvo nas áreas mais enchar.
Em Ilancarfan, Glamorgan, material datado da Idade do Ferro para a
cadas da Grã-Bretanha, sendo altamente provável que o desmatamento fosse
Era Romana, com 3 metros de profundidade, jaz por cima do fundo do vale
responsável pela desestabilização de todo o sistema solo-vegetação nas regiões
pré-histórico, tendo o rio moderno formado terraços nesses depósitos. O
montanhosas. O contraste físico e cultural entre as planícies e as montanhas
material que se acumulou proveio talvez das encostas do vale que foram des-
da Inglaterra, que hoje tanto se nota, formou-se há mais de 2 mil anos e
perdura desde então. matadas na época. O cercamento de terrenos com barreiras e muros teve
início igualmente antes da Era Cristã. Quando as cercas ficavam numa encosta,
Na Fig. 9.4 temos uma ilustração gráfica da mudança ambiental verifi.
começou a primeira modificação humana nos processos de movimento de
cada na transição da Idade do Bronze para a Idade do Ferro. ~ um corte
massa, pois o solo se acumulou a montante da barreira e se adelgaçou a
transversal de um túmulo pré-histórico da região de North York Moors, no
[usante dela, pela encosta abaixo.
que é hoje uma charneca inóspita e ácida. O solo em volta e por cima do
A exploração efetiva das florestas das planícies data da Idade do Ferro,
túmulo é ácido, podsolizado e relativamente estéril. Por baixo, está o solo
assim como da Era Romana e da Britânica. As redes de estradas abriram
agora fossilizado que deveria ter existido na zona quando da construção do
acesso fácil a zonas antigamente remotas e a utilização do arado de aiveca
túmulo. O solo é constituído de terra florestal pardo-escura e contém grã'os
facultou o trabalho nos solos mais fortes, como os de Cotswold Hills. Os solos
pol ínicos de árvores e cereais. Túmulos iguais construídos num período um
pardo-escuros das planícies estavam bem drenados na camada superficial.
tanto posterior apresentam, na parte soterrada, solos de podsol muito ínfe-
Com a expansão da cultura de cereais, os nutrientes desapareciam do solo
riores. Quer dizer, parece ter ocorrido drástica alteração nas condições do solo
e da vegetação em breve espaço de tempo. com a colheita, pela falta de adubação com cal ou estrume, e pela exposição
mais direta aos eventos pluviométricos. A estrutura do solo se deteriorou e,
O desmatamento para a semeadura de cereais e o pastoreio terão trans-
com a perda das árvores de sistema radicular profundo, a drenagem piorou.
tomado o equilíbrio de um ambiente crítico, provocando a líxivíação dos
O conteúdo orgânico atual desses solos não passa de uns 3%, em comparação
nutrientes do solo e, finalmente, a sua acidificação e infertilidade. Também
com 8% na Era Romana. Seja como for, a colonização das planícies e, sobre-
existem provas de que, ao mesmo tempo, houve um rápido acúmulo de sedi-
tudo, da região central, foi lenta e desigual: por exemplo, os saxões se propa-
mentos nos lagos e nas planícies de inundação dos rios. Isso contribuiu para
garam pelos vales dos rios no sudeste da Inglaterra e os nórdicos desbastaram
fazer que o caudal dos rios passasse a correr por um único leito, em vez do
parte do norte do país.
padrão anastomosado que antes existia. A razão mais provável para o aumento
da sedimentação é a erosão do solo nas vertentes. Após a conquista nonnanda, acelerou-se a formação da paisagem feita
pelo homem, devido em parte maior centralização dos sistemas econômico e
â
social. O corte das florestas medievais avançou nos solos mais fortes e, grada-
charneca solo mo~~ tivamente, os solos das baixadas cultivadas desenvolveram um horizonte "ágri-
co", ou de camada superficial, sem os horizontes originais, em resultado do
.~Z~=rf~_: ...
trabalho do arado. A fauna mudou igualmente no mesmo período. Foram de-
liberadamente exterminados o lobo e o urso, ao mesmo tempo que se introduzia
o coelho, que afinal tanto afetaria a ecologia do interior (Capítulos 2 e 4).
Deve-se ainda assinalar pequenas alterações no relevo. Por exemplo, as
Legenda culturas em leivas e regos deixaram a sua marca em muitos lugares, sobretudo
-
~ humus ~.r.j(~ crosta ferruglnosa na região central (Midlands), mas a técnica do arado destruiu depois muitas
dessas marcas. As leivas, até de 5 metros de largura, podem ter sido unidades
.' ... -. camada IIxlviada terra escura levemente
IIxlvi ada de divisâo territorial ou simples métodos de melhora do rendimento, esco-
lhendo-se cultivar apenas nas leivas mais bem drenadas.
Nas áreas das encostas, o relevo equivalente são as faixas nuas, formadas
Figura 9.4 - Solo fóssil marrom-escuro, preservado sob um monumento funerário da
ao longo de um período de pelo menos mil anos. Equivalem aos terraços não-
Idade do Bronze, em uma área de podsol, nos North York Moors (confor-
me Evans, 1976). irrigados do Mediterrâneo. Algumas foram propositalmente formadas, outras
são curvas de nível originadas pelo trabalho do arado ao longo do tempo.
