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Sexta, 25 / 02 / 2005

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[15h33] A águia e a macroeconomia

Antero: Lula agora
tem nódoa em sua
biografia
Há anos, quando escrevi o livro A águia e a galinha, uma metáfora da condição Área do leitor
humana, estudei a fundo o comportamento das águias. E percebi que nele há
grandes lições que podemos aplicar a situações atuais. Hoje me proponho
Colunistas
recolher uma delas que não pôde ser explorada no referido livro: a forma como
Villas-Bôas Corrêa as águias ensinam seus filhotes a ser autônomos e a voar com suas próprias
A dupla Severino- forças.
Assinaturas
Jobim

É sabido que as águias fazem seus ninhos no alto das montanhas ou na copa Assine já
Informe JB
Aumento de das grandes árvores. O tamanho do ninho é considerável: um metro de altura, Serviço ao assinante
subsídios isola três de comprimento e dois de largura. Depois de nascer, os filhotes ficam ali por (21) 2323-1000
deputados
dois meses, alimentados pela mãe até estarem aptos a voar.
Horário de atendimento
De segunda a domingo,
Cartas
inclusive feriados, de 7h
Tóxicos Após certo tempo, a mãe escasseia a comida. Em substituição, começa a pairar
13h
longamente sobre o ninho a fim de mostrar aos filhotes o vigor de suas asas e
Horóscopo sua capacidade de voar. Então desce sobre o ninho e começa a empurrar o
filhote contra a borda até fazê-lo cair. E ao cair, se apressa em ampará-lo sobre
Gente
'Black power' suas asas estendidas. E depois o devolve ao ninho. Repete várias vezes a cena,
pairando sobre o ninho, fazendo círculos para desafiar os filhotes superarem o
Charge Online medo, a confiarem em suas jovens asas e a quererem voar. E faz isso até os
filhotes se libertarem. Curiosamente o livro do Deuteronômio testemunha este
Marcia Peltier fato: ''Deus é semelhante à águia que desperta a ninhada, voando sobre seus
A festeira do
Fenômeno filhotes, estendendo as asas para segurá-los e carregá-los sobre suas
penas'' (32,11).
Leonardo Boff
A águia e a
macroeconomia
É a prova de risco e de coragem que a mãe-águia submete o filhote para que
ganhe confiança em suas próprias forças e comece a voar autonomamente. A fim
Informe de impedir que volte ao ninho, remexe as folhas e os galhos para fazê-lo não
Econômico mais habitável. Finalmente, o filhote começa a voar e procura por ele mesmo o
Curva de juros se
ajusta para baixo seu próprio alimento. Agora é já águia adulta.

Boechat A lição é cristalina: não podemos ficar eternamente no berço e sob a asas dos
Bom combate 1
pais. Há que enfrentar a vida com seus desafios que muitas vezes nos fazem
dizer: ''Meu Deus, será que estou à altura?'' Percebemos o risco e a possibilidade
Gilberto Amaral
Aumento para todos do fracasso. Mesmo que fracassemos, sempre podemos aprender. Por outro
lado, nunca falta alguma asa a nos amparar e algum ombro amigo no qual
podemos nos apoiar. Resumindo: vamos ganhando coragem para voar por nós
Maria Lucia Dahl
Que país é este
mesmos e seguir o rumo que nós mesmos traçamos.
devastado pela
corrupção?
Outra lição: as tarefas que nos propomos devem conter exigências que
pareçam ir além de nossas forças. Caso contrário, não descobrimos nosso poder
Fernandão
Superliga na reta nem conhecemos nossas energias escondidas e assim deixamos de crescer.
final

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Esta lição aplico-a à atual política econômica do governo. Sabidamente

Hildegard Angel manteve-se a macroeconomia neoliberal, aceitando o receituário do FMI e do
Banco Mundial. O que obrigou sacrificar as políticas sociais punindo os pobres. É
Tudo de bom a opção preguiçosa dos que preferem ser galinhas a águias. Recusam a difícil
De Venice para o
Pepê alternativa de discutir, negociar e pressionar, até abrir um caminho novo que
faça da economia um instrumento da política social voltada para as maiorias.
HQ Essa atitude os faria ser águias e não galinhas. É o que garante as
Milagres existem?
transformações sociais imprescindíveis para superar as desigualdades gritantes.
O destino de um povo é ser águia e voar autonomamente. Missão dos políticos é
fazer o que fazem as águias com os filhotes: estimular o povo a voar livremente
e a plasmar o destino de seu pais.

[25/FEV/2005]

lboff@uol.com.br

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