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POLÍTICA DA ÁREA
DA DEFICIÊNCIA EM
MOÇAMBIQUE
José Jaime Macuane
João Vembane
Rafaela Andrade
Iniciativa
TÍTULO
A ECONOMIA
POLÍTICA DA ÁREA DA
DEFICIÊNCIA EM MOÇAMBIQUE
AUTORES
JOSÉ JAIME MACUANE
JOÃO VEMBANE
RAFAELA ANDRADE
EDIÇÃO
FUNDAÇÃO MASC
DESIGN E PAGINAÇÃO
FUNDAÇÃO MASC
REVISÃO LINGUÍSTICA
ALMIRO LOBO
ENDEREÇO DO EDITOR
AVENIDA DO ZIMBABWE
Nº 1374, C.P 4296 MAPUTO - MOÇAMBIQUE
A equipa que realizou este estudo agradece o inestimável apoio dado pela Fundação MASC,
seus parceiros e a todos os entrevistados e entrevistadas, assim como às entidades que
aceitaram colaborar para uma melhor compreensão da área da deficiência.
No entanto, o exposto neste relatório é de inteira responsabilidade dos seus autores.
O interesse na área da deficiência tem crescido nos últimos anos, no mundo assim como em
Moçambique. Nesta perspectiva, o país aderiu e ratificou os principais instrumentos regionais
e internacionais da área, que têm sido convertidos em políticas, estratégias e planos nacionais.
Dentre os instrumentos a que o país aderiu destacam-se a Década Africana Dedicada às Pessoas
com Deficiência e a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiên-
cia (CNUDPD).
Porém, a despeito dessa crescente atenção, a garantia dos direitos das pessoas com deficiência
(PcD) ainda enfrenta desafios, tanto em Moçambique como no mundo. A exclusão deste grupo
populacional não só é uma violação aos direitos humanos, como também constitui um problema
sério de desenvolvimento.
É neste contexto que o presente estudo de economia política (EEP) da área da deficiência em
Moçambique se enquadra, cujo objectivo é identificar as barreiras para as pessoas com deficiência
e as potenciais áreas de intervenção, com foco no empoderamento político. O EEP identifica ele-
mentos importantes para o empoderamento das PcD em Moçambique e levanta questões críticas
na dinâmica do sector no que concerne à prestação de serviços, resposta às demandas dos prin-
cipais beneficiários e potenciais cursos de acção com vista ao empoderamento político dos actores
do sector de deficiência. Neste sentido, o estudo identifica questões à volta: das ideologias e do
legado histórico que enformam a dinâmica do sector; da legislação, políticas e estratégias; dos prin-
cipais actores, instituições e relações de poder; do financiamento do sector; da oferta de serviços; e
de como estes elementos influenciam o empoderamento das PcD. Estes aspectos são a base para
a apresentação das recomendações do estudo.
Para se responder às questões do estudo, tomou-se como base o modelo desenvolvido pelo Over-
seas Development Institute (ODI), no seu quadro analítico para o entendimento da economia políti-
ca de sectores e arenas, adoptado pela Fundação MASC, na sua metodologia padrão de EEP.
A análise das organizações, instituições e actores, que olha para a história, os processos de mu-
dança, os aspectos estruturais, o poder e as ideologias constituem os principais aspectos do quadro
analítico do estudo. Em termos metodológicos, foi conduzida uma revisão bibliográfica, que passou
pela consulta de documentos e estudos relevantes do sector. A revisão bibliográfica foi cruzada e
complementada com entrevistas semi-estruturadas administradas a informantes-chave da área da
deficiência, dentre representantes de entidades do governo, representantes de organizações de
pessoas com deficiência (OPDs), organizações internacionais com intervenções na área, parceiros
de cooperação com histórico de financiamento ao sector e representantes do sector privado. Os
entrevistados foram escolhidos com base no seu papel e conhecimento do sector. Entretanto, a
falta de dados quantitativos específicos sobre a área da deficiência, tais como estatísticas mais
actualizadas e informação sobre orçamentos e volumes de financiamento ao sector constituíram as
principais limitações do estudo.
• A questão da salvaguarda dos direitos da PcD é, de certa forma, uma preo cupação cres-
cente no Estado Moçambicano, sobretudo a partir do período da abertura ao multiparti-
darismo e o alargamento dos direitos fundamentais e cívicos dos cidadãos, tendo como
marco principal a aprovação da Constituição de 1990. Desde essa altura, verificam-se
cada vez mais provisões constitucionais específicas sobre a deficiência, a adesão a polí-
ticas e mecanismos regionais e internacionais, a adopção de políticas específicas para o
sector, para além de uma legislação sectorial abordando o assunto. A adesão à Década
Africana para as Pessoas com Deficiência e à CNUDPD pelo país, abriram espaço para o
desenvolvimento da política da deficiência e dos Planos de Acção do Sector da Deficiência
(PNAD), principais instrumentos de acção multissectorial neste sector. Outros instrumentos
são a Estratégia Nacional de Segurança Social Básica (ENSSB) e também existem instru-
mentos sectoriais, como os da área da educação inclusiva. Também foi aprovada legislação
específica, como a da acessibilidade a lugares públicos. Porém, há que reconhecer que
ainda persiste a necessidade da implementação efectiva destes mecanismos, de modo a
assegurar a inclusão e plena participação das PcD nas arenas política, económica e social.
• A adopção de instrumentos de acção nesta área tem sido influenciada pelos valores sociais
e políticos e pela história do país, e pelos modelos de intervenção nesta área que foram
sendo adoptados no mundo. No contexto social vigente, persiste uma visão negativa da
deficiência, decorrente das crenças sociais, que é apontada como fruto de maldição, feitiço
e outros males. No contexto internacional, as abordagens evoluíram de médicas e assisten-
cialistas, atreladas à ideia de que a deficiência é uma doença que deve ser tratada medi-
camente, para visões e abordagens mais sociais (como fruto do meio físico e social em que
as pessoas vivem) e agora fala-se de abordagens baseadas em direitos. Em Moçambique,
as abordagens sobre a deficiência foram historicamente influenciadas pelo modelo médico e
assistencialista. A adesão do país aos instrumentos internacionais, como a Década Africana
da Deficiência, as declarações de Salamanca (sobre a educação inclusiva) e, mais recente-
mente, a CNUDPD, influenciaram a elaboração dos instrumentos de política para a área da
deficiência mais alinhados com a perspectiva social e de direitos, pelo menos em princípio.
No entanto, o continuado baixo conhecimento sobre as abordagens da deficiência no sector
público, os interesses políticos estratégicos dos actores que controlam o poder, remetem es-
sas ideias apenas para a esfera formal, continuando as abordagens de âmbito mais médico
e caritativo dominantes na actuação do Governo nesta área.
• Um aspecto crítico na definição de políticas é a existência de dados estatísticos fiáveis so-
bre as pessoas com deficiência, que, em parte, decorre do uso de metodologias inadequa-
das de recolha de informação. Isso leva a divergências entre as OPDs e o Instituto Nacional
de Estatísticas (INE) sobre o número real de PcD. No entanto, decorrem já actividades de
capacitação do INE no sentido de adoptar metodologias adequadas (como a do Grupo de
Washington) nos seus censos e recolha de informação sobre este grupo e há mecanismos
de diálogo com as OPDs.
• Existem vários actores e instituições estatais, da sociedade civil e agências da cooperação
• Capacitação das OPDs e organizações que defendem as PcD para uma acção e activismo
mais efectivos na defesa dos direitos, para assegurar melhoria do conhecimento da defi-
ciência na sua multidimensionalidade e sua tradução em legislação, práticas e comporta-
mento sociais, instrumentos de política e melhor defesa das pessoas com deficiência;
• Contribuição no processo de capacitação dos mecanismos de coordenação intersectorial
e implementação sectorial das políticas voltadas às PcD, como o CNAS e os de âmbito
sectorial;
• Formar alianças estratégicas e potenciar actores com alto incentivo para promover a agen-
da da deficiência, sobretudo na promoção dos direitos das PcD, através de, por exemplo,
apoiar campeões na implementação de políticas do sector, ou com alta motivação para o
efeito;
• Desenvolvimento de mecanismos de financiamento para as OPDs e organizações que tra-
balham com PcD, que incluem a capacitação das entidades nacionais, buscando sinergias
entre as organizações internacionais e as nacionais mais consolidadas e as de menor ca-
pacidade.
• Potenciar os actuais processos de orçamentação de forma a serem mais sensíveis às
questões da deficiência.
Siglas e Abreviaturas 6
Sumário Executivo 10
1. Introdução 20
4.3.1. Legislação 48
4.3.2. Políticas 49
4.3.5. Participação das Pessoas com Deficiência nas Políticas, Planos e Legislação 54
5.2.4. Instituições 81
6.2. Instituições 91
6.4. Recursos 92
8. Anexos 98
Tabela 2: Pessoas com Deficiência Beneficiadas pelos Programas de Segurança Social Básica 64
A área da deficiência tem merecido atenção nas últimas décadas, tanto a nível nacional, como re-
gional e global. Neste sentido, Moçambique aderiu e ratificou os principais instrumentos regionais e
mundiais nesta área, que têm sido sistematicamente traduzidos em políticas, estratégias e planos no
contexto nacional. O crescimento da importância da deficiência na agenda do desenvolvimento teve
o seu ponto mais alto com a realização da Cimeira Global da Deficiência, em Julho de 2018, na qual
o Governo de Moçambique participou, apresentando os compromissos do País, elaborados com a
participação da sociedade civil.
Porém, a despeito dessa crescente atenção, a garantia dos direitos das pessoas com deficiência
(PcD) ainda enfrenta desafios, tanto em Moçambique como no mundo. A exclusão deste grupo po-
pulacional não é só uma violação dos direitos humanos, como também constitui um problema sério
de desenvolvimento. É neste contexto que se enquadra o interesse dos parceiros da Fundação Me-
canismo de Apoio à Sociedade Civil (MASC), assim como desta organização, de abordar a questão
da inclusão da deficiência no pensamento sobre o desenvolvimento em Moçambique. Numa primeira
fase, em resposta à esta demanda, o MASC produziu uma nota conceptual sobre o Empoderamento
Político, Económico e Social das pessoas com deficiência, que tem como uma das suas prioridades a
realização de um estudo de economia política (EEP), com o objectivo de identificar barreiras para as
pessoas com deficiência e as potenciais áreas de intervenção com foco no empoderamento político.
Este estudo enquadra-se neste desiderato e está integrado na visão expressa no Plano Estratégi-
co 2015-2020 do MASC, de uma “sociedade civil credível, transparente, vibrante e sustentável que
contribui para a democratização do Estado e do espaço público, justiça social e o bem-estar dos
cidadãos moçambicanos”1.
No geral, o objectivo deste estudo é a geração de uma lista de questões e actores associados
com o sector da deficiência, que deverá guiar a Fundação MASC na definição de questões prio-
ritárias a serem exploradas de forma a dinamizar a governação participativa e o empoderamento
das pessoas com deficiência. Nesta perspectiva e de forma mais específica, o estudo irá de-
bruçar-se sobre algumas áreas com vista a entender a dinâmica do sector, nomeadamente: a
prestação de serviços, a identificação de stakeholders, o financiamento pelos actores públicos e
privados, as relações de poder, o legado histórico, a corrupção e a busca de renda, as ideologias
e valores, o processo decisório.
Os elementos propostos para a análise fazem parte do “An Analytical Framework for Understan-
ding the Political Economy of Sectors and Policy Arenas” (Moncrieffe & Luttrell, 2005), que foram
em grande medida adoptados pelo MASC, na sua metodologia padrão de EEP. Este quadro é
composto por três principais estágios de análise, nomeadamente: 1) a Análise do País, olhando
para os aspectos históricos e fundacionais; 2) a análise das organizações, instituições e actores,
que olha para a história, processos de mudança, aspectos estruturais, poder e ideologias; 3) os
1
Terms of Reference/Guidelines for Sector-focused Political Economy Analysis.
A recomendação dos Termos de Referência é de que o Estudo olhe principalmente para o estágio
2, porque os elementos do estágio 1 serão parte de um estudo separado. No entanto, os pesqui-
sadores são encorajados a explorar os elementos contextuais do nível macro da governação, de
modo a entenderem o que ocorre a nível sectorial.
• A definição do sector – esta parte inclui a definição das fronteiras e o mapeamento dos
principais actores/jogadores do sector a ser estudado;
• Análise intrassectorial – a definição dos papéis e responsabilidades dos actores, orga-
nizações e instituições existentes, das estruturas da gestão e liderança, dos padrões de
financiamento, os incentivos e motivações dos actores e as capacidades existentes;
• As relações entre os principais actores do sector – a natureza da relação entre os principais
jogadores; como os actores influenciam o processo político (políticas públicas), nomeada-
mente, a formulação, negociação de políticas e implementação de políticas, a resposta às
demandas, os canais de prestação de contas e as relações de poder.
Estes elementos fornecerão a base para a identificação de questões críticas na dinâmica do sec-
tor no que concerne à prestação de serviços, resposta às demandas dos principais beneficiários
e potenciais cursos de acção com vista ao empoderamento político dos actores do sector de
deficiência. Também constituirão a base para a recolha e sistematização da informação e dados
a serem analisados no estudo com vista ao alcance dos objectivos preconizados, conforme será
descrito na metodologia.
Para se responder às questões gerais do estudo, assim como às questões específicas do sec-
tor, conforme adiantado, a base é o modelo desenvolvido pelo ODI e adoptado pela Fundação
MASC. As fontes de informação e os dados usados são retirados de fontes escritas, nomeada-
mente: documentos e estudos da área, informação e estatísticas oficiais, programas de Governo
e de instituições financiadoras e organizações que actuam na área e respectivos planos, orça-
mentos e relatórios da sua execução. As fontes escritas foram submetidas à análise documental
A informação obtida através das fontes escritas e das entrevistas foi posteriormente sistematizada
de modo a responder às questões do estudo.
O estudo tem as suas limitações, sendo a principal a falta de dados quantitativos específicos
sobre a área da deficiência, tais como estatísticas mais actualizadas, pois os resultados do Cen-
so de 2017 ainda não estão disponíveis; orçamentos e volumes de financiamento. Isto faz com
que não seja possível consubstanciar muitos dos elementos com informação quantitativa. No
entanto, tentou-se mitigar esta lacuna a partir das entrevistas e da triangulação de informação
com recurso a diferentes fontes, entre escritas e orais. Algumas dessas lacunas, como o volume
de financiamento da área, padrões de financiamento e capacidades das organizações por tipo
de deficiência precisam de mais tempo para o seu rastreamento, diagnóstico e sistematização, o
que estava fora do escopo deste estudo, devido ao seu tempo limitado de realização.
O presente estudo é composto por esta secção introdutória e outras cinco secções, nomea-
damente: na segunda secção apresenta-se uma breve análise contextual do país, seguida do
quadro internacional e conceptual da deficiência, na terceira secção. A delimitação da área da
deficiência, no que concerne aos seus actores, políticas e quadro legislativo, financiamento e
serviços é feita na secção quatro, à qual se segue a síntese dos elementos que influenciam a di-
nâmica da área, a propriamente dita economia política do sector da deficiência, na quinta secção.
O estudo fecha com a sistematização das principais questões críticas ao empoderamento das
pessoas com deficiência e os pontos de entrada e propostas de área de actuação, na sexta sec-
ção. O trabalho também contém anexos a que vale a pena prestar atenção, dentre os quais um
resumo dos principais eventos e marcos da área da deficiência e a lista dos Compromissos para
a área da deficiência firmados pelo País na Cimeira Global da Deficiência, realizada em Londres,
nos dias 23 e 24 de Julho de 2018.
Moçambique é um país considerado de renda baixa, com uma população de 28 861 863 de ha-
bitantes e uma esperança de vida ao nascimento de cerca de 54,4 anos.2 A sua história política
desde a segunda metade do século XX é marcada por conflitos armados e também profundas
mudanças políticas e económicas. O país passou por dois grandes conflitos armados nos últi-
mos 50 anos, sendo o primeiro a luta de libertação nacional liderada pela Frente de Libertação
de Moçambique (Frelimo) contra o colonialismo português, que durou 10 anos (1964-1974), e o
segundo uma guerra civil de 16 anos (1976-1992), opondo o Governo da Frelimo à Resistência
Nacional de Moçambique (Renamo) e que paralisou a provisão de serviços e deixou mais de um
milhão de pessoas mortas.
