Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Os trabalhos de Bispo estão sim ligados aos seus episódios de surtos, contudo isso
não exclui o fato de que quando não internado ele desfrutou de muitas vivencias, e é a
partir dessas vivencias que podemos perceber uma característica memorialista de suas
produções, uma vez que ele reúne esses elementos que vieram ao longo de sua vida.
Como foi dito, Bispo foi internado e passou grande parte da sua vida na Colônia
Juliano Moreira, uma vez que foi diagnosticado com esquizofrenia. Tiveram muitos surto
e em um deles ele teve uma visão, em que Deus deu-lhe a tarefa de reconstruir o Universo.
Na Colônia ele passou por diversos tratamentos, bem como ajudava os funcionários da
própria instituição, nos seus momentos de clareza. Por ter vivido durante anos na
instituição o seu quarto se tornou o principal local de produção de suas artes, foi lá em
que foram criadas várias obras utilizando-se de objetos do seu cotidiano e de fácil acesso
- tais como, sucatas, papelões, cabos de vassoura, carreteis de linhas, entre outros. Para
ele as suas produções eram a sua criação do seu universo, o qual apresentaria para Deus,
conforme lhe foi solicitado.
Bispo para produzir as suas obras coletava os seus objetos pela Colônia, fazia
trocas. Segundo Claudia Maria França:
Sua relação com os outros é desenvolvida por meio de objetos, fragmentos e
sucatas. Indo mais além, há muitos momentos em que ele é uma espécie de
“firma” (umsocius): circulação, beneficiamento e estoque de mercadorias;
nesses setores, se percebe uma sociabilidade implícita, seja de objetos entre si,
seja dos outros sujeitos fornecedores. Um colecionismo singular é, portanto, a
base para a constituição do material a ser trabalhado artesanalmente por Bispo.
Essa relação com objeto é mais complexa do que se parece, uma vez q o objeto
não é apenas um objeto, ele é como se fosse a extensão e a intensão do artista, bem como
revela a relação que o artista tem para com os sujeitos, como aqueles que forneciam os
materiais para ele.
Conforme cita a autora do texto, “Jean Clarence Lambert (apud MORAIS, 1999,
p.2267) estabelece quatro “métodos” possíveis para se trabalhar o objeto como suporte:
“desrealizar”, “enigmatizar”, “dramatizar” e “acumular/serializa”.”. A desrealização é
tirar a função original do objeto, que o tornaria mais um objeto comum e banal. A
enigmatização coloca sobre o objeto questionamentos e reflexões gerando diferentes
leituras. A dramatização trata-se de utilizar do objeto para trazer sentimentos e emoções
e a acumulação/serialização opera-se na quantificação do mesmo objeto ou na similitude
de objetos diferentes entre si.