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Diretrizes para

implementação

PROgRAMa sAúdE Do

ADOLESCENTE
RURAL
SERVIÇO NACIONAL DE
APRENDIZAGEM RURAL (SENAR)
PRESIDENTE DO CONSELHO DELIBERATIVO
João Martins da Silva Junior

ENTIDADES INTEGRANTES
DO CONSELHO DELIBERATIVO
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA
Confederação dos Trabalhadores na Agricultura – Contag
Ministério do Trabalho e Emprego – MTE
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa
Ministério da Educação – MEC
Organização das Cooperativas Brasileiras – OCB
Agroindústrias / indicação da Confederação Nacional da Indústria – CNI

DIRETOR-GERAL
Daniel Klüppel Carrara

DIRETORA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL


E PROMOÇÃO SOCIAL
Janete Lacerda de Almeida

COORDENADORA DA ÁREA DE FORMAÇÃO INICIAL


E CONTINUADA E PROMOÇÃO SOCIAL
Deimiluce Lopes Fontes Coaracy

ASSESSORA TÉCNICA
Magali Eleutério da Silva

CONSULTORIA TÉCNICA
Juny Kraiczyk
Maria Adrião

DIAGRAMAÇÃO
Manuela Ribeiro

ILUSTRAÇÃO DE CAPA
pikisuperstar / Freepik

2 Diretrizes para implementação


Diretrizes para
implementação

PROgRAMa sAúdE Do

ADOLESCENTE
RURAL
SUMÁRIO
5
APRESENTAÇÃO
7
HISTÓRICO
11
JUSTIFICATIVA
13
PANORAMA DA SAÚDE DO ADOLESCENTE RURAL
18
MARCOS REFERENCIAIS E LEGAIS
27
O QUE É O PROGRAMA SAÚDE DO ADOLESCENTE RURAL
31
ONDE ACONTECERÁ O PROGRAMA?
32
FINALIDADES DO PROGRAMA
33
COMPROMISSOS NECESSÁRIOS PARA A REALIZAÇÃO DO PROGRAMA
35
TEMAS ABORDADOS
37
PASSO A PASSO PARA A IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA
40
MONITORAMENTO
41
KIT DE FERRAMENTAS DO PROGRAMA
43
ANEXOS

AC RÔ NI MO S
nci a Ad qu irid a
Aid s Sín dro me da Im un od efi ciê
o Psi cos soc ial
Ca ps Ce ntr o de Ate nçã
ist ên cia Soc ial
Cra s Ce ntr o de Ref erê nci a da Ass Soc ial
a Esp eci al da Ass ist ên cia
Cre as Ce ntr o de Ref erê nci
a Hu ma na
HIV Vír us da Im un od efi ciê nci
nsm iss íve l
IST Inf ecç ão Sex ua lm en te Tra
APRESENTAÇÃO
O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) apresenta às
instituições que atuam com adolescentes das áreas rurais as dire-
trizes norteadoras do Programa Saúde do Adolescente Rural. Esse
programa foi idealizado pelo Senar Central em articulação com 11
Departamentos Regionais com base na escuta de centenas de ado-
lescentes, educadores e profissionais que atuam com adolescentes e
jovens nas áreas rurais em 11 estados brasileiros.

O Senar atua em parceria com governos municipais, estaduais e fede-


ral, além de entidades da sociedade civil. Produto da preocupação do
Senar em ampliar o conhecimento de homens, mulheres, adolescentes
e jovens, o Programa Saúde Preventiva no Campo conta agora com o
Programa Saúde do Adolescente Rural. Este último é voltado para ado-
lescentes e jovens, com ampla participação dos sujeitos desse proces-
so: os próprios adolescentes, os educadores e as famílias/responsáveis.

Em sintonia com as necessidades desses adolescentes e jovens, o


Senar promove na vertente Promoção Social atividades relacionadas
à saúde, com enfoque educativo preventivo. Nesse sentido, este do-
cumento visa nortear a implantação e a implementação do Programa
Saúde do Adolescente Rural, tendo como objetivo central a promoção
da saúde do adolescente, com ênfase na saúde mental, na saúde sexual
e saúde reprodutiva, no uso abusivo de drogas, no bullying e demais vio-
lências por meio do desenvolvimento de ações educativas e formativas
junto aos adolescentes, aos educadores e às famílias/responsáveis.

Alinhado aos desafios e às oportunidades vivenciadas pelos adoles-


centes rurais do século XXI, este programa irá oferecer-lhes conheci-
mentos que estimulem a conscientização da responsabilidade com a
saúde física e mental, que valorizem e promovam a autoestima e as
práticas de prevenção contra o bullying e outras formas de violência.
Com isso, pretende-se ampliar a capacidade dos adolescentes para
escolhas saudáveis e contribuir para seu desenvolvimento de forma
integral. O alcance de tal objetivo requer que tais escolhas sejam ba-
seadas no desenvolvimento de projetos de vida, bem como em habili-
dades socioemocionais, tais como empatia, autoestima, autonomia e

Programa Saúde do Adolescente Rural 5


responsabilidade. Essas habilidades são fundamentais para a imple-
mentação deste programa.

Para subsidiar a implementação do Programa Saúde do Adolescente


Rural foi desenvolvido o Kit Saúde do Adolescente Rural, composto
por um conjunto de materiais pedagógicos, tais como guias, vídeos
e cartazes, voltados aos educadores/instrutores e aos adolescentes
participantes, cujo objetivo é dar suporte ao trabalho educativo dos
educadores/instrutores e ampliar os conhecimentos dos jovens.

O êxito das ações propostas pelo Programa Saúde do Adolescente


Rural depende do compromisso de cada um de nós e da participação
ativa de adolescentes, jovens, educadores, famílias/responsáveis e
demais parceiros, pois investir na geração atual é investir na trans-
formação positiva e no desenvolvimento de comunidades rurais, de
cidades e do país.

6 Diretrizes para implementação


1. HISTÓRICO
Nos últimos anos, a área de Promoção Social do Senar vem investindo
em iniciativas exitosas relacionadas à saúde, com enfoque educativo
preventivo, tais como os Programas Saúde do Homem e Saúde da
Mulher. Considerando as especificidades socioculturais, territoriais
e institucionais, além da preocupação com a situação da saúde do
adolescente que vive na área rural, o Senar decidiu desenvolver um
programa de promoção da saúde direcionado a essa população.

Para tanto, realizou no ano de 2019 um Diagnóstico Participativo com


o propósito de escutar dos próprios adolescentes que vivem no meio
rural suas percepções, vivências, conhecimentos e dúvidas sobre te-
mas relacionados à saúde mental (bullying, automutilação, depressão
e suicídio); à saúde sexual e à saúde reprodutiva; às violências (maus-
-tratos, negligência e abuso, exploração e violência sexual); ao uso de
álcool e outras drogas; bem como sua relação com os equipamentos
públicos e a internet. A fim de ampliar o olhar sobre a problemática,
profissionais e instrutores das Regionais do Senar que trabalham com
adolescentes também foram escutados.

A metodologia do Diagnóstico Participativo busca extrair o ponto de


vista dos grupos que se almeja investigar. Para coletar as informações
foram realizadas rodas de conversa com os adolescentes e os profis-
sionais. Para dinamizar essas rodas com os adolescentes foram utiliza-
dos jogos participativos com o intuito de extrair destes os conhecimen-
tos, as percepções e as vivências a respeito dos temas relacionados
à sua saúde. Desse modo, os adolescentes participaram ativamente
e espontaneamente revelaram seus saberes, práticas, crenças, experi-
mentações, assim como sua relação com os serviços públicos.

O desenvolvimento do trabalho aconteceu em dois momentos que


percorreram os meses de abril a novembro de 2019.

Programa Saúde do Adolescente Rural 7


1.1 Linha do tempo

1.1.1 Primeiro momento (abril e maio de 2019)

A fim de alinhar a realização do trabalho a ser executado, foram feitas


reuniões técnicas com a equipe do Senar Central para a definição da
metodologia e do trabalho de campo. Também foi feito um levanta-
mento nacional de materiais educativos de referência ligados à saúde
do adolescente por meio de um processo de curadoria técnica em
torno da temática, além de pesquisa na internet e mapeamento de
materiais em instituições nacionais e internacionais.

Foi gerada uma Caixa de Ferramentas com todos os materiais de re-


ferência no tocante à saúde do adolescente (vídeos educativos, manu-
ais/guias/cartilhas, jogos educativos, álbuns seriados, plataformas di-
gitais, publicações, youtubers, etc.), que também serviu de inspiração
e base para a elaboração do Guia para a ação: promovendo a saúde do
adolescente rural, um dos materiais que compõem o kit do Programa.
A Caixa está disponível nos fascículos temáticos que fazem parte do
Guia para a ação.