Após o fim da guerra civil em 1992, o país teve um significativo crescimento económico e grandes
progressos nos principais indicadores sociais, tendo em conta o legado de destruição das in-
fraestruturas económicas e sociais e a ruptura dos serviços públicos durante a guerra. Entre 2011
e 2015, Moçambique cresceu à uma taxa média anual de 7%, um dos melhores desempenhos
de África. Mas esse crescimento registou um abrandamento em 2016 para 3,8% e mais ainda em
2017 para 3,7%3 , devido à crise económica que o país atravessa. A considerável dívida externa,
a retirada de doadores após a chamada “crise das dívidas ocultas”, a inflação elevada e a depre-
ciação da moeda contribuíram para um crescimento mais lento em 2016-17. As taxas de pobreza
decaíram significativamente entre 1996 (69,7%) e 2014 (46,1%). Entretanto, o número absoluto de
pessoas em situação de pobreza manteve-se relativamente constante. A pobreza também afecta
mais as zonas e populações rurais e as mulheres encontram-se numa situação de maior vulne-
rabilidade que os homens. Outros grupos vulneráveis, que são afectados de forma mais intensa
pela pobreza, são as crianças, os idosos e as pessoas com deficiência.
Espera-se, entretanto, que o crescimento se catapulte por causa das descobertas de grandes
quantidades de recursos como o carvão, minérios e gás. A descoberta de grandes reservas de
gás natural na Bacia do Rovuma colocou Moçambique na posição de um dos países que oferece
melhores oportunidades para se investir em África. Estas descobertas têm servido de atractivo
para grandes investimentos. Por outro lado, isto vem aumentando a demanda por uma força de
trabalho qualificada. A grande maioria dos moçambicanos não possui as qualificações neces-
sárias, o que coloca desafios à sua integração nessa nova economia dominada por empresas
multinacionais, com padrões de qualidade muito exigentes. No entanto, as perspectivas socioe-
conómicas do país dependem fortemente da forma como o governo irá gerir os novos ganhos
que virão assim que os projectos de gás natural comecem a produção após 2020 (Deloitte, 2016).
Politicamente, após a guerra civil, o país adoptou a democracia multipartidária e passou a realizar
eleições regulares desde 1994. No entanto, a política continuou a ser dominada pelos partidos
políticos dos dois beligerantes: a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), a base de apoio
do Governo desde a independência, e a Resistência Nacional de Moçambique (Renamo), o maior
2
Instituto Nacional de Estatística, disponível em http://www.ine.gov.mz/ [acesso a 23 de Julho de 2018]
3
The World Bank Group, Disponível em http://www.worldbank.org/pt/country/mozambique/overview [acesso a 26 de Julho de 2018].
Grande parte dos fracassos dos países na abordagem da área da deficiência deve-se à pouca
compreensão da sua complexidade e multidimensionalidade, o que faz com que sejam adopta-
das soluções inadequadas. Esta secção apresenta algumas das questões abordadas pelo qua-
dro internacional de normas e políticas sobre a deficiência, assim como as perspectivas e concei-
tos adoptados nos principais instrumentos orientadores desta matéria, que servem de referências
para a intervenção dos países, organizações internacionais e nacionais nesta área.
A Organização Mundial da Saúde (2011) estima que mais de 15,3% (mais de 1 bilhão) da popu-
lação mundial convive com algum tipo de deficiência, dos quais 80% estão nos países em desen-
volvimento e a maioria nas zonas rurais (OMS, 2011). Da população global com deficiência, 20%
(mais de 200 milhões de pessoas) experimenta desafios funcionais consideráveis. A situação
deverá piorar no futuro próximo, com o aumento da incidência devido a vários factores: aumento
do número de pessoas que entram na terceira idade, aumento global de doenças crônicas (dia-
betes, doenças cardíacas, câncro e desafios mentais). As pessoas com deficiência estão entre as
mais marginalizadas, estigmatizadas e discriminadas no acesso ao bem-estar social básico, por
isso, vivem em pobreza extrema (Groce, 2004). A grande maioria das pessoas com deficiência
enfrenta barreiras significativas de acesso à assistência médica, educação, oportunidades de
emprego e ainda pouco ou quase nunca recebem os serviços compatíveis com as suas necessi-
dades, tendo em conta as suas deficiências, e são excluídas da vida social (OMS, 2011). Apesar
da expansão da protecção social no mundo, até em países pobres como Moçambique, a nível
global, apenas 28% das pessoas com uma deficiência severa têm acesso a algum benefício so-
cial ligado à sua condição (United Nations, 2018).
Em 2004, a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Agência das Nações Unidas para a Edu-
cação, a Ciência e à Cultura (UNESCO) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) obser-
varam que há uma forte correlação entre a deficiência e a pobreza. Segundo estas instituições, a
pobreza leva ao aumento da deficiência e incapacidade, o que por sua vez leva a um aumento da
pobreza. De acordo com o Departamento (do Reino Unido) para o Desenvolvimento Internacio-
nal (DFID), “50% das deficiências são evitáveis e estão directamente ligadas à pobreza” (DFID,
2000, p. 3). Por outro lado, estudos apontam que, no mundo, 5% das crianças e 46% das pessoas
idosas têm alguma deficiência e que as mulheres tendem a ter mais deficiências que os homens,
porque vivem mais tempo (United Nations, 2018, pp. 48, 63).
Pesquisas têm observado que as pessoas com deficiência levam um padrão de vida inferior ao
das pessoas sem deficiência com o mesmo nível de rendimentos, devido às suas necessidades
diferentes – tanto para bens ou materiais especialmente desenhados para as pessoas com de-
O artigo 23 (1) da Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma que “Toda a pessoa tem
direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a justas e favoráveis condições de trabalho e
à protecção contra o desemprego”(ONU, 1948, p. 12). Contudo, a OIT observa que o direito
das pessoas com deficiência ao trabalho e ao emprego é frequentemente negado, sendo que
“[…] muitos deles enfrentam obstáculos significativos à igualdade de oportunidades no mundo
do trabalho, que vão desde barreiras atitudinais e físicas até as barreiras informacionais” (ILO,
2015). Conforme Caswell, “mesmo onde existe legislação para o sistema de quota favorecendo
o emprego de PcDs, infelizmente, esta legislação é ou subutilizada ou não é aplicada” (Tsengu,
Brodtkorb, & Al, 2006, p. 54).
A OMS (2011) nota que, a partir dos anos 1970, as respostas aos desafios das pessoas com
4
Comissão da União Africana – Departamento dos Assuntos Sociais, Plano de Acção da Década Africana das Pessoas Portadoras de Deficiências
(2010-2019)
Até recentemente, a deficiência era dominantemente vista sob a perspectiva de um modelo mé-
dico, segundo o qual as pessoas com deficiência são fisicamente incapazes de realizar funções
sociais devido à sua condição. Devido à esta abordagem, as pessoas com deficiência foram
excluídas da vida social. Os governos preferiram dar-lhes benefícios sociais em vez de empre-
go, por exemplo. A crença geral era de que as pessoas com deficiência não eram capazes
de produzir como as demais pessoas. Às crianças não foram dadas oportunidade de serem
educadas ou, quando acontecia, foram educadas em escolas separadas – uma visão de mera
institucionalização e integração. O modelo médico compreende uma deficiência como um dano
físico ou mental do indivíduo e suas consequências pessoais e sociais. Este modelo considera
as limitações enfrentadas pelas pessoas com deficiência como resultantes principalmente, ou
unicamente, das suas incapacidades. Actualmente, o modelo médico é raramente defendido,
mas muitas vezes adotado de forma irreflectida por profissionais de saúde, bio-eticistas e todos
aqueles que ignoram ou subestimam a contribuição de factores sociais e outros factores am-
bientais para as limitações enfrentadas pelas mulheres e pelos homens, incluindo crianças com
deficiências (Talesco, 2013).
A CNUDPD é um instrumento construído sob este modelo social e baseado em direitos humanos,
que também estimulou as directrizes de Reabilitação Baseada na Comunidade (RBC) estabeleci-
das pela Organização Mundial de Saúde. Outros instrumentos também foram desenvolvidos pe-
las organizações internacionais com participação da sociedade civil, organizações das pessoas
com deficiência, académicos e outros especialistas. Destes instrumentos, destaque vai para a
Classificação Internacional de Funcionalidade, Deficiência e Saúde e as Questões do Grupo de
Washington que, pela sua importância, vale a pena referir, para um melhor enquadramento da
análise do caso moçambicano.
5
Veja anexo 8.4.
Ainda na esteira da identificação dos elementos que constituem a deficiência, em 2001 foi criado
um grupo de trabalho das Nações Unidas, denominado Grupo de Washington/Washington Group
(WG) de Estatísticas da Deficiência, que desenvolveu um conjunto de questões7, visando o le-
vantamento de dados sobre a deficiência.8 O objectivo do WG era promover a cooperação na
área das estatísticas de saúde no geral e da deficiência, em particular, colmatar as lacunas de
estatísticas sobre a deficiência no mundo, dentre as quais as diferenças de métodos de colecta
de dados, baixa qualidade e fiabilidade das estatísticas no mundo em geral e particularmente
nos países em desenvolvimento, o que dificulta a definição e monitoria, avaliação e prestação de
contas sobre as estratégias e políticas da área.
Deste modo, o pequeno conjunto de questões do WG visa identificar, em formato de censo ou in-
quérito, pessoas com deficiência. O pressuposto subjacente a estas questões é de que pessoas
com deficiência têm um risco maior, comparativamente ao resto da população, de ter restrições
de participação devido à existência de dificuldades em seis domínios funcionais importantes,
caso os ajustes necessários não sejam feitos. O conjunto de questões do WG captura o possível
impacto das condições de saúde nas habilidades funcionais e questiona se a pessoa tem difi-
culdades em desempenhar actividades universais básicas como caminhar, ver, ouvir, cognição,
cuidar de si mesmo e comunicação, e foram originalmente desenhadas para o uso da população
no geral. O pequeno conjunto de questões do WG não foi desenhado para ser usado isolado,
mas em combinação com outros instrumentos de medição, num questionário de um inquérito ou
levantamento mais amplo, de forma a permitir a desagregação por outras medidas e indicadores
como empregabilidade, conquistas na educação, etc., por estado de deficiência. Devido à com-
plexidade da deficiência, as questões não foram desenhadas para medir todos os aspectos da
dificuldade na funcionalidade que as pessoas podem enfrentar, mas para aqueles domínios de
funcionamento que melhor permitem identificar a maioria das pessoas com risco de enfrentar res-
trições na participação na vida em sociedade. As questões do WG são desenhadas para serem
analisadas em combinação com outra informação, de modo a que incorporem o modelo integral
biopsicossocial de deficiência.
6
Nos últimos tempos também se tem usado a expressão “deficiência intelectual”. No entanto, o termo “deficiência mental” ainda é usado. Ambas as
expressões serão usadas neste trabalho.
7
Veja anexo 8.5.
8
Detalhes e instrumentos operacionais do Grupo de Washington podem ser encontrados aqui, de onde foi retirada a informação usada neste relatório:
http://www.washingtongroup-disability.com/washington-group-question-sets/short-set-of-disability-questions/.
De acordo com o Censo de 2007 9, as pessoas com deficiência perfaziam 475.011, o que equi-
vale a 2,3% do total da população moçambicana, das quais 249.752 (52,6%) eram homens e
225.259 (47,4%) mulheres.10 Porém, outros estudos realizados com participação do INE estimam
que pessoas com deficiência em Moçambique atingem cerca de 6%. Isto faz com que algumas
OPDs e activistas da área defendam que, provavelmente, o censo foi bastante limitado no levan-
tamento de dados exactos. Por outro lado, a população contabilizada no Censo não toma em
conta as pessoas na terceira idade (5% da população nacional11) e pessoas com deficiências
invisíveis, que enfrentam desafios significativos no seu dia-a-dia, iguais ou piores aos dos seus
pares. A OMS tem notado limitações de dados sobre a deficiência nos países da África Subsaa-
riana em geral (OMS, 2011). Isso em grande parte tem a ver com as questões metodológicas de
levantamento de informação que foram abordadas acima.
Importa referir que Moçambique é um dos países com maiores índices de insegurança rodoviá-
ria, acidentes com minas terrestres, baixa cobertura dos serviços de saúde, com uma taxa de
pobreza absoluta de 46%, baixos índices de literacia, insegurança alimentar, doenças crónicas e
endémicas. Nesta base, o país encaixa-se muito bem nos países em que, segundo as estimativas
da Organização Mundial de Saúde (OMS), as pessoas com deficiência podem chegar a perfazer
entre 15% a 20% da população. De facto, apontam-se como causas da deficiência em Moçambi-
que, a doença (57.9%), deficiência à nascença (33.1%) e outras (6.8%). Um estudo feito em 2007
e 2008 observou que, dentre as causas da deficiência em Moçambique, a pobreza do sistema de
saúde está na liderança com 75,7%, sendo que 52% de deficiências resultam de doenças mal ou
não tratadas devidamente e 23,7% de complicações à nascença (SINTEF, FAMOD e INE, 2009).
Do total da população com deficiência apurada pelo Censo de 2007, os principais tipos de defi-
ciência são a surdez (12.7%), a cegueira (9.4%), a deficiência mental (8.5%), membros amputa-
dos – braços (8.2%) e pernas (20.7%), a paralisia (7.3%) e outras (35.2%). O facto de a classifi-
cação “Outra” ter registado o maior número de pessoas com deficiência sugere a existência de
uma parte considerável deste grupo que não pode ser classificada nas categorias mais comuns,
com base nos métodos existentes de recolha de informação.
A maioria das pessoas com deficiência em Moçambique vive nas zonas rurais (79,3%), onde os
níveis de pobreza são mais elevados, os serviços de saúde, educação e outros com eles rela-
cionados são bastantes escassos ou mesmo ausentes (INE, 2009). Associado a isto, as PcD são
também vítimas de discriminação e estigmatização, aliadas a algumas crenças e preconceitos
que prevalecem no seio das famílias, comunidades e na sociedade em geral. As condições de
vida das pessoas com deficiência são mais difíceis que as do resto da população, como resul-
tado do baixo nível de acesso aos serviços básicos, perpetuado pelas barreiras socioculturais e
pelas difíceis condições de acessibilidade do ambiente físico12. Em termos de acesso ao empre-
go e/ou trabalho, estudos indicam que a taxa bruta de desemprego é mais alta nas pessoas com
9
Instituto Nacional de Estatísticas (2007).
10
Dados a serem actualizados com os resultados definitivos do Senso 2017.
11
Projecção do Instituto Nacional de Estatísticas para 2018.
Existem vários actores que actuam ou fazem parte da área da deficiência, com destaque para as
entidades estatais, as organizações da sociedade civil e os parceiros de cooperação.
A deficiência, vista numa perspectiva de direitos humanos, atravessa várias áreas de mandato
das entidades estatais, pelo que grande parte, se não todas as instituições do Estado, desem-
penham potencialmente um papel preponderante no empoderamento e garantia dos diretos das
PcD. No entanto, algumas dessas entidades têm papéis mais visíveis e específicos na garantia
dos direitos das pessoas com deficiência, com destaque para as seguintes: o Ministério do Gé-
nero, Criança e Acção Social (MGCAS); o Instituto Nacional de Acção Social (INAS); o Ministério
da Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH); o Ministério das Obras Públicas, Habitação
e Recursos Hídricos (MOPHRH); o Ministério do Trabalho, Emprego e Segurança Social (MITESS);
o Ministério da Administração Estatal e Função Pública (MAEFP), o Instituto Nacional de Estatís-
tica (INE) e a Comissão Nacional dos Direitos Humanos (CNDH). Estas entidades têm diferentes
graus de capacidade para desempenharem o seu mandato dentro da área de deficiência. O
grau de capacidade de cada uma destas entidades depende de vários factores, dentre os quais
a forma como as próprias entidades foram estruturadas e os incentivos existentes para a criação
de capacidade de resposta às questões das PcD em cada uma delas. Abaixo segue uma breve
descrição de cada uma delas.
