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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA DE ENFERMAGEM
THEO PIRES SANTA BARBARA

RESENHA DA “CARTA DOS DIREITOS DOS USUÁRIOS DA


SAÚDE”

Salvador
2021
THEO PIRES SANTA BARBARA

RESENHA DA “CARTA DOS DIREITOS DOS USUÁRIOS DA


SAÚDE”

Trabalho desenvolvido para o Componente


Curricular Seminários de Ética e Bioética III, do
curso de Graduação em Enfermagem, da Escola
de Enfermagem da Universidade Federal da
Bahia.

Salvador
2021
ALZHEIMER na favela. Diretor: Albert Kinkle. São Paulo: Malabar Filmes, 2018. 1 vídeo
(101 min.). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=sNg54_B8UBE

O documentário em questão aborda 5 histórias: um sobrinho que cuida da sua tia,


assim como da sua mãe; uma mulher que cuida, ao mesmo tempo, de sua mãe e sua filha;
uma mãe que, junto com seu irmão e seu marido, cuidam de sua mãe e avó; uma esposa que
cuida de seu marido; e uma família, que cuida de sua matriarca. Todas as histórias se passam
em bairros diferentes na periferia de São Paulo, e todas são, ao mesmo tempo, individuais e
muito relacionáveis. O documentário “Alzheimer na favela” fala sobre desigualdade,
vulnerabilidade, e muitas contradições. Contradições em relacionamentos, em expectativas,
em sonhos, e no próprio significado da vida.

Em todos os relatos, quem é a “primeira pessoa” a contar a história são os cuidadores.


Há partes em que as pessoas com Alzheimer, ou pessoas envolvidas com os cuidadores
falam, mas o centro da história sempre retorna para essas pessoas que de um jeito ou de outro
agora cuidam de outras pessoas. Logo no início, é possível observar como é tensionada a
relação entre cuidador e pessoa cuidada, que está numa condição na qual não escolheu, e nem
poderia fazer algo para evitar: acometida por uma doença que está muito relacionada
simplesmente com o fato de envelhecer. Mas também, o cuidador ou cuidadora muitas vezes
não escolheram, nem tinham condições de fazer algo para não estarem nessa condição junto
com a pessoa. É importante o destaque de “favela” do documentário, pois ele mostra as
pessoas que não possuem nem a condição de contratarem ou pedirem para outras pessoas
cuidarem dessa pessoa com Alzheimer, com quem possuem relações muitas vezes difíceis,
então precisam permanecer nesse papel constante de cuidadores, e fazem isso da maneira que
podem. Na primeira história isso fica muito evidente, em que o cuidador muitas vezes
expressa como ele teve que abrir mão de inúmeras áreas da vida dele, inclusive amorosa, para
poder se manter no papel de cuidador. Mais de uma vez, ele utilizou o termo “estar livre”,
quando significava não precisar cuidar de sua tia ou mãe. E, ao mesmo tempo, mostra como é
grato por elas ainda estarem vivas e poder cuidar delas. Mais uma vez, a contradição está
presente.

Os cuidadores muitas vezes falam do seu espanto ao descobrirem e conviverem com


seus entes após o diagnóstico da doença, sobre como foi difícil a adaptação e o aprendizado
sempre constante sobre a doença que é progressiva e extremamente complexa. Em diversas
falas dos cuidadores, é mostrado o cansaço físico e emocional, a dúvida de estarem fazendo o
que é melhor para seus familiares, suas expectativas para o futuro, sejam elas frustradas ou
não, e em alguns casos até rastros de amargura envoltos também com afeto, como no caso da
esposa que, apesar de reconhecer que seu marido já a violentou quando eram mais novos, não
gostaria de chamar mais alguém para cuidar diretamente dele, mesmo que tivesse total
condição financeira para fazê-lo.

Outro relato muito presente nas histórias é a mudança brusca de personalidade, e


outros sintomas característicos e gritantes da condição que atingem os idosos sendo cuidados.
Sendo as principais alterações na memória e cognição, os cuidadores relatam diversas vezes
como foi difícil e até estranho observar uma pessoa que antes era independente, forte,
comunicativa se tornar mais fechada, repetitiva, esquecida e dependente. São relatados casos
de mudanças de humor (ora triste, ora irritado, ora alegre), e grande dificuldade em fazer
tarefas complexas ou de autocuidado que não fossem diretamente mandadas por seus
cuidadores, que são os principais sinais vistos em Alzheimer. Além disso, as pessoas idosas
com Alzheimer no documentário não parecem ter amigos, vontades fora da casa, ou
quaisquer tipos de aspiração. Isso mostra a fragilidade dessas pessoas, e como elas se tornam
ainda mais dependentes de seus cuidadores, que se tornam sua principal (ou única) forma de
interação social.

Por fim, é possível compreender como esse documentário aborda de forma complexa,
conturbada, paradoxal, e extremamente real a condição de viver com Alzheimer, e de quem
cuida de quem possui essa condição. Os principais diagnósticos de enfermagem que podem
ser traçados de acordo com a realidade desses cuidadores e idosos são:

- Tensão no papel de cuidador = Por inúmeras dificuldades que esses cuidadores


relatam.
- Síndrome do idoso frágil = Pelas incapacidades que atravessam os sintomas de
Alzheimer.
- Déficit no autocuidado para: alimentação, banho, higiene íntima e vestir-se =
Pela dificuldade de pessoas idosas com Alzheimer de manter seu autocuidado
e dependência.
- Memória prejudicada = Pelas características principais do Alzheimer.
- Interação social prejudicada ou Isolamento social = Pelos relatos de que a
pessoa idosa com Alzheimer saem pouco/não sai sem companhia do cuidador
ou cuidadora.
- Sobrecarga de estresse = Relacionado aos sentimentos dos cuidadores e
cuidadoras.

Referências:

CRUZ, Marília da N. e HAMDAM, Amer C. O impacto da doença de Alzheimer no


cuidador. Psicologia em Estudo [online]. 2008, v. 13, n. 2 [Acessado 14 Setembro 2021] ,
pp. 223-229. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1413-73722008000200004>. Epub 12
Ago 2008. ISSN 1807-0329.

KUCMANSKI, Luciane S. ZENEVICZ, Leoni. GEREMIA, Daniela S. MADUREIRA,


Valeria S. F. SILVA, Tatiana G. SOUZA, Sílvia S. Doença de Alzheimer: desafios
enfrentados pelo cuidador no cotidiano familiar. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol., Rio de
Janeiro, 2016; 19(6): 1022-1029 Disponível em:
https://doi.org/10.1590/1981-22562016019.150162. Acesso em: 14 de setembro de 2021.
PINTO, Meiry F. BARBOSA, Dulce A. FERRETI, Ceres E. de L. SOUZA, Lídia F. FRAM,
Dayana S. BELASCO, Angélica G. S. Qualidade de vida de cuidadores de idosos com
doença de Alzheimer. Acta Paul Enferm. 2009;22(5):652-7.

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