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A HISTÓRIA DA BÍBLIA

O termo “Bíblia” vem do grego “biblion”, livrinho, e de sua forma plural “bíblia”, ou seja, livros.
É o nome que os cristãos empregaram desde os primeiros séculos para designar a Palavra de Deus. É
também chamada “Escritura Santa” e “Sagradas Escrituras”. Consiste em duas partes: uma é chamada
“Velho Testamento”, porque é a coleção dos livros escritos antes da Era Cristã. A outra, chamada
“Novo Testamento”, foi escrita após o início da Era Cristã. Os livros do Velho ou Antigo Testamento
foram escritos separadamente. Usavam-se peles de animais, que eram enroladas e presas a hastes nas
extremidades. Assim se formavam rolos que eram desenrolados numa haste e enrolados na outra, à
medida em que eram lidos.

A língua original dos livros do Velho Testamento é o hebraico, com exceção de uma pequena
parte, que foi escrita em aramaico. Já os livros do Novo Testamento foram escritos especialmente em
pergaminhos ou papiros e distribuídos às igrejas em forma de cartas. Foram escritos em grego.

O Antigo Testamento - O Antigo Testamento era chamado, na Alexandria, de “A Aliança” (no


grego “diatheké”, no hebraico “berith”). Como o termo grego tinha também o sentido de
“testamento”, o primeiro sentido, de “aliança”, “concerto”, ficou esquecido. Ele, no entanto, aparece
em todo o Velho Testamento, como nesta passagem: “Eis aí virão dias... e farei uma nova aliança com
a casa de Israel”. (Jr 31:31).

A mensagem Divina nos foi dada na Bíblia em forma de leis, instruções, histórias e profecias,
para que nós, de uma raça humana decaída, pudéssemos novamente conhecer o nosso Criador e ter
os meios de nos prepararmos para voltar ao estado feliz de integridade, quando o homem pode, “face
a face” com Deus, receber a inteligência, a sabedoria e, por esse meio, os sentimentos
verdadeiramente humanos que lhe foram destinados. Em nosso curso, faremos distinção entre o que
é “Bíblia” e o que é “Palavra”, como veremos depois. Entretanto, tomaremos o termo “Bíblia” sempre
para designar a forma, corpo ou continente que encerra a mensagem Divina, a Revelação que o Senhor
concedeu visível aos nossos olhos naturais.

Os livros que formam a Bíblia

A quantidade de livros da Bíblia varia, dependendo da cópia ou versão adotada. Há duas versões
da Bíblia em uso no mundo cristão: uma é usada pela Igreja Católica Romana e tem 72 livros. A outra,
usada pelas demais igrejas, tem 66. Essa diferença de versões vem do fato de que antigamente
existiam duas coleções de rolos sagrados, rolos esses que, traduzidos, formam hoje o Velho
Testamento. Na Alexandria, os judeus usavam em seus rituais e suas leituras uma coleção de 45 livros;
já os da Palestina tinham uma coleção com apenas 39. Quando os rolos foram traduzidos surgiu a
diferença. A coleção da Alexandria foi traduzida por 70 (ou 72) doutores, sendo daí chamada de
“Septuaginta”, ou “dos Setenta”. Mais tarde a Igreja Católica veio a adotar esta coleção, ficando com
45 livros em seu Antigo Testamento. Diga-se de passagem, que essa tradução “dos Setenta”, para o
grego, era a mais usada no tempo da vinda de Jesus Cristo, sendo citada por Ele mesmo e por Seus
discípulos e apóstolos, especialmente por Mateus.

Divergindo da Igreja Católica, a Igreja Evangélica ou Reformada (apelidada de “Protestante”),


adotou, por volta do século XVI, a versão traduzida da coleção usada pelos judeus da Palestina,
resultando daí o Velho Testamento com 39 livros. Esta é a origem da diferença existente hoje entre o
que se chama a “Bíblia católica” e a “protestante”. Todavia, no que se refere à mensagem essencial,
não há entre elas nenhuma diferença. Não há mudança capaz de alterar o sentido ou prejudicar o
entendimento das verdades acerca da vontade Divina para com o homem.

As diversas traduções da Bíblia - Desde que os primeiros textos foram traduzidos para o grego

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(entre 285 e 132 a.C.) pelos “Setenta”, a Bíblia tem sido traduzida para mais de 240 idiomas em todo
o mundo. Dentre as versões mais antigas ou famosas, podem se destacar: a de Áquila, feita em 128
a.C., para o grego; as latinas (a Ítala e a Vulgata), de entre 120 e 300 AD; a Siríaca, do séc. II AD; a
Etíope, do séc. IV AD; a Cóptica, do séc. V. Mais tarde surgiram as versões Persa (1341), Germânica
(do séc. XVI) e as inglesas, de Wycliffe (1384) e “King James” (1611), esta última até hoje usada
como foi feita.

As traduções portuguesas mais antigas e conhecidas são as dos padres João Ferreira de Almeida
(1700) e António Pereira de Figueiredo (1790). Dessas traduções se fazem constantes revisões e
atualizações. Para uma leitura com fins de estudo teológico, recomenda-se a versão de João Ferreira
de Almeida Revista e Atualizada, por ser, no Brasil, uma das que mais fielmente expressa o sentido
da letra original.

As Fontes das Traduções Atuais

Os manuscritos em hebraico - Além do texto organizado pelos massoretas, ainda podemos contar
com os manuscritos de antigas cópias e versões, muitas delas anteriores à época massorética. Esses
manuscritos são produções dos mais diversos períodos, mas especialmente do século V em diante.

