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O papel utilizado neste livro é biodegradável e renovável.

Provém de florestas
plantadas que dão emprego a milhares de brasileiros e combatem o efeito estufa, pois
absorvem gás carbônico durante o seu crescimento! A tinta utilizada na impressão das
páginas é à base de soja, cujo componente é renovável e atóxico que não degrada o
meio ambiente.
1ª Edição
São Paulo/SP
2022
Copyright © by Jamê Nobre
Direitos Autorais reservados de acordo com a Lei 9.610/98

Coordenação Editorial
Valter Jeronymo

Preparação de Texto
Luiz Roberto Cascaldi

Colaboração
Valdeir A. Arruda

Projeto gráfico
Diagramação e Capa
Life Editora

Revisão Ortográfica
Márcio da Cruz

Impressão e acabamento
Life Digital

Life Editora
Av. Paulista, 2202 - 7º andar, Conjunto 73 - Consolação
CEP: 01310-300 - São Paulo - SP
Fones: (11) 3508 1941 - Cel.: (67) 99297-4890
contato@lifeeditora.com.br • www.lifeeditora.com.br

Datos de Catalogaçaõ Internacional de Publicação (CIP)

Nobre, Jamê

O Reino de Deus e a Mordomia Cristã, Jamê Nobre. - São Paulo, SP,


Life Editora, 2022.
152p.
ISBN 978-65-5887-184-2
1.Literatura cristã 2. Mordomia crsitã I. Título

CDD - 230

Proibida a reprodução total ou parcial, sejam quais forem


os meios ou sistemas, sem prévia autorização do autor.
Prefácio

Na minha vida profissional, já ultrapassando os 50


anos de atividade, sempre me dediquei ao tema Finanças
(Contabilidade, Negócios, Administração Financeira ...),
prestando serviços como funcionário (depois como consul-
tor), ensinando, pesquisando, escrevendo livros etc.
A princípio, minha ênfase era Finanças nas empresas.
Com o tempo comecei a perceber que havia uma lacuna
muito grande em relação às Finanças Pessoais ou Com-
portamentais – famílias destruídas por causa do dinheiro,
pessoas endividadas e inadimplentes e até mesmo suicídios
em função dos desequilíbrios financeiros. Assim, meu foco
profissional passou a ser dividido tanto no âmbito empresa-
rial como no pessoal.
Na virada do século 20 para o 21, já se falava em Edu-
cação Financeira como um assunto a ser ensinado para
crianças já no ensino fundamental (hoje já está implemen-
tado). O livro “Pai Rico, Pai Pobre”, também nesse perío-
do, se transformou em best seller no que tange às Finanças
Pessoais e Comportamentais. Outros foram surgindo como
“Casais Inteligentes Enriquecem Juntos” (mostrando que
o dinheiro é uma das principais causas de divórcio) etc.
O auge deste tema chega ao ponto de se desenvolverem
técnicas específicas para ajudar as pessoas por meio do cha-
mado Coaching Financeiro.
Porém, os fatos mais marcantes na área de Finan-
ças Pessoais e Comportamentais foram dois trabalhos que
ganharam prêmios Nobel de Economia: a) Daniel Kah-
neman, em trabalhos em coautoria com Amos Tversky,
ganhou o Nobel de Economia em 2002 por seus estudos
dedicados às Finanças Comportamentais; b) Quinze anos
depois do prêmio de Kahneman, Richard Thaler ganhou
o Nobel de Economia (2017) pelo desenvolvimento da
teoria da Economia Comportamental, que envolve aspec-
tos psicológicos na tomada de decisão financeira de cada
pessoa.
Esses ganhadores do prêmio Nobel confirmam quão
relevantes são as decisões racionais quando se trata de
decidir o destino ou a captação de recursos pelas pesso-
as, considerando-se os aspectos comportamentais. A área
econômico-financeira é tão relevante nos dias atuais que
várias categorias de profissionais tentam contribuir para
lidar satisfatoriamente com a difícil missão de gerir o di-
nheiro, sendo alguns deles: administradores, contadores,
economistas, psicólogos, matemáticos financeiros, soció-
logos etc.
Nesse cenário desafiador, importantíssimo para a so-
ciedade como um todo, restou uma lacuna que impede
que o sucesso de todas as técnicas e estratégias utilizadas
seja alcançado. O grande vazio não considerado, certa-
mente o principal de todos, refere-se aos princípios de
Deus, o Criador de todas as riquezas, de todo o Universo,
sobre a gestão do dinheiro e de todos os Ativos (bens e
direitos).
“Minha é a prata e meu é o ouro, disse o Senhor dos
Exércitos” (Ageu 2:8). O que Deus está dizendo é que Dele
é a fonte de todas as riquezas, de tudo o que foi criado por
Ele e, consequentemente, de tudo o que pertence a Ele.
Outros versículos bíblicos confirmam tal verdade. Desse
modo, o “dono”, na sua soberania, é quem estabelece os
princípios sadios na gestão de tais recursos.
Exatamente este é o foco deste maravilhoso livro
“O Reino de Deus e a Mordomia Cristã”, de autoria de
Jamê Nobre, cuja obra aborda os princípios sobre como
cada cristão tem responsabilidade quanto à administra-
ção dos bens outorgados por Deus, sejam eles materiais
ou espirituais.
Tive o privilégio de ver, por algumas vezes, o autor
deste livro ministrar sobre esse assunto com muita sabedo-
ria e revelação e, na verdade, ansiava que esse ensino fosse
transformado em livro, para que muitas pessoas pudessem
ter acesso a ele.
Este livro, assim com as preleções do autor, não visa a
alcançar apenas cristãos, mas a todos que precisam geren-
ciar seus bens com sabedoria e justiça.
Entre os dados alarmantes citado pelo autor em fun-
ção de má gestão financeira, destaco dois pontos;
1. Cerca de 24.000 pessoas morrem diariamente de-
vido a fome ou a causas relacionadas a ela.
2. Atualmente, 10% das crianças dos países em de-
senvolvimento morrem antes de completarem
cinco anos.
É muito triste pensar que o dono da prata e do ouro
criou este planeta com recursos suficientes para todos
vivermos com fartura, mas que, por não levarmos em conta
Seus princípios, pecamos por falta de conhecimento e sa-
bedoria quanto a gestão de tais recursos.
Que não fique a impressão de que o autor irá abranger
metodologias para governos, empresas, corporações etc.,
pois esta obra se refere a cada um de nós, pessoas físicas,
cristãos ou não.
É com muita alegria que recomendo a leitura deste
livro que, certamente, nos desafiará a gerir nossas finanças
(e nossa vida espiritual) no sentido de contribuir para um
mundo mais justo e melhor, segundo os princípios de Deus.

José Carlos Marion


Sumário

Capítulo 1
REINO DE DEUS E DISCIPULADO...........................11

Capítulo 2
AS FINANÇAS NO REINO DE DEUS.........................21

Capítulo 3
PRINCÍPIOS QUE DEVEM REGER A VIDA DE UM
DISCÍPULO DE CRISTO..............................................45

Capítulo 4
AS BASES DA NOSSA CONTRIBUIÇÃO....................67

Capítulo 5
SERVIÇO SOCIAL E SUSTENTO DOS OBREIROS E
MISSÕES..........................................................................89

Capítulo 6
A COMPAIXÃO DE DEUS E A RESPONSABILIDADE
SOCIAL DA IGREJA.....................................................117

CONCLUSÃO................................................................131

APÊNDICE I..................................................................135

APÊNDICE II................................................................139

BIBLIOGRAFIA..............................................................147
Capítulo 1

REINO DE DEUS E DISCIPULADO

Deus tem nos falado sobre Seu reino e a consequên-


cia da compreensão dessa verdade em nossas vidas, que é o
discipulado. Sem compreender o reino não compreende-
remos o que é ser discípulo, tampouco a importância de se
fazer discípulos.
O assunto “Reino de Deus” é o tema mais forte e mais
recorrente das Escrituras. Ele é mostrado como aquilo em
que devemos crer e que devemos viver hoje, pois não é algo
referente ao futuro desconectado do presente. Construímos
nosso futuro no reino sobre o que somos hoje; portanto, o
reino de Deus não é algo que ainda virá, mas que já veio
e, por isso, tem consequências, ainda que não tenha vindo
hoje em toda a sua plenitude. Precisamos, então, estudar
o tema da mordomia dos bens que o Senhor nos confiou,
para nos precavermos, para não cairmos em armadilhas e
nos desviarmos e, assim, andar com uma vida reta que agra-
de ao Senhor, com a mentalidade de que Ele é o dono de
todas as coisas.
Por causa da falta de entendimento sobre o reino do
Senhor Jesus é que muita gente na Igreja ainda não se tor-
nou discípulo e nem se aplica em fazer discípulos, pois se
relaciona com as riquezas de maneira errada, sem vincular
esse tema à mensagem do Reino.
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 11
Tais pessoas pensam no reino como algo no futuro,
num lugar no céu, ou então entendem o discipulado como
um método ou curso. O discipulado parte do princípio de
que o Senhor Jesus é o meu Senhor, por isso ando debaixo
de Sua disciplina. O que acontece, portanto, é que o con-
ceito de discipulado é relacionado a estudos de temas sem
vinculá-los ao caráter da pessoa, tampouco à administração
daquilo que possuímos.
Uma parte dos textos que falam do reino mostra aqui-
lo que virá depois da volta de Jesus. Fala de como seremos,
de uma nova Terra, de um novo céu. Fala das nações vol-
tando a ser do Senhor e, acima de tudo, do Cordeiro senta-
do no trono por toda a eternidade. Porém, mais do que esse
aspecto futuro, as Escrituras falam de como devemos viver
e em que devemos crer hoje. Sua ênfase é que o reino de
Deus precisa ser aceito, vivido e anunciado a partir de uma
perspectiva individual, hoje e agora.
Uma mostra disso é que o Senhor Jesus poderia ter vin-
do de forma espetacular, poderia ter entrado em Jerusalém
também de forma espetacular, inquestionável, para conver-
ter as multidões. No entanto, ele entrou de forma humilde,
montado em um jumentinho. Poderia ter nascido em um
palácio esplendoroso e, lá, manifestar toda a sua glória, mas
preferiu nascer em uma humilde estrebaria, tendo por ber-
ço uma manjedoura. Poderia ter chamado legiões de anjos
e, assim, manifestar seu grande poder. No entanto, ele es-
colheu trazer seu reino ao indivíduo, de pessoa a pessoa, de
coração a coração. Satanás ofereceu a ele as nações sem,
com isso, ganhar os corações das pessoas, mas não foi assim
que ele quis. Do mesmo modo como um indivíduo pecou
12 Jamê Nobre
(Adão) e se voltou contra ele, rejeitando também seu reino,
o que levou toda a humanidade à perdição, assim também
Jesus quer reinar em cada um de nós de forma pessoal e
levar seu reino a todas as nações da Terra.
Podemos pensar que Deus quer conquistar as nações
de forma coletiva, mas a conquista das nações será de for-
ma pessoal – cada um de nós tomando posição e levando
outros a se posicionarem pelo Reino de Jesus. Portanto, a
entrada no reino não é coletiva, mas sim, individual; é uma
decisão pessoal de rendição ao reino do Cordeiro; é trazer
o reino de Deus a todas as áreas da nossa vida, rendendo
cada esfera de nossa existência ao domínio do Rei dos reis:
relacionamentos, emoções, ideais, projetos, família, saúde
física, bens e riquezas.

“Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a


minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e
cearei com ele, e ele, comigo” (Apocalipse 3.20).

Gostaria que Deus não respeitasse a minha vontade


e, assim, me mudasse “à força”; porém, se Ele assim o fi-
zer, negará Sua própria natureza. Ele estabelece Seu reino
em nós de forma gradativa, área por área. Em determinado
tempo, Ele trata conosco na área afetiva; é quando parece
que as pessoas nos abandonam ou maltratam, fazendo-nos
sentir tristeza e solidão – mas as nossas emoções é que estão
sendo tratadas.
Outras vezes, Ele trata com a nossa saúde ou com nos-
sas finanças, ou então com a nossa família etc. O fato é que
o reino de Deus toma espaço gradativamente em nossas vi-
das à medida que damos liberdade ao Espírito Santo.
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 13
Portanto, Deus não trata conosco de uma só vez. Pri-
meiro, porque se Ele fizesse isso não suportaríamos; a “ci-
rurgia” seria tão profunda e grave que não teríamos forças
para suportar. Segundo, porque Ele só trata conosco me-
diante nossa permissão e não contra a nossa vontade.
Foi assim que Ele agiu com as nações que ocupavam
a terra antes que os hebreus chegassem, pois Ele as tirou aos
poucos para que as feras do campo não se multiplicassem
na terra e, assim, destruíssem o povo:

“Não os lançarei de diante de ti num só ano, para que


a terra se não torne em desolação e as feras do campo
se não multipliquem contra ti” (Êxodo 23.29).

“O Senhor, teu Deus, lançará fora estas nações,


pouco a pouco de diante de ti; não poderás destruí-
-las todas de pronto, para que as feras do campo se
não multipliquem contra ti” (Deuteronômio 7.22).

Jesus nunca fez um “movimento” para que milhões


entrassem no reino de uma só vez, mas sim, para que, um
a um, entrássemos nele. Dessa forma, você e eu precisa-
mos responder ao reino, pois é assim que o Senhor Jesus
trabalha, e este reino irá tomar conta de nós à medida que
lhe dermos espaço. Jesus propõe a salvação, aponta o ca-
minho, dispõe de meios para nos convencer, mas nunca
impõe a salvação! Ele não invade a nossa vida, pois Ele só
entra mediante nosso convite e se a abrirmos para Ele. Ele
nos atrai com “laços de amor e cordas humanas” (Oséias
11.4). Ele só levanta sua voz para nos constranger por amor
e, assim, voltarmo-nos a Ele.
14 Jamê Nobre
OS DIREITOS DE UM REI

A história relatada em 1 Samuel 8, quando o povo cla-


ma por um rei, pode nos dar uma ideia do que é viver sob o
domínio de um monarca.
Samuel era o homem de Deus que julgava Seu povo.
Por conseguinte, o profeta representava o próprio Deus.
Contudo, o povo expôs ao profeta que os filhos dele, Sa-
muel, não inspiravam confiança por não andarem nos ca-
minhos de seu pai, além do fato de que eles também que-
riam alguém que estivesse diante do povo nas guerras – na
ótica das pessoas Samuel estava velho para tal.
A meu ver, esse pedido precipitou o estabelecimento
do rei errado, visto que Davi não estava pronto para assumir
o reinado. Nessa premissa, como os filhos de Samuel não
estavam andando nos caminhos do pai, eles não podiam
exercer o juizado até que Davi estivesse pronto para reinar
em nome de Deus.
De acordo com esse ponto de vista (que pode ser con-
testado por outro – não há problema), Saul foi posto no tro-
no por haver impossibilidade de continuidade do ministé-
rio de Samuel devido à iniquidade de seus filhos sucessores
de seu ministério profético.
Ao final do período dos Juízes, em Israel, a situação
era: “Naqueles dias, não havia rei em Israel; cada um fazia
o que achava mais reto” (Juízes 21.25). Era um tempo de
muita tristeza, de desastre moral e afastamento do Senhor.
Por causa disso, Ele levantou Samuel como juiz e profeta
sobre a nação.
Muitos anos depois, o povo chegou a ele com duas
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 15
notícias terríveis:

“Então, os anciãos todos de Israel se congregaram


e vieram a Samuel, a Ramá, e lhe disseram:’ Vê,
já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus
caminhos; constitui-nos, pois, agora, um rei sobre
nós, para que nos governe, como o têm todas as
nações’. Porém esta palavra não agradou a Sa-
muel, quando disseram:’ Dá-nos um rei, para que
nos governe’. Então, Samuel orou ao Senhor. Dis-
se o Senhor a Samuel: ‘Atende à voz do povo em
tudo quanto te diz, pois não te rejeitou a ti, mas
a mim, para eu não reinar sobre ele. Agora, pois,
atende à sua voz, porém adverte-o solenemente e
explica-lhe qual será o direito do rei que houver de
reinar sobre ele’” (1 Samuel 8.4-7,9 – meu grifo).

Ora, Samuel era a boca de Deus para o povo, transmi-


tindo-lhes sempre a vontade do Senhor. Porém, eles insisti-
ram naquela ideia e Deus mandou Samuel dizer-lhes quais
seriam os direitos de um rei.
Essa história pode ser lida, trazendo-a para os nossos
dias, pensando-se no nosso rei que é o Nosso Senhor Jesus
Cristo e em quais são seus direitos:
a. “Este será o costume do rei que houver de reinar
sobre vós: ele tomará os vossos filhos e os empregará
para os seus carros e para seus cavaleiros, para que
corram adiante dos seus carros;” (vs. 11). Será que
existe, para os pais, algo mais precioso na vida de
que seus filhos? Pois Deus começou neste nível:
“Ele tomará os vossos filhos”.
b. “E tomará as vossas filhas para perfumistas, co-
16 Jamê Nobre
zinheiras e padeiras.” (vs. 13). Cada um desses
itens traz uma lição, mas não vou tratar sobre isso
agora.
c. “E tomará o melhor das vossas terras, e das vos-
sas vinhas, e dos vossos olivais e os dará aos seus
criados.” (vs. 14). Não somos donos de mais
nada nesta vida, pois Jesus assumiu o controle
de tudo.
d. “E as vossas sementes e as vossas vinhas dizimará,
para dar aos seus eunucos e aos seus criados.” (vs.
15). Sementes falam de um futuro onde teremos
o que comer, ou seja, entregamos a Cristo nossa
expectativa de um futuro tranquilo.
e. “Também os vossos criados e as vossas criadas, e os
vossos melhores jovens e os vossos jumentos tomará
e os empregará no seu trabalho.” (vs. 16). Jesus se
apossou de tudo o que temos.
f. “Dizimará o vosso rebanho, e vós lhe servireis de
criados.” (vs. 18). Ou seja, não nos sobrou nada!
Tudo isso acima é o que significa dizer “Jesus é o meu
rei!” Ele não é uma mera figura decorativa em nossas vidas,
mas sim, o Senhor soberano e absoluto de todas as coisas
e das nossas vidas! No entanto, ele não nos força a lhe en-
tregarmos todas as coisas, antes, vai nos mostrando as coisas
sobre as quais ainda governamos e, assim, gradativamen-
te passamos a entregá-las todas a Ele, até não sobrar mais
nada! Ele é rei e nós somos seus súditos.
Eu gosto muito de uma frase que Jesus disse aos seus
discípulos quando estava prestes a ser preso: “Aí vem o
príncipe do mundo; e ele nada tem em mim” (João 14.30).
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 17
Eu sonho com o dia em que verei a bandeira do Senhor
Jesus fincada em cada área da minha vida! Áreas que não
foram conquistadas à força, mas que eu as rendi livremente
a ele.
A cada chamado de Jesus aos seus discípulos sempre
houve uma resposta rápida e pronta:

“Entrando em Jericó, atravessava Jesus a cidade.


Eis que um homem, chamado Zaqueu, maioral
dos publicanos e rico, procurava ver quem era Je-
sus, mas não podia, por causa da multidão, por ser
ele de pequena estatura. Então, correndo adiante,
subiu a um sicômoro a fim de vê-lo, porque por
ali havia de passar. Quando Jesus chegou àque-
le lugar, olhando para cima, disse-lhe:’ Zaqueu,
desce depressa, pois me convém ficar hoje em tua
casa’. Ele desceu a toda a pressa e o recebeu com
alegria’” (Lucas 19.1-6).

Jesus viu Zaqueu em cima de uma árvore, parou exa-


tamente ali e o chamou. Acredito que Zaqueu “pagou um
mico” naquela hora, porque ele não era uma figura qual-
quer, mas um coletor de impostos, um homem rico e co-
nhecido. Jesus o chamou pelo nome, e entendemos com
isso que o chamado e a mensagem do reino de Deus são
específicos para mim e para você.
Jesus não deu a Zaqueu uma sugestão, mas sim, uma
ordem e a forma de cumpri-la: “Desce depressa”. Zaqueu
era alguém influente e rico, mas encontrou alguém maior
que ele, com mais autoridade, e lhe obedeceu.
Em seguida, Jesus disse: “Pois me convém ficar hoje
em tua casa”. Ele não perguntou se podia, se Zaqueu gos-
18 Jamê Nobre
taria ou não de recebê-lo, mas simplesmente afirmou que
iria à sua casa. Esse é o nosso Rei! Um dos nossos grandes
problemas é que “administramos” as ordens do Senhor.
Ora, se Deus falou não há o que discutir. Obedecemos e
pronto!
Outros exemplos:

“Partindo Jesus dali, viu um homem chamado


Mateus sentado na coletoria e disse-lhe: ‘Segue-
-me!’ Ele se levantou e o seguiu’” (Mateus 9.9 –
meu grifo).

“Caminhando junto ao mar da Galileia, viu dois


irmãos, Simão, chamado Pedro, e André, que lan-
çavam as redes ao mar, porque eram pescadores.
E disse-lhes: ‘Vinde após mim, e eu vos farei pes-
cadores de homens’. Então, eles deixaram imedia-
tamente as redes e o seguiram’” (Mateus 4.18-20
– meu grifo).

“Passando adiante, viu outros dois irmãos, Tiago,


filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam
no barco em companhia de seu pai, consertando
as redes; e chamou-os. Então, eles, no mesmo ins-
tante, deixando o barco e seu pai, o seguiram”.
(Mateus 4.21-22 – meu grifo)

Assim é a autoridade e o poder de um rei sobre as nos-


sas vidas! Vamos nos acostumando a obedecer ao Senhor
da primeira vez que Ele falar, afinal, obediência tardia é
desobediência.
A ideia que quero transmitir é que quando nos encon-
tramos com o Rei, a pergunta que devemos fazer não é se
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 19
Ele tem algo para me dar, mas deve ser: “Que queres que eu
faça?” Ou: “Que tipo de vida tens para mim?”
A vida que passaremos a ter, a partir de nosso encontro
com o Rei, é de serviço e dedicação total Àquele que nos
fez e nos comprou.

20 Jamê Nobre
Capítulo 2

AS FINANÇAS NO REINO DE DEUS

Muitos já afirmaram, e creio, que estamos vivendo nos


últimos dias antes da vinda do Senhor Jesus. Sabemos que
os nossos dias têm se caracterizado pelo excessivo materia-
lismo e consumismo, os quais têm exercido enorme poder
sobre a humanidade e, para a tristeza de muitos, também
sobre o cristianismo.
O estudo sobre finanças hoje é primordial, e extraor-
dinariamente necessário, para que a Palavra do Senhor e o
Espírito Santo possam nos libertar à medida que conhece-
mos a verdade (Jo 8:32).
Os capítulos de 5 a 7 de Mateus são considerados por
muitos a porção mais importante da Bíblia em termos de
aplicação de todo os ensinos das Escrituras. Por isso, alguns
entendem que esses capítulos são o resumo de toda a Bíblia.
Ali encontramos os princípios e as leis do reino de Deus,
anunciados e vividos pelo Senhor Jesus. É nessa porção que
o Senhor afirma categoricamente que é impossível servir-
mos a dois senhores, e conclui: “NÃO PODEIS SERVIR A
DEUS E AS RIQUEZAS (MAMON)” (Mateus 6:24).
Nesse versículo encontra-se o principal dilema do
homem: se é certo que somos seres espirituais, também é
verdade que somos seres físicos e que necessitamos de bens
materiais para viver. Pois bem, aqui está o cerne da questão:
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 21
ENCONTRARMOS O EQUILÍBRIO ENTRE SERVIR-
MOS A DEUS E UTILIZARMOS AS RIQUEZAS.
O presente estudo procurará tratar desse tema e des-
cobrir quais são os princípios da Palavra de Deus que, apli-
cados às nossas vidas, nos ajudarão a encontrar tal equilí-
brio. Não pretendo esgotar o assunto, contudo, tentarei, na
limitada luz que tenho recebido, trazer aquilo que Deus
nos tem dado.

A SITUAÇÃO DOS TEMPOS ATUAIS

Vivemos sob duas tensões muito fortes. De um lado


há a intemperança, a falta e limites, e do outro está a avare-
za ou idolatria.
• Intemperança. Em nossos dias, existe uma compul-
são para gastar, consumir, ter, comprar incentivada pelos
meios de comunicação e pela sociedade. Os apelos incen-
tivam os desejos carnais inerentes à natureza humana de-
caída. Jesus advertiu que esse seria um dos pecados prevale-
centes dos últimos dias (Lucas 17:28).
• Avareza. Em outro extremo, está o convite à pou-
pança, ao acúmulo, igualmente incentivado pelo sistema
financeiro e por uma sociedade que confia na estabilidade
das riquezas. Isso contradiz o ensino de Jesus e dos apósto-
los (Mateus 6:19-21; 2 Pedro 5:1-6; 1 Timóteo 6:17-19; 2
Coríntios 9:6-15; Lucas 12:13-21).
A posição dos cristãos. Os cristãos hodiernos, de um
modo geral, não estão reagindo à essa situação, antes, po-
rém, estão se conformando com ela e correndo o risco de
22 Jamê Nobre
caírem na condenação de Deus (Ezequiel 16:49; 18:12ss;
22:7-12; Amós 5:9-12; Miquéias 2:1ss).
Qual é a perspectiva correta?

