Você está na página 1de 14

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS


CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

RE-IDEOLOGIZAÇÃO VERSUS REALPOLITIK NA POLÍTICA EXTERNA DE


VLADIMIR PUTIN.

Giovanna Malavolta Ramello

São Paulo
2013
Giovanna Malavolta Ramello

RE-IDEOLOGIZAÇÃO VERSUS REALPOLITIK NA POLÍTICA EXTERNA DE


VLADIMIR PUTIN.

Pré-projeto de pesquisa apresentado como


exigência parcial para obtenção de nota na
disciplina de Sociologia II, do curso de Relações
Internacionais da Faculdade de Ciências Sociais,
ministrada pela Profa. Doutora Carla Cristina
Garcia.

São Paulo
2013
SUMÁRIO

1. RESUMO.............................................................................................................

2. JUSTIFICATIVA.................................................................................................5

3. OBJETIVOS.....................................................................................................10

4. METODOLOGIA...............................................................................................11

5. CRONOGRAMA..............................................................................................12

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................13

7. BIBLIOGRAFIA GERAL...................................................................................14
1. RESUMO

O fim da União Soviética representou o fim do contexto bipolar que se


instalara no mundo desde o fim da Segunda Guerra Mundial, deixando as
repúblicas que a formava desprovidas do aparato ideológico que norteava suas
políticas, considerando que não correspondiam mais ao mundo multipolar que
estava surgindo.
Esse estudo analisará o modo como a Federação Russa, sob o comando
do presidente Vladimir Putin no período de 2000 a 2008, lida com a retomada
do papel de ator influente no cenário internacional enquanto busca uma nova
identidade que sustentará e conduzirá sua política externa.

Palavras-chave: Rússia, Vladimir Putin, política externa, identidade.


2. JUSTIFICATIVA

O contexto bipolar, que por 40 anos determinou o modo como eram


conduzidas as políticas internas e externas dos grandes polos de poder da
época, teve como determinante em seu fim o colapso do regime soviético. Um
país como a União Soviética, por exemplo, desde o governo de Josef Stalin viu
sua economia ser militarmente direcionada, com massivos investimentos nos
setores bélicos, de tecnologia militar e aeroespacial, e indústria pesada, bem
como viu sua política ser dominada por generais e veteranos de guerra, além
de corroer-se internamente devido às condutas burocráticas e corruptas.
Conduzidas por Mikhail Gorbachev, as transformações políticas e econômicas
propostas através da Perestroika e da Glasnost não foram suficientes para
estabilizar a decadente estrutura soviética e fazer perdurar o legado desta no
curso da história. Apesar de involuntariamente ter conduzido à dissolução da
União Soviética, essas propostas tampouco conseguiram garantir uma
transição amena do modelo político, econômico e social soviético à incógnita
estrutural que viria a ser a Federação Russa ao fim de 1991 após a queda do
regime estabelecido há 74 anos. Com a renúncia de Mikhail Gorbachev à
presidência da URSS em 25 de dezembro de 1991 foi reconhecido o fim do
regime soviético e o reaparecimento de diversas repúblicas que antes o
compunha.

Desde o início dos anos 90, a Federação Russa, agora independente


luta para encontrar-se na configuração mundial do pós Guerra Fria, se
desfazendo das políticas que compõem seu legado, que não mais fazem
sentido no contexto mundial que após a queda da União Soviética se
determinou, não mais como bipolar, mas como multipolar. O principal problema
enfrentado é a constituição de uma nova ideologia que norteará a Rússia a
buscar seu papel de nação influente na política mundial, esse vácuo ideológico
deixado pela queda do Marxismo-Leninismo apresenta-se como um problema
ao serem determinados os princípios da nova posição russa frente ao mundo
como apontado por Margot Light, “The difficulty of conceptualizing foreign policy
without the aid of a pervasive ideology was exacerbated by the identity crisis

5
that occurred in Russia following the disintegration of the USSR.” 1(LIGHT,
2002, p. 43).