Os manuscritos mais famosos hoje são, talvez, os chamados “rolos do Mar Morto”, porque são
os mais antigos de que se tem notícia. Foram encontrados na região de Qumran, numa caverna dos
penhascos da margem ocidental do Mar Morto, no ano de 1947. Acredita-se que naquelas cavernas
viviam os essênios, seguidores de uma seita judaica muito antiga. Os rolos estavam guardados em
potes de cerâmica, numa espécie de sala secreta de uma das cavernas. Eram vários rolos de peles de
animais e um rolo de cobre, em que se gravaram vários livros do Velho Testamento, comentários e
parágrafos desses livros e textos litúrgicos, que faziam parte da biblioteca essênica. O material foi
examinado por várias instituições científicas israelenses e europeias, tanto cristãs quanto judaicas, as
quais fixaram a data desses escritos em, pelo menos, 200 anos antes de Cristo, constituindo-se nos
manuscritos mais antigos já encontrados até hoje. Nos anos seguintes, até o ano de 1956, pesquisas
arqueológicas encontraram, no mesmo local, centenas de outros rolos sobre diversos assuntos. Do
Velho Testamento, os rolos principais encontrados foram: duas cópias do livro de Isaías, os Salmos,
o livro de Jó, o de Ezequiel, uma paráfrase de Gênesis e outra de Habacuque, e outros, todos da
mesma época.

Mas o que mais nos chama a atenção nessa descoberta é que os textos ali copiados revelam uma
notável semelhança com os textos hebraicos atuais, provando-nos, assim, que os textos sagrados da
Palavra são hoje os mesmos que existiram no século II antes de Cristo, ou seja, após mais de 2.100
anos. Daí temos mais uma prova da Providência Divina na preservação de Sua Palavra. Um dos
cientistas que trabalharam no exame dos manuscritos do Mar Morto foi John Allegro. Ele depois
escreveu um livro (“The Dead Sea Scrolls”) em que põe lado a lado os textos daqueles rolos, dos
livros de Samuel e Deuteronômio, e os textos dos mesmos livros da Septuaginta, onde o leitor pode
constatar a preservação dos textos em sua forma antiga quanto a cada palavra. Existem,
evidentemente, leves diferenças entre as cópias, mas que não chegam a causar nenhuma alteração no
sentido.

Outros manuscritos, às centenas, têm sido conhecidos e consultados há séculos, servindo de base
e referência para as atuais traduções. Classificando-os conforme a língua em que foram escritos,
citaremos somente os que se seguem abaixo.

Escritos em hebraico ou aramaico - Os mais conhecidos são: o “Códice Palestino” (“códice” quer
dizer manuscrito de importância histórica). Contém os cinco livros de Moisés. Datado do século 9 ou
11 da Era Cristã. Encontra-se no Museu Britânico. O “Códice Mugar”, o “Códice Hillel” e o “Códice

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Ben Asher”. Hoje estão perdidos, mas que foram consultados e mencionados por historiadores e
comentadores. O “Códice Babilônico”. Datado de 916. O “Códice Samaritano”, considerado
antiquíssimo, mas de data não determinada.

É geralmente aceito que, nessa variedade dos manuscritos preservados, uns mais, outros menos
fiéis, está conservado, sem qualquer mudança significativa, o mesmo texto que os judeus tinham por
volta do ano 90, quando, em Jamnea, fixaram o seu cânon das Escrituras. Essa crença pôde ser
confirmada pelos achados do Mar Morto, como se falou acima.

Escritos em grego: o Códice Vaticano (de 1209), considerado incomparável quanto à pureza do
texto; o “Códice Sinaítico” ou “Álefe”, que contém a metade do Velho Testamento; foi descoberto
em 1859; o “Códice Alexandrino”, do século IV. Contém a versão Septuaginta do Velho Testamento
e uma versão do Novo. Acha-se também no Museu Britânico; o “Códice de Efraím”. Datado do século
VI. É parte dos dois Testamentos. Encontra-se na Biblioteca de Paris.

Escritos em latim: As versões “Samaritana” e “Septuaginta” são anteriores à Era Cristã, como se
sabe. Mas quando o cristianismo se espalhou pelo Império Romano e pelo Oriente, apareceram muitas
versões também em latim. Dessas, as principais são: a “Velha Latina”. Foi uma tradução da
Septuaginta, feita no século II. Mas as cópias hoje existentes são de depois do século IV; a “Vulgata”,
do fim do séc. IV e início do séc. V. Foi revisada ou compilada por Jerônimo (S. Jerônimo). Os
manuscritos existentes dessa versão datam de 600 a 900.

Assim, graças à conservação destes e de centenas de outros manuscritos; graças ao cuidadoso


trabalho de pessoas capazes e responsáveis do mundo judaico e cristão; e graças às recentes
descobertas arqueológicas e às pesquisas científicas, podemos afirmar, não por fanatismo nem crença
cega, que a Palavra de Deus está sob uma proteção especialíssima. Através dos séculos, a Revelação
escrita tem resistido incólume às mais diversas vicissitudes e às influências de diferentes culturas e
civilizações. É por isso que eruditos de renome já afirmaram que o cristão de hoje pode dizer, sem
receio ou hesitação, que tem em suas mãos a verdadeira Palavra de Deus, preservada em sua plena
integridade.

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