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1.1.2 Segundo momento (maio a novembro de 2019)

Nesta fase foi realizado o Diagnóstico Participativo, por meio de rodas


de conversa realizadas com os adolescentes e com os profissionais.

A) RODAS DE CONVERSA COM OS ADOLESCENTES

O propósito das rodas foi identificar as percepções, as vivências, o


grau de informação e as dúvidas acerca da saúde – com foco nas
questões sobre corpo, saúde sexual e reprodutiva, saúde mental, dro-
gas, violências – bem como o conhecimento a respeito dos serviços
públicos e das redes de apoio e proteção. Além disso, o Diagnóstico
trouxe pistas acerca de onde os adolescentes buscam informações e
qual sua relação com a internet.

Majoritariamente os adolescentes eram oriundos de escolas onde o


Senar desenvolve programas sistemáticos, tais como o Agrinho, o
Despertar e o Jovem Aprendiz Rural; ou onde o Senar possui algum
tipo de articulação/aproximação com o território.

Em cada cidade foram escutados ao menos dois grupos de adolescen-


tes divididos em duas faixas etárias: 12 a 14 anos e 15 a 17 anos. Essa
divisão se deu em função das diferenças de maturidade e desenvolvi-
mento socioemocional entre os adolescentes. Também se baseia em
recortes etários usados em pesquisas e políticas públicas. Não foi pos-
sível aplicar essa divisão etária em todos os municípios em razão das
realidades locais. Além de tudo, vale destacar, o trabalho desenvolvido
não foi uma pesquisa científica, mas um diagnóstico participativo com o
propósito de apreender os conhecimentos e as vivências dos adolescen-
tes e propiciar a eles um ambiente acolhedor, participativo e reflexivo.

Nas rodas de conversa também se explorou como os adolescentes


acessam e se relacionam com a internet na busca por informações
sobre saúde, especialmente com as redes sociais e os aplicativos de
mensagem instantânea: Facebook, Instagram, WhatsApp e Youtube.
Outrossim, também foi investigado como os adolescentes se relacio-
nam com os serviços de saúde e com a rede de proteção.

Programa Saúde do Adolescente Rural 9


B) RODAS DE CONVERSA COM PROFISSIONAIS

Nesta etapa explorou-se, especialmente, a opinião dos profissionais


dos serviços públicos locais, além da opinião dos gestores e dos pro-
fissionais das equipes das Regionais do Senar a respeito de quais os
principais problemas de saúde enfrentados pelos adolescentes, como
se dá o acesso e a relação com os serviços públicos locais e suas
opiniões sobre a produção de um material educativo voltado para edu-
cadores.

Esse diagnóstico foi realizado em 2019 nas CINCO REGIÕES BRASI-


LEIRAS, totalizando 11 ESTADOS, a saber: Acre (AC); Bahia (BA); Ceará
(CE); Goiás (GO); Espírito Santo (ES); Mato Grosso do Sul (MS); Minas
Gerais (MG); Pernambuco (PE); Rio Grande do Sul (RS); Santa Catarina
(SC) e Tocantins (TO). No total foram realizadas 25 RODAS DE CON-
VERSA com mais de 386 ADOLESCENTES de 14 MUNICÍPIOS. Também
foram realizadas 15 RODAS DE CONVERSA com 114 PROFISSIONAIS,
incluindo técnicos e gestores da educação e da saúde, além de gesto-
res e instrutores dos Departamentos Regionais do Senar.

A sistematização desse conjunto de informações subsidiou a constru-


ção do Programa Saúde do Adolescente Rural, além de ter contribuído
para a produção de conteúdos, temas e formatos de materiais peda-
gógicos, o que resultou na confecção do Kit Saúde do Adolescente
Rural.

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2. JUSTIFICATIVA
A universalidade do direito à saúde como garantia de acesso aos ser-
viços de qualidade, na promoção, na proteção e na recuperação da
saúde para todos – como preconizado no Sistema Único de Saúde
(SUS) –, une-se à prioridade de crianças e adolescentes, determinada
pela Constituição Federal e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente,
na formulação de políticas públicas que os protejam e garantam seus
direitos, atendendo-os em suas especificidades e contribuindo para
um desenvolvimento harmonioso e saudável.

O reconhecimento de crianças e adolescentes como sujeitos sociais


e de direitos, com garantias próprias e independentes de seus pais,
familiares e do próprio Estado, estabelece obrigações diferenciadas
para a sociedade, a família e o Estado. Na condição de pessoas em
situação peculiar de desenvolvimento, requerem do setor saúde uma
nova cultura institucional de proteção, em que o direito à saúde se
torne um “direito protetivo que exclui qualquer outra norma que se
mostre prejudicial ao bem juridicamente tutelado: a saúde da pessoa
humana” (BRASIL, 2007a, p. 40).

Atualmente, no Brasil há aproximadamente 51 milhões de pessoas


entre 10 e 24 anos de idade. Este é um momento muito especial, pois
nunca houve tantos jovens quanto hoje. Nesse sentido, o país precisa
fazer um investimento focado nas necessidades e nas expectativas
das pessoas jovens e na efetivação de seus direitos humanos, as-
segurando que elas encontrem condições favoráveis para fazer suas
escolhas de vida e transitar de modo seguro e saudável da adoles-
cência para a idade adulta, adquirindo assim as habilidades neces-
sárias para desfrutar de seus direitos e alcançar seu pleno potencial
(UNFPA, 2014).

No entanto, uma parcela significativa de adolescentes e jovens não é


alcançada por políticas e iniciativas de promoção da saúde. Um dos
principais grupos é formado pelos que vivem em áreas rurais. As vul-
nerabilidades produzidas pelo contexto social e as desigualdades re-
sultantes dos processos históricos de exclusão e discriminação deter-
minam as condições de saúde desse grupo, gerando consequências,

Programa Saúde do Adolescente Rural 11


por vezes, severas. Além disso, há uma incipiente produção sobre a
situação da saúde de adolescentes e jovens rurais, o que dificulta o
planejamento e a implementação de ações que efetivamente atendam
às necessidades dessa população, sobretudo sob o ponto de vista
desses sujeitos.

Por fim, para produzir saúde é fundamental reconhecermos as dife-


renças. As crianças possuem programas para o manejo de suas pecu-
liaridades; as mulheres grávidas demandam um atendimento perso-
nalizado para ter uma gestação relacionada ao seu momento de vida.
Por conseguinte, adolescentes e jovens também possuem especifici-
dades que precisam ser consideradas e atendidas.

12 Diretrizes para implementação


3. PANORAMA DA SAÚDE
DO ADOLESCENTE RURAL
Segundo o Censo realizado em 2010, o Brasil conta com mais de 35
milhões de cidadãos na faixa de 10 a 19 anos de idade, o que repre-
senta uma parcela significativa da população. Não obstante sua gran-
de relevância para o país, esses adolescentes estão expostos a riscos
e relações de vulnerabilidade de caráter estrutural, sobretudo aqueles
que vivem em áreas rurais.

A partir do Diagnóstico Participativo mencionado anteriormente, e no


âmbito das ações de atuação do Senar, foi possível construir um ce-
nário atual das principais necessidades de saúde integral dos adoles-
centes que vivem na área rural. Uma geração de nativos digitais que
compartilham com outros adolescentes as oportunidades, os desa-
fios e as contradições da contemporaneidade. Tais desafios exigem
novos conhecimentos, ferramentas e habilidades socioemocionais
que devem ser estimulados de modo que impactem positivamente
nos seus projetos de vida e na forma como lidam com suas responsa-
bilidades, suas escolhas e sua saúde.

3.1 Contexto sociocultural


A defesa da manutenção dos usos, dos costumes e das convenções,
além de uma estrutura social e hierárquica tradicional, na qual se en-
tende que certos padrões de comportamento e certos valores preci-
sam ser imutáveis, aparece mais fortemente no meio rural quando
comparado ao meio urbano. As regras sociais são mais rígidas, inclu-
sive com punições severas e julgamento moral exacerbado, e portan-
to menos flexíveis às mudanças, especialmente aquelas conectadas
com a vivência da sexualidade e do gênero.

Programa Saúde do Adolescente Rural 13


Na dimensão individual, parte dos adolescentes escutados vem repro-
duzindo modelos hegemônicos da cultura local, envolvendo pensa-
mentos e atitudes racistas, machistas, preconceituosos e estigmati-
zantes. Entretanto, observamos também que muitos adolescentes têm
posicionamentos críticos em relação a tais modelos e compreendem
que toda forma de desigualdade, discriminação e violência é maléfica
e interfere no autocuidado, no cuidado mútuo e na autoproteção.