161
160 o Impacto Humano em Geral o Ambiente Rural-Agrícola
A Idade Média também assistiu ao emprego do trabalho organizado para Bretanha rural decorreu lentamente até há pouco tempo. Novas idéias agrí-
a modificação do relevo em larga escala. A drenagem dos Somerset Levels colas, avanços tecnológicos, estruturas sociais e econômicas em mutação, tudo
entre os séculos X e XIV, pelas abadias da localidade (por exemplo, Gas: desempenhou a sua parte na determinação do ritmo e da natureza das mu-
tonbury), bem assim como a construção de diques de recuperação em Lín- danças. Contudo, até a Revolução Agrícola, a escala de tempo das alterações
colnshire são exemplos disso. A roça de turfa em Norfolk e depois o alaga- da paisagem era secular. Os lavradores do passado só tinham condições de
mento da escavação no chuvoso século XV formaram os Norfolk Broads, que arrotear escassas leiras à volta das aldeias; mesmo na Idade Média, não
até há pouco se julgava fossem lagos naturais. Esses grandes corpos hídricos s6 passavam de alguns hectares.
permaneciam abertos por meios artificiais - pelo corte dos juncos e pelo Esse ritmo vagaroso de mudança do interior acabou. A revolução tecno-
cultivo em suas margens. Ao diminuírem essas atividades, a vegetação lógica, social e econômica do século XX repercutiu na agricultura. Agora, e na
começou a invadir os Broads, reduzindo a área de águas abertas. Se não Inglaterra mais do que em qualquer outro país, ela é entendida como uma
houvesse a interferência do homem, os Broads logo desapareceriam. atividade empresarial. A mudança não se deve apenas ao avanço tecnológi.co,
No final da Idade Média, a superfície florestada diminuiu rapidamente, mas também à adesão ao Mercado Comum Europeu, à intervenção cada vez
com a intensidade da demanda de madeira para queimar, fazer casas e cons- maior do governo na política agrícola e à crescente tendência para a apro-
truir navios. A paisagem consistia então de povoados esparsos, cercados por priação e exploração da terra por grandes empresas.
clareiras de pastagens e terra arável, com extensos bosques de floresta virgem
ainda existentes. Nos séculos XVI, XVII e XVIII sobrevieram muitas das
alterações que formaram a paisagem atual. O importante movimento de
demarcação das terras com cercas substituiu os vastos campos abertos por
9.4.3. O interior nos dias de hoje
uma rede de divis6rias que caracteriza a Grã-Bretanha, Ao mesmo tempo,
aumentavam em muito as atividades de pastoreio. Em termos ecológicos, as Uma segunda Revolução Agrícola, menos evidente, verificou-se nas
dezenas de milhares de quilômetros de sebes que foram plantadas criaram últimas décadas. Uma nova concepção da terra foi formada pelos agrônomos,
habtuus e microclimas inteiramente novos (Capítulos 4 e 5). Ofereceram silvicultores, engenheiros de solos e economistas agrícolas, na medida em que
refúgio a animais e insetos deslocados das florestas e mantiveram a população a agricultura passou a exigir capital com mais intensidade.
de aves das florestas. Os freixos e olmos foram replantados nas divisas, princi- Nas terras aráveis, a estrutura e a química do solo vêm sendo muito
palmente na Midlands, criando paisagens de árvores isoladas tão graciosa- modificadas pelas técnicas de gradeamento e pelo uso intensivo de fertili-
mente que foram consideradas tipicamente ''britânicas'', antes que uma praga zantes artificiais. As culturas intensivas estão substituindo os sistemas de
holandesa matasse imensa proporção de olmos na década de 70. rotação, assim como os praguicidas e os fertilizantes substituem os métodos
Os trabalhos de recuperação criaram paisagens artificiais de pôlder na naturais de recuperação do solo. A intensificação do pastoreio torna-se pos-
região leste da Inglaterra. A escala dos projetos se ampliou, com a energia e a sível arando o pasto, adubando-o e voltando a semeã-lo com espécies de
tecnologia proporcionadas pela Revolução Industrial. Desde que a agricultura rápido crescimento.
começou, as mudanças no uso da terra provocavam igualmente mudanças nas O hábito de estabular os animais e de aíímentã-los com forragens im-
características do solo, mas com a chegada da Revolução Agrícola fizeram-se plica a queda em desuso do costume de estrumar a terra, que também deixa
esforços deliberados para alterar as propriedades do solo em larga escala. As de servir de pasto e de ser pisoteada pelos animais. Entradas de energia
charnecas arenosas de Norfolk foram pastos de ovelhas até o século XVIII. externa (por exemplo, rações para o gado, fertilizantes artificiais, combus-
Mais ou menos em 1800, estavam produzindo cereais, pois a aração profunda tíveis) significam que em muitos pontos do interior da Inglaterra o sistema
tinha misturado a camada superficial arenosa com um subsolo mais pesado, solo-vegetação-animais vem operando em níveis de produtividade superiores
formando uma marga fértil. aos que os fatores naturais do ambiente permitiriam por si sós (Seção 9.3 .1).
No decurso do longo período que vai da era pré-cristã à pós-Revolução O regime da umidade do solo está se modificando em muitos lugares,
Agrícola, as regiões montanhosas permaneceram quase inalteradas, com o solo mesmo porque a área drenada sextuplicou entre 1930 e 1970 (Capítulo 6).
e a vegetação degradados pelo pastoreio. Como sucede com tudo que diZ As dimensões e a forma dos campos estão mudando, com tendência para o
respeito à influência do homem sobre o meio ambiente, a alteração da Grã- que se imagina ser o ponto ótimo, economica.n1ente falando, de 20 hectares.
