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Marcos Marcelo

ençol
de
Ilusão

Vitória
2012
Revisão: Carlos Roberto Venturim
capa e editoração: Bios
impressão: Gráfica Jep
tiragem: 1.000 exemplares

Ficha Catalográfica
Elaborada pela Bibliotecária Elaine Aparecida Costa Rodrigues - CRB 6/722 ES

L768l Lirio, Marcos Marcelo.


Lençol de ilusão / Marcos Marcelo Lirio. – Serra, ES. 2012.
p. 40
1. Literatura Brasileira. 2. Poesia.
I. Título.
CDD: B869.1

Todos os direitos reservados.


Dedicatória
Dedico esta obra à minha
esposa Erika, aos meus amigos e
in memoriam Rones dos Santos Corrêa.
Sumário
Agradecimento ou dedicatória............... 3
Farpado.................................................... 9 Feriado................................................... 23
Madrugada.............................................. 9 Lado g.................................................... 24
Caos........................................................ 10 O baile.................................................... 24
Assim...................................................... 10 Neurose matinal.................................... 25
Selvagem................................................ 11 As coisas................................................. 25
Tolo......................................................... 11 Rotina 2.................................................. 26
Minha flor.............................................. 12 Falsas telas............................................. 27
Rotina..................................................... 12 Estrela que não cai................................ 27
Olhares................................................... 13 Vá para o inferno................................... 28
Eu fiz....................................................... 13 Conspiração........................................... 29
Como te quero....................................... 13 Os meninos............................................ 29
Oco da alma........................................... 14 Operário................................................. 30
Sem título............................................... 14 Piloto de fuga......................................... 30
Limite..................................................... 15 Narrador do caos.................................. 31
Dançando com o demônio................... 15 Arqueólogo............................................ 31
Cidade de luz......................................... 16 Duas doses............................................. 31
O homem x Deus.................................. 17 Marginal................................................. 32
Um deles................................................ 18 Ponto de fuga......................................... 32
Ponteiro.................................................. 19 Pecado capital........................................ 32
Por aí...................................................... 20 Maldito seja............................................ 33
Desordeiro de mim............................... 20 Em órbita............................................... 33
Teu amor................................................ 20 Pirado..................................................... 34
Ego.......................................................... 21 Amor impróprio..................................... 35
Quem pariu............................................ 21 Desconforto........................................... 35
Cegueira................................................. 21 Por você................................................. 36
Cura........................................................ 22 Cardume de loucos............................... 36
Mais um dia........................................... 22 Arquipélago........................................... 37
Esses amores......................................... 22 Perfume cáustico.................................. 37
De qualquer coisa coisada................... 23 Desejo..................................................... 38
Lençol de ilusão..................................... 23 Saara....................................................... 38
Conduta.................................................. 39
Na mente................................................ 40
Arena...................................................... 40
ençol
de
Ilusão
Lençol de Ilusão • Marcos Marcelo

Farpado
Não quero paraísos de certezas
quero o inferno das contradições.
Não quero me adaptar
quero lapidar minha existência
banhar-me nas confluências de meus instintos.
Eu quero o acaso
não um futuro premeditado.
Não quero castelos
não quero masmorras
nem horizontes vazios
prefiro os abismos mal enumerados.
Eu quero o sereno da vida
não a febre da humanidade.
Eu sou a pólvora solta no ar.

Madrugada
Meu sorriso foi implantado minha culpa sorrir
Chamo qualquer beco de estrada
Tem dias que tudo se torna noite
em minhas madrugadas febris.

9
Caos
Querem sufocar meu delírio
na atmosfera hedionda das razões
Querem envenenar meus surtos metafísicos.
Querem abreviar meus pensamentos anti–humanos.
Querem que eu tempere a cruz com meu sangue
e que cubra o meu mundo em uma cova rasa.
Querem que eu seja apenas uma meia página
de uma história mal plagiada.

Assim.
Prefiro a brisa de um abraço
ao calor da humanidade.

10
Lençol de Ilusão • Marcos Marcelo

Selvagem
Já cuspi em muitos pratos que comi
beijei a musa com uma navalha entre os dentes
só para ver sangrar seu sorriso sereno.
Exorcizei santificados
santifiquei endiabrados
Semeei a loucura nos campos da sanidade.
Fui Nero, fui fogo, fui aço.
Deixei de ser o bom selvagem
para ser apenas selvagem.

Tolo
Cada tolo com seu ouro
cada cego com sua lupa
um banquete de fome
que teu olho consome.
Trincheiras vazias
cidades repletas
já não sei quem mata mais
teu capital ou tua guerra.

