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Comunicação Social UESC – Prof. Eliana Albuquerque


LTA 765 (Rádio) e LTA 109 (Of. de Redação para Rádio)

Texto 4 – O ROTEIRO E A EDIÇÃO

Roteiro radiofônico – o mapa da mina


O roteiro (ou script) é fundamental para a produção dos programas de rádio porque
é através do roteiro que a produção planeja e interliga o trabalho de repórteres,
sonoplastas, locutores e, às vezes, inserções do público ao vivo ou não. É onde está dito
quem, o que e em que ordem entra no ar. É o caminho por onde o programa vai
caminhar do princípio ao seu final. Por isso, quanto melhor e mais completo for o roteiro,
mais tranquilo correrá o programa.
A exceção fica nos programas ao vivo, que são produzidos a partir de espelho e
fichas de produção, como no caso do radiojornalismo.

O texto no roteiro
Para distinguir a parte do roteiro que é destinada à locução da outra, destinada à
técnica, foi convencionado usar letras maiúsculas sublinhadas para o que se refere à
técnica, com o resto do roteiro seguindo as normas gerais de redação radiofônica.
Para programas com apenas um locutor, geralmente se usa textos em blocos de,
no máximo, cinco linhas. Com dois ou três locutores, fragmentar o texto na forma
manchetada dá mais velocidade à locução. Em qualquer dos casos, é importante
lembrar das recomendações e regras gerais;

Sinalizando as interpretações
Para dar ênfase às palavras, deve ser usado o sublinhado ou as aspas; para dizer
como quer a interpretação de determinada fala, o correto é usar os parêntesis.

Marcando a sonoplastia
Sonoplastia é o estudo, a seleção e a aplicação de recursos sonoros capazes de
movimentar um programa radiofônico, despertando a atenção e a emoção do ouvinte. É
através da música e dos efeitos sonoros que o rádio acorda os sentimentos e as
sensações, muitas vezes inconscientes. Isso pode fazer com que o ouvinte mantenha ou
não ligado o aparelho de rádio e escolha ou não o podcast. Por isso as sonoras são tão
importante na produção radiofônica. Vamos conhecer algumas delas:
1. Característica é a música que inicia ou termina o programa ou um bloco do
programa;
2. Cortina é um pequeno trecho musical que separa uma parte do programa de
outras. É usada para marcar a transmissão de comentários e editoriais, entre outros;
3. Vinheta é geralmente uma frase musicada, gravada com antecedência e que
identifica uma emissora, um apresentador, um programa ou até um patrocinador. É uma
espécie de “logomarca oral”;
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4. BG (ou beckground) é o mesmo que fundo musical. Geralmente é uma música


instrumental, colocada como pano de fundo para a leitura do locutor. Pode dar
profundidade e reflexividade à locução;
5. Efeito sonoro é um termo usado para designar sons produzidos por objetos a
fim de parecer outros sons. Ex: batida de carro, canto de galo, barulho de mar. A
finalidade é fazer com que o ouvinte “veja” o quadro que está sendo descrito através da
oralidade;
6. Fusão é a mistura de duas coisas. No caso, o som original vai diminuindo
enquanto uma nova sonora vai aparecendo na transmissão;
7. Sobreposição é a transmissão simultânea de dois ou mais sons como um BG e
um efeito sonoro, por exemplo;
8. Entrevista ou ilustração é a fala de alguém, de alguma fonte, em forma de
perguntas e respostas ou não. Podem ser gravadas ou ao vivo. Nos dois casos, é
necessário indicar no roteiro com a deixa inicial (DI) e deixa final (DF), como vimos
antes. Se for gravada, indique também qual o tipo de fita usada (fita cassete, rolo ou
MD) e as emendas necessárias para a edição do material;
9. Música você sabe o que é. No roteiro precisa estar indicado o nome e o local
onde foi acessado. No final da transmissão, o ouvinte precisa saber o nome da música e
do intérprete. Portanto, isto precisa ser dito.
Veja dois exemplos de roteiro:

Exemplo 1: Roteiro para pequeno documentário, com dramatizações.

