Pertencem às finanças locais e regionais as autarquias e as regiões autónomas, que
diferem das restantes por gozarem de Independência Orçamental, disposta nos termos dos art. 237º e 238º da CRP e no art. 6º da Lei 73/2013, de 03 de setembro. Isto significa que há uma separação jurídica entre o orçamento destas e o orçamento do Estado, além de disporem de processos próprios de elaboração e aprovação do orçamento, gozarem de administração financeira própria e mecanismos de execução e controlo orçamental próprios. Não obstante, não se deverá confundir independência orçamental com autossuficiência orçamental: veja-se que as autarquias e as regiões autónomas apesar de beneficiarem de receitas próprias, estão dependentes de transferências do orçamento de Estado (art. 106º/3 alínea e da CRP) – estamos perante um sistema de federalismo financeiro. Os princípios orçamentais que controlam o orçamento de Estado também se aplicam às regiões autónomas e às autarquias locais e estas também contribuem para os objetivos e metas traçadas no âmbito das políticas de convergência a que Portugal está obrigado pela União Europeia. Além disto, a situação financeira das autarquias e das regiões integra a contabilidade nacional, sendo que é com base na última que é calculado o défice e a divida orçamental reportada à União Europeia. Em matéria de transferências para a administração local é estipulado no art. 238º/2 da CRP a necessidade de uma repartição justa dos recursos públicos pelo Estado e pelas autarquias locais, prestando-se especial atenção à correção de desigualdade entre autarquias do mesmo grau que se considerem necessárias. Tanto os municípios, como as freguesias e as áreas metropolitanas e comunidades intermunicipais têm participação nos impostos do Estado (art. 25º/1 lei nº51/2018; 38º/8 e 69º da lei nº73/2013, correspondentemente). Relativamente ao regime de crédito dos municípios sabe-se que estes podem contrair empréstimos, incluindo aberturas de créditos junto de quaisquer instituições autorizadas por lei a conceder crédito (art. 49º a 51º lei nº73/2013). Empréstimos de curto prazo apenas devem ser contraídos se a sua finalidade for suprir uma dificuldade da tesouraria. Já os empréstimos de médio a longo prazo podem ser contraídos para aplicação em investimentos ou para proceder de acordo com os mecanismos de recuperação financeira municipal. Os municípios também devem contrair empréstimos para saneamento financeiro, tendo em vista a reprogramação da dívida e a consolidação de passivos
Mariana Silva Bento - 140120525
financeiros quando ultrapassem o limite da divida total prevista no art.52º. A adesão a estes mecanismos de recuperação financeira pode ser facultativa ou obrigatória consoante o nível de desequilíbrio financeiro verificado até dia 31 de dezembro do ano económico em curso. Em caso de rutura financeira, são obrigados a aderir ao procedimento de recuperação financeira municipal (art. 61 lei nº73/2013). O regime de crédito das freguesias é mais limitado que a dos municípios já que o art. 55º da lei nº73/2013 prevê apenas que possam contrair empréstimos de curto prazo, que devem ser amortizados até ao final do exercício económico em que foram contratados e que devem ser apenas contraídos para ocorrer a dificuldades da tesouraria. Portanto, enquanto os municípios podem contrair divida pública flutuante e divida pública fundada, as freguesias apenas podem contrair divida pública flutuante. As receitas das autarquias locais podem ser de vários tipos, nomeadamente: patrimoniais, tributárias e creditícias. As receitas patrimoniais resultam da venda de participações socias em empresas e de bens móveis ou imóveis. Nas receitas tributárias inclui-se as taxas cobradas de IMI relativamente a prédios urbanos, taxas de IMT e inda o lançamento de derramas, adicionais a impostos, até 1,5% do IRC. De ressalvar que as autarquias locais podem também conceder isenções e benefícios fiscais. Já no âmbito das receitas creditícias, como foi referido anteriormente, verifica-se uma limitação das freguesias relativamente aos municípios no que toca à possibilidade de contração de divida pública fundada. As Regiões Autónomas, à semelhança das Autarquias Locais, também gozam de independência orçamental, acrescendo-se a isso autonomia político – administrativa (art. 227º/1p CRP). No âmbito das receitas tributárias, todos os impostos que cobram (como o IRS, IRC, IVA, entre outros...) revertem a seu favor nos termos dos art. 25º, 26º e 28º da Lei das Finanças Regionais; além de terem ao seu dispor o poder de reduzir os impostos que existem em todo o país para as regiões autónomas (art. 59º), criarem impostos desde que não seja sobre matéria já coberta pelo imposto nacional e criar e fixar taxas (art. 55º e ss). As transferências orçamentais de que beneficiam estão elencadas no art. 48º, em coerência com o princípio da solidariedade e da prossecução do interesse público. A nível de receitas patrimoniais beneficiam de um regime semelhante ao das autarquias locais, ou seja, têm património próprio que está à sua disponibilidade para usufruto. Também se assemelham às autarquias locais a nível de receitas creditícias, podendo contrair quer divida pública fundada como flutuante: a primeira pensada para investimentos ou para
Mariana Silva Bento - 140120525
cobrir dividas de anos anteriores e a segunda para socorrer necessidades da tesouraria. Os limites ao endividamento estão dispostos nos art. 40º e 45º. Por fim conclui-se que, muito embora a independência orçamental característica das finanças locais e regionais, existe uma necessidade de encarar as contas públicas como um todo, quer em concordância com o princípio da solidariedade, como com o da estabilidade orçamental.
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