A NATUREZA DO DINHEIRO

Muitos cristãos adotam duas atitudes igualmente er-


radas quando tratam de dízimos e ofertas. Tenho visto lí-
deres de igrejas que não tratam do assunto de forma natu-
ral, como tratamos de qualquer outro assunto importante
das Escrituras. Alguns falam sobre isso de forma indireta,
com medo de não parecerem íntegros, com medo de serem
comparados aos “vendilhões” (homens que desejam ficar
ricos às custas do povo). Os que não falam têm medo de
perder a reputação pessoal, portanto, não abençoam o povo
de Deus deixando de ensinando aquilo que as Escrituras
dizem sobre o assunto. Aqui é o que está em questão. O
que ensino ao povo precisa atingir dois objetivos: a glória do
Senhor e a bênção para o povo.
Outros, comercializam as bênçãos e, com isso, mer-
cadejam a Palavra de Deus por meio do uso indevido de
versículos avulsos. Nesse caso, o que importa é o êxito mi-
nisterial, vivendo-se charlatanismo puro. Existe, contudo,
uma teologia bíblica que precisamos conhecer e que traz
equilíbrio e realmente glorifica a Deus e abençoa o Seu
povo.

a) O dinheiro é uma potestade


O dinheiro é uma potestade, isto é, ele tem poder em
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 23
si mesmo. A força que está por trás do dinheiro é a cobiça.
Mateus 6:24 fala da questão de tentar servir a dois senhores.
Servir, aqui, é colocar o coração, é viver centrado em Jesus
ou, então, em Mamon. Servir aos dois é impossível, pois
tanto Jesus como Mamon exigem devoção total e servidão,
e não poderemos servi-los ao mesmo tempo. Temos de de-
cidir a quem serviremos.
Mamon não é neutro, pois é um deus rival que exige
devoção. O método atual de evangelizar e depois ensinar
a mordomia não era a estratégia de Jesus. O evangelho do
Reino deve ser mostrado desde o primeiro momento, para
que os ouvintes saibam que o Senhor é o dono de todas as
coisas. Isso implica renunciar aos meus valores, às minhas
relações e ao deus-dinheiro para seguirmos a Jesus, o verda-
deiro Senhor (Lucas 14:33).
Em Lucas 16:9, Jesus fala das riquezas deste mundo
como de origem iníqua, o que significa que elas são injustas
em si mesmas, pois são instrumentos de Mamon. Portanto,
o dinheiro, como potestade, é mau em si mesmo e oposto
a Deus. O dinheiro (Mamon) tem a tendência, invariavel-
mente, de conduzir o homem para longe de Deus.
Mamon, aqui, é a riqueza de toda espécie, aquilo em
que alguém confia, algo que tem um caráter de transmitir
uma falsa segurança. Isso significa que a riqueza é algo em
que não podemos confiar (Mateus 6:24). Mamon é a rique-
za personificada. Se não formos cuidadosos, ele controlará
nossa atenção e afeto.
O dinheiro possui muitas características próprias da
deidade. Ele propõe segurança, paz, tranquilidade, segu-
rança futura, liberdade, poder e sentir-se onipotente. Po-
24 Jamê Nobre
rém, seu maior perigo é a proposta para que sejamos onipo-
tentes. O dinheiro (Mamon) reivindica a lealdade e o amor
que pertencem somente a Deus, e tem o poder de aprisio-
nar-nos se não formos cuidadosos. Somente uma devoção
disciplinada para com Deus pode capacitar-nos a conservar
as riquezas no seu devido lugar (Lucas 12:15).
A Palavra de Deus é clara: “Minha é a prata e meu
é o ouro, diz o senhor dos exércitos (Ageu 2:8). “Riquezas
e glória vêm de Ti, Tu (Senhor) dominas sobre tudo”, orou
Davi (1 Crônicas 29:12). Por esses versículos, vemos que
todo ouro e prata, ou todo dinheiro e riqueza que existem,
estão debaixo do domínio do Senhor; tudo pertence a Ele,
até o dinheiro que está em seu bolso, na sua conta corrente
ou na sua casa.
Você pode perguntar: como pode ser Mamon uma
potestade que tem a tendência de afastar o homem de
Deus? Respondo a isso com outra pergunta: quem criou o
ouro e a prata? Não foi Deus? Pois bem, o dinheiro, como
riqueza, está temporariamente fora do controle absoluto de
Deus porque assim Ele determinou. Contudo, ele pertence
a Deus, pois Ele criou a prata e o ouro, que dão validade ao
dinheiro. A nossa função hoje é redimir o dinheiro para o
reino de Deus para abençoar as pessoas.

b) O Dinheiro pode ser um empecilho


O dinheiro pode atrapalhar o nosso relacionamento
com Deus e com o próximo. O ensino de Jesus, quanto a
esse aspecto, é claro e radical (Lucas 6:24; 12:15; 12:33;
6:30; Mateus 19:24). Nada pode estar entre nós e Deus.
Coisa alguma pode se tornar um obstáculo para que deixe-
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 25
mos de obedecer ao Senhor.
Muitas vezes, o dinheiro, com sua presença ou ausên-
cia, pode determinar se servimos a Deus. Explico: algumas
vezes entendemos em Deus que devemos fazer alguma coi-
sa que Ele deseja que façamos e, para que O obedeçamos,
é necessário que tenhamos algum dinheiro. Então, a pre-
sença do dinheiro é tomada como um sinal de que aquilo
é de Deus.
Outra vez, a ausência do dinheiro é vista como Deus
não querendo que a façamos. Ou seja, gostaríamos de fazer
uma viagem, pois achamos que Deus nos mandou fazê-la,
mas se não temos dinheiro, não tomamos a iniciativa de
começar a fazer os preparativos da viagem, pois não temos
dinheiro para tal.
Falando de outra forma, o dinheiro pode ser o dirigen-
te da nossa vida. Deixamos, assim, de crer que Deus pode
fazer o que fez com Felipe, com Elias. Deixamos de crer
em um Deus onipotente e passamos a achar que o dinheiro
é o todo-poderoso.

c) O dinheiro como incentivo de adoração por meio


de servir
Por outro lado, o dinheiro pode ser usado para intensi-
ficar a nossa adoração a Deus e a nossa relação com o pró-
ximo (Lucas 19:1-10; 6:38; 7:36-50; 8:1ss). A Bíblia fala de
pessoas ricas que andaram com Deus e que foram bênçãos
para o próximo (Gênesis 14:22s). A atitude de Abraão, a de
manter as mãos limpas e de não usar sua posição ou auto-
ridade para explorar alguém, nos informa como devemos
agir (1 Samuel 12:3; Atos 20:33ss).
26 Jamê Nobre
Jesus é a nossa vida (João 14:6), esperança (Salmo
39:7), sabedoria, justiça, santificação e redenção (1 Corín-
tios 1:31). Ele é o nosso TUDO. Ele é o centro das nossas
vidas, e somente dele dependemos. Não admitamos nada
que ofusque essa verdade.

MITOS

Quero ser mais enfático nos conceitos que já foram


transmitidos e, para isso, irei abordar, a seguir, alguns mi-
tos ou ensinamentos que não condizem com a Palavra de
Deus.

a) O dinheiro é neutro
Esse é o mito mais comum, contudo, não é correto
dizer que o dinheiro é neutro, e sim, que seu uso pode ser
bom ou mau. O Senhor dá uma personalidade às riquezas:
Deus chama essa personalidade de Mamon. Já afirmamos
que o dinheiro, como potestade, é essencialmente maligno,
portanto, devemos estar cônscios da sua força sedutora (1
Reis 5:2; Colossenses 5:10).

b) O dinheiro não satisfaz


Essa também não é uma afirmação verdadeira por-
que, de certa maneira, o dinheiro pode satisfazer (Lucas
6:24). No entanto, ele pode satisfazer apenas àqueles que
desejam viver num plano inferior, materialista, em que o
dinheiro representa a felicidade. Faça uma análise e per-
gunte a si mesmo: o que realmente me satisfaz? Desejo algo
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 27
mais que o conforto pessoal?
A Bíblia fala de coisas que o dinheiro não pode com-
prar: paz, tranquilidade, amor e segurança verdadeira.
“Seja a vossa vida sem avareza. Contentai-vos com as
coisas que tendes; porque ele tem dito: ‘De maneira algu-
ma te deixarei, nunca jamais te abandonarei.’ Assim, afir-
memos confiantemente: O Senhor é o meu auxílio, não
temerei; que me poderá fazer o homem”’ (Hebreus 13.5,6).
Diante disso, precisamos saber quais são as nossas
reais necessidades para procurar viver de acordo com os
versos lidos, sem ficarmos ansiosos por aquilo de que não
necessitamos realmente.

A ATITUDE COM RELAÇÃO AO DINHEIRO

Conforme vimos, o dinheiro (Mamon) é uma po-


testade que nos seduz, atrai e que exige de nós devoção
(Eclesiastes 5:10, 1 Pedro 5:4). Por outro lado, servimos ao
Senhor dos senhores, àquele que é dono do ouro e da prata
(Ageu 2:8).
O ponto crucial é estarmos conscientes a respeito de
quem servimos: YAHWEH ou MAMON. Se estamos claros
neste ponto, não só compreendemos que todo ouro e toda
prata pertencem ao Senhor, mas também que dependemos
apenas Dele para suprir as nossas necessidades (Filipenses
4:19).
A Palavra diz em Pv 30:8ss: “Não me dês nem a pobre-
za, nem a riqueza; dá-me o pão que me for necessário, para
não suceder que, estando eu farto, Te negue e diga: Quem é o
28 Jamê Nobre
Senhor? Ou que empobrecido, não venha a furtar e profane o
nome de Deus.” Vemos, aqui, a atitude correta: o autor não
se importa com a riqueza nem com a pobreza; o que ele
mais quer é servir a Deus intensamente.
O apóstolo Paulo afirmou: “Aprendi a viver contente
em toda e qualquer situação” (Filipenses 4:11). A Timóteo,
escreveu: “Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos
contentes” (1 Timóteo 6.8). Esse nível de vida está acima do
comum, em que não são as circunstâncias que determinam
nosso estado de espírito, mas sim, a nossa dependência do
Senhor.
O autor da carta aos hebreus nos recomendou: “Seja
a vossa vida sem avareza. Contentai-vos com as coisas que
tendes, porque Ele (Deus) tem dito: ‘De maneira alguma
te deixarei; nunca, jamais te abandonarei”’ (Hebreus 13:5).
Podemos crer nisso? Sim, porque Deus está conosco, en-
tão, nos contentamos com as coisas que temos. Poderemos
até ter riquezas, mas estamos libertos delas, pois o nosso
coração está no Senhor.

MORDOMIA E ARREPENDIMENTO

Mordomia é um dos assuntos mais fortes das Escritu-


ras, tanto é que Paulo afirmou que “o amor ao dinheiro é
raiz de todos os males” (1 Timóteo 6.10). A Palavra diz que
Jesus veio, viveu nesta Terra, morreu e ressuscitou “para
ser Senhor tanto de mortos como de vivos” (Romanos 14.9).
Por isso, ele empregou toda a sua força e seu poder para se
tornar rei de um povo que tinha voltado as costas para ele.
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 29
Esse é o ensino da Palavra de Deus!
Se analisarmos as guerras na história, veremos que
suas raízes estão na cobiça do coração humano em con-
quistar mais territórios ou riquezas naturais, para manter o
poder de dominar as demais nações. Elas sempre lutam por
mais riquezas, nem tanto por ideologias. A cobiça nunca se
basta: quanto mais o homem tem, mais ele quer.
Quando ouvimos o Evangelho do reino de Deus,
experimentamos algo chamado arrependimento. Isso diz
respeito a um redirecionamento das nossas vidas de forma
completa. No grego, essa palavra é “metanoia”, que signi-
fica uma mudança de mente e de direção. Os conceitos
antigos, aprendidos no decorrer da nossa existência, já não
servem para a vida que temos agora. A diferença entre arre-
pendimento e remorso é que, neste, sentimos tristeza, por-
que fizemos algo errado e perdemos com isso.
O arrependimento se dá quando fazemos algo errado
e dizemos: “Deus foi ferido com isso!” No remorso, eu sou
o centro do sofrimento; no arrependimento, Deus é o cen-
tro do sofrimento. Quando eu me arrependo de algo, dou
meia volta e mudo de direção; deixo de pensar e agir como
antes.
Quando nos convertemos ao Senhor Jesus, entramos
em uma nova nação, e as leis da nação anterior não se apli-
cam ao novo Reino. Saímos do império das trevas e entra-
mos no reino da Luz; as leis antigas, o idioma antigo, os cos-
tumes antigos, a cultura antiga, os pensamentos e conceitos
antigos, tudo isso ficou no passado e tudo se fez novo.
O arrependimento é, portanto, o primeiro passo para
a entrada no novo reino. Ele nos traz a convicção de que
30 Jamê Nobre
mandávamos em nossas vidas, mas agora, nos submetemos
ao rei Jesus. Nascemos de novo, temos um novo Pai e uma
nova família, somos de uma nova nação, temos leis novas,
temos um novo rei.
O reino de Deus traz mudanças de mentalidade e de
comportamento. Os conceitos e objetivos são mudados, e
isso provoca uma mudança de atitude e de ações. Agora,
não tratamos mais as pessoas e a nossa família como antes.
Somos novas criaturas, ou seja, somos parte da nova criação
do Senhor.
Compreendemos também que, agora que somos sú-
ditos, nada nos pertence e devemos prestar contas daquilo
que Deus colocou aos nossos cuidados. Desse modo, uma
das novas coisas que precisamos aprender é a mordomia
sobre o que o Senhor nos tem confiado. Deus é o dono
absoluto de tudo e nos instituiu como mordomos das coisas
que colocou aos nossos cuidados:

“Ao Senhor pertence a terra e tudo o que nela se


contém, o mundo e os que nele habitam” (Salmos
24.1).

Tudo o que temos pertence a Ele, por isso, tudo está


sob a nossa mordomia ou cuidado.

“Servi uns aos outros, cada um conforme o dom


que recebeu, como bons despenseiros da multifor-
me graça de Deus” (1 Pedro 4.10).

Um dom é algo que recebemos de graça, e pode ser:


força, inteligência, criatividade, bondade, bens naturais,
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 31
dons espirituais etc. Assim, temos de administrar “como
bons despenseiros” tudo o que o Senhor nos deu nesta vida,
usando tudo sempre em favor dos outros. Um despenseiro
é um “mordomo”, o principal funcionário de uma casa em
termos de função.
A “multiforme graça” significa que o Senhor nos deu
muitos dons naturais e espirituais, a fim de administrarmos
tudo para a Sua glória e bênção das pessoas. Tudo pertence
ao Senhor, e precisamos aprender a servir uns aos outros
como bons despenseiros. Esses princípios devem ser repe-
tidos diariamente para que sempre nos lembremos de que
nada nos pertence.

RAZÕES BÁSICAS PARA ESTE ENSINO

O intuito de escrever este material foi:


1. Ajudar-nos a servir a Deus, servindo aos irmãos
com as riquezas que o Senhor confiou a nós;
2. Fundamentar-nos nessa doutrina tão importante;
3. Ajudar-nos para que não caiamos em armadilhas;
4. Termos uma visão correta sobre nosso cuidado
com a mordomia das riquezas.
Deus quer preparar para Si um povo santo, zeloso e
de boas obras (Tito 2.14). Nossos bens podem ser um ins-
trumento de serviço aos outros, ou então, um fator de con-
trole e opressão sobre nós. Portanto, a questão não é termos
bens ou não, mas sim, o quanto eles nos têm, o quanto eles
controlam nossas ações, decisões e destino.
Ninguém consegue servir a Deus sem servir aos ir-
32 Jamê Nobre
mãos, pois se não servimos aqueles que vemos, como po-
deremos servir Aquele que não vemos? Foi exatamente isso
que Jesus disse aos seus discípulos:

“... porque tive fome, e destes-me de comer; tive


sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hos-
pedastes-me; estava nu, e vestistes-me; adoeci, e
visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me. [...]
Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um
destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”
(Mateus 25.35,36,40).

Desse modo, não há possibilidade de servirmos a


Deus sem servirmos as pessoas que estão ao nosso lado.

“Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação


e cilada, e em muitas concupiscências insensatas
e perniciosas, as quais afogam os homens na ru-
ína e perdição. Porque o amor ao dinheiro é raiz
de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se des-
viaram da fé e a si mesmos se atormentaram com
muitas dores” (1 Timóteo 6.9,10).

“Deus pode fazer-vos abundar em toda graça, a


fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla sufi-
ciência, superabundeis em toda boa obra...” (2
Coríntios 9.8).

Esses textos nos mostram que não é pecado termos


bens. O pecado está na forma como os administramos. Deus
não quer que vivamos com falta de coisas, pois Seu objetivo
é nos dar mais para que possamos dar mais (“ampla suficiên-
cia”) e, assim, “superabundeis em toda boa obra”. Ele nos
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 33
dá riquezas para servirmos a outros por meio delas. Deus
não quer que sejamos um “mar morto”, cuja característica
é a de receber as águas de outros rios, mas não de desaguar
em lugar algum. Ele quer, sim, que sejamos um ponto de
passagem, e não de parada; quer que sejamos pessoas que
recebem coisas Dele e das pessoas para distribui-las àqueles
que necessitam.
Muitas vezes, o Senhor nos manda que entreguemos
algo valioso a Ele. Quando isso acontece, devemos entregar
logo, porque Ele está querendo abrir espaço em nossas vi-
das para nos dar mais, para que possamos dar mais também.
Ou será que Deus é mesquinho, ou quer nos fazer sofrer,
ou ainda precisa do nosso dinheiro? Com certeza, não! Por
que Ele precisaria de algo que já tem, que já é dEle?

“Eu vos digo ainda: Granjeai amigos por meio


das riquezas da injustiça; para que, quando estas
vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos
eternos. Quem é fiel no pouco, também é fiel no
muito; quem é injusto no pouco, também é injus-
to no muito. Se, pois, nas riquezas injustas não
fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras?”
(Lucas 16.9-11).

Todo dinheiro que chega às nossas mãos tem origem


iníqua, porque foi contaminado; talvez tenha passado por
sonegação ou por rendimento impróprio, ou ainda por con-
centração de renda ou por roubo, etc. O que o Senhor está
dizendo: pegue esse dinheiro e faça amigos por meio dele,
ou seja, aplique-o em pessoas, pois essas riquezas um dia
irão acabar, mas esses amigos lhe receberão no céu. Pedro
34 Jamê Nobre
Arruda, em um de seus livros, diz: “Acumular amigos é me-
lhor do que acumular dinheiro na poupança”. Amigos são
eternos, por isso, use seu dinheiro para fazer amigos, para
abençoar pessoas.

“E o que foi semeado entre os espinhos, este é o


que ouve a palavra; mas os cuidados deste mundo
e a sedução das riquezas sufocam a palavra, e ela
fica infrutífera” (Mateus 13:22).

Sedução ou fascinação é encantamento, deslumbra-


mento, enfeitiçar. As riquezas fazem isto: cativam a nossa
atenção, mente e nosso coração, nos enredam e nos fazem
cair em tentações e ciladas. Também nos tornam infrutí-
feros, pois muitos, devido às preocupações desta vida, não
têm sido bons cristãos – não oram, não evangelizam, não
estudam a Palavra, não abençoam os irmãos – pois sua gran-
de preocupação é ganhar, reter, proteger, acumular.
De novo, quero lembrar-lhe que em nenhuma outra
situação Jesus personalizou algo como o fez com a riqueza,
chamando-a de Mamon (Mateus 6.24). Esta tenta nos ofe-
recer um futuro tranquilo, de descanso e paz. Ele coloca a
riqueza na mesma posição de um senhor, pois ela domina o
coração e afasta a pessoa do Deus verdadeiro. Por isso, deve-
mos transformá-la em uma serva, para que sirvamos bem ao
Senhor. Alguém disse que o dinheiro é um péssimo senhor,
mas um ótimo servo.
Precisamos amar a Deus pelo que Ele é, não pelo que
temos. Se tivermos ou não dinheiro, Ele continua sendo o
nosso Deus. Ele nos vê como Seus filhos e sempre cuidará
de nós. Que possamos nos arrepender do pecado de des-
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 35
confiar desse Deus que não nos negou Seu próprio Filho.

“Então, Jesus, olhando ao redor, disse aos seus


discípulos: ‘Quão dificilmente entrarão no rei-
no de Deus os que têm riquezas!’ Os discípulos
estranharam essas palavras; mas Jesus insistiu
em dizer-lhes: ‘Filhos, quão difícil é para os que
confiam nas riquezas entrar no reino de Deus!’”
(Marcos 10.23,24).

Olhe para dentro de si e pergunte a si mesmo: “Qual


é o meu nível de confiança na riqueza?” Mamon sempre
promete tranquilidade, fartura, bens ... Porém, ele promete
algo que somente Deus pode dar! Quem nos faz viver em
segurança, dormir e acordar tranquilos quanto ao futuro é o
Senhor! Mamon sempre cobra um alto preço para dar algo,
mas Deus nos dá sem pedir nada em troca. Se você puder
deitar na sua cama tranquilamente, sem preocupação com
as coisas materiais, você é uma pessoa rica e livre.
Outra coisa: não tome nenhuma decisão baseado em
dinheiro. Eu viajo há 46 anos e já estive em diversos países,
mas nunca deixei de fazer uma viagem sequer por falta de
dinheiro. Minha esposa, Irani, diz: “Deus não nos dá di-
nheiro; Ele só nos dá o que precisamos”. Ninguém veste,
come ou dorme dinheiro – ele é apenas um meio que Deus
pode usar, ou não, para essas coisas.
Quando eu recebo uma orientação ou direção para
ir a algum lugar, não paro para perguntar se tenho dinhei-
ro para ir, pois ao entender que o Senhor quer que eu vá,
arrumo a minha mala. Meu raciocínio é o seguinte: se eu
trabalhasse em uma grande empresa e alguém lá dentro
36 Jamê Nobre
me dissesse: “Jamê, você precisa ir para tal lugar na semana
que vem”, eu não ficaria preocupado, pensando se a em-
presa iria pagar a minha passagem! Então, por que temos
esse pensamento quando se refere às coisas de Deus? Isso
chega a ser ridículo: confiamos em empresas, mas não no
Senhor! Repito: Deus não precisa das riquezas do mundo
para nos dar o que precisamos! “Ah, então irei para a cama
dormir?” Não! Trabalhe, porque isso é de Deus. No seu tra-
balho você terá inúmeras oportunidades de pregar e viver a
Palavra de Deus, e Ele, sendo muito bom, no final do mês
lhe dará um salário. Nós vivemos nesta Terra por causa do
Senhor, não por causa do dinheiro!
Houve viagens em que não sabia de onde viria o di-
nheiro até uma semana antes de ela acontecer. Certa vez,
íamos viajar e não tínhamos o recurso necessário, mas pre-
paramos as malas. Saímos de uma reunião e, chegando em
casa e abrindo o portão, havia um pacote no chão da gara-
gem. Era uma bolsa com o valor de que precisávamos.
Anos atrás, estava devendo à Irani uma lua-de-mel,
pois estávamos fazendo 45 anos de casados. Coloquei essa
situação diante do Senhor e fui visitar um país vizinho.
Quando estava saindo da casa do irmão, ele me entregou
um envelope e disse: “Isso é para você fazer uma lua-de-mel
com sua esposa”. Aquele valor deu de sobra para eu reali-
zar esse sonho, como também um sonho dela: um tapete
para a sala. O Senhor sempre supriu a nossa casa e nosso
ministério!
O conceito de riqueza é relativo, pois alguém pode
ser rico, mas em comparação com outro, torna-se pobre.
Podemos dizer que rico é aquele que tem mais do que o
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 37
necessário para viver, e pobre é o que está vivendo com
menos do que necessita; está sobrevivendo. A pergunta é:
você tem mais ou tem menos do que necessita para viver?
Se tem mais, você é rico. Se não tem o que comer, beber
e vestir, então você é pobre – e eu acredito que temos mais
do que precisamos, portanto, somos ricos.

“Uns se dizem ricos sem terem nada; outros se di-


zem pobres, sendo muito ricos. Com as suas rique-
zas se resgata o homem, mas ao pobre não ocorre
ameaça” (Provérbios 13.7,8).

Em outras palavras, “ninguém sequestra o pobre”. Só


é sequestrado aquele que tem recursos para ser resgatado.
Esse é o compromisso que Ele tem comigo e com você: o
de nos dar o que precisamos. Portanto, o problema não é
termos riqueza, mas é a riqueza nos possuir, nos dominar!
Muito tempo atrás, descobri que ao chegar determi-
nada época do mês, eu não adorava a Deus como deveria;
nas reuniões o meu louvor era muito fraco. Isso se dava
justamente em finais de meses, quando o dinheiro acabava.
Começava a me preocupar, questionar ao Senhor como eu
faria etc., e minha adoração mudava: virava um lamento
só. Mas, logo que eu recebia o salário, o próximo culto era
maravilhoso. Ou seja, o que estava me dirigindo não era a
gratidão ao Senhor, mas a confiança no dinheiro. Quando
lhe está faltando dinheiro, sua adoração passa a ser lamen-
tação, lamúria, dor? Ora, Deus é Deus – independente-
mente de você ter ou não dinheiro no bolso! Não permita
que o dinheiro dirija seus sentimentos e suas emoções. O
que deve nos dirigir é a nossa confiança em Deus.
38 Jamê Nobre
“Assim como foi nos dias de Noé, será também
nos dias do Filho do Homem: comiam, bebiam,
casavam-se e davam-se em casamento, até ao dia
em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio e des-
truiu a todos. O mesmo aconteceu nos dias de Ló:
comiam, bebiam, compravam, vendiam, planta-
vam e edificavam; mas, no dia em que Ló saiu de
Sodoma, choveu do céu fogo e enxofre e destruiu
a todos” (Lucas 17.26-29).

Às vezes, dizemos que o maior pecado de Sodoma foi


a depravação sexual. Porém, o Senhor disse por meio do
profeta Ezequiel qual foi realmente o pior pecado daquela
cidade:

“Eis que esta foi a iniquidade de Sodoma, tua


irmã: soberba, fartura de pão e próspera tranqui-
lidade teve ela e suas filhas; mas nunca amparou
o pobre e o necessitado” (Ezequiel 16.50).

Todos os outros pecados foram apenas consequên-


cias da fartura tranquila, de se buscar as coisas naturais, de
satisfações pessoais que foram se tornando cada vez mais
insaciáveis. O Senhor está falando de uma cidade que se
preocupou apenas consigo mesma, até chegar onde chegou
e, assim, precisar ser destruída. Sua grande maldade era a
“fartura de pão e próspera tranquilidade”, sem preocupação
com os pobres necessitados.
Muitos, ao se enriquecerem, se tornam soberbos. Ou-
tros, ao perderem a riqueza, se tornam humildes. É por isso
que Paulo diz que “o amor ao dinheiro é a raiz de todos os
males” (1 Timóteo 6.10), pois o envolvimento, o colocar o
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 39
coração na riqueza, fatalmente nos levará a outros pecados
ainda piores. Em Romanos, capítulo 1, Paulo fala da devas-
sidão desse mundo, que chegou nessa situação por “haver
desprezado o conhecimento de Deus” (v.28).