O governo de Boris Yeltsin foi o primeiro a ter de lidar com as


dificuldades que a falta de um guia de ação – mesmo que não ideológico –
trouxeram à definição de uma política externa clara e sólida, principalmente
sobre a identidade russa e o contexto que os cercava, como notado por LO
(2002),

In the absence of any clear sense of the national good, the conduct of
external relations reflected the dominant reality of the times: the
volatile interplay between generally opposing – but occasionally allied
– influences and interests. The product of this fluid interaction was a
foreign policy rich in expediency, but with little unifying logic,
consistency or even continuity.2(LO, 2002, p. 6)

A política externa russa sob o governo Yeltsin fora dispersa e pouco


eficiente, não tendo um norteamento politicamente definido e por encontrar-se
deslocada quanto ao contexto em que se encontrava, não pode efetivamente
trazer avanços produtivos no que concerne à exposição russa no cenário
mundial da época.

Considera-se a fragmentada política interna russa um dos fatores que


determinaram o curso das ações russas no contexto internacional,
principalmente devido à falta de uma identidade que conciliasse os
antagonismos do funcionamento político russo e a não adequação ao mundo
pós Guerra Fria, levando à politização da política externa e tornando a Ad hoc
e reativa, de modo que os fatores internos foram cruciais nas decisões
externas. Montada sobre mitos e sobre a residual visão de ‘zero-sum’, balanças
de poder e esferas de influência, procurava demonstrar a Rússia como uma
nação cooperativa, multipolar e multilateral, geopoliticamente balanceada e

1
A dificuldade em conceituar a política externa sem a ajuda de uma ideologia que estivesse
infiltrada foi agravada pela crise de identidade que acometeu a Rússia após a desintegração da
URSS. (tradução livre)
2
Na falta de uma noção clara de um interesse nacional, a conduta das relações exteriores
refletiu a dominante realidade dos tempos: a volátil interação entre geralmente opostos – mas
ocasionalmente aliados – influências e interesses. O produto dessa fluida interação foi uma
política externa bastante conveniente mas com pouca lógica unificante, consistência ou
continuidade. (tradução livre)
6
politicamente coerente através de documentos emitidos pelo Kremlin como o
Foreign Policy Concept, o National Security Concept e a Military Doctrine. O
ocidente também exerceu papel notório na concepção da política externa russa
no período de Boris Yeltsin, revelando-a como ocidentalizada, mas de forma
alguma pró-ocidente, tendo nas ações americanas no cenário mundial um
ponto de referência para as suas próprias, sendo nas políticas de
desarmamento estratégico, relações com o FMI, determinação do nível de
comprometimento russo em nível regional e mundial ou na percepção de uma
identidade própria.

A chegada de um novo líder político com a virada do século trouxe novas


previsões sobre os contornos que seriam dados à Rússia de modo geral.
Baseando-se no histórico de Vladimir Putin, fora atribuída a ele uma posição
quanto à política externa que difere daquela sob o comando de Boris Yeltsin no
que tange à busca de maior aproximação com o ocidente, mas ao mesmo
tempo definindo exatamente quais são seus interesses e suas concessões,
como dito por Sokov (2000):

Putin is likely to maneuver Russia into a position where the West will have to
choose between admitting Russia into the Western community of nations "as
is" or isolating it, and paying the price. The central challenge rests with the
words "as is." Some of Putin's policies will be seen by the West as positive,
others as negative, but he will refuse to change the latter, and the West will
have to decide which component is more important. 3(SOKOV, 2000, p. 1)

Durante o período em que Putin esteve no poder, sua política externa


mostrou-se, no plano geral, similar à de Yeltsin, no entanto mais unida,
coordenada e assertiva. O mito criado em torno da multipolaridade,
multilateralismo e ação geograficamente balanceada permanece marcante,
bem como a mentalidade geopolítica da elite russa atuante e o oeste
centrismo, mas recebem uma nova abordagem, denotando o que talvez fosse
ainda a não adoção de uma filosofia particular em um primeiro momento.

