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Yehoshua bin Nun

Assim falou Yehoshua: “Sol, detém-te em Guibeon, e Lua, no Vale de Ayalon (...) E o Sol se
deteve e a Lua parou (...) Não houve dia semelhante a esse, nem antes nem depois dele, em que
o Eterno tivesse atendido à voz humana”.
(Sefer Yehoshua)

Profeta e guerreiro, legislador e juiz, Yehoshua foi o principal discípulo de Moshé Rabeinu. Durante
40 anos permaneceu fielmente ao lado de seu mestre, servindo-o, acompanhando-o, absorvendo
seus ensinamentos. Foi a Yehoshua que Moshé transmitiu a Lei Oral que recebera de D’us, no
Sinai, incumbindo-o de preservá-la e transmiti-la aos anciãos, e estes, por sua vez, às gerações
seguintes. Diz o Talmud que “o rosto de Moshé era como o Sol e o de Yehoshua como a Lua”, pois
Yehoshua era o reflexo dos ensinamentos de seu mestre. Esta era a sua grandeza, a razão pela
qual D’us o escolhera para dar continuidade à missão de seu antecessor, o maior profeta do Povo
Judeu.

Caberia a Yehoshua liderar a geração que nascera no deserto durante a conquista da Terra de
Israel e, a seguir, dividi-la entre as tribos de Israel. Ademais, ele teria que ajudar a moldar uma
nova vida para os Bnei Israel, incutindo neles uma verdade fundamental: mantendo-se fiéis à
Aliança com D’us e Sua Torá, o Eterno os abençoaria com vitórias e prosperidade. Durante os anos
de conquista, ele revela ser um gênio militar, o maior estrategista de toda a história judaica.
Considerado um rei, apesar de não ter sido coroado, ele possuía as qualidades de verdadeiro líder
do Povo Judeu, que sob seu comando viveu dias de glória.

Poucas são as informações biográficas disponíveisna Torá sobre Yehoshua bin Nun. Apesar de
podermos encontrar mais dados no Midrash e no Talmud, é no Sefer Yehoshua, o primeiro livro
dos Profetas, que nos são reveladas sua personalidade e trajetória. A obra de sua própria autoria,
com exceção do último trecho que relata sua morte, é, de certa forma, a continuação dos Cinco
Livros de Moshé. Nela estão descritos os anos de conquista e assentamento do Povo Judeu na
Terra Prometida. O Sefer Yehoshua especifica em várias ocasiões os limites da Terra que D’us
prometeu a Israel.

“Antes que se pusesse o sol de Moshé, nasce o sol de Yehoshua”

Yehoshua, filho de Nun, nasceu no Egito, na tribo de Efraim. Não se sabe o nome de sua mãe nem
há qualquer informação sobre sua família. A figura predominante, que mais vai influenciar sua
vida, é Moshé, seu mestre. Até seu nome, “Yehoshua”, que, em hebraico, significa “D’us salva” ou
“D’us salvará”, foi Moshé quem lhe deu ao adicionar a seu nome original, Hoshea, a letra yud,
uma letra do Nome do Eterno. De acordo com o Targun Yonathan, a razão que levou Moshé a
mudar-lhe o nome foi sua grande modéstia.

De estatura imponente e inteligência privilegiada, Yehoshua bin Nun era o melhor dentre os
discípulos de Moshé. Nachmânides, Rabi Moshé ben Nachman, aponta a vocalização singular de
seu nome na Torá, sugerindo que as duas palavras “bin nun” deveriam ser lidas juntas. O nome,
cuja raiz vem da palavra hebraica biná, significa “aquele que compreende”, em respeito à sua
aguçada inteligência.