COMPROMISSO COM DEUS X RIQUEZAS

A forma de tratar as riquezas mostra o tipo de com-


promisso que temos com o Senhor, e também determina o
nosso destino. Alguns exemplos:

a) Zaqueu:
“Todos os que viram isto murmuravam, dizendo
que ele se hospedara com um homem pecador. En-
trementes, Zaqueu se levantou e disse ao Senhor:
‘Senhor, resolvo dar aos pobres a metade dos meus
bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado al-
guém, restituo quatro vezes mais.’ Então, Jesus lhe
disse: ‘Hoje, houve salvação nesta casa, pois que
também este é filho de Abraão’” (Lucas 19.7-9).

A conversão de Zaqueu redundou em uma mudan-


ça em sua vida econômica. O reino de Deus afetou suas
finanças. Jesus não o mandou fazer nada, mas Sua simples
presença mudou seu coração.
Jesus disse uma frase emblemática: “Também este é
filho de Abraão”. O que produziu essa semelhança entre
ambos é que a principal característica de Abraão era a doa-
ção. Os filhos de Abraão são todos aqueles que têm um co-
ração doador, independentemente do que Deus lhes peça.
40 Jamê Nobre
Portanto, repito: a maneira de tratar as riquezas determina
o nosso destino!

b) O jovem rico:
“E eis que alguém, aproximando- se, lhe pergun-
tou: ‘Mestre, que farei eu de bom, para alcançar a
vida eterna?’ (estava faltando algo!) Respondeu-
-lhe Jesus: ‘Por que me perguntas acerca do que é
bom? Bom só existe um. Se queres, porém, entrar
na vida, guarda os mandamentos’. E ele lhe per-
guntou: ‘Quais?’ Respondeu Jesus: ‘Não matarás,
não adulterarás, não furtarás, não dirás falso tes-
temunho; honra a teu pai e a tua mãe e amarás
o teu próximo como a ti mesmo’. Replicou-lhe o
jovem: ‘Tudo isso tenho observado; que me falta
ainda?’ Disse-lhe Jesus: ‘Se queres ser perfeito,
vá, vende os teus bens, dá aos pobres e terás um te-
souro no céu; depois, vem e segue-me’. Tendo, po-
rém, o jovem ouvido esta palavra, retirou-se triste,
por ser dono de muitas propriedades’” (Ele era
proprietário ou propriedade?) (Mateus 19.16-22).

A proposta de vida plena, de perfeição que Jesus deu


àquele jovem, estava relacionada à sua capacidade de doa-
ção. Ou seja, uma vida plena está relacionada à generosida-
de, à entrega do que temos àqueles que necessitam. Infeliz-
mente, esse jovem escolheu servir a Mamon e foi embora.

c) Judas:
“Então, Maria, tomando uma libra de bálsamo
de nardo puro1, mui precioso, ungiu os pés de Je-
sus e os enxugou com os seus cabelos; e encheu-se
1. 1 libra de nardo, uma planta indiana, equivale a 340 gramas. Valor aproximado R$ 14.000,00

O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 41


toda a casa com o perfume do bálsamo. Mas Ju-
das Iscariotes, um dos seus discípulos, o que esta-
va para traí-lo, disse: ‘Por que não se vendeu este
perfume por trezentos denários2 e não se deu aos
pobres?’ Isso disse ele, não porque tivesse cuidado
dos pobres; mas porque era ladrão e, tendo a bol-
sa, tirava o que nela se lançava. Jesus, entretanto,
disse: ‘Deixa-a! Que ela guarde isso para o dia em
que me embalsamarem; porque os pobres, sempre
os tendes convosco, mas a mim nem sempre me
tendes’” (João 12.3-8).

Realmente, pela ótica humana aquilo foi um imenso


desperdício. Mas será que existe alguma coisa valiosa de-
mais na nossa vida para que a não entreguemos ao Senhor?
Precisamos aprender a não dar ao Senhor algo que não nos
custe sacrifícios, que não seja valioso para nós. Judas falou
isso “porque era ladrão”, e todas as vezes que administramos
erradamente as riquezas que temos também corremos o ris-
co de sermos chamados de “ladrões” pelo Senhor.

d) Simão, o mágico:
“Vendo, porém, Simão que, pelo fato de imporem
os apóstolos as mãos, era concedido o Espírito
[Santo], ofereceu-lhes dinheiro, propondo: ‘Con-
cedei-me também a mim este poder, para que
aquele sobre quem eu impuser as mãos receba o
Espírito Santo’. Pedro, porém, lhe respondeu: ‘O
teu dinheiro seja contigo para perdição, pois jul-
gaste adquirir, por meio dele, o dom de Deus. Não
2. Trezentos denários. O denário era equivalente a um dia de trabalho. Considerando que em
2019, no Brasil, a renda per capita foi de R$ 1.438,00, ou seja, R$ 47,93 por dia (IBGE), 300
denários equivaleriam hoje a R$ 14.379,00 – Mateus Ortega – “Economia do Reino” – pg. 157

42 Jamê Nobre
tens parte nem sorte neste ministério, porque o teu
coração não é reto diante de Deus. Arrepende-te,
pois, da tua maldade e roga ao Senhor; talvez te
seja perdoado o intento do coração; pois vejo que
estás em fel de amargura e laço de iniquidade”’
(Atos 8.18-23).

Um mágico é alguém que faz as coisas se transforma-


rem, ou parecerem que se transformam, rapidamente, sem
sacrifícios.3 Quando ele viu o que os apóstolos faziam, quis
comprar aquele dom. Muitos querem as coisas de Deus sem
andar pelo caminho exigido por Ele. Do nome Simão surgiu
o termo “simonia”: a compra de coisas espirituais, indulgên-
cias, favores, posições, com o fim de ter poder; por extensão,
é querer progredir na vida espiritual ou religiosa oferecendo
algo em troca: dinheiro, promessa, voto, sacrifício.
Após ser amaldiçoado pelos apóstolos, ao invés de
se arrepender da sua atitude, Simão pediu: “Rogai vós por
mim ao Senhor, para que nada do que dissestes sobrevenha a
mim” (v. 24). Ele não se arrependeu; só estava preocupado
em não ser castigado.

3. Para os olhos não regenerados de Simão, a manifestação de um novo poder nos crentes surgiu
de um “toque mágico”. Se ele tivesse isso em seu repertório, produziria um efeito maravilhoso nas
multidões! De acordo com seus padrões, tudo tinha seu preço, então ele se ofereceu para comprar
o presente! Daí a palavra “simonia” para descrever a compra de cargos eclesiásticos. Como Pedro
viu claramente, esse erro fundamental significava que Simão era totalmente estranho ao estilo de
vida de um nascido de novo. Arrepender-se . . . orar, disse Pedro, mas Simão responde com efeito:
‘ore por mim para que eu seja livre do castigo!’ (22-24), o que mostra que ele ainda pensava em
termos de poderes mágicos e de ‘influência’, não tendo nenhum desejo de aproximar-se de Deus
pessoalmente como um pecador arrependido. Uma seita anticristã chamada Simonianos existiu no
segundo século, mas as tradições que a conectam com este Simão não são confiáveis. (Zondervan
Bible Commentary – Volume 1)

O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 43


Capítulo 3

PRINCÍPIOS QUE DEVEM REGER A


VIDA DE UM DISCÍPULO DE CRISTO

Um princípio é aquilo sobre o que se constrói um


comportamento, se constrói uma vida. Na área das riquezas
existem princípios que devem dirigir a vida de um cristão.

1º PRINCÍPIO: O SENHOR É O DONO DO


OURO E DA PRATA

A função de um mordomo é cuidar dos bens de seu


senhor; ele presta contas a ele. Assim, a consequência dessa
mentalidade é a de que passemos a ser criteriosos na adminis-
tração dos bens que não são nossos. Os dons que temos, na-
turais e espirituais, não nos pertencem, portanto, não temos
liberdade de usá-los de qualquer forma. Tudo é do Senhor,
então temos de obedecer a tudo o que Ele nos mandar fazer
com o dinheiro ou bens que nos concede para os usarmos.
Não podemos utilizar o que está em nossas mãos sem conhe-
cer o pensamento daquele que é o verdadeiro dono de tudo.

“Servi uns aos outros, cada um conforme o dom


que recebeu, como bons despenseiros da multi-
forme graça de Deus” (1 Pedro 4.10 – meu des-
taque).
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 45
“A mordomia é um conceito central na compreensão
de nossa relação com a riqueza”. – O Reino de Ponta Ca-
beça – Donald Kraybill – pág. 1814
Passei minha juventude sem muita responsabilidade
e disciplina financeira. Muitas vezes, recebia, ao final do
mês, apenas os recibos dos vales que eu já havia retirado
ao longo dele. Então, sempre precisava pedir dinheiro em-
prestado a meu pai, inclusive para ir trabalhar. Já Irani, ela
recebia dinheiro de seu pai para ir às aulas e optava por ir
a pé para poder poupar. Eu nunca poupava, pois entendia
que dinheiro foi feito para se gastar. Por exemplo, ela via
um sapato na vitrine e guardava o dinheiro até poder com-
prá-lo à vista.
Nós nos casamos e, tendo essas mentalidades e práti-
cas diferentes, atritos aconteciam entre nós. Eu chegava a
alguma loja e me julgava na liberdade de comprar o que
quisesse. Irani já não sentia essa liberdade, pois cria que o
dinheiro não era dela. Então, ela queria trabalhar para ter
um dinheiro só dela.
Um dia o Senhor me disse: “O dinheiro não é seu,
mas Eu lhe dou para sustentar sua família. Você não tem
liberdade para gastá-lo do jeito que quer!” E falou para ela:
“Pode usá-lo, pois o dinheiro também é seu!” Essa palavra
do Senhor foi uma grande dificuldade para ambos. Hoje,
ela tem seu próprio cartão e o usa da maneira como jul-
4. Em hebraico, mordomo significa “gerente sobre a casa”. Um administrador é um funcionário
que controla uma grande casa para seu mestre. É certamente apropriado para os cristãos usarem o
termo mordomia para descrevermos nossa relação com a propriedade, porque o conceito nos lem-
bra que, de fato, Deus é O dono. Mas, o que queremos dizer com mordomia? E útil distinguir entre
os desejos do proprietário e os desejos do mordomo. Um mordomo é responsável por administrar
a propriedade de acordo com os desejos de seu mestre, não os do mordomo. O reino de Ponta
Cabeça – Donald Kraybill – pág. 181

46 Jamê Nobre
ga que deve ser; tenho 100% de confiança nela. A minha
mentalidade hoje é de que quem deve se preocupar com
o sustento da casa sou eu, e não ela. Essa foi uma grande
vitória em minha vida.
Um irmão nos aconselhou muitos anos atrás. Ele disse
que sua esposa foi a Deus em oração e disse: “Senhor, eu
estou precisando de um par de sapatos!” E Deus lhe res-
pondeu: “Eu não sou seu marido; vá falar com ele. Agora,
se ele não puder comprar, que venha falar comigo!” Então,
ela chegou-se a seu marido e disse: “Deus me falou que é
você quem me deve dar um par de sapatos.”
Assim, a preocupação de quanto tenho no banco, se é
suficiente ou não, é minha. Eu não quero que minha espo-
sa tenha qualquer preocupação nessa área. Se vejo que está
difícil, é minha responsabilidade dizer: “Senhor, mande,
por favor, pois estamos precisando”. Eu não quero que mi-
nha esposa se preocupe com isso.

OS DÍZIMOS

A Palavra fala de, pelo menos, três tipos de entrega:


os dízimos,5 as ofertas alçadas e as ofertas voluntárias. A lei
mosaica não criou o dízimo, mas apenas regulamentou a
5. Os dízimos eram parte integrante do sistema do Antigo Testamento de sacrifícios e ofertas. O
Novo Testamento simplesmente assume o dízimo como um padrão mínimo para dar. A fraqueza
do dízimo como diretriz primária para dar é óbvia. Uma pessoa que ganha R$10.000 por ano dá
R$1.000 e retém R$9.000. Outra pessoa que ganha R$100.000 e dá R$10.000 tem R$90.000 para
uso pessoal. O dízimo, infelizmente, concentra nossa atenção no quanto damos e não no quanto man-
temos. Na forma de ponta cabeça, Deus se importa mais com o que mantemos do que com aquilo que
damos. É menos importante que uma pessoa dê R$1000 enquanto outra dá R$10.000. O que conta
é que uma luta para cobrir as despesas com R$9.000, enquanto outra pode justificar gastar R$90.000
ricamente porque, afinal, “já dei o dízimo” – O reino de Ponta Cabeça – Donald Kraybill – pág. 182

O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 47


aplicação do mesmo, que era para os sacerdotes (o dízimo
dos dízimos que recebiam dos levitas), os levitas, os estran-
geiros (peregrinos), os órfãos e as viúvas (Deuteronômio
14.28,29).6
As ofertas alçadas eram levantadas além do dízimo,
para fins específicos – construção do tabernáculo, constru-
ção do Templo, reforma do Templo no tempo de Josias,
restauração dos muros no tempo de Neemias, oferta para os
levitas etc. As ofertas voluntárias eram aquilo que se dava
voluntariamente, que partiam de uma decisão do coração,
sem um apelo externo, sem necessidades específicas.

“E ainda, porque amo a casa de meu Deus, o ouro


e a prata particulares que tenho dou para a casa
de meu Deus, afora tudo quanto preparei para o
santuário. [...] O povo se alegrou com tudo o que
se fez voluntariamente; porque de coração íntegro
deram eles liberalmente ao SENHOR; também o
rei Davi se alegrou com grande júbilo” (1 Crôni-
cas 29.3,9).

Essas ofertas não eram (e não são) misturadas ou inter-


cambiadas. Quando se entrega uma, não se isenta da outra.
A entrega dos dízimos é baseada neste princípio:
quando o devolvemos estamos declarando que tudo é do
Senhor; então, o que entregamos é uma demonstração de
que compreendemos essa verdade. Por falta de compreen-
são das Escrituras, alguns dizem que não há o princípio dos
dízimos no Novo Testamento. Dizem que o dízimo é da
6. Dt 26:12 “Quando acabares de separar todos os dízimos da tua messe no ano terceiro, que é o
dos dízimos, então, os darás ao levita, ao estrangeiro, ao órfão e à viúva, para que comam dentro
das tuas cidades e se fartem.”

48 Jamê Nobre
Lei, e como agora estamos debaixo da graça não precisaría-
mos devolvê-lo.
A primeira menção sobre o dízimo se deu no encon-
tro de Abrão com Melquisedeque (figura de Cristo), que
aconteceu muito tempo antes da Lei (Gênesis 14.18-20),
e Abrão o entregou como adoração e gratidão. É por isso
que nós, os filhos de Abraão, não devolvemos o dízimo por
obrigação, mas por adoração e gratidão ao Senhor. Não
estamos pagando por algo, mas dizendo: “Senhor, tudo é
teu. Estes 10% são uma demonstração e uma declaração de
que o que ficou no meu bolso pertence a ti!” Ora, será que
Deus ficará mais rico com os nossos 10%? Se não dermos o
céu entrará em crise? Obviamente que não! O dízimo diz
respeito ao nosso coração, e não à quantidade de dinheiro
que damos.
O texto bíblico que relata a oferta da viúva pobre
(Marcos 12.41-44) não diz que Jesus observava quem dava
mais, mas “COMO o povo lançava ali o dinheiro”. É por
isso que podemos afirmar com toda a certeza de que o que
determina o valor do dízimo não é quanto você dá, mas
quanto fica com você. Isso revela uma das características do
discípulo de Cristo, que é a generosidade.

“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque


dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e
tendes negligenciado os preceitos mais importan-
tes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis,
porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas!”
(Mateus 23.23).

No Antigo Testamento, no período da lei, a devolução


O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 49
para o serviço do Templo era de 10%. No Novo Testamento
a devolução a Deus é de 100%. Na igreja dos primeiros
dias “ninguém considerava exclusivamente sua nem uma das
coisas que possuía” (Atos 4.32). Então, se a pessoa quiser
andar na Lei deve dar 10%. Se quiser andar na graça deve
devolver tudo, 100%.
Quando o reino de Deus invade a nossa vida, os nossos
valores mudam de patamar. Começamos a valorizar pessoas,
e não coisas; relacionamentos, e não negociações; a vida com
Deus, e não a busca por coisas naturais. “Minha é a prata, e
meu é o ouro, diz o Senhor dos exércitos” (Ageu 2.8).
Esse mesmo pronome possessivo da parte de Deus é
encontrado na parábola dos talentos:

“E sucedeu que, ao voltar ele, depois de ter toma-


do posse do reino, mandou chamar aqueles servos
a quem entregara o dinheiro, a fim de saber como
cada um havia negociado. [...] por que, pois, não
puseste (ao menos) o meu dinheiro no banco? En-
tão vindo eu, o teria retirado com os juros” (Lucas
19.15,23 – meu grifo).

“... mas o que recebera um foi e cavou na terra


e escondeu o dinheiro do seu senhor. [...] Devias
então entregar o meu dinheiro aos banqueiros e,
vindo eu, tê-lo-ia recebido com juros” (Mateus
25.18,27 – meu grifo).

• Bases Bíblicas
Conquanto pareça que o dízimo seja mais importante
do que as ofertas, ele é bem menos citado na Bíblia. De-
volver o dízimo é uma questão de obediência a uma ordem
50 Jamê Nobre
que não deve ser discutida: é um tributo (Levítico 27:30;
Deuteronômio 14:28; Malaquias 3:10).
O dízimo, embora alguns ensinem o contrário, é
atual; é para os nossos dias. O Senhor Jesus, em Mateus
23:23, nos diz que além de praticarmos a justiça, a miseri-
córdia e a fé, devemos devolver os dízimos.
O capítulo todo de Números 18, especialmente os
versículos 8, 26, 28 e 34, nos mostram que o dízimo e a sua
aplicação têm caráter permanente e regulamenta a prática
iniciada por Abraão.
A Palavra nos diz que os dízimos têm uma finalida-
de específica: foram dados por herança aos levitas e para
serem empregados em pessoas, tais como: estrangeiros,
órfãos, viúvas, etc. (Deuteronômio 26:12; Números 18:21;
Neemias 10:38; 1 Coríntios 9:13). Mais adiante trataremos
desse ponto. Levítico 27:30-33 nos diz que o dízimo é santo,
e em Malaquias lemos que Deus zela por seus dízimos.
Contra aqueles que argumentam que o dízimo era
uma exigência da Lei, a Bíblia é clara: Abraão deu o dízimo
de tudo a Melquisedeque (Gênesis 14:20; Hebreus 7:1-4),
mais de quatrocentos anos antes da Lei, e o Senhor Jesus,
no versículo acima, ao declarar que devemos devolver o dí-
zimo, manteve em vigor essa prática.

• Significado
Se afirmamos que todo o dinheiro (ouro e prata) per-
tencem ao Senhor, por que devemos devolver o dízimo? A
resposta é simples: tudo o que temos pertence ao Senhor.
Deus precisa do nosso dinheiro? De modo algum. Todavia,
Ele determinou que para nos abençoar financeiramente,
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 51
primeiro teremos de mostrar o nosso desprendimento com
relação ao dinheiro, devolvendo a Ele 10% do que Ele nos
tem dado.
Ainda resta um porquê. Quando devolvemos o dízimo
estamos afirmando que reconhecemos que 100% é Dele e,
por causa disso, devolvemos a Ele 10%.
O significado mais profundo do dízimo é: Deus é o
Senhor das minhas finanças. Não só dos 10%, mas dos
100%. Devemos enfatizar que Deus não está interessado
em nosso dinheiro; o que Ele quer é nossas vidas. O que
Ele exige é que O sirvamos e que não coloquemos nossos
corações nas riquezas, mas sim, totalmente Nele.
Resta-nos perguntar: de quem é o dízimo? Malaquias
3:8ss nos diz que os dízimos pertencem ao Senhor, portan-
to, não os estamos dando a pessoas, mas ao Senhor. Preci-
samos distinguir este princípio: devolvemos ao Senhor, não
a homens. Dessa forma, fica claro que aqueles que traba-
lham no ministério e vivem do ministério não têm víncu-
los diretos conosco por causa de nossos dízimos. O vínculo
que temos é por causa das nossas vidas que foram renovadas
pelo Senhor e foram colocadas em um só corpo. Falando
de outra maneira, o nosso vínculo é com o Senhor Jesus.
Da mesma forma, nada podemos exigir daqueles que vivem
dos dízimos, porque damos a Deus.

• Promessas e bênçãos
A Palavra, em Romanos, nos diz que se as primícias
forem santas, a totalidade também o será (11:16). Este prin-
cípio está claro em Provérbios 3:9ss: ao devolvermos o dízi-
mo, estamos honrando a Deus e, automaticamente, santi-
52 Jamê Nobre
ficando toda a nossa renda. E mais: Malaquias nos diz que
devemos provar o Senhor nos dízimos, pois Ele nos abrirá
as janelas dos céus e derramará as bênçãos sem medida
(3:8-11). Positivamente, Deus nos dará bens e repreenderá
o devorador de nossas finanças. Essas são algumas das bên-
çãos e promessas contidas na Palavra do Senhor, as quais
naturalmente desfrutaremos se formos fiéis.
Tudo o que falamos nesse tópico não é mera teoria,
mas algo muito prático. De fato, existe uma maneira ob-
jetiva de vivermos como descrevemos e de vencermos as
potestades que estão por trás do dinheiro e das riquezas.
A Palavra de Deus fala de duas práticas, as quais são sinais
concretos que mostram as nossas convicções e a nossa fé:
OS DÍZIMOS E AS OFERTAS.

OFERTAS

Ofertar é dar. Na Bíblia, seu conceito está ligado à


ideia de sacrifício. É dar algo que nos custe; algo que nos
seja valoroso (2 Samuel 24:24)
É não comparecer diante de Deus com mãos vazias.
Não podemos chegar diante e Deus com o nosso coração
vazio de adoração.

• Tipos de Ofertas
Encontramos na Bíblia vários tipos de ofertas, as quais
mencionarei abaixo. Contudo, as que permanecem até
hoje são as alçadas e voluntárias. As demais deixaram de
existir quando, na cruz, o Senhor Jesus se ofereceu a Deus
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 53
como propiciação por nós. As ofertas mencionadas na Bí-
blia, mas não mais praticadas nos nossos dias, são:
» Queimada (Lv 1:3-7; Sl 66:15);
» Pelo pecado (Lv 4:3-35; 6:26; 7:1);
» Pacífica (Lv 3:1-17; 7:11);
» Movida (Ex 29:26; Lv 2:7-30);
» De manjares (Lv 2:7,30);
» De libação (Gn 3:13; Ex 29:40; Nm 15:5);
» De ação de graça (Lv 7:12; 22:29; Sl 50:14);
» De incenso (Ex 30:8; Ne 1:11; Lc 1:9);
» Dos primeiros frutos (Lv 22:9; Dt 18:4);
» Pelo ciúme (Nm 5:15);
» Pessoal para redenção (Ex 30:13ss).
Não era qualquer um que podia ofertar, e também não
era permitido qualquer tipo de oferta. Somente o sacerdote
ofertava, e por meio dele era concedido o perdão para o povo.
Há muito o que falar sobre ofertas no ANTIGO TESTAMEN-
TO, mas creio que é mais oportuno estudarmos os tipos de
ofertas que a Palavra de Deus nos reservou para os nossos dias.

• Oferta Voluntária
O próprio nome já diz: é aquela que oferecemos ao
Senhor, ou ao necessitado, como ao Senhor, espontanea-
mente, por livre vontade. Exemplos no Velho Testamento
(Deuteronômio 12:6; 16-10; 2 Crônicas 31:14; Esdras 1:4;
3:5; 7:16; 8:18; Salmos 119:108).
A que mais nos chama atenção, quando se trata de
oferta voluntária, é aquela que vemos no Novo Testamento
como consequência da obra do Espírito Santo no coração
do homem.
54 Jamê Nobre
Em Atos 2:32-37, vemos o exemplo claro de ofer-
tas voluntárias, dedicadas às necessidades específicas dos
membros do Corpo. E podemos ver, no caso de Ananias e
Safira (Atos 5:1-11), como o Senhor leva a sério o tanto de
coração que colocamos nas riquezas (Lucas 21:1-4). Vere-
mos adiante os princípios bíblicos que regem o dar.

• Oferta Alçada
É aquela que é levantada com uma finalidade
específica. Vemos essa oferta principalmente no Antigo Tes-
tamento, especialmente por ocasião da construção do Tem-
plo (1 Crônicas 29). No Novo Testamento, a oferta alçada é
levantada para atender aos necessitados (Romanos 16:1ss; 1
Coríntios 16:1-4; 1 Timóteo 5:16; Atos 2:29; Filipenses 4:16).
Resta-nos destacar que o que distingue a oferta alçada da
voluntária é que a primeira possui uma finalidade específica, já
determinada, e a segunda não. Contudo, segundo a Palavra do
Senhor, todas devem nascer de um coração voluntário, mesmo
a alçada. Ofertar é uma obra de Deus na vida dos homens.

• Princípios que regem as ofertas


A Palavra do Senhor nos fornece princípios que dizem
respeito a ofertas, especialmente na 2ª carta aos Coríntios,
capítulos 8 e 9. Citaremos abaixo alguns versos de outros li-
vros da Bíblia, e depois nos deteremos na carta aos Coríntios.
» Mt 6:3 - Dar com discrição
» Mt 10:8; Lc 6:38; 12:33 - Dar livremente
» Rm 12:8 - Dar com liberalidade.
» Deus nos quer em primeiro lugar, e não os nossos
bens. Devemos nos ofertar ao Senhor (8:5).
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 55
» Dar é uma graça, um favor, ou seja, Deus nos deu
esta graça, este dom (8:17). Poderíamos não ter a
oportunidade de dar, e isso não seria bom para nós.
» Devemos dar com generosidade (8:2). O dar não
está relacionado com a quantidade de bens que
possuímos. Os macedônios eram profundamente
pobres, porém, foram profundamente generosos.
» Devemos ser voluntariosos (v. 4), dar de boa vontade.
» A nossa oferta deve ser expressão do nosso amor (v. 24).
» O nosso dar deve ser proporcional (vs. 12-15) ao
que temos recebido de Deus.
» Dar é um privilégio (v. 4), portanto, devemos dar
com alegria (9:7).
» A oferta glorifica a Deus (9:13).