Adolescentes que vivem nas áreas rurais detêm um universo de sa-


beres, práticas e desafios específicos relacionados à vida no campo
que se traduzem em conhecimentos e expectativas sobre o futuro.
Tal universo nem sempre é reconhecido nas grandes mídias ou até
mesmo pelos meios digitais. Dentre os desafios encontrados pelos
adolescentes que vivem nas áreas rurais encontra-se a escassez de
espaços que favoreçam sua participação e o exercício da cidadania,
bem como espaços onde possam se informar e conversar abertamen-
te a respeito de sua saúde numa visão integral.

3.2 Políticas públicas


Com base em indicadores de saúde e no relato de adolescentes e
profissionais escutados no Diagnóstico Participativo verificou-se uma
fragilidade no investimento em políticas, programas e iniciativas de
saúde voltados aos adolescentes, especialmente quanto a questões
ligadas à saúde mental, à sexualidade, à prevenção da violência, à
saúde sexual e à reprodutiva.

Tal fragilidade parece estar relacionada com o aumento do número de


casos de depressão e tentativas de suicídio, infecções sexualmente
transmissíveis, como o HIV/Aids entre jovens, o aumento da gesta-
ção na adolescência, tendo como uma das consequências a evasão
escolar, bem como com o aumento do número de casos de abuso e
exploração sexual, especialmente entre as meninas.

No caso dos adolescentes rurais, somam-se a esse quadro outros fa-


tores que os deixam ainda mais vulneráveis, impactando na sua saú-
de e consequentemente no seu desenvolvimento integral: pobreza;

14 Diretrizes para implementação


dupla jornada, conciliando trabalho no campo e estudo; dificuldades
de acessar os serviços de saúde devido ao isolamento e às longas
distâncias; falta de acesso às políticas inclusivas; falta de serviços de
lazer e cultura, abrindo espaço para o uso abusivo de álcool e outras
drogas, dentre outros.

Para além da saúde, os demais serviços de proteção e assistência


também apresentam, em grande parte, fragilidades técnicas e baixa
capacidade resolutiva para dar conta das demandas trazidas pelos
adolescentes.

3.3 Acesso a informações


Há uma carência de espaços onde os adolescentes possam dialogar
e encontrar informações qualificadas e confiáveis que proporcionem
autocuidado e proteção em relação à sua saúde e à vivência da se-
xualidade. Noventa por cento dos adolescentes ouvidos durante o
Diagnóstico afirmaram já ter acessado sites e vídeos pornográficos,
apesar de ser uma prática inadequada. Ademais, a maior parte deles
recorre à internet como fonte para sanar suas dúvidas em relação a
mudanças corporais, sexualidade, menstruação, métodos contracep-
tivos, depressão, dentre outros. Amigos também foram citados como
uma das principais fontes de aprendizado, enquanto a família, para a
maior parte deles, também deveria participar de oficinas e cursos que
os ajudassem a compreender as questões relacionadas à saúde dos
adolescentes.

Quanto ao papel da escola, consideram que as ações relacionadas a


esse tema são importantíssimas, mas que, de modo geral, são pouco
tratadas nesse ambiente. Em relação aos serviços de saúde, os ado-
lescentes consideraram muito constrangedor entrar nesses lugares
para tirar dúvidas, passar por consultas, buscar atendimento médico,
contraceptivos e/ou preservativos e temem fortemente ser julgados
pela comunidade e pelos profissionais que lá atuam. Dessa forma, as
barreiras restringem o acesso dos adolescentes a informações confi-
áveis em ambientes seguros e protegidos, o que acrescenta inúmeras
vulnerabilidades a essa parcela populacional.

Programa Saúde do Adolescente Rural 15


3.4 Saúde e sexualidade
No geral, existe um desconhecimento do funcionamento do corpo.
Todas as questões de saúde, especialmente aquelas relacionadas
ao conhecimento sobre o funcionamento do corpo, à sexualidade ou
mesmo à vivência da gravidez na adolescência são perpassadas por
ideias e concepções quanto ao que se “espera” de uma mulher e ao
que se “espera” de um homem. Na atual concepção a respeito da se-
xualidade masculina, de modo geral espera-se que os homens sejam
mais “conquistadores”, tenham um comportamento mais “arrojado” e
“impulsivo”. À mulher, por sua vez, caberia um comportamento mais
“contido” e “passivo”. Com base nesse entendimento, numa possível
relação sexual, por exemplo, pedir para o rapaz usar preservativo
pode ser mais difícil para as meninas que entendem que fazer qual-
quer questionamento, no âmbito da vivência da sexualidade, não é o
“papel” de uma garota. Por outro lado, a necessidade de afirmação
dos garotos adolescentes de sua masculinidade, decorrente normal-
mente da pressão social, faz com que muitos se sintam pressionados
por seus pares a ter a primeira relação sexual, mesmo quando não
se sentem seguros para isso. No Diagnóstico Participativo pudemos
constatar que as diferenças e as desigualdades entre meninas e me-
ninos marcam fortemente a experiência dos adolescentes nos meios
rurais e devem ser pensadas como um desafio a ser trabalhado se
queremos reduzir a vulnerabilidade a questões como violências base-
adas em gênero, gravidez não intencional na adolescência, bullying,
automutilação, depressão, dentre outros.

3.5 Bullying, automutilação e depressão


A maioria dos adolescentes que participaram do Diagnóstico afirmou
já ter sofrido e praticado bullying em algum momento da vida. Eles
acreditam que uma das consequências dessa ática é o isolamento, a
depressão, a automutilação e até mesmo tentativas de suicídio. Foram
citados homofobia, padrões estéticos, racismo e questões corporais
como as principais razões para a prática e o sofrimento por bullying.
Uma das principais preocupações apontadas pelos profissionais em
relação à saúde do adolescente rural foi o aumento na frequência de

16 Diretrizes para implementação


casos de automutilação e depressão. Os profissionais não compreen-
dem as razões que levam os adolescentes a praticar atos de automu-
tilação, bem como as motivações da depressão e do suicídio.

3.6 Violências
Situações e relações violentas cotidianas foram relatadas por um
grande número de adolescentes escutados durante o Diagnóstico;
negligência, violência doméstica, maus-tratos e abuso sexual FORAM
TRAZIDOS PARA AS RODAS DE CONVERSA PELOS ADOLESCENTES, O
QUE PROPORCIONOU GRANDE PESAR TANTO PARA OS ADOLESCEN-
TES QUANTO PARA SEUS EDUCADORES. Nesse sentido, vale pontuar
que o abuso e a exploração sexual se configuram como violências que
merecem muita atenção, seja por conta de sua visibilidade, seja pelo
silêncio em torno do tema. A discriminação e a intolerância contra
adolescentes homossexuais (gays, lésbicas, travestis ou transexuais)
são bastante presentes no cotidiano desse grupo, que sofre agres-
sões físicas e desprezo da família e da comunidade local.

3.7 Álcool e outras drogas


O álcool, a maconha e o crack são as principais drogas consumidas
segundo o relato dos adolescentes. A normalização da venda de álcool
para menores sem a devida fiscalização ou denúncia é uma realidade
constatada na grande maioria dos municípios em que o Diagnóstico
foi realizado. Outro aspecto preocupante diz respeito ao relato dos
adolescentes e dos educadores quanto ao aumento da capilarização
pelas cidades do interior do tráfico de drogas e do aumento do consu-
mo de álcool entre crianças de 10 a 12 anos, além do aumento do uso
entre as meninas e as adolescentes.

Programa Saúde do Adolescente Rural 17


4. MARCOS REFERENCIAIS E LEGAIS
A elaboração conceitual e técnica do Guia para a ação baseou-se em
marcos referenciais e legais que fundamentam a prática de ações em
saúde com adolescentes, numa perspectiva ampliada de saúde e em
consonância com as leis e as normativas utilizadas pelos governos.
A saber:

4.1 Concepção de saúde


Costumeiramente muitas pessoas afirmam que saúde significa au-
sência de doença. Contudo, essa definição está equivocada porque
desconsidera um olhar integral sobre o indivíduo. De acordo com a
Organização Mundial de Saúde (OMS), “saúde é um estado de com-
pleto bem-estar físico, social e mental, e não apenas a ausência de
doença ou enfermidade”.