Yehoshua entra repentinamente na história de nosso povo. Logo após a travessia do Mar
Vermelho, quando os Filhos de Israel são atacados por Amalek, Moshé o incumbe de repelir o
ataque: “Escolha alguns homens e saia à luta com Amalek; amanhã, estarei sobre o cume da
colina com o cajado de D’us em minhas mãos”, diz-lhe (Êxodo,17: 9). De acordo com oZohar,
Moshé sabia que o combate seria realizado em duas frentes – na arena espiritual e no campo de
batalha e que a vitória militar só poderia ser obtida se houvesse um triunfo na frente espiritual.

Yehoshua obedece sem hesitar e, apesar de inexperiente em combates, repele Amalek “com a
lâmina da espada”. O futuro sucessor de Moshé revela ser corajoso, leal, confiável e, apesar de
sua modéstia, um líder. Diz o Midrash: “Antes que se pusesse o sol de Moshé, nasce o sol de
Yehoshua”, pois, como ensina o Talmud, um líder do Povo Judeu não deixa este mundo antes do
Eterno ter preparado seu sucessor.
Durante os anos em que Israel permanece no deserto, Yehoshua estará sempre ao lado de Moshé,
tão próximos e unidos como podem sê-lo discípulo e mestre. Diz a Torá que Yehoshua “não saía
de dentro da Tenda da Reunião” (Ibid, 33:11), a tenda de Moshé. Estava presente quando o
mestre falava com o Eterno, quando ensinava a Torá a Israel. Quando D’us ordena a Moshé que
suba ao Monte Sinai para receber as Tábuas da Lei, é Yehoshua quem tem o privilégio de
acompanhá-lo e o espera no sopé da montanha por 40 dias e 40 noites. Era também ele quem,
segundo o Zohar, vigiava e protegia o Tabernáculo.

A primeira indicação de que Yehoshua sucederá Moshé ocorre alguns dias antes do fatídico
episódio dos 12 espiões. Relata a Torá que o espírito da profecia pousará sobre dois anciãos –
Eldad e Medad (Números11:26), e eles revelam que “Moshé morrerá e Yehoshua bin Nunirá
sucedê-lo, e que será ele quem levará Israel à Terra Prometida e supervisionará sua distribuição”.
As palavras dos dois anciãos abalam os judeus, à exceção de Moshé.

Quando Israel chega à fronteira da Terra Prometida, prestes a entrar, Moshé envia 12 homens –
um líder de cada uma das Tribos – em uma missão de espionagem. (Ver artigo na página 6).
Entre eles estavam Yehoshua bin Nun e Caleb ben Yefune, em quem Moshé confiava. É nessa
ocasião que Moshé muda o nome do discípulo para Yehoshua, para fortalecê-lo, como uma forma
de empoderá-lo e também como prece para que “D’us o salve da trama dos espiões”.

Quarenta dias depois os 12 “espiões” voltam. Dez relatam que a Terra era grandiosa, mas que
Israel não teria condições de a conquistar. O Povo Judeu entra em desespero “e chorou naquela
noite”. (Números 14:3). Era a noite do nono dia do mês de Av do calendário judaico.

Apenas Yehoshua e Caleb mantiveram-se resolutos e confiantes. Eles tentam persuadir Israel,
mas de nada adiantam suas palavras. Desapontado com a falta de fé de Seu Povo, o Eterno
decreta que toda a geração que saíra do Egito, com mais de 20 anos – excetuando-se Yehoshua e
Caleb – não entraria em Eretz Israel, devendo perecer no deserto. Durante os 38 anos seguintes o
Povo Judeu perambulou no deserto, até perecer toda a geração que deixara o Egito.

Uma nova geração estava prestes a iniciar a conquista da Terra Prometida quando D’us diz a
Moshé que nem ele nem Aaron entrariam em Canaã. Nosso profeta então pede ao Eterno que
nomeie um sucessor, “um homem que sai adiante deles e que entre diante deles” (Ibid, 27:17) .
Um líder que possa guiá-los com eficácia e vigor, grande amor e ilimitada devoção, alguém que
conheça a natureza humana e possa lidar com as divergências de opinião de seus integrantes.