162
o Impacto Humano em Geral
o Ambiente Rural-Agrícola 163
]
divisas de campos onde não há agora mais que ,pedras. O estudo de pólen ot
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fóssil da região mostra que nos tempos pós-glaciais havia urna pequena flo- ,-~
>c: o
resta recobrindo o Burren e ainda se vêem os tocos de um pinheiral por baixo g,e! .~ (\-
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--10
da espessas capa de turfa sobre as rochas vizinhas. Esse pinheiral cresceu em ~o.
solo pardo-escuro derivado da deposição glacial. Acham-se restos de tal solo "'o
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nas fissuras do calcário e em cavernas. O que se deduz do vestígios do solo iil::s
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original preservados sob estruturas fabricadas, corno túmulos e muros, é que a o c';
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erosão coincidiu com a expansão da agricultura no planalto. Na Fig. 9.6 i'E
temos um monumento funerãrío da Idade do Bronze. A superfície à volta do
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túmulo é de pedra, coberta por uma camada de rendzina (solo orgânico
delgado, com base em calcário) em canteiros.
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Dentro do túmulo, o solo é pardo-escuro, livre da erosão pluvial. Monu- ~8.
mentos e muros erguidos nos primórdios do cristianismo não apresentam essa .2
camada de terra mineral no subsolo. Regra geral, estão construídos sobre
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pedras nuas. Portanto, o solo mineral foi removido pela erosão há 2 ou 3 mil ::s '~ -o'""
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desastrosas conseqüências.
Já se apurou, em outros lugares do mundo, que a remoção da cobertura
vegetal primária das regiões cársticas montanhosas, com alto índice pluviométrí-
co, pode ser catastrófica. Leve corno é, o solo se torna muito vulnerável à ero- .•
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são, sem a capa vegetal e o efeito aglutinador das raizes. Dada a natureza de "o:
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múltiplas fendas e drenagem livre do calcário, basta que as partículas do solo CDo;:; 48
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sejam levadas por alguns metros para serem arrastadas para o subsolo e perdidas. c
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Uma vez removido, o solo só se regenera lentamente, tal qual a vegetação. Os
cabritos pastando - antigamente havia muitos no Burren - impediram que
arbustos e árvores crescessem, a exemplo do ocorrido nas regiões mediterrâneas.
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(por volta de 1850) muitas terras foram abandonadas e ficaram incultas até <t
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hoje. Nos 130 anos decorridos, tomaram-se densas moitas de aveleiraS e t- g -1\1 c: ,-
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capoeiras, com um fino manto de solo orgânico sobre a rocha nua. As velhas CI) ,-
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delicado que bastou urna pequena interferência do homem para desencadear
FIgUIa 9.6 Cortes de uma anta da Idade do Bronze, na região de Burren, no oeste da
alterações ambientais de caráter fundamental. Outras regiões cársticas mon-
Irlanda, mostrando o solo mineral preservado por baixo do local de ínu-
tanhosas do mundo inteiro experimentaram urna degradação semelhante. mação, em uma área de leiras estéreis de rendzina.
167
166 o Impacto Humano em Geral o Ambiente Rural-Agrícola
9.4.5. As pradarias inglesas As pastagens do sul da Inglaterra também estão sendo alteradas. As flo-
res silvestres e os respectivos insetos desses prados e campinas nunca foram
A terras centrais do sul e do leste da Inglaterra, e principalmente Bast naturais, no sentido de que só conseguiam sobreviver graças ao contínuo
Anglia, Fenland e Yorkshíre, são as mais eficientes do mundo em tennos pastoreio e aos períodos de pousio. Sem isso, ervas e arbustos logo invadiriam
econômicos. A espantosa ordenação da paisagem testemunha o alto grau de as terras. Atualmente, elas são aradas e semeadas de novo, alterando assim a
controle exercido pelo homem. Ali se vêem grandes propriedades (o tamanho flora. Os praguicidas estão modificando a população de insetos. Os acosta-
duplicou entre 1945 e 1975), o que trouxe maior remoção de cercas vivas. mentos das estradas representam um ambiente inteiramente novo e parcial-
Cada quilômetro de cerca que se retira representa um hectare ganho para a mente controlado, contra o qual ainda não se desenvolveu uma reação ecoló-
cultura. Nos últimos vinte anos, de 6500 a 11 mil quilômetros de sebes vivas gica plena, embora já sejam um habitat protegido, abrigando espécies que se
foram arrancadas por ano. estão tomando raras em outros lugares.
Quando se arranca uma sebe, o ecossistema que se desenvolvera em sua
zona de influência também é destruído e o clima local muda. Nem todas as
mudanças associadas à remoção das sebes foram benéficas para os lavradores. 9.4.6. As charnecas
Nas áreas de solos leves de turfa úmida ou de areia do leste da Inglaterra, o
alargamento das propriedades aumentou o fetch local do vento e.conseqüen- A parte das regiões montanhosas do Lake District, os Pennínes e Gales.
temente, a sua velocidade média (Capítulo 5). O efeito de quebra-vento das por exemplo, tem uma aparência diferente. Faixas horizontais de vegetação
cercas vivas diminuiu e, por conseguinte, aumentaram a evaporação e a seca. de variadas cores vão desde o fundo dos vales ao alto dos montes. No fundo
O arar dos campos no outono, seguido pelo emprego da grade de discos na dos vales e um pouco a montante das encostas vêem-se pastos verdejantes,
primavera, reduz o solo a uma finíssima camada. A combinação da alta velo- produto de bons cuidados e fertilizantes. Acima, ficam as encostas de fetos
cidade dos ventos com as finas partículas da terra intensificou a erosão eólica de cor verde-castanho e, mais acima ainda, a grossa grama esbranquiçada a que
principalmente, no Lincolnslúre e no leste de Yorkslúre. Durante os longos se dá o nome de Nardus, Os cumes ou apresentam a púrpura das urzes ou o
intervalos de vento seco característicos do começo da primavera, as partí- escuro da turfeira. As árvores são raras.
culas mais finas deslocam-se para cima ou para baixo; em certas áreas do Tais zonas de vegetação, com as correspondentes diferenças no solo,
Líncolnshire, boa parte do solo superficial já desapareceu. ocorrem em altitudes notavelmente baixas, por vezes inferiores a 500 metros.