• A Lei da Semeadura
“E isto afirmo: aquele que semeia pouco, pouco
também ceifará; e o que semeia com fatura, com
abundância também ceifará” (2 Coríntios 9:6).

Aí está a lei da semeadura. No versículo 10, a Palavra


de Deus nos diz que Ele nos dá semente e pão. A semente
nos é dada para semearmos, o pão para nosso alimento, sus-
tento e bem-estar. Pois bem, nosso dinheiro tem estas duas
finalidades: semear e sustentar. E o versículo 6 diz: “quem
semeia pouco, pouco colherá; quem semeia com fartura, com
abundância ceifará.”
O versículo 7 nos diz que devemos contribuir segundo o
nosso coração. Trata-se de uma obra do Espírito Santo em nós.
No versículo 8, vemos a aplicação mais ampla dessa
lei: Deus promete que o que dá terá sempre, em tudo, am-
56 Jamê Nobre
pla suficiência e superabundância em toda obra. O princí-
pio é claro: quanto mais dermos, mais receberemos, mais
daremos e mais receberemos.
A segunda parte do verso 10 diz que Deus aumenta-
rá nossa semente e multiplicará os frutos da nossa justiça,
enriquecendo-nos.

Cuidar dos pobres é um critério de Juízo

Mt 25:31-40 “Quando vier o Filho do Homem na


sua majestade e todos os anjos com ele, então, se
assentará no trono da sua glória; e todas as na-
ções serão reunidas em sua presença, e ele separará
uns dos outros, como o pastor separa dos cabritos
as ovelhas; e porá as ovelhas à sua direita, mas os
cabritos, à esquerda; então, dirá o Rei aos que es-
tiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai!
Entrai na posse do reino que vos está preparado
desde a fundação do mundo. Porque tive fome, e
me destes de comer; tive sede, e me destes de beber;
era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e me
vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-
-me. Então, perguntarão os justos: Senhor, quando
foi que te vimos com fome e te demos de comer? Ou
com sede e te demos de beber? E quando te vimos
forasteiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos? E
quando te vimos enfermo ou preso e te fomos visi-
tar? O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos
afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus
pequeninos irmãos, a mim o fizestes.”

É um sinal de que o Reino de Deus é chegado

Mt 11:5 “E Jesus, respondendo, disse-lhes: Ide e


anunciai a João o que estais ouvindo e vendo: 5 os
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 57
cegos veem, os coxos andam, os leprosos são puri-
ficados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscita-
dos, e aos pobres está sendo pregado o evangelho.”

Lucas 4:18 “O Espírito do Senhor está sobre


mim, pelo que me ungiu para evangelizar os po-
bres; enviou-me para proclamar libertação aos ca-
tivos e restauração da vista aos cegos, para pôr em
liberdade os oprimido.”,

Lucas 19:8 “Entrementes, Zaqueu se levantou e


disse ao Senhor: Senhor, resolvo dar aos pobres a
metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho
defraudado alguém, restituo quatro vezes mais. 9
Então, Jesus lhe disse: Hoje, houve salvação nesta
casa, pois que também este é filho de Abraão.”

É uma medida de plenitude, de perfeição

Mateus 19:21 “Disse-lhe Jesus: Se queres ser per-


feito, vai, vende os teus bens, dá aos pobres e terás
um tesouro no céu; depois, vem e segue-me.”

Romanos 2:6 “que retribuirá a cada um segundo


o seu procedimento: 7 a vida eterna aos que, per-
severando em fazer o bem, procuram glória, hon-
ra e incorruptibilidade”

Romanos 12:17 “Não torneis a ninguém mal por


mal; esforçai-vos por fazer o bem perante todos os
homens;”

Efésios 2:10 “Pois somos feitura dele, criados em


Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de
antemão preparou para que andássemos nelas.”

58 Jamê Nobre
2º PRINCÍPIO: DEUS É O NOSSO PAI E SABE
DO QUE NECESSITAMOS

É a paternidade de Deus que O leva a cuidar de cada


um de nós, com maior cuidado do que o faz em relação aos
pardais: Ele não nos negou Seu próprio Filho, então, não
nos negará nada de que tivermos necessidade.

“Qual dentre vós é o pai que, se o filho lhe pedir


pão, lhe dará uma pedra? Ou se pedir um peixe,
lhe dará em lugar de peixe uma cobra? Ou, se
lhe pedir um ovo lhe dará um escorpião?” (Lucas
11.11,12).

“Por isso vos digo: não estejais ansiosos quanto à


vossa vida, pelo que haveis de comer, ou pelo que
haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo
que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o
alimento e o corpo mais do que o vestuário? Olhai
para as aves do céu, que não semeiam, não ceifam
nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as ali-
menta. Não valeis vós muito mais do que elas? (pois
a todas estas coisas os gentios procuram). Porque
vosso Pai celestial7 sabe que precisais de tudo isso.
Mas buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e
todas estas coisas (demais coisas) vos serão acrescen-
tadas. Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã,
porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta
a cada dia o seu mal” (Mateus 6.25-34).

Deus sabe tudo o que precisamos. Quando lemos em


Deuteronômio 29:5: “Quarenta anos vos fiz andar pelo de-
7. A expressão na oração do Pai nosso “que está no céu” fala de posição, e não de distância

O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 59


serto; não se envelheceu sobre vós a vossa roupa nem o sapato
no vosso pé”, isso revela o caráter supridor do nosso Pai. Ele
conhece até a espessura da sola do nosso sapato! Ele é Pai
e se preocupa com as mínimas coisas de nossas vidas! Por
isso, Jesus diz que não devemos nos inquietar nem viver an-
siosos com as coisas, mas sim, deixar que Deus cuide delas.
Jesus emprega dois exemplos para nos ensinar essa ver-
dade: os pardais (aves do céu) e os lírios do campo. Quanto
vale um pardal? Nada, não tem valor comercial. Mas eu
lhe pergunto: quantos deles você já viu cair na terra porque
morreu de fome? Jesus não morreu por pardais. Então, será
que Deus, que não negou o Seu próprio Filho (Romanos
8.32), irá nos negar roupa e comida? Desconfiar de Deus é
ofender a Ele, pois valemos muito mais do que pardais. De-
pois, Jesus fala sobre os lírios do campo, que de manhã são
bonitos, mas à tarde secam e são jogados no fogo. E diz que
nem Salomão, em toda sua glória, se vestiu como a eles.
A lição é: Deus sabe de tudo e sua promessa é a de
suprir as nossas necessidades. Você sabe disso? Sabe, po-
rém, com a cabeça ou com o coração? Saber só com a
cabeça não nos traz benefício algum, mas saber com o co-
ração nos faz viver uma vida de paz, descanso e confiança
no Senhor.

“Não andeis ansiosos por coisa alguma; em tudo,


porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vos-
sas petições pela oração e pela súplica, com ações
de graças. E a paz de Deus, que excede todo o
entendimento, guardará o vosso coração e a vossa
mente em Cristo Jesus” (Filipenses 4.6,7).

60 Jamê Nobre
“Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão
de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos
exalte, lançando sobre ele toda a vossa ansiedade,
porque ele tem cuidado de vós” (1 Pedro 5.6,7).

A orientação do Senhor é de que não estejamos ansiosos.


Ansiedade é o desejo e a tentativa frustrada de alguém
tentar saber de tudo, controlar tudo e a todos. Ela é a causa
de muitas enfermidades e doenças modernas, e só pode ser
enfrentada com a consciência da paternidade de Deus, afi-
nal, somente os que não têm pai se preocupam com a falta
de coisas. Deus é o nosso PAI, e o Espírito Santo nos leva a
dizer ABA, PAI.

“Porque não recebestes o espírito de escravidão,


para viverdes, outra vez, atemorizados, mas re-
cebestes o espírito de adoção, baseados no qual
clamamos Aba, Pai. O próprio Espírito testifica
com o nosso espírito que somos filhos de Deus”
(Romanos 8.15,16).

Se não há convicção em nosso coração de que Deus é


o nosso Pai, estaremos sujeitos a duas pressões: a pressão do
passado, que irá nos trazer culpa, e a pressão do futuro, que
irá nos trazer ansiedade. Mas quem de nós pode controlar
o passado e o futuro? Aliás, de forma prática, o único mo-
mento que realmente existe é o presente, e somente nele
devemos viver.
Preocupar-se é se ocupar antes da hora; é trabalhar
duas vezes, no mínimo. Preocupar-se é cansar duas vezes;
é ficar pensando em tudo o que precisa ser feito, ou seja,
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 61
é fazer o mesmo trabalho duas vezes. Como dizia Arthur,
meu pai na fé: “Não passe na ponte antes de chegar nela”.
Nós não conseguiremos mudar nada por meio da nossa an-
siedade.
A única ansiedade saudável é para termos comunhão
com Deus e com os irmãos. Davi, Jesus e muitos outros
tiveram essa ansiedade: “Tenho desejado ansiosamente co-
mer convosco esta Páscoa, antes do meu sofrimento” (Lucas
22.15). “Como a corça anseia por águas correntes, a minha
alma anseia por ti, ó Deus” (Salmos 42.1).
Preocupação é falta de fé, e isso ofende o Senhor; ao
contrário, a fé colocada Nele O glorifica. Uma situação
pode estar muito ruim, mas o nosso Pai é bom e cuida de
nós. Elias experimentou isso:

“Veio-lhe a palavra do Senhor, dizendo: ‘Retira-te


daqui; irás para o lado oriental e esconder-te-ás
junto à torrente de Querite, fronteira com o Jor-
dão. Beberás da torrente; e ordenei aos corvos que
ali mesmo te sustentem’. Foi, pois, e fez segundo
a palavra do Senhor; retirou-se e habitou junto
à torrente de Querite, fronteira com o Jordão. Os
corvos lhe traziam pela manhã pão e carne, como
também pão e carne ao anoitecer; e bebia da tor-
rente”’ (1 Reis 17.2-6).

Os corvos são aves carnívoras, e o mais sensato, segun-


do a nossa lógica, seria Deus usar pombos para levar carne
ao profeta. Porém, isso apenas provou que é Ele quem con-
trola todas as coisas!

62 Jamê Nobre
3º PRINCÍPIO: DEUS CONHECE A NOSSA
VIDA INFINITAMENTE MAIS DO QUE NÓS
MESMOS A CONHECEMOS.

“Porque os gentios é que procuram todas essas coi-


sas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de
todas elas” (Mateus 6.32).

ELE SABE! Ele é soberano, onisciente e onipresente.


Não tem necessidade de que ninguém lhe informe sobre o que
precisamos. Deus tem um compromisso conosco de suprir todas
as nossas necessidades, e não as nossas vaidades. Quando você
fizer uma oração e Deus não lhe responder, ou então lhe disser
“não”, alegre-se, pois isso significa proteção! O “sim” de Deus
pode ser uma concessão por estarmos insistindo muito, mas o
“não” é sempre um sinal de proteção. Mas Ele sempre cuida de
nós, seja quando Ele disser “sim” ou quando disser “não”, pois
sabe tudo do que precisamos. Às vezes, lhe pedimos algo e Ele
diz: “Eu não vou lhe dar, porque isso não será bom para você”.
Ele conhece nosso passado, presente e futuro!
O Senhor sabe das nossas necessidades, e irá cuidar
de cada uma delas.

“... nem de alforje para o caminho, nem de duas


túnicas, nem de alparca, nem de bordão; porque
digno é o trabalhador do seu alimento” (Ma-
teus 10.10 – meu destaque).

“Ficai nessa casa, comendo e bebendo do que eles


tiverem; pois digno é o trabalhador do seu sa-
lário. Não andeis de casa em casa” (Lucas 10.7
– meu destaque).
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 63
“Porque diz a Escritura: ‘Não atarás a boca ao
boi quando debulha’. E: ‘Digno é o trabalhador
do seu salário”’ (1 Timóteo 5.18 – meu destaque).

4º PRINCÍPIO: DEVEMOS BUSCAR O REINO


DE DEUS E A SUA JUSTIÇA

Nossa vida deve estar envolvida com a vontade de


Deus para nós, e por isso fazemos duas perguntas: 1) Por
que nascemos? 2) Por que existimos como família?
Nós existimos para estabelecermos o reino de Deus
na face da Terra. Portanto, nossa vida econômica deve girar
em torno do Reino de Deus e da Sua Justiça.
Precisamos trabalhar para que a vontade de Deus se
cumpra. Mas, qual é essa vontade? Há quatro coisas que
Deus quer:

a. Que haja fé na Terra

“Contudo, quando vier o Filho do Homem, acha-


rá, porventura, fé na Terra?” (Lucas 18.8).

Deus deseja encontrar a Sua Igreja cheia de fé Nele.


Se quisermos buscar o Reino de Deus e a Sua justiça, pre-
cisaremos orar para que Ele sempre nos encha de fé para
que proclamemos essa fé ao mundo. Essa é a nossa respon-
sabilidade!

64 Jamê Nobre
b. Que tenhamos uma vida santa, separada para o
Senhor

“Segui a paz com todos e a santificação, sem a


qual ninguém verá o Senhor” (Hebreus 12.14).

Santificação fala de dedicação, consagração e de vida


separada daquilo que é mundano, mas é, principalmente,
uma vida junto à Dele. Quanto mais junto ao Senhor an-
darmos, mais longe do pecado ficaremos.

c. Que cuidemos dos nossos irmãos

“Bem-aventurado aquele que for encontrado ali-


mentando seus irmãos” (Mateus 24.46).

Deus quer que cuidemos de pessoas, pois somos “guar-


dadores” dos nossos irmãos. Infelizmente, fomos acostuma-
dos a ser servidos e cuidados, em vez de servir e cuidar de
outros. A decisão de fazer isso é nossa, mas a capacitação é
do Senhor.

d. Que trabalhemos para que ninguém se perca

“E a vontade de quem me enviou é esta: que ne-


nhum eu perca de todos os que me deu” (João
6.39).

“... o qual deseja que todos os homens sejam sal-


vos e cheguem ao pleno conhecimento da verda-
de” (1 Timóteo 2.4).
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 65
Se buscarmos a vontade do Senhor, esses quatro pon-
tos a revelarão. Esse é o nosso trabalho até o nosso último
dia na Terra. Devemos granjear amigos aqui para levá-los ao
reino de Deus (Lucas 16:9).

66 Jamê Nobre
Capítulo 4

AS BASES DA NOSSA
CONTRIBUIÇÃO

TRÊS FUNDAMENTOS PARA A NOSSA CON-


TRIBUIÇÃO:

1. Generosidade – 2 Coríntios 9:7,8 (liberalidade e


desprendimento - Romanos 12:8; 2 Coríntios 9:13);
2. Proporcionalidade – 2 Coríntios 8:11,12; 1 Pedro 4:10;
3. Regularidade – 1 Coríntios 16:2.

1. GENEROSIDADE, LIBERALIDADE

Ser generoso é suprir necessidades, cuidar de pessoas,


mesmo que isso nos custe algum sacrifício. A nossa genero-
sidade não pode se limitar a alguns momentos emocionais,
mas deve ser uma atitude constante do coração; não somen-
te quando somos provocados ou convocados a contribuir,
mas como uma forma de viver, um estilo de vida. Ou seja,
o nosso coração deve ser generoso, pois o Espírito generoso
de Deus vive dentro de nós. Então, que aprendamos a ser
generosos em casa com a família, com a igreja, no trabalho,
no trânsito, na escola, e em todos os lugares.
Em seu livro “O Reino de Ponta Cabeça”, Donald
Kraybill diz que o generoso é aquele que, ao contratar al-
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 67
guém para fazer um serviço, e ao constatar que o serviço
foi bem-feito, tal pessoa não dá somente o que o contratado
pediu, mas dá um pouco mais. É aquele que quando é bem
servido em um restaurante dá uma boa gorjeta. Ou será
que não é assim que Deus nos trata? Alguma vez você pe-
diu algo ao Senhor e Ele lhe deu menos do que você pediu?

“Assentado diante do gazofilácio, observava Jesus


como o povo lançava ali o dinheiro. Ora, muitos
ricos depositavam grandes quantias. Vindo, po-
rém, uma viúva pobre, depositou duas pequenas
moedas correspondentes a um quadrante. E, cha-
mando os seus discípulos, disse-lhes: ‘Em verdade
vos digo que esta viúva pobre depositou no gazo-
filácio mais do que o fizeram todos os ofertantes.
Porque todos eles ofertaram do que lhes sobrava;
ela, porém, da sua pobreza deu tudo quanto pos-
suía, todo o seu sustento”’ (Lucas 12.41-44).

Jesus não observava “quanto”, mas “como” o povo ofer-


tava. Em seguida, ele chamou a atenção dos discípulos para a
atitude da viúva – e esse é o padrão de uma pessoa generosa.

“Um dá liberalmente, e se torna mais rico; outro


retém mais do que é justo, e se empobrece” (Pro-
vérbios 11.24).

“E isto afirmo: aquele que semeia pouco, pouco


também ceifará; e o que semeia com fartura com
abundância também ceifará. Cada um contribua
segundo tiver proposto no coração, não com tristeza
ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá
com alegria. Deus pode fazer-vos abundar em toda
68 Jamê Nobre
graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla
suficiência, superabundeis em toda boa obra, como
está escrito: ‘Distribuiu, deu aos pobres, a sua jus-
tiça permanece para sempre”’ (2 Coríntios 9.6-9).

“Cada um contribua segundo propôs no seu coração”.


A fonte da oferta não está na cabeça, mas no coração.
Na cabeça dizemos: “Não posso dar porque irá me
faltar”; mas o coração irá dizer que a causa é justa, que a
oferta deve ser feita. O coração é a sede da compaixão. A
nossa relação com Deus é de coração para coração, e com
os irmãos deve ser da mesma forma.
“Não com tristeza ou por necessidade (constrangimen-
to)”. A oferta verdadeira sempre dói no órgão mais sensível
do ser humano: o bolso! O que o homem sente provoca
mudança de comportamento.
Também não podemos ofertar só porque existe alguma
necessidade. Alguns dão, inclusive, pensando em sua própria
necessidade: “Se eu der, Deus me dará mais!” Nós não damos
porque Deus nos dará de volta, mas sim, porque Ele é genero-
so e nós, como filhos amados, devemos imitá-Lo. Jesus disse:

“Quando deres um jantar ou uma ceia, não con-


vides os teus amigos, nem teus irmãos, nem teus
parentes, nem vizinhos ricos; para não suceder
que eles, por sua vez, te convidem e sejas recom-
pensado” (Lucas 14:12).

Muitas vezes, damos algo a alguém apenas para re-


ceber de volta. Assim, nossas relações acabam se tornando
muito utilitaristas.
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 69
“... porque Deus ama ao que dá com alegria”. Essa é
uma alegria no coração e não na cabeça, porque esta nunca
irá se alegrar quando estivermos dando – ela sempre irá ra-
cionalizar, dizendo que irá fazer falta depois, que a pessoa,
realmente, não precisa e que cada um deve cuidar de si etc.

“E Deus é poderoso para fazer abundar em vós


toda a graça, a fim de que tendo sempre, em tudo,
toda a suficiência, abundeis em toda a boa obra”
(2 Coríntios 9:8 – meu grifo).

Deus tem prazer em nos fazer ter ampla suficiência,


em termos tudo de que necessitamos. Mas não se trata so-
mente de termos para nós mesmos, mas sim, para repartir-
mos com outros. Este é o padrão de Deus: que tenhamos
para nós e também para ajudar aos demais. Mas, se formos
mesquinhos, como Ele poderá fazer com que abundemos
em toda a graça e com toda a suficiência?
Alguns irmãos passam por situações difíceis, porque
não são generosos, pois “o que semeia pouco, pouco tam-
bém ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância
ceifará” (v. 6). Eu não estou dizendo que o Reino de Deus
é um “toma-lá-dá-cá”, pois damos independentemente da
possibilidade de Deus nos devolver ou não; aliás, uma pes-
soa generosa não espera retorno nem resultado do que dá.
Porém, a verdade é que Deus recompensa.

“Ora, quanto à coleta que se faz para os santos,


fazei vós também o mesmo que ordenei às igrejas
da Galácia. No primeiro dia da semana cada um
de vós ponha de parte o que puder ajuntar, con-
70 Jamê Nobre
forme a sua prosperidade, para que não se façam
as coletas quando eu chegar” (1 Coríntios 16:1,2).

O assunto central da carta aos Coríntios é a unidade


da igreja. Aqueles irmãos eram muito trabalhosos e Paulo
lhes escreveu também para ensiná-los a ser dadivosos. Eles
deveriam levantar uma oferta para os irmãos em Jerusalém,
e Paulo os orientou a começar a separar antecipadamente,
ainda em suas casas. Ou seja, devemos começar a cultivar
esse ambiente de oferta dentro das nossas casas. Essa é uma
decisão ou mentalidade de culto criada, primeiramente,
em família.
Jesus não tem necessidades, mas os irmãos ao nosso
lado têm. Em Mateus 25, Jesus nos ensina sobre saciar a
fome, a sede e a nudez das pessoas, a visitar os enfermos e os
presos, e conclui dizendo: “Em verdade vos digo que quan-
do o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o
fizestes” (v.40). Assim, devemos nos acostumar a criar um
espírito de oferta e de culto, primeiramente, em nossas ca-
sas. Isso cria em nós generosidade e regularidade em dar.
Durante um tempo, Irani e eu, quando íamos às reu-
niões, levávamos um “presentinho para Jesus” – uma ca-
neta, um pano de prato, um bolo etc. Mas para quem o
dávamos? Para os irmãos! Um detalhe: não dê para aqueles
que possam lhe devolver, mas para aqueles que não têm
condições de lhe recompensar.
Jesus disse: “Quando deres um jantar, ou uma ceia,
não chames os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os teus
parentes, nem vizinhos ricos, para que não suceda que tam-
bém eles te tornem a convidar, e te seja isso recompensado”
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 71
(Lucas 14:12). No Reino de Deus, presenteamos, oferta-
mos, suprimos aqueles que não têm condições de nos de-
volver. Então, essa cultura ou estilo de vida começa em
casa, ou seja, a família se acostumando a guardar para, de-
pois, ofertar.
“Jesus corta a norma da reciprocidade: ‘Que mérito
vocês terão se amarem aos que os amam? Até os ‘pecadores’
amam aos que os amam... E que mérito terão, se empresta-
rem a pessoas de quem esperam devolução? Até os ‘pecado-
res’ emprestam a ‘pecadores’, esperando receber devolução
integral” ... Os gentios educadamente obedecem a essas
regras de etiqueta social. Não é grande coisa se você sim-
plesmente jogar pelas regras de reciprocidade. Isso não é o
amor do reino”’ (Lc. 6: 32-34) (Donald Kraybill – “O Reino
de Ponta Cabeça” – Páginas 257, 258).
“... para que não se façam as coletas quando eu chegar”,
ou seja, quando Paulo chegar, que já esteja tudo preparado.
Antigamente, nas casas de algumas pessoas, encontrávamos
vidros cheios de moedas, que eram juntadas para serem
ofertadas para Missões. Esse é um costume que precisamos
voltar a praticar, isto é, ensinar os nossos filhos a serem da-
divosos, a trocar um sorvete ou um lanche por uma oferta
para alguém ou para algum lugar que necessita.

“E andai em amor, como também Cristo vos


amou, e se entregou a si mesmo por nós, em oferta
e sacrifício a Deus, em cheiro suave” (Efésios 5:2).

Paulo está dizendo que do mesmo modo que a oferta


de Cristo ao Pai foi um aroma e sacrifício suave, entregan-
do-se por nós, assim também deve ser entre nós. Quando
72 Jamê Nobre
nós NOS ofertamos, isso sobe diante de Deus como um
incenso agradável a Ele. Então, quando lhe for dada a opor-
tunidade de ofertar, entenda que você está cultuando ao
Senhor e que a sua oferta está subindo diante Dele como
cheiro suave.

“E eu vos digo: ‘Granjeai amigos com as riquezas


da injustiça; para que, quando estas vos faltarem,
vos recebam eles nos tabernáculos eternos. Quem
é fiel no mínimo, também é fiel no muito; quem
é injusto no mínimo, também é injusto no muito.
Pois, se nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem
vos confiará as verdadeiras?”’ (Lucas 16:9-11).

Todo dinheiro que chega às nossas mãos, de alguma


forma é de origem injusta – pode ter passado por sonegação,
“lavagem” etc. Então, precisa ser purificado. Quando você
receber seu salário, santifique-o em oração. Não se trata de
“entregá-lo ao Senhor”, mas de dedicá-lo a Ele porque já é
Dele. Ora, se não é seu, você terá mais cuidado ao gastar.
Jesus diz para usarmos essas riquezas para conquistar-
mos amigos e os levarmos para o reino dos céus. Há uma
simples razão para isso: estamos chegando ao final dos tem-
pos, e tudo que existe será destruído, queimado pelo fogo.
Sabendo que algo irá queimar, você colocaria dinheiro nis-
so? Não, pois é uma questão de bom senso. Então, se tudo
irá acabar, não coloque seu dinheiro nas coisas desse mun-
do. Invista apenas o necessário para sobreviver enquanto
está aqui e tenha uma visão ampla – aplique nas coisas eter-
nas. Quando as riquezas acabarem, esses amigos nos rece-
berão nos tabernáculos eternos.
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 73
“Lança o teu pão sobre as águas, porque depois
de muitos dias o acharás. Reparte com sete, e ain-
da até com oito, porque não sabes que mal haverá
sobre a terra” (Eclesiastes 11:1,2).

Quando você oferta, quando é generoso, está prati-


cando um ato de fé. Quando lançamos um pão na água,
ele se dissolve, mas o texto diz que depois de muitos dias
o acharemos. E continua nos aconselhando que o repar-
tamos com outros, “porque não sabes que mal haverá so-
bre a terra”. Ora, se não sabemos o que acontecerá no dia
de amanhã, o mundo ensina que devemos guardar, reter,
poupar, aplicar o que temos, mas o texto aconselha que o
repartamos com sete ou oito pessoas.

