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Talden Farias
Francisco Seráphico da N. Coutinho
Geórgia Karênia R. M. M. Melo

DIREITO
AMBIENTAL

4a edição
revista e atualizada

coleção
SINOPSES
para concursos
coordenação
LEONARDO DE MEDEIROS GARCIA

Direito Ambiental - Sinopses p conc - 4ed.indb 3 30/03/2016 13:45:55


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Capítulo
3?
Princípios do
Direito Ambiental

1. ASPECTOS GERAIS DOS PRINCÍPIOS JURÍDICOS


As fontes do Direito são todas as circunstâncias ou instituições
que exercem influência sobre o entendimento dos valores tutelados
por um sistema jurídico. Entre as fontes do Direito estão a lei, os
costumes, a jurisprudência, a doutrina, os tratados e convenções
internacionais e os princípios jurídicos.
Os princípios exercem uma função especialmente importante
frente às outras fontes do Direito porque, além de incidir como re-
gra de aplicação do Direito no caso prático, eles também influenciam
na produção das demais fontes do Direito. É com base nos princípios
jurídicos que são feitas as leis, a jurisprudência, a doutrina e os tra-
tados e convenções internacionais, já que eles traduzem os valores
mais essenciais da Ciência Jurídica.
Se na ausência de uma legislação específica há que se recorrer
às demais fontes do Direito, é possível que no caso prático não haja
nenhuma fonte do Direito a ser aplicada a não ser os princípios
jurídicos. Com efeito, pode ser que não exista lei, costumes, juris-
prudência, doutrina ou tratados e convenções internacionais, mas
em qualquer situação os princípios jurídicos poderão ser aplicados.
Sendo assim, os princípios têm valor normativo, e não apenas
valorativo, interpretativo ou argumentativo, de maneira que se en-
contram hierarquicamente superiores a qualquer regra. Na verdade,
já que os princípios são o esteio do ordenamento jurídico, é a eles
que as regras têm se adequar e não o contrário, e quando isso não
ocorrer deverá a mesma ser considerada nula.

 Importante!
A relevância dos princípios jurídicos justifica-se porque:
Marcam a autonomia dos ramos do Direito

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Integram e harmonizam as normas de um determinado ramo do Direito


Servem diretamente como critério para resolução de conflitos no caso
concreto
Servem como referência para construção e interpretação das demais
fontes do Direito, notadamente das leis e da jurisprudência

2. IMPORTÂNCIA DOS PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL


No âmbito do Direito Ambiental é evidente que os princípios
também desempenham essas mesmas funções de interpretação das
normas legais, de integração e harmonização do sistema jurídico e
de aplicação ao caso concreto. É preciso destacar também que a
afirmação dos princípios do Direito Ambiental desempenhou um pa-
pel fundamental no reconhecimento desse Direito enquanto ramo
autônomo da Ciência Jurídica.
Um aspecto que ressalta a importância dos princípios no Di-
reito Ambiental em relação aos demais ramos da Ciência Jurídica
é o fato da enorme proliferação legislativa nessa área. Com efeito,
como existe uma competência legislativa concorrente entre os diver-
sos entes federativos, é possível encontrar além das leis e decretos
federais e convenções e tratados internacionais, uma série de leis e
decretos estaduais, distritais e municipais.
É também imensa a proliferação de resoluções ou deliberações
editadas pelos conselhos de meio ambiente, seja no âmbito federal,
estadual ou distrital e municipal, e de portarias elaboradas pelos
órgãos administrativos de meio ambiente. Muitas vezes tais normas
são elaboradas por técnicos ambientais ou até por representantes
de associações de classe ou de movimentos sociais que adotam uma
redação excessivamente técnica ou confusa ou obscura sob o ponto
de vista da técnica legislativa.
Há que se ponderar também que se trata de um ramo novo do
Direito, a que a maioria dos membros do Magistratura e do Minis-
tério Público ainda não está afeita, tendo em vista que a disciplina
só começou a ser ministrada nos cursos de graduação em Direito
há pouco mais de dez anos. Por outro lado, não existe um código
ambiental a ordenar e a sistematizar a legislação existente na área.
Por conta disso, os conflitos normativos são muito comuns nessa
área e deverão ser resolvidos por meio da aplicação dos princípios

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Cap. 3 • Princípios do Direito Ambiental 37

do Direito Ambiental. Com relação ao papel relevante que os prin-


cípios jurídicos podem desempenhar naquelas situações que ainda
não foram objeto de legislação específica, trata-se de mais uma situ-
ação muito comum no que diz respeito ao meio ambiente.