O Eterno responde à Moshé: “Toma para ti Yehoshua bin Nun”. Coloca tua mão sobre ele (...)
diante de toda a congregação (...) E, darás de teu brilho a ele para que lhe obedeçam os Filhos de
Israel”. (Ibid, 27:18 até 21). OMidrash compara a transmissão do esplendor de Moshé para
Yehoshua à chama de uma vela que pode acender uma outra sem perder sua luz.

Ao receber uma parte do espírito de Moshé, Yehoshua, “cheio do Espírito da sabedoria”, torna-se
condutor da Palavra Divina.Sentia-se, no entanto, indigno para assumir o lugar de Moshé, mas
seu mestre o encoraja e lhe diz que quando D’us o encarregara de salvar o povo do Egito ele
também tinha recusado, mas, “finalmente aceitei, e tu também aceitarás”.

Antes de deixar este mundo, Moshé instrui seu amado discípulo perante todo Israel: “Sê forte e
corajoso porque tu entrarás com este povo à terra que o Eterno jurou a teus pais dar-lhes e tu os
farás herdar. O Eterno é quem vai diante de ti, não te deixará, nem te abandonará, não temas”.
(Deuteronômio, 31:6).

Yehoshua assume a liderança

A morte de Moshé afetara profundamente o Povo de Israel; aos pés do Monte Nevó a nação órfã
estava enlutada. Yehoshua, inconsolável, esquece 300 preceitos e adquire 700 dúvidas. Mas
passados os dias de luto o Eterno o sacode de sua dor: “Levanta-te, atravessa o Jordão, tu e todo
o povo”. (Sefer Yehoshua, 1:2)

A missão da qual D’us incumbira Yehoshua era árdua. Ao entrar na terra de Canaã a vida do Povo
de Israel passaria por uma mudança radical, pois terminariam os milagres sobrenaturais através
dos quais D’us cuidara de seu Povo. Durante 40 anos o alimento descia dos céus, a água brotava
de poços que surgiam onde quer que acampassem e uma nuvem os guiava. Mas, assim que
entrassem na Terra teriam que lutar para a conquistar e se defender. Eles teriam que produzir seu
próprio sustento, os Filhos de Israel passariam a levar uma vida normal, sem, no entanto,
esquecer que a fonte de tudo é D’us.

O Eterno o encoraja, assegurando que ninguém irá resistir-lhe: “Todos os dias de tua vida, como
fui com Moshé, serei contigo, não te desampararei e não te deixarei. Sê firme e corajoso, porque
tu farás este povo herdar a Terra que jurei dar a teus pais”. (Ibid, 1:5). D’us lhe promete que irá
prevalecer sobre as nações canaanitas e que nenhum dentre os Filhos de Israel irá desafiar sua
liderança. A união da Nação Judaica em volta de seu líder era primordial para levar Israel à vitória.
No entanto, adverte o Eterno, para ser bem-sucedido, ele não deverá se desviar dos
mandamentos da Torá que Moshé transmitira a Israel e deverá zelar por seu estudo.

Entrando em Eretz Israel

Os Filhos de Israel, acampados em Sitim, em frente a Jericó, a leste do rio Jordão, estavam
prestes a entrar em Canaã. A região era, na época, habitada por sete tribos que viviam em
cidades fortificadas, cada uma governada por seu próprio “rei”.

A conquista de Jericó era de vital importância, pois dava acesso a toda Eretz Israel. Yehoshua
envia, pois, Phinehas e Caleb para verificar as fortificações e o estado de espírito dos habitantes.
Após se infiltrar até as impenetráveis muralhas de Jericó, eles se escondem em uma hospedaria
situada junto aos muros.

O local pertencia a Rahav, uma cortesã de uma beleza extraordinária que lhes revela que os
ajudava por saber que D’us prometera aquela terra a Israel e que ninguém podia lutar contra Sua
Vontade. Phinehas e Caleb voltam ao acampamento com a informação que Yehoshua queria ouvir,
de que “todos os moradores da terra estão aterrorizados diante de nós”. (Ibid, 2:24). O Povo
Judeu estava prestes a voltar para a Terra que o Eterno prometera dar como herança a Israel.