“Estando as nuvens cheias, derramam a chuva so-


bre a terra, e caindo a árvore para o sul, ou para
o norte, no lugar em que a árvore cair, ali ficará.
Quem observa o vento nunca semeará, e o que olha
para as nuvens nunca segará” (Eclesiastes 11:3,4).

A chuva é formada pelos processos de evaporação, con-


densação e, depois, precipitação – as nuvens só devolvem
o que receberam. Se você quer chuva, então deve fazer
evaporar coisas até o alto. O texto também ensina que não
devemos semear com o objetivo de colher ou receber, pois
a chuva virá. Então semeie, mas sem criar uma expectativa
de que terá de volta. Entretanto, se você semear, certamen-
te a resposta da sua semeadura voltará.

Assim como tu não sabes qual o caminho do ven-


to, nem como se formam os ossos no ventre da mu-
74 Jamê Nobre
lher grávida, assim também não sabes as obras de
Deus, que faz todas as coisas. Pela manhã semeia
a tua semente, e à tarde não retires a tua mão,
porque tu não sabes qual prosperará, se esta,
se aquela, ou se ambas serão igualmente boas”
(Eclesiastes 11:5,6).

Semear pela manhã e à tarde – esse é um caminho


de fé e de previdência. Se você sabe que esta Terra será
destruída, investirá o mínimo possível aqui e o máximo pos-
sível no que permanecerá eternamente, isto é, no Reino
de Deus. Isso não é religiosidade, mas bom senso. Alguns
irmãos dizem: “Eu não tenho, por isso não estou ofertando
e dizimando”. Mas a pergunta é: eu não dou porque não
tenho ou não tenho porque não dou? A Bíblia ensina que
quanto mais dermos, mais teremos. Dar é um passo de fé.
Ofertar ou dizimar é uma associação que fazemos com
aqueles que repartem conosco bens espirituais, que cuidam
de nós, que são separados pelo Senhor para o ministério:

“Ora, muito me regozijo no Senhor por terdes fi-


nalmente renovado o vosso cuidado para comigo;
do qual na verdade andáveis lembrados, mas vos
faltava oportunidade” (Filipenses 4:10).

A igreja de Filipos tinha cuidado por seus pastores e,


nesse caso, em especial por Paulo; e não só uma, mas diver-
sas vezes supriram o que o apóstolo necessitava.

“Não digo isso por causa de necessidade, porque já


aprendi a contentar-me com as circunstâncias em
que me encontre. Sei passar falta, e sei também ter
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 75
abundância; em toda maneira e em todas as coisas
estou experimentado, tanto em ter fartura, como em
passar fome; tanto em ter abundância, como em pa-
decer necessidade. Posso todas as coisas naquele que
me fortalece. Todavia fizestes bem em tomar parte
na minha aflição” (vs. 11-14 – meu grifo).

Paulo deixa muito claro que a sua alegria não se dava


por ele ter recebido uma oferta, mas pelo fato de os irmãos
terem aberto seus corações para isso. E, no verso 14, ele diz
que eles fizeram bem em “se associarem” em sua dificulda-
de. Associar é comprar ação, ou seja, aqueles irmãos com-
praram ações nas tribulações de Paulo. No mínimo, foi um
investimento de alto risco, pois Paulo não tinha segurança
alguma – sempre perseguido, jurado de morte, doente –
mas aqueles irmãos decidiram investir em sua vida.

“Também vós sabeis, ó filipenses que, no princípio


do evangelho, quando parti da Macedônia, ne-
nhuma igreja se associou comigo no sentido de dar
e de receber, senão vós somente; porque estando eu
ainda em Tessalônica, não uma só vez, mas duas,
mandastes suprir-me as necessidades” (vs. 15,16).

Então, existe uma associação entre um pastor e sua


ovelha: um entrega bens espirituais e outro entrega bens
materiais, e isso é feito na base do amor, e não da obrigação.
Quando nós, pastores, ministramos, não o fazemos visando
o que iremos receber de salário, mas sim, porque temos um
vínculo com Deus, amamos ao Senhor e queremos ser fiéis
ao ministério. Não tem a ver com salário, mas com o nosso
compromisso com o Senhor. Assim, quando você entrega
76 Jamê Nobre
dízimos e ofertas, está comprando ações na vida de seus
pastores. Qual o resultado disso?
“Não que procure dádivas, mas procuro o fruto que au-
mente o vosso crédito” (v. 17). Esse crédito é diante de Deus.
Paulo diz que não estava alegre apenas por ter recebido a
oferta, mas porque o crédito daqueles irmãos estava aumen-
tando diante de Deus.

“Mas tenho tudo; tenho-o até em abundância;


cheio estou, depois que recebi de Epafrodito o que
da vossa parte me foi enviado, como cheiro suave,
como sacrifício aceitável e aprazível a Deus. Meu
Deus suprirá cada uma das vossas necessidades
segundo as suas riquezas na glória em Cristo Je-
sus (vs. 18,19).

Ele começou falando de investimento, depois de asso-


ciação, de crédito e agora de rendimento. Como se calcula
o rendimento de uma aplicação? Valor aplicado X taxa X
tempo. Paulo fala sobre o valor (o investimento ou oferta), o
tempo (várias vezes) e o fator usado na multiplicação: a ri-
queza na glória de Deus. Deus não se importa com o quan-
to você dá, mas com o seu coração, se é generoso ou não,
e Ele promete que lhe devolverá segundo Sua riqueza na
glória. Quanto é isso? Incalculável. E Ele também diz que
suprirá “cada uma” das suas necessidades. Então, invista!
Paulo diz: “Se nós vos semeamos as coisas espirituais,
será muito recolhermos de vós bens materiais?” (1 Coríntios
8:11). É justo que aqueles que compartilham bens espiri-
tuais recebam bens materiais – não como pagamento, mas
como gratidão – porque tanto aqueles que entregam seus
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 77
dízimos e ofertas quanto aqueles que ministram a Palavra
têm um compromisso com Deus. Esse compromisso não é
simplesmente entre nós, mas com Deus como Aquele que
administra essa nossa relação. E nosso compromisso sem-
pre deve ser com Deus e com a Sua Palavra!
Outra palavra usada na Bíblia é “liberalidade”:

“... tendo, porém, diferentes dons, segundo a gra-


ça que nos foi dada: se profecia, seja segundo a
proporção da fé; se ministério, dediquemo-nos ao
ministério; ou o que ensina esmere-se no fazê-lo;
ou o que exorta faça-o com dedicação; o que con-
tribui, com liberalidade; o que preside, com di-
ligência; quem exerce misericórdia, com alegria”
(Romanos 12:6-8 – meu grifo).

Paulo está falando dos dons que nos foram concedidos


pelo Espírito Santo e, dentre eles, cita o de “contribuir com
liberalidade”.
É característica do homem e da mulher que têm o
Espírito servir, contribuir ou ofertar com liberalidade.
Quando Deus lhe pedir algo, entregue, pois Ele não precisa
de nada que temos em nossas mãos. Primeiro, porque tudo
é Dele; segundo, porque Seu coração é liberal e sempre
quer nos dar mais. Mas Ele decidiu não nos dar mais se nos-
sas mãos estiverem cheias de coisas que nos impedem de
receber mais. Então, quando Deus nos pedir algo, abramos
nossas mãos, porque Ele quer nos conceder mais coisas.
Há uma lei muito interessante no Reino de Deus:
“Deem, e lhes será dado: uma boa medida, calcada, sacu-
dida e transbordante será dada a vocês” (Lucas 6:38). A lei
78 Jamê Nobre
humana diz: “Não dê, para não faltar”. Mas o Senhor diz
justamente o contrário: “Quanto mais eu der, mais o Se-
nhor me dará”. No entanto, não devemos dar na esperança
de receber. Mesmo porque, no tocante a dar, ninguém ven-
ce a Deus, pois Ele é liberal e generoso! E a maior prova
disso é que Ele entregou o Seu único Filho por nós. Ora, se
Ele não negou o Seu único Filho, irá negar pão ou roupa?
Às vezes, temos uma relação mesquinha com Deus, pois
achamos que Ele irá falhar. Mas isso nunca irá acontecer!
Não devemos olhar para Deus como se Ele fosse um
“fundo de investimento”: “Se eu der mil, Ele me dará dez
mil”. Não podemos dar ao Senhor esperando que, com isso,
Ele assuma um compromisso de nos dar ou devolver, pois
o próprio Deus nos dá sem esperança de receber retorno!
Quando Jesus veio à esta Terra, Ele não o fez como
um “plano de emergência”; desde antes da criação de qual-
quer coisa, material ou imaterial, Deus já tinha oferecido
o Cordeiro para que Ele morresse por Seus inimigos. Nin-
guém tem maior amor que esse! Assim, não peque pensan-
do que Deus irá falhar com você. Ele pode não dar tudo
o que pedimos – talvez por causa da nossa vaidade, talvez
por não ser uma necessidade, ou ainda porque Ele sabe
que tal coisa irá nos prejudicar; então Ele não dá. Se o seu
filho lhe pedir algo que você sabe que irá machucá-lo, você
lhe daria? Seu filho até poderia dizer: “O meu pai não me
ama” – mas sabemos que isso não é verdade.
A posição de Deus (“que está no céu”) permite que
Ele veja as coisas de forma diferente de como as vemos.
Ele vê o passado, o presente e o futuro. Além disso, Ele vê
o “profundo e o escondido” (Daniel 2:22) e sabe tudo o que
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 79
irá acontecer em nossas vidas se conceder o que insisten-
temente pedimos. Alguém disse: “Infeliz é o homem que
recebe de Deus tudo o que pede”, porque “não sabemos
orar como convém” (Romanos 8:26). Então, quando orar-
mos a Deus, devemos ter em mente que Ele pode mu-
dar as nossas orações. Digamos, pois: “SE FOR DA TUA
VONTADE”. E se Ele não der, alegremo-nos, porque
muitas vezes o “SIM” de Deus é uma concessão (pedimos
tanto, que Ele concede), mas o Seu “NÃO” sempre será
uma proteção.
Existe um texto no Antigo Testamento que muitas ve-
zes nos intriga, isto é, o referente às ofertas que Caim e Abel
trouxeram ao Senhor:

“Aconteceu que no fim de uns tempos trouxe Caim


do fruto da terra uma oferta ao Senhor. Abel, por
sua vez, trouxe das primícias do seu rebanho e da
gordura desse. Agradou-se o Senhor de Abel e de
sua oferta; ao passo que de Caim e de sua oferta
não Se agradou” (Gênesis 4:3-5a).

Caim ofereceu do que era comum; Abel ofereceu


o melhor que tinha. O que aconteceu em seguida, o pri-
meiro homicídio na face da Terra, se deu por causa de
um culto. Caim ofereceu um culto que não agradou o
coração de Deus, ao passo que Abel ofereceu um culto
que agradou ao coração do Senhor. Deus não aceita um
culto cuja motivação seja diferente daquilo que O mo-
veu. Ele não apenas nos ofereceu o Seu “melhor”, Seu
próprio filho, mas sim, o Seu “único” filho – esse é o
padrão de Deus.
80 Jamê Nobre
Servimos a um Deus generoso! Todos, com certeza,
recebemos de Deus muito mais do que necessitamos para
viver. Olhe para tudo o que você tem e cultue ao Senhor
por isso, pois Ele lhe tem dado em abundância. Deus é um
Pai sábio. Assim como você não coloca valores nas mãos de
seus filhos se eles não os souberem usar, da mesma forma
se dá com o Senhor. Alguns recebem um salário baixo e pe-
cam com esse pouco; se recebessem mais, pecariam mais.
Então, Deus evita que sejamos perdulários e, para isso, não
nos dá mais dinheiro. É assim que fazemos com nossos fi-
lhos: “Você gastou errado; assim, vou diminuir sua mesada
até que aprenda”. Então, quando você estiver pedindo in-
sistentemente algo e Deus não der, pergunte-Lhe o motivo
e Ele, se quiser, irá lhe explicar.
Precisamos aprender a ser dadivosos. Quando retemos
algo, esse algo irá nos faltar. O Senhor Jesus não veio “em
parte” à Terra; ele veio completo. Deus entregou TUDO o
que tinha para nós. Ele é generoso, por isso, todos os que
têm o Seu Espírito Santo também são potencialmente ge-
nerosos. Assim, nunca seja mesquinho e nunca desconfie
de Deus, pois Ele não lhe deixará faltar amanhã se você der
hoje.
Não guarde o maná para o dia seguinte, pois ele apo-
drece e Deus quer que confiemos Nele a cada dia – “O pão
nosso de cada dia nos dá hoje” (Mateus 6:11).
É interessante que a próxima frase seja: “E perdoa-
-nos as nossas dívidas” (v.12). Jesus junta o pedido de
provisão ao pedido de perdão, pois uma das ofensas que
cometemos contra o Senhor é a desconfiança de que Ele
não irá nos suprir. Mas Deus nunca falhou e nunca fa-
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 81
lhará conosco. É certo que às vezes Ele não dá o que
pedimos, mas isso é justamente para a nossa proteção e
livramento. Um Deus que sustenta os lírios do campo e
os pardais com certeza também sustentará Seus filhos.
“Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves?”
(Mateus 6:26). Nós não deveríamos ter essa dúvida em
nossa cabeça, pois diz a Palavra:

“Aquele que não poupou o seu próprio Filho, an-


tes, por todos nós o entregou, porventura não nos
dará graciosamente com ele todas as coisas?” (Ro-
manos 8:32).

Generosidade deve ser uma atitude de mente e de co-


ração, um ato de fé. O convite do Senhor em Eclesiastes
11:1 parece uma loucura, pensando-se no mundo de hoje.
A verdade é que temos muito mais do que necessitamos, e a
promessa de Deus é de que Ele nunca irá nos desamparar.
Portanto, não blasfeme contra o Senhor, duvidando dessa
promessa. Se Ele não nos negou Seu único Filho, certa-
mente nos dará muito mais do que precisamos.

2. PROPORCIONALIDADE

Isso significa que temos de abençoar na mesma me-


dida com que somos abençoados, ofertar segundo o que
temos recebido de Deus. Você tem recebido muito ou pou-
co de Deus? Quem recebe muito dá muito, quem recebe
pouco dá pouco, mas tudo deve ser proporcional ao que
Ele nos tem dado.
82 Jamê Nobre
“Completai, agora, a obra começada, para que,
assim como revelastes prontidão no querer, assim
a leveis a termo, segundo as vossas posses. Porque,
se há boa vontade, será aceita conforme o que o
homem tem e não segundo o que ele não tem.
Porque não é para que os outros tenham alívio,
e vós, sobrecarga; mas para que haja igualdade,
suprindo a vossa abundância, no presente, a fal-
ta daqueles, de modo que a abundância daqueles
venha a suprir a vossa falta, e, assim, haja igual-
dade, como está escrito: ‘O que muito colheu não
teve demais; e o que pouco, não teve falta”’ (2 Co-
ríntios 8:11-15).

Paulo estava falando a um povo que queria ofertar.


Entregamos a Deus com boa vontade segundo o que te-
mos, e isso é aceito diante Dele. Assim, a oferta deve ser
feita com alegria, não com tristeza, deve ser feita de boa
vontade e como produto do coração.

“Os discípulos, cada um conforme as suas posses,


resolveram enviar socorro aos irmãos que mora-
vam na Judeia;” (Atos 11.29).

“No primeiro dia da semana, cada um de vós po-


nha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua
prosperidade” (1 Coríntios 16.2).

Ora, se o que tem muito dá conforme sua prosperi-


dade, e o que tem pouco dá conforme sua pobreza, ha-
verá equidade na igreja pois todos iremos dar proporcio-
nalmente.

O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 83


3. REGULARIDADE

O Senhor cuida de nós com regularidade. A cada dia


nos alimenta, a cada manhã faz vir sobre nós as Suas mi-
sericórdias. Da mesma forma, devemos contribuir e ajudar
aqueles que necessitam de nós com regularidade. Ora, se
sou generoso, também sou regular em minhas ofertas. Isso
não pode ser algo esporádico, mas uma característica de
vida do discípulo de Cristo. Ele é sempre bom.

“Quanto à coleta para os santos, fazei vós tam-


bém como ordenei às igrejas da Galácia. No pri-
meiro dia da semana, cada um de vós ponha
de parte, em casa, conforme a sua prosperida-
de, e vá juntando, para que se não façam coletas
quando eu for. E, quando tiver chegado, enviarei,
com cartas, para levarem as vossas dádivas a Jeru-
salém para aqueles que aprovardes” (1 Coríntios
16-13 – meu destaque).

O texto nos dá uma ideia de algo regular: “no primeiro


dia da semana”. Também diz, “vá juntando”.
Assim como Deus nos supre com regularidade, pre-
cisamos suprir as necessidades dos que ajudamos também
com regularidade. Deus cuida das aves todos os dias. Veste
os lírios do campo todos os dias. Manifesta sua misericórdia
a cada manhã. Sua fidelidade está sobre nós a cada dia. As
pessoas precisam vestir e comer todos os dias.
Então, o suprimento aos que necessitam deve ser feito
de forma regular, até que não se precise mais por eles terem
encontrado uma forma de se manterem.
84 Jamê Nobre
A questão do homem não é o de possuir coisas, mas a
de quando as coisas o possuem.
Em Efésios 4:28, Paulo diz: “Aquele que furtava, não
furte mais; antes trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom,
para que tenha o que repartir com o que tem necessidade”.
Devemos trabalhar, sim, mas não apenas para o nosso pró-
prio benefício, mas sim, para ajudar as pessoas necessitadas.
Não é para guardar ou acumular, não é para a nossa glória
e conforto. Jesus chama as pessoas que acumulam de “lou-
cas, insensatas”. Ou seja, os acumuladores são repreendidos
pelo Senhor:

“Propôs-lhes, então, uma parábola, dizendo: ‘O


campo de um homem rico produzira com abun-
dância; e ele arrazoava consigo, dizendo: ‘Que fa-
rei? Pois não tenho onde recolher os meus frutos’.
Disse então: ‘Farei isto: derribarei os meus celeiros
e edificarei outros maiores, e ali recolherei todos os
meus cereais e os meus bens; e direi à minha alma:
Alma, tens em depósito muitos bens para muitos
anos; descansa, come, bebe, regala-te’. Mas Deus
lhe disse: ‘Insensato, esta noite te pedirão a tua
alma; e o que tens preparado, para quem será?’
Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não
é rico para com Deus”’ (Lucas 12:16-21).

O texto diz “para quem será”. Você está trabalhando


para ajudar “a quem”? Então, o que temos não é para nós,
mas para servir aos outros.
“Então, considerei outra vaidade debaixo do sol, isto
é, um homem sem ninguém, não tem filho nem irmã; con-
tudo, não cessa de trabalhar, e seus olhos não se fartam de
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 85
riquezas; e não diz: Para quem trabalho eu se nego à minha
alma os bens da vida? Também isso é vaidade e enfadonho
trabalho” (Eclesiastes 4.7,8).
Os verdadeiros “bens da vida” são a generosidade,
bondade, misericórdia, o cuidado, a amizade, o compa-
nheirismo, as afeições e a vida de comunhão. A riqueza não
deve parar em minhas mãos, mas deve suprir as pessoas.
Quando Deus coloca muitas riquezas em minha mão, Ele
quer que eu seja fiel, justo e honesto para ajudar a quem
não as tem. É assim que Ele trabalha.

“E disse ao povo: Acautelai-vos e guardai-vos de


toda espécie de cobiça; porque a vida do homem
não consiste na abundância das coisas que pos-
sui” (Lucas 12.15).

“Porque a ninguém tenho de igual sentimento


que, sinceramente, cuide dos vossos interesses;
pois todos eles buscam o que é seu próprio, não o
que é de Cristo Jesus” (Filipenses 2.20,21).

Buscar o interesse dos irmãos é buscar aquilo que é de


Cristo. Cuidar dos pequeninos irmãos de Jesus é cuidar do
próprio Jesus.

• O Culto
A compreensão correta do que é mordomia irá nos
levar a entender o sentido do verdadeiro culto, isto é, quan-
do percebermos que o centro do culto é a oferta. Não é o
momento em que se coloca o dinheiro no lugar propício
durante a reunião, mas quando alcançamos o entendimen-
86 Jamê Nobre
to de que o culto diz respeito a entregarmos a nós mesmos
ao Senhor e, junto com isso, nossas riquezas.
Um culto, segundo a Palavra de Deus, é o momento
em que trazemos o nosso sacrifício ao Senhor. Um culto
não começa na hora da reunião. Ele acontece em cada ati-
tude de abnegação, quando renuncio ao que quero e me
devoto àquilo que Deus quer. Doar é um culto suave ao
Senhor, que redunda em bênçãos para nós. Um culto é a
oportunidade de entregar e de oferecer, ainda que alguns
vão às reuniões com o desejo ou expectativa de receber al-
guma coisa.
A pergunta de Isaque a seu pai quando foi convidado
para um culto revela essa verdade: “Eis aqui o fogo e a le-
nha, mas onde está o cordeiro para o holocausto?” (Gênesis
22:7). Para ele era inconcebível a ideia de um culto sem
oferta. Isaque não sabia que ele mesmo seria a oferta daque-
le culto. Naquele momento, o Senhor estava estabelecendo
o tipo de relacionamento que Ele queria ter com o homem:
o de entrega! E Ele cumpriu Sua parte – enviou Seu único
Filho – e espera que tenhamos esse mesmo padrão, isto é,
de oferecer o melhor ou tudo o que temos.
Um culto é um lugar de entrega, de sacrifícios. Hoje
em dia, nos desviamos de tal maneira desse conceito que, o
culto, para nós, é um lugar de receber. Quando ele não nos
agrada, dizemos: “Não gostei do culto hoje”. Mas a única
pessoa que tem de gostar de um culto é Deus, pois os cultos
são para Ele. É por isso que ofertamos ao Senhor, olhando
para os olhos Dele, para ver se Ele está gostando ou não.
E, se não estiver gostando, mudamos tudo, porque Ele é o
centro da nossa adoração, devoção e oferta.
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 87
Os primeiros objetos de um culto no Antigo Testa-
mento foram um cordeiro e uma pedra; mais tarde, veio
o altar. Dessa forma, um culto é uma vítima e uma pedra!
Nossos cultos hoje são muito sofisticados, por isso, precisa-
mos torná-lo simples novamente. Um culto é uma questão
de coração – ele começa logo cedo, quando nos levanta-
mos pela manhã. Ali oferecemos a nossa vida como um
sacrifício suave e agradável ao Senhor.

“Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de


Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício
vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto
racional” (Romanos 12.1).

Paulo diz que a entrega de meu corpo a Deus se torna


um culto racional, um sacrifício agradável ao Senhor.

“Mas tenho tudo; tenho-o até em abundância;


cheio estou depois que recebi de Epafrodito o que
da vossa parte me foi enviado como cheiro suave,
como sacrifício aceitável e aprazível a Deus” (Fi-
lipenses 4.18).

Foi assim que Paulo recebeu a oferta dos filipenses:


“como cheiro suave, como sacrifício aceitável e aprazível a
Deus”. Doar é um culto suave ao Senhor, que redunda em
glória para o nosso Pai. Nossas ofertas, feitas dessa forma,
sempre sobem como cheiro suave e agradável ao Senhor.

88 Jamê Nobre
Capítulo 5

SERVIÇO SOCIAL E SUSTENTO


DOS OBREIROS E MISSÕES

Paulo diz que o amor ao dinheiro é raiz de todos os


males8. Diz que aqueles que quiseram se enriquecer caíram
em laços e ciladas. A vontade de Deus é que nós tenhamos
o necessário para viver, e que estejamos tranquilos e con-
fiantes nele para o nosso sustento.9
A igreja, durante muitos anos, tem se envolvido com
as riquezas deste mundo, de forma que o Reino de Deus
não tem sido estabelecido como deveria, pois, se em alguns
grupos a grande quantidade de riquezas tem ocupado o
tempo e coração de seus líderes, em outros grupos a falta de
dinheiro tem gerado uma intranquilidade suficiente para
levar seus obreiros a se envolverem no serviço para seu sus-
tento, não dando assistência, assim, à igreja. Esta, por sua
vez, sem cuidado, se torna fraca e contribui fracamente,
fazendo com que um círculo vicioso se torne permanen-
te: um obreiro intranquilo não oferece boa assistência, um
povo mal assistido contribui mal!
A Igreja Católica, na Idade Média, chegou a concor-
rer com as maiores fortunas da época. Possuía riquezas de
tal magnitude que dominava a vida de reis e imperadores.
Essas riquezas eram adquiridas de diversas formas: vendas
8. 1 Timóteo 6.10
9. Mateus 6:33

O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 89


de indulgências, conquistas dos cruzados, posse das terras
de pessoas amaldiçoadas por ela (isso era mais comum do
que se pensa), etc.
As grandes catedrais, construídas a partir do século XI,
vieram de uma crença que situava a presença de Deus nos
edifícios: Deus estava nos grandes templos, e quem ajudas-
se a construí-los adquiriria certos créditos diante Dele, pois
estavam construindo “a casa de Deus”. Os sacerdotes con-
seguiram se fazer os representantes de Deus na Terra, e isso
se deu com uma força tal que chegaram a ter poder de vida
e morte sobre as pessoas. A separação do clero e leigos foi
acentuada de forma muito profunda.
Nessa época, alguns homens foram levantados pelo
Senhor para desfazer essa visão errônea, mostrando que não
havia tal separação entre classes: a igreja toda era sacerdo-
tal. Homens como os valdenses, João Wycliff, os “Irmãos”,
Bernardo de Claraval, Domingos e Francisco de Assis vie-
ram para mostrar outro tipo de vida mais simples, de cui-
dado com outros, e até chegaram a cair em extremos para
contrastar com a posição da Igreja Oficial. R. H. Nichols
diz:
“Em virtude destes dois fatores, excesso de autoridade
e riquezas, o egoísmo dominou a vida da maioria do clero.
Extremaram-se os clérigos no zelo e guarda de seus privilé-
gios legais e sociais. Fizeram do dinheiro seu grande objetivo.
Muitos deles se tornaram “pluralistas”, isto é, exerciam dois
ou mais ofícios eclesiásticos e aumentavam, assim, suas ren-
das, muitas vezes alugando substitutos, aos quais pagavam
mal, para fazerem o trabalho que eles próprios não conse-
90 Jamê Nobre
guiam fazer. Por meio da simonia10, que crescera muito ape-
sar da luta de alguns reformadores desse tempo, eram obtidos
lugares importantes e rendosos. Sinecuras11 eram objeto de
especulação entre eles. A avareza era muito pior no alto cle-
ro. A cobiça, a extorsão e a violência dos bispos eram escân-
dalo notório.”12
Quando os reformadores se levantaram, algumas
aberrações foram combatidas, como a venda de indulgên-
cias (Lutero), as grandes riquezas (Pedro Valdo), o poderio
(Francisco de Assis), o envolvimento com o mundo (Ber-
nardo de Claraval), o distanciamento do povo nos cultos
(João Wycliff). Eles pregavam uma vida mais simples, a
salvação pela fé em Jesus, sobre trazer a Bíblia para o povo
etc., mas o que precisamos entender é que essas reformas
somente abriram o caminho para uma restauração maior,
que o Senhor já vinha operando na vida do homem desde
a vinda de Jesus e a descida do Espírito Santo.
Nos nossos dias, essa restauração deve se aprofundar,
pois a herança que recebemos de nossos pais desceu muito
fundo em nossos hábitos religiosos e em nossa formação.
A área de finanças da Igreja foi tocada em sua superfície
somente, assim como outras áreas, tais como: a forma de
culto, a adoração individual, o cuidado das ovelhas, o disci-
pulado etc. O Senhor quer nos levar para seus padrões, para
uma restauração de todas as coisas faladas pela boca de seus
santos profetas.13
A Bíblia fala de quatro aplicações principais dos dízi-
10. Venda de coisas espirituais
11. Posições rendosas sem trabalho
12. “História da Igreja Cristã” - Casa Publicadora Presbiteriana - Pág. 128
13. Atos 3:19-21

O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 91


mos e ofertas em Deuteronômio 26:12-14: levitas, peregri-
nos, órfãos e viúvas. Procuraremos, nessa ordem, estudar o
que a Palavra diz com o fim de colocar em prática aquilo
que diz respeito a nós.
Antes de entrar propriamente no assunto do sustento,
aqui está uma advertência contra a ganância:

“Os seus atalaias são cegos, nada sabem; todos


são cães mudos, não podem ladrar; sonhadores
preguiçosos, gostam de dormir. Tais cães são gulo-
sos, nunca se fartam; são pastores que nada com-
preendem e todos se tornam para o seu caminho,
cada um para sua ganância, todos, sem exceção”
(Isaías 56.10,11).