11
Minha flor
A cada açoitada há de nascer uma flor
dessas que brotam sem querer brotar
que falam mil línguas entranhas
mas sem saber ouvir
sem saber calar-se.
Estou atracado em teu medo
quero quase amor, não guerra de nervos.

Rotina
Viciosamente acordar
sobre a penumbra cega do egoísmo
Viciosamente alimentar-se
de detritos pobres de sonhos.
Viciosamente adaptar
mais um degrau na própria prisão
e lavar os olhos peregrinos
que fingem não ver todo caos.
Viciosamente ajoelhar-se
munidos de reação
entregando alvos e munições.

12
Lençol de Ilusão • Marcos Marcelo

Olhares
Olhem essas vidas perdidas
e outras a se perderem
arrastam o cansaço
em tantas direções.
Clonando sonhos em vitrines
vencendo o sim pelo não.

Eu fiz
Acordei para vencer o cansaço
polir a ferrugem dos dias mal vividos.
Obrigado meu mundo vadio
por teu doce cinismo
pelas angústias de tantos endereços.

Como te quero
Sinto-me tão cadáver
em sua frieza tão humana.
Mas não me canso em barganhar o teu
beijo quase abortado.

13
Oco da alma
Já não ouço meu ego
sinto-me oco da alma
sou um louco que transpira
uma quase vida,
uma quase calma.
Sinto-me oco da alma.

Sem título
Meu leste sem oeste
Minha bússola sem direção
Meu mundo de tropeços
Meu tombo na contramão
Minha verdade antropófaga
Minha sede naufragada
Minha alcatraz do coração.

14
Lençol de Ilusão • Marcos Marcelo

Limite
E antes de ser uma porra louca
existia um útero solitário.
Mas, agora sou um otário
faminto pelo desconhecido
embriagado pelo acaso
e enganado por tantos destinos embrutecidos.

Dançando com o demônio


Decapitei teu nome entre os dentes
Flores ungidas de formol não trazem vida
Afoguei a última saudade na saliva
estou aprendendo a sonhar com cores vivas.
Já não danço descompassado
ainda que a distorção do abandono marque o ritmo da vida.

15
Cidade de luz
horizontes de concreto
lágrimas de monóxido de carbono
solidão virtual
antenas de babel
motores de gente
presépios de mendigos
A cidade luz ilumina seus filhos.

16
Lençol de Ilusão • Marcos Marcelo

O homem x Deus
Que haja luz
e o homem criou as trevas
Que haja água
e o homem fez o fogo
Que haja expansão entre as águas
e o homem criou a propriedade privada
Que haja frutos
e o homem inventou o lucro
Que haja harmonia na natureza
e o homem criou os pesticidas
Que haja paz
e o homem criou as guerras
Que haja amor
e o homem criou a vaidade.
Algo incompleto
faltava ainda inventar deuses
e assim matá-los.

17
Um deles
Werther de Goethe
Ilitch de Tolstoi
Limite coagulado
Alma que se destrói.
Sou como eles triste e trágico
Quase humano quase menos
quase mais.

18
Lençol de Ilusão • Marcos Marcelo

Ponteiro
Marca meu cansaço
e as horas de oxigênio perdido
Marca meus átomos vadios
que se deterioram a qualquer hora
Marca minhas risadas despidas
Marca meu pavor evaporado nas latrinas
Marca meu tédio nas esquinas
Salivas desdentadas adubando rimas
Marca marcadamente essa marca
estampada no remendo de minha calma
Marca os soluços frenéticos
dessa frágil cavidade esquelética
Marca o que nasce
Marca o que zera
Marca minha sombra
em algum raio luminoso de quase treva
Marca, marcadamente o que a mente quase leva.

19
Por aí...
Encontrei-lhe ruminando segredos
driblando olhares
descartando probabilidades
restaurando o vazio
e adoçando amarguras.

Desordeiro de mim
Acreditar na dúvida
Duvidar do destino
Destino meu futuro
Embriago meus anseios
Marginalizo meus meios.

Teu amor
Ejaculando um amor infecundo
nesses dias desiguais
Metade de mim se atreve a atrever
outra metade se distrai.

20
Lençol de Ilusão • Marcos Marcelo

Ego
Gasto meu tempo
não poupo nenhum segundo
não converto meu presente
a nenhum futuro absurdo.

Quem pariu
Tão corrupto teu corpo vendido
anunciado ao mais vil classificado
tudo pelo dinheiro amaldiçoado.
Eu te daria meu peito amordaçado
se não fosse eu também um prostituto da vida.

Cegueira
Era o teu frio que me aquecia
teu pão de fome que me alimentava
fui seu como vagalume encarcerado na própria luz.

21
Cura
A cura do mundo adoeceu
enquanto buscávamos em Deus
soluções egoístas.

Mais um dia
Apenas mais um dia
devorando segredos em jejum
indo a lugar algum
molestando a mesma escuridão
bocejando o mesmo descontentamento.
Apenas mais um dia...

