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na hermenêutica e na
argumentação jurídica
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Aristóteles é considerado um dos maiores filósofos da Era Clássica. Autor
de conceitos fundamentais como a práxis, a metafísica, ele influenciou a
prática jurídica de forma profunda a partir dos seus estudos sobre a retórica.
Neste capítulo, você conhecerá os conceitos da tópica, da retórica, da
erística e da dialética e as suas influências na práxis jurídica atual a partir da
construção do discurso técnico jurídico e das próprias peças processuais
que compõem o objeto de trabalho e estudo do jurista.
Não se suponha que com isso queiramos dizer que cada um desses elemen-
tos enunciados, isoladamente, constitua por si mesmo uma proposição ou
um problema, mas apenas que é deles que se formam tanto os problemas
como as proposições. A diferença entre um problema e uma proposição é a
A influência de Aristóteles na hermenêutica e na argumentação jurídica 11
Depois do que precede, devemos dizer para quantos e quais fins é útil
esse tratado. Esses fins são três: o adestramento do intelecto, as disputas
casuais e as ciências filosóficas. Que ele é útil como forma de exercício
ou adestramento, é evidente à primeira vista. A posse de um plano de in-
vestigação nos capacitará para argumentar mais facilmente sobre o tema
proposto. Para as conversações e disputas casuais, é útil porque, depois de
havermos considerado as opiniões defendidas pela maioria das pessoas, nós
as enfrentaremos não nos apoiando em convicções alheias, mas nas delas
próprias, e abalando as bases de qualquer argumento que nos pareça mal
formulado. Para o estudo das ciências filosóficas é útil porque a capacidade
de suscitar dificuldades significativas sobre ambas as faces de um assunto
nos permitirá detectar mais facilmente a verdade e o erro nos diversos
pontos e questões que surgirem. Tem ainda utilidade em relação às bases
últimas dos princípios usados nas diversas ciências, pois é completamente
impossível discuti-los a partir dos princípios peculiares a ciência particular
que temos diante de nós, visto que os princípios são anteriores a tudo mais;
é à luz das opiniões geralmente aceitas sobre as questões particulares que
eles devem ser discutidos, e essa tarefa compete propriamente, ou mais
apropriadamente, à dialética, pois esta é um processo de crítica no qual se
encontra o caminho que conduz aos princípios de todas as investigações
(ARISTÓTELES, 1987, p. 36).
tema próprio da arte), como tampouco o é qualquer diagrama falso que se possa
apresentar em prova de uma verdade (ARISTÓTELES, 1987, p. 250).
[...] correlata à dialética, pois ambas tratam de coisas que, de certo modo,
são de conhecimento comum a todos e não correspondem a nenhuma ciência
determinada. Por isso, todos, de certo modo, participam de uma ou outra, já
que todos, até certo ponto, buscam inventar ou resistir de determinada razão
e defender-se ou acusar. E se isso é verificado, é evidente que tratam da arte
algo exterior ao assunto que definem a todos os demais, como o que há de
conter o exórdio ou a narração e cada uma das demais partes (porque não se
ocupam de outra coisa nela senão como dispõe ao juiz de maneira determi-
nada), mas não mostram nada sobre os argumentos conforme a arte, o que é
dizer de onde se pode tornar hábil em entimemas.
A tópica, a dialética, a erística e a retórica fazem parte de uma mesma arte, conforme o
pensamento aristotélico, sendo a primeira a ciência da organização do pensamento e
do roteiro do diálogo a ser desenvolvido; a segunda, a própria prática do exercício do
debate; a terceira, uma forma de trazer elementos inverídicos ao diálogo e a quarta,
uma forma avançada de estabelecer meios de convencimento ao longo do debate a
partir da criação de silogismos.
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A retórica em Aristóteles
A retórica é uma arte. Uma forma estruturada de direcionar um debate baseada
em informações conhecidas por ambas as partes e na utilização de silogismos
por parte do interlocutor para estabelecer métodos de convencimento da sua
tese ou proposição ou mesmo para estabelecer o problema a ser debatido com
a dialética. É um método cunhado na oratória, seja ela deliberativa ou forense.
Segundo Aristóteles (1953, p. 66):
Dado que é evidente que o método, conforme a arte, refere-se aos argumentos
retóricos, e os argumentos retóricos são uma espécie de demonstração (pois
prestamos crédito sobre tudo quando entendemos que algo está demonstrado), a
demonstração retórica é um entimema (o qual é, por dizer, em geral o mais forte
dos argumentos). Um entimema é um silogismo (e sobre o silogismo de todas
as classes é próprio que trate a dialética, ou toda ou em parte). É evidente que o
melhor pode considerar que premissas, e como resulta o silogismo, esse poderá
ser mais hábil no entimema, pois compreende ao que se aplica o entimema e que
diferenças possui em relação aos silogismos lógicos, pois tanto o verdadeiro como
o verosímil é próprio da mesma faculdade de enxergá-lo, já que os homens são
suficientemente capazes da verdade e de alcançar a maior parte da verdade; por
isso, ter o hábito de conjecturar frente ao verosímil é próprio de quem também
possui o mesmo hábito para com a verdade (ARISTÓTELES, 1953, p. 58).
A influência de Aristóteles na hermenêutica e na argumentação jurídica 15
Sobre os fins destas e como se relacionam entre si, já foi dito quase o sufi-
ciente. Da persuasão mediante demonstração ou demonstração aparente, o
mesmo que na dialética há a indução ou o silogismo, ou o silogismo aparente,
também aqui é de modo semelhante: pois o exemplo é de uma indução que
o entimema é um silogismo, o entimema aparente, um silogismo aparente.
Chamo entimema o silogismo oratório e exemplo, a indução oratória. Pois
todos dão provas para demonstrá-lo dizendo exemplos ou entimemas e nada
além disso; de maneira que, em absoluto, é preciso que qualquer coisa se prove
pelo silogismo ou pela indução (ARISTÓLTELES, 1953, p. 68).
A retórica pode ser compreendida como a maior ferramenta disponível para a argu-
mentação do jurista, a qual, em um procedimento legal, exprime-se pela petição inicial
escrita. Eis que a peça primordial de qualquer processo é o local apropriado para a
construção da tese jurídica que define os limites do pedido ao juízo.
Leitura recomendada
ARISTÓTELES. Retórica das paixões. São Paulo: Martins Fontes, 2000.