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-40 nao parece valer ~ ¢ se i 8 evolu Pancecat Se ies rerohaeg ant EON Russ HMMMMRGE eevolucao%o texto fl apreentado como provadeeredio ne operaram & manera de uma nova religito, ndo sea age yt ACSIA, iso de professor titular de Histéria Moderna, que teve lugar em junho © paradoxo, que a Reforma foi uma Reng cal estd na FFLCH-USP. Modificado e bastante ampliado, esta publicado po ; ‘Nova ~ Revista de Cultura e Politica, 2007, n. 7, pp. 11 039. ll Sopre A ForMAGAO DO Estapo MODERNO NO OCIDENTE = a se (Originalmente intitulado “O Estado Moderno; origens, componentes nio seria possivel suger € desesperansado: verdadeiro, como se 2¥espititaal, um momento de yirada na histéria human" O texto discute o problema da formagio do Estado moderno no Ocidente Wearxista figle(Ch. Hill) Yom as quais encerra any ieleeest té organizado em quatro partes. Primeiramente, aborda-se 0 Estado 19881, sobre a REVOIAGEO-Inglesa de 1640. ba cine ny ne attigo, de “em termos teéricos e gerais e de um ponto de vista que concerne mais a8 seguintes palavras déR Arow: SES elas Podemos contrapor as “Giéncias sociais do que a Histéria, A segunda parte, de caréter essencialmente “historiogréfico, mostra como o tema foi interpretado pelos historiadores. Na __terceira e quarta partes, examina-se a origem do Estado moderno na It particularmente em Veneza e Florenga, ¢ seu desenvolvimento na Pranga e Inglaterra, com um paralelo nao 36 entre os dois primeiros e os dois iltimos "mas dos dois primeiros com os dois tiltimos. © bistoriador néo & nem o homem de aggo, nem o fil6sofo: conservando. s dis termos, ele investiga como o. ue aconteceu chama a at oe fest, como a vontade docsters eden tae Abe se cumprisse aquilo que, nem previsto nem de finalmente a obrae a experiéncia de todos.* 1 _,_, Nalntrodugao a sua A Etica Protestante e 0 Espirito do Capitalismo, Max _ Weber também incluiu o Estado 20 lado do capitalismo e daqueles fenémenos Culturais, que, por serem encontradigos em outros espacos ¢ tempos, nio _ podem ser considerados como uma criagao exclusiva da Civilizagio Ocidental. Mas Weber procurou justamente demonstrar que somente na Civilizagao Ocidental tiveram lugar o desenvolvimento de um capitalismo racional, © desenvolvimento de fendmenos culturais dotados de “universallidade] mento de um Estado como uma ynalmente redigida, um Direito istragao orientada por regras racionais, as leis,e administrado por funcionAtios especializados’! see 7, r Mas erat Haire Revolution’ The Collected Essays, vol. 3. Amherst 78. ARON. Op.cit.p. 83, 1. WEBER, Max. A Btica Protestante ¢ o Bsptrito lo Capitalismo, Sto Paulo, Livearia Pionelra itor, Lea, Dessa descrigéo de Weber, segue-se que 0 Estado, tomado em sentido estrito, como entidade politica, dotado de todos aqueles atributos acima lembrados, nfo se encontra plenamente desenvolvido nem mesmo no Ocidente antes do século XVIII, mas tomado em sentido lato, como entidade de poder e/ou dominagao, encontra-se em muitos outros lugares ¢ épocas, Assim, dir-se-ia que para a instituicio Estado vale, mais em geral, ou seja ¢ respectivamente, que ¢ antediluviano ¢ pode ser encontrado em todas as sociedades em que existe dinheiro. ‘Marx, sem esquecer FEngels, diria que assim ¢, porque, dado que todas as sociedades, excetuando as chamadas sociedades primitivas, se dividem em classes, o surgimento do Estado fez-se necessdrio para permitir a exploragao- dominagio de uma classe sobre outras, de modo que luta de classes e Estado formam um par historicamente inseparvel que somente sairé de cena conjunta ¢ definitivamente com o fim da histéria, Sobre as sociedacles sem Estado, o antropélogo francés, jéfalecido, Pierre Clastres, com base em suas pesquisas sobre os indios guaranis da América do Sul ¢ em sua leitura do Discurso da Serviddo Voluntaria, escrito, no século jenne de La Boétie, avangou, em 1974, uma tese especulat jesmo tempo, faz lembrar o Discurso sobre a origem € 0s fundamentos da desigualdade entre os homens de J. Rousseau, Segundo Clastres, as sociedades primitivas, tanto as extintas quanto as sobreviventes, 1m permanecido nessa condigo por opgao, por terem se recusado a criar, deliberadamente, o Estado e tudo o que de inominavel este acarreta. De onde se segue que a sua invengao foi, nas palavras desse antropélogo, “o momento hist6rico do nascimento da Histéria, essa ruptura fatal que jamais deveria ter- se produzido, 0 acontecimento irracional que nés modernos nomeamos, de modo semelhante, o nascimento do Estado” Se a tese de Clastres ¢ fantasiosa, de La Boétie é ingénuo, ndo permitindo avangar no conhecimento ica e do Estado; dai porque depois de um pequeno e passageiro furor causado por sua reedigao, furor que, salvo engano, ficou restrito 4 Franga e ao Brasil, o discurso de La Boétie recaiu no limbo que o acompanha desde sempre. Comegamos essa exposigio sobre o Estado moderno citando Weber ¢ Marx, tendoem vista que as suas teorias sociais esto entre as mais abrangentes, ‘entreasquemaismarcaramo pensamentoe ahistoriografiadoséculoXX,eentre 2, O artigo