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Téc. CARACTERÍSTICA – CD 5 – FAIXA 3 - RODA 15” E VAI A BG

Sara Histórias que ninguém mais conta – segunda parte – O dia que o peixe boi entrou
na Lagoa Encantada./

Téc. SOBE, RODA 10” E VAI A BG – CORTA E EMENDA COM CD 1 DE EFEITOS


SONOROS – FAIXA 2 – CORTA EM 20”.

Paulo A noite começa na Lagoa Encantada./ O barulho dos grilos e a lua cheia dão ao

ar um clima de mistério./ Maneca olha a imensidão de água apurando os olhos./

(?)Quem sabe não vê uma sereia?/

Téc. ENTRA CD EGBERTO GISMONTE – FAIXA 2 – RODA 10” E VAI A BG

Dani Sereias encantadas, que levam pescadores para o fundo da Lagoa fazem parte

do imaginário popular local./

(continua)
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Téc. SOBE BG RODA 10” E CORTA - EMENDA COM CD 2 DE EFEITOS SONOROS –


FAIXA 5 – CORTA EM 5”.

Paulo (?!) Que é aquilo?! , pergunta Maneca em voz alta./ (?) Será uma sereia que veio
me buscar?/

Alan (!) Sereias não pulam daquele jeito!/ Responde João que chegava naquela hora./
(!)Aquilo deve ser um peixão dos bons!, diz ele.

Dani O vulto brilhante continuava saltando nervosamente, como se quisesse chamar

atenção./

Téc. RODA CD 2 DE EFEITOS SONOROS – FAIXA 3 – RODA 5” E VAI A BG.

SOBREPÕE COM EFEITO SONORO DE ÁGUA AGITADA E SUSPENSE

- RODA 5” E CORTA

Sara Não saia daí. Depois do intervalo comercial você vai ver o que acontece nas.../

Téc. CARACTERÍSTICA – CD 5 – FAIXA 3 - RODA 15” E VAI A BG

Sara Histórias que ninguém mais conta – segunda parte – O dia que o peixe boi entrou
na Lagoa Encantada./

Téc. RODA CD 12 – FAIXA 1 - COMERCIAL 30” – CASA DO PESCADOR – EMENDA


COM FAIXA 5 – COMERCIAL 15” – ESTÚDIO S – EMENDA COM FAIXA 8 –
COMERCIAL 15” – SUPERMERCADO BAM BAM E CORTA RODA

CARACTERÍSTICA – CD 5 – FAIXA 3 - RODA 15” E VAI A BG

Sara Estamos de volta com as histórias que ninguém mais conta – segunda parte – O dia
que o peixe boi entrou na Lagoa Encantada./
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Exemplo 2: programete musical

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Téc. CARACTERÍSTICA – RODA CD COLETÂNEA DO RAUL – FAIXA 7 RODA 15’ E VAI

A BG

Loc 1 Raul Seixas./ O dia em que a terra parou./

Loc 2 A década de setenta marca a afirmação do por rock nacional./ Raul Seixas é um

dos principais expoentes dessa época./

Téc. CARACTERÍSTICA – SOBE, RODA 15’E VAI A BG – FUNDE COM FUNDO

MUSICAL – CD POP ROCK NACIONAL – FAIXA 1 – RODA 10’E VAI A BG

Loc 1 É um momento em que o Brasil vive acentuada estagnação econômica./

Loc 2 O milagre brasileiro é um fracasso./ A miséria e o desemprego crescem

rapidamente./ É a desmoralização do projeto econômico da ditadura./

Loc 1 É também momento de intensa luta pelas liberdades democráticas, quando

a criatividade dos artistas se coloca a serviço da causa social./

Loc 2 A música alternativa e de protesto ganha força./ Temas polêmicos fazem parte das

novas letras e o público assume seu descontentamento diante da hipocrisia política

e social./

Loc 1 Raul Seixas, Geraldo Vandré, Gilberto Gil e Chico Buarque se tornam referenciais

para a juventude./

Téc. FUNDO MUSICAL SOBE E RODA 5’- VAI A BG E CORTA – EMENDA COM CD

COLETÂNEA RAUL SEIXAS – FAIXA 5 – 1’33” CD COLETÂNEA CHICO BUARQUE –

FAIXA 2 – 2’15

Loc 1 Você ouviu Gitá, de Raul Seixas./ Depois Construção, de Chico Buarque./ Duas

músicas sempre atuais./

Téc. CARACTERÍSTICA – SOBE, RODA 15” – VAI A BG E CORTA


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Espelho e fichas de produção