Antes de atravessarem o rio Jordão, D’us revela a Yehoshua que Ele irá realizar milagres para
“engrandecê-lo perante os olhos de Israel” (Ibid, 3:7) e consolidar a confiança do povo em seu
novo líder. Os milagres seriam uma prova de que o Eterno estava com Israel. Na manhã de 10
de Nissan,com a Arca Sagrada carregada pelos Cohanim, abrindo o caminho, o Povo de Israel
chega às margens do rio. Relata o Livro de Yehoshuaque, quando “os pés dos Cohanim que
carregavam a Arca, molharam-se na beira da água (...) pararam as águas (...) e se levantaram
verticalmente, como uma muralha”. (Ibid, 3: 15 e 16). O leito do rio secou em frente a Jericó e o
Povo Judeu passou a pé, a seco, como fizera outrora no Mar Vermelho.

Em lembrança do milagre que D’us realizara para Seu Povo, 12 grandes pedras retiradas do local
onde parou o fluxo do rio, por 12 homens – um de cada tribo – e foram levadas para Guigal. Lá foi
erguido um monumento. Guilgal, a primeira parada de Israel no lado ocidental do Jordão, tornou-
se a capital da nação durante os 14 anos seguintes.

No entanto, eles ainda não estavam prontos para tomar posse da Terra, pois precisavam cumprir
dois mandamentos: o brit e o sacrifício de Pessach. No deserto, a maioria dos homens não fora
circuncidada por causa das condições de vida e do clima árido da região. Yehoshua realiza então,
uma circuncisão em massa e, no dia 14 de Nissan, os judeus oferecem o sacrifício pascal e
celebram Pessach.

Logo em seguida, Yehoshua vai para os arredores de Jericó, onde se depara com um guerreiro
com uma espada desembainhada na mão. Era um anjo, um “comandante do exército do Eterno”.
De acordo com Rashi, era Michael, o anjo protetor de Israel, que o informa que viera para ajudar
na conquista de Jericó, e lhe diz que o Todo Poderoso mobilizaria todas as Suas forças a favor de
Israel.

A conquista dos Reinos do Sul

De acordo com o Talmud, durante sete anos Israel lutou contra os povos que habitavam na
região, porém, no Livro de Yehoshua estão registradas apenas cinco de suas inúmeras campanhas
militares: as conquistas de Jericó e Ai, a rendição dos guibonitas e as conquistas dos Reinos do Sul
e do Norte.

O primeiro enfrentamento entre Israel e os povos de Canaã ocorreu em Jericó. A estrondosa


vitória de Israel, no entanto, não foi o resultado de uma ação militar, pois D’us determinara que a
cidade caísse de uma maneira milagrosa. O Todo Poderoso instrui Yehoshua como agir. No
decorrer de sete dias todos os guerreiros de Israel, a Arca Sagrada e sete Cohanimtocando
sete shofarim rodearam Jericó. O estrondo dos sons visava confundir e assustar os habitantes da
cidade sitiada. O número sete representa a presença de D’us na Criação, enquanto que a
repetição da sequência desse número e a conseqüente queda das impenetráveis muralhas de
Jericó seria uma prova de que Ele estava dando a Terra a Seu povo.

Nos primeiros seis dias o exército de Yehoshua, a Arca e os Cohanim deram uma única volta e
os shofarim tocaram uma única vez. No sétimo dia rodearam a cidade sete vezes e
os Cohanim tocaram os shofarim sete vezes. E, quando os Cohanim tocaram pela sétima vez
os shofarim,Yehoshua diz ao povo: “Ao ouvir o último toque do shofar, gritai porque o Eterno vos
deu a cidade”. (Ibid, 6:16). Ele ordena a destruição de Jericó com tudo o que contém, com uma
única exceção – Rahav e todos os que se haviam abrigado em sua casa seriam poupados. Proíbe,
também, saques. Os bens do inimigo deviam ser queimados, em oferenda a D’us.

