[1] O documento analisa a estrutura da jurisprudência a partir da perspectiva da tópica, desde Aristóteles até a modernidade. [2] Discute como a tópica era entendida por Aristóteles e Cícero e como evoluiu ao longo dos séculos, sendo entendida hoje como um modo de pensamento situacional. [3] Conclui que a tópica se refere a uma técnica de pensamento orientada para problemas, que lida de forma pragmática com cada situação discursiva.
[1] O documento analisa a estrutura da jurisprudência a partir da perspectiva da tópica, desde Aristóteles até a modernidade. [2] Discute como a tópica era entendida por Aristóteles e Cícero e como evoluiu ao longo dos séculos, sendo entendida hoje como um modo de pensamento situacional. [3] Conclui que a tópica se refere a uma técnica de pensamento orientada para problemas, que lida de forma pragmática com cada situação discursiva.
[1] O documento analisa a estrutura da jurisprudência a partir da perspectiva da tópica, desde Aristóteles até a modernidade. [2] Discute como a tópica era entendida por Aristóteles e Cícero e como evoluiu ao longo dos séculos, sendo entendida hoje como um modo de pensamento situacional. [3] Conclui que a tópica se refere a uma técnica de pensamento orientada para problemas, que lida de forma pragmática com cada situação discursiva.
Discente: Wagner Vinícius Pereira de Sousa Matrícula: 190039558
Tópica e jurisprudência, Introdução, §§ 1, 2, 3 e 9.
Se trata de uma análise da estrutura da jurisprudência de um ângulo pouco
explorado. O foco aqui é a alusão a Gian Battista Vico, a Tópica para Aristóteles e Cícero, a análise da tópica e o anexo acerca do desenvolvimento da tópica. Viehweg chega à conclusão que “a tópica é uma técnica de pensar por problemas, desenvolvida pela retórica” (VIEHWEG, p.17). Tentar desligar a tópica da jurisprudência, exigiu uma sistematização rigorosa, transformando a jurisprudência em ciência do direito através de sistematização dedutiva. Se isto não for aceito, a jurisprudência seria um procedimento de discussão de problemas (VIEHWEG, p.18).
Inicialmente é feita uma alusão a Vico, que se ocupou de diversas matérias
em seus estudos, dando destaque para jurisprudência. Vico contrapunha métodos científicos antigos e modernos. O antigo seria o método tópico ou retórico, herança da antiguidade e o método moderno seria o crítico ou cartesiano. O método novo seria algo que não pode ser eliminado nem pela crítica, fundando-se em verdades absolutas. O método antigo, funda-se no senso comum. O novo método garante mais precisão, porém as desvantagens se sobressaem. O estilo antigo, portanto, deve prevalecer pois induz a criatividade e amplia a memória (VIEHWEG, p. 21).
Posteriormente é tratada da tópica aristotélica e ciceroniana. Para
Aristóteles, tópica se referia a arte de disputa dos retóricos e sofistas. A tópica pertence a dialética. Aristóteles buscava um método que pudessem ser criados raciocínios corretos (que são objetos da tópica) a partir de opiniões adequadas. Isto constitui uma questão retórica. Raciocínios dialéticos diferem-se dos demais pela “índole de suas premissas” (VIEHWEG, p.25). Dialética se vale da indução e dos silogismos para se fundamentar e de demais instrumentos para encontrar raciocínios adequados (VIEHWEG, p.26). Com a fundamentação e ordenação filosóficas, se chega a práxis da tópica, podendo agora, classificar os topoi – que permite obter um silogismo ou entimema sobre objetos do direito – e tratar deles conforme os raciocínios adequados. Topoi para Aristóteles são perspectivas utilizáveis e aceitavas em toda parte, utilizados a favor ou contra conforme a opinião aceita, podendo conduzir à verdade (VIEHWEG, p. 27).
A tópica de Cícero teve mais influência na história que a de Aristóteles.
