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De 22 a 26 de julho de 2013.
Política Externa
Painel/Avulso
Belo Horizonte
2013
RESUMO
Palavras – Chave
1
Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde
2
Crioulo falado na Guiné - Bissau, ou também como designado pelos guineenses (kriol) é uma língua
nacional e que faz ligação entre diferentes grupos étnicos pertencentes a sociedade da Guiné
Bisssau e que é majoritariamente falada nas cidades e principalmente no capital.
debate em torno da Política Externa da Guiné-Bissau e as relações internacionais referentes
ao contexto do desenvolvimento democrático, a partir do qual se verifica uma grande ligação
da política interna e da política externa. Se a política interna não for satisfatória,
repercussões negativas ocorrerão na política externa. No caso africano, de um modo geral,
pelo fato da política interna dos Estados não ser eficaz, a consequência acaba sendo uma
política externa ineficaz. Logo, isso dará “poder de barganha” aos países que se propõem a
se “solidarizar” com os organismos supracitados; uma análise dos modos de organização e
dos rearranjos institucionais estratégicos, por parte dos “neocolonizadores”, faz com que
haja o enfrentamento ideológico e pragmático entre nações distintas. Assim, pode-se
observar que o país, com menor poder econômico, acaba não tendo autonomia para
construir o seu caminho, sendo “puxado” de um lado para o outro. Um motivo que torna
mais relevante o desenvolvimento de um trabalho desta natureza está relacionado ao fato
de que, na África, não tem uma bibliografia sobre relações internacionais capaz de enfocar
as idiossincrasias do processo político internacional nos países da lusofonia - da Guiné-
Bissau – principalmente. Isso ocorre, porque são países, no qual existem poucos recursos
humanos relativos a profissionais burocráticos e ao quadro de cientistas sociais, com
destaque para a Ciência Política & Relações Internacionais; então, estudar essa realidade
possibilitará conhecer os entraves e os avanços no processo de desenvolvimento,
contribuindo tanto para o aumento da qualificação das instituições de pesquisas quanto para
o quadro dos docentes.
A independência tomada nos anos 70, e a abertura política nos anos 90, não
trouxeram o avanço e o progresso que se presumia, ou seja, não corresponderam a tantas
esperanças desesperadas. Os resultados foram limitados. Entretanto, são finalmente as
elites de quem se fala tão mal, desorientados pelos sonhos nascidos no mundo ocidental,
que querem desesperadamente retomar o lugar do antigo colonizador para esquecer os
séculos de humilhação e recuperar a sua identidade.
Desde o período colonial até depois da independência e fase atual, alguns governos
ocidentais e organismos internacionais, por meio da sua política externa de cooperação
internacional, vêm ampliando e diversificando sua agenda e projetos de cooperação
internacional em benefício do progresso econômico e social de países em desenvolvimento
de diferentes continentes, mediante a atuação de órgãos e entidades da Administração
Pública direta e indireta. Além da ampliação de ações de cooperação internacional, em
setores tradicionais da política externa - a agricultura, a saúde, a educação, a ciência, a
tecnologia e a defesa - novos setores vêm surgindo, tais como: gestão do desenvolvimento,
fortalecimento institucional, pesquisa econômica aplicada, minas e energia, desenvolvimento
sustentável, cultura e turismo, sendo que gradualmente adensam o espectro dessas
iniciativas.
Nesse sentido, a nossa pesquisa aborda a política externa de Guiné Bissau e, como
organismos internacionais impactaram frente a esse processo - com o intuito de buscar
subsídios ao fortalecimento das parceiras de cooperação de Portugal e Brasil com esse país
em desenvolvimento.
A Guiné Bissau e todos os outros países que formam a POLOP são nações cujas
economias e modelos de desenvolvimento integrado dependem da ajuda pública
internacional, na qual Portugal como país colonizador assume um papel importante como fio
condutor perante a União Europeia (UE), a OCDE (Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico) e outros centros de apoio internacional, papel que o Brasil
vem fazendo ultimamente. A seguir, abordaremos as crises e rupturas constitucionais na
Guiné Bissau nas duas últimas décadas.
