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João Martins
Dentre a literatura que tenho por costume adquirir, são diversas as temáticas
que me despertam interesse, ainda assim, confesso que a narrativa Histórica
é sempre aquela que mais me cativa a atenção, não tivesse sido este
fremente paroxismo pela compreensão do mundo actual por via do
conhecimento dos acontecimentos do passados o móbil para uma licenciatura
precisamente em História.
No fatídico ano de 1914 teve início a I Guerra Mundial, conflito que irá
encerrar sanguináriamente os delírios imperialistas do século XIX. Mário
Gramsci, contando à época 22 anos de idade, adere entusiasticamente à
entrada do seu país na contenda em 1915, voluntariando-se para a linha da
frente, onde combate com o posto de tenente. Terminado o conflito, a Itália
vê-se mergulhada numa profunda crise político-social. A chamada “vitória
traída” (1) e o aumento da agitação comunista, levam-no a aderir aos recém
formados Fasci di Combattimento, do veterano agitador socialista e também
ex-combatente Benito Mussolini. Depresse ascendeu à condição de secretário
federal do Fascio de Varese e nem os pedidos incessantes de António
Gramsci e dos restantes membros da família (Mário era o único fascista) o
demoveram no seu empenho... nem mesmo as selváticas bastonadas que os
companheiros comunistas de seu irmão lhe desferiram e o mandaram para o
hospital.
António corta relações com ele em 1921, ainda assim, no mês de Agosto de
1927, Mário, a pedido de sua mãe, faz uma aproximação a António, na altura
já encarcerado na prisão de San Vittore, numa tentativa de o ajudar a
resolver os seus problemas judiciais.
Libertado nos finais de 1945, regressa à Itália para morrer, visto as mazelas
contraídas no campo de concentração serem irreversíveis. Dá entrada num
hospital desprovido de quaisquer condições e aí veio a falecer com a idade de
52 anos, na presença da sua esposa Anna e os filhos Gianfranco e Cesarina.
Não tendo o seu nome atribuido a qualquer rua, à semelhança do seu irmão
António, e praticamente olvidado nas iníquas páginas da história, Mário, o
Gramsci de camisa negra, é indubitavelmete o paradigma do aventureiro,
exemplo da coragem e da fidelidade, glorificação do soldado-político. Talvez
sejam as palavras de John M. Cammett, que melhor expressem a riqueza
emotiva da vida de Mário Gramsci: He was a volunteer in World War I, a
volunteer in the Ethiopian war, and again in World War II (at the age of 47!).
And in between these disasters he was an enthusiastic volunteer to the very
ideology which did him in! What a life!(2)
Notas:
(2)In http://www.internationalgramscisociety.org/igsn/articles/a07_16.shtml