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Introdução ao Direito 2: (T03) – 4T2345

Docente: Silvia Porto Buarque de Gusmão

Discente: Wagner Vinícius Pereira de Sousa Matrícula: 190039558

Tópica e jurisprudência, Introdução, §§ 1, 2, 3 e 9.

Se trata de uma análise da estrutura da jurisprudência de um ângulo pouco


explorado. O foco aqui é a alusão a Gian Battista Vico, a Tópica para Aristóteles e
Cícero, a análise da tópica e o anexo acerca do desenvolvimento da tópica. Viehweg
chega à conclusão que “a tópica é uma técnica de pensar por problemas, desenvolvida
pela retórica” (VIEHWEG, p.17). Tentar desligar a tópica da jurisprudência, exigiu uma
sistematização rigorosa, transformando a jurisprudência em ciência do direito através de
sistematização dedutiva. Se isto não for aceito, a jurisprudência seria um procedimento
de discussão de problemas (VIEHWEG, p.18).

Inicialmente é feita uma alusão a Vico, que se ocupou de diversas matérias


em seus estudos, dando destaque para jurisprudência. Vico contrapunha métodos
científicos antigos e modernos. O antigo seria o método tópico ou retórico, herança da
antiguidade e o método moderno seria o crítico ou cartesiano. O método novo seria algo
que não pode ser eliminado nem pela crítica, fundando-se em verdades absolutas. O
método antigo, funda-se no senso comum. O novo método garante mais precisão, porém
as desvantagens se sobressaem. O estilo antigo, portanto, deve prevalecer pois induz a
criatividade e amplia a memória (VIEHWEG, p. 21).

Posteriormente é tratada da tópica aristotélica e ciceroniana. Para


Aristóteles, tópica se referia a arte de disputa dos retóricos e sofistas. A tópica pertence
a dialética. Aristóteles buscava um método que pudessem ser criados raciocínios
corretos (que são objetos da tópica) a partir de opiniões adequadas. Isto constitui uma
questão retórica. Raciocínios dialéticos diferem-se dos demais pela “índole de suas
premissas” (VIEHWEG, p.25). Dialética se vale da indução e dos silogismos para se
fundamentar e de demais instrumentos para encontrar raciocínios adequados
(VIEHWEG, p.26). Com a fundamentação e ordenação filosóficas, se chega a práxis da
tópica, podendo agora, classificar os topoi – que permite obter um silogismo ou
entimema sobre objetos do direito – e tratar deles conforme os raciocínios adequados.
Topoi para Aristóteles são perspectivas utilizáveis e aceitavas em toda parte, utilizados a
favor ou contra conforme a opinião aceita, podendo conduzir à verdade (VIEHWEG, p.
27).

A tópica de Cícero teve mais influência na história que a de Aristóteles.


Cícero entenda a tópica como práxis da argumentação. Porém, o nível da tópica de
Cícero é inferior a aristotélica (VIEHWEG, p.28). A distinção feita, por Aristóteles entre
apodítico e dialético some com Cícero. Para ele, a teoria de dissertação é composta por:
invenção e formação de juízo. Distinção baseada na escola estoica que se preocupava
mais com a formação de juízo. Os topoi para Cícero podem ser científicos/técnicos ou
atécnicos e lhes atribui uma universalidade. Não havendo nenhuma polêmica que não se
possa aplicar um topoi. As dissertações lógicas de Cícero são insatisfatórias, porém é
possível aprender com ele que a jurisprudência é sim importante (VIEHWEG, p. 30-31).
Aristóteles se preocupa com as causas enquanto Cícero com resultado. O interesse
acerca da tópica, a partir de Aristóteles ao tema não prevalece, mas sim a concepção de
Cícero. A tópica prevalece como parte essencial da gramática, retórica e da dialética.