Depois do fim do conflito político militar de 1998, ganho pela junta militar, que era
considerada rebelde, as forças armadas guineenses agiram de forma a se manter no poder
com muitas regalias, prestígio e apoio popular sem que as suas posições fossem claras em
relação à pretensão do poder político civil. Tentaram de várias formas manter ou controlar o
poder diretamente, o que não foi possível. A partir de então, os conflitos de poder
começaram a ficar mais visíveis e acirrados entre as chefias das forças armadas e o poder
executivo (presidentes e primeiros-ministros). Consoante Casimiro (2007, p. 2-3), “Primeiro
foi o „pacto de regime‟, que preconizava a manutenção dos militares no poder por período de
dez anos e reclamava um conjunto de regalias para os membros da Junta” Militar. Após
rejeitada pela sociedade civil e pela classe política, “uma nova proposta sob a Carta Magna
veio a tentar dar corpo a este conjunto de reivindicações, mas, tal como o documento que
precedeu, não teve eco favorável junto à classe política”. Embora tenha suscitado certa
indignação e mesmo uma onda de protestos junto aos meios políticos e da sociedade civil,
“parece que estes documentos tentavam consubstanciar e formalizar uma reivindicação que
correspondia às verdadeiras intenções” do levantamento político que ocorreu entre junho de
1998 e maio de 1999 pela “junta militar”, quando se deu início ao conflito armado, embora
corrompido por alguns círculos políticos infiltrados dentro da junta militar, “que viam nessas
medidas um meio para se aproveitarem do poder”. A recusa destas propostas, por parte dos
políticos e da sociedade civil, veio abrir uma brecha a uma atitude não legalista e menos
transparente, que se consubstanciou em atos que representam um verdadeiro atentado ao
princípio do respeito pelas instituições democráticas e autoridades legalmente instituídas e
também, talvez, uma ameaça à consolidação da democracia no país. Desde então, a Guiné-
Bissau não tem conseguido ainda uma estabilidade eficiente da paz e consequentemente há
uma imagem negativa na sua política externa.
Ainda no ano de 2003, o cenário político e a dinâmica das Forças Armadas
continuavam sendo os mesmos de 1998, levando a novo golpe de estado ao segundo
presidente eleito democraticamente, estabelecendo-se, depois, o Conselho Nacional de
Transição, que preparou as eleições legislativas de março de 2004, as quais resultaram na
vitória do PAIGC, quando Carlos Gomes Júnior assumiu o posto de primeiro-ministro,
ficando a eleição presidencial para junho de 2005, que, posteriormente, foi ganha por Nino
Vieira, após seus seis anos de exílio político em Portugal. Mas, antes disso, ainda em 06 de
outubro de 2004, um levantamento militar das Forças Armadas culminou com a morte do
general Veríssimo Correia Seabra, então CEMGFA, e conduziu à nomeação do general
Baptista Tagme Na Waie para o mesmo cargo de comandante do EMGFA. Devemos
lembrar que Nino Vieira só voltou ao país graças a intermediação realizada pelo apoio de
um grupo dominante dentro das forças armadas; naquela altura, entre eles, o próprio
general Baptista Tagme Na Waie, antigo inimigo de Nino, que usou de suas regalias de
força para passar por cima de todos os órgãos soberanos do país (Poder Executivo,
Assembleia Legislativa e poder Judiciário), fazendo valer as forças do comando do EMGFA.
Mas, mesmo assim, depois de sua volta à presidência da República, a situação geral
continuava a declinar-se em todos os setores (social, político e econômico). A relação do
poder executivo com as altas chefias das forças armadas permanecia (ainda mais) tensa, o
que demonstrava cada vez mais o crescimento das Forças Armadas, sua visibilidade e
influência na condução da política nacional do país. Depois de quase dois anos com um
presidente provisório, em 2005 foram realizadas eleições para presidente da República, as
quais foram muito polêmicas e contestadas em alguns pontos, entre eles a volta de Nino
Vieira e sua candidatura, sem que o mesmo fosse julgado pelos crimes dos quais fora
acusado por conta de conflito político militar de 07 de junho de 1998. Outra questão envolvia
o status político do também ex-presidente da República Kumba Yalá, que foi afastado em
2003 e perdeu seus direitos políticos. Como esperado, os resultados, novamente, não foram
tão diferentes, reconduzindo Nino Vieira à presidência da República.
