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A Responsabilidade do Mal

Ao justificar o dogma das penas eternas a que seriam condenados os


pecadores.Impenitentes, a Teologia argumenta que, não obstante o homem seja finito, isto
é, limitado em sabedoria, virtudes e poderio, sua culpa se toma infinita pela natureza
infinita do ofendido - Deus, e, conseqüentemente, infinito deve ser, também, o respectivo
castigo. Sustenta, portanto, a tese de que o elemento moral do delito esteja intimamente
ligado à qualidade do ofendido e não à resolução e malícia do ofensor, tese essa capciosa e
iníqua. Capciosa, porque transfere do agente para o paciente a gravidade do aro culposo.
Iníqua, porque não leva em conta os atributos da Divindade, supondo-a menos perfeita que
a Humanidade. Sim, porque um homem sensato certamente nem sequer tomaria em
consideração as ofensas que lhe fossem dirigidas por uma criança ou por um idiota.
Como, então, admitir-se possa Deus consentir sejamos castigados eternamente pelo haver
ofendido (infantes espirituais que somos) com nossa imensa ignorância ou inconsciência?
A Doutrina Espírita, ao contrário, defende de o princípio de que a culpa por toda e qual.
quer ofensa é sempre proporcional ao grau de conhecimento e à'determinação volitiva de
quem a pratica, e nunca à importância de quem a recebe.
Isso ensinou o próprio Jesus, o Rei dos reis, quando suplicou em favor dos que o
crucificaram: "Perdoa-lhes, Pai, pois não sabem o que fazem."
Em verdade, quanto melhor saibamos discernir e mais livremente possamos decidir entre o
Bem e o Mal, tanto maior será a nossa responsabilidade.
"Assim - diz Kardec - mais culpado é, aos olhos de Deus, o homem instruído que pratica
uma simples injustiça, do que o selvagem ignorante que se entrega aos seus instintos”.(Cap.
I, q. 637) –
Colhamos ainda, em L, dos E. (q. 639,640 e 641), mais alguns esclarecimentos em tomo
dessa magna questão.
Pode o mal, não raro, ter sido cometido por alguém em circunstâncias que o envolveram,
independentemente de sua vontade, ou por injunções a que teve de submeter-se. Nessas
Os Espíritos Podem Retrogradar?

A Doutrina Espírita nos ensina que, em sua origem, os Espíritos se assemelham a inocentes
crianças, isto é, são simples, ignorantes e completamente inexperientes, carecendo adquirir,
pouco a pouco, os conhecimentos que haverão de conduzi-los à plenitude da sabedoria e da
bondade. (q. 634)
Diz-nos, ainda, que todos possuem, latentes, as mesmas faculdades, cujo desenvolvimento
mais ou menos rápido depende de seu livre arbítrio, o qual, por sua vez, vai-se ampliando e
fortalecendo a medida que cada um toma consciência de si mesmo nos embates da Vida.
Nessa escalada, os Espíritos estão sujeitos a errar e permanecer estacionários por algum
tempo; jamais, porém, poderão degenerar, tomando-se piores do que eram, nem cristalizar-
se definitivamente em determinado estágio evolutivo, contrapondo-se à ordem divina que
os impele para frente e para o alto.
Deus, se o quisesse, poderia tê-los criados já perfeitos e isentos de qualquer trabalho para
gozarem os benefícios da perfeição. Em Seus sábios desígnios, todavia, fê-los apenas
Perfectíveis, para que lhes pertencessem os méritos dessa glória e também porque só assim
a saberiam apreciar devidamente.
Perguntam alguns :
1) Se os Espíritos foram criados nem bons e nem maus, com iguais aptidões para tudo,
porque uns seguiram o caminho do bem e outros trilharam a senda do mal ?
2) Estes, os que se desencaminharam, não estarão contrastando a afirmação kardequia-
na de que "os Espíritos não retrogradam"?
Respondendo à primeira questão, diremos que, em conformidade com o enunciado linhas
acima, Deus deseja que todos tenham o merecimento do progresso moral e da bem-
aventurança a que se destinam e, por isso, a par dos meios que lhes põe ao alcance para
esclarecê-los e atrai-los a si, concede-lhes relativa liberdade para que realizem, pelo próprio
esforço, esse sublime desiderato.
Insipientes, podem eles, então, tal qual o filho pródigo da parábola evangélica, enveredar
por ínvios carreiros (os vícios e os crimes), distanciando-se da retidão (o cumprimento).
das leis de Deus) . Cada vez, porém, que isso acontece, sofrem tropeças, quedas e acúleos
que os fazem retomar ao bom caminho.
Destarte, esses transviamentos temporários, com as agruras que lhes são conseqüentes,
constituem experiências que eles vão adquirindo para se conduzirem com acerto no futuro e
não mais fugirem ao roteiro que lhes cumpre palmilhar.
Conforme foi dito páginas atrás, o Bem é a única Realidade Absoluta, o destino final da
Criação, sendo o Mal apenas a ignorância dessa realidade, ignorância que vai
desaparecendo, paulatinamente, através do aprendizado em vidas sucessivas.
“errando também se aprende", diz um refrão popular. E muito, acrescentamos nós. De sorte
que passar do estado de inocência, ou seja, de total inconsciência para o de culpabilidade,
em virtude de engano na escolha de certo modo de agir, não significa retrogradar, mas sim
ganhar tirocínio, desenvolver a capacidade de discernimento, sem o que nenhum avanço
seria possível.
Em qualquer ramo de Ciência, depois de uma dezena de experimentações diferentes mal
sucedidas, o pesquisador estará evidentemente mais próximo da solução que persegue do
que antes de iniciá-las, porque os resultados obtidos, embora negativos, lhe terão fornecido
preciosos subsídios a respeito, indicando-lhe o melhor rumo a tomar.
Como se sabe, milhares e milhares de coisas que tanto conforto e bem-estar oferecem, hoje,
à Humanidade, são frutos de uma série enorme de fracassos, senão mesmo de desastres e de
sacrifícios cruciantes, que afinal se transformaram em grandes e esplêndidos triunfos.
Pois bem! O mesmo sucede na conquista da perfeição. Advertidos pela Dor a cada falta que
cometemos, vamos aprendendo a evitá-las e dia virá em que, percebendo “ser feliz” é a
conseqüência natural de "Ser bom", todos haveremos de cumprir a Lei de Amor,
estabelecida por Deus para a felicidade de todos.
Os que perfilham doutrinas anti-reencarnacionistas não aceitam que todas as almas sejam
criadas "com iguais aptidões para evoluir" e nem aceitam que as diferenças atuais dessas
almas, em saber e moralidade, sejam o resultado de progressos realizados em existências
pregressas, como ensina o Espiritismo. Essas diferenças, no entanto, são reais,
incontestáveis e ressaltam à vista de qualquer um, mas, como não encontram uma causa
anterior para justificá-las, dizem: é porque...
Deus as tem criado assim, desiguais e sem as mesmas aptidões!
A que se reduziria, neste caso, a Justiça Divina?

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