`` Importante!
Na prática os princípios do Direito Ambiental acabam sendo mais im-
portantes do que a maioria dos outros ramos do Direito, pelas se-
guintes razões:
• O Direito Ambiental é um ramo novo da Ciência Jurídica
• Houve uma enorme proliferação normativa nos últimos anos
• A competência legislativa é concorrente entre União, Estados, Distrito
Federal e Municípios
• Inexistência de código ou de consolidação da legislação ambiental
• A maioria das normas têm caráter técnico
• A maioria dos membros da Magistratura e do Ministério Público não
estudou a matéria na graduação nem em pós-graduação e/ou não se
pauta por boa técnica legislativa

3. PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO AMBIENTAL


Não existe um consenso na doutrina e na jurisprudência quanto
aos princípios gerais do Direito Ambiental, seja no que diz respeito
ao conteúdo, ao número ou à terminologia adotada. Por isso, foram
selecionados os princípios com maior respaldo constitucional e uni-
versalidade, e mais exigidos em concursos públicos.

3.1. Princípio do acesso equitativo


De acordo com o princípio do acesso equitativo aos recursos na-
turais, todo ser humano deve ter acesso aos recursos naturais e ao
meio ambiente de forma geral, na medida de suas necessidades. Isso
significa que os benefícios e malefícios oriundos da apropriação des-
ses recursos devem ser distribuídos de forma equânime na sociedade.
O Princípio 5 da Declaração Universal sobre o Meio Ambiente
dispõe que “Os recursos não renováveis do Globo devem ser explo-
rados de tal modo que não haja risco de serem exauridos e que as
vantagens extraídas de sua utilização sejam partilhadas a toda a
humanidade”. Já os Princípios 1 e 3 da Declaração do Rio de Janeiro
sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento dispõem que “Os seres

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humanos constituem o centro das preocupações relacionadas com


o desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e
produtiva em harmonia com a natureza” e que “O direito ao de-
senvolvimento deve ser exercido de modo a permitir que sejam
atendidas eqüitativamente as necessidades de gerações presentes
e futuras”.
A referência normativa mais importante ao princípio do acesso
equitativo aos recursos naturais no ordenamento jurídico brasileiro
é a classificação do meio ambiente pelo caput do art. 225 do texto
constitucional como “bem de uso comum do povo”, equidade essa
que é considerada também no que diz respeito às gerações futuras.
Essa equidade pode ser intergeracional ou intrageracional: na pri-
meira, parte-se de uma perspectiva de partilhamento equitativo dos
recursos naturais e do meio ambiente entre as gerações presentes,
ao passo que na segunda essa ideia é trabalhada tomando por base
as gerações futuras.

`` Importante!
O acesso equitativo pode ser intergeracional, que é a equidade entre
as gerações presentes, ou intrageracional, que leva em conta as gera-
ções futuras.

`` Como esse assunto foi cobrado em concurso?


Foi considerado certo o seguinte item no concurso para a Procuradoria
do Município de Teresina/PI/FCC/2010: d) a noção de gestão sustentável
dos recursos naturais no espaço e no tempo impõe um duplo imperati-
vo ético de solidariedade – equidade intrageracional e intergeracional.

3.2. Princípio do direito humano fundamental


Em junho de 1972 a ONU organizou em Estocolmo, na Suécia, a 1ª
Conferência das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente, aprovando,
ao final, a Declaração Universal do Meio Ambiente que declarou que
os recursos naturais, como a água, o ar, o solo, a flora e a fauna,
devem ser conservados em benefício das gerações futuras, cabendo
a cada país regulamentar esse princípio em sua legislação de modo
que esses bens sejam devidamente tutelados.
Nessa declaração, o direito humano fundamental ao meio am-
biente foi definitivamente reconhecido como uma questão crucial
para todos os povos do planeta ao estabelecer no Princípio 1 que

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Cap. 3 • Princípios do Direito Ambiental 39

“O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao


desfrute de condições de vida adequada em um meio, cuja qualida-
de lhe permita levar uma vida digna e gozar de bem-estar, e tem a
solene obrigação de proteger e melhorar esse meio para as gera-
ções futuras e presentes”.
A declaração abriu o caminho para que legislações em todo
o mundo se voltassem cada vez mais para a proteção dos ecos-
sistemas. Sob sua influência, no Brasil se editou a Lei nº. 6.938/81,
que declarou pela primeira vez no ordenamento jurídico nacional a
importância do meio ambiente para a vida e para a qualidade de
vida, delimitando os objetivos, os princípios, os conceitos e os instru-
mentos dessa proteção. De acordo com o art. 2º dessa Lei, “A Política
Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melho-
ria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando
assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio econômico,
aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da
vida humana”.

