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Nome: Shulausdun Idade: 30

Altura: 230cm Peso: 120.3kg

Eu nasci há muitos verões, quando a vida ainda era diferente, isto é, quando a verdade ainda
não me havia sido mostrada, cresci em uma vila simples com pessoas simples, nós tínhamos pouco,
mas isso era o que nos bastava, vivíamos eu e meus irmãos, nossa mãe faleceu ao nascimento, ao meu
nascimento, o que gerou um ressentimento no coração não só de meu Pai, como também de meus
irmãos, fui deixado a sorte, vivendo cada dia com pouca ou nenhuma ajuda, sobrevivendo um dia após
o outro. Como algumas linhas acima, a vila era simples, casas construídas como paredes labirínticas,
uma conectada à outra, organizadas como um literal labirinto. Eu dormia em uma punhado de palha no
chão, não que isso incomodasse, a terra sempre foi aconchegante, o que sobrava de comida eu
conseguia comer, ou então eu tinha que dividir com os animais, assim a fraqueza tomou conta de minha
existência.
Na alvorada de meus passos, as trilhas antes repetidas se tornaram fracas memórias em uma
mente que apodrecia, pouco ou quase nada eu reconhecia as ruas pelo qual passava, as cintilas
perambulavam como se nada mudasse e, quando próximas se voltavam a mim, mas não me
reconheciam, talvez eu já não fosse tão diferente de um animal, ou se fosse, eu poderia ser pior do que
qualquer um deles. Uma vez ou outra entre minhas inexistências alguém me deixava algo, mas pouco
eu conseguia fazer e, cada vez mais o que ante fui deixava de existir, como um pequeno fragmento de
uma ideia que não foi desenvolvida. As vezes eu sentia o calor do sol em meu rosto, outras vezes o frio
da noite, mas no final eu só tinha a ideia de minha existência e o que restava dela. Na alvorada do que
pouco restava de mim, decidi sair de onde estava, seja lá onde fosse que eu estivesse, em meus fracos
passos conheci o nada, não que já não fossemos familiares, mas agora nada nos impedia de nos
unirmos por total, caminhei o quanto meus pés me carregaram, depois me arrastei o quanto meus
braços me aguentavam, até então perecer sob o sol, tamanho foi o calor, que as escamas em meu corpo
começaram a escurecer, uma após a outra, eu vi em meus momentos inexistentes a falsa ilusão do que
jamais tive, o aconchego que somente uma pessoa pode proporcionar.
Tão quente, é tão quente sob o sol, já não sei mais o que sou ou onde estou, não sei mais quem
sou, tudo aprece tão estranho, me sinto tão fraco, talvez assim seja melhor, sei que minha família tem
linhagem de safírica, todos os meus irmão e meu pai são assim, mas eu já deixeis isso para trás há
muito tempo. Algumas vezes eu noto algum animal perto, outras vezes longe, não que eu tivesse a
atenção dele, mas ele estava sempre perto, era uma pequena criatura, ao se aproximar notei que era um
pequeno escorpião, seguindo sua trilha como se eu sequer estivesse em seu caminho. Ao cair da noite
eu o segui, o que antes era tão quenta agora era tão frio, eu senti minha escamas se partir, minha visão
ficou turva, a fraqueza era o que me restava.
No calor da terra queimada eu encontrei minha maldição, segui o escorpião até a encosta de
uma grande parede, uma montanha tão ingrime que parecia estar inclinando para cair, nessa parede uma
pequena fenda, indicando um caminho para dentro, o calor que emanava daquela fenda era diferente,
ele não me assustava ou tentava me espantar, parecia me chamar. Caminhei mais adentro no desespero
de encontrar algo que pudesse me ajudar, tanta foi minha ingenuidade, que até mesmo meus
pensamentos riram de mim. No interior da caverna repousa um cadáver, uma ossada quase seca, ao me
aproximar mais eu pude ouvir, os agonizantes rugidos em minha cabeça:

Drun zu'u tol which zu'u lack, ahrk zu'u fent ofan wah hi dii sahrot

Aquelas palavras ecoaram pelo que pareceram milhares de anos em minha mente e, quando
estava a novamente me tornando inexistente eu comecei a entender o que aquilo significava, a carcaça
queria o que ela não tinha, ela não tinha nem carne, nem vida, apenas a ideia de que ela existia. Em
meu desespero, sem ter o que entregar à criatura, sacrifiquei o pequeno escorpião que estava ao meu
lado, eu ouvi a carcaça rir em desdem, mas ela também pareceu intrigada. Senti a vida que me deixava
retornar mais forte do que antes, a carcaça do escorpião, que agora chamuscada se tornou uma extensão
da maldição que foi pregada em meu cerne, uma lâmina negra com formato semelhante a uma garra.
Aceitei o que me foi oferecido, estava mais vivo do jamais estive, voltei para minha vila assim que
pude e, ao chegar lá notei uma parte da verdade, nada de bom sobrava a mim, o que antes havia sido
tirado de mim, agora me foi negado totalmente, a lâmina que eu carregava parecia ser um agouro do
nada que eu tinha, os outros moradores da vila se tornaram agressivos perto de mim, então eu fugi,
corri para longe, com alguns no meu rastro.
Me afastei o quanto pude, quando me tomei por conta, me encontrei em uma caverna escura,
tão isolado quanto antes, ainda conseguia ver, talvez isso fosse um dos presentes que a carcaça me deu,
eu não sei onde estou, mas isso não importa, estou só, como sempre, daqui em diante, volto a fazer o
que nunca deixei de fazer, sobrevivendo um dia após o outro.

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