No leste de Yorkshíre, a erosão eólica se vê em faixas de solo arenoso O clima, entretanto, pouco varia dentro da mesma zona. Essas regiões serranas
a leste do Vale de York. A primavera de 1967 foi temperada e seca, com estavam quase completamente cobertas de florestas nos tempos pré-históricos,
persistentes ventanias a oeste e sudoeste. O solo secou com rapidez e teve e foi por causa do corte das árvores e do aproveitamento agrícola subseqüente
início a erosão eólica. Geraram-se tempestades de poeira de 15 metros de que se desenvolveu a complicada relação de solo e vegetação dos dias atuais.
altura e dunas de areia de um metro se depositaram contra obstáculos. A O complexo de solos típico das encostas desses montes é mostrado na
estrada de York para Helmsley ficou bloqueada uma semana por deslocações Fig. 9.7, com reflexo na divisão por zonas de vegetação. À falta do dossel
de areia. Na sua maior parte, o material se redepositou nos vastos campos, em protetor das árvores, os solos se tomaram severamente lixiviados (podsol),
vez de se perder, mas foi alto o custo da perda do solo superficial, excelente- mas a forma de uso da terra em si pode afetar a vegetação e, por último, o
mente fertilizado. A retirada das sebes diminuiu ante a evidência dos efeitos desenvolvimento do solo. Por exemplo, costuma-se usar as pastagens de baixo
contrários, e já se tomaram medidas de conservação, entre as quais a pulveri- para o gado bovino e as das encostas mais altas para o ovino. As ovelhas, que
zação do solo com polírneros orgânicos sintéticos para ajudar a estabilizá-I o e foram trazidas pelos monges de Cister no período medieval, escolhem o que
incentivar a agregação das partículas. comem, deixando crescer as plantas mais grossas, como os fetos. As vacas e
Em certas áreas de terra arável, a drenagem e o uso excessivos de adubo bois escolhem muito menos, motivo pelo qual a vegetação dos pastos das duas
artificial talvez sejam responsáveis pelo alto nível de sais em solução na água espécies de animais toma-se diferente, só por causa disso, conforme a altitude
drenada. O teor de nitrato na água subterrânea também se elevou apreciavel- (encosta superior e encosta inferior).
O abandono ou o uso menos intensivo das terras altas também afetou o
mente nos últimos anos, embora a sua associação com o uso de fertilizantes
não seja simples. desenvolvimento do solo e da vegetação, sobretudo no cimo do planalto. Uma
169
168 o Impacto Humano em Geral o Ambiente Rural-Agrícola
Vegetação Solo
Turfelra Charneca ~ erva
turfa "Calluna" 04
-z podsol turfoso
(crosta (+urze) C!>_ capim
de "gley •
ferruginosa
embaixo?)
Grama
Nardu s
]~
11I0
urzes
melhor
(ovelhas) Compos em ~ estado
parte descuraclos trófico
( fetos)
... .' . podsols Pra daria
queimados
turfosos (fundo do drenagem
em velho. herbicidas
I
vale)
campo.
terras
brunas
Ilxiviadas
1(X)- 300 m .
IIIUl estrutura do solo:
04
oi cercados orar, gradear
... -o
.~:I:
terras brunas
~~ r
melhor
(fertilizantes,
• °'0 ciclogem
gado) ~e nutrientes
04
8
centeio, trevo podsol bruno
C)
vez desmatada, a terra mais alta s6 pôde ser mantida como pastagem, por ser '4 capim de ovinos artificial
continuamente lavrada e estercada. Quando isso cessou, com o abandono da
tn11I
terra, logo se seguiu a lixiviação, o ensopamento e a possível formação de
turfa ou de crostas ferruginosas. Figura 9.8 _ Possíveis técnicas de recuperação dos pastos das Terras Altas da Grã-
A situação das regiões montanhosas não se alterou, praticamente, nos Bretanha.
últimos setecentos anos, mas o homem tecno16gico, agora, já está fazendo
sentir a sua influência. Por exemplo, 50% das pastagens de carneiros nas char-
será decidido pelo resultado da batalha entre a comunidade dos agricultores e
necas de York do Norte foram aproveitadas para lavoura ou reflorestadas.
aqueles que desejam preservar como está essa parte da herança "natural",
Outras áreas de charneca passaram por idêntica recuperação ou drenagem da
turfa. Mudar o aspecto de tais áreas é em grande parte uma questão econô-
mica, como bem se compreende. Na Fig. 9.8 vemos algumas técnicas de recu- 9.4.7, As Terras Altas da Escócia
peração. A dominância da grama Nardus, menos palatável, em vez da Festuca
e da Agrostis, deve-se ao pasto seletivo dos carneiros. A revegetação implica A única área ''silvestre'' da Grã-Bretanha está nas Highlands (Terras
a melhora da drenagem da terra, a alteração química do solo mediante a Altas) da Escócia. O cenário é magnífico, com suas montanhas batidas pelo
adição de cálcio e de f6sforo, bem como o corte ou a queima da vegetação. vento, nuas ou recobertas de urzes, e está começando a voltar ao que era antes
Então, a terra é semeada de novo com azevém e trevo. O futuro das charnecas da interferência humana.