E ainda adverte que se alguém violasse a proibição poria em perigo todo Israel. Assim que se
ouviu no vale o som de Israel, as muralhas de Jericó caíram e o povo, liderado por Yehoshua,
conquista a cidade. Os próprios espiões resgataram Rahav e, segundo certas fontes, outras 260
pessoas que ela abrigara. Levada ao acampamento de Israel, ela se converte ao judaísmo e se
casa com Yehoshua. Oito profetas, entre eles Jeremias e Baruch, descenderiam dessa união.

Sem dar descanso ao inimigo, Yehoshua decide atacar Ai, antiga cidade que dominava o planalto
central. Mais uma vez, ele envia homens para averiguar o inimigo. Eles voltam com uma avaliação
por demais otimista, afirmando não ser necessário que a nação inteira lutasse contra o próximo
alvo. No entanto, a pequena tropa destacada para tomar Ai é facilmente repelida pelo inimigo e 36
judeus perdem a vida.

A derrota abala Israel. Yehoshua sabia que aquilo seria fatal para a moral de seus homens e
fortaleceria o inimigo. Arrasado, pergunta à D’us por que Ele abandonara Seu Povo. O Eterno lhe
responde que Israel pecara. O erro precisava ser corrigido e que enquanto não o fosse, a Presença
Divina permaneceria afastada de toda a Nação.

Perante toda Israel o culpado e sua transgressão são revelados. Apesar de Yehoshua ter advertido
de que nada poderia ser levado como despojo de Jericó, Achan, respeitado membro da tribo de
Yehuda, apossara-se de alguns objetos. A ganância de uma única pessoa resultara na derrota de
Israel. Punido o culpado e restabelecida a disciplina, Yehoshua planeja cuidadosamente um novo
ataque a Ai. D’us lhe reassegura de que a derrota fora temporária e ordena que siga em frente.
Mas teria que levar todos seus homens, pois a nação deveria permanecer unida.

Os arrojados planos de batalha de Yehoshua dão certo e Ai cai em suas mãos. A vitória reabilita o
nome e a valentia do Povo Judeu e Yehoshua prova ser brilhante estrategista, além de um valente
guerreiro.

A derrota na primeira batalha, no entanto, terá conseqüências, pois, para os canaanitas, era prova
de que Israel não era invencível. Eles se unem para fazer frente a Yehoshua e seu exército.

Yehoshua faz parar o Sol

Assim como determina a Torá, antes de dar início às conquistas, Yehoshua apresentara suas
condições de paz aos inimigos. Em sua mensagem, afirmava que Israel se preparava para
reivindicar sua herança, pedindo, “que partissem pacificamente ou que ficassem aceitando viver
sob governo judeu”. Apenas uma das tribos optou por deixar a Terra; o restante decidiu ficar e
lutar. Mas, vendo o avanço de Israel, um dos povos, os guibonitas, decidem romper a aliança dos
reis canaanitas e fazer um acordo de paz com Yehoshua. Acreditando que o objetivo de Israel era
aniquilar todos os povos de Canaã e que era tarde demais para aceitar as condições anteriormente
oferecidas, fingem “vir de terras distantes” e fazem um acordo. Eles sabiam que Israel não
romperia um compromisso ainda que feito sob falsos pretextos.