Nesse mesmo cenário de conflito, em 2005, Nino Vieira, menos de um mês após ter
tomado posse no cargo de presidente da República (no dia 1.º de outubro de 2005)
destituiu, em 28 de outubro de 2005, por decreto, o governo do primeiro-ministro eleito
democraticamente do seu antigo partido do PAIGC, Carlos Gomes Júnior, o que evocou
tensões contínuas entre o governo e os outros órgãos de soberania e, por conseguinte, falta
de eficácia do Executivo. Em 02 de novembro de 2005, o presidente Nino Vieira nomeou
seu aliado político, Aristides Gomes - seu diretor de campanha eleitoral - ao posto de
primeiro-ministro e, seguidamente, nomeou o restante dos componentes do governo que, na
sua maioria, eram dissidentes do PAIGC (suspensos por terem apoiado a candidatura de
Nino Vieira contra a de Malam Bacai Sanhá, candidato oficial do PAIGC). Os partidos
políticos que apoiaram Nino Vieira no segundo turno das eleições presidenciais reuniram-se
no Fórum de Convergência para o Desenvolvimento. Em março de 2006, o Fórum, com a
maioria no Parlamento, aprovou o programa do governo e, em finais de julho, o orçamento
do estado para 2006 (CASIMIRO, s./d.). O cenário político, em janeiro de 2007, retornou
novamente ao centro das atenções, quando o comodoro Lamine Sanhá (antigo Chefe do
Estado Maior da Marinha) foi assassinado, o que causou altas sequelas em nível
institucional, geradas pelas divergências entre o presidente da República e o antigo
primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior. Como observamos acima, em todo esse ambiente
tenso e instável de nível institucional, desde junho de 1998, período da insurreição militar,
várias tentativas de estabilização político-institucional foram articuladas, mas nenhuma foi
suficiente a ponto de devolver Guiné-Bissau à paz; pelo contrário, a situação evoluiu cada
vez mais e levou aos fatos de março de 2009. Depois de quase quatro anos no poder, no
dia primeiro de março de 2009, o CEMGFA general Baptista Tagme Na Waie, antigo inimigo
e depois amigo político do presidente Nino Vieira, foi assassinado num atentado terrorista
dentro do gabinete do próprio Chefe de Estado, por motivos que até agora não foram
esclarecidos. Na manhã do dia seguinte, 02 de março do mesmo ano, mataram brutalmente,
a sangue frio, o presidente da República, Nino Vieira. Mesmo sem ser explicados os motivos
de tamanha brutalidade antidemocrática, não precisamos ir muito longe nas nossas análises
para entender esses dois assassinatos, uma vez que as pólvoras na Guiné-Bissau estavam
à beira de explodir, como explodiram. As tensões, rivalidades e lutas deram a entender que,
a qualquer momento, o que poderia acontecer, aconteceu e ainda acontece.
Antes do ocorrido, o presidente da Assembleia Nacional Popular assumiu
provisoriamente até as eleições de junho de 2009, ganhas por Malam Bacai Sanha. É é
interessante a análise desse último caso, pois, além de afastar o presidente, como nos
outros casos, nesse, especificamente, mataram o presidente juntamente com seu antigo
inimigo e depois amigo; isso ocorreu por conta dos interesses institucional e pessoal por
parte dos golpistas. Por outro lado, essa mesma cúpula militar, tal como analisamos e
muitos outros autores também, é o verdadeiro poder do país. Geralmente, quando há golpes
ou “afastam” o presidente da República, afirmam que os direitos democráticos serão
mantidos e que não se trata de um golpe de estado. No entanto, no nosso entender, isso
exprime uma série de apreensão para a estabilidade política do país.
Idealmente, entende-se que a Guiné-Bissau deveria articular de maneira rápida e
dinâmica suas próprias instituições públicas nacionais, para que essas mesmas instituições
somem esforços para buscar apoio internacional, força e consolidação da democracia, com
o objetivo de ultrapassar os obstáculos e assim proporcionar melhores condições de vida
para sua população. Mas, mesmo assim, dentro desse desenho atual do cenário político, as
forças armadas vêm instituindo seu poder e atropelando a Constituição e a democracia em
fase de consolidação.
Portanto, desde o levantamento militar de 1998/99, nenhum chefe conseguiu
permanecer naquele cargo por muito tempo. Geralmente, o conflito acaba com assassinato,
mas, mesmo assim, todos cobiçam esse cargo, já sabendo da futura consequência. Além do
mais, também podemos associar alguns desses últimos acontecimentos com o
aprofundamento das redes de tráfico de droga que assola as instituições e pessoas desde
2004, quando, a partir de então, alguns autores (como Cordeiro, Teixeira e Rizzi) levantaram
alguns suspeitos pertencentes aos altos escalões militares, que dominam facções dentro
das Forças Armadas e que as transformaram em milícias armadas, obedecendo a
interesses pessoais de alguns chefes militares. Como ressalta Rizzi (2010, p. 25), por
exemplo, “o Escritório das Nações Unidas para Droga e Crimes (UNODC) afirma que a
Guiné-Bissau está se tornando o mais novo Narco- -Estado mundial”. Segundo os estudos,
esse tráfico tende a aumentar a cada dia que passa e isso gera a instabilidade no país. Pois,
alguns membros do exército estão diretamente ligados a tal comércio ou facilidade de
movimentação, ao garantiram as passagens de barco e avião dentro do território nacional.