O QUE A BÍBLIA FALA SOBRE O SUSTENTO


DE OBREIROS?

Ofertar e entregar os dízimos é uma associação (com-


prar ações) com aqueles que repartem conosco os bens
espirituais, com os que são separados para o ministério. A
entrega dos dízimos não é para uma instituição, mas para
pessoas!
A igreja do Novo Testamento é mostrada no Velho
Testamento na figura do Tabernáculo e, depois, na figura do
Templo. Estevão se referiu ao povo no deserto como “con-
gregação” (εκκλεσια) em Atos 7:38. Os serviços prestados
no Tabernáculo e no Templo tinham uma conotação
temporária e apontavam para o serviço definitivo: eram
figuras do sacerdócio perfeito do Senhor Jesus, do minis-
92 Jamê Nobre
tério dos santos da Igreja aos povos da Terra e a Deus, e
apontavam também para os que prestam serviço ao povo14
de Deus hoje.
A Igreja já estava prefigurada no deserto, mesmo sem
estar organizada como a conhecemos agora: um organismo
espiritual sem vínculo a uma terra natural específica, como
Israel é vinculado. A Igreja é o povo chamado do mundo
para Deus. Os ministérios dentro dela têm semelhança com
os serviços prestados no Tabernáculo e no Templo, com a
diferença de que os serviços nesses lugares eram limitados
ao tempo e espaço, e os serviços na Igreja têm caráter mais
profundo com alcance espiritual.
No Velho Testamento, há dois serviços ou funções:
os levitas e os sacerdotes propriamente ditos. Os sacerdotes
eram da tribo de Levi, da família de Coate (Moisés e Arão
eram dessa família). Os outros levitas eram das famílias de
Gerson e Merari. Os sacerdotes cuidavam do serviço do al-
tar e da adoração; os outros (gersonitas e meraritas) cuida-
vam do Tabernáculo.
Os serviços eram divididos da seguinte forma:
• COATITAS – carregavam os utensílios do culto e a
Arca depois que esses fossem devidamente acondi-
cionados e embrulhados por Eleazar, filho de Arão.
• MERARITAS – encarregados das tábuas, varais,
colunas, bases, estacas e cordas.
• GERSONITAS – encarregados de levar as corti-
nas, a tenda da congregação, a coberta de peles de
animais e o reposteiro da porta da tenda da con-
gregação.
14. 1 Coríntios 9:11-14 (Paulo fala de direito, que é algo estabelecido por lei)

O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 93


Os gersonitas e os meraritas estavam sob a supervisão
de Itamar, outro filho de Arão.15
Os levitas não tinham herança entre as tribos. A heran-
ça deles vinha do serviço prestado no tabernáculo. Eles eram
sustentados pelas ofertas e pelos dízimos que o povo trazia16.
Cito, a seguir, diversos textos bíblicos que explicam
esse princípio:
• 2 Timóteo 2:4 – Paulo diz que o soldado de Cristo
não se envolve nos negócios desta vida, pois procu-
ra (é seu alvo) agradar àquele que o arregimentou.
• Lucas 8:1-3 – Algumas mulheres de posse susten-
tavam a Jesus em seu ministério.
• 1 Timóteo 5:17,18 – O presbítero deve receber da
igreja: “os que presidem bem devem receber dobra-
do, especialmente os que se afadigam na Palavra.”
• Romanos 16:1,2 – Recomendação de Paulo para
que se amparasse a Febe, assim como ela havia
amparado a outros.
• Hebreus 7:5 – O autor dessa carta mostra que o
levita tem ordem de recolher o dízimo do povo,
ainda que esse tenha saído também dos lombos
de Abraão, apontando para um ministério maior
do que o sacerdócio levítico. Ele fala de Jesus re-
cebendo o dízimo de Abraão em Melquisedeque.
• Números 18:8,26-32 – Este texto mostra que o dízi-
mo e sua aplicação têm caráter permanente (perpé-
tuo), e regulamenta a prática iniciada por Abraão de
reconhecer o senhorio de Deus sobre todas as coisas,
15. Números 4
16. Josué 13:14; Deuteronômio 18:1; Números 3:10

94 Jamê Nobre
não somente sobre o que foi entregue, mas o que fi-
cou com o ofertante, isto é, 100% são do Senhor. (O
dízimo é anterior e posterior à lei mosaica).
• Números 3:45-51 – O dinheiro do resgate dos pri-
mogênitos era dado ao sacerdote, inclusive os pri-
mogênitos dos levitas. Havia um levita para cada
primogênito em Israel; o excedente dos primogê-
nitos era então resgatado.
• Levíticos 24:9 – Os pães da proposição eram ti-
rados (trocados) a cada sábado, e Arão e seus
filhos comiam no lugar santo. Davi entendeu que
aquele que servia ao Senhor tinha parte nesse pão.
Jesus comparou o comer espigas no sábado com
a atitude de Davi17. Aqui está a figura mais clara
da origem do sustento do sacerdote e daquele que
ministra a Deus e a seu povo: o próprio altar.
• Números 18:14 – Todas as coisas consagradas a
Deus pertenceriam aos sacerdotes, e isso perpetu-
amente. Todo o capítulo fala do assunto.
• Mateus 10:9-10 – Aqui Jesus mostra aos discípulos
de onde viria seu sustento: do próprio evangelho.

TODO PRESBÍTERO DEVE RECEBER DA


IGREJA? POR QUÊ?

O Senhor é zeloso para com aqueles a quem ele cha-


ma. A Palavra afirma que quando o Senhor chama e en-
via, ele também sustenta os seus trabalhadores. Ele adverte
17. 1 Samuel 21:4-6; Mateus 12:4

O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 95


àqueles que não são fiéis com os seus jornaleiros, não so-
mente no sentido de que devemos honrar aos que nos ser-
vem, como quanto ao fato de que sequer devemos atrasar o
pagamento de seus salários.
Em Mateus 10:9-10, Ele diz que o trabalhador vive de
seu trabalho e é digno de seu salário.
Em 2 Timóteo 2:6, Paulo nos ensina que um lavrador
espera os frutos de seu trabalho e que é o primeiro a comer
dele. Ninguém semeia sem esperar colher, pois isso seria
loucura.
No ensino em 1 Coríntios 9:3-14, nos versos 8 e 9,
Paulo faz referência à lei, como prova de que o presbíte-
ro deve ser sustentado por seu trabalho, vivendo, assim, do
evangelho. Não é uma norma que o presbítero trabalhe fora
do ministério para o seu sustento, e sim que o evangelho o
sustente. A palavra DIREITO, usada por Paulo, faz referên-
cia à lei que regulamenta o sustento dos levitas. Nesse caso,
o direito é duplo: ele havia gerado aquele povo e vivia do
evangelho.

“Não sou eu, porventura, livre? Não sou apósto-


lo? Não vi Jesus, nosso Senhor? Acaso não sois
fruto do meu trabalho no Senhor? Se não sou
apóstolo para outrem, certamente o sou para vós
outros, porque vós sois o selo do meu apostolado
no Senhor. A minha defesa perante os que me in-
terpelam é esta: não temos nós o direito de comer
e beber? E também o de fazer-nos acompanhar de
uma mulher irmã, como fazem os demais apósto-
los e os irmãos do Senhor, e Cefas? Ou somente
eu e Barnabé não temos direito de deixar de tra-
balhar? Quem jamais irá à guerra à sua própria
96 Jamê Nobre
custa? Quem planta a vinha e não come de seu
fruto? Ou quem apascenta um rebanho e não
se alimenta do leite do rebanho? Porventura,
falo isso como homem ou não o diz também a
lei? Porque na lei de Moisés está escrito: ‘Não
atarás a boca ao boi, quando pisa o trigo’. Aca-
so é com bois que Deus se preocupa? Ou é, se-
guramente, por nós que ele o diz? Certo que é
por nós que está escrito; pois o que lavra cum-
pre fazê-lo com esperança; o que pisa o trigo
faça-o na esperança de receber a parte que lhe
é devida. Se nós vos semeamos as coisas espiri-
tuais, será muito recolhermos de vós bens ma-
teriais? Se outros participam desse direito sobre
vós, não o temos nós em maior medida? Entretan-
to, não usamos desse direito; antes, suportamos
tudo, para não criarmos qualquer obstáculo ao
evangelho de Cristo. Não sabeis vós que os que
prestam serviços sagrados do próprio templo se
alimentam? E quem serve ao altar do altar tira
o seu sustento? Assim ordenou também o Senhor
aos que pregam o evangelho que vivam do evange-
lho; eu, porém, não me tenho servido de nenhuma
destas coisas e não escrevo isso para que assim se
faça comigo; porque melhor me fora morrer, antes
que alguém me anule esta glória. Se anuncio o
evangelho, não tenho de que me gloriar, pois so-
bre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se
não pregar o evangelho! Se o faço de livre vontade,
tenho galardão; mas, se constrangido, é, então, a
responsabilidade de despenseiro que me está con-
fiada. Nesse caso, qual é o meu galardão? É que,
evangelizando, proponha, de graça, o evangelho,
para não me valer do direito que ele me dá”’ (1
Coríntios 9.1-18 – meu destaque).
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 97
Um direito só existe se for estabelecido por uma lei.
Essa lei pode ser escrita, o que seria o que se chama de
direito positivado. Trata-se daquilo que foi estabelecido a
partir de algo escrito como regra de comportamento. Uma
outra forma de lei é aquela estabelecida pela prática de um
povo, pelo hábito de um grupo. Isso se chama direito con-
suetudinário. Essas duas formas de direito estabelecem e
regulam os direitos e deveres de uma nação, regendo e cor-
rigindo comportamentos.
Quando Paulo fala cinco vezes do direito de receber,
ele o fez como conhecedor das leis de seu povo. Então,
quando ele se refere a direito, certamente está baseando sua
argumentação na lei, considerando que é normal que um
obreiro seja sustentado pelo próprio serviço do ministério.
No texto de Gálatas 6:6, Paulo diz que quem recebe
bens espirituais deve repartir todos os seus bens com aquele
que o instrui. Aqui está um ensino muito prático e simples
sobre a associação de dar e receber.
Os textos de Neemias 13: 13, 14, Malaquias 3:10-12 e
Filemon 4:10-19 mostram o lado mais importante da con-
tribuição: quem dá é mais bem-aventurado do que quem
recebe, e Deus abre as janelas do céu sobre aqueles que são
fiéis na contribuição.
A instrução do Pai, em Ezequiel 44:28-30, deixa claro
que os obreiros devem receber os dízimos para que o cristão
possa ser abençoado.

EM QUAIS CIRCUNSTÂNCIAS UM PRESBÍTE-


RO DEVE TRABALHAR FORA DO MINISTÉRIO,
OU ENTÃO, COMO SE DIZ, SECULARMENTE?
98 Jamê Nobre
Se um homem é chamado para ser supervisor sobre o
rebanho de Deus, deve ficar claro e lógico o entendimento
de que seu tempo deve ser ocupado com oração, estudo
e ministração da Palavra, para que o povo seja abençoado
e instruído nos caminhos de Deus. O ministro de Deus
deve ser conhecido como despenseiro fiel dos mistérios de
Deus18. Um despenseiro é aquele que cuida da despensa
(do depósito de alimentos) e, no tempo certo, tira dali ali-
mentos para suprir sua casa.
Mencionarei algumas circunstâncias nas quais o pres-
bítero é levado a trabalhar fora, concomitantemente ao mi-
nistério:
1 - No caso de infidelidade do povo quanto a contri-
buição, como na situação citada em Neemias 13:10. Nesse
caso, os levitas foram trabalhar para o sustento dos seus19.
Essa situação não deve ser tomada como regra, pois logo
que Neemias chegou, chamou o povo à atenção e esse vol-
tou a contribuir, sendo que os próprios levitas poderiam ter
feito isso – eles que deveriam ensinar ao povo essa verdade.
No tempo de Ezequias, o povo estava distante dos sacrifí-
cios e do Senhor. Então, o rei restabeleceu o serviço do
templo, chamou os sacerdotes para que se dedicassem ao
ministério e, depois, chamou o povo para que contribuísse
para o sustento dos levitas20.
2 - Na ausência de um povo que o sustente. Paulo
chegou em Corinto e, junto com Priscila e Áquila, come-
çaram a pregar o evangelho e trabalhar na profissão que
lhes era comum. Quando Silas e Timóteo chegaram com a
18. 1 Coríntios 4:1 conferir com Atos 6, Tito 1:7 e Atos 20:28
19. 1 Timóteo 5:8 – “Quem não cuida dos seus é pior que os infiéis.”
20. 2 Crônicas, capítulos 29 a 32

O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 99


oferta das igrejas da Macedônia, liberaram Paulo para que
ele pudesse se dedicar inteiramente à Palavra21.
3 - Para auxiliar os necessitados. O obreiro deve es-
tar pronto para se sustentar e para ajudar ao que necessita.
Atribui-se a Gamaliel o seguinte pensamento: “Aquele que
conhece uma profissão a que se assemelha? Assemelha-se a
uma vinha cercada com uma sebe”. Um rabino de nome
Judá disse: “Aquele que não ensina uma profissão a seu filho
é o mesmo que o ensina a roubar”.
Com o conhecimento de uma profissão, um obreiro
está pronto para ajudar aos necessitados e também a se sus-
tentar, caso Deus o enviar para começar um trabalho novo
em outro lugar. Assim, evitará o que acontece com muitos
jovens emergentes de seminários, que se perdem por não
saberem o que fazer sem terem uma profissão. Paulo diz
que a Palavra de Deus é apta para nos preparar para toda
boa obra22.
4 - Para ser exemplo a homens que se intitulam mi-
nistros de Deus e exaurem o povo23.
Na igreja, infelizmente, há homens que se aprovei-
tam do povo, exaurindo tudo o que ela tiver para seu pró-
prio prazer.
Não se trata de um comportamento novo. Jesus já fa-
lou sobre isso:
Lucas 20:47: “Os quais devoram as casas das viúvas e,
para o justificar, fazem longas orações; esses sofrerão juízo
muito mais severo”.
Falo de homens que tomaram o ministério como fon-
21. Atos 18:1-3; 2 Coríntios 11:9; Filipenses 4:15; 1 Tessalonicenses 3:6
22. 2 Timóteo 3:16-17
23. 2 Tessalonicenses 3:6-13; 2 Coríntios 11: 5-10

100 Jamê Nobre


te de sustento. Vivem em busca de uma oportunidade para
pregar, para pastorear, com o intuito de não precisar traba-
lhar com as próprias mãos. Consideram que o ministério é
uma fonte de lucro.
O que querem é uma vida regalada, e, em nome do
ministério, sugam aquilo que o povo tem. Vendem indul-
gências, cobram orações, gostam de estar com pessoas ricas
e dizem que, por sermos filhos do Rei, devemos ter uma
vida de abundância. O grande problema é que esse tipo de
vida se dá às custas do povo de Deus.
5 - Para não ser excessivamente pesado24. Se a igreja
não possuísse o suficiente, o restante do sustento era supri-
do por outro grupo (outra cidade ou região), ou se faziam
tendas. De qualquer forma, o sustento de um obreiro não
era motivo de opressão para a igreja nem para ele mesmo.

O QUE A BÍBLIA DIZ SOBRE OBREIROS QUE


NOS VISITAM (PEREGRINOS)?

Há um ensinamento completo sobre o assunto na Bí-


blia. Ela fala de dois tipos de peregrinos ou estrangeiros.
1. O primeiro tipo é aquele que saiu de sua terra por
perseguições ou fome, o migrante, e deve ser cuidado pelos
habitantes da terra que o recebeu.
• Êxodo 22:21 - Não afligir ou oprimir o estrangeiro,
pois Israel foi estrangeiro na terra do Egito e sabe
como sofreu.
• Levítico 19:34 - O estrangeiro, o peregrino e o que
24. 1 Tessalonicenses 2:6-9

O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 101


empobreceu devem ser ajudados25.
• Mateus 25:35 - Fui forasteiro e me hospedastes.
A palavra XENOS foi traduzida para o português
nesse texto como “estrangeiro, forasteiro”: “Estive
‘XENOS’ e me ‘XENIZÖ’”. (XENIZÖ = hospe-
dar). A hospitalidade é uma das qualificações do
presbítero na lista de 1 Timóteo 3 e Tito 1. Nesses
textos, a palavra é PHILOXENOS = amigo de es-
trangeiros.
• 1 Pedro 4.9 - Pedro diz que devemos “amar ao es-
trangeiro” sem murmuração, de coração. A ideia é
hospedar primeiro no coração.
• Romanos 12:13 - Paulo fala de hospitalidade, e a
expressão usada é bem interessante, pois a tradu-
ção literal é: “procurar a oportunidade de amar ao
estrangeiro”. Estrangeiro aqui não é necessaria-
mente alguém que migrou, mas o irmão que está
do meu lado e de quem devo me tornar próximo.

2. O segundo tipo de peregrino é o descrito por Je-


sus: “... deixaram sua casa, irmãos, pais, filhos e campos, por
amor de mim e do evangelho...” (Marcos 10.29). A expressão
“por amor de mim e do evangelho” qualifica o tipo de pe-
regrino. Não é um elemento sem rumo e que sai para “co-
nhecer o mundo”; não é um “turista religioso” nem aquele
que sai para mudar de situação, mas alguém que deixa sua
casa por amor a Jesus e ao evangelho.
Em Mateus 10, ao falar sobre o assunto, Jesus mostra
que os que lhe obedeciam, saindo para pregar a Palavra, se-
25. Deuteronômio 27:19; 31:12; Jeremias 7:5,6

102 Jamê Nobre


riam recebidos e abrigados nas cidades para as quais foram
enviados, e se aquela cidade não os recebesse, teria sobre
si um juízo mais rigoroso do que o juízo que sobreveio a
Sodoma e Gomorra.
O peregrino da lista inicial (levitas, peregrinos, órfãos
e viúvas) é um peregrino que sai por amor de Jesus e do
Evangelho, e foi ordenado pelo Senhor para isso. No nosso
tempo é o apóstolo, o profeta ou o evangelista26.
A responsabilidade da igreja é acolher e encaminhar
esses irmãos de forma generosa, de coração, “perseguindo a
oportunidade de amar ao estrangeiro”.
• Tito 3:13 - Encaminhar com diligência, suprir
com cuidado o que faltasse a Apolo e a Zenas para
sua viagem.
• Romanos 15:22-29 - Paulo prepara os romanos para
que esses lhe enviassem à Espanha. O encaminhar
falado no texto se refere à provisão financeira.
• 3 João 5-12 - Devemos acolher esses estrangeiros
que saíram por amor do Evangelho para que nos
tornemos cooperadores da verdade. Os gentios
não são sua fonte de sustento, mas sim, a igreja.
Gaio, o que agora hospedava, havia feito o mesmo
com Paulo.27
• Deuteronômio 18:5-7 – Essa é a lei que trata do
assunto. Os levitas que ministravam a Israel de for-
ma itinerante deveriam receber porção igual à dos
que eram fixos em suas cidades, além da venda de
seu patrimônio quando de sua saída. No caso de
26. Atos 8:5; 13:1-3
27. Romanos 16:23

O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 103


mudança, como o citado no texto, deveriam ser
acolhidos com generosidade.
• 1 Samuel 7:15-17 - Samuel julgava a Israel moran-
do em Ramá. De ano em ano, ele fazia uma volta
pela terra. Os profetas andavam por Israel falando
a Palavra do Senhor (conferir com 2 Reis 4:9). O
próprio ministério de Jesus era assim, e tinha a as-
sistência de mulheres que lhe serviam com seus
bens (esse tipo de ministério se chama de ministé-
rio PERIPATÉTICO = aquele que anda ao redor).

QUAL É A RESPONSABILIDADE DA IGREJA QUAN-


TO ÀS NECESSIDADES DE SEUS MEMBROS?

Faz parte do ministério da Igreja a luta para que seus


membros não passem necessidades. O texto em Atos 4:32-
35 diz que nenhum necessitado havia no meio da igreja.
Como disse anteriormente, existe uma diferença en-
tre passar uma necessidade e ser pobre. A pobreza é relativa
ao que se possui, e é difícil determinar em que ponto uma
pessoa começa a ser rica. Um pobre vive com o mínimo
possível, já o necessitado tem falta do mínimo para viver.
Um pobre vive em um estado constante de pobreza, e não
somente em uma situação eventual.
Na Bíblia grega temos uma palavra que expressa o
caso de se ter poucos recursos: PTOCOS; é uma palavra
que se refere a alguém que perdeu algo ou que não tem o
fundamental para viver: USTEREO (por exemplo, “desti-
tuídos da glória de Deus”). Cristo assumiu a condição de
104 Jamê Nobre
pobre. Ele vivia com o básico e era assistido por pessoas que
tinham mais que o suficiente para viver.
Os judeus tinham muito claro em suas consciências
que o cuidado dos pobres não podia ser, de forma alguma,
negligenciado:

“... recomendando-nos somente que nos lembrás-


semos dos pobres, o que também me esforcei por
fazer” (Gálatas 2.10).

A lei da respiga privilegiava o pobre. Isso já deveria


fazer parte do processo da colheita. Não se poderia fazer
contas contemplando-se a respiga:

“Não rebuscarás a tua vinha, nem colherás os ba-


gos caídos da tua vinha; deixá-los-ás ao pobre e
ao estrangeiro. Eu sou o SENHOR, vosso Deus”
(Levítico 19.10).

A lei da colheita do sétimo ano provia a comida para


os pobres:

“... porém, no sétimo ano, a deixarás descansar e


não a cultivarás, para que os pobres do teu povo
achem o que comer, e do sobejo comam os ani-
mais do campo. Assim farás com a tua vinha e
com o teu olival” (Êxodo 23.11).

Creio que a ideia que Deus queria que existisse na ca-


beça dos judeus era que o pobre fizesse parte de seus planeja-
mentos, suas culturas, de sua religião. O povo de Deus deve
repartir o pão, abrir a alma ao aflito, hospedar o necessitado:
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 105
“Porventura, não é também que repartas o teu
pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres
desabrigados, e, se vires o nu, o cubras, e não te es-
condas do teu semelhante? Então, romperá a tua
luz como a alva, a tua cura brotará sem detença,
a tua justiça irá adiante de ti, e a glória do SE-
NHOR será a tua retaguarda; então, clamarás, e
o SENHOR te responderá; gritarás por socorro,
e ele dirá: Eis-me aqui. Se tirares do meio de ti
o jugo, o dedo que ameaça, o falar injurioso; se
abrires a tua alma ao faminto e fartares a alma
aflita, então, a tua luz nascerá nas trevas, e a tua
escuridão será como o meio-dia” (Isaías 58.7-10).

Na mente de Deus, o pobre nunca seria alguém mar-


ginalizado, como se fosse um apêndice indesejado da socie-
dade, mas alguém que estaria sempre no radar dos crentes:

“Quando entre ti houver algum pobre de teus ir-


mãos, em alguma das tuas cidades, na tua terra
que o SENHOR, teu Deus, te dá, não endure-
cerás o teu coração, nem fecharás as mãos a teu
irmão pobre;” (Deuteronômio 15.7).

No caso de um irmão que viesse a empobrecer, ele


deveria ser assistido em suas necessidades, e não deveria ser
tratado como a um escravo:

“Também, se teu irmão empobrecer, estando ele


contigo, e vender-se a ti, não o farás servir como
escravo” (Levítico 25.39).