CLASTRES, Pierre, “Liberdade, Mau Encontro Inomindve!’, est incluido na ediya0 ‘brasileira do livro de Botte, Discurso da Serviddo Vo io Paulo, Brasiliense, 1986 p. 111. tes, Com efeito, por um lado, Marx-Engels e os marxistas, Kaddos por sua visio negativa do poder ins m-se sobretudo jinar o carter classista do Estado, em minimizar sua autonomia com side, sem ditvida, igfo, como se pode ver nos escritos idois fundadores do materialismo histérico, sobre as Revolugées de 1848 jana e na Alemanha, ¢ nos trabalhos de dois marxistas do século XX, 0 {asso Boris Porchney, sobre o absolutismo francés, ¢ o inglés Perry Anderson, Mas af reside, igualmente, seu ponto fraco, sua stimac&o das formas do Estado, em particular do Estado cons (que os marxistas designam pejorativamente de Estado burgués), do eu funcionamento complexo, consagrando valores e praticas de civilizagao, cujo abandono nao é menos que desastroso, como mostraram as experiéncias ias do século pasado. Nesse sentido, veja-se a seguinte frase do precedera; mas a classe dominante permaneceu a mesma, epublica, uma monarquia constitucional, e uma ditadura fascista podem "er todas formas de dominagio da burguesia’: Essa frase, escrita em 1953, © reproduzida cerca de vinte anos depois e sem nenhum reparo por Uisatint B. Anderson em seu live Linhagens do Bstado Absolutist, pres “s¢ admiravelmente A critica segundo a qual o marxismo, quando menos, ncorreu no pecado de nao ter dado a devida import que chama "-depreciativamente de liberdades formais, jogando fora, assim, a crianca junto _ coma 4gua do banho. Por outro lado, Weber, enfatizando justamente a dimensio lo Bstado, as formas e modalidades do poder institufdo e de seus mecanismos "= quea: Re Porque Norberto Bobbio o tratou como 0 enisamento politico. Weber, contudo, nio obstante seu esforgo para construir 3. MARX, K. escreveu dois textos sobre a Franga antes e durante 1848, Luta de Classes na Franca © Dezoito Brumdrio de Luls Bonaparte; ENGELS, F, por sua vez, perlodo, Revolgdo e Contra Revlugdo na Alemanhas 0 lvro do PORCHNEY, Boris sobre a Franca int ‘§” Prance au XVie siécie, Paris, Flammarion, ANDERSON Perry, Linhagens do Estado Absa $ejono Bras, uma teoria do Estado, a nao deixou nunca de cultuar valores p Wvilegiaram a unidade estatal nacional, a consciéncia daquela unidade coletiva que € 0 povo ou a nagio. Como se pode ver pela seguinte afirmagfo, extraida de uma sua aula inaugural proferida em 1895 ¢ intitulada “Der Nationalstaat und die Volks [0 Estado nacional e a economia politica)”: “Aos nossos descendentes nao devemos legar paz ¢ felicidade humana, mas a luta eterna pela preservagio ¢ educagio de nosso cardter nacional... Os interesses politicos do poder da nagio sto, quando estio envolvidos, os interesses finais e decisivos...”* ‘Tendo em vista essa valorizagio do Estado nacional, néo seria errado considerar Weber como herdeiro e como continuader do filésofo G.W.FHlege| € do historiador L. von Ranke, espécies de pais espirituais de toda a moderna historiografia liberal-conservadora alema, que glorifica 0 Estado, concebendo-o como manifestagio do universal-racional, contendo, nas palavras de Hegel, “em sic para sia totalidade ética, a realizacio da liberdade’ € como manifestagio daquilo que Ranke definiu como a “esséncia espiritual” propria de cada Estado nacional. Como bem observou Nicola Matteucci, em Lo Stato moderno, foi somente no século XIX, por meio da cultura alemé, que © termo Estado adquiriu a sua centralidade. Antes de Hegel, nas palavras de Matteucci, “quando se quer indicar 0 momento vertical do poder, fala-se de governo, de rei, cle assembleia, sempre entendidos porém como estruturas a setvigo da comunidade, da repiblica’ Também Hobbes, mesmo que tebrico do absolutismo, nao utiliza 0 termo State, preferindo o de Common-Wealth Até o final do século XVIII nao ha um classico do pensamento politico que traga no frontispicio o termo Estado, o qual falta ~ como yerbete ~ também na Como quer que seja, a questio da origem e do desenvolvimento do Estado moderno na Europa Ocidental foi tratada pela historiografia do século XIX, e da primeira metade do século XX, de tal maneira que acabou por se confundir, por um lado, com a questio da formago do sentimento nacional € da nacionalidade, ¢ por outro lado, e simultaneamente, com a questio do proprio advento da modernidade, aparecendo Estado como portador € 4. A cltasio foi extraida da Introdusio de German History, org. por KOHN, Hans, Londres George Allen & Unwin, 1954, p. 17. 