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GESTÃO E

MARKETING NA
EDUCAÇÃO FÍSICA

Juliano Vieira da Silva


Empreendedorismo e
intraempreendedorismo
na educação física
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Definir empreendedorismo e intraempreendedorismo na educação


física.
„„ Reconhecer as possibilidades do profissional de educação física como
empreendedor/intraempreendedor.
„„ Identificar a atuação do profissional de educação física como gestor
nos negócios.

Introdução
A busca por profissionais de qualidade está presente em qualquer área.
Nos dias atuais, além da parte técnica de cada profissão, exige-se virtudes
específicas, como a capacidade de inovar e trazer novas possibilidades
para a empresa ou para a carreira, o que chamamos de empreendedo-
rismo e intraempreendorismo. Essas qualidades também são vitais para
o sucesso do professor de educação física, que tem uma vasta área de
atuação a explorar, podendo atuar como empreendedor, intraempreen-
dedor ou gestor do negócio.
Neste capítulo, você estudará o empreendedorismo e o intraem-
preendedorismo na educação física e vai conhecer as possibilidades
de atuação do profissional de educação física como empreendedor/
intraempreendedor. Por fim, vai ver como se dá atuação desse profissional
como gestor nos negócios.
2 Empreendedorismo e intraempreendedorismo na educação física

Empreendedorismo e intraempreendedorismo
na educação física
O empreendedorismo e o intraempreendedorismo são áreas relativamente
novas no campo de estudos da educação física. Embora, desde o Período
Moderno, muitas atividades empreendedoras façam parte da trajetória dessa
área, pouco se tem discutido sobre o tema. Antes de relacionar essas áreas, é
necessário analisar os seus conceitos.
Segundo Dolabela (1999 apud LOBATO; CARMO, 2009), a palavra em-
preendedorismo surgiu no século XII, com origem do francês entrepreneur,
e designava a pessoa que provocava ou incentivava brigas. A palavra só foi
associada a negócios no ano de 1755, quando Richard Cantillon denomina
empreendedor aquele que identifica oportunidades de negócios e assume
riscos de realizá-los (LOBATO; CARMO, 2009).
Em 1930, Joseph Schumpeter define empreendedor como aquele que inova
e obtém lucros com assunção dos riscos. Segundo o referido autor, anos depois:

[...] chamamos empreendedores não só aqueles homens de negócios “indepen-


dentes”, de uma economia mercantil [...] como também todos os que, realmente
preenchem, aquela função que definimos; ainda que, como está sendo a regra,
sejam empregados “dependentes” de uma companhia [...] por outro lado, o
nosso conceito é mais restrito que o tradicional, pelo fato de não abranger
todos os diretores de firmas, gerentes ou industriais que, simplesmente, apenas
dirigem um negócio estabelecido [...] (SCHUMPETER, 1961, p. 103–104).

Para Schumpeter (1961), o empreendedorismo reflete na capacidade de


inovação, que age como um agente de mudança para o crescimento econômico.
Dolabela (1999 apud LOBATO; CARMO, 2009) menciona que o empreendedor,
ou seja, aquele que pratica o empreendedorismo, está relacionado ao desenvolvi-
mento econômico, à inovação e ao aproveitamento de oportunidades em negócios.

Dolabela (1999 apud LOBATO; CARMO, 2009) aponta algumas características das
pessoas empreendedoras: buscam a oportunidade; têm iniciativa, persistência e
comprometimento; são exigentes no tocante à qualidade e à eficácia; estabelecem
metas; correm riscos calculados; são bem informadas; mantêm um planejamento; têm
uma rede de contatos; são independentes e autoconfiantes.
Empreendedorismo e intraempreendedorismo na educação física 3