O Ministério do Género, Criança e Acção Social (MGCAS) é o principal órgão do governo que tu-
tela os assuntos do sector da deficiência e, por isso, se concentra, entre outros, na coordenação
de actividades de outros sectores relacionados com a disseminação de políticas já estabelecidas
e a supervisão de sua implementação. Para o efeito, na estrutura orgânica do MGCAS, a deficiên-
cia está sob a responsabilidade da Direcção Nacional de Acção Social, mais precisamente de
um Departamento.
12
Handicap International, 2010.
13
Plano Nacional de Acção para a Área da Deficiência, 2012.
Outra das causas da fraqueza na abordagem da deficiência é o seu locus institucional, que
influenciou no seu grau de especialização e capacidade das instituições responsáveis. Após
a independência, a área da deficiência foi alocada à área de saúde e, posteriormente, se criou
a Secretaria de Estado da Acção Social, no início dos anos 1990, em resposta aos desafios de
reabilitação e apoio psicossocial decorrentes da guerra civil. Após as primeiras eleições gerais
multipartidárias de 1994, em 1995 foi criado o Ministério da Mulher e Acção Social (MMAS), que
assumiu a área de acção social, que agora está sob o MGCAS.14 O enquadramento da deficiên-
cia em cada um dos sectores foi condicionado pelas ideias em relação à deficiência e também
influenciou a forma como a área é vista. Assim, no passado, o enquadramento da deficiência no
sector de saúde deveu-se à sua consideração como uma doença. Actualmente, o seu enquadra-
mento no MGCAS, apesar da retórica mais progressista no sentido social e de direitos em voga,
está ligado à persistência da visão da deficiência como assunto de caridade e ligado à pobreza.
14
Para detalhes sobre os principais eventos e marcos da área, vide anexo 8.1.
Uma das razões que levou à extinção do CNAD foi a insubordinação dos ministérios que eram
convocados pelo ministro da área que superintende a Assistência Social, no caso o MGCAS.
Isso corrobora o que foi referido anteriormente sobre a senioridade deste ministério e a sua ca-
pacidade para coordenar uma agenda multissectorial. Deste modo, com o CNAS presidido pelo
Primeiro-Ministro, espera-se que o problema de autoridade seja resolvido.
Desde que foi criado, o CNAS ainda não começou a funcionar. Neste momento está a trabalhar-
-se com o Ministério da Função Pública na elaboração e aprovação do quadro de pessoal para
o CNAS e as comissões de trabalho, passo importante para o funcionamento desta entidade.
Depois haverá o desafio de assegurar recursos para o seu funcionamento. Enquanto isso, no
MGCAS existe um núcleo de Gestão, que organizou a realização do primeiro encontro do Comité
O Instituto Nacional de Acção Social (INAS) foi criado pelo Conselho de Ministros, através do De-
creto n° 28/97 de 10 de Setembro, como uma instituição com personalidade jurídica e autonomia
administrativa, para proporcionar assistência directa às populações mais carentes, contando ac-
tualmente com 30 delegações ao nível do país. De acordo com o Decreto em referência, os seus
principais objectivos são: (1) garantir a assistência social e económica directa ou outra julgada ne-
cessária aos grupos ou indivíduos mais carentes e impedidos de, por meios próprios, conseguir
a satisfação das suas necessidades básicas; (2) executar programas de assistência directa aos
grupos-alvo em coordenação com instituições governamentais de Acção Social e com organiza-
ções não-governamentais envolvidas neste campo de actividade; e (3) promover nos indivíduos
uma atitude de auto-estima, de dignidade e motivação para a utilização das suas capacidades
individuais ou de grupo, no desenvolvimento e mudança da sua situação social e económica.
A 13 de Dezembro de 2016, na sua 43ª Sessão Ordinária, o Conselho de Ministros aprovou o
Decreto que reestrutura o INAS, tendo em vista adequar a sua estrutura aos desafios impostos
pela Estratégia Nacional de Segurança Social. O INAS é responsável pela implementação dos
programas de assistência social que são parte do Eixo 1 da Estratégia Nacional de Segurança
Social Básica (ENSSB) II 2016-2024, a serem detalhados adiante, e que beneficiam as PcD.
O INAS tem sob sua responsabilidade a implementação de programas que transferem benefícios
a centenas de milhares de pessoas, cujo número tem vindo a crescer nos últimos anos e opera
até ao nível das comunidades. No entanto, a entidade enfrenta alguns desafios. O principal é a
capacidade em recursos humanos e a limitada presença no país. Actualmente, o Instituto tem
30 delegações para atender os mais de 150 distritos do país. A expansão do número de benefi-
ciários não está a ser acompanhada do aumento de pessoal. Há quatro anos, o INAS era consi-
derado uma estrutura ineficiente, com custos administrativos (incluindo gastos com pessoal) de
implementação de alguns dos seus programas sociais, chegando a 30% do seu orçamento (Fran-
cisco & Sugahara, 2015). No entanto, actualmente os gastos com pessoal e alguns custos admi-
nistrativos estão abaixo de 5%, o que para alguns é reflexo da falta de contratação de pessoal
necessário para dar conta dos desafios de gestão dos programas em expansão, o que se reflecte
na sua ineficiência na prestação de serviços (UNICEF, OIT, FMO, PSCM-PS, ROSC, 2017). A
implementação dos programas de protecção social básica também tem padecido de problemas
de coordenação Institucional a todos os níveis (nacional, provincial e distrital). O relacionamento
entre o MGCAS e outros sectores relevantes a nível central, assim como entre o SDSMAS e o
INAS, e os sectores de educação, saúde e acção social é considerado fraco (Hodges, Pellerano,
Guimarães, Matos, & Selvester, 2014). O sistema de pagamentos também é precário e obriga à
MINISTÉRIO DA SAÚDE
O Ministério da Saúde (MISAU) é o principal responsável pela oferta dos serviços de reabilitação
física, que inclui o estabelecimento de, entre outros, centros de reabilitação e serviços de saúde
ocular. Por seu turno, o MGCAS é responsável pela coordenação de actividades de reinserção
e assistência psicossocial e económica, que inclui a Reabilitação Baseada na Comunidade.
Ambos os Ministérios compartilham responsabilidades pelo fornecimento de serviços de fisiote-
rapia e ortopedia. Com efeito, o MISAU estabeleceu centros de reabilitação em quase todas as
capitais provinciais.
Este ministério é que responde pelos assuntos relacionados com a administração pública e foi
responsável, na qualidade de Ministério da Função Pública, pela elaboração da Estratégia da
Pessoa Portadora de Deficiência na Função Pública 2009-2013, ficando também responsável por
coordenar com o então Ministério da Mulher e Acção Social a sua monitoria. Dentre os elementos
definidos nesta Estratégia cabe também a este sector a definição e fiscalização das normas de fun-
cionamento da Administração Pública e a fiscalização do seu cumprimento. Na estratégia estavam
definidas quotas mínimas que variam de 1.5 a 5%, dependendo da quantidade de funcionários no
quadro de pessoal15, reservadas à contratação pelas entidades públicas de pessoas com deficiên-
cia. Pouco foi feito nesta estratégia, tanto em termos de acções articuladas de formação, investi-
mentos visando a adaptação e criação de condições para o trabalho das PcD. Também não existe
nenhum relatório sobre a implementação da estratégia, porém, a equipa deste estudo obteve in-
formação de que existem movimentações no sector no sentido de revitalizar a sua implementação.
Nos últimos tempos, o sector tem tentado criar condições para a materialização do ensino inclusi-
vo, tendo recentemente sido aprovada a Estratégia para a Educação Inclusiva e Desenvolvimento
A Estratégia recomenda a reserva de 1.5% de vagas nas entidades com 100 a 500 funcionários; 3% para entidades com 600 a 900 funcionários, e
15
A Comissão Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) foi criada em 2009 e começou a funcionar
em 2012, quando 11 comissários tomaram posse. No entanto, esta entidade só começou mesmo
a operar em 2015 quando foram criadas as condições mínimas de trabalho.
A CNDH está a criar escritórios nas províncias e projecta ter delegações até ao nível do distrito, à
semelhança do Instituto de Patrocínio e Assistência Jurídica (IPAJ).
O Censo de Instituições Sem Fins Lucrativos (CINSFLU) de 2014-2015 não tem uma categoria espe-
cífica para as OPDs, podendo-se enquadrá-las em dois grupos, de acordo com a Classificação das
Actividades Económicas (CAE) usada pelo INE: os de serviços sociais e de saúde humana e acção
social. Os dados do CINSFLU 2014/2015 incluem a análise de capacidades organizacionais (como
recursos humanos) e financiamento, mas devido à amplitude do tipo de organizações que podem
ser enquadradas na CAE adoptada, estes dados não seriam informativos das características destas
OPDs. Esta pode ser uma potencial área de advocacia nos próximos tempos: a inclusão de uma
classificação mais precisa das OPDs no CINSFLU.
O movimento da sociedade civil que opera em questões de direitos de pessoas com deficiência é
composto por OPDs nacionais geralmente com fracas capacidades organizacionais e institucionais
e poucas ONGs internacionais, com destaque para a Handicap International e a Light for the World.
O movimento associativo das pessoas com deficiência remonta a 1989, quando foi criada a Asso-
ciação dos Deficientes de Moçambique (ADEMO). Posteriormente, com a aprovação da Lei das
Associações em 1991 e o fim da guerra civil em 1992, surgiram várias organizações representan-
do grupos específicos de pessoas com deficiência, nomeadamente: Associação de Deficientes
Militares e Paramilitares de Moçambique (ADEMIMO), Associação dos Cegos e Amblíopes de
Moçambique (ACAMO), Associação dos Jovens Deficientes de Moçambique (AJODEMO), den-
tre outras. A necessidade de coordenação dos diferentes interesses e de garantia da existência
de um único interlocutor com o Governo na área da deficiência levaram à criação do Fórum das
Associações Moçambicanas dos Deficientes (FAMOD) em 2000.16
O FAMOD congrega actualmente cerca de 30 organizações (vide anexo 7.1)17 e funciona como
um “guarda-chuva” que alberga as OPDs em Moçambique. Os membros do FAMOD cobrem
O trabalho para a criação do FAMOD começou em 1998, mas só em 2000 é que ocorreu a Assembleia Constituinte(FAMOD, AIFO & ARCO, 2017, p. 3).
16
A equipa não conseguiu recolher informação consistente sobre os membros do FAMOD e a lista apresentada no anexo aqui referido é apenas
17
uma tentativa de sistematização da informação recolhida junto ao próprio FAMOD, que ainda está fragmentada.
Muitas destas organizações são essencialmente baseadas em membros, pelo que têm uma forte
componente de defesa dos interesses dos seus filiados, o que, em grande parte, difere de muitas
organizações da sociedade civil (OSC) existentes no país.
Não existe informação fiável sobre a distribuição geográfica das OPDs, mas diferentes fontes en-
trevistadas apontam que as organizações se concentram em Maputo, existem algumas na cidade
da Beira (onde fica a sede da ACAMO) e, no geral, as organizações concentram-se nas capitais
provinciais e poucas operam nas zonas rurais. O padrão de distribuição geográfica foi em parte
influenciado pelo apoio das organizações internacionais como a Handicap International, a Light
for the World, a KEPA e a extinta Power International. Estas organizações internacionais tiveram
grande parte das suas intervenções ligadas ao apoio às Associações de Pessoas com Defi-
ciência (APDs) nas grandes cidades, com maior foco nas Cidades de Maputo, Beira e Chimoio.
Algumas das organizações criadas nesses polos abriram sucursais em outras partes do país.
A informação disponível em relatórios18 e recolhida ao longo deste estudo sugere que, a nível ad-
ministrativo, as organizações são bastante frágeis. Existe uma confusão entre a parte técnica e os
órgãos sociais. As organizações nacionais, muitas vezes, não têm uma estrutura de organização
interna, as suas estruturas são incipientes, há falta de segmentação de funções. Há também pro-
blemas de governação, como a pouca alternância de poder nas organizações. Também existem
muitos membros que não têm informação sobre o que está a acontecer nas organizações, os
líderes são os que, na maioria das vezes, detêm a informação e se engajam mais no dia-a-dia da
organização. Há falta de formação escolar das pessoas com deficiência que gerem as organiza-
ções. A ADEMO e a ACAMO estão entre as poucas excepções que têm no seu quadro pessoas
com formação superior, capacidade administrativa e também instituições de governação interna
funcionais. A ADEMO beneficia do facto de ter sido a organização-mãe do sector, de onde muitas
saíram ou se inspiraram para formar organizações de área mais específicas, como a ACAMO.
A fraca capacidade das OPDs, aliada à fraca priorização da deficiência na agenda do desen-
volvimento, tem contribuído para o baixo nível de financiamento destes actores. Os parceiros de
cooperação, quando apoiam as OPDs, salvo algumas excepções, não têm priorizado a capaci-
tação nas suas abordagens e tendem a focalizar os seus apoios a projectos e de forma pontual.
Isso contribui para perpetuar a fraca capacidade existente.
Mas mesmo o FAMOD, criado para representar as OPDs no diálogo com o Governo e parceiros
e para influenciar a agenda pública, não está bem organizado para poder promover melhor os
interesses do grupo. Um diagnóstico recente (FAMOD, AIFO & ARCO, 2017) feito a esta organi-
18
Vide FAMOD, AIFO & ARCO, 2017.
19
Informação obtida numa entrevista.
20
Há muita terminologia: deficiência mental, deficiência psicossocial, deficiência intelectual, usuários de saúde mental.
21
Informação obtida numa entrevista.
Não há muita informação sobre o sector privado, e a sua participação na definição e implemen-
tação de políticas na área da deficiência é mínima. Isso não é surpreendente, tendo em conta
a fraqueza deste actor, mesmo na influência de políticas mais específicas do sector privado no
país. Mesmo a nível da Confederação das Associações Económicas (CTA)22 não há uma posi-
ção oficial sobre a acção e papel deste sector na área da deficiência. No entanto, há que referir
a participação do sector privado no CNAS e também no processo que levou à elaboração dos
compromissos do País apresentados na Cimeira Global da Deficiência.
22
A equipa realizou uma entrevista com um representante do sector privado, indicado pela CTA (vide lista de entrevistados no anexo).
23
Informação obtida numa entrevista.
24
Esta posição foi também tomada no Seminário de diagnóstico institucional do FAMOD (FAMOD, AIFO & ARCO, 2017).
25
Meier & O’Toole Jr., 2006.
46 | A ECONOMIA POLÍTICA DA ÁREA DA DEFICIÊNCIA EM MOÇAMBIQUE
a experiência da existência na Assembleia da República (AR) de um deputado com deficiência,
como o deputado Esaú Menezes, pode não ter tido a devida influência em tornar o legislativo mais
sensível a este grupo, mas é apontada como tendo sido influente na aprovação de instrumentos
como políticas e legislação com impacto mais a nível do executivo. Entretanto, a existência de
um vice-presidente com deficiência física, o deputado da Renamo e segundo vice-presidente
da AR Younusse Amad, chamou a atenção daquela casa para esta área, o que também contri-
buiu para a criação de alguma consciência quanto à legislação proposta sobre a deficiência. É
recorrentemente referido que o Deputado Younusse Amad foi crucial para que a Assembleia da
República retirasse da agenda a aprovação da proposta de Lei de Promoção e dos Direitos da
Pessoa com Deficiência, que havia sido aprovada pelo Governo sem consultas com a sociedade
civil. Isto abriu espaço para mais consultas, desta vez com a participação da sociedade civil.