Quando o Espírito de Deus foi derramado no dia de


106 Jamê Nobre
Pentecostes, simplesmente foi avivada a lei do Senhor nos
corações dos discípulos. O povo passou a viver dentro da
lei de Deus, e isso quer dizer: não deixaram o pobre desa-
brigado, vestiram o nu, alimentar amo faminto, supriram o
necessitado. Por causa disso é que não havia necessitados
entre eles.
Somente para se fazer uma menção sobre o que faz a
diferença entre a velha e a nova aliança é que, a lei mudou
da tábua de pedra para a tábua de carne. Saiu da mente, da
esfera do conhecimento, e entrou no coração, no âmbito
da compaixão, dos afetos. Ela deixou de ser obedecida por
causa do medo e passou a ser amada e praticada por amor
àquele que a deu a nós.
Quando a igreja na Judéia passou por aflições, as ou-
tras igrejas ajudaram-na, suprindo a necessidade de uma
dessas igrejas (Macedônia)28 . Isso mostra que aquela prá-
tica de vida do começo da Igreja não tinha acabado por
causa da perseguição, e sim, acabou a partir do século III,
quando a Igreja começou a se desviar, preocupando-se em
acumular riquezas. O Espírito de Deus foi se afastando e os
pobres foram se tornando mais pobres.
Quando Lucas se refere a Cornélio, diz que duas coi-
sas subiram diante de Deus na vida daquele homem: ora-
ções e esmolas (Atos 10:4).
Nossa responsabilidade de cuidar dos pobres está bem
28. 2 Coríntios 8:1-6 – “Também, irmãos, vos fazemos conhecer a graça de Deus concedida às
igrejas da Macedônia; 2 porque no meio de muita prova de tribulação manifestaram abundância de
alegria, e a profunda pobreza deles superabundou em grande riqueza da sua generosidade. 3 Porque
eles, testemunho eu, na medida de suas posses e mesmo acima delas se mostraram voluntários, 4
pedindo-nos, com muitos rogos, a graça de participarem da assistência aos santos. 5 E não somente
fizeram como nós esperávamos, mas também deram-se a si mesmos primeiro ao Senhor, depois
a nós, pela vontade de Deus; 6 o que nos levou a recomendar a Tito que, como começou, assim
também complete essa graça entre vós.

O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 107


estabelecida nos textos de Efésios 4:28, 1 Timóteo 6:17,18,
Tiago 1:26,27. O Senhor fala que “a verdadeira religião é
cuidar dos órfãos e das viúvas em suas tribulações, guardan-
do-se isento das corrupções do mundo.”
Quero repetir aquilo que mencionei algumas páginas
atrás. Comumente é atribuído a Sodoma o pecado ligado
a sexo, a orgias. Quando ouvimos falar dos pecados de nos-
so tempo, logo pensamos em algo relacionado a perversões
sexuais. No entanto, o Senhor nos diz em Ezequiel 16:49
que o pecado de Sodoma e Gomorra foi ter vivido em uma
“tranquila prosperidade, soberba”, não tendo amparado os
pobres e os necessitados. Aparentemente, pode-se aplicar,
nesse caso, o dito antigo de que “mente vazia é oficina do
diabo”.
Ou seja, à medida que a pessoa se torna ociosa, ela
passa a perder seus limites morais e espirituais, e continua
relaxando-os. Assim como um abismo chama outro abismo,
a perversão sexual é a consequência óbvia de tal relaxamen-
to. Em vez de vivermos em tranquila soberba e próspera
tranquilidade, deveríamos atentar para aqueles que não
tem sequer o mínimo para se sustentarem.
A pobreza nunca foi um plano de Deus. Uma das con-
sequências do pecado é a alta concentração de renda e o
descaso com os demais seres humanos. Ao nos dispor a aju-
dar alguém, precisamos ter um coração generoso e sábio.
Devemos verificar as reais necessidades de uma pes-
soa para ajudá-la de modo que ela saia de sua condição de
penúria. Não há, na Bíblia, o ensinamento de socialismo
igualitário, em que todos terão a mesma coisa. O que Pau-
lo ensina é: “O que tem muito deve repartir com o que não
108 Jamê Nobre
tem, para que uns não tenham de sobra enquanto outros não
têm nada”. Esse é o tipo de igualdade pregada por ele.29 As
viúvas deverão ser assistidas e inclusas num rol, caso sejam
verdadeiramente viúvas, realmente sós, sem alguém que
lhes cuide, caso não tenham filhos.30
Quanto aos outros necessitados, tomemos o exemplo
do episódio na porta do Templo. Pedro e João não tinham
prata nem ouro para dar ao coxo, porém deram o que re-
almente ele necessitava: saúde para levantar-se e trabalhar
normalmente.31 Podemos dar comida a uma pessoa por to-
dos os dias de sua vida sem, assim, suprir sua real necessida-
de. Devemos verificar se tal pessoa precisa de algo que aca-
be com a causa de sua necessidade, por exemplo, pagando
a ela um curso profissionalizante para que cresça em seu
emprego e, assim, progrida economicamente para ajudar
aos demais. Talvez seja uma pessoa que ganhe relativamen-
te bem, mas simplesmente não está sabendo administrar
suas finanças, por isso, deve ser ajudada para ter sabedoria
na gestão financeira. A Igreja deve estar aberta para ajudar
quanto à necessidade de seus membros, assim como em
uma família o pai está atento ao que ela precisa.
Portanto, estas são as principais aplicações do dinhei-
ro que vem para a Igreja, nesta ordem: levitas, peregrinos,
órfãos e viúvas. Podemos, com tranquilidade, encaixar os
missionários dentro das escalas de peregrinos qualificados.
Não podemos pensar em outras aplicações se essas
não estiverem plenamente cobertas, pois são prioridades
na Bíblia. A prudência ensina que devemos lançar o pão
29. 2 Coríntios 8:13-15
30. 1 Timóteo 5:3-16
31. Atos 3

O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 109


sobre as águas, que é uma atitude aparentemente ilógica se
raciocinarmos isentos de sentimentos e dos ensinamentos e
da fé na Palavra do Senhor. O escritor de Eclesiastes fala de
um tipo de prudência desconhecida no nosso nível: “Lança
teu pão sobre as águas, REPARTE COM SETE E AINDA
COM OITO, POIS NÃO SABES QUE MAL VIRÁ SO-
BRE A TERRA” (11:1-3 – meu destaque).
Podemos afirmar, sem sombra de dúvidas, que a pru-
dência está em andarmos na Palavra do Senhor. A verdadei-
ra sabedoria é temer a Deus e andar em seus preceitos. Não
é a capitalização que irá nos dar um futuro tranquilo, mas
é estarmos dentro da vontade de Deus.32

ONDE SE ENCAIXA A NECESSIDADE DE CONS-


TRUÇÃO? QUAL É O EXEMPLO BÍBLICO?

Temos algumas situações na Bíblia que nos ajudarão


a entender essa questão. Primeiro, devemos entender que
não havia um lugar em que a igreja pudesse reunir e que
fosse dela. Ela se reunia no átrio do Templo, nos seus ar-
redores, diariamente, até acontecer a perseguição descrita
no capítulo 8 de Atos. O povo se reunia nas casas, onde
partiam o pão e, ali, as reuniões eram mais produtivas. 33
A Igreja foi crescendo nas casas com base na palavra dada
por Jesus: “Ao entrardes numa cidade, indagai quem nela é
digno ...se a casa for digna ficai nela até sair da cidade”.34
Segundo, devemos lembrar que as duas construções
32. “Os prudentes andam no caminho do Senhor” - Oséias 14:9
33. Atos 2:46,47
34. Mateus 10:11-15; Romanos 16:3-5; Filipenses 2; Atos 18:7,8

110 Jamê Nobre


no Antigo Testamento, o Tabernáculo e o Templo, aponta-
vam para a vida de Deus na Igreja do Novo Testamento,35
e em nenhum momento da história de Israel foi tirado o
dinheiro destinado a levitas, peregrinos, órfãos e viúvas para
construir ou reconstruir o Tabernáculo ou o Templo.
Devemos compreender que a Igreja nunca precisou
de um lugar físico para ser Igreja. A sua natureza de Eclésia
é, exatamente, a de ser “chamados para fora”. Para fora dos
limites humanos. Fora das quatro paredes, indo aonde os
necessitados estão.
“Depois da época de Constantino Magno, no século
IV, as Igrejas Ortodoxa e Católica desenvolveram e sancio-
naram um sistema religioso que consistia de um templo
“cristão” (a catedral) e de um padrão básico de culto que
imitava a sinagoga judaica. Dessa maneira, um sistema re-
ligioso não expressamente revelado por Deus, a “categoga”,
uma mescla de catedral e sinagoga, tornou-se a matriz dos
cultos de todas as épocas subsequentes. Tingido como um
acervo gentílico de pensamentos helenistas que, por exem-
plo, faz separação entre o sagrado e o secular, o conceito
das categogas recebeu uma função de “buraco negro”, que
suga pela raiz praticamente todas as energias de transforma-
ção social da igreja e que, por séculos, deixou o cristianismo
absorto em si próprio. (“Casas que Transformam o Mundo
– Igreja nos Lares”, Wolfgang Simson, Editora Evangélica
Esperança)
Assim como os gaúchos têm os seus CTGs para man-
terem viva sua cultura em “pagos” estranhos, parece que a
Igreja precisa de um lugar para afirmar a sua identidade,
35. Hebreus 9, especialmente o versículo 9; 2 Coríntios 6:16; Efésios 2:20-22

O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 111


como se a nossa identidade viesse de uma prática, de um
ritual, de um tipo de mensagem ou até de um “templo”.
A identidade da Igreja está no Senhor Deus Pai. Ele é
a nossa identidade. O que nos faz parecidos com o Senhor
são as nossas boas obras que glorificam ao Senhor. É o amor
de uns para com os outros que nos identificam como filhos
de Deus.

“Assim, brilhe também a vossa luz diante dos ho-


mens, para que vejam as vossas boas obras e glorifi-
quem a vosso Pai que está nos céus” (Mateus 5.16).

O que determina a necessidade de um local não deve


ser a vida da Igreja, mas a necessidade da comunidade na
qual a Igreja está inserida. Se nós não nos voltarmos para
atender aos necessitados de fora para servi-los, e com isso
demonstrar o amor de Deus, é como se acendêssemos a
candeia para coloca-la debaixo de um alqueire, e não no
velador.
Uma história da qual não me esqueço, foi quando um
pastor britânico me contou que, ao orar, Deus lhe pergun-
tou: “Se a sua congregação fosse tirada da cidade, a popula-
ção iria sentir falta dela?” A triste conclusão foi que a cidade
não iria perceber a ausência daquela congregação.
Depois de levar essa notícia triste diante do povo, fi-
zeram uma pesquisa entre a população, perguntando o que
aquela congregação poderia fazer para servir a cidade. De-
pois de compilar as respostas, concluíram que precisavam
fazer uma creche, um clube de jovens e clube para a ter-
ceira idade.
O povo da congregação trabalhou muito acima de sua
112 Jamê Nobre
capacidade para comprar um terreno e montar uma estru-
tura de contêineres. Quando fui visitá-los, ele me mostrou
o que haviam feito. Ali havia uma creche simples e bem
funcional, um clube de jovens, um clube de terceira idade,
onde esse pessoal aprendia várias artes e os conselheiros (ve-
readores) da cidade pediram para terem suas reuniões ali,
pois ali eles não têm um local nem salário. Aquele pastor,
enquanto me mostrava o que fizeram, fez um comentário
suplementar: “Até a Igreja se reúne aqui!”. Ou seja, o local
era uma forma de ser bênção para o povo da cidade, não
para ser a “casa de Deus”.
A Igreja não precisa de um lugar para ser Igreja. Se o ti-
ver, não devemos dinamitá-lo, mas devemos ensinar o povo
a não depender daquele espaço para ser o Povo de Deus na
cidade. Com manutenção cara, usa-se muito dinheiro, que
poderia servir para missões, para os pobres e para sustentar
os obreiros que a servem de modo digno. Tanto mais pelo
fato de que sabemos que o que temos hoje, coisas materiais,
está entesourado para o fogo.
Precisamos entender ainda que no A.T. havia duas
construções:
• O Tabernáculo, que era a preparação para o Tem-
plo;
• O Templo, que era a preparação e a figura da Igre-
ja (Hb 9:9; 2 Co 6:16; Ef 2:20ss).
Se estudarmos detalhadamente o assunto, veremos
que em nenhum momento da história da Igreja ou do povo
de Israel foi tirado dinheiro dos sacerdotes, levitas, órfãos e
viúvas para construir o tabernáculo ou o templo.
A construção do tabernáculo foi feita com as ofertas
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 113
especiais do povo, que deu o que havia recebido na saída
do Egito (Ex 12:34ss), além de coisas que possuíam em suas
casas (Ex 35:20-29), com tal prontidão e desprendimento
que Moisés o proibiu de trazer mais (Ex 36:5ss).
Na construção do templo, Davi usou das riquezas
oriundas dos despojos de guerra e de sua riqueza pessoal
(2 Cr 5:1). Além disso, taxou novos impostos para o povo.
A tendência natural do homem é centralizar o culto e as
atividades da igreja em um local especial.
À pergunta da mulher samaritana, Jesus respondeu
que viriam dias e já havia chegado que, nem em Jerusalém
nem no Monte Gerizim se adoraria a Deus, mas que o Pai
seria adorado em espírito e em verdade (Jo 4). Creio que
deveríamos estar satisfeitos com esta resposta de Jesus, mas
sei que muitos estão tão acostumados com a ideia de um lu-
gar especial para adorar a Deus, que fica difícil entenderem
a falta desse lugar na vida da igreja.
Devemos estar abertos para construir segundo nossas
necessidades, sem nos preocuparmos demasiadamente,
como se fosse o primordial. Não podemos nos fechar para
construções, mas devemos ser honestos e entender que as
construções são para nós – elas não são algo espiritualizada
para Deus. Elas existem para nos abrigar, pois a presença de
Deus está no cristão, não no edifício.
Devemos ainda lembrar que centralização é o contrá-
rio do que Deus sempre desejou. Ele sempre nos ordenou
olhar para o mundo e suas necessidades espirituais; orde-
nou-nos que fôssemos até os confins do mundo. Quando
nos envolvemos demasiadamente com construções, somos
impedidos de ir aonde os pecadores estão. Somos tentados
114 Jamê Nobre
a permanecer num só lugar, sem expandirmos para os bair-
ros ou para as cidades. Se os discípulos ficassem presos a
um edifício em Jerusalém, não atenderiam às necessidades
do mundo.
Concluindo, somos contra as construções? Não, des-
de que:
1. Pratiquemos as prioridades da Bíblia;
2. A nossa visão seja a de pessoas, não de coisas;
3. As construções não tentem “trazer a presença de
Deus”, pois isso é tarefa do homem salvo. (Na Ida-
de Média, os grandes templos - estilo normando e
depois góticos - tentavam elevar o homem a Deus
por meio da forma da construção);
4. As primeiras tarefas da igreja, como cuidar das vi-
das, dos levitas, do homem, fazer missões, enfim,
não fiquem em segundo plano.
No velho Testamento, homens eram separados para
cuidarem do dinheiro que era trazido aos sacerdotes (2
Crônicas 31:12-18), e eles distribuíam-no segundo as ne-
cessidades e as prioridades estabelecidas pelo Senhor. No
Novo Testamento, os diáconos foram ordenados para cui-
dar de distribuir o dinheiro e os bens trazidos aos pés dos
apóstolos, para que estes cuidassem melhor do ministério
da Palavra e à Oração.
Segundo Atos, os diáconos eram homens que tinham
a mesma visão bíblica e eram cheios de fidelidade, de boa
reputação, de fé e do Espírito Santo. Homens que tinham
o dom da distribuição.
Devemos orar para que Ele, em sua infinita misericór-
dia, dê aos presbíteros-pastores da Igreja a visão da Palavra,
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 115
e que levante homens preparados com aquelas caracterís-
ticas faladas no livro de Atos, para que a Igreja não fique
embaraçada e estagnada.

116 Jamê Nobre


Capítulo 6

A COMPAIXÃO DE DEUS E A
RESPONSABILIDADE SOCIAL
DA IGREJA

DEFINIÇÕES

“Empatia” é olhar com o olhar do outro, é sentir com


o coração do outro36. “Simpatia” é um sentimento que vin-
cula as pessoas umas às outras e participa das dores do ou-
tro: “Faculdade de participar das emoções de outrem, sejam
elas quais forem”.37 “Piedade” tem dois sentidos: um é em
direção a Deus: uma atitude de reverência, devoção e ado-
ração. Outro é em direção ao próximo: ser compassivo para
com os outros. Os dois casos podem ser achados na vida de
Simão e de Cornélio:
Lucas 2:25 – “Havia em Jerusalém um homem chama-
do Simeão; homem este justo e piedoso que esperava a conso-
lação de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele”.
A piedade atrai a atenção e o coração de Deus para nós,
pois ao nos aproximar dos necessitados e dos pobres, estamos
manifestando a misericórdia, a justiça e a graça de Deus para
com o ser humano, que Ele criou com tanto carinho.
36. (...) Quem sofre sozinho, sofre muito mais em sua mente (espírito). Deixa para trás a liberda-
de e a alegria. Mas a mente (espírito) com muito sofrimento pode superar-se, quando a dor tem
amigos e suportam a sua companhia, quão leve e suportável a minha dor parece agora. (...) – “A
História do Rei Lear” - William Shakespeare
37. Theory of Moral Sentiments, 1759 – Falando sobre a ética na medicina – Adam Smith

O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 117


“... piedoso e temente a Deus com toda a sua casa
e que fazia muitas esmolas ao povo e, de contí-
nuo, orava a Deus” (Atos 10.2).

“Compaixão” é a virtude de compartilhar o sofrimen-


to do outro. É sofrer com.
“Vós sempre tendes convosco os pobres e, quando qui-
serdes, podeis fazer-lhes bem” (Marcos 14.7).
É preciso entender que a decisão é racional, e não
emocional: “Quando quiserdes”. A compaixão é do Senhor,
mas a atitude é nossa. Da mesma forma que Deus amou o
mundo e por isso enviou Jesus, assim também o Senhor se
compadece do pobre, do necessitado e nos envia para de-
monstrar essa compaixão. A ideia que Jesus ensina quando
fala “quando quiserdes” é que nós tomamos a decisão de
amparar os pobres, ou não.
O samaritano tomou a decisão de se aproximar do ho-
mem que havia sido assaltado. Ao chegar perto, viu a real
situação do homem. Nesse momento ele foi invadido de
compaixão; não antes.38
“Recomendando-nos somente que nos lembrássemos
dos pobres, o que também procurei fazer com diligência”
(Gálatas 2.10).
Nesse versículo, Paulo recebe uma recomendação
e toma a decisão de colocar isso como parte de seu mi-
nistério.

38. Lucas 10:33. Certo samaritano, que seguia o seu caminho, passou-lhe perto e, vendo-o, com-
padeceu-se dele.

118 Jamê Nobre


ORIENTAÇÕES PARA ISRAEL COM RELAÇÃO
AOS POBRES

“E Rute, a moabita, disse a Noemi: ‘Deixa-me


ir ao campo, e apanharei espigas atrás daquele
em cujos olhos eu achar graça’. E ela disse:’ Irá,
minha filha’. Foi, pois, e chegou, e apanhava es-
pigas no campo após os segadores; e caiu-lhe em
sorte uma parte do campo de Boaz, que era da
família de Elimeleque” (Rute 2.2,3).

As circunstâncias e a cultura, muitas vezes, são usadas


pelo Senhor para que Sua obra possa ser feita, e sua vontade
realizada. Quando Noemi, diante da extrema pobreza em
que vivia com sua sogra, decide ir ao campo onde os ceifei-
ros estavam trabalhando, a circunstância da necessidade e
a cultura do cuidado dos pobres são fatores preponderantes,
para que a genealogia determinada por Deus pudesse ter
sido o berço do Messias. O cuidado dos pobres aproximou
Boaz de Rute.

O CUIDADO DOS POBRES COMO EXPRES-


SÃO DE ADORAÇÃO E GRATIDÃO

“Como os dias em que os judeus tiveram repouso


dos seus inimigos, e o mês que se lhes mudou de
tristeza em alegria, e de luto em dia de festa, para
que os fizessem dias de banquetes e de alegria, e
de mandarem presentes uns aos outros, e dádivas
aos pobres” (Ester 9.22).

O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 119


Quando Deus mudou a sorte! A reação daqueles que
haviam sido libertos da morte foi um grande regozijo, e mo-
tivo de se fazer ofertas de uns para os outros e de praticar o
cuidado com os pobres!
Uma igreja cheia do Espírito sempre terá estas mani-
festações: adoração, produto de gratidão, cuidado de uns
para com os outros e compaixão pelos pobres.
“O que oprime ao pobre insulta aquele que o criou,
(insulta a Deus!) mas o que se compadece do necessitado
honra-o (honra a Deus!)” (Provérbios 14.31 – meus comen-
tários)
O cuidado e a opressão ao necessitado expressam
honra ou insulto ao Senhor. Isso deve nos mostrar como tal
assunto é importante para o nosso Pai. Não podemos nos
esquecer de que a fonte principal da pobreza do homem é o
pecado, isto é, o afastamento de Deus. Não me refiro a um
homem em particular, mas à humanidade sofredora.

A ASSISTÊNCIA AOS POBRES – UMA MANI-


FESTAÇÃO DA JUSTIÇA DE DEUS POR MEIO
DE PESSOAS

“O justo se informa da causa dos pobres, mas o


ímpio nem sequer toma conhecimento” (Provér-
bios 29:7).

Quando o povo de Deus no Egito gemeu sob a forte


opressão dos seus exatores, o Senhor ouviu esse gemido e
providenciou a libertação deles por meio de Moisés. Pode-
mos tirar muitas lições dessa história, mas o que quero des-
120 Jamê Nobre
tacar aqui é que o clamor do povo leva Deus a responder
por meio do homem. Moisés foi a resposta de Deus, foi a
providência do Senhor para libertar o povo sofrido.
Será que hoje Deus mudou seu modo de agir? Ele
não irá usar os seus servos para libertar os pobres? Não foi
o que Jesus falou em Isaias 61 e Lucas 4, quando disse que
o Espírito Santo estava sobre ele para, entre outras coisas,
evangelizar os pobres?
Evangelizar não é trazer uma nova religião para os
oprimidos, mas é trazer a libertação para os pobres, pelo
poder do Evangelho.
Quando Jesus respondeu aos discípulos de João sobre
quem ele era, uma das coisas que seria um sinal para João
era que aos pobres era anunciado o Evangelho. Ou seja,
atender aos pobres é um dos sinais de que o Messias está
entre nós.

“Portanto, ó rei, aceita o meu conselho, e põe fim


aos teus pecados, praticando a justiça, e às tuas
iniquidades, usando de misericórdia com os po-
bres, pois, talvez se prolongue a tua tranquilida-
de” (Daniel 4.27).

O conselho de Daniel dado a Nabucodonosor era que


ele parasse com a injustiça e com as iniquidades. Mas de
que forma? Usando de misericórdia com os pobres, pois isso
poderia prolongar sua vida!
O texto de Provérbios 31:9 traz esta mesma mensagem:

“Abre a tua boca; julga retamente; e faze justiça


aos pobres e aos necessitados”.
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 121
O próximo texto traz, de novo, a ideia de algo que se
firma para sempre, relacionado com o cuidado dos pobres.

“O rei que julga os pobres conforme a verdade fir-


mará o seu trono para sempre” (Provérbios 29.14).

CUIDAR DOS POBRES É UMA EXPRESSÃO DA


RELIGIÃO VERDADEIRA

“Disse-lhe Jesus: ‘Se queres ser perfeito, vá, vende


tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um te-
souro no céu; e vem, e segue-me” (Mateus 19.21).

Como podemos servir a Deus, que não vemos, sem


servir ao próximo, a quem vemos?

“E dizia também ao que o tinha convidado:


‘Quando deres um jantar, ou uma ceia, não cha-
mes os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os
teus parentes, nem vizinhos ricos, para que não
suceda que também eles te tornem a convidar, e te
seja isso recompensado. Mas, quando fizeres con-
vite, chama os pobres, aleijados, mancos e cegos,
e serás bem-aventurado; porque eles não têm com
que te recompensar; mas recompensado te será na
ressurreição dos justos” (Lucas 14.12-14).

“A religião pura e imaculada para com Deus, o


Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas
tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo”
(Tiago 1.27).

122 Jamê Nobre


“E, levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor: ‘Se-
nhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus
bens; e, se em alguma coisa tenho defraudado
alguém, o restituo quadruplicado” (Lucas 19.8).

ALGUMAS PROMESSAS DE DEUS COM RELA-


ÇÃO AOS POBRES

“Ao SENHOR empresta o que se compadece do


pobre, e ele lhe pagará o seu benefício” (Provér-
bios 19.17).

A promessa desse texto nos mostra como o Senhor


tem seu coração voltado para os desvalidos.

“Porque o necessitado não será esquecido para


sempre, nem a expectação dos pobres perecerá
perpetuamente” (Salmos 9.18).

“Vós envergonhais o conselho dos pobres, porquan-


to o SENHOR é o seu refúgio” (Salmos 14.6).

Quão importante é que a Igreja, o povo do Senhor,


sinta pelos necessitados a mesma coisa que o Senhor sente!

O MINISTÉRIO DO MESSIAS FOI PAUTADO


POR ESSE CUIDADO

“Mas julgará com justiça aos pobres, e repreende-


rá com equidade aos mansos da Terra; e ferirá a
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 123
Terra com a vara de sua boca, e com o sopro dos
seus lábios matará ao ímpio” (Isaías 11.4).

“E os primogênitos dos pobres serão apascenta-


dos, e os necessitados se deitarão seguros; porém
farei morrer de fome a tua raiz, e ele matará os
teus sobreviventes” (Isaías 14.30).

“O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me


ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a
curar os quebrantados do coração...” (Lucas 4.18).

Uma marca da presença do Espírito Santo na vida do


povo de Deus é a atenção aos que precisam de ajuda.

A COBIÇA E A SEPULTURA NUNCA DIZEM


“BASTA”

“A sanguessuga tem duas filhas, a saber: Dá, Dá.


Há três coisas que nunca se fartam, sim, quatro
que não dizem: Basta! 16 Elas são a sepultu-
ra, a madre estéril, a terra, que se não farta de
água, e o fogo, que nunca diz: Basta!” (Provérbios
30:15,16).