Esses amores
Meu amor nasceu estéril
mas não por mistério lhe quis.
Mas por vaidade
dessas vaidades hereditárias
que passam de egoísta para egoísta.

22
Lençol de Ilusão • Marcos Marcelo

De qualquer coisa coisada


Teu doce cinismo
cansado e aflito
transborda aos litros
em meu ombro, e tudo dorme.

Lençol de ilusão
Frascos de dias perdidos
litros de monotonia
gravidade engavetada no ar
flores nos xaxins
nuvens eternizadas no céu
A vida vista de cima é menos agressiva.

Feriado
Hoje a ignorância é facultativa.

23
Lado g.
Já fui os denários de Judas
o lado B da alma
o blues alegre
as mãos que não salvam
Mas hoje sou vida em qualquer
agreste.

O baile
Vomitei o sóbrio ao sambar
pensamentos ébrios.
Blá, blá, blá ...
meu amor foi um equívoco
meu ego se esgotou
E de sincero só guardei esse
sorriso de Pilatos.

24
Lençol de Ilusão • Marcos Marcelo

Neurose matinal
Amanheci arrotando orgulho
ungindo pesticidas
esvaziando o tempo
enchendo o cansaço
saboreando as indiferenças
Jejuando aflições
molestando o inatingível
cultivando neuroses.

As coisas
As coisas têm nomes
de coisas estranhas
as coisas têm formas
de tantas formas
algumas são nítidas
outras amorfas.
as coisas são sobras
de outras sobras
Quando todas juntas
Todas se transformam
As coisas não sonham, elas só se somam.

25
Rotina 2
As contas chegam
O telefone toca
O mundo me pede respostas,
minha mulher me coloca à prova
a insônia me reboca.
Daqui até lá são seis andares.
Iguais a mim existem milhares
sou do signo de Áries
quero mandar tudo para os ares.
Do jornal brotam tragédias
queria ter um surto, amnésia
lançar-me ao escuro sombrio.
Ver a vida por um fio
debruçar sobre meu arrepio.
As contas chegam...
Queria dizer nunca mais
dar a cartada perfeita
tirar tudo de letra
poder surtar em paz.

26
Lençol de Ilusão • Marcos Marcelo

Falsas telas
Já não ouço a culpa
já nem sei dela.
Me perdi como fera
nas alas incompreendidas do viver.
Sou pintor de falsas telas.
Confundindo trevas com aquarelas.

Estrela que não cai


Tanto mal consumado
tanta estrela que não cai
teu choro mal chorado
e a saudade que nada traz.
Tanto estrela que não cai.

27
Vá para o inferno
Colei os cacos
juntei os trapos
falei bocados
senti-me vingado
rasguei as fotos
joguei aos ratos
quebrei sete pratos
não tive nenhum cuidado
fumei dois maços
chamei-te de puta
chorei um bocado
olhei-te calado
com a alma em farrapos
sentir-me estafado
cavei um buraco
vá para o inferno
ao lombo de qualquer diabo.

28
Lençol de Ilusão • Marcos Marcelo

Conspiração
Além da epiderme
existe um verme sem alma.
Mas vá com calma
nem toda estrela é Dalva.
Nem tudo dói na alma
à vezes nem dói.

Os meninos
Uns andam em bandos
outros sozinhos.
Mas são eles tão meninos.
estejam entorpecidos pelo ódio
ou pela química do solvente
não se esqueça que todos são gente.
Alguns foram paridos pelo acaso
outros são filhos de abortos mal orquestrados.
Não importa, andam sempre embalados
pelo ritmo omisso dos olhares.

29
Operário
Ergueu o cansaço
às três da manhã
revirou o destino.
Às quatro para ser mais exato.
Calçou a rotina de número ignorado
transportou-se em pensamento
para todos os lados
reivindicando a alegria da vida mal labutada.

Piloto de fuga
Eu corro tanto perigo
ao atropelar-me entre tantas fugas.
Mesmo de alma blindada
agoniza em meu peito algo alvejado.

30
Lençol de Ilusão • Marcos Marcelo

Narrador do caos
A sociedade aplaudiu
quando o corpo caiu
com um trinta e dois na mão
e quinze de idade mal consumida.
Na calçada foi velado à luz de terror
e em seguida foi enterrado
pela triste estatística dos absurdos.

Arqueólogo
No fundo, bem no fundo da alma
sinto-me raso de alegria.

Duas doses
Me dê duas doses de sua atenção
não vou tomar seu tempo
até porque ando de ressaca dele.
Estou bêbado de felicidade
por cair na sarjeta da realidade

31
Marginal
O aço na carne
dinheiro na mão
a vida interrompida
por alguns cifrões.

Ponto de fuga
Meu ponto de fuga
aprisionou-se em falsos horizontes.