Também há referências ao bom desempenho do Director Provincial de Acção Social de Sofala,
José Diquissone, que é uma pessoa com deficiência, que é apontada como estando a ter uma
boa contribuição para o avanço dos direitos deste grupo populacional. No sentido contrário, no
âmbito político e decisório, por exemplo, a representação das mulheres em Moçambique é alta
em comparação com os outros países do mundo e da região. No entanto, essa representação
nem sempre se reflecte numa maior defesa dos direitos das mulheres. O mesmo se pode dizer
da representação das diferentes regiões nas esferas decisórias do Estado e, principalmente, do
partido Frelimo, como forma de garantir a unidade nacional. Se essa representação fosse eficaz,
não existiria a recorrente reclamação sobre as persistentes assimetrias regionais no desenvolvi-
mento socioeconómico, o baixo nível de desenvolvimento sócio-económico da província de Gaza,
que historicamente teve mais líderes na Frelimo e no Estado e tem sido até aqui a província mais
eleitoralmente alinhada ao poder do dia.
Deste modo, a representação das PcD nas esferas de tomada de decisão pode ser influente
na resposta às suas demandas, mas ela em si não é suficiente. Há também outros factores que
devem ser levados em conta e que favorecem uma representação mais efectiva, nomeadamente
os que têm a ver com as relações com os actores que, de facto, têm poder decisório no contexto
moçambicano. Destes, há que se destacar o poder executivo, historicamente mais forte que o
legislativo, o partido no poder e o alinhamento com o mesmo ou não, a existência ou a ausência
de uma ameaça ao seu poder como elementos mais importantes para influenciar decisões, do
que apenas a representação sociológica de certos grupos. Neste contexto, um dos elementos
referidos de forma recorrente é de que há momentos em que o activismo das PcD na defesa pelos
seus direitos é rotulado de trabalho da oposição, o que limita o espaço para o diálogo e acolhi-
mento das suas demandas. Mas também existem referências ao poder de persuasão e influência
de que gozam as PcD desmobilizadas de guerra, que combina tanto uma história de serviço
ou contestação ao Estado, assim como a sua capacidade de mobilizar meios de violência para
fazer valer as suas reivindicações. No campo do activismo cívico, isso remete também para as
abordagens de advocacia que podem ser mais eficazes: se as de confrontação ou de alinhamen-
to/engajamento com o Governo. Algumas experiências bem sucedidas, como a experiência de
trabalho das OPDs com o INE para inclusão nos censos de questões visando uma melhor recolha
de dados sobre a deficiência, assim como a cooperação da TV Surdo com o Ministério da Saúde
Os actores e instituições informais que são importantes para a área da deficiência e que influenciam
a forma como esta é vista são os líderes religiosos, as autoridades tradicionais, os médicos tradicio-
nais, que podem influenciar as percepções da sociedade e dos indivíduos, disseminando crenças
e mitos que contribuem para uma visão e pensamento sobre a deficiência, que posteriormente
influenciam os comportamentos sociais. Este assunto será explorado adiante, na sub-secção 5.2.1.
4.3.1. LEGISLAÇÃO
Os dispositivos relevantes para esta área cobrem questões de acesso aos serviços e também a
certos direitos das PcD, dentro do quadro normativo consagrado pela Constituição, de garantia
dos direitos a este grupo populacional.
Neste contexto, a Lei n.º 23/2007, de 21 de Agosto de 2007, que aprova a Lei do Trabalho, con-
tém disposições importantes relativas ao emprego de pessoas com deficiência. De acordo com
a Lei, os empregadores devem: promover a adopção de medidas apropriadas que permitam aos
funcionários com deficiência ou doenças crónicas ter os mesmos direitos e deveres que os de-
Por sua vez, o Decreto 53/2008 de 30 de Dezembro define os aspectos técnicos de acessibilidade
aos serviços públicos para as pessoas com deficiência na República de Moçambique (Vembane,
Manjate, & Sambo, 2017). O documento decorre do reconhecimento do governo de Moçambique
da necessidade de estabelecer dispositivos técnicos que permitam a acessibilidade, a circulação
e o uso de sistemas de serviços e locais públicos de pessoas em geral e, em particular, pessoas
com deficiência ou pessoas com mobilidade limitada. Nessa perspectiva, o documento é bastan-
te abrangente ao fornecer medidas de vários aspectos dos espaços públicos, incluindo rampas,
calçadas, passagens, escadas, estacionamento, etc. Por exemplo, o artigo 5 fornece orientações
detalhadas sobre a construção de rampas, nas quais medidas métricas são especificadas.
Um outro dispositivo legal digno de menção é o Decreto n.º 11/2009, de 29 de Maio de 2009, que
aprova o Regulamento do Transporte Automóvel, e estabelece a isenção e redução das taxas
nas áreas urbanas e interurbanas e os transportes públicos para pessoas com deficiência. Isto
é baseado em princípios constitucionais não discriminatórios e delineia direitos específicos para
pessoas com deficiência. Entretanto, uma percentagem considerável de pessoas com deficiên-
cia mora em áreas rurais e é limitada na sua capacidade de se mudar para longe de casa para
procurar atendimento médico ou para atender a outras situações, devido a custos de transporte,
sendo os serviços predominantemente encontrados nas cidades.
4.3.2. POLÍTICAS
Em 1998 o Governo aprovou a Política Nacional da Acção Social, através da Resolução 12/98 de 9
de Abril – que estabelece um conjunto de princípios e acções de instituições públicas e privadas
na provisão de assistência social a indivíduos, populações e grupos sociais vulneráveis e social-
mente excluídos (Conselho de Ministros, 1998). Nesta política são estabelecidas prioridades e
acções específicas viradas para a pessoa com Deficiência.
Desde 2004, o Governo moçambicano tem vindo a tentar desenvolver uma estratégia de assistên-
cia às vítimas de minas e outras com ferimentos causados pela guerra civil, no âmbito da imple-
mentação da Convenção sobre a Proibição do Uso, Armazenamento, Produção e Transferência
de Minas anti-pessoais e sobre a sua Destruição, mais conhecida como Tratado de Ottawa. Com
efeito, além de estarem proibidos de usar minas anti-pessoais, os Estados-Parte têm o dever de,
na medida das suas possibilidades, prestar assistência na remoção de minas, e de se engajarem
em programas de sensibilização, tratamento e reabilitação das vítimas das minas. Outro aspecto
relevante é que o Tratado abre janelas de oportunidades de busca de recursos externos para
implementar os seus programas, através da cooperação para o desenvolvimento.
O Plano Nacional da Açção para a Área da Deficiência (PNAD) tem sido o instrumento de planifica-
ção, orçamentação, monitoria e avaliação das actividades dos diferentes actores sociais do sector,
e visa fundamentalmente a promoção da plena participação, igualdade e empoderamento das
pessoas com deficiência e assegurar o princípio de igualdade de direitos e de oportunidades a
este grupo social. Até aqui foram aprovados dois PNADs, sendo que o primeiro foi de 2006 a 2010,
e o segundo iniciou a sua implementação em 2012 e vai até 2019. No PNAD II, dos três objectivos
gerais estabelecidos, os dois primeiros almejam a plena participação, igualdade e empoderamen-
to das mulheres e homens com deficiência. Indo mais ao detalhe, é bem visível a preocupação
com a necessidade de empoderar economicamente as pessoas com deficiência logo nas primei-
ras quatro áreas de intervenção da longa lista descrita ao detalhe no documento: i) Orientação
vocacional e formação profissional; ii) Educação básica e alfabetização de jovens e adultos; iii)
Acesso ao Emprego; e iv) Segurança Social Básica (Redução da pobreza). A implementação do
PNAD envolve vários sectores, que devem enviar regularmente informação ao MGCAS, que é a
entidade responsável pela monitoria integrada. Conforme será explicado na secção 4.5.5, isso não
tem ocorrido conforme planeado.
A área de segurança social básica é um outro ponto de entrada das intervenções que incluem o
sector da deficiência.
As pessoas com deficiência são tidas em conta no quadro de beneficiários da ENSSB, que
reconhece, entre outros, a deficiência como um dos “factores de vulnerabilidade que limitam o
acesso à educação e ao emprego e que conduzem a uma situação de marginalização social”
(MGCAS, 2016a, p. 11), e assume um compromisso de, a longo prazo, assegurar “o acesso
aos subsídios para todos os agregados ou indivíduos que cumprem com os requisitos de elegi-
bilidade” (MGCAS, 2016a, p. 25). Os programas da ENSSB II destinados ao apoio às PcD são
principalmente os de protecção social básica, e estão a ser implementados desde a ENSSB I
2010-2014, nomeadamente:
Destes programas, os dois primeiros (PSSB, PASD) são de acção social directa e têm como
foco atender às situações de vulnerabilidade e choque, tanto de forma pontual como prolon-
gada, enquanto o PASP é que tem maior potencial de criação de capital humano e bases para
um maior empoderamento económico. Além destes programas, existe um eixo voltado para
a nutrição e serviços sociais de acção social (PSSAS), com foco na saúde e educação. Um
elemento importante a levar em conta na protecção social em Moçambique é a confusão que
é feita com o assistencialismo ou assistência social: de mitigação da pobreza, que decorre de
uma perspectiva reactiva compensadora das perdas que as pessoas sofrem em função das
mudanças sociais e económicas, em detrimento de uma abordagem mais prospectiva, como
parte integrante do processo de desenvolvimento económico (Francisco, Ali, & Ibraimo, 2011).
Não existe consenso quanto ao grau de participação das PcD no desenvolvimento dos dife-
rentes instrumentos de intervenção na área, sendo que enquanto o Governo defende que há
participação, a mesma opinião não é partilhada pelas PcD.
Neste contexto, os documentos dos PNAD I e II, assim como a política da área (PPPD) indicam
a importância da participação das PcD na sua elaboração e implementação. No entanto, a par-
ticipação das PcD na discussão das políticas e leis relacionadas com os seus direitos nem sem-
pre é automática, havendo situações em que o Governo é acusado de ignorar a contribuição
deste grupo. Por exemplo, actualmente está em curso a discussão da proposta da nova lei do
desporto que começou sem a participação de representantes das PcD, que só posteriormente
foram envolvidos, depois da reivindicação do Comitê Paralímpico, que agora faz parte do grupo
que está a elaborar a proposta.
Uma situação similar ocorreu na discussão da proposta de lei de Protecção dos Direitos das
Pessoas com Deficiência, que havia sido aprovada pelo Conselho de Ministros e encaminhada
para o Parlamento para aprovação, sem consultas à sociedade civil e às OPDs, em particular. O
processo foi travado graças à contribuição do activismo do segundo vice-presidente da Assem-
bleia da República e das organizações da área, que pressionaram pela retirada da proposta,
que era considerada lacunosa e sem as perspectivas dos actores do sector. Agora, a discus-
são já envolve as OPDs, a CNDH e outros parceiros nacionais e internacionais.
As políticas da área são tidas como preteridas na distribuição de recursos, mesmo quando dão
mostras de um bom desempenho. Por exemplo, o desporto paraolímpico tem dado medalhas
ao país a nível continental e mundial, mas, ainda assim, o investimento no mesmo ainda é limita-
do. Aponta-se que há um ano não há actividades relevantes neste desporto, o que é justificado
pelo Governo com a falta de recursos decorrente da actual crise económica, mas no desporto
convencional tem havido mais esforço e apoio no sentido de o pôr a funcionar.
Esta situação não é estranha ao quadro mais amplo de participação das organizações da so-
ciedade civil (OSC) nas políticas públicas em Moçambique, que apresenta um quadro similar.
Um estudo de 2012 sobre o tema apontava que a fraca capacidade técnica das OSC, os baixos
níveis de financiamento e as estratégias adoptadas pelos parceiros de desenvolvimento para
financiarem estes actores, com particular ênfase para o uso de mecanismos conjuntos e de
organizações internacionais da sociedade civil, tende a limitar a capacidade e proeminência
das organizações nacionais e a colocá-las a reboque das agendas dos doadores, uma vez
que precisam de atrair fundos para sobreviverem. Ademais, o estudo afirma que a forma mais
efectiva de participação nas políticas é pela via de plataformas temáticas da sociedade civil,
redes e alianças (ITAD & COWI, 2012).
A fraca participação das OPDs nos fóruns acima indicados e os desafios que enfrentam suge-
rem que estes actores estão sujeitos às dinâmicas similares às que foram aqui descritas.
No entanto, há que apontar a existência de alguns sectores onde as OPDs conseguem ter al-
guma influência, devido à existência de mecanismos de articulação, principalmente com o Go-
verno. São os casos dos ministérios dos sectores de Acção Social, Educação, Saúde, Trabalho
e Emprego e Juventude e Desportos: com o MGCAS porque a deficiência está inserida directa-
mente no seu mandato; na Saúde devido ao facto de as PcD usarem os serviços de saúde, ao
histórico de alocação da deficiência neste sector e, mais recentemente, a partir de iniciativas
da TV Surdo voltadas para a promoção do acesso aos serviços pelas PcD em parceria com o
Ministério da área; na educação, o ponto de entrada é a educação inclusiva, cuja estratégia
busca envolver as PcD na sua implementação; na área de emprego e formação profissional, a
AJODEMO forma jovens em empreendedorismo e criação de negócios, e áreas técnicas como
electricidade, inglês, em parceria com o IFPELAC. As OPDs também têm alguma presença no
Ministério da Juventude e Desportos (MJD), devido aos desportos paraolímpicos. Neste âmbi-
to, o documento de avaliação da implementação do PNAD II refere que a implementação da
Política e a Estratégia do Desporto contribuiu para a promoção do desporto para a PcD, o que
resultou no surgimento de várias associações desportivas desta área.26 Com os outros ministé-
rios há uma tentativa constante das PcD de trabalhar com os mesmos, usando o pressuposto
de que a deficiência é um assunto transversal, mas ainda há fortes barreiras, porque muitas
26
MGCAS, 2016b, p. 15.
No que concerne ao governo, não existe um orçamento específico para a área da deficiência,
mas, tendo em conta a natureza transversal da deficiência, de princípio cada sector deveria
orçamentar acções específicas para esta área. A filosofia por detrás disso, expressa por uma
das entidades públicas entrevistadas, é de que se está a lutar para a inclusão e não para a
distinção e isso reflecte-se na filosofia da orçamentação. Por exemplo, quando se constrói uma
escola, o sector da educação é sensibilizado a incluir no orçamento os custos para a criação
de condições de acessibilidade das infraestruturas e também material didáctico que possa
ser usado pelas pessoas com deficiência. Esta filosofia tem se revelado pouco eficaz porque,
embora o papel de coordenação das acções da assistência social, onde a deficiência se en-
quadra, esteja no MGCAS, a capacidade de coordenação de outros sectores não se faz sentir,
o que explica a não materialização da abordagem acima indicada.
No que concerne ao financiamento público, a informação da área da deficiência pode ser encon-
trada, de forma directa e indirecta, nos documentos do Orçamento do Estado (OE) e respectivos
relatórios de execução, nos Planos Económicos e Sociais (PES) e respectivos balanços (BdPES).
Quanto ao orçamento, a informação pode ser encontrada em classificadores funcionais (por área,
como educação, saúde, género, criança e acção social; segurança e accão social) ou orgânicos
(por exemplo, indicando o MGCAS, ou o INAS) do orçamento. No entanto, isso não resolve o
problema, porque a classificação das despesas, que incluem a área da deficiência, pode mudar
de ano para ano. Nesse âmbito, o Fórum de Monitoria do Orçamento e o Informe Orçamental
do Sector de Acção Social notam que a agregação das áreas de Acção Social e do Trabalho
torna confusa a distinção das despesas específicas da primeira área. Isso ainda é agravado pela
Entre 2014 e 2017, o orçamento da área de segurança e acção social variou entre 1.8 a 6.9% do
orçamento total, como pode ser visto na tabela 1 abaixo.
O orçamento alocado ao MGCAS e ao INAS, que é responsável pela implementação dos Pro-
gramas de Protecção Social Básica, cresceu de 0.84% para 2.23% do OE de 2008 até 2015,
tendo decrescido para 1.60% do OE em 2016 e retomado um ligeiro crescimento para 1.74%
em 2017, conforme pode ser visto na Figura 1 abaixo. A figura também mostra que a alocação
ao MGCAS passou de 77.4% do volume de recursos para o sector em 2008 para 8% em 2017,
sendo o restante valor alocado ao INAS. O volume total de recursos alocados à protecção cres-
ceu consistentemente de 2008 a 2016 (de 433 milhões para 3481 milhões de meticais), quando
houve uma ligeira redução em 2016 (para 3044 milhões) e, em 2017, voltou a registar-se a
tendência de crescimento (para 3210 milhões) (UNICEF et al, 2017). Isso mostra uma evolução
positiva nos recursos canalizados aos beneficiários da acção social.