170
o Impacto Humano em Gera.! o AJIlbiente Rural-Agrícola 171
camada de húmus por fungos, que depois os transmitem às raízes das plantas. relação entre a vegetação e o solo. Muito importante, igualmente, é o micro-
Esses curtos-circuitos deixam ocorrer apenas pequena lixiviação de elementos clima gerado pela floresta. A precipitação pluviométrica anual de 1.800 a
químicos através do solo e, daí, aos rios. 3500 mm,com temperaturas sempre acima de 30°C, converteria rapidamente
Em suma, os solos são quase estéreis, ainda que a operação do ecossis- o solo em laterita estéril se a cobertura vegetal não existisse. O desmatamento
tema florestal úmido disfarce isso muito bem. A luxuriante vegetação cria expõe ali o solo à luz direta do sol em grandes extensões, removendo ao
uma ilusão de fertilidade, mas em nenhuma parte do mundo é tão débil a mesmo tempo a maior parte do depósito de nutrientes. Os prognósticos são
dramáticos.
A Bacia Amazônica (Fig. 9.9) contém, de longe, a maior floresta úmida
OCEi1NO
ATLANTICO
tropical virgem. A floresta autêntica ocorre nas áreas mais bem drenadas
(terra firme); nas planícies de inundação (várzeas) predomina uma vegetação
de menor porte, como o mangue. Em termos de agricultura, as várzeas têm
melhor potencial produtivo, pois são periodicamente inundadas, com depó-
sito de aluvião.
O desmatamento extensivo da Amazônia teve início no começo do
século, na zona de Bragança. O corte de mata ao longo da estrada de ferro
Belém-Bragança abriu 12 mil hectares de terras à agricultura. Mas a maior
parte foi pouco depois abandonada, com os solos exaustos. Hoje em dia
constitui uma área de pobreza e de estagnação econômica e social, recoberta
--- Legenda
rio
limites da bacia
do Amazonas
(/:",:'::
.... .. floresta úmida
,
\
várzeas
por escassa vegetação arbustiva. A Tabela 9.2 explica por que a terra foi
abandonada tão depressa: a perda de nutrientes pela intensa lixiviação foi
muito rápida. Aberta uma clareira, a fertilidade do solo chega a diminuir 80%
em poucos anos. A erosão do solo também poderá remover as partículas do
Capacidade de
Uso da terra Conteúdo orgânico troca de cationte Nitrogênio Fôsforo
Legenda
rodovia, construido ou projetada floresta virgem 100 100 100 100
fronteira do Brasil um ano após
desmatamento 104 82 66 120
(sem uso)
solo
t xima dos mercados.
crestado r- sem sombra queimadas
menor Embora as várzeas sejam mais apropriadas para a agricultura, quase
evapotronspiroção toda a pecuária e o plantio ocorrem nos solos potencialmente estéreis da
terra firme. Em áreas sempre e cada vez maiores, vem-se ampliando a seqüên-
lixiviaçóo
1 cia do corte-queimada-pastagem. A menos que se tome bastante cuidado
enchentes r- e erosóo
restolho
perdido
menos
durante esta seqüência (por exemplo, semeando tipos de grama européia
chuva que protegem eficazmente a terra), seguír-se-ã a líxívíação e a erosão, com a
queda da produtividade dos pastos. Nos primeiros três a cinco anos em que
perda de
t
perda de
a pecuária teve início, os rebanhos de gado bovino declinaram de 2 para 0,5
cabeça por hectare. Ou seja, a críação vem caindo 5% ao ano, aproximada-
solo aróvel microrga- secos
nismos
mente. A superfície de mata tropical úmida, originalmente, compreendia
mais ou menos 280 milhões de hectares. Na década de 1960 o desmatamento
menor
i começou em base superior a um milhão de hectares por ano, mas subiu para
mais de cinco milhões ao ano desde meados da década de 70.
crescimento
dos plantas A Amazônia representa a primeira e talvez a última oportunidade real
que o homem tem de desenvolver uma vasta área territorial empregando um
j modelo de base tanto ecológica como econômica. O governo brasileiro
VEGETAÇÃO demonstrou a aparente preocupação de que a Bacia Amazônica não fosse
RETARDADA posta a saque. Em teoria, aexploração obedece a regras estritas: por exem-
plo, no mínimo 50% da cobertura florestal deve ser mantida nas zonas colo-
Figura 9.10 - Conseqüências ocasionadas pela remoção da floresta tropical úmida. nizadas. Não faltam idéias sobre o aproveitamento da terra. Vão desde a
utilização de esterco orgânico (o solo não retém os fertilizantes artificiais)
à manutenção de uma cobertura de safras perenes, ao plantio de árvores,
Oito nações compartilham a Bacia Amazônica, mas a esmagadora maio- ao cultivo de espécies indígenas, aos pesticidas naturais e às culturas mistas,
ria da área pertence ao Brasil. Na Amazônia, que ocupa 40% do território empregando pequenas propriedades. Infelizmente, é tal a complexidade da
brasileiro, vivem apenas 4% da população do País. No esforço de mobilização mata tropical em termos de ciclos e ínterações naturais e tal a falta de dados
de uma área de integração nacional, a agência governamental Sudam coorde- básicos sobre o ambiente, que está longe de ser clara qual a melhor solução
para o problema do desenvolvimento.