`` Importante!
Já em 1981 a Política Nacional de Meio Ambiente disciplinada na Lei
6.938/81 já colocava a dignidade da vida humana como objetivo maior
de todas as políticas públicas de meio ambiente.

Com a Constituição Federal de 1988 o meio ambiente se consa-


grou definitivamente como um direito fundamental da pessoa huma-
na ao classificá-lo bem de uso comum do povo e essencial à qualida-
de. Com efeito, a vida é o direito do qual provém todos os direitos,
e o meio ambiente ecologicamente equilibrado foi reconhecido pelo
art. 225 da Constituição Federal como essencial à qualidade de vida.
Nesse diapasão, o art. 11 do Protocolo Adicional à Convenção
Americana de Direitos Humanos, assinado no dia 17 de novembro
de 1988 em São Salvador, na República de Salvador, estabelece que
“Toda pessoa tem direito de viver em meio ambiente sadio e de
beneficiar-se dos equipamentos coletivos essenciais”. Com efeito, os
direitos humanos fundamentais têm por natureza a obrigação de
defender a qualidade de vida do ser humano, valor sem o qual não
existiria a dignidade da pessoa humana, objetivo dentro do qual o
papel do direito ambiental alcança enorme destaque.
A proteção jurídica ao meio ambiente é uma forma imprescin-
dível de resguardar a vida e a qualidade de vida humana, devendo

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assim o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado ser


considerado um direito humano fundamental. Sem um ecossistema
equilibrado nenhum direito humano fundamental pode existir, até
porque a própria continuidade da vida planetária depende disso.

`` Como esse assunto foi cobrado em concurso?


Foi considerado errado o seguinte item no concurso para a Procura-
doria do Estado/CE/2009/CESPE: Pelo princípio da proteção ambiental
como um direito fundamental, não há necessidade de EIA se no local
não há ocupação humana.

3.3. Princípio do desenvolvimento sustentável


O desenvolvimento sustentável é o modelo que procura coadu-
nar os aspectos ambiental, econômico e social, buscando um ponto
de equilíbrio entre a utilização dos recursos naturais, o crescimento
econômico e a equidade social. Esse modelo de desenvolvimento
considera em seu planejamento tanto a qualidade de vida das gera-
ções presentes quanto a das futuras, diferentemente dos modelos
tradicionais que costumam se focar na geração presente ou, no má-
ximo, na geração imediatamente posterior.

`` Importante!
A Constituição Federal de 1988 consagrou o desenvolvimento susten-
tável ao afirmar no Art.225 que “Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial
à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coleti-
vidade o dever de defendê-lo e de preservá-lo para as presentes e
futuras gerações”. O mesmo ocorre com a Lei nº 6.938/81, que dispõe
no inciso I do art. 4º que a Política Nacional do Meio Ambiente visará
à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a pre-
servação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico". O
meio ambiente é tão importante que foi transformado pelo inciso VI do
art. 170 da Constituição Federal em um princípio da ordem econômica,
passando a se sujeitar a ele os princípios da livre iniciativa e da livre
concorrência.

Com a segunda Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente e


o Desenvolvimento, que ocorreu em 1992 no Rio de Janeiro e que é
conhecida como Eco-92, o desenvolvimento sustentável se consagrou
em definitivo na esfera internacional por causa da Declaração do Rio
de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, cujo Principio nº

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Cap. 3 • Princípios do Direito Ambiental 41

3 consagra que “O Direito ao desenvolvimento deve ser exercido de


modo a permitir que sejam atendidas eqüitativamente as necessida-
des de gerações presentes e futuras”. Sendo assim, a formulação do
princípio do desenvolvimento sustentável implica no reconhecimento
de que as forças de mercado abandonadas à sua livre dinâmica não
garantem a manutenção do meio ambiente, impondo um paradigma
novo ao modelo de produção e consumo do ocidente.

`` Como esse assunto foi cobrado em concurso?


Foi considerado certo o seguinte item no concurso para a Procuradoria
do Município de Teresina/2010/FCC: a) o princípio do desenvolvimento
sustentável é fundado em três pilares: econômico, ambiental e social.