Enfurecidos com os antigos aliados, cinco reis canaanitas atacam Guibon, cujos habitantes pedem
socorro a Yehoshua. Ao alvorecer do dia seguinte, ele surge com seu exército no alto dos montes
que circundam a cidade sitiada. Tinham percorrido uma jornada de vários dias em apenas uma
noite. Surpreendido, o inimigo entra em debandada. Os que não tombaram pelas espadas de
Israel foram mortos por uma chuva de pedras que D’us lança sobre eles. A batalha ainda estava
sendo travada quando Yehoshua agradece a D’us pelos milagres que acabara de realizar. Em
seguida, perante toda Israel, proclama: “Sol, detém-te em Guibeon, e Lua, no vale de Ayalon”.
(Ibid, 10:12). E, como relata o Livro de Yehoshua, “não houve dia semelhante a esse, nem antes
nem depois dele, em que o Eterno tivesse atendido à voz humana”. (Ibid, 10:14). De acordo com
o Pirkei de Rabi Eliezer, Yehoshua pediu pelo milagre porque já era sexta-feira à tarde e temia que
a batalha fosse estender-se pelo Shabat, eele queria que o dia se prolongasse até Israel completar
sua vitória. O milagre era mais uma prova de que D’us lutava ao lado de Israel.

Derrotados os cinco reis canaanitas, Yehoshua prossegue com suas conquistas. Planejamento
cuidadoso, manobras ousadas e um espírito de camaradagem, solidariedade e auto-sacrifício vão
conduzir Israel a mais e mais vitórias.

A conquista dos Reinos do Norte

Conquistado o sul de Eretz Israel, Yehoshua se volta para o norte. Ao contrário das guerras no sul,
relativamente curtas, as do norte foram difíceis e levaram muitos anos, pois a aliança entre os reis
do norte resultara na criação de uma poderosa força bélica, em número e mobilização. Mesmo
assim não conseguiram fazer frente a Yehoshua e seus homens. Rápidos, audaciosos e
imprevisíveis, eles surgiam do nada, surpreendendo o inimigo. Atacavam e derrotavam-nos,
prosseguindo até dominar a maior parte de Canaã. Permaneceram em vários enclaves onde ainda
habitavam outros povos, mas esses já não ousavam lutar contra Israel.

Yehoshua bin Nun foi o comandante ideal. Liderava seus homens à guerra gritando “Acharei” –
“Sigam-me”. Seus homens lhe devotavam lealdade absoluta. Jamais Israel esteve tão unido
quanto sob a sua liderança. Brilhante estrategista, ele permanece imbatível em termos militares.
Seu nome consta no Hall of Fame da Academia Militar de West Point como o primeiro e maior
estrategista e comandante de campo de nossa civilização. Suas campanhas militares são
consideradas verdadeiros manuais de combate, e muitos generais contemporâneos admitem que,
não fosse por algumas táticas de Yehoshua, muitas operações em seus países teriam fracassado.

A divisão da Terra

Após sete anos de lutas, D’us fez ver a Yehoshua que ele já estava velho para continuar
combatendo. Chegara a hora de os “Filhos de Israel receberem sua herança na terra de Canaã”. O
Eterno o instrui para distribuir a Terra entre o povo, mesmo os territórios que ainda não haviam
sido conquistados, pois era importante que cada tribo soubesse o que era seu de direito. Duas
tribos e meio já haviam recebido de Moshé territórios conquistados no lado oriental do Jordão. A
tribo de Levi não receberia, como as demais, um território específico, mas cidades espalhadas
por todaEretz Israel, pois sua herança era servir a D’us e ensinar a Torá ao Povo. A distribuição da
Terra às outras tribos foi realizada por Yehoshua e Eleazar, oCohen Gadol, na presença dos líderes
de cada tribo, mediante sorteio, e consultando-se o Urim V Turim1, prova de que era D’us, Ele
Próprio, Quem determinara qual porção pertencia a cada tribo.

Desde que haviam entrado em Canaã, o Tabernáculo estava em Guilgal, mas agora que o Povo
estava-se assentando em sua Terra, era necessário erguer um centro espiritual e religioso. O local
escolhido para erguer o Santuário foi Shiló, no território de Efraim, onde permaneceu por 369
anos.