2,50
Orçamento total INAS
2,00 Orçamento total MGCAS
1,50 2,01
1,47
1,43 1,61
1,00
DO ESTADO (%)
1,11
0,19 0,79
0,30
0,50 0,68
0,65 0,35
0 0,49 0,30 0,28 0,17 0,20 0,17 0,22 0,17 0,13
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Nos programas do INAS, que têm informação desagregada dos benefícios alocados aos AFs
chefiados por pessoas com deficiência, os padrões de alocação de recursos mantiveram-se
mais ou menos os mesmos nos últimos 4 anos e, em 2017, eram os seguintes: o PSSB tem
alocado 53% dos recursos da Segurança Social básica, o PASD e o PASP receberam 22% e o
PSSAS apenas 2%.
O MGCAS também dispõe de financiamento por via das receitas próprias e proveniente de
alguns parceiros de cooperação, nomeadamente o Banco Africano de Desenvolvimento, os
Fundos das Nações Unidas para a Criança (UNICEF) e para a População (FNUAP), a Agência
Catalã e, a partir de 2019, contará com fundos de DFID.
O financiamento das OPDs é essencialmente de fundos externos, seja directamente pelos par-
ceiros de cooperação, ou por intermédio de organizações não-governamentais internacionais.
Não existe financiamento governamental para as OPDs. Em alguns casos, mesmo quando exis-
tem oportunidades de financiamento indirecto, a flexibilidade das entidades do sector público
para apoiar estas organizações é reduzida. Por exemplo, mesmo com financiamento parcial, a
TV Surdo passou por um processo longo para conseguir chegar a um acordo com a Televisão
de Moçambique (TVM) para divulgar os seus programas e, devido a essa demora, o fundo
disponibilizado pelo FNUAP acabou sendo perdido em 2014. Só posteriormente é que ambas
as partes chegaram a um acordo, já com o financiamento do IREX, que iniciou em Junho de
2015. Procedimentos de finanças públicas do Estado também são um entrave para o financia-
mento indirecto das OPDs. Estas reportam que o Ministério da Economia e Finanças exige o
pagamento de direitos alfandegários para a recepção de doações, principalmente de meios de
compensação (como cadeiras de rodas), alegando que quando a isenção fiscal respectiva não
está antecipadamente inscrita no orçamento, os receptores ou os doadores devem pagar os
impostos da doação. Esta falta de flexibilidade faz com que algumas doações tenham que ser
recusadas, privando, assim, as PcD de beneficiarem de meios importantes para a melhoria da
sua qualidade de vida.
O DFID financia a sociedade civil através da Fundação MASC. Este financiamento inclui apoio
às OPDs e respectivo Fórum, particularmente no âmbito do desenvolvimento de capacidade
institucional, técnica e de advocacia, com vista a tornar o movimento mais forte em Moçambi-
que, dotar as OPDs de capacidades de advogar os seus interesses em diversas áreas: política,
económica e social. Outra área que está a ser desenvolvida é a coordenação entre as OPDs por
forma a fortalecer, unificar e dinamizar cada vez mais o movimento e um dos grandes ganhos
obtidos até ao momento foi o trabalho conjunto e bastante activo entre as OPDs e o FAMOD na
elaboração do documento sobre os compromissos de Moçambique apresentados à Cimeira
Global da Deficiência em Londres. O documento final foi elaborado em colaboração com o
Governo. O presente estudo também se enquadra no apoio do DFID ao sector e espera-se que
seja uma ferramenta que disponibilizará uma visão real da situação das OPDs e das PcD no
geral em Moçambique e permitirá a vários stakeholders identificarem pontos de entrada para a
sua acção, tendo em conta os desafios arrolados nesta análise.
No geral, o financiamento das OPDs nacionais tem sido predominantemente na base de pe-
quenos projectos e, às vezes, intermediado por grandes organizações internacionais como a
Handicap Internacional, a UNICEF, a KEPA, a Save the Children, dentre outras. A ADEMO e a
ACAMO estão entre as poucas organizações que têm relativamente mais financiamento que
as outras, o que sugere a existência de alguma relação entre a capacidade administrativa e o
acesso a fundos. Isso explica-se em parte devido às necessidades de prestação de contas dos
fundos, que, por sua vez, depende da capacidade administrativa. Do outro lado, estão as or-
ganizações que tiveram oportunidades de estabelecer parcerias com ONGs internacionais que
operam na área (Handicap International, Light for the World, Abilis), que, no desenvolvimento
dos seus projectos, as têm incluído como sub-implementadores.
No que concerne aos parceiros de cooperação, embora alguns estejam a financiar iniciativas
pontuais, não existe um programa de financiamento para a área da deficiência. Poucos par-
ceiros têm um financiamento direccionado, o que poderá mudar com a maior proeminência do
assunto depois da Cimeira Global da Deficiência realizada em Julho em Londres. Historicamen-
te, o financiamento a esta área esteve ligado a projectos específicos como complementares
a essas intervenções, por exemplo, como parte da área da desminagem, como é o caso da
União Europeia. Com o crescimento da importância da Protecção Social na agenda do desen-
volvimento no mundo e em Moçambique nos últimos tempos, os parceiros de desenvolvimento
tendem também a estruturar o seu financiamento acoplado a esta área, como parte da Estraté-
gia Nacional de Segurança Social Básica. Nos casos em que existe financiamento, o mesmo é
feito maioritariamente pela via de organizações internacionais, que implementam directamente
os programas, ou refinanciam os parceiros nacionais pela via de pequenos projectos. Este é
o caso da USAID que financia o IREX, que inclui o apoio à TV Surdo. Existe também a Coo-
peração Italiana que vai usar ONGs italianas como intermediárias. O DFID e outros parceiros
canalizam parte do seu financiamento para esta área através da UNICEF. Porém, existem casos
de financiamento através de organizações nacionais, como o da Fundação MASC (fundos do
DFID). A União Europeia, através de fundos de apoio à sociedade civil, também financiou direc-
tamente organizações nacionais, mas não porque eram OPDs, mas porque foram elegíveis ao
financiamento e apresentaram propostas consistentes que foram aprovadas para a recepção
dos fundos. No geral, as iniciativas de financiamento da área ainda são fragmentadas. Por isso,
aponta-se a falta de coordenação entre os doadores sobre as áreas de actuação, pois cada
um tem sua área prioritária tanto em termos temáticos como territoriais, o que, algumas vezes,
reduz a efectividade e sustentabilidade das acções. A consequência dessa fragmentação é
que os recursos tendem a ser alocados de forma desigual e desequilibrada e, inclusive, não
abrindo oportunidades para a capacitação dos actores locais, com particular incidência nas
OPDs.Também não existe um mecanismo coordenado de monitoria e avaliação do impacto que
essas intervenções têm no empoderamento das PcD, o que reforça a percepção de que esta é
uma área negligenciada.
A Itália, uma das poucas financiadoras de longa data do sector, o Reino Unido e os Estados
Unidos são, neste momento, os principais parceiros de cooperação que estão a discutir a agen-
da da deficiência. Até quanto foi possível apurar, a tendência da abordagem a ser adoptada é
a inclusão em programas existentes e não como um programa específico.
As dinâmicas de financiamento da área, tanto do sector público como das OPDs, não contri-
buem para o empoderamento das PcD.
É difícil aferir o financiamento da área da deficiência para o sector público, devido à natureza
transversal da área e à implementação das suas acções por uma multiplicidade de actores, sem
uma coordenação institucional forte. Ademais, a falta de informação fiável sobre o número de
PcD não permite estimar em que medida o financiamento cobre as necessidades reais existen-
tes. Este problema não será resolvido facilmente, porque depende também da superação dos
obstáculos existentes na sociedade para se assumir os direitos das pessoas com deficiência
como direitos humanos e da resposta do Governo na recolha de informação fiável, empregando
métodos adequados, e o seu uso para a definição de intervenções voltadas para o empodera-
mento das PcD. Uma das consequências da falta de informação sobre o orçamento canalizado
para esta área é a ausência de debate sobre os padrões de alocação de recursos e de como os
mesmos podem ser mudados com vista ao atendimento efectivo dos desafios existentes. Isso
abre espaço à continuação de uma implementação e orçamentação fragmentadas, baseadas e
voltadas para intervenções necessárias, mas menos sustentáveis no empoderamento das PcD.
Este é o caso da alocação de recursos para intervenções mais assistencialistas, como é o da
área de Protecção Social que tem registado um grande crescimento de recursos e beneficiários
nos últimos anos. Este assunto será desenvolvido na próxima secção.
No que concerne ao financiamento às OPDs, algumas agências internacionais que lidam com a
área da deficiência financiam projectos nesta área a partir das suas organizações congêneres.
Por exemplo, o modelo de financiamento da Cooperação Italiana é pelas Organizações Não-
-Governamentais (ONGs) deste país. Organizações doadoras internacionais canalizam o seu
financiamento maioritariamente pelas ONGs internacionais e algumas organizações do sistema
das Nações Unidas (exemplos: a UNICEF e a OIT) e estas, por sua vez, trabalham com as
poucas OPDs com maior capacidade, como forma de evitar custos de transação e conseguir
maior impacto a nível local. Assim, organizações como Help Age e Handicap International têm
beneficiado de mais financiamento que as organizações nacionais. Uma das explicações da-
das por uma organização doadora é de que essas organizações têm melhor capacidade e, no
caso da Handicap International, também implantação territorial, o que permite a implementação
até ao nível local. O baixo acesso aos fundos por parte das organizações nacionais também
se deve ao facto de muitos mecanismos de financiamento serem internacionais e as organiza-
ções nacionais enfrentarem barreiras linguísticas e de capacidade técnica para apresentarem
propostas competitivas, além dos problemas de capacidade de gestão e governação interna,
apontados em relação a essas organizações, o que reduz a confiança dos parceiros para ca-
nalizarem directamente fundos às mesmas.
A falta de confiança dos financiadores nas organizações, aliada à falta de apoio a projectos que
A prestação de serviços é um elemento importante para a realização dos direitos das PcD. Des-
ta forma, as lacunas na prestação dos serviços afectam negativamente a garantia dos direitos.
Nesta secção serão abordados alguns dos serviços voltados para as pessoas com deficiência,
as lacunas e desafios apresentados pelos mesmos, segundo os seus beneficiários, e suas
causas, tendo como pano de fundo as implicações na garantia dos direitos das PcD. O foco
é nos serviços públicos, estando excluídos aqueles que são prestados pelas entidades priva-
das. A referência é dos serviços previstos no PNAD II, nomeadamente formação profissional e
emprego, educação inclusiva, saúde (HIV/SIDA, sexual e reprodutiva, serviços de reabilitação
médica) e os de protecção social.
Em princípio, os serviços públicos de assistência social estão disponíveis até ao nível do distri-
to, pela via dos Serviços Distritais de Saúde, Mulher e Acção Social (SDSMAS) e pelo Instituto
Nacional de Assistência Social (INAS), que apenas está presente em 30 distritos do país. Con-
forme foi referido anteriormente, o INAS é o braço executivo da área de acção social e é respon-
sável pela implementação de quatro programas de assistência social, nomeadamente o Pro-
grama “Subsídio Social Básico” (PSSB), o Programa “Apoio Social Directo” (PASD); o Programa
de Serviços Sociais de Acção Social (PSSAS); e o Programa de Acção Social Produtiva (PASP).
Em todos esses programas, são potencialmente contempladas as pessoas com deficiência, no
pressuposto de que fazem parte dos grupos vulneráveis e, por isso, elegíveis aos programas de
protecção social. A tabela 2 abaixo apresenta dados dos programas com informação disponível
sobre beneficiários com deficiência.
Serviços Sociais de
A oferta de serviços de segurança social básica cresceu no período de 2012 a 2014, tendo re-
gistado uma ligeira queda em 2015 e retomado o crescimento em 2016. Neste grupo, a maioria
dos beneficiários foi contemplada pelo PSSB, um serviço de transferência de rendas por tempo
indeterminado, para atender a situações de incapacidade para o trabalho.
A tabela 3 abaixo indica a percentagem de agregados familiares beneficiados pelo PASD, que
consiste em respostas a situações temporárias de vulnerabilidade. Com excepcão de 2013 e
2017, há uma proporção maior de famílias a receberem apoio pontual do que prolongado, o que
mostra a predominância do tipo de apoio de curto prazo.
O programa voltado para o apoio às pessoas com potencial de empregabilidade, que é o PASP,
no período analisado, não inclui indicações de ter beneficiado pessoas com deficiência, ao
menos de acordo com os dados disponíveis. Os dados disponíveis mostram a existência de
um forte foco na componente assistencialista dos programas de protecção social, que não só
cobrem uma parte dos custos de sobrevivência, como não criam uma base sustentável de auto
sustento e empoderamento dos beneficiários.
Os programas que têm informação sobre as PcD beneficiadas fazem parte do que se chama
acção social directa, dos quais o que tem mais beneficiários é o PSSB. No fim da ENSSB I
(2010-2014), o PSSB tinha alcançado mais de 300 mil, de um total de 427 mil beneficiados, e
havia uma avaliação positiva ao mesmo no que tange à garantia de sobrevivência e dignidade
das pessoas em situação de vulnerabilidade, incluindo as PcD, apesar de o subsídio ser redu-
zido (MGCAS, 2016a). No entanto, a lacuna deste subsídio é que não cria as condições para a
reprodução do capital humano e uma efectiva mudança com vista à autonomia económica dos
agregados beneficiados. Além disso, os programas de apoio social directo, no geral, reprodu-
zem as relações de patronagem baseadas em distribuição de recursos para recompensar a
lealdade política dos apoiantes e para estimular os membros da oposição a apoiarem o partido
no poder (como o Fundo dos Sete Milhões) e excluem o seu acesso a parte dos potenciais be-
neficiários, aumentando, desta forma, as tensões sociais (Buur & Salimo, 2018).
No entanto, ainda existem alguns desafios nesta área, com destaque para três. O primeiro
tem a ver com a capacitação e sua sustentabilidade, uma vez que alguns dos professores ca-
pacitados para o atendimento a estudantes com NEE são sujeitos à mobilidade, o que acaba
comprometendo a capacidade das escolas.30 Há casos de escolas que adoptam a educação
inclusiva e, devido à falta de condições, acabam recorrendo às turmas especiais para albergar
as crianças com deficiência, o que contraria o espírito desta abordagem (ROSC, 2014). Estudos
mostram também que a acessibilidade das escolas para as crianças com deficiência também
é crítica (idem). Entrevistados reportaram as dificuldades enfrentadas por PcD nas escolas, de-
vido à falta de formação adequada dos professores e formadores. O segundo já foi referido na
secção 4.1, que tem a ver com a necessidade de articulação e coordenação de vários actores
28
Idem.
29
Idem.
30
Idem.
Em Maio de 2018, foi aprovada a Estratégia para Educação Inclusiva e Desenvolvimento das
Crianças com Deficiência (EEIDCD), tendo sido criado o Grupo Multissectorial para a Implemen-
tação da EEIDCD, coordenado pelo MINEDH e composto pelo MGCAS, MISAU, Ministério da
Justiça, Ministério de Trabalho, Emprego e Segurança Social (MITESS), Ministério do Turismo
e Cultura, Ministério das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos, Ministério da Ciên-
cia e Tecnologia, Ensino Superior e Técnico-Profissional, Universidades (Universidade Eduardo
Mondlane, Universidade Pedagógica), Organizações internacionais como Save The Children e
UNESCO e o Projecto Vamos Ler (financiado pelo Governo Americano, USAID) e OPDs. Esta
estratégia pretende enfrentar os desafios acima indicados, mas ainda caberá às OPDs contribui-
rem para que a sua implementação seja responsiva às demandas dos grupos que representam.