No ranking sobre Percepções da Corrupção da Transparência Internacional 2008, a
Guiné-Bissau ocupa a posição 158 de um total de 180 países, sendo também classificado
como “Not Free”. Nos últimos anos, a corrupção nas instituições públicas tem sido
generalizada por meio de ações de cartéis de drogas, muitas vezes, ou na maioria das
vezes infiltradas dentro das forças armadas, na administração civil e mesmo no poder
judiciário (RIZZI, 2010, p. 25).
Mas, esses problemas não são casos isolado da Guiné-Bissau; em quase todo o
continente a crise do estado e os graves problemas de estagnação política e democrática
contribuíram para desestabilizar e até minar as formas e os modos de controle político
estabelecidos durante os primeiros anos da democratização. Cardoso (s./d.) afirma que os
movimentos sociais, os grupos étnicos, bem como os movimentos religiosos, as
associações baseadas nas relações de gênero e as organizações profissionais, que não têm
grande peso na mobilização ou decisão política do país, estão sendo criados no sentido de
se tornarem uma resposta ao novo contexto político pelo qual o país está passando, uma
vez que estes grupos estão tentando redefinir seus interesses estratégicos, que são de
longo prazo e definem o lugar e o papel que cada grupo ocupa e joga no espaço político.
Todos os acontecimentos relatados anteriormente sobre o poder e o papel das forças
armadas, como afirma Cardoso (s./d.), são significantes e interessantes em si, mas são
apenas elementos de um processo mais profundo que o estado da Guiné-Bissau está
passando. Existem forças políticas importantes de novos atores sociais, que se
aproveitaram das mudanças de circunstâncias visando estabelecer bases sociais que os
habilitem com os novos poderes. Com isso, “vários grupos aproveitaram as oportunidades
proporcionadas pelos novos contextos, incluindo o desenvolvimento com actores
internacionais para organizar e projetar exigências, forçando o estado a reagir [...]” às novas
mudanças no cenário político. “Uma grande variedade de atores sociais e políticos tentaram
influenciar e jogar um papel na reconfiguração da nova ordem política em nome da
democracia. Neste contexto, os militares não ficaram de fora e nem devem ser vistos como
[...]” estranhos ou diferentes, nessas perspectivas (CARDOSO, s./d).
A partir disso, percebemos que as instituições públicas guineenses precisam ser
mais fortalecidas, isto é, fazê-las funcionar de forma estruturada e unificadamente sólida, o
que pode resultar numa democracia mais efetiva, do ponto de vista local, podendo ajudar a
resolver os problemas sociais e políticos, respondendo às demandas necessárias, e
garantindo a lei constitucional, que seja capaz de moldar os comportamentos das forças
armadas e dos políticos diante do desafio da democracia - com base no respeito e
obediência à própria norma constitucional. Caso isso não aconteça, as forças armadas
tendem a subverter, frequentemente, a desordem e a violência política dentro do processo
em curso.
3
Nesse estudo estamos referindo a cooperação internacional como consequência direta da vontade
política de duas ou mais unidades políticas, que são os estados. A cooperação nas suas diversas
formas é um instrumento de realização da Política Externa, resultado da conjugação de vontades
políticas de Estados. Não é por acaso que o multilateralismo em matéria de ajuda ao
desenvolvimento tem dificuldades de conseguir maior espaço e mais recursos financeiros em
detrimento da cooperação bilateral. Acontece que a Política Externa dos Estados privilegia a
cooperação Bilateral através do qual é completamente soberana na realização dos seus objetivos
específicos em matéria de Política Externa.
4
A ajuda é um investimento na segurança nas suas diversas dimensões e na prosperidade
partilhada, como forma de evitar ou aliviar a partilha da desgraça. Ao criar condições para que as
pessoas e países pobres ultrapassem as barreiras da saúde, da educação e dos rendimentos que os
mantém na pobreza, a ajuda pode alargar os benefícios da integração mundial, ajudando a reduzir a
pobreza extrema e corrigir as profundas assimetrias de desenvolvimento que cada vez mais
ameaçam a segurança coletiva da comunidade internacional. Para a comunidade global, a ajuda
representa um mecanismo de imprimir a solidariedade humana e para alargar as oportunidades. Seja
motivada pelos direitos humanos, por valores religiosos, ou por sistemas éticos mais amplos, o papel
da ajuda na eliminação de pobreza extrema, da fome e das mortes (Relatório do desenvolvimento
humano 2005-PNUD)
capitalismo americano, a expansão do liberalismo ocidental e a globalização como força
motriz de novos arranjos, naquilo que Octavio Ianni (1997) chamou de o desafio de se
pensar a relação entre o local e o global. E, nesse diapasão, a globalização engendrou uma
nova realidade econômica marcada pelo movimento veloz dos fluxos financeiros, graças ao
uso articulado e sistemático da telemática e das técnicas de gestão da informação e do
conhecimento.