3
Putin tende a manobrar a Rússia e colocá-la em uma posição em que o Ocidente terá que
escolher entre admitir a Rússia como ela é na comunidade de nações ocidentais ou isolá-la e
pagar um preço por isso. O principal desafio se encontra em “como ela é”. Algumas das
políticas de Putin serão vistas pelo Ocidente como positivas, outras como negativas, mas ele
se recusará a muda-las, e o Ocidente terá que decidir qual componente é mais importante.
(tradução livre)
7
Vladimir Putin buscou impulsionar o status russo como um ator mundial,
atribuindo a Rússia muito mais do que um papel subordinado nas negociações
internacionais apesar de muito da política adotada se basear nos imperativos
daquela que fora exercida nos anos 90. Os imperativos estratégicos condutores
foram: a definição da Rússia como potência nuclear, demonstração de grande
poder e influência no cenário internacional e estabelecer uma hegemonia
política, militar e econômica sobre a região anteriormente pertencente ao
comando da União Soviética, recuperando o controle sobre os recursos que
foram perdidos em sua dissolução. O caráter doméstico da política de Putin
exerce agora muito mais influência sobre as atuações internacionais,
especialmente quanto à retomada do comando da economia pelo estado,
principalmente do setor energético, a reafirmação do controle sobre as políticas
nacionais e a mídia.

Essa tríade que compôs a base da política externa de Vladimir Putin tem
nas ações russas ao longo desses oito anos sua aplicação e efetivação. A
manutenção do poder militar e nuclear é evidenciada através dos gastos do
governo que superam a marca de bilhões de rublos, exportação de tecnologia
nuclear para países como Irã e China, a busca de paridade nuclear com os
Estados Unidos através de programas de redução de arsenais atômicos e
oposição a qualquer atividade por parte da OTAN e do ocidente que venha a
enfraquecer essa paridade. A aspiração à elevação do status russo a potência
determinante no cenário internacional mostra-se na impermeabilidade às
vontades e desejos americanos, principalmente por meio do uso do veto no
Conselho de Segurança das Nações Unidas às resoluções americanas e o
estabelecimento de laços com antigos aliados e clientes soviéticos. Ao
aprofundar a integração entre os países que compunham a URSS, Moscou
pretende atuar fortemente sobre eles, controlando as escolhas econômicas e
domésticas desses países, mas vetando qualquer parte de suas políticas
externas que não fosse agradável, como visto quando a Geórgia pretendeu
fazer parte da OTAN ou quando a Ucrânia quis tornar-se membro da União
Europeia e teve seu governo desestabilizado por Moscou.4

4
ARON, Leon. The Putin doctrine: Russia’s quest to rebuild the soviet state, Foreign Affairs.
2013
8
Mostra-se evidente o caráter parcialmente autoritário da política russa
durante o período do governo de Vladimir Putin, compreendido pela noção de
Besieged Fortress5, montando uma propaganda do regime como este tendo o
mundo contra ele e assim legitimando a atitude agressiva do governo por tentar
proteger a Rússia desses perigos externos. De forma geral, a política externa
russa de Vladimir Putin pouco se alterou quanto à de Boris Yeltsin, tendo os
mesmos norteamentos estratégicos e geopolíticos, mas buscando recuperar a
Rússia dos problemas criados desde 1991. Vladimir Putin preocupou-se menos
em criar uma identidade que ditasse os caminhos que a Rússia deveria seguir
e pautou-se mais nos erros e acertos de Boris Yeltsin para constituir uma
política externa que fosse sua própria, perseguindo o que fora escrito em seu
Foreign Policy Concept de maneira determinada que garantiu um relativo
sucesso em face da situação em que a Rússia se encontrava ao início de seu
governo.

A Rússia acaba, portanto, ao sentir falta de uma fonte ideológica


legitimadora de suas ações internas e principalmente externas e não estar
próxima de possuí-la, por recorrer a uma conduta mais prática e objetiva,
estabelecida quando determinado o agressor – ou aquele que represente
riscos políticos, econômicos ou geopolíticos – não tendo sustentação em si
mesma. As exigências práticas visando assegurar os interesses russos podem
ser traduzidas como Realpolitk6, mostrando-se por vezes uma opção de
atuação que cumpriu com as necessidades russas como nas intervenções
russas na Chechênia, Ucrânia e Kosovo.