A nível da função pública foi definida uma quota para as pessoas com deficiência, além da cria-
ção de condições para o emprego e promoção das PcD, no âmbito da Estratégia da Função Pú-
blica para a Pessoa Portadora da Deficiência, cuja coordenação da implementação está a cargo
do MAEFP e do MGCAS (anteriormente MMAS). A estratégia não está a ser implementada como
foi planeada e não existe nenhum relatório de implementação que permita aferir o seu progresso,
apesar de já se ter esgotado o seu período de execução, que vai de 2009 a 2013. No entanto,
a equipa deste estudo teve informação de que há movimentações no sentido de revitalizar a
implementação desta estratégia e o MGCAS, no Relatório da avaliação intermédia do PNAD II,
referiu que se estava a fazer a sua avaliação.
O IFPELAC tem criado condições para a formação profissional das PcD, no âmbito da sua
31
Movimento de Educação Para Todos/MEPT, 2014, p. 45.
Os Serviços de Saúde previstos no PNAD II consistem de áreas como saúde sexual e reprodu-
tiva, e serviços de reabilitação médica e apoio familiar. Estes últimos incluem a distribuição de
meios de compensação.
No que concerne aos serviços de reabilitação médica e apoio familiar, o foco é a garantia do
acesso aos serviços de reabilitação e assistência médica e medicamentosa. Neste âmbito, de
2013 a 2015, totalizaram 153.735 pacientes em todo o país, dos quais 145.563 (94.7%) foram
atendidos nos serviços externos de Fisioterapia e os restantes 8.172 (5.3%) nos de serviços
de Ortoprotesia.32 Também foram distribuídos 17.995 (cerca de 13% do previsto) meios de
compensação como próteses, auxiliares de marcha, cadeiras de rodas, botas ortopédicas,
talas para os membros inferior e superior e palmilhas ortopédicas, com uma taxa de realização
de 12.98%. Do total dos beneficiados em meios de compensação, 47.67% são pessoas com
deficiência física (MGCAS, 2016b).
32
Relacionado ao diagnóstico de problemas motores e de postura e a aplicação de meios ortopédicos para a sua correcção,
A prestação de serviços para as PcD ainda é crítica e o próprio governo reconhece que a im-
plementação do principal instrumento de provisão de serviços nesta área, o PNAD, ainda não
gerou os resultados esperados. No caso do PNAD I 2010-2014, registaram-se alguns avanços,
como na área de promoção de emprego, alívio da pobreza e promoção do bem-estar (através
da formação profissional e integração em actividades de geração de rendimentos, subsídios
de alimentos e outros apoios de várias formas), acesso à educação a crianças e jovens com
deficiência e redução das barreiras ambientais nas escolas com ensino inclusivo; melhoria de
acesso à saúde – assistência médica e medicamentosa, serviços de reabilitação e informação
sobre HIV/SIDA. No entanto, ainda persistem desafios como: fraco nível de criação de emprego,
baixo valor dos subsídios de alimentos (num contexto de aumento dos preços destes), acesso à
informação sobre os programas de saúde, fraca qualidade de atendimento às PcD nos hospitais
públicos, falta de medicamentos nas farmácias públicas, baixa acessibilidade de informação
sobre o HIV/SIDA (República de Moçambique, 2012). Quanto ao PNAD II 2012-2019, o governo
reconhece que a sua implementação está aquém do planeado, devido, entre outras coisas, ao
fraco conhecimento e apropriação deste instrumento como referência para a planificação, fraca
coordenação entre os diversos intervenientes, insuficiência de recursos para a sua implementa-
ção e não discriminação dos dados por género e tipologia de deficiência. Praticamente todas as
áreas aqui apresentadas são apontadas como tendo tido um baixo desempenho em relação ao
que foi planificado, com a excepção da educação. A monitoria da implementação deste instru-
33
Vide estudo sobre o caso de Sofala (Light for the World, 2017).
O acesso aos serviços não tem uma discriminação com base em aspectos étnicos, regionais ou
de outro tipo que seja visível. As pessoas de renda mais baixa sofrem mais em função da sua
precária situação sócio-económica e falta de meios próprios para colmatar as lacunas de acesso
aos serviços públicos e a um apoio que possa garantir os seus direitos. Nas cidades, as pessoas
têm mais comunicação e informação e isso faz com que tenham mais acesso a serviços que
as que se encontram nas zonas rurais. No entanto, a forma negativa como a deficiência é vista
também faz com que, nas zonas urbanas, as pessoas tenham complexos em aceder a alguns
serviços, incluindo mesmo o apoio para fazer valer os seus direitos.
O sector público ainda não incorporou, na sua prática de prestação de serviços, a essência das
abordagens baseadas em direitos que enformam as principais intervenções de apoio às pessoas
com deficiência, fundadas na CNUDPD. O exemplo dos programas de protecção social mostra
que considerações estratégicas, de índole política, explicam a expansão dos programas que
têm beneficiado algumas das pessoas com deficiência e lhes permitem resolver necessidades
de curto prazo. No entanto, os mesmos não suprem parte substancial dos custos relacionados
com a deficiência e muito menos criam uma base sólida de empoderamento para uma maior
autonomia na provisão do seu próprio bem-estar.
De uma forma geral, na prestação dos serviços públicos, o sector público padece de uma falá-
cia típica da economia política do desempenho – que é o atendimento “a clientes fáceis”, que
são aqueles que, com menos esforço, permitem reivindicar um bom desempenho (Trosa, 2001).
Estas áreas também são importantes para os destinatários finais dos serviços públicos, mas a
sua priorização pode ser feita em detrimento de acções mais complexas, mas necessárias para
a introdução de melhorias profundas. Por exemplo, na área de Protecção Social Básica é notório
o crescimento do número de beneficiários, mas voltado a programas mais assistencialistas que
estruturantes e perenes, como o PASP, cujos resultados também são mais difíceis de atingir. Na
área da educação, nos dados acima indicados, é notório, com base nos dados disponíveis (do
passado), o melhor aproveitamento pedagógico das pessoas com deficiência visual, cuja inte-
gração ou inclusão no ensino é relativamente menos complexa que dos estudantes de deficiên-
cia auditiva. O sector também não consegue vencer um problema crónico da função pública: a
incapacidade de garantir maior sustentabilidade às capacidades criadas, a partir de uma disfun-
cional mobilidade dos funcionários públicos, que afecta negativamente o seu desempenho. Tam-
bém é recorrente o reporte da distribuição dos meios de compensação, o que é apontado por
alguns entrevistados como sendo importante, mas em alguns casos ineficaz, uma vez que alguns
desses meios dependem da criação de condições para o seu uso. Por exemplo, uma cadeira
de rodas ou uma bengala para pessoas com deficiência visual, para serem eficazes, depen-
dem da existência de infraestruturas adequadas como acessibilidade aos edifícios e transpor-
tes públicos, calçadas adequadas, semáforos sonoros, para garantirem uma mobilidade segura
Por último, um elemento a referir sobre o acesso a alguns serviços e benefícios são aqueles ob-
tidos pela via do activismo das OPDs. Nestes casos, os principais beneficiários são as pessoas
filiadas às organizações, principalmente quando se trata de meios de compensação e acesso
a oportunidades de formação e educação. O activismo desta área tem a particularidade de ser
diferente das outras que, muitas vezes, não é feito por organizações de membros, mas por enti-
dades que apenas trabalham numa certa área sem uma base social fundada nos seus membros.
Isso explica a ligação entre o activismo e o acesso aos benefícios directamente pelos membros.
No entanto, a concentração dos benefícios deste activismo nos membros das OPDs pode ex-
plicar a fraca eficácia na consolidação desses direitos, porque os mesmos podem não ter uma
ressonância maior nos não-membros e na sociedade mais ampla.
Um elemento central na forma como os serviços prestados podem contribuir para a garantia dos
direitos tem a ver com a visão e definição prevalecente sobre a deficiência em Moçambique. O
facto de esta não ser compreendida em sua complexidade e diversidade faz com que os serviços
sejam estruturados como se fossem para um grupo homogêneo. No geral, dados estatísticos 34
mostram que a deficiência física tem sido mais beneficiada no acesso aos serviços do que as de
outros tipos. Essa é também a percepção geral entre os entrevistados.
34
MGCAS, 2016b.
As PcD também são alvo de exclusão no acesso a recursos públicos devido a uma visão distor-
cida da deficiência. Segundo um representante de uma OPD, alguns dos seus membros recla-
mavam serem alvos de exclusão no acesso ao Fundo de Desenvolvimento Distrital (FDD), vulgar-
mente chamado de “Sete Milhões”, porque se alegava que as pessoas não tinham capacidade
de gestão dos recursos e apresentavam maior risco de não retorno dos valores cedidos. Esta
questão, que configura uma atitude de discriminação, deveria potencialmente ser atendida por
organizações como o IPAJ e a CNDH, mas cuja cobertura e recursos limitam o seu alcance, as-
sim como a falta de conhecimento dos direitos ou dos recursos por parte das PcD para fazerem
valer os seus direitos. Só para ilustrar, são poucas as novas construções, incluindo obras públi-
cas, que têm tomado em conta o direito de acesso às mulheres e homens com deficiência. Isso
deve-se à fraca fiscalização do cumprimento do Decreto 53/2008, em relação ao qual não existe
um relatório sobre a sua implementação e nem informação sobre o que ocorre com as pessoas
que violam este dispositivo. Isso não ocorre só nas obras, mas em um conjunto mais amplo de
serviços providenciados pelo Estado Moçambicano e que são inacessíveis física e socialmente.
Conforme visto, os serviços de educação, transporte, saúde e emprego não estão adaptados às
necessidades das pessoas com deficiência. O direito à informação também é coarctado, uma
vez que os meios de comunicação de massa não dão atenção às necessidades específicas das
pessoas com deficiência. A implementação do PNAD II ainda está aquém do planificado e pro-
blemas como a fraca coordenação e monitoria prejudicam a sua eficácia.
Deste modo, mesmo com a existência dos diversos instrumentos legais e de políticas, o empo-
deramento político e económico das mulheres e homens com deficiência ainda não se verifica
no país. As pessoas com deficiência ainda vivem de caridade, sem emprego e inibidas de par-
ticiparem activamente na vida em sociedade. No geral, a sociedade moçambicana continua a
considerar as pessoas com deficiência como inúteis e incapazes, sujeita-as à constante margi-
nalização e discriminação e não lhes dá espaço para participarem no esforço massivo de recu-
peração e desenvolvimento do país (Chivangue, Vembane, Lihahe, & Manjate, 2017).
Esta secção visa sintetizar os vários elementos que explicam a baixa eficácia na garantia dos
direitos das pessoas com deficiência e os elementos que obstaculizam o seu empoderamento.
Ao longo do texto foram sendo apontados esses elementos, cabendo aqui fazer uma síntese dos
mesmos, de forma a identificar os pontos de entrada para a acção. A análise será baseada em
elementos-chave que explicam a dinâmica da área da deficiência e os obstáculos existentes ao
empoderamento das PcD.
Nos últimos tempos, com a assinatura e ratificação da CNUDPD, assim como a adesão à Década
Africana para as Pessoas com Deficiência, o país foi desenvolvendo instrumentos legais e de
políticas que abordam a deficiência numa perspectiva social e de direitos. No entanto, como o
hiato entre as políticas e as intervenções concretas mostra, a mudança de paradigma ocorreu
mais ao nível formal, porque, na prática, ainda continuam a prevalecer as abordagens caritativa
e médica e uma visão fragmentada da deficiência. Esta abordagem influencia a forma como o
assunto é tratado dentro da estrutura do governo, com acções dispersas por várias entidades e
coordenadas por um ministério, o MGCAS, que historicamente tem tido pouco poder e influência,
para além da sua área de mandato, o que dificulta a coordenação. Dentro do sector e do Gover-
no, o nível de compromisso é essencialmente formal e de cumprimento de uma agenda nacional
que não é considerada prioritária e de mero alinhamento circunstancial com uma agenda inter-
nacional que está em destaque nos últimos tempos, algo oportuno e estratégico para um país
que, nos últimos tempos, teve a sua ajuda para o desenvolvimento via governo drasticamente
reduzida. Este fraco compromisso reflecte-se no volume limitado de recursos e mesmo no atraso
na elaboração do Relatório de Implementação da CNUDPD. A falta de um arranjo institucional
eficaz na coordenação de uma agenda transversal e de uma efectiva liderança e compromisso
têm contribuído para o limitado conhecimento da agenda da deficiência no sector público, o que
se reflecte na implementação fragmentada das acções desta área pelos seus diferentes interve-
nientes e uma falta de avaliação dos seus resultados a nível macro. Neste contexto, os incentivos
para a implementação de acções da área da deficiência que não estejam alinhadas com as
prioridades sectoriais são mínimas, o que pode contribuir para o nível baixo de implementação
das políticas nesta área. É assim que os sectores da educação, emprego e formação profissio-
nal, saúde e acção social vão implementando as suas acções, principalmente à medida que
estejam alinhadas com as prioridades do sector. Mesmo na área de acção social, por exemplo, o
desempenho dos programas de Protecção Social tem sido mais na componente assistencialista,
com efeitos a curto prazo na redução da vulnerabilidade material, mas pouco efeito no empode-
ramento das pessoas com deficiência para uma melhor garantia dos seus direitos. Na prestação
de serviços, este contexto traduz-se na persistência de uma abordagem limitada da deficiência
que leva à resposta e atendimento aos problemas mais comuns, fáceis de resolver e de reportar
A continuidade dessa situação disfuncional também é favorecida pela existência de uma socie-
dade pouco consciente e informada sobre a deficiência e organizações da sociedade civil, as
OPDs, com baixa capacidade organizacional e de articulação entre elas, resultando disso pouco
poder de influenciar a agenda pública do sector. A criação do FAMOD, em 2000, foi a solução
encontrada para o problema de articulação, mas ainda enfrenta dificuldades no desempenho
do seu papel, decorrentes também dos desafios existentes nas organizações que o compõem,
que, por sua vez, não podem ser desassociadas das condições sociais das PcD. O contexto
social, através das suas representações, obriga as PcD a tornarem-se “invisíveis” na arena pú-
blica, reduzindo, assim a sua relevância como sujeitos políticos e cidadãos a cujas demandas
os poderes públicos devem prestar atenção e dar respostas adequadas. A persistente adopção
de abordagens assistencialistas nas intervenções de apoio às PcD, a despeito da existência de
instrumentos internacionais adoptados pelo país que defendem abordagens mais voltadas aos
direitos e ao empoderamento das pessoas, é uma resposta minimalista e reducionista que, em
parte, decorre dessas visões limitadas sobre a deficiência e também dos interesses políticos
estratégicos dos actores que controlam o poder. A pouca atenção política e dos políticos a que
as PcD são remetidas também resulta das definições formais adoptadas sobre a deficiência que,
por exemplo, enformam o modo como se produz a informação oficial, como as estatísticas e o
orçamento, o que, por sua vez, limita a capacidade de definição de estratégias para uma res-
posta efectiva às demandas deste grupo. O sector, no geral, tem pouco financiamento e poucos
parceiros de desenvolvimento têm projectos direccionados à capacitação das OPDs. Dentre os
parceiros de desenvolvimento que poderiam apoiar as OPDs e também os programas direc-
cionados a este grupo, há pouco interesse pela área e o apoio circunscreve-se a intervenções
pontuais e, normalmente, acopladas a programas maiores, como Protecção Social, desminagem
ou de apoio a um grupo específico (ex. criança). Isso leva à busca por opções menos custo-
sas de implementação, na forma de projectos pontuais que normalmente são implementados
por organizações não-governamentais internacionais, por terem melhor capacidade de gestão e
implantação descentralizada. Estas organizações também servem de intermediadoras para o fi-
nanciamento das organizações nacionais, o que lhe permite condicionar ou influenciar a agenda
de acção destas. Esta dinâmica tende a reduzir as oportunidades de financiamento das OPDs
nacionais e a colocá-las a reboque das suas congéneres internacionais, o que, por sua vez,
contribui para prolongar os seus problemas de capacidade e a sua eficácia na reivindicação de
direitos. As excepções à fraqueza das OPDs são poucas, destacando-se organizações como
ADEMO e ACAMO, mais antigas e melhor estruturadas, e que, por isso, têm relativo sucesso no
acesso ao financiamento, mas mesmo assim se ressentem da falta de fundos para o sector como
um todo. A nível da sociedade, a falta de um processo de educação social mais amplo, no sen-
tido de desmistificar a deficiência, contribui para a perpetuação de práticas sociais que levam à
exclusão das PcD e à sua sistemática violação ou à denegação dos seus direitos.