O desejo de ter e o consumismo têm produzido uma


sociedade que não se importa com os pobres.
“A existência de milhões de empobrecidos é a negação
radical da ordem democrática. A situação em que vivem os
pobres é critério para medir a bondade, a justiça e a morali-
dade, enfim, a efetivação da ordem democrática. Os pobres
124 Jamê Nobre
são os juízes da vida democrática de um país” 39 “Existe, no
entanto, outra maneira, também antiga, de tratar o proble-
ma. A ideia de que as causas da pobreza e os caminhos para
sua solução não dependem da vontade ou do caráter dos
indivíduos, mas das relações entre as pessoas; isso sempre
esteve presente nas formas mais radicais do cristianismo, e,
na época moderna, nos escritos e movimentos políticos so-
cialistas e comunistas. Para uns, a solução dependia ainda
de uma regeneração moral, não mais dos pobres, mas dos
ricos, cujo egoísmo e avareza deveriam ser transformados
em verdadeira caridade e sentimento de justiça.”40

A MEDIDA DO JUÍZO DE DEUS É O QUE FI-


ZEMOS AOS PEQUENINOS

“E quando o Filho do homem vier em sua glória, e


todos os santos anjos com ele, então se assentará no
trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas
diante dele, e apartará uns dos outros, como o pas-
tor aparta dos bodes as ovelhas; e porá as ovelhas à
sua direita, mas os bodes à esquerda. Então dirá o
Rei aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde, benditos
de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está
preparado desde a fundação do mundo; porque tive
fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de
beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; estava nu,
e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na pri-
são, e fostes ver-me’. Então os justos lhe responde-
rão, dizendo: ‘Senhor, quando te vimos com fome,
39. Documento da CNBB que trata da questão da pobreza no Brasil
40. Notas sobre o paradoxo da desigualdade no Brasil - Simon Schwartzman

O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 125


e te demos de comer? Ou com sede, e te demos de
beber? E quando te vimos estrangeiro, e te hospeda-
mos? Ou nu, e te vestimos? E quando te vimos en-
fermo, ou na prisão, e fomos ver-te? E, respondendo
o Rei, lhes dirá: ‘Em verdade vos digo que quando o
fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim
o fizestes’. Então dirá também aos que estiverem à
sua esquerda: ‘Apartai-vos de mim, malditos, para
o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos;
porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede,
e não me destes de beber; sendo estrangeiro, não me
recolhestes; estando nu, não me vestistes; e enfermo,
e na prisão, não me visitastes’. Então eles também
lhe responderão, dizendo: ‘Senhor, quando te vimos
com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou
enfermo, ou na prisão, e não te servimos?’ Então
lhes responderá, dizendo: ‘Em verdade vos digo que,
quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o
fizestes a mim’. E irão estes para o tormento eterno,
mas os justos para a vida eterna”’ (Mateus 25.31-
46).

A nossa salvação não foi produto de nossas boas obras.


As obras humanas nunca conseguirão produzir a nossa sal-
vação. Ela veio por manifestação da graça de Deus quan-
do manifestamos a nossa fé na obra redentora de Cristo na
cruz. Então, não fomos salvos por obras. No entanto, fomos
salvos para andar nas boas obras que o Senhor preparou de
antemão para que andássemos nelas.
De acordo com o texto de Mateus, podemos chegar
à conclusão, sem nenhuma dúvida, de que as obras não
salvam, mas que a falta de boas obras pode nos afastar do
Senhor e do Seu Reino.
126 Jamê Nobre
A POBREZA É UMA CONSEQUÊNCIA DIRETA
DO PECADO

Fatores que geram a pobreza:


• Egoísmo – concentração de renda.
• Má administração – administradores infiéis.
• Políticas erradas – que trabalham no curto prazo,
sem continuidade.
• Desperdício – por falta de conhecimento da situ-
ação ao redor (Filosofia da Obsolescência - vide
Apêndice).
• Valores equivocados – coisas são mais importantes
que pessoas; ter é mais importante que ser; grandes
construções que não contribuem para a melhoria
de vida de seus membros.
• Descuido com o ambiente – degradação e empo-
brecimento da Terra; tentativas de correção (en-
riquecimento) com o uso de produtos químicos,
provocando, com isso, maior desequilíbrio do
meio ambiente. Uma consequência direta é o “in-
chaço” dos centros urbanos com consequente de-
gradação da qualidade de vida.
• Cultura colonizadora extrativista – o que posso ti-
rar? Qual vantagem posso auferir?
• Portugal e os demais países colonialistas da
Europa e suas colônias – a cultura extrativista
que sempre moveu esses estados, em detrimento
dos nativos das terras aonde chegavam. O que
importava para eles era que as cortes se enrique-
cessem, sem olhar para o sofrimento do povo
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 127
que já habitava aquelas regiões.
• EUA e o petróleo nos países produtores – a
sanha consumista dos países capitalistas faz com
que a extração de petróleo traga benefícios so-
mente para os países consumidores. Quando o
pagamento do petróleo extraído chega aos que
produzem, a concentração dos recursos cria ver-
dadeiros multibilionários, enquanto o povo sofre
sob a opressão dos muito ricos.
• Peixes em Guiné Bissau – os chineses fizeram
um acordo com o governo Guineense para que
pudessem pescar nas águas territoriais de Gui-
né. Como paga, construíram um edifício para
o congresso. Enquanto isso, o povo passa fome.
• Petróleo em Angola, Sudão (empréstimo de
dinheiro e compromisso de contratar os serviços
dos chineses)
• Carvão de Moçambique – extraído por mul-
tinacionais, inclusive brasileiras, sem que isso
beneficie diretamente aos donos do carvão: os
moçambicanos!
• Exaurir os insumos e produção de “exporta-
ção” de empregos. Isso tem acontecido desde
que o homem se afastou de Deus. O egoísmo e
o egocentrismo nos moldam desde o primeiro
momento da vida do ser humano caído. Não po-
demos estranhar o que as Escrituras dizem quan-
do fala do gemido da natureza.

128 Jamê Nobre


QUAL É A TAREFA DA IGREJA?

a. Os pobres precisam ser incluídos na ação proposi-


tal da Igreja.
b. A Igreja precisa ser mais “terrenal” e menos “ce-
lestial” em suas ações, ainda que o seja em sua
expectativa. As ‘ruas de ouro’ com suas ‘mansões’
criaram uma expectativa falsa, gerando um con-
formismo com o status quo e uma cobiça espiritu-
alizada.
c. Ela precisa perder a mentalidade capitalista de
juntar para, então, caminhar para o repartir e o es-
palhar. Eclesiastes 11:1,2; 2 Coríntios 9:9 – Lançar
o pão sobre as águas, repartir com sete e com oito,
espalhar, dar aos pobres.
d. Precisa adquirir uma mentalidade comunitária e
cooperativista, com empreendimentos que possam
mudar a forma de vida das pessoas de forma holís-
tica: ressurreição espiritual, renovação da mente,
mudança comportamental e melhoria de vida.
e. Precisa sair do sistema que aduba o sistema finan-
ceiro opressor. Isso significa usar menos os bancos
e investir mais na vida das pessoas, seja promoven-
do o empreendedorismo, seja pagando cursos para
aprimoramento ou mudança de profissão.

O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 129


CONCLUSÃO

“NÃO AJUNTEIS TESOUROS PARA VÓS” (Mt 6:19)

Depois de tudo que falei, quero ainda abordar mais


um ponto. A Palavra, em Mateus 6:19, nos recomenda
que não acumulemos nem ajuntemos para nós tesouros. A
questão é: para quem temos ajuntado?
Todos nós conhecemos a parábola do homem lou-
co, cujo campo produziu abundantemente. Arrazoava ele:
“Destruirei os meus celeiros e reconstruirei maiores e aí reco-
lherei todo o meu produto e todos os meus bens.” Continuou:
“Então direi à minha alma: tens em depósito muitos bens
para muitos anos, descansa, come, bebe e regala-te.”
Muitos de nós temos tomado a mesma atitude, jun-
tando tesouros para nós, pensando que o saldo bancário ou
os bens serão a garantia para o futuro. Se o saldo diminui,
entramos em desespero. Contudo, à pessoa que vive desta
maneira, Deus a chama de LOUCA. Disse Deus: “Louco,
esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado; para
quem será?” (Lucas 12:13-21 – meu grifo). A pergunta é:
“para quem?”
Veja Eclesiastes 4:8: Para quem trabalho eu? O Se-
nhor nos deixa claro: não devemos acumular para nós. A
ideia subjacente é: aquilo que temos deve alegrar outros,
deve beneficiar e abençoar o meu próximo.
Acompanhemos as parábolas contidas em Lucas 15,
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 131
e então notaremos a verdade acima. Os versículos 6, 9 e
23 têm uma só ênfase: o homem que encontrou a ovelha,
convidou os amigos e vizinhos: “Alegrai-vos comigo”; a mu-
lher que encontrou a dracma, disse às amigas e vizinhas:
“Alegrai-vos comigo”; e o pai que reencontrou o filho dis-
se: “Comamos e regozijemo-nos”. Aqui vemos as riquezas
e bens como instrumento para proporcionar aos amigos e
vizinhos alegria e bem-estar.
“Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a Terra,
onde a traça e a ferrugem corroem e os ladrões escavam e
roubam”. A outra questão é tão crucial quanto a anterior:
Onde estamos acumulando tesouros? A Palavra diz que os
tesouros da Terra são passíveis de serem corroídos pelas tra-
ças e ferrugem e de serem escavados e roubados por ladrões.
Não queiramos, portanto, ser iguais àquele homem
louco. Não construamos sobre nada que seja passageiro.
A aparência deste mundo passa (1 Coríntios 7:31), e tudo
aquilo que há no mundo também passará. O Senhor Jesus
quis dizer, neste versículo, que nossa atenção deve estar na-
quilo que é eterno. O nosso tesouro deve ter a garantia da
eternidade, e não daquilo que é perene.
Finalmente, abordemos brevemente Mateus 19:16-
21. O jovem rico aproximou-se do Senhor e perguntou-lhe
a respeito da vida eterna: “Que devo fazer para alcançar a
vida eterna?” A resposta de Jesus foi: “Guarda os manda-
mentos”. Esta é a maneira de termos a vida eterna: guardar-
mos os mandamentos do Senhor. Contudo, Jesus apresenta
ao jovem rico uma proposta mais elevada: “Se queres ser
perfeito, vá, vende os teus bens e dá aos pobres, e terás um
tesouro no céu”. A perfeição aqui fala de desapego aos bens
132 Jamê Nobre
materiais, de não colocarmos o nosso coração nas riquezas.
Deus determinou que seremos perfeitos não apenas ven-
dendo os nossos bens, mas aplicando em pessoas, no caso,
nos pobres. Assim procedendo, ajuntaremos um tesouro
no céu, o qual jamais será corroído, escavado ou roubado.
Aqui está o desafio de buscarmos em Deus a realidade des-
sa palavra. Que Ele nos abençoe.

O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 133


APÊNDICE I

Os índices de desperdício de alimentos no Brasil, um


país com 46 milhões de famintos, batem recordes mundiais.
Um estudo realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa), no Centro de Agroindústria de
Alimentos, mostra que o brasileiro joga fora mais do que
aquilo que come. Em hortaliças, por exemplo, o total anual
de desperdício é de 37 quilos por habitante.
Dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) mostram que, nas dez maiores capitais
do Brasil, um cidadão consome 35 quilos de alimentos ao
ano — dois a menos do que o total que se joga no lixo. ‘‘Num
país com tantos famintos como é o Brasil, esse desperdício
é inadmissível’’. A média de desperdício de alimentos no
Brasil está entre 30% e 40%. Nos Estados Unidos, esse
índice não chega a 10%. Não há estudos conclusivos que
determinem o desperdício nas casas e nos restaurantes, mas
estima-se que a perda no setor de refeições coletivas chegue
a 15% e, nas nossas cozinhas, a 20% (Antônio Gomes,
químico industrial e responsável pela pesquisa)
Muitos economistas e governantes justificam a fome
pela densidade demográfica. Dizem que há muita popula-
ção para pouco alimento. Se assim fosse, a África, com uma
densidade demográfica de 18 h/km2 não sofreria com a fome;
enquanto a Europa Ocidental, com 98h/km2, estaria com
um sério problema de alimentação. O fato é que se dá exata-
mente o contrário, o que determina a invalidade dessa tese.
Outros alegam que há fome na África porque somente
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 135
30% de suas terras são produtivas. Essa tese também é invali-
dada se ela for comparada a Mônaco, um mini estado onde
não se passa fome. O fato é que na primeira não há poder de
compra, enquanto na segunda esse poder é bastante grande.
Há aqueles que dizem haver muita população para
pouco alimento. No entanto, se se considerar que um adul-
to não desportista necessita de 2500 calorias diárias, e se
imaginar que uma criança consuma tanto quanto um adul-
to, observar-se-á que a produção atual de alimentos já era
suficiente para uma população projetada para o ano 2015.
Portanto, o problema da fome não é devido a nenhum
dos fatos acima relacionados, mas a questões político-eco-
nômicas.
As estimativas mundiais atuais indicam que:
1. Cerca de 24.000 pessoas morrem diariamente de-
vido à fome, ou a causas relacionadas a ela. Esse
número diminuiu de 35.000, há dez anos, e de
41.000, há vinte anos.
2. Atualmente, 10% das crianças dos países em de-
senvolvimento morrem antes dos cinco anos. Há
cinquenta anos, esta percentagem era de 28%.
3. A escassez de alimentos e as guerras são respon-
sáveis por apenas 10% das mortes devido à fome,
embora sejam estas, normalmente, as causas
apontadas mais frequentemente. A maior parte
das mortes por fome é provocada por desnutrição
crônica. As famílias simplesmente não conseguem
obter comida suficiente
4. Além da morte, a desnutrição crônica também
provoca a diminuição da visão, a apatia, a atrofia
do crescimento, e aumenta consideravelmente a
136 Jamê Nobre
suscetibilidade às doenças. As pessoas que sofrem
de desnutrição grave ficam incapacitadas de fun-
ções até mesmo a um nível mais básico.
5. Segundo as estimativas, cerca de 800 milhões de
pessoas em todo o mundo sofrem de fome e sub-
nutrição, cerca de 100 vezes mais do que as que
morrem anualmente em consequência dela.
6. Muitas vezes, são necessários apenas alguns recur-
sos simples para que os povos empobrecidos te-
nham capacidade de produzir alimentos bastante
para se tomarem autossuficientes. Esses recursos
incluem sementes de boa qualidade, ferramentas
adequadas e o acesso à água. Pequenas melhorias
nas técnicas de cultivo e nos métodos de armaze-
namento de alimentos também são úteis.
7. Muitos peritos nas questões da fome acreditam
que, fundamentalmente, a melhor maneira de re-
duzir a fome é por meio da educação. As pesso-
as instruídas têm uma maior capacidade para sair
deste ciclo de pobreza que provoca a fome.
Considerando-se apenas os aspectos políticos, sociais,
econômicos e culturais, a verdadeira explicação para a fome
está em vários fatores:
• a grande diferença de renda e seu contraste: pou-
cos ganham muito e muitos, pouco;
• o subaproveitamento do espaço rural por ativida-
des agropastoris, enquanto milhões de pessoas não
possuem terra para cultivar;
• a utilização da terra para uma agricultura comer-
cial de exportação, em detrimento da agricultura
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 137
voltada para o mercado interno;
• a injusta e antidemocrática estrutura fundiária,
marcada pela concentração de grandes latifúndios
nas mãos de poucos;
• o difícil acesso aos meios de produção pelos peque-
nos produtores rurais e pela população em geral;
• a invasão do campo pelo capitalismo selvagem;
• a influência das transnacionais de alimentos na
produção agrícola e nos hábitos alimentares da
população;
• a utilização do agro poder ou da “diplomacia de ali-
mentos” como arma nas relações entre os países;
• a canalização de grandes recursos financeiros para
a produção de material bélico, que poderiam ser
mais bem utilizados na produção de alimentos;
• o grande consumo de cereais (60,6%) na alimenta-
ção animal dos países desenvolvidos, em contraposi-
ção à falta de alimentos nos países subdesenvolvidos;
• a relação entre as dívidas externas do terceiro mun-
do e a deterioração cada vez mais elevada de seu
nível alimentar;
• a relação entre a cultura e a alimentação;
• a falta de uma política agrária que leve o homem
do campo a lá permanecer e produzir;
• a falta de informação à população sobre como usar
os alimentos por completo, usando-os na alimen-
tação diária, em sucos, chás e adubação orgânica.

(Maria Benedita da Silva, professora da E.B. e Claudete


Maria Hoffmann Domingos, Florianópolis)

138 Jamê Nobre


APÊNDICE II

Tomo a liberdade de expor alguns pensamentos para


serem desenvolvidos por aqueles que estão realmente in-
teressados em mudar o comportamento e o ambiente ao
seu redor, usando-se as verdades contidas no capítulo 58 do
profeta Isaías.
Que o Senhor nos ajude a entender o que ele quis nos
dizer, quando fala do verdadeiro jejum.
O texto fala de ações e atitudes daquele que se diz ser-
vo de Deus, e as recompensas e resultados que se tem com
o verdadeiro jejum
É interessante notar que esse Jejum do qual fala o
Senhor é totalmente desvinculado de interesses pessoais, e
o profeta convoca o povo para uma transformação drástica
da vida. Isaias começa repreendendo o povo, chamando-o
a praticar uma vida religiosa, diferente daquilo que viviam.
Deus ordena que o profeta clame a plenos pulmões –
falar com força, bem alto. Isso denota a importância desse
assunto.
Como vivia o povo:
a. Buscava a Deus dia a dia (v. 2)
b. Tinha prazer em conhecer o caminho do Senhor
(v. 2)
c. Aparentemente praticava a justiça (v. 2)
d. Também, supostamente, buscava o direito de
Deus (v. 2)
e. Inquiria a Deus pelos direitos da justiça (v. 2)

O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 139


f. Tinha prazer em se chegar a Deus v. 2)
g. Era um povo que jejuava (v. 3)
h. Incomodava-se pela falta de respostas do Senhor –
não era alheio às suas próprias orações (v. 3)
A mensagem do profeta mostra que, apesar de terem
uma vida religiosa muito ativa e aparentemente espiritu-
al, não viam que a tônica da vida com Deus, como vemos
aqui, é um desapego de si mesmo para alcançar dois obje-
tivos principais:
a. A honra do Senhor
b. O serviço ao próximo
A resposta do Senhor nos dá a compreensão de que
podemos fazer tudo aquilo que aquele povo fazia, porém,
sem agradar o coração do Pai:

“Cuidais dos vossos próprios interesses e exigis


que se faça todo o vosso trabalho”; versículo 3.

Isso significa que podemos ter uma vida de muitas ati-


vidades religiosas boas sem, no entanto, agradar a Deus.

O que é que Deus condena nessa mensagem?


Que eu cuide de meus interesses ao me empenhar na
vida espiritual, buscando a Deus para mim mesmo, para eu
receber as coisas que importam a mim:
a. Pode ser minha saúde – para eu ficar livre de en-
fermidades, de dores e outras afecções, sem que
isso redunde em eu me desgastar, até perder a saú-
de em benefício dos outros;
b. Pode ser ter mais recursos para ter uma vida que
possa ajudar mais os outros, sem que eu ou minha
140 Jamê Nobre
família passe por privações “vestindo um santo, sem
descobrir outro”. Parece que os irmãos que estavam
dispostos a perder a vida, a saúde e até os olhos em
favor de Paulo compreendiam desse modo;
c. Pode ser a oração para Deus me livrar de um tor-
mento, sem que eu entenda que alguns tormentos
são provenientes do próprio Deus para eu depen-
der da graça dele e, assim, ser mais entregue ao
Seu serviço.
O profeta diz que há uma exigência da parte do povo
que alguém faça aquilo que é minha obrigação. Será que
ele não estaria falando das nossas orações, quando pedimos
que Ele salve as pessoas sem que preguemos? Será que não
estaríamos orando para Deus curar os doentes, quando há
uma ordem clara para que curemos os enfermos e doen-
tes? Não poderia ser que estamos pedindo que Deus vista o
nu, abrigue ao desabrigado, alimente o faminto, traga uma
palavra de consolo a alguém, sendo que essas são minhas
responsabilidades?

Sobre o comer:
1. Não há menção no texto a privação de alimentos;
2. Quando fala de alimento é no sentido de suprir
ao faminto, a meu ver, eu tomo o que seria meu e
reparto, ou dou para quem não tem;
3. Não há no texto nenhuma reprimenda quanto a
autoprivação de comida;
4. O profeta quer nos mostrar que o deixar de comer,
sem as outras práticas, sem as atitudes para aben-
çoar ao próximo, não é o jejum que agrada a Deus.
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 141
“1 Clama a plenos pulmões, não te detenhas, er-
gue a voz como a trombeta e anuncia ao meu povo
a sua transgressão e à casa de Jacó, os seus peca-
dos. 2 Mesmo neste estado, ainda me procuram
dia a dia, têm prazer em saber os meus caminhos;
como povo que pratica a justiça e não deixa o di-
reito do seu Deus, perguntam-me pelos direitos da
justiça, têm prazer em se chegar a Deus, 3 dizen-
do: ‘Por que jejuamos nós, e tu não atentas para
isso? Por que afligimos a nossa alma, e tu não o
levas em conta?’ Eis que, no dia em que jejuais,
cuidais dos vossos próprios interesses e exigis que
se faça todo o vosso trabalho. 4 Eis que jejuais
para contendas e rixas e para ferirdes com punho
iníquo; jejuando assim como hoje, não se fará ou-
vir a vossa voz no alto. 5 Seria este o jejum que
escolhi, que o homem um dia aflija a sua alma,
incline a sua cabeça como o junco e estenda de-
baixo de si pano de saco e cinza? Chamarias tu a
isto jejum e dia aceitável ao SENHOR?”’

Condições
6 Porventura, não é este o jejum que escolhi:
a. que soltes as ligaduras da impiedade,
b. desfaças as ataduras da servidão,
c. deixes livres os oprimidos e
d. despedaces todo jugo?

7 Porventura, não é também que


a. repartas o teu pão com o faminto, e
b. recolhas em casa os pobres desabrigados, e,
c. se vires o nu, o cubras, e
d. não te escondas do teu semelhante?
142 Jamê Nobre
Recompensas
8 Então,
a. romperá a tua luz como a alva,
b. a tua cura brotará sem detença,
c. a tua justiça irá adiante de ti,
d. e a glória do SENHOR será a tua retaguarda;

9 então,
a. clamarás, e o SENHOR te responderá;
b. gritarás por socorro, e ele dirá: “Eis-me aqui”.

Condições
a. Se tirares do meio de ti o jugo, o dedo que ameaça,
b. o falar injurioso;
c. se abrires a tua alma ao faminto e
d. fartares a alma aflita, então,

Recompensas
a. a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será
como o meio-dia.
b. o SENHOR te guiará continuamente,
c. fartará a tua alma até em lugares áridos e
d. fortificará os teus ossos;
e. serás como um jardim regado e como um manan-
cial cujas águas jamais faltam;
f. Os teus filhos edificarão as antigas ruínas;
g. levantarás os fundamentos de muitas gerações e
h. serás chamado reparador de brechas e restaurador
de veredas, para que o país se torne habitável.
O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 143
Condições
a. Se desviares o pé de profanar o sábado e de cuidar
dos teus próprios interesses no meu santo dia;
b. se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do SE-
NHOR, digno de honra, e o honrares não seguin-
do os teus caminhos;
c. não pretendendo fazer a tua própria vontade;
d. nem falando palavras vãs;

Recompensas
a. então, te deleitarás no SENHOR.
b. Eu te farei cavalgar sobre os altos da Terra e
c. te sustentarei com a herança de Jacó, teu pai, por-
que a boca do SENHOR o disse.

Resumindo, o que o Senhor chama de verdadeiro


jejum é:
1. Soltar os laços da iniquidade (Isaías 58: 6).
2. Para desfazer os fardos pesados.
3. Deixar os oprimidos irem livres.
4. Quebrar todo jugo (Isaías 58: 6,9).
5. Levar pão aos famintos (Is. 58: 7).
6. Proteger os desabrigados.
7. Cobrir os nus.
8. Não para encobrir suas próprias falhas.
9. Invocar e clamar a Deus (Is. 58: 9).
10. Deixar de acusar os outros.
11. Parar de falar vaidade.
12. Ter compaixão dos famintos (Isaías 58:10).
144 Jamê Nobre
13. Satisfazer a alma aflita.
14. Evitar profanar os sábados (Isaías 58:13).
15. Abster-se de fazer o próprio prazer aos sábados.
16. Amar e deliciar-se com os sábados.
17. Chamar os sábados de santos ao Senhor.
18. Para chamar os sábados de honoráveis.
19. Honrar a Deus em todas as coisas.
20. Viver uma vida altruísta.
21. Viver para Deus e não para o próprio prazer.
22. Falar a Palavra de Deus, não a sua.
23. Abster-se de comida.

Que o Senhor nos ensine a caminhar no Seu Cami-


nho, com Seu Coração, andando em Sua Vontade.

O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 145


BIBLIOGRAFIA

1- A Crise da Integridade – W.W. Wiersche – Editora Vida,

2- A Vida Normal da Igreja Cristã – W. Nee – Editora Unida

3- Bíblia Scofield, versão atualizada;

4- Bíblia Vida Nova, versão atualizada;

5- Confie a Deus Suas Finanças, C.P.P., Jack Hartman;

6- Doutrina Bíblica Sobre Finanças, Apostila de Ademir


Ifanger

7- O Novo Dicionário da Bíblia Vl. 1, Vida Nova;

8- O Novo Testamento Interpretado, Vl 1, Milenium;

9- Pequena Enciclopédia Bíblica, Ed. Vida, O. S. Boyer;

10- Strong’s Exaustive Concordance, Baker, J.H. Strong.

11- Economia do Reino – Matheus Ortega – Thomas Nelson


Brasil

12- O Reino de Ponta Cabeça, Donald Kraybill -

13- Casas que Transformam o Mundo – Wolfgang Simson –


Editora Esperança

O Reino de Deus e a Mordomia Cristã 147


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