3.4. Princípio da função social da propriedade


O princípio da função social da propriedade exige obrigações
de fazer e de não fazer, sendo importante destacar que não se nega
ao proprietário o direito exclusivo sobre a coisa, apenas se exigindo
que o uso da propriedade resulte em benefícios à coletividade.
O direito ao livre exercício da atividade econômica está condi-
cionado ao cumprimento da função social, de maneira que as ati-
vidades econômicas não podem ser lesivas ao meio ambiente. A
perspectiva ambiental deve incidir sobre a propriedade dos meios
de produção e sobre a atividade empresarial de uma forma geral,
contribuindo para que as gerações presentes e futuras gozem de um
meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Um ponto que precisa ser destacado é que ao definir a função
social como princípio da ordem econômica no inciso III do art. 170,
a Constituição Federal quis se referir à propriedade no sentido mais
amplo possível, de maneira a abarcar não só os bens objeto de di-
reito real, mas todo e qualquer bem patrimonial.
A função social da propriedade é representada pelo conjunto
de normas constitucionais que têm como objetivo fazer com que a
propriedade desempenhe o seu papel natural. Não existe um único
regime para a função social da propriedade, posto que existem di-
versos direitos de propriedade.
De acordo com o art. 182 da Constituição Federal, a proprie-
dade urbana cumpre a função social quando cumpre as exigências
fundamentais do plano diretor, obrigatório para cidades com mais

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de 20.000 habitantes, facultando ao Município, mediante lei específi-


ca para certa área incluída em tal plano, exigir do proprietário seu
adequado aproveitamento, sob pena de parcelamento ou edificação
compulsórios, IPTU progressivamente aumentado e desapropriação
paga com títulos da dívida pública resgatáveis em dez anos.
Em relação à propriedade rural, o art. 186 da Constituição Fe-
deral que determina que a função social é cumprida quando atende
ao aproveitamento racional e adequado, à utilização adequada dos
recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente, à
observância das disposições que regulam as relações de trabalho
e à exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos
trabalhadores.

`` Como esse assunto foi cobrado em concurso?


Foi considerado certo o seguinte item no concurso para a Magistratura
Estadual/SC/2009: O princípio da função socioambiental da proprieda-
de assegura, na ordem jurídica atual, a possibilidade de imposição ao
proprietário rural do dever de recomposição da vegetação em áreas
de preservação permanente e de reserva legal, mesmo que não tenha
sido ele o responsável pelo desmatamento, pois tal obrigação possui
caráter propter rem.

Foi considerado certo o seguinte item no concurso para Juiz de Direito


Substituto – PA/2014: e) o direito de propriedade deve ser exercido em
consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo
que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei
especial, entre outros bens ambientais, a flora, a fauna e as belezas
naturais, em atendimento ao princípio da função socioambiental da
propriedade.

3.5. Princípio da informação


O princípio da informação, também conhecido como princípio
da publicidade, parte do pressuposto de que toda informação em
matéria ambiental é de interesse coletivo, e que no caso de inexis-
tência caberá ao Estado produzi-la tamanha é sua importância para
a construção do Estado de Direito Ambiental. De um lado, é com base
em informações atualizadas e concretas que a Administração Pública
tomará decisões, seja no que diz respeito às políticas ambientais
propriamente ditas, seja no que diz respeito às políticas públicas
que fazem interface com a questão ambiental.

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Cap. 3 • Princípios do Direito Ambiental 43

De outro lado, sem essas informações a sociedade civil não po-


derá fazer reivindicações adequadas ou pertinentes, em razão do
desconhecimento da matéria. Tanto é que vários autores consideram
o princípio da informação como um desdobramento do princípio da
participação.

`` Como esse assunto foi cobrado em concurso?


Foi considerado certo o seguinte item no concurso para a Procurado-
ria do Estado/PI/2008: b) a Declaração do Rio de Janeiro (1992) dispôs
que, no nível nacional, é direito de todo indivíduo ter acesso adequado
às informações relativas ao meio ambiente de que disponham as au-
toridades públicas, inclusive informações sobre materiais e atividades
perigosas em sua comunidade.