As consequências destas dinâmicas são três: (i) a primeira é que dificilmente os poderes pú-
Esses elementos, que influenciam a dinâmica da área da deficiência nos moldes aqui analisados
e que afectam o seu empoderamento, são: os valores e ideologias, o quadro institucional, os
actores e seus incentivos e a dinâmica de fluxo de recursos. O legado histórico é um elemento
que aparece como transversal a todos os outros.
Quanto à cultura política, a história política do país no período posterior à independência foi
dominada pela Frelimo, enquanto partido libertador e construtor do Estado e da ideia de unida-
de nacional, e que chama a si a responsabilidade da gestão deste Estado. A ideia de unidade
nacional e da responsabilidade histórica sobre o Estado promovida pela Frelimo não se alterou
substancialmente com a democracia multipartidária, mas transformou-se na ideia de que os que
não estão alinhados com as ideias deste partido, expressas através da acção estatal e no con-
texto da arena pública formalmente plural, são inimigos da pátria (anti-patriotas), do projecto
de construção do Estado e do País, ou elementos da oposição. A não-aceitação da pluralidade
de ideias também faz com que o respeito pelos grupos minoritários, que expressam valores e
ideias próprias, seja limitado. Isso também se reflecte na forma como os grupos minoritários são
tratados, mais numa perspectiva de integração do que de aceitação da diferença. Esta cultura
política totalitária influencia a forma como o activismo cívico é visto, essencialmente como oposi-
ção política, e reflecte-se na conotação das PcD e OPDs que reivindicam os seus direitos como
sendo da oposição, o que contribui para retrair a sua participação política no âmbito público.
Desta forma, o poder de influência mudou da esfera cívica para a esfera das relações mais res-
tritas, em que posicionamentos públicos são mais comedidos e complementados com canais
paralelos de comunicação entre representantes de OPDs e o Governo, enfraquecendo, desta
forma, o activismo e a representação das PcD na esfera pública, como cidadãos com direito de
No que concerne aos valores sociais, a deficiência ainda é vista, em muitas famílias, como re-
sultado de espíritos, de feitiço ou maldição. Isso contribui para a forma negativa com que as fa-
mílias tratam os seus entes com deficiência. É comum em famílias de diferentes estratos sociais,
incluindo da classe/média urbana, que têm pessoas com deficiência esconderem-nas das vistas
e do convívio da sociedade. Muitos são os exemplos de famílias que acorrentam os seus entes
com deficiência mental. Em alguns casos, esse tratamento configura-se mesmo em violência
física e psicológica contra a pessoa com deficiência. Em outros casos, tratamentos deste tipo
devem-se ao desconhecimento da necessidade da pessoa com deficiência ser vista como sujei-
to dos direitos. Meneses (2014) aponta a existência de crenças populares, que tendem a olhar
para a deficiência como maldição, destino e má sorte ou azar, que influenciam as representa-
ções e discursos colectivos, que apontam inúmeras lendas e crenças populares que explicam
a deficiência numa pessoa ou família, dentre as quais: (i) uma intervenção divina para punir os
vícios ou hábitos imorais dos pais; (ii) um diferendo entre inimigos vingados com recurso à ma-
gia negra; e (iii) uma maldição de origem mística (Meneses, 2014). Essas ideias são difundidas
dentro das famílias, pelos curandeiros, líderes tradicionais e religiosos e contribuem para que as
pessoas com deficiência se retraiam ou sejam suprimidas da vida social, artificialmente diminuin-
do, desta forma, a sua importância social através da sua “invisibilidade”.
Existe um conjunto de actores e processos que são fundamentais à tomada de decisões no sec-
tor e às potencialidades de reforma, nomeadamente, os poderes do executivo na definição de
políticas públicas e a sua primazia no processo orçamental; a dinâmica subjacente à mobilização
de recursos pelas OPDs; o formato de representação das OPDs às pessoas com deficiência; e
os modelos de financiamento dos parceiros internacionais.
O Executivo também tem poderes orçamentais que podem contribuir para o condicionamento
de outras instituições do Estado. Por exemplo, a definição do orçamento de entidades como a
CNDH depende do executivo. Esse poder de influência do executivo pode ser um factor limitante
na actuação de entidades como esta, cuja função muitas vezes envolve criticar o governo, o que
pode ter implicações no volume do orçamento, como forma de limitar a sua acção. A alternativa
a isso tem sido apontada como a aprovação do orçamento de entidades deste tipo feita directa-
mente pelo Parlamento, mediante proposta da entidade beneficiária.
Deste modo, o poder de influência sobre as políticas públicas e a sua implementação depende
do quadro político mais amplo que, historicamente, tem maior predominância do executivo no
processo decisório, e também da bipolarização política entre os da situação e da oposição.
Esse ambiente condiciona a aceitação das propostas que criticam o status quo, assim como
dos posicionamentos dos grupos de defesas das PcD, quando estes tomam uma postura mais
A capacidade das OPDs nacionais de influenciarem as decisões depende da sua natureza como
grupo de interesse. Muitas organizações nesta área são baseadas em membros. As OSCs, que
se têm revelado mais eficazes sob o ponto de vista de advocacia, além das capacidades para
competirem pelo financiamento e poderem levar a cabo a sua agenda, têm sido essencialmente
organizações que combinam uma componente forte de produção de evidências e advocacia.
Um dos poucos casos de sucesso de uma organização de membros é a União Nacional dos
Camponeses – UNAC, mas que também faz parte de redes internacionais de advocacia e, de
certa forma, foi alimentada pela existência de pesquisa nessa área sobre questões de terra e
agricultura, mesmo que não fosse direcionada para as suas acções, o que aumentou substan-
cialmente a sua eficácia neste domínio. As OPDs têm sido essencialmente voltadas para os seus
membros e com poucas alianças estratégicas com outras organizações que promovem agendas
mais amplas, como, por exemplo, finanças públicas/FMO, Protecção Social. Mesmo fazendo par-
te destes fóruns, não têm promovido a agenda da deficiência, de tal forma que, nos documentos
de posicionamento e advocacia nestes fóruns, pouco existe sobre esta área.
O modelo de financiamento adoptado pelos parceiros de cooperação até aqui não tem tido
muito impacto no fortalecimento dos actores locais e, em alguns casos, contribui para reproduzir
dinâmicas com baixo impacto, ou que enfraquecem ou deixam de fortalecer as OPDs, conforme
já explicado. O grau de autonomia do Governo no financiamento dos seus programas de Pro-
tecção Social faz com que o grau de influência dos parceiros nesta área mais emblemática de
apoio às pessoas com deficiência seja relativamente menor, comparativamente a outras áreas.
No entanto, a avaliação positiva que os parceiros fazem dos Programas de Protecçao Social,
essencialmente assistencialistas, pode contribuir para consolidar essas abordagens, que têm
pouco impacto na estrutura da situação das PcD. Alguns parceiros com histórico de actuação
na área, com destaque para a Itália, o Reino Unido e os Estados Unidos estão neste momento
a liderar uma reflexão sobre o apoio a esta área. Até aqui, segundo informações apuradas pela
equipa do estudo, as abordagens de financiamento que estão a ser consideradas são mais no
sentido de inserção da questão da deficiência em outros programas, do que um programa sepa-
rado. O posicionamento dos parceiros de desenvolvimento sobre que áreas e que modalidades
Os actores que exercem um poder informal no sector são os líderes religiosos, os líderes e médi-
cos tradicionais, cujas ideias sobre a deficiência influenciam a forma como a sociedade encara
esta questão. Por exemplo, a crença de que as pessoas com deficiência devem ser ajudadas ao
invés de serem criadas as condições para que elas possam ser sujeitos na promoção do desen-
volvimento, a ideia de que elas “devem ser curadas” porque têm uma doença, são tão enraiza-
das na sociedade que fazem parte do corpo de valores mesmos dos decisores públicos na forma
como abordam este assunto. Um líder de uma OPD referiu que foi alertado, por uma pessoa de
uma entidade pública com quem interage, de que após os encontros com a entidade em que se
discutia de forma aparentemente aberta as questões dos direitos das PcD com o líder da mesma,
este, no seu dia-a-dia, referia-se aos assuntos da deficiência de forma jocosa e céptica e pouco
empenho mostrava em relação às acções acordadas.
As referências positivas, os role models, também constituem um tipo de autoridade informal vá-
lido na área, num contexto em que boas referências faltam para inspirar o movimento de defesa
das pessoas com deficiência. Assim, pessoas com deficiência que se destacam na sociedade,
como a atleta paraolímpica Edmilsa Governo 35, a fundadora da ADEMO e activista histórica pe-
las pessoas com deficiência Fárida Gulamo, o deputado, académico e cantor Esaú Meneses e
outras pessoas com sucesso profissional e proeminência pública, são tidas como inspiradoras
de pessoas com deficiência, embora também se considere que o poder destas pessoas poderia
ser mais bem explorado para promover os direitos das pessoas com deficiência e para demons-
trar o potencial da sua contribuição para o desenvolvimento.
5.2.4. INSTITUIÇÕES
As relações de poder dentro da estrutura orgânica das instituições estatais é um elemento que
influencia a eficácia das entidades envolvidas na promoção da agenda da deficiência.
Há uma certa economia política da organização institucional que favorece uma maior eficácia na
condução de programas de deficiência que, de certo modo, está a ser seguida no sector público.
Por exemplo, o Departamento de Educação Especial do MINEDH não está subordinado a nenhu-
ma direção, mas sim ao Ministro. O antigo INEFP, e actual IFPELAC, passou de uma instituição
subordinada para uma instituição tutelada pelo Ministro, que pode delegar ao Secretário Perma-
nente. Esta autonomia foi importante na sua flexibilidade para acolher o programa de cooperação
com a Itália, que já foi referido, parceria que não encontrou acolhimento adequado em outras
35
Para detalhes sobre quem é Edmilsa Governo, pode consultar:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Edmilsa_Governo. .
Um ponto que decorre do baixo desempenho das entidades públicas e merece atenção é a
reivindicação das PcD de estarem representadas naquelas que lidam com os assuntos que lhes
interessam, supostamente porque isso aumentaria a eficácia dessas organizações. A represen-
tação nas entidades responsáveis por dar resposta às demandas das PcD, embora consistente
sob o ponto de vista dos princípios, não pode ser vista de forma linear, uma vez que ela só pode
ser activa se estiver aliada a interesses de actores poderosos na definição e implementação de
políticas públicas, dentre os quais o executivo e o partido no poder. Não se descarta naturalmen-
te o poder que a capacidade de reivindicação do activismo na área pode ter, mas que depende,
em grande parte, da melhoria na capacidade das OPDs de articularem uma acção colectiva
mais ampla, de mudarem as formas de actuação de uma arena restrita de relações entre as
organizações e o Executivo e de transformarem a agenda da deficiência em algo mais amplo
(seja dentro das plataformas sociais em que participa, assim como de uma forma mais ampla na
sociedade como um todo). A transformação de uma questão que até aqui se coloca como uma
agenda de um grupo depende também da transformação dos valores sociais que influenciam a
exclusão das pessoas com deficiência. É neste contexto que os actores e poderes informais, que
influenciam a forma como a sociedade vê a deficiência, são importantes.
As conclusões acima expostas sugerem que tem havido pouco empenho e até compromisso
dos actores na implementação de acções na área de deficiência, pelas razões já abordadas
neste estudo.
36
MGCAS, 2016b.
A estrutura de incentivos que contribuiu para o status quo foi descrita e analisada neste relatório.
Um dos aspectos peculiares deste sector é que o Governo reconhece que a implementação das
acções previstas no PNAD está aquém do projectado e reconhece a existência de problemas
dentro do sector público, como o fraco conhecimento, a coordenação, recursos reduzidos e
falta de informação. São raras as situações em que o Governo e a sociedade civil confluem no
diagnóstico das dificuldades de um sector. O facto de isso acontecer nesta área deve ser con-
siderado como um incentivo importante para a mudança e também para um trabalho conjunto e
articulado entre os diferentes actores, dentro e fora do Estado.
Porém, a dinâmica do sector mostra que firmar compromissos e elaborar planos não basta para
No que tange ao estágio de decisão, tanto o Governo como a sociedade civil, assim como os
parceiros de desenvolvimento têm interesse em que esta agenda seja aprovada e que Moçam-
bique esteja alinhado com uma agenda internacional, porque isso abre espaço para a sua inclu-
são em redes e mecanismos de cooperação e financiamento que respondem aos interesses de
cada tipo de actor. O Governo abre novas possibilidades de financiamento dos seus programas
sociais duramente afectados com a crise da dívida e a decorrente crise fiscal. Os parceiros de
cooperação encontram espaço para financiar um país que passou de exemplo de sucesso da
ajuda ao desenvolvimento num embaraço difícil de explicar nos seus países e seus eleitorados,
alguns deles contrários à ajuda ao desenvolvimento. Deste modo, a presente agenda permite
justificar a continuidade do apoio em nome de uma agenda global prioritária e com contornos
humanistas, uma vez que implica empoderar grupos que têm sido historicamente marginaliza-
dos e que não devem ser negligenciados por conta dos erros do seu governo. Esta tem sido
uma das justificações para a continuação do apoio dos parceiros a Moçambique, usando outras
modalidades que não os sistemas do governo, após a crise das dívidas ocultas. Depois de ter
sido abandonado o apoio directo ao orçamento, os recursos continuaram a fluir, mas pela via de
projectos e com a prioridade de áreas sociais e humanitárias, para não punir as pessoas mais
pobres e vulneráveis. Esta agenda é consistente com a justificação predominante de continui-
dade do apoio a Moçambique e, por isso, fornece incentivos para os parceiros de cooperação
financiarem a área da deficiência. Para a sociedade civil, a motivação é evidente, uma vez que
os compromissos espelham as reivindicações do seu activismo.
Outras instituições dentro do poder executivo importantes para a implementação desta agenda
são o INE, o MINEDH, particularmente o Departamento de Educação Especial e o IFPELAC.
Conforme se referiu anteriormente, O INE é uma entidade com credibilidade técnica reconhe-
cida internacionalmente, resultado da sua crescente capacitação ao longo da sua história e do
seu relativo sucesso em se consagrar como uma entidade tecnicamente sólida e independente.
Além das suas responsabilidades na realização do Censo Populacional e de gestão do sistema
estatístico nacional, o INE tem sido responsável pela realização dos instrumentos de medição do
Impacto da Pobreza – o Inquérito do Orçamento Familiar (IOF) – que é o principal instrumento
usado para aferir a eficácia das políticas de combate à pobreza. A experiência de realização do
IOF implicou, às vezes, relações tensas com o Governo na aceitação dos resultados do mesmo,
uma vez que historicamente a redução da pobreza, desde que vem sendo contabilizada por
via de pesquisas aos agregados familiares no final dos anos 1990, foi abaixo do esperado na
retórica governamental. No entanto, a persistência da busca de autonomia técnica por parte do
INE, combinada também com a pressão de parceiros para que os dados sobre a pobreza sejam
fiáveis, fez com que a pressão política sobre o Instituto abrandasse e os resultados dos seus
estudos, mesmo quando envolvessem uma certa polémica, fossem aceites. A experiência com
o IOF é parte de como o INE historicamente construiu a sua credibilidade como uma entidade
gestora do sistema estatístico nacional. A isso alia-se o facto de ter uma liderança mais aberta
ao diálogo com a sociedade civil e outros parceiros. Foi instrumental para a sua abertura o incluir
OPDs na preparação dos próximos censos e o capacitar os seus quadros em metodologias,
visando a recolha de dados da área de deficiência. Deste modo, o INE está entre as instituições
Relativamente ao MINEDH e ao IFPELAC, a agenda da deficiência está colocada num nível alto
do sector. No caso do MINEDH, a Estratégia de Educação Inclusiva e Desenvolvimento da Crian-
ça com Deficiência aumenta os incentivos para a sua implementação. Quanto ao IFPELAC, a sua
autonomia e o compromisso da liderança com a área permitiram-lhe avançar na introdução da
formação inclusiva antes desta onda de interesse que actualmente se verifica. O projecto com
a cooperação italiana vem consolidar a área da deficiência no sector. No entanto, é importante
repisar que nos dois sectores haverá o desafio de criação e retenção de capacidades, num
contexto em que a mobilidade dos funcionários públicos, dentre outros elementos, nem sempre
segue a lógica da eficiência. Deste modo, será importante encontrar mecanismos de criação e
consolidação da capacidade para o atendimento das necessidades do sector na implementação
das acções da agenda da deficiência.