Ao analisar a tópica, Viehweg afirma que ela se trata de uma técnica de


pensamento orientada para o problema. Conforme Aristóteles, a organização da tópica é
uma organização segundo zonas de problemas. A tópica, ainda em Aristóteles, serviu
para indicar como se comportar em situações aporéticas, onde surge uma situação
problemática onde não há uma solução. Tópica seria, portanto, uma técnica do
pensamento problemático (VIEHWEG, p.33).

Conforme Viehweg, todo problema objetivo e concreto se denomina tópica


ou arte da invenção. O pensamento problemático, o qual a tópica se o ocupa, se
contrapõe ao pensamento sistemático. Problema seriam questões que permitem mais de
uma resposta e que necessitam de um entendimento anterior. O problema é reformulado
e colocado em um conjunto de deduções onde são tiradas alguma resposta. Esse
conjunto, se chamado de sistema, permite concluir que a solução para o problema se
orienta dentro de um sistema. Nesse sentido, pode-se colocar ênfase no sistema ou
ênfase no problema. Ao dar ênfase ao problema, se parte da compreensão de que não se
sabe se é um sistema lógico, conjunto de deduções ou algo distinto (VIEHWEG, p. 35).
Hartmann, acerca de sistema e problema, afirma que o modo sistemático
precede o todo, de forma que a concepção é dominante e o ponto de vista já está ali
desde o princípio e os problemas que não se conciliam com esse ponto de vista são
descartados. Dessa forma o que se decide são os limites os quais a solução pode estar
contida. Nesse sentido a tópica só é admitida em uma ordem que está por ser
determinada, nesse sentido, esse modo de pensar só permite “panoramas fragmentários”
(VIEHWEG, p.36).

Aristóteles projetou um catálogo para todos os problemas pensáveis. A partir


dele, foram criados diversos catálogos tópicos, que divergiam entre si ao longo dos
séculos. Cícero buscou ajustá-lo para que fosse um meio de auxílio a discussão de
problemas que fosse o mais prático possível, o que produziu uma trivialização
(VIEHWEG, p. 36).

Existem topoi que são universalmente aplicados, sendo pertinentes aos


problemas pensáveis, sendo generalizáveis, e existem os que são aplicados a um
determinado ramo, a um determinado grupo de problemas. A função de ambos é a
mesma (VIEHWEG, p.37). Ambos buscam auxiliar na discussão dos problemas, sendo
importante onde o problema possui sua natureza em não perder seu caráter
problemático. Quando há mudanças em casos privados, é necessário buscar novas
informações para resolver os problemas. Os topoi entram com seu caráter auxiliar
recebendo sentido a partir do problema (VIEHWEG, p. 38). A tópica se diferencia da
logica por se ocupar em achar as premissas, enquanto a lógica se preocupa em elaborá-
las (VIEHWEG, p. 40).

Ao criar catálogos de topoi produz-se um vínculo lógico. Contudo o modo


de pensar problemático é estranho a vinculações. Apesar disso, não pode renunciar
completamente a essas vinculações. Deve preservar algumas fixações. Conforme o
autor, a topoi e seus catálogos possuem uma importância na fixação e na construção de
um entendimento comum (VIEHWEG, p. 41).

O autor afirma que as premissas são legitimas pela aceitação do interlocutor,


de forma que o que é aceito é fixado. Os que disputam essa aceitação possuem saber
que já foi comprovado, permitindo que esse saber dito dos melhores e famosos
encontra-se justificada, tendo sido reconhecida a autoridade da pessoa no assunto por
seus conhecimentos (VIEHWEG, p. 42-43).
Por fim, o autor afirma que diferente de legitimar ou provar uma premissa é
demonstrá-la ou fundamentá-la. A fundamentação seria puramente logica, necessitando
de um sistema dedutivo, onde a proposição deve ser reduzida até uma proposição
nuclear. A tópica prevê uma redução e dedução modesta. Ao estabelecer um sistema
dedutivo, a tópica deve ser abandonada, sendo completamente distinta da lógica.
(VIEHWEG, p. 43).