5
Fortaleza sitiada.
6
Termo introduzido por Ludwig August Von Rochau designa a política que se baseia em
considerações práticas em detrimento de noções ideológicas. Henry Kissinger conceitua
Realpolitik como sendo “política externa baseadas em avaliações de poder e interesse
nacional”.
9
3. OBJETIVOS

a) Objetivos Gerais

A pesquisa tem como objetivo analisar a política externa russa no


período do primeiro e segundo mandato de Vladimir Putin como presidente
levando em consideração tanto o passado soviético quanto a política externa
adotada por Boris Yeltsin para determinar o que constituiu seus princípios,
evidenciados nos acontecimentos mundiais entre 2000 e 2008.

b) Objetivos Especificos

A partir dos documentos analisados, compreender os caminhos tomados


pela política externa russa e nela identificar traços que a identidade que a
norteia situa-se mais sobre a retomada ou aquisição de uma nova ideologia ou
sobre a execução da Realpolitik.

10
4. METODOLOGIA CIENTÍFICA

A metodologia empregada para atingir os objetivos propostos por esse


projeto será a leitura de livros e artigos referentes ao tema, análises de
especialistas e documentos emitidos pelo governo russo.

11
5. CRONOGRAMA DE TRABALHO (2013/2015)

Atividade/Períodos 1 2 3 4 5 6
3. Levantamento de
X
Literatura

2. Montagem do Projeto X X

3. Coleta de Dados X X X X

Atividade/Períodos 7 8 9 10 11 12

1. Coleta de Dados X X X

2. Elaboração Relatório Parcial X

Atividade/Períodos 13 14 15 16 17 18

1. Coleta de Dados X X

2. Tratamento dos Dados X X X

3. Elaboração Relatório Final X

4. Revisão do Texto X X

5. Entrega do Trabalho X

12
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

- LEON, Aron. The Putin doctrine: Russia’s quest to rebuild the Soviet
state. New York: Foreign Policy, 2013.
<http://www.foreignaffairs.com/articles/139049/leon-aron/the-putin-doctrine>
Acesso em: 28 mar. 2013.
- LIGHT, Margot. In search of an identity: Russian foreign policy and the
end of ideology, Journal of Communist Studies and Transition Politics, p. 42-59,
2003.
- LO, Bobo. Russian foreign policy in the post-soviet era: Reality, illusion
and mythmaking. New York: Palgrave Macmillan, p. 230, 2002.
- MAKARYCHEV, Andrey. Post-Soviet Realpolitik: Russian policy after
the Color Revolutions. Novgorod: PONARS Eurasia, n. 4, 4 p., 2008.
- MANKOFF, Jeffrey. Russian foreign policy: The return of great power
politics. Maryland: Rowman & Littlefield Publishers, 372 p., 2009.
- SOKOV, Nikolai. Foreign policy under Putin: Pro-western pragmatism
might be a greater challenge to the West. Program on new approaches to
russian security, p. 1-4.

13
7. BIBLIOGRAFIA À SER LIDA

- EASTER, Gerald M. The Russian state in the time of Putin. Boston:


Post-soviet affairs, n. 24, v. 3, p. 199-230, 2008.
- FACON, Isabelle. The modernisation of the Russian military: The
ambitions & ambiguities of Vladimir Putin. Shrivenham: Conflict Studies
Research Centre, 19 p., 2005.
- GUDKOV, Lev. The nature of ‘Putinism’. Moscow: Khodorkovsky
Readings, n. 6, p. 21-47, 2011.
- LO, Bobo. Vladimir Putin and the evolution of Russian foreign policy.
Chicago: Wiley, 176 p., 2008.
- STUERMER, Michael. Putin and the rise of Russia. New York: Pegasus
Books, 253 p., 2009.
- TSYGANKOV, Andrei. Russia’s foreign policy: Change and continuity in
national identity. Montreal: Rowman & Littlefield Publishers, 308 p., 2013.

14

Você também pode gostar