5. MATTBUCCI, Nicola, Lo Stato Moderna. Lessco Percors, Bolonha, ll Mulino, 1997, pp. 26 27, Por sua ver, como esse Estado nacional, em praticamente Boone se configurou plenamente o fez sob forma monérquica tista, monarquia e absolutismo remetem, na ponta ascendente de sua i historica, & sua relagio com o feudalismo eo fim da Idade Média, ta descendente, a sua relago com o capitalismo ¢ o inicio da Idade spordnea (ou fim da Primeira Idade Moderna) uido isso, nio surpreende a austacia de consenso entre os historiadores “istado moderno, ou, o que dé no mesmo, sobre a monarquia nacional a, inclusive na historiografia atual, sobretudo quando se trata da sm geral e néo de um pais em particular, Essa auséncia de consenso se nfesta com relacéo quer ao momento do aparecimento do Estado modern r go nome que a cle se deve dar, quer, ainda, ao porqué do seu apareciment Sobre 0 momento do surgimento do Estado moderno, a maioria dos ladores atuais considera que isso ocorreu em meados do século XVI, do-se a minoria restante entre os que retardam para o XVII a si réncia e os que a antecipam para o século XY, e atribuindo aos Estados janos do quattrocento o mérito da primazia.’ Com rela¢io ao nome a dado a esse tipo de Estado, destaque-se 0 fato de que enquanto alguns (The Reaisance 1493-1520) da The New Cambridge bet, htoadr HAY, Denys afm "Por vata de 150, «onto comam ants (re o mundo moderno e o medieval se havia transformado em dogma pedagdgico ‘Carlos V assume o Império (1519) constituram linhas de aceita sem difculdade’, Sua >, contudo, que, nem todos, dentro dessa minoria de historiadores atuals, que stoulo XV, consideram que o seu aparecimento tenha se pode ver pelo livro Lftat Moderne: Gents, bilans et ta pgin36, que stad modern nase ete 12806 Inebareotelsecpincpes do Oldest nano ido ml Tbe em dls to Ios riod Estado no se reconbece Je BRAUD, Pape 1997 ees dane Eas Pout soe om Oc et eter dan de BADIE Beane (Paris, Seuil, 1997), Por outro lado, o historiador TENENTI, Alberto, em. commune de conseiéncla pol ‘ « de complexaarticulagio da lingoagem. “latirocento italiano e no caso francés, nesse mesmo século, “uma realidade in Bstado modemo nio pode sr faclmente encontrada na Franga do final do quattrocento”(p. 236) 7 Po exposa ies da primazia italiana, para a emergéncia desse tipo de monarquia, com destaque para aluta de classes, também chamaram a atengao para o fato de que, em teoria, a monarquia era absoluta desde a Idade Média, e para o fato de que quando ela se tornow absoluta também na pratica a partir da Idade Moderna, seu poder efetivo ¢ seu alcance foram limitados tanto pelo respeito aos costumes fundamentais do reino quanto pela precariedade dos metos técnicos existentes a sua disposicio, Esses dois historiadores, térica proporcionada pelos fendmenos politicos da primeira metade do século XX, com o formidével aumento do poder estat: juanto ditatorial, haviam-se dado conta de que era chegada a hora de nuancara visio transmitida pelo século XIX, muito marcada pelo liberalismo, de um absolutismo monar como um poder despético ido (é preciso lembrar que 0 nome absolutismo, tal como ocorreu com o nome mercantilismo, é posterior ao préprio fendmeno, tendo sido uma criagdo de seus iberais). Tendo em vista isso, pode-se dizer que os estudiosos do absolutismo, ao longo de boa parte do século XX, acabaram por explorar os dois lados, 0 lado forte e o lado fraco, dessa forma histérica de poder, que se desenvolveu na Europa na Idade Moderna. Entre os que deram énfase ao aspecto forte ¢ inovador do absolutismo, ao seu poder disciplinador, mas enfatizando seu papel civilizador, portanto, positivo, ¢ obrigatério lembrar 0 nome do sociélogo Norbert Blias, com o seu livro extraordinério e pioneiro O Processo Civilizador, cuja primeira ediga0 € de 19395 assim como, de um ponto de vista Jembrar, o nome do fildsofo Michel Foucault com seus trabalhos, igualmente neiros, de desvendamento e dentincia do poder sobre todos os corpos, sociais ¢ individuais. E entre os que dao énfase ao aspecto lo € no moderno do absolutismo, menciono um livro recer imo de varios autores, Lo Stato moderno in Europa, no qual se afirma que a realidade inst do Estado absolutista “continua a compartilhar ao longo de todo 0 curso do antigo regime pelo menos dois tragos profundos da configuragao medieval do poder’, a saber, “o cardter compésito e plu existéncia do direito com relagao ao poder”' stulo primeiro de seu célebre livro, A Cultura do Renascimento a, capitulo jvamente de “O Estado como obra de ‘jurckhardt deixou-nos uma descrigao insuperdvel do cendrio politico i, quando, a olhos vistos, repiblicas e principados 2a por sigificativas modifcagbes, alguns aumentando de tamanho, nculhendo e até mesmo desaparecendo, quando se inovava na arte cmnar e desenvolviam-se instituig6es estatais multo diferentes das “es no restante da Europa, na mesma época, Para expressar, em uma Mremmula, a transformagio em curso na esfera estatal, dir-se-ia que na iro e na Europa Ocidental logo a seguis,o Estado estava deixando poder orginico, tipicamente feudal, para comecar a ser um poder s prim eer um "Nio precisamos citar diretamente do livro de Burckhardt nenhuma das s passagens que podem ser tomadas como exemplificagio do que vem a sero Bstado como obra de arte, porque o artigo de Chabod, ha pouco lembrado, mega justamente com o segninte parSgrafo: “Faz quase um século, em seu tir der Renaissance (1860), Jacob Burckhardt falava do Estado italiano do TRenascimento como de um Estado j moderno eo batizava ‘o Estado obra de arte’ Vale dizer, o Estado criado pela vontade fria, precisa ¢ clarividente de um que, tal como um attista, crfa sua obra calculando