3.6. Princípio do limite


Voltado para a Administração Pública, cujo dever é fixar pa-
râmetros mínimos a serem observados em casos como emissões
de partículas, ruídos, sons, destinação final de resíduos sólidos,
hospitalares e líquidos, dentre outros, visando sempre promover o
desenvolvimento sustentável. Portanto, somente são permitidas as
práticas e condutas cujos impactos ao meio ambiente estejam com-
preendidos dentro de padrões previamente fixados pela legislação
ambiental e pela Administração Pública.
Esse controle ambiental se dá pela averiguação e acompanha-
mento do potencial de geração de poluentes líquidos, de resíduos
sólidos, de emissões atmosféricas, de ruídos e do potencial de riscos
de explosões e de incêndios. O principal fundamento jurídico desse
princípio é o inciso V do § 1º do artigo 225 da Constituição Federal.

3.7. Princípio da participação


O princípio da participação, conhecido também como princípio
democrático ou de princípio da gestão democrática, assegura ao ci-
dadão o direito à informação e a participação na elaboração das po-
líticas públicas ambientais, de modo que a ele deve ser assegurado
os mecanismos judiciais, legislativos e administrativos que efetivam
o princípio. O caput do art. 225 da Constituição Federal consagra este
princípio ao dispor que é dever do Poder Público e da coletividade
defender e preservar o meio ambiente.

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`` Como esse assunto foi cobrado em concurso?


Foi considerado certo o seguinte item no concurso para o Ministério
Público/GO/2009: c) O princípio da participação comunitária pressupõe o
direito de informação, sendo exemplo concreto da aplicação deste prin-
cípio a obrigatoriedade legal da realização de audiência pública no pro-
cesso de licenciamento ambiental que demande a realização de EIA/RIMA.

3.8. Princípio da prevenção


A prevenção é o princípio que fundamenta e que mais está pre-
sente em toda a legislação ambiental e em todas as políticas públicas
de meio ambiente. É aquele que determina a adoção de políticas
públicas de defesa dos recursos ambientais como uma forma de
cautela em relação à degradação ambiental.
A Declaração Universal sobre o Meio Ambiente já consagrou
desde 1972 o princípio da prevenção ao estabelecer no Princípio
6 que “Deve-se pôr fim à descarga de substâncias tóxicas ou de
outros materiais e, ainda, à liberação de calor em quantidades ou
concentrações tais que o meio ambiente não tenha condições para
neutralizá-las, a fim de não se causar danos graves ou irreparáveis
ao ecossistema. Deve-se apoiar a justa luta dos povos de todos os
países contra a contaminação”.

`` Importante!
O princípio da prevenção é aplicado em relação aos impactos am-
bientais conhecidos ou que se possa conhecer, e aos quais se possa
estabelecer as medidas necessárias para prever e evitar os danos
ambientais.

`` Como esse assunto foi cobrado em concurso?


Foi considerado certo o seguinte item no concurso para a Procura-
doria Federal/2006/CESPE: III. O princípio da prevenção obriga que as
atuações com efeitos sobre o meio ambiente devam ser consideradas
de forma antecipada, visando-se à redução ou eliminação das causas
que podem alterar a qualidade do ambiente.
Foi considerado certo o seguinte item no concurso para a Procurador
do Estado – PGE-BA/2014: O princípio da precaução poderá ser aplicado
como um dos argumentos para a suspensão, pelo o órgão competen-
te, da licença prévia da empresa, caso se identifique risco de dano
ambiental.

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Cap. 3 • Princípios do Direito Ambiental 45

Foi considerado certo o seguinte item no concurso para o cargo de


Procurador da República/2015: b. O dano ambiental conhecido ou pro-
vável deve ser corrigido ou evitado na origem, tratando-se desde logo
suas causas.

3.9. Princípio da precaução


O princípio da precaução estabelece a vedação de interven-
ções no meio ambiente, salvo se houver a certeza que as alterações
não causaram reações adversas, já que nem sempre a ciência pode
oferecer à sociedade respostas conclusivas sobre a inocuidade de
determinados procedimentos.
A Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desen-
volvimento consagrou pioneiramente o princípio da precaução no
âmbito internacional, emancipando-o em relação ao princípio da
prevenção, ao estabelecer no Princípio 15 que “De modo a proteger
o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser amplamente
observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quan-
do houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de
absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para
postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir
a degradação ambiental”.

`` Como esse assunto foi cobrado em concurso?


Foi considerado errado o seguinte item no concurso para a Magis-
tratura Estadual/PA/2008/FGV: b) Pelo princípio da prevenção, sempre
que houver perigo da ocorrência de um dano grave ou irreversível, a
ausência de certeza científica absoluta não deverá ser invocada como
razão para se adiar a adoção de medidas eficazes, a fim de evitar a
degradação ambiental.