A partir da década de 1980, a OMS adotou um conceito ainda mais


amplo durante a CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE PROMOÇÃO
DE SAÚDE, realizada na cidade de Ottawa, no Canadá, no ano de 1986.
Nessa Conferência, os países participantes elaboraram um docu-
mento – A CARTA DE OTTAWA – no qual foram apontadas questões
muito amplas como condições e recursos fundamentais para a saú-
de: paz, recursos sustentáveis, justiça social, equidade e igualdade.
Considerou-se, então, que a saúde é gerada nos ambientes em que
as pessoas vivem, amam, trabalham, estudam e se divertem. Ou seja,
em todos os locais em que transcorre a vida e nos quais as condições
para a melhoria da saúde precisam ser garantidas.

Portanto, a SAÚDE associa-se a um conjunto de condições, bens e serviços


que PERMITEM O DESENVOLVIMENTO INDIVIDUAL E COLETIVO de capacida-
des e potencialidades, conforme o nível dos recursos sociais existentes e
dos padrões culturais de cada contexto específico. Isto é, em sentido amplo,
a saúde é resultante das condições de alimentação, habitação, educação,
renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade e aces-
so a postos de saúde e hospitais.

18 Diretrizes para implementação


Embora a definição de saúde proposta pela Organização Mundial de
Saúde foque a saúde numa perspectiva integral do indivíduo, ainda
observamos em diversas regiões que os programas de saúde são
pautados pela ausência ou pela presença de doenças físicas ou men-
tais. As políticas e as estratégias ainda são orientadas pelo conceito
biomédico de saúde, que considera, por exemplo, que estar saudável
é não ter HIV e Aids, é não ter depressão, e assim por diante. Bem,
com certeza não estamos afirmando que ter um adolescente morto
com uma doença evitável possa ser saúde, mas também não pode-
mos afirmar que um adolescente tenha saúde se ele estiver sendo
vítima de algum preconceito social ou que enfrente dificuldades para
acessar serviços de saúde, ou que viva numa situação de pobreza que
o impeça de estudar porque precisa trabalhar na roça.

4.2 Promoção da saúde


O conceito de promoção da saúde foi adotado formalmente a partir
da década de 1980 pela OMS. Vários fóruns nacionais e internacionais
foram realizados para firmar e debater essa nova forma de olhar a
saúde nas diferentes culturas e sociedades.

O primeiro deles , a Conferência Internacional sobre Promoção de


Saúde, realizou-se em Otawa, no Canadá, em 1986. No relatório final
dessa Conferência – a Carta de Otawa – indicaram-se os seguintes
campos de ação para a promoção da saúde:

X X elaboração e implementação de políticas públicas favoráveis


à saúde;

X X criação de ambientes favoráveis à saúde;

X X fortalecimento da ação comunitária;

X X desenvolvimento de habilidades para a vida;

X X reorientação dos sistemas e dos serviços de saúde para a


ação preventiva e humanizada.

Programa Saúde do Adolescente Rural 19


Enfatizou-se, ainda, que a principal tarefa da promoção da saúde é
fazer com que todos os setores reconheçam os impactos de suas
políticas e ações sobre a saúde da população, assumindo a relação
da saúde com a política, a economia, a educação, o meio ambiente
e os fatores socioculturais, além, obviamente, dos biológicos e dos
comportamentos individuais.

A promoção da saúde envolve dimensões mais abrangentes do que a


simples prestação de cuidados de saúde. Inscreve a saúde na agenda
dos decisores políticos em todos os setores e níveis, conscientizando-
-os das consequências de suas decisões para a saúde e levando-os a
assumir suas responsabilidades neste campo.

É importante destacar que a promoção da saúde combina diversas


abordagens complementares, incluindo a legislação, as medidas fis-
cais, os impostos e as mudanças comunitárias, sendo que sua ação
coordenada leva à saúde, ao rendimento e às políticas sociais, criando
maior equidade.

Uma política de promoção da saúde exige a identificação de obstácu-


los para a adoção de políticas públicas em setores não estritamente
de saúde e propostas para ultrapassá-los. O objetivo é que as opções
saudáveis se tornem as mais fáceis de adotar.

4.3 Direito à saúde


O direito à saúde constitui um direito humano fundamental, concebido
numa perspectiva integradora e harmônica dos direitos individuais e
sociais, um direito que exclui qualquer outra norma que se mostre
prejudicial à saúde da pessoa humana. Portanto, os adolescentes e os
jovens têm direito à saúde.

SAÚDE INTEGRAL DO ADOLESCENTE – De acordo com a Organização


Mundial de Saúde (OMS), “saúde é um estado de completo bem-estar
físico, social e mental e não apenas a ausência de doença ou enfer-
midade”. Portanto, a saúde associa-se a um conjunto de condições,
bens e serviços que permitem o desenvolvimento individual e cole-
tivo de capacidades e potencialidades conforme o nível de recursos

20 Diretrizes para implementação


sociais existentes e os padrões culturais de cada contexto específico.
Ou seja, em sentido amplo, a saúde é resultante das condições de
alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho,
transporte, emprego, lazer, liberdade e acesso aos postos de saúde e
aos hospitais. Embora a definição de saúde proposta pela OMS foque
a saúde numa perspectiva integral do indivíduo, ainda observamos
em diversas regiões que os programas de saúde são pautados pela
ausência ou pela presença de doenças físicas ou mentais.

CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA –


Considerando a necessidade de medidas específicas dirigidas a seg-
mentos populacionais mais vulneráveis às violações de seus direitos,
criou-se um sistema especial de proteção que destaca alguns sujeitos,
dentre eles as crianças e os adolescentes. Assim, em 1989, a Assembleia-
Geral das Nações Unidas adotou a Convenção Internacional sobre os
Direitos da Criança, ratificada pelo Brasil em 1990. Uma de suas ca-
racterísticas mais importantes foi o fato de assumir, pela primeira vez,
o valor intrínseco da criança e do adolescente como seres humanos.
Essa Convenção demarca uma mudança fundamental na concepção
de “criança” e “adolescente” no âmbito do direito internacional: supe-
ra-se a visão de que a criança e o adolescente são objetos passivos
da intervenção da família, do Estado e da sociedade. As crianças e os
adolescentes passam a ser reconhecidos como pessoas em desenvol-
vimento e como sujeitos sociais portadores de direitos, sendo definidas
novas responsabilidades do Estado para com esses segmentos.

O reconhecimento pelas Nações Unidas de crianças e adolescentes


como sujeitos sociais, portadores de direitos e garantias próprias, in-
dependentes de seus pais e/ou familiares e do próprio Estado foi a
grande mudança de paradigma que estabeleceu obrigações diferen-
ciadas para o Estado, para as famílias e para a sociedade em geral
considerando a Doutrina de Proteção Integral.

Programa Saúde do Adolescente Rural 21


CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988 – Elegeu como um de seus
princípios norteadores a prevalência dos direitos humanos. Por con-
seguinte, o cumprimento das obrigações internacionais assumidas e
o reordenamento dos marcos jurídico-institucionais aos critérios das
Convenções Internacionais de Direitos Humanos tornaram-se exigên-
cias constitucionais.

Nesse contexto, destaca-se o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei


n. 8.069/1990), que regulamenta o art. 227 da Constituição Federal.

ad o ass egu rar à


T. 22 7: É dev er da fam ília , da soc ied ad e e do Est
AR eit o à vid a,
ab sol uta pri ori da de, o dir
, com
cri an ça e ao ad ole sce nte
fis sio na liza ção, à
saú de, à ali me nta ção , à edu caç ão, ao laz er, à pro
à
ên cia fam ilia r e
tur a, à dig nid ad e, ao res pei to, à lib erd ad e e à con viv
cul
de ne gli gên cia ,
un itá ria , alé m de col ocá -lo s a sal vo de tod a for ma
com
res são.
o, vio lên cia , cru eld ad e e op
dis cri mi na ção, exp loraçã

Estatuto da Criança
e do Adolescente (ECA)
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é uma lei federal, (no
8.069), aprovada em 1990, que trata dos direitos de crianças e ado-
lescentes de 0 a 18 anos. Ele reforça e regulamenta uma série de di-
reitos já garantidos pela nossa Constituição e rompe com o Código
de Menores (Lei no 6.697/1979), que se restringia às crianças e aos
adolescentes em situação irregular. O reconhecimento de todas as
crianças e de todos os adolescentes como SUJEITOS DE DIREITOS
nas diversas condições sociais e individuais só passou a operar com
o surgimento do ECA.

O ECA, que consolida os direitos básicos das crianças e dos adoles-


centes, em seu art. 1o claramente destaca a PROTEÇÃO INTEGRAL, da
qual a saúde faz parte, e esta predominará sobre qualquer outro que
possa prejudicá-la.