todos os meios mns resultados”! Note-se que 0 artigo de Chabod, na versio da em 1956, um ano depois da francesa, saiu com o titulo, ‘igini dello Stato moderno’, explicitando assim sua tese terava e desenvolvia a famosa e hist6rica interpretagao de Burckha Deacordo com Chabod, na Itilia do quattrocento e inicio do cinquecent ‘novagGes que ocorrem na arte da guerra, nos procedimentos burocréticos 8 atividades diplomiticas, foram de tal monta que delas surgi uma nova @strutura estatal. Certamente que podemos encontrar em praticamente todos “0s Estados da Idade Média, exércitos, funciondrios e atividades diplomiticas, “mas em nenhum deles esses trés comiponentes, ou aparatos do poder estatal, " apresentam as dimens6es quantitativas e técnico-formais, a consisténcia e 0 ‘caréter permanente e profissional, digamos assim, que iréo adquirir a seguir. —Vejamos, para ficar em apenas um exemplo, 0 que s¢ passou com a _diplomacia permanente, Seu advento, nas palavras de Chabod, n @ Uma profunda mutagao na estrutura interna do Estado ¢ na sua maneira 13. CHABOD, op: lt p. 523. de atuar”. Compare-se nesse sentido a frase do famoso ministro de Luf “negociar sem pausa, aberta e secretamente em todo lugar” pressupde uma com a seguinte frase do rei’ Luis XL, proferida aproximadamente um século e meio antes, ao ser informadg rente por Alberico Maletta, que ele, Maletta, fora enviado como embaixador por Francesco Sforza de Milao, para que permanecesse junto corte francesa por tempo indeterminado: “Quero que escreva ao seu Senhor que 0 costume na Franga nao é similar ao da Itélia, porque entre nds manter continuamente um embaixador parece uma coisa suspeita e ndo de todo agtadével, ao passo que entre vés € 0 contrério, Assim, escreva-lhe que nio énecessétio nem para ele nem para mim que mande outros agora, e quan acontecer alguma coisa que mandea Manuelo [trata-se de Emanuele de Jacopo] ou outrem como lhe aprouver, mas que venham e voltem e nao permanesam agui parados"!* I! va sans dire que essa declaragio serve para provar, no século XY, tanto a existéncia de uma diplomacia permanente na Itdlia, quanto a sua auséncia na Franga, que 1, como se sabe desde Hobbes, que o Estado funciona ‘como uma maquina, e se aceitamos a ideia de que ele & algo externo ao tecido social, as inovagdes que ocorrem nos seus aparatos ¢ na técnica de governar podem, portanto, ser facilmente imitadas e importadas. Daf a existéncia, nas palavras de Matteucci, desse “proceso de difusio das inovagbes dos paises mais avangados no desenvolvimento politico para os menos avangados” E ‘quando Matteucci sustenta que os “paradigmas ou modelos sfo a Inglaterra e a Franga’; é 0 caso de acrescentarmos que antes desses dois paises se tornarem paradigmas, também os principais Estados da Itéliae até mesmo o da Espanha ‘exerceram esse papel Como mostrou o historiador inglés John Elliott em seu pequeno mas extraordindrio livro A Europa Dividida 1559-1598, ao afirmar: “De todas as ‘monarquias europeias a da Espanha desenvolvera a monarquia governamental mais elaborada de meados do século [X’ Foi aparentemente depois de um dos secretitios de Henrique II [rei de Franca] ter observado os seus colegas espanhéis em fungdes durante as negociagées de Cateat-Cambrésis (1559] que o titulo de ‘secretirio de Estado’ comesou a ser usado em Franca. Mas, em geral, dir-se-ia que problemas do mesmo tipo conduziam os Estados da 1M, A frase de Richeliea esté cada no artigo de CHABOD ¢ o documento que contém © pronunciamento do rei Li retirado de GALASSO, Giuseppe "Le R nelleta moderna (secoli XV-XVIID'; Rivista Storia lalana 1999, Base, .lhantes, € que mais nao era preciso do que Bcc eae aber oo “que ae fazia em outros locals! i scnarc, una século antes de Blot, a0 tatar do enchimento I itdlica, observava: “Ambas % Faia ‘clonal B a0 descrever esses Estados italianos, or erecava c até mesmo exaltava os de Veneza e de Florenga, por gnc desta pico eriquers, por suas sofisticadas cultures e regimes Ro icanos,altamente complexos e contrastantes entre sh € dos oe ee cidadaos venezianos quanto os florentinos tanto se orgulhavam. sorecza, com sua estabilidade politica, a mais permanente ¢ longeva « slcangada por um Estado no Ocidente em todos os tempos del 0 ode la Serenssima, eo chamado mito di Venesiay Burckhardt observou por um lado, “fol a primeira @apresentar por completo uma porgio stva do moderno aparelho esata por outto lad, cevelava um certo 0 plano cultural’ B sobre Hlorenga verdadero Inboratéso politico fodasasconstituiges foram experimentadas ele frou: ’A meiseleveda 2 politica, a maior riquera em modaldade de desenvolviment o encontrar reuidas na hstsa de Floren, gue nese seis F lo de primeiro Estado moderno do Dentre os a se vest eloveaton da foca do Renacinento irotaam do passado de suas respectivas repiblics, enfatizando a dade politica de ume ea istablidade de outa, um Iga iigualiv ocupado por Maquiavel, com sua Histéria de Florena, pu a is ee or Gaspar Contain, com seu Dos magitados eda Repiica dos vnctos Magistratibus et Republica Venetorum] publicado em 1543. Como se pi r pelas seguintes