No inicio do século XXI, se verificam a emergência de um ciclo de enfraquecimento
das grandes potências associada à desconcentração dos poderes políticos e econômicos de
relevância global, que por sua vez alteram as bases da estrutura de poder internacionais,
favorecendo alguns países como China, Índia e Brasil no cenário externo, simultaneamente
nos sentidos social, político e econômico e que tem se voltado para alguns países da África,
no qual Guiné-Bissau faz parte. Mas, mesmo assim, ainda no caso dos países africanos, as
estratégias e prioridades da Política Externa desses estados modelaram as atuais
condicionalidades ( políticas, econômicas e mais recentes ambientais) nas políticas de
cooperação com países doadores como acima citada.
Disso resulta, portanto, o reconhecimento da importância de países como Brasil na
sua política nos grandes foros de tomada de decisão das políticas internacionais, como
afirmam os autores (CRUZ & SENNES, 2006, p.8):
A partir da análise acima, podemos pensar e indagar sobre o modo a partir do qual
as forças coexistentes no sistema político internacional podem moldar nos próximos anos o
sistema de governança internacional? Para alguns autores, isso já é uma realidade, e não
mais uma evidência, como lembra Cruz & Sennes (2006, p. 8), que diante desse cenário “a
primazia dos Estados Unidos na economia e na política mundiais se vê reduzida, pela
ocorrência de um dos eventos a seguir, ou de sua ação conjugada: o aumento do poder
econômico e militar da China e a afirmação da identidade política da União Europeia”. A
hegemonia internacional, antes firmada em bases exclusivamente militares, modificou-se
para privilegiar outros elementos, não evidenciada por algumas teorias, sejam elas liberais,
realistas e/ou independentista.
Ainda nessa linha de raciocínio, Cruz (2010) afirma que a política internacional
resulta na sedimentação de posições que os partidos ou elite governante vêm manifestando
diante dos problemas do mundo contemporâneo. Nesse caso, a política externa
diferentemente constitui uma política de Estado que deve representar o interesse
permanente da nação, tal como definido pelas concepções prevalentes na sociedade
considerada (CRUZ, 2010, p. 74).
Compartilhamos também a nossa ideia com a de Ferreira (2009), segundo a qual no
âmbito da lógica de funcionamento da política internacional, a inclusão de novos atores é
um passo decisivo na afirmação do multilateralismo. Entretanto, é com base nessa premissa
que podemos verificar um aumento recente das relações brasileiras com o continente
africano - mais uma relevante ação de cooperação ao Sul estabelecida pela diplomacia
brasileira. Sublinho, no entanto, que nem todos veem essa proximidade positivamente,
como é o caso de Amaral (2008). Para ele, o Brasil se encontra no meio caminho entre
pobres e ricos, entre subdesenvolvidos e desenvolvidos e, de acordo com sua opinião, as
relações com a África são reflexo da falta de continuidade da política externa brasileira ao
longo de décadas, visto que a atenção para com aquele continente é esporádica e os
resultados são questionáveis.
Nestes termos ainda, segundo Ribeiro (2010), “não há como negar o fato de que,
apesar de fragilizada, a política africana ainda mantém vitalidade no plano diplomático
internacional e brasileiro em especifico, adquirindo relevância especial quando consideradas
as ações e os discursos realizados pelo ex. e atual governo para o continente africano”. No
plano das ações, a política externa brasileira para a África tem sido caracterizada pelo
reiterado esforço do Itamaraty na promoção das supracitadas viagens oficiais do Executivo a
países africanos, com vistas à implementação e renovação de projetos bilaterais e o
estabelecimento de acordos de cooperação de âmbito multilateral, pelos quais se deduz a
possibilidade de abertura e/ou ampliação de novos acordos e mercados, consoantes à
defesa da própria política desenvolvida pelo Estado brasileiro junto ao continente africano
desde a década de 1960.
Considerações finais e/ou pontos inquietantes
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