Cícero entenda a tópica como práxis da argumentação. Porém, o nível da tópica de Cícero é inferior a aristotélica (VIEHWEG, p.28). A distinção feita, por Aristóteles entre apodítico e dialético some com Cícero. Para ele, a teoria de dissertação é composta por: invenção e formação de juízo. Distinção baseada na escola estoica que se preocupava mais com a formação de juízo. Os topoi para Cícero podem ser científicos/técnicos ou atécnicos e lhes atribui uma universalidade. Não havendo nenhuma polêmica que não se possa aplicar um topoi. As dissertações lógicas de Cícero são insatisfatórias, porém é possível aprender com ele que a jurisprudência é sim importante (VIEHWEG, p. 30-31). Aristóteles se preocupa com as causas enquanto Cícero com resultado. O interesse acerca da tópica, a partir de Aristóteles ao tema não prevalece, mas sim a concepção de Cícero. A tópica prevalece como parte essencial da gramática, retórica e da dialética.
Ao analisar a tópica, Viehweg afirma que ela se trata de uma técnica de
pensamento orientada para o problema. Conforme Aristóteles, a organização da tópica é uma organização segundo zonas de problemas. A tópica, ainda em Aristóteles, serviu para indicar como se comportar em situações aporéticas, onde surge uma situação problemática onde não há uma solução. Tópica seria, portanto, uma técnica do pensamento problemático (VIEHWEG, p.33).
Conforme Viehweg, todo problema objetivo e concreto se denomina tópica
ou arte da invenção. O pensamento problemático, o qual a tópica se o ocupa, se contrapõe ao pensamento sistemático. Problema seriam questões que permitem mais de uma resposta e que necessitam de um entendimento anterior. O problema é reformulado e colocado em um conjunto de deduções onde são tiradas alguma resposta. Esse conjunto, se chamado de sistema, permite concluir que a solução para o problema se orienta dentro de um sistema. Nesse sentido, pode-se colocar ênfase no sistema ou ênfase no problema. Ao dar ênfase ao problema, se parte da compreensão de que não se sabe se é um sistema lógico, conjunto de deduções ou algo distinto (VIEHWEG, p. 35). Hartmann, acerca de sistema e problema, afirma que o modo sistemático precede o todo, de forma que a concepção é dominante e o ponto de vista já está ali desde o princípio e os problemas que não se conciliam com esse ponto de vista são descartados. Dessa forma o que se decide são os limites os quais a solução pode estar contida. Nesse sentido a tópica só é admitida em uma ordem que está por ser determinada, nesse sentido, esse modo de pensar só permite “panoramas fragmentários” (VIEHWEG, p.36).
Aristóteles projetou um catálogo para todos os problemas pensáveis. A partir
dele, foram criados diversos catálogos tópicos, que divergiam entre si ao longo dos séculos. Cícero buscou ajustá-lo para que fosse um meio de auxílio a discussão de problemas que fosse o mais prático possível, o que produziu uma trivialização (VIEHWEG, p. 36).
Existem topoi que são universalmente aplicados, sendo pertinentes aos
problemas pensáveis, sendo generalizáveis, e existem os que são aplicados a um determinado ramo, a um determinado grupo de problemas. A função de ambos é a mesma (VIEHWEG, p.37). Ambos buscam auxiliar na discussão dos problemas, sendo importante onde o problema possui sua natureza em não perder seu caráter problemático. Quando há mudanças em casos privados, é necessário buscar novas informações para resolver os problemas. Os topoi entram com seu caráter auxiliar recebendo sentido a partir do problema (VIEHWEG, p. 38). A tópica se diferencia da logica por se ocupar em achar as premissas, enquanto a lógica se preocupa em elaborá- las (VIEHWEG, p. 40).
Ao criar catálogos de topoi produz-se um vínculo lógico. Contudo o modo
de pensar problemático é estranho a vinculações. Apesar disso, não pode renunciar completamente a essas vinculações. Deve preservar algumas fixações. Conforme o autor, a topoi e seus catálogos possuem uma importância na fixação e na construção de um entendimento comum (VIEHWEG, p. 41).
O autor afirma que as premissas são legitimas pela aceitação do interlocutor,
de forma que o que é aceito é fixado. Os que disputam essa aceitação possuem saber que já foi comprovado, permitindo que esse saber dito dos melhores e famosos encontra-se justificada, tendo sido reconhecida a autoridade da pessoa no assunto por seus conhecimentos (VIEHWEG, p. 42-43). Por fim, o autor afirma que diferente de legitimar ou provar uma premissa é demonstrá-la ou fundamentá-la. A fundamentação seria puramente logica, necessitando de um sistema dedutivo, onde a proposição deve ser reduzida até uma proposição nuclear. A tópica prevê uma redução e dedução modesta. Ao estabelecer um sistema dedutivo, a tópica deve ser abandonada, sendo completamente distinta da lógica. (VIEHWEG, p. 43).