176
o Impacto Humano em Gera!.
urbano-industrial, Por isso, o restante deste capítulo se preocupa com o rejeitos ao deixar a área urbana, deixando o Trent sem vida até que suas
resumo de tais alterações com referência a casos particulares. águas sejam diluídas pelas do Derbyshire Dove e do Derwent, mais limpas,
entre Burton e Derby. Mais a jusante, o Trent volta a se deteriorar e chegar
ao estuário, em Humber, inteiramente desprovido de oxigênio.
10.2. Hidrologia urbana A indústria extrativa exerce idênticos efeitos sobre a qualidade da
água, se estiver localizada perto da corrente. A mineração a céu aberto poderá
10.2.1. Introdução
provocar contaminação sedimentológica e química. A extração subterrânea
Muito embora as áreas urbanas raramente ocupem mais que reduzida de carvão muitas vezes faz com que a drenagem ácida das minas chegue
percentagem de uma grande bacia ue drenagem, as alterações no regime do aos rios, como sucede em Gales do Sul. Os efeitos gerais da urbanização e
rio poderão ser suficientemente intensas para abranger amplos espaços. ~ da indústria na hidrologia estão resumidos na Tabela 10.1.
o caso, especialmente, das cidades localizadas no centro ou na parte superior
da bacia, por permitir enchentes e poluição da água em áreas a jusante. O Tabela 10.1 - Efeitos da urbanização sobre o funcionamento de vários as-
comportamento dos córregos existentes dentro da área edificada poderá pectos da hidrologia (+ denota aumento dos efeitos; -, dímí-
ser profundamente conturbado, o que já não acontece com os rios de porte. .nuíção).
As principais diferenças entre a hidrologia das áreas rurais e urbanas
Proceuol hidrológicol afetildo,
estão esboçadas no Capítulo 6. A intensidade da mudança depende de dois
lnftltrrlçilo fredltco &tchentes RUXOl baiXos Sólidos em suspensItJ SólIdos dissolPidos
fatores: primeiro, em que proporção a bacia se tomou impermeável pela Aooctws "rbtutos
N(}IteI
.7.
50%, assim como diminuem em 50% a duração de cada cheia. Tudo isso reflete
eelação de
o aumento e a mais rápida transmissão da água de escoamento. Os efeitos no
medição -4 fluxo são muito maiores no verão do que no inverno. No verão, a maior parte
doa ~bl~.ç( WN:G0_'"> ••••") da chuva que cai em uma bacia rural é armazenada pelo solo e depois utilizada
pela vegetação, ao passo que no inverno o subsolo pode já estar saturado, fazen-
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do escoar mais água para o rio. No ambiente urbano, as condições variam
muito menos entre as estações, dada a alta proporção da área impermeável.
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.,,~ ••••• 10.3.1. Introduçao
As alterações atmosféricas, tanto em termos gasosos como de aerossóis, marcante à noite, quando o centro apresenta temperaturas, em média, 2°e
são maiores por sobre as áreas urbanas do que em qualquer outra parte, em- mais altas. O grande número de dias com temperaturas perto do congela-
bora isso exerça menos efeito sobre o clima da cidade do que a degradação mento, no sudeste da Inglaterra, significa que o clima mais quente de Londres
do solo superficial. Acredita-se que as alterações atmosféricas são responsáveis é suficiente para reduzir a ocorrência de geadas e de neve. Na verdade, tem
por mudanças na forma da radiação solar que alcança o solo e talvez pelo mais dois meses livre na estação sem gelo do que o meio rural circundante e o
aumento dos índices pluviométricos das regiões urbanas. Na Tabela 10.2, crescimento das plantas tem mais cinqüenta dias disponíveis.
temos um resumo dos tipos e da ordem de magnitude das mudanças associa- A ilha de calor de Londres caracteriza o seu clima urbano, muito em-
dos com o ambiente urbano-industrial. A seguir, alguns exemplos de alte- bora ele se modifique no tempo e na intensidade de acordo com a estação do
rações climáticas. ano e as condições meteorológicas. O centro é bem mais quente que os bairros
durante todo o ano, mas a ilha de calor suburbana é maior no inverno,
quando aumenta o consumo de combustível nas moradias.
Tabela 10.2 - Modificação do clima regional de uma grande área urbana Segundo cálculos, essa ilha atinge aproximadamente 150 metros na
industrializada. vertical. A Fig. 10.2 mostra a forma da ilha de calor no dia 14 de maio de
1959, quando ela se desenvolveu muito bem sob o céu claro e as suaves brisas
de um anticiclone. A diferença de temperaturas entre o meio rural circundante
Aspecto do clima Grau de mudança
oL-..-I10 km
e o centro da cidade é de 8° C e a configuração da ilha segue fielmente o nível 10.3.3. Precipitação pluvial na área de Houston
da urbanização. ~ evidente o brusco gradiente entre os subúrbios densamente
povoados de East Ham e West Harn e as margens pantanosas do Tâmisa, no A tendência das grandes áreas urbanas industrializadas para desencadear
lado oriental do mapa - o gradiente é muito maior do que o normal numa a precipitação de chuva nas suas vizinhanças está bem demonstrada com o
frente fria ou quente natural. Os gradientes térmicos são mais moderados a exemplo de Houston, no Texas. Localizada nas planícies uniformes do Golfo
oeste e a sul, onde a transição meio rural-meio urbano é menos abrupta. Ao do México, a cidade viu a sua população e a sua indústria se expandir enor-
norte, uma ponta de ar quente se estende até o vale do l.ea, através de Poplar, memente nas últimas décadas, assim como o seu índice de pluviosidade.