O termo intraempreendedorismo, por sua vez, é bem mais recente, tendo


sido utilizado pela primeira vez em 1980 pelo consultor administrativo Gifford
Pinchot III, que o utilizou para designar a pessoa que, “dentro de uma grande
corporação, assume a responsabilidade direta de transformar uma ideia ou
projeto em produto lucrativo através da inovação e de assunção de riscos”
(LANA, 2010).
A partir dessa premissa, percebe-se que o intraempreendedor atua dentro
de uma empresa, buscando modificar alguma prática ou produto, visando ao
desenvolvimento e à melhoria. Segundo a definição de Jarilo e Stevenson
(1990 apud LANA, 2010), o intraempreendedorismo é o empreendedorismo
que ocorre dentro de empresas já existentes. Nessas organizações, os indiví-
duos intraempreendedores perseguem oportunidades independentemente dos
recursos que controlam.
Assim, empresas com funcionários intraempreendedores darão condições
para que estes se sintam responsáveis e donos do negócio, a fim de que tenham
sentido de pertencimento.

Hamilton (2008 apud LANA, 2010) aponta algumas características das pessoas intraem-
preendedoras: têm confiança e confortabilidade para dar opiniões; têm boas habilidades
políticas e de negócios, pois sabem como funciona a empresa; constroem uma rede
de relacionamentos; e são inovadores, pois enxergam a melhor oportunidade para
modificar ou melhorar o produto.

Lobato e Carmo (2009) afirmam que estes temas — empreendedorismo e


intraempreendedorismo — são os grandes desafios para a formação da gradu-
ação em educação física, sendo este um dos caminhos para as universidades,
devendo-se apresentar as habilidades e a importância dessas funções para o
desenvolvimento econômico e outras funções do país. Os autores apontam,
também, que as universidades ainda focam o ensino na busca por emprego,
e não em empreender.
4 Empreendedorismo e intraempreendedorismo na educação física

Além disso, os autores verificaram, em seus estudos, o potencial empre-


endedor dos acadêmicos do 7º período de educação física da Universidade
Federal de Viçosa, em Minas Gerais. Os entrevistados obtiveram resultado
transitório (entre 46 e 65%), demonstrando a necessidade de que esse tema
seja trabalhado com apoio técnico dos bancos acadêmicos, a fim de identificar
lacunas na formação do profissional de educação física.
Sobre o empreendedorismo na educação física, Dias (2010) apresenta que
ocorre a relação a partir de duas formas: pela formação para atuação pedagó-
gica na escola e pela formação para atuação fora do espaço formal, visando
à criação do próprio negócio, como as academias de ginástica, musculação,
entre outros. Na escola, o que o autor chama de “perspectiva pedagógica”,
o profissional de educação física pode abordar novas formas de ensino da
disciplina, respeitando e valorizando a cultura local. Também se sugere o uso
de pesquisa, para que os alunos construam as próprias atividades.
Já na perspectiva profissional, ou seja, fora do espaço formal da escola,
Nascimento (2002 apud DIAS, 2010, p. 65) aponta que “visualiza-se no futuro
o profissional de Educação Física como um empreendedor vendendo serviços
no mercado”, pois haverá “a redução progressiva de postos tradicionais (escola
e clube) e o aumento crescente de postos de trabalho junto ao serviço comuni-
tário e outras instituições não tradicionais do esporte (empresas, hospitais,...)
no âmbito municipal e privado”.
Lucchetti (2018) aponta que, devido ao grande campo de atuação da educa-
ção física, as possibilidades de empreender nessa área são muito grandes em
ambientes profissionais — destacando-se a busca pela qualidade de vida e o
bem-estar — e em grupos de corrida ou de outros exercícios físicos. No entanto,
o autor refere que, mesmo com essa grande gama de opções, é fundamental
que o profissional tenha foco, criando uma autoridade e se tornando referência
em uma área. É igualmente importante investir no negócio e em si próprio,
nunca parando de estudar, de se atualizar e se informar de novidades da área.
Nesta seção, foram apresentados os conceitos de empreendedorismo e
intraempreendedorismo, bem como suas relações com a educação física a partir
do seu campo de atuação. A seguir, serão apresentadas as possibilidades que
o profissional dessa área tem para empreender e intraempreender.
Empreendedorismo e intraempreendedorismo na educação física 5