passagens, de uma e outra obra: 9 rekt 0 6e jamais de republica alguma as divisbes foram notévels, as de Florenga forum notebilisimas; porque «mor parte das outeas reps des quai se teve alguna nota cantenou-se com uma divs com agua segundo 6s incidentes, ora melhoraram; ofa arruinarani suas cidades, mas Florenes nfo contente com uma, teve muitas...em Florenga de inicio 0s nabres, depois os nobres e 6 povo e por titimo o povo e a plebe; ¢ muitas “15, ELLIOTT Jom. 4 Buropa Divide 1559-1598, Lisboa, Editorial Presena, 1985, Pp. 59-6¢ ee 16. Do livro de BURCKHARDT Jacob. A Cultura do Renascimento na Itélia, b& ea ee ‘ngua Portuguesa, uma de Portugal e duas do da Universidade de Brasilia e da Comp: ‘as Letras as citacbes foram extraidas desta ultima edigfo que é de 1991 vvezes ocorreu que uma dessas partes, que se fem diuas: delas nasceram tantas mortes, mnara superior, dl esa cidade.” Houve em Atenas, Lacedeménia e Ri coma em diversas épocas, divers homens excepclonalmente virtuosos, de méritos excelentesede uma pedade as suas respectivas pétrias, mas em téo pequeno niimerc «ue, estando dominados pla multdo nfo fram capazes de bem aproveta, dos quais recebemos uma repiblica singular para cor tio florescente, uniram-se todos num comum desejo de estabilidade, de honrar e engrandecer seu pafs, sem nenhuma consideracio para com a sua gléria ou interesseprivado,..Com esta vrtude de esprto antepessados criaram ¢ instalaram esta repiblica na meméria humana, ‘quem quiser comparé-la com as mais nobres republicas antiga, dificilmente encontraré uma que seja de igual valor; ous mesmo afirmar ao contrévio uence dcr ee rnd lf da nig gucci ‘un piers dep dpe antec iperior nossos dean is txts, lém de frmarem um contrponto perf, server de smentido a quem queira deduzir da leitura de Maquiavel que, sem luta de class a nes econo yi ima republica nao pode atingir gldria e grandeza, ¢ daletura de Contavinioinverso, so € que somente com etbiidade sociale armonia politica uma repiblica atinge gloria e grandeza, Como quer sue seja, 0 fato é que a Itélia era, na época do Renascimento, expressio de um estudioso nfo uma na 40 z e uma nagio, mas uma na¢do ae ne i ‘Uma nagio nagSes que, na segunda metade do ‘natioorta iow uma espécie de pioneiro equilibrio de pod incipais Estados. Pois, dentre todos eles, nio havi inept era be y , no havia nenhum que pudesse I um processo de unficagio politica da Peninsula ites, Nao havia nen hi comma formagio social, semelhante aquela que existia nos outros patses da Europa e que permitin o apareimento de uma monarquia absolta, de um resultante de uma articulagéo entre nobreza fundidria e monarquia na fel TT MAQUI a de Ron al toa Ma 95.1928 citagio de Conta extraida de POCO GA. The Ma ti Mom Princeton University Press, 1975, p. 325. oes sia de familias quantas jamais a is nagceram em alguma cidade de que se te Inn Eentmors into me pe ecu exemplo demonstre tanto a pujanga de nossa cidade quanto o demonstray, des, que teriam tido forca para anular qualquer grande e potente caja autoridade agia no Spice da pirimide de poder, mas mio na Hsirutura dos direitos senborisis. spa dois Estados da Peninsula com semethantescaraterstcas o Reino fs ¢ 0 Ducado piemontés. Mas o primeiro jé era velho sem ter sido amos assim, sto, destituido de dinamistno interno, ¢ 0 segundo, i. a unificagao do século XIX, apenas comecart a existir como um wamente independente a partir de 1559, ou seja, quando a Itélia aido sob dominio estrangeiro. Por sua vez, a Igreja de Roma, que Sclosio da Reforma, parecia constituis, de acordo com Burckhardt wéeie andmala de Estado absoluto, era, de acordo com 0 que Maquia Pig Discorsi sulla prima deca di Tito Livio, fraca para poder realizar tal temente forte para impedir que outrem na Itilia a levasse ‘Dos trés Estados restantes importantes, Mildo, Veneza e Florence, ‘mesmo quando dispds de forga expansiva, pode e/ou desejou i itado e da subjugaco de seus rivais mais ‘mas suf Ge até mesmo Cavour ¢ 0 Piemonte, em pleno século XIX, que é mibado pela questio nacional e pelo nacionalismo, somente concebiam rndiam a unificagdo até o centro da Pen{nsula, pelo menos até que di, criando um fato consumado, nao os forcasse a incluir todo o Sul, 0 idizet dos estadistas e Estados italianos do Renascimento? Como imaginar “até mesmo os humanistas civicos, que, como Maquiavel, faziam apelo @ principe que libertasse a Itélia dos barbaros do norte, pudessem conceber, sitar a peninsula itlica constituida por um tinico Estado? Estamos como se vé, diante da importante questio de saber se nessa ca, na Ilia em particular, ena Europa em geral, existe um patriotismo ou sentimento nacional, como em geral acreditava a historiografia do século XIX ins primeiras décadas do XX, com algumas notaveis excegdes. A resposta, dentemente, é nao, pois sustentar o contrério é cair em um anacronismo {entio, como foi o caso do historiador Mousnier, acima lembrado, ao falar de forte patriotismo francés nessa época, no seu conhecido volume Os séculos XV Ie XVII da colecdo Histéria Geral das Civilizagées. Sobre os humanistas europeus, sobretudo