22 Diretrizes para implementação


AR T. 3º: A cri an ça e o ad
ole sce nte go zam de tod
fun da me nta os os dir eit os
is ine ren tes à pes soa hu ma
na , sem pre juí zo da pro teç
int egral de qu e tra ta est ão
a lei, ass egu ran do -se -lh
es, po r lei ou po r
ou tro s me ios, tod as as
op ort un ida des e fac ilid ad
es a fim de lhe s
fac ult ar o des en vol vim en
to fís ico, me nta l, mo ral ,
esp irit ua l e soc ial ,
em con diç ões de lib erd ad
e e de dig nid ad e.
Est atu to da Cri an ça e do
Ad ole sce nte – Lei no 8.0 69
, de 13/07 /19 90

É importante pontuar que o ECA regulamentou os direitos dessa po-


pulação e garantiu a realização de políticas públicas voltadas para
o seu desenvolvimento. O artigo 11 do ECA assegura o atendimento
integral à criança e ao adolescente por intermédio do Sistema Único
de Saúde (SUS), garantindo o acesso universal e igualitário às ações e
aos serviços para a promoção, a proteção e a recuperação da saúde.

Segundo documento normativo do Ministério da Saúde intitulado


Marco legal: saúde, um direito do adolescente, o Estatuto da Criança e
do Adolescente reserva capítulo próprio ao direito à saúde, garantin-
do, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), prioritariamente:

X X atendimento médico, farmacêutico e outros recursos para


tratamento e reabilitação;

X X promoção de programas de assistência médica e odontológi-


ca para a prevenção dos agravos do segmento infanto-juvenil;

X X vacinação obrigatória;

X X permanência dos pais ou responsáveis junto com a criança e


o adolescente em casos de internação.

X X Em seu conteúdo, estabelece novas políticas públicas de


atendimento para a infância e a juventude, com diretrizes si-
milares às do SUS:

Programa Saúde do Adolescente Rural 23


X X descentralização e municipalização do atendimento;

X X controle social e participação da comunidade por meio de ór-


gãos deliberativos e controladores das ações em todos os ní-
veis (Conselhos de Direitos Municipais, Estaduais e Nacionais
e Conselhos Tutelares);

X X manutenção de recursos específicos por intermédio dos fun-


dos municipais, estaduais e nacionais ligados aos respecti-
vos Conselhos de Defesa;

X X integração operacional de diversos órgãos para efeito de agi-


lização do atendimento.

Dessa feita, temos um vasto arcabouço legal que ampara nossa prá-
tica como educadores. Infelizmente, muitos profissionais desconhe-
cem tais informações e ficam inseguros ao realizar ações de saúde,
seja na escola, seja na unidade de saúde, nas associações, nas igre-
jas, etc. Por isso é importante conhecer e disseminar esse conheci-
mento para seus pares.

Numa perspectiva de proteção integral, o Estatuto reconhece crianças


e adolescentes como sujetos de direitos, sem distinção de raça, cor
ou classe social, e baseia os “cinco direitos fundamentais”:

DI RE ITO à vid a, à saú de;


pei to e à dig nid ad e;
DI RE ITO à lib erd ad e, ao res
ilia r e com un itá ria ;
DI RE ITO à con viv ên cia fam
ort e, à cul tura e ao laz er;
DI RE ITO à edu caç ão, ao esp
e à pro teç ão ao tra ba lho.
DI RE ITO à pro fis sio na liza ção

24 Diretrizes para implementação


Para alcançar isso, o ECA prevê que toda a sociedade deve estar en-
volvida, com deveres relacionados ao Estado, aos pais ou responsá-
veis, às escolas e também à sociedade civil de maneira geral.

O que compete a cada um para


que o ECA funcione corretamente?1

PAPEL DO CONSELHO TUTELAR – Os conselheiros tutelares cuidam


dos direitos da criança e do adolescente, especialmente quando es-
ses direitos são violados. É a comunidade que escolhe os conselhei-
ros tutelares, por eleição direta, para mandatos de quatro anos. São
duas as funções principais do Conselho Tutelar: fiscalizar o funciona-
mento das políticas públicas para a infância e a adolescência e pre-
venir e mediar conflitos que possam prejudicar o desenvolvimento de
meninos e meninas.

PAPEL DOS CONSELHOS DE DIREITOS – São responsáveis pela ela-


boração das políticas públicas na área da infância e da adolescên-
cia, bem como pelo acompanhamento, pelo controle e pela avaliação
das ações desenvolvidas. Os Conselhos de Direitos devem atuar para
garantir que os direitos de todas as crianças e adolescentes sejam
reconhecidos e respeitados. Este órgão também acompanha e avalia
as ações governamentais e não governamentais destinadas ao aten-
dimento dos direitos da criança e do adolescente. Os Conselhos são
compostos por representantes dos governos e da sociedade civil.

PAPEL DOS GOVERNOS – Os governos devem se comprometer, com


absoluta prioridade, com os direitos de meninos e meninas. Esse
compromisso começa antes mesmo do nascimento da pessoa e se
prolonga com o crescimento da criança, que deve acontecer em boas
condições. A oferta universal de saúde, educação, esporte, lazer, cul-
tura e profissionalização de qualidades, por exemplo, é uma das res-
ponsabilidades dos governos.

1  ireitos sexuais são direitos humanos. Cartilha para adolescentes e jovens. Oficina
D
de Imagens, Belo Horizonte, 2014.

Programa Saúde do Adolescente Rural 25


PAPEL DA FAMÍLIA – É papel da família criar, assistir e educar as crianças e os ado-
lescentes, além de inseri-los na vida comunitária. A família deve preservar sua vida
e zelar pelo seu bem-estar, protegendo a criança e o adolescente de todo tipo de
violência, exposição, ameaça ou constrangimento.

PAPEL DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – Criança e adolescente também têm res-


ponsabilidades. Algumas delas são respeitar a família, os professores e os colegas
de escola, frequentar as aulas e contribuir para a convivência saudável na comuni-
dade. Quando um adolescente desrespeita o direito de outra pessoa, há consequên-
cias e punições previstas no ECA, que são as medidas socioeducativas que vão da
advertência até a privação de liberdade em centros socioeducativos.

26 Diretrizes para implementação


5. O QUE É O PROGRAMA
SAÚDE DO ADOLESCENTE RURAL?
Este programa tem como estratégia central de suas ações o alcance
de três atores-chave para o seu desenvolvimento: 1) adolescentes; 2)
educadores; e 3) famílias/responsáveis, respeitando as especificida-
des de cada núcleo familiar. A proposta é que para além de envol-
ver os adolescentes nas atividades, faz-se necessário trabalhar com
educadores e profissionais que na sua prática profissional lidam coti-
dianamente com esses sujeitos, tais como professores, profissionais
de saúde, profissionais da assistência social, etc., bem como suas
respectivas famílias/responsáveis, cuja missão principal é educar e
cuidar. O trabalho integrado com esses grupos fortalecerá a rede de
cuidado com os adolescentes, proporcionando educação preventiva
numa perspectiva de saúde integral. O desenvolvimento do programa
baseia-se em três eixos articulados.

5.1 Formação
A principal estratégia utilizada para este eixo será o oferecimento de
formação presencial e posterior supervisão técnica.

A proposta é que educadores/instrutores capacitados das Admi­


nistrações Regionais do Senar desenvolvam atividades de educação
em saúde com os adolescentes, os educadores e as famílias/respon-
sáveis, com vistas a criar ambientes saudáveis e positivos, fortalecen-
do o desenvolvimento dos adolescentes que vivem nas áreas rurais.

Esses educadores/instrutores participarão de uma formação presen-


cial e posteriormente receberão supervisão técnica nas modalidades
a distância e presencial por meio de consultoria especializada. O tra-
balho formativo está fundamentado nos temas e nos conteúdos sobre
saúde sugeridos no Guia para a ação: promovendo a saúde do adoles-
cente rural, que, como o próprio nome sugere, tem como propósito
guiar e dar suporte aos educadores/instrutores do Programa Saúde

Programa Saúde do Adolescente Rural 27


do Adolescente Rural. Os temas abordados são: adolescências, corpo
e sexualidade; prevenção das IST/HIV e Aids; gestação não intencional
na adolescência; comunicação e internet; saúde mental com enfoque
no bullying, na automutilação, na depressão e no suicídio; violências,
diversidade, álcool e drogas.