Possibilidades de empreendimento e
intraempreendimento em educação física
Como visto na seção anterior, as possibilidades de empreendimento e intra-
empreendimento se encontram no campo escolar e no chamado espaço fitness,
envolvendo clubes e academias. No entanto, para saber onde o profissional
de educação física é necessário, deve-se conhecer o mercado. Nesse quesito,
é importante se valer de pesquisas de tendências.
Na área de educação física, uma das publicações mais importantes é feita
pela American College of Sports Medicine (ACSM). A ACSM realiza uma pes-
quisa anual de tendências para o ano subsequente. O levantamento é realizado
com 3 mil professores de educação física e profissionais de saúde. Além das
tendências mundiais, para o ano de 2020, foi realizada uma pesquisa sobre a
América do Sul, com a participação de 894 profissionais brasileiros e argenti-
nos. Os resultados apontados para o continente sul-americano apresentaram os
treinamentos para perder peso na primeira colocação. Na sequência, tem-se a
medicina do exercício e estilo de vida, treinos com personal trainer, programas
para pessoas mais velhas, treino funcional, qualificação profissional, HIIT (do
inglês high-intensity interval training — treino intervalado de alta intensidade),
treinos em grupo, aulas on-line e treino específico para um esporte.

Nas tendências internacionais, poucas mudanças foram observadas. No entanto, uma


das mudanças está relacionada aos dispositivos tecnológicos como principal tendência,
como rastreadores fitness, relógios inteligentes e monitores de rastreamento cardíaco.
Curiosamente, esse ponto sequer entrou no ranking sul-americano (THOMPSON, 2019).

Como é possível observar nas tendências sul-americanas, os exercícios para


perder peso são o principal foco. Ao analisar os dez primeiros colocados no
ranking, observa-se que as modalidades de atividade física na academia, como
o treinamento funcional e o HIIT, estão bem cotadas e diretamente relacionadas
à tendência do emagrecimento, constituindo, assim, uma boa possibilidade
de empreender a partir de um estúdio específico ou intraempreender em um
ambiente de uma academia de musculação e ginástica.
6 Empreendedorismo e intraempreendedorismo na educação física

O treinamento funcional é originário da fisioterapia, porém passou a ser


utilizado em programas de condicionamento físico, desempenho atlético, assim
como para minimizar lesões. Esse tipo de treinamento utiliza atividades como
correr, saltar, agachar, rodar, girar, entre outras (PRANDI apud TEOTÔNIO et
al., 2013). De acordo com Shimizu (apud TEOTÔNIO et al., 2013, documento
on-line), atualmente, no Brasil, existem “três linhas metodológicas utilizadas
dentro de um TF, que são: TF para a especificidade esportiva; TF baseado no
Pilates, possuindo como foco o treinamento do core e, por último, TF baseado
em exercícios integrados pra melhoria das capacidades funcionais”. Para o
treinamento funcional, faz-se necessária a montagem de um box em uma sala
com cerca de 200 metros quadrados, contendo os aparelhos funcionais, como
bolas de peso, caixotes de salto, colchonete, corda naval e cordas funcionais,
entre outros. Um kit para essa modalidade pode custar entre mil e 10 mil reais.
Outra modalidade realizada em academia que segue sendo uma forte ten-
dência para empreender ou intraempreender é o HIIT. Segundo Tubino (1985),
o treinamento intervalado caracteriza-se como meio de preparação física que
compreende alternâncias entre períodos de trabalho e de recuperação, com
intensidades e durações controladas. Conforme a ACSM, os intervalos de alta
intensidade devem variar entre 5 segundos e 8 minutos e ser realizados entre
80 e 95% da frequência cardíaca máxima do praticante.
O HIIT pode ser realizado sem ou com aparelhos, como bicicletas ergo-
métricas, esteiras, cordas, ou na sala de musculação, pois o que conta nesse
exercício são os protocolos de alta intensidade. Sendo assim, o custo dessa
aula é menor, pois não é necessário local nem aparelhos específicos. Outra
opção são os treinos individualizados ou em pequenos grupos, como os de
personal training. Essa demanda surge a partir do público que prefere um
atendimento mais individualizado, tanto em prescrição de exercício como em
metas supervisionadas por um especialista.
Segundo o Sebrae ([201-?a]), para atuar nessa área, é necessária uma cons-
tante qualificação profissional a partir de cursos e especializações. Os custos
com atualização, equipamentos e divulgação giram em torno de R$ 5.800,00
mensais, no entanto, este é um mercado em crescimento, já que em torno de 8
milhões de brasileiros estão matriculados em academias, grupos de exercícios
ou em aulas com profissionais.
Outra característica da função de personal é o local de atuação, que pode
ocorrer em estúdio, na residência ou condomínio do cliente, em academias ou
locais ao ar livre, como parques. O preço a ser cobrado varia conforme o tipo
de serviço, a frequência semanal da aula, o local da prática e as qualificações
do profissional que oferece os serviços (SEBRAE, [201-?a]).
Empreendedorismo e intraempreendedorismo na educação física 7