franceses ¢ alemées, aqui ditemos apenas que, se eles também parecem fazer apelo a umn patriotismo nal, constituem, como Chabod bem viu, vozes isoladas, 5 quais, na auséncia de um contexto favoravel, no podiam gerar energia movimento ideoldgico, porque a verdade € que, no século XVI, 0 Unico a capaz, de mobilizar os homens (¢ as mulheres) de todasas classes era a religiéo. Tanto € assim que, nos dots primeiros paises -_&M que, de fato, patriotismo ¢ sentimento nacional emergem identificados, Inglaterra ¢ Holanda, foi a religido que tornou isso possivel. (Registre-se que entre os resistentes holandeses 20 dom{nio espanhol, na segunda metade do século XVI que o termo patriota passou a ter, pela primeira ver, 0 sentidg politico moderno que € o atual onde existia, sem duivida, um forte e ardente patriotism ismo de carSter part que significa que, quando Maqui faziam-no com um. nenhuma unidade politica, Compreenderemos melhor esse sentimento se o compararmosndo com 0 presente, como feza historiografia do séctlo XIX, que nele quis ver, anacronicamente, uma primeira manifestacao da nacionalidade italiana, mas se 0 compararmos com o passado, mais precisamente com a Grécia antiga. Pois, assim como um cidadao de Atenas sentia-se 20 mesmo ‘tempo um patriota ateniense ¢ um grego, também um cidadio de Florenca sentia-se ao mesmo tempo um patriota florentino e um italiano, E preciso insistir no fato de que, quando Maquiavel afirma, no tiltimo capttulo de O Principe, que a Itélia anseia por um pri que a liberte do dominio estrangeiro, isso nao significa que ele est advogando por uma unidade politica da Italia, mas simplesmente por uma Itélia, concebida como. aquilo que os gregos designavam uma koinonia, ou seja, uma comunidade de " O mesmo se pode dizer de Francesco Guicciardini compatriota de Maquiavel, um pouco mais jovem, mas seu conhecido e como ele politico e historiador. Em sua Storia d'Italia, Guicciardini faz a seguinte afirmagdo em forma de pergunta: “Quem nao sabe o que 6 Ilia?” E de tudo 0 que passa a dizer a seguir néo hé nada que indica a presenga de qualquer coisa que cheire um sentimento nacional. Assim, se, entre os intelectuais italianos de todos ‘08 tempos, intelectuais que o historiador Giuliano Procacci definiu como “estes eternos protagonisias da italiane’? os nomes de Maquiavel e Guicciardini ocupam um lugar inigualével, isto nfo nos deve fazer esquec que eles foram patriotas florentinos em primeiro lugar e antes de tudo o mai ¢ outros humanistas falavam em E quando o mesmo Maguiavel diz, em uma carte, amar a sua cidade mais do que a peépria alma, ¢, na sua Histria de Forenga, que os cidadios lorentinos, ao pegarem em armas contra 0 Papa, preferiram a grandeza da cidade & salvagio de suas alas, est’ apenas dizendo a verdade, para escindalo dos cristios preocupados com a salvagSo de suas almas, e para adriragio de «studiosos como Weber. Ou seja, Maquiavel est dlzendo que o amor & patria deve estar acima de todas a que para o bem do Estado flarentino, vale tudo, inclusive aliar-se as estangeir0s para lutar contraa rival Veneza (a quem devotava um dio quase tio Intenso quanto o seu amor por Florenga) e contra o Papa, mesmo incorrendo em excomanhio. 20. PROCACCI, Gilano Storia degh italiani Bati, Laterza, 1978 21, Sobre ahistéra da Itdlia, GRAMSCI, A, observou: "Ej diel fzer 0 senso comum entender ito, ou sentido retérico-cultural, que no implicaya Jos da Baropa do Renascimento quiseram e puderam imitar ou dositalianos, o inversonao poderia absolutamente ter acontecido, os Est etjnemismo ea forsa das monaruias europeias decortiam como ji re social, e um tecido social nao podia entéo, como 2s at coiado nem tad, De re, «abetivarent ol re todos 08 Estados italianos podia sequer sonhar em se venquista de qualquer territério ao norte dos Alpes, dentre os demais Goropeus havia dos que ambieionavam conquistar a Peninsle males ina de frga para fezt-lo a Espanta © a Franca niladas em 1494 virras da Itlia, opondo os exércitos espanhdis aos franceses, antes mesm minarem, em 1559, com os Tratados de Cateau Cambresis, marcaram, “década de 1520, o fim da autonomia politica dos Estados ita 8 com as excegbes, sendo a Republica de Veneza a mais notével, ¢ 0 infcio lar dominagao espanhola, primeiro, eaustriaca depois. 4 Una espécie de contraprova de que na Tia Estado modern apenas negou, mas ndo se efetivou; terminando o processo, nas palavras de P beco sem saida’, em “um impasse histérico’, pode ser ihda no plano lingustico-corcltual, na mancira como os peasadores cos peninsulares usaram o termo Estado. Por um lado, foram eles os eos a emprega pave em sentido modem to 6 ca mancira que “nds 0 fazemos, como, por exemplo, Maquiavel quando na abertura de "Principe escreve: “Todos os Estados, todos os dominios que tem havido e que nd Sobre os homens, foram e séo reptiblicas ou principados”, ou quando no iz. que “o Estado tem necessidade de seus cidadaos”. iis pr tc | considerado consensualmente _overno¢ Estado, 20 se refers, por exemplo,a “am principe que desea manter 0 Estado que equvale a dizer a uin principe que conserva sua