As ações realizadas com os adolescentes têm como finalidade am-


pliar seus conhecimentos, atitudes e habilidades de que precisam
para tomar decisões saudáveis, além de favorecer o diálogo com
suas famílias. Com as famílias/responsáveis pretende-se ampliar a
compreensão sobre a pluralidade da vivência da adolescência, forta-
lecendo as relações destas com os adolescentes, ampliando canais
de comunicação e o diálogo entre as diferentes gerações. Juntamente
com os educadores, serão capazes de contribuir com a formação dos
adolescentes nos assuntos relativos à saúde por meio da discussão
de temas, do esclarecimento de dúvidas e prestando orientação e
apoio às demandas destes, inclusive informando-os sobre as redes
de atenção e proteção.

É importante destacar que a abordagem das habilidades socioemo-


cionais perpassa todo o trabalho formativo, além da construção do
projeto de vida com os adolescentes e o conhecimento da rede de
atenção em saúde do adolescente e a rede de proteção.

5.2 Articulação territorial


Considerando a visão integral de saúde, é importante observar que o
desenvolvimento de uma ação em saúde requer um trabalho interdis-
ciplinar entre as diferentes instituições, especialmente aquelas que
estão no dia a dia de adolescentes e jovens, como é o caso das esco-
las, das unidades de saúde e das famílias. Assim, reconhecemos que
o trabalho com a saúde do adolescente não é uma tarefa apenas de
alguns profissionais, mas sim um movimento que envolve várias esfe-
ras e estruturas sociais.

Nesse sentido, o Programa prevê a articulação dos serviços públicos


(escolas, unidades de saúde, CRAS, CREAS, CAPS, Conselho Tutelar,

28 Diretrizes para implementação


Centros Desportivos, etc.) disponíveis no território, aos quais deno-
minamos de Rede de Atenção em Saúde. Sabemos que muitas áreas
rurais contam apenas com a escola como serviço de referência, mas
é preciso investigar para qual unidade de saúde as demandas dos
adolescentes são encaminhadas e quais outros serviços existem na
região que abrange a escola.

O Programa também prevê em casos de violação do direito, como, por


exemplo, numa situação de abuso e exploração sexual, acionar a Rede
de Proteção que compõe o Sistema de Garantia de Direitos – Conselho
Tutelar, Vara da Infância e da Juventude, Ministério Público.

OB SE RVAÇ ÃO : O Gu ia pa
ra a açã o: pro mo ven do a
les­c en te rural saú de do ad o­
ab ord a ao lon go do s fas cíc
ulo s tem áti cos a def ini ção
o fun cio na me nto, bem ,
com o a art icu laç ão e o
aci on am en to da s
red es de ate nçã o e pro teç
ão. Est e tem a será ab ord
ad o na for ma ção
pre sen cia l, a ser rea liza da
com os edu cad ore s/i nst rut
ore s do Sen ar.

Caberá ao educador/instrutor do Senar, especialmente, orientar o ado-


lescente sobre seus direitos e sobre as Redes de Atenção e Proteção
existentes na localidade. E quando necessário articular com o serviço,
por exemplo, com a unidade de saúde, a realização de consulta ou de
outra demanda em questão. Os educadores capacitados pela equipe
do Senar também estarão aptos a conhecer quais são, como funcio-
nam e como estão organizados os serviços da localidade onde traba-
lham. Portanto, também poderão orientar os adolescentes a buscar
esses serviços e, se for o caso, articular com o serviço para que a de-
manda do adolescente seja atendida. As famílias/responsáveis serão
acionadas e informadas sobre todos os procedimentos pertinentes à
situação encontrada.

Programa Saúde do Adolescente Rural 29


A articulação entre os serviços existentes é desejável em todas as
fases de implantação do Programa, desde seu planejamento, de modo
que sejam transformados os contextos de vulnerabilidade que ex-
põem adolescentes e jovens a diferentes situações, como os casos de
violência, bullying, infecções sexualmente transmissíveis e gravidez
não intencional.

5.3 Monitoramento
As ações em curso serão monitoradas pela equipe do Senar Central a
fim de acompanhar o desenvolvimento do Programa.

O compromisso das Administrações Regionais participantes é funda-


mental para a implementação do Programa, bem como para a conso-
lidação de uma rede de apoio relacionada à prevenção e à promoção
da saúde dos adolescentes.

30 Diretrizes para implementação


6. ONDE ACONTECERÁ
O PROGRAMA?
Considerando que as escolas abrigam uma parcela significativa de
adolescentes entre 12 e 18 anos, além de estarem presentes nos di-
versos territórios rurais do país e serem um espaço privilegiado para
a construção do diálogo entre adolescentes, famílias/responsáveis,
professores, profissionais de saúde e comunidades, o Programa prio-
riza a implementação de suas ações nas unidades escolares.

Tendo em vista as dinâmicas e as especificidades de cada Admi­


nistração Regional, o Programa também poderá ser implementado
em outros espaços para além da escola. O mais importante é que
ele aconteça em espaços frequentados por adolescentes, tais como
centros esportivos e culturais, associações, igrejas, Cras, projetos so-
ciais, unidades de saúde, etc., e que tenham capacidade para desen-
volver as ações planejadas.

Também poderão ser implementados de forma articulada com os


programas desenvolvidos pelo Senar: Programa Agrinho, Programa
Jovem Aprendiz, Programa Despertar. Por fim, há a possibilidade de
realizar o programa em sintonia com programas e políticas munici-
pais, a exemplo do Programa Saúde nas Escolas (PSE), uma iniciativa
dos Ministérios da Saúde e da Educação que ocorre em muitas esco-
las do país.

Programa Saúde do Adolescente Rural 31


7. FINALIDADES
DO PROGRAMA
X X Incentivar o desenvolvimento de ações voltadas para a pro-
moção da saúde mental, da saúde sexual e da saúde repro-
dutiva, além da prevenção das violências e do uso abusivo de
álcool e drogas, favorecendo espaços de cuidado.

X X Desenvolver ações de formação com adolescentes, educa-


dores e famílias/responsáveis para responder às diferentes
situações relacionadas à saúde dos adolescentes.

X X Ampliar parcerias locais entre o Senar, unidades escolares,


serviços de saúde, de assistência social e de proteção dos
adolescentes visando à integração de esforços para a saúde
integral dos adolescentes.

X X Fomentar a participação dos adolescentes para que possam


atuar como agentes transformadores da realidade.

X X Fortalecer o trabalho articulado entre os equipamentos públi-


cos, fundamentais na promoção da saúde dos adolescentes.

X X Promover a ampliação da capacidade de acolhimento e enca-


minhamento das demandas em saúde dos adolescentes nas
áreas rurais.

X X Favorecer e fortalecer o diálogo entre adolescentes e famí-


lias/responsáveis.

32 Diretrizes para implementação


8. COMPROMISSOS NECESSÁRIOS
PARA A REALIZAÇÃO DO PROGRAMA

8.1 
R esponsabilidades
do Senar Central:
X X elaborar diagnóstico local da saúde do adolescente que vive
nas regiões rurais;

X X elaborar a concepção metodológica;

X X estabelecer critérios para o perfil dos educadores/instrutores


do Programa;

X X contratar consultoria especializada;

X X desenvolver o Kit Saúde do Adolescente Rural;

X X formar educadores/instrutores e gestores;

X X responsabilizar-se pela supervisão técnica, pelo monitora-


mento e pela avaliação.

8.2 
R esponsabilidade das
Administrações Regionais do Senar:
X X aderir ao Programa Saúde do Adolescente Rural;

X X selecionar/contratar educadores/instrutores conforme os


critérios estabelecidos pelo Senar Central no âmbito do
Programa Saúde do Adolescente Rural;

X X participar do processo formativo do Guia para a ação: promo-


vendo a saúde do adolescente rural, com duração de 40 horas;

X X fazer a gestão da distribuição do Kit Saúde do Adolescente


Rural;

Programa Saúde do Adolescente Rural 33


X X organizar/mobilizar as turmas de adolescentes, professores/
outros profissionais e famílias/responsáveis para as ativida-
des de formação (recomenda-se que as turmas dos adoles-
centes sejam compostas por no mínimo 15 e no máximo 20
alunos);

X X solicitar previamente o termo de uso de imagem e a auto-


rização dos pais para a participação dos adolescentes no
Programa;

X X desenvolver in loco as ações do Programa Saúde do


Adolescente Rural com adolescentes, educadores e famílias/
responsáveis;

X X conhecer os serviços públicos locais disponíveis para os


adolescentes: escolas, unidades de saúde, Conselho Tutelar,
CRAS, dentre outros, para fazer parceria e implementar o
Programa ou contribuir com as ações em andamento;

X X fornecer à Administração Central, sempre que necessário, da-


dos, imagens e informações das atividades desenvolvidas;

X X participar do processo de monitoramento e avaliação do


Programa;

X X oferecer alimentação para os adolescentes durante as


formações.

pa ra a im ple me nta ção do Pro gra ma :


IM PO RTANTE ! É ne ces sár io
est á ins eri do,
al no qu al o ad ole sce nte
• con he cer o con tex to loc
s pri nci pa is ne ces sid ad es;
inc lus ive ide nti fic an do sua
e atu am com
s e os ser viç os pú bli cos qu
• art icu lar os equ ipa me nto
ssa m em erg ir;
ort e às dem an da s qu e po
ad ole sce nte s pa ra da r sup
na me nta is
ver na me nta is e nã o go ver
• con he cer as ini cia tivas go
ad ole sce nte s.
loc ais qu e tra ba lha m com

34 Diretrizes para implementação


9. TEMAS ABORDADOS
Considerando as principais demandas de saúde apontadas pelos ado-
lescentes e pelos profissionais escutados no processo do Diagnóstico
Participativo, seguem os temas prioritários que serão trabalhados ao
longo do desenvolvimento do Programa Saúde do Adolescente Rural.