Em contraponto aos treinos individuais, surgem como tendência fitness os


treinos em grupos. Uma das modalidades de maior crescimento nesse segmento
são as assessorias esportivas de corrida de rua. Estima-se que, no Brasil, as
corridas de rua movimentem um mercado de 3,1 bilhões de reais (em um
cenário com 4 milhões de corredores de rua). Segundo um estudo realizado
pela consultoria espanhola Relevance, de 2011 a 2017, houve um crescimento
de 50% no número de participantes de corridas no país (SEBRAE, [201-?c]).
Em um grupo de corrida de rua, faz-se necessário conhecer bem o público-
-alvo, pois tem-se corredores que buscam apenas condicionamento físico,
ao passo que outros visam à competição e à melhoria dos treinos. Embora o
grupo se caracterize pelo encontro para realizar o exercício, muitos corredores
querem apenas um treino, que o professor escreve, para que possam realizar
em seu local e horário de preferência. Os grupos de corrida de rua permitem,
ainda, uma grande socialização e capacidade de mudança de hábito de vida.
Além das corridas, o futebol também é uma outra opção de empreendi-
mento na área da educação física. Sendo o esporte mais popular do país, essa
modalidade permite a abertura para escolinhas em que crianças e adolescentes
podem aprender os fundamentos, regras e táticas desse esporte. Além disso,
a diminuição de espaços esportivos públicos e a possibilidade de se tornar
um jogador inflou o mercado, juntamente a parcerias com grandes clubes do
futebol brasileiro e internacional, que têm aberto suas escolinhas em vários
cantos do país. As escolinhas podem ser realizadas em quadras privadas, e
uma opção crescente é a utilização da quadra de condomínios que oferecem
o serviço aos próprios moradores (SEBRAE, [201-?b]).
Como o futebol, os condomínios também podem ser opções para outras
atividades, como dança, lutas, esportes, caminhadas e recreação. O professor
de educação física pode atuar nesses espaços divulgando seu trabalho para os
moradores e, a partir daí, montando pequenos grupos para as aulas. Também
pode se valer dos espaços além da quadra de esportes, como playgrounds,
academia e piscinas, existentes em alguns dessas habitações. Embora seja
um espaço com horários mais restritos, a segurança e a praticidade ganham
destaque, o que desencadeou um bom aumento na procura por esse espaço.
O professor pode optar por cobrar individual ou, caso seja uma opção do
condomínio, pela divisão do preço, o que naturalmente deixa a aula mais
acessível (DESIMONE, 2010).
Pela primeira vez na lista de tendências divulgadas pela ACMS estão as
aulas on-line. Esse mercado começa a crescer de forma exponencial e consiste
em programas ou aplicativos disponíveis na internet que contêm aulas ou dicas
de profissionais de educação física. As duas formas mais conhecidas são a
8 Empreendedorismo e intraempreendedorismo na educação física