O autor por fim trata da tópica contemporânea. Segundo Viehweg, a retórica


atual se baseia “em tornar compreensiva toda argumentação a partir da situação
discursiva”. Isso nos mostra a diferença entre a forma de pensar situacional e não-
situacional. Pode-se empregar fórmulas da nova semiótica no exame dessas conexões,
diferenciando-se os aspectos sintáticos, semânticos e pragmáticos, prevalecendo o
aspecto sintático-semântico, sendo a pragmática usada para correção, de forma
regressiva. O modo de pensar situacional se caracteriza por ser um modo de pensar
dentro da situação discursiva pragmática, enquanto a não-situacional, não leva a
situação discursiva em conta. (VIEHWEG, p. 101-102).

Houve uma preferência a sintaxe, de forma isolada, na modernidade, que


levou a hierarquias de signos dos sistemas racionais. Essa sintetização isolada acentuava
o sistema dedutivo. Nesse sentido, houve uma axiomatização, que no campo jurídico,
esbarrou em axiomas especialmente qualificados, sendo necessário se voltar para
discussões extra-sintáticas, podendo ser situacionais e pragmáticas. O autor avança
reconhecendo que a tópica tem a ver com o modo de pensar situacional, por ser um
modo de pensar que lida de forma pragmática com o problema, tendo sua validade em
uma situação em que o discurso advém (VIEHWEG, p. 103).

O pensamento situacional, deve voltar ao solo pragmático. É importante que


se esclareça como se deu a construção intelectual na situação discursiva de busca de
entendimento mútuo. A comunicação se torna objeto de pesquisa. A comunicação não se
baseia em afirmações pré-fixadas, mas em descoberta e fixação. Segundo o autor, se
trata de um empreendimento já conhecido dos juristas e retóricos (VIEHWEG, p. 104).

O autor conclui apresentando 3 considerações relacionadas a esse processo


comunicativo. A primeira se refere à lógica, onde o pensamento situacional dá
preferência a dialógica, se mantendo alinhado ao discurso; a segunda se refere a nova
corrente crítico-linguística, retomando a situação discursiva pragmática, onde toda a
comunicação se dá por mútuas instruções linguísticas; e a terceira se refere ao aspecto
ético do procedimento dialógico, onde surgem deveres comunicativos (VIEHWEG,
p.105-107).

Análise Crítica: A construção histórica feita pelo autor, da tópica, desde


Vico e Aristóteles até a modernidade é interessante pois permite observar que é uma
discussão bastante antiga. Conforme o autor afirma inicialmente, é um campo pouco
explorado, em se tratando de jurisprudência, o que leva a refletir as razões disso, pelo
fato de que a argumentação e a dialética, que estão diretamente relacionadas a tópica,
estão amplamente presentes no Direito. Vico, ao contrapor o método científico antigo
(retórico) e o novo (cartesiano), e evidencia que o último possui limitações, tendo em
vista que está calcada em meios lógico-dedutivos, em uma verdade universal. Já o
método antigo é fundado no senso comum. É evidente que esse método científico
calcado em uma verdade universal é falha. O saber científico está em constante
evolução, jamais sendo absoluto. Nesse sentido, em se tratando da jurisprudência, o
método antigo, retórico, deve prevalecer. Assim como Viehweg, acredito que a tópica,
junto de seus topoi são importantes e necessários à jurisprudência, bem como um campo
importantíssimo a ser explorado pela ciência jurídica. Por fim, gostaria de destacar a
importância do contexto. Conforme o texto, é evidente que os topoi ao longo dos anos
sofrem mudanças. Para essa análise a partir da tópica, ou seja, levando em conta a
argumentação, é importante que se leve em consideração o contexto daquele discurso,
nesse sentido corroboro com Viehweg ao considerar que para a análise de discurso
deve-se considerar o contexto em que aquele discurso foi produzido.

Referência bibliográfica:

VIEHWEG, Theodor. Introdução, §§ 1, 2, 3 e 9. In: Tópica e jurisprudência. Trad. de


Tércio Sampaio Ferraz Jr., Brasília: Departamento de Imprensa Nacional, 1979.

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