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COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL E DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR: TEORIA, PESQUISA E PRÁTICA View project
All content following this page was uploaded by Ana Maria Biavati Guimarães on 22 June 2021.
A liberdade costuma morar dentro dos livros. Neste, sem dúvida. Por essa razão, este
capítulo inicia-se com um trecho da música “Busca Vida” da banda de pop rock, brasileira, Os
Paralamas do Sucesso. Muitas canções apresentam eufemismo. Falam da realidade de uma
maneira suportável e apresentam caminhos para aliviar o fardo existencial.
Em “Busca vida”, o convite é para observar o céu, as estrelas, o Sol e os cometas.
Feito isso, é possível que, ainda que por instantes, o ouvinte esqueça a dor e a tristeza de
algum contexto vivido. Ao final das estrofes, fica claro que o sucesso profissional e os bens
materiais não foram suficientes para o bem-estar, segundo o compositor. Essa letra ganha a
nossa reflexão: alguém se identifica?
O bem-estar, também compreendido como saúde mental, recebe cada vez mais atenção
na contemporaneidade. O estilo de vida das pessoas está mais dinâmico e menos atento ao
descanso e às pausas entre as atividades. A produtividade passou a ser um imperativo na vida
pessoal e profissional. Quanto mais uma pessoa está ocupada e resolvendo problemas,
1
Alusão ao título da obra de Roberto Almada, “O cansaço dos bons: a logoterapia como alternativa ao desgaste
profissional”.
2
Mestra em Educação (Universidade Federal de Lavras), Especialista em Gestão de Pessoas (Universidade
Federal de Itajubá), Graduada em Filosofia e Psicologia (Universidade Federal de São João del-Rei), Psicóloga
Clínica, Docente do Centro Universitário de Lavras e Palestrante. E-mail: anabiavati@yahoo.com.br
aparentemente, mais ativa e vitalizada ela está. (ALMADA, 2019)
Diante dessa realidade, a saúde mental dos trabalhadores, comumente com jornadas
laborais duplas ou triplas, é uma das preocupações das organizações de trabalho e da vida em
sociedade. Além delas, a atenção às políticas públicas e os estudos na área da Medicina do
Trabalho e da Psicologia Clínica e Organizacional tornam-se cada vez mais pertinentes.
O desgaste físico e psicológico, proveniente do esforço demasiado no âmbito
profissional, é denominado por especialistas da área de saúde como Síndrome de Burnout.
Esse quadro de adoecimento apresenta múltiplas e cumulativas causas e consequências na
vida pessoal e na falta de sentido atribuído ao trabalho e, até mesmo, acarreta afastamentos e
pedido de demissões. (BUSCATTO et al, 2018)
Nota-se uma vasta publicação científica sobre a Síndrome de Burnout, no Brasil, a
partir da década de 2010. Periódicos nacionais e internacionais trazem relatos de pesquisas,
estudo de casos e, principalmente, orientações aos profissionais da saúde em relação às
melhores terapias. O diagnóstico, o tratamento e o acompanhamento dos trabalhadores
acometidos pela síndrome podem ser estruturados de maneira consistente. E, não só nas
comunidades científicas, mas em toda a sociedade, perpassando por clínicas, hospitais, postos
de saúde e programas institucionais de prevenção ao esgotamento laboral.
Ao se debruçar sobre as possíveis causas desse desgaste proveniente do trabalho,
percebe-se que os entraves no relacionamento interpessoal podem resultar em déficits de
habilidades sociais. Esse desprovimento implica dificuldade de enfrentamento de alguns
desafios e resolução de problemas cotidianos. Tal situação contribui para o desenvolvimento
de diversos transtornos psicológicos, como é o caso da Síndrome de Burnout, visto que não há
um ajustamento laboral esperado. (LUCCA, 2021)
O esgotamento profissional traz consequências à saúde e ao desempenho dos
trabalhadores. O tipo e o nível de desgaste a que os profissionais estão expostos são objeto de
atenção, pois uma vez não identificado e devidamente tratado, o burnout pode resultar em
prejuízos ao funcionamento adequado do aparelho psíquico. Em alguns casos, culminando em
morbidades mentais mais graves do que a própria síndrome, tal como a perda completa de
motivação para a vida em um quadro de depressão crônico e severo.