A realização das atividades práticas com os adolescentes alcançará


aqueles com idade entre 12 e 18 anos, mas caberá ao educador/ins-
trutor adaptar a abordagem dos temas de acordo com a seguinte divi-
são etária: 12 a 14 e 15 a 18 anos, pois as necessidades são distintas.

Temas
X X Adolescências: direitos e deveres, tomada de decisão, habili-
dades socioemocionais, participação e projeto de vida.

X X Puberdade, transformação biopsicossocial, desenvolvimento,


higiene, autocuidado e proteção.

X X Sexualidade, prevenção e afetividade.

OB SE RVAÇ ÃO : Para ess e pri


me iro blo co de tem as rec om en da mo s:
Fai xa etá ria : 12 a 14 an os –
ên fas e na pu ber da de, na s
tra nsf orm açõ es
bio psi cos soc iai s, no des en
vol vim en to, na hig ien e, no
au toc uid ad o e
na pro teç ão.

Fai xa etá ria : 15 a 18 – ên fas


e na ad ole scê nci a e na s tra
bio psi cos soc iai s, en fat iza nsf orm açõ es
nd o sex ua lid ad e e pre ven
ção.

Programa Saúde do Adolescente Rural 35


X X Ser homem e ser mulher na adolescência.

X X Gestação não intencional na adolescência.

X X Prevenção das IST/HIV/Aids e hepatites virais.

X X Diferenças, diversidades e respeito.

X X Saúde mental com ênfase no bullying, na automutilação, na


depressão e na prevenção ao suicídio.

X X Prevenção das violências.

X X Uso de álcool e outras drogas.

X X A importância da família no contexto da adolescência.

X X Rede de atenção e proteção.

X X Marcos legais.

X X Uso de metodologias ativas.

ão exp lorad os
list ad os an ter ior me nte ser
OB SE RVAÇ ÃO : Os tem as nte rural.
ven do a saú de do ad ole sce
no Gu ia pa ra a açã o: pro mo

36 Diretrizes para implementação


10. PASSO A PASSO PARA A
IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA

Etapa 1
X X Alinhamento e pactuação do Programa entre o Senar Central e
as Administrações Regionais.

X X Formação presencial com duração de 40 horas voltada para dois


educadores/instrutores representantes das Administrações
Regionais que atuarão diretamente com os adolescentes e os
demais atores. Esses profissionais indicados pelas Regionais
deverão se enquadrar no perfil estabelecido e pactuado entre
o Senar Central e as Administrações Regionais. A formação
irá contribuir para que o educador/instrutor esteja preparado
para levar informações sobre saúde do adolescente, aumen-
tando seu nível de conhecimentos sobre saúde, direitos, de-
veres e habilidades na tomada de decisões, autoproteção e
escolhas saudáveis.

X X Elaboração de plano de ação exequível e baseado nas oportuni-


dades e na realidade regional de cada estado.

Etapa 2
X X Alinhamento e pactuação com o poder público local com vis-
tas ao desenvolvimento do Programa Saúde do Adolescente
Rural.

X X Mapeamento das redes de atenção e proteção existentes no


local.

X X Mobilização dos equipamentos públicos locais para apre-


sentar a proposta do Programa com vistas a engajá-los na
iniciativa.

Programa Saúde do Adolescente Rural 37


X X Articulação com a instituição/espaço onde as ações serão de-
senvolvidas. Num primeiro momento será realizada uma, ou
mais reuniões, entre os educadores/instrutores do Senar e a
direção do espaço com as seguintes finalidades:

A) APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA DO PROGRAMA;

B) DEFINIÇÃO DA ABRANGÊNCIA DAS AÇÕES PROPOSTAS: número


de adolescentes que participarão das ações educativas; número de
famílias/responsáveis que participarão das atividades planejadas; nú-
mero e perfil de educadores envolvidos;

C) IDENTIFICAÇÃO DOS RECURSOS TÉCNICOS E HUMANOS NECES-


SÁRIOS E DISPONÍVEIS PARA A EXECUÇÃO DAS AÇÕES PREVISTAS;

D) DEFINIÇÃO DA LOGÍSTICA NOS SEGUINTES PONTOS: (i) horário para


a formação de adolescentes, famílias/responsáveis e educadores; ii)
definição de espaço físico, infraestrutura e materiais pedagógicos.

sej a rea liza da


mo s for tem en te qu e
OB SE RVAÇ ÃO : Rec om en da ole sce nte s a
ília s/r esp on sáv eis do s ad
fam
um a reu niã o com as
ção del as e do s
ma e pa ctu ar a pa rtic ipa
fim de ap res en tar o Pro gra
to de au tor iza ção
a. Na oca siã o, um do cum en
ad ole sce nte s na ini cia tiv
nte no Pro gra ma
a pa rtic ipa ção do ad ole sce
(vi de an exo) qu e ass egu ra
.
rep res en tan tes pre sen tes
dev erá ser ass ina do pel os

38 Diretrizes para implementação


Etapa 3
X X DESENVOLVIMENTO DA FORMAÇÃO em saúde junto aos ado-
lescentes, educadores e famílias/responsáveis. Para tanto,
prevê a realização das atividades educativas com adolescen-
tes contempladas no GUIA PARA A AÇÃO: PROMOVENDO A
SAÚDE DO ADOLESCENTE RURAL, com duração de 20 horas.
Destacamos que nessas 20 horas os temas serão distribuídos
de acordo com as necessidades identificadas localmente, por
exemplo, se for identificado que a maior demanda daquele gru-
po se refere à gestação não intencional na adolescência, esse
tema poderá ocupar mais tempo que os demais. Também pre-
vê a realização de atividades educativas sobre saúde do ado-
lescente com os educadores e as famílias/responsáveis.

OB SE RVAÇ ÃO : Su ger im os
qu e na for ma ção do s edu
cad ore s ou tro s
pro fis sio na is da red e sej
am con vid ad os a pa rtic ipa
r. De ssa for ma ,
est are mo s con trib uin do com
o for tal eci me nto da cap aci
da s red es de ate nçã o e pro da de téc nic a
teç ão. Rec om en da mo s qu
e sej a rea liza da
pel o me no s um a ati vid
ad e edu cat iva qu e reú na
ad ole sce nte s e
fam ília s/r esp on sáv eis .

X X Articulação das redes de atenção e proteção com o intuito de


aproximar os serviços de saúde, assistência e proteção à es-
cola.

X X Supervisão técnica: a fim de apoiar e qualificar tecnicamente


o trabalho de formação realizado pelos educadores/instruto-
res do Senar com os adolescentes e demais atores, o Senar
Central disponibilizará suporte técnico especializado para a
implementação, o monitoramento e a avaliação do Programa.

X X Monitoramento e avaliação

Programa Saúde do Adolescente Rural 39


11. MONITORAMENTO
A seguir uma lista de indicadores a serem monitorados ao longo da
implementação:

X PERFIL DOS EDUCADORES: sexo, faixa etária, raça, escola-


ridade, área de formação, pessoa com deficiência (ciências
humanas, ciências da saúde, ciências exatas, etc.), local de
moradia, tempo de deslocamento casa/escola;

X PERFIL DOS ADOLESCENTES: 12 a 14 anos e 15 a 18 anos.


Sexo, raça, escolaridade, pessoa com deficiência, gravidez, filhos;

X PERFIL DOS PAIS/RESPONSÁVEIS: faixa etária, raça, escola-


ridade, classe socioeconômica, recebe auxílio (bolsa família,
etc.), ocupação/trabalho;

X NÚMERO DE PARTICIPANTES POR MÓDULO FORMATIVO;

X TEMPO DE ATIVIDADES REALIZADAS COM OS ADOLESCENTES.

