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CLÍNICA AMPLIADA – RESENHA DO DOCUMENTÁRIO ESTAMIRA

Andressa Bezerra dos Santos

RA - 125111351812

PIRACICABA
2023
O filme “The Father” conta a história de Anthony como personagem principal
que no início parecia uma breve história de um senhor no início de Alzheimer, onde
sua filha Anne tentar contratar uma cuidadora para ajudá-lo nas atividades do
cotidiano, visto que precisará se ausentar da cidade. Essa é a primeira cena e a
mais lucida do decorrer do filme, a partir disso, o longa coloca o telespectador dentro
da cabeça do personagem e faz com que o próprio ouvinte se sinta com Alzheimer e
confuso com as cenas que vão se complicando ao decorrer do filme.

Anthony relata que em uma das cenas que a cuidadora roubou seu relógio,
mas que não se lembra onde deixou e posteriormente o relógio é encontrado em seu
esconderijo secreto. Este é um episódio muito vivenciado pelas famílias que
possuem alguém com esta doença dentro de casa, a pessoa afirma ter colocado
determinada coisa em um lugar e não estar encontrando e muitas vezes fantasia a
existência de objetos e dinheiro que ali nunca existiram e culpam outros integrantes
da casa pelo sumiço do suposto objeto.

O filme traz a curiosa reflexão da perda de autonomia e do direito de escolha


que acontece durante a velhice, pois a todo momento Anthony relata não querer e
não precisar de alguém para o ajuda-lo, visto que sabe se cuidar sozinho. Essa
perda acontece muitas vezes porque os filhos por proteção acham melhor colocar
alguém dentro de suas casas para cuidar desses idosos que demonstram através de
sinais como esquecer o gás ligado, que não estão tão capacitados para cuidarem de
si mesmo.

Por um lado tem-se a perspectiva do idoso que a vida toda mandou em si e


em suas decisões, inclusive na criação dos filhos e que se vê numa situação de
impotência durante a velhice, onde perde a autonomia de sair sozinho, ir ao
mercado, fazer as pequenas tarefas dentro de casa e atividades de vida diária e
autocuidado. Esse sentimento de incapacidade é compreensível uma vez que o
processo para lidar com o luto é longo e dolorido e quando de fato existe uma
doença como o Alzheimer onde a pessoa doente não sabe que está doente pois tem
sua memória afetada, todo este processo se torna mais difícil e dolorido para ambas
as partes.

Por outro lado se vê a perspectiva do filho ou responsável por esse idoso que
tira esse poder de autonomia das mãos do pai ou da mãe como um ato de amor e
cuidado, com o objeto de proteger a integridade desse sujeito que corre o risco de ir
ao banco ou mercado sozinho e ser roubado, que se coloca em situações de perigo
e vulnerabilidade por pura desatenção e que muitas vezes volta a ser criança
novamente, precisando de atenção e cuidados redobrados.

O longa numa das cenas em que a filha diz que irá mudar de cidade, o
personagem principal traz a fala de que ficará sozinho e que ela o irá abandonar. A
solidão é um grande medo existente dentro de cada um, o ser humano foi feito para
viver em sociedade e socializar e pensar em viver sozinho no final da vida e algo
que angustia a maioria dos indivíduos. Por outro lado tem novamente a perspectiva
dos filhos que crescem e seguem seus rumos, não colocando os pais como centro
de suas vidas. Eles arrumam um emprego, se casam, tem filhos e no decorrer do dia
a dia os pais não são prioridade nesse novo cenário.

Retomando a narrativa do filme sobre o Alzheimer, é de fato uma doença


muito complicada de lidar porque em dados momentos a pessoa reconhece quem
mora junto e em outros os trata como estranhos, de maneira extremamente
agressiva e com palavras ofensivas. Conviver com alguém com essa doença é uma
batalha diária e alguns julgam dizer que a pessoa lúcida enlouquece junto. Ao passo
que parece uma doença fácil de lidar, já que como a pessoa irá esquecer de tudo,
pode-se confirmar suas fantasias, é uma doença cujos sintomas são inúmeros.

O sujeito com Alzheimer pode perguntar a cada 2 segundos a mesma


pergunta, ou pode esquecer que já almoçou e brigar porque ninguém o alimenta na
casa, deixar coisas ligadas como torneira e gás, fugir de casa por não reconhecê-la,
entre outras coisas que no decorrer do dia a dia, faz com que seja impossível que
alguém com trabalho, filhos e um casamento, tenha disponibilidade para cuidar e
monitorar 24 horas por dia. Esse fato faz com que a maioria das famílias coloquem o
idoso em um asilo, para que possa ter cuidado redobrado e pela saúde mental da
família também.

É importante pensar no lado da família e na sua perspectiva, já que muito se


fala sobre o idoso e defende-se que eles são jogados em casa de idosos porque os
familiares não se importam ou não querem ter o trabalho de lidar. Em uma das
cenas do filme, Anthony em seus devaneios diz a cuidadora que ela se parece com
sua filha mais nova e que ela sempre foi a favorita e logo corta para a outra filha que
é quem cuida dele, onde ela parece triste e chorando com o que foi dito. A partir
disso podemos observar que nem sempre aquele idoso foi uma pessoa gentil e
querida durante a vida e que a sociedade culpabiliza a família quando o sujeito é
colocado numa casa para idosos.

É importante compreender a dinâmica familiar de cada família ao invés de


julgar os filhos por colocarem seus pais em asilos, pois muitas vezes isso é um ato
de amor, amor a si mesmo por não se sentir culpado em ter que cuidar de alguém
que nunca o cuidou e um ato de cuidado com alguém que apesar de tudo, precisa
de uma ajuda que esse filho não pode ofertar.

Em suma, o filme faz uma crítica importante sobre esses aspectos


mencionados, traz diversas reflexões acerca do politicamente correto sobre cuidar
dos pais até o fim da vida e por fim envolve o telespectador nessa trama incrível que
foi digna de óscar ao fazê-lo se sentir dentro da mente do personagem principal e
preso ao drama vivenciado por ele e pela filha, compreendendo ambos os cenários.

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