Com base nessas considerações, este capítulo versa sobre a Síndrome de Burnout e a
relação dela com a busca de sentido para a vida. De uma outra maneira, em que medida o
desgaste profissional contribui para rebuscar motivos para viver.
OLHANDO DE PERTO PARA A SÍNDROME DE BURNOUT
Diante dessa constatação, são necessárias alternativas para balizar a relação entre a
pessoa e o trabalho. Além disso, as organizações poderão evoluir no sentido de reconhecer
esse esforço além do que é pedido ao trabalhador, e criar estratégias de prevenção e
enfrentamento do burnout.
A Psicologia atenta às relações laborais tem o papel de perceber tal realidade e
apresentar proposições no sentido de minimizar o sofrimento no e por causa do trabalho. A
Logoterapia é uma dessas alternativas e outras várias abordagens dentro das escolas
psicológicas dão conta de compreender o fenômeno do burnout e apresentar terapias.
(ALMADA, 2019). São pensados caminhos que reconduzam os trabalhadores ao prazer
genuíno e autêntico em seus ambientes de trabalho. A respeito disso, Mendes (2008) reflete:
Percebe-se que as ideias acima levam à compreensão da proposta na qual a pessoa que
trabalha está inserida em um ambiente colaborativo. E tal lugar é composto por
relacionamentos e interação. Ele é psicodinâmico, pois leva em conta a tarefa, as pessoas, a
cultura organizacional e as relações entre todas essas dimensões.
Yves Clot foi um grande estudioso das relações de trabalho dentro da Psicologia e da
Psicanálise. Segundo ele, “o trabalho não é apenas uma tarefa. É uma atividade dirigida,
histórica e processual, ou melhor dizendo, uma atividade permanente de recriação de novas
formas de viver e se expressar.” (CLOT, 2006, p. 38)
A partir dessa citação, percebe-se que viver no trabalho consiste no sujeito poder
desenvolver sua criatividade. Portanto, o estilo laboral é a transformação que a pessoa
engendra utilizando seus recursos pessoais para atuar sobre a atividade real demonstrando
suas possibilidades, mas também limites.
Com toda essa gama de reflexões, percebe-se que refletir sobre como se origina a
Síndrome de Burnout é relevante e atual. O trabalho sempre fará parte da identidade humana
e, por isso, há de se evidenciar maneiras de se dedicar a ele, sem adoecer por ele. São muitos
os estudiosos, dos clássicos aos contemporâneos, e muitas são as áreas atentas a esse tema,
visto que dele discorrem muitas implicações, tais como qualidade de vida laboral, satisfação
no trabalho, produtividade sem esgotamento, respostas às demandas do mercado de trabalho,
dentre outras.
Quando um homem descobre que seu destino é sofrer, tem que ver neste sofrimento
uma tarefa sua e única. Mesmo diante do sofrimento, a pessoa precisa conquistar a
consciência de que ela é única e exclusiva em todo o cosmo-centro deste destino
sofrido. Ninguém pode assumir dela isso, e ninguém pode substituir a pessoa no
sofrimento. Mas na maneira como ela própria suporta este sofrimento está também a
possibilidade de uma vitória única e singular. Para nós, no campo de concentração,
nada disso era especulação inútil sobre a vida. Essas reflexões eram a única coisa
que ainda podia ajudar-nos, pois esses pensamentos não nos deixavam desesperar
quando não enxergávamos chance alguma de escapar com vida. O que nos
importava já não era mais a pergunta pelo sentido da vida como ela é tantas vezes
colocada, ingenuamente, referindo-se a nada mais do que a realização de um alvo
qualquer através de nossa produção criativa. O que nos importava era o objetivo da
vida naquela totalidade que incluiu a morte e assim não somente atribui sentido à
“vida”, mas também ao sofrimento e à morte. Este era o sentido pelo qual estávamos
lutando! (FRANKL, 2008, p. 47)
REFERENDANDO
DUMONT, L. Homo hierarchicus: o sistema das castas e suas implicações. São Paulo:
Editora da Universidade de São Paulo, 1992.
LUCCA, E. Habilidade social: uma questão de qualidade de vida. Psicologia: o portal dos
psicólogos. Disponível em https://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0224.pdf, acesso em
02/4/2021.
MASLACH, C.; SCHAUFELI, W.B.; LEITER, M.P. Job burnout. Revista de Psychology, v.
52, p. 397-422, 2001.