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Universidade de São Paulo

Instituto de Física de São Carlos - IFSC

Espectroscopia em Física da Matéria Condensada

Espectroscopia na Astrofísica

Prof. Dr. José Pedro Donoso


Revista Pesquisa
Fapesp, No261
(novembro 2017)
O dia 17 de agosto de 2017 entrou para a história da
astronomia.
As 5 h e 41 minutos as unidades do LIGO em Hamford (estado de
Washington, EUA), de Livinsgton (Louisiana, EUA) e de Virgo ( Pisa, Italia),
registraram a passagem de uma onda gravitacional pela Terra.

Duas estrelas de nêutrons (as


menores e mais densas
conhecidas) rodopiaram uma ao
redor de outra e se fundiram em um
evento explosivo chamado
quilonova, que ocorreu a 130
milhões de anos-luz da Terra, na
periféria da galáxia NGC 4993.
Laser Interferometer Gravitational-Waves Observatory, LIGO
www.ligo.caltech.edu/page/ligo-detectors
Observatórios Interferométrico de Ondas Gravitacionais LIGO
em Hamford (estado de Washington), e em Livinsgton
(Louisiana) nos Estados Unidos

www.ligo.caltech.edu/page/ligo-detectors
Representação de frequência vs tempo dos dados contendo o evento da
onda gravitacional observado pelo detetor da Ligo - Livingston. O sinal foi
descrito como sistema binário de objetos compactos em orbitas quase
circulares, com m1 = (1.36 – 2.26) Mʘ e m2 = (0.86 - 1.36) Mʘ, onde Mʘ é
a massa solar. Estes resultados são consistentes com um sistema binário
composto de estrelas de nêutrons.

The Astrophysical Journal Letters 848 (2017 October 20) L12.


Physical Review Letters 119 (2017) 161101
Segundos após as observações do Ligo e do Virgo, o telescópio espacial
Fermi, da Nasa registrou uma explosão de raios  (gama) de curta duração
proveniente da região do céu de onde vieram as ondas gravitacionais
(vermelho). A provável área em laranja indica a área segundo os dados
dos detectores Ligo-Virgo. No centro, a galáxia NGC 4993.
A seta indica a região da
galáxia NGC 4993 em que
ocorreu a colisão das estrelas
de nêutrons observada em 17
(a esquerda) e em 21 de
agosto.

A região localizada pelos detectores da Ligo e do Virgo ficou observável


para os telescópios no Chile cerca de 10 horas mais tarde. A equipe One-
Meter, Two-Hemisphere (1M2H) foi a primeira em conseguir fazer uma
imagem do ponto luminoso na periferia de galáxia NGC 4993. Foi obtida
com um antigo telescópio de 1 m de diâmetro localizado no Observatório
Las Campanas, a 2400 m de altitude. Cinco outras equipes conseguiram
imagens na hora seguinte. Com estas primeiras medidas fotométricas foi
possível estabelecer a distribuição de energia espectral do evento.
A descoberta e a rápida evolução do evento exigiram da comunidade
observações ópticas, do infravermelho até o ultravioleta. Nas duas
semanas seguintes, uma série de telescópios terrestres, de 40 cm até
10 m de diâmetro, acompanharam o evento, monitorando sua
distribuição espectral de energia. Nos dois dias seguintes, as
observações mostraram uma rápida diminuição da emissão inicial no
UV – azul e o aumento da emissão no infravermelho. Uma semana
mais tarde, as bandas no infravermelho começaram a diminuir também.

Nas 24 horas seguintes, os espectrógrafos Sud África, os de La Silla,


ESO Very Large Telescope e o Soar no Chile obtiveram espectros
adicionais e relataram a diminuição na região azul do espectro sem
nenhuma linha de absorção comum a eventos tipo supernova. Estas
observações eliminaram a possibilidade do evento na galáxia NGC
4993 ter sido produzido por uma supernova
A radiação eletromagnética decorrente da colisão das estrelas de nêutrons
foi observada ao longo de duas semanas por dezenas de observatórios.

Marcos Pivetta, Em busca da luz das estrelas de nêutrons. Revista


Pesquisa Fapesp, No261 (novembro 2017) p. 26 – 29.
A radiação eletromagnética decorrente da colisão das estrelas de nêutrons
foi observada ao longo de duas semanas por dezenas de observatórios.

Marcos Pivetta, Em busca da luz das estrelas de nêutrons. Revista


Pesquisa Fapesp, No261 (novembro 2017) p. 26 – 29.
Linha de tempo da descoberta
do evento, desde a detecção
da onda gravitacional a
medidas espectroscópicas

The Astrophysical Journal Letters


848 (2017 October 20) L12.
Linha de tempo das medidas espectroscópicas

The Astrophysical Journal Letters 848 (2017 October 20) L12.


A energia do choque produz elementos químicos pesados ao pressionar
os nêutrons (sem carga elétrica) contra núcleos de elementos químicos
lançados ao espaço na explosão. Esse mecanismo, a captura rápida de
nêutrons, produz elementos tão pesados quanto o urânio (núcleo com
92 prótons e 146 nêutrons).

Elementos mais pesados são instáveis e se desfazem liberando outras


partículas e energia na forma de radiação eletromagnética. A energia
emitida pela conversão de elementos pesados e instáveis em outros
mais leves e estáveis faz a cor da quilonova mudar.

Revista Pesquisa Fapesp, No261 (novembro 2017) p. 23 – 25.


Revista Pesquisa Fapesp, No261 (novembro 2017) p. 23 – 25.
Cor vermelha: hidrogênio e hélio formaram-se pelo resfriamento do
Universo após o Big Bang
Cor laranja: a fusão de hidrogênio e hélio no interior de estrelas gera
lítio, carbono e nitrogênio
Cor rouxa: raios cósmicos fragmentam os núcleos maiores em lítio,
berílio e boro
Cor azul escura: supernovas e explosões de estrelas com mais de 10
Mʘ, geram elementos químicos pesados, como gálio, selênio e o
rubídio.
Cor azul clara: a fusão de hidrogênio, hélio e núcleos mais pesados
em estrelas com 10 Mʘ, pode produzir ferro, níquel e zinco.
Cor amarela: explosões decorrentes da fusão de estrelas de nêutrons
produzem boa parte dos elementos químicos pesados, do ouro ao
uranio.
Revista Pesquisa Fapesp, No261 (novembro 2017) p. 23 – 25.

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