aula propriamente dita, feita pelo professor com a visualização e o acompa-


nhamento dos alunos, ou, simplesmente, o aluno recebe seu treino por e-mail
e realiza em casa ou em um local de sua preferência. Para empreender nessa
área, o professor precisa ter uma boa rede digital e produzir vídeos para seu
canal ou plataforma (TINTI, 2017).

Como exemplo de plataforma de exercícios físicos tem-se a BTFIT, da BodyTech Com-


pany, que oferece aulas coletivas gratuitas diárias, e o aplicativo Exercício em Casa,
oferecem planos de aula de diversas modalidades.

No campo escolar, Dias (2010) aponta que o professor pode empreender


buscando aulas diferenciadas, como a organização de festivais esportivos, que
incluiriam desenvolvimento de jogos e esportes para todos os alunos. Esses
jogos, e as aulas em si, devem estimular o aluno a ser proativo, ou seja, ele deve
decidir o objetivo e onde quer chegar a partir dos conteúdos de educação física,
colaborando no processo de escolha e no método de ensino-aprendizagem.
Nesta seção, foram apresentadas as possibilidades de empreendimento e
intraempreendimento na área da educação física. A seguir, o enfoque será na
importância da gestão para essa área.

O profissional de educação física como gestor


de negócios
Segundo Pires (2005 apud MAZZEI; ROCCO JÚNIOR, 2017), a gestão
esportiva é resultado de um processo longo, sobre o qual, agora, começam a
existir as primeiras sínteses reflexivas.
Sobre a gestão no esporte, Mazzei e Rocco Júnior (2017, p. 98) definem que:

Gestão do Esporte pode ser definida como a utilização e aplicação de diferentes


conhecimentos oriundos principalmente das Ciências do Esporte e da Adminis-
tração, no gerenciamento das diferentes atividades e organizações existentes
e que envolvem o fenômeno Esporte. Os pesquisadores se dedicam a analisar
os desdobramentos relacionados a este gerenciamento, enquanto os gestores
se aplicam no desenvolvimento efetivo e eficiente deste gerenciamento.
Empreendedorismo e intraempreendedorismo na educação física 9

Os autores apontam, ainda, que a gestão do esporte envolve “conhecimento,


perspectiva e atitude para se tomar decisões que irão servir para o planeja-
mento, para a estruturação, para o controle e para a avaliação de determinada
atividade ou organização” (MAZZEI; ROCCO JÚNIOR, 2017, p. 98). Além
disso, também envolve inter-relacionamento e administração de recursos.
Teixeira, Noronha e Faria (2018) apontam que, apesar de o professor de
educação física atuar há muito tempo na gestão de escola, clubes, academias e
demais organizações, essa ação não era reconhecida, sendo que as atividades
ligadas ao trabalho operacional eram mais legitimadas a esse profissional.
Com isso, o campo da gestão é uma área recente, com diversas possibilidades
para o profissional de educação física.
A Resolução n°. 7 do Conselho Nacional de Educação fortalece a ideia de
que a gestão é um dos campos de atuação do profissional de educação física, ao
afirmar que cabe a ele, entre outras funções, “[...] a gestão de empreendimentos
relacionados às atividades físicas, recreativas e esportivas, além de outros
campos que oportunizem ou venham a oportunizar a prática de atividades
físicas, recreativas e esportivas” (BRASIL, 2004, p. 1).
Desse modo, embora de maneira frágil, a disciplina de gestão começou
a ser incluída na grade curricular das faculdades de educação física do país:

Com relação a Gestão do Esporte e aos cursos de ensino superior de Educa-


ção Física e Esporte, infelizmente ainda se observa no Brasil: uma carência
de profissionais qualificados no ensino da Gestão do Esporte nos cursos de
Educação Física e Esporte; uma carência de disciplinas ofertadas desta área
aos alunos; a discriminação sobre a importância desta área no ensino de gra-
duação (e até na pesquisa) se comparado à outras áreas da Educação Física e
do Esporte. (BASTOS, 2016 apud MAZZEI; ROCCO JÚNIOR, 2017, p. 99.)