posi “seu elenco de poderes, como bem notou Skinner em seu conhecido lia As - fundagoes do pensamento politico moderno. De acordo com Skinner, a ideia Ue une li como aquela ques forcn em 1970 jamal exist ants e io pod east: 0 jo omim élendo acre que ago quehoje ext sempre exitiv equa ia sempre exitie nas sufcada or fora etranee et’ "O Rogen. Nots sob 5. Ro de Janeiro, Editora Ciilizagio Braille, 2002, mais abstrata “ipicamente moderna do Estado enquanto uma forma de poder piiblico, separada do governante e dos governados, con: interior de um territério definide’® ~ esta i que esperar por mais de meio século e por outros contextos histdricos, » da Pranga, na segunda metade do século XVI e o da Inglaterra na primeiny Em outros termos, tem que esperar pelas obras de Jean «, juntamente com Maquiavel, con: do conceito de Estado moderno, em particular, quanto do pensamento politico moderno em geral, Pois nao seria exageto dizer que dos escritos desses trés pensadores sairam as matrizes dos trés grandes discursos politicos que dominaram todo o periodo da hist6ria moderna no Ocidente, 6 ismo, que ¢ 0 do establishment, e os discursos do individualismo possessivo e do republicanismo cléssico ou humanismo civico, autoridade politica r Bodin e Thomas Hobbes discurso do préprio absol Atentemos para os respectivos momentos € contextos em que surgem as obras daqueles dois pensadores. Os Seis Livros da Republi 1576, quando a Franga est4 mergulhada nas guerras de ré de Hobbes, de 1651, quando a Inglaterra acaba de sair da guerra consenso entre os estudiosos do pensamento politico, que, no livro de B aparece formulada, pela primeira vez. e da maneira mais completa, a teoria 10 monérquico, fundamentada no conceito de soberania, que ele iro a elaborar, ou seja, que a autoridade tem de ser absoluta; ue, no livro de Hobbes, temos isso também, e muito mais do que isso, seja, uma teoria radicalmente nova da sociedade e da politica, o chamado ismo. ‘Tendo em vista esses respectivos panos de fundo, ndo surpreende que tanto Bodin, quanto Hobbes fossem visceralmente 10 de governo misto, o qual implica necessariamente contratualismo ou jusnatui contririos a qualquer aquilo que para eles constitufa o pior dos males, ou seja, a divisio da soberania, Na Franca, as guerras de rel (o, interromperam 0 é mesmo ameagaram a prépria a do pais, mas, logo a seguir, facilitaram a sua consolidagao, tornando-o 0 mais acabado e completo de todos, uma esp de paradigma, de modelo a ser copiado ¢ imitado. Com efeito, nenhuma outra SKINNER, Quentin As Fundagdes do pensamento polltico moderno, Séo Paulo, Companhia izando o termo repibica para indicar 0 Estado) x0 mesmo tempo. fem que apresenta 0 moderno conceto de soberania, ‘ wolveu como a francesa os ingredientes essenciais Ca re oop ¢ iimitada autonomia fnanceira(fundada rae de tributar os camponeses © de vender cargos); um poderoso re Permanente (o maior da Europa em numero de efetivos militares); aeracia, também a maior da Europa e a mais complexa, a pontn de lado origem, ainda que temporariamente, a uma nova ¢ di ee ate nobreza de toga, que, ao se tornar vitalicia e hereditéria, obr ia época de Richelieu, a crix, como bem demonstrou Tocqueville, "Antigo Regime e a Revoluglo, uma outra burocracia informal e cus ris potiamn ser demitdos ad ratum (vale dizer & simples ordem s respectivos superiores); e, last but not least, uma Igreja nacional que, enn vista a experiéncia das guerras religiosas, no poderia srar outras confiss6es; da{ a formula “une foy, une ly, un roy"; igagdo, por Luis XIV, do Edito de Nantes, em 1685. : i ria Inglaterra, a questio religiosa interferiu de maneira inverse a da \¢a na evolugio do Estado. Fol o desencadeamento da Reforma, por arique VIII, nos primeiros anos da década de 1530, com a criagio da leteja cana, que propio axe rel completar obra de consoidago do poder rquico, Mas a maneira como esta obra foi iniciada por Henrique Vill, tinada por Hisabeth ox dos eis mais absoutos, também, no cas0 syetudo da segunda, entre os mais populares, de toda a monarquia inglesa, ma a, com o apoio e fortalecimento do Parlamento, a quem reconhecera josa, e com. de ‘a palavra em matéria de legislagao fiscal ¢ spoio e fortalecimento da gentry, a quem entregaram a incumbén cer, sem remuneragio, o poder local - levou ao paradoxo que consi “Ja cargo, ene todos on pases eurepeus, do Estado mais centralizado no a do poder edo mais dscentalzado na sua base, Em outros termos, na a terra, como agudamente assinalou o historiador Lawrence Stone, em a " Ghusas da Revolugao Inglesa 1529-1642, o desenvolvimento do poder estat Sob @ dinastia Tudor nao se realizou, como em geral ocorreu no continente, “expenses do poder local, mas caminhou pari passu com este. Na Inglaterra, como mais tarde nos Estados Unidos, a centralizacio politica nao levou, como Frew na Franga,& centralizagao administrativa a De sorte que, quando, em 1603, »dinastia Stuart assumia trono da Inglaterra deparon-secom um Estado absolutista manque pois carecia, parcial “OW totalmente, daqueles aparatos de poder sem os quais o absolutismo nio ode