Tottenham e Enfield. No leste do Texas, a pluviosidade diminui de leste para oeste e, por-
tanto, a isoiete corre mais ou menos no sentido norte-sul, como se vê na
Fig.103, relativa a 1908. Esta disposição das chuvas veio se modificando
progressivamente para um modelo celular, centrado ao norte e a oeste de
Houston, como se vê nos outros quadros pluviométricos. O índice de preci-
pitação na área urbana aumentou mais de 1.000 mm em certos casos. Muito
1908 1935 01700
embora haja uma zona de indústria pesada a leste (contra o vento), emitindo
HlOO
1100 i300 aerossóis poluentes, parece provável que a deflexão do ar pelos numerosos
arranha-céus, no centro da cidade, foi também tão importante no desencadea-
mento desta alteração no regime das chuvas.
'300
10.3.4. Smog fotoquimico na Califórnia
O..''·
. . ::
redução da
visibilidade
a emíssão natural de enxofre como ácido sulfídrico talvez se compare C()m
as emissões artificiais de enxofre. A produção de anidrido sulfuroso dU~li•
~ prejulzo às cou entre 1960 e 1980, mas igualmente importante foi o uso de chaIllir\és
E3 plantas descomunais (mais de 180 metros de altura), as quais, embora diminuin.do
irrltação da a poluição atmosférica nas vizinhanças imediatas, fazem que o gás atinja as
• vista
camadas médias da troposfera, sendo assim transportado a enormes distânciGs•
São O resultado foi o aumento da acidez das chuvas nos últimos lUl~s.
Francisco
Antes da Revolução Industrial, a chuva era neutra à reação na maior Plltte
oL---.I
200km
do planeta, mas, atualmente, ela em geral tem 5 a 30 vezes mais acide~ e,
em certos lugares, 100 a 1.000 vezes mais (1-3 unidades de pH). O caso mais
grave de chuva ácida foi o de uma tempestade em Pitlochry, na EscOOia,
em 10 de abril de 1974: no início, ela apresentava um pH de 2,4, equiva1e~te
ao vinagre. As regiões batidas por ventos provenientes das concentraç~es
industriais sentem o máximo efeito, mas as extensões afetadas e o grau de
acidez aumentaram em geral nos últimos anos.
Tanto nas áreas urbanas como nas suburbanas, a chuva ácida acelera o
intemperismo químico (decomposíção) - principalmente de edifícios e,
sobretudo, se forem feitos de calcário. O intemperismo pode ser por disso-
lução direta ou pela formação e precipitação de sulfato de cálcio, que teIQ a
capacidade de acelerar a decomposição de cristais de sal dos materiais de
construção. Circundando a área urbana imediata, há uma zona em que tllm•
Figwa 10.4 - Extensão e severidade da poluição fotoquímica da atmosfera, na Cali- bém são agudos os efeitos da chuva ácida, incidindo num ambiente rotal.
fómia, em 1961-63 (conforme Leighton, 1966). Na Grã-Bretanha, essas zonas de "precipitação" estendem-se por deze.
nas ou centenas de quilômetros para além da fonte de emissão de l.oI1dtes,
Midlands, Lancashire, South Yorkshire, nordeste da Inglaterra e centro da
10.3.5. Chuva ácida Escócia. A concentração de enxofre no solo excede muito o suprinlettto
natural emanado da atmosfera e do intemperismo químico, excedeQ.do
o alastramento da poluição fotoquímica, muito além da sua origem, também de muito a capacidade de processamento das plantas e das bactétias
tem um paralelo ainda mais sério na abrangência da contaminação com que o decompõem. Assim, o crescimento de várias espécies vegetais é tolhido.
anidrido sulfuroso, provindo de emissões industriais. Tal substância perma- Os líquens e as briófitas (musgo e hepática) slro extraordinariamente sensíVeis
nece pouco tempo na atmosfera,já que se dissolve prontamente na água, para ao anidrido sulfuroso e até servem para assinalar a concentração do ~.
se precipitar como ácido sulfúrico diluído. Semelhante acidificação da chuva Tyneside é uma das fontes prováveis da chuva ácida que cai na Esoan•
ocorre naturalmente, em primeiro lugar por causa da dissolução do bióxido dinávia. O efeito da precipitação no solo, nos rios e lagos é maior nas regi~s
de carbono. Teoricamente, isto deveria dar à água da chuva um pH de 5,6, de rochas ácidas (siliciosas) e nos solos finos, onde a capacidade de atJl0tte·
mas na prática, várias substâncias básicas existentes na atmosfera neutralizam cimento é mínima. Tal situação abrange largas extensões da EscandUlá\tia,
em grande parte esse efeito. sendo responsável pela alta da acidez da água de escoamento nas regiões
As emissões industriais de anidrido sulfuroso, atualmente, excedem montanhosas. Já se registraram índices de pH inferiores a 5,0 em rias e
100 vezes as naturais, de origem vulcânica. Na realidade, uma chaminé com lagos da Noruega, cobrindo uma superfície de 33 mil quilômetros quadrados.