`` Importante!
Diferença entre precaução e prevenção: Existe uma grande semelhan-
ça entre o princípio da precaução e o princípio da prevenção, tanto
que o primeiro é apontado como um aperfeiçoamento do segundo.
Entretanto, ao passo que a precaução diz respeito à ausência de certe-
zas científicas, a prevenção deve ser aplicada para o impedimento de
danos cuja ocorrência é ou poderia ser sabida.

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`` Como esse assunto foi cobrado em concurso?


Foi considerado correto o seguinte item no concurso para a Procura-
doria do Estado/CE/2008/CESPE: O princípio da prevenção é aplicado
nos casos em que os impactos ambientais já são conhecidos, e o prin-
cípio da precaução aplica-se àqueles em que o conhecimento científico
não pode oferecer respostas conclusivas sobre a inocuidade de deter-
minados procedimentos.

3.10. Princípio do poluidor-pagador


Esse princípio estabelece que quem utiliza o recurso ambiental
deve suportar seus custos, sem que essa cobrança resulte na impo-
sição taxas abusivas, de maneira que nem Poder Público nem tercei-
ros sofram com tais custos. O objetivo do princípio do poluidor-paga-
dor é forçar a iniciativa privada a internalizar os custos ambientais
gerados pela produção e pelo consumo na forma de degradação e
de escasseamento dos recursos ambientais.

`` Como esse assunto foi cobrado em concurso?


Foi considerado certo o seguinte item no concurso para a Procurado-
ria Federal/2009/CESPE: I. O princípio do poluidor pagador impõe ao
poluidor a obrigação de recuperar e(ou) indenizar os danos causados
por sua atividade e, ao consumidor, a obrigação de contribuir pela
utilização dos recursos ambientais.
Foi considerado certo o seguinte item no concurso para Procurador
do Estado – PI/2014: a) A aplicação do princípio do poluidor-pagador
prescinde da verificação da ilicitude da conduta.

3.11. Princípio da transversalidade


De acordo com o princípio da transversalidade, deve ser feita a
consideração da variável ambiental em qualquer processo decisório
de desenvolvimento, já que praticamente todas as políticas públi-
cas interferem ou podem interferir na qualidade do meio ambiente.
Com efeito, a questão ambiental está presente em qualquer agenda
política, seja de ordem agrícola, cultural, industrial, urbanística etc.
Esse computo da questão ambiental certamente trará uma
maior proteção ao meio ambiente, na medida em que os impactos
ambientais passam a ser considerados de forma mais ampla. Esse
princípio também é chamado de princípio da ubiqüidade ou princí-
pio da consideração da variável ambiental nos processos decisórios.

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Cap. 3 • Princípios do Direito Ambiental 47

3.12. Princípio do não retrocesso ambiental


O princípio do não retrocesso ambiental, que encontra fundamen-
to da Declaração do Rio quando prescreve a conservação, proteção e
restauração da saúde e da integridade do meio ambiente, prevê que
as normas ambientais não devem ser flexibilizadas, sob pena de com-
prometer as conquistas até então alcançadas pela legislação ambiental.
`` Importante!
O STJ têm fundamentado suas decisões em princípios do Direito Am-
biental, adotando dentre estes, o princípio da solidariedade, precau-
ção, responsabilidade, mínimo existencial ecológico e proibição do re-
trocesso ecológico (princípio do não retrocesso ambiental).

`` Como esse assunto foi cobrado em concurso?


(FGV – Juiz de Direito - AM/2013) O Art. 225, caput, da Constituição Fe-
deral, estabelece que "todos têm direito ao meio ambiente ecologica-
mente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gera-
ções." Identifique três princípios do Direito Ambiental que podem ser
extraídos do referido dispositivo constitucional, conceituando-os.
(CESPE – Defensor Público - AC/2012) Estabelece a Constituição Federal
no caput do art. 225: "Todos têm direito ao meio ambiente ecologica-
mente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o de-
ver de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações."
No inciso I do artigo 3.° da Lei n.° 6.938/1981, que dispõe sobre a Política
Nacional do Meio Ambiente, meio ambiente é definido como o conjunto
de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e
biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.
Com base nos dispositivos acima transcritos, disserte sobre os princípios
da precaução e do poluidor-pagador, estabelecendo a diferença entre eles.

`` Importante!
Os Princípios mais cobrados em concursos públicos são:
• Princípio do desenvolvimento sustentável
• Princípio do direito humano fundamental
• Princípio da participação
• Princípio da precaução
• Principio de prevenção
• Princípio do poluidor-pagador

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