O autor por fim trata da tópica contemporânea. Segundo Viehweg, a retórica
atual se baseia “em tornar compreensiva toda argumentação a partir da situação discursiva”. Isso nos mostra a diferença entre a forma de pensar situacional e não- situacional. Pode-se empregar fórmulas da nova semiótica no exame dessas conexões, diferenciando-se os aspectos sintáticos, semânticos e pragmáticos, prevalecendo o aspecto sintático-semântico, sendo a pragmática usada para correção, de forma regressiva. O modo de pensar situacional se caracteriza por ser um modo de pensar dentro da situação discursiva pragmática, enquanto a não-situacional, não leva a situação discursiva em conta. (VIEHWEG, p. 101-102).
Houve uma preferência a sintaxe, de forma isolada, na modernidade, que
levou a hierarquias de signos dos sistemas racionais. Essa sintetização isolada acentuava o sistema dedutivo. Nesse sentido, houve uma axiomatização, que no campo jurídico, esbarrou em axiomas especialmente qualificados, sendo necessário se voltar para discussões extra-sintáticas, podendo ser situacionais e pragmáticas. O autor avança reconhecendo que a tópica tem a ver com o modo de pensar situacional, por ser um modo de pensar que lida de forma pragmática com o problema, tendo sua validade em uma situação em que o discurso advém (VIEHWEG, p. 103).
O pensamento situacional, deve voltar ao solo pragmático. É importante que
se esclareça como se deu a construção intelectual na situação discursiva de busca de entendimento mútuo. A comunicação se torna objeto de pesquisa. A comunicação não se baseia em afirmações pré-fixadas, mas em descoberta e fixação. Segundo o autor, se trata de um empreendimento já conhecido dos juristas e retóricos (VIEHWEG, p. 104).
O autor conclui apresentando 3 considerações relacionadas a esse processo
comunicativo. A primeira se refere à lógica, onde o pensamento situacional dá preferência a dialógica, se mantendo alinhado ao discurso; a segunda se refere a nova corrente crítico-linguística, retomando a situação discursiva pragmática, onde toda a comunicação se dá por mútuas instruções linguísticas; e a terceira se refere ao aspecto ético do procedimento dialógico, onde surgem deveres comunicativos (VIEHWEG, p.105-107).
Análise Crítica: A construção histórica feita pelo autor, da tópica, desde
Vico e Aristóteles até a modernidade é interessante pois permite observar que é uma discussão bastante antiga. Conforme o autor afirma inicialmente, é um campo pouco explorado, em se tratando de jurisprudência, o que leva a refletir as razões disso, pelo fato de que a argumentação e a dialética, que estão diretamente relacionadas a tópica, estão amplamente presentes no Direito. Vico, ao contrapor o método científico antigo (retórico) e o novo (cartesiano), e evidencia que o último possui limitações, tendo em vista que está calcada em meios lógico-dedutivos, em uma verdade universal. Já o método antigo é fundado no senso comum. É evidente que esse método científico calcado em uma verdade universal é falha. O saber científico está em constante evolução, jamais sendo absoluto. Nesse sentido, em se tratando da jurisprudência, o método antigo, retórico, deve prevalecer. Assim como Viehweg, acredito que a tópica, junto de seus topoi são importantes e necessários à jurisprudência, bem como um campo importantíssimo a ser explorado pela ciência jurídica. Por fim, gostaria de destacar a importância do contexto. Conforme o texto, é evidente que os topoi ao longo dos anos sofrem mudanças. Para essa análise a partir da tópica, ou seja, levando em conta a argumentação, é importante que se leve em consideração o contexto daquele discurso, nesse sentido corroboro com Viehweg ao considerar que para a análise de discurso deve-se considerar o contexto em que aquele discurso foi produzido.
Referência bibliográfica:
VIEHWEG, Theodor. Introdução, §§ 1, 2, 3 e 9. In: Tópica e jurisprudência. Trad. de
Tércio Sampaio Ferraz Jr., Brasília: Departamento de Imprensa Nacional, 1979.