Segundo Mazzei e Rocco Júnior (2017), essa carência foi sentida nos últimos
anos, quando ocorreu uma crescente demanda por profissionais da área do
esporte e lazer, por ocasião dos grandes eventos que o Brasil sediou, como os
Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo. O que se percebeu, então, foi a consta-
tação da “ausência de uma gestão profissional, ética e responsável no esporte
brasileiro” (MAZZEI; ROCCO JÚNIOR, 2017, p. 1). Para os autores, houve
um grande desperdício de melhorias de políticas para o esporte, confirmando a
falta de visão estratégica e de preparo de muitos dos profissionais envolvidos,
bem como evidenciando as dificuldades na gestão do evento.
10 Empreendedorismo e intraempreendedorismo na educação física

Mazzei e Rocco Júnior (2017) ainda apontam que, além de ter um bom
conhecimento sobre esporte, o gestor de esporte precisa conhecer o universo
da prática, da atividade, do serviço ou do produto esportivo em questão e de
preceitos administrativos:

Do lado das Ciências dos Esporte o conhecimento envolve o entendimento


das práticas esportivas, as necessidades para o pleno desempenho esportivo,
individual, social, econômico e cultural dos seus praticantes. Do lado da
Administração, o conhecimento envolve todos os aspectos relacionados à
esta área, como por exemplo, planejamento, estratégia, governança, finanças,
recursos humanos, marketing, empreendedorismo, etc. Como a Gestão do
Esporte se insere em inúmeros tipos de organizações e situações, outras áreas
também se interagem em seu escopo, como o Direito, a Economia, a Sociolo-
gia, a Psicologia, a Comunicação, a Política, dentre outras (COMMISSION
ON SPORT MANAGEMENT ACCREDITATION [COSMA], 2016 apud
MAZZEI; ROCCO JÚNIOR, 2017, p. 98).

Amaral e Bastos (2015) apontam que as principais características do gestor


do esporte são: a capacidade de conjugar e lidar com políticas; definir a missão
da organização; desenvolver o planejamento; convergir os recursos humanos
para os objetivos a serem alcançados; conhecer e estimular técnicas de ma-
rketing, imagem e comunicação; elaborar políticas de gestão de qualidade,
entre outros.
Sendo assim, faz-se necessário que o profissional de educação física se
aprofunde nessa área, não só para atuar em gestão de esportes, mas também
para que possa ter conhecimento quanto à gestão de academias, de clubes e
de escolas, de modo a aliar o conhecimento técnico da disciplina com a visão
do empreendedor que administra o evento ou o produto.

Para ter acesso a mais artigos sobre gestão no esporte, acesse o site da Revista de
Gestão e Negócios do Esporte (RGNE), disponível no link a seguir.

https://qrgo.page.link/U6F6S
Empreendedorismo e intraempreendedorismo na educação física 11

Portanto, como visto, o empreendedor é aquele que inova e obtém lucros com
assunção dos riscos, ao passo que o intraempreendedor é aquele que, dentro
de uma grande corporação, assume a responsabilidade direta de transformar
uma ideia ou projeto em produto lucrativo por meio de inovação e assunção
de riscos. Sendo assim, o intraempreendedorismo é o empreendedorismo que
ocorre dentro de empresas já existentes.

AMARAL, C. M. S.; BASTOS, F. C. O gestor esportivo no Brasil: revisão de publicações


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TUBINO, M. J. G. Metodologia científica do treinamento desportivo. 4. ed. São Paulo:
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