Espelho é um esboço do programa (ao vivo ou gravado), onde se “desenha” as
inserções de entrevistas e reportagens, com horários previamente definidos por bloco de
assunto. Para cada programa, o produtor pode ainda trabalhar com fichas onde consta o
nome do programa, a data, o produtor, o entrevistado, assunto, informações básicas
sobre o assunto a ser tratado e observações importantes.
São planejamentos específicos de programas radiojornalisticos e nada comuns
em outros tipos de programas como os de radiodramaturgia, por exemplo.
Modelos de espelho e fichas de produção podem ser encontrados no livro de
Ferraretto (2000, p. 304 e 305)

A edição
A edição é o caminho para o sucesso ou fracasso de qualquer veículo, seja ele
rádio, TV ou jornal. É a edição quem dá personalidade à informação. Apara arestas,
destaca ou minimiza impactos, faz uma leitura permanente da vontade do público e a ela
deve priorizar porque é justamente ai que está plantado o segredo do sucesso.
Em rádio, a edição deve procurar dar clareza, concisão e coerência às matérias
gravadas, além de vibração. Isso requer arte e técnica.
Segundo Porchat (1991),

Editar em rádio significa montar uma matéria após selecionar,


hierarquizar e emendar trechos da gravação. Como um artesão, o editor
deve limpar a matéria, eliminando o que for desnecessário para seu
entendimento. E dar brilho, redigindo um bom texto que a torne coerente
e interessante (PORCHAT, ibidem, p.74).

Alguns cuidados devem ser observados na hora de fazer a edição:


1. Na hora do corte, atenção para não mutilar o trabalho e modificar o sentido do
que ele quis transmitir. Às vezes, o corte de uma única palavra pode alterar todo o
sentido de um texto.
2. O mesmo princípio se aplica às entrevistas. Antes de tesourar, é preciso escutar
tudo, compreender o que o entrevistado quis dizer e, só depois, se deve fazer os cortes.
Assim não haverá risco de modificar o sentido do que foi dito.
3. Quando emendar um texto em outro, é importante observar se há conexão
entre eles. Se não houver, é necessário que se faça a costura, ou seja, redija um texto
de ligação entre a ideia anterior e a seguinte. É preciso haver coerência entre os dois,
dando ao texto final uma sequência lógica e a aparência de um todo.

Dica: Se estiver com dúvidas na hora de editar qualquer matéria jornalistica,


consulte os repórteres que a fizeram. Eles estiveram no local, viram os fatos de
perto, recolheram os dados. Sabem melhor do que você o que pode ou não ser
descartado.
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Bibliografia:
1. FERRARETTO, Luiz Artur. Rádio: o veículo, a história e a técnica. Porto Alegre:
Sagra-Luzzatto, 2000;

2. JOSÉ, Carmen Lucia e SERGL, Marcos Julio. Voz e Roteiros Radiofônicos. SP:
Paulus, 2015

3. KOPPLIN, Elisa e FERRARETTO, Luiz Artur. Técnica de Redação Radiofônica.


Porto Alegre, Sagra-Luzzatto, 1992;

4. MCLEISH, Robert. Produção de Rádio - um guia abrangente da produção


radiofônica. SP: Summus, 2001

5. MEDITSCH, Eduardo (org). Rádio e Pânico: a Guerra dos Mundos 60 anos


depois. Florianópolis: Ed. Insular, 1998;

6. ORTRIWANO, Gisela Swetlana. A Informação no Rádio. São Paulo, Summus,


1985;

7. PORCHAT, Maria Elisa. Manual de Radiojornalismo da Jovem Pan. São Paulo,


Ática, 1991.

8. VIGIL, José Ignácio López. Manual urgente para radialistas apaixonados. 2ª ed.
SP: Paulinas, 2004.

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