Fora do Governo, mas ainda dentro do Estado, há que destacar dois actores estatais: a Assem-
bleia da República (AR) e a CNDH.
Na AR, o assunto da deficiência tornou-se proeminente devido a Younusse Amad, segundo vi-
ce-presidente pela parte da Renamo, que, por ser uma pessoa com deficiência, obrigou à intro-
dução de melhorias de acessibilidade no edifício deste órgão de soberania. A existência desta
figura proeminente na AR, que se autodefine como activista nesta área, contribuiu para que esta
instituição prestasse mais atenção a esta área. Numa fase inicial, isso implicou a adaptação física
das instalações da Assembleia que, ironicamente, apesar de por inerência de funções - ser o
órgão responsável pela ratificação das Convenções internacionais e, por conseguinte, ter ratifi-
cado a CNUDPD em 2010, e de ser a chamada “Casa do Povo”-, não prestava atenção sequer
a questões de acessibilidade física. Num segundo momento, o deputado Younusse foi instru-
mental na retirada da proposta de lei sobre a Promoção e Protecção dos Direitos da Pessoa com
Deficiência, que estava em vias de ser aprovada sem consulta à sociedade civil. Estas acções
talvez tenham criado uma maior consciência sobre o assunto na Assembleia, que poderá ser
importante para a projectada aprovação da legislação que já está a ser revista com a participa-
ção da sociedade civil. Mesmo assim, não está garantido que a AR se torne num campeão da
defesa dos direitos das PcD caso o deputado Younusse não seja reeleito nas próximas eleições
gerais de 2019. Mais ainda: a sua influência nesta área não deve ser tirada do contexto da pola-
rização política entre e a Renamo e a Frelimo e a deficiente cultura democrática do país. Assim,
em certos círculos, o activismo de defesa dos direitos das PcD, devido à actuação do deputado
Younusse, é conotado como “coisas da Renamo” ou “coisas da oposição”, o que contribui para
retrair a receptividade desta agenda no Estado, principalmente naquelas instituições dirigidas
por pessoas mais alinhadas com o partido no poder.
Quanto à CNDH, conforme se mencionou, desde o início do seu funcionamento priorizou a agen-
da da deficiência, que faz parte do seu plano estratégico em elaboração, que inclui a mudança
37
A equipa não teve acesso ao documento em si, que ainda está em elaboração. Esta informação foi dada na entrevista com o Presidente da CNDH.
- Capacitação das OPDs e organizações que defendem as PcD para uma acção e activismo
mais efectivos na defesa dos direitos. Esta acção depende ou está relacionada com potenciais
intervenções para maior eficácia, nomeadamente:
• Identificação das OPDs que actuam nos diferentes tipos de deficiência e suas capacida-
des, como base para a definição de acções visando a sua capacitação;
• Apoio à inserção da questão da deficiência nos currículos de todos os níveis de ensino e
sobre direitos das PcD nos cursos de Direito;
• Apoio ao activismo na mudança da cultura social e jurídica relacionada com a deficiência;
• Melhoria na produção estatística sobre a deficiência;
• Melhoria na produção de informação desagregada, tendo em conta a deficiência em
áreas-chave como orçamento público, acesso à justiça e prestação de serviços;
• Apoio na fiscalização das instituições públicas e privadas no cumprimento da legislação
que garante os direitos das pessoas com deficiência – apoio à AR, ao Provedor da Justiça
e à Inspecção Administrativa do Estado na fiscalização da Administração Pública;
• Apoio às instituições de Justiça e de defesa dos direitos das PcD – CNDH, OAM, IPAJ.
Questão: Diferentes instituições que criam um hiato entre a aprovação e implementação de po-
líticas, devido aos diferentes incentivos que existem nesses dois estágios. Dentre os problemas
de implementação que disso decorrem estão o fraco poder devido à posição funcional dentro
do quadro orgânico das instituições (a área de deficiência do MGCAS, dificuldade na criação e
retenção de capacidade (Educação Inclusiva), coordenação e a responsabilização dos actores
na implementação de políticas (MGCAS e agora CNAS). A fraca capacidade também é enten-
dida como resultado da falta de representação do interesse dos beneficiários nas instituições
de implementação das políticas (em todos os sectores).
• Capacitação do CNAS e da Comissão dos Direitos das Pessoas com Deficiência para
maior efectividade na coordenação de políticas. Isso passa também por uma adequada
representação das perpectivas das PcDs nas instâncias de decisão, implementação e res-
ponsabilização de políticas, de forma a garantir maior coerência entre ambos os estágios.
A representação não significa necessariamente pessoas com deficiência, mas pessoas
qualificadas tecnicamente e cuja função está alinhada com as decisões dos corpos deci-
sórios e de monitoria onde existe representação das PcD.
• Posição da área da deficiência do MGCAS no estatuto orgânico do MGCAS para maior
apoio técnico na coordenação e articulação com os sectores. Por exemplo, na forma de
um Departamento autónomo directamente subordinado a(o) Ministra(o), ou uma Direcção
Nacional, ou a indicação de um director nacional adjunto (na actual direcção nacional onde
se enquadra) que olhe pela área.
• Institucionalização das profissões que lidam com as políticas da deficiência no sistema
de carreiras e remuneração da função pública/ sector público em sectores-chave para a
implementação de políticas, para limitar os efeitos negativos da mobilidade.
Questão: Actores enfrentam diferentes incentivos que podem favorecer ou bloquear as mudan-
ças positivas na área.
Ponto de Entrada: Fazer alianças estratégicas e potenciar actores com alto incentivo para pro-
mover a agenda da deficiência.
6.4. RECURSOS
Questão: O financiamento segue padrões que limitam o acesso das OPDs nacionais a recursos,
privilegiando organizações internacionais e mecanismos amplos, como a protecção social, com
efeito limitado no empoderamento das PcD e, potencialmente, contribuem para criar subordina-
ção e tensões entre os diferentes actores. Também não existe um conhecimento adequado do
volume de recursos alocado às áreas de deficiência no sector público. Quando existe, tende
a olhar para a componente caritativa/assistencialista, que tem marcado as políticas estatais do
sector, que é excludente e potencialmente conflituosa.
Ponto de entrada 2: Potenciar os actuais processos do orçamento de forma a serem mais sen-
síveis às questões da deficiência.
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Data Marco/Evento
1975 A área da deficiência está integrada na Área de Acção Social no Ministério da Saúde
1976 É criado o Centro de Reabilitação Física de Nangade (Cabo Delgado), para apoiar as
pessoas com deficiência da guerra de libertação nacional, na reabilitação e capacita-
ção para a sua reinserção social
1989 É criada a Associação dos Deficientes de Moçambique (ADEMO)
1990 É aprovada a Constituição da República de Moçambique que integra direitos fundamen-
tais e cívicos, reservando uma consideração especial para as pessoas com deficiência
1991 É aprovada a Lei das Associações (Lei 8/91, de 19 de Julho)
1992 É aprovada a Lei do Sistema Nacional de Educação (Lei n.º 6/92, de 6 de Maio), que
enuncia o direito das crianças com deficiência à educação e prevê turmas especiais
nas escolas regulares
1994 São realizadas as primeiras eleições multipartidárias do país
1995 É criado o Ministério da Mulher e Acção Social
1998 É introduzida, de forma piloto, a Educação Inclusiva
1998 É aprovada a Política da Acção Social (Resolução 12/98 de Abril)
1998 Começa o trabalho visando a constituição do que viria a ser o FAMOD, envolvendo
as seguintes organizações: ADEMO, ADESU, AMOFAS, ADEMIMO, ACAMO.
1999 Conselho de Ministros de Moçambique aprovou a Política da Pessoa Portadora de
Deficiência e da sua implementação (Resolução 20/99)
1999 União Africana adoptou, na 35ª Sessão da Assembleia dos Chefes de Estado e de
Governo, a Década Africana dedicada às Pessoas com Deficiência (1999–2009) –
Moçambique é Estado-Parte desta deliberação
2000 É realizada a Assembleia Constituinte do Fórum das Associações Moçambicanas dos
Deficientes (FAMOD)
2004 É aprovada a terceira Constituição da República de Moçambique na qual os direitos
das pessoas com deficiência são reafirmados
2004 É aprovado o plano de assistência às vítimas de minas pelo Governo de Moçambique
2005/6 Elaborado e aprovado o primeiro Plano Nacional para a Área da Deficiência (PNAD
2006-2010)
2007 É adoptada a Lei de Protecção Social (Lei n.º 4/2007 de Fevereiro)
Filiação no
Designação Objecto FAMOD38 Legalização39
38
Não filiada – organizações que não estão nem formal nem informalmente filiadas ao FAMOD; Por formalizar – organizações que aguar-
dam apenas a Assembleia Geral para formalizar a sua filiação; Filiada – organizações com filiação formalizada.
39
Não iniciada – organização que ainda não deu entrada ao processo de legalização; Não concluída – organizações que estão no processo
de legalização; Concluída – organizações cujos estatutos já foram publicados no BR e têm registo definitivo.
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE
Para além disso, o País aprovou e implementa um conjunto de dispositivos legais que promo-
vem e defendem os direitos das pessoas com deficiência, nomeadamente políticas, estraté-
gias, planos e programas.
Os onze compromissos que abaixo são apresentados, serão operacionalizados num Programa
de Acção, onde se delineiam medidas destinadas a promover a integração social em áreas que
envolvem actuação do Governos, em prol da não-discriminação, da igualdade e da justiça social.
A.1. Até 2020, O Estado Moçambicano deve assegurar a aprovação e plena disseminação da
Lei de Promoção e Protecção dos Direitos das Pessoas com Deficiência, e sua regulamenta-
ção, incluindo a definição do mecanismo de assistência legal e jurídica gratuita;
Impacto antecipado:
a. Pessoas com deficiência gozando plenamente dos seus direitos e com acesso
facilitado aos serviços de protecção
Actividades:
A.2. A partir de 2020, os Planos Económicos e Sociais devem garantir a mobilização e alo-
cação sectorial de recursos financeiros na ordem de, pelo menos, 5% para responder às ne-
cessidades específicas das pessoas com deficiência em cada um dos sectores dos serviços
públicos como educação, saúde, transporte, acção social e tecnologias.
Impacto antecipado:
Actividades:
B. EDUCAÇÃO E INCLUSÃO
Impacto antecipado:
• Por uma verdadeira escola inclusiva, onde crianças e jovens com deficiência têm apoio
humano e material de que necessitam e têm prioridade no ingresso à escola.
Actividades:
C. EMPODERAMENTO ECONÓMICO
Impacto antecipado:
Impacto antecipado:
Actividades:
C.3. Até 2020, o Governo garante a revisão de políticas e estratégias (definir uma quota e
mecanismos de monitoria) para o acesso ao emprego pelas pessoas com deficiência.
Impacto antecipado:
C.4. Até finais de 2019, definir manuais operacionais para implementação dos Programas de
Segurança Social Básica à luz da Estratégia Nacional de Segurança Social Básica 2016-2024
e melhorar os sistemas e mecanismos de acesso aos programas para assegurar a transpa-
rência e o nível do conhecimento dos beneficiários.
Impacto antecipado:
Actividades:
D. TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
D.1 Até 2020, deve ser melhorado o quadro legislativo sobre as tecnologias inclusivas através
das seguintes medidas:
Impacto antecipado:
Actividade:
Impacto antecipado:
Actividade:
E. DESAGREGAÇÃO DE DADOS
Actividades:
Impacto antecipado:
Condição de saúde
(distúrbio ou doença)
Funções e
estruturas corporais Actividades Participação
Factores Factores
ambientais pessoais
A CIF contém unia classificação de fatores ambientais que descreve o mundo no qual pes-
soas com diferentes níveis de funcionalidade devem viver e agir. Esses fatores podem ser
facilitadores ou grandes barreiras. Os fatores ambientais incluem: produtos e tecnologias, o
ambiente natural e o construído, suporte e relacionamentos, atitudes, e serviços, sistemas, e
políticas públicas.
A CIF também reconhece fatores pessoais, tais como motivação e auto-estima, que podem
influenciar o quanto uma pessoa participa da vida em sociedade. Porém, esses fatores ainda
não foram conceitualizados ou classificados. Ela também distingue entre as capacidades de
uma pessoa de desempenhar ações e o desempenho efetivo daquelas ações na vida real,
uma diferença sutil que ajuda a esclarecer o efeito do meio ambiente e como o desempenho
poderia ser melhorado coma modificação do ambiente.
A CIF é universal porque cobre toda a funcionalidade humana e trata a deficiência como um
contínuo. ao invés de categorizar as pessoas com deficiência como um grupo separado: a
deficiência é uma questão de mais ou menos, e não de sim ou não. Porém, a elaboração de
políticas públicas e a entrega de serviços pode requerer que sejam estabelecidos limites
para a gravidade da incapacidade, limitações para realizar ou restrição à participação em
certas atividades.
Ela é útil para uma ampla variedade de finalidades - pesquisa, fiscalização e informação -
relacionadas à descrição e mensuração da saúde e da deficiência, incluindo avaliar a funcio-
nalidade individual, estabelecimento. de metas, tratamento, e monitoração; mensuração dos
resultados finais e avaliação de serviços; determinar a elegibilidade para receber benefícios
da previdência social; e desenvolver pesquisas sobre saúde e deficiência.
As próximas questões interrogam-se sobre as dificuldades que você pode ter ao desempenhar
certas actividades, por causa de um PROBLEMA DE SAÚDE.
1. Tem dificuldade em ver, mesmo com óculos?
a. Não – nenhuma dificuldade
b. Sim – alguma dificuldade
c. Sim – muita dificuldade
d. Não consigo de nenhuma forma
2. Tem dificuldade em ouvir, mesmo usando um auxiliar auditivo?
a. Não – nenhuma dificuldade
b. Sim – alguma dificuldade
c. Sim – muita dificuldade
d. Não consigo de nenhuma forma
3. Tem dificuldade em andar ou subir escadas?
a. Não – nenhuma dificuldade
b. Sim – alguma dificuldade
c. Sim – muita dificuldade
d. Não consigo de nenhuma forma
4. Tem dificuldade em lembrar coisas ou em se concentrar?
a. Não – nenhuma dificuldade
b. Sim – alguma dificuldade
c. Sim – muita dificuldade
d. Não consigo de nenhuma forma
5. Tem dificuldade (com os seus próprios cuidados como) em se lavar todo ou se vestir?
a. Não – nenhuma dificuldade
b. Sim – alguma dificuldade
c. Sim – muita dificuldade
d. Não consigo de nenhuma forma
6. Usando a sua língua habitual, tem dificuldade em se comunicar, por exemplo, em compreender
e ser compreendido(a)?
a. Não – nenhuma dificuldade
b. Sim – alguma dificuldade
c. Sim – muita dificuldade
d. Não consigo de nenhuma forma
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Traducão do texto original em inglês retirado de: http://www.washingtongroup-disability.com/wp-content/uploads/2016/01/The-Washington-Group-
-Short-Set-of-Questions-on-Disability.pdf (acedido no dia 22 de Julho de 2018).
Entidades Públicas
Entidades Públicas
Vaz de Sousa Director Executivo Associação Aero Clube para inclu- 01/08/2018
são de PcD (AAIPD)
Victor Daniel Bila Director de Programas de Protecção Social, Rede para 01/08/2018
Assistência a Vítimas de Minas (RAVIM)
Parceiros de Cooperação
Artur Chirindja Analista Financeiro, Agência dos Estados Unidos para o 10/07/2018
Desenvolvimento (USAID) em Moçambique.
Sector Privado