40 Diretrizes para implementação


12. KIT DE FERRAMENTAS
DO PROGRAMA
O desenvolvimento das ações previstas no Programa Saúde do Ado­
lescente Rural estará apoiado nos seguintes materiais:

A) GUIA PARA AÇÃO: PROMOVENDO A SAÚDE DO ADOLESCENTE RURAL


– como o próprio nome sugere, tem como propósito guiar e dar su-
porte aos educadores/instrutores do Programa no desenvolvimento
de ações práticas de educação em saúde voltadas especialmente aos
adolescentes, mas também às famílias/responsáveis, aos profissio-
nais de saúde e aos educadores dos serviços públicos envolvidos nes-
ta iniciativa. Organizado em fascículos temáticos, fornece conteúdos
técnicos, conceituais e legais atualizados, além de estar em conso-
nância com normativas e políticas públicas voltadas aos adolescen-
tes. De mais a mais, apresenta atividades práticas com o propósito de
estimular os adolescentes, as famílias/responsáveis e os educadores
a participarem das discussões e a refletirem sobre os diversos assun-
tos associados ao campo da saúde do adolescente.

B) CAIXA DE FERRAMENTAS – fruto do levantamento de publicações


de referência sobre saúde, apresenta um compilado com sugestões
de manuais/guias/cartilhas, vídeos educativos, jogos, etc., disponí-
veis na internet, com o intuito de aprofundar os conhecimentos. Essa
Caixa está descrita nos fascículos temáticos que compõem o Guia
para a ação.

C) VÍDEOS PARA SUBSIDIAR OS EDUCADORES NA COMPREENSÃO


DOS TEMAS.

D) CADERNO DAS COISAS IMPORTANTES – material lúdico e intera-


tivo destinado aos adolescentes em consonância com os temas do
Programa Saúde do Adolescente Rural.

Programa Saúde do Adolescente Rural 41


D) ADESIVOS AUTOCOLANTES com comunicação atraente nos quais
estarão descritas mensagens-chave sobre autocuidado em saúde.

F) CARTAZES com mensagens-chave sobre saúde; poderão ser distri-


buídos nas escolas, nas unidades de saúde, CRAS, etc.

E) CADERNETA DO ADOLESCENTE – material educativo com sugestão


de conteúdos informativos e oficinas práticas, com destaque para os
assuntos relacionados mais intimamente à vivência do adolescente,
tais como corpo, puberdade, higiene, métodos contraceptivos, etc.

F) OFICINAS TEMÁTICAS – miniguia com sugestão de oficinas a se-


rem desenvolvidas no contexto dos Programas Saúde do Homem e
Saúde da Mulher voltadas para os adolescentes e as famílias/respon-
sáveis.

42 Diretrizes para implementação


ANEXOS
1. PERFIL DO EDUCADOR/INSTRUTOR SENAR: formação superior pre-
ferencialmente nas áreas das ciências humanas ou biológicas, com
experiência e aptidão para o trabalho com adolescentes. Capacidade
para ouvir e ensinar, livre de qualquer preconceito, que possibilite ao
adolescente expor seus questionamentos, desmistificar alguns as-
suntos, quebrar tabus. Capacidade de articulação para demandas de
temas que necessitem de apoio externo, a exemplo de assuntos que
podem ser tratados por especialistas, tais como o psicólogo ou, até
mesmo, no caso de situações de violência, um conselheiro tutelar.

Programa Saúde do Adolescente Rural 43


Anexo

2. CARTA DE AUTORIZAÇÃO PARA A PARTICIPAÇÃO DOS


ADOLESCENTES NO PROGRAMA SAÚDE DO ADOLESCENTE RURAL
E AUTORIZAÇÃO DO USO DE IMAGEM E VOZ DO ADOLESCENTE

Eu, ____________________________________________________ (INSERIR


NOME DO RESPONSÁVEL), na qualidade de ____________________________
(INSERIR GRAU DE PARENTESCO OU GRAU DE RESPONSABILIDADE),
portador do RG nº. ____________________________, Órgão Expedidor,
______________________, CPF nº_________________________________,
residente ________________________________________________________
(INSERIR ENDEREÇO), AUTORIZO o/a adolescente ____________________
________________________________________________ (INSERIR NOME),
a participar das atividades educativas e formativas previstas no Programa
Saúde do Adolescente Rural. Também AUTORIZO a utilização da imagem
e/ou voz do referido adolescente, para fins de divulgação dos produtos e
atividades do Programa Saúde do Adolescente Rural, considerando veiculação
em impressos, página na internet ou instrumentos de comunicação afins,
respeitando o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), sem custos ou
ônus para o SENAR.

O Programa Saúde do Adolescente Rural,é uma iniciativa do Senar, que tem


como objetivo a promoção da saúde do adolescente, com ênfase na saúde
mental, na saúde sexual e na saúde reprodutiva, no uso abusivo de drogas,
no bullying e demais violências, por meio do desenvolvimento de ações
educativas e formativas junto aos adolescentes, educadores e famílias/
responsáveis.

As atividades educativas serão facilitadas pelo educadores/instrutores do


Senar. Cabe ressaltar, que este profissional está capacitado e habilitado
para trabalhar os temas relacionados à saúde junto aos adolescentes. Os
assuntos que serão abordados fazem parte da vivência dos adolescentes e
estão baseados em documentos oficiais e em estudos e pesquisas atuais.

Local (xxxxxx), Data (xxxxxx)

_______________________________________________

Assinatura do Responsável

44 Diretrizes para implementação


Anexo

3. CARTA CONVITE PARA ESTABELECIMENTO DE PARCERIA


COM A INSTITUIÇÃO ONDE SERÁ REALIZADO O PROGRAMA

Prezado/a (INSERIR NOME DO RESPONSÁVEL)

O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) vem através des-


ta, convidá-lo/a a ser parceiro na implementação do Programa Saúde
do Adolescente Rural, cujo objetivo é a promoção da saúde do adoles-
cente, com ênfase na saúde mental, na saúde sexual e na saúde repro-
dutiva, no uso abusivo de drogas, no bullying e demais violências, por
meio do desenvolvimento de ações educativas e formativas junto aos
adolescentes, educadores e famílias/responsáveis.

Esse programa foi idealizado pelo SENAR Central em articulação com


11 Administrações Regionais, a partir da realização de um Diagnóstico
Participativo sobre a saúde do adolescente que vive na área rural, onde
foram escutados de maio a novembro de 2019 centenas de adoles-
centes, educadores e profissionais que atuam junto aos adolescentes
em 11 estados brasileiros.

Alinhado aos desafios e oportunidades vivenciadas pelos adolescen-


tes rurais do século XXI, esse programa irá oferecer através de cursos
formativos conhecimentos que estimulem a conscientização sobre a
responsabilidade com sua saúde física e mental, que valorize e pro-
mova a autoestima e as práticas de prevenção contra bullying e outras
formas de violência, de modo a ampliar a capacidade desses adoles-
centes para escolhas saudáveis e para contribuir no desenvolvimento
de forma integral.

A fim de conversarmos de forma mais profunda sobre a parceria e o


Programa Saúde do Adolescente Rural, gostaria de propor uma reu-
nião com as seguintes finalidades:

(cont.)

Programa Saúde do Adolescente Rural 45


Anexo

(cont.)

A) APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA DO PROGRAMA;

B) DEFINIÇÃO DA ABRANGÊNCIA DAS AÇÕES PROPOSTAS: número


de adolescentes que participarão das ações educativas; número de
famílias/responsáveis que participarão das atividades planejadas; nú-
mero e perfil de educadores envolvidos;

C) IDENTIFICAÇÃO DOS RECURSOS TÉCNICOS E HUMANOS NECES-


SÁRIOS E DISPONÍVEIS PARA A EXECUÇÃO DAS AÇÕES PREVISTAS;

D) DEFINIÇÃO DA LOGÍSTICA DEFININDO OS SEGUINTES PONTOS:


(i) horário para a formação de adolescentes, famílias/responsáveis e
educadores; ii) definição de espaço físico, infraestrutura e materiais
pedagógicos; e

F) DEFINIÇÃO DOS PRÓXIMOS PASSOS.

Para o SENAR será uma alegria desenvolver esse importante Programa


em parceria com a sua/seu (INSERIR NOME DA INSTITUIÇÃO).

Sigo à disposição para esclarecer eventuais dúvidas.

Atenciosamente,
Administração Regional e nome do Coordenador na regional

46 Diretrizes para implementação


48 Diretrizes para implementação

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