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ATIVIDADE 2 (FICHAMENTO) – TEXTO: Objeto, memória e narração no processo

de criação de Arthur Bispo do Rosário (Considerações iniciais e o capítulo Bispo: sua


coleção de suportes) - Claudia Maria França da Silva

ALUNA: Camila Hipólito Ramos MATRÍCULA: 11911ATV228

No aspecto mais técnico dizem que as produções de Bispo são comparáveis a


passagem da arte moderna e contemporânea, uma vez q há grande liberdade na pesquisa
de suportes. Contudo a intenção primeira de Bispo não foi fazer arte e sim criar algo com
a junção de diversos itens do cotidiano para que no dia em que se fosse apresentar-se a
Deus. Isso, sem dúvida, cria um misticismo nas suas produções (bordados, estandartes,
objetos). Mesmo sem intenções de tal, Bispo foi um grande artista, incontestavelmente.

Os trabalhos de Bispo estão sim ligados aos seus episódios de surtos, contudo isso
não exclui o fato de que quando não internado ele desfrutou de muitas vivencias, e é a
partir dessas vivencias que podemos perceber uma característica memorialista de suas
produções, uma vez que ele reúne esses elementos que vieram ao longo de sua vida.

Como foi dito, Bispo foi internado e passou grande parte da sua vida na Colônia
Juliano Moreira, uma vez que foi diagnosticado com esquizofrenia. Tiveram muitos surto
e em um deles ele teve uma visão, em que Deus deu-lhe a tarefa de reconstruir o Universo.
Na Colônia ele passou por diversos tratamentos, bem como ajudava os funcionários da
própria instituição, nos seus momentos de clareza. Por ter vivido durante anos na
instituição o seu quarto se tornou o principal local de produção de suas artes, foi lá em
que foram criadas várias obras utilizando-se de objetos do seu cotidiano e de fácil acesso
- tais como, sucatas, papelões, cabos de vassoura, carreteis de linhas, entre outros. Para
ele as suas produções eram a sua criação do seu universo, o qual apresentaria para Deus,
conforme lhe foi solicitado.

Bispo para produzir as suas obras coletava os seus objetos pela Colônia, fazia
trocas. Segundo Claudia Maria França:
Sua relação com os outros é desenvolvida por meio de objetos, fragmentos e
sucatas. Indo mais além, há muitos momentos em que ele é uma espécie de
“firma” (umsocius): circulação, beneficiamento e estoque de mercadorias;
nesses setores, se percebe uma sociabilidade implícita, seja de objetos entre si,
seja dos outros sujeitos fornecedores. Um colecionismo singular é, portanto, a
base para a constituição do material a ser trabalhado artesanalmente por Bispo.

Essa relação com objeto é mais complexa do que se parece, uma vez q o objeto
não é apenas um objeto, ele é como se fosse a extensão e a intensão do artista, bem como
revela a relação que o artista tem para com os sujeitos, como aqueles que forneciam os
materiais para ele.

Conforme cita a autora do texto, “Jean Clarence Lambert (apud MORAIS, 1999,
p.2267) estabelece quatro “métodos” possíveis para se trabalhar o objeto como suporte:
“desrealizar”, “enigmatizar”, “dramatizar” e “acumular/serializa”.”. A desrealização é
tirar a função original do objeto, que o tornaria mais um objeto comum e banal. A
enigmatização coloca sobre o objeto questionamentos e reflexões gerando diferentes
leituras. A dramatização trata-se de utilizar do objeto para trazer sentimentos e emoções
e a acumulação/serialização opera-se na quantificação do mesmo objeto ou na similitude
de objetos diferentes entre si.

Dessa forma, ao analisar os trabalhos de Bispo, é possível perceber essas quatro


características em seus objetos, segundo exemplificado por Cláudia Maria, é possível
captar dramatização nas miniaturas que ele fazia para as crianças da família Leone, que
foi uma casa em que ele trabalhou outrora. A autora também cita outros exemplos de
obras, nas quais é possível identificar a presença de outros elementos, como o da
enigmatização, no caso de “Crânio”. Nessa obra em particular, não há como entender o
porquê da disposição dos objeto, o que foi pensado ao se disporem daquela maneira, qual
foi o raciocínio utilizado.

A respeito da acumulação e serialização, é necessário ir além e observar a relação


do objetos e como eles são organizados, para Bispo a organização se dava em conjunto
de “famílias”. Isso acabou por gerar uma memória sobre Bispo e suas vivências e esses
objetos nos aproximam a elas.

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