Pecado capital
Meus sete pecados
vendidos por teu capital.
nunca prometi minha alma
nem ao bem nem ao mal.
dizem que vou para o inferno
talvez já esteja nele
embarcando meus demônios
não tão pessoais.

32
Lençol de Ilusão • Marcos Marcelo

Maldito seja
Chamam-me de maldito
desprovido de civilidade
não tenho nome, não tenho idade.
Sou fruto podre do descaso.
Uns pensam que sou livre
outros me chamam de trapo
já não me sinto gente como durmo
com os ratos.

Em órbita
Quero sair da órbita
de todos os olhares
desvirginar minhas teorias de felicidade.
Despir a ordem
abortar a alienação
beber meu caos
em tua boca de perfeição.
quero esmagar o peso do medo
abraçar as percepções
afogar minhas verdades inventadas
no lodo das ilusões.

33
Pirado
Ando chamando Cristo de Pilatos
o mundo precisa de um trato
tô cavando cova em porta retrato
sambando comida no prato
tô fumando escova de dentes
chamando bicho de gente
tô voando pelo chão
confundindo tapete com avião
to vendo paralelepípedo alado
tô ficando pirado
tô adoçando o mar com açúcar mascavo
tô ficando pirado
envenenando o gato e deixando o rato
tô ficando pirado
confundindo sanduíche com asfalto
tô ficando pirado
bebendo ácido sulfúrico
Cheirando talco.
tô ficando pirado
beijando as ondas
degustando os caldos
tô ficando pirado
por querer-te tanto
te amar calado
tô ficando pirado.

34
Lençol de Ilusão • Marcos Marcelo

Amor impróprio
Meu amor é impróprio
por ventura nasceu assim
tipo de amor que vive entre trópicos
entre enxofre e alecrim.
Meu amor é impróprio
infiel e ingrato
tipo de amor que não se coloca
em pratos limpos.

Desconforto
Finjo que nada sei
quando em pensamentos se perdes
afogando seus olhos
em alguma vinheta secreta.
Finjo que nada escuto
enquanto em sussurros
deliras aos sons ocultos. Finjo em crer
que teu sono é mesmo dos justos.

35
Por você
Meu inferno não é tão pessoal
minha consciência já perdeu todos os pesos
minha mente, mente descaradamente
não economizo nem um segredo.
Por você talvez até fizesse do silêncio degredo
beberia a sangue frio o teu medo.
Ame-me mesmo que seja em segredo.

Cardume de loucos
Enquanto os tolos acordam vencidos...
os loucos festejam o açoitar do vento
com suas tábuas de mandamentos.

36
Lençol de Ilusão • Marcos Marcelo

Arquipélago
Ninguém quer saber de tua tristeza
dos seus sonhos tão hediondos
e tudo continua sendo
a mesma coisa quando a luz se apaga.
Vai meu anjo driblar essa tristeza que não é rara.

Perfume cáustico
Tudo que eu vejo parece metáfora
de dias cinzas a nuvens de prata.
Filtra-se o cansaço, troca-se o elenco
mas a vida continua engatilhada.

37
Desejo
Triste é engolir a má digestão do tempo
defecar tudo na memória
triste é ruminar as horas perdidas
acalentar os olhos nas retas da despedida
celebrar o processo de partida
sentir-se fétido.
Triste é correr contra a vida
desejando o pódio das almas feridas.

Saara
Meu sol de vários becos
meu vinho de vários Bacos
meu perfume de outros frascos
minha flor de outros vasos
minha cama de vários chãos
minha erva de tantas daninhas
meu momento de perdição.

38
Lençol de Ilusão • Marcos Marcelo

Conduta
Ofereço-te um abraço
queres a alma e a carne
Ofereço-te um beijo
queres a mente
Ofereço-te a amizade
queres a essência
Ofereço-te meu ombro
queres a casa
Ofereço-te amor
queres dominação
Ofereço-te alegria
queres as cores
Ofereci-te a vida
transformastes em aborto.

39
Na mente
A queda quase livre
a frase quase livro
os olhos quase pernas
as sombras quase fera
os homens quase gente
a fome quase morta
a linha quase torta
a espera quase ausente
o bem quase latente
o sorriso quase ausente
minha mente não tão demente
arquiva, deleta, se refresca
às vezes quase pira
mas é sempre a mesma mente
que me mata que me recria

Arena
Minha vontade nunca foi própria
minhas leis sempre me condenam
Tem dias que sou plateia
tem dias que sou arena.
Meus olhos duas suáveis fendas.
Tem dias que vale a teima.

40

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