Terminada a distribuição das terras, D’us diz a Yehoshua para estabelecer Cidades-refúgio, onde
podiam-se abrigar indivíduos que cometessem assassinatos acidentais. E, em seguida, as cidades
dos Levitas, num total de 48, incluindo as seis Cidades-refúgio.

E assim relata o Livro de Yehoshua: “E o Eterno deu a Israel toda a terra que jurara dar a seus
pais, e a possuíram e habitaram nela. E o Eterno lhes deu descanso de seus inimigos em redor,
conforme tudo quanto jurara a seus pais, e nenhum de seus inimigos ficou em pé diante deles....
Nada falhou de todas as coisas boas que o Eterno havia falado à Casa de Israel, tudo se cumpriu”.
(Ibid 21:41-43)

A despedida de Yehoshua

“E foi muito tempo depois que o Eterno deu descanso a Israel. Yehoshua chamou a todo Israel”.
(Ibid 23:1). Ele sentia que se aproximava o fim de seus dias e que estava para deixar seu povo
amado. Portanto, preocupado em preparar a nação para o futuro sem sua presença, convoca seu
povo em duas assembléias. Na primeira ele exorta Israel a preservar a Torá e cumprir seus
mandamentos. Ressalta que se concretizaram as promessas que Israel recebera do Eterno e que o
povo testemunhara milagres. Diz que já havia distribuído todo o território da Terra e que cabia,
então, aos judeus lutar pelo que era seu, podendo contar com a ajuda Divina. Diz-lhes que não
devem temer sua morte iminente, pois D’us – e não ele – fora o responsável pelas vitórias de
Israel. Seu sucesso não dependera dele, mas da lealdade do povo à Torá. Se eles continuassem
fiéis a D’us e a Seus mandamentos, Ele os faria vitoriosos.

Caso contrário, os canaanitas lá permaneceriam, infligindo amargas consequências sobre eles. Ele
sabia que os idólatras que viviam nas terras não conquistadas e aqueles que ainda habitavam
entre os judeus constituíam uma ameaça. Exorta-os a serem fortes e guardar todos os
mandamentos e prevenir-se contra as influências do meio-ambiente pagão. Yehoshua convoca a
segunda assembléia em Shechem (Nablus) para despedir-se de seu povo. Narra-lhes toda a
história de Israel desde os dias de Avraham, nosso patriarca, conclamando-os a permanecer
firmes em seu pacto de obediência a D’us e à Torá. Entre suas palavras finais, ele os desafia:
“Escolham, neste dia de hoje, a quem irão servir, pois eu e minha casa, serviremos a D’us!” (Ibid,
24:150). E todo o povo respondeu, sem hesitação: “Permaneceremos, para sempre, fiéis a nosso
D’us e a nossa Torá!”.
Isso ocorreu no ano de 2516, no 26o ano de liderança de Yehoshua, e dois anos depois, aos 110
anos de idade, ele faleceria. O grande líder foi enterrado em sua propriedade, em Timnat-Serach,
no monte Efraim.

O Livro de Yehoshua termina com um tributo à grandeza de Yehoshua, a “Lua”. O sucessor de


Moshé cumprira plenamente sua difícil missão e, no final de sua vida, D’us a ele se refere com o
título que havia conferido a seu mestre: “Servo do Eterno”.

Bibliografia:
Rabi Scherman, Nosson e Rabi Zlotowitz, Meir, The Rubin Edition of the Prophets: Joshua and
Judges,
The Early Prophets - with a commentary anthologized from the Rabbinic writings, ArtScroll Series
Rabi Munk, Elie, The Call of the Torah, an anthology of interpretatios and commentary on the Five
Books of Moses, Ed. Mesorah Publications
O Livro de Josué com comentários do Rabino Avraham Blau, Ed. Maayanot
Wiesel, Elie, Five Biblical Portraits, Ed. University of Notre Dame Press

1 Peitoral usado pelo Cohen Gadol, onde estava gravado o Nome de D’us e das Tribos. As
respostas a questões levantadas eram transmitidas por letras que se iluminavam.

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