O resultado foi a regressão de ecossistemas aquáticos, inibindo a dec(}m·
188
o Impacto Hwnano em Geral o Ambiente Urbano-Industrial 189
posição orgânica e, em casos extremos, matando peixes e afetando toda a rodovias constituem extensões lineares do complexo urbano-industrial. As
cadeia alimentar. Estima-se que a chuva com um pH de 4,3 levará os Úldices emissões dos escapamentos e os despejos nas beiradas acumulam materiais
de pH dos lagos para 5,0, alongo prazo, onde os índices de carbonato natural tóxicos no solo, em níveis que vão de 5 a 50 vezes o normal, principalmente
são baixos (inferiores a 2 mg/Q). A chuva ácida também tolhe o crescimento cádmio, zinco e níquel.
das coníferas, que são as árvores dominantes das florestas da região. Como
as emissões de anidrido sulfuroso devem aumentar de 10 a 20% até o final
do século, os efeitos se agravarão em futuro previsível. Em certos lugares 10.4.2. Derrelição e recuperação nas Potteries
já se estão tomando providências, como a adição de cal aos rios afetados.
A área de Stoke-on-Trent sofre mais que a maioria dos centros urbanos
com a derrelição, pois em 1970 estavam nessa categoria 7% da superfície
10.4. Paisagens urbano-industriais da cidade. :eum terreno desfigurado, com monturos, buracos, depósitos de
lixo e concavidades de subsidência.
10.4 .1. Introdução A recuperação começou desde o final da década de 60, na tentativa
de transformar os ermos em ''parques'', com solos, vegetação, relevo e hidro-
Tanto a urbanização como a indústria extrativa acarretam alteração do logia planejados. Por exemplo, o Central Forest Park, junto de Hanley, era
relevo, mas a indústria, em particular, é responsável pela criação de terra uma das áreas mais abandonadas. Em 52 hectares contavam-se monturos
largada ao deus-dará, como resultado da exploração de pedreiras, da mine- de 100 metros de altura, rejeitos das minas de carvão e enormes covas cheias
ração a céu aberto, dos desaterros, do abandono de edifícios ou, indireta- de água. As escarpas foram limpas, espalhou-se uma fina camada de solo
mente, por subsidência da terra. Na Inglaterra, há 50 mil hectares de terras superficial e semearam-se gramas tolerantes ao ambiente ácido e rico de
consideradas derrelitas e uma área de igual dimensão tida como "transtor- metais. A medida que o solo se "normaliza", vão vingando os arbustos e as
nada" (muito modificada, mas ainda em uso), total que aumenta 1.500 bétulas e, no futuro, talvez haja uma cobertura plena de árvores decíduas,
hectares por ano. que permita a reversão ao carvalhallá existente há duzentos anos. As covas
A derrelição corresponde a uma extrema mudança no uso e no relevo cheias de água se tomaram lagos e está em andamento um ecossistema aquá-
da terra. A paisagem pode ser de covas artificiais, solo terraplanado e montes tico limitado.
de escombros, tudo recoberto de calhaus, escória ou lixo. De modo similar,
a ecologia se transforma para um ecossistema urbano do gênero descrito
na Seção 10.5 ou, se o lixo é tóxico para as plantas, num deserto. Os proces- 10.5. A ecologia urbano-industrial
sos geomórficos que se operam em tais áreas são amiúde iguais aos das regiões
áridas, pois a ausência de vegetação provoca voçorocas e erosão eólica, como 10.5.1. Introdução
qualquer desaterro de topo o demonstra. Em tal ambiente, os microclimas são
extremos e, além disso, de tipo desértico. A primeira característica das áreas urbanas - alta intensidade de mu-
As áreas onde a derrelíção é extrema poderão ir além do limiar da dança - também é evidente a respeito dos ecossistemas. A cidade constitui,
recuperação, ao menos num futuro imediato. Aliás, quase sempre vem uma evidentemente, um complexo ecossistema humano, mas, longe de ser um
segunda rodada de intervenção humana, em geral por motivos estéticos, a deserto para outras formas de vida, ela cria, deliberadamente ou não, uma
fim de permitir e acelerar a recuperação. Mas, de fato, o que se faz, geral- variedade de ambientes que 810 colonizados por criaturas vivas. Alguns deles
mente, mal se parece com o ambiente original. são variantes de condições naturais (parques e jardins), mas outros são antí-
Nas zonas de concentração da indústria pesada, a derrelição ecológica naturais por completo. As espécies adaptáveis conseguem viver nas cidades
costuma se estender até muito longe da fonte. A chuva ácida é um exemplo e, em certos casos, proliferam, a exemplo dos ratos e das moscas. Certas
e, no caso de Sudbury, mencionado na seção anterior, a fumaça das fun- plantas invadem com rapidez os solos degradados, coisa comum nos cantei-
dições inibiu o crescimento da vegetação em dezenas de quilômetros das ros de obras, que pululam nas zonas urbanas. Nas regiões rurais, um nicho
redondezas, matando as espécies mais sensíveis. Neste sentido, as grandes desses é comparativamente raro. Na Segunda Guerra Mundial, uns 40 hectares
191
190 o Impacto Humano em Geral o Ambiente Urbano-Industrial
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gerais de uma única atividade sobre o ambiente, mas não revela a série de
efeitos secundários e de realimentação que também são prováveis. Para
formular todos os efeitos da mais simples das intervenções humanas no
meio físico, em tudo menos na menor das escalas, seria necessário um modelo
análogo de incalculável complexidade.
O fator mais limitante no uso destes métodos de análise de impacto
talvez seja o fator que também toma tão incerto o futuro do ambiente: a
ignorância do homem sobre a ação do mundo a que pertence.
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