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No texto “O Massacre de Civitella Val di Chiana” do autor Alessandro Portelli

ele vai trazer depoimentos das viúvas sobreviventes do massacre que


adicionavam a palavra “viúva” ao sobrenome de seus maridos mortos a fim de
manter viva sua história. A memória se mostra dividida, estando de um lado a
memória oficial que comemora o massacre enquanto resistência,
transformando os mortos em mártires e do outro lado está a memória
construída pelo sobreviventes e as famílias dos mortos voltada para o luto, que
nega ligação com a resistência e que a culpa, responsabilizando-a pelo
massacre e minimizando a retaliação da Alemanha, o que não pode ser
justificado pela provável responsabilidade da resistência.

Essas memórias constantemente entram em choque e objetivo do autor é


interpretar de maneira crítica as narrativas, a partir disso é possível entender
que o erro da resistência não tira a culpa alemã. Os sobreviventes não se
consideravam parte da resistência, além de se opor a ela e com o culpá-la. O
luto e a memória são processos elaborados no tempo histórico, o que resulta
em mudanças nos depoimentos de acordo com a passagem do tempo. O autor
traz o conceito de “área cinzenta”, expressão criada para descrever o grupo de
prisioneiros nos campos de concentração que de alguma forma interagiram
com as autoridades nazistas. Mais tarde essa expressão tem sua definição
ampliada quando se relaciona ao povo italiano e aqueles que não se
encaixaram nem no fascismo, nem na resistência contra ele.

O alemão é relacionado a um ser desumano e cruel que após o massacre,


ainda sujo de sangue, consegue ter apetite. Mas essas narrativas foram
desaparecendo ao longo do tempo que foram criada em torno da resistência
um enorme ressentimento. A maior parte das narrativas a respeito do massacre
se iniciam com a morte dos alemães e constrói a ideia de que anteriormente a
ação da resistência, em 18 de junho de 1944, “em Civitella vivíamos calmos e
felizes", como se o fascismo e o nazismo não incomodassem, em uma
inocência que os fazia acreditar que viviam em um paraíso, o quê parece
estranho para uma sociedade que vivia sobre a ocupação nazista.

O autor traz um problema referente à formação da memória contemporânea a


partir das reclamações dos sobreviventes, que são repetidas sem alterações e
é papel dos historiadores e antropólogos compreender não só o fato, mas de
que forma um pode se desdobrar em outro. Ao massacre de Civitella é
atribuído a definição de escândalo por parte da esquerda contrariando a ordem
e os membros da resistência foram odiados, culpados pela desobediência,
enquanto as vítimas do massacre morreram inocentes. Mas é importante
entender que ausência da culpa não diminui a responsabilidade, ou seja, uma
coisa é não fazer nada de errado e outra é não fazer nada contra o errado e o
fato de não ter resistido ao fascismo ou ao nazismo quase se torna uma
virtude.

E ao longo de depoimentos mostra que os membros da resistência não


deveriam se meter com os alemães, já que sabiam que se tratava de uma raça
ruim e selvagem e por isso não deviam ser provocados, resumindo-os em
bestas selvagens, isentando deles posições gramaticais ou morais.

Quando o autor traz a ideia de mito ele conta a história de um pároco que se
entrega para a salvação daqueles que protege, o qual acaba sendo morto.
Outro mito também é construído em volta do soldado alemão que por se
contrariar a atirar nas vítimas, acaba também sendo morto. A respeito da
dimensão mítica o autor coloca que o mito não precisa ser uma história falsa,
inventada, mas sim uma história significativa para manutenção de uma
memória, de um de um acontecimento.

Muitos depoimentos trazem a necessidade de perdoar os responsáveis pelo


massacre, diminuindo a sua participação, os reduzindo apenas a meninos
jovens que não pensaram nas consequências. O papel dos alemães é
amenizado por um deles ter se redimido, enquanto nenhum membro da
resistência foi capaz de se desculpar. O soldado que morreu por se negar a
participar do massacre se encaixa em uma narrativa mítica europeia
relacionada ao "bom alemão", que tem como ponto central o fato de que
quando a violência faz vítimas inocentes, com exemplo de Cristo, dentre os
assassinos existe aquele que se nega a participar da violência.

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