se efetivar: autonomia financeira, burocracia permanente remmunerada |, Ease, 2000. ; “da. geragi de Hobbes, “daquele moderne, “da geragic’, nas palavras tu ou antes daguele Deus Mortal, a0 qual devemos,abixo do evra nossa paz e defesa’, ousaria dizer, concluindo, que os itaianos ioe franceses e ingleses 0 desenvolveram e aos slemées restou 0 reptiblica de governo misto e a Franga, ao contréio, nunca ter conhecido ess, forma de governo mesmo nos seus varios momentos de gliria grandeza, Contudo, tendo em vista que a Franga, entre os sécuilos XVI e XIX, tal come Florenga, entre os séculos XIII e XVI, laboratério politico onde todas ag _ constituigdes foram experimentadas, entéo, poderiamos sustentar 0 paralelg deo interpretarem. afirmando que também a Franga, tal como Florenga, deve sua extraordindeig, ‘wajetéria histérica precisamente & divisio politico-ideolégica entre as classes € 20 conflito de classes, Como, alias, jé haviam percebido os historiadores franceses da primeira metade do século XIX. Por exemplo, Frangois Guizot quando afirmava, em 1828, “A Europa moderna nasceu da luta das diversas classes da sociedade, Em outros lugares... esta luta conduziu a resultados bem diferentes., [ng Europa] Nenhuma das classes péde vencer nem se sujeitar as outras; a luta, 40 invés de tornar-se um prine{pio de imobilidade, foi a causa do progresso, As relagdes das diversas classes entre si, a necessidade em que se encontravam de se enfrentar ¢ de ceder alternadamente; a diversidade de interesses, de suas paixdes, a necessidade de se vencer, sem poder chegar até o fim, disto iu talvez.o mais enérgico, o mais fecundo principio de desenvolvimento da civilizagéo europeia’”’ E evidente que Guizot esta generalizando para toda a Europa uma situagio que fot sobretudo tipica da Franga moderna, Como quer que sea, ofato é que, assim como nao houve na época medieval ¢ inicio da moderna, nenhum Estado que experimentou como Florenca uma tio intensa, prolongada e variada divisio e Iuta de classes, também nio hé, posteriormente, nenhum Estado que experimentou como a Franca uma mais intensa, prolongada e variada divisio e luta de classes. Pois, com efeito, em que outro pafs se assiste, como na Franga, considerando-se o longo periodo que vai das guerras de religido, na segunda metade do século XVI, a Comuna de Paris em 1870, a uma tal luta de classes envolvendo, simultaneamente, camponeses contra nobres, trabalhadores urbanos contra burgueses, burgueses contra nobres, nobres contra nobres, burgueses contra burgueses e, por tiltimo e mais importante, proletérios contra burgueses? Assim do absolutismo francés, que socialmente falando parecia, nas palavras do historiador Robert Mandrou, “uma espécie de vulcio de miltiplas crateras’* nao seria exagero dizer, paradoxalmente, que: nasceu da luta de classes, viveu da luta de classes ¢ morreu da uta le classes, 22. A.dtagio de Guizot foi extraida da livro organizado por OLIVEIRA, Therezinhe e MENDES, Claudinei MM, Formagao do Tereiro Estado. As Comunas. Maringd, Universidade Estadual, 2003, pp. 41 042, © 28 MANDROU, Robert, Classes et lutes de classes em France au début du XIe siel, Florengts 6G. DAnna, 1965, p, 26. Jo corrigida de texto origindwhente intitulado “Notas Sobre fo Ruptura no Renascimento ¢ na Primeira Modernidade” ado para concurso de efetivagio na carreira, na FFLCH-USP, em ‘blicado na Revista de Hist6ria, dessa mesma instit em 1996, 19029. lll ICAO E RUPTURA NO RENASCIMENTO E NA PRIMEIRA MODERNIDADE parentemente ndo hé nenhum motivo para aproximar o hi jacob Burckhardt (1818-1897) do pensador e politico francés Alexis de (1805-1859). Contudo, nao se pode prescindir dos seus nomes Jo se aborda a questo da tradigZo e da ruptura na época moderna, que ese pretende fazer aqui. Embora nao tenham sido eles os criadores, ou ‘eiros a fazerem uso, dos termos “Renascimento” e “Antigo Regime’ estria, para nao dizer genialidade, que nao se pode, desde entio, tratar icamente do Renascimento e do Antigo Regime, vale dizer, do inicio € n da primeira modernidade, sem passar necessariamente por Burckhardt ¢ ville, ~ Em outras palavras, com suas respectivas obras-primas A Cultura do wento na Itélia e O Antigo Regime ¢ a Revolugao, publicadas quase 1esmo tempo (a primeira em 1860 € a segunda em 1856), Burckhardt e ville deram aos termos “Renascimento” e “Antigo Regime” a condigio a de conceitos, de categorias histéricas, possuidoras a um sé tempo “unidade e abrangéncia, de contetdo e forma, de espago e tempo. O que Gay disse de Burckhardt também vale para Tocqueville, porque ambos, fom suas obras, acima mencionadas, estavam “criando de uma sé feita o A poucos -pouquissimos- historiadores é dado criar: um novo campo de 1 GA, Peter © Bato na Btdria,Séo Panto, Compania das Letras, 1990 p. 197, Nio deixa se Inteessante constatar que tanto Burckhardt, quanto Tocqueville, airmam quase que @ in colsa nas introdagSes ds suas obras, Assim, enquanto o primelro declare “no verdadero Mido da palavra que esta obra carrega o titulo de um mero ensaio’, o segand

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